Kalango 10

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Kalango#10

• 80 anos do voto feminino • A luta pela emancipação da mulher • Teatro, política e feminismo • Waris Dirie, a ‘Flor do deserto’ somali • Música, teatro, fotografia, poesia • Entrevista exclusiva com a astrofísica Beatriz Barbuy

MULHER


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A extinção deles é a nossa também


L A I R O T I D E

#10 Março 2012

8 - Weberson Sa ntiago 9 - Thiago Cerva n COLUNISTAS 10 - Delta9 11 - Paulo Netho 12 - Leonardo B off 14 - Marcelino L ima 15 - Orivaldo Bia gi

ito. A A Revista Kalango entra no Ano III com o pé dire as ideias, edição número 10 traz novos colaboradores, nov um novas possibilidades. Nossa pauta foi sugerida há a que mês, mas o tempo foi curto para trabalhar um tem da. é abrangente e exige uma reflexão mais aprofunda que Trazemos artigos que, mesmo enxutos, mostram os 80 ainda temos muita coisa pela frente. Discutimos agens anos do voto feminino e destacamos duas person gem da importantes na história do país. Abordamos a ima de. Em mulher, sua representação e sua representativida Brandão uma entrevista exclusiva, o repórter Hemerson rnacional fala sobre a presença brasileira na astrofísica inte Silveira numa conversa com a paulistana Beatriz Leonor icar Barbuy que, no final da década de 60, decidiu ded tro, sua vida às estrelas. Fotografia, poesia, prosa, tea a espiritualidade, ilustração, história... Nessa edição música Kalango decidiu selecionar 14 canções da nossa ta e brasileira, de Carmem Miranda a Vanessa da Ma resultado reunir numa coletânea disponível na Internet. O você encontra aqui, nas próximas páginas. Boa leitura, se curtir, compartilhe! Um grande abraço!

Osni Dias

sumário

Prezados

16 - Aline Cântia 18 - Ana Melo 20 - Carlos Carn eiro 24 - Fernanda A zevedo 28 - Luis Brandin o 30 - Hemerson B randão 40 - Jean Takada 44 - Gabriel Cru z 48 - Delta9 / Os ni Dias 52 - Amne Faria 56 - Mariana Pe droso 58 - Vania Jucá

Foto: NASA

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DIVULGA ÇÃO

40

8

LUIZ MACHADO

56 Edição/Layout: O

sni Dias MTb21.5

11

A Kalango trabal ha com Jornalis mo Colaborativo fotógrafos, artist . Seus repórteres as, poetas, ilust , colunistas, radores e articu por paixão e com lis tas cedem seus profissionalismo trabalhos . A publicação n econômicos nem ão tem vínculos religiosos e acei políticos, ta contribuições online ou fazer . Você pode ler download e, po a K alango steriormente, le r em seu compu tador.


thiago cervan WEBERSON SANTIAGO

http://arteverbal.tumblr.com/ http://webersonsantiago.carbonmade.com/

.projeto. de. thiago. cervan.


~

Nessa edicao, o ´ ´ ´ negocio e mulher Por Delta9*

D

ifícil. Precisei da ajuda do Aurélio On Line.

MULHER: ser humano do sexo feminino. Esposa. Amásia, concubina. Mulher à-toa, mulher da vida, mulher pública, meretriz. HOMEM: indivíduo dotado de inteligência e linguagem articulada, bípede, bímano, classificado como mamífero da família dos primatas, com a característica da posição ereta e da considerável dimensão e peso do crânio. A criatura humana sob o ponto de vista moral: todo homem é passível de aperfeiçoamento. Pessoa do sexo masculino, macho.

- que mulher é ser extraterrestre, dominando o mundo. Desde Eva, Helena, Cleópatra, Catarina e, vitorianamente, até Golda, Thatcher, Tereza (não a Collor, a santa), Hillary e Bünchen. E sua técnica é, paradoxalmente, invasiva. Luiz Fernando, veríssimo! Mulher não é objeto. Mulher é substantivo hiperlúdico indefinindo-se singularmente. Mulher é adjetivo parabólico encantado, perfumado e estonteante com desinência unhada. Mulher é verbo impessoal com plural majestático afirmativo “ride”, e subjetivo mais-que-perfeito infinitamente pessoal “chorare”. Acabou.

Homem é pessoa; mulher é ser humano. Sensível diferença.

* Delta9 é extraterrestre, publicitário e atua no Judiciário.

Enquanto Victor Hugo argumentava que Deus fez para o homem um trono e para a mulher um altar, Luiz Fernando demonstrou cientificamente - em uma crônica

http://www.undiverso.blogspot.com/ TRILHA SONORA: http://www.youtube.com/ watch?v=M06zk3umm-Q&feature=related

Por Paulo Netho*

Colunistas

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A parte feia da Primavera

epois do Dia Internacional da Mulher do ano passado, o nome de Samira Ibrahim ganhou as páginas de todos os jornais do mundo. Juntamente com outras 18 mulheres, ela estava na Praça Tahrir, no Cairo, participando de um protesto contra Mubarak, quando foi presa. Na prisão, Samira foi obrigada a fazer um teste de virgindade, ficando nua diante de um pelotão de soldados escarnecedores, e ainda teve que assinar uma declaração de virgindade. Embora indgnada, Samira não se deu por vencida e denunciou a crueldade praticada nas prisões militares, o que levou um Tribunal no Egito a proibir que o Exército realize “testes de virgindade”. Certamente, ser mulher em países assim não é tarefa das mais fáceis, porém, o que não dá para engolir são os abusos cometidos contra elas. Covardia; falta de respeito; falta de humanidade. Saramago escreveu em seu Ensaio sobre a cegueira que a humanidade é 50% maldade e os outros 50, é indiferença. No Brasil, Samira, as mulheres também são desrespeitadas o tempo todo, são violentadas de outras maneiras sem que tenham que ser enclausuradas

em jaula alguma como se faz aí no seu país. Aqui nós as maltratamos em outro npe, por exemplo, despindo-as em qualquer lugar, a qualquer hora do dia ou da noite, só com o olhar, com os nossos gracejos sem graça, com o silêncio que as insulta, com as porradas na boca do estômago com luvas de boxeadores pra não deixar marcas indeléveis. Enfim, com a impertinência nossa de cada dia. Claro que há zombaria sim, podemos dizer que o ato de zombar é comum entre os homens baixos tanto no Egito, na Tunísia, na Líbia como no Brasil. Tenho notícias que a Primavera Árabe foi quente e demolidora, parabéns. E como todas as revoluções sempre tem a parte feia, aquela parte que revela a natureza vil da raça humana. Mas eu sou otimista, viu! Esses soldados que zombaram de você, ou eles não gostam mesmo de mulheres, ou eles se encaixam perfeitamente na definição do escritor português sobre a humanidade. Eu não! É por isso que encho os pulmões de ar pra dizer em alto e bom tom: Primavera Árabe, o teu nome é mulher. Primavera Árabe, o teu nome é Samira Ibrahim. O teu nome é coragem. Obrigado, Samira Ibrahim, o teu nome é orgulho, é exemplo. * Paulo Netho é poeta, escritor e “um encantador de pessoas”. http://caradepavio.wordpress.com/


