Kalango 0

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Como Utilizar a Revista



Prezado leitor

editorial

K

alango é uma idéia. Nasceu do desejo coletivo de pessoas que apostam na cultura, na informação e na palavra como último recurso em defesa da liberdade, da evolução humana e do despertar de possibilidades. É preciso comunicar. Registrar, criticar, mudar convicções e assegurar a cidadania. Queremos fazer jornalismo com beleza, poesia, pluralismo e emoção sem cegar os olhos. A razão nos conduzindo sempre. Aqui você vai cruzar com gente que aposta na cultura e na informação como instrumento de transformação pessoal e social. Nessa edição vamos falar de cultura, astronomia, turismo, comportamento, poesia, literatura, quadrinhos e sustentabilidade, abrindo espaço aos colaboradores espalhados por esse país. Seguindo a tendência contemporânea das redes sociais, buscaremos traduzir, com poucas palavras, um olhar mais sensível e aguçado sobre a real beleza da nossa vida cotidiana. Nós temos um sonho no coração e uma idéia na cabeça. A idéia é fazer pensar, com matérias que despertem a reflexão, cenas criativas, temas originais, ressaltando o novo que, afinal, não é tão novo assim, só não tem estado em evidência. Contar a história às avessas, revelando os detalhes aparentemente sem importância, as emoções escondidas e a beleza esquecida. Porque a revista Kalango é um jeito diferente de ver e traduzir a realidade. É um caminho novo, uma nova tendência. Os Editores

SumÁrio

o g n a l a K o t s e f i Man

Contracultura: Uma Pequena Introdução

Coluna

s

A Jovem Senhora Faz Any a D n o i h iversário s a F a i Atiba Astronomia Brasileira Ava

Esquina de Monalisa

Mara

ndu

Uma Avent ura nos C eus de Boituva

Diários de Fernando

Agenda Cultural Tirinhas


Colaboram nessa edição: João Paulo Correia Lima - É psicólogo, músico, diretor do NESDA - Núcleo de Estudos de Stress e Doenças da Adaptação - Psicologia para o Seu Bem Estar. Delta9 - É alienígena, chegou a Terra em meados dos anos 50; entusiasta da psicodelia, formou-se em Publicidade e Propaganda. Irmão de Delta-Pi, foi abduzido por PK-Pk-pK mas já está de volta e escreve agora para a Kalango. Claudio Vieira de Oliveira - É diretor de Animação, Animador, Ilustrador e Quadrinista. Orivaldo Biagi Leme - É doutor em História e pós-graduado em Comunicação. Tio Dunha - É secretário adjunto de Cultura, artista plástico e fotógrafo. Nestor Lampros - É artista plástico, poeta, cartunista, arte educador e multiartista. Marta Alvim - É jornalista, escritora, , artista plástica, fotógrafa e arte educadora. Luciana Meimberg - É acadêmica de jornalismo, escreve sobre moda e é fotógrafa. Hemerson Brandão - É estudante de jornalismo, astrônomo amador, geek, agnóstico, vegetariano, trekker e editor da revista Macrocosmo. Vânia Jucá - É jornalista, professora universitária e fotógrafa (também de cinema); Elis Regina - É farmacêutica, professora universitária e fotógrafa (também de cinema); Marcelino Lima - É jornalista filho da PUC, poeta de Bela Vista do Paraíso (PR); Luis Pires - o Varinha - É jornalista, fotógrafo, escreve sobre cinema e é amante dos esportes; Marisa Lajolo - é formada em Letras pela Universidade de São Paulo, onde também fez Mestrado e Doutorado, fez pós Doutorado na Brown University. Prêmio Jabuti 2009 Doug Erbert - É cartunista e ilustrador.

O grupo Kalango é: Editor: Osni Dias Editor de Arte: Victor de Paula Consultora e Arte e Imagem: Marta Alvim Editora de Moda: Lu Meimberg Reportagem: Gerson Santos e Mariana Pedroso Conselho Editorial: William Pereira Araujo (codinome - Waptrix) Elizeu Silva. blog - www.revistakalango.wordpress.com Twitter - @revistakalango Para anúnciar envie um e-mail para - revistakalango@gmail.com



O G N A L A K MANIFESTO

de intervenção midiática ta os op pr a um é o et oj presente pr de possibilitar o tiv je ob o m co , SP , na cidade de Atibaia a de autonomia ad m to re a e e ad ed ci so da caminhos para a reflexão lizando-se a revista uti o, çã la pu po da a ni e exercício de cidada entre os membros da ão aç ic un m co de or ad como veículo facilit ria comunidade. cípios desse Manifesto se in pr os er ov om pr ra pa Uma das idéias m e sintonizadas be de s oa ss pe de ro primeiramente o encont nização e a definição ga or r io er st po a um e com esse movimento ra a divulgação das pa , te an rt po im ria Se . de planos de ação ículo de comunicação. ve um de o çã ia cr a o atividades do grup rá produzida se a, id fin de r se a de da dici Uma revista, com perio distintas e que s de da vi ati de s ro ei rc pelo grupo e demais pa os e ideológicos. tic té es s, co éti os pi cí in pr tenham, em comum, ser que sobrevive ao ao ão us al z fa o, ng la Ka O nome da revista, esmo tempo, m ao , do an liz bo m si o, ci crifí inesperado, mesmo no sa éias veiculadas id As . um m co go al de o um grupo unido em torn que vai girar em , or ai m o et oj pr um de pela revista fazem parte , reunidos para dar um es nt pa ci rti pa os e tr en torno da ajuda mútua um individualmente da ca de ão uç od pr à o ic impulso mais dinâm ciar o caráter en id ev a sc bu o et oj pr O em direção à sociedade. ações propostas s da a um da ca em al ci de responsabilidade so de matérias que ão aç ul ic ve a ra pa as ut pela equipe, gerando pa tegração e inclusão. in de a éi id a e pr m se m propague er), os textos deverão itt Tw e id (v de da ni er Na esteira da mod a quantidade razoável um r po os ad nh pa om ser curtos e ac e originalidade. a tic ás pl la pe ar im pr de imagens, que devem

