Kalango 8

Page 1

Kalango #8

IDENTIDADE


como ler a revista Os botões abaixo indicam, respectivamente, a visualização da página, o folhear, à esquerda e à direita, leitura em páginas simples ou duplas e fechar o zoom. No PDF, vá ao Menu Visualizar e peça “Tela Cheia”, ou o atalho Control L

Para baixar, acesse o link do MEDIAFIRE na página da Kalango

KALANGO ANO II

#8


Identidade Prezados, sos leitores a Na edição número 8 da Kalango convidamos nos ito humano refletirem sobre o que é e como se constitui o suje em sua totalidade e incompletude. permanente Eis a IDENTIDADE, subjetividade-objetivada em inacabado, dinâmica de transformações. Processo aberto e iais, relações que envolve afetos, escolhas, determinações soc alho, na interpessoais, representações que fluem no trab espaços mídia, nas redes sociais, na aldeia, no campo, nos urbanos. sam na arte Projeções e identificações que também se expres geração dos e na música, como nas canções que marcaram a que o bom anos 80 e que, segundo Kid Vinil e Nasi, provam o Sarau do e velho rock´n roll ainda não morreu. Ou como celebram Manolo, espaço alternativo criado por jovens que Ou, ainda, o novo em poesias, músicas e arte audiovisual. bra um como o ensaio fotográfico que, nesta edição, cele sul-matodos grandes dançarinos e coreógrafos do país, o grossense Rilvan Barbosa. Boa Kalango para todos!

Osni Dias

CAPA - IDENTID ADE 12 - Fabio Sanch ez 14 - Jean Takada 16 - Ana Melo 18 - Claudinei N akasone

COLUNISTAS 6 - Thiago Cerva n 7 - Weberson Sa nti 8 - Paulo Netho ago 9 - Delta9 10 - Leonardo B off PERFIL 22 - Claudinei N akasone - M

Foto: NASA

ENTREVISTA 26 - Osni Dias - Tr

ilanta Plus

ibuto aos anos 8

MÚSICA 37 - Delta9 - O R o

0

ck que o Pariu!

ARTIGO 38 - Luis Pires - C e IMAGEM 40 - Laura Aidar -

rvejas especiais no

Brasil

Sarau do Manolo

LETRAS 52 - Amne Farias -S 56 - Marcelino Li obre o amor de sua vida! ma - Quando a R osa faz pães ENSAIO 58 - Goldemberg Fonseca

Edição/Programação Visual: Osni Dias MTb21.511 Editorial, revisão e copy: Ana Melo A Kalango trabalha com Jornalismo Colaborativo. Seus repórteres, colunistas, fotógrafos, artistas, poetas, ilustradores e articulistas cedem seus trabalhos por paixão e com profissionalismo. A publicação não tem vínculos políticos, econômicos nem religiosos e aceita contribuições. Você pode ler a Kalango online ou fazer download e ler em seu computador.


WEBERSON SANTIAGO

http://arteverbal.tumblr.com/ .projeto. de. thiago. cervan.

http://webersonsantiago.carbonmade.com/


Colunistas ~ ~ , Macarrao, camarao, , caramujo Por Paulo Netho*

S

e você puder, brinque, ao menos uma vez, de falar com pressa sem tropeçar. Garanto uma coisa: o riso vai rolar solto. Caso não seja do tipo chegado às coisas nonsenses, vou compreender perfeitamente a sua opção. Cada um escolhe para a sua vida o que bem quiser. Agora, se ainda não me conhece, já vou dizendo que adoro os trava-línguas, até escrevi um livro (O Pinto Pelado no Reino dos Trava-línguas) onde costurei uma história, todinha, a partir deles. Pois bem, deixemos de lero-lero e vamos ao que interessa, tente dizer “Macarrão, camarão, caramujo” bem rapidamente e verá que o treco dá um nó no juízo da gente. Um nó que desata outros nós, que nos acessa ao terreno fértil das coisas espirituosas. Esse jogo linguístico nos trata, nos eleva, nos desvia das coisas que não merecem sequer um dedo da nossa atenção.

Calam na gente o que não tem razão de ser. E nesse jogo nonsense, mais do que o desafio de falar com pressa sons embaraçosos, o que realmente conta são os laços amorosos e harmoniosos e sutis que vamos experimentando com nós mesmos e com os outros. * Paulo Netho é poeta, escritor e “um encantador de pessoas”. http://caradepavio.wordpress.com/

identifique-se! Por Delta9*

A

identidade é o resultado de um processo de relativização psicoicono gráficossociotranscendente envolvendo estrangeirismos barbarizantes em idiomas psdeudocompreendidos sintetizados em expressões monossilábicas tipificadas alheias a tipologias tipográficas. Tipo: “ié-ié”, “urrú”. Identificar-se implica numa não excludência referencial aos anamorfismos tradicionalistas pluriconceituais que remetem à ancestralidade de uma radicação étnica insuspeita e não documentada pelos parâmetros deterministas do estruturalismo fenomenológico. Permutar “e daí?” por “tô nem aí!”. Síntese geradora imperativa: FODA-SE! Mas o bonde não é do tigrão. Capotou e matou cinco. Será que é inglês? Mas quem é você? Para onde você vai? De onde você veio? O quê você está fazendo... aqui, ali, em qualquer lugar? Wilfred Bion disse que o indivíduo passa a vida toda buscando regressar ao ambiente ideal o “continente de angústia não aniquiladora”. O “Nirvana”. E para ele isso começa no útero. Para ele e toda a milenar cultura

indiana. Qual é o nosso útero social? Em que momento histórico ele se encontra? Em qual parte da anatomia planetária e geográfica? Minha espaçonave está ancorada próxima a um lugar onde vivem índios. Eles plantam mandioca. Mas usam ipods, netbooks, HDTV, wireless. E falam pelo menos três idiomas: o DELES e dois estrangeiros: português e espanhol. Atrevem-se no inglês, francês, alemão, coreano e algumas palavras fundamentais em mandarim e cantonês (coisas de fronteira). Estão morrendo. Útero social seco. Histerectomia arqueo-cultural promovida por superalienígenas escatofílicos interessados em suas terras. Como a maconha, eles cometeram o crime de terem nascido. E, como eles, desidentificamo-nos, pagando o penhor dessa igualdade, conquistada a braço forte dos filhos deste solo, óh mãe gentil. * Delta9 é extraterrestre, publicitário e atua no Judiciário. http://www.undiverso.blogspot.com/


