Kalango13

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Kalango ano IV โ ข marรงo 2013


Kalango da Cachoeira do Fundo (Vale do Matutu) Foto: Marta Alvim



“O que é um homem bom? Só um homem que tem fé é bom. O que é fé? Ela existe quando sua vontade entra em concordância com a consciência do mundo e com a sabedoria do mundo.” (Provérbio Chinês)

Por Rubens Paschoal



EDITORIAL

Caro leitor, Em meio a uma enxurrada de notícias trágicas da mídia tradicional, eis que surge mais uma edição da sua Kalango que, de forma colaborativa, traz mais uma vez um apanhado de informações que estão soltas por aí e que foram conectadas em formato revista. A edição que você lê agora trata da fé, sobretudo em razão da eleição do novo papa. Depois do anúncio do fim do mundo no final do ano, do susto levado por todos por causa de um meteoro e de mais uma edição do Big Brother, não sabemos mais para onde caminha a humanidade A única certeza que temos hoje é que o pastor Feliciano não nos representa. No mais, continuamos na busca incessante da felicidade perdida. E da chegada do exame exame digital retal que avalia a presença do antígeno prostático específico, afinal ninguém é de ferro. Segundo palavras de Leonardo Boff, “Francisco não é um nome. É um projeto de Igreja pobre, simples, evangélica e destituída de todo o poder. É uma Igreja que anda pelos caminhos, junto com os últimos; que cria as primeiras comunidades de irmãos que rezam o terço debaixo de árvores junto com os passarinhos”. A Kalango procurou ouvir jovens, poetas, acadêmicos, fotógrafos, cada qual mostrando seu ponto de vista sobre o assunto. Porque democracia é isso, a multiplicidade de vozes e o respeito a todas as diferenças. A concentração dos meios de comunicação impede a diversidade na mídia brasileira. Pesquise, conheça, divulgue, participe, colabore com a construção de uma sociedade onde a democratização da comunicação não seja apenas uma quimera. Saiba mais aqui. Boa leitura!


COMPARSAS da kalango#13

Marta Alvim e o Kalango do Matutu

Thiago Cervan, sua verve de sempre e a igreja católica Rubens Paschoal e a fé nas estradas

Robson Helton e o Papa Francisco

Geovani Dotatiotto sacode a poeira e o pau - de arara

Weberson e seu traço inconfundível

Leonardo Boff e a sábia reflexão sobre o conclave

Orivaldo Biagi lança o desafio entre a religião e a ciência

O poeta Paulo Netho desabafa. E não brinca em serviço Jean Takada e a fé entre os jovens

Carlos Eduardo Carneiro celebra os dois anos do Sarau do Manolo

Delta9 alerta: os conflitos estão apenas começando...

William Araujo e as lições de Madre Teresa

Marco Milani e a essência do macho moderno

Giuliano Tosin comenta o novo CD de Andreia Dias

Nestor Lampros e depois dos filhos do Homem Um mergulho poético com Marcelino Lima

Mario Sérgio de Moraes revela sua perplexidade

Luis Pires revela o Vaticano sem a pompa mediática

Editor: Osni Dias MTb21.511 A Kalango trabalha de forma colaborativa. A publicação não tem vínculos políticos, econômicos nem religiosos. Você pode ler a Kalango online ou fazer download e, posteriormente, ler em seu computador. Colabore, compartilhe. Quer anunciar? Seja um patrocinador e ajude uma mídia

#13 - Abril de 2013 independente. Escreva para revistakalango@gmail.com


WEBERSON SANTIAGO

http://webersonsantiago.carbonmade.com/


POESIA-PAU-DE-ARARA

Desceu do norte e a poeira sacudiu o pau-de-arara. Em S茫o Paulo subiu no pau-de-arara ap贸s sacudir a poeira.

Por Geovani Doratiotto ARTE: LUIZ FERNANDO BUENO


Olho no olho e dente por dente Por Paulo Netho*

E

u? Não sigo ninguém. Só vou aonde quero ir com os meus próprios pés; com os meus olhos de ver o que me interessa ver; com os meus pensamentos latidores e sem pedigree; com as minhas dúvidas exponenciais; com os meus trezentos quilos de grilos latejantes. Se eu fosse você, tomava cuidado comigo. É que tenho costumes estranhos os quais cultuo desde sempre. Não sou do tipo que sai por aí dando bom dia a cavalo. Não sou mesmo. Se escrevo é porque tenho necessidades. Nessas horas, convoco todos os bichos que me coabitam e duelo com eles. Doa a quem doer. A parada é a seguinte: olho por olho e dente por dente. E a gente rola no chão, joga a porra do medo contra a parede. A gente se xinga, nunca se desculpa. A gente vai às vias de fato. É o nosso jeito, entende? Em questão de segundos, a gente pula do abismo da brancura pras trevas da claridade. É, a gente se insulta, mas continua na disputa até o último palito. Até o último palito. A gente mata a cobra e mostra o pau. A gente? É, a gente. Eu e os meus bichos, sacou? Vai dizer que você não tem aí, num