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A temática será volt ada para o universo de idéias que estão convencional, retratan fora da mídia do o dia-a-dia das pes soas sob um prisma d buscando o óbvio qu iferenciado, e está despercebido pela maioria das pesso diferenças, a unidade as: respeito às na diversidade, fatos d e in teresse informativo p a comunidade. A revi ara toda sta pretende ser um pólo aglutinador de configurando-se mai forças e idéias, s num conceito do q ue num veículo prop Um conceito que pre riamente dito. tende crescer e tran scender as rotativas transformar numa id e os pixels e se éia. Um terrorismo p o éti co, como proclama H “A reação do público akim Bey. ou o choque estético produzido pelo TP te emoção pelo menos m de ser uma tão forte quanto o te rror – profunda repu sexual, temor supersti gnância, tesão cioso, súbitas revelaçõ es intuitivas, angústi não importa se o TP a dadaísta – é dirigido a apenas u ma ou várias pessoas ou anônimo: se não , se é ‘assinado’ mudar a vida de algu ém (além da do artist a), ele falhou”. Justificativa Num mundo dominad o pela globalização ec onômica e cultural, ca aumenta a diáspora in da vez mais telectual, permeando o mundo com um insti muita desconfiança, nto niilista, frustração e desesper ança. Guy Debord, em do Espetáculo, afirm Sociedade a que “em um mund o que realmente foi p para baixo, a verdad osto de cabeça e é um momento da falsidade”. John Hollo obra Mudar o mund way, em sua o sem tomar o poder , arrisca:. “Como seri verdadeiro? Podemo a um mundo s ter uma idéia vaga: seria um mundo em pudessem se relacio que as pessoas nar entre si como pes so as e não como coisas, u em que as pessoas p m mundo udessem decidir sua própria vida. Mas não ter uma imagem de necessitamos como seria um mund o verdadeiro para se algo radicalmente eq ntir que existe uivocado no mundo tal como é”. Não queremos ter ra zão, queremos comp artilhar a emoção. N desordem, tampouco ão queremos a a ordem. Preferimos o ca os. Em meio à crise, q construir. Desejamos ueremos ser os construtores d e uma estrada que n um longo caminho, p os conduzirá a aralelo à religião, à p olítica e à ciência. Nó sonho, mas não o so s queremos o nho profundo da maç ã mordida, mas o son desprovido do merca ho surrealista, ntilismo e dos sistem as de controle: o ford barato. Maiakovski ismo cultural bradava: “Chega de ch u ch otar versos para os Ernesto Guevara cheg pobres”. ou a proclamar: “As revoluções, transform radicais e aceleradas ações sociais , feitas pelas circunst âncias, nem sempre, são perfeitas”. ou quase nunca, Adentramos no sécu lo XXI assistindo a um a hegemonia capitalis ta no Planeta,


escala global. Estamos em o ism un m co do da ca com a derro te sem fronteiras, apesar en m te en ar ap do un m um vivendo o Norte e o Sul e dos muros ra pa se e qu l cia so d ei th ar do ap bo. As ideologias glo do s rte pa s ria vá em os id literalmente ergu a utopia vive sua fase e s da gia sti re sp de ais m z estão cada ve go Francis Fukuyama. O lo eó id lo pe da za eti of pr terminal, stria midiática, denunciado dú in na ra pe im ico ún to en pensam a do MIT, Noam Chomsky, em ist gü lin lo pe o ad ss pa lo cu no sé . sua obra Consenso Fabricado Atibaia, São Paulo, em e sc na o et oj pr o ss no e ss O embrião de a estância climática e já um é e ad cid A ís. pa do ste região Sude ndo melhor clima do mundo. gu se o o nd te o m co a ad er id foi cons las possibilidades tip úl m as e br so lar fa e nt rta Desta forma, é impo dos os seus aspectos. to em a vid de de da ali qu a de busca de um rmações que retratem fo in m bé m ta lar icu ve de en A revista pret formas alternativas de do an ns pe , te en bi am o ei nosso m bates que possam iluminar de do en ov om pr e, ad ilid ab sustent is cenários. Esta íve ss po de o çã tru ns co a nossas idéias para revista, mas deverá da as gin pá às ita cr ns cu cir á ar discussão não fic que mais necessitam s õe laç pu po s da ro nt co en ser levada ao í transformações no seio da r rti pa a o nd ra ge la, êcompreend a da elaboração de políticas íd clu ex i fo z vo ja cu o up gr e daquel públicas. Procedimentos r alternativo, envolvendo te rá ca de ta vis re a um de O projeto õe um trabalho que viabilize op pr s, ea ár as rs ve di ais m s da ações vés da participação ra at , um m co e ad tid en id a a construção de um e interdisciplinar em ta un nj co ão aç a m nu os nt de sujeitos disti gestão de pautas até a su a e sd de , ão uç od pr de as todas as etap finalização do produto.

A revista busca co ntemplar a metod ologia dialógica e participantes com aberta, valorizand o seres sociais, tra o os n sf o rm em relações de inte ando as relações d rdependência. O cu e dependência nho assistencial de ser substituído pe atendimento deve la estratégia de esc rá larecimento, mobil ização e participaçã o. Comunicação – inst rumento para o pe nsar Pretendemos utiliza r a produção da rev ista, tratando de q à realidade global uestões ligadas tan quanto local, fazen to do essa interface p escrita e da image elo uso da linguag m, buscando o reco em nhecimento de qu de conteúdos sub em somos, por me jetivos e demand io as nos âmbitos d político e do cultu a saúde, do socia ral. O comportame l, do nto humano e a re dos pilares deste p a li d a de cotidiana é um rojeto. A relação entre com unicação e realidad e baseia-se no fato um processo de co de que é a linguage nstituição da consc m iência a partir do co sociais. A linguage ntexto das relaçõe m exerce dupla fu s nção, sendo, por para promover co um lado, instrume municação entre nto as gerações, perm transmissão da pro itindo registro e dução cultural e, p or outro lado, me permite ao homem diação simbólica q desenvolver modo ue s peculiares de pe a comunicação qu nsar sua realidade e distancia o ser h .É umano da experiê capaz de organizá ncia vivida, tornan -la e reorganizá-la do-o numa outra config um novo sentido, u ra ção, que lhe dará mais vívido. Para isso, reunimo s profissionais com larga experiência q trabalhos ligados ue vêm desenvolve à suas áreas de a ndo tuação, voltados comum à sociedad para ações sociais e em que vivem. em A participação de patrocinadores é fundamental para Aqui, público é e o êxito desse proje ntrevistado e patr to. o ci n a dor é veículo de proposta é mobiliz comunicação. A ar as pessoas em torno de algo soci identificando e vin almente responsá culando a marca a vel o conceito. A Kalango preten de juntar as filoso fias que estão so consolidá-las em to ltas, desconectad rno de um conceito as e , u n indo pessoas que v padrão de energia ivem num mesmo . Busca-se assim fo mentar uma rede defesa da vida e de solidariedade e da cidadania, com m ética, estética e, gosto. principalmente, b om Osni Tadeu Dias Editor da Kalango


