TRIBUNA FEIRENSE FEVEREIRO 2020

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FEIRA DE SANTANA-BAHIA, FEVEREIRO DE 2020

ANO XX- Nº 2.623

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Depressão: o mal do novo século Foto: Reprodução

Doença psiquiátrica crônica e recorrente, a depressão atinge mais de 300 milhões de pessoas, no mundo. E deve aumentar sua incidência. A estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) é assustadora: a depressão será a doença mental mais incapacitante do planeta, ainda em 2020. No Brasil, cerca de 11,5 milhões de pessoas sofrem com a doença, isto é, quase 6% da população. O país tem a maior taxa de pessoas com depressão da América Latina, além de ocupar o quinto lugar na classificação mundial. O Ministério da

Saúde (MS) aponta que os atendimentos ambulatoriais e internações, no Sistema Único de Saúde (SUS), relacionados à depressão cresceram 52%, entre os anos de 2015 e 2018. E a doença atinge cada vez mais crianças e adolescentes em idade escolar, além de jovens ingressos no Ensino Superior. Na edição desse mês, o jornal Tribuna Feirense traz uma série de reportagens sobre a doença. Nossa equipe de reportagem ouviu especialistas sobre a ocorrência da depressão na infância e adolescência. Consultou instituições de

nível superior, a fim de saber quais os mecanismos de identificação do transtorno e que tipo de suporte as universidades dão aos estudantes. Tratou dos direitos que um paciente com diagnóstico de depressão tem. Além de mostrar o funcionamento da rede de assistência psicológica e hospitalar, em Feira de Santana. No caderno Tribuna Cultural, uma reportagem especial sobre o escritor e ex-combatente da Segunda Guerra Mundial Antonio Moreira Ferreira, também conhecido como Antonio do Lajedinho. Aos

94 anos, o autor tem 11 livros publicados, a maioria de crônicas. Memorialista, narra sua vivência na Feira

de Santana antiga; cobra revisões históricas sobre a importância dos militares brasileiros na resolução dos

conflitos mundiais; e critica, veementemente, a destruição do patrimônio arquitetônico da cidade.


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Feira de Santana-Bahia, fevereiro de 2020

Mesmo levando a quadros graves, depressão não integra lista de doenças incapacitantes, mas pacientes têm alguns direitos Foto: Reprodução

Karoliny Dias A Organização Mundial da Saúde (OMS), no ano de 2018, fez uma estimativa assustadora: em 2020, a depressão seria a doença mental mais incapacitante do mundo. Mesmo frente a esse dado, a depressão ainda é uma doença não levada a sério, da forma como deveria. Enquanto isso, as cobranças sociais e, consequentemente, as pressões só crescem. A depressão é um transtorno que traz uma sobrecarga física e psíquica muito grande, para os seus portadores. As pressões que um indivíduo com depressão sofre (para que se encaixe nos padrões impostos pela sociedade) destroem a sua autoestima. E trata-se de uma doença perigosa, por se desenvolver silenciosamente. A psicóloga Jô Alvim, em matéria publicada no site G1, diz que os sintomas mais correntes são: falta de energia (comumente confundida com cansaço), desinteresse em atividades que antes davam prazer, isolamento, pessimismo, mudanças no apetite e no sono, sentimento de inutilidade e pensamentos recorrentes de morte, que, na pior das hipóteses, podem levar ao suicídio. “A tristeza, apesar de ser um sintoma evidente, é, justamente, o que mais dificulta o diagnóstico inicial, uma vez que, por ser uma emoção normal do ser humano, nem sempre é associada à depressão”, observa. O psicólogo Felipe Siqueira alerta que, inicialmente, uma pessoa diagnosticada com depressão precisa procurar um profissional da área e pedir ajuda. “O atendimento psicológico vai conseguir identifi-

car quais alterações de humor a pessoa vem sofrendo; quais são as percepções que estão distorcidas; quais pensamentos têm sido recorrentes para mantê-la em um quadro depressivo. Cada pessoa tem uma demanda específica, apresenta uma queixa muito individual. Por isso a terapia é feita a partir da demanda trazida para a clínica”, explica. Felipe Siqueira diz que o tratamento para quem possui essa doença se dá de variadas formas, a depender do grau de sofrimento do portador. Em alguns casos, a terapia consegue ser eficaz. Mas em casos mais graves, que envolvem alteração grave do sono ou do humor, por exemplo, pode ser necessário o uso de medicações, que devem ser prescritas pelo psiquiatra que fechou o

Mestra em Direito Previdenciário, a advogada Cristine Nascimento diz que segurados com depressão severa podem chegar a receber auxílio-doença, mas que a concessão de aposentadoria por invalidez só é concedida a pacientes com grau muito avançado da doença diagnóstico. “Além disso, é importante o envolvimento dos familiares e amigos, que são a rede de apoio mais próxima”, recomenda. O psicólogo destaca que a participação da família no tratamento é imprescindível, porque “um dos principais pensamentos relatados por

pacientes com depressão é a sensação de desamparo. “Mesmo fazendo parte de uma família presente, física e emocionalmente, muitos pacientes acometidos pela depressão tendem a não enxergar o cuidado e a presença recebidos de forma clara. Passam a ter uma visão distorcida da realidade. Sentem-se sós

e acabam desenvolvendo pensamentos de desamparo, desamor e desvalor. Isso pode acarretar ideias negativas e, em casos mais graves, até mesmo gerar pensamentos suicidas”, esclarece. Por esse motivo, ainda conforme Felipe Siqueira, por mais que os familiares achem que têm feito o bastante, verbalizar o sentimento que têm pela pessoa, a importância da vida dela, o significado que ela tem na vida de cada um é crucial para que a pessoa que está adoecida perceba que há apoio e amor, no ambiente doméstico. “Acredito que evoluímos muito sobre o diagnóstico e tratamento da depressão, mas muitas pessoas ainda subjugam e tendem a dizer que depressão é falta de vontade, frescura ou falta de alguma religião. Mas a depressão é grave e precisa de tratamento! Além disso, ela não escolhe raça, cor ou classe social”, alerta.

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INDIVÍDUO

A psicóloga Clara Assis ressalta que quando se fala em depressão associada a tendências suicidas, fala-se também sobre dores e conflitos existenciais dentro de uma sociedade que não as valida nem fala sobre elas. “Temos que pensar que as pessoas que estão passando por essas circunstâncias estão em profundo sofrimento. A nossa cultura não é favorável, porque olha muito pouco para o indivíduo enquanto ser único, enquanto pessoa”, adverte. Segundo a terapeuta, é preciso olhar e cuidar dessas pessoas, pois somente assim é possível ver as suas necessidades individuais. “A primeira coisa essencial no cuidado de pessoas com depressão é o acolhimen-

to. E isso está faltando muito. Precisamos nos conectar com as pessoas que estão passando por uma crise existencial e oferecer ajuda”, ressalta. Clara Assis acredita que é preciso que a sociedade ajude a criar mais espaços para abordar o sofrimento existencial. “Precisamos falar, ouvir e individualizar as dores de cada um. Precisamos tornar nossas redes de apoio mais efetivas e cuidadosas”, enfatiza. De acordo com a psicóloga, o tratamento, no consultório, é fundamentado na escuta da crise. “A terapia é baseada numa escuta livre, cuidadosa e isenta de julgamentos, a fim de que esse ser humano possa organizar seus pensamentos e se dar conta do seu sofrimento, buscando as raízes dele, pois somente assim é possível cuidá-lo como um todo”, aclara.

