TRIBUNA FEIRENSE

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FEIRA DE SANTANA-BAHIA, QUARTA-FEIRA, 31 DE JANEIRO DE 2018

ANO XVI - Nº 2.601

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Por que Feira não voa? ATENDIMENTO (75)3225-7500

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Pista do Aeroporto João Durval Carneiro e delimitação da área desapropriada, pelo Governo do Estado, para futura ampliação do equipamento

Entre promessas adiadas, desinformações e operações nebulosas, o Aeroporto de Feira segue minguando e sem garantir os pousos e decolagens que povoam as esperanças dos feirenses. Além disso, a falta de transparência e de informações consistentes geram especulações e irritação no cidadão, que não consegue compreender as razões que impedem a concretização do funcionamento do Aeroporto. Alega-se viabilidade, mas não esclarecem qual seria o custo que o tornaria viável. Alegam proximidade com o Aeroporto de Salvador, mas vários outros terminais brasileiros operam com a mesma distância dos aeroportos de suas respectivas capitais. Citam a falta de pouso por instrumentos, mas outros funcionam sem o equipamento. Nessa edição, o Tribuna Feirense foi em busca das informações necessárias, tentando esclarecer as questões. Encontramos uma série de dificuldades e ausências de respostas objetivas, mas o que apuramos e o que o leitor encontrará nas próximas páginas é o bastante para que possamos concluir que a decisão é política, e não técnica. Nessa edição, também discutimos o impacto da condenação de Lula e a urgência de renovação do PT. E o colunista André Pamponet aborda, de forma criteriosa e oportuna, a necessidade de uma agenda de desenvolvimento para Feira. No caderno de Cultura, prestamos um tributo a Jorge Galeano, argentino radicado em nossa cidade, que tem uma marcante obra artística. Esperamos que a leitura desta edição ocupe a mente e o coração do leitor.

E a agenda de desenvolvimento para Feira? André Pomponet - Economia em crônica

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A condenação de Lula e a política César Oliveira - BODEGA DO LEEGOZA

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Feira de Santana-Bahia, quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

O Aeroporto cronicamente inviável

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César Oliveira

Há mais mistérios entre a terra e o ar do que imaginamos. Pelo menos, no Aeroporto de Feira. Afirmam que o terminal é inviável, mas não há explicações técnicas transparentes, que justifiquem o fato. Nem da empresa detentora da Concessão, que se recuou a responder à nossa reportagem. Nem da Azul, companhia aérea que opera o único voo semanal. Nem do Governo, através de seus órgãos reguladores. Vivemos de fake news, adiamentos, desculpas sem consistência. Na última delas, o governador Rui Costa disse que aeroportos a menos de 100 quilômetros não se viabilizam, exceto o de Campinas, em São Paulo. O jornal Tribuna Feirense foi atrás da questão, com o intuito de tentar entender o que está acontecendo. Um interessante estudo da Secretaria de Aviação Civil (SAC), feito ainda no governo federal passado, deixa claro que transformar a aviação em um transporte de massa era uma política de governo e que nenhum município deveria estar a mais de 100 km de um terminal aéreo. Feira, é claro, é referência para todos os municípios que estão em sua área de influência, com um mínimo de 2 milhões de habitantes. Sendo assim, não é possível conceber Feira sem uma opção multimodal de transporte, que inclua rodovias, trens, aviões. Afinal, 60% das mais de 500 indústrias aqui instaladas tem interesse em usar o aeroporto, como afirma o Diretor do CIS, em entrevista à nossa reportagem. O mesmo estudo do governo mostra que o município teria potencial para 266 mil passageiros por ano. Informações que obtivemos sugerem que a avaliação de uma empresa detectou um potencial de 400 mil passageiros por ano. Mesmo ficando apenas com os dados oficiais, percebemos eles atestam a viabilidade do aeroporto, já que o mesmo estudo sugere que 60 mil passageiros anuais já seriam suficientes para garan-tir os voos necessários. E não estamos sequer falando de

Governo do Estado afirma que Aeroporto de Feira é inviável, mas não há explicações técnicas transparentes, que justifiquem o argumento cargas, outro quesito sobre qual não conseguimos obter dados, como é o caso, por exemplo, do volume de cargas embarcadas em Salvador, originários da nossa região. Faz parte dos mistérios inson-dáveis desse terminal aéreo. Quanto ao argumento dos 100 quilômetros, ele é sobejamente desmentido pela realidade. Há, pelo menos, sete aeroportos no Brasil, com essa distância. Para usar um bem próximo, citamos o terminal de Campina Grande, cidade que tem uma população estimada em 403 mil habitantes e Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 7,5milhões (Feira tem PIB de R$12 milhões), com a mesma distância da capital de seu estado que o nos-so de Salvador e que movimentou 149 mil passageiros em 2017, 422 mil quilos de car-ga e faturamento de R$ 1,4 milhão só em serviços. A desculpa mais recente é a falta de instrumentos para guiar os pousos (ILS). Não é simples assim. Interessa o percentual de pousos que são desviados pelas condições de visibilidade. Com um voo semanal, é impossível esta análise. Só

a título de comparação, o Aeroporto Santos Dumont, no Rio, fica fechado durante 53 horas por ano, o que equivale a 0,8% dos voos. Segundo a SAC, existem 32 aeroportos no Brasil com pousos guiados por instrumentos e alguns em processo de instalação. Existem três categorias (I, II, III) de Sistema de Pouso por Instrumentos (ILS). Interessante relatar que o Aeroporto Santos Dumont, no Rio, devido à geografia, não comporta o ILS, embora atenda a 29 mil pessoas diariamente e tenha capacidade para 9,9 milhões de passageiros. O terminal usa o sistema RNP-AR, um modelo alternativo de guia para o pouso, mas nem todas empresas estão treinadas para o seu uso. O secretário de Planejamento de Campina Grande, André Agra, em entrevista à rádio Campina FM, em 22 de novembro de 2017, afirmou que a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) irá colocar para funcionar o Sistema de Pouso por Instrumentos (ILS) no Aeroporto João Suassuna, já tendo sido feito georreferenciamento,

