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Bottura conquistou prêmio de cidadão honorário em

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Adãozinho declara amor à Bragança Página 5

Tamara Gutierrez conta detalhes do Miss São Paulo Página 4

Ano 7 • nº 15 • Junho de 2012

Matéria-Prima Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da FAAT Faculdades - Atibaia

Negretti: campeão da vida RONALDO CATADORI

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FERNANDA DOMINGUES

Vilma Guzzi ensina crianças e se dedica à música Página7 Águeda Silva se firma no esporte e sonha com títulos

O artista em peça de teatro no início de carreira

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Artista transforma natureza em arte

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Músico Fábio Calzavara deixa legado aos filhos Página 3


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Editorial

MATÉRIA PRIMA

maio/junho de 2012

Os autores da vida Contar a história de vidas. Histórias de pessoas. De gente. Dos entes que fazem a roda girar e as engrenagens funcionarem. É por esse caminho que conhecemos nossas sociedades, nossas cidades, nossa região. Aqui, nesta edição do Matéria-Prima, é o que os alunos do 3º ano de Jornalismo da FAAT Faculdades realizam. Retratam de forma resumida os reflexos destas terras por meio de rostos e trajetórias – sejam individuais ou coletivos. Vindas de Atibaia, Bragança Paulista e Piracaia, personagens se confundem com as próprias geografias físicas regionais e fazem o papel de linha auxiliar na compreensão de como e quando construções sociais e culturais foram erguidas. Nascimentos, um pouco da infância, inícios de carreiras, auges, sucessos, tudo é contado em espaços que permitem a reflexão sobre nossos processos históricos. Em formato de perfis, dados são apresentados de forma leve e, ao mesmo tempo, não deixam de apontar a relevância

dos entrevistados. Assim, eles prendem a atenção. E a iniciação àquele jornalismo que estimula a querer saber mais, que transmite vontade de conhecer, usando, para isso, formas e conteúdos que estabelecem relações de proximidade com o principal objetivo do jornalista: o receptor das notícias. No caso do MP, o leitor. A escolha pelo formato dos perfis vem baseada em pesquisas, estudos e debates a respeito das pessoas escolhidas para as entrevistas. Claro que corremos os riscos de opiniões contrárias e de ser injustos por ter preterido algumas fontes, contudo as discussões apontaram para os nomes abordados nesta edição. Além disso, o espaço do papel é limitado. O de fato importante é que temos, neste MP, pessoas que fizeram e fazem história, não pessoas apenas produtoras de fatos. Papéis de suma essencialidade. São, como todos nós, o centro de projetos, os autores de ideias e concretudes, da vida. Seres humanos.

Jornal-laboratório do Curso de Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, da FAAT – Faculdades, produzido pelos alunos do Terceiro Ano. Os textos publicados são de responsabilidade dos autores, que os assinam, não refletindo a opinião da Instituição. FACULDADES ATIBAIA – FAAT: Diretores da Mantenedora: Profa. Marilisa Pinheiro de Souza; Prof. Hercules Brasil Vernalha; Prof. João Carlos da Silva; Prof. Júlio César Ribeiro. Corpo Administrativo: Prof. Saulo Brasil Vernalha (Diretor de Normatização Institucional); Profa. Maria Gorette Lourenço (Diretora AdministrativoFinanceira); Prof. Gilvan Elias Pereira (Diretor Acadêmico). ­Professor Angel de Souza (Diretor de Comunicação); Orivaldo Leme Biagi (Coordenador de Captação de Alunos e Pesquisa e Extensão); Hilda Maria Cordeiro Barroso Braga (Coordenadora Geral da Pós-Graduação). Professores-orientadores: Moriti Neto (MTb 57.855) e Osni Dias (MTb 21.511). Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Ms. Osni Tadeu Dias

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História familiar se entrelaça com a arte e cultura em Bragança Paulista Foto: CRIStiane LUSTOSA

Cristiane Lustosa

T O diploma de jornalismo em debate Ter ou não ter? Por Merari Tavares A aprovação pelo Senado da PEC 33/09, que regulamenta a exigência do diploma de jornalista para o exercício da profissão, foi uma grande vitória, não apenas para os profissionais formados, mas também para a sociedade. A aprovação mostrou ser possível avançar na defesa do diploma a partir da mobilização e da pressão junto aos parlamentares. No Brasil, alguns defendem a exigência do diploma, afirmando que só assim é possível garantir a formação de profissionais competentes, que o mercado seria inundado por pessoa incapacitadas, e caso o diploma não fosse exigido, todos teriam o que perder com isso. Realmente esta é uma situação delicada, já que muita das vezes existem pessoas que pos-

suem tais capacidades para atuar em determinado cargo, porém, não possuem o diploma. Sendo assim, a maioria das empresas, mesmo ciente da capacidade do candidato, não o contrata devido à falta do diploma. Em outras vezes, fato que é muito comum no Brasil, o candidato é contratado pelo fato dele ser formado, possuir um diploma, porém, lá na frente, o empregador verá que apesar do candidato possuir um diploma confirmando a sua formação, na verdade, apesar de toda essa comprovação, ele não possui capacidade para tal. Possui sim, o diploma, porém não a capacidade para exercer tal cargo. Sendo assim, embora esta seja uma situação polêmica, sou a favor do diploma do jornalismo. Por que só o curso de jornalismo

que não necessita de diploma enquanto outros conquistam o seu com muito suor? Se assim fosse, existe por aí muitas pessoas que possuem capacidade de atuar em outras áreas, pois “possuem” um dom, ou melhor, talento para determinadas funções. Se este fosse o caso, tem muita gente que domina a área de história, matemática, sociologia. Seria muito simples! Essas pessoas que dominam essa área, mesmo sem diploma, poderiam chegar a uma sala de aula e simplesmente lecionar essas matérias. E aí, você concorda? Direitos iguais para todos, não é mesmo?! Uma pessoa que não possui diploma de jornalismo pode atuar na área, por que seria diferente com outras profissões? Vamos criar igualdade para todos!

Por Filipe Gonçalves

Ano 6, nº 14 – Maio-Junho de 2012 Impresso em agosto de 2012

MATÉRIA PRIMA

Família Calzavara: uma trajetória com 81 anos de amor à música

FORMAÇÃO

Dá pra ficar sem? Matéria-Prima

Música

Os meios de comunicação são, antes de tudo, fomentadores de discursos na sociedade; são eles os que selecionam aquelas que merecem o status de memorável promovido por eles. Operam sob um dispositivo de visibilidade e invisibilidade, o que significa que têm o poder de definir não só aquilo que estará na pauta das discussões políticas e sociais, mas também o que não estará presente nela. Ser jornalista é atuar submerso nessecontexto.Torna-seobrigatório, portanto, compreender o processo da notícia para além de seu resultado final nas páginas de papel imprensa, ou nos pixels das telas de computadores e celulares. Não defendo o diploma de jornalista pelo fortalecimento de sua

categoria profissional; tampouco a formação imprescindível para ensinar ao futuro jornalista técnicas de reportagem. A necessidade do diploma reside na importância de sua função social, apenas isso. Há muito tempo, nos corredores das escolas de comunicação, tornouse evidente a crise do ensino da técnica. Basta pouco mais de um mês de estágio para se aprender muito mais sobre apuração e redação que em quatro anos de faculdade. Mas existe uma lasca do jornalismo que não se aprende na prática. Essa lasca, central na práxis profissional, é justamente a que não nos permite ser usados como massa de manobra da chefia; como mão de obra especializada que

repete fórmulas da mesma maneira que um operário aperta parafusos – apenas para satisfazer interesses que lhe são alheios. E trabalhar essa consciência é precisamente o papel e o diferencial das escolas. A verdade, no entanto, é que talvez seja inútil a minha defesa, assim como toda a discussão. O que impede a real liberdade de expressão não é a regulamentação profissional, como alardeiam os anti-diploma. Com ou sem canudo, quando a notícia vira produto e o editorial depende do comercial, o interesse de uns poucos se sobrepõe ao de muitos, inevitavelmente. E aí a obrigatoriedade ou não do diploma vira coisa pouca, sem muita importância.