COMPONENTE GENÉTICO

O médico psiquiatra Raphael Silva explica que a depressão é multifatorial. “Existem diversos fatores que são associados a essa doença. Podem ser, inclusive, genéticos. Pessoas com um histórico de depressão na família têm um risco maior de desenvolver a doença. Trabalhadores que passam por situações muito estressantes, como policiais, atendentes de telemarketing e outros associados a funções extremamente desgastantes, são mais vulneráveis ao desenvolvimento de um quadro depressivo ou de transtorno de ansiedade”, alerta. Segundo o psiquiatra, a depressão e a ansiedade ocorrem mais nas mulheres. “Não se sabe por que elas têm mais propensão a desenvolver essas doenças ou por que procuram

OS TEXTOS ASSINADOS NESTE JORNAL SÃO DE RESPONSABILIDADE DE SEUS AUTORES.

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Feira de Santana-Bahia, fevereiro de 2020 Foto: Reprodução

“A nossa cultura não é favorável, porque olha muito pouco para o indivíduo enquanto ser único, enquanto pessoa”, adverte a psicóloga Clara Assis mais o sistema de saúde do que os homens”, ressalva, salientando ainda que a doença ocorre por conta do baixo funcionamento de neurotransmissores, como a serotonina, noradrenalina e dopamina. “Por isso as medicações antidepressivas agem aumentando a quantidade dessas substâncias, melhorando, assim, os sintomas em transtornos como a depressão e a ansiedade”, explica. Raphael Silva diz que o tratamento é multidisciplinar, necessitando, portanto, do envolvimento de diversos profissionais. Quando se trata de uma depressão leve, o médico explica que o paciente pode ser tratado com psicoterapia. “Atividades físicas (de três a cinco vezes por semana) também ajudam muito, nos casos de transtornos de humor. Além disso, dietas e terapias como a yoga costumam ser eficazes”, acrescenta. No entanto, o médico alerta: nos quadros depres-

a depressão, apesar de ser um transtorno limitador, não faz parte desse documento. É o que diz a advogada e professora de Direito Previdenciário Cristine Emily Nascimento. “Atualmente, a depressão é uma doença mais externada, pela sociedade. Antes, as pessoas tinham vergonha de se reconhecerem como depressivas. Hoje, ainda ocorre esse tipo de pensamento, mas de forma menos preconceituosa. Por conta de tal evidência, os tratamentos médicos, que podem ser medicamentosos ou não medicamentosos, estão cada vez mais especializados, o que leva à redução, em alguns casos, dos sintomas. Dessa forma, nem todo estado de depressão enseja a concessão de aposentadoria por invalidez e isenção de Imposto de Renda”, explica. Entretanto a advogada ressalta que pacientes com depressão severa têm, sim, alguns direitos. Ela explica que, em se tratando de um quadro comprovadamente incapacitante, o segurado

pode receber auxílio-doença. “Para a concessão de aposentadoria por invalidez, no entanto, o grau da depressão deverá estar muito avançado”, observa. Cristine Nascimento acredita que, embora o governo tenha possibilitado o acesso de pacientes com depressão aos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), a sociedade ainda precisa avançar muito na desestigmatização desse tipo de transtorno mental. “É uma doença como qualquer outra, mas que precisa ser vista com muito cuidado, pelos familiares, amigos e, principalmente, pelos empregadores”, lembra. A advogada acredita ser de suma importância garantir direitos a quem tem depressão. “É preciso permitir que essas pessoas recebam tratamento não apenas medicamentoso, mas também tratamento psicológico que as ajude a se sentirem confiantes, especialmente no que diz respeito a produzir e trabalhar”, conclui. Foto: Reprodução

sivos moderados e graves, é preciso entrar com medicações, por pelo ao menos um ano. Raphael Silva diz que há antidepressivos que não causam dependência e que podem ser usados apenas por um período. Mas isso depende muito de cada caso. Pacientes que já tiveram depressão precisam de um período maior de tratamento, que pode variar de dois a cincos. Em casos graves, a prescrição medicamentosa pode ser recomendada por toda a vida. O mais importante, vale lembrar, é que, seja qual for o caso, esse tipo de remédio seja prescrito por um psiquiatra.

DIREITOS

Muitas enfermidades estão na lista de doenças consideradas incapacitantes da Seguridade Social. Isso garante, dentre outros direitos, aposentadoria por invalidez e isenção de Imposto de Renda sobre aposentadoria ou pensão. Mas

Dom Itamar Vian

Luzes no Caminho ALCOÓLICOS ANÔNIMOS

Quando visitamos grupos de Alcoólicos Anônimos (AA) ao ouvir seus depoimentos e testemunhos, louvamos a Deus pelas maravilhas, verdadeiros milagres, que esses grupos realizam. É IMPORTANTE deixar claro que os Alcoólicos Anônimos não estão ligados a nenhuma confissão religiosa, nem exigem de seus associados alguma crença em particular. Entre eles, encontramos pessoas de diversas religiões, sem religião e ateus. Embora o programa de recuperação se baseie em determinados valores espirituais, cada um é respeitado em sua crença. OS ALCOÓLICOS Anônimos têm um belo ideal e uma consciência clara dos próprios limites. Sua meta é ajudar aqueles que querem deixar de beber. Longe de montarem grandes organizações, mantém um mínimo de estrutura, distribuem as responsabilidades entre os próprios membros e evitam a acumulação de patrimônio. O grupo se mantém com as contribuições voluntárias dos que dele participam. CRESCE, também, cada vez mais, a convicção de que o alcoolismo não é um vício, mas uma doença. O corpo, de algumas pessoas, tem uma particular reação ao álcool e elas acabam se tornando dependentes. Assim como um diabético não pode comer açúcar como os outros, da mesma forma, 10% dos que bebem, precisam evitar a bebida porque, caso contrário, entrarão num campo em que não mais serão donos dos próprios atos. A EXPERIÊNCIA tem demonstrado que, em situações assim, é difícil deixar de beber, sair dessa situação, sem ajuda de outras pessoas. Aí reside, justamente, a força dos Alcoólicos Anônimos. Em suas reuniões, recordando desafios e problemas, contando suas experiências e falando de suas vitórias, cada qual ajuda o companheiro. E, nesse processo de ajuda, também se ajudam, na linha daquele pensamento chinês: “Quem acende uma vela é o primeiro a ser iluminado por ela”.

“Pessoas com um histórico de depressão na família têm um risco maior de desenvolver a doença”, diz o psiquiatra Raphael Silva

NO TRABALHO com pessoas dependentes do álcool, a dificuldade maior será sempre, convencer um doente-alcoólatra da importância dos Alcoólicos Anônimos. Isso porque o doente não consegue enxergar que a bebida está estragando sua vida e criando enorme sofrimento para as pessoas que ele mais ama: familiares e amigos. Nesse caso, será importante a presença em sua vida de um “Simão Cirineu” – aquele que ajudou Jesus a levar sua cruz – um bom Samaritano.