Azinhaga, GolegĂŁ, 16/11/1922 TĂ­as, Lanzarote, 18/06/2010


Boas Vindas ao Calango

Por João Paulo Corrêa

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m olhar taxionômico... nas mãos, um exemplar de “Kalango”. Páro, olho, examino, um calango sim, mas não um calango comum Pode-se notar! Mas, algo difere do exemplar que encontramos na caatinga. Minha ancestral Parahyba. O Moinho Velho... a velhar árvore, primo Augusto... Nossa serra também tem disso, entre as pedras. Deixo as reminiscências e volto o olhar empírico e cladístico ao meu “kalango”. Do calango, transpira – posso sentir – transpira vontade de viver! Não importa onde, não importa contra o que. Respirar é preciso! Mover-se é preciso! Esse quase camoniano calango tem a força de viver, pela areia, pela areia de um mundo ressecado, olhos vítreos, tudo filmando, quase ausente... Mas, nessa quase ausência, de si faz o sustento de quem sente o calor, a terra rachando seca sob os pés. Será um Tropidurus oreadicus ou um Tropidurus torquatus? Não sei dizer ao certo, porque é um “k”alango... Mas, sei que um alto índice de resiliência, típico dos tropidurus. Frio conceito, que descrevendo precisamente, mas, como todos, deixa a poesia escorrer entre os dedos frios e exatos. Vontade de viver, sim! Invencível e inabalável vontade de viver. Voltar à superfície, não importa a que profundidade seja tragado, aceitação zen do sol tórrido, da terra que vira areia. Sem nunca ficar agressivo, sempre parceiro agradável e bem vindo. Sim, decididamente é um tropidurus! Mas, por que o “k”? Porque é um calango Klaxon! Um híbrido, com certeza. Um híbrido digital, a lhe acenar, leitor felizardo, a gentileza resiliente dessa boa turma que o constrói! Um grande abraço do grupo Absintho, do Núcleo de Estudos de Stress e Doenças de Adaptação, e, da minha parte mesmo, um grande abraço e um festejo bem a todos esses amigos que fizeram essa coisa linda para nós todos nos aproximarmos, nos expressarmos!

Olá alienígenas proprietários!

Por Delta 9

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omo vão, terráqueos, terrícolas (ou como queiram se chamar)? Fui convidado para tergiversar nossos pensamentos mútuos com idéias plurisensoriais non-sense - ma non troppo - tratando de um assunto aqui, outro ali, no vaivém desses quadris. Sou um ser undiversificado - um alienígena residente em seu planeta de origem buscando às pressas respostas expressas para perguntas inconfessas. Às clássicas “Quem sou?”, “De onde vim?” e “Para onde vou?”, eu respondo: Ããhnn?!, já que são de extrema simplicidade. Sou o que sou, vindo dalí e indo para lá. Ou não. O que, ao final e ao cabo, tanto faz. As excentricidades polissintáticas das filosofias efêmeras dão nisso. Mas o melhor, meeesmo, é curtir um som. Convido você e quem mais estiver “afins de”, observar o essencial (que é invisível aos olhos). Comecemos pelos diálogos ant-o-lógicos das formigas. Serezinhos interessantes. Caso você ainda tenha joelhos para isso, agache-se frente a um caminho de belas cortadeiras, mas cuidado com suas tesourinhas (delas)! Veja seu caminhar, os diá-logos das bichinhas. Sempre antenadas! Aah, o coaxar dos sapos...! Isso é outro reino! Você precisa ouvir “The Laughing Song”, com George Washington Johnson, gravada em 1891, ainda em cilindros fonográficos. Aqueles caras sabiam se divertir. Nem o netos desses caras estão vivos mais... O que isso tem a ver com as formigas e o coaxar dos sapos? Evidentemente, nada. Em absoluto. Mas como o contrário de “nada” é “nada”, aproveite para estudar o NADISMO (o nudismo só vale a pena no meio de pessoas saradas). Se você gostar do NADISMO, então finque com afinco seus estudos no Nada Yoga. Ééé... E você entenderá por quê todo o universo foi feito do som primordial, reflexo do pensamento de Brahman: OOOMMM. Você poderá encontrar a iluminação transcendental, óbviamente. Mas se não conseguir; se tudo isso é demais de chapante para você e sua luz interior é de apenas 40W e uma vela mal apagada, separa um cerva para nós dois e digiramos os poemas de Manoel de Barros. Dessas formigas ele entendia. Mas se isso lhe entedia, ouça Bach durante a noite e Tom Zé durante o dia... Amanhã será um novo dia da mais pura alegria que se possa imaginar.


Foto: Igor Spacek

Linkando com Tio Dunha

Por Tio Dunha

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m artista nunca pode ser absolutamente ele mesmo em público, pelo simples fato de estar em público. Pelo menos, ele precisa sempre de ter alguma forma de defesa. Daí nasceu o Tio Dunha. Darren Solomon é músico e já tocou baixo com Ray Charles, desenvolveu um projeto de música colaborativa a partir da contribuição de usuários da internet. Você comanda vários videos sonoros, brincando de fazer música. Os videos rodam simultaneamente e as trilhas e sons variados irão trabalhar em conjunto a seu critério. O Tio Dunha brincou muuuuuuito! Link = http://www.inbflat.net Pintando uma canção. Não dá para explicar, você tem que experimentar..... o mais legal é que o resultado da sua pintura musical sempre com a trilha sonora da cantora Labuat, pode ser gravado ou você pode até enviar para um amigo. É só esperar carregar ,clicar no play e mover o mouse! Link = http://soytuaire.labuat.com/ Fred é um especialista em design de produtos divertidos e originais, unindo funcionalidade com muito humor. Um exemplo: forma de gelo em formato de dentadura!!! Imperdível..... Link = http://www.worldwidefred.com Paredes com estruturas desgastadas, cheias de rachaduras e buracos não são uma visão muito agrádavel, certo? Para corrigir esse problema e, de quebra, tornar a paisagem mais atraente, Jan Vormann decidiu preencher cada falha que encontrasse em prédios, casas e muros com peças de Lego.O artista passou a chamar a atenção para o descaso que ocorre em diversos pontos públicos de diversas cidades - além de divertir os pedestres, que muitas vezes se oferecem para ajudar Vormann em sua missão. Link = http://www.dispatchwork.info Tio Dunha Caminha para a Luz.


Contracultura: Uma Pequena Introdução Por Orivaldo Leme Biagi

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jornalista Mark Kurlansky, na sua obra 1968: o Ano que Abalou o Mundo, afirmou que nunca existiu um ano como 1968, pois, apesar das culturas ainda serem separadas, “ocorreu uma combustão espontânea de espíritos rebeldes no mundo inteiro”. O autor também destacou quatro fatores para explicar o que aconteceu: 1 - o exemplo do movimento dos direitos civis, na época uma prática nova e original; 2 - uma geração que se sentia diferente e alienada para rejeitar todas as formas de autoridade; 3 - a Guerra do Vietnã, “uma guerra universalmente odiada, no mundo inteiro, a ponto de fornecer uma causa para todos os rebeldes que buscavam uma”; 4 – tudo isso acontecendo “num momento que a televisão amadurecia mas ainda era suficientemente nova para não ter sido ainda controlada, destilada e embalada do jeito que é hoje.” Novas práticas políticas, uma geração autônoma e distante da geração mais velha, um inimigo em comum para praticamente todos os grupos (Guerra do Vietnã) e um meio de comunicação deixando tudo mais próximo e, assim, aumentando a idéia de unidade – eis a caracterização mais geral da Contracultura. É difícil definir toda a extensão do termo Contracultura, pois os grupos que a compunham não apresentavam uma unidade. A Contracultura da segunda metade do século XX atingiu, essencialmente, um número grande de jovens manifestando-se contra as regras das gerações mais velhas, naquilo que ficou conhecido como “conflito de gerações” ou “choque de gerações”. De acordo com Theodore Roszak, um dos grandes pensadores sobre a Contracultura, os movimentos contestatórios foram feitos por uma minoria de jovens das décadas de 60 e 70, filhos do chamado “baby boom”, expressão que define os aproximadamente 86 milhões de nascimentos ocorridos entre 1946 e 1964, apenas nos Estados

