Nº 4 - 4º Trimestre 2012

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Nº 4 - 4º Trimestre de 2012

Revista Digital de Cães e Lobos

Uma Edição do Departamento de Divulgação do:

Centro Canino de Vale de Lobos

Etologia • Comportamento • Educação • Adestramento Convivência • Psicologia • Veterinária • Estética

Artigos - Notícias - Reportagens - Curiosidades


Formamos:

Profissionais competentes... Departamento de Formação do:

CENTRO CANINO DE VALE DE LOBOS

Curso destinado a todos os criadores, ou potenciais criadores caninos. Características do Curso Objectivos do Curso: Formar técnica e cientificamente através da aquisição de conhecimentos sobre Criação Canina, todos os criadores, ou que pretendam vir a sê-lo, na medida em que, este Curso abarca toda esta temática, desde os conceitos de Genética Canina até à entrega do cachorro ao futuro dono. Início do Curso: Imediato Método de Ensino: Científico Documento fim de Curso: Diploma final de Curso com a qualificação obtida. Tempo médio despendido com o curso: +/- 6 meses ou 500 horas (varia em função da disponibilidade e da aplicação do formando). A quem é dirigido este Curso: Este Curso é dirigido a todos os Criadores Caninos que sintam algumas lacunas no seu conhecimento acerca dos Temas propostos no mesmo. É igualmente dirigido a todos aqueles que pretendam iniciar esta apaixonante e nobre atividade que é a Criação Canina. Perspectivas de conhecimentos adquiridos no final do Curso: Excelente bagagem técnico/científica e conhecimento profundo de todos os mecanismos ligados ao processo de Criação Canina. No final do mesmo, o formando fica em condições de, conscientemente, Criar cães, uma vez que está na posse de formação técnica e científica específica necessária para o fazer.

Estrutura Programática (Resumida) Tema 1 - A Genética Canina Tema 2 - O Período Reprodutivo Tema 3 - A Reprodução Tema 4 - A Gestação Tema 5 - A Patologia da Reprodução Tema 6 - A Alimentação da Cadela gestante Tema 7 - O Parto Tema 8 - A Amamentação Tema 9 - O Desmame Tema 10 - Primeiras etapas do desenvolvimento do Cachorro Tema 11 - Enfermidades do Período neonatal Tema 12 - O Crescimento do cachorro Tema 13 - Desparasitação e Vacinação dos Cachorros Tema 14 - A entrega dos Cachorros Tema 15 - Identificação e Registo dos Cachorros

http://formacaoccvl.weebly.com/curso-de-psicologia-canina.html

… e donos responsáveis!


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Edição Nº 1

Editorial A edição deste trimestre está centrada numa extensa entrevista, de 10 páginas, que o Prof. Francisco Petrucci-Fonseca, Pres. do Grupo Lobo, deu à nossa revista. Nesta entrevista nada ficou por dizer no que ao lobo diz respeito. Convido todos os leitores a lerem-na com a máxima atenção. Mais uma vez, a colaboração dos formados e formandos do Departamento de Formação do CCVL foi de um inestimável valor ao apresentarem artigos de fundo sobre temas bastantes interessantes para o grande público. A Suzette Veiga presenteou-nos com as últimas investigações acerca da origem e domesticação do cão que poderão abalar os conceitos até agora conhecidos sobre este tema. Há mais uma estrela na publicidade em Portugal e ela chamasse “Blanca” que com a ajuda do seu dono, André Moreiras e do treinador Fernando Silva, participou num anúncio de uma empresa de mobiliário para o mercado francês. Também de sua autoria, falou sobre o Seminário dado pelo Dr. Ian Dunbar, especialista em comportamento canino, no mês de Setembro e organizado pela escola de treino canino “It’s all about dogs”. Além destas duas colaborações, o André também nos ajudou a compreender porque não devemos utilizar a palavra “Não” em adestramento canino. A Paula Leal concluiu a sua pesquisa, iniciado na revista anterior, sobre o trabalho e desportos caninos, desta vez dedicado ao segundo tema. O Tiago Barreto, pela primeira vez a dar a sua colaboração, deixou-nos alguns trabalhos dos quais queria realçar a ajuda que nos dá para tentarmos compreender as capacidades olfativas dos cães e também a história de um cão, leal ao seu dono e que nem na hora da sua morte o abandonou. A Anabela Guerreiro lembrou-nos que todos os anos o dia 4 de Outubro é o dia de homenagearmos os nossos animais e relatou como ela o comemorou este ano. A personalidade deste trimestre é o Dr. Konrad Lorenz, prémio Nobel da medicina de 1973, considerado o pai da Etologia moderna e criador do conceito de “imprinting”. Boas Leituras. Sílvio Pereira

Navegue connosco nas ondas da web Revista Cães & Lobos http://revistacaeselobos.weebly.com Centro Canino de Vale de Lobos www.ccvlonline.com Departamento de Formação do CCVL http://formacaoccvl.weebly.com Departamento de Divulgação do CCVL Blogue: http://comportamento-canino.blospot.com Fórum: http://comportamento-canino.forumotion.net www.facebook.com/ccvlobos Página 1

2 Trabalho e desporto canino (Paula Leal)

6 Compreender o olfato do cão (Tiago Barreto)

7 Caráter, Temperamento e qualidades intrínsecas do cão (Sílvio Pereira)

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Konrad Lorenz (Sílvio Pereira)

10 Blanca, a minha estrela canina (André Moreiras)

11 Dia mundial do Animal (Anabela Guerreiro)

13 Entrevista Prof Francisco Petrucci-Fonseca - Grupo Lobo (Sílvio Pereira)

22 Novos conhecimentos sobre a domesticação do cão (Suzette Veiga)

24 O Significado da palavra “NÂO” em termos caninos (André Moreiras))

26 Lealdade Canina (Tiago Barreto)

28 Seminário do Dr. Ian Dunbar (André Moreiras)

21 - 1º Hosp. Público do Brasil 23 - O seu cão é agressivo? 25 - Máximas 27 - 3º Congresso Ibérico do Lobo 29 - Livro recomendado 30 - Notícias 31 - Sabia que...


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Desporto

Edição Nº 4

2ª Parte

Desportos Caninos Caça A caça continua a ser um desporto, uma paixão, ou mesmo uma forma de arte para muitos e que envolve mais de um milhão de cães. Trata-se de um desporto quer para o cão quer para o dono porque requer uma excelente condição física para poder ser praticada durante muito tempo e sob quaisquer condições atmosféricas, mas também força de carácter, tenacidade e espírito de observação, independentemente das qualidades olfativas indispensáveis a um bom cão e caça.

Provas de Field-trial São provas desportivas muito populares, destinadas a cães de caça do tipo cães de parar. Neste tipo de prova, o cão tem quinze minutos para demonstrar a excelência das suas qualidades de caçador. Deve explorar o território que lhe é atribuído, de cabeça erguida, a boa velocidade, a correr em ziguezague à frente do seu condutor. Cada uma das passagens diante do dono deve ser feita a uma distância equivalente ao que os juízes qualificam como “alcance da espingarda”. A extensão da busca de cada lado do condutor varia com a raça do cão e com a amplitude da busca específica da raça.

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Desporto

Edição Nº 4

Outros concursos para cães de caça Como o cão de parar não é, de longe, o único cão de caça, são organizados vários concursos ou competições para avaliar a qualidade de outras raças. Assim, as provas de trabalho para Retrievers permitem comparar as qualidades de recolha da caça dos cães apresentados. Por ordem do juiz, o cão é enviado para recolher e trazer de volta a caça e recebe uma pontuação pela forma como efetua essa tarefa. Os cães Sabujos de pequena montaria, por sua vez, dispõem de 2 tipos de provas para serem avaliados: caça ao cabrito-montês e caça à lebre. Nestes concursos, competem matilhas de 3 a 9 cães dependendo da situação. Finalmente, Terriers e Teckels também podem participar em provas com tocas artificiais, com raposa ou texugo, e, de maneira mais esporádica no caso dos Teckels, até mesmo provas de busca de lebre ou busca com pista de sangue, na ótica da procura da caça ferida.

Provas de trabalho Concursos de cães de pastoreio O cão pode trabalhar com um grupo de 5 ovelhas. Num tempo determinado, deve fazê-las passar entre barreiras num cercado e a seguir isolar dois dos animais. Este é um dos exercícios mais difíceis, visto que o cão trabalha com um pequeno rebanho. Pode ainda trabalhar com 2 grupos de 10 ovelhas cada, devendo cada grupo ser trazido de volta individualmente. A seguir, com a totalidade do rebanho, ele faz o mesmo percurso anteriormente realizado por um único grupo de cinco ovelhas. Para um trabalho com 2 cães são utilizadas 6 ovelhas. Os dois cães, que não estão autorizados a cruzar-se, conduzem o rebanho até ao pastor, separam-no em dois grupos iguais e, a seguir, cada um conduz o seu grupo até um cercado diferente.

Corridas de galgos O princípio é simples: seis cães numa “starting-box” são soltos numa pista em forma de anel, feita de areia ou relva, perseguindo um falso coelho puxado por um cabo ou por um motor na parte interna do anel.

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Desporto

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Concursos de escavação para cães farejadores de trufas Desde 1969 que são organizados concursos de busca de trufas para comparar ahabilidade dos cães. O cão deve buscar e indicar com a pata a localização de seis trufas, enterradasnuma área com 25 m de largura, o mais rapidamente possível, sem marcar duasvezes o mesmo lugar (penalização), nem desenterrar e comer a trufa (eliminado).

Competição de ring, pistagem e campo Os concursos em ring e a sua aplicação prática, o concurso de campo, consistem numa série de provas de adestramento em que o cão revela as suas aptidões naturais nas áreas do salto de obstáculos, da obediência, da combatividade e de pistagem. Estas provas são reconhecidas como sendo melhoradoras da espécie canina, ao permitirem selecionar, entre as raças de pastoreio e guarda, as qualidades fundamentais de corrida, dinamismo, aptidão à obediência, estabilidade de temperamento e coragem. Por essa razão, os seus resultados constam dos pedigrees dos animais, ajudando os criadores na escolha dos reprodutores com mais capacidades para melhorar as qualidades da raça em termos de temperamento.

