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Outubro 2016 • Matéria-Prima 23

Matéria-Prima Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da FAAT Faculdades • Atibaia • Outubro 2016 • nº 23

O que espera o novo prefeito de Atibaia O MP foi para as ruas e viu o que falta e o que o povo espera do novo prefeito

IMAGEM: DRONE/MONIKA SCHULZ ROCHA

MOBILIDADE

DANIEL ORTUNHO

EMPREGO

LUCAS BORGES

SUSTENTABILIDADE

DANIEL ORTUNHO

SAÚDE

HENRIQUE CISMAN

AMBIENTE

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EDITORIAL

MONIKA SCHULZ

Oficinas Culturais criam oportunidades para jovens Cenário cultural de Atibaia passa por constantes mudanças MONTAGEM: DIEGO LIMA

Diego Lima

Planejar e competir Henrique Cisman O Brasil sempre esteve às voltas com o sonho de se tornar um país de primeiro mundo. Anos atrás, a ideia de que o PIB nacional figurava entre os seis maiores do planeta parecia um indício de caminho certo nessa escalada. Entretanto, a desigualdade social que persiste e a precariedade de resultados em diversos setores traz de volta à realidade toda nossa gente. Ou pelo menos deveria trazer. Como “somos brasileiros e não desistimos nunca” – e aqui peço desculpas pela força de expressão, mas penso que ela cabe –, temos a esperança de que as melhorias chegarão. E que as filas em postos de saúde e hospitais acabarão; que as escolas serão centros de ensino e não espaços de bagunça e desrespeito; que a polícia e a justiça serão aliadas confiáveis e funcionarão, e daí por diante. Para esta edição, a reportagem do Matéria-Prima saiu às ruas para averiguar como estão funcionando vários setores importantes na vida dos moradores de Atibaia. Áreas como saúde, educação, meio ambiente,

mobilidade urbana, transporte e negócios, entre outroa, foram alvo de pesquisa dos repórteres para se descobrir como está a cidade, se comparada a municípios da região e ao país, de um modo geral. Não acabarei com o prazer do leitor em analisar cada texto e tirar conclusões, principalmente se este leitor reside em Atibaia e conhece de perto a realidade do município. Mas adianto que a situação é boa – em parte do que foi pesquisado – enquanto outros setores apresentam problemas, alguns dos quais típicos de grandes cidades, quase metrópoles, o que não é o caso de Atibaia. De todo modo, o progresso em cada área passa por uma medida simples, mas que faz toda a diferença, principalmente no momento pelo qual o Brasil passa, de crises políticas e econômicas. E o verbo consagrado é planejar. Claro que a transparência e a honestidade são fundamentais, mas só isso não traz progresso. Avanço se conquista através da competência e, para competir, planejamento é indispensável. Boa leitura.

Matéria-Prima Ano 8, nº 23 – Outubro de 2016

“Acredito nas mudanças positivas”, assim destaca o ex-prefeito Gilberto Santana sobre a Cultura em Atibaia. Gilberto se refere às mudanças no cenário cultural municipal, que hoje ainda possui uma dominação do “padrão”. “Vejo que, na cidade, a poesia e o lírico predominam, mas existem espetáculos, teatros isolados, falando da realidade atual. O cenário é de uma mudança constante”, completa. Entre os “grupos isolados” estão aquelas ações pouco divulgadas ou, ainda, que quase não possuem espaço no cenário oficial da cidade, como o grupo Arsênicos, que realizaram o espetáculo “Trama”, em 2014. No mesmo ano, Durval Mantovaninni declarou que “os grupos de Atibaia conseguem levar pessoas ao teatro e as autoridades da cidade precisam enxergar tal força e carência de nossa cidade. É necessário que haja um cuidado maior com estes grupos teatrais de Atibaia, tanto para que os trabalhos se fortaleçam quanto para o entretenimento do público”. O principal palco cultural da cidade hoje é o Centro de Convenções, construído em 2005 e reformado e ampliado em 2013. Segundo a administração municipal, além deste espaço, passam por reforma o Cine Itá e o “Casarão da Praça da Matriz”, que será um novo Centro Cultural para apresentações e exposições. “Prá lá da Fernão Dias” acontece a construção da Estação SESI Cultura, no Jardim Cerejeiras. Além disso, ações

Oficinas culturais em escolas municipais transformam histórias

de incentivo à Cultura ligadas às crianças e jovens vêm se tornando uma saída nas escolas municipais, como é o caso de João Victor Santana, 11, que participa ativamente de projetos culturais. O bairro em que mora, Jardim Imperial, é um dos mais populosos de Atibaia e sofreu nas últimas décadas principalmente com a falta de infraestrutura. No âmbito cultural, o bairro recebeu um novo polo do Projeto Educando com Música e Cidadania em 2013, oferecendo aulas de música e dança. “Entrar nesse projeto foi uma conquista e uma satisfação enorme. Eu adoro participar porque nele aprendi a tocar vários instrumentos. (O projeto) abriu as portas para um grande futuro musical”, disse João. Hoje, além do “Educando com Música e Cidadania”, a população da cidade pode participar de outros projetos, como “Entrando em Cena”, que oferece aulas de teatro e circo, e “As Linguagens da Dança”, que oferece aulas de dança. Os projetos tiveram um aumento significativo, por conta do aumento de parcerias entre

a Prefeitura e as entidades já presentes no município. Com esses convênios, dezenas de entidades tiveram seu espaço ampliado no cenário cultural da cidade. Entre as entidades, estão Casa do Hip Hop, Garatuja, Projeto Guri, Entrando em Cena, Comunidade Musical-Alvinópolis e Difusão Cultural. Para o ex-prefeito Gilberto Santana, a cultura no município pode ser interpretada e analisada de diversas maneiras. “Hoje em dia, vivemos em um mundo pós-moderno. Cabe qualquer coisa, a cultura é uma caixa de sapateiro”, comenta. Altemar Dutra Jr. lembra que as atividades culturais para as crianças e jovens, em especial a música, conseguem iniciar os interessados no universo sonoro. “Eu tive a oportunidade de nascer em uma família de músicos, mas é fundamental para a formação o entendimento dos conceitos musicais, bem como estudar um instrumento e de participar de oficinas”, acentua Dutra, destacando a importância de isso ocorrer na periferia, “onde a música permite que eles deixem as ruas”, declara.

