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Kalango ano IV • JUNHO2013

VOCe PODE ^


Clique no quadro para assistir ou no link abaixo: http://www.youtube.com/watch?v=_Lk43-FxVJY

Intervencão Rural Por Vitor Carvalho José Ferraz de Almeida Júnior provavelmente foi o primeiro artista plástico brasileiro a retratar nas telas o homem do povo em seu cotidiano, em contraste com a monumentalidade que até então predominava nas artes plásticas do Brasil. A forma inovadora como tratava a luz é ainda hoje comentada e apreciada. Em sua honra, o dia do Artista Plástico Brasileiro é comemorado a 8 de Maio, dia do nascimento do pintor. Uncle Dunha não poderia deixar passar e fez uma homenagem ao trabalho do artista, assista “I.R. (Intervenção Rural) com Almeida Jr.


Rubens Paschoal


Caro leitor,

E D ITORIA L

ês do juninas. Mês de férias, m Junho é o mês das festas o surgiu, há três anos. Com go lan Ka a e qu em ês m frio, dade, , queremos falar de liber inverno se aproximando ar, s. Você pode sair, passe de ida bil ssi po de or, elh ou m o que rvar, navegar, se iludir e caminhar, esperar, obse no? er de bacana nesse inver faz de po cê vo e qu O . mais vier à mente m você, que des e compartilhamos co ida bil ssi po s ria vá em Pensamos os pés . Jean Takada colocou m ge via ssa ne a nh pa sempre nos acom encontrar olhar diferenciado pode um e qu de s tra os m u na rua e de s do Delta9 aponta as mazela e. nt sa es er int isa co a (e registrar) muit conta o que iana e Rubens Paschoal tid co ” de da ali -re er hip “portal da tista Kern nos apresenta o ar lan Al o. fri de s ite no s você pode fazer na afone podem o um cartaz e um meg m co tra os m e qu r, lea Maicknuc Rio mo São Paulo. Marcelo co e ad cid a um de o ian chacoalhar o cotid de vir por kut e pergunta: o que po Or do s po m te s lho ve lembra os do e de ser campeão do mun po cê vo e qu a ov pr a aí? Marcelino Lim o pode fazer a o que pode e o que nã m or inf s ae or M de io rg Mário Sé do que nos iludimos quan rta ale ue cq vja De n Da . com os números que vos fala no universo e o Kalango s ho zin so os tam es e qu achamos dia a iludir com as imagens do se te en alm re de po cê mostra como vo com as dicas pode conhecer Curitiba, m bé tam cê vo no er inv dia. Nesse lebrar ens de Ana Procopiak, ce ag im s na e ad cid a r ira do Luis Pires, ad-m aluco Beleza, uma bela imagem do M o nd rti cu s ixa Se ul Ra o niver de outra Eusébio, conhecer uma ne Ali a m co ça gra de e ir ao teatro quas nos olhos de ver poesia onde havia – e jo au Ar am illi W m co realidade uma boa leitura! ótima viagem pra você e Mercedes Lorenzo. Uma Osni Dias


e

Ind ic

kalango#14 Junho de 2013

Só um Deus pode rá nos salvar - Leo nardo Boff Pequenas cenas Paulo Netho Tudo ou nada: o q ue realmente pod emos fazer? Oriva ldo Biagi Coloque os pés (e olhos) na rua - Jea n Takada Aliendígenas?! - D elta9 Frio - Rubens Pasc hoal Artistas e Arteiros - Allan Kern Facebook é o fast-f ood do pensamen to - Marcelo Rio Três amigos - Marc elino Lima 69 - Mário Sérgio de Moraes Você pode se ilud ir? Dan Devjacque Você pode se ilud ir - Kalango Curtir o frio em Cu ritiba: você pode! - Luis Pires Em busca da Curiti ba perdida - Ana P rocopiak Raul Seixas - Lady Vallentine Você pode curtir te atro quase de gra ça - Aline Eusébio Uma outra Realid ade - William Araú jo Mylton Severiano conta curiosidade sFernanda Doming ues e Cristiane Ferr eira Ava Marandu - Va nia Jucá Poesia onde não h a via - Mercedes Lo renzo Revista

Kalango. Edição 14 . Junho de 2013. Ed colaborativa. A pu itor: Osni Dias MTb blicação não tem vín 21.511. A Kalango culos políticos, econ online ou fazer do trabalha de forma ômicos nem religios wnload e, posterio os. Você pode ler rmente, ler em se Seja um patrocinad a Kalango u computador. Co or e ajude uma mídi labore, compartilhe a independente. Es . Quer anunciar? creva para revista kalango@gmail.co m


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So um Deus podera nos salvar ´

Por Leonardo Boff* A crise de nossa civilização técnicocientífica exige mais que explicações históricas e sociológicas. Ela demanda uma reflexão filosófica que desemboca numa questão teológica. Quem o viu claramente foi Martin Heidegger (18891976), antes mesmo que tivesse surgido o alarme ecológico. Numa famosa conferência em 1955, em Munique, “Sobre a questão da técnica”na qual estavam presentes Werner Heisenberg e Ortega y Gasset, ele tornou claro o risco que o mundo natural e a humanidade correm quando se deixam absorver totalmente pela lógica intrínseca deste modo de pensar e de agir: intervem e manipula o mundo natural até às suas últimas camadas para tirar benefícios individuais ou sociais. A cultura técnico-científica penetrou de tal forma na nossa autocompreensão que já não podemos entender a nós mesmos nem viver sem essa muleta que introjetamos em nosso próprio ser e estar-no-mundo. Ela representa a convergência de duas tradições da filosofia ocidental: a platônica de cariz idealista transfigurada pela incorporação cristã e a aristotélica, mais empírica que

está na base da ciência. Elas se fundiram no século XVII a partir de Descartes e fundaram a moderna tecno-ciência moderna, o paradigma dominante. O interesse desse modo de ser é como são as coisas, como funcionam e como nos podem ser úteis. Não é o milagre de que as coisas são, confrontadas com o nada. Separamo-nos do mundo natural para entrar profundamente no mundo artificial. Perdemos a relação orgânica com as coisas, as plantas, os animais, as montanhas e com os próprios seres humanos. Tudo se transforma em instrumento para alguma finalidade. Não vemos o ser humano, como pessoa, portadora de um propósito, mas a sua força de trabalho, seja física seja intellectual que pode ser explorada. Se algo pode ser feito, será feito sem qualquer justificação ética. Se podemos desintegrar o átomo não há porque não faze-lo e construir uma bomba atômica. Se podemos lançá-la sobre Hiroshima e Nagasaki quem o impedirá? Se posso manipular o código genético, não há limite moral ou ético que o possa coibir. E fazemos as experiências que acharmos


