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Nobre Inspiração

Craques contemporâneos revisitam clássicos e reoxigenam sua própria música

por_ Michele Miranda ■ de_ São Paulo

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Pitty: “Ouço Novos Baianos desde sempre, mas ‘Dê um Rolê’ era paixão adormecida”

Pitty: “Ouço Novos Baianos desde sempre, mas ‘Dê um Rolê’ era paixão adormecida”

Inspirar-se em seus mestres é matéria-prima elementar a todo artista. Mas, de uns tempos para cá, qualquer bom observador da nossa música já notou: há um verdadeiro boom no diálogo intergeracional. Pitty canta Novos Baianos, Lucas Santtana toca Raul Seixas, César Lacerda revisita Caetano Veloso, Álvaro Lancellotti redescobre Tincoãs, Filipe Catto celebra Cássia Eller, Curumin repagina Stevie Wonder, Qinho homenageia Marina Lima... Para a nossa sorte, a coisa vai longe.

Uma releitura é uma forma de a carreira circular.”

Álvaro Lancellotti

“Ouço Novos Baianos desde sempre, mas essa música (“Dê Um Rolê”) era paixão adormecida, esperando a hora de brotar”, conta Pitty, que considera a canção, de Moraes Moreira e Luiz Galvão, uma obra-prima. “Apareceu na minha última turnê, ensaiamos, e o arranjo veio tão instintivo, visceral, sem precisar de muita conversa. Virou single do novo DVD, ‘Setevidas Ao Vivo’.”

Álvaro Lancellotti tem entre suas referências os Tincoãs, nascidos nos anos 60, e realizou o sonho de entregar pessoalmente um de seus discos autorais ao lendário integrante Mateus Aleluia. Depois, vieram a ideia de regravar, no segundo semestre deste ano, o álbum homônimo do grupo baiano, de 1977, e uma esperança: “Se ele gostar do meu disco, talvez se anime a participar do projeto comigo.”

Para Lancellotti, a chuva de regravações é sinal de que o mercado independente está fazendo seu trabalho. “Promover uma releitura é uma forma de a gente fazer a carreira circular, trazer o público de determinado artista que já não está na ativa.”

Filipe Catto preparou um show para homenagear Cássia Eller, sua grande influência desde a adolescência, que foi registrado no programa “Versões”, do canal Bis. “Cássia foi o momento em que comecei a descobrir a música brasileira. Ela me mostrou onde existia a ponte entre o rock e a música brasileira, a tradição e a transgressão”, explica.

Quando fala de Caetano Veloso, César Lacerda não poupa elogios àquele que considera sua principal referência e que lhe ensinou a pensar música, mercado, cinema, literatura, política, sexualidade. O cantor mineiro vai lançar ainda no primeiro semestre a turnê “César Lacerda Dentro da Estrela Azulada”, uma releitura de “Muito – Dentro da Estrela Azulada”, de 1978. “Apesar de à época ter sido duramente pichado pela crítica, é um álbum central, tem um discurso que me soa urgente. A nossa sociedade convulsiona sob a necessidade de revisitar questões esquecidas. As novas gerações passaram a se interessar historicamente pelo Brasil”, avalia Lacerda.

As releituras são uma demanda do público.”

Filipe Catto

A partir do alto, e da esquerda para a direita, Álvaro Lancellotti, César Lacerda e Filipe Catto: todos relançaram hits do passado

A partir do alto, e da esquerda para a direita, Álvaro Lancellotti, César Lacerda e Filipe Catto: todos relançaram hits do passado

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