cantinho, dentro de você, uma savana inteira ou, ao menos, um zoológico? Pra quê? Mais que pergunta! Pra que você possa ter com os seus bichos como eu tenho com os meus. Bichos precisam de conversa. Apesar de imprecisos e incisivos os bichos nos colocam em xeque, nos virgulam, nos exclamam, nos interrogam, nos estapeiam, nos pontuam. Querem discutir a relação, criar os nossos filhos enquanto algarismam ou dizimam os nossos sonhos. Os bichos são fogo; testam as nossas certezas, pilham as nossas dúvidas e sempre estão a nos esperar numa curva perigosa, numa rua escura e esburacada. Os bichos, com os seus olhos grandes e acusadores, estão a nos fitar. Brincadeira? Não brinco em serviço, cara. Não sou do tipo que curte qualquer merda. Não estou interessado em agradar ninguém e nem desejo nenhum agrado também. O setor de babação de ovo fica em outro lugar, em outros corpos. Se eu gostasse de graça sem graça ia assistir a um desses merdas que fazem stand up pelos palcos da


cidade, esses que se orgulham dos seus milhões de seguidores nessas porras de redes sociais, esses que enchem as casas de espetáculos com as suas piadas homofóbicas, antissemitas e chulas. Quer saber, já virgulei demais na escola da ingenuidade, flertei também com a escola dos espertos e nunca me senti bem em terras de sujeitos mal diagramados em moral. Agora, com a sua licença, vou dar uma volta com as minhas reticências porque afinal tenho necessidades e uma delas é com os meus vazios. * Paulo Netho é poeta, escritor e um encantador de pessoas.


os conflitos estao apenas comecando ´ ~

Por Delta9*

P

ara que possamos conseguir tentar entender os novos rumos de nosso planeta Brazil nesse interregno bombástico “entre copas y amigos”, esse hiato metafórico intectual pertinaz à impotência verborrágica das mediocridades midiáticas estofadas com os gases intestinais originados dos interstícios econômicofinanceiros do sistemático - e inexplicável - suspiro de Hades, urge lermos. Para isso, contribuo. Atentos, portanto: após a fantástica expedição à Lua, a nave Stardust retorna à Terra. Mas para Perry Rhodan os verdadeiros problemas e os grandes conflitos estão apenas começando. Com a colaboração dos arcônidas e seus fabulosos recursos técnicos, ele pretende criar uma nova Humanidade, unida num só povo e uma das forças da Galáxia. Erário: ao infinito e além...............!!

* Delta9 é extraterrestre, publicitário e atua no Judiciário. www.undiverso.blogspot.com/


os "gigantes" religiao e ciencia ~

^

Por Orivaldo Biagi*

R

eligião e ciência: eis o caso clássico de dois “topetudos”. Ambos sempre são anunciados com grande prepotência por seus defensores – cada um deles é apresentado acima do bem e do mal, que pode resolver todos os problemas, que tem todas as respostas. Algumas vezes estão juntos, mas, em 99% das vezes, estão bem distantes, quando não adversários – ou mesmo inimigos mortais! É difícil definir o parâmetro de análise de cada um – na religião o olhar de Deus está acima de tudo; na ciência o olhar do Homem (quer pela razão, quer pelo experimento, quer pelo cálculo) é que está acima. Esta neutralidade defendida por ambos não existe, mas é justamente ela

que determina posições tão contundentes. Levanto uma situação estruturalmente herege e insana para “bagunçar o coreto”: vamos pegar o que deve ser o sangue de Jesus presente no Santo Sudário e, a partir daí, recriar, geneticamente, o próprio Jesus. Caso ele seja realmente tudo o que disseram ser – a religião iria sentir-se superior. Mas tal situação seria possível apenas pela Ciência – e esta iria se sentir imbatível. Defender tal coisa seria o caminho do inferno – ou da perda da bolsa de pesquisa! * Orivaldo Leme Biagi é Ph. D. em Comunicação pela USP e Professor da FAAT Faculdades


´

Tenha fe, e seja o que Deus quiser!


Por Jean Takada*


Gustavo é católico, Natália budista, Paola evangélica, Sidney segue o Candomblé e Geda o kardecismo. Juntar esses paulistanos para uma mesa redonda sobre religião não seria um boa ideia, entretanto em uma coisa todos concordam: a fé muda a vida das pessoas

O

estudante de engenharia Gustavo Silva, 22 anos, é católico desde cedo. Foi batizado, fez catecismo e concluiu a crisma. Frequentador assíduo de missas, entrou para um grupo de jovens cristão e fez parte da banda de músicos da igreja do bairro onde mora. Tudo ia bem até entrar na faculdade. Por falta de tempo e cada vez mais focado nos estudos foi abandonando o hábito de ir às missas e até se desligou da música. “Aos poucos comecei a me sentir angustiado do nada. Não demorou muito e eu percebi que era falta de Deus”. Gustavo voltou às missas e atualmente é o guitarrista da paróquia. “Acho que sem Deus não somos nada”, disse.