interessantes e úteis para o mercado e para certa qualidade de vida. Heidegger nos adverte que esta tecnociência criou em nós um dispositivo (Gestell), um modo de ver que considera tudo como coisa ao nosso dispor. Colonizou todos os espaços e subjugou todos os saberes. Transformou-se num motor que se acelerou de tal forma que já não sabemos como pará-lo. Tornamonos reféns dele. Ele nos dita o que fazer ou deixar de fazer. Neste ponto Heidegger aponta o altíssimo risco que corremos como natureza e como espécie. A tecnociência afetou as bases que sustentam a vida e criou tanta força destrutiva que nos pode exterminar a todos. Os meios já foram construídos e estão aí à nossa disposição. Quem segurará a mão para não deslanchar um armagedon natural e humano? Essa é a questão magna que nos deveria ocupar como pessoas e como humanidade e menos o crescimento e as taxas de juros. A resposta tentada por Heidegger é uma Kehre, uma ”Volta” que signfica uma revira-Volta. Este é o propósito final de todo o seu pensamento, como o revelou numa carta a Karl Jaspers: ser um zelador de museu que tira a poeira sobre os objetos para que se deixem ver. Como filósofo se propunha (pena que usa uma linguagem terrivelmente complicada) remover o que encobre o habitual e o cotidiano da vida. Pela sofisticação técnico-científica ele ficou esquecido, abstrato ou enrijecido. Ao fazer isso o

que se revela então? Nada senão aquilo que nos rodeia e que constitui o nosso ser-no-mundo-com-os outros e com a paisagem, com o azul do céu, com a chuva e com o sol. É deixar ver as coisas assim como são; elas não nos oprimem mas estão, tranquilas, conosco em casa. Foi buscar inspiração para esse modo de ser nos pre-socráticos particularmente em Heráclito, que viviam o pensamento originário antes de se transformar com Platão e Aristóteles em metafísica, base da tecnociência. Mas suspeita que seja tarde demais. Estamos tão próximos do abismo que não temos como voltar. Na sua última entrevista ao Spiegel de 1976 publicada post-mortem diz: “Só um Deus nos pode salvar”. A questão filosófica sobre o destino de nossa cultura se transformou numa questão teológica: Deus vai intervir? Vai permitir a autodestruição da espécie? Como teólogo cristão direi como São Paulo:”a esperança não nos engana”(Rm 5,5) porque “Deus é o soberano amante da vida”(Sb 11,26). Não sei como. Apenas espero. Leonardo Boff é autor: Proteger a Terracuidar da vida: como escapar do fim do mundo, Record Rio 2010. * Leonardo Boff é teólogo, escritor e autor de Saber cuidar. Ética do humano, compaixão pela Terrra, Editora Vozes. www.leonardoboff.wordpress.com


pequenas cenas Por Paulo Netho*

E

stava vestido num calção de tergal que mãe fizera. Azulzinho que nem o céu. Com a cara embrenhada na terra eu ficava inventando coisas. Mãe no tanque cantava. “Quando eu morrê me enterre na lapinha”. Eu entendia me enterre na latinha. Achava mãe estranha naqueles dias, mas logo me desligava dela. Precisava construir o meu trator, afinal, tinha terra que não acabava mais no quintal. Pai saía para trabalhar antes do cacarejo dos galos. Ele passava os dias zanzando dentro de um carroforte levando dinheiro de uma agência pra outra. Maior responsa. Pai era de pouco riso e muito siso. À noite, quando víamos descer a Benedito Américo de Oliveira, corríamos pra pegar a bolsa dele e um saco de açúcar União -daqueles de cinco quilos- cheiinho até a boca de pão para o nosso desjejum: pão com mortadela, com presunto e nos dias mais sem graça, pão com manteiga ou pão puro mesmo. Gostava mais quando o pão vinha com queijo prato e odiava com doce de leite. Queijo prato era ouro.

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´ O pai puxava uma cadeira de madeira marrom e sentava pra tirar os sapatos. Os sapatos Vulcabrás do pai eram cortados nas extremidades de cada pé por causa de uns calos herdados do tempo em que trabalhava na roça de algodão. Todos os dias preparávamos um agradinho. Assim demonstrávamos gratidão àquele homem trabalhador. Um trazia o chinelo. Outro, um copo d’água da bica que ele adorava. Depois ficávamos olhando o pai – com ar grave assistindo o Jornal Nacional. Ele se instruía assim. Dava até “Boa Noite” pro Cid Moreira. E só então jantava. A nossa televisão era uma Philips – preto e branco, mas antes tivemos uma Colorado RQ, o televisor da garra brasileira, o Pelé era o menino propaganda dessa marca. Quando a Vizinha, irmã do Zelão, viu a nossa tevê já foi logo dizendo: “a nossa é Pilco”. A gente riu muito porque a Vizinha pronunciou Philco com o som do P, em vez do som de F. E se a dela era Pilco, a nossa era Pilipis. Crianças são assim mesmo, quando não são cruéis são uns doces. Neste dia, até o pai riu.

* Paulo Netho é poeta, escritor e um encantador de pessoas.


Tudo ou nada: o que realmente podemos fazer? Por Orivaldo Biagi*

Somos realmente livres para podermos fazer qualquer coisa? Tal pergunta foi impossível por milênios – as regras sociais impediam qualquer manifestação muito diferente das mesmas. Tais regras eram, em essência, a razão de ser da sociedade – assim, sua obediência, mesmo que não seguida inteiramente por todos, era vista como fundamental. Os limites do ser humano eram bem definidos. O imaginário ocidental, depois dos séculos XVII e XVIII, mudou tal perspectiva: o ser humano tem a iniciativa, ou seja, ele não apenas pode como deve criar socialmente e, consequentemente, pode fazer qualquer coisa. A natureza, por exemplo, está a serviço do Homem – usá-la, portanto, era mais do que um direito e, sim,

uma obrigação, principalmente para aqueles de iniciativa. Eis a lógica do “espírito capitalista”. Com os prejuízos naturais e humanos decorrentes do “poder fazer”, será que valeu à pena? Pergunta difícil, mas incorreta: será que o ser humano poderia “não fazer”? A capacidade humana de criação constante, que denominamos de imaginário social, impediria o “não fazer”, com ou sem o capitalismo – enquanto o ser humano tiver imaginação ele irá fazer!