Educar para ~ a celebraçao da vida e da Terra Por Leonardo Boff* Dada a crise generalizada que vivemos atualmente, toda e qualquer educação deve incluir o cuidado para com tudo o que existe e vive. Sem o cuidado, não garantiremos uma sustentabilidade que permita o planeta manter sua vitalidade, os ecossistemas, seu equilíbrio e a nossa civilização, seu futuro. Somos educados para o pensamento crítico e criativo, visando uma profissão e um bom nivel de vida, mas nos olvidamos de educar para a responsabilidade e o cuidado para com o futuro comum da Terra e da Humanidade. Uma educação que não incluir o cuidado se mostra alienada e até irresponsável. Os analistas mais sérios da pegada ecológica da Terra nos advertem que se não cuidarmos, podemos conhecer catástrofes piores do que aquelas vividas em 2011 no Brasil e no Japão. Para se garantir, a Terra poderá, talvez, ter que reduzir sua biosfera, eliminando espécies e milhões de seres humanos. Entre tantas excelências, próprias do conceito do cuidado, quero enfatizar duas que interessam à nova educação: a integração do globo terrestre em nosso imaginário cotidiano e o encantamento

pelo mistério da existência. Quando contemplamos o planeta Terra a partir do espaço exterior, surge em nós um sentimento de reverência diante de nossa única Casa Comum. Somos insepráveis da Terra, formamos um todo com ela. Sentimos que devemos amá-la e cuidá-la para que nos possa oferecer tudo o que precisamos para continuar a viver. A segunda excelência do cuidado como atitude ética e forma de amor é o encantamento que irrompe em nós pela emergência mais espetacular e bela que jamais existiu no mundo que é o milagre, melhor, o mistério da existência de cada pessoa humana individual. Os sistemas, as instituições, as ciências, as técnicas e as escolas não possuem o que cada pessoa humana possui: consciência, amorosidade, cuidado, criatividade, solidariedade, compaixão e sentimento de pertença a um Todo maior que nos sustenta e anima, realidades que constituem o nosso Profundo. Seguramente não somos o centro do universo. Mas somos aqueles

seres, portadores de consciência e de inteligência. pelos quais o próprio Universo se pensa, se conscientiza e se vê a si mesmo em sua esplêndida complexidade e beleza. Somos o universo e a Terra que chegaram a sentir, a pensar, a amar e a venerar. Essa é nossa dignidade que deve ser interiorizada e que deve imbuir cada pessoa da nova era planetária. Devemos nos sentir orgulhosos de poder desempenhar essa missão para a Terra e para todo o universo. Somente cumprimos com esta missão se cuidarmos de nós mesmos, dos outros e de cada ser que aqui habita. Talvez poucos expressaram melhor estes nobres sentimentos do que o exímio músico e também poeta Pablo Casals. Num discurso na ONU nos idos dos anos 80 dirigia-se à Assembléia Geral pensando nas crianças como o futuro da nova humanidade. Essa mensagem vale também para todos nós, os adultos. Dizia ele: A criança precisa saber que ela própria é um milagre, saber, que desde o início do mundo, jamais houve uma criança igual a ela e que, em todo o futuro, jamais aparecerá outra criança como ela. Cada criança é algo único, do início ao final dos tempos. E assim a criança assume uma responsabilidade ao confessar: é verdade, sou um milagre. Sou um milagre do mesmo modo que uma árvore é um milagre. E sendo um milagre, poderia eu fazer o mal? Não. Pois sou um milagre.

Posso dizer Deus ou a Natureza, ou DeusNatureza. Pouco importa. O que importa é que eu sou um milagre feito por Deus e feito pela Natureza. Poderia eu matar alguém? Não. Não posso. Ou então, um outro ser humano que também é um milagre como eu, poderia ele me matar? Acredito que o que estou dizendo às crianças, pode ajudar a fazer surgir um outro modo de pensar o mundo e a vida. O mundo de hoje é mau; sim, é um mundo mau. E o mundo é mau porque não falamos assim às crianças do jeito que estou falando agora e do jeito que elas precisam que lhes falemos. Então o mundo não terá mais razões para ser mau. Aqui se revela grande realismo: cada realidade, especialmente, a humana é única e preciosa mas, ao mesmo tempo, vivemos num mundo conflitivo, contraditório e com aspectos terrificantes. Mesmo assim, há que se confiar na força da semente. Ela é cheia de vida. Cada criança que nasce é uma semente de um mundo que pode ser melhor. Por isso, vale ter esperança. Um paciente de um hospital psiquiátricoque visitei, escreveu, em pirografia, numa tabuleta que ma deu de presente:”Sempre que nasce uma criança é sinal de que Deus ainda acredita no ser humano”. Nada mais é necessário dizer, pois nestas palavras se encerra todo o sentido de nossa esperança face aos males e às tragédias deste mundo. www.leonardoboff.com.br Publicado no site Carta Maior http://migre.me/5IijB


O Eu nos outros pela mídia Por Fábio Sanchez*

V

ale uma fortuna a resposta à seguinte pergunta: como fazer o leitor se identificar com um texto, ou, melhor, com uma reportagem? Editores, publicitários, lingüistas, todos querem saber o que vai permitir conduzir o leitor pelas idéias de quem construiu a notícia. O trabalho de identificar essas manifestações subjetivas no ato de consumir jornalismo não é fácil, porque se pensa imediatamente em reações coletivas movidas por sensações íntimas evidentemente individuais. Mas a academia já mapeou algumas dessas reações. Vamos a duas delas, que ajudam a entender como se dá a identificação do consumidor de jornalismo com o conteúdo que ele recebe. Uma delas, muito interessante, é o “efeito terceira pessoa”, hipótese levantada pelo teórico W. Phillips Davison,

na década de 80, e já estudada largamente naquele país, principalmente no ambiente publicitário. Esta interessante teoria diz que, ao tomar contato com uma mensagem com evidentes objetivos persuasivos (uma campanha publicitária governamental, uma propaganda eleitoral ou uma mensagem qualquer de alguma instituição militante), o receptor tende a achar que os demais sempre serão mais influenciados por aquela notícia do que ele próprio. O leitor, portanto, pela teoria, sempre se projeta como mais inteligente do que os demais. E há ainda o efeito terceira-pessoa invertido, ou seja, quando a mensagem é considerada simpática pelo receptor (limpeza do rio, campanha do agasalho, etc.), o receptor tende a achar que ele será muito mais sensível a isso do que os demais. Um interessante caso de narcisismo