Confira outros espaços de comunicação dos alunos do curso de Jornalismo: https://soundcloud.com/jornalismofaat-1 / https://jornalismofaat.wordpress.com/

Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo, da FAAT – Faculdades, produzido pelos alunos do 3º e 5º semestres. Os textos publicados são de responsabilidade dos autores, que os assinam, não refletindo a opinião da Instituição. Diretores da Mantenedora da FAAT: Marilisa Pinheiro, Hercules Brasil Vernalha, João Carlos da Silva, Júlio César Ribeiro, Manoel Ferraz. Diretor Geral de Administração: Saulo Brasil Ruas Vernalha. Diretor

Acadêmico: Gilvan Elias Pereira. Diretor Administrativo-Financeiro: Elias dos Santos Reis. Diretora de Comunicação: Maria Gorette Lourenço Nobre. Diretor de Manutenção, TI e Projetos Prediais: Angel Henrique Rodrigues de Souza, Coordenador de Captação de Alunos e Pesquisa e Extensão: Orivaldo Leme Biagi; Coordenadora Geral da Pós-Graduação: Hilda Maria Cordeiro Barroso Braga. Professores-orientadores: Osni Dias (MTb 21.511) e William Araújo (MTb 20.015). CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL: Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Ms. Osni Tadeu Dias


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FOTOS: LUCAS BORGES

Sustentabilidade exige consciência de todos para resultados mais positivos Explicação pode estar no poder que a política emana e na fragilidade do aprendizado-uso que se faz Lucas Borges O termo sustentabilidade está em alta na atualidade, mas o significado vai além de iniciativas que se preocupem com o meio ambiente. Uma medida totalmente sustentável também viabiliza gerar renda para aqueles que a promovem, alcançando assim o status de economicamente sustentável. Seguindo essa linha, Atibaia apostou em uma Cooperativa de coleta seletiva. Localizada no bairro do Caetetuba, a Cooperativa São José, criada há cerca de 15 anos, emprega 114 funcionários (em sua maioria ex-catadores), e é a maior responsável pela triagem e reciclagem de resíduos sólidos no município. Semanalmente, a meta estabelecida é de 340 toneladas de material enviado para a reciclagem, porém são muitas as condições adversas para que os resultados não atinjam as 400 toneladas depositadas por semana na entidade. Segundo Madalena (que preferiu não citar seu nome completo), 45 anos, e há 2 como presidente da Cooperativa, seria fundamental que os munícipes entendessem a importância da separação do

material destinado à reciclagem, pois facilitaria o andamento do processo. Na opinião dos colaboradores, perde-se muito tempo na triagem dos resíduos e, muitas vezes, o que já chega separado acaba se misturando com o que vem dos caminhões de coleta. Para Antonio Edson Monteiro Laurentti, mestre em Geografia pela UNESP, também docente na área de Gestão

A geração de empregos é outro ponto positivo para a iniciativa, já que muitos saem do anonimato, obtendo um salário fixo Ambiental, a importância da Cooperativa vai muito além de suas contribuições com o meio ambiente. A geração de em-

pregos é outro ponto positivo para a iniciativa, já que muitos saem do anonimato, andando pelas ruas — muitas vezes sem ter o que comer —, para um trabalho mais centrado, com um salário fixo. Além, é claro, de contribuir com o INSS, um importante investimento para o futuro de cada um deles. A presidente da Cooperativa lamenta o descaso da população para com os coope-

Membros da cooperativa em atividade, separando resíduos para triagem na cooperativa coleta seletiva

rados. Para ela, muitos ainda consideram o terreno cedido pelo SAAE (Serviço Autônomo de Água e Esgoto) como um “lixão”, já que bem próximo ao local um aterro sanitário vigorou por muitos anos, deixando suas marcas no solo. A seu ver, ali todos são considerados indigentes por uma parte da sociedade. Uma carência apontada por Laurentti é a falta de divulgação do projeto na Internet e de seus resultados. Prova disso é a constatação de que grande parte das informações disponíveis na rede encontram-se abandonadas ou desatualizadas. Para eles há uma visível urgência no desenvolvimento de plataformas que elucidem todo o processo de segregação adotado na esteira de triagem – tal como o que é feito após esse primeiro momento – e quais foram os resultados concretos da Cooperativa, para que sejam divulgados, no município, os resultados de toda a coleta, separação e comercialização dos resíduos, para estudos e providências. Vale lembrar que tudo o que não pôde ser reaproveitado é transportado para o aterro sanitário de Guarulhos.


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Transporte em Atibaia exige maior atenção Locais de difícil acesso e poucos horários disponíveis são os principais problemas encontrados OTÁVIO PELEGRINO

Otávio Pelegrino O sistema de transporte de Atibaia tem crescido com a cidade, mas torna-se necessário o aumento e as adaptações de suas frotas. Atualmente, com exceção dos veículos privados, são compostas por ônibus, vans e motos, de empresas que fazem a baldeação dos moradores da cidade. Enquanto única responsável por atender ao serviço público desde 1980, à Viação Atibaia, cabe lidar com a amplitude das linhas urbanas e suburbanas, bem como visualizar as carências e a possível inserção de novos serviços, para que todos os munícipes tenham acesso a um bom transporte público. Questionado sobre os problemas com bairros mais distantes, onde moradores como a trabalhadora rural Lúcia Gonçalves caminha mais de 2 quilômetros no bairro do Boa Vista para chegar às linhas de ônibus, Cristiano Mantovanini, empresário e membro da família fundadora da companhia, justifica-se dizendo que são disponibilizados pela empresa micro-ônibus para regiões de acesso mais difícil, porém há pontos em que o acesso se torna cada vez pior,

Poeira ou barro, piores ainda em dias chuvosos, são as condições do trajeto de quem vai trabalhar na cidade

e mesmo com o dever de chegar até os cidadãos, os ônibus ficam rendidos às más condições dos trajetos. Nestes casos, acentua Mantovanini, solicita-se à prefeitura que promova algumas melhorias nos locais para a ampliação do acesso aos ônibus. Segundo o empresário, os moradores reclamam que estas melhorias dificilmente são realizadas. A prefeitura, por sua vez, diz que os locais de transição dos ônibus estão em bom estado,

mas há locais onde não é possível alargar a estrada, sugerindo à Viação utilizar micro-ônibus, o que não foi concretizado até o presente momento. Mantovanini aponta que é dever da Viação Atibaia atender à necessidade de transporte dos moradores. Outro ponto que gera muita discussão é a questão dos horários. Segundo a empresa, a frota de ônibus chega a 170 veículos, passando nos locais de hora em hora. Porém, de acordo com moradores que dependem do

transporte público para trabalhar, os horários tabelados não são totalmente respeitados, com alguns atrasos e até mesmo exclusão de alguns horários, prejudicando, a seu ver, quem depende desse transporte. A prefeitura ainda conta com uma pequena frota própria, na sua maioria ônibus escolares e vans, que atendem, na sua maioria, às regiões mais distantes, cumprindo os horários escolares, para facilitar o acesso a estudo. Atibaia conta também com

outras opções de transporte, os mototáxis, mas com algumas restrições: a grande quantidade de mototáxis, chama a atenção nas ruas, mas estes trabalham especialmente na região central e nos locais onde há grande fluxo de pessoas e encomendas. As “corridas” para locais mais afastados se tornam inviáveis, com valores acima de R$15,00. Somam-se a isso problemas com os dias chuvosos, locomoção em estradas de terra e mesmo o aumento da periculosidade. Os táxis também entram nesse contexto, porém são menos procurados para transitar por Atibaia. Além de um custo alto, não são encontrados em todos os lugares. Segundo observação, este transporte é comumente utilizado por idosos com uma renda acima da média. Na medida em que os contratos com a empresa de ônibus tendem a não trazer concorrentes e pelo fato de não haver resultados específicos de estudos sobre a resolução destas carências, os especialistas entendem que os moradores da periferia e zonas rurais críticas ainda vão amargar alguns anos até que isso seja equalizado.