Unidos, criados na prosperidade econômica que os países desenvolvidos atingiram depois da Segunda Guerra Mundial. Esses jovens - diferentemente de seus pais, que precisaram sujeitar-se ao trabalho quer pela depressão econômica ou quer pela guerra - desejavam ficar jovens eternamente. Para esses “jovens mimados” e criados na abundância, não acostumados às convenções sociais (muito mais suaves nas suas casas, nas escolas e nas universidades), a sociedade tinha de ser mudada para a busca do prazer que tais convenções sociais impediam. Assim, procurou-se criar uma nova cultura, ou seja, uma Contracultura. Luís Carlos Maciel, um dos expoentes da divulgação da Contracultura no Brasil, explicou que o termo “‘contracultura’ foi inventado pela imprensa norteamericana, nos anos 60 para designar um conjunto de manifestações culturais novas que floresceram, não só nos Estados Unidos, como em vários outros países, especialmente nos Europa e, embora com menor intensidade e repercussão, na América Latina. Na verdade, é um termo adequado porque uma das características básicas do fenômeno é o fato de se opor, de diferentes maneiras, à cultura vigente e oficializada pelas instituições das sociedades do Ocidente. Contracultura é a cultura marginal, independente do reconhecimento oficial. No sentido universitário do termo é uma anticultura. Obedece a instintos desclassificados nos quadros acadêmicos.” Uma forma “de se opor, de diferentes maneiras, à cultura vigente e oficializada pelas instituições das sociedades do Ocidente” através de uma “cultura marginal, independente do reconhecimento oficial” – eis duas das imagens mais tradicionais da Contracultura que alimentaram as idéias de contestação social e da criação de novas formas de ver e agir no mundo sem as limitações da vida social como era conhecida, ou seja, procurar viver com liberdade e sem autoritarismo. Mas nem todos os grupos da Contracultura necessariamente entendiam “procurar viver com liberdade e sem autoritarismo” da mesma forma. O grupo de motoqueiros Hell´s Angels, assim como várias subculturas jovens (Teddy Boys, Mods, Skinheads, etc.), nem sempre dispensavam a violência nos seus atos de expressão. E a grande maioria dos jovens, mesmo que apreciando um ou outro aspecto da Contracultura (como a moda e a música, por exemplo), jamais se tornou realmente contestadora.



A jovem senhora fez aniversรกrio


Por Marta Alvim

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esta terra abençoada, cuja pureza das águas emprestou-lhe o nome, foi plantada minha semente. Cresci em meio aos seus encantos. Desbravei seus quintais, colhi seus frutos e descobri o verdadeiro sentido da liberdade. Minha cidade é rica em diversidade de cores e aromas, cercada por matas e rios, fontes e frutos. Nos seus caminhos ainda resistem os tons ocres e sienas reveladores de tesouros bem guardados: Manacás e Ipês tingem a mata como composição de um cenário impressionista. Como moldura, ao fundo, ergue-se a imponente Pedra Grande, guardiã da Serra do Itapetinga, e lá do alto, quando próximos ao Criador podemos dimensionar quão pequenos somos diante de suas belezas naturais. A cada estação do ano a jovem senhora se apresenta com um traje novo, o mais belo de todos é certamente o outono, período em que borda seu manto azul, com lantejoulas estelares, preparando o céu para receber a lua cheia. Quero prestar minha homenagem. Mas desta vez não vou recorrer aos poetas antigos para inspirar-me, tampouco, aos ilustres personagens, que de alguma maneira já o fizeram. Penso que mais legítimo seja declarar sua importância em minha vida, por meio das lembranças e de passagens que constituem parte essencial da minha identidade. Nasci em Atibaia, e como tantas outras crianças, tive o privilégio de passar a infância brincando livre nas ruas do centro. Num tempo em que todos se conheciam, nos fins de tarde as famílias se sentavam nas cadeiras em frente as casas e conversavam até noite alta - televisão era um luxo para poucos! O domingo era especial. Tinha a retreta na Praça do Mercado. Meu pai tocava na Corporação 24 de Outubro e minha mãe vestia-me com o melhor vestido, meias brancas, laço no cabelo e sapatos de verniz para vê-lo tocar. Foi nessa época, ainda menina, que tive o primeiro contato com as obras de Sebastião Flórido, Pedro Cerbino e tantos outros compositores atibaienses e atibaianos que despertaram em mim o gosto pela musica. Marchas, dobrados e valsas, assim a banda permanece em meu coração - como um dia de festa. Morei durante anos numa casa próxima a Companhia Têxtil Brasileira, a antiga fabrica, onde costumava me debruçar sobre as grandes janelas para expiar os trabalhadores tecerem: o aroma dos fios era doce, guardo na memória olfativa até hoje.

Impregnado também está o cheiro forte de umidade que exalava dos porões do Hotel Municipal, onde no meu imaginário morava uma bruxa. É claro que a curiosidade era maior que o medo, e o desafio era parar defronte e tentar vê-la, o susto ficava por conta do hóspede clandestino, o gato. As aventuras de menina se resumiam ao entorno do centro. Desbravei seus quarteirões - como era distante uma rua da outra. Aos olhos de uma criança tudo parece maior. Vez ou outra, meu irmão e eu arriscávamos um piquenique na Estância Lynce – praticamente uma viagem! Não existiam muitas construções do centro até o bairro. Descíamos pelo morrão de terra batida. Era mais seguro, os mais velhos diziam que nas proximidades do Parque das Águas, atualmente a Lucas, morava o tarado Tarzan, passávamos por detrás da Escola do Major, e logo avistávamos o Piqueri: córrego de águas transparentes, dava pra beber, e logo chegávamos ao hotel onde passávamos o dia, brincando no parquinho e pescando no lago. Em minha memória também está nítido o cenário do Mercado Municipal, além de muito movimentado por pessoas, entre trabalhadores e fazendeiros tinha um bebedouro. Ali, enquanto os cavalos bebiam água e descansavam, os donos faziam a compra do mês nos armazéns. Na Praça do José Alvim, no horário da saída escolar, sempre estava o vendedor de biju. Ele tinha um braço só, e me admirava que conseguisse carregar o enorme tambor e vender, ao mesmo tempo em que carregava um radinho de pilha, todo remendado, mas funcionava! Havia outras delicias como a raspadinha, o quebra queixo, algodão doce...e o doce de abóbora em forma de coração comprado na caderneta na vendinha próxima a minha casa! Mais tarde em minha vida vieram os desfiles cívicos, aguardados com ansiedade. Naquele tempo a escola José Alvim preparava grandes carros alegóricos e desfilávamos orgulhosos pelo centro. Lá estava eu, de fada, de flor e até de gata borralheira... A partir daí, a vida reservou-me novas descobertas e experiências, contudo, minha relação com Atibaia sempre se manteve fortemente ligada - origem e sentimentos atávicos entremeiam nossa historia. Mesmo que hoje, alguns bens arquitetônicos, tão presentes em minhas lembranças tenham sido demolidos, como bem apontou o medico e escritor Carlos Pessoa Rosa: “o Hotel Municipal é um belo desenho na parede” ou ainda “quem dera que a chaminé (da têxtil) transformada em centro cultural respirasse modernidade”, fica registrado meu amor e orgulho por ser filha desta terra.