“As coisas começaram a acontecer. Fui contratado em um emprego registrado, meu salário dobrou e eu deixei de ser tão cabeça dura com as pessoas. O que faltava em mim era algo em que acreditar. Uma religião. Uma fé. Era isso”.

Há cinco anos, a jornalista Natália Parizotto decidiu procurar uma religião para depositar sua fé. Mesmo com formação católica a jornalista não quis saber dos dogmas cristãos. “Incomodava-me ouvir os cristãos dizerem que eu seria salva apenas pela religião deles”, disse, sem meias palavras. Na época da procura chegou a simpatizar com o espiritismo, mas se identificou com mais entusiasmo com os ensinamentos de uma religião oriental. Tornou-se budista há 3 anos. “O que me atraiu no budismo foi a raiz filosófica não tão dogmática quanto o cristianismo, cheio de verdades absolutas. “O fato de o budismo respeitar todas as religiões foi fundamental”, acrescentou. Hoje ela se diz satisfeita com a fé e nota,


o pescoço e teve morte instantânea. “Eu ia às missas, rezava e pedia ajuda a Deus para curar meu sofrimento.

sem dúvida, o quanto mudou seus hábitos, ideais e a maneira como vê os outros. “Certamente sou outra pessoa e estou muita mais “de bem” comigo”, finalizou. Paola Maximo, 25 anos, fotógrafa e consultora de marketing sentia um vazio que não sabia explicar. Mesmo com as coisas indo bem na vida pessoal e profissional, sempre batia uma aflição que acabava mexendo com seu ânimo para as coisas. Por iniciativa do namorado, foi a um culto em um igreja evangélica e nunca mais parou de ir. “Nunca tive uma religião, mas sempre acreditei em Deus e Jesus Cristo. A única religião que pensa como eu é a evangélica”. Para Paola, foi através da igreja que passou a sentir-se acompanhada de Deus. Outro caso, agora envolvendo o espiritismo, aconteceu em1988, quando um acidente de carro tirou a vida da filha caçula da aposentada Geda Silveira, 71 anos. A jovem, que tinha apenas 20 anos, bateu o carro em uma árvore. Apesar do corpo não apresentar ferimentos, ela quebrou

Foi só através do centro espírita do médium Chico Xavier que meu desgosto acabou. Ele psicografou uma carta na qual minha filha contava que estava bem e que minha mãe estava lá cuidando dela. Chorei tanto naquele dia, mas foi um choro de alívio”, explicou emocionada. Outro tipo de espiritismo é o Candomblé, religião trazida pelos africanos que chegaram no Brasil como escravos. O tratador de imagens, Sidney Araújo, 26, é adepto do Candomblé desde 2002. “Fui assistir uma sessão por pura curiosidade. De início já gostei da música e das cores das roupas que os filhos de santo usam. Para testar paguei para ver. Literalmente pedi para a mãe de santo jogar búzios para mim. O que ela disse foi ‘batata’”, contou. “As coisas começaram a acontecer. Fui contratado em um emprego registrado, meu salário dobrou e eu deixei de ser tão cabeça dura com as pessoas. O que faltava em mim era algo em que acreditar. Uma religião. Uma fé. Era isso”, disse. Como está escrito em uma das mais conhecidas metáforas da Bíblia, “a fé é capaz de mover uma montanha.” No caso de todas essas pessoas, quem sabe até por uma ironia de Deus, a montanha era a falta de fé. * Jean Takada é jornalista formado pela FIAM e editor da revista Sou Mais Eu, da editora Abril.


grandes

Coisas

feitas de coisas pequenas Por William Araujo*

Uma nuvem Cumulonimbus passa, mas em um dado momento ela se desintegrarรก



E

ssa nuvem é a responsável por uma reflexão que não cessa na mente deste escritor, motivando uma busca razoável pela explicação para a relação entre o pequeno e o grande, não enquanto a distância de suas diferenças, mas para ajustar coerentemente suas responsabilidades. Uma nuvem deste tamanho flutua vinda do Litoral Norte de São Paulo e ocupa boa parte do céu. Ela só alcançou este porte porque “conseguiu” unir e agregar partículas de água ou de gelo em suspensão. Essa relação pequeno-grande, micro-macro (vice-versa) nem sempre é considerada no dia-a-dia das pessoas, muito mais pela invigilância sugerida pelo imediatismo. Recorrendo ao físico Gordon Kane, Moreira destaca que “... Tudo o que acontece em nosso mundo (exceto os efeitos da gravidade) resulta das partículas do Modelo Padrão interagindo de acordo com suas regras e equações.” O indivíduo de um modo geral não se dá ao direito de procurar saber o funcionamento das “coisas” que o rodeia, motivo pelo qual convive com os fenômenos entendidos como potencialidades em sí, sem relação ou que mereçam investigação. É o individualismo e a responsabilidade das “coisas” isolando os mundos que continuam distantes em sua compreensão. Curiosamente, em uma sociedade tão tecnologizada, ainda se perce-