A mulher beija-flor

Por Leonardo Boff*

Q

uase todas as culturas acreditam num céu. Mas não se chega lá de qualquer jeito. Há sempre um processo de purificação e uma travessia perigosa. Em várias tribos amazônicas se crê que os mortos renascem como borboletas, umas mais escuras e pesadas pois as pessoas têm mais coisas a pagar, outras mais claras e leves pois estão quase purificadas. Elas voam de flor em flor sugando néctar para se fortalecerem para a travessia. Estando eu, certa feita, por aquelas paragens amazônicas e um cacique me contou o seguinte mito que é uma estória verdadeira porque fala de uma verdade real. Uma jovem índia, esbelta e bela, de nome Coaciaba , acabara de perder o marido, valente guerreiro, morto por flecha inimiga. Com a filhinha Guanambi passeava triste pelas margens do rio, observando as borboletas, ciente de que em

alguma delas estava seu querido marido. Mas a saudade era tanta que acabou morrendo. Guanambi , a filhinha, ficou totalmente sozinha. Inconsolável, chorava muito, especialmente, nas horas em que sua mãe costumava levá-la para passear. Todos os dias visitava o túmulo da mãe. Não queria mais viver. Pedia aos bons espíritos que viessem buscá-la e a levassem para onde estivesse sua mãe. De tanta tristeza, foi definhando até que morreu também. Todos na tribo ficaram muito penalizados. Como queria ficar junto da mãe, os espíritos não deixaram que virasse borboleta mas que ficasse dentro de uma flor lilás, pertinho do túmulo da mãe. A mãe renascera numa bela e suave borboleta. Esvoaçava por aí, de flor em flor, acumulando néctar para a grande travessia rumo ao céu. Certo dia, ao entardecer,

borboletando de flor em flor, acabou pousando sobre linda flor lilás. Ao sugar o néctar, ouviu um chorinho triste. Seu coração estremeceu. Reconheceu dentro da flor a vozinha da filha querida. Como poderia estar aprisionada ali dentro? Refez-se da emoção e sussurrou: “Filhinha querida, mamãe está aqui com você. Fique tranquila. Vou libertá-la para voarmos juntas ao céu.” Mas como abrir as pétalas se ela era uma borboleta levíssima? Recolheuse numa folha e suplicou entre lágrimas: ”Espíritos benfazejos e queridos anciãos, eu vos imploro: por amor ao meu marido, valente guerreiro que morreu lutando pelos parentes, por compaixão de minha filhinha, transformem-me num passarinho veloz, dotado de um bico pontiagudo para romper a flor lilás e libertar minha querida filhinha Guanambi “. Tanta foi a compaixão despertada, que o Espírito criador e os anciãos atenderam sem delongas a sua súplica. Transformaram-na

num agilíssimo beija-flor que imediatamente pairou por sobre a flor lilás. Com voz carregada de enternecimento sussurrou:”Filhinha, sou eu, sua mãe. Não se assuste. Fui transformada num beija-flor para libertá-la”. Com o bico ponteagudo, foi tirando com sumo cuidado, pétala por pétala, até liberar o coração da flor. Lá estava a filhinha sorridente, estendendo os bracinhos em direção da mãe. Abraçadas e levíssimas, voaram alto, cada vez mais alto até chegarem juntas ao céu. Desde então, na tribo, sempre que morre uma criança órfã, seu corpinho é coberto de flores lilás, como se estivesse dentro de uma grande flor, na certeza de que a mãe, na forma de beija-flor, virá libertá-la e levá-la para o céu. * Leonardo Boff é teólogo e escritor www.leonardoboff.wordpress.com Texto publicado originalmente em www.leonardoboff.com.br


A Mulher ~ na Producao ´ ´ Atual Historica

Leis da espiritualidade Por Marcelino Lima*

A

primeira diz: “A pessoa que vem é a pessoa certa”. Ninguém entra em nossas vidas por acaso. Todas as pessoas ao nosso redor, interagindo com a gente, tem algo para nos fazer aprender e avançar em cada situação. A segunda lei diz: “Aconteceu a única coisa que poderia ter acontecido”. Nada, absolutamente nada do que acontece em nossas vidas poderia ter sido de outra forma. Mesmo o menor detalhe. Não há nenhum... “se eu tivesse feito tal coisa...” ou “aconteceu que um outro ...”. Não. O que aconteceu foi tudo o que poderia ter acontecido, e foi para aprendermos a lição e seguirmos em frente.

Por Orivaldo Biagi* A terceira diz: “Toda vez que você iniciar é o momento certo”.* Tudo começa na hora certa, nem antes nem depois. Quando estamos prontos para iniciar algo novo em nossas vidas, é que as coisas acontecem. E a quarta e última afirma: “Quando algo termina, ele termina”. Simplesmente assim. Se algo acabou em nossas vidas é para a nossa evolução. Por isso, é melhor sair, ir em frente e se enriquecer com a experiência. Não é por acaso que estamos lendo este texto agora. Se ele vem à nossa vida hoje, é porque estamos preparados para entender que nenhum floco de neve cai no lugar errado.

* Marcelino Lima nasceu em Bela Vista do Paraíso, no Paraná. É jornalista formado pela PUC-SP, com pós-graduação pela Cásper Líbero (SP).

U

m fenômeno interessante pode ser observado na produção historiográfica dos últimos 50 anos: o número de obras destacando o papel da mulher cresceu imensamente. O curioso não foi o aumento da presença feminina nas preocupações históricas, mas a sua quase inexistência anterior a este momento. Tal fenômeno é comum com as chamadas minorias sociais (negros, homossexuais, indígenas, etc.), pois sua participação social tende a ser sufocada e “apagada”. Mas as mulheres são, em praticamente todos os momentos da História, a metade da sociedade – e mesmo assim também teve praticamente sua participação social sufocada e “apagada”. Portanto o atual interesse histórico não aconteceu

meramente por uma questão númerica, mas sim pelo novo papel da mulher nos últimos 50 anos, com uma participação social muito mais intensa. Inúmeros direitos (de voto, de igualdade, etc.) foram efetivados neste período. Seu papel atual na política e na cidadania garante, assim, novas visões para a História. A História jamais foi o passado – ela é a visão do presente sobre o passado e, sendo assim, é viva e atual. E o aumento da mulher na sua produção mostra o quanto o papel feminino no momento é vivo e atual. * Orivaldo Leme Biagi é PósDoutor em História pela USP e Professor da FAAT Faculdades


A casa de Irene Por Aline Cântia*

Ú

ltimo dia de trabalho em São Romão. Depois de acordar com os pássaros pretos fazendo algazarra no quintal, vejo que já são nove da manhã. É hora de seguir até a 5ª casa popular em frente ao campinho, onde Irene me espera. Casas pintadas de amarelo, laranja, verde e azul. Flores nas varandas, muros baixos, telhados em triângulos como em nossos desenhos de criança. Passo por bicicletas, bolinhas de gude, casinhas de areia e bonecas de pinha até ver o sorriso de Irene, confirmando com o vizinho: - Não é que ela veio mesmo? Veio ouvir umas histórias de pescador que mamãe contava. E começa pelo quintal, lugar que mais gosta da casa. – Não pode faltar jiló nem quiabo, que é pra manter o corpo fechado. Romã pra dar sorte, cidreira pra dormir e urucum pra enfeitar. Do lado de dentro, um sofá azul e um quadro cheio de retratos convidam para um passeio pelas águas de São Francisco. Começa contando da mãe que criou os 14 filhos lavando roupa no rio, mas a prosa é interrompida pelo cheiro de feijão

