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Sobre o Rio Grande, uma ponte para o futuro

Sem se esquecer de suas raízes, artistas da música tradicional gaúcha incorporam novidades e tornam cena mais diversa

por_ Yuri Medeiros de Lima ■ de_ Santa Maria (RS)

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Um lugar que valoriza tanto suas tradições, seu jeito único, tem na música um dos seus traços identitários. O amor à terra permeia os sons produzidos no Rio Grande do Sul. Mas, de uns anos para cá, a incorporação de referências, sotaques, linguagens e novas técnicas de execução e produção deixa claro: o momento é de diálogo entre passado e futuro.

A vitória do gauchinho Thomas Machado na última edição do “The Voice Kids”, da Globo, ou a postura de cantoras como Shana Müller, que recebeu milhares de apoio pela web ao publicar um manifesto em que critica a insistência de uma minoria em fazer letras que denigram a mulher têm algo em comum: deixam os clichês para trás.

DOS FESTIVAIS À REDE

Em um home studio em Santana do Livramento, Juliano Gomes e Leonel Gomez fizeram uma pausa nas gravações para atender à Revista UBC.

Com mais de 25 anos dedicados à música regional, acumulam dezenas de premiações em festivais de canção gaúcha. “Quando começamos, havia mais ou menos 85 festivais; hoje quase todos estão mortos, e isso não é culpa dos músicos”, afirma Juliano, que vê uma produção forte e rica e uma nova dinâmica de mercado: a ascensão das redes sociais deu um novo impulso à cena independente.

Nascido em 1971, mesmo ano da primeira edição da Califórnia da Canção, Pirisca Grecco, cantor e compositor da banda Comparsa Elétrica, também teve sua trajetória escrita (e premiada) no palco dos festivais. Hoje mistura sua guitarra telecaster americana com um histórico lenço maragato. “Sou torcedor da espontaneidade, não da repetição das fórmulas”, afirma. Adepta do modelo de gestão independente, a Comparsa Elétrica produziu seu mais recente trabalho por meio de financiamento coletivo.

A mistura também encontra terreno fértil na musicalidade do grupo Mas Bah!. Há cinco anos na estrada, a banda transcendeu as fronteiras estaduais com uma linguagem arejada e usando a internet como ferramenta. Gustavo Brodinho, baixista do grupo, ressalta que ainda há uma preocupação conservadora com a estética da música gaúcha: “Há uma necessidade de rotular, e o que nos rotula nos emburrece”, afirma. O novo álbum do grupo levará o título “Antena Raiz” e traduz o espírito da coisa: pés nesta terra e cabeça no mundo.

Juliano Gomes acredita que “a música gaúcha, para ser compreendida por todo mundo, precisa parar de falar apenas na linguagem daqui”. Leonel Gomez, que se inspira no chamamé argentino, vai na mesma onda: “Não gosto de rótulos, pois, de Norte a Sul do país, temos muitos tipos de música. O que deve prevalecer é a qualidade.”

MTG: da festa ao seu bolso

A importância da música tradicional gaúcha para o ideário e a cultura do estado é tamanha que a temporada de inverno esquenta com a realização de diversos shows, principais nos chamados CTGs, centros de tradições gaúchas, em várias cidades sul-rio-grandenses. De olhos nesse movimento, o Ecad criou há alguns anos a rubrica especial MTG (movimento tradicionalista gaúcho), que tem distribuição anual sempre no mês de novembro e valor distribuído para um rol específico de dois mil fonogramas típicos das festividades ligadas ao movimento.

O cantor e compositor Pirisca Grecco

O cantor e compositor Pirisca Grecco

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Veja o calendário completo de distribuição em goo.gl/TtIDWW