Por Luciana Meinberg

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Fotos: Luciana Meinberg

ntão, dia 24 fui convidada para dar uma passada no Atibaia Fashion Day 2010 que aconteceu aqui em Atibaia, quem compareceu foram as lojistas daqui, convidados e a fofa Bia Kawasaki, sempre sorridente, ela é consultora de imagem e estilo. Tudo isso rolou lá na parte externa da Mansão Ego que estava perfeitamente enfeitada para o evento, tudo ornando, como dizem. Tive uma conversa com as lojistas e a própria Bia (amiga íntima, já!) que deram dicas para o inverno. Bom, quem lhes escreve passará tudo bem explicado nos mínimos detalhes! Mas antes, a simpática Miyuki adverte que “As pessoas devem seguir a moda, mas de acordo com o corpo.” Muitas muitas tachas, preto até não poder mais (brincadeira), mas os looks no inverno estarão bem carregados e justos ao corpo (ler novamente a dica da Miyuki!) e não se esqueça de um toque feminino para dar um equilíbrio. Corsets, alguém se lembra? Refrescarei a memória de vocês (também há história na moda!), eram usados no século XVI para controlar as formas das mulheres ou escondê-las por causa da Igreja, homens também era usuários de corsets nos séculos passados (eu hein!). Bom, com o tempo foram sendo esquecidos, tanto pela Igreja que foi perdendo sua força quanto pelas mulheres que já não aguentavam mais aquela peça esmagando suas costelas e seus órgãos. Hoje em dia a coisa é mais “light” usa quem quer e há modelos que não “apertam tanto”. Dá pra usar como blusa, em um look mais casual, com jeans, por exemplo. Ah os anos 80, quem não se lembra, né? Infelizmente eu não lembro! Mas muitos de vocês devem se lembrar, e sabe o que mais, o bom da moda é que ela além de se renovar, ela busca influências do passado, por exemplo, neste inverno haverá bastante dessa década cheia de cores. e formas diferentes, algumas bem estranhas diga-se de passagem, quem nunca

olhou uma foto do pai ou da mãe ou de você mesmo e pensou “como eu pude usar uma coisa dessas?” Agora você pode ir para o fundo do seu guarda-roupa e resgatar alguma peça! Mas vá com calma, não é para parecer um viajante do tempo! As maiores influências serão as estampas geométricas, de onças, zebras, xadrez e florais com cores fortes como amarelo, pink, azul cobalto, todas as escalas de cinza e pitanga. No quesito sapatos, eles estão cada vez mais diferentes, os modelos que vocês verão nos pés das “fashionistas” são meia pata, saltos muito altos, ankleboots, oxford, over knee. Quem prefere um look mais surf, abuse das rasteirinhas, que voltaram com tudo, informa a dona da hype surf fashion Você usa óculos o dia todo, por N motivos? Calma, a dona da ótica estilo aconselha que se compre dois modelos de óculos, um mais clássico e o outro esportivo, para o dia a dia, ainda brinca que “Ninguém vai a uma festa com o óculos esportivo”. Quer escolher a armação do óculos e você não sabe qual escolher? Cada um mais bonito que o outro em todas as lojas que você procura? A Kalango tem a solução! As armações devem ser no mesmo formato do rosto. Exemplo: rosto redondo, armação redonda, rosto quadrado armação quadrada. Ah e agora você se pergunta, e “as cores das armações?” Resposta: café, uva, marrom e perolado, “Que fica ótimo em ocasiões chiques” diz ela. Agora a alegoria maquiagem para quem usa óculos, os olhos menos carregados é a solução. Por falar em maquiagem, Bia confessa que o batom vermelho, aquele bem forte, só fica bom nas passarelas, no dia a dia prefira tons mais claros, mas, a cor pode ser a que cada uma gostar mais! Ela ainda completa que, para não erra no make, se carregar muito os olhos, prefira um batom bem claro, quase nude, mas se quiser passar algum batom mais forte, os olhos devem ser mais leves. ________________________________ A lingerie também entra nas tendências da moda, porquê não? Afinal, não adianta nada usar um super look se está com aquela calcinha horrenda! Conforto é o que manda. Bom, agora mãos na massa, pois o inverno está chegando e é hora de usar as dicas que a Kalango separou para você!!







É

comum ouvirmos que a Astronomia no Brasil é a que mais cresce no mundo. Apesar de discutível, pode-se afirmar que essa ciência vem se movimentando nos últimos anos, e tem demonstrado a validade dessa afirmação. Um dos grandes motivadores das iniciativas astronômicas ocorreu nos últimos anos graças ao advento da internet, quando os nichos da Astronomia conquistaram a possibilidade de maior comunicação e integração. Dessa semente nasceram frutos, como os Encontros Nacionais de Astronomia, que vêm congregando um número cada vez maior de entusiastas e amadores de diferentes localidades do país. Através da troca de conhecimento e experiências,aAstronomiaobservacional começou a florescer e já começamos a colher os frutos das primeiras descobertas: em Julho de 2005, a dupla brasileira C.W. Juels e Paulo R.

Holvorcem encontrou um cometa através de câmeras CCDs; “SN2002bo” é o nome da estrela supernova descoberta por Paulo Cacella, sendo a primeira descoberta do gênero por um brasileiro. Estas e outras descobertas são grandes incentivadoras para a continuação dos trabalhos observacionais da REA - Rede de Astronomia Observacional, e agora também do novo BRASS, programa brasileiro para busca de estrelas supernovas, que já realizou 15 descobertas, resultado da iniciativa dos astrônomos Cristóvão Jacques, Tasso Napoleão, Carlos Colesanti e Eduardo Pimentel. Já no campo profissional, Augusto Daminelli desafiou os astrônomos ao redor mundo ao provar que sua teoria estava correta: a gigante estrela Eta Carina era, na verdade, duas estrelas. Enquanto Kepler Filho descobria sua estrela com composição de diamante e José Medeiros desenvolvia pesquisas

sobre a velocidade de rotação das estrelas, Márcio Catelan recebia o prêmio Hubble Fellow, uma das premiações mais importantes do mundo na área devido aos seus estudos sobre os aglomerados estelares e suas estrelas. João Steiner, um dos maiores especialistas em quasares do mundo, trabalha no novo telescópio SOAR, no Chile, que recebeu peças projetadas pelo engenheiro Raymundo Baptista. Tudo isso está sendo possível graças às fundações de amparo à pesquisa que vêm investindo na pesquisa

nacional, oferecendo tecnologia de ponta aos astrônomos brasileiros. Com esses investimentos, teremos a oportunidade de realizar pesquisas equivalentes às de grandes centros de pesquisas do mundo. Sem dúvida, o Brasil ainda carece de investimentos na pesquisa científica. Entretanto, com a motivação e criatividade daqueles que decidiram lutar pela expansão da Astronomia, certamente, num futuro não muito distante, essa meta será alcançada, nos colocando no patamar de líderes mundiais nas pesquisas astronômicas, assim como já o fizemos em estudos sobre doenças tropicais, pesquisas agronômicas, técnicas inovadoras na cardiologia, entre outros.