arde fria e chuvosa em Bragança. Estou sentada em uma antiga poltrona no escritório localizado no andar inferior do prédio onde está instalada a Casa da Cultura de Bragança Paulista, principal espaço cultural da cidade. Lá, são realizados concertos, apresentações de teatro, dança e outros eventos. A pequena sala abriga uma estante cheia de livros. Nas paredes, alguns quadros, um mural com várias fotos antigas e anúncios de concertos. À minha direita, um velho sofá e, à esquerda, uma escrivaninha. Sobre ela, diversos documentos. É o local de trabalho de Walkir, Vitório e Fábio Calzavara Junior. Juntos, os irmãos e músicos, contando também com o amigo e diretor de eventos, João Ottati, administram o patrimônio herdado do pai, Fábio Calzavara, um dos fundadores da Sociedade Sinfônica de Bragança. Durante nosso encontro, eles relembraram momentos marcantes da família. Uma trajetória de longos anos dedicados à arte, que se entrelaça com a história da cultura em Bragança Paulista. A história da Orquestra Sinfônica de Bragança tem início com o cinema mudo e um grupo de músicos, entre os quais estava Fábio Calzavara, regidos pelo maestro e pianista Demétrio Kipman, russo radicado no Brasil que, na época, veio para a cidade a fim de dirigir a orquestra do cinema, que tocava durante as apresentações dos filmes, fazendo a trilha sonora. Com a chegada do cinema falado à cidade, não havia mais necessidade da orquestra. O maestro então decidiu voltar para São Paulo, mas os músicos apegados à arte e à amizade do grupo não o deixaram partir e decidiram formar a orquestra sinfônica de amadores para concertos. Assim, surgiu a Sociedade Sinfônica Amadores da Arte Musical, que teve o primeiro concerto em 9 de maio de 1931. Embora a Sociedade tives-

Walkir, Vitório, Fábio Calzavara Junior (filhos de Fábio Calzavara) e o amigo da família, João Ottati

se uma história de vários anos de serviços prestados, não tinha sede própria. Ensaiava e tocava em lugares cedidos por empréstimo e em caráter provisório. No ano de 1962, sofreu a perda do primeiro líder, o maestro Demétrio Kipman que, por razões familiares, resolveu encerrar as atividades. Anos depois, diante da possibilidade de encerramento das atividades da orquestra que ajudara a fundar, Fábio Calzavara, junto com o amigo professor Júlio Vilchez, resolveu convidar um novo regente para liderar a orquestra. Esse convite foi dirigido ao jovem Fernando Amos Siriani, que tocava violino e viola e demonstrava interesse por composição. Aceito o convite, deu-se início a uma nova fase da orquestra sinfônica que, a

essa altura, contabilizava um belo terreno, doado por dona Luzia de Lócio e Silva e o filho dela, Moacir. Ainda na década de 60, surge a ideia de agregar a expressão “Casa de Cultura” ao nome da Sociedade Sinfônica. A finalidade era enquadrar-se para obter financiamento junto à Caixa Econômica Federal, numa linha de crédito que permitisse a construção do prédio de uma só vez, o que não foi possível. Agregado o nome, a Sociedade passou a ter uma espécie de compromisso consigo mesma: abrir o leque de atividades para levantar recursos financeiros e construir a sede. Quermesses eram organizadas para auxiliar na arrecadação de fundos. Todos trabalhavam. Músicos da orquestra e Foto: ARQUIVO DA FAMÍLIA

Fábio Calzavara em sua última apresentação, na sinfônica de Bragança Paulista

esposas, membros da diretoria, além dos amigos da casa. Cada um contribuía da maneira que podia para tornar real o sonho de ter o espaço. No dia 25 de abril de 1981, cerca de 50 anos tinham se passado quando a orquestra ensaiou pela primeira vez no auditório, ainda em fase de acabamento.

Missão - A Sociedade Sinfô-

nica é uma instituição de direito privado, sem fins lucrativos, de utilidade pública municipal, mantida por contribuições obrigatórias, doações voluntárias, locações de espaço físico, vendas de ingresso e auxílios de pessoas físicas ou jurídicas. As atividades dos diretores e outros elementos da administração são gratuitas e exercidas por pessoas voluntárias. Walkir Calzavara diz que a música sempre esteve presente na família e que começou a começou a tocar violino aos 7 anos de idade, assim como os dois irmãos, que também começaram cedo. “Quando éramos pequenos, havia reuniões de músicos após os concertos. Eu e meus irmãos ficávamos responsáveis por colocar as cadeiras para o público. Sempre estivemos envolvidos”. Vitório e Walkir ingressaram na orquestra em 1954 e, juntamente com o irmão mais novo, Fábio, participam como músicos até hoje. Walkir conta que o pai

sempre dizia “Filho, se você quer tocar violino, vai ter que carregar o piano”. Isso, pois, na orquestra, para cada concerto que era feito, tinha que se transportar um enorme piano alemão, que se encontra até hoje no hall de entrada da Casa da Cultura. Atualmente, a orquestra se apresenta com cerca de 60 músicos regidos pelo maestro Eduardo Ostrenger. Os ensaios são realizados semanalmente no prédio da Casa da Cultura. Metade desses músicos faz parte da sinfônica, a outra metade é de músicos profissionais contratados, já que a cidade não possui grande número de músicos amadores dispostos a tocar. Fábio diz que a orquestra é um exemplo de união, onde um depende do outro “O cara que toca violino é tão importante quanto o cara que bate o prato. É um modelo de organização para as empresas e para a sociedade”. Já quase no final da entrevista, Walkir diz que há mais uma coisa muito importante a dizer, então tira da prateleira uma pasta e lê o trecho de um documento: “A Sociedade Sinfônica em seu Estatuto - Artigo 3 declara ter por finalidade cultivar, preservar e incentivar a arte musical de modo que contribuam para o desenvolvimento da sensibilidade, da participação, da interação e cooperação entre os seres humanos estabelecendo, assim, uma nova era, na qual todas as atividades passam a ter um significado ainda maior”. Walkir explica o motivo do artigo “Nós acreditamos no poder da arte para despertar ou exercitar a sensibilidade humana. Se alguém vem assistir a um concerto, uma apresentação, e esta arte desperta nele alguma emoção ao final do concerto, algo nele terá mudado, e esse sentimento vai se refletir nas atitudes dele fora daqui. Nós acreditamos que quem vem aqui e recebe esse impacto emocional, transmitirá essas emoções para outras pessoas. E quando conseguimos fazer isso, temos nossa missão cumprida”.


4 Modelo bragantina representou cidade no Miss São Paulo

Moda

MATÉRIA PRIMA

maio/junho de 2012 FotoS: DIVULGAÇÃO/ARQUIVO PESSOAL

T

amara Gutierrez Mazzochi, nascida em Bragança Paulista, carrega o título do concurso miss Bragança 2011/2012. Estuda psicologia e está no segundo ano do curso. Trabalha como modelo desde os 14 anos, entretanto, pretende adotar como profissão a área da psicologia. Para ela, o título de miss não representa somente a beleza e, sim, simpatia, postura, dignidade e caráter. Em entrevista ao Matéria Prima, Tamara contou mais sobre o seu perfil, sobre planos para o futuro, como é ser Miss Bragança, e compartilhou a experiência de ter participado do Miss São Paulo, contando os detalhes do concurso e a preparação ao evento.

Matéria Prima – Como surgiu a ideia de participar do concurso e quanto tempo foi de preparação? Tamara Gutierrez - Fui convidada para participar do concurso pelos organizadores, em 2011. Foi um pouco mais de um mês de preparação (ensaio e a pré-seleção) o concurso foi realizado no dia 6 de dezembro.

