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Kalango #18 fevereiro 2014

Em meio ao Caos A Kalango dá um rolê no Rio

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O caos

por Nestor Lampros

www.nestorlampros.com.br

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http://www.flickr.com/photos/artes_de_nestor_lampros/


htpp:// caligrafiadoimpossivel.blogspot.com/

http://nestoriasemquadrinhos.blogspot.com/

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GPS (( LOCALIZE-SE ))

CAPA Cristo abre os braços e nos recebe na edição 18. A foto é de Luis Pires. Para uma definição de terrorismo - Leonardo Boff Cada ideia - Paulo Netho Nutrição na leitura - Sonia Mara Ruiz Brown Um sonho do homem: controlar a vida no caos - Orivaldo Biagi Tão quente que... - Mario Sérgio de Moraes BRISA: O caos - Delta9 CAPA / PALAVRA PhDs em Análise de Rolezinhos - Marcelo Rio A brisa vem das ruas e a tempestade também - Paulo Malvasi Todas as dores renovadas - William Araújo Apócrifo - Marco Milani A necessidade do Caos - Renato Barros Almeida maria joana - Thiago Cervan LETRA Giacomo - Flávia Helena Saguarabyrando - Marcelino Lima Cais - Renata Roquetti

ARTE - Perequê Marcelino Lima

IMAGEM: Robson Helton Num bater de asas - Mercedes Lorenzo Salão Duas Rodas - Guto Felipe ARTE Fumem! Bebam! Cheirem! Se entorpeçam! - Rubens Paschoal Rede-A - Por Sérgio Monteiro de Almeida Ameríndios de hoje, amanhã - Maurício Andrade SUSTENTABILIDADE Nem tudo está perdido Aline Eusébio ASTRONOMIA Cosmos está de volta! - Hemerson Brandão Revista Kalango. Edição #18. Fevereiro de 2014. Editor: Osni Dias MTb21.511. A Kalango trabalha de forma colaborativa com profissionais liberais, da academia e do jornalismo. Independente, a publicação não tem vínculos políticos, econômicos, nem religiosos. A Kalango está no ar desde 2010. Quer anunciar? Seja um patrocinador e ajude uma mídia independente. Escreva para osni@revistakalango.com.br ou redação@revistakalango.com.br

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PERFIL Mãos que transformam Osni Dias Empreender um sonho: só depende de você! Bruno Bertozo Sarau do Bata, pra quem é de prosa e de poesia Sônia Barreto Novaes


NESTOR LAMPROS

Editorial Kalango #18 Fevereiro 2014

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cais, o Caos, o Cosmos. De onde viemos, para onde vamos? As ruas estão tomadas e as tomadas, volta e meia, estão sem força. A culpa é da chuva que não vem, ou do índio, que não dança mais. Ou dança. Para saber por quem os sininhos dobram, batemos um papo sobre o Caos e Luis Pires sobrevoou o Rio de Janeiro, uma das sedes da Copa do Mundo de Futebol. Trazemos também palavras, letras, imagens, mas além de tudo, muita sensibilidade. Vamos falar sobre rolezinho, a brisa das ruas e a juventude, sobre nossos índios, Cazuza e Carl Sagan, que nos levou aos céus. Fazemos um trabalho colaborativo com o maior prazer. Uma coisa boa é que a Kalango está agora no endereço revistakalango.com.br. Lá você encontra as edições anteriores e descobre um pouco mais da nossa história, que em 2014 completa 4 anos de vida. Obrigado pela companhia e boa leitura!

VIAGEM Rio de Janeiro

Luis Pires sobrevoou a cidade do Rio de Janeiro e fez imagens que você nunca viu igual

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PALAVRA

Para uma definição do terrorismo Por Leonardo Boff*

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s manifestações massivas de junho/julho de 2013, em grande parte pacíficas e as outras havidas neste ano de 2014 que mostraram a atuação violenta dos black blocs que, mascarados, quebram agências de bancos, vitrines de lojas e depredam edifícios públicos, atacam violentamente policiais, culminando com a morte do cinegrafista Santiago Andrade, suscitaram o tema do terrorismo. É importante que se entenda que o terrorismo não é um fenômeno da guerra, mas da política. O terrorismo irrompe no seio de grupos insatisfeitos com os rumos da política do país ou da economia e que já não acreditam nas instituições, nem no diálogo e muito menos em mudanças sociais significativas. Pode até ocorrer que se opõem de tal maneira ao sistema mundial e nacional vigente, o capitalismo neoliberal, que investem contra seus símbolos, danificando-os. Ilusoriamente pensam que destruindo-os atingem o coração do sistema. Esse não se muda pela violência puntual mas por um processo histórico-político, por mais prolongado que seja. Tais grupos vem carregados de ressentimento, de amargura e de raiva. Dão vasão a este estado de ânimo através de ações destrutivas. Paradigmático foi o atentado terrorista de 11 de setembro de

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2001 contra os Estados Unidos. Num lapso de uma hora, os símbolos maiores da ordem capitalista no nível econômico as duas Torres Gêmeas em Nova Iorque, no nível militar o Pentágono e no nivel político a Casa Branca (o avião destinado a ela foi derrubado antes) foram diretamente golpeados. A partir de então se instalou o medo em todo o país. E o medo produz fantasmas que desestabilizam as pessoas e a ordem vigente. Assim, por exemplo, um árabe, em Nova York, pede uma informação a um policial e este o prende, imaginando ser um terrorista. Depois se verifica ser um simples cidadão inocente. Com frequência o Governo norte-americano, especialmente, sob o Presidente Bush, assustava a nação inteira, anunciando a iminência de atentados. Embora não tenham acontecido até agora, acabam alimentando a paranóia generalizada. Esta fenomenologia mostra a singularidade do terrorismo: a ocupação das mentes. Nas guerras e nas guerrilhas como na Colômbia precisa-se ocupar o espaço físico para efetivamente se impôr. Assim foi no Afeganistão e no Iraque. No terror não. Basta ocupar as mentes e ativar o imaginário através da ameaça de novos atentados e do medo que então se internaliza nas pessoas e nas instituições.

Os norte-americanos ocuparam fisicamente o Afeganistão dos talibãs e o Iraque de Saddan Hussein. Mas a Alqaeda que perpetrou os atentados, ocupou psicologicamente as mentes dos norte-americanos. Fizeram dos EUA uma nação refém do medo, do Governo ao simples cidadão. A profecia do autor intelectual dos atentados de 11 de setembro, o então ainda vivo Osama Bin Laden, feita no dia 8 de outubro de 2001, infelizmente, se realizou: “Os EUA nunca mais terão segurança, nunca mais terão paz”. Ocupar as mentes das pessoas, mantê-las desestabilizadas emocionalmente, obrigá-las a desconfiar de qualquer gestou ou de pessoas estranhas, eis o que o terrorismo almeja e nisso reside sua essência. Para alcançar seu objetivo de dominação das mentes, o terrorismo segue a seguinte estratégia: (1) os atos têm de ser espetaculares, caso contrário, não causam comoção generalizada; (2) os atos, apesar de odiados, devem provocar admiração pela sagacidade empregada; (3) os atos devem sugerir que foram minuciosamente preparados; (4) os atos devem ser imprevistos para darem a impressão de


serem incontroláveis; (5) os atos devem ficar no anonimato dos autores (usar máscaras) porque quanto mais suspeitos, maior o medo; (6) os atos devem provocar permanente medo; (7) os atos devem distorcer a percepção da realidade: qualquer coisa diferente pode configurar o terror. Basta ver alguém das comunidades pobres da periferia, ou os rolezinhos entrando nos shoppings e já se projeta a imagem de um assaltante potencial. Formalizemos uma compreensão suscinta do terrorismo: é toda violência espetacular, praticada com o propósito de ocupar as mentes com medo e pavor. O importante não é a violência em si, mas seu caráter espetacular, capaz de dominar as mentes de todos. Um dos efeitos mais lamentáveis do terrorismo foi ter suscitado o Estado terrorista como os EUA. Criou-se uma legislação que fere os direitos humanos, impõe vigilância sobre toda a população, criou o organismo de segurança nacional com altas verbas para sua implantação em todo o pais, projetou a “guerra infinita” contra o terrorismo em qualquer parte do mundo com a ameaça de utilização de qualquer tipo de arma, não excluidas as armas nucleares. E organizou uma rede de espionagem eletrônica global que tudo e a todos controla. Está em debate no Ministério da Justiça, nos órgãos de segurança do Estado e no Parlamento uma legislação visando tipificar os atos destrutivos dos black bocs de terrorismo. Sem dúvida, os atos obedecem à lógica terrorista mas não significa ainda um terrorismo arti-

culado e organizado. Há o risco, já advertido pelo Ministro da Justiça Eduardo Cardoso, de não instaurarmos o medo na sociedade que acaba inibindo as manifestações populares, legítimas no regime democrático. O próprio povo com medo acaba se retraindo e terá dificuldade em apoiar estas manifestações legítimas. Mais importante em saber quem cometeu e comete atos de terrorismo é saber o porquê se recorre a ele. Ai a importância do acompanhamento dos órgãos de informação, do diálogo aberto com todos os estratos da sociedade, especialmente, com aqueles mais penalizados pelo tipo de sociedade que temos, altamente desigual e discriminatória. Difundir mais e mais a educação e infundir confiança, amor às pessoas e cuidado de uns para com os outros como o disse, exemplarmente, a esposa do cinegrafista Sebastião Andrade e o enfatizou recentemente a ministra Maria do Rosário da Secretaria Nacional de Direitos Humanos num encontro na OAB do Rio a propósito da Comisão da Verdade. São caminhos de outro tipo de estratégia política, certamente mais eficazes que a pura e simples repressão policial que ataca os efeitos mas não atinge o coração do problema deste terrorismo ainda inicial. Veja, do autor, Fundamentalismo, terrorismo, religião e paz: Vozes, Petrópolis 2009.

Cada ideia*

* Leonardo Boff é teólogo, escritor e autor de Saber cuidar. Ética do humano, compaixão pela Terrra, Editora Vozes.

http://paulonetho. wordpress.com/

www.leonardoboff.wordpress.com

Por Paulo Netho** Cada ideia* A Giovana achou que podia inventar o amor, mas lhe disseram que o amor já fora inventado. - Coooooomo assim? Ficou pasma, passada sem saber o que fazer. Quem sabe se ela pudesse inventar outra coisa mais parecida com o amor. - Impossível, disse o homem. - Impossível, por quê? - É que o amor não aceita parentes. O amor, minha querida, é uma linda flor que nasce no interior das gentes. - O senhor tem cada ideia, hein! *poema publicado no nosso Bolinho de Chuva e outras miudezas

** Paulo Netho é poeta, escritor e um encantador de pessoas.

Neste blog tem só palavras de voar e conversas de mergulhar.

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Nutrição na leitura Por Sonia Mara Ruiz Brown*

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os seis anos de vida aprendi a ler e, a partir de então, um mundo de possibilidades se abriu diante de mim. Durante a infância, Monteiro Lobato e Luiz Jardim foram os autores escolhidos. Em suas obras, encontrei diversão, sonho, encantamento. Na adolescência, sobretudo Érico Veríssimo, Maria José Dupret e Cronin, escritor escocês do século XIX, trouxeram realidades em que me refugiei prazerosamente. A partir daí, num processo cumulativo, venho avançando em minhas leituras, resgatando vozes do passado e ciente que cada experiência é acrescida daquilo que já foi apreendido. Alberto Manguel, no livro Uma História da Leitura (São Paulo: Companhia das Letras, 2004) nos conta que Na festa de Shavuot, quando Moisés recebia a Tora das mãos de Deus, o menino a ser iniciado era envolvido num xale de orações e era levado por seu pai ao professor. Este sentava o menino no colo e mostrava-lhe uma lousa onde estava escrito o alfabeto hebraico, um trecho das Escrituras e as palavras “Possa a Tora ser tua ocupação”. O professor lia em voz alta cada palavra e o menino as repetia. A lousa então era coberta com mel e a criança a lambia, assimilando assim, corporalmente, as palavras sagradas. Da mesma forma, versos bíblicos eram escritos em ovos cozidos descascados e tortas de mel, que a criança comeria depois de ler os versos em voz alta para o mestre (p.90).