http://festivaldearteserrinha.uol.com.br/ Fonte: http://arteserrinha2009.blogspot.com/


Ava Marandu


O

s Guarani Convidam é um projeto cultural que está sendo realizado em Campo Grande-MS e reúne varias atividades voltadas para as questões dos direitos humanos dos Povos Guarani. O objetivo principal dos trabalhos é de sensibilizar a população para as gravíssimas violações dos direitos humanos que afligem os Guarani, Kaiowa e Ñandeva de Mato Grosso do Sul, apresentar e difundir a cultura dos povos Guarani, suas tradições, além de proporcionar uma aproximação das populações não índias com as comunidades nativas. Um pouco do resultado desses trabalhos está sendo mostrado através de uma exposição de fotografias de seis aldeias Guarani de Mato Grosso do Sul que receberam as oficinas de fotografia do projeto Ava Marandu e aqui as paginas da Revista Kalango. As oficinas foram realizadas pelos fotógrafos Leonardo Prado, Elis Regina e Vânia Jucá e esteve no Museu das Culturas Dom Bosco, no Parque das Nações Indígenas de Campo Grande – MS. Mais informações sobre o projeto no site do Pontão de Cultura Guaicuru. http://www.pontaodeculturaguaicuru.org.br/avamarandu/







o h n o s flor ri

a j i e B

r da a o e hoj u e d , a não h o n i d v n qua não o s t o s p u tem .Ej á r tos h n a e e o v u q a s , pelo raç flor g a a e d j d i a e heu orn Ob t c n n e e , , dele novo a e h d n , i raf r a graça g r na a t c é n havia

upas. As o r s a r a c e s a o d ndo, ajudan a it o ç a m a d n a e u q o muro n o s pi o u lo e m do doce que e s m a ir v r e s s a formig lta o colibri, o v e D . a m s le é t a u escorreu de a r u t is m a l a u q lo pe do sofá u o lt a s s le e d m U . s ram os gato fo u e b e c r pe o ir e im quem pr tava na s e já is po e d s o lh o piscar de m u , a lh pa a a v a x pu no qual uer a q e s m e n , o t n le o n o ado, ainda s n fi a s e d a v ia M . a varand ão de s s e pr im a e iv T . o assustaria g n o d n u m a c e d e t um filho al, ria... r a v o n o d a s u po , r o que o beija-fl

a Marcelino Jesus de Lim


Uma aventura nos céus de Boituva Luis Pires Varinha

O

relógio apontava 4h30 quando entramos na Rodovia Castelo Branco para percorrer os 116 km que nos separavam de Boituva, onde horas depois subiríamos aos céus num balão, segundo a definição de um amigo, “aquela cestinha de Chapeuzinho Vermelho presa em balões de festa de criança”. Embora muita gente tenha receio, o vôo de balão é um passeio seguro e encantador. Voar a centenas de metros do chão com a trajetória determinada pelas correntes de ar é uma experiência inesquecível, que começa logo na chegada ao Centro Nacional de Paraquedismo (CNP), de onde partem os vôos. Os raios de sol ainda não tinha aparecido no horizonte mas as equipes já aprontavam os balões que em pouco minutos coloririam os céus da região. Existe uma explicação técnica para este horário tão estranho: é quando a natureza se encontra mais estável e fria. Quando o sol nasce o solo se aquece e cria rajadas de vento que tornam o vôo mais impreciso. Mas há um outro fator bem mais romântico: a possibilidade de apreciar um nascer do sol a centenas de metros do chão e poder visualizar do alto as brumas que envolvem o solo quando o dia clareia. A subida é suave, praticamente como a de um elevador. Para que os passageiros se ambientem e percam o medo da altura, o piloto eleva o balão a um nível pouco acima da copa das árvores. Somente depois de 15 minutos suspensos no ar é que ele “abre o gás” e o balão efetivamente sobe para valer, chegando a uma altura de aproximadamente 1.000 metros do chão. Neste momento no

horizonte se descortinam os primeiros raios de sol revelando paisagens que tornam a aventura inesquecível. O processo de se fazer algo mais pesado que o ar voar é mais ou menos simples. O piloto aciona o maçarico alimentado por propano (gás de cozinha), que aquece o ar que está dentro do balão, feito de um tecido de nylon resinado (similar ao dos pára-quedas). Como a densidade do ar aquecido fica menor que a do meio ambiente isto faz com que o balão suba, levando para o alto os passageiros acomodados numa cesta de vime. Depois de cerca de sessenta minutos no ar como se estivéssemos vivendo uma aventura retirada de um livro de Júlio Verne, chega a hora da aterrizagem. O piloto escolhe visualmente a área onde pousará o balão e se comunica via rádio com a equipe de resgate, que acompanha o vôo por terra. Em pouco tempo estamos no chão, em segurança, como a adrenalina a mil e na boca um gostinho de “quero mais”. Neste momento os organizadores reúnem os viajantes e estouram uma champanhe, imitando os franceses Pilâtre de Rozier e o Marques d’Arlandes que, no século XVIII, decolaram de Paris e percorreram a região num vôo de 25 minutos, assustando os fazendeiros. Para compensar o transtorno, a dupla ofereceu-lhes um brinde de champanhe, ato repetido até os dias atuais pelos balonistas, para fechar com classe esta inesquecível aventura.





SERRA DO LOPO

Por Marta Alvim

N

o coração da Mantiqueira, do tupi-guarani “Lugar onde nascem às águas” está a Serra do Lopo, de Lupus, (Lobo em latim). A Serra do Lopo localizada no município de Extrema faz divisa com Joanópolis, local de onde avistamos o Gigante Adormecido ponto de partida para a aventura. É para lá que vamos. AcompanhadadaequipeArmazém da Trilha, que pratica o turismo ecológico e de contemplação partimos para aventura em meio a Mata Atlântica. Parte do trajeto de Joanópolis até o inicio da trilha, a aproximadamente 900m de altitude é feito por carro. Durante o percurso o guia nos conta um pouco sobre a história da região e nos dá algumas orientações sobre preservação ambiental, (algumas pessoas ainda insistem em levar uma mudinha de orquídea para casa). Revisão no equipamento, GPS ligado, muita adrenalina e em minutos estamos em meio à mata fechada.