be acentuadamente a distância entre o saber o que fazer e o fazer do saber, em outras palavras, a curiosidade em descobrir como funcionam as “coisas”. Utiliza-se aparelhos microondas e celulares sem que se estude os manuais que explicam seu funcionamento. Geralmente adota-se o curioso modelo pós-moderno das atuais gerações, neste caso “as tentativas pós-erros” sistemáticos. De outro modo, ao que tudo indica, as pessoas não valorizam o conhecimento do outro, que após dedicação e empenho decifra enigmas e os oferece traduzidos e simplificados. A nuvem em questão chamou a atenção pela grandeza! Mas será que somente o que é gigantesco merece atenção!? Há coisas pequenas que valem muito mais que o tamanho dos fenômenos em si. Em um mergulho para dentro do indivíduo e sua peregrinação nota-se a profundidade desta comparação nas palavras de Madre Teresa de Calcutá, quando diz: “Não podemos fazer grandes coisas, só pequenas coisas com grande amor.” Acredita-se que isso ajude a explicar porque o amor, nos tempos modernos é inexpressivo! Torna-se possível contar nos dedos os que efetivamente foram em busca do significado e do funcionamento do fenômeno amor. Não o amor que busca no outro sua incompletude, mas aquele que pressupõe certezas e convicções ao ponto de doar-


-se sem medo. Nesse sentido, as características deste grande ato, só se completa com a articulação de pequenas-grandes ações, pois sem a prática ele não existe. Tal como destacara o apóstolo João (1-Jo,1124) e devidamente ampliado por Paulo de Tarso (1-Cor.13), o amor é: benigno, não é invejoso, não se vangloria, não se ensoberbece, não busca seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal, não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade, tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta, e jamais acaba. Eis aqui uma nuvem com a qual os indivíduos hão de refletir até o resto da vida. Porque certamente ela uma dada hora cairá sobre vossas cabeças. * William Araujo é Doutor em Comunicação Social pela UMESP e Professor da FAAT Faculdades


A EssEncia ^

e a existEncia do ^

macho moderno Por Marco Milani

E

como você quer que eu confie na competência de um profissional que fica perguntando aos seus clientes porque resolveram contratá-lo? Como você mantém um negócio se fica tratando os seus clientes como se não quisesse que eles estivessem aqui? Tenho certeza que os médicos só indicam o tratamento com vocês para que vocês não morram de fome. Tem um conluio aí! - Calma, seu Platão, eu preciso saber direitinho porque o senhor veio aqui para saber como conduzir o tratamento. Por que o médico quis que o senhor me procurasse? - Eu já disse, ele exigiu que eu viesse para continuar receitando o remédio. Se eu não quisesse muito continuar com o remédio, teria mandado o canalha para o lugar de onde ele veio. Tal era o tamanho do homem que ele se escondia completamente atrás do móvel. Era como se o analista conversasse com o próprio divã. - E porque o senhor quer tanto o remédio?

- Ora, para organizar meu dia, para ter pique para a rotina. - Entendo... e antes o senhor já fazia uso de alguma substância para esse fim? - Que fim? - Organizar seus afazeres, te dar pique. - Ah, eu cheirava. - Cheirava o que? - Coca, caralho! Cocaína, pó. Igual a esse seu ídolo da foto aí na parede. Pensa que eu não sei que ele também cheirava pó? Eu li numa revista. Eu sei de tudo. Havia uma cópia da foto clássica de Freud, emoldurada numa das paredes. A moldura seguia o padrão da madeira da escrivaninha, da estante de livros e dos pés do divã. - Tudo bem, tudo bem, seu Platão. Não estou aqui para julgar as coisas que você faz. Eu só perguntei porque eu preciso saber para iniciar o tratamento. - Mas por que você que ficar falando de substâncias? Vocês não gostam de falar sobre sexo? Eu sei que vocês gostam. Vamos falar sobre isso.


- Tudo bem, vamos falar sobre sexo, então. Com que frequência o senhor tem feito sexo? A iluminação do consultório era o ato falho do analista. Um abajur e plafons nas paredes criavam uma iluminação indireta, débil, amarelo avermelhada. Casanova o imitaria se pudesse. - O que conta como sexo? - Tudo. - Tudo tudo? - Se for sozinho é masturbação, mas pode pôr na conta também. - É que não é sozinho. - Houve contato com outra pessoa? - Contato não. Quero dizer, não físico. - Ah... bem, mas eu preciso novamente de detalhes. Veja, há muitas pessoas que buscam o gozo sem contato físico. Há os

voyeurs que gostam de espiar outras pessoas, só olhar, sem tocar. Há comunidades de pessoas na Internet que se reúnem para trocar vídeos de mulheres fumando. É a Internet que você usa? - É, é... - O senhor tem problemas para conseguir encontros com mulheres? - De jeito nenhum! Tenho dinheito e tenho conversa, as mulheres adoram! Os meus amigos me conhecem como “Tremendão”. - Ah, então, por que a opção por não haver contato físico? - Olha, não é a mesma coisa. - Como assim?