queimado na casa ao lado. Os muros pequenos compartilham as intimidades e as crendices. O sonho da casa própria traz junto a vida em comunidade, o ir e vir de crianças, os portões abertos para vida. Dos 14 filhos, 10 são graduados, 2 estudantes e destes, 8 têm mestrado – tudo criado na beira de rio. É o que ela me conta cheia de prestígio. Mas não demora e a prosa é interrompida outra vez, agora pelo telefone que toca. É o namorado que recebe as orientações de Irene sobre terraplanagem, mais um de seus ofícios. Aliás, ofícios são o que não faltam nesta “casa de Irene”, como ela mesma chama: - Por isso que eu ri quando falei pra você procurar a Casa de Irene. Você acredita que lá no Paraguai tem uma casa que chama assim? O primeiro email que eu pra fiz pra mim era casadeirene@ alguma coisa. E não é que ele chegava lá, vê se pode! O povo dizia: - Eita Irene, só você mesma. Não basta ser clonada na vida (ela é irmã gêmea), é também na casa. E sorri muito, enquanto explica essas coincidências da vida. Irene é professora da educação infantil, mãe de Bárbara e Isabela e estudante de pedagogia na

cidade vizinha: levanta todos os dias as seis para ir à creche, almoça ao meio dia, sai as três da tarde para Brasília de Minas, onde estuda até as dez. Desta hora até à uma da manhã, quando a van passa, faz um bico de manobrista no posto de gasolina ou passa o tempo fazendo resumos, lendo sobre sociologia e filosofia para os frentistas que segunda ela, ao final do curso, também estarão formados em ciências humanas: - Outro dia, eu estava explicando pra eles o que era aculturamento. Eles ficaram encantados, pensavam que quando a gente ia de um lugar pro outro só esquecia a cultura e pronto. E o telefone toca mais uma vez. Meio envolta a tantas histórias, ouço de relance ela falar em neoplasia, que era um assunto muito amplo e difícil. No entanto, ela ia tentar. - Já pensou? Essa menina vai fazer monografia sobre neoplasia. Envolve tanto assunto isso, eu vou ter que pesquisar muito pra dar conta. Irene também faz resumos para alunos de outros cursos: direito, enfermagem e administração. O salário da creche é o mínimo. Só com ele não dá pra fazer tudo e ainda estudar as duas meninas. Por isso, quando precisa Irene também cozinha em festa, em jantar, onde precisar. - Eu chego e falo: mas como que vai fazer uma comida numa casa suja dessa! E ganho a faxina. É o jeito de ir sobrevivendo, não é? E ri Irene, enquanto prepara um suco de goiaba com maracujá adoçado com rapadura ralada.

Só que estes dias, ela conta que está mais triste porque precisou mandar as duas filhas pra casa do pai. - Elas foram pra lá porque eu fico muito pouco em casa. É a primeira vez que elas saem. Criei tudo sozinha, tá na hora do pai ajudar. Eu nem podia ter filho. Tive eclampse no primeiro parto, mas correu tudo bem. Um ano depois fui fazer ligadura e quando o medico fez os exames, eu estava grávida de novo. O médico avisou que era perigoso, mas eu não ia tirar a vida de ninguém. E nasceu Isabela com cinco meses e uma insuficiência respiratória que a fez perder um pulmão ainda bem pequena. - Hoje ela tá bem e ainda aprendeu a tocar flauta, sua grande paixão. Era pra exercitar o pulmão. Acabou gostando. E termina mostrando uma fotografia já meio amarelada de duas meninas juntas. - São as filhas de cabelo curto. A que ficou doente teve que fazer quimioterapia e ficou com o cabelo ralinho. A outra, pra acompanhar a irmã, cortou também. Disse isso, guardou o álbum e fechou a gaveta das memórias. Me deu um abraço, colocou a trouxa de roupas no carrinho de mão e saiu. E impregnado no meu corpo, ficou o cheiro desta gaveta de memórias. * Aline Cântia é jornalista, pósgraduada em Jornalismo e Práticas Contemporâneas pelo UNI-BH e mestranda em Estudos Literários pela UFMG. http://alinecantiaechicodoceu. blogspot.com/


Mulheres que sorriam Por Ana Melo*

S

ão inúmeras as conquistas que nós, mulheres, fizemos ao longo da história. Somos gratas a todas que, de alguma forma, contribuíram para que hoje ocupássemos espaços que há poucos anos não nos eram de direito. Entre elas, vale a pena lembrar que algumas mulheres simples e pouco instruídas tiveram importância crucial na formação, durante infância e juventude, daquelas que passariam mais tarde a estar na linha de frente das lutas e vitórias em nossa sociedade. Assim foi com muitas de nós. Assim foi comigo. Convivi, quando criança, com mulheres que sorriam. Lembrome de uma foto de família: homens, mulheres e crianças. Eles carrancudos, sérios. Somente as mulheres sorrindo. Eram elas as responsáveis pela alegria nos anos de minha infância. Minha avó, por exemplo, forte e acolhedora, era a representante maior da alegria. O sorriso sempre estampado no rosto. Vinham dela o entusiasmo e

a vontade de viver que inspiravam a mim e a minhas irmãs, assim como eram dela as respostas que nos indicavam o caminho nos momentos de crise. As mulheres de minha vida abriram mão de grande parte de seus sonhos para cuidarem de seus homens e filhos. Era assim que tinha que ser naquela época. Casar e ter filhos era o sonho da grande maioria das mulheres na década de 30, quando minha avó se casou aos 16 anos, e ainda era assim na década de 60, quando se casou minha mãe aos 19. O casamento, embora beneficiasse muito mais aos homens do que às mulheres, exigia delas um empenho maior do que deles. Incluía-se aí o abandono dos ideais pessoais e a dedicação total à maternidade, criação dos filhos e vida doméstica. Era a mulher – e ainda hoje é assim em muitos lares – que abria mão de boa parte de seu tempo para gerar, parir,

amamentar, trocar fraldas, cuidar, contar histórias, brincar, alimentar, levar à escola, ajudar nos deveres de casa e administrar, mais tarde, as questões afetivas, a instrução sexual dos filhos adolescentes etc etc... Este foi o papel de minha mãe, presença absoluta dentro de casa, enquanto meu pai provia o sustento do lar. Mas não digo, com isso, que essas mulheres foram mártires. Assisti, na infância, também a cenas de dominação por parte da ala feminina, talvez o preço que cobravam pelo ato de doação. Meu pai, filho desta avozinha querida extremamente controladora, depois de ter se casado com minha mãe e com ela ter tido três filhas, que posteriormente lhe deram seis netas, embora se empenhasse no papel de chefe do lar, era minoria em casa e, no final das contas, segundo sua própria versão, nunca obteve êxito em fazer prevalecer sua palavra. As mulheres de sua vida – ele jura – sempre fizeram dele o que bem entendiam. Com o tempo, cada uma de nós assumiu novos papéis como comandantes em seus respectivos lares. Assim demos continuidade ao exercício de entrega e doação que aprendemos com as mulheres de nossas vidas. Eu, de minha parte, nunca me esqueci do sorriso – capacidade de sedução e encantamento – que elas me ensinaram.

* Ana Melo é psicóloga e mestre em História pela UFGD.


FOTA Mais forte que a violĂŞncia legal aplicada pelo Estado contra trabalhadores e trabalhadoras ĂŠ a imagem desta mulher...