O escritor português Miguel Torga, no seu Diário VIII, em 17/8/1958 (Coimbra: 1959) também numa experiência gastronômica, retira da natureza a inspiração para o escrever, em vez de assimilar o que já está escrito: Sou, na verdade, um geófago insaciável, necessitado diariamente de alguns quilômetros de nutrição. Devoro planícies como se engolisse bolachas de água e sal e atiro-me às serranias como à broa da infância [...] Empaturro-me de horizontes, e de montanhas e quase que me sinto uma província de Portugal. Também eu , em minhas leituras, busco a sensação de estar nutrida, alimentada ao encontrar nelas respostas para meus questionamentos, além de novos horizontes, soluções, caminhos... Hoje, como professora de Literatura, o encantamento permanece e ainda é maior diante da gama incrível de possibilidade de autores, paisagens, épocas, personagens. Tornou-se paixão que procuro transmitir aos meus alunos e com que douro minha vida. * Sonia Mara Ruiz Brown é doutora em Língua Portuguesa/USP.


PALAVRA

Um sonho do homem: controlar a vida no caos Por Orivaldo Leme Biagi* Até que ponto é possível controlar a vida? Tal questão é muito antiga: já estava presente nos homens pré-históricos quando endeusavam quaisquer manifestações naturais; foi mantida quando a religião tornou-se organizada e as tradições começaram a ser utilizadas como elemento de coesão social (e de imposição da elite); a ciência também pensou (como pensa) tal questão, pois seus procedimentos lógicos poderiam permitir perspectivas

de controle do homem sobre a natureza e, consequentemente, também sobre a vida; mesmo em tempos pós-modernos onde o caos é um elemento essencial, procura-se definir este “caos” – para, logicamente, entendê-lo e controlá-lo. Evidentemente que planejar as coisas na vida é essencial – podemos imaginar possibilidades e trabalhar para realizá-las. Mas é praticamente impossível realmente prever o sucesso de tais

realizações. Tentamos dominar a existência, mas é muito difícil dizer se nossos esforços, mesmo quando tudo o que planejamos dá efetivamente certo, realmente deram resultado. Existe o acaso, a sorte, o imponderável – até mesmo o “dar certo” pode ser apenas um acidente. Tentamos, no meio do caos que é a vida, justificar a nossa existência – quer por política, religião ou comportamento. É impossível dizer se as justificativas funcionam – mas o homem sempre irá precisar de uma razão para sentir a validade moral da sua existência. * Orivaldo Leme Biagi é pósdoutor pela Universidade de SP

Tão quente que... Por Mario Sérgio de Moraes* 1. Todos deveríam andar pelados. 2. O espaço mais sagrado deveria ser o chuveiro. 3. Deveríamos colocar poros nas paredes. 4. A bebida mais bem-vinda deveria ser a chuva. 5. Nossa cama? Nuvens. * Mario Sérgio de Moraes é Doutor em História pela USP e Conselheiro do Instituto Vladimir Herzog A obra acima é de Ron Mueck. Mais sobre o artista: http://fondation.cartier.com/#/en/art-contemporain/26/exhibitions/866/ron-mueck/862/ron-mueck/


BRISA

O caos

Por Delta9*

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caos é o sovaco do acaso.Não é um acaso. É um saco! Enquanto a soma de todas as partes não é o todo, a soma de todos os caos é o próprio! O caos não tem explicação, pois indiscriciona-se sendo discricionário. Legisla-se a favor do caos sem considerar a Lei do Caos. Claro, não há lei. Embora meu texto possa parecer antipropedêutico, ele não chega a ferir as iniciais condições à que a sensibilidade se apresenta. Ele é assentido. Ainda que não assertado. Para voltarmos ao caso do caos insta saber que nada é estável. Talvez. No ‘ménage à trois’ de Poincaré, não se gravita em torno de um ponto. Isso sim é complexo. Perplexiono-me assaz: é um ménage atroz. O caos é o cavaco do ocaso. Não o instrumento, a lasca. Frio, extenso, isolado e escuro, ele é a protuberância informe e desmedida do “sabe-se-lá-o-quê”. É a resposta para todas as perguntas não feitas. É a desfeita da surpresa, aquele sentimentozinho reacionário. Ainda que eu falasse a língua dos homens e dos anjos, no caos eu ainda estaria. Depois do bagaço, vem o pó. Depois do pó, vem o susto. Depois do susto vem o caos. Depois do caos vem o elefante cavalgando a borboleta. O caos é o caos. O caos não é o caos. E só. * Delta9 é extraterrestre, publicitário e atua no Judiciário.

www.undiverso.blogspot.com/


CAPA

PhDs em Análise de Rolezinhos Por Marcelo Rio*

De um lado, existem os PhDs liberais afirmando: “É a periferia mostrando a sua cara, protestando contra a falta de espaços para lazer”. “É o proletariado finalmente enfrentando a burguesia”. (Essa não pode faltar). Do outro lado, há os PhDs conservadores afirmando: “Coisa de gente que não tem o que fazer e quer vandalizar”. “O PCC está por trás disso”. Provavelmente, os dois lados tenham uma pequena dose de razão, mas quase que certamente estão dizendo muita bobagem, pois trata-se de um fenômeno novo, que envolve milhares de pessoas e de variantes, impossível ter 100% de certeza sobre o mesmo. Basta lembrar da manifestação em junho de 2013. Começou com pessoas reivindicando algo justo, mas depois virou uma salada mista com ingredientes bem indigestos. Parece óbvio que os jovens da periferia têm razão em protestar contra a falta de espaços de lazer e que os governantes deveriam ouvi-los, mas o ponto a ser discutido é: será que levando milhares de pes-

soas a um shopping serão atendidos? Será que não reside aí uma grande chance do movimento fugir do controle e uma tragédia ocorrer? Também é mais do que óbvio que chamar todo mundo de vagabundo, bandido etc. é demonstrar que tem um DNA dos mais reaças. Infelizmente, aqui no Brasil, toda manifestação que venha das camadas mais pobres é logo carimbada como coisa de marginal. Pior de tudo é que muita gente que passa longe de ser rica repete essas bobagens, pois foram programados para jamais questionarem o sistema. Tirando a minoria rica, todos os demais deveriam apoiar e aplaudir protestos – o que se deve questionar é onde e como são feitos. Enfim, enquanto existirem posições tão extremadas e precipitadas, ficará difícil se aprofundar em qualquer debate e, principalmente, resolver grandes problemas. * Marcelo Rio é jornalista e professor universitário

Infelizmente, aqui no Brasil, toda manifestação que venha das camadas mais pobres é logo carimbada como coisa de marginal.

Apesar de ter surgido há pouco tempo, o fenômeno do “rolezinho” já é analisado com tanta profundidade e certeza por alguns que chega a dar inveja à grande maioria que ainda está tentando entender as causas e possíveis consequências do movimento.



CAPA

A brisa vem das ruas

e a tempestade também Por Paulo Malvasi*

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política oficial brasileira fechou os vasos comunicantes com grande parte da geração de jovens que está aí, nas cidades. A política mofada é hermética, e serve aos interesses de quem tem lobby para pressionar. Não contém, não seduz, não dá conta do espírito do tempo; ela é decadente. Essa geração tem participado de conexões novas com o espaço público, físico e virtual. Ela traz em si o germe do ocaso da farsa democrática atual, corporifica o espírito do tempo e não é essencialmente violenta. As jornadas de junho foram uma lufada de ar fresco, vinda das ruas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e centenas de cidades brasileiras. E sua presença continua vento suave, implacável e sonoro, que se instalou em nossa sociedade, a despeito da surdez das instituições. Em junho de 2013, o conflito nas ruas foi um personagem, disparador de uma presença política e social consciente. Mas não a caracteriza. A força do que está acon-

tecendo no Brasil, a presença de novos modos de intervenção e variadas pautas políticas em prol da liberdade e da igualdade, o anseio de milhões por respeito e transparência, as propostas para modos mais inteligentes e responsáveis de gestão do que é comum a todos, é o revés da violência instituída. É o caminho aberto, que tem sido trilhado por muitos, antes, durante e depois de junho de 2013. A marcha segue, as ruas estão abertas. Todos os que sentiram a energia dessa mudança, foram para as ruas, brilharam os olhos não devem se intimidar com a estupidez, seja lá de onde ela venha. Vamos para as ruas, semear o vento e beber a tempestade. Vamos ocupar o espaço da violência, ultrapassá-la, com a força que nos atravessa: a força da mudança para uma democracia direta. Essa é a tempestade real que cai sobre a “velha política”. A ação direta violenta permite que o status quo, a violência instituída, abafe a verdade e, sobretudo, a beleza.

* Paulo Malvasi é antropólogo, doutor pela USP e professor da FAAT Faculdades.


Todas as dores renovadas

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Por William Araújo*

epois do fim a modernidade e do ingresso na pós-modernidade a ideia de Deus foi encerrada e o olhar para o passado foi execrado, restando olhar para o futuro. A religião perdeu sentido, e em seu lugar veio o futuro. É para ele que (re)nascemos todos os dias. Isso está no discurso e nos atos de todas as pessoas: trabalhamos e vivemos para o amanhã, mesmo sem saber o que ele será. Mas isso se dá aos poucos e em um tempo que mescla —nas devidas dimensões— o tempo de vida do planeta e da raça humana, da sociedade na qual se vive, da evolução enquanto mecanismo deste processo, e nisso o projeto de vida de cada um, com a devida conexão, pois sem isso não faria sentido estar neste mundo. Chama a atenção, no entanto, a propensão quanto à aceleração de certos aspectos desta vida material em busca de um futuro sobre o qual não se deseja conhecer em minúcias, a não pelo fato dele ser sempre melhor em relação ao tempo presente. Neste sentido a conhecida zona de conforto na qual muitos pensam estar instalados perde sentido, na medida em que todos de uma certa forma se mobilizam para o amanhã e tudo o que nele há em termos de possibilidades. IN-CERTEZAS Quando escreveu a obra “O fim das certezas”, no final do século XX, Prigogine mostrou o retrato possível da ciência em relação aos fenômenos de um modo geral, incluindo nisso o ser humano: “nasceu uma nova ciência, a física dos processos de não-equilíbrio”. Isso remete ao fato de que a irreversibilidade antes vista em fenômenos pequenos está também nos maiores. Em outras palavras, tudo está em constante mutação. Apesar disso parecer belo estética e filosoficamente, na prática significa que, apesar de desejado, o mundo ao derredor de cada um realizará mudanças que o afetarão de algum modo. Nesse sentido, na contemporaneidade, isso pode soar para alguns como uma piada e, para outros, como uma catástrofe o fato de que tudo o que for amealhado será —respeitada as devidas proporções— chacoalhado de alguma forma.

Na realidade, o advento tecnológico, os fatores da globalização e da mundialização, entre outros, na visão de alguns autores funcionam como “mecanismos de criação de subjetividades, (...) instrumentos criadores de modos de pensar, de agir, de ver, de sonhar” ... levando para um contexto de múltiplas identidades. Não bastasse isso, esse novo ethos, aliado à individualidade, ao consumismo, entre outros, soma-se à fugacidade enquanto uma válvula de escape. Para aqueles que se inquietam com este fenômeno, caberiam alguns questionamentos: essa persistência significa recalcitramento da maioria!? O entendimento e a aceitação em relação ao desprendimento para as “coisas” são incoerentes em relação ao que foi construído até o presente momento!? A ignorância estrutural que sustenta estes hábitos está a serviço de uma exploração meramente materialista!? DISTÚRBIOS Pensando deste modo, seria razoável considerar que em alguns momentos algumas crises condensam-se socialmente tal como nuvem pesadas. Nesse sentido visando subtrair o equivoco referente à histeria no período medieval, que submeteu inúmeras mulheres à fogueira, Franz Anton Mesmer associa este distúrbio a uma distorção na distribuição do fluido universal, sugerindo um magnetizador agindo sobre a vontade para possível regularização destas crises. Posteriormente a preocupação com questões de personalidade fora de padrão recebeu atenção da área psicológica, quando Freud sugere a ideia de um mal-estar do indivíduo na sociedade que dava sinais de complexidade. Nessa esteira ele e M.Charcot debruçaram-se sobre o fenômeno da histeria, descobrindo sua origem nos traumas, que para serem compreendidos precisariam ser “reinterpretados” por meio de simulação (lembrança), sendo recomendada para tal a hipnose. Hoje tem-se também a sensação de liberdade individual plena, cuja materialização depende de referenciais seguros, sendo estes ainda bastante frágeis. Diferentemente de épocas castradoras, a liberdade é oferecida em um cenário de referencias em


