Setembro de 2017

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FEIRA DE SANTANA, SEGUNDA-FEIRA 18 DE SETEMBRO DE 2017

ANO XVI - Nº 2.597

R$ 1

ATENDIMENTO (75)3225-7500 Alex Coelho Lima/ Intelevídeo

A NOVA FEIRA Milhares de feirenses mudaram de endereço nos últimos anos a partir da construção de novas moradias na cidade

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Feira de Santana está completando 184 anos de emancipação nesse 18 de setembro. Para marcar a data, a Tribuna Feirense elaborou uma edição especial de aniversário focando um dos principais vetores de transformação do município, que é a veloz expansão urbana que se processou nos últimos anos, a partir do boom que o setor imobiliário experimentou no período. Buscando retratar essa nova realidade, foram elaboradas matérias abordando as múltiplas dimensões dessa transformação, enfatiza ndo os diversos efeitos sobre a vida da cidade. Os resultados podem ser conferidos nas páginas seguintes.

Tribuna Cultural

São tantas Feiras, que até eu tenho uma César Oliveira

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Juraci Dórea fala de sua obra e o imaginário do sertão, além de dizer o que pensa sobre Feira e a arte atual Por suas virtudes, parabéns à Feira

André Pomponet

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“Viajo segunda-feira Feira de Santana”

Marcílio Costa

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Feira de Santana-Bahia, segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Construção civil: ascensão e queda do mercado de trabalho

Secom/BA

2010 foi melhor ano para a geração de emprego na construção civil

O boom vivido pelo setor imobiliário em Feira de Santana foi marcado pelo aquecimento do mercado de trabalho no ramo da construção civil. Entre o final da década passada e a primeira metade da década atual, houve uma significativa expansão no número de empregos formais no setor. A construção simultânea de diversos empreendimentos do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), focado na habitação popular, assim como o crescimento do mercado para as classes média e alta geraram oportunidades de emprego para milhares de trabalhadores.

2015 foi o ano da maior queda

Entre janeiro de 2007 e julho de 2014 foram gerados, no saldo, 4.353 empregos para serventes de obras. O número resulta da diferença entre admissões (28.257) e demissões (23.904). Note-se que houve expressiva variação ano a ano, com maior número de admissões nos períodos de início das obras. Os dados são do Ministério do Trabalho e Emprego. Para os pedreiros, outra profissão beneficiada pelo ciclo, o saldo é mais modesto, mas mesmo assim

Condomínio popular em Feira de Santana: expansão imobiliária favoreceu absorção de mão de obra expressivo: houve 11.678 admissões e 11.053 demissões, com saldo positivo de 625 postos. O movimento é similar àquele observado entre os serventes de pedreiro, com ingresso mais expressivo no início do MCMV, declinando à medida que as obras foram sendo entregues à população. O ano mais positivo do ciclo foi 2010: surgiram, no saldo, 1.501 oportunidades para serventes e 331 para os pedreiros. Note-se que, nesse ano, foram entregues as primeiras unidades do MCMV e muitas obras estavam em andamento, absorvendo mão de obra. O programa habitacional, inclusive, beneficiou a candidata petista Dilma Rousseff (PT), indicada por Lula para sucedê-lo. O ciclo virtuoso de expansão do mercado imobiliário favoreceu os demais segmentos da economia feirense, como comércio e

2017: a crise permanece para o setor

serviços, beneficiados não apenas pela demanda por materiais de construção, mas também pelo volume de recursos à disposição dos trabalhadores absorvidos pelas empresas.

Crise e Desemprego No segundo semestre de 2014 a economia brasileira começou a dar sinais de desaceleração. O acirrado processo eleitoral dificultou a percepção sobre a extensão da crise que se avizinhava. Mas, para a construção civil em Feira de Santana, a crise chegou ainda naquele ano: o saldo foi desfavorável tanto para serventes (-757), quanto para os pedreiros (-449). Esse desempenho negativo ajudou a antecipar a crise no mercado de trabalho feirense já naquele ano. O ano mais crítico, no entanto, foi 2015: saldos negativos para ambas as ocupações. Os serventes sofreram mais que os pedreiros novamente, com -1.124 e -796 postos de trabalho, respectivamente. No ano seguinte, o

VAMOS SALVAR A LAGOA SALGADA ANTES QUE OS INVASORES A OCUPEM

ritmo de demissões caiu, mas mesmo assim continuou forte, afetando serventes (-446) e pedreiros (-204). Quem esperava algum nível de estabilidade em 2017 se decepcionou: entre janeiro e julho, houve mais perdas para serventes (-229) e pedreiros (-119). Em 43 meses – entre janeiro de 2014 e julho de 2017 – o avanço do desemprego sobre duas das mais importantes categorias da construção civil foi espantoso: -2.553 empregos para serventes e -1.618 para pedreiros. O noticiário econômico indica que a controversa retomada da economia brasileira se concentrou na elevação do consumo das famílias no primeiro semestre de 2017. Os investimentos – tanto público como privados – seguem com retração, o que se reflete diretamente sobre a construção civil. No curto prazo, portanto, as incertezas permanecem, sobretudo em relação à habitação popular, que é mais dependente dos investimentos públicos.