MP – Qual é o impacto que o título trouxe? Tamara - O que não posso deixar de citar é o que o exercício do papel de miss causa nas crianças. Alegra muito poder cumprir esse papel e encarnar o exemplo de mulher e de se tratar a mulher tão diferente dos modos tão apelativos e desrespeitosos em voga hoje nas mídias.

MP – Como foi o concurso? Tamara - Fiquei muito feliz e me senti extremamente lisonjeada em ser coroada com o título de miss na cidade que tanto amo, por, além de ser uma cidade linda, tranquila, com um clima extremamente agradável, é a cidade em que moro desde que nasci e, principalmente, onde vivem as pessoas que mais amo.

MP – Quais são as pessoas que são e foram fundamentais para você? Tamara – Conto com o médico Fabio Alex Marques, especialista em estética médica e cirúrgica, dermatologia e cirurgia dermatológica, Carol Paola, fisioterapeuta, e a Clínica Menin, onde pratico Pilates, com Laura Menin e Lucas Menin, ambos grandes fisiote-

MATÉRIA PRIMA

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Adãozinho declara amor à Bragança e comenta do projeto social que dirige

Ex-atleta fala da relação com a cidade e diz que não seria empresário de jogador

Tamara Gutierrez conta mais sobre sua vida e revela como foi participar do concurso

Felipe Brandão

Esporte

Fotos: FERNANDA DOMINGUES

Fernanda Domingues

rapeutas da cidade. Mas, acima de tudo, a quem mais devo agradecer é à minha família MP – Como foi a experiência de representar Bragança Paulista no Miss São Paulo? Tamara - Representar minha cidade na capital é muita responsabilidade, mas foi uma experiência única, realmente muito boa. Quando se entra no palco e, se sabe que todos da cidade estão torcendo por você, é incrível, uma energia muito boa. MP – Conte sobre o clima e a preparação do evento? Tamara - Conviver com mais de 30 mulheres confinadas durante 11 dias não é nada fácil, é bem tenso. Mas claro que tem o lado bom, me diverti muito, muitas amizades. Ti-

vemos muitas cobranças pelos ensaios, acordávamos às 6h da manhã, tínhamos que estar prontas às 7h15 em ponto. Só retornávamos ao quarto por volta da 0h. MP – Quais são os planos para o futuro? Tamara - Pretendo continuar modelando, terminar minha faculdade, seguir com a profissão de estudo. MP – Por que escolheu estudar psicologia? Tamara - Simplesmente sou apaixonada por Psicologia desde pequena, não me vejo em outra profissão. É bem a minha cara. MP – O que gosta de fazer aos finais de semana como lazer? Tamara - Gosto de ficar com meu namorado, com minha família, ir ao shopping, sítio, visitar meus avós, assistir filmes, ver minhas amigas, porém, sou bem caseira. A estudante foi a campeã do Miss Bragança Paulista em 2011

Tamara trabalha como modelo desde os 14 anos

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osé Amadeu Elvino, conhecido como Adãozinho, nasceu em Caconde (SP), no dia 11 de maio de 1968. É casado, tem três filhos e mora em Bragança Paulista, no bairro Santa Libânia. Veio para Bragança quando tinha dois anos de idade em razão do trabalho do pai. Começou a trabalhar aos 12 anos e, aos 11, a jogar futebol, pois o pai tinha o sonho que um dos filhos homens fosse jogador. Treinava nos times do Vila Garcia e Legionário, quando, em 1988, um treinador o chamou para completar o Bragantino, se tornando profissional. Foi emprestado para o time do Rio Branco de Americana (SP) em 1989 e não parou mais. Ao todo, são 25 anos de carreira e 25 clubes. Passou por dois times do exterior e diversos brasileiros, se destacando no São Caetano, onde ganhou o título do Campeonato Paulista Série A2 (2000) e chegou às finais da Copa João Havelange (2000), do Campeonato Brasileiro (2001) e da Libertadores (2002), e no Palmeiras, onde ganhou o título do Campeonato Brasileiro da Série B (2003) e realizou o sonho de vestir a camisa do clube de coração. Retornou ao Bragantino, time que o revelou para o futebol, ajudando o clube a ficar nas quatro primeiras colocações do Campeonato Paulista da Série A2 de 2005, conquistando o acesso. Voltou a jogar pelo Bragantino em 2008, 2009 e 2010, estreitando cada vez mais seus laços com a população local. Em entrevista ao MP, Adãozinho, que se apo-

Adãozinho, ex-jogador profissional, considera-se bragantino e possui até projeto social na cidade

sentou aos 43 anos, fala da identificação com Bragança, da família, do projeto social no bairro Vila Garcia e que jamais ganharia dinheiro como empresário de futebol. Matéria Prima – Qual sua relação com Bragança? Adãozinho - Minha vida é Bragança, fui criado nesta cidade, levei o nome de Bragança para o mundo. Na Suíça Italiana, me chamavam de Bragança. Essa cidade acolheu a minha família quando criança. Tenho algumas coisas dentro de Bragança e não tenho onde nasci. Tenho também amizades em Bragança e na região. Nesta cidade, todo mundo conhece o Adãozinho. Moro no mesmo lugar de sempre. MP – Qual é a sua relação com o Bragantino? Adãozinho – O Bragantino foi o time que me colocou no mundo do futebol. Eu trabalhava em uma fazenda próxima a Bragança, a Ás de Ouro, e quando fui treinar

no Legionário, um treinador me chamou para completar uma vaga no time do Bragantino. Fui, pois ganhava um salário muito baixo na fazenda, tinha família para ajudar. Joguei poucos jogos como amador e me enquadrei como profissional com 17 anos. Voltei em 2005, na época, foi muito difícil, não só para o técnico Marcelo Veiga, mas para todos que passaram por lá, até para o presidente. O Bragantino não tinha nada, não tinha um banheiro para usar, um chuveiro para tomar banho, o campo estava abandonado, só tinha mato, a água e energia estavam desligadas. MP - Quando surgiu a ideia de fazer um projeto social no bairro Vila Garcia? Adãozinho - Vim para Bragança em 2000, quando estava no São Caetano. O campo do Vila Garcia estava abandonado, não existia vestiário, torneira, tinha dívida de R$ 18 mil de água, de R$ 7 mil de energia. Eu e minha família fomos aos

poucos colocando as coisas em ordem, construímos um campo de verdade, trabalhamos bastante para fazer a escola. O nosso projeto é social, não é para formar jogadores. Não sou, nem pensar, empresário de jogador, prefiro ganhar dinheiro trabalhando a ganhar dinheiro em cima de outras pessoas. MP - Como funciona o projeto?

“Minha vida é Bragança, fui criado aqui, levei o nome de Bragança para o mundo”, conta Adãzinho sobre o grande carinho que tem pela cidade

Adãozinho - Existem cinco categorias de menores, um time amador e um veterano. São, no total, 327 alunos, que estão inscritos e com carteirinha, mas tem muitos que vêm e não têm carteirinha e a gente acolhe. É melhor estar aqui do que na rua. Na hora da competição, se o aluno tem a carteirinha, temos todos os dados dele. O Vila Garcia, hoje, é um time que tem CNPJ e é conhecido mundialmente, pois, quando trabalhei fora, levava o nome comigo. MP - O projeto social recebe algum tipo de ajuda financeira? Adãozinho - Desde que iniciou a escolinha nenhum aluno pagou para vestir uma roupa, para treinar, para comprar bola, para viajar. Pago a arbitragem, a mensalidade da liga, os uniformes, a gasolina de quem joga. Não recebemos dinheiro nenhum, mas, na próxima temporada, vamos registrar o projeto “Adãozinho esporte é vida AB Vila Garcia”. Estive reunido com o Cafu, o Raí, pessoas que entendem o que deve ser feito, e com a advogada, que sabe dos trâmites para que a subvenção do governo venha manter o projeto. Se eu quisesse ter retorno financeiro aqui, já teria, pois veio o time do Coritiba, do São Caetano e do Santo André para fazerem um tipo de parceria. Falei que, enquanto estiver vivo, o nome do Vila Garcia ninguém tira. MP – Falando de coisas pessoais, que tipo de comida gosta? Adãozinho - Gosto de comer lasanha, de preferência, a que minha esposa faz. Gosto também de frango caipira, arroz e feijão, e sopa de man-