bases perpétuas e contínuas, portanto desprovidas de segurança. Estes elementos, portanto impedem a definição de uma identidade. A questão da identidade na contemporaneidade assumiu aspectos bastante difusos. As várias facetas assumidas pelos indivíduos e que de certa forma eram interpretadas como distúrbios foram praticamente chanceladas com a virtualidade, algo ratificado nas relações estabelecidas por exemplo nos chats, bem como nos games e mesmo no uso de avatar. O Second Life, quando instalado no Brasil certificou este fenômeno, permitindo que as pessoas tivessem uma vida real e outra virtual, por vezes revezadas considerando meras conveniências. EFEITOS CO-LATERAIS Atualmente, o que se denomina de prazer, além de momentâneo, precisará ser suportado posteriormente com a velhice do corpo e da mente. As tendências forjadas especialmente após o advento tecnológico-científico e em crescimento vertiginoso, “curiosamente” foram direcionadas para a facilitação máxima da vida humana visando vários objetivos: longevidade, tempo livre, beleza, fim da dor, prazer contínuo, viver o agora, entre outros. O ineditismo permanente transformou-se na salvação micro do mundo macro inalcansável. Algumas vertentes, seus motivos e efeitos podem ser notados a partir de alguns pesquisadores. Ana Lucia Magela, por exemplo, relaciona a “felicidade a curto prazo” tendência que visa “reduzir a extremos nossa tolerância face ao infortúnio, ao padecimento, ao desconforto”. A prática disso pressupõe o enfraquecimento da conotação subjetiva da dor. Para ela, uma vez que a dor foi confiscada pela tecnologia “o padecimento, de qualquer ordem, tornou-se abominável.” Mauren de Vargas Minato e Elisete Soares Traesel, por sua vez debruçam-se sobre a velhice, especialmente na mulher, denunciando que apesar das várias mudanças ocorridas na vidas femininas, estas, no século XXI continuam submissas. Para elas, “a mulher mudou muito para continuar a mesma.” Mais que isso, trocou “a dominação de pais, maridos e patrões por outra, invisível e, por isso mesmo mais perigosa” ... neste caso... “a dominação da mídia e da publicidade que impõe, diariamente, à mulher a tarefa de ser eternamente jovem, bela e sadia.” Já Raquel Aisengart Menezes debruça-se sobre

a medicalização a partir do século XX, entendendo que “através do emprego de tecnologia médica para a manutenção da vida,com a criação e utilização do ventilador artificial, ocorreram profundas alterações tanto no processo do morrer quanto no próprio conceito de morte.” Chama a atenção o fato de que no modelo da “morte moderna”, esta soava como um fracasso tanto para o médico quanto para o hospital. Na contemporaneidade, isso é significativamente alterado, porque na “boa morte”, a equipe de saúde compreende este fenômeno de modo distinto “assistindo o moribundo até seus últimos momentos, buscando minimizar, tanto quanto possível, sua dor e desconforto, e dar suporte emocional e espiritual a seus familiares.” Em outras palavras, na “morte contemporânea”, o “ideal é que o indivíduo que está a morrer tenha controle do processo de morte, realizando escolhas a partir das informações sobre as técnicas médicas e espirituais que considerar adequadas”. E assim caminha a humanidade, rumo à solução das desumanidades que, mediadas de variadas formas, em alguns casos assoberbaram em sofisticações, estreitando algumas portas para as soluções mais razoáveis. F​ ONTES: CIVILETTI, Maria Vittoria Pardal e PEREIRA, Ray. Pulsações contemporâneas do desejo: paixão e libido nas salas de bate-papo virtual. Psicol. cienc. prof., mar. 2002, vol.22, no.1. MAGELA, Ana Lucia.Felicidade: um ideal equivocado.Psicologado, 9/4/2012. Disponível em:http:// artigos.psicologado.com/psicologia-geral/introducao/felicidade-um-ideal-equivocado ;Capturado em: ​14/11/2013 MENEZES, Rachel Aisengart. Tecnologia e “Morte Natural”: o Morrer na Contemporaneidade.PHYSIS: Rev. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 2003. ​SAITO, Cláudia L. N.,WINCHUAR​ Marcio J.L.Contemporaneidade:relações identitárias.,s/d. FRASE “O único método infalível para conhecer o próximo é julgá-lo pelas aparências.” A. Amurri. * William Araújo é jornalista e Doutor em Comunicação pela UMESP.


Apócrifo Por Marco Milani*

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vida era a repetição incessante de marteladas que iam, pouco a pouco, a esfacelando. Tal qual um monjolo que a golpeia dia e noite, à medida que sua madeira apodrece. O rádio relógio soava seu alarme todos os dias às seis horas por dez vezes, depois deixava escorrer o som de vinte vozes metálicas entoando a Ave Maria. Dalva se levantava, punha quatro colheres de café no coador, enquanto aquecia dois copos americanos de água. Depois, despejava-a cinco vezes durante quinze segundos, intercalando com intervalos de trinta segundos. Servia oito fatias de pão de forma à mesa, com a margarina à sua direita e com a faca à esquerda. Eram três xícaras postas viradas sobre os pires, de frente a cada uma das três cadeiras e com as asas apontando em sentido anti-horário. Das cadeiras, havia uma sobressalente, que ficava em outro cômodo para que não fosse vista. Foram assim os anos de casamento e, nos anos subsequentes, a rotina se manteve, o burro ainda com as costas curvadas, mesmo que o fardo já não existisse mais. Um dia, às nove da manhã, com a casa impecável às costas, saiu e tomou um ônibus rumo à igreja que frequentava. Lá, sentou-se ao confessionário e iniciou a conversa sem delongas: “Padre, isso é pecado?”. “Dona Dalva, o que aflige a senhora?”. Antes sempre distinta, ela gaguejou: “Penso que estou agindo certo, mas parece que estou fazendo coisas erradas”. O sacerdote a confortava: “Deus escreve certo por li-

nhas tortas”. Assumindo os ares de austeridade que lhe eram peculiares, Dalva recostou-se na cadeira, suspirou e pôs-se a falar “Foi no mês passado. Eu estava voltando da missa e o ônibus parou no trânsito. O motorista avisou que era um protesto e os outros passageiros começaram a pedir para ele abrir a porta. Eu também desci, passei pelo meio dos carros e fui seguindo pela calçada. Fiquei brava, mas fui pensando que deveria ser a vontade de Deus e me resignei. Foi naquela noite em que o senhor havia feito aquele sermão sobre os vendilhões do templo”. E Dona Dalva ficara ali, meio perdida, entre ir e voltar e se aproximou, meio sem querer, do tumulto. Manteve-se lá por curiosidade. Mas, logo ressoaram tiros e a manada estourou por sobre ela. A velha caiu e sua cabeça se chocou contra o chão. A visão embaçada se misturava com a bruma que começava a inundar a rua e confundia seus sentidos, lhe roubando o olfato e o paladar. Foi então que Dalva teve realizado o sonho de toda carola; teve uma visão. Emoldurado por nuvens brancas, como num afresco barroco, um homem, de uns trinta anos, com o torso magro à mostra, coberto de respingos de sangue, os braços abertos eram puxados por dois soldados que o arrastavam. Arrancaram-lhe uma camiseta que cobria a cabeça a ficaram à mostra sua barba e longos cabelos. Da multidão, alguns acusavam-no de ter quebrado a vidraça de um banco e, dentre os gritos acusatórios, Dalva teve até impressão


de ouvir alguém pedindo que o crucificassem no lugar de um tal Barrabás. A silhueta do outro lado da grade de madeira parecia inquieta e o vigário logo proferiu seu prognóstico: “Dona Dalva, a senhora só estava confusa por causa da pancada na cabeça. Mas não se aflija, continue orando.”. “Mas eu ainda não contei a parte importante! Eu não estava confusa não. Eu senti o Espírito Santo naquela hora, seu padre. E eu o senti em mim, foi ele que me mostrou aquilo. Eu sabia exatamente o que tinha de fazer. Eu levantei sozinha porque eu sentia a força do Senhor. Peguei uma pedra do chão e joguei com toda a minha força num carro da polícia. Pegou no vidro da frente e ele ficou inteirinho rachado. Então eu fui embora pra casa. Senti que naquela noite todo o meu sofrimento tinha acabado, foi como se tirassem com a mão! Eu tinha encontrado a minha missão. Naquela noite, padre, aquele moço me curou. Como Cristo curou o aleijado.” E de fato, como um aleijado com pernas novas, Dona Dalva não parava mais em casa. A família notara a mudança em seu comportamento, antes mesmo de ela começar a errar a quantidade de pó no café. Para todos os efeitos, ia distribuir sopa aos pobres com os companheiros da Igreja. Com a deixa, saía por vezes duas ou três noites por semana. Quando os filhos a interpelavam se não tinha medo de sair quando havia protestos na rua, ela retrucava grave: “Não se recusa um chamado de Jesus, meu filho”. Mas ela queria confusão. Seguia a luz do fogo das barricadas e, do meio da multidão, estilhaçava as vidraças a pedradas. “Sabe, padre, outro dia vi o Datena falando que a saúde estava um caos, que a criminalidade estava um caos. Isso não é o caos, isso é a ordem. As coi-

sas sempre foram assim. Desde que eu sou menina as coisas são assim. Tudo que eu fiz foi ser ordeira a vida inteira. Quando o meu marido começou a chegar bêbado em casa e me bater, eu fingi para todo mundo que tudo estava na mais perfeita ordem. Eu fingi para os meus filhos, eu fingi para mim mesma. Eu não tinha dignidade, eu só mantinha a ordem, mas não sentia que tinha dignidade. Agora eu sinto. Quando eu joguei aquela pedra, eu não sabia por que eu estava fazendo aquilo, mas agora eu sei. Foi o Senhor agindo em mim, ele me mostrou. Ele me mostrou que essa ordem está errada, que essa não é a vontade Dele. Com esta ordem, padre, só é possível ter dignidade no caos.”. Dalva, calou, respirou fundo e retomou a distinção. Um breve interstício e o padre se pôs a falar com a voz notadamente alterada: “Dona Dalva, nunca ouvi tanta blasfêmia junta. A senhora só pode estar maluca! É melhor que a senhora ore, e ore muito, Dona Dalva. E vá procurar um médico também. A pancada na cabeça deve ter feito alguma coisa para a senhora.”. A velhota o esperou terminar com paciência e retrucou calmamente: “Sabe, padre, com todo o respeito, eu não sei por que eu achei que o senhor pudesse me compreender. O senhor é a ordem”. Levantou-se e deixou a igreja apertando a bolsa de crochê com os dois braços contra o abdômen, seus passos firmes ecoavam as sapatilhas pelo prédio vazio. Na porta do templo, encontrou um folheto com uma ilustração da passagem dos vendilhões do templo. Retirou uma caneta preta da bolsa e desenhou uma máscara cobrindo o rosto da imagem de Jesus. Devolveu o folheto à mesa e saiu para o mundo. * Marco Milani é historiador formado pela Unesp e educador.


A necessidade do Caos (ou Lurdes usava saia curta enquanto via o urinol em chamas) Texto e arte: Renato Barros Almeida*

E

xposição de arte, 1917. Entre quadros e esculturas, um artista expõe como obra um Urinol, atitude mal vista por tradicionalistas, críticos e a sociedade cultural da época. Tal ação abala toda estrutura vigente da arte e rompe com algo que sempre esteve estruturado. Quem é o artista? Isso vale como arte? Por mais que até hoje possam ser abertas hoje discussões sobre a atitude de Marcel Duchamp, sua contribuição como ruptura de um sistema bem estabelecido culturalmente, é inquestionável. Considero que seja tarefa da Arte, introduzir CAOS na ordem a partir de um discurso que se legitime pela (re)ação. O CAOS consiste em uma atitude catabólica (Catabolismo parte do metabolismo, que compreende a decomposição de nutrientes complexos, permitindo a liberação de energia por oposição). É o que antecede a construção e humaniza, desfragmenta e evidencia a necessidade de uma reorganização, mas sem organizar (?). Estado permanente de oposição, porque ninguém está isento de críticas.