Proteja seus rins: dose sua creatinina! Uma campanha


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Depressão na infância e adolescência: cada vez mais comum, problema requer atenção de pais e professores Foto: Arquivo Pessoal

Lana Mattos Quando LCS, de 14 anos, passou a se isolar no quarto, a se afastar dos amigos e a não mais querer sair, sua mãe, coordenadora pedagógica que prefere se identificar apenas como mãe dedicada”, percebeu que havia algum problema. A adolescente conta que não tinha vontade de fazer as coisas das quais gostava e que tinha crises recorrentes e pensamentos suicidas. E, ao ler o caderninho onde a filha sempre escreve quando está triste, a mãe da garota decidiu procurar ajuda profissional. A jovem foi diagnosticada com depressão, doença que acomete um número cada vez maior de crianças e adolescentes, em todo o mundo. É importante que pais e professores estejam sempre atentos. “Qualquer mudança de comportamento, especialmente as que se mantêm, devem ser investigadas, através de conversas com as crianças e adolescentes. Quando se sentem seguros e apoiados, é mais fácil que contem o que os aflige”, alerta Camille Batista, médica psiquiatra. A profissional observa ainda que, nessa fase, a depressão pode se manifestar com mais agressividade, queda no rendimento escolar, irritabilidade, anedonia (perda do prazer), isolamento social, pessimismo, tristeza, insônia ou hipersonia (distúrbio do sono caracterizado por sonolência excessiva), queda ou aumento do apetite, autoagressões, pouca energia, desânimo e sintomas mais graves, como pensamentos negativos e até tentativas de suicídio. Os fatores que geram depressão podem ser relacionados à predisposição genética e/ou a estressores ambientais, como bullying (uso de força física, ameaça ou coerção para abusar, intimidar ou dominar agressivamente outras pessoas, de

“Quando se sentem seguros e apoiados, é mais fácil que contem o que os aflige”, explica a psiquiatra Camille Batista, referindo-se a crianças e adolescentes com depressão forma frequente e habitual); negligência no cuidado; violência psíquica, física ou sexual; dentre outros. “Já sabemos que o ambiente é capaz de mudar a expressão gênica e, com isso, pessoas que não têm forte predisposição genética podem, sim, manifestar o quadro depressivo”, esclarece Camille Batista, que é especialista em psiquiatria da infância e adolescência. O bullying sofrido por LCS, quando criança, é uma das causas da depressão que a menina adquiriu: “Quando era menor, sofri, por um curto período de tempo, por ser magrinha”, lembra a adolescente. Para Camille Batista, essa prática, “que acontece nas escolas ou se inicia nela e migra para as redes sociais, tem contribuído bastante para a abertura dos quadros

depressivos, nessa faixa etária”. Para a mãe de LCS, a maior dificuldade de lidar com o problema foi a insegurança de ter que deixá-la sozinha e, nesse intervalo de tempo, acontecer um suicídio. “No início, não conseguia dormir nem trabalhar direito”, desabafa. Os jovens que pensam em tirar a própria vida, geralmente, dão sinais. “Eles se manifestam muito nas redes sociais. São atraídos por temas fúnebres, comentam com amigos os pensamentos suicidas e podem apresentar marcas de automutilação, como o cutting (ato de se cortar, em diversas partes do corpo)”, enumera a psiquiatra. Em função disso, ela alerta que os pais precisam estar atentos aos pequenos sinais e sempre tentar con-

versar sobre os sentimentos e aflições dos filhos. “Construir uma relação de segurança e confiança entre pais e filhos é uma proteção contra sintomas graves como esses”, enfatiza Camille Batista. A médica ressalta que os pais devem se colocar, sempre, à disposição para ouvir e orientar os filhos. Além disso, diz que ajuda especializada, psicológica e psiquiátrica também são fundamentais. Verônica Moitinho, psicóloga do Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil (Capsi) Osvaldo Brasileiro Franco, em Feira de Santana, ressalta a importância da família na terapia. “O atendimento também deve se estender à família, a fim de que seja possível conhecer um pouco da rotina da mesma e do paciente. Também para realizar a psicoeducação familiar”, destaca. Conforme Camille Batista, nos casos moderados a graves, geralmente, medicações são indicadas, visando melhorar a neuroquímica e, consequentemente, os sintomas que geram prejuízos e sofrimento aos pacientes. “O quadro é considerado grave a depender da intensidade dos sintomas e dos riscos à integridade da criança ou adolescente”, completa a psiquiatra. Sobre os riscos do uso de antidepressivos com tão pouca idade, ela esclarece que “já existem medicações seguras e amplamente utilizadas nessa faixa etária, que ajudam a reverter os quadros depressivos e a trazer qualidade de vida a essa população”. A adolescente LCS faz uso desse tipo de medicação, devidamente receitado por um psiquiatra, além de acompanhamento com psicólogo, há cerca de cinco meses. Com a terapia, “comecei a aceitar o meu corpo”, conta a jovem, que declara que, hoje, tanto o

ambiente familiar quanto o do Professor, com o objetivo escolar a ajudam e fazem de promover uma maior bem a ela. compreensão e conscientização sobre o problema”. DEPRESSÃO E Segundo o secretário Municipal de Educação, ESCOLA PÚBLICA Ao ser questionado so- Marcelo José Almeida das bre como o tema é tratado Neves, as questões socioena Rede Pública Estadual, mocionais dos estudantes da o diretor do Núcleo Territo- rede são sempre debatidas rial de Educação (NTE 19), nas formações e serão tema antiga Direc 02, Ivamberg da Jornada Pedagógica deste dos Santos Lima, afirmou, ano, que vai acontecer entre por meio de nota, que a os dias 30 de janeiro e 3 de “Secretaria de Educação fevereiro. Ele salienta que do Estado da Bahia (SEC) a Secretaria Municipal de tem promovido diversas Educação (Seduc) dispõe de atividades pedagógicas, nas uma equipe multidisciplinar, escolas estaduais, relacio- formada por duas psicopenadas aos cuidados com a dagogas, duas assistentes saúde mental e à prevenção sociais e uma psicóloga. Conforme Marcelo Neao suicídio, em parceria com ves, quando um estudante a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab)”. apresenta algum comporInformou ainda que, além tamento diferente, “quem disso, o órgão realiza “ações, identifica o problema, inipor meio do programa Saúde cialmente, é o professor, o Foto: Assessoria de Gabinete do NTE-19

Ivamberg dos Santos Lima, diretor do NTE 19, diz que a Secretaria da Educação do Estado da Bahia tem promovido diversas atividades pedagógicas, nas escolas estaduais, relacionadas aos cuidados com a saúde mental

Por um Hospital Universitário para a UEFS “Precisamos formar médicos maximamente eficientes e minimamente invasivos à integridade física, econômica e afetiva do paciente” César Oliveira


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pedagogo”, sendo que “a primeira orientação é chamar a família e conversar”. A partir disso, a escola encaminha o jovem para acompanhamento em uma unidade do Caps ou do Centro de Referência de Assistência Social (Cras). Às vezes, há a necessidade de uma intervenção maior. Em casos assim, a Secretaria de Educação vai com essa equipe, explica o secretário.