Uma campanha da

TRIBUNA FEIRENSE

Impacto vai além do mercado formal Os números são difíceis de estimar, mas a oscilação no mercado de trabalho formal produz efeitos também sobre os segmentos informais da economia. É que o dinamismo gerado pelos empregos – sobretudo na construção civil, que tende a absorver trabalhadores menos qualificados – se irradia pela economia, beneficiando pequenos comerciantes e prestadores de serviços para esse segmento que encontrou ocupação no mercado formal. É o caso do comércio de bairro, sobretudo o popular: parte dos salários costuma ser aplicada na aquisição de produtos e peque-

nos serviços nessas comunidades, com geração de novos postos de trabalho e abertura de pequenos empreendimentos, que incluem supermercados, mercearias, açougues, padarias, bares, lanchonetes, salões de beleza e uma variada amplitude de produtos e serviços. Com a crise econômica e a maciça supressão de empregos formais, o efeito foi inverso: o comércio de bairro foi dos mais afetados com a crise em Feira de Santana, o que pode ser percebido com facilidade: fachadas de estabelecimentos que faliram se decompõem, enquanto placas de “vende-se” e “aluga-se” pontuam a paisagem.


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Feira de Santana-Bahia, segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Déficit habitacional e saneamento ainda são desafios

Alex Coelho Lima/ Intelevídeo

Só 1,7% das moradias da zona rural tinham condições de saneamento consideradas adequadas em 2010 Apesar de todo o avanço observado com a construção de novas moradias em Feira de Santana, o município segue apresentando déficit habitacional, a exemplo do que ocorre em milhares de outras cidades brasileiras. Dados do IBGE de 2010 indicavam que

eram necessárias exatamente 17.734 moradias. Outras 6.126 residências foram classificadas pela instituição como inadequadas. O número significa que, naquele ano, percentualmente, Feira de Santana precisava expandir o número de moradias em 10% do total. A situação no município já foi pior: em 2004, o déficit era estimado 24.074 residências, para uma população que, segundo o IBGE, era pouco superior aos 500 mil habitantes. A partir de 2010 foram construídas, apenas pelo programa Minha Casa Minha Vida, 18,7 mil moradias em Feira de Santana, de acordo com balanço do Ministério das Cidades, divulgado em março de 2015, quando a ex-presidente Dilma Rousseff compa-

receu à cidade para entregar dois novos condomínios: o Solar da Princesa 3 e 4, na companhia do então ministro das cidades, Gilberto Kassab. Na ocasião, o ministério informava que havia, no total, 38,2 mil unidades contratadas pelo programa no município, incluindo aquelas habitações já entregues. À época, a expectativa era que todas as unidades seriam entregues até o final do mandato. O impeachment e a redução dos investimentos públicos, em função da prolongada crise econômica, provocaram a revisão das expectativas otimistas.

Em 2010, Feira de Santana precisava de 17,7 mil moradias

necessidade de construção de novas moradias. No Censo Demográfico de 2010, realizado pelo IBGE, foram contabilizados 162,8 mil domicílios particulares permanentes. Desse total, apenas pouco mais de metade (53%) tinham condições Saneamento de saneamento consideradas satisfatórias e em Os problemas de Fei- apenas 3% as condições ra de Santana em relação eram consideradas inteià questão habitacional ramente insatisfatórias. não se esgotam com a A questão é que 44%

dos domicílios encaixavam-se em condição considerada semiadequada. Conforme definição do próprio IBGE são semiadequadas as residências que atendem pelo menos uma das três condições: “Domicílios com escoadouros ligados à rede geral ou fossa séptica, servidos de água proveniente de rede geral de abastecimento e com destino do lixo coletado diretamente ou indiretamente pelos serviços de limpeza”. O problema é mais grave na zona rural feirense. Em 2010, foram contabilizadas 12,4 mil domicílios no campo. Desse total, apenas 1,7% tinham condições de saneamento consideradas inteiramente adequadas. Outros 65,8% atendiam, em parte, às condições ideais de saneamento e nada menos que 32,5% estavam fora dos padrões

considerados pelo IBGE. Desde 2010 o boom imobiliário foi responsável pela construção de milhares de novas moradias em Feira de Santana, o que certamente reduziu o percentual de domicílios em condições semiadequadas, embora não existam dados recentes disponíveis. Os bairros periféricos e a zona rural seguem como regiões que necessitam de intervenções em infraestrutura de saneamento.

38,2 mil unidades do MCMV foram contratadas até 2015


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Feira de Santana-Bahia, segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Bairro SIM reflete a Nova Feira que surgiu na última década Símbolo maior do intenso processo de expansão imobiliária que Feira de Santana viveu ao longo da última década, o bairro SIM se tornou opção de moradia para milhares de feirenses que aderiram ao conceito de viver em condomínio fechado, contando com uma série de opções de lazer. As vias principais do SIM abrigam um comércio diversificado, que já atende boa parte das necessidades da população do local, além de bares e restaurantes que consolidaram uma clientela cativa. Mesmo assim, a população ainda reivindica uma série de intervenções que contribuirão para melhorar a vida no bairro. Uma queixa recorrente se refere aos congestionamentos, comuns nos finais de tarde e início da manhã. Apesar dos problemas, quem mora no SIM aprova o bairro que, aos poucos, vai consolidando uma identidade local. *Por Karoliny Dias e Fred Abreu

De zona rural a um dos metros quadrados mais desejados de Feira de Santana. A história do bairro SIM se confunde com a do crescimento da cidade. Recebeu esse nome por causa do ex-prefeito João Durval Carneiro. SIM é a abreviatura de Serviço de Integração do Migrante. Um bairro que acolheu a primeira faculdade particular, hoje é um dos responsáveis por abrigar a maior quantidade de condomínios habitáveis no município. E foi com a implantação desta faculdade que o bairro começou a se desenvolver e ganhar a forma. O SIM também foi escolhido para receber o campus temporário da Universidade Federal do Recôncavo Baiano, a UFRB. Quem mora lá diz que escolheu o bairro principalmente por causa da sua proximidade com o centro da cidade e das suas possibilidades de crescimento. A psicóloga Flaviane Dias destacou que, após muitos anos morando na Santa Mônica, escolheu o SIM porque ele fica nas imediações de uma das principais avenidas da cidade, a Getúlio Vargas. “A minha filha estuda também próximo ao SIM e, por isso, optei por morar nele. Hoje, o SIM é o bairro que mais cresce e estou muito feliz morando aqui”, afirmou. Paloma Muniz, moradora há quatro anos de um dos condomínios habitacionais do SIM, diz que se espantou com o crescimento do local. “O que mais me chamou a atenção nesses anos em que estou aqui é como o bairro cresce em todos os sentidos. Hoje, temos