Provas de obediência Consiste numa série de exercícios diversificados (junto com e sem trela, buscar objetos, transições, etc.) e outros mais específicos: - Procura com ladrar e conduta do atacante; - A defesa do dono; - Os ataques; - Os ataques parados; - A guarda de objetos.

Concursos de pistagem de utilidade Existem sob duas formas: a pista de concurso, com um traçado convencional e a pistagem de utilidade. Neste último, haverá uma pessoa colocada na situação de uma pessoa perdida. Na verdade, esta atividade pode ser o ponto de partida, para intervenções reais, relacionadas com a busca de pessoas desaparecidas.

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Desporto

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Competições desportivas e de lazer Canicross Neste desporto, o dono corre ao lado do cão num percurso natural marcado. As regras que regem este desporto determinam que a dupla dono-cão percorra uma distância de 7 Km sem paragem. O cão é preso ao seu dono por uma corda ou uma trela regulamentar atada à cintura. Os juízes, espalhados em todo o percurso, verificam se o dono nunca ultrapassa o seu cão ou não o arrasta atrás de si… Agility Desporto canino recente, mas cada vez mais difundido. Define -se como uma atividade de jogo que consiste em fazer o cão passar por vários obstáculos reunidos num percurso, sem trela nem coleira. Flyball Flyball é uma corrida de revezamento entre duas equipes de quatro cães. Corrida de lado a lado, um cão de cada equipe deve passar por cima de quatro obstáculos, acionar um pedal caixa de flyball, catch (recuperar) uma bola e depois voltar sobre todos os quatro obstáculos para o portão de largada / chegada, onde o próximo cão aguarda ansiosamente. Corridas de Trenó É um desporto de Inverno, muito popular no Ártico, em certas regiões dos Estados Unidos, Canadá, Rússia e, em alguns países europeus. Trata-se de uma competição cronometrada de equipes formadas por cães de trenó que puxam o trenó, e o driver do cão. A equipe que concluir o percurso marcado no menor tempo é o vencedor.

Ski-pulka É um desporto que combina ski de fundo e trenó: o esquiador de fundo está preso à sua equipa, composta, em média, por um a três cães que puxam um pequeno trenó carregado. ________________________________________ Autoria: Paula Leal Fotos: Google

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Sentidos

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O nariz do cão não só domina a face, mas também o seu cérebro. Na verdade, o cão depende do seu olfato para interpretar o mundo, da mesma forma que as pessoas dependem da visão. Esta forma diferente de perceber o mundo, difícil de imaginar, torna o cão capaz de interpretar tanta informação como nós. Nascido para cheirar. Para se perceber a capacidade olfativa do cão, vamos compará-la ao nariz de uma pessoa. Dentro do nariz de cada espécie, existem uns orifícios, por onde passa o ar. Numa visão microscópica deste órgão revela uma membrana espessa e esponjosa, que contém, a maior parte das células que detetam o odor, assim como, os nervos que transmitem a informação para o cérebro. Nos humanos, a área que analisa os odores é do tamanho de um selo, enquanto que nos cães seria do tamanho duma folha de papel onde normalmente se escreve. Embora o tamanho desta superfície varie com o tamanho e cumprimento do nariz dos canídeos, até as raças com o nariz achatado podem detetar muito melhor o cheiro comparativamente a nós. A tabela seguinte mostra o número de recetores de odores nas pessoas e nalgumas raças. Tabela: Capacidade de deteção de odores nos humanos e nos cães. Espécie Humanos Dachshund Fox Terrier Beagle Pastor Alemão Bloodhound

Número de recetores de odores 5 milhões 125 milhões 147 milhões 225 milhões 225 milhões 300 milhões

O cérebro do cão é especializado em identificar odores. A percentagem que o cérebro dos canídeos se dedicam a analisar cheiros é quarenta vezes maior ao dos seres humanos. Foi estimado que os cães podem identificar odores 1000 a 10.000 vezes melhor do que nós.

Autoria: Tiago Barreto Fotos: Google

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2ª Parte O TEMPERAMENTO Os seguintes traços de carácter têm uma particularidade comum a todos: que é aquilo a que vulgarmente os adestradores chamam “Força de Vontade”, “Tenacidade”, “Alerta”, “Disponibilidade para o Trabalho”, “Irreverência”, etc. Por isso decidimos separá-los das outras características que compõem o carácter, e tratá-los nesta segunda parte do artigo dedicada ao Temperamento canino. • Tempera. Esta definição contempla a intensidade e velocidade de resposta ante estímulos externos de qualquer natureza. Não se deve aplicar este termo como sinónimo de carácter e muito menos de agressividade. Tal como sucede com a sociabilidade e a docilidade, a educação canina permite acrescentar temperamento aos espécimes adestrados. • Vigilância. Representa a particularidade sensitiva do cão para pressentir algo anormal e potencialmente perigoso, ameaça para ele como individuo e/ou como integrante na matilha (equivalente à família humana). Por vezes associada a grande sensibilidade olfativa e auditiva dos canídeos, a aptidão de vigilância, tipo sexto sentido que permite préadvertir grandes calamidades naturais – terramotos, inundações, incêndios, tempestades – e resolver antecipadamente a guarda e proteção do grupo (congéneres, pessoas e animais a seu cuidado. • Valentia. No campo do comportamento canino, a valentia descreve a capacidade de resistência a uma ação ou fator externo desagradável ou agressivo. É condição indispensável para guarda. • Coragem. A palavra “coragem” sintetiza uma convergência de impulsos para enfrentar positivamente situações de risco, conhecidas ou não, que possam

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Etologia

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afetar a integridade física do indivíduo ou do seu grupo comunitário. Esta disposição de luta surge como resposta diretamente proporcional à sociabilidade e ao temperamento de cada um, sem se contrapor à docilidade. A coragem opõe-se ao sentimento de fuga – instinto personalista – à custa do sacrifício pessoal e, por arrasto, a defesa do conjunto (da matilha ou da família) o exime do medo e considerações individualistas. • Agressividade. Nos cães interessa-nos uma reação física e ativa – mas de modo proporcionado e sem exageros – ante um suposto perigo (ameaça territorial, dos seus congéneres e mesmo de todos os seres ao seu cuidado). A agressão obedecerá sempre a um motivo. Nos cães selvagens este comportamento é primordial para obter alimento e, consequentemente, está relacionado com o instinto predatório e a sobrevivência do mais apto. • Possessibilidade. Diz-se que um cão é possessivo quando, naturalmente, está predisposto a converter-se dono de qualquer coisa ou de alguém. Deriva – por sublimação – do comportamento predatório dos cães selvagens. O apropriar-se de seres ou objetos manifesta-se como expressão de competitividade e afirmação do espaço apreendido. • Combatividade. Este conceito alude à capacidade de lutar com vigor contra um estímulo exterior negativo mal este se manifesta. Verdadeiro “resort” emocional, a combatividade há-de expressar-se com uma firme atitude de luta que, nalguns casos são encarados como esquemas ritualizados de combate e, desencadeando-se a agressão aberta. Este conceito distingue-se de outras formas de briga porque utiliza os sinais atávicos da espécie (posição da cauda, orelhas, pelo eriçado na cruz, etc.). Autores como Enzo Vezzoli sustentam que frequentemente a combatividade se associa e inclusivamente tem origem na possessibilidade.


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Etologia do guia se sentem, para eles o castigo consiste numa voz num tom mais áspero. Ao contrário, um cão duro necessitará uma pressão ou um castigo mais expedito. Há quem compare a sensibilidade do animal à sua qualidade. Realmente estes conceitos não estão unidos já que há cães duríssimos não aptos para o trabalho assim como há animais sensíveis de uma qualidade extrema. Portanto, é o adestrador que deve adaptar-se à sensibilidade do cão e não o cão ao adestrador.

QUALIDADES INTRÍNSECAS DE UM CÃO Sensibilidade e Recuperação A sensibilidade e a capacidade de recuperação são fatores psicofísicos do animal que o adestrador deve perceber de forma imediata testando ou simplesmente, trabalhando com o cão. A sensibilidade física ou psíquica e o tempo que o cão leva a recuperar de uma situação de conflito com o seu adestrador, são os fatores determinantes da intensidade com que este poderá aplicar a pressão ou o castigo. A pressão é entendida como: “força exercida sobre o cão, antes ou durante a ordem, para conseguir execução e rapidez”. O castigo ou estímulo aversivo é “a consequência negativa que recebe o animal como resultado de uma resposta inadequada”. Em termos coloquiais o castigo será: a correção física ou psíquica que o cão recebe perante uma falta. Como dizíamos antes, é muito importante conhecer o grau de sensibilidade e a recuperação de cada indivíduo. Há cães que só com um olhar Página 8