Foto: Tarcilo Santana/ Secom

DADOS

Os números apontam um problema de saúde pública mundial. O índice de crianças de 6 a 12 anos diagnosticadas com depressão, em todo o mundo, quase dobrou, na última década, passando de 4,5% para 8%, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Não há dados exclusivos sobre a doença, nessa faixa etária, no Brasil. Embora o transtorno seja, comumente, diagnosticado na vida adulta, estudos mostram que, aproximadamente, 50% dos adultos deprimidos relataram início dos sintomas antes dos 18 anos. Entre os jovens de 15 a 29 anos, o suicídio é a segunda maior causa

De acordo com o secretário Municipal de Educação, Marcelo Neves, a primeira orientação dada aos professores e pedagogos que atuam na Rede Pública é chamar a família e conversar

de morte, no mundo. No Brasil, está em quarto lugar, na mesma faixa etária. Os dados são referentes a 2017 e também foram apresentados pela OMS. Na realidade, esses números são maiores, por conta da subnotificação: para cada registro oficial, estima-se quatro tentativas não registradas. As tentativas são cerca de 20 vezes mais frequentes que a consumação do ato. Em 2019, 47 novos casos de depressão, entre jovens de 12 a 17 anos, foram diagnosticados no Capsi de Feira de Santana, que atende pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, não há dados sobre a prevalência da doença, na cidade.

AJUDA

Além de ligar para o número 188, do Centro de Valorização da Vida (CVV), a qualquer hora e em todo o território nacional, com pessoas capacitadas para ouvir o indivíduo em sofrimento psíquico, quem preferir, pode entrar em contato, via chat, Skype ou e-mail, através do site do www. cvv.org.br.

Foto: Arquivo Pessoal

“O atendimento também deve se estender à família, a fim de que seja possível conhecer um pouco da rotina da mesma e do paciente. Também para realizar a psicoeducação familiar”, diz a psicóloga Verônica Moitinho


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Cobranças acadêmicas podem estar adoecendo estudantes universitários Foto: Jaqueline Lima

Karoliny Dias

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmam que 4,4% da população mundial tem depressão. Isto significa que 322 milhões de indivíduos sofrem com os sintomas desse transtorno mental, nos seus mais variados níveis. No Brasil, o número chega a 5,8% da população. Em números, são 11,5 milhões de brasileiros depressivos. Segundo o médico Dráuzio Varella, a depressão é uma doença psiquiátrica crônica e recorrente, que produz uma alteração do humor caracterizada por uma tristeza profunda, sem fim, associada a sentimentos de dor, amargura, desencanto, desesperança, baixa autoestima e culpa, assim como a distúrbios do sono e do apetite. Entre os jovens, sobretudo os universitários, essa realidade não é diferente. Cada vez mais, estudantes têm ficado deprimidos. Problemas psicológicos dessa natureza se tornaram um grande desafio para as Instituições de Ensino Superior. Isto porque a doença tem levado muitos discentes a trancar matrículas. Os fatores que levam a isso são muitos, mas a cobrança acadêmica tem sido apontada como o principal deles. O ritmo da vida universitária é altamente desgastante. São muitos trabalhos, aulas, provas, estágios. E muitos estudantes acabam não dando conta, sobretudo se tiverem que trabalhar, paralelamente. A assistente social Ana Alice Rodrigues, que faz parte do Núcleo de Apoio Psicossocial e Pedagógico (NAPP) da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), afirma que, na instituição, muitos alunos procuram o setor. Segundo ela, a demanda por ajuda também chega através de professores e de amigos dos

estudantes, que percebem o problema e avisam ao setor. De acordo com a assistente social, na Uefs, grande parte do alunado é de fora da cidade e até mesmo do estado, por isso muitos estudantes acabam passando um longo período longe de suas famílias. “Eles vêm morar aqui e seu grupo familiar fica fora. Longe dos familiares, eles se sentem sós e, muitas vezes, não têm com quem conversar”, observa, salientando que essa circunstância pode levar à depressão.

SUICÍDIO

Quando o caso envolve tendência suicida, Ana Alice destaca que a universidade direciona o estudante para o Centro de Atenção Psicossocial (Caps), órgão do município especializado no tratamento de transtornos mentais. “Infelizmente, nesse tipo de caso, há a necessidade de encaminhamento a um psiquiatra e não temos esse serviço na casa. Em casos menos graves, atuamos em conjunto com as famílias, a fim de ajudar os estudantes da melhor forma possível”, destaca. O reitor da Uefs, professor Evandro do Nascimento Silva, explica que os alunos atendidos pelo NAPP, geralmente, apresentam quadros de ansiedade e depressão, muitas vezes decorrentes

O reitor da Uefs, professor Evandro do Nascimento Silva, diz que a instituição está criando o Programa de Acolhimento Psicológico (PAPsi), com a finalidade de acolher as demandas de estudantes e servidores em situações de urgências subjetivas da falta de apoio familiar, nas questões específicas de gênero; de intenso sofrimento na infância, algumas vezes marcada por abusos e violências; do preconceito; das dificuldades de adaptação, aprendizado e concentração nos estudos e na apresentação de seminários e trabalhos acadêmicos. Não há um número exato dos casos atendidos na Uefs. O reitor explica que a equipe do NAPP não trabalha com diagnóstico. “Isto porque o setor entende o estudante como um ser biopsicossocial. Dessa forma, não realiza um estudo quantitativo, para estratificar o sofrimento entre os estudantes da Uefs”, alega. O professor Evandro do Nascimento diz ainda que a comunidade universitária se preocupa com os transtornos psíquicos. “Por isso a Saúde Mental no ambiente acadêmico já foi tema abordado em

Aula Magna, no Semestre 2016.1. Em 2019, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Terceiro Grau do Estado da Bahia (Sintest/ Uefs) realizou atividades no mês de setembro, fazendo referência ao Setembro Amarelo, período de ações em prol da Prevenção ao Suicídio, com representantes do NAPP e de outros Setores da universidade, bem como com a participação de membros do Centro de Valorização da Vida (CVV). Na ocasião, o suicídio foi um tema bastante discutido com a comunidade acadêmica”, destaca. Conforme o reitor, o NAPP também vem realizando projetos de intervenção, com estagiários do Curso de Serviço Social, sob a supervisão técnica das assistentes sociais do setor. A ideia é chamar a atenção para um novo olhar sobre a saúde mental. “O NAPP realiza ainda oficinas

sobre ansiedade, para os estudantes atendidos, em parceria com uma professora do Curso de Psicologia e com uma psicóloga voluntária, formada pela Uefs, que hoje é estudante do Mestrado em Saúde Coletiva da instituição”, ressalta. Evandro do Nascimento Silva informa que a universidade está implantando um projeto de Extensão voltado ao assunto. Trata-se do Programa de Acolhimento Psicológico (PAPsi). O objetivo é acolher as demandas dos estudantes e servidores em situações de urgências subjetivas. Segundo o reitor, a implantação está aguardando os trâmites burocráticos da instituição. A abordagem aos estudantes, professores e funcionários que sofrem com essa doença se realiza, na universidade, por meio do acolhimento da demanda, escuta qualificada, atendimento social, orientações e encaminhamento para atendimento psicológico no Serviço de Saúde Universitário (Sesu), Caps, unidades conveniadas pelo Planserv (no caso dos servidores) ou para a rede particular, a depender do caso.