notificação de antenas de telefonia fora do padrão e proibição de construções nas áreas de aproximação e decolagem. Segundo informou, até aquele momento, o terminal funcionava sem o equipamento. Aliás, curiosamente, o ILS de Campina Gran-de foi conseguido pelo Senador Vital Filho, junto à Infraero, como mostram matérias locais veiculadas naquele período. Com esses dados, fica claro que o ILS (que tem investimento entre 6 e 10 milhões para instalação, segundo apuramos, mas que depende de muitas variáveis) não é o item fundamental do processo, embora seja o ideal para qualquer aeroporto, pois evita o desvio de voos, aumenta segurança, reduz custos e poupa os passageiros de transtornos. Para a implantação do ILS em Feira, há, ainda, a necessidade de ampliação das margens da pista. O Governo do Estado já fez o decreto de desapropriação da área situada no entorno do equipamento. Falta, apenas, a indenização dos proprietários. Não há informações sobre o investimento que

seria necessário para isso. As matérias da Tribuna desmentem o governador sobre a distância e a viabilidade dos aeroportos, mostrando que esse não é o argumento para impedir o nosso avanço. A verdade é que ninguém conhece os termos da Concessão; se há um cronograma de investimentos ou não; o acordo de exclusividade da Azul (ela tem significativa redução do ICMS do querosene, para manter voos regionais); ou o motivo do cancelamento do voo com maior taxa de ocupação (98%) que a Azul operava (Feira - Campinas), de forma arrogante e sem a menor satisfação aos feirenses. Tampouco sabemos o porquê da retirada dos equipamentos do terminal. Precisamos saber qual seria o investimento em indenizações e em ILS; qual o potencial de cargas; se há novos estudos de demanda de passageiros; e se há outras empresas interessadas, além da Azul, que parece não gostar de Feira. Essas questões têm sido tratadas de forma nebulosa, sem respeito ao cidadão e ao eleitor de nossa Região Metropolitana (é bom lembrar),

Fundado em 10.04.1999 www.tribunafeirense.com.br / redacao@tribunafeirense.com.br Fundadores: Valdomiro Silva - Batista Cruz - Denivaldo Santos - Gildarte Ramos Diretor - César Oliveira Editora - Ísis Moraes Editoração eletrônica - Maria da Prosperidade dos Santos

gerando especulações desnecessárias. Não sabemos se há pressões da Concessionária do Aeroporto de Salvador e de todos os que se beneficiam com ausência de alternativas; se há problemas econômicos decorrentes das limitações das construções no entorno; enfim, as verdadeiras razões que impedem que esse modal seja implantado e cumpra a política traçada pelo governo federal anterior. A desculpa da viabilidade fere violentamente nosso senso, pois sabemos que ninguém dos municípios localizados acima de Feira irá escolher ir a Salvador para embarcar, tendo Feira no meio do caminho. Precisamos de transparência. E precisamos tratar essa questão de forma dura, pois o único aspecto que parece evidente é que é uma decisão política – como a que viabilizou o novo Aeroporto de Conquista. Nossa Sociedade precisa se mobilizar e parar de aceitar argumentos inconsistentes, que nos impedem de voar alto. Embarcando por aqui, é claro. Nosso aeroporto é uma esperança ainda à espera de acontecer.

OS TEXTOS ASSINADOS NESTE JORNAL SÃO DE RESPONSABILIDADE DE SEUS AUTORES.

Av. Senhor dos Passos, 407 Sala 05


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Retomada de voo para São Paulo é defendida por setores empresariais Reprodução

Mila Melo Os passageiros do Aeroporto Governador João Durval Carneiro, em Feira de Santana, já puderam escolher para quais destinos queriam viajar. Os aviões que decolavam do aeródromo inicialmente seguiam em direção às cidades baianas de Salvador e Vitória da Conquista e, depois, somente para o Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas, centro de tráfego aéreo importante, com voos para diversas cidades do país e do exterior e um dos maiores centro de transporte de cargas. Atualmente, o único voo disponível é semanal, sempre aos domingos, para o Aeroporto Internacional de Belo Horizonte - Confins. A empresária Jamylle Silva, dona de uma agência de turismo em Feira de Santana, lembra que o movimento no terminal aéreo era intenso e que havia muita procura por passagens, principalmente por parte de moradores de outros municípios. “Meu público maior era de pessoas de cidades vizinhas. O destino mais procurado era Campinas, em São Paulo. Quando havia voos diários para lá, de segunda

PASSAGEIROS E CARGAS

Oferta de mais voos no Aeroporto João Durval Carneiro pode trazer mais benefícios para o município, diz diretor do CIS a sexta-feira, a gente tinha uma rotatividade muito alta. A ocupação dos voos era de 98%. Eu tive uma loja no aeroporto só para comercializar passagem e a gente vendia uma média de 40% da capacidade do voo diário”, afirmou. A retomada de um voo para São Paulo é importante para Feira de Santana e traria ganhos para diversos setores empresariais e comerciais da região, pelo menos é o que acredita o presidente da Associação Comercial e Empresarial

de Feira de Santana (Acefs), Marcelo Alexandrino. “Minha opinião é que aqui deveria ter um voo que chegasse à noite e voasse para São Paulo pela manhã, porque facilitaria muito a vida do empresariado local e também das pessoas que viessem tratar de negócios aqui. Além disso, movimentaria outros setores, porque a pessoa que pernoitasse em Feira teria que pegar um transporte no aeroporto, dormiria em um hotel e ainda frequentaria um restaurante”, observa.