Por Carlos Eduardo Carneiro*


C

arrego na lembrança a imagem de meu pai brincando com a palavra foto. Ele sempre dizia fota. Mas tudo bem, é apenas uma lembrança pessoal. Todavia, é interessante como Mário Maestri em seu livro “A linguagem escravizada: língua, poder e luta de classes” prova que a linguagem expressa as relações de poder entre classes sociais e, por sua vez, entre homens e mulheres. Presidente ou presidenta? Não se trata apenas de uma letra, mas da manifestação do pensamento humano que, não por acaso, através de palavras masculinas possuem maior universalidade que outras palavras no feminino. A palavra “homens” pode ser empregada como sinônimo de ser humano, ela inclui tanto homens quanto mulheres, assim como a palavra “pais” inclui o pai e a mãe. É comum as pessoas falarem “meus pais...”, mas nunca dizem “minhas mães...”. Isso não é natural. Sabe-se que, com a dissolução das gens no período neolítico, o patriarcalismo passou a ser a forma predominante de organização familiar. Aliás, a palavra família vem de famulus

que designava, na antiga Roma, os escravos domésticos do homem. Essa relação de opressão e exploração ainda se mantém. Segundo cálculos da OIT, a jornada de trabalho das mulheres excede em 5 horas a jornada dos homens, incluindo o trabalho doméstico, no entanto, possuem um rendimento 23,6% inferior. Interessante notar, por exemplo, a diferença social entre a mulher que há muito não sabe o que é luz solar, cantada por Nelson Gonçalves em “Boneca de trapo”, e aquela de Vinícius de Moraes que narra o caminhar de um corpo dourado sob o sol de Ipanema. Duas mulheres distintas, uma pobre e outra rica. Sendo de realidades distintas possuem necessariamente práticas de vida distintas: num caso de gravidez indesejada a primeira será vítima de um aborto de risco e preconceito, enquanto a segunda terá uma ótima clínica particular, fechada na calada da noite, para realizar um aborto em boas condições de segurança e higiene. Além desta diferença de classe entre as mulheres, existe um problema comum: os casos de violência contra a mulher ocorrem,

em sua maioria, dentro do espaço privado do lar pelos próprios cônjuges. A luta pela emancipação das mulheres não se dissocia da emancipação humana em geral: a emancipação da mulher é também a emancipação do homem, é a possibilidade de um processo de humanização muito mais amplo, omnilateral, para todos os indivíduos. Nesta luta, sem dúvida alguma os signos cumprem uma função essencial, pois são instrumentos de pensamento, tal como a linguagem e as canções citadas acima. A fota, outro signo, através de uma abstração esteticista da realidade, segundo Walter Benjamin, se isenta de todo interesse político e científico, assim é considerada uma fotografia criadora. É a maneira de estar na moda e ainda que tecnicamente perfeita é “incapaz de compreender um único dos contextos humanos”. Em contrapartida, a fotografia construtiva, ao se reconhecer como signo, recoloca o problema do conhecimento acima do valormercadoria. A imagem da mulher

indígena, tendo nas mãos uma criança e a tropa de choque atrás é um exemplo de fotografia construtiva. É impossível, a partir dela, abstrair a realidade e afirmar simplesmente: “Que lindo! Gostei. É muito bonita.” Não. Nela, a fruição projeta nossas emoções para um tempoespaço concreto onde a vida flui efetivamente. Escapa à moda mercantil da proposição “O mundo é belo” e o contexto humano é compreendido em toda sua contradição como uma construção prática (práxis, para os filósofos), cuja responsabilidade o observador não pode se furtar. Mais forte que a violência legal aplicada pelo Estado contra trabalhadores e trabalhadoras é a imagem desta mulher. Os homens do choque, treinados e equipados com o que há de pior na produção humana, as armas, escondem o rosto atrás de escudos e capacetes, enquanto a mulher, ali sozinha, empurrada pela opressão, não esconde o rosto que chora, mas traz nas mãos o futuro. * Pedagogo formado pela Unesp de Bauru, é um dos organizadores do Sarau do Manolo, em Atibaia (SP).


Teatro, politica e feminismo::

violência doméstica etc). Um casamento perfeito entre patriarcado e capitalismo.

por uma vida justa, feliz,, ^ com autonomia e sem violencia

Por Fernanda Azevedo*

E

xiste um profundo desequilíbrio entre homens e mulheres nas sociedades atuais. Os exemplos são numerosos: é comum as mulheres receberem salários inferiores aos dos homens para as mesmas funções; elas são vítimas de violências físicas e psicológicas pelo simples fato de serem mulheres; na divisão das tarefas sociais, geralmente são destinadas às mulheres as funções de limpeza (na casa e no trabalho) e de cuidados; é frequente o

tratamento preconceituoso nos meios de comunicação, em particular na publicidade, mostrando a mulher como objeto de consumo masculino; nossa legislação é arcaica, impondo ideias como a de maternidade compulsória e criminalizando as mulheres que praticam a interrupção voluntária da gravidez; o número de creches é insuficiente, confinando as mulheres ainda mais ao lar; mulheres em cargos políticos e de comando ainda são exceções, no Congresso Nacional, por exemplo, elas representam apenas 10%; a livre orientação sexual não é respeitada e preconceitos são tolerados; muitas mulheres cumprem jornadas duplas ou triplas de trabalho. Por que é tão urgente e necessário explicitar e enfrentar todas estas dificuldades? E mais: pode o teatro dar conta de um tema como desigualdade de gênero

e apresentar possibilidades de transformação social? Com relação à primeira pergunta, parece óbvio que não é possível aceitar qualquer tipo de desigualdade se o que buscamos é uma sociedade realmente livre e justa. E, no que diz respeito as desigualdes de gênero e sexo, estas tem se apresentado como uma das faces mais cruéis do atual sistema político-econômico (que gera 1 bilhão de famintos e miseráveis, dos quais 70% são mulheres, entre outras desgraças que recaem com maior intensidade sobre o sexo feminino: desemprego, precariedade no trabalho,

É neste sentido que o teatro tem como principal função “responder aos perigos de uma época” (como diz o dramaturgo marxista Edward Bond) e lançar as provocações necessárias para que nos tornemos conscientes e atuantes no curso da história, da nossa história e também no entendimento de que a luta por melhores condições de vida para toda-o-s só se faz coletivamente. Portanto, se não estamos satisfeita-o-s com as desigualdades de classe, etnia e gênero e se queremos que as ideias voltem a ser perigosas, em meio a tanta apatia, o teatro – como espaço horizontal, de reflexão mútua, de reunião e assembleia, espaço provocativo e propositivo – pode ser uma ferramenta potente nesta luta de Davi contra Golias. No entanto, é importante atentar para o fato de que nos jovens países da América Latina, como o Brasil, onde o principal veículo de comunicação e transmissão de “cultura e pensamento” é a televisão comercial (segundo dados da Articulação Mulher e Mídia, menos de 10% da