Fonte: urinol de porcelana branco, considerado uma das obras mais representativas do dadaísmo na França, criada em 1917 pelo artista Marcel Duchamp

Vasconcelos, que por sinal era bem distante da empresa onde todos os dias trabalhava como Auxiliar de Limpeza. Sua vida estava organizada, horário para trabalhar, comer, dormir e para assistir o “Esquenta” no domingo. Tá bom? Tá! O pessoal da empresa não era tão ruim assim. Aquela jovem senhora sempre lhe dera atenção, emancipada desde muito cedo, era uma pessoa exemplar, nunca tratou mal as camadas menos favorecidas, mas achava um pouco demais sua empregada solicitar um salário tão condizente quanto Entendido por uma maioria como algo sem foco, sem estrutura, o Caos ao seu esforço: “Aaaah, assim já é demais né?! Assim vou ser pode ser considerado como um empregada também!”. momento de transição necessário para um momento posterior que O Caos interrompe e desorganiza a visa uma alteração do vigente. ordem. Lurdez morava em Ferraz de

O lugar, centro de São Paulo, ano de 1956. Um homem respeitado pela sociedade sai andando pelas ruas trajando uma minissaia acima dos joelhos, uma multidão o segue sem entender realmente o que acontece. Flávio de carvalho levanta neste momento não só questionamentos sobre a discussão de gênero, mas também rompe com o espaço convencional de exposição, levando para a rua uma atitude artística que o “cubo branco” da arte não conseguiria mais conter em suas paredes. Na volta do trabalho, às vezes o ônibus pega fogo e Lurdez chega tarde em casa. No outro dia usa novamente o transporte público onde é transportada como animal. Torna-se logo, animal? A culpa é do fogo? Querem desapropriar 1600 famílias, pode? E matar o líder comunitário? Pode? Nietzsche viu no Caos a própria essência do ser – “desordem cósmica sem Deus” - “O caráter geral do mundo é Caos para toda eternidade”. E o bem nascido? Pegou ônibus às 10h e desceu em frente a prefeitura escoltado por seguranças, afirmando que sempre fez uso de um transporte popular. O Caos deve ser instaurado como uma necessidade social. Sem a ação de movimento, continuamos em pausa, na pausa observamos, mas não construímos substancialmente. O Caos traz novas possibilidades, abala as tradições e oferece um espaço onde se torna possível confrontar o regime que oprime e nos coloca limitações, que de tão autoritário, perde aos poucos, a partir de nossas ações sua força como autoridade.




maria joana Por Thiago Cervan o chocolate-verde ancestral adoça a manhã de preguiça junto com a cia das árvores de raízes profundas q erguem calçadas sem esforço. o aperitivo faz o estômago abrir a boca da fome e os olhos desejarem o formigamento da pele. línguas saltam do quarto da neblina q beija & saliva o crânio. & de frente pra rua habitada de gigantes vegetais o estilhaço das nuvens rodopiantes acontece em câmera lenta


LETRA

Giacomo Por Flávia Helena* —Giacomo. Giacomo Melli. — Giacomo? — Perché? — À toa. Só para confirmar. — Confirmar o quê? Se eu falei que é Giacomo, é Giacomo, porca miséria! E io não vô saber o nome de mio figlio? — Eu não quis dizer isso. De maneira alguma. Só confirmei pra não haver erro. O senhor sabe... Às vezes a gente não compreende direito o que a pessoa fala e acaba registrando a criança com o nome errado. Ainda mais nessa região, que tem tanto italiano. Enfim... — Ma é Giacomo. Nome de mio babbo! E o nome do meu avô ficou assim: Giacomo Melli. Nascido em dezenove de julho de 1923. Natural de Atibaia. Filho de Salvatore Melli e Antonieta Carbonari Melli. Acontece que o combinado com a minha bisa não era esse. — Cesare. Cesare Melli. — A escolha é sua, Antonieta! — Ma claro que a escolha é minha! Qui comando io! Cesare, que era o nome de mio babbo, capisce? Se fosse vivo, ele ia querer desse jeito! — E é desse jeito que io vô fazer. É que ela era brava. Brava, não. Uma fera. E não tinha quem não obedecesse a Dona Antonieta. Ou, pelo menos, fizesse de conta. — Pronto! Nostro figlio já tem nome, Antonieta! Cesare Melli. — Isso! Como o babbo queria! E, de verdade ou não, meu vô acabou virando Cesare. Pra minha bisa. Pros irmãos dele. Pra toda a vizinhança. E, principalmente, pro meu biso, que não podia deixar ninguém perceber a maracutaia que ele tinha feito. Por um bom tempo, deu tudo certo e

ninguém percebeu que o verdadeiro nome do vô Cesar era Giacomo. O problema é que ele teve que ir pra escola. E lá foi meu biso fazer a matrícula. — Para fazer a matrícula, o senhor precisa trazer a certidão de nascimento do garoto. — Ma perché? — Oras! Para nós podermos identificá-lo. —Ma ele vai ser inscrito com o nome da certidão? — Sim. Não é esse o nome dele? — Não! Dico, si! — Eu peço desculpas, mas o senhor me parece nervoso. — Ma che nervoso! — Bom, então é só o senhor trazer o documento para que nós façamos a matrícula do menino. Aí não teve jeito. A minha bisa acabou descobrindo tudo. E ela era brava... — Desgraciato! Quer dizer que você deu pra nostro figlio o nome de tuo babbo! Ma che furbo! Não quero saber de certidão. Pra mim, ele é Cesare e pronto! Como ninguém contrariava a dona Antonieta, meu vô ficou sendo Cesare pra sempre. Cesare, não, Cesar, porque com o tempo, todo mundo acabou deixando o último E pra trás. Meu biso não gostou muito, mas o jeito foi acostumar. Acostumar, até que ele acostumou. Mas não desistiu. — Alguém nessa família ainda vai chamar Giacomo de verdade. Com os filhos ele não teve muito sucesso. Com as noras, menos ainda. Com os netos também não. Nem com as mulheres dos netos. — Giacomo, seu Salvatore?! Ah, não!


Mas ele era persistente. E resolveu arriscar pela última vez. O último neto que casou foi meu pai. Assim que a minha mãe engravidou e viu que eu era menino, ele tratou logo de tentar passar a conversa nela. — Mas Giacomo, seu Salvatore? Acho que não vai combinar com o meu sobrenome. Fica estranho... — Ma che estranho, Tomoko! Nós tamo no Brasil! Minha mãe sempre conta que quando eu nasci com aquele olhinho puxado, quase fechando, e com o cabelo preto, preto, todo espetado pra cima, ela quase desistiu. Mas,

no fim, não teve coragem de quebrar a promessa que ela tinha feito pro meu biso. É por isso, que até hoje, quando eu falo meu nome, eu já sei o que eu vou ouvir. — Nunca vi! Japonês com nome de italiano? E eu logo respondo: — Mas eu tenho. Giacomo. * Flávia Helena é professora e recentemente três contos foram publicados na coletânea Achados e Perdidos, lançada na Balada Literária, evento que ocorre em São Paulo há sete anos e tem curadoria do escritor Marcelino Freire.


LETRA

Saguarabyrando Por Marcelino Lima

J

á embarquei muitas vezes no trem de Pirapora até Sobradinho, depois voltei pela Rio-Bahia comendo pirão de peixe com pimenta, tomando uma boa Januária. No meu coração de maçã ardendo, febre equatorial, o amor por uma certa dona. Não havia pedras em meu caminho, nem tempestades que me impedissem de voar, voar, virar pássaro e fugir -- e, no outro dia de manhã, ao fim da viração, ter chegado ao mar do Japão... Eu, caçador de mim, sempre quis é ter uma casa no campo mais do que um caderno de viagem, e nada abandonado num passado que se fez com tanto sentimento, já que, volta e meia, você nota que não morreu, pois somos nada mais que gente. No entanto, sempre foi assim, sempre fui assim. E preciso te falar, eu preciso, eu tenho que te contar: desde pequeno eu estou por ai, na mesma vida que sempre aprendi, muchacha! Jamais tive medo de correr nesta estrada (ainda que com a poeira grudada em meu rosto), nem mesmo quando do céu ameaça cair a noite escura. E como hoje o dia parece tranquilo, e até há uma brisa soprando de leve, com flores e folhas se abrindo sem ser hora da alvorada, vou me danar a rir, olhar nos olhos do espelho e cair na dança. Feito um atrevido que desacata a própria mãe, minha espanhola! Então, para que chorar se te amo? A nave louca que descubra se Nova York é mais perto que o sertão! E que se queime, eu quero é mais ziriguidum-tchan!!


LETRA

Cais Por Renata Roquetti* Às vezes, eu só quero ficar quieta Contemplando a beleza de ser Ao dar-me conta que respondo às minhas perguntas com o mesmo afeto com que enfeito o meu rosto. As estrelas vivem sós e eu, você e todos nós também vivemos sós, na imensidão de céu e de terra, feita de pulso, de vida. Por que diabos, então, você corre tanto? Já encontrou o teu Deus!? Me dói, profundamente, toda dor humana e saber que não, você não corre pro teu deus! Você corre pela avalanche do outro. Buzinas, sirenes, malucos nas ruas gritam e você é mais um Fuma teu cigarro e chora por saber que vai dormir, acordar e repetir seus amargores sem fim. Que caos é este que se encontra? O que você faz pra voar fora dele? Tuas asas estão nos teus pés e você não percebe. Tua calma mora em teu peito e você se atropela, Justificado pelo tumulto das ruas, dos sons ensurdecedores e doentes dos outros. A brisa tocou o meu rosto e me dei conta que sou feliz! Talvez porque eu tenha o que eu procuro Vasculhei devagarinho meus dias. Mergulhei num mar enfurecido e sufocante e respirei profundamente o ar da superfície, entendendo que sou parte do caos e encontro meu cais, quando dou ouvidos a mim. Quase voei com o vento Bati meus pés na terra E entendi que as águas moram em mim Quando chorei a Natureza nesse instante. * Renata Roquetti ganhou seu primeiro recital aos 13 anos declamando a poesia “Eu” de Florabela Espanca. Em 2008 criou um blog para compartilhar o emaranhado de palavras que pipocam do seu coração e mergulhar ainda mais em poesia.



LETRA

Num bater de asas Por Mercedes Lorenzo*

D

a estação Ana Rosa até minha parada em Santana, coisa de pouco mais de 35 minutos talvez, me pego zarolha e com a vista ardendo, pescoço duro e imóvel, fixada e siderada numa viagem mental através da impossível borboleta monarca ancorada na parede interna do vagão, bem atrás da nuca da velha senhora à minha frente. não está morta, senão cairia em algum dos solavancos ou corrente de ar quando as portas se abrem. está viva. está viva? próxima parada ela cai. não cai. está grudada? está morta? está mais viva que os passageiros, pondero. só errou o itinerário. é uma monarca? vira-lata? borboleta sem raça definida? mas não cai nem a pau. e quase me esqueço de descer em Santana. e ela fica, quiçá vá sair voando só na Parada Inglesa, já que as monarquias se atraem. eu vou pra casa pensando na Teoria do Caos e o exemplo do bater de asas de uma borboleta no Brasil, que o Edward Lorenz disse ser capaz de desencadear um tornado no Texas. talvez a minha monarca, soberana de si, estivesse imóvel em plena consciência do caos, teórico e concreto. * Mercedes Lorenzo, paulistana e filha de imigrantes espanhóis, é Formada em Fotografia pela EPA – Escola Panamericana de Artes / SP.

http://www.mercedeslorenzo.com/


Sal達o Duas Rodas: duas rodas, duas medidas Por Guto Felipe*



A

pesar do nome deste grandioso e já consagrado evento sugerir que possamos ver diversos tipos de veículos de duas rodas, os anos passaram e foram levando as “magrelas” embora. Em tempos de discussões sobre mobilidade urbana, uso de bicicletas e a criação de uma consciência sobre veículos limpos – aqueles movidos a energia humana ou elétrica – ver tão pouco espaço dedicado às bikes nos deixa um pouco entristecidos. E os chineses? Bem, eles já foram mais numerosos em edições anteriores do S2R, mas nesta, parecem ter se limitado a um pequeno bloco onde expunham componentes, partes eletrônicas e peças de baixo custo, voltadas apenas ao mercado de reposição. Nem mesmo as grandes marcas chinesas que se abrasileiraram mostraram novidades surpreendentes. A cada ano o setor dá sinais de amadurecimento, deixando de lado o sentimentalismo inerente aos consumidores, trazendo seu lado mais comercial à tona. Os fabricantes tem se esforçado para trazer produtos novos simultaneamente aos mercados mundiais, deixando no passado aquela história de lançar “novidades” com um ano de diferença dos países estrangeiros, afinal, o Brasil é hoje um tipo de galinha dos ovos de ouro para algumas marcas. Contudo, ressaltamos a baixa representatividade das entidades da área, as mesmas que deveriam realizar e estimular atividades de conscientização sobre o uso dos veículos, defender os interesses da população e educá-la quanto às maneiras corretas de utilização deste primoroso meio de transporte e lazer. Motocicletas e bicicletas são alvo constante de críticas, sobretudo por aquela parcela de cidadãos que se intitula beneficiada pelo corte de taxas e incentivo federal, na aquisição dos almejados carros zero quilômetro. E enquanto despejam milhares de novos habilitados diariamente nas ruas, despreparados e apenas adestrados pelos órgãos de trânsito,


as tais entidades que deveriam zelar e fomentar ideias de trânsito mais seguro cruzam os braços, debruçadas sobre os interesses de poucas marcas e abraçadas com o governo. Mobilidade requer investimento e educação das pessoas para se tornarem bons cidadãos, e nisso, quanto mais jovens melhor. Assim, todo esse processo pode ser barateado, ao contrário do que muitos pensam, bastando um pouco de boa de vontade para reduzir as estatísticas fatais, tão aclamadas pela mídia marrom, garantindo o direito de locomoção e o respeito idealizado pelo CTB (Código de Trânsito Brasileiro), que diz: “nas vias, o veículo maior deve resguardar o veículo menor, ou seja, o ônibus tem a obrigação de zelar pelo carro, que deve respeitar a moto, que protege a bicicleta e o pedestre – este, que pode se tornar o condutor de qualquer destes veículos citados, mas que ultimamente, não respeita nem a si mesmo”. * Guto Felipe é acadêmico do Curso de Jornalismo da FAAT Faculdades