O presidente da Acefs também destacou que a região metropolitana de Feira de Santana possui quase 2 milhões de habitantes e que muitas empresas possuem relações com o sudeste do país. “Feira é um entroncamento rodoviário e um centro de logística. Por isso o modal aéreo é fundamental para consolidar este papel. São por volta de 20 mil empresas comerciais e muitas com relação direta com o grande centro comercial do país, que é São Paulo. O fluxo de viagens de pessoas

indo e vindo para a capital paulista é muito grande”, afirmou. Marcelo Alexandrino ainda salientou que muitas pessoas da região iriam optar pelo aeroporto da cidade ao invés do terminal de Salvador, desafogando, assim, o aeroporto da capital. Além do voo para São Paulo, outro destino apontado como atrativo é Recife, capital do estado de Pernambuco. “A nossa demanda inclui voos para Recife, um para o norte e um para o sul do país”, elenca Marcelo Alexandrino.

Terminal feirense teve mais de 10% de redução de passageiros, em relação a 2016 A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) publicou, no último dia 02, as estatísticas de movimentação de passageiros em voos comerciais relativas a dezembro de 2017. Segundo a Anac, nesse período, o Aeroporto João Durval Carneiro, em Feira de Santana, movimentou 555 passageiros, sendo 149 embarques e 406 desembarques. A movimentação total, ao longo de 2017, foi de 6.395 passageiros, sendo 3.001 embarques e 3.394 desembarques. Os dados da Anac apontam redução do número de

Essa opinião também é defendida por quem atua na área de turismo. “Uma rota para Recife, como ponto de conexão para demais cidades do Nordeste, seria o ideal para o turismo emissivo e receptivo, porque os feirenses gostam muito de viajar para essa região. A maioria das viagens que eu vendo para períodos como carnaval e micareta é para locais de praia”, disse Jamylle Silva.

passageiros em relação ao ano de 2016, quando houve 7.325 passageiros transportados, em voos comerciais, no terminal. A maior movimentação registrada no Aeroporto João Durval Carneiro ocorreu no ano de 2015, quando 32.423 passageiros passaram pelo terminal feirense, em voos comerciais. Naquele ano, estava em vigor a oferta de 05 voos semanais, inicialmente para Campinas (SP) e, posteriormente, para Confins (MG). O balanço da Anac foi divulgado no dia em que o voo inaugural Campinas -

Feira - Campinas completou 02 anos. Na ocasião, o governador Rui Costa, que estava a bordo com a sua comitiva,

solicitou à companhia Azul que estudasse uma possível oferta de voos para Brasília. O grande movimento regis-

trado em 2015 deixa claro que o argumento da falta de demanda para o aeroporto local não se sustenta.

O diretor do Centro Industrial do Subaé (CIS), José da Paz, também defende que a oferta de mais voos no Aeroporto João Durval Carneiro pode trazer mais benefícios para o município. Ele acredita que, para que haja um maior crescimento industrial de Feira de Santana e região metropolitana, é necessário transportar cargas e passageiros para diversas partes do país. “O ideal seria voos para todo país, a fim de escoar a produção das empresas e aumentar o fluxo de passageiros, mas as prioridades seriam São Paulo e a região Nordeste”, salienta. Ainda de acordo com o diretor do CIS, uma pesquisa interna mostrou que a região tem demanda para utilizar o transporte aéreo. “Fizemos uma pesquisa, recentemente, com uma mostra de 100 indústrias, de um universo de 552, e verificamos uma forte demanda por carga aérea, em torno de 60%. Quanto à vocação do aeroporto de carga e passageiros, hoje as cargas são transportadas nos aviões de passageiros e não precisa exatamente de aeronave de carga”, enfatizou José da Paz. Marcelo Alexandrino, presidente da Acefs, também acredita que a melhor solução para Feira de Santana é um centro de tráfego aéreo para transportar passageiros e cargas. “É importante que a gente tenha as duas coisas, porque um aeroporto só de cargas é difícil de viabilizar”, afirmou.

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Aeroporto de Feira: grandes e Vanessa Testa Fundado em 1985, o Aeroporto Governador João Durval Carneiro operava, inicialmente, apenas voos particulares. Ao longo desses 32 anos de existência, o equipamento passou por inúmeras mudanças. E sofreu diversas interdições, por parte da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Em 2011, começaram a ser realizados investimentos na infraestrutura. E, em setembro 2014, foi, finalmente, reinaugurado. A nova estrutura possibilitou, a princípio, a oferta de três voos semanais para Salvador e Vitória da Conquista, tendo Belo Horizonte como destino final. A novidade gerou expectativas em autoridades políticas, empresários e também na população. Em vídeo divulgado pela Secretaria de Comunicação da Bahia (Secom), no dia da reinauguração, o então governador da Jaques Wagner, entusiasmado, mostrou vislumbrar grandes planos para o modesto aeroporto. Além de acreditar que o equipamento receberia investimentos sa-