mediado pela imprensa. Outra reação interessante vai mais no sentido da apatia, ou no oposto da identificação, mas que também vale como lição para quem persegue a atenção do consumidor de jornalismo. Trata-se do “efeito fariseu”, apontado por Antônio Flávio Pierucci, um dos maiores estudiosos da questão religiosa no país, como atuante na eleição presidencial do ano passado. O efeito fariseu é um fenômeno que se resume na rejeição aos políticos que, em campanha, exagerem a dose ao se referir à questão religiosa. Para Pierucci, a mão moralista da campanha tucana no ano passado pesou sobre o resultado, porque os eleitores teriam visto esse exagero. Não é segredo que, quando lemos qualquer coisa, convocamos emoções. E que não são as mesmas emoções. Alguém rirá mais do que nós, ou ficará mais irritado, ou quem sabe menos disposto a ler até o fim a matéria que lemos e relemos com alegria.

Há, portanto, muito de nós e pode-se dizer, com o teórico da comunicação Jesús MartinBarbero, que a verdadeira essência da comunicação, a veia aberta do jornalismo, não acontece nos chamados meios e nos esquemas positivistas que vigoram na maior parte das faculdades de jornalismo desde o pós-guerra, focados nos canais de comunicação (esqueminhas como “emissor”, “destinatário” etc). O jornalismo está mesmo na interação do receptor com o conteúdo que ele vê, ouve ou lê. Uma experiência pessoal e coletiva que a academia está apenas começando a mapear. * Fábio Sanchez é jornalista com especialização em Divulgação Científica (Unicamp) e Telejornalismo (USP/TV Globo).


´

^

Quem e voce

na Internet?

No Facebook, todo mundo é bonito e cheio de amigos. No Linkedin, todo mundo é bem sucedido. No Twitter todo mundo é engraçado ou resmungão. E no Flickr tudo é lindo!

Por Jean Takada*

E

m 1964, quando o educador canadense Marshall MacLuhan defendeu o conceito da aldeia global no livro Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem, foi considerado por muitos um autor de obras de ficção. Dizer, no início dos anos 60, que em um futuro não muito distante “uma rede mundial de ordenadores tornaria acessível, em alguns minutos, todo o tipo de informação do mundo inteiro” era coisa de maluco. Em 1991, surgiu a internet e os meios de comunicação prenderam a respiração. Pouco depois, vieram as redes sociais on line e o rumo da internet tomou novos caminhos. E é nesse campo que o Brasil se destaca. Dos 700 milhões de usuários do Facebook no mundo 30 milhões são brasileiros. No Orkut são 50 milhões. Este ano, o jornal americado The New York Times

elegeu o comediante brasileiro Rafinha Bastos a personalidade mais influente do Twitter porque seu nome é o mais citado. É tanta gente postando, compartilhando e tuitando informação nas redes sociais que chama atenção a facilidade com que as pessoas criam identidades diferentes dependendo da rede social que está usando. O jornalista e professor Cláudio Tognolli (3.443 amigos no Facebook e 6.952 seguidores no Twitter), autor de A Sociedade dos Chavões, é um exemplo disso. “No Twitter só escrevo merda!”, revelou. Já no Facebook mantém uma linha mais científica. “Outro dia fiz um teste postando uma reflexão filosófica e consegui apenas quatorze “curti”. Algumas horas mais tarde compartilhei uma piada fútil e conquistei nada menos que 70 comentários. Nas redes sociais

ninguém quer saber de conceito”, concluiu. Para a antropóloga Lilian de Lucca Torres, autora do livro Na Metrópole Urbana - Textos de Antropologia Urbana, criar identidades não é nenhuma novidade. Segundo ela, isso é uma especialidade do homem há muito tempo. “Produzimos diversas identidades ao longo de nossa vida”, afirmou. “Você tem uma identidade familiar, outra profissional, lida diferente com amigos e por ai vai”, reforçou. “É supernormal!”. Em 1959 o sociólogo canadense Erving Goffman já defendia o que Lilian citou. Em seu livro A Representação do Eu na Vida Cotidiana, escreveu que a sociedade pode ser comparada a uma peça de teatro: “Um indivíduo é o ator e representa papéis de acordo com o momento, com o público, e com o cenário em que está”. On line ou off line , desencane e seja quem você quiser. Só não vá se esquecer de que você é humano! • Jean Takada é designer, ilustrador, fotógrafo amador e estudante de jornalismo nas FIAM, Faculdades Integradas Alcântara Machado (Tem Facebook, Twitter e um Flickr lindo!

Leia mais: Marshall MacLuhan: http:// www.marshallmcluhan.com/ Cláudio Tognolli: http:// en.wikipedia.org/wiki/Claudio_ Tognolli Lilian de Lucca Torres: Na Metrópole Urbana - Textos de Antropologia Urbana: http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid =S0034-77011997000200009 Erving Goffman: http://translate.google. com.br/translate?hl=ptBR&langpair=en|pt&u=http:// www.clockwatching. net/~jimmy/eng101/articles/ goffman_intro.pdf Redes sociais e identidade: http://tecnologia.terra.com. br/interna/0,,OI2988818EI4802,00-Redes+sociais+pode m+causar+crise+de+identidade +diz+psiquiatra.html http://revistas.ucg.br/index. php/fragmentos/article/ viewFile/1315/899 www.flickr.com/photos/jeantakada