Esporte e lazer ainda apresentam carências Lucian Oliveira Atibaia investiu cerca de 3,5 milhões em equipamentos e firmou convênios com 20 instituições no ano de 2015, segundo o portal da cidade, tornando viável a existência e permanência de ações como as academias de judô e taekwondô no bairro do Alvinópolis e no Boa Vista. Nos jogos regionais de Americana, a cidade ficou na 7ª colocação na classificação geral, mantendo-se na primeira divisão ao conquistar 81 medalhas (sendo 26 de ouro). Recentemente, a equipe classificou a maior delegação para competir os 80º Jogos Abertos do Interior, disputados em São Bernardo do Campo a partir de 10 de setembro. O time de futebol é bastante conhecido, conseguiu acesso para a série A2 em 2014, mas por conta do regulamento – o time deve ter um estádio que

suporte no mínimo 8 mil pessoas – o clube foi rebaixado novamente para a Série A3. Já a equipe sub-17 foi eliminada do Campeonato Paulista com uma derrota de 6 a 0 para o São Paulo. William Batista, treinador da equipe de base, diz que “a estrutura dada pela equipe é boa, para o nível de uma equipe de série A3 que somos, e a AFA (Associação de Futebol de Atibaia) nos deixa desenvolver um bom trabalho”. Segundo ele, o time tem 80% dos jogadores de Atibaia e os demais são dos municípios próximos. “Temos jogadores de Bragança, Perdões e de Campinas, mas a maioria são atletas da cidade. Damos oportunidades a esses jogadores e os que vêm de fora se destacam”. Questionado sobre planos futuros para os atletas que se destacam, Batista diz que não existe um plano específico, mas uma ideia de trabalho. Pre-

tendemos que todos evoluam, atingindo um alto nível, ao menos tentamos dar as melhores condições para isso”, aposta. O acompanhamento dos atletas é composto por testes, mas segundo o treinador, o melhor acompanhamento é em jogo, onde se vê a evolução. Apesar dos investimentos destinados à área esportiva é perceptível que ainda há muitas coisas a se fazer. A cidade é pouco atendida por espaços públicos de lazer e esporte como as academias ao ar livre, assim como existe uma carência de projetos que estimulem a prática esportiva ao longoo do município. No entender de Carlos Henrique, analista de gestão da Secretaria de Esporte, “nem todos foram beneficiados com programações, e há bairros que não possuem praças esportivas e estamos longe de suprir essa pendência”

DANIEL ORTUNHO

Uma das saídas para o esporte e o lazer seria valorar as áreas públicas


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Aumento populacional afeta mobilidade Moradores de Atibaia enfrentam dificuldades de locomoção em seus trajetos MONIKA SCHULZ ROCHA

Monika Schulz Rocha Com a vinda de indústrias de grande porte, expansão vertical de moradias e a construção de edifícios comerciais, o município de Atibaia teve um aumento populacional. Para acompanhar este crescimento, a frota veicular ampliou, principalmente no número de transportes individuais. Anualmente, a cidade recebe 10 mil veículos novos, sendo que a frota do ano passado registrava 95 mil veículos para 136 mil habitantes – praticamente um veículo por pessoa habilitada. Com tantos meios de transporte circulando, a malha viária de Atibaia precisa de uma reestruturação no trânsito. Locomover-se passou a ser um problema para os munícipes, especialmente os moradores da região central, da entrada da cidade e das áreas mais afastadas. Em entrevistas com a população, de diversos bairros, foram identificados os problemas mais comuns, interligados com o transporte público e a estruturação do trânsito. “Ultimamente a cidade conta com vários congestionamentos, tem muitas obras de trânsito, o transporte público está com poucos horários de ônibus, existem rotatórias perigosas onde passam muitos veículos em alta velocidade, além do mau estado das vias do Boa Vista e da Usina”, afirmou Roberto dos Santos, motorista há mais de 11 anos em Atibaia. A mobilidade urbana da cidade está passando por um processo de implantação de melhorias em várias áreas. Entre elas, regiões com características que facilitam ou dificultam a implantação. A parte mais antiga da cidade e alguns bairros periféricos possuem ruas e calçadas mais estreitas, que não possibilitam mais uma mobilidade adequada, como há alguns anos atrás. “O centro da cidade apresenta mais problemas, por suas características geográficas e pela ocupação do solo”, esclarece o secretário de Transportes e Trânsito de Atibaia, Ernesto Carlos da Costa. Para ele, “hoje a legislação municipal já impõe condições e exigências que permitem a implantação

Munícipes de Atibaia acompanham as recentes modificações na infraestrutura do trânsito e procuram se adaptar às novas sinalizações

de melhorias de mobilidade.” Além disso, acentua o secretário, estão em fase final de elaboração o Plano Diretor da Cidade e o Plano de Mobilidade Urbana de Atibaia. A assessoria de imprensa da Prefeitura da Estância de Atibaia não se pronunciou sobre quais melhorias estão sendo feitas na cidade. Alegam que as informações não podem ser passadas devido ao

artigo 73, da Lei nº 9.504, que proíbe ações características para uso promocional em favor dos candidatos no período eleitoral. Entretanto, o prefeito Saulo Pedroso informou, no decorrer do horário eleitoral exibido na rádio Mix, que Atibaia possui projetos para aumentar a segurança dos pedestres e realizar melhorias nos fluxos da Avenida Copacabana e Alameda Lucas Nogueira

Garcês – ações referentes ao estacionamento do Centro na parte dos comércios e o andamento das obras de trânsito da entrada do município. A estrada da Usina recebeu uma equipe de pavimentação, que tapou buracos, bem como preparou trechos para a aplicação do asfalto, segundo moradores do bairro. A obra teve inicio em 14 de julho e tem 140 dias para ser concluída.

