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'Meu objetivo maior é quebrar barreiras'

Flávio Renegado junta seu rap a uma orquestra sinfônica, prega as misturas como forma de vencer a polarização do país e, ao mesmo tempo, pede a valorização do hip hop como voz da favela

de_ São Paulo

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Um dos mais influentes rappers do Brasil está flertando com novas sonoridades. Prestes a lançar um álbum com pegada sinfônica, gravado com a Orquestra Ouro Preto, Flávio Renegado não quer nem ouvir falar em limitações; quer ver o rap de vez no universo do que se convencionou chamar música popular brasileira. Para isso, segue sem se deter no seu projeto de misturar tudo o que puder a esse som nascido nos guetos de metrópoles dos Estados Unidos.

“Meu objetivo maior é quebrar barreiras. O ‘não pode’ sempre veio antes na minha vida. Vivo para provar que tudo pode. Quero que o rap seja aceito como MPB nos círculos musicais. Da mesma forma que o repente, o baião e outros estilos que musicam rimas e poesia, está o nosso rap. A África é o que nos une”, ele diz.

Aos dez anos de carreira, esse belohorizontino que, mesmo depois da fama e da consagração, não tirou o pé da favela do Alto Vera Cruz, onde nasceu, vibra com os galhos do gênero germinando, expandindo-se. E pede também a valorização do “tronco” — a mensagem social, a voz da favela. “O rap deixou de ser expressão só das periferias. Agora, é aquilo: tem coisas que só quem viveu pode falar. Então, o rap precisa se reconectar com as comunidades. É uma grande felicidade ver o Baco Exu do Blues fazendo isso. E tantos nomes têm surgido, aqui em Minas, como Djonga ou DV Tribo, e na Bahia, como Baco Exu do Blues”, comemora.

O primeiro álbum de Renegado, “Do Oiapoque a Nova Nova York”, saiu em 2008 já antecipando as fusões que marcariam o estilo e a estética do rapper: “Já tinha citações a samba, reggae, ragga, música cubana, pitadas de jazz. Tudo isso eu sou também.” Agora, o disco volta em vinil e CD, em edição limitada para colecionadores. “Esse trabalho continua a me representar. Levei uma vida inteira para fazê-lo, mudou a minha vida. E acho que já apontava para um caminho que o rap tomou.”

A lógica da concentração em São Paulo e no Rio, ele afirma, se pulveriza em nome de um abraço a tradições, estéticas e demandas regionais. As parcerias que tem celebrado — com Chico Amaral, Diogo Nogueira, Samuel Rosa ou Gabriel Moura, só para citar alguns dos muitos que colaboraram com ele no álbum “Outono Selvagem”, de 2016 — são um convite ao diálogo e à mistura, uma mensagem tão cara num país polarizado. “Estou aprendendo a reverter um processo que, para mim, sempre foi muito solitário, que é o de criação. Fico honrado.”

Ouça MAIS! Escute novamente as canções do álbum “Do Oiapoque a Nova York” em ubc.vc/Oiapoque.