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Tradição

MATÉRIA PRIMA

dioca com costela de boi. MP – O que faz nas horas vagas? Adãozinho - Por incrível que pareça não perdi o hábito, gosto de treinar, em casa tem aparelhos de treinar. Gosto de dar uma volta a cavalo. Também tenho o privilégio de buscar minha filha na escola, que antes não tinha. Meus filhos estudam em colégio público e são muito respeitados. Isso é gratificante. MP – Que tipo de música gosta de ouvir? Adãozinho - Gosto de música evangélica, estive por muitos anos dentro da igreja. Gosto de sertanejo, que é a minha raiz. MP – Que tipo de filmes assiste? Adãozinho - Os filmes que

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gosto não existem mais, são os de bang bang. Assisto pouca televisão, assisto mais quando fala de esporte. MP – Gosta de viajar? Adãozinho - Gostava, avião era três vezes por semana, agora é uma vez por ano, se der, vou de carro. Peguei trauma de avião muito grande. As viagens que fiz não foram muito agradáveis, peguei turbulências. Uma vez, indo para Londrina (PR) o avião não podia pousar, a pista estava interditada e o piloto ficava rodando o aeroporto. Fui pegando um pouco de cisma. MP – Tem vontade de conhecer algum lugar específico? Adãozinho - Como joguei do lado de Milão, fui conhecer. Fui também para a França. Conheci a Alemanha.

que elas levem a vida delas tranquilamente, junto com meus sobrinhos.

Alunos na Escola Adãozinho Esporte é Vida, no bairro Vila Garcia

Aqui no Brasil, fui à Chapada dos Guimarães, um lugar lindo. Conheci Goiânia, Fortaleza, Recife, Salvador, Natal. Conheci praticamente tudo que gostaria. MP – Quais os lugares que frequenta em Bragança? Adãozinho - Gosto de ir no Society Manguinha, no Bar do Negão, onde sempre

peço o caldo de mocotó que tem lá. E gosto também de ir à Churrascaria e Pizzaria Porteira Gaúcha. MP – Tem algum sonho que queira realizar? Adãozinho - Estou perto de realizar. Tenho um pedaço de terra perto do Lago do Taboão e estou construindo para as minhas irmãs, para

MP – Que conselhos você dá para quem quer ser jogador de futebol? Adãozinho - Antes de tudo tem que ter obediência a Deus e aos pais, deve saber que se Deus deu o dom para ele ser jogador de futebol, tem que fazer a parte dele, não pode querer ser Ronaldo, Neymar e Messi, tem que querer ser ele. E, quando estiver jogando futebol muitos convites virão, mulheres, colegas que têm inveja. Deve procurar saber quem realmente são os amigos dele. Saber os lugares que pode frequentar por ser um jogador profissional, porque depois que cai negativamente na boca do povo, é muito difícil mudar a história.

Contador de histórias, Renato Zanoni exalta reconhecimento em vida Atibaiense de coração, historiador fala sobre seus momentos preferidos da história PALOMA ROCHA BARRA

Paloma Rocha Barra

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enato Zanoni nasceu no ano de 1932 em Jarinu, então distrito de Atibaia. Com a falência do pai, Edmundo Zanoni, ex-prefeito e produtor de café, mudou para São Paulo. Cresceu nos bairros da Lapa e Ipiranga, atribuindo a tal mudança a diferença dos pensamentos em comparação aos atibaienses. “Eu tenho uma cabeça mais larga porque os que moravam aqui ou saiam para estudar fora, ou ficavam na mesmice. Atibaia era um lugar sem recursos para instrução”, afirma Renato. Historiador, ele foi colunista do jornal O Atibaiense por quatro anos, levando aos lares da cidade a história local. Zanoni, conhecido por pesquisas e histórias da própria família, escreveu o livro “Atibaia no Século XX”. Atualmente, escreve sobre a imigração italiana, em conjunto com outros historiadores da cidade, além de uma obra sobre os bairros atibaienses, que produz sozinho. Acostumado a escrever sobre grandes personagens e

O historiador Renato Zanoni atualmente está produzindo um livro sobre os bairros atibaienses

fatos da cidade, Renato tem preferência por momentos e pessoas. Dr. Miguel Vairo, médico que atendia pacientes de bairros distantes gratuitamente aos domingos, e, Dr. Olimpio da Paixão, que foi advogado, médico prático e parteiro, são personagens que cativam o historiador. “Tinha também um político, que morreu em 1935, o major Juvenal Alvim. Ele foi

o político de maior carisma de Atibaia, um homem muito rico. Ia ao Rio de janeiro visitar o governador, mas era pessoa simples, visitava a todos e comia o que davam. O major foi um homem de grande presteza para Atibaia”, acrescenta. Quanto aos momentos históricos que receberam atenção especial, Renato destaca a epidemia de gripe espanhola, de

1918, e a Revolução de 1932. As pesquisas sobre os temas realizadas no arquivo do jornal “O Atibaiense” trouxeram diversos detalhes, nomes dos cidadãos que contraiam a gripe, como foram tratados, homens que foram à luta durante a revolução, doações realizadas. Sobre o reconhecimento das pesquisas, o historiador diz ser uma satisfação ocorrer

quando vivo, porque, após a morte, ganhar nome de estrada não mudará em nada em minha história. “Esses dias, tive uma satisfação. Fui comprar peixe e, quando estava atravessando a rua, um homem veio me abraçar e disse que todo dia lembrava-se de mim pelas historias que contei no jornal e ele não sabia”, comemora. Durante a entrevista, Zanoni se lembra de alguns momentos da mocidade. Quando chegou a Atibaia, só havia calçada na rua José Lucas, praça Galdino Alves e rua José Alvim, todo o resto da cidade era de terra, era poeira e barro.“O que eu mais gostei do meu período de mocidade foi que, nascendo em 1932, chegando a algum entendimento por volta de 1940, fui ao primeiro ano de escola. Segui a evolução do avião, do automóvel e do cinema. Foi uma grande evolução, em um ano o avião levava 24 horas para ir a Roma, depois , arrumaram um avião quadrimotor que chegava em 17 horas. De repente, criavam outro que iria em 12. Agora, vai em 9 horas”, conclui.

Música

MATÉRIA PRIMA

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Apaixonada pela profissão, regente dedica seu tempo a crianças e jovens

Vilma Guzzi declara que sua vida é ensinar o verdadeiro significado da música Karen Sarraf

Foto: KAREN SARRAF

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uando se fala sobre o movimento musical da cidade de Atibaia e sobre os principais artistas, logo se pensa em Vilma Guzzi. Nascida e criada em Santos, a regente dos Corais Sol, Terra e Amigos da Criança costumava cantarolar pela casa enquanto ajudava a mãe nas tarefas domésticas. Incentivada por uma vizinha, começou a investir no grande sonho quando decidiu estudar piano, tornando-se, mais tarde, professora. Quando se mudou para Atibaia, a musicista conheceu Jandira Massoni e Aparecida Anselmo, que a convidaram para participar do Coral da Igreja Rosário, surgindo o primeiro contato com a música na cidade. Alguns anos depois, as amigas se unem e fundam o Coral Pró-Arte que, na época, era o único coral da cidade. “Ali, começou um movimento de música”, conta Vilma, homenageada pela banda Absintho há alguns meses por ser uma das precursoras na cena musical da cidade. Criadora de diversos corais, como Coral Pró-Arte, Terra Brasil, Sol Maior e o Coral do Objetivo (infantil e juvenil) a