Plano Diretor e de Mobilidade Urbana de Atibaia O Plano Diretor tem o objetivo de direcionar o crescimento da cidade, delinear suas vocações econômicas e perspectivas de crescimento para os próximos 10 anos. Serão realizadas audiências públicas populares para validar o Plano Diretor, logo após as eleições deste ano. O Plano de Mobilidade Urbana está em fase final de construção e pronto para ser encaminhado à Câmara Municipal. “Foram realizadas três audiências públicas para que a empresa contratada apresentasse o estudo para a cidade. A Câmara Municipal, ao receber o projeto de lei, também tem a prerrogativa de organizar novas audiências públicas”, explicou o secretário de governo, André Agatte. A estrada da Usina passa por processos de preparação para a aplicação do asfalto


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Ranking mostra eficiência dos municípios na entrega de serviços para a cidade Atibaia aparece com pouca eficiência, de 0,438, segundo os estudos realizados

RENAN SCIOLA

Renan Sciola Toda e qualquer cidade depende de uma infraestrutura – um conjunto de sistemas técnicos de equipamentos e de serviços necessários ao seu desenvolvimento. Pensando a que atende Atibaia, os engenheiros Generoso de Angelis Neto (pós-doutor em Engenharia de Recursos Hídricos e Ambiental) e Witold Zmitrowicz (doutor em Engenharia Civil) definem esse sistema e suas funções em três aspectos: social, que promove condições adequadas de moradia, trabalho, saúde, educação, lazer e segurança; o econômico, que deve propiciar o desenvolvimento de atividades de produção e comercialização de bens e serviços, bem como o institucional, que deve oferecer os meios necessários ao desenvolvimento das atividades político-administrativas da própria cidade. Segundo eles, para uma cidade funcionar de forma eficaz torna-se fundamental os subsistemas viário, de drenagem pluvial, abastecimento de água, esgoto sanitário, energéticos e os subsistemas de comunicações, os quais refletem como a cidade irá funcionar. Para isso, acentuam “são necessários investimentos em bens ou equipamentos que devem apresentar possibilidade de utilização da capacidade não utilizada ou de sua ampliação, com o objetivo de evitar sobrecargas que impeçam os padrões de atendimento previstos.” No último dia 29 de agosto, a Folha de São Paulo e o Instituto Datafolha lançaram um indicador para aferir a qualidade da gestão das prefeituras do Brasil de quem entrega mais gastando menos – nas áreas de educação, saúde e saneamento. O “Ranking de Eficiência dos Municípios” não avalia apenas a atual gestão, mas o legado das outras administrações, levando em conta a receita disponível das prefeituras. Atibaia atingiu a 3.065ª posição. Traduzindo: pouca eficiência em relação à sua ges-

Moradores do Bairro Parque Colina Verde reclamam da falta sinalização, asfaltamento e buracos pelas ruas (imagens à esquerda). Nas ruas do centro, paralelepípedos dispostos irregularmente (acima)

Acima, à direita, trechos com lixo no caminho, na Estrada Velha de Bragança. Em epócas de chuva o bairro Parque Colina Verde sofre com a falta de infraestrutura e pavimentação (abaixo)

tão. Na educação, a média do Brasil é de 0,509, tendo a cidade obtido o índice de 0,588. Já no saneamento, diante da média brasileira de 0,567, o índice local ficou em 0,752. Apenas na área da saúde Atibaia aparece com um número inferior ao dos brasileiros, com 0,308, enquanto a média nacional é 0,500. De acordo com o ranking, a receita total no ano de 2013 foi de R$357,2 milhões, valor cuja destinação contempla 29% para a educação, 25% para a saúde e 3% para o legislativo. Questionado sobre qual a maior dificuldade enfrentada e possíveis saídas para uma cidade, o ex-secretário de serviços de Bragança Paulista Moufid Doher diz que “o município depende muito da União. A saída é descentralizar, não ficar muito na dependência, criar leis federais,

administrar, ter participação maior do município na arrecadação”, destacando que “tudo o que é arrecadado vai para a União e só depois volta para o município”. Exemplificando o SUS, Doher frisa que nesse vai e volta ocorre “falta de remédios e médicos. ” Para Fátima Alcantara, moradora do bairro Parque Colina Verde, “o principal problema está relacionado ao transporte — carência de ônibus —, mas também os relacionados à sinalização, fiscalização, manutenção de vias e banheiros públicos, pavimentação e coleta de lixo”. Para ela, “as enchentes ocorrem todos os anos, em diversos bairros, que levam a grandes perdas.” Segundo diz, “as autoridades dizem que estão fazendo as obras necessárias, mas não vejo nada quando passo nos lugares onde moro.”


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Problemas ambientais em Atibaia se assemelham a quadro nacional

Alagamentos em períodos de chuva são comuns em vários bairros; desmatamento preocupa especialistas FOTOS: HENRIQUE CISMAN

Henrique Cisman Atibaia, município do interior de São Paulo, a 65 km da capital, sofre com problemas ambientais semelhantes aos que atingem boa parte dos municípios brasileiros: enchentes, desmatamento e poluição atmosférica. A reportagem do Matéria-Prima visitou o Parque das Nações e Caetetuba, constatando serem dois exemplos de locais onde rotineiramente ocorrem alagamentos. Em junho, uma tempestade causou o transbordamento do Rio Atibaia em vários pontos da cidade. Uma das áreas inundadas foi a Alameda Amsterdan, no Parque das Nações, rua próxima ao rio e onde residem Bruna e a filha, em uma casa alugada. De acordo com Bruna (que preferiu não se identificar), nos últimos quatro anos, houve duas enchentes no local. Para o especialista na área de gerenciamento ambiental, Estevão Vernalha, este é um caso que provavelmente esteja relacionado à ocupação urbana sem a estratégia necessária de uso e ocupação do solo. A seu ver, “a várzea do rio, teoricamente, não é um local adequado para a ocupação humana”, uma vez que, em épocas de chuva, há espaços que naturalmente sofrem inundações e para os quais já são esperados transbordamentos do rio ou córrego. Para elucidar a complexidade das enchentes, além da ocupação indevida de áreas de várzea, Estevão lista outras três causas: a impermeabilização do solo, principalmente com as pavimentações e a supressão vegetal para novas construções, que altera o ciclo hidrológico; a canalização de córregos e rios, somada ao manejo incorreto de resíduos sólidos, que causa o entupimento das galerias pluviais; e a ocorrência de eventos climáticos extremos, que consiste nas alterações climáticas, com maiores índices de chuva. Segundo o especialista, a impermeabilização do solo é uma tendência que “assusta”, e as ações atualmente são apenas paliativas – por exemplo, o au-

Estação de Tratamento em Caetetuba exala mau cheiro, criando desconforto a quem mora ao lado da instalação

mento da calha dos rios –, pois ainda não se discute profundamente, em termos de políticas públicas, a questão do ciclo hidrológico. Sobre as alterações climáticas, Estevão é enfático ao comentar o planejamento no sentido da adaptação a essas mudanças: “Não, não vejo. E isso não é ‘privilégio’ de Atibaia.” Para ele, “o Brasil não está se preparando, pois há muito pouco investimento”, ressalta. O desmatamento é outro fator que preocupa. Em Atibaia, a construção do loteamento Itaporã suscita discussões. O residencial de alto padrão, com terrenos a partir de 700 m², já alterou a paisagem natural onde está inserido. É o que revela a comparação das imagens de 2011, quando o empreendimento havia começado, e de 2016, com a obra ainda em andamento. Para Estevão Vernalha, a esse processo dá-se o nome de inversão de prioridades urbanísticas.