Metamorfoses Por Ana Melo*

E

ntre os estudos sobre identidade talvez seja o conceito de “metamorfose” o que melhor define este fenômeno que, embora tenha a aparência de permanência e totalidade, constitui-se em um processo de transformações que ocorrem ao longo da vida dos indivíduos e nunca se encerra, nunca está pronto. Como já cantava nosso saudoso Raulzito, somos essa “metamorfose ambulante”. Para o psicólogo Antonio da Costa Ciampa, a identidade é uma

dinâmica que imprime pluralidade e mutabilidade à história de cada sujeito. Ainda que se apresente de forma estática em cada momento da existência, é contínuo movimento que se dá na relação entre igualdades e diferenças entre indivíduos e grupos sociais. A ideia de metamorfose é também defendida pelo psicanalista Jacques Lacan, para quem a constituição do sujeito ocorre em um constante vir-a-ser. O sujeito nunca é, está sempre sendo, se transformando. A psicologia define identidade como “a representação do indivíduo sobre si mesmo”, a “imagem de si”, os sentimentos reconhecidos como próprios de si ou o modo como o sujeito se apresenta aos outros. Há uma consciência de um “eu” que torna o sujeito único diante dos outros “eus” com os quais se relaciona, sendo o encontro um dado essencial à constituição da identidade. Por um lado, temos pontos de referência que não mudam nunca – como nome, relações de parentesco, nacionalidade – que permitem uma distinção no reconhecimento de si. Segundo o psicanalista Renato Mezan, esta é a sensação subjetiva de “eu sou eu”, de que “algo” subjaz em mim, unindo meus pensamentos

e emoções que habitam este corpo, e somente este corpo. Por outro lado, a identidade é um processo de articulações entre o “eu“ e o “outro“, o que denota que não é estática. A inter-relação entre a vida psíquica individual e o ambiente social aponta a importância da cultura na constituição do sujeito. Sendo os indivíduos seres relacionais, o saberse a si mesmo também é gerado intersubjetivamente. Os papéis sociais e os discursos produzidos no grupo determinam normas e comportamentos prescritos aos indivíduos em um dado contexto sócio-histórico. Assim, um imaginário coletivo constitui a percepção de cada indivíduo, levando-o a enxergar o mundo e a si próprio de uma dada maneira. Tal idéia é sustentada por Habermas, filósofo e sociólogo, quando afirma que o “eu” que aparentemente me foi dado em minha autoconsciência não me “pertence“. Eu não posso manter meu “eu” por mim mesmo, apoiando-me nas próprias forças. Ciampa defende ainda que o ser é constituído por vários “eus” que se interpenetram entre si: o indivíduo é ao mesmo tempo um e vários, manifestando em cada momento uma parte de si. Sou, assim, as várias personagens que represento. Ao mesmo tempo, ator e autor de minha história. Este “eu” que me convoca a uma constante re-posição de minha

singularidade é ainda desafiado pelo que a psicanálise postula como “inconsciente”. Reconheço sim uma parte de mim sobre a qual posso impor minhas vontades. Sei de minhas preferências e comportamentos mais previsíveis, sei para onde vou e o que quero. Mas o fato é que sempre há (e essa é a maior parte do iceberg, como postulou Freud e, mais tarde, Lacan) o não-inscrito, o impossível de ser simbolizado porque não dispõe de significantes, palavras ou imagens que possam representá-lo, o não-saber sobre si, o que não faz sentido, o que falta, ou o que se pode denominar como a incompletude do ser. A busca de significações deste “eu” inconsciente, com o qual convivo e que não conheço, é o desafio do processo psicanalítico. Trocando em miúdos, ninguém nasce sendo o que é. A identidade é processo psicossocial. É também pautada na subjetividade do sujeito, determinada por tramas inconscientes, afetos, identificações, recalques e outros processos que não dependem de “escolhas” ou de nossa própria vontade. Neste caso caberia perguntar onde se inserem a autonomia e a liberdade do ator social. Complexo? Sim. A reflexão sobre identidade nos convida a questionar o que é e como se processa a singularidade humana. * Jornalista, psicóloga, é Mestre em História pela UFGD.


Um senhor chamado

Marcelo

Por Claudinei Nakasone*

A

os 40 anos, José Marcelo Correia – Jota para os amigos de Sampa e Tchello para os do interior, onde foi criado – vê a idade como uma fase de passagem, reflexão e alegria a ser comemorada num boteco qualquer. “Crise? Chuta que é macumba, aqui não tem vez, quando se anuncia, ando horas e horas conversando comigo, aí passa”, diz com um sorriso no canto esquerdo da boca. Tchello é um cara tranquilo, acredita em números, espiritualidade, santos e orações, gosta de rezar o Pai Nosso e a Ave Maria, é muito querido por todos, sempre com uma palavra amiga e um sorriso a oferecer, incapaz de fazer mal a alguém, inseto, animal ou pessoa. Amante da boa literatura, aprecia Fernando Pessoa, Gabriel Garcia Marquez, Carlos Drumond de Andrade, Adélia Prado, Oscar Wilde, Shakespeare. É fã de Nelson Rodrigues, Jung e Freud. Não perde uma exposição em São Paulo, gosta particularmente da fotografia e de Pierre Verger e frequenta as

melhores salas de cine cult de sampa, principalmente na rua Augusta. Está solteiro, mas a porta está sempre aberta. Ainda não encontrou quem a escancarasse ou topasse a vida na noite. Tchello divulga casas noturnas e alegra festas como a divertida Mylanta Plus, que foi criando aos poucos, até ganhar o corpo que tem hoje, suas feições e trejeitos. O nome quem deu foi o grande amigo DJ Mauro Borges. Nunca sofreu agressão nos meios onde trabalha ou nas ruas. Às vezes, quando não há tempo para se trocar em uma sala ou camarim de “boite”, ele se “monta” em casa e aproveita para colocar em dia as informações com o taxista “eles são muito informados, ouvem o rádio o dia todo”. A idéia de fazer a Mylanta veio da observação de outras “drags” que trabalham em São Paulo, todas são exuberantes, lindas, tem um corpão, algumas já possuem seios de verdade, passam uma energia, uma alegria de dar inveja, mas parece que todas pararam no tempo, que não envelhecem e por mais que se cuidem, pescoço e mãos dizem a idade. Assim, a personagem aos poucos foi sendo

modelada pelo ator que há dentro dele, uma pesquisa minuciosa para a voz e os gestos, o andar, o jeito de chegar e falar com as pessoas. “São mais de dez anos fazendo a Mylanta, esta senhorinha simpática. Nossa amizade e cumplicidade são grandes, conto tudo a ela, tem dias que ela fala pelas tabelas, tem dias que está em absoluto silêncio, mas quando resolvo conversar com ela podemos ficar horas num bate papo gostoso... ela me ouve – grande amiga essa mulher”, diz ele. Como os atores da Commédia Dell’Arte, que faziam ao longo da vida o mesmo personagem, tornando-se um virtuose em cena, Tchello vê Mylanta como criação que a cada dia envelhece, se transforma, até as pernas não mais agüentarem. Porém há cadeiras de rodas, muletas, seja o que for. “Sempre será possível fazer a Mylanta. Quem a conhece melhor do que eu, dormiu com ela, chorou com ela, fez compras no supermercado, escovou os dentes, tomou banho, sentiu a brisa do mar, colocou os seus sapatos, ajeitou a sua peruca e os seus óculos? Eu, com todos os defeitos e qualidades”. Obrigado, Tchello, por alegrar minha vida e de minha família, que tanto te ama e respeita. O mundo precisa de muitas Mylantas. *Claudinei é fotógrafo e professor do Centro Universitário Belas Artes (SP).