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emergência, que leva-nos a supor uma deficiência no seu temperamento. Para observarmos o nível de temperamento de um indivíduo podemos efetuar um disparo, introduzir um objeto novo e chamativo no seu meio envolvente quando está ausente ou simplesmente, deixar cair um objeto metálico que produza um som alto quando o cão estiver distraído. Estes não são mais que alguns exemplos mas, mão há dúvida que o temperamento pode testar-se de diversas formas. Um cão que lhe falte temperamento pode Intrepidez fazer-se insensível a um estímulo concreto, por um processo de habituação mas, Qualidade que representa o nível de arrojo noutro contexto aparecerá esta deficiência ou valentia ante determinados problemas revelando assim as suas limitações. ou obstáculos. Não devemos confundir este conceito com o da conduta defensiva. Resolução Um cachorro de cinco meses pode ser muito intrépido sem apresentar atitudes É a capacidade de dar solução a um prodefensivas. blema que se lhe apresenta num contexto Para observar a intrepidez de um cachorro desconhecido. Está estreitamente ligado à colocamo-lo em cima de uma mesa alta. “inteligência” do animal. Esta qualidade é Quando o chamamos podemos obter uma fácil de reconhecer em cachorros e jovens referência de conduta. No caso de um cão que não tenham sido condicionados em adulto, colocamo-lo num dos lados de uma excesso. Para testar esta qualidade nos vala e nós no outro, então observamos cães deve-se procurar um local afastado como ele resolve o problema. para evitar a inibição dos mecanismos do É importante que testemos frequentemen- animal ante problemas em contextos te o cão em situações novas para ele. A novos. Para testar um cachorro pode-se espontaneidade permitirá, dessa forma, utilizar um recinto vedado e, depois de um uma análise do comportamento do cão passeio, deixa-se solto e à vontade e chauma vez que a aprendizagem não permiti- mamo-lo do outro lado da vedação rá introduzir um fator de variabilidade. enquanto observamos a sua reação. Até aqui temos analisado o cão de forma Tenacidade genérica tendo em conta as virtudes e qualidades que o adestrador deve consiCapacidade de resistir ao abandono de derar quando seleciona um cão para uma uma atividade que apresenta expectativas determinada função ou quando testa um de satisfazer um instinto. Portanto, a tena- animal que lhe é entregue para ser formacidade está muito ligada ao nível do instin- do. to invocado. Do que foi dito neste artigo deve deduzirComo exemplo podemos colocar uma bola se que não existem dois indivíduos iguais à vista de um indivíduo com o instinto de e portanto, a manipulação e o método a caça bastante desenvolvido. O animal seguir no processo de adestramento, tomará uma atitude expectante e, se lhe deverá ajustar-se a uma análise individual. impedimos o acesso, teremos o indicador Devemos ter em conta aqueles fatores de da sua tenacidade controlando o tempo variabilidade que alteram os resultados do que leva a tentar obtê-la. estudo. Enfermidades, doenças, fases críticas do desenvolvimento psicofísico, Têmpera hostilidades ambientais, traumas muito É a capacidade de adaptação e resposta recentes e inclusivamente, instintos primáorgânica do animal perante sucessos ines- rios satisfeitos, distorceram em menor ou perados. As respostas de inquietação, maior grau, a perceção do analista. surpresa excessiva ou, inclusivamente Com o estudo e a experiência aprofundamedo, quando algo se modifica de forma se o conhecimento do cão e do seu meio repentina, no âmbito da sua perceção sensorial, denotam, em maior ou menor grau, envolvente evitando, desta forma, surpresas e sobretudo, reduzindo ao mínimo, o grau uma possível carência de Temperafator sorte. mento no cão. Neste caso, descartamos os modelos de conduta associados ao G.A.S. (Síndrome Geral de Autoria: Sílvio Pereira Adaptação) ou as reações gerais de Fotos: Google


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Personalidade

Considerado o fundador da etologia moderna, o biólogo austríaco Konrad Zacharias Lorenz nasceu em Viena em 1903 e faleceu em 1989.Licenciou-se em Medicina em Nova Iorque e fez um doutoramento em Zoologia pela Universidade de Viena em 1933. Aí se tornou, em 1937, professor de Anatomia Comparada e de Psicologia Animal. Durante a Segunda Guerra Mundial, foi capturado, sendo prisioneiro União Soviética até 1948. De 1949 a 1951, dirigiu o Instituto de Etologia Comparada de Altenberg. Tendo já publicado, em 1927, os resultados de uma importante pesquisa sobre a vida das gralhas no famoso Journal für Ornithologie, descreveu em 1935 o processo de aprendizagem em patos e em gansos jovens, criando o conceito de ”imprinting”. Nos anos 50, dedicou-se ao estudo comparativo de diversas espécies animais e do paralelismo entre estas e a espécie humana. Os seus trabalhos representaram um enorme contributo para a compreensão do desenvolvimento de modelos de comportamento nas espécies. Em 1973, foi-lhe atribuído, em conjunto com dois outros estudiosos do comportamento animal, Karl von Frisch e Nikolaas Tinbergen, o Prémio Nobel da Fisiologia e da Medicina. Imprinting Conceito lançado pela primeira vez pelo naturalista Austríaco Konrad Lorenz (1903 – 1989) Prémio Nobel da Medicina em 1973 e considerado o pai da Etologia Moderna. Ele demonstrou que, no trabalho que realizou com gansos, estes seguiriam o primeiro objeto em movimento que encontrassem no seu meio envolvente, mal saíssem dos ovos, ocorrendo assim uma ligação social entre o pequeno ser e o objeto ou organismo que eles vissem em primeiro lugar. Foi o caso da experiência realizada pelo próprio Konrad Lorenz que ao criar uma ninhada de gansos cinzentos desde a oclusão dos ovos, os pequenos gansos o tomaram como sua mãe, seguindo-o incondicionalmente e, mesmo depois de se tornarem adultos, manifestaram sempre maior preferência por ele do que pelos outros gansos. O comportamento de um animal, de qualquer animal, é o resultado da interação de dois fatores fundamentais: a genética e o meio ambiente, e em muitos casos é quase impossível separar o aspeto filogenético (Incluído no seu material genético. Herdado) do ambiental. Um dos exemplos mais curiosos dessas influências no referido comportamento animal é o chamado “imprinting” (estampagem ou impregnação em português, apesar do termo, em si ser intraduzível). O imprinting é a primeira e mais duradoura forma de aprendizagem. Graças a ela, o animal aprende a ser membro da sua espécie, enquanto estabelece relações com os de outra. Página 9

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Agora com 6 meses de idade, vacina da raiva efetuada, desparasitações feitas, dentição renovada e respetivo registo definitivo no Clube Português de Canicultura em meu nome, a Blanca dos Bigodes de Neve já começa a ficar uma linda e grande Schnauzer miniatura branca. A Blanca neste momento já “senta e fica” e “deita e fica” na perfeição, já rebola, faz de morta, faz a vénia, ladra a comando e aprendeu a rejeitar a comida que está no chão, tudo isto com base no treino positivo através do uso do clicker. Outra grande aprendizagem é o "Sítio", uma coisa muito simples que faz toda a diferença... o sítio é um tapete amarelo que arranjei para a Blanca que significa local de descanso, ideal para quando queremos o nosso cão sossegado ainda que seja num sítio estranho... o primeiro treino é em casa e tem tido resultados excelentes. Mas toda esta aprendizagem desde que chegou a minha casa com 7 semanas tinha uma razão de ser.... todas as formações e treinos por mim realizados seriam para cumprir um objetivo maior.... para além de criar uma cadela perfeita, também gostaria de ter a oportunidade de divulgar o meu trabalho enquanto adestrador canino e a Blanca é sem dúvida "a minha estrela". No mês de Agosto de 2012, eu e a Blanca participámos no Summerdogcamp 2012 organizado pela Escola Canina Educacão, e falei com o Fernando Silva (uma vez que faz agenciamento de animais) que gostaria de ter a oportunidade de ver a Blanca trabalhar em cinema, publicidade e telenovelas, pois tinha-a preparado Página 10

Experiências

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Autoria e foto: André Moreiras (dono da Blanca)

para ter todo o perfil adequado para trabalhar nessa área. Esse perfil seria o facto de ser extremamente sociável com pessoas e crianças, sociável com animais, e devidamente estimulada nos seus instintos por forma a ter uma aprendizagem rápida e a responder devidamente aos comandos solicitados. Foi feito um Casting fotográfico e de simulação de filmagem ainda no Summerdogcamp 2012, onde a Blanca ficou aprovada com sucesso e ficámos a aguardar essa oportunidade, ficando desse modo concluído o seu agenciamento. Felizmente surgiu essa oportunidade no passado mês de Setembro, e fomos convidados pelo Fernando Silva para estarmos presentes nos estúdios de gravação pois a Blanca iria participar num anúncio de TV. Chegados ao local conhecemos os atores e equipa de filmagem sempre muito simpáticos... o anúncio era para uma campanha publicitária do IKEA de França. Todo o processo de gravações foi bastante longo, cerca de 10 horas de filmagens, entre pequenos intervalos e um período de almoço e posso dizer que muito embora a Blanca ainda só tivesse 5 meses de idade fiquei muito espantado com a capacidade dela em aguentar todo o stress de sucessivas repetições sem quebrar a sua energia. As gravações com a Blanca decorreram em 3 situações distintas: 1º – Período da manhã: Gravação de diversos “takes” onde a Blanca Interagia com as crianças.

2º – Período da tarde: Fotografia de grupo onde a Blanca teria que estar em “deita e fica” ou “senta e fica” num sofá da IKEA. 3º – Período da tarde (já no final do dia): Gravação a solo da Blanca, em “senta e fica”, em que teria que fazer expressões para as câmaras e eventualmente ladrar a comando. Por isso, foi fulcral também providenciar-lhe uma área de descanso... uma espécie de tenda onde meti o "Sítio" da Blanca lá dentro... ao início foi complicado ela associar o que seria aquilo, mas rapidamente entendeu que era a sua área de descanso e dormiu bastante tempo enquanto não era solicitada nas filmagens. É necessário ter muita experiência e noção de como se desenrola todo o processo de gravações e ângulos de filmagem, bem como ter sensibilidade perante o stress do animal... a ajuda do Fernando Silva foi fulcral neste aspeto pois ensinou-me qual a maneira adequada de nos colocarmos no local das gravações por forma a obtermos o resultado pretendido pelo realizador, intervalando esses momentos de trabalho com os períodos de descanso da Blanca. E felizmente correu tudo bem, anúncio para o IKEA de França realizado com sucesso! O lançamento desta campanha publicitária está previsto para o mês de Outubro e estará futuramente disponível no blogue da Passos Caninos, uma vez que não tenho a certeza se o anúncio será passado nos canais de televisão portugueses.


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Acontecimento

Este mês, mais propriamente no passado dia 4 comemorou-se mais um dia Mundial do Animal. E se habitualmente somos bombardeados com dias alusivos a mil e uma situações, muitas vezes passa-nos completamente ao lado o porquê da criação destes dias específicos, qual o propósito na sua criação e com que objetivo eles existem. A pensar nestas questões este mês debrucei-me na busca das respetivas respostas e na partilha do porquê deste dia mundial que direta ou indiretamente nos toca a todos que temos animais e também aos que não os têm mas que nutrem um interesse e uma curiosidade especial.