O especialista explica que a qualidade do meio ambiente é um bem coletivo, um direito de todos assegurado pela Constituição brasileira. Entretanto, por vezes a gestão pública encontra maneiras de facilitar a supressão vegetal em benefício de determinadas classes e setores da sociedade. Questionado sobre a força das leis ambientais neste contexto, Estevão acentua que nestes casos “a questão da prioridade urbanística depende do perfil do governante”. Um terceiro fator, ainda incipiente em muitas regiões, é o esgotamento sanitário. Em Atibaia, foi possível identificar cursos d’água correndo nas ruas de terra dos bairros Jardim Maracanã e Imperial. Para alguns moradores, trata-se de esgoto a céu aberto, enquanto outros afirmam ser “apenas água da pia, pois as casas têm fossa séptica”, tal como relata a moradora Cristiane, do bairro Maracanã.

De fato, tal como revelam os dados de 2013 do Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), do Ministério da Saú-

de, grande parte do esgoto em Atibaia é por fossa, quase 75%. Constata-se, no estudo, que 17,7% das famílias têm rede de esgoto em suas casas, e 7,8% despejam o esgoto a céu aberto, índice inferior à média nacional, que é de 10,3%, segundo o mesmo levantamento. No bairro de Caetetuba, mesmo com o esgoto tratado, moradores reclamam do mau cheiro proveniente da Estação de Tratamento (ETE) que fica do outro lado da rua. “De manhã, é abrir a janela e já começa o fedor”, relata Maria, que há três anos vive no local. Além do inconveniente, o mau cheiro é sinal de poluição atmosférica, conforme aponta Estevão Vernalha. Nas Estações de Tratamento de Esgoto, é comum a presença de substâncias como metano e gás sulfídrico. Quando gerado, o gás sulfídrico pode causar inflamações, irritações e intoxicações nas pessoas que estão próximas, mas especialistas afirmam que a concentração emitida é baixa, causando “apenas” o forte odor, semelhante ao de “ovos podres”. Sobre estes assuntos, a reportagem buscou esclarecimentos do diretor da Secretaria de Urbanismo e Meio Ambiente de Atibaia, Daniel Borg, mas até o fechamento desta edição, não obteve respostas. (Colaborou Taty Porto)

O desmatamento é outro fator que preocupa. Em Atibaia, residencial de alto padrão já alterou a paisagem natural onde está inserido IMAGEM: GOOGLE EARTH/2011


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Atibaia desponta como referência na saúde Especialista avalia a situação do município na região; rede está atenta aos casos de dengue e zika DANIEL ORTUNHO

Ana Paula Medeiros O IBGE divulgou nesta semana as estimativas das populações residentes nos 5.570 municípios brasileiros com data de referência em 1º de julho de 2016. Estima-se que o Brasil tenha 206,1 milhões de habitantes e uma taxa de crescimento de 0,80% entre 2015 e 2016, um pouco menor do que a calculada entre 2014 e 2015 (0,83%). Segundo o quadro de estimativas, Atibaia passou a ter 138.449 habitantes. A cidade conta com Centros de Especialidades próprios, o CEO e o AME, que é regional. Na rede de urgência a cidade conta com a UPA localizada no bairro do Cerejeiras, SAMU regional, vigilâncias bem estruturadas e o Pronto Socorro da Santa Casa com 6 leitos de UTI e um de isolamento. As doenças que acontecem aqui em geral seguem o padrão das cidades de mesmo porte, e muitas pessoas vêm de outros municípios uti-

Manifestante protesta em frente à Câmara Municipal de Atibaia

Pacientes de municípios vizinhos aguardam atendimento no AME de Atibaia: cidade é tida como referência

lizarem serviços de saúde aqui instalados. Diante disso, Atibaia torna-se uma referência em algumas áreas, explica a Dra. Rita Bergo. Apesar do esforço em se qualificar para as atividades

com níveis de atenção, como promoção, prevenção, proteção, assistência, controle e reabilitação, Atibaia tem procurado contornar as falhas sistemáticas nas áreas de medicamentos, exames laboratoriais,

cirurgias, fisioterapias, próteses, entre outras. Lúcia Majer, ex-conselheira de saúde do Alvinópolis, explicou sobre a falta de medicamento na cidade. “A maioria das cidades tem, mas

no ano em que atuei como conselheira, busquei sempre verificar, da melhor forma possível, as necessidades da população”, disse. Com relação ao surto de dengue, a cidade fechou o ano de 2015 com 930 casos confirmados, segundo a médica Rita Bergo. “A dengue em Atibaia começou a aumentar em 2013, acontecendo uma grande epidemia em 2014 e 2015. Nesses últimos anos aconteceram cerca de 3300 casos de dengue. A preocupação reside no fato do aumento no número de casos graves, haja vista o município também ter de lidar com a transmissão do Zika-vírus e o Chikungunya feita pelo Aedes Aegypti. Estes vírus também causam sérios problemas de saúde. No momento, a ocorrência de casos de microcefalia causados pelo Zika é nossa maior preocupação”. A médica ainda destacou que “nunca foi tão importante eliminar os criadouros do mosquito”.

Crise e falta de incentivos fiscais prejudica áreas de emprego e negócios no município Segundo o índice Caged, nos seis primeiros meses deste ano o município acumulou um saldo negativo de 310 vagas Leticia Dias O setor de empregos anda crítico no Brasil. Em 2008, ano da crise econômica mundial, o Brasil tinha uma boa balança comercial e uma expressiva exportação de produtos, mas isso não se mantreve por muito tempo. A perda da credibilidade no governo e na política econômica, os ajustes fiscais e a alta do dólar são alguns dos fatores que aceleraram a crise de 2016. Atibaia não ficou de fora – o comércio e a indústria são as áreas que mais sofrem. Atibaia ocupa a 29ª colocação entre todas as cidades do estado de São Paulo na lista FIRJAN 2015 de Desenvolvimento. O município apresenta altos indicadores de educação e saúde. Apesar dos bons resultados, a área de empregos e negócios anda em baixa há algum tempo.

O índice do Caged, que monitora as admissões e demissões, aponta que nos seis primeiros meses deste ano, Atibaia ficou com o saldo negativo de 310 vagas. Em um acumulado de um ano, esse número salta para 1.143 vagas. Segundo André Mancuso, gerente de RH e presidente da Entidade Agruparh de Atibaia, “no primeiro semestre deste ano as empresas diminuíram cerca de 55 % do seu quadro de funcionários”. Para o administrador de empresas e professor da Etec de Atibaia Adilson Bondança, o modelo de economia acabou prejudicando. “Atibaia não tem um polo de desenvolvimento, ela não se consolidou em um único eixo, acabou criando uma economia multissetorial”. Ainda segundo Bondança, falta investimento e apoio para fortalecer o micro e pequeno empreendedor

DANIEL ORTUNHO

Desemprego leva as pessoas a recorrer aos fundos de apoio ao trabalhador

na hora de conduzir o seu negócio e na capacitação da população, para que se tenha uma mão de obra qualificado no município. Mancuso aponta que falta uma política agressiva de incentivos fiscais. “Temos que voltar a incentivar as empresas a se instalarem em Atibaia, bem como seguir o exemplo

de cidades vizinhas que mesmo em tempos de crise não foram tão abaladas, como a cidade de Extrema, as empresas que querem se instalar lá, o município oferece apoio a elas”, observa. O desafio para os próximos anos será como ajustar a cidade para que ela volte a crescer. “Temos vários pontos a nos-

so favor, como a localização estratégica entre as rodovias e as legislações de incentivo que foram bem feitas, mas o município não é mais atrativo”, diz Adilson Bondança. Para esse segundo semestre as expectativas são melhores por parte das empresas, pois “elas pretendem contratar mais funcionários, não sei como vão aplicar em Atibaia, visto ser um estudo regional”, explica Mancuso. O cenário ainda é incerto, os resultados positivos vão aparecer efetivamente quando o país voltar a crescer. Para Atibaia, é necessário repensar algumas políticas e procurar se consolidar na região bragantina. Criar um conglomerado com os municípios vizinhos seria uma das saídas para se fortalecer, além de estratégias para trazer mais empresas e incentivar o comércio local, apontam os especialistas.