“Crise? Chuta que é macumba, aqui não tem vez, quando se anuncia, ando horas e horas conversando comigo, aí passa”


O SONHO DE

MILANTA PLUS Texto e fotos Claudinei Nakasone


E

sta é Milanta Plus, a primeira drag queen idosa do Brasil. Trabalha em festas de aniversário, alegrando principalmente pessoas que comemoram seus 50, 60, 70, 80, 90 e 100 anos com orgulho. Mas nada de preconceitos. Vai onde a chamarem, bodas de prata, de ouro, despedida de solteiros, festa de crianças. Milanta tem a saúde em dia. Orgulhosa dos seus 70 anos, faz caminhada pela manhã, não toma remédios, tem ótima pressão arterial, não tem diabetes, embora se controle no açúcar e na carne vermelha. Seu único vício é umas “biritas” aos fins de semana, mas nunca passa de duas caipirinhas no almoço, com limão, maracujá ou kiwi, esta última sua preferida, que toma sem açucar, com 9 gotas e meia de adoçante. Vaidosa, gosta de um bom “tailleur” de corte impecável, busca discrição nas cores, ama vestidos de bolinhas ou “pois”, usa salto baixo para não prejudicar a coluna, faz sua própria maquiagem, tinge a peruca de cabelos naturais que comprou nos EUA e sai de casa para o trabalho “montada”. Todos no seu prédio a conhecem e a amam. Ninguém sabe onde nasceu, o nome dos pais, se tem irmãos, filhos, sobrinhos - seu passado é um mistério.

Teve muitos namorados, foi casada e fiel por mais de 25 anos com Miguel, que a deixou viúva, com a herança dos bons momentos vividos e das viagens na Europa, EUA e no Brasil. Milanta cozinha divinamente para os amigos nos fins de semana. Gosta de receber com simplicidade, mas não abre mão de guardanapos de algodão puro. Já idosa, tentou a vida em Hollywoody, como atriz, mas acabou voltando para o Brasil. Nos áureos tempos de juventude posou seminua para uma revista brasileira, ganhou muito dinheiro e economizou para comprar um pequeno apartamento no bairro Bela Vista, em São Paulo. Não abriu mão de posar para as

lentes do fotógrafo na cozinha do apartamento alugado que dividia com Miguel, seu lugar preferido. Católica fervorosa, pediu para ser fotografada rezando para Madonna – santa e diva. O texto da revista à época dizia que certo ar de mistério tomou conta da cozinha da “drag”, as luzes começaram a piscar e um clima de paz envolveu o cenário. Milanta não pensa em se aposentar, gosta do que faz, sua agenda é muito concorrida. Diz que jamais faria uma plástica, crê que a força da sua jovialidade e saúde vem da alegria de viver, da assistência que dá em alguns hospitais alegrando os enfermos e de sua crença em Deus. Nas horas vagas – raríssimas – cuida do Marcelo.





F

estival de Inverno no do Centro de Convenções Victor Brecheret, em Atibaia (SP). Um Tributo aos anos 80. O que perguntar aos músicos convidados? A Kalango decidiu postar o desafio na rede social e recebeu pistas por onde começar dos professores Orivaldo Biagi (FAAT), William Araújo (UMC), do também músico Fernando Dagata (MS) e do extraterrestre e publicitário Delta9 Enea, colunista desta publicação. Como imaginar o Rock em uma década que fora denominada como perdida? Qual deles teria a coragem de decretar a morte do Rock depois de uma análise sincera deste gênero, considerando, sobretudo, a tecnologização dos sons em variadas misturas musicais de tons e gêneros? E como anda a “famosa” discoteca de Kid Vinil? O rock nacional dos anos 80 foi de fato um movimento cultural? Como foi para estes músicos fazerem tanto sucesso ainda jovens? Por que não montam juntos um programa de rádio ao vivo, com auditório? E, finalmente, “qual é o rock que o pariu”? Essas foram algumas das questões levantadas no bate papo com os músicos Kid Vinil, Marcos Valadão Rodolfo (Nasi), Rinaldo Oliveira Amaral (Mingau), do Ultrage a Rigor, e Willie Oliveira, do Rádio Taxi. O texto a seguir é uma síntese da conversa nos bastidores do show, com imagens cedidas pelo jornalista Jader Miguel Marques Filho.

Um tributo aos anos 80 Por Osni Dias*

Leopoldo Rey: jornalista que acompanhou de perto o movimento dos ‘80 foi o anfitrião do espetáculo em Atibaia


Kid Vinil – Tanto aqui como lá fora, as melhores coisas apareceram na década de 80. Eu que conheço rock pra caralho, posso falar do assunto. Eu não desprezo os anos 60, os 70, mas olha, não teve só a New Wave, teve o Punk, que até hoje é um dos movimentos mais influentes na música, teve o auge do Reggae, a mistura do Reagge com o Punk, o começo do Hip-Hop, o Rap, o revival do rockabilly com Stray Cats, o começo da música eletrônica, o Tecnopop... Agora, chamar a década de 80 de década perdida? Me desculpe, não foi uma década perdida. Década perdida é essa de hoje. O sertanejo universitário, essa merda de axé, tudo isso que foi para a FM – que antes era uma coisa de AM – destruiu a música brasileira, o rock e qualquer outra coisa. No exterior não, o rock continua independente. O indie rock é um sucesso, tem muita gente boa lá fora. Aqui, infelizmente, as pessoas boas não aparecem na mídia, só aparece música pra criançada porque é o que dá dinheiro. Então é banda de rock tocando sertanejo, destruíram a música brasileira, é isso o que eles fizeram. Eu