população lê jornal e são baixíssimos os índices de frequentação de teatro, cinema e outras atividades culturais), a formação estética, intelectual e política de grande parte da população está submetida ao controle de alguns poucos grupos econômicos que detém o poder das concessões públicas dos veículos de comunicação. Além disso, os governantes de nosso país preferem destinar quase metade do orçamento federal para o pagamento dos juros da dívida e apenas 0,06% para a pasta da Cultura. No Brasil, atualmente, arte e cultura são tratadas como mercadorias e estão longe de serem um direito da população (como previsto no art. 215 da Constituíção desde 1988). Diante deste quadro, a disputa simbólica, do imaginário e dos meios de expressão é urgente e esta luta deve unir movimentos artísticos e sociais! A discussão política sobre as questões que envolvem opressão de gênero, violência contra a mulher e temas afins também estão na ordem do dia – por um lado, uma mulher presidindo, pela primeira vez, o país e, por outro, uma Secretaria

de Mulheres (que representa um avanço institucional) com verba ínfima para implementar o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, gestado nas últimas três conferências nacionais. Além disso, é preciso considerar o crescimento da bancada conservadora e religiosa no Congresso que impede os avanços das leis contra as formas de opressão às mulheres, entre elas a necessária discussão sobre a legalização do aborto, uma vez que o número de mortes de mulheres por conta de abortos clandestinos é uma questão de saúde pública e não de moral. Neste sentido, diversos coletivos artísticos da América Latina vêm dando eco a esta problemática em seus trabalhos. A maneira como a sociedade se apropria do corpo e do espaço social da mulher, com o objetivo de engessá-la dentro de uma ideologia patriarcal, é hoje objeto de estudo de artistas e coletivos como Maria Galindo & Mujeres Creando (Bolívia), Mujeres Publicas (Argentina), The Magdalena Project (Rede Internacional de Mulheres), Jesusa Rodrigues e Liliana Felipe (México), As Loucas de Pedra Lilás (grupo de artistas feministas de Recife), as Obscenas (Belo

Horizonte), Atuadoras (São Paulo), entre tantas outras, anônimas ou conhecidas, através das Américas. Se as dificuldades de produção já são enormes, elas se multiplicam quando coletivos artísticos resolvem tematizar as questões de gênero como se este assunto não tivesse a menor importância ou as mulheres já tivessem conquistado sua autonomia. Durante os últimos 4 anos o coletivo do qual faço parte, a Kiwi Companhia de Teatro, enfrentou muitas dificuldade e desafios. Com o projeto artístico Carne – patriarcado e capitalismo nos deslocamos por toda a cidade de São Paulo, buscando os lugares onde o debate sobre a violência contra as mulheres poderia ser útil à comunidade e aos movimentos de mulheres, ao invés de ficarmos no conforto de um espaço cênico tradicional. Esta era uma das exigências de um trabalho com características de agitprop, aliado à consciência política mais abrangente sobre um novo modelo de sociedade, onde toda-o-s possam ter, no mínimo, as mesmas chances de realização como seres humanos.

Este projeto nos fez enfrentar “na carne” os problemas estruturais da nossa sociedade, mas nos mostrou também, ao afirmarmos a liberdade, a justiça e a autonomia e recusarmos os fatalismos, os preconceitos (de raça/etnia, de classe, orientação sexual) e todas as formas de violência impostas às mulheres, que a reflexão coletiva (entre a-o-s artistas, o público e os movimentos sociais) e os recursos que a arte nos oferece podem resultar numa sociedade transformada pela ação de mulheres e homens. Temos o direito de acreditar que “a vida é boa!” como disse Machado de Assis antes de morrer. * Fernanda Azevedo é atriz, pesquisadora e criadora do espetáculo “Carne”, da Kiwi Companhia de Teatro / Cooperativa Paulista de Teatro. É formada em Artes Cênicas pela pela Uni-Rio. :: Lembrete: O feminismo não é o contrário do machismo. Feminismo é a luta pela igualdade de direitos entre homens e mulheres ::


80 anos de voto feminino Por Luis Brandino*

L

íder civil de um movimento armado de oposição, Getúlio Vargas tornou-se, em 3 novembro de 1930, presidente do Brasil em caráter provisório. Dez dias antes, militares graduados haviam deposto o governo do presidente Washington Luís, impedindo, desta forma, que o candidato Júlio Prestes, que derrotara Vargas na eleição presidencial realizada em março daquele ano, tomasse posse. Um dos programas da Aliança Liberal – movimento liderado por Vargas – era a do aperfeiçoamento do sistema eleitoral brasileiro. Representação proporcional, voto secreto e combate às fraudes eram algumas das mudanças pretendidas. Para tanto, Vargas criou uma subcomissão para propor alterações no processo eleitoral. Foram dois anos de discussão. Berta Maria Júlia Lutz, filha do famoso cientista

Adolfo Lutz, uma das pioneiras na luta feminista no Brasil e fundadora da Federação para o Progresso Feminino, teve papel fundamental na aprovação da legislação que outorgou às mulheres o direito de votar e serem votadas. O Código Eleitoral foi promulgado por Vargas no dia 24 de fevereiro de 1932. De acordo com o cientista político Jairo Nicolau (História do voto no Brasil, Rio de Janeiro: Zahar, 2002), o Brasil foi o segundo país da América Latina a instituir o voto feminino – o primeiro fora o Equador, em 1929. “Em muitos países importantes, o sufrágio feminino foi concedido posteriormente:

França (1944), Itália e Japão (1946), Argentina e Venezuela (1947), Bélgica (1948), México (1953), Suíça (1971) e Portugal (1974).” Berta Lutz candidatou-se a uma vaga para a Assembleia Constituinte de 1932, ficando com a suplência. A primeira mulher a eleger-se deputada, no mesmo pleito, foi a paulista Carlota Pereira de Queirós. Que pese termos atualmente uma presidente da República e as mulheres formarem a maioria do colégio eleitoral, elas ainda são mal representadas nos parlamentos. Na atual legislatura da Câmara dos Deputados (2011-2015), as mulheres ocupam apenas 10% das 513 cadeiras; no Senado – instância que representa os estados da federação, elas somam dez assentos. O mesmo acontece nas representações populares regionais. Na Assembleia Legislativa de São Paulo, por exemplo, elas representam 12% do total de 95

deputados. Na Câmara Municipal da maior cidade brasileira, dos 55 vereadores, apenas 4 são mulheres. Números que demostram o quanto ainda as mulheres têm que caminhar para alcançarem igualdade nas instituições políticas de decisão. * Luis Sérgio Brandino é jornalista formado pela Cásper Líbero.


ENTREVISTA EXCLUSIVA

Mulher das estrelas

Por Hemerson Brand達o*

Nebulosa de Carina, onde muitas estrelas est達o nascendo Credito: ESO/T. Preibisch


E

la é um nome a ser lembrado na história da ciência nacional. Beatriz Leonor Silveira Barbuy, paulistana, astrofísica, foi no final da década de 60 que ela decidiu dedicar sua vida às estrelas. Ainda muito jovem, ao ler um livro de George Gamow, um dos físicos mais importantes do século XX, Beatriz escolheu ser astrônoma. Graduada em física e mestre em astronomia pela USP, fez seu doutorado pela Universidade de Paris. Sua carreira acumula passagens por importantes institutos ao redor do mundo e a participação e coordenação de projetos de pesquisa em astronomia. Atualmente, quando não está participando de congressos ou comitês internacionais, ela passa a vida esquadrinhando as estrelas mais velhas de nossa galáxia, estudando minuciosamente os elementos químicos que as formam. Suas pesquisas já renderam descobertas publicadas na revista britânica Nature, e já foram a base para uma nova teoria sobre rotação das estrelas. Foi no dia internacional da Mulher, em 2009, que ela foi agraciada com o prêmio internacional “L’ORÉAL-UNESCO 2009 para Mulheres na Ciência”. No mesmo ano a Revista Época listou Beatriz como um dos 100 brasileiros mais influentes do ano. Hoje, ela é considerada um das melhores cientistas do país.