Outubro 2016 • Matéria-Prima 23

Assistência Social mostra eficiência e se torna modelo para outras cidades

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Profissionais da área reconhecem a qualidade, mas sugerem melhorias em algumas áreas JULIO CESAR JACOB

Julio Cesar Jacob A política de Assistência Social surgiu com o intuito de garantir as necessidades básicas para a parcela mais carente da sociedade, bem como promover cidadania, igualdade e justiça. Sua descrição está contida na Constituição brasileira, no Art.203, e visa garantir, de modo geral, a proteção à família, o amparo às crianças, adolescentes carentes e idosos, a promoção da integração ao mercado de trabalho e a habilitação e a reabilitação das pessoas portadoras de deficiência. Atibaia promove uma série de ações para atender a essa demanda. O Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), localizado nos bairros do Tanque, Jardim Imperial e Caetetuba, desenvolve várias ações com a comunidade. No ano passado, o programa “CapacitAÇÃO” beneficiou aproximadamente 1.600 pessoas por meio de cursos de formação profissional, e muitos jovens conseguiram conquistar seu primeiro emprego, ingressando

Moradores de rua recebem cuidado médico e alimentação; programa diminui número, mas existe resistência

no mercado de trabalho. Desde 2013 a Prefeitura desempenha um trabalho de abordagem social com moradores de rua por meio da realização de um cadastro com esses indivíduos e encaminhamento para abrigos ou para os

seus lares. No abrigo, recebem avaliação médica, alimentação e local para dormir. Esse serviço visa prevenir o agravamento de situações de risco social e pessoal, além de contribuir para a reabilitação destas pessoas e a consequente saída de-

las das ruas. No começo do ano, o município foi homenageado pelos relevantes serviços prestados na Política de Assistência Social, em um congresso realizado em Brasília. Tânia da Silva Pereira, assistente social do Centro de Apoio,

*

*escala de um a cinco

Saiba como aqui - http://www.faat.com.br/vestibularfaat2017/prosel_inscricao_aceite_extra.asp

aponta um grande crescimento do terceiro setor na cidade. Segundo ela, os resultados são positivos. “Além da parceria com o setor público, tenho visto um expressivo aumento de parcerias com empresas apoiando os projetos sociais, substituindo de alguma forma as práticas assistencialistas”, afirmou. Embora a política de assistência social da cidade não seja alvo de reclamações, especialistas afirmam que alguns detalhes precisam – e podem – ser melhorados. Fábio Lopes, conselheiro tutelar, enfatiza a necessidade de mais técnicos de serviço social e também a aquisição de mais equipamentos. Já Tânia destaca que o diálogo entre os profissionais da rede pública com o terceiro setor é uma adversidade. Para ela, é fundamental que o papel de cada órgão, entidade e autoridade seja claramente definido. Em sua opinião, é extremamente importante que a rede dê garantias, direitos e consiga trocar experiências entre si. Assim, consequentemente, poderá ouvir e compartilhar ideias. “Porém, isso vai além do conhecimento técnico – que muitos acreditam ser suficiente –, tem que vir de dentro de cada profissional para, na prática, ser transformado juntamente com o conhecimento teórico”, conclui. Lopes frisa que é fundamental o aumento de investimentos dos recursos direcionados a políticas públicas que visam empoderar e fortalecer mais pessoas. Em seu ponto de vista, “há necessidade de mais concursos públicos para essa área, assim, teríamos mais técnicos contribuindo para o trabalho de promoção às famílias, sem sobrecarga”, destaca. Atibaia caminha na contramão de muitos municípios brasileiros, onde esta política está longe de funcionar da maneira como deveria, pelos mais variados motivos. No entanto, mesmo com o quadro satisfatório observado em Atibaia, é preciso manter os investimentos e observar tudo que precisa ser ajustado, independentemente da representação política que estiver no poder.


10 Outubro 2016 • Matéria-Prima 23

Especialistas falam sobre déficit de moradia

Especialistas avaliam a situação do município; verticalização é uma consequência natural do crescimento Carolina Bonassa Atibaia completou 351 anos, mas mantém a sua paisagem com características do presente e do passado. Dividida pela Lei Complementar 480/2005 em zonas com legislações distintas no que tange à habitação, a cidade conta com algumas determinações que interferem em sua organização. A região central, localizada na Zona Especial 1, definida pelo Código de Urbanismo e Meio Ambiente, é protegida pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Cultural, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT), que determina que construções tombadas sejam preservadas. Para o engenheiro civil Arthur Francisco Giacomini, no entanto, isso cria uma paisagem que não agrada muito, como por exemplo as construções na rua José Lucas, composta de imóveis demolidos atrás de fachadas preservadas. O déficit de moradia também é outro problema que persiste na cidade. A previsão do Pla-

FOTOS: DANIEL ORTUNHO

O centro de Atibaia possui cenas como essa: apenas as fachadas das construções são mantidas, enquanto o restante segue abandonado. Um dos problemas discutidos em entrevista, a verticalização, já vem alterando o cenário de Atibaia (acima).

no Diretor de 2010 é de que até 2020 haja necessidade de mais de 6 mil moradias. A 66km de São Paulo, 63km de Campinas e 88km de São José dos Campos, Atibaia se localiza no encontro entre duas rodovias importantes, a Rodovia D. Pedro e a Rodovia Fernão Dias, configurando uma intensa movimentação de veículos e uma opção de fuga para quem trabalha nas regiões

metropolitanas, mas prefere residir em locais mais tranquilos. Por esse motivo, Giacomini analisa que este déficit esteja maior e continue aumentando exponencialmente. Nesse sentido, uma das medidas tomadas pela prefeitura é o acordo com grandes empreiteiras e com a Caixa Econômica Federal, para a construção de moradias com baixo custo, vol-

tadas a pessoas de baixa renda e em situação de risco, que podem adquirir o imóvel por meio de sorteio. De 2015 até hoje, foram entregues mais de 1400 imóveis. Esta medida, porém, traz como consequência a chamada verticalização urbana. Segundo o geólogo Julio César de Lima Ramires, o fenômeno consiste em “criar novos solos sobrepos-

tos”. A construção de prédios com mais andares modifica profundamente a paisagem da cidade. No caso de Atibaia, a Lei Complementar 480/2005 também define que, dada as diferenças de cada Zona, as construções devem ter no máximo 15 metros. Mesmo seguindo todas as determinações das etapas de fiscalização, o aumento na construção de edifícios de apartamentos é considerável. Para Giacomini, “o processo é necessário, pois a verticalização de Atibaia é uma consequência natural do progresso e do crescimento da cidade, que hoje está com 140 mil habitantes e tende a aumentar”. Ao ser questionado sobre o papel da administração da cidade na diminuição do déficit habitacional, Giacomini acentua que “são dois pontos fundamentais: a prefeitura trabalhar na desburocratização dos projetos, dar incentivos, como a diminuição de impostos para esses empreendimentos, e melhorar a triagem feita nos programas populares”.