Edição Nº 1

OBJETIVO

A criação deste dia tem como principal missão, celebrar a vida animal em todas as suas formas, assim sendo os princípios base da sua criação são: - Sensibilizar a população para a necessidade de proteger os animais e a preservação de todas as espécies; - Mostrar a importância dos animais na vida das pessoas; Reconhecer os diversos papéis que os animais desempenham nas nossas vidas, nomeadamente os domésticos, como companheiros, apoiando-nos e ajudando-nos, contribuindo para um sentimento de admiração pela forma como enriquecem as nossa vidas. O objetivo da iniciativa do Dia Mundial dos Animais é o de ORIGEM encorajar todas as pessoas a usar este dia especial para comemorar o seu amor e respeito pelos animais, fazendo Tudo começou em Itália mais propriamente em Florenalgo de especial para realçar a sua importância no Munça, em 1931, numa convenção de ecologistas, do. Através de uma maior consciencialitendo a escolha estado relaciozação, contribuindo assim para nada com o facto do dia 4 uma melhor definição dos de Outubro ser o dia de São padrões de bem estar aniFrancisco de Assis, considemal em todo o Mundo. rado o santo padroeiro dos aniPara além da celebração do sanmais e do meio ambiente, oficiato São Francisco de Assis, hoje é lização essa, a santo, ocorrida comemorado por amantes de apenas em 1980, pelo Papa animais de todas as crenças, João Paulo II. nacionalidades e origens. BênDotado de ideias vistas com çãos de animais são realizadas espanto e até mesmo desprezo, em igrejas, sinagogas e por este santo, veio para a frente de capelães, bem como encontros 800 anos, deixando-nos organizados com animais em como ensinamento o correto parques e campos por parte entendimento de qual o nosdaqueles que não se enconso lugar na ordem criada e tram ligados a qualquer tipo que o nosso bem estar deve de religião. Abrigos de aniser parte integrante em torno do mais realizam eventos de angaambiente. riação de fundos e dias abertos, grupos faunísticos orgaDentro desta celebração, fazemos referência especial nizam displays de informação, as escolas trabalham em aos nossos animais de estimação, cuja lealdade e projetos de sensibilização, indivíduos, grupos de amigos nobreza engradecem a nossa humanidade. Considera- ou colegas de trabalho reúnem-se no sentido de doar dos como nossos semelhantes e como eram chamados alguns bens para instituições de acolhimento de animais por Francisco, os nossos "irmãos". Com um gesto de ou mesmo apadrinhar um animal do abrigo. nos dar alegria estão connosco nos momentos de dificul- Esta iniciativa é pois uma excelente forma de unir todos dade e partilham as nossas vidas, sendo parte integran- aqueles que pretendem dar o seu contributo para a te da família; contudo outros seres são abusados e aba- mudança, fazendo parte integrante de algo especial - o tidos diariamente. Se em todas as consciências estives- Dia Mundial do Animal, que não estando ligado a qualsem presentes os ensinamentos de São Francisco de quer individuo, organização ou campanha pertence a Assis, a vida selvagem não sofreria com os excessos todos nós. que ocorrem atualmente Assim sendo, o Dia Mundial do Animal tornou-se um dia Lembremo-nos também que de acordo com ponto 1 e 2 para lembrar e homenagear a todos os animais e as da Declaração Universal dos Direitos do Animal - "Todo o pessoas que os amam e respeitam. Mais do que uma animal tem o direito de ser respeitado. E que o Homem simples celebração do santo cristão que esteve na orienquanto espécie animal, não pode atribuir-se o direito gem da criação, este é um dia celebrado por todos. de exterminar os outros animais ou de os explorar, violanComemorado de maneiras diferentes por todo o Mundo, do esse direito". sem distinção de nacionalidade, religião, fé ou ideologia política.

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Acontecimento EM PORTUGAL

No nosso país, cada vez mais o Dia do Animal é também o mote para um conjunto de iniciativas de angariação de donativos para instituições que acolhem e cuidam de animais abandonados, bem como de ações de sensibilização sobre o bem estar animal, campanhas de adoção e o Participação da Autora na Cãominhada combate aos maus tratos e ao abandono dos animais, flagelos ainda bem presentes em Portugal. A Liga Portuguesa dos Direitos do Animal já comemora a data há 25 anos e foi pioneira em Portugal a este nível Da minha parte, não no dia 4 mas no fim de semana que sucedeu a este dia, juntamente com os meus 3 colegas caninos lá de casa, fizemos questão de participar no evento alusivo ao dia, no meu concelho. Participando na Cãominhada organizada pela Câmara Municipal com o objetivo não só de proporcionar uma manhã de convívio entre animais e pessoas, como também com a angariação de comida, através de donativos, para a instituição de apoio aos animais abandonados do Concelho. O dia esteve solarengo e os 5km de passeio pelo campo deixaram os meus 3 colegas satisfeitos, como podemos verificar nas suas expressões, já no carro, no caminho de regresso a casa. SÃO FRANCISCO DE ASSIS Protetor dos animais Francisco de Assis nasceu na cidade de Assis, Úmbria, Itália, em 1182. Pertencia à burguesia e dessa condição tirava todos os proveitos. Como o seu pai, tentou o comércio, mas cedo abandonou a ideia por não ter muito jeito para o negócio. Sonhou então com as glórias militares, procurando desta maneira alcançar o status que a sua condição exigia. Contudo, em 1206 para espanto de todos, Francisco de Assis abandonou tudo, andando errante e maltrapilho, numa verdadeira afronta e protesto contra a sua sociedade burguesa. Entregou-se totalmente a um estilo de vida fundado na pobreza, na simplicidade da vida e no amor total a todas as criaturas. Com alguns amigos deu início ao que seria a Ordem dos Frades Menores ou Franciscanos. O pobrezinho de Assis, como era chamado, foi uma criatura de paz e de bem, terno e amoroso. Amava os animais, as plantas e toda a natureza

Autoria: Anabela Guerreiro Fotos: Google

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Entrevista

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Presidente do Grupo Lobo No final de uma manhã solarenga de uma segunda-feira, ao som dos aviões que se preparavam para aterrar no aeroporto de Lisboa, o Prof. Francisco Petrucci-Fonseca recebeu -nos no seu gabinete, num dos edifícios da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, para nos conceder uma entrevista onde iriamos falar exclusivamente sobre o Lobo. Foi uma conversa longa, franca, aberta, sem tabus, em que, sem fugir às questões, o tema Lobo foi analisado em todas as suas vertentes. É assa longa entrevista que vamos disponibilizar a todos os nossos leitores. Quercus então, achámos que o Lobo era uma espécie que merecia atenção Nota da redação - Devido à exten- e decidimos avançar, juntámos um são da entrevista, foi colocada a grupo e fundámos esta associação hipótese de a mesma ser disponibili- com o objetivo de contribuir para a zada em duas partes portanto, em conservação desta espécie e para a duas edições da revista, mas devido coexistência entre o lobo e as pesà importância e oportunidade do soas. tema e para evitar que se perdesse o “fio à meada” e não obtivesse o mes- C&L - Em que ano é que foi criado mo impacto, decidimos apresentar a e quais os seus fundadores? entrevista, na totalidade, neste número da revista. FP-F - Foi no ano de 1985. Em relação aos fundadores, basicamente fomos nós os dois, depois arrancámos com outras oito pessoas, e como GRUPO LOBO algumas já faleceram não queria estar a citar nomes poderia esquecer-me C&L - Como é que surgiu a ideia da criação do Grupo Lobo e com de alguém. que objetivos? FP-F - O grupo lobo surgiu da necessidade que havia, para nós, os sócios fundadores do Grupo, de dar mais realce à situação em que o lobo se encontrava. Portanto, há vinte e sete anos quando começámos a conversar ,eu e Robert Lyle, chegámos à conclusão que, como nós dois gostávamos de lobos, gostaríamos fazer qualquer coisa por eles. Não existia nenhuma entidade especificamente dedicada à causa, , havia a Página 13

trabalho através de ações de divulgação junto das escolas, participando em congressos e ações de divulgação em exposições caninas, nas feiras, por exemplo, na Ovibeja há alguns anos, por causa do nosso projeto do cão de gado. Procuramos realizar também colóquios que possam dar visibilidade ao Grupo e aos nossos objetivos. C&L - O Grupo Lobo tem várias ligações, colaborações e apoios de diversas empresas e instituições, nacionais e estrangeiras. Até que ponto isso é uma mais-valia para a organização? FP-F - É uma mais-valia porque, no seguimento da questão que colocou anteriormente, podemos dar a conhecer o nosso trabalho, a possibilidade de nós conhecermos o trabalho de outras instituições, portanto, aumentar o nosso conhecimento e assim alcançarmos de uma forma mais prática, mais estruturada o nosso objetivo e permite-nos ter contatos com pessoas de todo o mundo e conhecermos igualmente os projetos de outras instituições.

C&L - No ativo então só está o Prof. C&L - Durante a preparação para esta entrevista, observei que recebem apoios de duas empresas que constroem e gerem autoestradas C&L - Quais as iniciativas que o em Portugal (Norscut e Ascendi). Grupo Lobo tem levado a cabo com Não será isso um contrassenso o objetivo de se dar a conhecer ao uma vez que todos sabemos que grande público? essas estruturas são as que mais contribuem para a destruição dos habitats e ecossistemas destes FP-F - Temos estas entrevistas, a nossa ação junto de diversos órgãos animais? E, já agora, qual tem sido de comunicação social, termos procu- a contribuição do Grupo Lobo na rado também dar a conhecer o nosso contestação à construção da barFP-F - No ativo só estou eu e mais três ou quatro pessoas.