ESO/WFI (Optical); MPIfR/ESO/APEX/A.Weiss et al. (Submillimetre); NASA/CXC/CfA/R.Kraft et al. (X-ray)

ESO/Sergey Stepanenko

Diferente da visão romântica que muitos ainda têm do astrônomo que fica durante toda a noite com o olho no telescópio, ela passa boa parte do seu tempo na frente de um computador, recebendo através da internet as informações enviadas por observatórios ao redor do mundo. É dessa forma que as descobertas mais fascinantes do Universo têm sido realizadas.

Imagens: Centaurus A, uma galáxia ativa. Ao lado, NGC 6729, um berçario de estrelas.

Marie Curie, a física polonesa que recebeu dois Prêmios Nobel no início do século passado pelas pesquisas em radioatividade, é uma cientista que Beatriz tem forte admiração. Outras mulheres que lhe inspiram são a astrônoma francesa Catherine Cesarsky e a geneticista brasileira Mayana Zatz. Mesmo nos dias de hoje, as mulheres na ciência é ainda assunto de debates e estudo. A ascensão das mulheres na ciência tem aumentado em nosso país nas últimas décadas, mas não na mesma velocidade que tem ocorrido em outros países. Faltam políticas de divulgação pra mostrar que a ciência pode ser feita por qualquer pessoa, inclusive pelas mulheres. “Isso já ocorreu no passado com as engenharias, o que tem mudado ao longo dos anos, embora ainda não o suficientemente”, lamenta a astrônoma.

Beatriz Barbuy observa as estrelas no observatório em Meudon Foto: Micheline Pelletier/ Fondation L’Oréal


Assim como os homens, as mulheres possuem a mesma capacidade intelectual para participar da aventura do conhecimento proporcionado pela ciência. Faltam-lhes oportunidade e incentivo. No Brasil, um país de tamanho continental, elas representam 51% da população. Desprezá-las é perigoso. O que seria da ciência brasileira sem as mulheres? “Simplesmente perderia metade de seus cérebros”, diz Beatriz. * Hemerson Brandão é astrônomo amador, futuro jornalista, geek, agnóstico, vegetariano, trekker e editor da Revista Macrocosmo.

Acima: Beatriz Barbuy, quando se tornou membro estrangeiro da Academie des Sciences em Paris Sombrero, uma galáxia espiralada Crédito: ESO/P. Barthel



Ta´ tudo dominado Por Jean Takada*

V

ai parecer um chavão descarado, mas pra mim, todo dia é Dia da Mulher. E é sério! Digo isso porque vivo cercado de mulheres. É mulher pra todo lado. Em casa e no trabalho. Tudo começou em 2003 quando me casei e arrumei um emprego de verdade. Saí da pacata Atibaia rumo à capital paulista para uma entrevista na editora Abril. A vaga era para um frila de arte de apenas 15 dias numa revista sobre novelas. Maricy Regis foi quem me deu os primeiros toques sobre como fazer revista. A coisa deu tão certo que o frila durou oito meses e só acabou porque pintou uma proposta de contratação em outra semanal, só que feminina. Ah, o universo feminino... Cinco dias depois lá estava eu pensando em como ilustrar uma matéria sobre o ciclo

menstrual. As pautas sobre o universo feminino pipocam como pó de pirimpimpim. Toda semana produzíamos matéria sobre saúde, moda, beleza, comportamento, sexo... Informações femininas demais para um caipira como eu. Em um ano estava parecendo o Mel Gibson no filme “What Women Want” (2000). Manjava de looks, maquiagens, dietas... Praticamente um espião. Somando todas as colegas de trabalho e dividindo por sete, a raiz quadrada do problema era a média de uma TMP por dia. Lá estavam a Kika, Lana, Kátia, Suzana, Carol, Rachel, Karlinha, Daniela, Andréia, Gizele, Malu, Tereza, duas Fernandas, três Cláudias e duas Márcias. Mas apesar de tudo a convivência era pacífica. Em outubro de 2007 surgiu uma proposta de mudança de redação. Um Job Rotation. Dessa vez para

uma revista de negócios. Leitor majoritariamente masculino (70%). Economia, fusões, lucros, gestão. Era a chance de mudar um pouco de assunto. Decidi trocar o universo das mulheres pelo mundo dos IPOs. Matéria de bolsa agora, só se fosse sobre a BM&FBOVESPA. Letras, juros e capitais, gráficos de barras, pizzas e bolas. Homens de negócio, ternos e faces sisudas. Editorialmente falando, uma mudança pra lá de diferente. Já a nova equipe:

Roseli, Karina, Carmô, Carolina, Renata, Sueli, Cláudia, Roberta, duas Cristianes, Ivana, Regina, Camilas, Vivian, Natália, Iara, Júlias, Rita, Alessandra, Luisa, Giuliana, Alexa e Tatiana. Fui para outra redação e com mais mulher ainda. E há quem diga que um dia as mulheres irão dominar o mundo... * Jean Takada é editor de arte, cursa jornalismo e aprendeu que é sempre bom ter um chocolate na mochila em tempos de TPMs. LUIZ MACHADO


Waris Dirie, a ‘Flor do deserto’ somali Por Rafael Oliveira*

W

aris Dirie nasceu na Somália. Como muitas das mulheres do continente Africano, sofreu mutilação genital feminina durante a infância, um procedimento ainda muito comum, que varia da a retirada do clitóris ao corte dos grandes lábios à infibulação (Suturação dos dois lados da vulva, fechando parcialmente o orifício genital.) Waris fugiu de seu vilarejo aos 13 anos de idade, após saber que seria obrigada por sua família a casar com um homem idoso. Após a fuga, atravessou sozinha e descalça um dos

desertos da Somália, sofrendo com sede e fome, terminando sua jornada na capital somali, Mogadíscio, onde encontrou sua avó. Em pouco tempo a avó de Waris conseguiu enviar a neta para trabalhar como empregada doméstica na embaixada Somali em Londres. Após o termino de uma Guerra na Somália, as embaixadas foram fechadas e Waris fugiu pelas ruas de Londres, onde conheceu uma grande amiga que lhe deu abrigo e lhe conseguiu um emprego como faxineira em uma lanchonete. Na lanchonete, Waris conheceu um grande fotografo que viu nela, potêncial para se tornar modelo. Pouco tempo depois, a somali já havia se tornado uma profissional requisitada na área, mas decidiu abdicar da carreira de para se converter numa defensora da erradicação da mutilação genital feminida. Atualmente Waris vive com a família em uma casa alugada na

Photo: Andrea Bruce/ The Washington Post BOP (The Best of Photojournalism) 2009. A group of girls are gathered at a home in Iraqi Kurdistan where they are told there is a party. In reality, their mothers have brought them to a midwife who will circumcise the girls. Female circumcision is a rite of passage for most girls in Kurdistan. It is meant to “cleanse” them of improper or sexual thoughts and actions. “Female Circumcision”. 2nd Place, International News Picture Story.