* Orivaldo Leme Biagi é Ph. D. em Comunicação pela USP e Professor da FAAT Faculdades



N贸s nunca permitiremos que o dinheiro nos esconda a realidade.


Coloque os pés (e olhos) na rua Por Jean Takada Saia por aí, vá caminhar. Pegue um ônibus ou embarque num metrô. Repare nas pessoas, observe, preste atenção nos gestos, nas expressões, dê vida aos detalhes. Olhe os olhares. Sinta o cheiro da rua. Sim, a rua ainda nos une, desafia, dá medo, mas tem mais verdades do que seu Facebook. Existe um mundo ao seu redor. Confunda-se com ele. Misture-se com o que observa. Faça o pulso pulsar. Há vida lá fora! Pode acreditar.



U

Por Delta9*

ALIENDiGENAS

m velho canadense afirmou que os EUA trabalham com extraterrestres. Numa conferencia, em Washington, ele atreveu-se a dizer: “temos um sistema econômico terrivelmente tolo no ocidente hoje, e o congresso dos Estados Unidos tem parte da responsabilidade por isso, terei prazer em elaborar mais o assunto caso tenham interesse em ouvir”. Afirmou que isso é parte fundamental dos principais problemas mundiais. As autoridades presentes não tiveram interesse. Na verdade, o calaram. Estavam mais interessados em assuntos extraterrestres. Sandice esclerosada do velho? Claro que não! Afinal, ele foi Ministro de Defesa do Canadá, por mais de 20 anos. Senão... Mister Paul Hellyer afirmou existirem 4 espécies diferentes de ETs. Aqui em nossa mídia, também temos alienígenas, seres estranhos coadjuvantes num teatro socio-econômico, sociologicamente categorizados, visto que são objetos de estudo pelos intelectuais (aqueles, que gostam de pobre, eventualmente!). Refiro-me, especificamente, a duas categorias de aliens sociais que vivem em tribos: os indígenas e os homossexuais. Ambos tem espaço na mídia em função do poder aquisitivo (money, bufunfa, grana, finanças, capacidade de compra, interesse mercadológico). Quem tem, põe. Quem não tem... sai. Já está na hora das nações indígenas informarem à mídia que TODAS elas, de norte a sul do Brasil, são nações GAYS! Sim, nações gays. Homens, mulheres, idosos, idosas, crianças, TODOS mantendo uma relação homoafetiva entre si.


“Nesse exato momento milhares de pessoas das mais diferentes etnias indígenas revivem a história brasileira da conquista, digo, da dominação. Os tupinambás contra os tupiniquins. E os espelhinhos dos títulos de propriedade se espalham”

Não tenho nada contra os homossexuais. Não são melhores nem piores que ninguém. Porém, ambos os casos aparecem no ‘portal da hiperrealidade’ como figuras exóticas. Os descendentes indígenas com seus cocares e os gays com suas plumas e paetês, são as atrações desse circo democrático onde o cidadão miserável recebe R$700 de bolsa assistencial e R$600 de salário. Nesse circo democrático (zapeado por controle remoto nas mãos de sabe-se lá quem), homossexual é respeitado quando tem grana, quando é celebridade, superlativo dos intocáveis. Do contrário, como os indígenas, torna-se um pária, um “dalit nacional”. Nesse exato e especial momento milhares de pessoas das mais diferentes etnias indígenas revivem a história brasileira da conquista, digo, da dominação. Os tupinambás contra

Embora a enorme, gigantesca e humilhante maioria não tenha um gato para puxar pelo rabo (trocadilhos à parte), poderiam, assim, ser vistos com maior notoriedade pelo Fantástico, por exemplo.

os tupiniquins. E os espelhinhos dos títulos de propriedade se espalham.

Os nativos que tem espelhinhos de título de propriedade, recebidos em troca do uso das terras pelas corporações internacionais, são tratados como cidadãos pelo Código Civil. Os outros nativos necessitam de legislação própria que os ampare, como começa a acontecer no caso das uniões homoafetivas.W Necessária uma legislação ‘indioafetiva’. Enquanto essa não vem, é melhor que os aborígenes declarem-se homoafetivos, modernizando a visão integracionista, que via o índio como um ser fadado ao desaparecimento, obrigado a se amoldar ao padrão da sociedade envolvente. Quem sabe, assim, alguns artistas não resolvam fazer turnês pelas áreas “invadidas” pelos silvícolas? Plumas não faltam. * Delta9 é extraterrestre, publicitário e atua no Judiciário.

www.undiverso.blogspot.com/


frio

Por Rubens Paschoal

A

ndando pelas ruas sujas do centro, Luis teve a sensação de que estava sendo seguido. Eram duas horas de uma tarde gelada de julho. Embora o sol estivesse a pino, o céu sem nuvens, os termômetros marcavam 12 graus. Somente em seu interior tudo queimava. Seguindo pela Avenida São João, olhou para trás e não viu viva alma, mas a sensação de que havia outros passos além dos seus crescia nos seus ouvidos. Um estranho sentimento de querer cometer um crime surgiu em sua mente. Sem qualquer motivo, razão ou remorso o sentimento cresceu dentro de seu peito e ganhou formas inusitadas. Sua vida de funcionário público era medíocre. Vivia só e solitário. Desceu a avenida e entrou no

prédio alugado pela Secretaria de Segurança Pública para mais uma tarde de serviço burocrático. Estatísticas de crimes hediondos o aguardavam. Tomou um café e saiu na sacada do quinto andar para um cigarro. O frio era cortante e a sensação de que alguém o vigiava não o abandonava. Maria Julia, 17 anos, fora encontrada esfaqueada. Dezessete golpes após o estupro. Não sentiu pena, não sentiu ódio. Indiferença. Antonio, 35 anos, levou um tiro na cabeça na Avenida 23 de maio. Assalto. Possivelmente não quis entregar o relógio ou o celular. Enéas, 72, teve parte de seu corpo queimado num latrocínio.Marilia, 42, foi morta pelo marido traído. Élcio, 35, morreu de overdose em uma festa e foi atirado debaixo de