Na foto acima as inseparáveis amigas, Vilma Guzzi e Mariza Zago

musicista conta com a fiel escudeira e amiga, Mariza Zago, que compartilha grande bagagem de ensaios, apresentações e premiações. As amigas falam sobre o prazer que têm em ensinar e mostrar às crianças e jovens os diferentes tipos de música, dando opção de escolha para aprenderem e escolherem estilos musicais. “Quando colocamos Tom Jobim para as crianças ouvirem, elas fazem buscas

na internet e adoram”, conta Vilma. Ela completa: “Isso é a maior realização. Você conseguir direcionar a mente das crianças, dos jovens e até dos adultos para o lado bom, bonito e consciente da música”. A regente garante que para fazer parte dos corais não é necessário nenhum tipo de teste, nem mesmo nascer com a voz afinada. Basta se dedicar durante os ensaios e saber escutar as instruções. “Não é

necessário ter conhecimento de música, mas é necessário que a pessoa entenda que, no começo, não é fácil. Terá que ouvir bastante para poder afinar”, explica. Quanto ao momento mais marcante da carreira, Vilma deixa bem claro que não fora apenas um, mas vários. “Um dos primeiros momentos marcantes foi o primeiro concurso do Coral Infantil em São Paulo, em 2004. Eles ganharam em primeiro lugar e hoje são pen-

tacampeões”, se orgulha. Os resultados bons vêm graças à dedicação de ambas, que insistem em dizer que, ao entrar no coral, a disciplina é cobrada antes, durante e após os ensaios. “A gente sempre fala que existem quatro palavras mágicas que devem ser usadas nos ensaios: Por favor, desculpe, da licença e muito obrigada”, explicando que nasceu para educar. A sensação de ver os corais se apresentando no fim da intensa rotina de ensaios é satisfatória. “É uma coisa que deu muito trabalho e depois você não acredita no resultado. Sempre dá tudo certo. É um alívio, sensação de dever cumprido, vontade de fazer de novo, achar que valeu a pena, que você interferiu de forma positiva na vida das pessoas”, se emocionam Mariza e Vilma, ao lembrarem das apresentações. Na mais recente apresentação do Coral Sol, Terra e Amigos da Criança, no Festival de Inverno de Atibaia, em agosto deste ano, no Centro de Convenções Victor Brecheret, o grupo cantou em seis línguas. “Eles cantaram em português, italiano, francês, inglês, espanhol e hebraico”, conta uma orgulhosa Vilma Guzzi. Foto: divulgação

Ex alunas do Coral Objetivo falam sobre Vilma

Karina Tavares “Conheci a Vilma e a Mariza através de uma amiga da minha avó, que perguntou se eu gostaria de cantar no coral, eu aceitei e fui conhecer. Gostei desde o primeiro dia que comecei a cantar, elas cuidavam muito bem do coral e são duas pessoas maravilhosas, que têm muita dedicação e desempenho”.

Kimmy Nomoto “A professora Vilma Guzzi é uma professora muito exigente, além de ser muito brava. Adoro muito ela, difícil de encontrar professora assim, que corra atrás de tudo que gosta. Eu fazia parte do contra canto, adorava tudo o que ela me ensinava, pois minha voz se adequava em tudo o que ela queria”.


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Arte

MATÉRIA PRIMA

maio/junho de 2012

Considerado louco, artista se reinventa e vive livre da maldade

FotoS: RUBENS PASCHOAL

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3 sacos de estopa, cortinas, pedaços de tecidos, assim como todas as fantasias de seus quase 80 personagens de sucata e lixo.(4) Não há energia elétrica, TV ou qualquer aparato tecnológico onde vive. Pinta, desenha, esculpe, modela. Transforma tudo em energia positiva. Constrói dragões e centenas de chapéus com pedaços de madeira, raízes retorcidas, folhas secas de bambu, coqueiro, milho e tiras de tecidos. Cada objeto tem um

propósito único. Na entrada da casa, no filtro de água que serve de vaso prevê a direção e intensidade dos vento. Nas portas e janelas há espelhos: ‘‘ Os espíritos são feios; eles olham na tua casa e os espelhos não deixam eles entrarem, por isso eu deixo nas portas e janelas... Os espelhos refletem!.. Aí eu falo assim: eu sou o espelho que reflete o bem e reflete o mal, quem desejar o bem terá o bem, e quem desejar o mal terá o mal!’’ A cada passo no quintal se ultrapassa um portal que nos leva a outros mundos, outros sentidos, sendo o “Portal Madriky, canal 7, JK” (5) o principal elo de comunicação com outras dimensões. Espantalhos e altares diabólicos afastam intrusos invejosos. João transmuta-se em corcunda e tal qual o grego Diógenes, 400 anos antes de Cristo, andava pela cidade de Atenas em plena luz do dia, munido com uma lanterna, procura por um homem honrado, honesto e virtuoso a toda prova, que parece não encontrar, pois continua incessantemente sua busca. Se naquela época era difícil se achar um homem com tais qualidades, imagine 24 séculos depois... Sua obra equipara-se em determinados pontos a de Arthur Bispo do Rosário, que, tido como louco, este ano terá suas obras expostas na 30ª Bienal de Arte de São Paulo. Tudo na vida de João Piazzaroli – o

Representante de Atibaia, atleta tem carreira meteórica no judô

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Suelem Oliveira

D João Gentileza, como é conhe-

“Há sempre um pouco de razão na loucura” – Nietzsche

maio/junho de 2012

FotoS: SUELEM OLIVEIRA

“A mais sútil loucura é cido em Piracaia – é energia feita da mais sútil sensatez” positiva. Muitos o consideram – Montagne louco, mas o fato é que teve a

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um misto de mítico e real, João representa a morte com sua infalível foice tecida de galhos, tecidos, borrachas e penas. (1) Travestido numa túnica roxa e com chapéu cônico, e armas feitas com garrafas pet e frascos plásticos diversos, anuncia que está protegido para enfrentar a chuva de meteoros que cairá no planeta e acabará com boa parte da raça humana. Sua missão, recebida dos céus, será orientar os sobreviventes. Segundo ele “é Deus no céu, eu na terra e Lúcifer nas profundezas do inferno... Tudo que for contra mim e contra nós a corrente leve pro inferno”. (2) Munido do inseparável cristal, do cachimbo, da bandeira brasileira e de chapéu de penas, João agora é um xamã indigena que prevê um futuro assustador para o homem. Em seu refúgio, encontramos altares para santos, exus, divindades pagãs e míticas, caboclos de umbanda, budas, totens de deuses olímpicos, bruxas, pombas-gira, demônios das mais variadas formas e santos dos mais diversos milagres.(3) Segundo João, tudo está relacionado com as forças do bem e do mal, e o equílibrio espiritural com rezas, oferendas, mandingas, energização de ambientes é primordial para a saúde do espírito. Abre um pacote de fumo para cachimbo e pronuncia uma benção para que os maus espíritos não o possuam quando em transe. Seus antepassados conversavam com animais peçonhentos. Lê a sorte com cinzas em azulejos consagrados. Oferece aos santos pão, café e água. Aos demônios, aguardente, fumo e velas pretas. Reverencia ambos. Fabrica capas e túnicas de

MATÉRIA PRIMA

Águva se firma no esporte e sonha em conquistar títulos para o país

Com pedaços de tecido, ele cria fantasias com quase 80 personagens de sucata e lixo Rubens Paschoal