Etiópia, atua como embaixadora da ONU contra a mutilação feminina e está a frente de sua própria fundação, criada em 2002, com sede em Viena, Austria. É autora dos livros ‘Desert Down’, ‘Desert Children’ e ‘Desert Flower’, que foi traduzido para diversos idiomas e transformado em filme. A Organização Mundial da Saúde aponta que entre 100 e 140 milhões de mulheres, vivem hoje no mundo após terem sido mutiladas. A ONG Human Rights Watch divulgou em Junho de

2010 um estudo apronfudado sobre o assunto. Para ler em inglês, clique aqui: http://www. hrw.org/node/90862/section/1 Para saber mais: Trailer do Filme ‘Flor do deserto’. Entrevista com Waris Dirie sobre a Mutilação Genital Feminina. * Rafael Oliveira é formado em Gastronomia pela Universidade Anhembi Morumbi e acadêmico de Jornalismo da FAAT Faculdades.


As boas mulheres e as mulheres boas Por Gabriel Cruz*

F

iquei cinco meses desempregado. Tempos difíceis. Sempre que surgia uma vaga eu ligava, mas a resposta se repetia: “estamos procurando alguém do sexo feminino”. Juro que não foram poucas as respostas desse tipo. Depois de muito tentar, consegui um emprego. Isso me fez aprimorar uma observação sobre esse mundo feminino. As mulheres estão se tornando cada vez melhores no que fazem. Mulheres cada vez mais interessadas em se tornar independentes. Sempre se informando, estudando, buscando cursos melhores, empregos melhores, uma carreira consolidada... Engraçado como as coisas são hoje e como eram antigamente. Na história da humanidade, sempre tivemos muito mais exemplos de homens poderosos e influentes do que mulheres, salvo algumas exceções, como Joana D’Arc, Carlota Joaquina, Anita Garibaldi, Madre Teresa de Calcutá, Carmen Miranda, Indira Gandhi, dentre

tantas outras que fizeram o bem, cada uma em sua época. Mas ainda sim, são poucas em comparação com os homens. Mulher sempre sofreu opressão por parte dos homens, seja quem for. Pai, marido, vizinho, amigo. Sempre sofreram com o préconceito de que mulher serve pra ficar em casa, cuidando dos filhos e da casa. E ponto. Trabalhar? Heresia. Quem colocava dinheiro em casa era o homem. Sem mas, sem churumela, sem choro nem vela. Frases como “lugar de mulher é na cozinha”, “mulher é sexo frágil”, “isso é coisa pra homem”, e assim por diante eram entoadas todos os dias, sempre que necessário. Mas o jogo virou. Sim, virou. A cozinha virou lugar para ambos os sexos. Mulher não é mais frágil, ganhou muito mais força do que os homens. Quantas mulheres atualmente conseguem ser destaque nas mais diferentes profissões? Exemplos não faltam: nossa presidenta Dilma (não estou defendendo seu governo, nem

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o PT), Hebe Camargo, Danielle Hipólito, Fernanda Montenegro, Fátima Bernardes... E tantas outras, independente de ideologia ou qualquer coisa do gênero. Por outro lado, hoje em dia estão brotando muitas mulheres boas, as chamadas mulheres-frutas: mulher maçã, mulher melancia, mulher jaca, mulher morango, e por aí vai. Nem quero imaginar como seria a mulher kiwi... Não gosto de mulher fruta, prefiro mulheres que dão frutos. E esses frutos podem se traduzir em risadas, boas conversas, companheirismo, inteligência, sensualidade, abraços, amizade e assim por diante. Auto-retratos da espanhola Cristina Otero, 16 anos, que produziu uma série nas quais se caracteriza como diversos tipos de fruta. Ela atua como fotógrafa desde 2010, conciliando o trabalho com os seus estudos no Ensino Médio.

* Gabriel Cruz é estudante de Administração da FAAT Faculdades e baterista da banda Ahow.



Mulheres na MPB A

Kalango pediu ao colunista Delta9 que relacionasse as cantoras que simbolizam a música brasileira o que, segundo ele, é a melhor que já ouviu – superando em muito o som propagado em todos os planetas em que já esteve. O colunista extraterreno pensou, pensou, pensou e mandou, via rádio, uma lista de 14 musas (que assim ele chamou) da MPB. E mais: o nosso grande observador ainda fez questão de enviar, do espaço, 28 sucessos das musas escolhidas por ele para uma coletânea que a Kalango disponibiliza exclusivamente aos seus leitores nos links abaixo. Além das canções nas melhores vozes da nossa música, Delta9 ainda enviou um bônus, segundo ele, com canções que falam sobre a mulher. Boa audição. E ouça sem moderação. LADO A: http://www.mediafire. com/?ege3vjeg4alg0j9 LADO B: http://www.mediafire. com/?apjxcxa2x8vmyny Conheça as faixas na última página


As 14 mais: 1 Carmen Miranda - Maior referência fora do Brasil. Nem cantava tanto, mas tinha o remelexo. 2 Dalva de Oliveira - Sensacional. Nossa Piaff. Não dublou Branca de Neve à toa. Clássicos absolutos em sua voz. 3 Elizeth Cardoso - A elegância e madrinha absoluta da bossa-nova. 4 Ângela Maria - A cantora das multidões e referência para muitas outras, inclusive Elis, que começou imitando-a. 5 Bidu Sayão - A cantora pop-lírica que mostrou o talento da voz brasileira fora do Brasil. 6 Nara Leão - A princesinha da bossa-nova e que abriu espaço para inúmeros talentos. 7 Gal Costa - A pomba-gira do tropicalismo, voz absoluta e viagens mil. 8 Elis Regina - O cantar em pessoa. 9 Rita Lee - A rainha do rock brasileiro. 10 Jane Duboc - A voz do progressivo brasileiro e uma das melhores cantoras da MPB. 11 Cássia Eller - Atitude e meias 3/4. 12 Fernanda Takai - Premiadíssima voz do pop-rock contemporâneo. 13 Marisa Monte - Suavidade, encanto e peripécias musicais. 14 Vanessa da Mata - Talento absoluto.


Garota do calendário Por Amne Faria*

M

ais uma vez me encontrei atrasada na execução deste artigo, mas contrapondo, a própria correria mordaz me trouxe o assunto ou inspiração da vez. Hoje o certo seria escrever sobre Marias, mais uma vez. Mas já que a pauta são as mulheres, e na história mundial não faltaram grandes nomes, vou fazer um parênteses tentando ser o menos injusta, ou o mais justa possível. Claro que esta é a minha visão da coisa, e isso é altamente variável e individual.

http://amnenoteatrodepalavras.blogspot.com/

Pensei em selecionar nomes para montar um grande calendário que remontasse a história feminina e emancipativa da mulher no mundo. Teríamos grandes nomes, como: Simone de Beauvoir, Anne Sullivan, Joana d’Arc, Madre Teresa de Calcutá, Marie Curie... Sim, eu sei, jamais poderia fazer uma lista primordialmente justa. Voltemos então às Marias. Mas, não qualquer Maria. Uma Maria contemporânea e não menos guerreira ou inovadora que aquelas já anteriormente citadas. Falarei de mim e de outras, talvez de todas.