um viaduto como indigente. Novamente a sensação de que uma câmera oculta o espreitava rasgou seu pensamento. Depois de analisar e tabular cerca de vinte crimes, o relógio avisou a hora de encerrar o expediente. Era quarta-feira. Vestiu o casaco e ganhou a calçada com aquela estranha sensação que lhe perseguia desde a hora do almoço. A todo instante olhava para trás e não conseguia distinguir nada de anormal. Caminhou três quarteirões até o ponto de ônibus. Cartazes anunciavam espetáculos para todos os gostos e bolsos. Outdoors estampavam modelos em lingerie sexy. Ao seu lado uma multidão de estranhos o fez sentir como um estrangeiro, um forasteiro e novamente a ideia de querer cometer um crime o assombrou. Álibi e como praticá-lo não era problema depois de analisar milhares de crimes. Não embarcou no primeiro ônibus, nem no segundo, nem no terceiro. Ficou a espera de seu perseguidor que não apareceu. Resolveu caminhar até a próxima parada. Quatro quarteirões. No trajeto, avenida abaixo, debaixo de um viaduto movimentado, um morador de rua embriagado pedia

trocados. Se o matasse ninguém sentiria sua falta e ainda contribuiria para a “limpeza” da cidade e o desejo ardente de seu peito seria abrandado. Instantânea e friamente sacou da PT 92, 9mm Parabellum e despachou o infeliz com dois disparos a queima roupa. Nenhuma testemunha. O barulho do trânsito ao redor abafou o som dos disparos. Acendeu outro cigarro e continuou caminhando. A sensação de que estava sendo seguido desapareceu completamente. Frio como o frio da noite decidiu voltar a pé para a casa. Uma hora depois chegou ao bar do Sebá, próximo do apartamento onde morava. Algumas pessoas assistiam ao futebol, outros, indenes ao movimento, bebiam, riam, fumavam, deixavam o tempo passar. Tomou uma cerveja, depois outra. Depois do final do primeiro tempo, pediu uma lata e retomou o caminho com a certeza de que de alguma forma faria parte das estatísticas criminais. Sorriu indiferentemente... Abriu a janela do apartamento. Oitavo andar. Acendeu mais um cigarro e contemplou a cidade sem nenhum pesar, remorso ou dor. O aluguel estava em dia, mas tinha acabado sua cerveja.


D

izem as (muito) más línguas que o Poder está aí para ser questionado. Será mesmo? Qual é o meio que temos para questionar as ordens que recebemos no dia a dia? O protesto, dirá o leitor atento. Temos o direito de protestar, ir às ruas, organizar marchas e churrascos para a “gente diferenciada”, cometer verborragias nas redes sociais. Ah, mas o Poder simplesmente deixa?, poderia questionar o mesmo leitor. O senso comum diz que temos o direito democrático de protestar pacificamente, mas a legislação brasileira é vaga nesse sentido. O que é um protesto pacífico? Entre as saias curtas da Marcha das Vadias e os peitos de fora do Femen, qual é o momento em que a polícia se autoriza o uso das algemas? Digamos apenas que, quando o protesto deixa de ser “pacífico”, o aparelho repressivo se apresenta como “justificado”.

de 15 anos ocupa os espaços da cidade com gestos de subversão não agressiva, deslocando os transeuntes em seus caminhos. As boas tiradas e o humor cínico de Maicknuclear chacoalham o cotidiano paulistano por meio de cartazes que saúdam a cidade com dizeres como “Tenha um bom dia ou f***-se” ou “Troco poesia por dinamite”. Trajando sua máscara de oxigênio nos espaços públicos, Maick protesta com violência simbólica, que não justifica cassetetes. Ele nos mostra como fazer do protesto uma arte, sendo artista sem deixar de ser arteiro.

Artistas e Arteiros

Protestar é uma “arte”, como provocar o valentão da escola e não apanhar. E qual é o segredo da arte do protesto? Uma possível resposta seria o protesto em forma de arte. Arte urbana, arte transgressora, arte para todo mundo ver. Maicknuclear, por exemplo, é um artista em São Paulo que há mais

Por Allan Kern





facebook e ´

do fast

o

food Por Marcelo Rio*

pensamento

O

utro dia, decidi entrar no Orkut mesmo sabendo que há tempos ele não passa de um grande deserto virtual. Ao visitar comunidades e ler alguns tópicos, senti uma certa tristeza por ver que uma rede social muito mais interessante que o Facebook, foi abandonada não porque se tornou obsoleta, mas porque alguns ditadores do que é moda (até na internet eles mandam), num dado momento sentenciaram que a “onda a partir dali seria migrar para o Face”. A esta altura, os menos avisados já devem ter concluído: “Ah, isso é papo de velho que sempre diz que na sua época tudo era melhor”, cabe então um esclarecimento: Facebook e Orkut foram criados exatamente no mesmo ano: 2004. Sabe-se lá por qual motivo, o Orkut logo virou febre por aqui, com direito até a dezenas de matérias que tentavam explicar seu sucesso. Enquanto isso, o Facebook era

um total desconhecido para a imensa maioria dos internautas brasileiros. Durante quatro, cinco anos, o Orkut reinou absoluto por aqui. Milhões de pessoas acessavamno o dia todo para trocar ideias e para isso contavam com comunidades específicas para abordar o assunto que cada um queria tratar. É bem verdade que em muitas comunidades nada se aproveitava, mas em outras, havia uma real troca de ideias que iam desde debates mais sérios até simplesmente o ato de jogar aquela deliciosa conversa fora sobre cinema, música, etc. O grande barato é que assim que você postava uma opinião ou criava um tópico, logo vinham respostas de várias pessoas que tiveram o interesse de ler o que você escreveu, algumas concordavam outras não, mas o mais importante era que você passava o que pensava e tinha gente disposta a ler.