- Sabe, sou um homem bem de vida. Depois que comecei a ganhar dinheiro fui me acostumando com tudo do bom e do melhor. Não tenho mais paciência para aquilo que eu não gosto, para decepções. Você escolhe uma mulher. Seduz, faz tudo o que tem que fazer. Você é jovem, não sabe o que é, mas nós que vivemos a Jovem Guarda é que aprendemos a conquistar uma garota. Então você vai lá e seduz. Passa semanas dando flores, presentes. Leva pra jantar, numa festa. Antigamente, não tinha essas coisas, mas hoje tem sutiã para aumentar o peito e o caralho a quatro. Então a mulher tira a roupa e ela tem o peito caído, uma celulite ali. Ou então é terrível na cama. Uma vez, doutor, peguei uma mulher e ela parecia um asno gemendo. Cada vez que a coisa começava a ficar boa, ela começava a fazer igual a um asno, assim “ih ooooh”, era horrível doutor, não dava pra comer ela! - Seu Platão, não precisa me chamar de doutor. Mas pode continuar. - Então, doutor, é sempre assim, você escolhe a mulher perfeita. Então você vai imaginando como ela é sem roupa, como ela é na cama, e ela é perfeita em tudo. Mas quando chega o encontro... - O senhor procura garotas de programa? - Outra decepção! É igual lanche do McDonalds! Você vê aquela foto linda, paga caro, mas quando o vai comer o lanche, é minúsculo e murcho. - E o como o senhor faz? - Procuro mulher na Internet. Isso sim dá certo. As mulheres são

perfeitas. - Photoshop? - Não, eu falo com mulheres reais! Só com mulheres reais. - E então, elas também não tem estrias, celulite? - Não sei, não vejo. - Não entendi. O Tremendão saltou de sua posição no divã. Meio rosto aparecendo por cima do móvel, espiava seu analista com olhar mais profundo que um livro de Lispector. - É perfeito, doutor, é perfeito. Eu começo a falar com elas. Uso todas as minhas armas, minha conversa, vou contando quem sou. Elas vão caindo e se entregando. E eu pego cada brotinho, doutor! Quando estão no papo, eu peço para que se descrevam. E vou imaginando, vou perguntando por cada parte do corpo. E vou imaginando aquele mulherão. Loiras, morenas, bundudas, com peitões... Então a conversa esquenta, pergunto do que ela gosta, sugiro algumas coisas, são as preliminares. Depois partimos para o sexo de verdade. Elas é que sabem o que fazer, onde tocar, o ritmo. Tem um gemido tão sensual e gozam como loucas. Teve uma que me arranhou as costas inteirinhas, uma vez. Ah, essas meninas da Internet! Depois que descobri, nunca mais quis outra coisa. Platão suspirava e seus olhos brilhavam como os de quem lembra da comida da avó. Sua contemplação foi interrompida pelo analista, que anunciou o final do tempo para aquele dia. O Tremendão sai, então. Se desdobrando em agradecimentos e pagando dobrado à secretária.



Manolo, 2 anos

N

Por Carlos Eduardo Carneiro

ão bastasse a alegria de o Sarau do Manolo celebrar dois anos de existência, sua pequena história preenche uma lacuna na ambiência cultural de Atibaia: atividades culturais que tematizam as demandas sociais pautadas pelas organizações de trabalhadores e trabalhadoras convergindo arte local e manifestações anticapitalistas globais.

Essa relação entre arte e emancipação humana fora objeto de inúmeros artistas e estudiosos e não é objetivo deste artigo expor um balanço destas teorias. Todavia, é essa a temática esteta fundamental da modernidade, desde suas origens no século XV até nossos dias, e tem como principal problema o fim da arte. Ao contrário do que muitos pensam não fora Duchamp o responsável por tal

questionamento, mas Hegel no início do século XIX. É o filósofo alemão quem primeiro sistematiza e expõe a questão. Não se trata apenas do perecimento literal da atividade e da obra artísticas uma vez que nada que existe é eterno, trata-se, principalmente, do fato de que no artista moderno surge a consciência de sua inutilidade. “Produzo inutilidades” diriam Manoel de Barros e Paulo Leminski contra o utilitarismo pragmático do


IMAGENS: ALLINE NAKAMURA

modo de vida moderno, capitalista. O artista não escapa às determinações históricas da sociabilidade do capital, por outro lado essa mesma sociabilidade limita sua criatividade reduzindo-a a uma produção vendável. A arte se torna, enfim, uma mercadoria que, como qualquer outra, se distingue apenas pelo aspecto quantitativo: uma quantidade X de celular equivale a Y entradas para um teatro. A mercantilização do produto e da atividade artísticas é o terreno ontológico que substancia o fim da arte e, portanto, as categorias simples de valor de uso e valor de troca formam a chave epistemológica para a reprodução espiritual de nosso tempo. O artista é reduzido à força de trabalho simples e deve lutar pela “valorização” de seu produto no mercado junto às demais espécies de atividades humanas; daí a manutenção de um ponto de vista teórico e de uma prática subalterna por parte dos artistas: apenas as classes médias intelectualizadas e a burguesia podem pagar um preço “justo” pelo seu “trabalho” e, mais que isso, apenas essas camadas da pirâmide social são capazes de consumir seu produto. Em Atibaia, por exemplo, a região central ou proximidade (Al. Lucas, estância, Alvinópolis) delineia o espaço urbano principal da intervenção dos artistas. Sobre esse recorte elitista, Walter Benjamim projeta luz inconteste: os meios de produção artística são propriedade privada e, pela