Esporte

coragem de se reinventar e viver um mundo só seu, inofensivo, livre de maldade, hipocrisia, hostilidade, feliz, puro. A pureza do coração é inseparável da simplicidade e da humildade. Exclui toda ideia de egoísmo e de orgulho. Insensatez e razão são só os dois lados da mesma moeda. Em Ensaio sobre a Cegueira, ficção de José Saramago, o autor descreve uma estranha e diferente espécie de cegueira branca que começou repentinamente com um único homem e logo se transforma em epidemia, cegando toda uma nação, monstrando as reações do ser humano às necessidades, à incapacidade, à impotência, ao desprezo e ao abandono. Na obra seguinte, Ensaio sobre a Lucidez, num país qualquer, num dia chuvoso, poucos eleitores compareceram para votar. Houve quase 70% de votos em

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branco. Uma catástrofe. Evidentemente que as instituições, partidos políticos e autoridades haviam perdido a credibilidade da população. O voto em branco fora uma manifestação inocente, um desabafo, a indignação pelo descalabro praticado por políticos. Quem está cego? Quem está lúcido? Tudo é sábio nas obras de Deus. No Evangelho de Matheus, Capítulo 5, versículo 8, está escrito: “Bem-aventurados os que têm puro o coração, porquanto verão a Deus”. Quantos de nós realmente tem o coração o puro? João Piazzarolli fez uma opção. Hoje é João Gentileza (6). E você? Quem é?

edicar-se ao esporte foi a decisão que a atleta Águeda Silva tomou quando tinha 12 anos. Hoje, sete anos depois, a judoca coleciona medalhas, competições e muito talento. A atleta conta que o interesse pelo judô começou por acaso, quando ela levava o irmão mais novo aos treinos. Gostou do que viu e sentiu vontade de começar a praticar também. Dona de uma carreira meteórica, o crescimento de Águeda no mundo esportivo foi rápido. Aos 14 anos, ela participou da primeira competição juvenil e trouxe resultados positivos. Para a atleta, o esporte foi uma divisão importante, pois aprendeu a lidar com as derrotas e procurar crescimento pessoal e profissional. Pelo judô, não vieram apenas medalhas, mas até na faculdade ganhou bolsa. Nos Jogos Regionais do Interior que ocorreram em Atibaia, no mês de junho deste ano, conquistou o ouro na categoria individual feminina. No dia 1 de agosto, a judoca embarcou com a equipe brasileira Sub-20 de judô para a Europa, rumo a Praga, na República Tcheca e Berlim, na Alemanha, onde participará de estagio internacional com treinamento e competições que fazem parte do circuito europeu. De sorriso fácil, emotiva e com muita esperança no coração, a judoca fala ao Matéria Prima sobre os títulos, sensação de representar o Brasil no Grand Slam, que ocorreu no Rio de Janeiro, em junho, e dos projetos que tem para o futuro.

Judoca em um dia de treino na Apaja A judoca Águeda Silva se orgulha do desempenho no esporte: “não esperava tantas conquistas e reconhecimento”

ENTREVISTA

Por trás das vitórias, a dedicação e a garra

MP - Como foi a participação no Grand Slam? Houve muita pressão? Águeda Silva - Pressão nem tanto, mas eu estava nervosa e ansiosa. Foi uma surpresa, não esperava que minha participação no Grand fosse tão cedo. Não conhecia as meninas com quem ia lutar, sabia que elas eram fortes, mas fiquei muito feliz com o resultado. A final foi com uma brasileira. Já tinha lutado com ela antes em uma seletiva. Consegui relaxar e pegar o bronze. MP - Como é sua preparação, seu dia a dia? Águeda - Treino de segunda

a quinta, três horas por dia. E de segunda a sexta, faço musculação cerca de 1h30. Academia à tarde e judô à noite. MP- Como você começou a praticar? Águeda - Meu irmão mais novo treinava e eu, com uns 12 anos, vinha trazer ele. Faz sete anos que estou treinando. Ficava esperando na arquibancada. Como eram umas duas horas que ele treinava, perguntei para o professor se poderia treinar e ele disse que sim. Mas eu comecei a treinar e gostei, fiquei um ano treinando no projeto e, no ano que competi, comecei a treinar à noite aqui também.

MP - Como você decidiu que é isso que você quer? Águeda - Tenho a noção, como qualquer outro esporte, de que não vou conseguir levar o judô para o resto da vida. Vou levando até onde conseguir e meu corpo aguentar. O judô me ajudou muito na educação, me ajudou a amadurecer e a crescer pessoalmente. A aceitar minhas derrotas, a querer crescer e acreditar em resultados melhores. Também consegui bolsa na faculdade para fazer fisioterapia em São Paulo. A faculdade é de quatro anos e, como quero me preparar para as Olimpíadas do Rio de Janeiro, se for muita correria, vou

trancando. A minha prioridade é competir. MP - Como você se vê dentro do cenário esportivo? Como é representar o Brasil? Águeda - No meu primeiro Pan Americano, estava muito nervosa, ansiosa e, quando ganhei final, não acreditava. Via outras atletas com mais experiência na competição no currículo e era o meu primeiro. Nossa, passa todo aquele filme: eu comecei tarde com 12 anos, em menos de dois, três anos, já estava em um nível bem alto.


10 Paixão pelo motocross faz de Jorge Negretti um campeão da vida MATÉRIA PRIMA

Esporte

Educação

maio/junho de 2012

maio/junho de 2012

Apaixonado pela profissão, piloto começou cedo e se mostra competitivo Fotos: FILIPE GRANADO

Ronaldo Catadori

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esmo com o tempo tomado com as apresentações de Freestyle por todo o Brasil, com os eventos da Fórmula Truck e com o Race Festival, evento em que um dos organizadores é nada menos que o piloto de Fórmula 1 Felipe Massa, Jorge Negretti já programa um calendário para 2013. O Salão Internacional de Duas Rodas e o Recife Motor Show estão confirmados para essa nova agenda. Ainda assim, recém chegado da cidade de Montes Claros, Negrettti não pensou duas vezes em atender ao pedido do Jornal Matéria Prima, mesmo depois de um dia cansativo. Nosso primeiro contato foi por intermédio de um celular, logo na manhã de segunda-feira, 13 de agosto. O piloto teve toda disposição em contar a sua história e revelar situações exclusivas da sua trajetória profissional e pessoal. O exemplo de humildade, simpatia e tranquilidade é um dos pontos que mais chamou atenção do repórter. O dia amanhecera frio. Pude notar que o entrevistado estava em seu momento de descanso, devido à viajem que acabara de fazer, bem como pelo seu tom de voz ao telefone. Tentei ser breve para não incomodá-lo naquele momento. Foi uma explicação básica sobre a entrevista e em que veículo seria publicada. Ele topou de imediato e ainda sugeriu o local do encontro. Deixei-o livre para escolher, pois ficaria mais à vontade e conheceria um pouco mais sobre lugares frequentados pelo piloto. Fomos até um posto da rede BR, localizado na Avenida dos Imigrantes, em Bragança Paulista. Cheguei primeiro e aproveitei para fazer algumas perguntas aos funcionários do local. O frentista Daniel explicou que o piloto frequenta o ambiente desde que inaugurou e é sempre atencioso com todos. Na hora combinada avisto o automóvel de JorgeNegretti.