DIREITOS

Os estudantes que adoecem no ambiente universitário também têm direitos. O professor Evandro do Nascimento ressalta que aqueles que estão em acompanhamento médico, psicológico ou sendo atendidos na Rede de Serviços Especializados, com as devidas comprovações e acompanhamento pela equipe do NAPP e pelo Núcleo de Acessibilidade Universitário (NAU), podem solicitar flexibilidade de tempo para a realização de provas, bem como de outras atividades acadêmicas. Isso em comum acordo com o Colegiado e com os professores de seus respectivos cursos. Também é assegu-

rado o trancamento da matrícula, quando se tratar de motivo de saúde, total ou parcial, a qualquer tempo, conforme a Resolução Nº 117/2018 do Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe). “É preciso que o estudante apresente seu relatório médico ao Sesu. Uma vez de posse do relatório emitido por este setor, ele pode dirigir-se ao Expediente da Divisão de Assuntos Acadêmicos (DAA), a fim de dar entrada na solicitação de trancamento de matrícula”, esclarece o reitor.

SITUAÇÃO SEMELHANTE

Na Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), a realidade não é muito diferente. Foram centenas de atendimentos realizados no ano de 2019, em todos os campi da instituição. No Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL), que fica em Cachoeira e que conta com um psicólogo, foram 242 atendimentos. No Centro de Formação de Professores (CFP), em Amargosa, foram 137. No Centro de Ciência e Tecnologia em Energia e Sustentabilidade (Cetens), em Feira de Santana, 250. Já no Centro de Cultura, Linguagens e Tecnologias Aplicadas (Cecult), localizado na cidade de Santo Amaro, a instituição registrou 75 atendimentos. No Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas (CCAAB) e no Centro de Ciências Exatas e Tecnologias (Cetec), em Cruz das Almas, que contam com duas psicólogas, 402 estudantes foram atendidos. Milena Souza, psicóloga lotada no campus de Cruz das Almas, afirma que o trabalho realizado com os estudantes é voltado à psicologia da educação. “A depressão está ligada mais à psicologia da saúde, mas isso


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Feira de Santana-Bahia, fevereiro de 2020 Foto: Reprodução

De acordo com a psicóloga Milena Souza, da UFRB, o estudante que perceber que tem depressão pode solicitar a ajuda da universidade ou até mesmo algum colega que notar o problema

não significa que não damos o suporte necessário àqueles que sofrem com a doença, que pensam ou já tentaram cometer suicídio ou que são acometidos por transtornos de ansiedade”, observa. Segundo a psicóloga, qualquer estudante pode ter acesso ao

Serviço Psicológico da UFRB, independente de ser bolsista do Programa. O atendimento se dá através de livre demanda. “O estudante que perceber que tem o transtorno pode buscar nossa ajuda ou até mesmo algum colega que notar o problema. Trabalhamos mais com a

prevenção. Inicialmente, realizamos uma entrevista, a fim de avaliar o caso. Após isso, encaminhamos o aluno a um serviço especializado, a depender da queixa”, informa. Milena Souza salienta ainda que o atendimento pode ser individual ou em grupo. Para ajudar esses estudantes de forma mais efetiva, semestralmente, formamos os chamados grupos psicoeducativos. Quando a queixa é mais grave, o Núcleo encaminha o estudante para a área de saúde, no Sistema Único de Saúde (SUS), para a Clínica de Psicologia da UFRB ou para a rede particular, caso tenha con-

dições. “Mas ninguém deixa de ser atendido. Estamos sempre entrando em contato, para saber como estão progredindo”, enfatiza.

FATOR DE RISCO

Leandro Muniz, psicólogo da UFRB nos campus de Cachoeira e Santo Amaro, afirma que, apesar das limitações institucionais do setor, todo o possível é feito para ajudar os alunos que procuram por ajuda. “Às vezes, o município não dá conta dos estudantes que buscam esse tipo de serviço. Prolongamos um pouco nossos atendimentos e damos orientações e aconselhamento psico-

lógico, até que consigam acessar a rede de saúde”, explica. O psicólogo diz que já fez quase 250 atendimentos no campus de Santo Amaro. Ele ressalta que são diversos os motivos que desencadeiam transtornos mentais dessa natureza e que muitos estudantes já têm histórico de passagem por profissionais da área, em suas respectivas cidades. “A universidade se tornou um fator de risco para a eclosão dessas doenças. Muitos desses alunos saem de seus locais de origem jovens, sem experiência de vida, para enfrentar uma nova realidade. E o ambiente acadêmico traz uma série de cobranças e responsabilidades, nesse novo lugar, no qual não conhecem ninguém”, lembra. Leandro Muniz ressalta ainda que há uma iminente necessidade de ampliação do suporte a esses estudantes. “Como psicólogo de uma Pró-Reitoria, tenho diversas limitações, que me impedem de ir além de certo limite burocrático.

A ampliação da rede de suporte dentro da universidade poderia fazer com que novas estratégias fossem traçadas, a fim de que os estudantes se sentissem mais acolhidos e tivessem a oportunidade de transformar o sofrimento em algo produtivo. Isso permitiria que encontrassem alguma saída que desse sentido às suas permanências na universidade, para além das tarefas acadêmicas”, avalia. Para o terapeuta, todos os que fazem parte da comunidade acadêmica deveriam ter a responsabilidade de criar novas motivações para esses alunos. Segundo ele, as famílias também devem ajudar, já que são fundamentais no processo de tratamento. “Apenas uma pessoa da família pode ser o ponto de suporte. É preciso que haja a sensibilidade de perceber que não se trata de uma ‘frescura’ ou covardia, mas de um sofrimento acachapante e cruel, que deve ser cuidado também no ambiente doméstico”, adverte.


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Feira de Santana-Bahia, fevereiro de 2020

Cerca de 70% dos pacientes atendidos pelos Caps de Feira de Santana tem depressão Foto: Raylle Ketlly/ Secom

Daniela Oliveira Casos de depressão têm crescido em todo o mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), somente no Brasil, cerca de 11,5 milhões de pessoas sofrem com a doença. Isso significa que cerca de 6% da população tem depressão, o que faz com que esta seja a maior taxa da América Latina e a quinta maior do mundo. O Ministério da Saúde (MS) aponta que o número de atendimentos ambulatoriais e internações, no Sistema Único de Saúde (SUS), relacionado à depressão cresceram 52%, entre os anos de 2015 e 2018. Na faixa etária de 15 a 29 anos, o percentual é ainda maior: 115% procuraram por atendimento. O órgão acredita que os índices podem estar relacionados a uma maior demanda por tratamento, mas não descarta que, de fato, o número de casos tenha crescido. Em Feira de Santana, segundo a coordenadora de Saúde Mental do município, Robervânia Cunha, entre os anos de 2018 e 2019, esse crescimento também foi observado. “Registramos um aumento de casos de pessoas com transtornos mentais. O índice chegou a 17,7%. A maioria com diagnóstico de depressão e transtorno de ansiedade. Em 2019, 47 jovens procuraram os serviços especializados oferecidos pelo município. Nesse total, também estão inseridos adolescentes e crianças, que foram atendidos no Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil (Capsi). 26 usuários do serviço apresentam quadros de transtorno de ansiedade”, informa. A gestora ressalta ainda que, atualmente, há 35.494 cadastrados na Rede de Saúde Mental. Robervânia Cunha explica que muitas outras

doenças mentais começam com a depressão. “Ela vai desencadeando outros transtornos. Cerca de 70 a 75% dos casos atendidos, nos diversos Caps, são de depressão”, explana.