tudo o que precisamos sem precisar ir para o centro da cidade”, destacou. Com o boom imobiliário da cidade, o SIM foi escolhido pelos grandes empresários da construção civil para abrigar diversos condomínios residenciais horizontais e verticais. E, mesmo com a chegada das transformações, o SIM mantém, em diversos pontos, a sua origem, através das pequenas propriedades rurais. O investimento da construtora Rodobens no bairro também foi um dos fatores para o seu crescimento. É ela a responsável por construir um dos maiores condomínios residenciais do local, o Terra Nova I. Em sua maioria, os condomínios do bairro são de classe média alta. A construção de uma importante avenida da cidade, a Nóide Cerqueira, também foi um dos fatores que contribuíram para o crescimento do bairro. Um mini shopping está sendo construído no local em uma de suas ruas principais. Existe ainda um projeto para a construção de um posto de combustíveis. A 66ª Companhia Independente da Polícia Militar de Feira de Santana (66ª CIPM), que é responsável por 42 bairros e sub-bairros e ainda pelos distritos de Jaíba, Tiquaruçu e Matinha, foi instalada no SIM. A unidade da PM fica na avenida Centenário. O bairro também sedia a Casa de Atendimento Socioeducativo Zilda Arns, inaugurada em 2011, e a Casa de Atendimento Socioeducativo Juiz Melo Matos, antes chamado Escola de Menores. Atualmente, a CASE encontra-se em

Fred Abreu

O comércio começou a se expandir a partir da chegada de milhares de moradores que passaram a residir no bairro

reforma, desenvolvendo somente internação de Pronto Atendimento. É para lá que são mandados os menores infratores do município e cidades circunvizinhas para cumprir medidas socioeducativas determinadas pelo Poder Judiciário.

Comércio Para quem mora no SIM, é opcional ir ou não para o centro da cidade realizar as suas compras. Uma rede de supermercados percebeu o potencial de bons negócios do bairro e tem nele uma de suas unidades instaladas. O bairro conta também com padarias, supermercados, hortifrutis, escolas de ensino fundamental e médio, privadas e da rede estadual, farmácias, açougues e até mesmo laboratório de análises clínicas. Os seus moradores também encontram lá uma das principais diversões do feirense: diversos barzinhos, que recebem os seus clientes de forma aconchegante. Clientes esses que são fiéis e que todos os finais de semana “batem ponto” no bairro. Lá ainda há pizzaria e restaurantes. Ali próximo ao SIM também está localizada a Lagoa Grande, que está em processo avançado de requalificação.

Necessidades Para alguns moradores, parece até que o Município não entendeu ainda que o bairro cresceu muito nos últimos anos e que sua tendência é continuar crescendo ainda mais, já que as construtoras continuam vendendo diversos empreendimentos para moradias no local. Calçadas tomadas pelo mato, pavimentação ir-

regular, falta de segurança, sinalização precária e transporte público limitado são as principais reclamações. Segundo muitos deles, o que prejudica o crescimento é, principalmente, a forma desordenada com que o bairro cresce, sem o apoio da prefeitura. A reclamação é que o governo não oferece a infraestrutura necessária para que o SIM cresça de forma ordenada e correta. Não há o respeito aos recuos no processo de construção dos condomínios na Avenida Artêmia Pires Freitas, o que encurtou o logradouro, deixando apenas duas vias de mão dupla. Devido ao crescimento do bairro, surgiu a necessidade de diálogo com os poderes públicos municipal e estadual. Por isso, recentemente, foi fundada a Associação de Moradores, Amigos e Condomínios do SIM (AMACS), com o objetivo de pensar, em conjunto com os órgãos competentes, a organização do bairro. Ainda segundo representantes da Associação, há um projeto da Prefeitura Municipal para fazer a ligação entre Avenidas Noide Cerqueira e Artêmia Pires e, em seguida, com o Aeroporto João Durval Carneiro, que fica no bairro vizinho, o Santo Antonio dos Prazeres. Sobre a segurança pública, o diretor da Administradora de Condomínios Performance, Flavio Gomes, salientou que um projeto está sendo construído em conjunto com a 66ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM), com a finalidade de colocar em contato direto a unidade com os condomínios. “Fui chamado para ajudar a fazer essa parceria entre as unidades e a Polícia Militar,

estreitando as relações em prol da segurança, por causa dos índices alarmantes de violência no bairro. O objetivo é diminuir esses índices e trazer a PM para mais perto da população”, explicou.

Intervenções Em um dos seus pacotes de obras, o prefeito José Ronaldo de Carvalho anunciou a pavimentação da Rua Corredor dos Araçás, uma das principais do bairro. Será pavimentada também a segunda pista da Avenida Fernando Pinto de Queiroz, interligando a Avenida Nóide Cerqueira e a Avenida Artêmia Pires e facilitando o acesso do bairro ao centro da cidade. O SIM conta também com

o Centro Municipal de Educação Infantil José da Costa Falcão, inaugurada em abril desse ano. Está ainda em construção um Posto de Saúde da Família (PSF). Em entrevista, o secretário Municipal de Prevenção à Violência e Promoção dos Direitos Humanos (SEPREV), Pablo Roberto, destacou que o bairro SIM deverá contar também com um serviço de vídeo monitoramento. “Estamos fazendo um estudo de viabilidade técnica para a implantação do serviço de vídeomonitoramento, visto que esse serviço já contempla a Avenida de Contorno. Creio que, em breve, deverá ser implantado também no bairro do SIM”, finalizou o secretário.