Thiago Cervan: iluminando a moรงa e comandando a massa

A bela e terna Carol Ambulante Peixoto: pura singeleza


Marcelino Freire: aniversariante do mês abrilhantou o evento

Renan e Grupo Inquérito Lotado : distribuição de pinos e poesias


Daniel Minchoni: escolheu o título e mandou ver na quebrada

Bruno Pastore: um sábio ingênuo descobrindo a alegria dos outros


própria prática que se funda neste princípio reprodutivo, tende sempre a concentrar-se nas mãos dos artistas mais ligados ao poder político e econômico, o que explica o limite geográfico da arte e, mais que isso, tende ao naturalismo estético estéril do ponto de vista histórico e fetichista do ponto de vista da emancipação humana. Não é a obra, mas os acordos de bastidores com o poder que assegura à maioria dos artistas sua manutenção. Avessos aos modismos, muitos artistas, como o poeta João Cabral de Mello Neto ou o pintor Van Gogh, ou intelectuais como Ernst Fischer, Carlos Argan e o já citado Walter Benjamim, entendem a obra como um objeto humano cuja finalidade é agir sobre o outro ser humano, sua consciência e sentidos, comunicando-lhe uma experiência humana capaz de despertar-lhe o autoconhecimento do devir social. Assim, o perecer da arte é o perecimento de seu sentido e significado plasmado na expressividade plástica da obra; todavia, no interior das relações de mercado já não há necessidade de objetos capazes de sintetizar e valorar determinadas práticas, o que interessa é apenas objetos prenhes de mais valia vendáveis para consumidores privados ou capazes de angariar fundos públicos. Essa crise adquire contornos trágicos após a primeira guerra. Ainda segundo Walter Benjamim, a geração que crescera puxada


por cavalos viu-se em meio ao campo de batalhas com aviões e tanques; o empobrecimento e o terror das experiências limitam sua comunicabilidade. A fase da barbárie monopolista ao longo do século XX e do globalitarismo deste início de milênio que radica o individualismo abstrato daqueles que se apartam, na imaginação e no discurso, do contexto social concreto faz nascer uma obra de arte que é a anti-arte, a arte consciente de seu perecimento: a destruição do signo, da materialidade da obra como comunicação humana. O conceitualismo é a expressão mais evidente e pop desta decadência intelectual da modernidade. A afirmação abstrata de quê “por de trás” de uma obra há um conceito é a capitulação intelectual e moral diante dos estreitos horizontes de autocriação que o capitalismo impõe. O individualismo é tão grande em nossos dias que os modismos intelectuais, sedutores e de fácil absorção, afirmam que a arte não necessita comunicar nada; tal ideia pressupõe a divisão entre corpo e mente existente apenas no pensamento metafísico, esquecendo-se do fato de que toda e qualquer ação e produto da individualidade humana contém sempre, não um, mas vários conceitos, explicitados conscientemente ou não. Ser conceitual é apenas um dos caracteres da natureza humana, uma condição imanente a qualquer prática e produto humanos, não uma escolha arbitrária do artista. Nestes dois anos de existência procuramos mostrar que a arte

é útil para a construção da liberdade, da emancipação do trabalho através da fruição e do desenvolvimento dos sentidos, mas não nos seduzimos pelo utilitarismo do mercado com suas fórmulas prontas para alavancar status; defendemos a abstração e os conceitos como forças do cérebro humano para repensarmos a arte e o mundo, não fins em si mesmos. A arte é tão mundana quanto a carne dos artistas que a produz e não escapa ao julgamento da história. Profanar a aura que envolve a imagem do artista é uma das missões do Sarau do Manolo... aliás, se a obra de arte é inútil, a atividade que a produz também é: a crise social global que ora vivemos há de redistribuir, tal como as crises anteriores, o tempo necessário à reprodução dos indivíduos e, por isso, de nossa espécie em geral, mas também redistribuirá o tempo livre e criativo hoje nas mãos de poucos “iluminados” cuja luz emana do controle sobre os meios. A revolução social será nossa última obra.



Mergulho Por Marcelino Lima

S

ubiu e desceu a rua várias vezes naquele dia de feira-livre às primeiras horas da manhã. Pelo menos uma hora no vaivém. Achavase, sentia-se. Tinha de fato o que exibir. Calça justa, formas estonteantes. O decote da camiseta na medida exata para atiçar desejos, fartos seios quase pulando pela abertura. O apregoar dos feirantes, maliciosos: “Moça bonita não paga, mas leva só se der beijinho!”. Inchava-se, a poderosa. Todos aos seus pés. A glória a despeito de olhares invejosos, de expressões de desdém enciumado, nem sempre caladas, das rivais. Comprar nada queria. Chegava-se às barracas apenas para conferir mais de perto um tolo ou um pretendido – que, dependendo do freguês, não deixa de ser otário, também. Entre apalpadelas maliciosas em frutas, perguntas dúbias sobre o frescor das hortaliças, um cheiro nas flores, assim ia aumentando a lista de basbaques. Na barraca de roupas, biquínis provados sobre as roupas atiçam ainda mais os desejos da atriz e da plateia (logo mais faria topless, o palco seria a praia). Antes de se ir embora, o japonês ofereceu pastel na faixa, que ela recusou alegando precisar manter a linha, aceitando apenas o guaraná