Educação consegue atingir bons índices DANIEL ORTUNHO

Pedro Pugliesi Um dos pilares do desenvolvimento de qualquer nação é o nível de educação de seu povo. No Brasil, devido à ocorrência de diversos fatores, como a escravidão e a desigualdade social, a educação de qualidade é um privilégio ainda distante de parte considerável da população. Em Atibaia não é diferente. A cidade apresenta bons índices de avaliação na área da educação. Já nas escolas do Estado também já se averigua uma evolução. Em 2005 a nota do IDEB (Índice de Desenvolvimento de Educação Básica) na Rede Municipal de Educação foi de 5,1, não atingindo a média prevista que era 5,2. Na avaliação seguinte, 2009, a nota se manteve a mesma, no entanto a meta já tinha sido aumentada, para 5,9. De lá para cá houve um considerável aumento, atingindo a nota 7,0 em 2015. Nas redes controladas pelo Estado, em 2005, a nota foi de 5,4, já em

A nota do IDEB era prevista somente para 2021, mas desde 2009 as escolas já vêm obtendo as notas esperadas

2015 atingiu 7,3, chegando a passar a nota das escolas da Prefeitura. Essa evolução pode ser explicada, entre outros fatores, pela divisão de investimentos. A gestão municipal é responsável pelo ensino do Ciclo I, enquanto o Governo Estadual é responsável pelo Ensino Fun-

damental, Ciclo II, e Ensino Médio. Segundo o Dr. Gilvan Pereira, Diretor Acadêmico da FAAT Faculdades, com passagem pela Secretaria da Educação, o ponto fundamental dessa diferença é pelo fato de as escolas controladas pela prefeitura estarem mais perto de seus gestores, trazendo assim facili-

dade, pois são supervisionadas de perto e, consequentemente, têm condições de melhorar a qualidade do ensino. O professor diz também que pelo fato de o Estado ser uma rede muito grande, não consegue atender às demandas com rapidez. “São Paulo é economicamente o estado mais rico da nação,

certamente tinha tudo para ser a melhor educação do país”, conclui. A nota do IDEB obtida no setor de Educação Municipal em 2015 era prevista somente para 2021, fato não surpreendente, pois desde 2009 as escolas já vêm obtendo as notas esperadas. Em 2009 – 5,6; em 2011 – 6,4; em 2013 – 6,8 e em 2015 – nota 7,0. As metas, respectivamente, eram as seguintes: em 2009 – 5,5; em 2011 – 5,8; em 2013 –6,1 e finalmente, em 2015 – 6,3. No Estado, as escolas obtiveram uma nota que só esperavam ser alcançada também em 2021. Contudo, investimentos no setor devem continuar para que o nível se mantenha e possa continuar progredindo. Diante de um cenário ainda precário em diversas regiões do país, a situação de Atibaia é boa, mesmo em relação a municípios vizinhos. É importante o bom exemplo de cidades que estejam à frente, trazer novas ideias, investir em tecnologia e, assim, incentivar o aprendizado.


Outubro 2016 • Matéria-Prima 23

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Arte tem pouco incentivo em Atibaia Cidade é repleta de expressões artísticas, mas com poucos artistas locais em atividade plena

GISLAINE JANUÁRIO

Gislaine Januario Mesmo sendo uma cidade interiorana do estado de São Paulo, com população estimada em aproximadamente 140 mil, Atibaia tem influência na arte brasileira, ela conta com espaços públicos que enaltecem o valor histórico-cultural da região e do país. O Museu Municipal João Batista Conti, por exemplo, está instalado na cidade desde 1836 e conta com um acervo rico em documentos, artefatos, fotografias da cidade e de sua população no período da era colonial no Brasil. Há também o centro de convenções Vitor Brecheret, um recinto destinado à realização de variados eventos, como exposições, apresentações teatrais, shows, entre outros. O local ainda abriga há 10 anos o Museu do Olho Latino, responsável por promover exposições de obras e expressões artísticas como as bienais de gravura e as bienais do ‘esquisito’, tendo esta repercussão internacional, pois o museu ex porta muitas obras para outros países. Segundo Paulo Cheida Sans, diretor do museu, foram expostos trabalhos de artistas renomados no local. “Aqui, nós recebemos artistas importantíssimos, como Antonio Henrique Amaral, falecido, mas foi um dos grandes artistas na história da arte brasileira. Com isso conseguimos manter um vínculo com a cidade no sentido das artes visuais e da gravura contemporânea. Mas vejo algumas carências no incentivo de manter as artes, como por exemplo o encontro de artes plásticas de Atibaia, que era uma espécie de salão de arte, um dos mais antigos do estado de São Paulo e veio a se consolidar como um dos principais do país, mas hoje em dia não ocorre mais”, conta. A cidade tem um potencial expressivo na área artística, seja com a fanfarra municipal (FAMA), que já esteve em grandes apresentações e competições internacionais, ou com a orquestra de viola brasileira, e até mesmo os Ternos de Congos locais. Os artistas residentes sejam eles músicos, pintores e escultores contam com o apoio de instituições

A cidade precisa de mudanças na área artística, valorizando os músicos locais: “uma cidade sem arte não tem história para contar”, diz Alvim

culturais como a Difusão Cultural e a Incubadora de Artistas. Estima-se que mais de 100 artistas são atendidos por estas entidades, o que é um número pequeno, tendo em vista a estimativa populacional. Há ainda projetos como o ‘Projeto

Educando com Música e Cidadania’, que incentiva a cultura musical. Marcelo Orenstein Alvim é músico local, pós-graduado em Música Popular e atualmente trabalha no “Projeto Educando com Música e CidaGISLAINE JANUÁRIO

dania”, em Atibaia, e no Projeto Guri, de Bragança Paulista. Para ele, “Atibaia é uma cidade que se desenvolveu muito nos últimos anos na área cultural e musical. O que dificulta são as saídas de governo. Tenho reparado que, nas trocas de gestão, REPRODUÇÃO/JEAN TAKADA

Para Marcelo Alvim, a geração de músicos tem de ser educada desde as crianças, mesmo que comecem com músicas simples. Acima, terno de Congo, tradicional na cidade de Atibaia.

diminuíram as apresentações. O Festival de Inverno contou com muitas atrações artísticas de fora, os artistas locais não foram valorizados”. O músico ainda acrescenta que “o ideal seria formar uma orquestra sinfônica, colocar as crianças para aprender sobre música desde cedo, que toquem ‘Brilha, brilha estrelinha’, mas que convenha com a realidade da cidade, que sejam atibaienses”. Segundo Alvim, “a orquestra de Atibaia nunca existiu, é ‘maquiada’, já que os músicos em sua maioria vêm de outras cidades”. Mesmo com os espaços citados e iniciativas em apoio à arte, o gestor cultural Caio Brasil acredita que falta infraestrutura de acesso público para o desenvolvimento das expressões artísticas. “O que percebo é a ausência de espaços para a classe artística, além de equipamentos culturais que possam ser utilizados no desenvolvimento de sua arte”, destaca. A cidade precisa de mudanças na extensão artística, principalmente no incentivo, pois uma cidade sem arte não tem história para contar.