Bairro tinha características rurais até a década de 1990 Levou muitos anos para que o bairro SIM fosse efetivamente incorporado à paisagem urbana de Feira de Santana. Nas décadas de 1980 e 1990, o bairro apresentava características tipicamente rurais: predominavam chácaras e sítios e, em muitas pequenas propriedades, a população dedicava-se à criação de galinhas, porcos e ao plantio de milho, mandioca e feijão. Parte das chácaras pertencia aos feirenses mais abastados que, nos finais de semana, reuniam a família em animadas comemorações. Naquele período, o município apenas começava a se expandir para além dos limites do anel de Contorno que, durante muito tempo, serviu de

referência para delimitar os espaços urbanos de Feira de Santana. Ainda no final dos anos 1990 o comércio no bairro SIM se limitava aos bares e às pequenas mercearias construídas à margem das vias sem pavimentação. Sinuca e dominó constituíam as principais opções de diversão da restrita população local. Ao invés do asfalto e dos inúmeros condomínios, a paisagem era composta por cajueiros, mangueiras e coqueiros, separados das acanhadas estradas de terra por cercas de arame farpado. Mesmo com as transformações recentes, ainda é possível ver pequenas chácaras que invocam o passado nem tão distante.


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Feira de Santana-Bahia, segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Segurança e comodidade atraem pessoas para condomínios Fred Abreu

Muitos feirenses migraram para condomínios fechados buscando fugir da insegurança que amedronta a população Segurança. Esse foi o principal motivo para a mudança de Marcela Trindade, 34 anos, para um condomínio fechado no bairro SIM, em Feira de Santana. “Aqui meus filhos podem sair, brincar e eu não me preocupo”, pontua. Alguns fatores como a violência e o medo atualmente acentuam os processos de mudança social, fazendo com que as pessoas optem por um modo de vida mais seguro, em condomínios. A corretora de imóveis, Karla Lopes afirma que, além da segurança, a privacidade, a comodidade e as áreas de lazer são atrativos para os moradores de condomínios.“É um local em que você constrói boas amizades, tem uma convivência saudável e tranquila com os condôminos”. O condomínio de Marcela tem clube, piscina, área de lazer, brinquedoteca, pista de cooper e segurança 24 horas para os filhos de 17 e 11 anos. “Aqui também temos mercadinho e locais que dispõem de lanches e al-

muro, apenas cercas. Eu morava com minha mãe há 20 anos, recebi essa benção e estou muito feliz”, conclui.

moço dentro do próprio condomínio. Mas perto também encontro de tudo”, conclui Marcela.

Aeroporto

“Favelões” Não tão distante, no bairro Aeroporto, mora Joelma Costa, 35 anos, no condomínio Verde Água, construído através do programa Minha Casa Minha Vida. Joelma tem 4 filhos e, antes de se mudar para o empreendimento, há 4 anos, morava de aluguel, pagando R$ 300 por mês. “O convívio aqui é razoável em relação aos outros que eu vejo por aí. Os moradores se organizaram, colocaram guarita e pagamos segurança. Quando o secretário é solicitado, ele manda limpar, pois temos muita área verde. Acontecem as brigas normais de vizinhos, marido com mulher, coisas cotidianas”, pontua. Ela acrescenta que não há dificuldades com transporte, no entanto, não tem escolas públicas próximas ao condomínio. “As crianças pegam o

“Se não cuidar vira favela,” afirma Eli Ribeiro transporte escolas do distrito de Jaíba e vão para o bairro Santo Antônio dos Prazeres”. Essa reclamação é compartilhada pela moradora do Parque do Coqueiro, também do Minha Casa, Minha Vida, situado no bairro Asa Branca, Margareth dos Santos, 32 anos. “O transporte tem, mas a demanda é muito maior que a oferta, ou seja, sempre estão cheios e aqui próximo não tem escola nem creche. Muitas mulheres daqui tiveram que sair do

emprego por não ter onde deixar os filhos. Outra coisa que nos incomoda bastante é em relação aos Correios, pois ainda não temos CEP”, acrescenta Margareth, que mora no local há dois anos. Em relação a segurança do condomínio, cada morador paga uma taxa de R$ 20 para ter segurança particular diariamente. “Aqui é super tranquilo. Vai fazer dois anos que recebemos esse empreendimento e estamos organizando, não tem guarita, não tem

Em pronunciamento na Câmara Municipal, no dia 11 de setembro, o vereador Roberto Tourinho (PV), ressaltou a importância de garantir moradia para as pessoas mais carentes. Mas, segundo ele, a forma de distribuição das casas deve ser revista. “Muitas pessoas nasciam e morriam sem ter uma casa própria. Em Feira de Santana são mais de 30 mil unidades. Mas estamos vendo muitos problemas acontecendo com a leniência da Caixa Econômica Federal e do Poder Público Municipal. Estão transformando as casas em depósitos. Muita gente que precisa não consegue a moradia e outros que realmente precisam, não. As autoridades estão fechando os olhos e as casas virando verdadeiros favelões. Em breve teremos favelão 1

no bairro tal, favelão 2 no bairro tal. Isso sem falar na criminalidade, na venda de drogas e execução de jovens”. Para o secretário de Habitação, Eli Ribeiro, as pessoas deveriam passar por um processo de adaptação antes de migrarem para esses condomínios. “Deveria ter um trabalho social. São bons apartamentos que trazem uma sensação de segurança para as pessoas. No entanto, quem morava em uma casa e muda para um empreendimento desse porte deve mudar algumas atitudes, precisa se reeducar. Tem gente que leva porco, galinha, estende roupas nas janelas e isso não é permitido, mas é cultural”. Ele concorda com o vereador Roberto Tourinho, quando diz que “se não cuidar vira favela. Em Feira de Santana temos entre 35 e 40 mil casas do Minha Casa, Minha Vida, é um grande avanço em termos de moradia e qualidade de vida, mas os moradores precisam se organizar para tornar essa moradia benéfica para todos”.