ARTE

Fumem! Bebam! Cheirem! Por Rubens Paschoal*

A

genor de Miranda Araújo Neto, nascido em 1958 e falecido em 1990 é a figura que me vem à mente quando penso no caos. Cazuza fez parte dos momentos rebeldes de minha juventude de 20 e tantos anos nas décadas de 80 e 90. Seus versos e atitudes iluminaram o caos em que vivia por que percebi muito cedo que também não me convidaram pra nenhuma festa, ainda que pobre, e que a droga vinha malhada mesmo antes de eu nascer. Droga era a situação do país que, até hoje, ainda continua ruim. Enumerar a quantidade de picaretagens e falcatruas políticas seria enfadonho. Cada indivíduo pode relacionar várias... Não fiquei na porta estacionando carros, mas compreendi que o trabalho era escasso e o cartão de crédito de muitos até os dias atuais ainda é uma navalha. A diferença é que na mochila outras armas foram acrescentadas. Apesar de ser funcionário público há 30 anos, ainda não me subornaram. “Será que é o meu fim?”. Ainda hoje a TV está programada pra só dizer sim quer seja na taba do índio, nas favelas ou no senado (“sujeira pra todo lado - ninguém respeita a constituição”). Na canção “Um trem para as estrelas”, ele desfila as mazelas da população, que ainda permanecem as mesmas, fazendo com que suas palavras sejam atemporais.

Assim diz o poeta: São 7 horas da manhã Vejo Cristo da janela O sol já apagou sua luz E o povo lá embaixo espera Nas filas dos pontos de ônibus Procurando aonde ir São todos seus cicerones Correm pra não desistir Dos seus salários de fome É a esperança que eles tem Neste filme como extras Todos querem se dar bem Num trem pras estrelas Depois dos navios negreiros Outras correntezas. Estranho o teu Cristo, Rio Que olha tão longe, além Com os braços sempre abertos Mas sem proteger ninguém Eu vou forrar as paredes Do meu quarto de miséria Com manchetes de jornal Pra ver que não é nada sério Eu vou dar o meu desprezo Pra você que me ensinou Que a tristeza é uma maneira Da gente se salvar depois...

É factível que ainda hoje se é possível forrar as paredes com muita miséria. Ao longo da vida Cazuza contestou com veemência a sociedade comportada. Era boêmio, rebelde, polêmico, assumiu publicamente ser bissexual e se declarou portador de HIV, algo inaceitável para os padrões então vigentes. Não se conformou com a ordem imposta pelo stablishment. Ao seu modo criou uma visão caótica do mundo e me fez acordar para o que estava acontecendo ao meu redor e me motivou a buscar sempre mais do que me ofereciam. Na trilha aberta por ele outras canções excitavam reflexões. Seu contemporâneo Herbert Viana, na canção “O calibre” diz que vive sem saber até quando ainda estará vivo porque não sabe o calibre do perigo, pois não sabe de onde vem o tiro. Tudo isso me fez (me faz) perceber que o caos está insta-

E a vida já não é mais vida. No caos ninguém é cidadão As promessas foram esquecidas Não há estado, não há mais nação Perdido em números de guerra Rezando por dias de paz Não vê que a sua vida aqui se encerra Com uma nota curta nos jornais.


Se entorpeçam! lado no país há décadas. Se há possibilidade de alguma mudança, ela está cada vez mais distante pela inoperância e picaretagem dos que controlam o sistema que aí está. Conscientizar os jovens da necessidade de mudanças é primordial para isso. Não se muda nada sem educação e conhecimento. Então fumem Cazuza, bebam Paralamas do Sucesso, cheirem Barão Vermelho, se entorpeçam com Legião Urbana. Há muita poesia e estas são algumas das drogas para enfrentar o caos. O caminho é longo, mas muito prazeroso. Se cada um deixar o facebook e sair às ruas, como já demonstraram ser possível, haverá esperanças. Afinal o canto de Cazuza ainda está vivo e precisa ser colocado em prática: Brasil! Mostra a tua cara.

cazuza by zecarlos art

Rubens Paschoal é acadêmico do Curso de Jornalismo da FAAT Faculdades.

http://twmmodels.com.br/

Rua Pe. Feliciano Grande, 425 - Alvinópolis - Atibaia - SP - CEP: 12942-460


Rede-A Por Sérgio Monteiro de Almeida*

T

odos os poemas aqui publicados foram produzidos por Sérgio Monteiro de Almeida e fazem parte da série Rede-A, desenvolvidos em 2013 em NYC. O artista nasceu em Curitiba em meados do Golpe Militar e atua como artista plástico e poeta visual. Participou de vários salões, mostras coletivas e individuais, além de participar do circuito internacional de Arte Postal. Recebeu Menção Honrosa no II e III Concurso de Literatura Latino-Americana “XICÓATL” Salzburg-Austria (1994 e 1996). Participa de exposições de poesia visual com destaque para II, III, IV, V Bienal Internacional de Poesia Visual e Alternativa, México (1987, 1990, 1992, 1996); Post-Art International Exhibition of Visual/Experimental Poetry, Art Gallery, San Diego State University, CA (1988); Poesia: Outras Escritas, Novos Suportes. Museu de Setúbal, Portugal (1988); Mostra Nacional de Poesia Visual, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil (1995); XV Salão Nacional de Poesia- Montes Claros, MG, Brasil, 2001 (participação com a Intervenção Urbana – “Olhos de Narciso”); Global Poetry – Global Experimental Poetry Net Action (Curadora Caterina Davinio - Itália- 2002); 5º Encuentro Internacional de Poesia Visual – Buenos Aires, Argentina (2002).

Poema visual rede -A-3

Poema visual rede -A-1

Poema visual rede -A-2

Poema visual rede -A-4


Poema visual rede -A-5

Poema visual rede -A-6

Poema visual rede -A-7


ÍNDIO

Ameríndios de hoje, amanhã Por Mauricio Andrade


O

que dizer quando parece que tudo já foi dito? Como resolver o que parece se arrastar diante da ignorância histórica, do descaso, da redundância, da falácia e interesses escusos dos que se interessam apenas pelo poder? Ao caminharmos ao longo das Américas registramos a história escrita dos que venceram e a história vivida dos que carregam em seu rosto, seu corpo, suas terras e tradições, as consequências regais de colonizadores, ditadores, regimes de holocausto imposto aos povos de olhos rasgados. Isso não fica mais bonito quando buscamos, mesmo agora, nesse instante, saber o que nós, povos de uma imensa cultura sabemos realmente sobre os povos indígenas, sobre o povo ameríndio. O que ensinamos sobre eles em nossas escolas? O que sabemos sobre a importância de suas tradições, ritos e costumes? Não falamos aqui sobre o que já foi pesquisado, sobre o que está registrado nos estudos antropológicos de figuras que não tem rosto ou são apenas retratados como preguiçosos, ladrões e aproveitadores, indigentes ou selvagens incultos. “Programa de índio” é um jargão usado comumente para descrever um compromisso infernal. Mas claro, porque não seria? Afinal o índio é sujo, come coisas esquisitas, em verdade índio é tal qual bicho, lugar de índio é no mato, ou nas aldeias em meio às montanhas nos Andes, ou seja, lá de onde for o índio, o lugar dele é lá. Pois é o que pensamos e ensinamos sobre eles. A situação indígena nunca foi tão grave, tão triste e tão corrompida como neste instante. Afinal, fazemos com a vida o que fazemos como a nossa própria mente. O que plantamos em nossos pensamentos é o que vingará como fruto. Afinal, as mentes dos jovens, e as nossas próprias não são todos os dias alimentadas com a violência, ou a “lei de Gerson”, de levar vantagem em tudo, com

sexo, drogas política, política e política? A pureza acabou, não somos mais puros, se é que fomos, o que sabemos é que neles ainda existe essa pureza original, mas nós não a queremos, pois, ela fere, vai contra o luxo, o conforto, o prazer, vai contra o extermínio. Não lhes parece? Olhem mais perto. Poucas pessoas entendem que os povos indígenas preservam e guardam tradições que remontam a história do próprio ser humano sobre a face da terra, guardam conhecimentos ancestrais que não estão catalogados ou registrados, falam de civilizações que já existiram que poderiam explicar e revelar ao homem contemporâneo sobre como os povos antigos sobreviveram a antigos cataclismos, mudanças globais como as que estamos vivendo hoje, e que poucos percebem, mas, está afetando a psicologia, o inconsciente coletivo em todo o planeta. Mais violência, seres animalescos (como querem impor a ideia de ser o índio), destruição dos sistemas de vida, alimentação, água e uma lista interminável de extinções, que culminará com o próprio ser humano. O levante indígena por seus direitos, preservação de suas terras ancestrais, como no caso da construção de usinas como a de Belo Monte, o movimento “Guarani Kaiowa’, que mobilizou as redes sociais e outros eventos que temos visto correntemente, são um grito agonizante, uma ação para mostrar a existência de seres humanos, que apesar de não viverem o “esplendor” da cultura das metrópoles, preserva em sua genética, em seu sangue o fogo transformador do caos em que nós mesmos vivemos todos os dias. Temos mais grades em nossas casas, mais câmeras de segurança, mais drogas do que jamais houve, aliás, em termos de Brasil e América continental, devemos separar a história em duas partes; antes das drogas e depois das drogas.




Andando pelas ruas das grandes capitais, nunca houve um número tão grande de pessoas vivendo em função das drogas, entre elas vemos também alguns números de imigrantes bolivianos fazendo uso de crack ou maconha, como algumas aldeias que se tornaram ponto de apoio para a chegada de cocaína ou outras drogas. É triste, saber que em alguns países como a Bolívia e Colômbia, algumas populações indígenas só conseguem sobreviver por causa do cultivo da folha da coca para ser vendida na produção da droga. O empobrecimento assistido de várias populações e a manutenção do consumo de entorpecentes em várias cidades é o vertiginoso mergulho no abismo do ser humano. Então, como os povos indígenas sobreviveram a isso durante todos esses séculos? Precisamos aprender com eles, antes que seja tarde, se já não é. Agora, ou estaremos olhando por um

prisma errôneo nossa realidade ou poderemos ouvir o grito ancestral, que é nosso também. Não somos um povo miscigenado como dizem? Ou será que realmente é preciso atravessar o caos pela dor da perda para reconhecermos a importância da humanidade indígena, sejam eles de que terras e costumes forem? Há incontáveis casos que poderiam realmente ser contados em minúcias sobre as atrocidades feitas a eles, mas o caso não somente expor o trágico, que é imensamente gritante para o que abrem os olhos. Seus direitos inalienáveis como seres humanos é o que conta, nosso despertar imprescindível, a unidade dos povos fortalecendo um movimento de consciência, a criação de estratégias de educação para o povo, nas escolas, faculdades, em cursos, para as crianças, inclusive não usarem a roupa errada no dia do índio, pois, arquinho, flecha e mocassim, é roupinha de índio norte ame-