Cães & Lobos ragem do baixo Sabor, encabeçada por vários grupos ambientalistas, entre eles a Quercus, com a qual mantêm uma ligação institucional? FP-F - Nós não recebemos apoios. Eles estavam a construir as estradas e, o que nós fizemos, foi a monitorização da população lupina antes, durante e X anos depois da construção. Isto não é um subsídio é um protocolo de trabalho. Nós fizemos o nosso trabalho que foi analisado pela autoridade nacional que é responsável por esta área, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, e que foi aceite. Não posso considerar que seja um contrassenso. Eu repito, não é um subsídio, são coisas completamente diferentes. Nós prestamos um trabalho. Nós somos independentes e apresentamos os fatos, o fato é: há lobos – deixou de haver lobos, há lobos - diminuiu a população de lobos. Referimo-nos a eles e é isso que é público e não queremos estar a ocultar dados e informações. C&L - Têm dados já depois da construção dessas autoestradas se houve ou não grande impacto nas populações de lobos. FP-F - Houve. Há sempre impacto. C&L - Até nas próprias presas em si, não é? FP-F - Mais no lobo até, mas também nas próprias presas, mas o que nós estamos a acompanhar … as presas junto às autoestradas, têm estado também a aumentar, elas utilizam as passagens que foram construídas para os lobos passarem e o que lhe digo é que não há nenhum contrassenso porque os nossos dados foram estes: chegámos lá tínhamos estas, estas, estas e estas alcateias, acabou-se o trabalho que era o período que estava previsto na lei e por fim existiam esta e esta e esta! Há uma diminuição e os dados são esses, portanto não foi nada ocultado, está tudo preto no branco. Aliás, digo-lhe só mais uma coisa, o Grupo Lobo tem uma posiPágina 14

Entrevista procura por em prática desde a sua fundação: há uma população que é lupina, há conflitos com vários grupos de interesse e nós temos que estabelecer uma plataforma de trabalho em conjunto porque entendemos que a discutirmos uns com os outros não vamos a lado nenhum, o trabalho tem que ser construtivo. A única coisa que eu lhe repito é se houver uma infraestrutura, um grupo de interesse, que ponha em causa e não queira ouvir aquilo que nós temos a dizer avançamos com tudo aquilo que é possível para que a voz do lobo se faça ouvir. A voz do lobo não somos só nós mas todas as pessoas que se interessam por ele. Esta questão das estradas não tem a ver apenas com as estradas, tem a ver com os parques eólicos que lá estão a ser construídos, tem a ver com as pedreiras que estão a ser exploradas. Em relação à barragem do Baixo Sabor, nós não fomos contatados pelos construtores da barragem e nós não concordamos com as barragens nem com a forma como estão a ser construídas, como não concordamos com uma série de coisas estão a ser feitas no nosso país em relação à utilização da paisagem. Nós entendemos que devia ter sido feito anteriormente o planeamento. Em devido tempo fizemos ouvir a nossa opinião e nós apoiámos, o que não quer dizer que nós não colaboremos com as entidades que estão a construir a barragem. Se vivemos em sociedade e se a sociedade entende que a barragem deve ser feita, nós temos que colaborar de forma que a barragem tenha o menor impacto possível para o lobo, e repito, não é vol-

tando as costas às pessoas que atingimos os nossos objetivos, temos é que trabalhar em colaboração com elas. A sociedade, quer queira quer

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não queira, aceitou construir a barragem, o objetivo agora é que o impacto seja o mínimo, colaborando de uma forma objetiva. O CENTRO DE RECUPERAÇÃO DO LOBO IBÉRICO C&L - Fale-nos agora um pouco sobre o Centro de Recuperação do Lobo Ibérico em Mafra e qual o objetivo da sua criação? FP-F - O Centro é um projeto que foi criado pelo Grupo Lobo em 1987, faz agora 25 anos, dois anos depois da criação do Grupo Lobo, mas nós já tínhamos pensado nesse projeto desde a criação do Grupo, sobre ideias que gostaríamos de por em prática. Esta foi posta em prática mais rapidamente que o do Cão de Gado porque os fatos e as situações assim o ditaram. Nós sabíamos que ia sair a Lei do Lobo, sabíamos que havia animais em cativeiro e nós queríamos criar condições para que esses animais estivessem em cativeiro o resto da sua vida de uma forma digna. O Decreto-Lei iria proibir que as pessoas tivessem lobos em cativeiro uma vez que não tinham condições para os ter. Havia um lobo num apartamento, havia um lobo quase num galinheiro, apesar das boas intenções das pessoas, do carinho que elas tinham pelos animais, tudo isso… não os tinham em condições. Nós, de repente, ouvimos de um lobo que estava em cativeiro que era de alguém que queria encontrar um local para esse animal estar. Oferecemonos e a partir daí, com o apoio de um senhor que vivia ali perto do Picão em Mafra que se disponibilizou a dar um pequeno espaço enquanto não tínhamos mais condições para receber o Lobo, colocámo-lo lá, o Robert Lyle conseguiu arranjar ali uma estrutura aos poucos e poucos… estou a falar do Robert Lyle porque o Robert foi a pessoa que ficou mais ligada ao Lobo no Centro, eu fiquei mais ligado aos lobos na natureza e à parte de divulgação. Depois fomos desenvolvendo o projeto do Centro de Recuperação do Lobo Ibérico naquele local. Se alguém nos tivesse ajudado,


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Entrevista

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Prof. Francisco Petrucci-Fonseca

com algumas mazelas físicas, outras psíquicas, e nós ali colocamos os Presidente do Grupo Lobo animais em espaços cercados com um hectare e meio, com muito boa PERFIL cobertura vegetal onde eles se Dados Pessoais escondem, onde vão ganhando o seu Nome completo: Francisco José Petrucci Guterres da espaço, onde constroem as suas Fonseca tocas, e os animais chegam ali com Morada institucional: Centro de Biologia Ambiental, comportamentos que são fora do norFaculdade de Ciências da Universidade de mal, que tiveram condições de catiLisboa, Edifício C2, 5º Piso, Campo Grande, 1749-016 veiro muito más, aos poucos e pouLisboa, PORTUGAL cos vão recuperando, e temos aniTelefone: 217500073 - Fax: 217500073 e-mail: fpfon- mais que chegavam lá tímidos que seca@fc.ul.pt não se aproximavam das pessoas Formação Académica Doutoramento em Ecologia e Sistemática pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Dissertação: O lobo (Canis lupus signatus Cabrera, 1907). Problemática da sua conservação. Outras Competências/Atividades Como professor do Departamento de Biologia Animal, tem sido regente de cadeiras teóricas e práticas que visam a Biologia em Geral, bem como de Mestrados em Conservação da Diversidade

e hoje já aparecem, ontem, por exemplo, durante uma visita, um dos esta nobre espécie? E, já agora, animais que veio de Espanha que essas visitas não irão criar algum estava em cativeiro, na Galiza, o stress nestes animais normalmente Sabor, sentou-se, deitou-se, descontão tímidos e furtivos, apesar se traído, portanto esses animais não encontrarem em semicativeiro nos estão em stress. Aliás, nós seguimos cercados? o comportamento dos animais através de monitorizações diárias para FP-F – À primeira questão, respondo ver como é que eles estão e saberque acho que é importante porque mos que há animais, por exemplo, no Algarve teria sido no Algarve, ou aqueles animais que estão ali servem que não podem estar junto ao públiem Bragança teria sido em Bragan- de uma forma pedagógica. As pesco, já estão habituados aos trabalhaça, mas foi aquela a primeira pessoa soas dificilmente terão possibilidades dores, mas se aparece uma pessoa que se disponibilizou para nos ajudar de ver lobos em Bragança ou em diferente já não se sentem tão à vone, a partir daí, tem vindo a crescer. O Viseu, portanto ali eles vêm estes tade. Além disso há sempre um Centro tem por objetivo receber animais num ambiente que nós procu- período de quarentena e as pessoas lobos que não podem viver em liber- ramos que seja o mais parecido pos- não vão aí, agora até temos lá dois. dade, ou seja, lobos que não podem sível com o que eles encontrariam se Os que estão nessas condições são ser soltos, eles iriam muito provavel- estivessem em liberdade. E depois, os animais mais tímidos, em que o mente, muitos deles, serem abatidos. ver um animal num filme ou tentar comportamento está a ser recuperaNós entendemos que aqueles anicompreender a descrição num livro é do mas mais lentamente. Posteriormais deviam ter um resto de vida uma coisa e ver um animal ao vivo e mente, poderão ser postos nos cercadigno, já que nós, homens, não lhes no seu habitat com árvores, com dos que estão vazios. Esses animais, demos a possibilidade de eles vive- arbustos, é outra e os animais não ao princípio, nem os funcionários rem em liberdade, e assim servem estão em stress porque é como lhe podiam ver, agora já se aproximam também de embaixadores aos lobos digo: muitos daqueles animais chedeles, já estão com os voluntários, que vivem em liberdade. gam em más condições, porque esti- brevemente já estarão em condições veram em cativeiro em situações de ver o público. E esse processo foi C&L - Acha que há vantagens em idênticas àquelas que há pouco referi idêntico com todos os outros que vieas pessoas visitarem um santuário reportei-me a situações de há 25 ram. Portanto, os animais estão desde Lobos, principalmente para anos, mas elas continuam a repetircontraídos. alterarem a sua opinião e exorcise, portanto, muitos que chegam aqui zar os seus medos em relação a chegam doentes, alguns chegam já Página 15


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C&L - Quantos animais é que o CRLI tem atualmente? E quantos já teve?