ILUSTRAÇÃO: NESTOR LAMPROS

Da mesma forma que o Orkut virou moda do nada, há dois, três anos foi a vez do Facebook virar mania nacional, só que dessa vez de maneira imposta. Como o Orkut tinha se popularizado demais, algumas pessoas com ar blasé passaram a difundir que moderno mesmo era entrar no Face. Relutei muito para aderir a essa rede social, mas para não ser do tipo “Não vi e não gostei”, decidi entrar. No começo acessava muito pouco, preferia o Orkut, mas com o tempo, passei a frequentá-lo mais e para minha decepção, percebi que ele é um retrocesso espantoso em termos de ferramenta de comunicação, mas que vem bem a calhar com o momento em que vivemos, onde as pessoas não querem perder tempo para pensar e escrever, muito menos para ler algo que tenha mais do que duas linhas. No Facebook, quase todo mundo “entende de política”

e para mostrar isso, colocam imagens com uma mensagem curta e uma foto de um político ou de algo errado. Muitas vezes a curta mensagem conta uma mentira gigantesca, mas para os facebookianos, a verdade é só um detalhe irrelevante, importante mesmo é saber quantos curtirão o seu “comentário”. Se Goebblels, mestre da propaganda nazista, vivesse nos dias atuais, poderia adaptar seu pensamento de que: “Uma mentira repetida mil vezes se torna verdade” para: “Uma mentira compartilhada no Facebook se torna verdade e com muito mais rapidez!” A rede social do momento também é responsável pelo curioso fenômeno do torcedor virtual “ultrafanático”. Nada contra comemorar uma grande vitória ou tirar aquele sarro do torcedor rival (convenhamos, é gostoso), mas tem gente que posta 40, 50 vezes a mesma coisa.


ILUSTRAÇÃO: NESTOR LAMPROS

Não adianta explicar a essas bizarras criaturas que após a 2º imagem, as pessoas não lerão mais, simplesmente passarão batido, a solidão e a ociosidade são tão grandes que eles querem chamar a atenção. Sem perceber, tornam um momento de alegria deles que poderia ser comemorado com amigos num

Por falar em deprimente, muita gente acredita que frases curtas de autoajuda serão milagrosas e trarão conforto e paz a quem está sofrendo.

bar ou em casa com a família, em algo tedioso e deprimente. Por falar em deprimente, muita gente acredita que frases curtas de autoajuda serão milagrosas e trarão conforto e paz a quem está sofrendo. Novamente, não se dão ao trabalho de criar nada, apenas bombardeiam com todo tipo de mensagem pseudopositiva. A intenção pode ser boa, mas a forma está errada, pois ninguém que está com um grave problema ficará bem porque leu uma frase de duas linhas. Nada contra, compartilhar fotos/ mensagens engraçadas ou importantes, muitas vezes ela vêm bem a calhar, assim como uma citação em um artigo, mas é temerário imaginar que alguém só possa se expressar dessa forma em uma rede social, que


não sinta vontade de dizer o que pensa ou sente. WAfinal de contas, o que é mais satisfatório saber que alguns amigos curtiram o que você REALMENTE escreveu ou a frase pronta de algum figurão que você simplesmente pegou? Nada contra também os que querem utilizar o Facebook apenas como passatempo, mas até nesse caso é preciso bom senso para não poluir visualmente as páginas dos amigos com dezenas de imagens seguidas. Comparando a troca de ideias que o Orkut proporcionava em muitas de suas comunidades com o que vemos no Facebook, é inegável chegarmos a conclusão de que o Face foi um retrocesso em termos de comunicação na internet. Da mesma forma que uma grande rede de lanchonetes serve seus fast-foods para encher a barriga dos clientes com alimentos sem qualidade, o Face serve para encher a cabeça com frases prontas e sem conteúdo. A diferença é que no caso da rede de lanchonetes não são os usuários que fazem os lanches nada saudáveis, apenas os consomem, já no Facebook, muitos usuários (não todos, por favor) fazem e consomem a porcaria.

Não poderia terminar o texto deixando uma lacuna em aberto, afinal de contas o que ocorreu com aquele mundo de gente que gostava de passar suas próprias ideias no Orkut? Foram abduzidos por ETs? Tomaram um chá de Amazônia e estão vendo o mundo sobre outra perspectiva? Não, nada disso, muitos após entenderem como funcionava o Facebook, simplesmente abandonaram os debates na internet, os que migraram e ainda continuam se dividiram em dois grupos: o dos conformistas que se adaptaram rapidamente a artificialidade da comunicação e o dos corajosos que ainda resistem bravamente tentando postar links, informações e ideias importantes, mesmo cientes que na maioria das vezes elas serão engolidas pelos tsunamis de futilidades. Aguardemos uma nova rede social, onde as pessoas possam realmente fazer o poderoso uso de suas próprias palavras. Utopia? Provavelmente.

* Jornalista formado pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero e professor da FAAT Faculdades.


Três amigos Por Marcelino Lima Três amigos que dormem numa das praças da cidade dividiam o morno sol das primeiras horas de uma nova manhã, mais um cigarro, enquanto comentavam o resultado do clássico disputado na noite anterior, estampado na manchete do diário esportivo “Na gaveta”. O time de um deles vencera o arquirrival após uma épica contenda e este, exultante, comentava a jogada e o golaço que decidiu o acirrado duelo, já aos 48’ da etapa final, autêntica pintura do craque da camisa 10 cuja foto ocupava seis colunas da primeira página. Após uma pausa, comentou em tom melancólico que teria sido tão bom de bola quanto o ídolo e brilharia nos gramados caso não sofresse uma fatídica contusão reponsável por afastá-lo das quatro linhas quando ainda era sub 20. Ao notar que os dois parceiros não embarcaram na prosa, levantou a barra da calça da perna esquerda, e na canela, revelou-se uma extensa cicatriz. “Olhem a cirurgia que precisei fazer logo após a entrada daquele zagueirão carniceiro, o Juvenal Scania! O cara me impediu de seguir jogando bola, de virar estrela e ter fama, desgraçado! Depois daquela entrada criminosa e várias operações, acabei chutado para escanteio pela cartolada e, foi assim, inconformado, que perdi o rumo nesta porra de vida!”, disse, compungido. “Xi, ainda deve ser o efeito das pingas que tomamos ontem!”, comentou o da ponta-direita, tabelando olhares zombeteiros com o colega. “Mas ontem não tomamos nenhuma, justamente para assitirmos ao jogo bem!”, o ponteiro oposto emendou, esboçando um riso de trivela. Então, o primeiro, sem deixar pingar, arrematou: “Está explicado, então! O mano está sóbrio demais e, como só fica bem mamado, até já delira! O melhor é irmos logo procurar um cafézinho ou, daqui a pouco, ele estará pensando que é o Negão. E que nós somos o Riva e o Tostão!”.

O braço do jogador cujo rosto não está visível, colado nas costas do Rei, é o meu e fui eu quem deu o passe para ele marcar


69 Por Mario Sérgio de Moraes Há 513 anos dizemos “vamos chegar lá” Há 191 anos somos independentes Há 125 anos afirmamos que o negro é livre Há 83 anos fizemos uma revolução, a de 30 Em 1964 acabariam com a corrupção Agora, desde o Sarney estamos na Nova Republica Quem escreveu isto nunca fez 69.