gostaria de ouvir Zeca Baleiro no rádio, Lenine, essas coisas que prestam, não essas merdas que estão aí... Mingau – A gente ta aí, velho, focado na música, pra não deixar essa morte acontecer. Tudo teve a sua época, eu também tive a minha época de hardcore. Toquei com Legião Urbana por alguns meses, em 89. O sucesso veio quando ainda era jovem. A gente faturou muito, eu tocava também no Ratos de Porão e não almejava o sucesso, não tinha essa coisa como hoje em dia, eu jamais esperava viver de música. Quando vi já estava dentro. Willie Oliveira – Não posso falar sobre a morte do rock, o rock é eterno. Você viu na apresentação que fizemos, o encontro de gerações? Foi uma época que marcou muito (anos 80), muitas mudanças e muitas coisas boas surgiram. Nunca vou pensar nisso. Pra mim o rock teve uma continuidade, porque fiz parte do Tutti Fruti, com a Rita Lee. Depois surgiu o Rádio Taxi, que faço até hoje. Nasi – Eu só decretaria a morte do rock porque, todas as vezes que tentaram, ele só renasceu. E foram várias, talvez esteja na hora. Toda vez que eu vejo algumas bandas novas que fazem sucesso na grande mídia dá vontade de falar “isso não é rock”. É lógico que eu respeito os artistas, mas não dá pra dizer que morreu. O jovem de hoje não tem a mesma pica daquela geração, é isso.

Nova geração

A morte do rock

Kid Vinil – O jovem era mais inteligente, mais envolvido com as coisas. Hoje a Internet por um lado é boa, mas por outro atrapalha, porque essa criançada não tem noção nenhuma do que é música e vai em qualquer onda, isso que estragou. Antes se lia mais jornal, revista. Vai perguntar pra um babaca de hoje se ele lê Fernando Pessoa, Baudelaire, se ele sabe o que é a beat generation. Então se o cara vier falar comigo e não souber o que é música, eu sinto muito. Mingau – Eu fui um privilegiado, nunca pensei que fosse ouvir Ramones aqui no Brasil, isso mudou minha vida. Trazia-se muita coisa de fora, música pra mim é a minha vida, eu amo o que faço.

Kid Vinil é músico, jornalista e radialista. Na década de 70 fez parte do grupo Magazine. Também apresentou e produziu programas de rádio na 89FM e Brasil 2000 e o programa “Lado B”, na MTV. Foi diretor artístico internacional das gravadoras Eldorado e Trama. Escreveu o livro “Almanaque do Rock” (2008), publicado pela editora Ediouro. Kid Vinil escreve sua coluna Radar às quartas-feiras, no Yahoo. http://colunistas.yahoo.net/colunistas/2/index.html

Nasi é um dos criadores da banda Ira! Formada em 1981, na cidade de São Paulo. O nome é inspirado no Exército Republicano Irlandês (Irish Republican Army). Desde de 2008 apresenta o programa 90 minutos na rádio Kiss fm. O programa fala sobre Futebol e Rock’N Roll. Recentemente, lançou o CD/ LP/DVD Vivo na Cena, mixado pelo produtor americano Roy Cicala. http://nasioficial.uol.com.br/vivonacena/

Topariam fazer um programa ao vivo na Internet? Nasi – Claro que sim, eu toparia, demorou, acho que a Internet é viável. Tenho um site muito bem montado, o que tem na rede social é fake, não sou contra, acredito em divindades que me protegem, em um poder superior. Ouço Kiss FM, ouço pouco rock, Eddie, Fred Zero4, jazz, músicas folclóricas do mundo inteiro. Sou mais eclético do que parece. Willie – Acho uma grande sacada, reunir todos é complicado, a gente atua com músicos como o Claudio Zolli e o Jorge Israel, que não estão aqui hoje. Fazer um programa com todos acho difícil, mas é só me convidar. Kid Vinil – Interessante. O problema é o tempo e a disposição de cada um, que tem atividades paralelas. A gente só consegue juntar essa galera em shows.

Mingau é figura carimbada no meio underground. Aprendeu a tocar baixo sozinho, aos 13 anos de idade, inspirado por bandas como The Clash. Aos 15 já fazia parte do Ratos de Porão, com o qual gravou três discos. Fez parte também dos Inocentes e do 365, gravando dois discos em cada banda. Além disso, gravou com Dinho Ouro Preto no Vertigo e em seu disco solo e acompanhou Edgard Scandurra na turnê do álbum Benzina. http://www.bandavega.com.br/NEW/bio.php

Willie, aos 16 anos, era vocalista do Phobus (banda de bailes dos anos70) e, sob os arranjos do maestro Eduardo Assad (produtor, arranjador e compositor), passou a acompanhar o cantor Terry Winter. A convite de Sérgio Della Mônica, passou a integrar o Tutti Frutti, acompanhando Rita Lee, grupo que faz parte do lendário mundo do rock and roll dos anos 70, junto com Mutantes, Terço, Made in Brazil, Bolha, Bixo da Seda, entre outros. Nos 80, foi para o Rádio Taxi. http://www.williedeoliveira.com.br/biografia.html





Qual o rock que te pariu? A Kalango quer saber. Qual a canção ou o grupo que iniciou nossos entrevistados no mundo do rock? As respostas estão abaixo.

Kid Vinil – Pra mim foi desde criança Elvis, por meio de uma tia, Beatles e Rolling Stones, através do meu irmão. Acho que primeiro de tudo Elvis. Sobre minha discoteca? Saiu uma matéria na Revista Construir com minha casa e fotos dela. Continuo comprando coisas lá fora, vinil pra caralho, pelo e-Bay direto. Acabei de comprar uma caixa de vinil do Tom Zé, que saiu pela Luaka Bop, lá fora. Acima, o primiero disco adquirido pelo Kid Vinil.

Willie – Foi a Rita Lee, a Ovelha Negra que me despertou, foi uma surpresa quando fui apresentado à Rita. Imagina o que é você ter um ídolo e é apresentado a ele... E pergunta se quer tocar com ele... Algo que me marcou muito foi a letra “levava uma vida sossegada, gostava de sombra e água fresca”...

Nasi – Suzi Quatro foi sua grande inspiração, com 48 Crash.

Mingau – As influências são a banda The Clash e o guitarrista Jimi Hendrix.