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C&L - Sei que nos últimos anos houve alguns nascimentos no Centro, por casualidade nasceram há poucos meses 3 lobachos de uma FP-F - Já teve várias dezenas, talvez progenitora que já tinha nascido no uns quarenta. Assim de cor não lhe Centro há cerca de 3/4 anos. A persei dizer. Agora tem oito, temos a gunta que lhe queria fazer era se possibilidade de receber mais seis e existe algum programa estruturado que ficaríamos com catorze. Nós de criação, ou ela acontece arbitraentendemos que o Centro, entre riamente? catorze e vinte animais é o máximo que pode albergar. Uma coisa que FP-F - Nós não procuramos a criação. fique claro, nós temos uma boa divul- Já juntámos machos com fêmeas, já gação, qual é o nosso objetivo, qual tivemos reprodução e já aconteceu é a nossa filosofia? Nós não somos não termos tido reprodução. Já tiveum parque zoológico. Há pouco mos dois lobos e vários casais que mencionou que nós somos um san- estão otimamente bem que viveram tuário, procuramos efetivamente ser até aos 17 anos. Não acasalaram, ou mais um santuário. Nós temos uma se acasalaram não tiveram por algum diferença, a nossa filosofia é diferen- problema que nós não sabemos, mas te, os animais estão ali porque nós não procuramos a reprodução, entendemos que devemos dar-lhes tudo bem, para nós está ótimo, se se boas condições, não estão ali para reproduzirem está bem, se não se que sejam vistos pelo público. Num reproduzirem está igualmente bem. jardim zoológico têm vários animais Aliás, houve até uma altura que nós para ir substituindo por causa do fizemos tudo para que não se reprobem estar animal, são instituições duzissem, pois como sabe, os caníque têm evoluído muito e também deos reproduzem-se com uma facilisão muito rigorosos nesse campo, dade enorme, mesmo os selvagens, o mas nós ali, os nossos lobos apare- mesmo não acontece com os felinos cem se quiserem, se não quiserem que já é mais difícil, conhecemos as não aparecem, lamento imenso e dificuldades do Lince cá em Portugal. tenho pena que às vezes aparecem O lobo, se nós não fizermos nada, e visitas que não conseguem ver os se eles têm uma ninhada de uma animais. Isso também é uma forma média de 6 crias, dois anos depois das pessoas perceberem que o ani- em vez de termos um casal já podemal tem um determinado ritmo. Se mos ter dois ou mais e chegámos à for ao Jardim Zoológico vê que há situação de termos que por termo à animais que têm uma atividade qua- procriação. Foi o que aconteceu há se diurna e a maior parte deles não cerca de 15 anos atrás em que os têm uma atividade diurna. Obvialobos estavam a reproduzir-se rapidamente que o lobo tem uma atividade mente e quando chegámos à capacimais noturna, também porque o dade máxima, nós não podemos, e homem o obriga a isso. estando os animais a reproduzirem-se não temos espaço para receber animais que é um dos nossos objetivos.

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Apesar da limitação dos cercados, viveram lá bem 9 animais durante bastantes anos, sem problemas, apesar de, de vez em quando, termos que retirar um ou outro devido à hierarquia, e a maioria deles morreu com muito mais de dez anos de idade. O Prado, por exemplo, morreu de velhice. Quando fizemos a necropsia o resultado foi a falência dos órgãos devido à idade e foi ela a ditar a sua lei. C&L - Fale-nos da vossa campanha de angariação de fundos a que deram o nome: “Não deixe os Lobos sem Abrigo” e de que forma tem sido feita a divulgação dessa campanha? E quais os resultados?

FP-F - Neste momento está a terminar uma fase da campanha (a entrevista foi feita antes de terminar a campanha). Nós fizemos uma campanha a nível internacional e utilizámos uma plataforma de angariação de fundos que é a Crowdfunding, que está muito em voga e está em grande desenvolvimento a nível internacional, para angariar fundos para a aquisição dos terrenos do CRLI e esta plataforma resulta de uma parceria entre a Naturlink, um portal Português, uma empresa Portuguesa e a Indiegogo que é um portal Americano, juntaram-se, fizeram essa parceria que é a Naturfunding. Este projeto é o primeiro que foi colocado na C&L - É difícil formar ali alcateias? Naturfunding, esperemos que vá servir de barómetro uma vez que é um FP-F - Já tivemos ali alcateias. Eles projeto pioneiro que possa servir de agora estão separados porque entre- guia para outros. Já ultrapassámos, tanto morreram os parceiros, morreu em termos de Crowdfunding o máxio parceiro da Aura, para o Sabor nun- mo que se tinha conseguido em Porca tivemos fêmeas para juntar com tugal, já ultrapassámos mais de seis ele. Já tivemos alcateias de 7, 8 e 9 vezes o máximo que se tinha angaelementos. Elas são muito dinâmicas riado em Portugal. Esta é a grande e os animais foram morrendo com a vantagem, em vez de ficarmos limitaidade, naturalmente, às vezes mordos ao público Português, ficámos rem mais cedo outros mais tarde. limitados a um público oriundo de

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Entrevista

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que viveram sempre com o Lobo e compreendem que tem que haver um espaço e alguns conseguem arranjar um equilíbrio na sua convivência com o lobo, existem outros setores onde o lobo desapareceu e, por exemplo, a forma de criar o gado evoluiu numa direção em que já não se conta com a presença do lobo. Agora o lobo chega outra vez e estas gerações novas de criadores de gado já não têm o saber dos antigos e é este saber que ainda se mantêm cá em Portugal e nalgumas zonas da Península Ibérica, e que permite ainda alguma coexistência. Repito, há interesses muito fortes, há grupos de pressão muito fortes que têm uma grande capacidade de organização, de lobbys de pressão junto dos decisores que em algumas zonas têm feito com que o lobo volte a ser legalmente caçado: em França, na Suíça, O LOBO NO MUNDO nalgumas zonas aqui de Espanha, nalgumas zonas da América, etc., e infelizmente estamos a voltar a processos anacrónicos de caça. Se querem caçar cacem-nos de uma forma desportiva. Eu acho que o lobo é uma espécie que deve ser protegida, como muitas outras, e devemos prouma série de ações, porque diferencurar uma convivência sã com eles. tes ações atingem públicos diferenOutra coisa em que o lobo está a tirar tes e nós não podemos parar. Além benefício é o despovoamento de muidisso há muitas outras formas de tas áreas da Europa, indo para as ajuda, por exemplo, há muitas pesgrandes cidades despovoando gransoas que não se sentem seguras em des áreas do interior e, por exemplo, contribuir através de Internet e C&L - Qual é o estado atual do dizem que o lobo está a chegar à pedem-nos para fazerem a sua con- Lobo no Mundo? Alemanha também, está a chegar a tribuição através de transferência outros países e onde, de vez em bancária, outras que contribuem FP-F - Há cada vez mais tolerância quando já se começa a ver na Áustria através de ser pai, ou mãe adotiva pelo Lobo apesar de ainda existirem onde já se observou um ou outro de um ou mais lobos, ser sócio do muitas pessoas, que são muito ativas, Grupo Lobo, de levar lá a sua escola. que não gostam do lobo e entendem lobo, é um animal que tem muita Tudo isto são formas de ajuda. Uma que o Lobo deve ser eliminado e ape- capacidade de resistência, por isso é que a perseguição que lhe foi movida das coisas que nós temos que tam- sar de haver muitas ações que têm durante centenas de anos conseguiu, bém ajuda e isso é muito importante levado a contribuir para que o lobo e digo-lhe se as pessoas não pude- esteja a recuperar as suas áreas de rem ajudar monetariamente ficamos distribuição, nomeadamente, na Euromuito satisfeitos pela visita das pes- pa Central, na América do Norte, no soas, pelo interesse das pessoas no Sul da Europa, essas ações estão a lobo, ajuda-nos a atingir os nossos encontrar uma nova reação negativa objetivos. O Grupo Lobo não tem da parte de alguns setores, porque o única e exclusivamente o CRLI, tem Lobo expandiu-se nos Estados Unioutros projetos. O CRLI faz parte de dos e os agricultores dos estados um universo da ação em que o Gru- rurais, Minesota, Montana, etc., não po Lobo procura atuar. Dentro da estão nada agrados com essa expandivulgação ambiental o projeto CRLI são. Se nós temos em Portugal e é o mais importante. Temos outros Espanha alguns criadores de gado todo o Mundo. E temos tido contribuições da Austrália, dos Estados Unidos, de Espanha, individuais, empresas, obviamente que nós gostaríamos ter mais participações, um maior montante, mas nós compreendemos que estamos a passar por uma fase difícil, e que o rendimento das pessoas tem que se dispersar por várias áreas, nós sabíamos isso de antemão e por isso mesmo temos esta possibilidade de ter um projeto que vai continuar mesmo depois de acabar a angariação de fundos através do Crowdfunding que irá passar para outras atividades e outros eventos que nós vamos realizar. Temos que adquirir o terreno no prazo de cinco anos e agora, por exemplo, iremos fazer um concerto, estamos a juntar artistas plásticos para fazermos um leilão, vamos utilizar uma daquelas chamadas de valor acrescentado, cujo número é o seguinte: Irão haver

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te. Temos outros projetos com empresas dentro da monitorização e repito, colaboração com Empresas, com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, com associações que por vezes nos perguntam… e depois temos outra coisa que para nós é muito importante que é a divulgação ambiental: são as escolas que querem visitar o Centro pedem-nos para ir lá fazer uma ação de dinamização, vamos lá fazer uma palestra e depois por fim aquilo que nos interessa são as ações práticas de conservação, são as ações no terreno em que colocamos alguma da muita informação que recolhemos na investigação e no trabalho de compreendermos a reação das pessoas ou o que é que leva as a entrarem em conflito com o Lobo.