tisfatórios, principalmente por estar localizado em uma região de grande potencial econômico e comercial, o ex-governador pensava além: “Tenho certeza que esse aeroporto pode se transformar também em um grande aeroporto de cargas, o que vai potencializar mais ainda Feira de Santana”, declarou. Não foi o que aconteceu. Quase quatro anos após a reinauguração, o que se percebe é que o aeroporto decaiu consideravelmente, apresentando resultados absolutamente insatisfatórios. Atualmente, o equipamento oferta, apenas, um voo por semana. Segundo comparação feita pelos administradores da Fanpage Aeroporto de Feira de Santana, na rede social Facebook, dos dez aeroportos baianos, o terminal feirense fica em último lugar no quesito movimentação de passageiros. De acordo com dados da Anac, apenas 6.395 pessoas passaram pelo equipamento no ano de 2017. Feira fica bem atrás de cidades menores e esses números podem ser atribuídos à redução da

oferta de voos realizados pela companhia Azul Linhas Aéreas. Hoje, a administração do Aeroporto Governador João Durval Carneiro é de responsabilidade da Braxton Sistemas. A empresa do Rio de Janeiro, que conta com quatro sócios e administradores, assumiu o serviço em julho de 2017. Outro equipamento também administrado pela Braxton é o Aeroporto Regional de Sorriso (MT).

OUTROS VOOS

Em uma de suas últimas visitas à Feira de Santana, em dezembro do ano passado, o governador Rui Costa disse que vem insistindo com outras companhias aéreas para que seja aumentada a quantidade de voos no aeroporto feirense. Segundo Rui Costa, as empresas relatam dificuldade de viabilidade em razão da pouca distância em relação ao terminal de Salvador: “O maior poder aquisitivo brasileiro está no estado de São Paulo e todos os aeroportos regionais próximos a grandes aeroportos não

se viabilizaram, a única exceção à regra é o aeroporto de Campinas”, tentou justificar. A informação dada pelo governador é rebatida na prática. Em todo o Brasil, não só em São Paulo, existem aeroportos próximos a terminais aéreos localizados em capitais que funcionam, e muito bem. Um dos exemplos é o Aeroporto de Campina Grande (PB), que está a 130 quilômetros do terminal de João Pessoa, capital paraibana. Para se ter uma ideia, o complexo aeroportuário de Campina Grande movimentou mais de 128 mil passageiros em 2016. Foram 3.405 voos e mais de 420 mil quilos de carga aérea. O Aeroporto de Campina Grande, que tem capacidade para receber até 900 mil passageiros por ano, ainda conta com nove voos diários, sendo dois da empresa de linhas aéreas Gol e uma da Azul, que interligam o equipamento às cidades de São Paulo (SP), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), João Pessoa (PB) e Petrolina (PE). Os

Terminal feirense não opera voos guiados por instrumentos, concessionários comerciais do terminal faturaram, em 2016, mais R$ 1,4 milhão, distribuídos entre varejo (R$ 2.225,00), serviços (R$ 1.335.862,67) e alimentação (R$ 77.239,85). Outro bom exemplo é o sítio aeroviário de Joinville, distante 83 quilômetros do

Aeroporto de Navegantes (SC) e 131 quilômetros do terminal de Curitiba (PR). O equipamento movimenta, diariamente, uma média de 1,3 mil passageiros, 34 voos e mais de 5,2 mil quilos de carga aérea. Em 2016, 512 mil pessoas passaram pelo terminal de Joinville, para


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expectativas, pequenas ações Reprodução

, nem tem infraestrutura adequada para atender passageiros embarque, desembarque e conexões. Já no Aeroporto de Caxias do Sul (RS), distante apenas 128 quilômetros do terminal aéreo de Porto Alegre, foram 2.642 assentos por semana e 182 mil passageiros em 2016. As distâncias que separam os três aeroportos

citados dos terminais aéreos das respectivas capitais de seus estados são equiparáveis à quilometragem que separa o Aeroporto de Feira de Santana do complexo aéreo da capital baiana. Importa salientar também que, segundo o Relatório Executivo O Brasil que

Voa, o projeto da Secretaria Nacional de Aviação Civil prevê que toda população deve estar a menos de 100 quilômetros de um terminal aeroportuário, uma vez que o modal aéreo deve atender aos requisitos de transporte coletivo de massa. Levando isso em consideração e tendo em vista que Feira de Santana está a 108 quilômetros de Salvador, qual o empecilho, então? Diante de dados concretos sobre terminais aéreos de cidades em situação semelhante, a justificativa usada pelo Governo do Estado para não viabilizar o Aeroporto João Durval Carneiro soa como improcedente. Ainda de acordo com o governador Rui Costa, as empresas Tam, Gol, Azul e Avianca anunciaram novos voos para a Bahia, mais precisamente “para as cidades de Salvador, Ilhéus e Porto Seguro”. Segundo Rui Costa, Feira de Santana e Vitória da Conquista são destinos que ainda estão sendo estudados. No entanto, em uma audiência pública realizada em outubro de 2016, no Senado Federal, a

Gol informou que os municípios baianos de Barreiras, Feira e Conquista também estavam entre os novos destinos para os quais pretendia voar. E em um prazo de até 20 meses. Para tanto, os aeroportos dessas cidades precisariam ser adaptados, o que não aconteceu. Por isso, outro dado que chama a atenção é que, diferentemente do terminal feirense, os aeroportos de Campina Grande, Joinville e Caxias do Sul também possuem homologação para operar voos guiados por instrumentos (IFR), fator que contribui, preponderantemente, para que as companhias aéreas utilizem esses terminais como rotas para viagens. O Aeroporto de Campina Grande, vale ressaltar, possui os equipamentos necessários, mas ainda não opera IFR. Mesmo assim, apresenta uma movimentação de passageiros e cargas mais do que satisfatória. Em setembro de 2017, o deputado estadual Zé Neto, líder do governo na Assembleia Legislativa

da Bahia, anunciou que, “em breve, os voos diários para São Paulo seriam uma realidade do Aeroporto de Feira”. Passados cinco meses, não houve novidades. O único voo comercial ofertado pelo terminal segue sendo o Feira - Salvador - Confins (MG). O que existe, de fato, é um impasse. Companhias aéreas não querem investir no Aeroporto João Durval Carneiro porque as chances de terem problemas com pouso e decolagem são grandes. O equipamento não é adequado para atividades em dias nublados e chuvosos. E não permite aos pilotos operar voos guiados por instrumentos (IFR). Fatores como esses acabam por repelir aqueles que cogitam utilizar a Princesa do Sertão como rota em suas empresas.