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Feira de Santana-Bahia, segunda-feira, 18 de setembro de 2017


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Município conta com Plano Habitacional de Interesse Social 2022:

o déficit habitacional deve ser inferior a 10 mil unidades, prevê plano Em 2022, o déficit habitacional em Feira de Santana não deve ultrapassar 9.629 moradias. A meta foi estabelecida no Plano Habitacional de Interesse Social, aprovado

pela Câmara Municipal em 2011 e sancionado pelo então prefeito Tarcízio Pimenta no ano seguinte, tornando-se a lei complementar número 65/2012. Para cumprir o objetivo, deveriam ser construídas 14.444 habitações ao longo de dez anos, de acordo com o plano. O documento também estabelece outras metas, como a promoção de regularização fundiária para 3.645 habitações, a construção de 8.562 banheiros e a requalificação de 35,2 mil unidades com carência de infraestrutura. Outra preocupação exposta no documento foi com o adensamento excessivo, que exigirá,

até a conclusão do plano, a construção de 4,8 mil novas unidades habitacionais. O Plano Habitacional de Interesse Social estabelece quatro eixos de intervenção para a prefeitura no parágrafo único do artigo 7º: requalificação habitacional e urbana, provisão de novas oportunidades habitacionais, implementação de Zonas Especiais de Interesse Social - ZEIS e regularização fundiária. Acompanhando a tendência de engajamento da população na formulação de políticas públicas, o plano também reservava espaço para a participação popular em todas as etapas da sua

implementação. Esses meios de participação também foram especificados no documento com a realização da Conferência das Cidades a nível Municipal, a discussão do tema no Conselho Municipal de Desenvolvimento Social e no Conselho Gestor do Fundo Municipal de Habitação de Interesse Social e com a realização de audiências e consultas públicas; Zonas Especiais

Seguindo a determinação do Estatuto das Cidades, o documento também estabelece as Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS). Segundo o artigo 16 do plano,

as “Zonas Especiais de Interesse Social, ZEIS, são aquelas destinadas à implementação de programas de regularização urbanística, fundiária e à produção, manutenção ou qualificação de Habitação de Interesse Social, HIS, devendo estar delimitadas no Zoneamento Urbano do Plano Diretor”. As áreas estabelecidas como prioritárias para a construção de habitação popular em Feira de Santana estão todas localizadas na periferia da cidade ou em comunidades pobres: Baraúnas, Campo Limpo, Gabriela, Conceição, Mangabeira, Campo do Gado Novo, Tomba e Santo Antônio dos Prazeres estão entre

as áreas apontadas no documento. Na zona rural também foram indicadas localidades para implantação das ZEIS: Humildes, Maria Quitéria, Limoeiro, estrada da Terra Dura e Jaguara estão entre os locais indicados no documento. Novas ZEIS foram sendo estabelecidas desde a promulgação da lei complementar em 2012. Na quarta-feira (13), a Câmara Municipal aprovou a inclusão do Parque Nova América, localizado no bairro Aviário. Em 23 de agosto, houve a inclusão de uma área localizada no bairro Sítio Matias, no Tomba, também com aprovação dos vereadores.

aldeias@uol.com.br

São tantas Feiras, que até eu tenho uma

Alex Coelho Lima/ Intelevídeo

Ninguém caminha para o bicentenário impunemente, sem as rugas da longevidade e o orgulho da obra feita, por isso há tantas Feiras. Existe a Feira órfã da feira livre- mãe gestora-, imemorial, saborosa e iconoclasta,e a Feira que continua a ser um imenso comércio, frenético, lucrativo, polimorfo e ferozmente competitivo. É o planeta Feira que atrai, acolhe, oportuniza, e vive ciclos de desenvolvimento enquanto muda seu perfil de cidade horizontal para a inevitável verticalização. E que sai da moradia individual, para os condomínios. Existe a Feira eterna, do imaginário, arrodeada

de tropeiros e boiadas, de aboios, poeira e armazéns, do Campo do Gado e do couro. É a Feira identitária que se recusa a perecer e luta para permanecer, ao menos,como patrimônio imaterial, já que a maioria de suas referências, da Ponte Rio Branco aos Casarões, não resistiram à força do dinheiro, ou do descaso. Tem a Feira que se educa, cheia de saberes, celeiro de Universidades, que ensaia uma transição no perfil de serviços e consumo, com a formação superior. E a Feira da rua, invasora, hidra de mil cabeças, incipiente em cada esquina, viva, desafiadora, comouma Babel móvel que atrai pela

diversidade e ligeireza e é rejeitada pela desordenacão. É a Feira herdeira da outra, sem o glamour, os peixes elétricos e balaios, mas que garante subsistência e bons preços. Existe a Feira saudosista do Cassino de Oscar Tabaréu, dos clubes sociaismorridos de morte matada, como nossas lagoas-, sim, pois,há, não se pode negar, os aventureiros sem alma e amor, que se aproveitam da cidade e dela tudo arrancam como se fosse dama sem merecer retorno, de vida fácil. É certo que há a Feira, micaretesca de pai e mãe, do bando Anunciador, Festival de Violeiros e de Repentis-

tas, Natal Encantado, Reisado de São José e da poesia impecável e imprescindível do grupo Hera. Há a rua dos becos. Os antigos e o de hoje. O Beco. Há a Feira, do Feira Hoje, e a Feira de hoje, da Tribuna Feirense. Tem a Feira de onde quase se voa, a da toalha de luz, e a Feira que se enfeita, com a Lagoa Grande, a Princesa que bota esse vestido bordado e novo para seduzir o viajante que passa e o feirense que lhe margeia. Que fique registrado: existem 627.477 Feiras. Até eu tenho a minha. De nascença. E não dou, não vendo e não troco por nenhuma outra.