alegadamente diet. Ao agradecer pela gentileza roçou provocantemente a ponta da língua sobre os lábios carnosos, murmurando “o senhor é um amor!”. O verdureiro também ganhou o dia, satisfeito por ter sido prestigiado não pensou duas vezes em ser generoso. “Para cativar a freguesa”, descontou metade do preço da alface e dos tomates. Enfim, em casa, banho ao som dos Rolling Stones. Admirou o próprio corpo nu diante do espelho e ficou se lembrando da cara de todos aqueles papalvos – não é que até um carreteiro, fedelho ainda engatinhando na puberdade, havia se engraçado? Rápida refeição, salada temperada com limão, sem óleo, sem sal, semente de chia à vontade, arroz com dourado grelhado, suco de clorofila com hortelã. Meteu tudo o que julgava precisar na sacola de palha e saiu. Estava chegando o momento pelo qual tanto ansiava, e agora depois de semanas planejando tudo se sentia corajosa, pronta para agir. Nada mais poderia atrapalhar a esticada dela até o mar, impedi-la de atingir seus objetivos: mergulhar em um ponto remoto, mas suficientemente à vista do atlético e sempre atento salva-vidas. Marcelino Lima é jornalista, desfia crônicas e outros gêneros literários. http://barulhodeagua.blogspot.com.br/


VATICANO Pouca coisa lá é capaz de despertar emoções

Por Luis Pires



A

Cidade do Vaticano, oficialmente chamada de Estado da Cidade do Vaticano, onde o argentino Jorge Mario Bergoglio (papa Francisco I), comandará os rumos da igreja católica até sua morte (ou renúncia), tem apenas 44 hectares (0,44 km2) e população de aproximadamente 800 habitantes. O menor país do mundo, tanto em população, quanto em área, foi visitado e clicado pelo repórter fotográfico Luís Pires, que conta aos leitores da Kalango sua impressão sobre o templo sagrado da fé católica. Quando estivemos em Roma, alugamos um

apartamento que ficava numa rua estreita (quase uma viela) a três quarteirões da Piazza San Pietro. Por isso, nossa primeira visita em Roma foi ao Vaticano. Quando adentrei a praça me deu um acesso incontrolável de choro. Eu não conheci minha avó materna, que morreu quando eu tinha alguns meses de idade. Mas cresci escutando inúmeras histórias sobre ela, contadas pela minha mãe. Foi uma católica fervorosa e praticante até seus últimos dias de vida. Embora tenha nascido na Itália, não conheceu o Vaticano, um dos locais mais sagrados do cristianismo que ela professava,


porque emigrou ainda criança, quando sua família fugiu da fome e da miséria e atravessou o oceano para se estabelecer no Brasil. E as condições financeiras da família nunca permitiram sua volta à terra natal. Por isso, quando bati os olhos no Vaticano e sua imponente construção, senti a presença dela ali comigo. Pensei no orgulho que ela e meu avô (ele também um imigrante italiano) sentiriam em saber que seu neto, mais de cem anos depois, pode fazer o caminho inverso ao deles, mas por turismo e não por necessidade. E desandei a chorar, sem conseguir me controlar. Durante nossa estadia em Roma, todos os dias passávamos pela

praça mas demorou algum tempo para que tivéssemos vontade de adentrar ao templo. Quando o fizemos encontramos um lugar imponente, suntuoso, porém frio. Pouca coisa lá é capaz de despertar emoções. Obviamente ficamos petrificados diante da “Pietá”, de Michelangelo e admirados pelos pés desgastados da imagem de bronze de São Pedro, na qual há séculos os fieis encostam as mãos para se benzerem. Mas o local onde se processa a burocracia da fé católica não tem a mesma energia vibrante da Basílica de Nossa Senhora, em Aparecida (SP), por exemplo. Ou de templos sagrados de outras religiões visitados por nós, igualmente emocionantes.






ANDREIA DIAS Por Giuliano Tosin*

C

omo é legal sentir vontade de ouvir um disco repetidamente! Pelos Trópicos, novo álbum de Andreia Dias, é um universo tão variado de ritmos, arranjos, temáticas e recursos poéticos, que propõe novas descobertas a cada incursão. Soma-se a isso a malandragem interpretativa que vem da experiência acumulada por ela, uma das maiores figuras da música brasileira pós-2000. Obra contemporânea com C maiúsculo, suas circunstâncias de produção remetem às novas formas descentralizadas da cultura, criando pontes entre lugares e pessoas, compondo e decompondo os nós que edificam as bifurcações do universo da arte. A presença de espírito e a sagacidade das letras fazem lembrar que talento não se aprende na escola, isso é para quem tem insight, para quem consegue soprar no verbo a ânima que faz com que uma palavra seja bem mais do que o seu significado. Entre brincadeiras e jogos de linguagem, os versos fazem um movimento sutil e fluente. É popular no sentido mais literal do termo, canção como canção (na vox populi) e, ao mesmo tempo, sofisticado pela originalidade das