CANCELAMENTO DE SERVIÇOS

No dia 12 de janeiro de 2018, o Serviço de Informação de Voo de Aeródromo (AFIS), o Serviço de Previsão Meteorológica

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(MET/CMA) e as Luzes de Aproximação de Precisão (PAPI) foram oficialmente excluídos do terminal aéreo feirense. Desde junho do ano passado, essas atividades estavam indisponíveis, mas, agora, com o cancelamento oficial, fica ainda mais difícil acreditar em melhorias na situação funcional do aeroporto e, consequentemente, na possibilidade de oferta de novos voos. Atualmente, a situação do Aeroporto Governador João Durval Carneiro é bastante complicada. O equipamento, que só recebe um voo comercial por semana, conta com um pequeno salão de embarque e desembarque, uma lanchonete e um stand para locação de carros. Não existem cadeiras para os passageiros, nem locais para despachar malas. Enquanto isso, a população anseia por novos investimentos na estrutura do terminal, para que novos voos venham a movimentar a cidade, sobretudo no setor econômico.


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aldeias@uol.com.br

A condenação de Lula e a política Embora os militantes profissionais e os políticos que dependem de seu carisma para terem uma perspectiva de poder façam absurdas ameaças de incendiar o país e os tribunais, a verdade é que a confirmação da condenação de Lula, pelo TRF4, foi cristalina e coloca o ex-presidente diante da prisão e do afastamento de sua candidatura, com habeas-corpus já negado no STJ e sinalização da presidente do STF de que não irá revisar a prisão em segunda instância. Evidente que o discurso de torcedor não impede que tenhamos a certeza que Lula comandou o PT em direção a um selvagem projeto de poder fundamentado na corrupção – via empreiteiras, ditaduras amigas e países com

governos bolivarianos –, que incluiu a América Latina, Cuba e África e já levou ao afastamento e prisão de políticos dos outros países, envolvidos no lamaçal da Odebrecht. O gasto desenfreado, a falta de reformas estruturais, a prisão a dogmas ideológicos, além do populismo dos gastos sem controle, para servir pequenas benesses aos diversos setores da sociedade, como forma de utilizá-los como massa de manobra, levou o país à brutal recessão simbolizada pela falência da Petrobras, saqueada de todas as formas pelo consórcio do poder. Não se pode negar esses fatos. Com diversos presidentes, tesoureiros, parceiros e políticos presos e condenados, o PT não tem mais o direito de alegar inocên-

cia, exceto como chacota e desrespeito. Diversos líderes do partido já reconheceram que ele “comeu mel e se lambuzou” e o PT já não encontra defesa nas ruas, embora certa parte da militância, tomada pela paixão, ainda defenda o ex-presidente, como uma espécie de canto do cisne, já que não tem mais como defender o partido e suas políticas, depois de tamanha violação ética. Insistir em perseguição jurídica é tentativa de vitimização, que não irá conduzir o PT a lugar algum. A condenação de Lula é um assunto da lei e não das urnas, pois votos não são salvo-condutos para crimes, nem urna é tribunal. A verdade é que depois de longos anos, pela primeira vez, Lula não estará legalmente na

chapa de candidatos a Presidente e não se sabe se conseguirá transferir votos a um candidato que indique. A política brasileira, finalmente, começará a movimentar-se em alguma direção – ainda que não sabida – e além da dicotomia PT x anti-PT. O partido, por sua vez, ainda está perdido sobre que rumo tomar, mas, certamente, o que faria melhor era assumir um mea-culpa, revisitar os princípios com os quais foi lançado, ter a coragem de fazer os expurgos necessários, para apresentar-se novamente à sociedade e ocupar o espaço e os votos que, naturalmente, pertencem à esquerda. O PT, pela sobrevivência, precisa se libertar de Lula. Ou continuar, como uma farsa.

Violência e o fracasso dos governos A corrupção institucional, a falta de investimentos, o loteamento político do Ministério da Justiça e sua inconstância, o eterno faz de conta do combate ao crime e às drogas, a desagregação social, sistema prisional primitivo, a incapacidade do Judiciário de cumprir seu papel, o relativismo judicial e a impunidade e a ausência de projeto integrado e inteligente de segurança estão cobrando seu preço: o país

está tomado pela violência. As facções criminosas expandem-se, estabelecem conexões internacionais, controlam totalmente as prisões, e ameaçam a ordem e as instituições de Segurança com execuções de policiais, agentes da lei, em operações altamente elaboradas, com dossiês, vigilância e planejamento profissional. A sequência de massacres em Manaus, Rio, Fortaleza pode se repetir a qualquer momento, em

qualquer estado, a depender do estágio da guerra entre os grupos. O Estado, omisso, por vezes abraçado ao crime, tolerou o crescimento desse poder paralelo e não dá sinais de capacidade de reagir e proteger a Sociedade. O Rio, estado em que morrem mais de 100 policiais por ano, vive uma completa condição de guerra civil, com 05 mortes violentas por dia, e sinaliza o caminho que os demais poderão tomar. A situação

de violência é dramática, cotidiana, com banalização aterrorizante da vida, assustadora e limitante. Não enxergamos nos governos coragem, determinação e inteligência para enfrentar o problema, mas é preciso que se entenda que sua existência apresenta um elevadíssimo custo econômico, que precisa ser debatido, e um cruel custo social, que precisa ser aliviado. O Brasil está perdendo o Brasil para o crime.