ricano, que estão um tanto melhores, após tudo que também passaram. Ensinar a verdadeira história do índio, não é chama-lo de preguiço, por favor, professores e estudiosos, conheçam seus índios. Os pajés e xamãs, que tem um papel imprescindível em suas sociedades, pois, são juntamente como os anciãos, que também tem um papel de importância e destaque, diferente de nós, que os esquecemos em asilos ou sozinhos em casa e sem assistência. Falam-nos de mudanças, de uma mudança que virá, e que já está ocorrendo, contam em suas lendas, em suas visões e nas tradições sobre as transformações por todo o planeta, isso tudo mesmo antes de nossos cientistas alertarem para o aquecimento global. Sabem que essas mudanças incluem a eles, e principalmente aos seus jovens, suas crianças, os quais desejam que continuem a aprender suas tradições e muitas, porém, são seduzidas pela civilização e seus confortos. Eles desejam que tudo seja registrado para ser ensinado, principalmente para nós. Eles sabem que a consciência do ser humano não está desconectada uns dos outros, sabem que todos estão irremediavelmente ligados em algum nível, e hoje os próprios cientistas da nova visão quântica da consciência denominam como “visão remota” e “rede consciencial”, peceba o “clima” de um país ou região diante de um evento, como todos os pensamentos, opiniões e sentimentos convergem para a mesma “atmosfera”. Os antigos povos faziam a analogia com uma teia de aranha conectando todos os povos da terra. Todos nós estamos conectados por nossas intenções e escolhas, eles já sabiam disso. Podemos e precisamos fazer novas escolhas no sentido de corrigir a história criando uma nova história, e embora pareça realmente caótico diante dos eventos que são apresentados

existe uma real e verdadeira esperança de que a beleza, a sabedoria e a força desses povos é que venham a salvar a uma parte da humanidade que existe em todos nós. Se nossa atenção ainda diverge entre o que nos mostra o noticiário e o que nos foi ensinado (ou não ensinado) nas escolas, o mais importante de tudo é a escolha consciente que faremos diante do chamado de uma renovação absolutamente necessária, é um imperativo moral desconectarmos das opiniões virais ou tendenciosas e fazermos nosso próprio juízo em prol da vida, não de apenas um povo, das 305 etnias indígenas no Brasil ou de todos os outros povos ameríndios espalhados por todo continente, mas da vida como um todo com a qual estamos conectados. A ideia de que se no meu quintal está tudo bem, está tudo em paz, tem de acabar. Temos de sair das distrações ilusórias que são uma maneira de manter-nos cativos de uma opinião que não é nossa. Sim, infelizmente é importante também pensar em política, dizemos infelizmente, pelo fato de haver tanta corrupção, tanto descaso, mesmo não sendo a imagem que se mostra, trabalhar com políticos conscientes, trazendo, outra vez, de que não podemos oferecer o que não ofereceríamos aos nossos próprios filhos. A questão política é mais complexa de se resolver do que a questão do índio, pois, em meio aos de direita, os de esquerda, os de centro, ou seja, de qual lado for, ficam de fora os necessitados em todos os sentidos assistindo o novo e ao mesmo tempo mais antigo partido agindo, o PCOR – Partido da Corrupção, e contra esse devemos lutar com todas as nossas forças. Mas voltando à esperança, com muito esforço, conseguimos perceber um maior interesse sincero dos que realmente motivados pelos ideais fraternos de uma sociedade justa, contribuem na divulgação


da cultura indígena, de forma adequada, consciente e sincera. São poucos, mas formadores de livre opiniões muito poderosas, com o uso da imagem, da palavra do próprio índio como testemunho, ao invés da palavra do âncora e do repórter durante algum movimento pelos direitos. Uma nova jornada de educação do não índio (pois essa é uma das soluções) para a cultura indígena e ameríndia, criando discussões sérias e motivando o respeito desde cedo com as crianças, desmistificando uma cultura que tem carregado um pesado estigma. Levar discussões populares, convidar líderes para falar nas escolas e comunidades, registrar a riqueza oculta em nossas mentes e corações. Logo, assim teremos uma nova geração que preferirá conhecer uma aldeia no Amazonas ou Mato Grosso a ir à Disney, ou vivenciar suas tradições por uma semana ao invés de praticar os jogos de morte dos vídeo games. As centenas de milhares de pessoas que passam hoje por sérios problemas psicológicos identificados como resultantes da vida caótica e insana das cidades, nos jogos de poder e sedução poderão aprender o poder do silêncio e da dança, de observar o céu e finalmente deixar de tomar suas pesadas medicações para dormir ou sair do

pânico, pois eles, não precisam disso. O homem que é escravo de suas próprias criações não é dono de sua própria alma, e assim, além de tudo que já foi dito, ensinado ou transmitido, nos libertamos do caos através do respeito, mas é precioso fazer uma escolha, é preciso além dos conchavos políticos, das elucubrações intelectuais, além do que pensamos ou não sermos conhecedores, construir uma nova identidade em nossa consciência que a vida do índio, como a nossa, é mais importante que poder político, que fama e notoriedade, mais importante que ter razão, inclusive. Há uma grande jornada pela frente, e se desejamos, e creio que desejamos uma nova vida, um novo mundo, com a criança índia brincando com a não índia, com índio professor de faculdade ensinando o não índio, que será médico em o outro país. Essa é uma esperança real e possível e que depende de cada um de nós mudarmos nossa visão sobre o que é realmente importante. Que Tupã, Peurê, Catú, Mutim e Nháa, que Jaci, Anhum, Rudá, Tambatajá, que Polo, Sumá, Caupê, que Tsiptosiró, Ropotó’wa, Taptawá, que Kon Tik Viracocha e Kokopele abençoem a todos os seus filhos indígenas e deem força a todos nós.


Você se considera uma pessoa corajosa?

S

Por Leila Navarro*

abe que atualmente a coragem é um requisito importante para manter equilíbrio nos resultados na vida pessoal e profissional? Nunca pensou sobre nada disso? Então esse é um momento excelente! Recentemente, após ter apresentado uma palestra para uma rede de franquias, eu encontrei no aeroporto uma jovem empresária de sucesso, uma franquiada de apenas 23 anos, que há um ano e meio investiu no seu próprio negócio. Conversa vai, conversa vem, ela comentou algo muito interessante! - Com frequência as pessoas olham para mim e dizem que eu não tenho cara de empresária! Já acostumada com essas abordagens, eu respondo: - Para ser empresária não é preciso ter cara, precisa sim ter estômago! Gente! Essa jovem empreendedora me fez rir e refletir! E ela tem razão! Mas, o que significa ter estômago? Para

mim é ter garra, vontade, determinação, resiliência, dedicação... Em tudo que penso a respeito do significado desta expressão vejo que a coragem está implícita! Mas somado a isso deve existir também a ternura, a gratidão, a generosidade e a capacidade de não deixar o outro invisível. Uau!!! Tudo isso parece uma tarefa árdua! Mas, se você é uma mulher de coragem ou conhece mulheres corajosas, assista ao convite que preparei no vídeo abaixo. As mulheres podem ser eficientes, efetivas, produtivas, mas sem perder a sua maior riqueza: o feminino! Coragem, mulher e feminino tem tudo a ver comigo e com você! Confira e conte comigo! * Leila Navarro é graduada na área da Saúde pela Universidade de São Paulo (USP) e Especialista em Medicina Comportamental (UNIFESP). Empresária, é autora de 15 livros e Conselheira da Business Professional Woman (BPW/SP).

https://www.youtube.com/watch?v=f_2cOsTXIWQ&feature=youtu.be

http://migre.me/hUehL WORKSHOP COM LEILA NAVARRO EM ABRIL: LEITORES DA KALANGO TÊM DESCONTO!

http://opoderdasuperacao.com.br/

28 de Abril


Nem tudo está perdido

SUSTENTABILIDADE

Projeto Conservador das Águas no Bairro do Salto: primeira fazenda, propriedade de Rubens Carbone, que oficialmente faz o sequestro de carbono

Poluição na atmosfera, nos recursos hídricos, nas pessoas. Cada vez mais, vemos o cinza da urbanização em detrimento do verde. Cada vez mais o cinza no céu. Mas nem tudo está perdido. O projeto Conservador das Águas, em Extrema, Minas Gerais, é um exemplo das iniciativas que deram certo. Saiba mais na reportagem de Aline Eusébio.


H

á mais de 95% de probabilidade de que a ação humana seja responsável por boa parte da elevação média da temperatura entre 1951 e 2010, disse recentemente na ONU o chefe do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e um dos autores do Quinto Relatório de Avaliação (AR5) do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), José Marengo. Marengo confirmou uma suspeita antiga: embora o aquecimento global seja um fenômeno natural o homem, dito sapiens, o acelera, intensificando o problema. Até os mais otimistas são pessimistas, e alertam: se não fizermos nada imediatamente, se não frearmos esta máquina da destruição, muito em breve, talvez, nossa espécie será extinta. É o caos. Poluição na atmosfera, nos recursos hídricos, nas pessoas. Cada vez mais o cinza da urbanização, em detrimento do verde. Cada vez mais o cinza no céu, e ver a beleza do por do sol se tornou raridade. Cada vez mais crianças doentes, em contraste com aquelas, saudáveis, que corriam com o pé no chão e subiam nas goiabeiras. Estamos morrendo em nome do progresso, e a que preço? Felizmente, na contramão dos pessimistas que preveem o fim da espécie, encontram-se cidadãos realistas que, tendo em mãos sementes verdes, plantam por aí a importância da sustentabilidade. Reciclagem, reutilização, construções inteligentes, ecofrotas, combustíveis renováveis, Pagamento por Serviços Ambientais e, quem diria, sequestro de carbono. O projeto Conservador das Águas, em Extrema, é um exemplo das iniciativas que deram certo. Criado em 21 de dezembro de 2005 pelo Projeto de Lei 2.100, foi premiado em 8 de março de 2013 em Dubai, nos Emirados Árabes, como uma das melhores ações de sustentabilidade ambiental e de melhoria de qualidade de vida das comunidades.


Idealizado pelo engenheiro ambiental Paulo Henrique Pereira, diretor do Departamento Municipal de Meio Ambiente, o projeto tem, até agora, cerca de 150 contratos com proprietários rurais, chamados Conservadores de Água, 7.300 m2 de área preservada, cerca de 700 nascentes protegidas e mais de 350 mil árvores plantadas. Cada Conservador de Água recebe R$210 por hectare (valor de referência em 2013), valor este pago pela parceria entre prefeitura municipal e Comitês de Bacia PCJ, o que o torna um projeto de PSA, isso é, Pagamento por Serviços Ambientais. Extrema é pioneira neste tipo de serviço relacionado com a água, o que rendeu nestes quase 10 anos de existência oficial vários outros prêmios. Ao aceitar ser um Conservador de Águas, o produtor rural abre mão de parte de suas terras, escolhida após estudo, e passa a receber por ela. Este é seu único trabalho. A partir deste momento, entram em cena os funcionários do projeto - que cercam a área para evitar que gados entrem - e plantam mudas de árvores nativas. Parceira antiga do projeto, a The Nature Conservancy (TNC) financia o plantio das árvores através do apoio de empresas privadas. Não obstante, este ano o projeto agregou em si um novo componente de conservação ambiental: o sequestro de carbono, elemento químico representado em sua forma mais comum na atmosfera pelo gás carbônico (CO2), que sozinho é responsável por mais de 80% da poluição que gera o aquecimento global. A ideia de sequestrar o carbono da atmosfera não é novidade. Vem de 1997, durante a Conferência sobre o Clima da Organização das Nações Unidas (ONU) no Japão, quando sugeriu-se no Protocolo de Kyoto que os países em desenvolvimento pudessem compensar as emissões dos países desenvolvidos. Sequestro de carbono nada mais é do que retirar da atmosfera o CO2 produzido pelas

Projeto foi premiado em 2013 em Dubai, nos Emirados Árabes, como uma das melhores ações de sustentabilidade ambiental e de melhoria de qualidade de vida das comunidades

emissões de todos os processos produtivos, energia produzida, emitida pelos automóveis, pelas indústrias. Uma árvore, quando cresce, absorve o carbono da atmosfera e o estoca em si. Então a planta, no processo de fotossíntese, sintetiza o carbono, junto com a água, e transforma isso em celulose, que é o que a faz desenvolver. Assim, quanto mais árvores, mais sequestro de carbono haverá. A inovação em Extrema se dá porque é a primeira vez no país que se realizam dois serviços ambientais em uma mesma área: dentro do Conservador das Águas, que prevê o replantio de florestas nas Áreas de Preservação Permanente (APP), o sequestro de carbono veio agregar valor ao projeto. De acordo com Paulo Henrique Pereira, o primeiro passo para a implantação desta nova vertente do projeto foi mensurar o quanto uma floresta na cidade poderia sequestrar de carbono. “Este valor é calculado por hectares, que equivale a 10 mil metros quadrados. Em Extrema, foi certificado que cada hectare tem a capacidade de sequestrar 15 toneladas de CO2 por ano”, disse. A primeira fazenda que está oficialmente fazendo sequestro de carbono fica no bairro do Salto, e é de propriedade de Rubens Carbone.