O Rock Que O Pariu! 1985 Pesquisa realizada por Delta9 Enea, colunista da Kalango. Em seu blog, retrata o rock dos anos 80 e as músicas que marcarm época. O texto começa assim: “O ano de 1985 foi marcante na história política do Brasil. A história social, ao meu ver, continua inalterada... Mas, como essa foda é de outro nível (e boa só para alguns), vamos à outra: o rock. Quer saber mais? Clique aqui: http://undiverso.blogspot.com/2010/08/o-rockque-o-pariu-1985.html


Aumenta consumo de cervejas especiais no país Nos últimos anos aumentou a procura dos brasileiros pelas chamadas “cervejas gourmet”. As microcervejarias já representam 4,5% do faturamento do setor e surgem novas fábricas, sejam elas pequenas, médias ou artesanais.

Por Luís Pires*

O

Brasil possui cerca de 100 fábricas que produzem atualmente aproximadamente 11 bilhões de litros de cerveja por ano e geram um faturamento de R$ 31 bilhões. Este mercado teve um crescimento de aproximadamente 30% nos últimos cinco anos, elevando o consumo per capita para 57 litros, o nono do mundo (liderado pelo da República Tcheca, com 158 litros per capita). Há vários estilos de cervejas, porém a mais consumida no mundo (e também no Brasil) é a Pilsen, tipo Lager, de baixa fermentação, um pouco amarga e de coloração dourada. A este grupo pertencem as mais conhecidas do país, como Brahma, Skol, Antarctica e outras, servidas “estupidamente geladas”, como apregoam as peças publicitárias.

Nos últimos anos, porém, tem aumentado a procura no país pelas cervejas especiais com apelo gourmet, que praticamente dobrou nos últimos cinco anos. O crescimento médio de 15% ao ano fez com que a produção de microcervejarias, responsáveis pela produção desse tipo de cerveja, já represente 4,5% do faturamento do setor. Credita-se o motivo desse fenômeno é nosso favorável cenário econômico. A melhoria da renda familiar permitiu ao consumidor brasileiro o “luxo” de consumir cervejas especiais, mais caras que as encontradas em qualquer boteco. Só para se ter uma idéia, uma cervejaria de Belo Horizonte acabou de lançar uma cerveja frutada, feita com jabuticaba. A bebida passa por quatro anos em maturação e 60% do volume produzido é descartado. De gosto adocicado, a preciosidade chegará às melhores casas do ramo com um preço salgado: cerca de R$ 200 a garrafa.

Uma bebida com muita história H

á evidências de que os sumérios originaram a prática da cervejaria há mais de cinco mil anos, na Mesopotâmia. Documentos históricos mostram que em 2100 a.C. o povo daquela região já se alegrava com uma bebida fermentada, obtida de cereais. Cerca de 40% da produção de grãos era destinada às chamadas “casas de cervejas”, mantidas por mulheres. Em seguida os egípcios aprenderam os métodos de produção e agregaram a bebida à sua dieta diária. A expansão definitiva se deu com o Império Romano. Júlio César era um grande admirador da bebida e a introduziu entre os britânicos, quando invadiu a Grã-Bretanha, em 55 a.C.. Foi pelos romanos que a cerveja também chegou à Gália (atual França), onde ganhou o nome latino pelo qual a conhecemos hoje: cerevisa, em homenagem a Ceres, deusa da agricultura e da fertilidade. Na idade média, a produção foi assumida pelos monges. Todo convento dispunha de um albergue e uma cervejaria, para acolher os peregrinos. Bem

diferente da cerveja produzida atualmente, a bebida era escura e forte. Muitas vezes substituía a água, então sujeita a contaminação, que causava doenças à população. Mas a base do produto era a mesma cevada fermentada. O monopólio na fabricação da cerveja continuou com as abadias até por volta do século XI, quando o aumento do consumo da bebida levou os artesãos das cidades a também produzi-la. As tabernas ou cervejarias se tornaram locais importantes onde muitos negócios eram fechados entre goles de cerveja. Com o aperfeiçoamento de novas técnicas de produção, o que bebemos hoje é uma agregação de todas as descobertas que possibilitaram o aprimoramento na produção de cerveja, que deverá atingir um consumo global de dois bilhões de hectolitros até 2013, segundo um dos mais importantes institutos de pesquisa, exclusivo da indústria mundial de bebidas, o Canadean. Bebemoremos! Luis Pires é jornalista, fotógrafo e edita o blog www.mundokino.wordpress.com


Laura Aidar

sarau do manolo

http://lauraaidar.carbonmade.com/ http://photolauraaidar.blogspot.com/


E

m 19 março, poetas, músicos e artistas de diversas áreas se reuniram para a realização do primeiro Sarau do Manolo, na Difusão Cultural, em Atibaia. A ideia do sarau nasceu de discussões no Cineclube entre Thiago Cervan e Vinny Souza, que chamaram os amigos para uma noite com poesia, música, fotografia e cinema, cuja proposta foi agrupar, compartilhar, somar, rir, fruir e fluir experiências estéticas. “Parafraseando Jorge Mautner, no sarau, cabe tudo e todos. E este é o espírito do Sarau do Manolo. Todos são bem-vindos. É só chegar”. Assim o grupo já conquistou muita gente e, em agosto, realizou uma experiência diferente, nas ruínas de um antigo cinema da estância, o Cine Itá. Nas páginas seguintes, algumas imagens da fotógrafa Laura Aidar, uma das madrinhas do Sarau. Quem quiser saber mais sobre o Sarau do Manolo, é só procurar o perfil no Facebook. Em 1º de Outubro tem mais. Só não vai quem já morreu. Fui!







O

ntem enquanto declamavam, me voltei para o público que pairava naquele lugar. Observando os casais, vi uma certa eternidade ali... O que afinal buscamos ? Afinal me digam: Onde está o grande amor da vida de cada um de nós? Olhem bem, cá estou novamente querendo negociar com paradoxos. Minha “cara”... esta tal intransigência temática . Enfim, naquele palco sem teto e sem nexo, apesar das grandes partituras da noite, cheguei à certas observações confusas. Nos vendem utopias, buscamos o infinito e diga lá, uma perfeição tristonha. Meninas, posso falar com certa veracidade acreditem, e isto bem que serve opostamente para os “meus” garotos que me decifram.