“É a economia, estúpido!” A famosa frase do marqueteiro de Clinton, James Carville, virou case de marketing eleitoral e, cada vez mais, vemos que a economia é quem dá sustentação aos governos. Não se vence governo que vai bem, as-

sim como não se sustenta governo que capenga na economia. Temer faz um governo eticamente comprometido, rodeado de delatados e investigados no STF – ele próprio, o primeiro presidente denunciado –, acossado pela PF e MP, com baixíssima

aprovação popular. Entretanto consegue aprovar reformas no Congresso e se manter no poder cavalgando o cavalo selado pelo Ministro Meireles, que tirou o país da recessão e fez os ajustes que começaram a recuperar a economia devastada por

Dilma e seu Ministro da Fazenda, sonegador de impostos, Guido Mantega. As pessoas querem estabilidade econômica e estão sempre dispostas a pagar o preço de quem garante esse resultado. É uma lição da história.

Escolas Médicas Segue a farra de abertura de escolas médicas de qualquer modo, sem critérios, exceto os políticos. Já nos convertemos no segundo país com mais escolas no mundo, o que mostra que esse não é o caminho que torna o sistema de saúde eficiente ou bem distribuído, e sim as intervenções que os governos se recusam a fazer. Abrir escolas desse modo leva a médicos com má formação. Toda vez que um profissional sem formação adequada é entregue à sociedade, lesões contra os cidadãos são cometidas. E o Estado

se torna cúmplice dessa violência. Ao se tornar cúmplice, ele se deslegitima, pois seu papel é proteger, e não lesar os cidadãos. É lamentável que o Brasil tenha escolhido o caminho da saturação profissional como alternativa para resolver seus problemas de saúde, pouco importando quem seja lesado nesse trajeto. A defesa dessas aberturas de escolas é um equívoco tão grande quanto a destruição do bambuzal do Aeroporto. A este, pagaremos com o desconforto do olhar; ao outro, com a vida ou com sequelas.

Lagoas

Das, aproximadamente, 120 lagoas de Feira, poucas restam. Raras preservadas. O excelente projeto da Lagoa Grande capenga seu término, com ações do deputado Zé Neto – não se pode negar seu esforço –, a cada denúncia na imprensa. Do outro lado, depois de séculos, o governo municipal resolveu agir, graças ao Secretário de Meio Ambiente, Sérgio Carneiro, e está fazendo ciclovias ao redor das lagoas – inclusive a do Subaé –, para conter os predadores, grileiros e ricos sem limites, que, insaciados, adoram invadir as áreas públicas, sem a menor vergonha. O Secretário tem encontrado casas, áreas cercadas e lotes dentro das lagoas. Sem recursos, a Prefeitura evita a derrubada e constrói a proteção. Não é o ideal, mas antes algum limite que nenhum. Em recente intervenção, o Secretário desobstruiu uma nascente na Lagoa do Subaé, aterrada criminosamente, mostrando que o discurso de que certas áreas não são lagoas é apenas oportunismo cínico e pareceres de encomenda. A preservação das lagoas tem reflexos além do embelezamento e da amenização do cotidiano, como é o caso da redução da temperatura, me-

lhor circulação do ar, redução da impermeabilização do solo (águas das chuvas precisam ser drenadas para algum lugar) e servem para práticas esportivas, que melhoram as condições de saúde. Um dos lados da Lagoa do Subaé está sendo recuperado pela FAN (parece que as obras estão paradas). Esperamos que o Secretário Sérgio Carneiro conclua a proteção do outro, a fim de evitar que novos Atacadões e conjuntos habitacionais se instalem sobre o leito do espelho d’água. As lagoas Salgadas e Subaé precisam renascer e a população precisa cobrar, todos os dias, de seus governantes, essas intervenções. Aliás, fala-se que Sérgio pode sair do governo para candidatar-se a deputado federal, onde sempre foi destaque, várias vezes premiado como deputado nota 10. Se for verdade, desejamos que tenha sucesso, pois seria bom para Feira, mas esperamos que consiga concluir essa importante intervenção de preservação. Uma vez prontas, deveríamos ter algum meio de cadastrar essas lagoas em sistemas de referência, na internet. Uma vez georreferenciadas, todos poderiam vigiá-las eletronicamente, pois, a qualquer vacilo, os predadores voltarão

Por um Hospital Universitário para a UEFS “Precisamos formar médicos maximamente eficientes e minimamente invasivos à integridade física, econômica e afetiva do paciente” Professor César Oliveira


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Aeroporto para quê?