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Entrevista

nalgumas áreas, manter-se, noutras vai ajudar a determinar essas situanão. Já se sabe que ele foi praticações. mente exterminado nos Estados Unidos. C&L - Em que situação se encontra, em termos de estatuto de conC&L - Quantas espécies de Lobo servação, o Lobo no Mundo? existem? FP-F - Varia. Nalguns países passou FP-F - Tem havido uma grande dis- de espécie completamente protegida cussão se existem espécies ou para espécie cinegética. Noutros de subespécies. espécie protegida para espécie sob controlo. Aqui na nossa vizinha EspaC&L - Estamos a falar de espécies: nha é conforme as regiões, tem lobos o lobo vermelho, o lobo cinzento, completamente protegidos nalgumas o lobo etíope. regiões, como é o caso do Sul de Espanha, noutras em que é caçado, FP-F - Exatamente. Essas que aca- noutras é mesmo controlado através bou de referir e depois há uma série das instituições noutras em que é de subespécies, como por exemplo aberto à caça. Podemos dizer que, ao nível do Canis Lupus Familiaris. nalguns locais, hoje em dia, o lobo já Agora há pessoas que chamam ao é novamente um troféu de caça. Nalcão Canis Lupus Familiaris. Eu, por guns países do Centro/Leste da Euroacaso, não corroboro com essa defi- pa o lobo foi sempre uma espécie nição para o cão doméstico, entendo cinegética, com regras de X animais que o cão é uma espécie autónoma por ano, de formas de abate, etc., do lobo mais corretamente chamado enquanto que nos Estados Unidos há Canis Familiaris mas se quisermos uma quota de abate e os animais são ser rigorosos do ponto de vista do abatidos até atingir essa quota. investigador científico temos que admitir uma elevada concordância do ADN mitocondrial das duas espécies. Apesar disso, há diferenças entre o lobo e o cão que não são só genéticas, e essas diferenças traduzem-se no comportamento, na morfologia, na relação entre as duas espécies. A relação entre o cão e o lobo é diferente da relação entre um lobo e outro lobo. Obviamente que há tantas coisas diferentes que eu entendo que devíamos considerar espécies diferentes. A Biologia tem estas coi- C&L - Já agora por falar nos Estasas boas que é a possibilidade de dos Unidos, acha que a reintrodutrocarmos ideias diferentes. Respon- ção do Lobo no Parque Nacional de dendo à sua questão, hoje em dia há Yellowstone, no início da década o Canis Lupus com as suas várias de 2000, espécie que foi declarada subespécies, agora foi descoberta extinta em 1996, foi um êxito? Ou uma espécie nova no Egito Canis ainda é cedo para tirar ilações? Lupus lupasta. No outro dia, vi uma fotografia de alguém que também FP-F - Foi um êxito! Até porque ultradescobriu um lobo em Marrocos. passou as expectativas. O problema é Também se pode dar o caso de a que foi tal o êxito que neste momento área de implantação poder ser maior ele é controlado fora do parque uma do que se pensava. Se considerarvez que já saiu dos seus limites, as mos o Canis Lupus Lupasta ele pode alcateias cresceram muito mais estar implantado numa área que depressa do que era esperado, atrapode corresponder a todo o Norte de vés dos modelos que se fizeram. Eles África. Agora a genética é que nos são quase todos monitorizados o que Página 18

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permite saber onde é que está o grupo familiar, portanto, isso é um sucesso e até é um sucesso porque os Estados Unidos tem uma coisa chamada Endangered Species Act que obriga o governo federal a promover programas de recuperação de espécies animais e vegetais que estejam ameaçadas de extinção e que obriga o Governo a disponibilizar uma certa verba para desenvolver projetos para recuperar essas espécies, para culminar, se necessário na reintrodução dessas espécies, como foi o caso dos Lobos no Parque Nacional de Yellowstone. Portanto, a reintrodução do lobo foi um sucesso. Está, como já disse, a causar problemas fora do parque, porque os lobos estão-se a reproduzir muito bem e digo-lhe mais, há essa obrigatoriedade de reintrodução mas há também a obrigatoriedade de haver um consenso geral que demorou muitos anos a atingir, entre os conservacionistas, os criadores de gado, o governo, o estado, etc., foram precisos muitos, muitos anos que culminou com a reintrodução dos lobos vindos do Canadá. Outra situação que mostra o êxito da Biologia é o exemplo acabado da diferença de haver um predador ou de não haver no ecossistema. Desde que o lobo desapareceu, toda uma cadeia de espécies estava também a desaparecer: vegetais, animais, basicamente porque tínhamos uma presa que não era controlada e com isso havia espécies vegetais a desaparecer porque eram mais consumidas numa determinada área. Desde que foi introduzido o lobo, melhor dizendo, reintroduzido porque na realidade é uma reintrodução, são coisas completamente diferentes. Do ponto de vista biológico uma reintrodução é diferente de uma introdução que é um flagelo que acabam sempre numa desgraça ambiental. Portanto, com esta reintrodução viu-se os veados a diminuírem de número, a utilizarem os espaços de uma forma diferente, espécies vegetais a reaparecerem, vimos espécies animais, insetos, aves, a voltarem porque algumas já tinham desparecido dessa zona, outras populações que lá tinham ficado quase residuais e portanto, o ba-


Cães & Lobos

Lanço é bastante positivo. E é também um sucesso do ponto de vista do turismo que em Yellowstone aumentou imenso o número de visitantes. No verão é incrível a quantidade de pessoas que vão ao parque para ver lobos. A maioria, senão a totalidade de pessoas que vão lá no inverno é para ver o lobo. O lobo é uma espécie carismática que a sua presença influencia os ecossistemas e influencia muito as emoções, porque nós também fazemos parte dos ecossistemas. Há pessoas a quem o lobo provoca alguns prejuízos e compreendem. Já encontrei pastores dizer que são criaturas de deus, se ele me levar uma, duas, três cabeças… o grande problema é quando os lobos começam a atingir grandes prejuízos e aí é que as pessoas não compreendem porque parece que eles comem mais do que necessitam e não é verdade, eles armazenam e isso não é sempre, não é constante, mas sabe que na vida uma coisa má é ampliada e às boas não damos o mesmo valor.

Entrevista

dizer-nos se se mantém essa população? E as alcateias identificadas mantêm ainda os seus territórios originais, principalmente a norte do rio Douro?

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Bragança, a população está estável.

C&L - O que é que trouxe de positivo para o conhecimento da composição da estrutura genética do Lobo que tem o seu habitat em FP-F - Em termos Portugal, o estudo elaborado pela gerais, a popula- CIBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genétição manteve-se cos da Universidade do Porto) mais ou menos sobre a diversidade e estruturação estável. Apesar genética das populações de lobo de não termos números atualiza- em Portugal, publicada em Dezembro de 2007? dos, e como lhe disse há pouco por causa da FP-F - Esse estudo foi muito imporconstrução das tante porque é uma das necessidaautoestradas, há des que nós temos. Nós vemos um alcateias que desapareceram e que lobo e não sabemos qual a relação nós não conseguimos encontrar indí- que tem com os outros. Um lobo está cios da sua reprodução, portanto, relacionado, por exemplo, com um a parecem ser alcateias que efetivanorte do Douro estando este a sul do mente desapareceram daqueles mesmo rio, significa que há migralocais. Como também lhe referi há ções do Norte para o Sul, mas tampouco, não podemos dizer que única bém não nos diz, por exemplo, se e exclusivamente, foi por causa das atravessou o rio Douro ou se vai por estradas, há as pedreiras de extração Espanha nem nos diz que se o Lobo de granito para exportação, há os que está junto é um lobo da Zona do parques eólicos, etc. A alcateia da Norte de Espanha que migrou ou é Serra da Falperra, onde estão sedia- um filho dele, ou neto que veio dar a das a maior parte das pedreiras, foi um lobo no sul do rio Douro. Portanto uma das que desapareceu e que nós todo esse conhecimento é muito não conseguimos encontrar. Umas importante para nós. E hoje em dia outras próximas estão identificadas, esse conhecimento permite-nos dar mas essa desapareceu. Portanto, há valor a aspetos que há uns anos zonas em que as alcateias e número atrás não conheceríamos, pois não de lobos decresceu, noutras está dominávamos as técnicas, equipaestável e noutras estão a começar a mentos, etc. aparecer, principalmente na zona da C&L - Em que consiste o programa raia entre Douro e Tejo, estamos a assistir a um aumento de lobos, por- “Signatus”? O LOBO EM PORTUGAL tanto aquela zona está a ser recolonizada. Nós agora vamos começar um FP-F - O projeto Signatus foi designaC&L - Entre os anos de 2002 e projeto, ganhámos um projeto life do por nós e que engloba todas as 2003, foi realizado um censo para monitorizar o regresso do lobo ações que desenvolvemos, ou seja, o nacional para determinar a situaali e tentarmos criar condições com Programa Signatus é um programa ção populacional do Lobo em Poros criadores de gado para diminuir os no âmbito do qual nós desenvolvetugal, uma parceria entre o Grupo conflitos que irão surgir. Estes criadomos o projeto do Centro RecuperaLobo e o Instituto da Conservação res não estão habituados à presença ção do Lobo Ibérico, começando com da Natureza, onde o Prof. também do lobo portanto se vem uma ou duas a parte de divulgação ambiental participou, tendo como consealcateias as coisas começam a ser embora já tivéssemos ideias definiquência a produção de um relatómais complicadas. Vamos colaborar das acerca daquilo que queríamos rio técnico bastante completo e com os pastores construindo cercas fazer noutras áreas e a pouco e poupormenorizado. Desse estudo elétricas, doando cães guardadores co começámos a alargar e, portanto, concluiu-se que, nessa altura, de gado, etc. Nós estamos a trabalhar o programa Signatus abrange todos habitavam, em território nacional, já no futuro. Em termos gerais podeesses projetos em que estamos cerca de 300 exemplares. Passamos dizer que nos núcleos principais envolvidos. dos cerca de 10 anos, consegue que são a zona do Geres, a zona de Página 19


Cães & Lobos

C&L - Por esta ser uma revista em que na sua temática também está presente o cão, esta questão é de especial importância. Temos recebido informações de que o programa de entrega de cães de Gado aos pastores, para protegerem os seus rebanhos de ataque de Lobos, tem sido um sucesso. Pode confirmar-nos isso? E de que consta esse programa? FP-F - Tem sido um sucesso de tal forma que se tivéssemos mais fundos mais cães teríamos dado aos pastores. Este projeto recebe pedidos de informação de várias partes do Globo porque nós não nos limitamos a dar o cão às pessoas, nós entendemos que tem que haver uma relação muito grande entre o técnico do Grupo Lobo e o Criador. Nós compramos os cães, principalmente na região de Castro Laboreiro e também tivemos doações de alguns criadores de cadelas principalmente para entrar no projeto inicialmente. A grande maioria dos nossos cães foram entregues no início do projeto. Já demos quase trezentos cães, Castro Laboreiros, Serra da Estrela, e alguns Rafeiros do Alentejo. Nós, depois de doarmos o cão, mantemos o contato com o pastor pagando, em função da disponibilidade financeira, a alimentação e o tratamento veterinário que pode ir até um período de dois anos e depois continuamos a manter a relação com o pastor C&L - Quem é que financia essas despesas? No projeto Life, no âmbito da minimização da construção da barragem do baixo Sabor há uma obrigação a que a EDP está vinculada, resultado das negociações com o Instituto da Conservação da Natureza e da Agência para a Proteção do Ambiente, a de doar cães a pastores da região para minimizarem os prejuízos que têm com o Lobo e minimizar mais o impacto que os pastores têm sobre a população lupina. Temos Página 20