12 Outubro 2016 • Matéria-Prima 23

CONFAAT recebe mais de mil convidados Acadêmicos de Jornalismo atuam em cobertura transmitindo notícias pelo WhatsApp e podcasts RODRIGO SEIXAS

Rodrigo Seixas O CONFAAT (Congresso de Iniciação Científica da FAAT Faculdades), realizado em 26 e 27 de agosto, teve a cobertura da equipe de alunos de Jornalismo da FAAT. A abertura do evento contou com a palestra do professor doutor Marcos Cezar de Freitas. “A importância da pesquisa na formação do professor: os estudos de infância como referência exemplar” foi o tema escolhido por ele. Freitas é Associado Livre-Docente do Departamento de Educação da Escola de Filosofia,

Letras e Ciências Humanas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp); pesquisador do programa de Pós-

Graduação Educação e Saúde na Infância e Adolescência e do programa de Pós-Graduação em Educação, na Unifesp.

Professor Júlio César Ribeiro na abertura do evento, apresentando o doutor Marcos Cezar de Freitas, LivreDocente da Unifesp

O CONFAAT visa incentivar a atividade cientifica no âmbito acadêmico, assim como colaborar na disseminação e socialização de conhecimentos entre estudantes e professores de instituições de ensino superior públicas e privadas. A Banda Sinfônica Primeiro Movimento-FAAT acompanhou a apresentação. O evento ainda contou com apresentações de projetos desenvolvi-

Paralímpiadas: da reabilitação ao alto rendimento

dos por alunos e professores, exposição de artes, coral de inglês, sarau literário, música em libras e um show acústico com Leonardo Nascimento. Segundo Gilvan Elias Pereira, diretor acadêmico da FAAT e presidente da comissão organizadora, o congresso contou com o total de 1.300 inscritos. Segundo ele, o CONFAAT é importante para mostrar o progresso dos alunos durante o ano, além de reunir pessoas de diferentes grupos em busca do progresso acadêmico. (Colaboraram Anyelle Alves, Carolina Bonassa e Gislaine Januário).

FOTOS: MARIO CASIMIRO GONÇALVES

Gustavo Teixeira Registros apontam que, desde 1888, o esporte tem sido disputado por pessoas com algum tipo de deficiência. A Alemanha, considerada com uma das pioneiras no assunto, devido a fundação de clubes que promoviam a inclusão de surdos na prática dos esportes. O esporte, porém, viria a ganhar força mundialmente após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), tendo como propósito inicial a reabilitação dos soldados feridos em combate através do esporte. Em 1944, o neurologista alemão Ludwing Guttman, que havia escapado das perseguições aos judeus na Alemanha nazista, a convite do governo inaugurou um centro especializado em traumas na medula dentro do Hospital de Stoke Mandeville. Ali, a reabilitação por meio do esporte evoluiu de recreacional para competitiva. Quatro anos depois, Guttman decidiu organizar a primeira competição esportiva entre os veteranos da guerra, que recebeu o nome de Jogos Stoke Mandeville. Dezesseis militares inscritos, entre homens e mulheres com algum tipo de lesão, participaram do torneio de tiro com arco. A competição sob o nome

O ouro dos 400 metros com cadeiras de rodas ficou com a canadense Michelle Stilwell (esquerda); A polonesa Ewa Durska conquista a medalha de ouro no lançamento de peso classe F20

Tom, mascote da Paralimpíada Rio 2016, animou torcedores

de jogos paraolímpicos, teve sua primeira edição na cidade de Roma, capital da Itália, no ano de 1960. Disputada por 400 atletas de 23 países, os jogos passaram a ser celebrados a cada quatro anos, no mesmo ano dos jogos olímpicos. Com o crescimento do esporte paraolímpico, em 1964, foi criada a Organização de Esportes para Deficientes. O objetivo da organização era abraçar todo tipo de deficiência. Nos Jogos de Toronto (1976) cegos e amputados foram incluídos nas delegações; os portadores de paralisia cerebral passaram a participar da competição nos Jogos de Arnhem na Holanda (1980). Em Seul (1988) a organização passou por uma significativa mudança que permanece até hoje: Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos passariam a ser realizados no mesmo local.

A atleta do Zimbáue, Laina Sithole, se destaca nos 100m feminino. Público adotou as Paralimpíadas e compareceu às arenas nesta edição, no Rio de Janeiro, chegando a ocupar 98% dos espaços

Os valores dos Jogos Paralímpicos Rio 2016 Mario Casimiro Gonçalves

Nesta edição dos Jogos Paralímpicos tive a oportunidade de acompanhar várias modalidades, entre elas as finais do Atletismo no Estádio Olímpico do Engenhão e o Futebol de 7, no complexo de Deodoro – onde o Brasil venceu a Irlanda pelo placar de 7 a 1. Vale ressaltar que o Futebol de 7 é disputado por atletas com paralisia cerebral e essa modalidade deu adeus ao calendário olímpico, pois não participará dos jogos de Tóquio, em 2020. Pude acompanhar as finais do Remo na lagoa Rodrigo de Freitas, onde a Grã-Bretanha manteve sua hegemonia e levou a medalha de ouro. No Parque Olímpico, na Barra da Tijuca, acompanhei o goalball, esporte disputado por atletas com deficiências visuais, que jogam vendados. Acompanhei,

na modalidade masculina, a vitória dos Estados Unidos sobre a Finlândia por 6 a 2 e, na feminina, vi a goleada da Turquia em cima da Austrália por 12 a 2. Um dos grandes exemplos dessas Paralímpiadas foi a atleta da Bélgica, Marieke Vervoort, que conquistou a medalha de prata na prova 400m com cadeiras de rodas. Ela sofre de uma doença degenerativa espinhal rara que causa paralisia, dor constante e crises epilépticas, além de muitas noites sem dormir. Ela assinou os documentos necessários para a eutanásia em 2008. Após conquistar a medalha de prata, declarou que pôde realizar um sonho por meio do esporte e que pretende adiar a eutanásia. Com isso, mostra que o esporte é muito importante para a vida dessas pessoas. A coragem, a determinação, a inspiração e a igualdade foram os valores dos Jogos Paralímpicos Rio 2016.


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