Ilustração: DISTRICT 69 Técnica: acrílico Tamanho: 130 cm x 170 cm Data: 2009 http://satone.de Satone é ilustrador e artista independente em Munique, originalmente da Venezuela


Você pode se iludir? Por Dan Devjacque

N

os iludimos quando achamos que estamos sozinhos no universo. E também quando pensamos que o amor não existe. Que demonstrar o que sente é fraqueza. Quando achamos que temos que seguir todas as regras. Que não podemos mais seguir em frente. Nos iludimos quando pensamos que sozinho é mais fácil. E que ninguém nos ama. Que o amor esta longe de mais pra ser alcançado. Mas também, quando achamos que ele esta do nosso lado. Nos iludimos quando confundimos amor com posse. Que caridade é coisa cafona. Nos iludimos quando fingimos que nos importamos com a guerra, miséria, pobreza e corrupção.(Se tomássemos algumas atitudes quanto a isso, não seria ilusão). Quando damos um real para o pedinte ou um prato de comida para o faminto e pensamos que fizemos tudo que podíamos para a sociedade. Quando achamos que somos velhos de mais para aprender ou novos de mais para ensinar. Que o espírito de criança se perde aos 10 anos. Nos iludimos quando achamos que já é tarde demais. Nos iludimos quando vemos filmes de romance. A ilusão também está no dinheiro. E quando acreditamos que é necessário mais ter do que ser.


Quando achamos que não devemos errar. E também quando achamos que nunca iremos conseguir. Nos iludimos quando achamos que somos incapazes de amar. Ou que somos incapazes de sermos amados.

Nos iludimos quando achamos que aquele sonho nunca se realizara. E nos iludimos quando pensamos que nossos sonhos se realizaram sem nenhum esforço. No momento que nos sentimos cansados de mais para continuar.

Ao acharmos que a fase boa da vida, é apenas uma fase. Nos iludimos quando não dançamos por não sabermos dançar. Não cantamos por achar que não sabemos cantar. E que diversão é para os tolos. Mas uma vida apenas de diversão, também é uma ilusão.

Nos iludimos quando pensamos que liberdade não traz responsabilidade. E também nos iludimos quando por um instante, esquecemos de viver. Que mesmo sem ter a probabilidade de perder ou ganhar, estamos jogando. Quando pensamos que o final feliz só acontece com o próximo. Mas também nos iludimos quando achamos que viver é só felicidade.

Nos iludimos quando achamos que somos mais que alguém. Que somos especiais só por que sabemos de algo que ninguém entende. Nos iludimos quando temos preconceitos. Nos iludimos quando achamos que nosso jeito tem que agradar o jeito dos outros. Ao acharmos que somos menos espertos ou cultos perto de certas pessoas. Quando você acha que não sabe fazer nada de especial. Nos iludimos com a vergonha. Nos iludimos ao pensarmos que a morte é o fim. E que ela apenas traz o sofrimento. Nos iludimos quando acreditamos demais em certas pessoas. Quando achamos que não temos amigos. Ao pensarmos, por um momento, que nossa família não se importa.

Quando criticamos de mais a nós mesmo, que o fruto do nosso trabalho não é nada. Nos iludimos quando pensamos que nossa vida não tem sentido. Enfim... A ilusão permeia todos os olhares. Alguma hora a ilusão pode ser uma fuga da realidade que não agrada. Um escapismo para sentir-se livre de responsabilidades com o seu meio. O caso não é questionar a realidade. Antes disto, questionar a si mesmo, olhar melhor para dentro e ser sincero. Mesmo que isto nos revele repostas que não queremos ouvir, precisamos encarar as mudanças e a quebra de nossos próprios paradigmas.


VocĂŞ pode

se iludir! Por Kalango


Blommers & Schumm são dois artistas muito celebrados no mundo da moda e no mundo da arte. A série de fotos para a revista de bolso “Hector” faz o leitor se confrontar com seus próprios pensamentos perversos – com ambientes ou objetos de uso diário, tal como um pedaço de papel ou de uma luz – descritos de tal forma que eles se tornam eroticamente sugestivos.



Blommers/Schumm

Sua cabeça está girando depois de tentar decifrar estas imagens? Elas também são criações dos holandeses Blommers/ Schumm. Num primeiro instante você imagina que não há algo além das linhas paralelas em preto e branco, mas depois percebe que existe, de fato, um retrato escondido em cada imagem. Brilhante e original. Para ver o conteúdo oculto, você pode precisar de olhar para eles mais longe do computador. Consegui fazer você sair do computador? Bacana. Todas as imagens tem o copyright Blommers & Schumm. Por favor, visite os sites abaixo para encontrar mais trabalhos fascinantes. E diga que viu na Kalango: http://www.blommers-schumm.com/ http://unit.nl/portfolio/photography/ blommers-schumm http://www.itsnicethat.com/articles/ blommers-schumm-baron-magazine


Curtir o

Curit

você p

Por Lui

Por mais estranho que isso possa pa nos termômetros começa a bater a justamente indo ao encontro dele. diurno ficará mais azul e as noites turistas subirá a serra para cidades o preparou um roteiro da fria Curiti guarani) e dá dez razões para vo


o frio em

tiba:

pode!

is Pires

arecer, com a queda da temperatura a vontade de nos refugiarmos do frio Nos próximos meses, quando o céu s mais frias, um grande número de onde o frio é ainda maior. A Kalango tiba (Curii Tiba, pinheiral, em tupiocê visitar a capital paranaense.


1) Arquitetura – uma diversidade de estilos arquitetônicos marca a capital paranaense, que sofreu forte influência dos imigrantes, vindos principalmente de países europeus. Prédios em arquitetura neoclássica, colonial, bizantina, oriental e outros confirmam a diversidade cultural da cidade. 2) Ópera de arame – teatro construído em estrutura tubular com teto transparente e capacidade para 2.400 espectadores, principal palco para apresentações artísticas e culturais da cidade. Localizado numa antiga pedreira com mata nativa, lago com carpas, cascata e diversas espécies de aves. Belíssimo. 3) Jardim Botânico – jardins geométricos e estufas de três abóbodas que se tornaram um dos principais cartões postais de Curitiba. Localizado numa área com 245mil m². A estufa foi inspirada em um palácio de cristal londrino, do século 19. 4) Bairro das Mercês – ocupado por imigrantes alemães devotos de Nossa Senhora das Mercês, cuja igreja foi construída em 1929. O bairro abriga a Torre Panorâmica da Brasil Telecom, de onde se avista a cidade em 360 graus. 5) Cultura cervejeira – o Paraná é atualmente um dos grandes polos cervejeiros do país. Dezenas de cervejarias artesanais produzem produtos cada vez mais apreciados. Uma boa pedida é a cervejaria Bier Hoff, que oferece cinco tipos de chopes de fabricação própria em sua unidade localizada no Shopping Estação, uma antiga estação de trem que abriga também o Museu Ferroviário.