Reprodução

Vanessa Testa O que falta no Aeroporto de Feira de Santana? Essa é a pergunta que muitos se fazem ao saberem que esse equipamento existe na cidade. De muito pouca, a oferta de voos passou para quase nenhuma. Entretanto o aeroporto segue funcionando todos os dias da semana. A equipe do Jornal Tribuna Feirense foi atrás de respostas sobre o assunto. De acordo com um relatório executivo produzido pela Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República (SAC/PR), o potencial de passageiros em Feira é de mais de 266 mil pessoas. Contudo um número muito menor que esse passa pelo aeroporto local. Entre janeiro e novembro de 2017, o Aeroporto João Durval Carneiro (FEC) movimentou 5.792 passageiros, entre embarques e desembarques de voos comerciais. Muito abaixo do estimado pela SAC, porém, dentro do possível, levando em consideração que apenas um voo é operado semanalmente na cidade. Quando perguntada sobre o número de passageiros que tornava um aeroporto viável, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) respondeu que “A viabilidade de um aeroporto depende dos investimentos do operador aeroportuário, do interesse das companhias aéreas e do turismo e desenvolvimento local”. Para tanto, nossa equipe foi até o Aeroporto de Feira e tentou conversar com o único funcionário que estava no local. O rapaz não quis se identificar e não forneceu informações sobre o funcionamento da estrutura. Ao entrar em contato com a direção administrativa da empresa que gerencia o equipamento, a resposta fornecida foi: “parte técnica respondo à Anac”. Atualmente, existe em Feira apenas um voo semanal operado pela empresa Azul Linhas Aéreas. O avião sai às 14h50 do Aeroporto João Durval Carneiro, em Feira de Santana (SBFE/FEC), aos domingos, e vai até o Aeroporto de Confins (CNF), em Belo Horizonte. Porém o voo não é direto. Tem escala no

Potencial de passageiros em Feira é de mais de 260 mil pessoas, segundo relatório executivo produzido pela Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República Aeroporto Luis Eduardo Magalhães, em Salvador. E, no total, apresenta uma duração estimada (de acordo com o site da Azul) de 2 horas e 50 minutos. Segundo a assessoria de comunicação da Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transporte e Comunicações da Bahia (Agerba), até o momento, nenhuma outra empresa aérea realizou pedido formal para dar início à operação de voos no Aeroporto de Feira. QUESTÃO ECONÔMICA Nossa equipe pesquisou os preços de passagens nos aeroportos de Feira e Salvador com destino ao Aeroporto de Confins. Saindo de Feira de Santana, no voo operado pela Azul, no dia 18 de março de 2018 (data escolhida hipoteticamente para a pesquisa), o passageiro tem de desembolsar R$ 600,15. A viagem tem duração de 2h40 e, como dito anteriormente, o voo não é direto. Já o usuário que optar por ir de Salvador até Confins conta com passagens a partir de R$ 278,00, com voo direto de duração de 1h45. Supondo que o passageiro vá de Feira de Santana até Salvador através de translado particular (que tem um custo médio de R$ 90,00), ainda assim fica mais vantajoso financeira-

VAMOS SALVAR A LAGOA SALGADA ANTES QUE OS INVASORES A OCUPEM

mente ir por Salvador, já que os gastos ficam num total de R$378,00. A economia total é de R$232,00. O fato de ter apenas um voo, com preço muito mais alto do que os disponíveis no terminal de Salvador, e de que esse voo é apenas de ida, dificulta bastante para quem quer utilizar o aeroporto de Feira de Santana. A verdade é que a maior movimentação do aeroporto feirense se dá por aviões particulares, e não pelo voo semanal oferecido pela Azul. Não tivemos acesso a um número, mas sabe-se que várias são as aeronaves que abastecem e/ou pousam na cidade. No período do São João de 2017, por exemplo, o pátio do aeroporto comportou cerca de dez aeronaves ao mesmo tempo. Todas elas de cantores que fizeram shows na cidade e redondezas. O Piloto Comercial Multi IFR Liebert Santana é um dos profissionais que geralmente passa por Feira. Ele diz que já utilizou o equipamento tanto para abastecimento de combustível como para permanecer um tempo. O piloto considera a estrutura do aeroporto FEC excelente, em comparação com outras instalações. “Já pousei diversas vezes em Feira e considero a estrutura muito boa. O fato de o aeroporto pos-

suir um posto de combustível é importantíssimo e bastante necessário, o problema são as taxas”, explica. Liebert contou para a nossa equipe que uma vez pousou em Feira às 17 horas e decolou às 20 horas. Durante o período de 3 horas, teve de pagar, aproximadamente, R$500,00, entre taxas de pouso e de permanência na área de pátio do aeroporto feirense. VOOS GUIADOS POR INSTRUMENTOS

Apesar da estrutura técnica do aeroporto de Feira de Santana ser considerada boa, o fato de o local não operar voos guiados por instrumentos (IFR) é um empecilho para o desenvolvimento do equipamento. O IFR (Instrument Flight Rules ou Regras de Voo por Instrumentos) é o conjunto de regras que o piloto tem que seguir para conduzir a aeronave, orientando-se por instrumentos. Esse tipo de operação é necessária quando não há referências visuais para os pilotos e os controladores de voo, mas também pode ser uma opção do piloto em voos noturnos ou de longa distância. Com o IFR, as aeronaves poderiam pousar em Feira mesmo que os pilotos enfrentassem restrições de visibilidade por conta do mau tempo,

Uma campanha da

TRIBUNA FEIRENSE

visto que seriam guiados pelos os instrumentos de bordo. Diversas foram as vezes em que o mau tempo atrapalhou a viagem de passageiros de Feira. Vetusa Pereira foi uma das prejudicadas em 2016, quando a Azul ainda realizava o voo para Campinas (aeroporto de Viracopos). “O avião não conseguiu pousar porque aqui estava chovendo. Eu e os demais passageiros fomos para Salvador, ficamos em um hotel próximo ao aeroporto e no dia seguinte embarcamos bem cedo”, relata a passageira. Nesses casos, os custos de transporte, refeição e hospedagem são de responsabilidade da companhia aérea, mas a situação não deixa de ser um transtorno para os passageiros. Se o aeroporto feirense operasse com IFR, situações como essa não aconteceriam, já que o piloto poderia orientar-se pelos instrumentos de bordo, e não somente por referências visuais exteriores a aeronave. Eis que surge uma pergunta-chave: o que falta para que Feira tenha IFR? Algumas adequações são necessárias, mas nada tão complicado a ponto de impedir a implantação. A principal delas é que a distância entre o centro da pista e o muro do aeroporto deve ser aumentada. A distância atual é de 90 metros,