ATENDIMENTO PELO SUS

Em Feira de Santana, o atendimento é disponibilizado nos Centros de Atenção Psicossocial, por demanda espontânea, ou no consultório de psiquiatria situado no Centro de Saúde Especializado (CSE) Dr. Leone Coelho Leda. “Temos uma rede municipal, formada pelos Caps, que foi criada para oferecer tratamento a pessoas com transtornos mentais severos e persistentes. No entanto, a depressão, hoje em dia, também se apresenta como um problema grave, especialmente quando não tratada desde o início. Além dessas unidades, também temos um ambulatório de psiquiatria, que funciona no CSE e está localizado ao lado do Feira Tênis Clube”, diz a coordenadora, explicando que a pessoa pode procurar a Unidade Básica de Saúde (UBS) de seu bairro, para encaminhamento ao serviço. O município conta com cinco Caps, sendo

O Caps Infantil registrou 33% de aumento no número de pacientes com depressão, no segundo semestre de 2019 três para adultos com mais de 18 anos, um para atendimento infantil (até os 17 anos) e um com foco em usuários de álcool e drogas ilícitas. “Não oferecemos apenas tratamento medicamentoso aos portadores dos diversos transtornos, mas também uma abordagem multiprofissional, que envolve trabalho em grupo, piscinas terapêuticas e terapia familiar, porque também é importante acompanhar as famílias. Uma escuta qualificada é realizada pelo profissional da unidade e, após isso, é traçado um programa terapêutico. O paciente é, então, encaminhado ao psiquiatra, ao psicólogo e inserido em oficinas ou grupos”, ressalta.

instalação dos Centros de Atenção Psicossocial, porém, apesar desse avanço, o serviço não consegue atender a grande demanda. “Temos atendimento com psiquiatra diariamente, mas, em virtude do grande número de usuários, ele acaba se tornando pequeno”, avalia. A gestora diz ainda que o número de médicos especializados na área é baixo, além de o ambulatório do Hospital Especializado Lopes Rodrigues (HELR) ter sido fechado, o que aumentou consideravelmente a procura pelos Caps. “Temos uma equipe multidisciplinar. Somos 170 profissionais, hoje. E esse número é pequeno, devido ao grande número de pessoas matriculadas. São quase 35.500, DIFICULDADE DE mas temos cobertura de ATENDIMENTO 100% de psiquiatras. Em De acordo com Ro- dezembro, ficamos com bervânia Cunha, Feira um déficit, porque quatro de Santana foi um dos funcionários pediram demunicípios pioneiros na missão, por motivos pes-

soais, mas já estão sendo contratados os substitutos”, enfatiza.

PACIENTES AGRESSIVOS OU EM SURTO

No caso de pacientes em surto e agressivos, o atendimento deve ser feito no Hospital Lopes Rodrigues, desde que não cadastrados em nenhum Caps. “Se forem matriculados, devem ser encaminhados à unidade onde fazem tratamento. Se necessário, após o período de observação, serão destinados ao Caps III Dr. João Carlos Lopes Cavalcante”, orienta Robervânia Cunha, esclarecendo ainda que, se preciso, o paciente permanece internado no Lopes Rodrigues, caso esteja colocando a sua própria vida ou a vida de terceiros em risco. Lembra, no entanto, que não é mais possível manter pacientes permanentemente ingressados no hospital, como acontecia no passado.

CAPS INFANTIL

A depressão tem sido detectada em pessoas cada vez mais jovens. E, em Feira de Santana, para atender crianças e adolescentes (até os 17 anos) com o problema, há o Caps Infantil. A coordenadora da uni-

dade, Fernanda Botto, enfatiza que a ocorrência de depressão entre adolescentes cresceu mais de 30%, em seis meses. “Atualmente, temos 5 mil pacientes cadastrados. No momento, não posso precisar quantas, desse total, estão com depressão, mas, nos últimos seis meses, o percentual de novos casos chegou a 33%. Dentre os diagnosticados com a doença ou com suspeita, 55% tinha até 11 anos e 45% tinha de 12 a 17 anos”, observa. Assim como os Caps que atendem adultos, o infantil também recebe pacientes por demanda espontânea, porém alguns casos são encaminhados por escolas ou unidades de saúde. “Os pais observam as crianças muito chorosas, introspectivas e relatam que, na escola, também não se relacionam muito bem com as pessoas. Então, são trazidas para cá”, explica. Fernanda Botto pontua que há casos de crianças e adolescentes com ideias suicidas. “As condutas são avaliadas pelo médico. Normalmente, casos de tentativa de suicídio são tratados com terapia, medicamentos e atividades terapêuticas, às quais atribuo um maior resultado, porque fazem com que esses jovens se abram e conversem mais. Isto porque as terapias são estimuladas”, esclarece.

SINAIS DE ALERTA

De acordo com o psicólogo e psicanalista Carlos Henrique Kruschewsky, são muitos os fatores que influenciam nos casos precoces de depressão. “Essa é uma questão bem complexa. Muitas coisas desencadeiam o processo de adoecimento dessas crianças e adolescentes que se inserem no que chamamos de Geração Z, isto é, pessoas nascidas entre 1990 e o início de 2010. Uma marca dessa geração é a dificuldade de


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Feira de Santana-Bahia, fevereiro de 2020 Foto: Raylle Ketlly

não tem com quem falar. Passamos por um treinamento inicial e constante, para que estejamos aptos a acolher quem nos procura, de maneira sigilosa, respeitosa, sem aconselhamentos nem direcionamentos”, explica.