6) Santa Felicidade – localizado a cerca de 7 km do Centro o bairro era caminho de passagem de tropeiros nos séculos 18 e 19. A parada das tropas para repouso e alimentação contribuiu para transformar o bairro num polo gastronômico. São cerca de 30 restaurantes, cantinas e lojas de artesanatos. 7) Barreado – prato típico paranaense criado há mais de 200 anos. Carne, toucinho e temperos são cozidos em panela de barro por várias horas. Acompanha arroz banana, laranja e farinha de mandioca. 8) Museu Oscar Niemeyer – inaugurado em novembro de 2002 é um dos maiores do país, com 16 mil m² destinados às artes plásticas, design, arquitetura e urbanismo. Por seu formato é conhecido também como Museu do Olho. 9) Transportes – implantado nos anos 1970 o sistema de transporte coletivo de Curitiba é considerado o mais moderno do país. Com baixo custo operacional é um tipo de metrô de superfície, com canaletas exclusivas para circulação de ônibus biarticulados, com capacidade para 270 passageiros. Possui tarifa integrada que permite deslocamento por toda a cidade com pagamento de uma única tarifa. 10) Centro histórico – abrange parte das edificações mais antigas da cidade, como a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco (1737) ou a Casa de Romário Martins (século 18), por exemplo. Aos domingos, desde 1973, as ruas do bairro são tomadas pela tradicional Feira de Arte e Artesanato. São centenas de barracas de artesanato, antiguidades e culinárias, onde se pode apreciar pratos à base de pinhão, semente típica da região.








Você pode curtir Curitiba no frio... e caminhar

‘em busca da Curitiba perdida’

Por Ana Procopiak*


* Ana Procopiak vive em Curitiba, é Mestre em Comunicação e Linguagens, especialista em História da Arte, artista visual, designer e professora universitária.


raul seixas Por Lady Vallentine

http://lady-vallentine.deviantart.com/ http://lady-vallentine.daportfolio.com/about/


Veja o clipe MALUCO BELEZA na revista ou clique http://www.youtube.com/watch?v=09xVGZRKldk


Você pode curtir teatro de qualidade

quase de graça Por Aline Eusébio

A

proposta de democratizar o teatro de Rita Miranda comemora dez anos. Para a décima edição da Extrema Mostra Teatro, que acontecerá de 14 a 19 de julho em Extrema (sul de Minas Gerais), a programação já foi divulgada com grandes espetáculos. Pela primeira vez, os ingressos serão cobrados. Mas o objetivo é nobre: toda a arrecadação será doada para uma entidade assistencial de Extrema. O valor é mínimo: R$2 por ingresso para assistir peças incríveis. O primeiro espetáculo acontecerá na Praça Presidente Vargas, às 17h30 do dia 14 de julho, um domingo. A “Tribunal de Salomão”, do Barracão Cultural, contará a história de um grupo de atores que, prestes a apresentar a peça O Tribunal de Salomão, é surpreendido por três pessoas que acreditam que ali acontece um tribunal verdadeiro. Permeado de referências e mitos populares, o espetáculo faz uma reflexão bem humorada do que de fato é a “verdade” e dos diversos pontos de vista sobre um fato. A classificação etária indicada é livre.

Na segunda-feira, dia 15 de julho, o espetáculo “Chorinho” trará as atrizes Denise Fraga e Cláudia Mello para o Cine Teatro. Numa praça de uma grande cidade, duas vidas se entrelaçam graças aos encontros e conversas de uma solteirona aposentada com uma estranha moradora de rua. De um lado estão preconceitos e solidão; de outro, lucidez, loucura – e mais solidão. Com diálogos regados de humor e emoção, a peça narra, em sete momentos, a construção da inusitada amizade entre estas mulheres aparentemente tão diferentes. A classificação etária indicada é de 14 anos. No dia 16 de julho, o espetáculo “Terremota” conta a história de Maria, uma menina corajosa e esperta, que vive com o Tio Bigode e tem um gato chamado Platão. Passa grande parte do dia sozinha em casa e sua maior diversão é analisar o mundo pela janela. Um dia, indignada com o que vê, cheia de idéias e transbordando liberdade, Maria decreta autonomia e funda, na própria sala, uma nova ordem, a República Terremota. A classificação é livre.


No dia 17 de julho, o espetáculo Maria Miss contará a história da menina que teve a virgindade negociada pelos pais com um dos membros da família Lopes. Muito esperta, ela descobre que, na vida, pra tudo se dá um jeito. Elabora uma trama para convencer o marido de que a velha que ele incumbiu de vigiá-la não passa de uma alcoviteira e o envenena com ervas típicas do sertão. Já viúva, Maria passa a ser assediada pelo primo e o irmão do marido. Ela aproveita e faz intrigas entre os dois até se matarem. A classificação etária indicada é de 14 anos. No dia 18 de julho, o Cine Teatro receberá “O Menino que Mordeu Picasso”. Metáforas, simbologias visuais e onomatopeias recontam passagens da vida e obra de Pablo Picasso. Eis uma bela chance de iniciar as crianças no mundo das artes visuais, por intermédio das artes cênicas. Livremente inspirado no livro de mesmo nome, de Antony Penrose, que conheceu Picasso em sua infância.

A chave para melhor compreendêlo é embarcar em sua linguagem predominantemente poética e simbólica. A classificação etária indicada é livre. No último dia da Mostra, o espetáculo será de casa. “Esperando Godot – Fragmentos”, tem concepção e direção de Rita Miranda, que também faz parte do elenco, com Ana Alice Leme. A peça retrata a trágica posição do homem num universo vazio, universo este que se tiver alguma significação, permanecerá sempre oculta de todos nós. Em última instância ela dramatiza um estado mental, a realidade psicológica, a “sensação” da emoção da expectativa não realizada. A classificação etária indicada é de 14 anos. De acordo com Rita Miranda, a ideia do Extrema Mostra Teatro é democratizar o acesso ao teatro. Os ingressos serão vendidos durante a semana do evento na Casa de Cultura ou com uma hora de antecedência no Cine Teatro.