Sobre o amor da sua vida! Por Amne Faria*

http://amnenoteatrodepalavras.blogspot.com/

Tenho novas, velhas, para todos vocês: -Príncipes e princesas não existem! Deculpem-me, sinto mesmo informar . O cara mais legal do mundo provavelmente não será o mais popular, nem deve ser o bonitão da turma. Aqui preciso fazer certas observações, porque muitas vezes coisas nos vêem quase tarde demais. Talvez ele não dance tão bem, mas te fará rir ao ponto de pintar teu céu em segundos. Você sentirá calma em cada palavra dele, e ele não prometerá aquelas velhas ilusões perdidas. Ele será franco, doce e realista. Com uma certa simplicidade que só a verdade carrega. Ele surgirá há cada dia um pouco. Na primeira semana, é bem provável, que você nem sonhe ter uma vida ao lado

dele, simplesmente porque à vida vai acontecendo. Ela acontecerá em semanas, meses ou anos. Mas um dia se olharão e terão a certeza de uma escolha. Provavelmente ele abraçará cada sonho que você sonhar, mas é quase certo, que a grana será curta. Muito provável que ele não tenha cavalos brancos, nem compre Zara. Mas lhe trará um bombom, um livro ou aquele abraço que você tanta cativa. Talvez a flor não seja aquela da estação, mas vocês terão uma música, que também não estará em voga para ganhar o Grammy do ano! Ela gostará dos seus detalhes, mesmo aquele que você mais odeia. E se comprometerá em ficar acordado, frente à cada palavra que você teime em palavrear, apenas por se importar... É certo que passamos muito tempo tentando conquistar aquilo que nos vendem, mas entendam: Amor não é mercadoria. A plástica do amor nem sempre é perfeita. Sim, ainda falo das coisas esbrumelengas. Eu realmente não mudo, mas evolui um bocado. Porque quem ama faz acordos com a vida todos os dias. Eu queria apenas dizer uma frase e acabei prolixidades... Não se limite, apenas mude o olhar. Desenhe menos fantasias e deixe a vida se mostrar, acredite, já é o bastante. Um dia você abrirá os olhos e eis que muito provavelmente, com mãos bem menos lisas, você olhará para lado e eis que você verá bem ali, o grande o amor da tua vida! Atenção!


Por Marcelino Lima*

Quando Rosa faz pães Quando Rosa faz pães, toda a casa fica em festa, mergulhada num ambiente que libera no ar a expectativa de momentos inesquecíveis. Sussurrando, já de avental à cintura, informa-me assim que chego ao portão: – Hoje temos encomenda da padaria, tesouro! Junto ao tablado da cozinha, fico a espiar o vai-e-vem das ancas dela, enquanto, meticulosa, ela mistura os ingredientes numa grande bacia, e a massa, espichada, vai tomando as mais variadas formas. Depois, olhares em silêncio, untamos as formas, sem ligar para o excesso de manteiga que possa restar aderido ao vão dos dedos – afinal, ao final do trabalho, serão carinhosamente lambidos. Por fim, com o forno já devidamente aquecido, livrando-se do avental, anuncia: comeremos, juntinhos, o primeiro que assar. Na manhã seguinte, olhando a vitrine da padaria, por alguns minutos namoro cada um dos pães, fico me lembrando de tudo o que rolou enquanto assavam. – Este é dos bons, bendita é a mão que o prepara, chega um freguês e diz, com indisfarçável gula. Realizado com os elogios, saio fazendo figa, torcendo para aquela fornada logo acabar, rezando para que, ao final do dia, ela novamente anuncie junto ao portão: – Amor, temos outra encomenda! *Poema vencedor do 2º Festival de Poesia de Osasco promovido pelo grupo Rabo de Kalango * Marcelino Lima nasceu em Bela Vista do Paraíso, no Paraná. É jornalista formado pela PUC-SP, com pós-graduação em Teoria da Comunicação pela Cásper Líbero (SP).

Autorizado por PETA


Dançando no Teto Por Goldemberg Fonseca*

E

xistem coisas na vida que nos seguem tão de perto que fica impossível não observá-las. No caso, a vontade de fazer um retrato no alto do edifício Adelina Rigotti, em Dourados (MS). Mesmo tendo ido à Nova Iorque estudar fotografia e ter fotografado do alto de um prédio no Brooklyn, a vontade do tal retrato no alto do edifício aqui em Dourados não sumia. Mas nunca encontrava o personagem certo para essa ação. Sabia que tinha de ser alguém com um status real de importância popular ou a representação do mesmo. Passou por minha cabeça fazer foto do atual prefeito Murilo Zauith, por representar uma torre de comando da cidade que administra; veio também à cabeça qualquer outro artista popular, como os amigos da dupla João Bosco e Vinícius; mas felizmente lembrei de outro alguém que sempre quis fotografar lá em cima, inclusive para um projeto que um dia tive de fotografar grupos e pessoas relacionadas ao teatro. Rilvan Barbosa. Rilvan era o cara para tal. Não deu outra. Numa oportunidade que tivemos para discutirmos

um projeto de moda, o convidei a participar dessa loucura contínua e, como resposta, recebi um sinal positivo. No mesmo momento relembrei de quando eu, Paulinha e Sílvio Costa, numa tarde qualquer, fomos ao topo desse edifício para observarmos o belo pôr do sol que só nossa cidade pode proporcionar. Paulinha trabalhava numa agência de publicidade e em contato com o pessoal do prédio, conseguiu que fôssemos até lá. E lembro como se fosse hoje as palavras que disse a ela quando estávamos rumando ao local mais alto da cidade “Já imaginou fotografarmos o Rilvan travestido de Messalina Mescalina, como na peça* em que atuamos?”. Pois bem, foi o que fiz nesse fim de semana. E muito agradeço não ter acontecido antes, pelo fato de hoje me sentir mais preparado a fazer essas mesmas coisas com mais propriedade. Uma tarde se passou e belos retratos foram feitos no lugar mais alto da cidade, mas dessa vez sem um grande pôr do sol nos agraciando. *Na peça “Fuck You, Baby!” de autoria de Mário Bortollotto, Messalina Mescalina é uma dançarina que já tinha sido de tudo na vida, e na montagem em que participamos Rilvan Barbosa a representava como um travesti.

Mais em: http://pixelanalogico.wordpress.com/


Universidade de S達o Paulo





www.faat.com.br


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.