Feira de Santana, a menina dos meus olhos! Desde que aqui cheguei, ainda muito jovem, me apaixonei por esta terra e dela nunca mais saí. Feira de Santana, eu já disse um dia, e repetirei sempre, é o meu grande amor. Faz parte da minha família, da minha vida. E dela emana, tenho certeza, toda minha energia. Não me canso de fazer declaração de amor, verdadeiro, a minha querida Feira. Que Deus abençoe a esta linda e maravilhosa metrópole, nos seus 184 anos. E me dê forças para continuar lutando por vê-la mais feliz.


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Feira de Santana-Bahia, segunda-feira, 18 de setembro de 2017 di.vianfs@ig.com.br

Luzes no Caminho

André Pomponet

Economia em crônica

Por suas virtudes, parabéns à Feira de Santana

Alex Coelho Lima/ Intelevídeo

Dom Itamar Vian

Saúde e beleza A cirurgia plástica é um dos ramos da medicina mais em evidência. Surgiu como necessidade, sobretudo, diante de mutilações causadas por guerras, acidentes e queimaduras. Hoje, atua, principalmente, no cultivo da vaidade humana.

NA LITERATURA e no folclore brasileiros ficou conhecida a posição de Vinícius de Morais, o criador da “Garota de Ipanema”. Uma frase sua fez furor: “Que me perdoem as feias, mas beleza é fundamental”. Hoje, sobretudo, beleza e juventude são idolatradas. E a grande angústia é que nem uma, nem outra, é definitiva. O tempo é um algoz implacável.

Completando 184 anos, Feira de Santana tem uma série de desafios para se firmar como uma cidade moderna Apesar da crise, das dificuldades orçamentárias e dos desarranjos políticos que vem provocando certa paralisia no país, Salvador está experimentando um virtuoso – e amplo – ciclo de investimentos em infraestrutura. A capital baiana, coitada, bem que merecia esse tratamento mais cuidadoso. Afinal, atravessou décadas necessitando de intervenções que resgatassem sua condição de metrópole regional e capital de um estado potencialmente pujante. Para além da “guerra de out doors”, que se espalha pelas ruas, ou do incessante esforço de capitalização política, as intervenções são muito bem-vindas. O mais vistoso desses investimentos é o metrô: hoje, estão em funcionamento 20 estações nas duas linhas que conectam regiões importantes do chamado miolo da capital. Centenas de milhares de soteropolitanos, todos os dias, vão escapar do martírio dos congestionamentos, dos veículos apinhados e da insegurança que assombra todo mundo. A capital ganhou tam-

bém um interesse conjunto de intervenções em seu sistema viário. A via expressa Baía de Todos os Santos, a duplicação da avenida Pinto de Aguiar, a via interligando Cajazeiras à BR 324, o complexo viário do aeroporto e os viadutos no Imbuí tornaram os deslocamentos pela capital menos penosos nos últimos anos. A Bahia, no entanto, não se esgota em Salvador. Aliás, pode-se afirmar que a capital sempre foi altamente privilegiada pelos governantes ao longo da História. Isso fica patente pelas obras realizadas ao longo do tempo e que estão aí, à disposição da população. Não que se deva, obviamente, negligenciar a capital: mas o interior também necessita de atenção, sobretudo o restrito conjunto de cidades médias do estado.

E Feira de Santana? No universo das poucas cidades médias baianas, Feira de Santana, a aniversariante desse 18 de setembro, se sobressai. É

ocioso repisar a importância do seu comércio, dos seus serviços, a pujança de sua indústria, sua localização privilegiada, os seus mais de 600 mil habitantes, segundo aponta o IBGE. Mas, mesmo assim, o município sempre ocupou condição secundária no rol das prioridades governamentais. O aeroporto, por exemplo, não engrena: hoje seu funcionamento se limita a um voo semanal, apesar das renitentes promessas de ampliação. O Centro de Convenções se tornou uma constrangedora estrutura de concreto abandonada, clássico exemplo de não-decisão em política pública. Intervenções como a duplicação da BR 116 Norte, entre a Feira de Santana e Serrinha, ou uma solução para o Anel de Contorno, sequer são cogitadas. Há também questões como o transporte público deficiente, o centro comercial caótico, a violência e a baixa qualidade de serviços que são prestados à

população. Superar todos esses desafios – o que vem sendo mencionado há tempos – exige planejamento e ações articuladas de lideranças políticas, empresariais e da sociedade. Sem empenho, Feira de Santana vai seguir figurando na fila de espera das prioridades governamentais. Mas, apesar dos pesares, a aniversariante Feira de Santana conserva seu caráter cosmopolita, digna acolhedora de gente das mais variadas origens e classes sociais; mesmo com a crise, mostra-se um entreposto comer-

cial dinâmico, vibrante nos períodos festivos e de compras, atraindo gente de dezenas de municípios baianos; e consolida-se também na prestação de serviços, mostrando que se moderniza e acompanha as constantes transformações da sociedade. Assim, por suas virtudes, parabéns à Feira de Santana !!!