A

aventura é integralmente sensorial: aromas, oscilações de temperatura, o canto dos pássaros, muitos deles nativos da Mata Atlântica, e as cores dos liquens, das orquídeas e bromélias, despertam os saberes do corpo. Cerca de 20 minutos de caminhada, entre trechos de mais ou menos dificuldade, clareiras se abrem e descortinam-se cenários incríveis. Estamos acima de um “mar de morros” nos matizes azuis e verdes que se perdem no horizonte. Mais adiante, a 1680m de altitude, chega-se a Pedra das Flores, que se assemelha a Pedra Grande em Atibaia, mas com vegetação intacta, repleta de jardins de lírios (Amarílis). O local é parada obrigatória para repor energias e é claro contemplar a paisagem. De lá, seguindo a trilha surge o topo da serra, a Pedra do Cume (1780m), desafio para os trilheiros, mas emoção garantida: uma visão panorâmica de 360º, de onde podem ser observadas sete cidades.

A

volta é acompanhada de uma agradável sensação de superação de limites e espírito leve. Após um dia de descobertas a “saideira” fica por conta de um delicioso almoço em Piracaia, uma parada obrigatória no Restaurante Breda. Peça Truta ao molho branco com alcaparras e brócolis. Para maiores informações sobre este passeio entrar em contato com Juliano Migliorini, pelos telefones: 4539 9022 ou 9795 1959 ou por txaiturismo@hotmail.com


Diários de Fernando Por Marisa Lajolo

D

iário de Fernando ( Rocco., 2009) oferece ao leitor quase trezentas páginas de uma narrativa tensa e fluente, em primeira pessoa, dividida em dez capítulos, cronologicamente organizados. Dão nome aos capítulos os cárceres nos quais Fernando e outros dominicanos, (entre os quais Frei Betto – responsável pela ordenação literária do texto) ficaram presos entre 1969 e 1973. Ao DEOPS sucedem-se o presídio Tiradentes de São Paulo, vários quartéis e a prisão de Presidente Venceslau. Os quarenta anos que se passaram entre a prisão de Fernando e a publicação do livro deram tempo para que, através de abundantes e rigorosas notas de rodapé, os leitores fiquem sabendo do destino de muitas São passagens nas quais e personagens de outras versões de o sofrimento se cifra em e p i s ó d i o s que, no calor da hora, foram sensações fugidias narrados com outras tintas. Belo trabalho de garimpagem, na memória e em arquivos. O texto é muito bonito, apesar de a história que ele conta ser feia e muito triste. Mas produzir beleza a partir da feiúra e da tristeza talvez seja exatamente o ofício do escritor, não é? O encarceramento de militantes políticos durante a ditadura militar brasileira já foi tema de muitos e muitos livros. Mas ainda restam – e sempre restarão- coisas que não foram ditas, sentimentos que não foram expressos, emoções que passaram em branco. Ou episódios, emoções e sentimentos que foram ditos de outro modo, e que encontram voz nova em novos livros. Como este Diário de Fernando. O livro se inicia resgatando a trajetória de Fernando que vai estudar em Belo Horizonte, saindo de Visconde do Rio Branco cidadezinha mineira na qual, o horizonte fechava-se na esquina. É nesta mudança que começa sua trajetória, de

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"

ateu a cristão, de cristão a frade dominicano e de dominicano a militante. Na raiz deste percurso, a força de um movimento meio esquecido pela –digamos, história oficial , a grande história que se ocupa do palco sem tempo para os bastidores. Foi a Juventude Estudantil Católica –a JEC - ala estudantil da Ação Católica, o instrumento da conversão de Fernando. Assim, a militância política de Fernando tem matriz católica, o catolicismo renovado pela Doutrina Social da Igreja , difundido pelo jornal Brasil Urgente de Fr. Carlos Josaphat. Mas sua militância tem também o lado laico, as aulas da Faculdade de Filosofia da USP, cenário de formação de vários dos movimentos de resistência que ao longo dos anos sessenta e setenta se bateram contra a ditadura militar. Os originais de que nasce este Diário de Fernando têm sua história, contada por seu protagonista : As páginas deste diário saem em papel de seda enrolado em meio à carga da caneta BIC , de modo que se houver suspeita, ela escreve. E também em maços de cigarro abertos pelos fundos. Após colocar o canudinho de papel dentro do cigarro, cuido de tapar ambas as beiradas com fumo (55-56). Ou ainda O “cofre” deste diário – o interior de uma caneta BIC opaca – vazou e borrou três folhas. Estão perdidas (267) A narrativa é filtrada pela memória e profundamente vincada pelo modo de produção do livro, escrito, desescrito e re-escrito muitas e muitas vezes, anotações feitas no calor da hora com um admirável senso de testemunho. Escrita da história por quem a vivia no dia-a-dia de um confinamento doloroso. História escrita por um escritor que conhecia a importância do que fazia: Prévio à mudança , queimei umas tantas folhas deste diário. Queimei-as com dor, raiva, num esforço supremo de desapego, consciente de que ali a história se fazia cinzas ( p.63). É nestes rápidos flashes da história dos originais da obra que se recupera a nunca suficientemente relatada precariedade da vida vivida por jovens brasileiros nas


garras da ditadura militar. Ao lermos hoje estes livros, o mundo se afunda a nossos pés. Passado tão próximo, e por vezes tão esquecido. Provavelmente lemos este capítulo da história brasileira sentados no aconchego de nossas poltronas. Ou até nos solavancos da condução que nos leva daqui prali. Mas, ao guardar o livro na estante ou na bolsa, é bom não esquecermos a verdade incômoda que ele relata, verdade pela qual muitos pagaram muito caro, preço que hoje nos permite ler tais livros escancaradamente em casa ou na rua . Mais do que outros livros, esta narrativa de Fernando traz, com a força da literatura, a dor e o sofrimento que, nem por virem pelas páginas de um livro, doem ou fazem sofrer menos. As passagens nas quais o livro melhor oferece a seus leitores a verdade sem retoques do regime militar brasileiro são, no entanto, passagens nas quais a tortura não aflora em cena aberta. São passagens nas quais o sofrimento se cifra em sensações fugidias: Aqui o silêncio é quebrado apenas por um fio de música que brota do rádio do Ivo.(...) Ao longe, latidos de cães (114115) Ou então Ao cair da noite, ouve-se o ressoar dos pulos de quem faz ginástica na galeria superior; o ruído prolongado da água correndo nos canos indica que alguém toma banho; com certeza muitos estão sentados lendo, escrevendo, outros deitados, sonhando. É o que fazem até retornarem à liberdade. Ou encontrarem a morte. Consideram o tempo de prisão um vácuo em suas existências. Aqui apenas esperam, estoicamente. Carne, osso ,sangue e lágrimas se fundem com cimento e ferros ( 272-273) O leitor talvez estremeça. Pois, mais uma vez, vivencia o mistério da literatura ,esta arte que transforma as palavras de todo-dia em testemunho do mais humano da humanidade, de nossa incrível capacidade de sobrevivência. Na coragem de nos reconhecemos humanos e mais fortes do que o infortúnio, na surpresa de encontrarmos o horror filtrado em sensações, transcrito na materialidade dura dos substantivos desadjetivados : carne, osso, sangue, lágrimas, cimento e ferros . É também na concisão com que o narrador relata seus terrores que eles se tornam mais pungentes. Separado dos companheiros – espalhados todos por diferentes celas de diferentes presídios- o narrador é presa de seus infernos interiores, nos quais sua imaginação desdobrava-se em cenários alucinantes (120). Pesadelos, alucinações, tremores. Onde a realidade ? Onde a fantasia ? São assim sóbrias e contidas as passagens de natureza mais confessional do livro. O narrador sinaliza seus infernos, e cabe à imaginação do leitor detalhá-los ou não, chegando menos ou mais perto das margens abissais da condição humana (40). Contrabalançando esta sábia sobriedade, o livro é generoso na transcrição de documentos, cartas, matérias de jornal que se entrelaçam ao texto. Nesses entremeios, episódios relacionados a presos comuns lançam luz sobre a vida no cárcere, quando os encarcerados não têm voz que os narre. Destaque aqui para a