RELATO DE UMA PESSOA EM DEPRESSÃO

Casos de depressão têm crescido entre adolescentes e jovens lidar com as frustrações. Isso, aliado à ideia de que é uma geração que nutre muitos medos, forma um ciclo bastante adoecedor”, alerta. Segundo Carlos Kruschewsky, “a geração anterior, chamada de Geração Y ou Geração Millenium (que compreende os nascidos de 1980 até 1995), precisava passar em um vestibular, saber inglês ou espanhol. E, caso se dedicasse bastante, poderia passar em um concurso público. Nós, os mileniuns, aprendemos isso com os nossos pais. Daí um casamento estável, uma casa, dois filhos, um cachorro... Mas, ao longo do tempo, a juventude assistiu à falência dos casamentos parentais, sofreu a dificuldade de ingressar em uma boa universidade e, posteriormente, de ingressar no mercado de trabalho. Hoje, o amor, para a nova geração, é um grande risco... Foge-se dele, como se se evitasse uma doença terminal. Os laços afetivos foram substituídos por conexões online e os amigos por seguidores, nas redes sociais”, pontua. O psicólogo diz que, “para além da vida social, o diploma já não é

suficiente; necessita-se de Pós-Graduação, Mestrado, Doutorado, PhD” e que, “apesar de tudo isso, não se tem garantia nenhuma”. Segundo ele, “saber inglês também não é suficiente; é preciso saber espanhol, francês, alemão, mandarim”, constata. Carlos Henrique Kruschewsky aponta alguns fatores que devem chamar a atenção dos pais. “São vários os alertas. Isolamento social, tristeza, comportamento de autopunição, culpa excessiva, vergonha, baixa autoestima e automutilação são os mais frequentes”, enumera. Ele explica ainda que o tratamento é semelhante ao aplicado aos adultos: psicoterapia e, em alguns casos, atendimento psiquiátrico. “Mas é preciso levar em conta que existem profissionais especialistas em todas as fases do desenvolvimento humano”, destaca.

CENTRO DE VALORIZAÇÃO DA VIDA

Por meio do número 188, o Centro de Valorização da Vida (CVV) funciona como um serviço de apoio emocional, em todo o país. De acordo com Paulo Souza, um dos

voluntários que atuam em Feira de Santana, são cerca de 8 mil ligações, diariamente, no Brasil, com a atuação de 3 mil voluntários, em todos os estados e no Distrito Federal. Segundo ele, a pessoa procura o CVV por não ter, muitas vezes, com quem desabafar. Não há restrições a respeito de qual assunto tratar, além de não haver um perfil específico. E o serviço funciona 24 horas. “Respeitamos a todos. Qualquer pessoa pode nos ligar e será acolhido. Falamos com pessoas de

todas as idades. Não há necessidade da outra pessoa se identificar ou dar qualquer dado”, ressalta. Para os voluntários, é exigida uma idade mínima de 18 anos e os interessados passam por um treinamento. “O voluntário pode exercer qualquer atividade profissional. Não há necessidade de ter formação na área de psiquiatria ou psicologia, pois não fazemos acompanhamento e tratamento. Isto é função da equipe multidisciplinar. Somos apenas aqueles amigos provisórios, um apoio quando a outra pessoa

Há, aproximadamente, 25 anos, a professora Suzi Brito foi diagnóstica com quadro de depressão. “Sentia indisposição, não tinha vontade de fazer as atividades simples do dia a dia. Dormia muito. Tinha muito sono durante o dia. Mas, durante a noite, muita insônia, nervosismo. Chorava o tempo inteiro. Buscava, em mim, um motivo para aquela tristeza, para aquele choro e não encontrava. Na época, não estava passando por nenhum problema financeiro, nem familiar. Graças a Deus, estava tudo bem. Isso era algo que me deixava ainda mais triste, porque me culpava bastante e a culpa é algo muito forte, no depressivo. Cheguei a pesar 37 quilos, fiquei desnutrida, desidratada. Precisei de uma intervenção mais rigorosa, com tratamento venoso, porque estava a ponto de

Fiz terapia, tratamento com psiquiatra, mas as medicações, naquele tempo, me dopavam muito e, na época, tinha dois filhos pequenos precisando de cuidados. Além disso, trabalhava. Fui retirando a medicação. Voltei a tomar remédios somente em julho do ano passado, porque tive um gatilho, uma situação difícil pela qual passei. Todo mundo passa por esses momentos, na vida, e eu precisei recorrer à medicação. Foi a melhor decisão”, conclui, afirmando que a prática de atividade física também a ajuda a se sentir melhor. A professora lamenta que a depressão ainda seja vista com tanto preconceito, mas diz que encontrou apoio na família. “Não é fácil, mas dei sorte, porque tenho uma família que, mesmo conhecendo pouco a doença, me apoiou, que nunca me disse que era falta do que fazer, que era falta de Deus. Aliás, justamente por ter Deus é que estou aqui e os amigos também. É muito duro ouvir esse tipo de coisa”, lastima. Suzi Brito manda um recado a quem está com depressão e ainda não procurou tratamento: “busque alguém da sua inteira confiança e diga: Foto: EBC/ Reprodução

No Brasil, cerca de 6% da população tem depressão

morrer”, conta, citando que, nessa época, procurou diversos médicos, sem sucesso, pois não identificaram o problema. A docente ressalta que as pessoas precisam e devem procurar ajuda. “Sempre busquei ajuda.

preciso de ajuda, as minhas ideias não estão concatenadas! Peça a essa pessoa para te levar a um profissional. E lembre-se: tem momentos que a medicação é necessária. É preciso coragem”, incentiva.


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Feira de Santana-Bahia, fevereiro de 2020

César Oliveira

Bodega do Legozza

AEROPORTO

Foto: Secom/ Reprodução

O aeroporto de Vitória da Conquista chegou a 45 mil desembarques e embarques, em dezembro, projetando 500 mil passageiros/ano, pouco tempo depois de inaugurado. Diante disso, é difícil acreditar que Feira de Santana, com o potencial de habitantes na sua macrorregião, não consegue viabilizar um aeroporto local. O que falta é decisão governamental, por motivos diversos. E a cidade continua sem ser tratada como a segunda cidade do estado, pelo Governo, e sendo cozida, em banho-maria, por seus líderes.

LAGOA SALGADA

Foto: Hugo Oliveira/ Reprodução

Nem o Governo Municipal diz nada, em conveniente silêncio, nem o Ministério Público do Meio Ambiente – que, pelo jeito, não emite parecer – nos dá uma notícia sobre a ciclovia ao redor da Lagoa Salgada. Os representantes de Feira, em Brasília, tampouco serviram para nada. A lagoa continua vítima, à mercê dos inva-

A FAKE NEWS DO CENTRO DE ABASTECIMENTO

É voz corrente, na cidade, que o Centro de Abastecimento precisa ser revitalizado. Ora, só se revitaliza aquilo que se deixou decair, que não foi mantido dentro do padrão necessário. É surpreendente, porque, ao longo desses 20 anos, sempre ouvimos a notícia de que se estava fazendo isso e aquilo, no local, e avançando. Pelo jeito, era fake news.

Foto: Jorge Magalhães/ Reprodução

sores (de baixo e de alto escalão), que vão enterrando suas nascentes, para, depois, dizerem que não tem água. Ou contratarem um parecerista para afirmar que não era lagoa, critério, aliás, usado, fenomenalmente, pelo prefeito anterior, para convencer que uma lagoa não era uma lagoa. Feiroeste nunca deixa de revelar o seu pior.

AUDITÓRIO DA UEFS Devem ser realizadas umas 40 formaturas por ano, na Uefs, além de outros eventos. E todos vão ao Auditório Central, afinal, o grande cartão de visita da instituição, para todos os pais e pessoas que acompanham as cerimônias. E o que eles encontram e do que saem falando? Do auditório eternamente interminado. Não é de se estranhar, nessa Feira de eternas obras inconclusas, mas é de se envergonhar. Nem o Governo do Estado faz o mínimo movimento nem nossos deputados cuidam de botar uma Emenda Parlamentar que permita a Uefs oferecer, aos pais dos formandos e aos visitantes, um ambiente decente.