Ele já é Conservador de Água. Ao se tornar um “produtor de ar”, o senhor Rubens, além da área prevista pelo Conservador das Águas para replantio de mudas nativas, cede outros 20 hectares de sua propriedade, pelo que recebe R$ 210,00 por hectare anualmente, num total anual de R$4.200,00. “O apoio financeiro é para incentivar o agricultor a participar do projeto. Além de conservador das águas, o agricultor será um guardião do carbono. Ele está guardando o carbono que está na atmosfera em suas florestas, que serão plantadas”, disse Paulo Henrique. Os projetos de sequestro carbono são a longo prazo, com uma meta de 30 anos. Isso porque acontece durante o desenvolvimento da árvore, que normalmente demora este tempo para chegar à idade adulta. Neste período, ela está sequestrando o carbono e o transformando em celulose. A partir destas três décadas, ela já está na fase adulta, e não cresce mais. Consequentemente, para de sequestrar carbono.

CO2 por ano em seus processos produtivos. Em posse deste resultado, vai financiar o plantio de área de floresta que neutralizaria sua emissão. “Esta é a contabilidade: nós sabemos o quanto sequestramos de carbono, e a empresa o quanto ela gera. Então fazemos a conta de quantos hectares são necessários para neutralizar as emissões de CO2 desta empresa”, explicou Paulo Henrique. Após comprovar a efetividade da iniciativa, e ainda demonstrar o potencial real de captar carbono da atmosfera, toda a região do Sistema Cantareira foi validado de acordo com o padrão internacional Climate, Community & Biodiversity (em português: Clima, Comunidade e Biodiversidade - CCB). “Isso comprova que, além de benefícios para o clima, há benefícios para a comunidade e para o meio ambiente num geral. E não somos nós quem estamos dizendo, mas é um selo de qualidade internacional”, falou Gilberto.

Em cada hectare, uma média de duas mil árvores são plantadas. De acordo com Gilberto Tiepolo, representante da TNC no Brasil, existem duas formas de empresas aderirem como parceiras do projeto. Uma delas é quando a empresa quer investir parte de seus recursos em projetos de sustentabilidade. É o caso do Banco Itaú, que financia as ações realizadas na propriedade do senhor Rubens.

Projetos como estes deram ouvido ao sábio Cacique Seattle e seus ensinamentos, em meados de 1854: dinheiro não se come. Então, neste unir de esforços, talvez nunca veremos a última árvore cair, o último rio secar e o último peixe ser pescado. Nem tudo está perdido, pois ainda há esperança.

“O Itaú lançou o programa Ecomudanças, cujo fundo reverte 30% da sua taxa de administração para projetos de organizações sem fins lucrativos com foco na redução de emissões de gases de efeito estufa”, disse.

Dica da Kalango Veja aqui apresentação multimídia, interpretada e narrada por Wes Felty - Resposta do Chefe Seattle para uma oferta do governo para comprar as terras restantes de Suquamish, onde hoje é o estado americano de Washington. http://www.halcyon.com/arborhts/chiefsea. html

A empresa Sotrec, por sua vez, que vai financiar o projeto em uma propriedade no bairro das Posses – já em andamento – quer compensar sua emissão de carbono na atmosfera. Para isso, é necessário um inventário, feito por empresa especializada, relatando quanto emite de

* Aline Eusébio é jornalista.

Mais - Pronunciamento do Cacique Seattle http://www.ufpa.br/permacultura/carta_cacique.htm


ASTRON

Cosmos est

Por Hemerso


NOMIA

tรก de volta!

on Brandรฃo*


Produção pioneira, lançada há 34 anos, ela é até hoje a inspiração de muitas séries de documentários científicos atuais. No entanto, nenhuma delas conseguiu o mesmo apelo popular alcançado por Sagan. Até agora! Com orçamento maior, e apostando num carismático astrofísico, o canal Fox anunciou que em 2014 uma nova jornada épica terá início. “Cosmos – Uma odisseia no espaço e no tempo” pretende fazer uma homenagem e dar sequência à série iniciada por Carl Sagan, décadas atrás. A iniciativa do projeto partiu de Seth MacFarlane, criador das séries animadas “Family Guy” e “American Dad”. Seth é fã convicto de Carl Sagan, e chamou os criadores originais da série da década de 80 para criar a continuação da série. “Quero fazer com que esta produção seja tão divertida, chamativa e excitante que as pessoas que não têm nenhum interesse na ciência assistam simplesmente porque é espetacular”, disse MacFarlane. Para apresentar, Seth convidou o astrofísico Neil deGrasse Tyson. Ainda pou-

O Cosmos é tudo que existe, que existiu ou existirá”. Assim iniciava uma das séries de divulgação científica de maior prestígio de todos os tempos. “Cosmos – Uma viagem pessoal”, apresentada pelo cientista Carl Sagan, utilizava de poesia, imaginação e ceticismo para explorar os grandes mistérios do Universo e como a humanidade tentou explica-los durante a história.

O que é mais assustador? A ideia de extraterrestres em mundos estranhos, ou a ideia de que, em todo este imenso Universo, nós estamos sozinhos? Carl Sagan

co conhecido no Brasil, Neil já é figura famosa nos Estados Unidos, sendo convidado frequentemente em talk shows. É autor de livros, colunista em revistas e apresentador de programas de rádio e televisão. Sempre divulgando a Astronomia. Neil deGrasse tinha 17 anos quando conheceu pessoalmente Carl Sagan. Foi a partir desse encontro, inspirado na generosidade de Carl Sagan, que o jovem foi influenciado a seguir os passos do mestre na divulgação científica. “Cosmos - Uma Odisseia no Espaço e no Tempo” tem estreia em março de 2014, em 48 línguas e em 170 países, tornando-se no maior lançamento mundial da história de uma série de televisão. No Brasil, ela será apresentada no canal pago NatGeo. Ainda não há previsão do lançamento em TV aberta. * Hemerson Brandão é jornalista freelancer e divulgador da astronomia e ciência em geral.


“Neil deGrasse Tyson, escolhido para continuar a saga de Carl Sagan”

TRAILER OFICIAL DE “COSMOS - UMA ODISSEIA NO ESPAÇO E NO TEMPO”

O livro deu origem ao famoso seriado de TV exibido no início dos anos 80. Aqui, em PDF.

http://ul.to/sevk3e5y

https://www.youtube.com/watch?v=kBTd9--9VMI

Para saber mais:

http://www.carlsagan.com/


Carl Sagan Foi professor de Astronomia e Ciências Espaciais da Universidade Cornell e cientista convidado da NASA. Com seu carisma tornou-se num dos grandes popularizadores da ciência no século XX. Autor de dezenas de artigos e livros científicos e de divulgação, entre eles “Cosmos”, o livro de ciência mais lido da história. Inspirado neste best-seller, ele lançou em 1980 a série de televisão homônima, vista por mais de 750 milhões de pessoas em 175 países. Sagan escreveu um único livro de ficção-científica, que posteriormente foi adaptado para o cinema. Dirigido por Bob Zemeckis e estrelado por Jodie Foster, “Contato” foi lançado em 1997. Faleceu em dezembro de 1996, vítima de um câncer raro.


Em 18 de fevereiro a Fox liberou um vídeo promocional (em inglês sem legendas) de entrevistas com os produtores e novas cenas da série “Cosmos: Uma odisseia no espaço e no tempo”: https://www.youtube.com/watch?v=1kCxorTBEW0 Curiosidade: O livro autografado que Neil deGrasse ganhou de Carl Sagan, é mostrado durante a série. O livro em questão é o “Conexão Cósmica: Uma perspectiva extraterrestre”, publicado no Brasil pela editora Artenova. Em entrevista, Neil deGrasse conta como ganhou este livro: http://www.youtube.com/watch?v=Yjs4xXQRSJo A série estreia no dia 9 de março nos EUA, 10 em Portugal e 13 no Brasil. O primeiro episódio será apresentado simultaneamente às 22h30 (horário de Brasília), nos canais brasileiros da NatGeo, Nat Geo Wild, FOX, FX, Fox Life, Bem Simples, Fox Sports, Fox Sports 2 e Fox & Nat Geo HD.

Repaginada, a Nave da Imaginação está de volta na nova série Cosmos


^ PEREQUE Luís Perequê é ativista cultural, fundador do Instituto Silo Cultural, da Rede Caiçara de Cultura e do movimento Defeso Cultural. Quando canta as músicas que se referem ao seu lugar, mais do que divulgar Paraty, Perequê universaliza-se e espalha sonoridades e versos capazes de sensibilizar o público e levar a todos a uma viagem imagética pela sua cultura.

Texto e fotos por Marcelino Lima*




Perequê abriu o show declamando o poema que gravou como letra para a primeira faixa do álbum “Eu, brasileiro...”

Eu Brasileiro Eu brasileiro eu! Euroafroíndio eu Eu sou da água do coco Do toco do pindoba Da goga que sobra do caxinguelê Mistura de raça, graça na postura Jogo de cintura, jeito de viver Eu brasileiro eu! Euroafroíndio eu De brancos ponteios de viola, De negros tambores de Angola, Pele morena, cocar de pena, Pena de arara, cara de índio, Minha cara! Cara de nego maluco Mucungo é suco de cana, Mucama é dama africana Cachaça, cana caiu! Quem descobriu o Brasil Não foi eu, nem você nem Cabral Quem levou o pau-brasil Não foi eu nem você, ninguém viu! Eu brasileiro eu! Euroafroíndio eu Negro é raça Preto é cor Quanta graça, quanta dor Nos olhos de minha mãe Lembranças de meu avô. Meu avô que era banto, era preto Minha avó, uma preta outra branca Minha alma mestiça hoje canta Minha canção mestiça nação Miscigenação! Meu avô veio nas caravelas Minha avó num navio negreiro Num terreiro um sinhô gosto dela Da senzala sai brasileiro.


E

m janeiro a Kalango acompanhou a apresentação do músico, cantor e compositor de Paraty na sala Adoniran Barbosa do Centro Cultural Vergueiro. Durante o show, Luís Perequê cantou músicas dos seus álbuns “Eu, brasileiro...”, “Tô brincando”, “Encanto Caiçara”, o primeiro da carreira, de 1992, e “Luís Perequê ao Vivo”, gravado em 2012 na sede do Projeto Tamar em Ubatuba/SP. Nesta apresentação pela “Caravana Paraty”, Perequê homenageou o mestre Dércio Marques, falecido em 2012, cantando “Vem comigo”, canção que abre um dos mais recentes trabalhos de Katya Teixeira, “Feito de Cordas e Cantigas”. Katya Teixeira, por sinal, foi uma das convidadas de Perequê para esta passagem pela sala Adoniran Barbosa, ambos cantaram “Joaninha”, letra da qual ele é autor, e que ela gravou no álbum “Lira do Povo”. O violeiro Noel Andrade, de Patrocínio Paulista, mas radicado em São Paulo, também foi recebido por Perequê. No álbum “Charrua”, Noel Andrade gravou “Beira de Mar, Beira de Rio”, do anfitrião, com quem cantou em duo. Depois Andrade e Katya Teixeira dividiram o palco e cantaram, entre outras canções, “N umbigo da Viola”, faixa da qual ela extraiu dos versos do paratiense o título para “Feito de Cordas e Cantigas”.

Perequê recebeu ainda a dupla Sá e Guarabyra, uma das mais antigas e cultuadas do país, que fundou junto com o já falecido Zé Rodrix um estilo que ficou conhecido como “rock rural”. O carioca e o baiano, no entanto, vêm encantando gerações com canções que falam de amizade, de amor, de sonhos e de desejos, como lembrou Perequê, entre os quais por o pé na estrada e ter uma casa no campo. No palco, ambos cantaram com Perequê “O Pó da Estrada”. Depois, nas palavras de Sá, “algumas canções que vocês ainda não conhecem” como “Dona”, que fez parte da trilha sonora da novela “Roque Santeiro”, “Espanhola”, também conhecida na voz de Flávio Venturini. O ponto alto da noite viria a ser a apresentação de “Sobradinho”, do disco “Pirão de peixe com pimenta”, de Sá e Guarabyra, que eles cantaram junto com os demais músicos numa apoteose que levantou a plateia. Depois de tanta energia e emoção transbordando pela sala Adoniran Barbosa, Sá e Guarabyra voltaram aos violões para o bis e a despedida. “Caçador de mim”, de Sá e Sérgio Magrão, foi a canção escolhida. Ela faz parte do álbum homônimo de Milton Nascimento (1981) e também está entre os sucessos da carreira de Venturini quando integrava o conjunto 14 BIS. A Caravana Paraty teve sequência no domingo, 2 de fevereiro, no Centro Cultural Vergueiro, e na Galeria Olido (Avenida São João, 473), entre 13 e 16 do mesmo mês. As atrações da Caravana são gratuitas e incluem músicas, debates, espetáculos de danças, ambientação com bonecos e máscaras de Paraty e exibição de vídeos e documentários. Perequê, no dia primeiro dia de atividades fez parte da mesa de debates sobre o movimento que discute a cultura e seus atuais desafios nas cidades turísticas (ao lado de Antônio Carlos Diegues, Bruno Tavares e Mauro Munhoz, com mediação de Anna Cecília Cortines). O show, além dos artistas mencionados que ele convidou, teve na plateia as presenças dos cantores, compositores e produtor cultural Carlinhos Antunes e Consuelo de Paula. * Marcelino Lima é jornalista


Homem Alma

Entre uma canção e outra, Luís Perequê declamava suas poesias. E fez sem ser panfletário uma candente defesa da cidade de Paraty e outros municípios cujas festas e tradições folclóricas e próprias das manifestações religiosas, entre outras características históricas e culturais, são exploradas de forma inconsequente pela indústria do turismo e do entretenimento. “O congado, a folia de reis, as festas do Divino sempre existiram e existem independentemente do turismo”.