sensacional leitura feita por um preso, da cena bíblica do encontro de Jesus menino com os Doutores do Templo . Assim, da longínqua condição de manuscritos engenhosamente ocultos no ventre de canetas BIC, nasce este diário, leitura fascinante para todos. A capa do livro reproduz um manuscrito manchado de sangue, fundo do qual se destaca em letras vermelhas e negras: Diário de Fernando e o sub título Nos cárceres da ditadura militar brasileira. Mais abaixo, a capa registra o autor do texto como Frei Betto. A instigante contradição entre o título e a autoria se dissipa já na orelha do livro, que informa: o relato mereceu de Frei Betto tratamento literário. E, no verso da folha de rosto, vem o registro da dupla autoria: copyright@ by Frei Betto e Frei Fernando de Brito. Aos dois, os leitores agradecem a leitura ...


Esquina de Monalisa Por Rodrigo Casali “

E

u os vejo todos os dias, quase sempre no mesmo horário. O sol vai lento ao horizonte, nascendo no oriente, se desfacelando no ocidente. A lua, mal aparece, e eles, ou elas, começam a chegar, vão bem devagarzinho, tomando os seus lugares, em cada esquina, aos pares ou solitários/as. A batalha do dia e/ou da noite, se inicia. Plumas e paetês, de fato não servem para descrever seus trajes. Longos cabelos e altos saltos, lá estão orgulhosos de si mesmos/as, na dignidade construída a cada cliente atendido, seja para o sexo, seja para o vício. Vejo da minha janela, uma janela secreta que esta além dos meus olhos, eu os vejo, passando de um lado ao outro, de uma esquina à outra, ora gritando, ora conversando, ora chorando. Sim. Eles choram! No seu canto, longe do mundo, ou bem no meio dele... Se ele estivesse sentado à meia noite, também veria o movimento de pernas e “toc-toc” de um lado ao outro, de uma esquina à outra, até quase perto da lua repousar no ocidente para o sol nascer no oriente. Mas eles choram. Da minha janela secreta eu os vejo chorar, eu os vejo gritar. Vendem seus corpos. Mas seus clientes não compram seus corpos. Os clientes querem alugar apenas os órgãos, e alugam às vezes por minutos ou por horas. “Virgem Maria” ao fundo de minha janela secreta, enquanto eu observo através dela o movimento, e escrevo sobre a vida. Escrevo sobre a vida que vejo, sobre a vida que corre pela rua. Rua dupla, vida dupla. Quando o sol nascer, as portas do comércio se abrirão, lindos carros estacionarão nos canteiros, a periferia do mundo na rua desaparece e a rua vira o centro do mundo. Vida dupla, rua dupla. Na minha rua tudo é alugado. A janela por onde observo a rua é alugada. Quatrocentos reais ao mês incluindo o IPTU. O dentista aluga o prédio, o médico do trabalho também, só não aluga o posto de gasolina, o banco e a loja ao lado de minha janela. O resto tudo é alugado, até os corpos que guardam as esquinas nas madrugadas quentes e frias. Em uma ou em todas essas esquinas, encontra-se monalisa. Da minha janela eu a vejo, eu vejo as esquinas da monalisa.”


O Conceito “

A

esquina de monalisa” é uma exposição que é resultado de pesquisas, leitura e trabalhos de campo, partindo de etnografias, descrições densas e entrevistas com travestis da cidade de Botucatu que agora também se expressa por meio das artes visuais. Trata da identidade e representação de um dos indivíduos que circulam na periferia urbana: o travesti e também de sua identidade feminina, na sua mais profunda forma de ser e de sentir-se, sendo metamoforseada, pelo masculino que a podem encobrir ou deformar, sob o olhar do artista. Aproxima centro e periferia, onde o objetivo é a construção de uma linha de igualdade entre esses dois mundos, submersos cada um na sua própria forma de se construir e separados pela ignorância de um para com o outro. Mostrar o que está escondido, encoberto, esse é seu tema central. Com pinturas, desenhos e vídeos, a amostra é composta por onze trabalhos – em um processo de tradução da pesquisa antropológica que têm por objetivo representar o sentido de mundo, a realidade construída no interior desse universo tão desconhecido do travesti. Esquina de monalisa é uma metáfora que brinca com a prostituição, modo de vida representado pelo símbolo da esquina, o lugar ou entre - lugar comum onde se encontram quase sempre. Monalisa refere-se à obra de Leonardo Da Vinci - também conhecida como La Gioconda - e todo o mistério construído em torno da face mais valiosa do mundo. Seu olhar enigmático, não sabe se ri, ou para quem olha. Muitos cogitaram inclusive de que fosse um autoretrato. Pensando nisso, Monalisa simboliza esse indivíduo, homem/mulher, masculino/feminino, sempre duo, metamorfoseado, que busca encontrar a feminilidade que reside em seu interior. É um constante processo de ruptura da carne, apagar o fenótipo masculino gerado pela natureza, dando vazão ao interior feminino para que ele ganhe a forma fenotípica também, de uma mulher. É um processo sem início e sem fim, que se renova a cada passo dado, de uma esquina à outra. As obras tratam dessas questões, a sexualidade que extrapola o espaço privado invadindo o público, a sensação de imoralidade que lhes é imposta a partir dos residentes do espaço público. Quem financia a prostituição? A cor das obras, quase sempre sem nenhuma manipulação, sem nenhuma mistura utilizada em sua pureza, reflete essa necessidade de encontrar a unidade de um corpo tripartido em várias formas, construído a partir de muitas identidades. Suas formas aparecem distorcidas, diluídas num mundo cheio de significado simbólico. Assim são as mulheres das esquinas de monalisa, cheias de vida, sem nenhuma moral, mas cheias de fé, esperança, solitárias, diluídas na esperança vindoura ainda, de um príncipe encantado de conto de fadas, um conto de fada, digo, às avessas com certeza.






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