A SOCIEDADE, hoje, diviniza o corpo. E isto, em princípio, é saudável. Saúde, beleza e simpatia são valores e devem ser cultivados. No entanto, existe enorme diferença entre beleza e simpatia. Existe enorme diferença entre um corpo tratado e um corpo produzido, com excesso de malhação, com regimes prejudiciais à saúde ou com cirurgia plásticas. Por vezes, é uma ilusão porque o bisturi pode dar um jeito no corpo, mas não consegue reparar a alma. ANADYR Rodrigues chegou a desabafar: “Tenho direito de ser feia!”. O que ninguém tem o direito é de ser antipático. A beleza é um valor, mas não o supremo valor. O próprio Evangelho lembra a obrigação de amar a si mesmo. Isto significa aceitar-se, gostar de si mesmo, valorizar-se. Há valores que devem vir em primeiro lugar. NA HISTÓRIA da família real inglesa ficou célebre a atitude do rei Eduardo VIII, que renunciou ao trono para casar com a plebéia norte-americana Wallis Simpson. Ela não foi nenhum padrão de beleza clássica, mas teve um poder de sedução que levou seu amado a trocar o trono da Inglaterra por seu amor. Ninguém dirá, hoje, que a irmã Dulce e Tereza de Calcutá foram mulheres belas. Foram muito mais que belas, foram fascinantes. Elas não precisaram da beleza para serem amadas e admiradas. Eram simpáticas. BELEZA física, saúde e simpatia, são valores. Não os únicos. Um dia Brigitte Bardot disse: “A gente passa cinqüenta anos cuidando do corpo e, de repente, ele apodrece”. O que dá significado a uma vida é a capacidade de servir e de fazer felizes os outros. É a capacidade de continuar jovem, mesmo aos oitenta anos. É a capacidade de manter o entusiasmo e proclamar que vale a pena viver imitando Jesus Cristo que passou a sua vida fazendo o bem a todos.

Por um Hospital Universitário para a UEFS “Precisamos formar médicos maximamente eficientes e minimamente invasivos à integridade física, econômica e afetiva do paciente” Professor César Oliveira


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Feira de Santana-Bahia, segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Jornalista e editor da TV Subaé

Marcílio Costa

“Viajo segunda-feira/Feira de Santana...” É na música de Tom Zé, nosso vizinho aqui de Irará, que há muito ganhou fama no Sul maravilha, que encontro um ponto em comum com minha história de vida para falar de Feira de Santana, nesses 184 anos de emancipação política. Assim como ele, a segunda-feira sempre foi Feira de Santana em minha vida. É nesse dia que a região se encontra aqui. É o dia do pau de arara, que tantas vezes usei nas estradas poeirentas de Jaguara, misturado a bules de leite e animais em carrocerias lotadas de gente que vinha fazer a feira em Feira. No começo, era no meio da rua, onde acompanhava meus pais para comprar banana, tomate, cebola, café, tudo já sepa-

rado pelos velhos fregueses de quem eu também me tornara amigo, apesar da pouca idade. Era dia de correr a Sales Barbosa, ainda sem a invasão das barracas, de ir ao velho Mercado Municipal comprar manteiga, requeijão,

farinha, feijão... Era dia de ir com meu pai ao Café São Paulo, para tomar café, é claro, e ver os fazendeiros da região em longas conversas e negociações de compra e venda de boi. Negócios e muita prosa!

Não é saudosismo, apenas relato de um tempo que ficou na memória do menino que veio estudar no Ginásio Municipal Joselito Amorim, aqui na Feira de Santana, em 1973, justamente quando a cidade comemorava

mais um aniversário de emancipação política (naquela época, o dia era festejado em 16 de junho; somente a partir de 2001, a Câmara Municipal mudou para 18 de setembro). Cidade grande, mas minha velha conhecida de tantas segundas-feiras subindo e descendo no pau de arara. A pecuária já não é o fio condutor que traz gente de toda região para fazer negócios aqui, mas Feira continua sendo a referência nesse interior baiano. Hoje, os paus de arara são poucos; agora é ligeirinho, é motoboy e tem até Uber, né? Mas Feira é segunda-feira sempre para mim, mesmo na terça, na quarta, na quinta, na sexta ou no sábado. Aqui, continua vindo gente para fazer negócios, comprar

no comércio, estudar, ir ao médico, ir ao shopping, comprar bugiganga no meio da rua, ir ao Feiraguai, ver Zico Sena, o “maluco beleza”, empurrando seu carro naquela sua “loucura total”. A Feira de hoje já não tem o Feira Hoje, engolido pela crise que tem destroçado a mídia impressa Brasil afora. Mas tem bravos resistentes, como esta Tribuna Feirense, que teima em enfrentar os desafios para contar as coisas da Feira. Tem também o sucesso de uma emissora como a TV Subaé, que, metaforicamente, é minha segunda-feira há quase 30 anos. E olha só, Tom Zé: Feira, esse ano, faz aniversário numa segunda-feira!


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Feira de Santana-Bahia, segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Tribuna Cultural Nesta edição temos uma conversacom Juraci Dórea- ícone da cultura feirense, com reconhecimento internacionalque entrevistamos,em seu estúdio. Ele faz uma retrospectiva da carreira, fala do significado de sua obra, entre a gentileza da recepção de Selma Soares e um bom vinho. O Tribuna Cultural espera continuar o trabalho de registrar o melhor de nossa cultura.