Mais uma Maria, debaixo desta terra quente das últimas semanas. O mundo não anda lá grande coisa, e ser mulher e “Maria”, já deve ter sido ao menos mais valorizado por essas bandas. Somos Marias sem terra, somos Marias de ninguém. Toda a “boniteza” de ser mulher anda se esvaindo nos cantos da atualidade. Vivemos à esquizofrenia de se fazer mulher. Quem trabalha fora quer um lar, quem tem lar quer emancipação, quem não tem, acha Graça. Não tem mais lugar para ser Maria. As mulheres andam mais “macho” que muitos homens, que também não sabem para onde se foi a beleza da macheza masculina. A bem da verdade é que anda duro ser Maria! Ainda mais, Maria de ninguém. Digo isso por mim, transcrevendo para vocês um único dia de Maria: A loucura toca alto às 6h da matina! Como ginasta, num pan olímpico, viro estrela enquanto preparo o café, coloco o blazer que as vezes não combina com o tênis. Desço atrasada pulando degraus, puxando criança, e uma mochila...Volto, pulando degraus,


um ferro tinha sido esquecido todo vaporoso. Suada, suando entro no carro que não pega. Só vale pensar palavrões, afinal olhos amendoados me observam na parte de trás do banco. O carro funciona. Três sinais vermelhos, e pegaram minha vaga mais uma vez. Arrasto mochila, esquecendo a criança. Volto, atrasada, pego criança mochila e agenda. Enfim, minha mesa, enquanto ligo o computador um tempo para o primeiro grande suspiro do dia. Trabalho. Monto trabalho. Reunião. Mais trabalho. Vontade de um xixi ( Vai ter que ficar para depois!), esta é a parte que paro tudo para atender uma empresa: Aí fico pensando em muitas coisas, pois o “cara” traz uma mídia sem nome, sem embalagem, sem dados. Não sabe o que vende, e na verdade, nem sabe quem é o cliente, neste caso, eu ali, que represento a empresa. Sim, ele me torna mais dispersa e cansada que o rotineiro. Um Coaching no meio da manhã...Era tudo o que eu realmente almejava, rs!. É, preciso comprar sabão em pó. A impressora falha, penso em mais palavrões, na verdade imagino palavrões em formatos diferentes. No alto das 14h chego em casa. Almoçar hoje, só amanhã. Então, trabalho mais: estendo roupa, lavo banheiro, outro trabalho, monto

trabalho da faculdade. Tem o jantar da criança e o banco fecha as 16h e agora? Acabou a ração da gata! (esta é a hora que imagino que ela deveria fazer fotossíntese, como as plantas da sala. Em compensação as plantas estão precisando de água, urgente!). E no meio de tudo, o menino faz : natação, dança, xadrez! E leva criança...busca...trabalho ...abasteço o galão de água, hora da ajudar e supervisionar a lição da terceira série. Nesta parte, engulo meio pão velho antes de correr para a faculdade, e seus trabalhos. Tenho uma bolha no pé, outra bolha na mão. Então, cochilo no meio da aula, na realidade me teletransporto cerca de três minutos para minha cama...Ah, a minha cama! Quase uma miragem. Já são quase 00h e tem roupa lavada na máquina, lá vamos nós. É hora de dormir, amanhã é sábado, dia de faxina forte. O espelho me diz para dar uma corridinha no meio da tarde. Também preciso fazer as unhas, ainda serei a Garota do Calendário. Todo sonho de Maria. Das Marias de ninguém. Das Marias de hoje em dia. Então, apenas me resta dar os Parabéns a todas as mulheres que são, serão e já foram Marias! * Amne é poeta, escritora e formanda em publicidade e Propaganda pela FAAT Faculdades.


Na Onda do SurfAdaptado Por Mariana Pedroso*

S

antos, canal 2, areia da praia. A terra de Neymar, Robinho e Pelé também é a morada de um surfista que não entende nada de bola mas que sabe, há 20 anos, driblar o maior desafio de sua vida com a mesma grandeza do rei. Ainda não são nem nove horas da manhã e Val já está pronto para cair na água. Ao invés da bola, uma prancha amarela, a grandalhona de 9 pés de comprimento que não tem medo de passar pela rebentação. Juntos, ele enfrentam o mar bravo do Gonzaga. E

na primeira oportunidade, deslizam no balanço de uma grossa camada de espuma, que brilha feito diamante quando tocada pelo sol. Os turistas que assistem a habilidade de Val com a prancha nem imaginam que o rapaz tem deficiência visual. Os movimentos precisos, a ginga e a delicadeza, dignas de um mestre, encantam até os corações mais duros. E fica quase impossível não se emocionar. Você deve achar que eu estou mentindo, mas eu juro que é tudo verdade: Val surfa pra valer, através do surf adaptado, uma modalidade, dentro do esporte, que permite a prática por quaisquer pessoas, independente da condição física. Deficientes visuais, auditivos e intelectuais, usuários de cadeiras de rodas e pessoas com mobilidade reduzida, pegam ondas juntas, em dezenas de praias do Brasil e do mundo, sempre acompanhadas por instrutores e fisioterapeutas. O maior objetivo? Conhecer pessoas, interagir com a natureza e, é claro, se divertir. Por isso, se a vida de repente ficou chata, ou se você ficou doido para ouvir histórias como a do Val, entre na onda do surf adaptado. Muito surf, caldos e emoção esperam por você. * Mariana Vasconcellos Pedroso é jornalista formada pela FAAT. Seu TCC foi nota 10 em 2011, cujo tema é o título deste artigo.


Vania Juca´ - Campo Grande - MS

VOLTE SEMPRE!


PARA OUVIR ENQUANTO LÊ A KALANGO Vozes da MPB - Kalango 10 - LADO A 1. Carmen Miranda - Ta-hi (Pra Você Gostar de Mim) 2. Dalva de Oliveira - A noite do meu bem 3. Elizete Cardoso - Chega de Saudade 4. Ângela Maria - Onde estás coração 5. Bidu Sayão - Canção do Amor 6. Nara Leão - João e Maria 7. Gal Costa - Força Estranha 8. Elis Regina - Me deixas louca 9. Rita Lee - Ovelha Negra 10. Jane Duboc - Só louco 11. Cassia Eller e Nando Reis - O meu mundo ficaria completo com voce 12. Fernanda Takai - Insensatez 13. Marisa Monte - Sintomas de saudade 14. Vanessa da Mata - Nossa Canção Vozes da MPB - Kalango 10 - LADO B 1. Carmen Miranda - Tic Tic Tac do meu Coração 2. Dalva de Oliveira - Ave Maria no Morro 3. Elizete Cardoso - O amor a rosa 4. Ângela Maria - Vá mas volte 5. Bidu Sayão - Canção da felicidade 6. Nara Leão - Chega de Saudade 7. Gal Costa - Só louco 8. Elis Regina - Águas de Março 9. Rita Lee - Doce Vampiro 10. Jane Duboc - Sonhos 11. Cassia Eller - Palavras Ao Vento 12. Fernanda Takai - Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos 13. Marisa Monte - Beija Eu 14. Vanessa da Mata - Por Enquanto Bônus Track - Vozes da MPB - Kalango 10

http://www.mediafire.com/?87jqfpuknj2bi6k

1. A Mulher Que Ficou Na Taça - Francisco Alves e Orestes Barbosa 2. Garota de Ipanema - Pery Ribeiro 3. Rosa - Orlando Silva 4. Mulher - Erasmo Carlos 5. Tereza da Praia - Emílio Santiago 6. Garota de Ipanema - Ed Motta 7. Toda mulher - Wando 8. Menina Veneno - Ritchie 9. Olhar de Mangá - Erasmo Carlos 10. Tereza Da Praia 2 - Caetano e Roberto Carlos


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