mas para contar com o IFR, esse espaço deve ser de, no mínimo, 150 metros. Cabe agora ao Governo do Estado realizar as obras para adequação da pista. De acordo com a assessoria da Agerba, para implantação de operação IFR no Aeroporto de Feira de Santana será necessário aumentar sua área patrimonial e, em consequência disso, desapropriar imóveis na região. A resposta recebida pela nossa equipe foi a de que "o Estado já está tomando as devidas providências para ampliação da área patrimonial do aeroporto". Na verdade, a área em torno do aeroporto já foi desapropriada e corresponde a cerca de 4 quilômetros de comprimento por 1 quilômetro de largura. O primeiro decreto de desapropriação saiu em 2011. O que falta é o governo indenizar os proprietários e moradores dos imóveis construídos ou dos terrenos localizados dentro desse perímetro. Vale ressaltar que, além de Salvador, Vitória da Conquista atende a voos guiados por instrumento, de acordo com a Secretaria de Infraestrutura do Estado da Bahia (Seinfra). O Aeroporto Pedro Otacílio Figueiredo possui voos diários para Salvador, São Paulo e Belo Horizonte, operados pelas companhias aéreas Azul e Passaredo.


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Feira de Santana-Bahia, quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

André Pomponet

Economia em crônica

E a agenda de desenvolvimento para Feira? Os períodos eleitorais são oportunidade ímpar para o debate sobre o desenvolvimento. É certo que isso vem caindo em desuso nos últimos anos: em 2010, por exemplo, na campanha presidencial, abandonou-se a discussão sobre eventuais caminhos para a economia do país – sobretudo em função da crise econômica mundial que eclodira dois anos antes – para se enveredar em polêmicas estéreis buscando agradar o eleitorado conservador. Quatro anos depois foi ainda pior: naquelas eleições, o ódio efervesceu a temperaturas inéditas em décadas, produzindo fissuras que se amplificaram com a feroz crise econômica e que, até o momento, parecem distantes de se desfazer. A discussão

sobre o futuro do País, mais uma vez, ficou em plano secundário. Parece que, em 2018, mais uma vez, essa discussão também não vai prevalecer. No máximo o que há por aí é a agenda do “deus mercado”, sustentada pelo argumento da ausência de alternativas, do caminho único, da receita universal. Isso significa, na prática, a interdição do debate sobre os destinos do Brasil, justamente no momento em que o País mais necessita de diálogo. No nível local – que é onde se aplicam as concepções do planejamento – é que esses efeitos serão percebidos. Sobretudo em regiões mais carentes de infraestrutura, como é o caso do Nordeste. Tudo sinaliza para mais quatro anos de austeridade seletiva,

penalizando justamente aquelas regiões que mais carecem de investimentos.

Feira de Santana

Na Bahia, Salvador permanece como destino preferencial dos investimentos em infraestrutura. É lá que estão sendo tocadas as grandes obras de mobilidade urbana – a exemplo do metrô – e onde se rasgam novas e largas avenidas que vão conectar as diversas regiões da capital baiana. É claro que esses investimentos são essenciais, mas é evidente também que o interior segue precisando de investimentos. Aqui na Feira de Santana, por exemplo, as necessidades se avolumam. Vá lá que se rasgou a avenida Nói-

de Cerqueira e que um trecho do anel de Contorno foi duplicado, desafogando um pouco o tráfego na porção sul da cidade. Mas o mesmo anel de Contorno segue à espera de uma solução definitiva – o trânsito na via, sobretudo pela manhã e nos finais de tarde, é exasperante – e rodovias federais no entorno exigem duplicação há décadas. O desejável, mesmo, seria que essas intervenções se articulassem com os municípios do entorno, viabilizando a festejada região metropolitana que nunca saiu do papel. Mas, para isso, é preciso governo que planeje e pretenda, de fato, implementar o que concebeu. Não é o que vai acontecer caso siga

prevalecendo a agenda para que a lógica parlamentar comece a mudar. do “deus mercado”. Não existe momento mais Lideranças Não se pode ser injus- adequado que aquele que to e apenas culpar o “deus precede eleições presidenmercado”: este se relacio- ciais, como o que estamos na às questões de conteú- vivendo. Feira de Santana posdo. Há graves problemas também em relação ao mé- sui necessidades variadas todo: no Brasil do balcão, e urgentes que, ao invés de da barganha parlamentar, serem viabilizadas no varejeita-se a perspectiva rejo e sem articulação com do macro para se abraçar soluções mais abrangeno micro, a obra miúda que tes, precisam se condensar agrada o amigo parlamen- num robusto plano de detar e impressiona o eleitor senvolvimento. Elementos confinado no curral eleito- para esse plano podem ser ral. Nada mais danoso para oferecidos pela própria ambições abrangentes de sociedade, mas exigem a mediação do poder polítidesenvolvimento. A situação não resulta co para se concretizar. Utópico à primeira de um incontornável fenôvista, esse caminho é o meno natural: é produto de arraigadas, mas mutáveis mais seguro para impulconcepções políticas. A sionar o desenvolvimento sociedade civil – com – com os investimentos suas organizações, asso- fundamentais em infraciações e variadas enti- estrutura – que todos dades – deve pressionar almejam em seus dissuas lideranças políticas cursos.


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