Ah se meu cavalo branco Feito de plancto e espumas Não se desmanchasse na areia Eu seria, eu seria eu, sereia... Se minhas asas esculpidas em cúmulos Pesadas de tantos sonhos Não se desmanchassem com o vento E eu centímetro por centímetro, sentimentos E a liberdade, de nada saber sobre os homens, nada... Queria não acreditar nem atribuir a Deus O que não compreendo Apagar a existência de divindades Entre eu, os cachorros, as flores e as fadas E ser só asas... Homem asa, homem alma, homem pássaro Pássaro nos dias vestidos de azul Como é comum no outono Mas não, sou preso de carne, ossos e planos Planos inúteis de tão humanos... E meu cavalo branco Feito de plancto e espumas se desmancha na areia E se recria no rufar dos remos, Na linha d’água das canoas, na proa de grandes navios Na prata que cai da lua, no ouro que finda a aurora Nas vozes que trazem o dia.

Os músicos Rhandal Oliveira, Jerome Charlemagne e Enrique Armengol Perequê o centro, com parte de sua banda, e ao fundo, a logomarca da “Caravana Paraty”, colocando em destaque a Igreja e o casario da agradável cidade do litoral fluminense.


Katya Teixeira canta de pés descalços, na maioria das vezes que a vi foi assim. E sempre com a mesma entrega...

Outra característica de Katya Teixeira é o sorriso que emoldura o rosto dela e que brota sempre espontaneamente, o que evidencia que ela não é apenas uma cantora, pesquisadora e compositora talentosa, mas uma mulher de alma leve... e bela!

E a viola do Noel Andrade dá o tom... Momento caipira na Sala Adoniran Barbosa para fazer a poeira levantar... É na hora que você ouve alguém como o Noel Andradecantar e tocar que você fala: “Obrigado, pai, pelos valores que você me transmitiu e por ter me ensinado a curtir música de viola e a cultura da roça!”


Katya Teixeira dispensa apresentações , mas sempre leva ao palco vibração e alegria, seja qual for a ocasião...

A dupla Sá e Guarabyra: quem tem mais de 40 reencontrou-se com ícones da juventude...


Entre dois ícones da MPB, a presença do paratiense Luís Perequê levanta uma pergunta: por que as músicas e os poemas dele não abrem e não integram trilhas de novelas? Por que a crítica não dá a ele o devido reconhecimento e não o divulga como convém? Você o conhece, sabe da grandiosidade da obra dele e do quanto ele milita por causas como a defesa do patrimônio e das bandeiras históricas e culturais das cidades turísticas?


Para saber mais sobre Luís Perequê: http://luispereque.blogspot.com.br/

Ao final, tudo junto e misturado: artistas celebram a arte e a cultura no palco do Centro Cultural com a Santíssima Trindade


Mãos que transformam Ele é natural de Pacaembu, cidade de 13 mil habitantes situada a 617 km da capital paulista. Teve sua iniciação nas artes aos 12 anos, desenhando com lápis. Tornou-se um artista autodidata desde então, migrando para Piracaia dois anos depois. Aos 39 anos, vê na restauração da Igreja Matriz e na pintura dos Papas no teto da igreja de Piracaia o grande reconhecimento pelo seu trabalho. Seu nome é Wagner Luis Melo da Silva, mas seu amor pela cidade o tornou conhecido como Wagner Piracaia.

Wagner em seu ateliê e com os trabalhos produzidos para as Câmaras Municipais


F

ilho do pernambucano Genival Inácio da Silva e da Alagoana Maria de Lurdes da Silva, Wagner Luis Melo da Silva, mais conhecido com Wagner Piracia é conhecido em toda região Bragantina pelas suas obras, sobretudo pela perfeição e realismo com que pinta seus quadros, tendo na Madre Tereza de Calcutá seu trabalho mais grandioso, segundo ele, “meu ponto máximo”. Wagner desenvolve várias técnicas e tem obras em gesso, madeira, papel e aquarela. Com papel machê – do francês papier mâché, que significa papel picado, amassado e esmagado) o artista criou no ano passado inúmeras estatuetas com temática religiosa a partir da massa feita com papel picado embebido na água, coado e depois misturado com cola e gesso. “Wagner veio para a pequena cidade de Piracaia, ainda adolescente juntamente com seus pais, que vinham atrás de serviço na plantação de rosas. Vindo de uma família muito simples e humilde, estudou em escola pública, onde começou a se destacar pelos seus desenhos sempre ricos em detalhes, afirma José Carlos Vieira da Silva, o Tazula. Entretanto, eram as caricaturas que mais chamavam a atenção dos colegas e amigos, em cujos traços o artista não tinha limites para

igreja matriz de Piracaia. Depois disso já foi entrevistado pela Rede Globo, pela TV Gazeta e já foi citado na revista National Geografic. Hoje o artista é responsável por retratar todos os presidentes das Câmaras Municipais de Piracaia, Atibaia e Bragança Paulista.

pintar, às vezes em camisetas para ganhar alguns trocados, outras vezes nas paredes do comércio local”, destaca o mais ilustre morador de Piracaia, cuja página na Internet valoriza e enobrece a cidade. http://srpeixefrito.blogspot. com.br/ Por meio destes trabalhos, Wagner acabou sendo convidado para pintar as paredes de um bar chamado Convento, retratando artistas e personalidades do município. Na mesma época, foi convidado para fazer a restauração e a pintura do Papas no teto da

Wagner é um exímio retratista – com uma fotografia em mãos é capaz de transformá-la em uma verdadeira obra de arte. Ainda segundo Tazula, sua forma de retratar as pessoas é de uma perfeição incrível e muito rica em detalhes, com fortes marcas de sombra e luz. Para o artista autodidata, é a mais bela expressão de amor em homenagem a alguém especial. Quem quiser saber mais sobre o trabalho de Wagner Piracaia pode visitar sua página no Facebook ou entrar em contato com ele pelo telefone (11) 97390-3787. Veja também - TV Câmara Programa é Notícia: http://www.youtube.com/ watch?v=Av1ekg3i6nQ Na revista National Geographic, destaque para o trabalho do artista.

Wagner e os retratos que produz sob encomenda (esquerda). Acima, restauro do Cristo, em Piracaia.


VIAGEM

Um rolê no Rio com a técnica fotográfica tilt-shift Por Luis Pires















A

Kalango separou pra você três videos inspiradores: duas campanhas realizadas para Banco Itaú e uma para os Correios. As técnicas utilizadas são realmente muito impressionantes e utilizam além do tilt-shift também o stop-motion. O tilt-shift é uma técnica fotográfica que usa lentes especiais que distorcem a imagem e mudam a perspectiva e o foco. Na campanha do Itaú, além do tilt-shift usou-se também o time-lapse, captação de poucos frames por segundo que, depois de acelerada a cena, cria a impressão de maquete com as duas técnicas. Você tem aqui também o making-of dos trabalhos do Itaú, disponibilizado por Enio Berwanger, diretor de fotografia de ambas as peças à época, em 2009.

O teceiro vídeo é igualmente inspirador. Na comemoração da marca histórica de 350 anos de atividades no Brasil, os Correios veicularam uma campanha criada pela Link Comunicação com o slogan “Vai mais longe”. As cenas do filme destacam paisagens e pontos turísticos do país e foi realizada pela produtora O2 Filmes, com direção de Rodrigo Meirelles. A Serra do Rio do Rastro juntamente com o Parque Eólico de Bom Jardim da Serra fazem parte da propaganda de 350 anos dos Correios. Em 2012 ela foi eleita a estrada mais assombrosa do mundo (mais bela) por um site espanhol. Itaú Personnalité - Projetos http://vimeo.com/13837521 Itaú Personnalité - Perspectivas http://vimeo.com/13837099 Making-of Itaú Personnalité - Barcelona http://vimeo.com/14127671

Correios, 350 anos: http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=ZsFOiSVuog4


Empreender um sonho:

só depende de você! Te convido a compartilhar de uma reflexão que assombra todos os empreendedores: “Será que apenas eu acredito nos meus sonhos?” Empreendo há bons anos e a todo projeto, toda ação solicitada pelo cliente, logo vem a preocupação em selecionar os melhores fornecedores. Aqueles que entreguem qualidade, investimento adequado e por aí vai... Até aí tudo são flores, mas é a partir desse momento que se inicia o Caos. Ao buscar parceiros no mercado, você começa e entender que as empresas buscam apenas o aspecto financeiro. Entre outras palavras, querem apenas emitir a nota fiscal e faturar as suas custas e você, no papel de cliente, busca o oposto: busca um bom atendimento, um bom relacionamento, efetivamente uma parceria que pode se estender para outros projetos e ações. Mas, como um passe de mágica, o choque de realidade começa a acontecer quando o seu fornecedor subjuga seu projeto, suas idéias, suas ações e sua empresa. O fantástico momento dessa reflexão se apresenta quando você não recebe o orçamento no prazo combinado – uma mensagem automática do Outlook informa que seu e-mail foi deletado sem ser lido; quando você tenta contato por telefone e não é atendido; agendam

uma reunião contigo e meia hora antes e a secretária lhe informa que houve um imprevisto e retornará com uma nova data. Tenho certeza que você, caro leitor, já viveu essas situações ou conhece outras similares que lhe fizeram refletir sobre suas atividades empreendedoras e, consequentemente, seus sonhos. Você deve estar se perguntando: “Tá bom, isso acontece desde que o mundo é mundo e não vai mudar...” Concordo com esse pensamento e, sendo assim, sugiro uma mudança de postura, que vai além de uma relação comercial. Refiro-me ao momento em que é preciso uma análise sobre seu relacionamento com os clientes. Será que eles têm esse mesmo pensamento sobre seu empreendimento? Será que o “x”da questão não somos nós? Então, em meio a esse Caos, vamos repensar nossas atitudes, abordagens e relacionamentos para com nossos clientes. Dessa maneira, desenvolver as devidas habilidades e competências para ter ao nosso lado como parceiro quem realmente vale a pena e entenda nosso empreendimento como nosso maior patrimônio, o nosso sonho.

Por Bruno Bertozo*

Sugiro uma mudança de postura, que vai além de uma relação comercial. Refiro-me ao momento em que é preciso uma análise sobre seu relacionamento com os clientes.

* Bruno Bertozo é profissional de Relações Públicas e professor da FAAT Faculdades.


ARTE

Sarau do Bata

pra quem é de prosa e de poesia Texto e fotos por Sônia Barreto Novaes*

O

homem acorda e segue sua rotina, muitas vezes sem abrir retinas ou cortinas vai passando por uma vida cretina... Mas, a simples pitada disso e daquilo, o desvelar de matizes, nuances, ruídos, odores, dores, asperezas e, é claro, dos amores, dentre outros fatores - vão escancarar para o Ser as surpreendências da vida prosaica e fazê-lo perceber que ela, a vida, é bem melhor quando nela se instala a poesia. Toda poesia é processo de criação - poiesis - que de uma maneira ou de outra alimenta todas as formas de artes e nos permite transcender ao mundo cão.

O Sarau é a apoteose da poesia, é o palco para acontecimentos, foge às regras, às determinações e aos planejamentos. É caminho que se faz ao caminhar. Com algum bom motivo em vista a gente vai. Chamamos os amigos afins, aqueles que curtem as artes de uma maneira geral, aqueles que acordaram e não se contentaram em abrir apenas suas retinas e que, além de abrir as janelas, saltaram ao contexto tão conformado. O Sarau do Bata é uma manifestação poética do Ser prosaico no lugar. * Sônia Novaes é doutoranda pela Universidade de São Paulo.



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