soluções musicais adotadas. Além disso, juntar os talentos de compor e cantar tão bem faz dela uma figura rara. O trabalho insere-se na esteira criativa daquele que é a pedra fundamental da música brasileira hoje: Itamar Assumpção. Sem ranço ou lamúrias, com uma fórmula alegre, espontânea e extrovertida, como a própria personalidade da compositora. Pelos Trópicos é um disco de rua, um disco de estrada, feito pela andarilha mais charmosa da megalópole das ladeiras. Com licença, vou escutar de novo. * Giuliano Tosin (Juli Manzi) é compositor, pesquisador e professor universitário.

Quer ouvir também? Clique aqui: http://scubidu.bandcamp.com/album/andreia-dias-pelos-tr-picos


Histórias de Viver e Contar

A

pós dez (10) anos de estrada contadeira, o mogiano Luciano Costa, psicanalista e contador de histórias lança em breve seu 2° livro, HISTÓRIAS DE VIVER E CONTAR. O primeiro trabalho, de 1996, foi um livro de poesias, impresso em casa, “numa matricial barulhenta”. Eu pássaro sonhador e os caminhos da Alma era o título. “Hoje acho meio brega o nome, adolescente de tudo. Mas teve uma boa saída (umas 15 unidades)”, brinca o autor. Depois de muita pesquisa, alguns contatos com o mundo das editoras e muitas, mas muitas tentativas de parceria, Luciano optou mais uma vez pela produção independente. “Não dava mais para esperar as condições perfeitas. Já estava na hora de nascer esta cria”, comenta o autor. Se tudo sair no prazo, em março e abril o lançamento do livro acontece em dois Saraus de Contação de Histórias, um em Mogi das Cruzes e outro em São Paulo. Além dos causos narrados pelo velho Zefirino, um de seus personagens, Luciano realiza a formação de educadores e profissionais de diversas áreas, em oficinas e cursos que sensibilizam e exercitam aspectos de comunicação, relações de empatia e potencialidades da arte de contar histórias. Percorre escolas, instituições e bibliotecas em atividades brincantes e dinâmicas.

A obra reúne, como um primeiro exercício literário, sua experiência e estudos nas áreas da cultura, educação, política e psicanálise em forma de fios de memórias, contos, dicas e provocações. Tudo trançado em uma narrativa mansa, simples, – um ‘dedim de prosa’ como se diz lá em Minas Gerais, terra de sua infância ‘cheia de imagens meio reais inventadas’. Segundo o autor os capítulos buscam despertar este narrador profundo e intenso que existe dentro de cada um de nós. As belas ilustrações que abrem os oito contos e dialogam com os parágrafos ao longo da narrativa foram um presente da amiga, a arte-terapeuta Viviane Santos. Quem quiser conhecer o autor e indicar seu trabalho pode visitar o blog, www.historaisdecontabrincando.wordpress. com, ou numa prosa mesmo, pelo telefone (11) 99665-4747.


DEPOIS DOS FILHOS DO HOMEM Por Nestor Lampros*

Já Foi

Pareceu-me sem céu as decisões do poder irresoluto Partindo do princípio Porque no princípio era o verbo Depois surgiram o advérbio e o substantivo O numeral composto e a decomposição De toda decepção

-É agora domingo

Surgiram milhares de fogos de santos ofícios Nascidos pelo escuro lado de fora do nada absurdo Compelindo a fugacidade das cidades Corrompidas De ódios humanos e valores nada vagos... Um valor requer atenção e generalizações Um valor reque mais do que o postulante a ser são Pedro Super- Pedro Ínfimo na ternura de atar no avatar do tempo: -Chove agora e aqui Faz tanto frio... Achando-se A chave dos Precipícios? Comemos o pão que o diabo moldou Na sutil Dependência de naufragarmos Entre apostolados de seres Que sobem A montanha e não No dia de Sábado A televisão É desorgânica? Sobem o monte com a ferruginosa cadeia de enchentes Com a ociosa medir a dor do de-re-pente Com as cadeias dentro das vozes

E amanhã quem sabe Apocalipseminotauromaquias Domando Ouros De tolos No que Refrigera a alma Construída De fomes E a reza Desconstruindo Some A cadeira mais que primeira Senda Some Perante O vulto replicante De todos os sumo-pontificiários De putifares Condoendo-se Doentes Em Dores Dos Finitos Filhos Do Homem Ausentes

Poeta, artista plástico, arte-educador, e cartunista. É pós-graduado em Arte-Educação pela FAAT.

www.nestorlampros.com.br


VOLTE SEMPRE


ESTARRECIDO

Por Mario Sérgio de Moraes*

* Mario Sérgio de Moraes é Doutor em História pela USP e professor universitário


http://www.faat.com.br


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