Quadrilha do PMDB A segunda denúncia de Janot, contra Temer, é forte e enojante. Ela revela em toda sua extensão o processo imoral e podre com que se praticaa política, em Brasília,e como as quadrilhas partidárias se estruturam para saquear o Estado e punir o cidadão roubando recursos públicos. Na prática, sem limites e sem pudores, vai-se do achaque a chantagem; do favorecimento ao roubo, puro e simples. A prisão de Geddel, um dos braços direitos de Temer - com uma fortuna de R$51 milhões, em domicilio-, com biografia de criminoso serial, como disse o MP, apenas escancara as estranhas do poder e a sordidez de suas excelências. O número de denúncias, acusações,

processos, envolvendo a cúpula do PMDB- partido que se tornou invertebrado ideologicamente-, ao longo dos anos, tem na denúncia de Janot um dos mais cruéis registros a que o cidadão já se viu exposto. É absolutamente asqueroso e não é aceitável que o país e o destino da nação sejam conduzidos por tamanho agrupamento de bandidos eleitos. Temer, muito provavelmente,irá se salvar- protegido pelo tempo curto, melhoria da economia e erros de Janot-, mas será apenas um rodapé na história, a ser investigado após o fim mandato, pois, evidente que ninguém acredita que tenha conduzido o partido durante tantos anos, com o peito estufado, mesóclises emãos limpas.

Janot

O Procurador da República chega ao fim do mandato com o mérito do apoio integral a Lava-Jato, de ter realizado o maior conjunto de denúncias contra políticos que já tivemos e como autor do monumental desastre da delação premiada da JBS – dos criminosos irmãos Batistas-, ainda cravada de segredos, contaminada pelo envolvimento do ex-procurador Muller, perdão criminal inadequado, auto grampo de Joelsey, que revelaram suspeitas sobre os Ministros da Corte Suprema, e várias outras baixarias do comportamento sexual de políticos e juristas. Janot tentou reparar seus erros, no ocaso, mas o messianismo tem um preço. E lhe será cobrado.

Lava-Jato

Em que pese eventuais falhas, o que é natural emprocesso deste tamanho, aOperação Lava-Jato se firmoucomo um marco no país e no mundo. Assistimos a um conjunto de denúncias e prisões de políticos e empresários como jamais vimos ou sonhamos que poderia haver, comprovando que a história nunca tem fim. Apesar dos que urram contra ela tentando desfazer seus agentes, já que não podem desmentir as práticas, ou os fatos, o processo é irreversível e consolidado. Fica claro, também, que o fim do processo só virá com a exclusão desta geração de denunciados, useiros e vezeiros em aparecerem em noticiários de desvios de recursos públicos, e a substituição por novas lideranças. A agonia será tanto maior quanto mais o próprio sistemademorar a compreender que estes que se recusam a morrer, precisam ser afastados.

Política baiana

Como já tinha dito inúmeras vezes o futuro da política baiana, à Justiça pertence. Em um mesmo mês, Geddel, foi abatido implacavelmente, preso, com perspectivas de longa condenação e seu irmão, Lúcio, está sendo investigado, o que bota fogo no PMDB- que não poderá fingir-se de morto para sempre-, e causa impacto na candidatura de ACM Neto ao governo, afinal, o ex-ministro, apelidado de Boca de Jacaré por delatores, era um provável candidato ao Senado, aliado de primeira linha e, pelo que se viu detentor de bastantes recursos para investimento em campanhas. Claro que a perda de um aliado próximo, enfraquece Neto erespinga, naturalmente, em Feira. Mal havíamos nos recuperado quando a PF bateu às portas do ex-eterno presidente da Assembléia Legislativa, Marcelo Nilo, que está sendo investigado por Caixa 2 e manipulação eleitoral, através do popular DataNilo, um instituto de pesquisas que ele afirma ser de amigos. Uma espécie de sítio. Nilo, o pequeno, pois,o grande fica no Egito, é outro que perde força e vai balançando a política baiana. É provável que surja mais.

Bahia

Em verdade, no setor político, o MP e a Lava-Jato atuaram pouco na Bahia, afinal, o estado tem um protagonismo considerável nestes tempos bicudos. As empresasOdebrechet, OAS, UTC; o presidente da Petrobras, Gabrielli; os marqueteiros Duda Mendonça e João Santana, estiveram e estão no centro de todo processo de corrupção que esta sendo apurado. Sinal, que ainda deve ter mais por vir.

Colbert

Sucessor de José Ronaldo, caso esse se afaste para uma candidatura, o Doutor Colbert Martins Silva, recebeu a Comenda Maria Quitéria, da Câmara Municipal. Agradeço o convite, mas a vida de plantonista, não me permitiu comparecer. E parabéns!

Mobilidade

A ideia mais aceita sobre urbanismo é que a concentração de opções- lazer, trabalho, moradia-, etc-, em cada bairro, evita o deslocamento, melhora a mobilidade urbana e a qualidade de vida. O Estado, no entanto, concentra toda sua estrutura de Saúde em uma mesma região, próxima ao 35BI, obrigando todas as pessoas a se deslocarem para este setor em busca de assistência. É estranho e a cidade precisa ser entendida como tendo um plano estratégico de desenvolvimento.

Reforma Política

Nenhuma alcateia de lobos irá legislar pela proibição de devorar ovelhas!

Pra não dizer que não falei das flores Feira do Livro. A décima. Uma vitória. Anunciado retorno dos voos diários, no Aeroporto de Feira Polícia Federal. De uma ponta a outra do Brasil Ampliação dos leitos de Obstetrícia, no Hospital da Criança.

Fundado em 10.04.1999 www.tribunafeirense.com.br / redacao@tribunafeirense.com.br Fundadores: Valdomiro Silva - Batista Cruz - Denivaldo Santos - Gildarte Ramos Diretor - César Oliveira Editor - André Pomponet Editoração eletrônica - Maria da Prosperidade dos Santos

OS TEXTOS ASSINADOS NESTE JORNAL SÃO DE RESPONSABILIDADE DE SEUS AUTORES.

Av. Senhor dos Passos, 407 Sala 05


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Feira de Santana-Bahia, segunda-feira, 18 de setembro de 2017


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