Uma outra

O

autor da obra “Realidade: história da revista que virou lenda”, Milton Severiano da Silva, defende uma tese contundente: “a ditadura não acabou no Brasil”. Ele acentuou essa idéia ao ler a orelha do livro de sua autoria lançado recentemente, deixando no ar uma dúvida: “… se a ditadura que matou Realidade já acabou, então por quê?” … não se faz mais revista com esta? Sua resposta em diálogo com os estudantes de Jornalismo da FAAT Faculdades, em 23 de maio, em Atibaia, é a de que a ditadura hoje é disfarçada, pois está no monopólio que padronizou os produtos e não permite controvérsias. EXEMPLOS - Nesse sentido, citou alguns exemplos, como o fato da mídia estar nas mãos de algumas famílias e de políticos. Para ilustrar, mencionou o processo contra o blog “Falha de S. Paulo“, uma paródia ao veículo Folha de S. Paulo, bem como o processo movido contra o Estado de S.Paulo para que o mesmo não publique matérias sobre a “operação Boi Barrica” que envolve o filho de José Sarney. Ao seu ver, quando isso acontece é sinal

que “está tudo dominado”. Pior que isso, destaca Severiano, é o fato de haver muita impunidade. Hoje, até membros da Suprema Corte parecem estar envolvidos em escândalos. Na política então nem se fala. Severiano mostra seu desagrado como o modelo de eleição representativa adotada no país, acentuada por uma quantidade de partidos absurda. Ao seu ver, o que existe mesmo é um “arremedo de democracia”. Saída para isso não parece estar em outra revista Realidade, mas sim na ação de todos utilizando os veículos disponíveis. Sua recomendação é de que todos “twitem”, “blogueiem”, “facebookeiem”, num verdadeiro trabalho de formiguinha.

Pelé sorriu 92 vezes para as que deveriam ser as 92 fotos a cores, do assustado fotógrafo argentino. Só que as primeiras 36 batidas de nada adiantaram: o fotógrafo havia esquecido de pôr o filme na máquina. Ele trazia na cabeça o busby usado pelos guardas da rainha Elizabeth da Inglaterra. Três semanas depois, o melhor dos sorrisos de Pelé estava na capa dos 251.250 exemplares do número 1 de REALIDADE, em abril de 1966. (Fonte: Revista Alfa)


REALIDADE Por William Araújo*


VIGOR - Na realidade, Mylton Severiano da Silva continua bastante sintonizado com o jornalismo da época da Revista Realidade. Seu desejo de mudança para melhor é visível e ecoa em cada palavra que esboça. Bem informado e crítico, deixou bem claro a falta que faz publicações como esta. Mais que isso, expôs que Manchete espionava o que faziam para tentar “furá-los” (jargão jornalístico que significa noticiar algo com exclusividade), mas no fundo era uma revista de consultório dentário. Cruzeiro também tentou seguir a pegada de Realidade, e entende que as únicas revistas que fazem algo nessa linha são a Caros Amigos e a Piauí, sendo esta última mais soft. LIVRO - Sobre o livro, foi bastante franco, no bom sentido: “Sobrou para mim escrevê-lo”, pois ninguém o faria. Depois que recebeu das mãos de Paulo Patarra, realizou entrevistas com as maioria dos envolvidos com a revista na época do período militar.

As editoras Cia das Letras, Geração Editorial e Record não se interessaram, mas a Editora Insular resolveu aceitar o desafio. Aliado a isso, vê também no setor livreiro problemas semelhantes aos que ocorrem na mídia, ou seja, nichos de poder que impedem que as obras sejam distribuídas em nível nacional, o que acaba encarecendo ainda mais este segmento.

http://www.insular.com.br/product_info.php/products_id/756

Amazônia, capa de Claudia Andujar, que desenvolveu um notável trabalho de fotorepórter free lancer, entre 1958 e 1971. De 1959 a 1961 publicou nas revistas Life, Look, Aperture, entre outras. Na Editora Abril, trabalhou para as revistas Realidade, Quatro Rodas, Cláudia e Setenta


Mylton Severiano conta curiosidades

M

Por Fernanda Domingues e Cristiane Ferreira

ylton Severiano – Myltainho, como é conhecido – escreveu um artigo, em 1967, sobre o cinquentenário da Revolução Russa. Esse texto lhe rende muitos comentários até hoje. “Escrevi o texto baseado em novas pesquisas feitas por um escritor americano, que teve acesso a arquivos de um médico em Berlim. Li o livro e fiz um resumo dele. Repercutiu bastante, pois foi uma descrição da ditadura, do que foi aquele período, aquele fato histórico”, contou. A edição que mais lhe deixou boas lembranças foi a de número 10 (janeiro de 1967), em que da capa até a última página teve matérias relativas à mulher. Essa edição foi apreendida e proibida de ser vendida nas bancas por causa da foto de Cláudia Andujar, em que foi fotografado o nascimento de uma criança. De acordo com ele, “um juiz de menores achou aquilo obsceno. Aliás, quem chamou a atenção da censura foi o Dom Paulo Evaristo Arns. A Igreja chamou a polícia e esse juiz de menores, que era do Rio de Janeiro, proibiu a circulação da revista. O único ponto positivo é que metade da edição já tinha eva-

porado das bancas, pois ela vendia muito rápido, em três dias mais ou menos. Mais metade da edição foi apreendida nas bancas. Esse foi um episódio que me marcou bastante”. Sobre as melhores capas, Myltainho apontou três como suas favoritas: a capa da primeira Realidade é uma das que o jornalista mais gosta, em que o jogador Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, está usando o chapéu da guarda real inglesa. A segunda capa preferida é a de um manequim desmembrado com a faixa de Miss Brasil. “Gosto dela por causa da criação. Dentro dela, o tratamento fotográfico dado à reportagem é maravilhoso, é uma espécie de desconstrução do Miss Brasil”, relatou. A última capa favorita de Myltainho é a que tem uma menina montada nas costas da avó. A criança é filha do Paulo Patarra (diretor da revista) e a avó era a mãe dele. “Essa capa mostrou a família. Era uma chamada sobre a nova escola, onde a criança mandava um pouco. Gosto dela, pois é uma capa feliz”, concluiu.


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Por Vania Jucรก

VOLTE SEMPRE


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