Considerada uma das manobras mais difíceis do Freestyle, Negretti “manda um delirante Superman”

Logo percebi que as palavras de Daniel realmente faziam sentido. O piloto cumprimenta as pessoas que estão entre nós e segue em minha direção. A escolha do local foi exatamente em razão da tranquilidade e conforto que a conveniência oferece. Uma loja comum na parte térrea, porém uma estrutura mobiliada com várias mesas de madeiras desmontáveis, um jogo de sofá de cinco lugares muito confortável, complementado por uma mesa rústica de madeira, no piso superior. Quadros decorativos por todos os lados, luz agradável, temperatura ambiente e uma televisão de LCD. Conheço o piloto há algum tempo, tive a oportunidade de fotografar alguns eventos, e convivo com pessoas que com ele trabalham, mas nunca tive a oportunidade de falar sobre assuntos mais reservados. Negretti foi bem enfático ao dizer que sua vida pessoal foi, de certa forma, sacrificada pela carreira. “Minha vida pessoal acabou até ficando um pouco de lado, pois tenho trabalhado bastante e quase não tenho muito tempo para as coisas que gosto de fazer.” Ele ainda explicou que é uma pessoa tranquila: prefere ficar mais em casa ao invés de ir a baladas quando tem um momento na agenda. Nosso entrevistado é apai-

xonado por moto e teve seu primeiro contato com uma aos nove anos. Mais tarde, começou a praticar suas habilidades em uma moto 125cc, de propriedade de seu irmão mais velho. Foi quando seu pai vendo o gosto por motor, comprou uma DT180 e presenteou-o quando ele completou 14 anos. Dali em diante, não deixou mais essa paixão por nenhum momento. Sua carreira profissional começou no Motocross aos 21 anos, depois passou por diversas modalidades: Super Cross, Arena Cross , entre outras. Considerado um dos maiores pilotos da história brasileira, sua carreira é marcada por 10 Campeonatos Foto: Filipe Granado

Negretti é muito procurado pela mídia para falar sobre essa nova modalidade o Estilo Livre (Frestyle)

Brasileiros e nove Campeonatos Paulistas, títulos de maior expressão em nosso país, além de Campeonatos sul-americanos e outras participações internacionais. Negretti é uma pessoa extremamente competitiva. Quando questionado sobre uma apresentação marcante, ficou com a primeira corrida efetuada em sua terra natal, Bragança Paulista. “Toda vitória tem um valor especial, mas uma que me marcou muito foi o primeiro Campeonato que disputei. A corrida foi aqui em Bragança, diante de um público de 10.000 pessoas. Era a decisão do Campeonato e eu brigava pelo meu primeiro título na categoria. Faltando duas voltas para acabar a corrida, sofri uma queda que ocasionou a quebradura de meu guidão”. O piloto conta sorrindo o final triunfante: “continuei correndo com ele quebrado, mas tinha que manter uma posição para poder conquistar o título e cruzei a linha de chegada poucos segundos à frente do piloto que tiraria o título de mim mesmo eu estando com o guidão quebrado. Isso foi realmente muito marcante, pois já é difícil andar com a moto inteira, agora imagina com um guidão quebrado”, lembra. O piloto é uma pessoa muito detalhista e atenciosa com as pessoas. Procura trabalhar

com muita segurança e evita acidentes e situações que possam prejudicar seus objetivos. Porém, dificuldades todos nós sabemos que são encontradas em toda parte, sejam elas profissionais ou pessoais. Quando íamos entrar nessa conversa, a “TV de 42”, que se encontrava no ambiente estava mostrando uma apresentação de Weeling, outra modalidade motociclística praticada nesse meio esportivo. Ele parou para ver e logo percebi sua atenção e não o interrompi. Retomamos o assunto logo em seguida e entramos em um campo que eu sabia que seria mais complexo. Usei a palavra complexidade, pois já sabia que Negretti tinha de deixar sua vida social de lado para conquistar tudo o que tem até hoje e, para isso, teve que fazer escolhas como todos nós. Como dizia Cecília Meireles, decidir “entre isso ou aquilo”. Mas, como bem me lembrou uma amiga “para chegarmos à importância de pessoas como Airton Senna e Jorge Negretti temos que nos dedicar ao máximo para o que nos propusermos a fazer e, com isso, é inevitávelnão deixarmos algo de lado”. Negretti começou a falar de sua família e amigos, que para ele foram fundamentais em toda sua carreira. “Sou uma pessoa de muita sorte, sempre tive pessoas especiais ao meu lado”. Emocionado e com a voz trêmula o piloto afirma, “nossa, não tem uma situação que me deixou lembranças negativas em toda essa minha trajetória, pelo contrário, só coisas positivas, graças a Deus”. Sabendo do pouco tempo que o piloto tem para sua vida social, não foi difícil perceber a falta que a família lhe faz. Uma agenda cheia é o motivo de pouco contato. Pude ver isso na atenção que Negretti deu ao seu cachorro Dog, propriedade de seu filho. Dog é da raça “Burriler” e está em fase de adestramento, mas escuta cada palavra do esportista sem desobedecê-lo. Ficamos brincando por quase 10 minutos com ele em seu quintal e a co-

nexão entre o piloto e o melhor amigo do homem era perfeita. Pude sentir a emoção nos olhos dos dois e saber como é o nosso entrevistado quando está na presença de sua família. “No bônus”, como Negretti se refere a sua atual carreira profissional, pois depois de um tempo sem atuar em competições de Motocross, lançou um projeto chamado Freestyle (Estilo Livre), pioneiro no Brasil, sendo sucesso por onde passa. Trata-se de saltos com a moto sobre rampas e manobras radicais durante o voo. Segundo ele, é a união da paixão por esse esporte e por ser também (durante toda sua vida) sua renda financeira, que o fez se sentir assim. “Na carreira esportiva a aposentadoria é muito rápida, mas minha paixão pelo esporte me fez ir onde eu nem

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MATÉRIA PRIMA esperava chegar e hoje me sinto no bônus por estar na ativa e fazendo o que mais gosto.” O piloto não para por aqui e revela algumas pretensões ainda não alcançadas. Uma delas é atuar na Moto Velocidade, mais uma modalidade em que ele não participou. Porém, pretende fazer isso para ser completo em todas as diferentes modalidades e ser o único piloto a atuar em todas elas. Negretti por Negretti. O esportista diz que é difícil de falar dele mesmo, mas posso dizer que, nesse tempo que o conheço e o acompanhei, é uma pessoa persistente, não desiste nunca de seus objetivos, corre muito atrás dos sonhos e que toda determinação e paixão pelo Motocross não só faz dele um campeão das pistas, mas, também um campeão da vida.

Paixão pelo Motocross fazem de Jorge Negretti um campeão da vida

Foto: RONALDO CATADORI

Os pilotos Jorge Negrretti e Ciro de Oliveira em apresentação no estádio Nabi Abi Chedid (Marcelo Estefani)

Com fama de rígido, Bottura tem longa carreira na área da educação Diretor de escola é reconhecido pelo trabalho desenvolvido em Atibaia Foto: CRIS FERREIRA

Cristiane Ferreira

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aldir Bottura, nascido em Catanduva, interior de São Paulo, filho de família rica, saiu de casa aos 14 anos para estudar, já que os familiares consideravam que não havia necessidade. Em 1972, se forma em pedagogia. Torna-se diretor aos 23 anos, na escola Rodrigues Alves, onde estudou e dirigiu a professora que lhe deu aulas do primeiro ao quarto ano do ensino fundamental. Em 1977, foi chamado pelo Governo do Estado de São Paulo para resolver problemas que ocorriam em uma escola localizada na Avenida Paulista, na capital, em frente ao hospital Santa Catarina. Ali, o professor Bottura permaneceu por pouco tempo. No ano de 1978, ajudou a reestruturar o ensino no Estado. Afastado da direção de escolas para exercer a função de assistente técnico na Secretaria de Educação, passou a trabalhar com planejamento. Entre 1981 e 1984, foi chamado para ser diretor de recursos