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PROLONGAMENTOS DAS AVENIDAS

Feira de Santana-Bahia, fevereiro de 2020 Foto: Jorge Magalhães/ Reprodução

Antes tarde do que nunca. O início das obras na Fraga Maia e na Ayrton Senna são duas ótimas medidas, ainda que tenham tardado mais do que o desenvolvimento da cidade merecia. De qualquer modo, Colbert está marcando um ponto, com essas obras.

SÉRGIO MORO Evidente que há pontos discutíveis nas ações da Lava-Jato, conduzida por Sérgio Moro, afinal, foi uma operação gigante, mas há, também, uma mudança de paradigma: de uma Justiça que deixou de prender pobre, puta e preto, para prender empresários e políticos poderosos, como Lula, Temer, Obebrecht e tantos outros. Lula, apesar dos que se recusam a pensar, é um condenado por corrupção

em mais de uma instância, por um conjunto de juízes, por liderar o petrolão, o mensalão, enfim, o maior projeto de desvio de recursos públicos de nossa história. Não há mais o que discutir sobre isso. A população reconheceu o trabalho do juiz e o tornou a pessoa de maior prestígio, hoje, no país. Por isso mesmo, um conjunto de políticos, com medo de não ter vez na eleição de 2022 ou de

Foto: Adriano Machado/ REUTERS/ Reprodução

EDUCAÇÃO

Poucas áreas, no país, são tão vilipendiadas quanto a Educação, com aplicação inadequada de verbas e com mais recursos aplicados na Educação Superior do que na Básica – o inverso do mundo. Por outro lado, apesar dos imensos fracassos dos resultados, significativa parcela de professores defende a manutenção do status quo – e de seus ídolos –, recusando-se a reconhecer a condenação a que estamos submetidos, pela baixa qualidade. Há, também, uma recusa em aceitar que parte dela vive uma ideologização excessiva, confirmadas em infinitos vídeos, provas, questões, filiais de sindicatos dentro de colégios, ameaças a professores de direita. Mas essa não é a plenitude. Tampouco a questão principal. No discurso mais rasteiro, que, em verdade, visa mais a tentativa de proteção de espaços consolidados, dizem que o novo governo quer destruir a educação. Que educação há para ser destruída? A que nos dá os piores lugares no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), por décadas? Ou a que, aqui na Bahia, por exemplo, nos dá o pior Ensino Médio e o segundo pior Ensino Básico do Brasil, sequelando o Estado por gerações futuras? Ou será a que fecha colégios? Se for, temos é que torcer pela destruição, para tentarmos ter um novo caminho. A Educação precisa ser debatida a sério, com especialistas livres da contaminação ideológica, afinal, no mundo moderno que vem se desenhando para o futuro, só a Educação permitirá a garantia da sobrevivência do país e de seus empregos.

REAJUSTE

serem presos, faz de tudo para conter o ex-juiz e afastá-lo de Bolsonaro. Primeiro, com a tentativa calhorda de dividir o Ministério da Justiça, e, agora, como não deu certo, aceitando que ele vá

para o Supremo Tribunal Federal (STF), um “mal menor”. O que está em jogo é apenas a disputa pela sucessão presidencial e não qualquer senso de justiça, como pode parecer.

O Governo do Estado não dará reajuste aos servidores públicos, mais uma vez, levando a uma defasagem significativa. Falta, em defesa dos servidores, uma oposição, como havia no tempo do velho ACM.

IMPOSTO DE RENDA

Uma das formas de aumentar a derrama fiscal que vivemos é a falta de correção da tabela do Imposto de Renda, prática de todos os presidentes, até o momento. É um aumento de tributos que a sociedade não suporta mais arcar. Esperamos que a promessa do novo governo seja cumprida e que essa tabela comece a ser corrigida.


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Feira de Santana-Bahia, fevereiro de 2020

Epidemia de depressão exige rede de apoio e redução do preconceito O mundo vive uma epidemia de depressão, que continua a crescer e tende a agravar-se, diante de um mundo hiperdinâmico, cheio de incertezas e de altas demandas emocionais. Em 2017, um Relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou que a depressão afeta 4,4% da população mundial (5,1% das mulheres e 3,6% dos homens). No Brasil, a prevalência chega a 5,5% da população. Em pesquisa realizada entre jovens universitários, os números são assustadores, com até 70% deles manifestando algum grau de ansiedade ou componente depressivo. Aliás, quando se analisa Burnout (de modo simples, uma espécie de síndrome de esgotamento profissional), os números chegam a 80%, em algumas áreas. O termo depressão tem sido usado para designar tanto um estado afetivo normal, como a tristeza, quanto

Foto: Getty Imagens/ Reprodução

um sintoma, uma síndrome e uma ou várias doenças. Não é nosso objetivo discutir essa classificação, apenas pontuar que existe um largo leque de sintomas emocionais, que vai do normal ao patológico. A depressão inclui uma combinação de fatores biológicos, psicológicos e sociais de angústia. Esses fatores poderiam causar mudanças na função cerebral, incluindo alterações na atividade de determinados circuitos neuronais. Trata-se de uma doen-

Entre jovens universitários, números são assustadores: até 70% manifestam algum grau de ansiedade ou componente depressivo; quando se pensa em Síndrome de Burnout, a estatística pode chegar a 80%, dependendo da área

ça psiquiátrica crônica e recorrente, que produz uma alteração do humor caracterizada por uma tristeza profunda, que não se resolve, associada a sentimentos de dor, amargura, desencanto, falta de esperança, baixa autoestima e culpa, assim como a distúrbios do sono e do apetite. Evidente, que ela deve ser separada dos episódios de tristeza transitória que todos nós temos, quando passamos por alguma dificuldade, e que, com o tempo, superamos. Na depressão, os sentimentos de tristeza e angústia permanecem, independente de haver uma causa subjacente. A depressão pode ser leve, moderada ou grave. E exige que o preconceito que a envolve seja vencido. Também que o paciente aceite ajuda profissional. Esse é um passo decisivo. O verdadeiro temor deve ser a falta de tratamento e não a aceitação do diagnóstico, pois isso

retarda a abordagem e piora a recuperação. Antes do estado de depressão propriamente dito, é evidente que há vários transtornos do humor e da personalidade, além de muitos outros episódios isolados. Mas o que nos interessa é alertar a sociedade, os educadores e os pais, a fim de que estejamos mais atentos ao reconhecimento desses sentimentos, em todas as faixas etárias. É salutar criar redes de apoio e condições objetivas de assistência multiprofissional, que nos permitam superar a relativa desatenção que temos tido com esse imenso e crescente problema de saúde. É preciso que o mundo que estamos criando não se torne uma ameaça ainda maior à nossa saúde mental, elemento vital para a manutenção da qualidade de vida. Enfrentar a depressão, em suas várias fases e manifestações, precisa ser uma responsabilidade de todos nós.


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