Waldir Bottura na Câmara Municipal: gosto de cozinhar, tenho até um livro de receitas publicado

humanos da secretaria. Cansado da rotina que as funções exigiam, tentou deixar o cargo comissionado pelo Estado, o que lhe foi negado. A partir de então, começou a planejar de que forma abandonaria o posto. No dia 1º de abril de 1984, ele vai em busca de algo que o satisfaça. Logo em seguida, muda-se para a cidade de Atibaia, onde assume, como diretor, a Es-

cola Estadual José Alvim, em que permaneceu por 20 anos. Durante esse período, obteve bons resultados, como, por exemplo, ter a escola considerada das melhores do Estado por vários anos. Devido a gestão na escola, Bottura também se tornou conhecido na cidade pela postura de homem rígido, exigente, profissional que empunha respeito. “Era

o primeiro a chegar à escola, para ver se estava tudo em ordem, como a apresentação dos banheiros, das salas e dos pátios, para o inicio das aulas, além de acompanhar de perto a merenda que era servida aos alunos”, conta. Depois de deixar a escola estadual, foi convidado a dirigir uma escola particular: o Colégio FAAT. Ali permaneceu na direção durante

sete anos. Quando a deixou, foi para se aposentar, acreditando que iria aproveitar os dias para descansar e fazer as coisas que gostava, como cozinhar. “Tenho um livro de receitas publicado”, diz. Porém, um ex-aluno, o atual presidente da Câmara de Vereadores, Saulo Pedroso de Souza, lhe fez inesperado convite. Ele e Emil Ono, também vereador, convidaram Waldir Bottura para que fosse chefe de Gabinete do Legislativo. De início, pensou que o cargo oferecido não tinha ligações com o que gostava de fazer. Contudo, conversando com a esposa, grande conselheira, decidiu aceitar, pois não queria decepcionar duas pessoas que confiam e que futuramente se tornariam grandes amigos. Bottura, além de diretor de escolas conhecido, também foi vereador do município. No ano de 2010, ganhou o título de cidadão honorário de Atibaia pelos serviços que prestou à comunidade, principalmente no setor da educação.


12 Escritora enfatiza importância da leitura para a cultura popular

Cultura

MATÉRIA PRIMA

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Marina Gomes Valente encontrou incentivo à leitura na juventude

Atibaia News

Foto: ARQUIVO PESSOAL

Paulo Toledo

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escritora Marina Gomes de Souza Valente transmite sabedoria já no olhar. Com a voz pausada e tênue, fala um pouco da infância e trajetória. Filha de imigrantes portugueses, começa contando sua história em Bragança Paulista, iniciada no ano de 1933, com a mudança da família da capital para o interior, onde passou infância simples e feliz. “Colhia frutas sem agrotóxicos e ovos fresquinhos”, explica. Na juventude, encontrou incentivo à leitura ao frequentar a Biblioteca da Congregação da Doutrina Cristã, da Igreja Santa Terezinha. Marina se formou em pedagogia com habilitação em administração e supervisão escolar nas Faculdades de Filosofia Ciências e Letras de Guarulhos e Nossa Senhora do Patrocínio, em Itu. Começou a lecionar no Colégio Sagrado Coração de Jesus, em 1954, e, a partir de 1957, ministrou aulas para adultos no curso noturno do Centro Social 012 (SESI). A escritora trabalhou em diversos cargos na área de administração de escolas, sendo um dos momentos mais marcantes quando deixou a posição de assistente de direção da EE Prof. Joaquim Theodoro da Silva, no ano de 1979, para assumir o cargo de diretora. “Serviu de parâmetro e estímulo para o meu desempenho no cargo que assumia”, recorda. Marina deixou a casa dos pais em 1966 para se casar com José Maria Teixeira Valente. “Ele foi o primeiro e paciente ouvinte das minhas poesias”, conta. Após se aposentar, o casal dedicou-se a trabalhos voluntários em diversas ONGs de Bragança Paulista. Ela, mais efetivamente, e o mari-

Banda que antes era simbolo da esquerda, hoje depende da prefeitura

Nascida de conflito, 24 de Outubro luta para se manter viva Escritora fala bem da cultura e enfatiza a importância de jovens lerem livros

do na “retaguarda”, sempre demonstrando respeito pelos serviços sociais. A escritora afirma que sempre gostou de poesias e as utilizava em aulas na escola e também na catequese. A inspiração surge dos sentimentos cotidianos, utilizando-se da poesia para expressar o que sente e o que pensa sobre as coisas. Alguns dos trabalhos dela foram publicados em jornais locais, mas, até então, nunca havia pensado em editar um livro. Em 2004, aceitou o convite de integrar a Associação de Escritores de Bragança Paulista (ASES). O primeiro livro de poesias, “Nas Asas da Borboleta”, editado em 2005 com tiragem de 500 exemplares, teve parte da arrecadação das vendas doadas para a ASES ao projeto “Nascer de Novo”. Nesse mesmo ano, escreveu o livro “Um Mergulho no Passado”, com 89 páginas, que conta um pouco da história familiar e é ilustrado com fotos e depoimentos. Foram poucos exemplares impressos, apenas para

familiares. Em 2007, publicou o livro infantil “Doçuras de Mel”, com 20 poesias ilustradas. A tiragem, de 1000 exemplares, teve as vendas esgotadas. O último livro, lançado em 2009, é “Reverência à Vida”. Ele traz novas trovas, poemas e sonetos da autoria de Marina. Despontando na literatura no ano de 2004, ela recebeu 24 prêmios, além de homenagens. Abordando o assunto de tecnologia, especificamente, o compartilhamento de arquivos, ela coloca o debate sobre o livro estar ou não correndo o risco de extinção. Com sorriso no rosto, a própria Marina responde que não. “O prazer e a sensação de segurar um livro aberto nas mãos é algo único”, diz, salientando acreditar que a internet facilitou muito a busca de conhecimentos, mas não crê que o futuro do livro esteja ameaçado. Marina Gomes de Souza Valente enfatiza a importância da cultura no contexto atual na formação dos jovens e na lapidação das mentes adultas. “A leitura é uma viagem. A leitura é cultura”, finaliza.

Matéria-Prima

Maria Ribeiro Em meio à vitoriosa Revolução de 1930, nascia, na pequena e pacata Estância de Atibaia, a Banda 24 de outubro, então opositora ao governo municipal. Naquele ano, a oposição ganhou as eleições locais. Foi ali que a banda criada pelo major Juvenal Alvim, a 1º de Março, favorável ao chefe do Executivo anterior, se recusou a tocar para o prefeito eleito. “Se vocês querem música, façam uma banda, porque a nossa não toca para vocês”, foi o recado do grupo governista. Com a ajuda de fazendeiros, nasceu à ideia de criar uma banda para o grupo político que se elegera: a Banda 24 de outubro. Apesar de ter nascido em 31 de janeiro de 1931, ela recebeu o nome em razão da data que consagrou a vitória do movimento político-militar da Revolução de 30, que conduziu Getúlio Vargas à Presidência da República. Somente em 1959, a banda foi registrada e recebeu a doação de 250 m2 de terras. O doador foi o então coronel da Guarda Nacional, José Herculano, mais conhecido como Zico Paes. Nascia a sede da Banda 24 de outubro, existente até os dias de hoje. Com a criação da sede, o maior problema fora resolvido, pois não era mais preciso alugar espaço para os ensaios. Em 1960, os poderosos barões do café trouxeram à 24 de

Outubro o maestro Francisco Lanola Filho, de Piracaia, considerado pelo atual maestro, José Domingos Massoni, um dos principais personagens da banda, fazendo do grupo um dos melhores conjuntos do Estado de São Paulo. Passaram pela 24 também os maestros João Serbino e Sebastião Florido, ambos homenageados com nomes de ruas do município. Concorrência que muda - A Banda 1° de Março teve o fim decretado em 1972, quando o então responsável pelo grupo, José Pires Alvim, filho do major Juvenal Alvim, disse aos integrantes que não tinha como mantê-los e sugeriu a junção com a Banda 24 de Outubro (até hoje, quatro integrantes da 1º de Março tocam na 24 de Outubro). Contudo, se antes a maior dificuldade era possuir um espaço para os ensaios, atualmente o desinteresse dos jovens e o medo de perder o apoio da Prefeitura são o que mais preocupa o maestro Massoni. As maiores adversárias da banda são difíceis de enfrentar. Se antes disputava os músicos apenas com a 1° de Março, agora ela compete pelos integrantes com a Fanfarra Municipal de Atibaia (Fama), o mercado de trabalho e até mesmo com a FAAT Faculdades. “O que nos conduz ainda é o amor pela arte”, conclui o maestro Massoni.


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