Entrevista pertence ao Grupo EDP que no âmbito da minimização do impacto da construção dos parques eólicos nos deu um montante para nos ajudar neste projeto. Nós já tivemos outros projetos Life. Vamos juntando, dentro das capacidades do Grupo Lobo para manter este projeto que já existe desde 1996 e não tem parado. Realmente temos trabalhado neste projeto desde essa altura e foi um dos primeiros que quisemos lançar pois já sabíamos que era necessário trabalhar, como também sabíamos que era necessário trabalhar com os pastores

como seria necessário trabalhar com os caçadores. Trabalhar, friso a palavra trabalhar, colaborar. Só que as pessoas olhavam para nós de uma forma por vezes sarcástica e de uma forma educada tentavam conter os risos, dizendo-nos que não iriamos conseguir. Nós temos cães com os pastores – infelizmente não os podem levar – mas nós levamo-los a exposições e ganham prémios nas várias classes e os pastores ficam muito satisfeitos porque aquele animal dálhes mais qualquer coisa. Porque é que eles começaram a deixar de ter estes tipos de cães? Porque era mais uma boca para alimentar e agora não, eles veem o cão a afastar um lobo, veem cães a lutar com lobos, não é essa a ideia mas muitas vezes acontece, a ideia é que os lobos se afastem devido à presença do cão. Nós continuamos a monitorizar os cães que damos mesmo depois de terminar o protocolo com os pastores que é de dois anos. Em relação aos criadores, controlamos os acasalamentos através das análises de ADN, falando

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tam os nossos concelhos e acham muito bem. O controlo também se estende aos registos camarários e de LOP dos cães, análises de ADN de todos eles, sabemos quem são os pais a mãe, tudo é rigorosamente controlado, somos nós inclusivamente que pegamos numa cadela e a levamos ao cão que nós selecionamos. Nós é que fazemos tudo. Já houve entidades Americanas que nos escreveram diretamente a solicitar um descente de um determinado cão que trabalha muito bem, e todo o processo é feito por nós.

C&L - Quais são as suas expetativas em relação ao III Congresso Ibérico do Lobo que se irá realizar no último fim de semana de Novembro em Lugo, na Galiza? FP-F - No ponto de vista científico, os Congressos são muito importantes para a troca de experiências e dúvidas e é muito importante, todos nós na Península Ibérica que trabalhamos com a mesma população, conhecermos o trabalho que todos fazemos e, conhecermo-nos pessoalmente, melhora muito o trabalho, a relação, a troca de experiências, etc. Como nos outros anteriores, espero que corra tudo muito bem.


Cães & Lobos

C&L - Por fim, pedia-lhe que comentasse o vosso slogan: “o Lobo em Portugal tem um passado, ainda está presente e merece um futuro”. Esse slogan foi criado por uma rapariga que foi minha aluna e depois foi colaboradora do Grupo Lobo. Um dia apareceu com esta frase e, como achámos muito interessante, pedimos-lhe se a podíamos utilizar porque isto é mesmo aquilo que nós pensamos. O lobo faz parte da nossa cultura judaico-cristã que tem uma influência enorme do lobo, é o animal que dá o melhor amigo do homem, o

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Entrevista

o cão. Nós não percebemos mas ele está presente connosco através dos nossos cães. Tem uma influência brutal na nossa cultura. Como diz esse slogan, o Lobo teve um passado no país, ainda está presente connosco, e é por isso que nós estamos aqui a conversar exatamente para lhe dar um futuro. As mentalidades, felizmente, estão a mudar e o lobo, apesar das alterações dos valores e das sociedades, o que nós temos que fazer é que esses valores melhorem a nossa relação com o lobo. Nós temos que deixar às gerações seguintes a natureza, no caso presente o lobo. Nós não podemos ser acusados de

termos destruído um animal como o lobo. Entrevista: Sílvio Pereira Fotos: Grupo Lobo Google

Acontecimento INAUGURADO PRIMEIRO HOSPITAL PÚBLICO VETERINÁRIO DO BRASIL ção de baixa renda e do movimento de proteção animal. O Hospital fica localizado na Rua Professor Carlos Zagotis, nº 3, no bairro Tatuapé, funciona todos os dias, das 07 às 19h, realiza gratuitamente desde consultas e exames simples a cirurgias oncológicas, além de contar com uma UTI – Unidade de Terapia Intensiva. O Hospital foi implantado através do convênio da Prefeitura de São Paulo com a Anclivepa – SP (Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais), responsável pelos equipamentos e gestão do Hospital. Apesar da medicina veterinária ter avançado muito, milhares de animais domésticos de famílias de baixa renda ainda sofrem e morrem por doenças e ferimentos relativamente simples por falta de tratamento adequado. O vereador e também ambientalista lembra ainda que o Fonte: Revista Veja São Paulo 15/08/12 Foto: Ivan Dias Hospital é uma grande conquista para a saúde pública, pois muitos desses animais vivem em contato diário com suas Cães e gatos já podem ser atendidos gratuitamente no famílias ou pelas ruas da cidade. primeiro Hospital Público Veterinário do Brasil, inaugura- Mas, como a maioria dos hospitais públicos, o Hospital do em Tatuapé, zona leste de São Paulo. O Hospital foi Veterinário abriu suas portas com superlotação. Todos os dias dezenas de pessoas formam uma fila, desde a madruuma conquista do vereador Roberto Tripoli (PV – SP) após muitos anos de trabalho junto à prefeitura da cidade gada, para garantir o atendimento de seus animais. para que realizasse esse projeto em benefício da populaAutoria: Karin Pirá Página 21


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Há 40.000 anos houve no continente europeu um grande desafio: o Homem Neandertal contra o Homo Sapiens! O Homo Neandertal vivia há 100.000 anos no continente europeu e o Homo Sapiens era proveniente de Africa e começou emigrar para Europa há 40.000 anos. Conseguiu-se reconstruir a situação através dos ossos encontrados e analisados com métodos de alta precisão. Os estudos paleantropológicos deixam supor que deve ter havido lutas pelos territórios entre as duas espécies homoides que viviam em simultâneo no mesmo espaço europeu. durante uma grande parte destes anos remotos. Entre os anos 45.000 e 35.000 anos, o Homo Sapiens, o nosso antepassado, expandiu-se claramente, enquanto o Homo Neandertal desapareceu progressivamente até se dar a sua extinção por completo. Não está esclarecida a razão porque o Homo Neandertal foi extinto enquanto o Homo Sapiens conseguiu sobreviver e expandir-se. Existem várias teorias: umas defendem que as alterações climáticas levaram a que o Neandertal não se conseguisse adaptar, outras que o Homo Sapiens tivesse desenvolvido melhores métodos de caça e, consequentemente tivesse expandido progressivamente o seu território. Estudos recentes, publicados na “Science Magazine” de Paul Mellars e Jennifer French da Universidade de Cambridge, mostram que o Homo Sapiens era claramente mais eficaz na caça do que o Homo Neandertal. Encontrou-se em inúmeras cavernas espalhadas pelo continente europeu ocupadas pelo Homo Sapiens um maior número de ossos de caça e de caça mais grossa do que nas cavernas onde vivia o Homo Neandertal. A cientista Mietje Germonpré e a sua equipa do Instituto Belga das CiênPágina 22

Evolução

cias Naturais fizeram uma descoberta sensacional: Ela conseguiu provar com métodos ADN de alta precisão e analises estatísticas que os crânios de lobos encontrados nas cavernas da época paleolítica eram de facto crânios de cães, já com sinais típicos que distingue o cão do lobo. Alguns destes crânios têm mais de 29.000 anos de idade! Esta descoberta permite reconstruir a pré-história humana num outro contexto: O Homo Sapiens domesticou o cão muito mais cedo do que até agora era suposto. Também o cientista russo, Nikolai Owodow da Academia Russa das Ciências Naturais, conseguiu identificar supostos crânios de lobos, sendo de facto crânios que evidenciam nitidamente caraterísticas de cães primitivos. Tal como a americana Pat Shipman, professora no Instituto de Paleontologia de Pensilvânia publicou no “ American Scientist” as suas pesquisas sobre este tema indicam que o cão foi domesticado muito mais cedo do que inicialmente suposto e que existia uma ligação profunda entre o cão primitivo e o homem pré-histórico. Como foi possível que o homem do Paleolítico que vivia em cavernas e se alimentava de caça e de frutos selvagens, utilizando como instrumentos apenas pedras afiadas, começasse a interessar-se pelos lobos que, pouco a pouco, durante um período de vários milhares de anos foram sendo domesticados e se tornaram cães? A vida nessa época remota era cheia de perigos e muito dura. Se faltava a caça, morria-se de fome. Os homens não sabiam conservar os alimentos e a luta pela sobrevivência era constante. O homem do Paleolítico morria, em geral, muito cedo. Inicialmente o lobo e o homem eram inimigos e concorrentes na alimenta-

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Autoria e fotos: Suzette Veiga


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ção. É impossível de reconstituir os acontecimentos dessa época préhistórica, mas podemos imaginar que os restos de ossos deitados fora atraiam alguns lobos solitários, que não estivessem integrados numa alcateia e que tinham assim alguma dificuldade de caçar sozinhos. Esses lobos rodeavam as cavernas à procura de restos de uma caçada abundante. É provável que no início tenha sido o lobo a aproximar-se do homem e não o homem do lobo. Pouco a pouco o homem da caverna começou a aperceber-se de que o lobo podia anunciar certos acontecimentos, a aproximação de grandes animais selvagens ou tribos inimigas etc. O lobo foi deixando de ser um inimigo e tornou-se um aliado, sendo a sua presença tolerada a uma certa distância. A certa altura os lobos que viviam próximo dos humanos tornaram-se animais que dependiam da presença humana. Tornaram-se mais pequenos e o seu focinho mais curto. Estes lobos que se tinham habituado a viver na proximidade das cavernas passaram a seguir os homens quando estes iam caçar, obedecendo a um seu instinto natural. Para o homem desta época tornou-se uma

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Evolução enorme vantagem em ter a colaboração destes lobos nas suas caçadas, os quais ajudavam na perseguição do animal caçado. Conseguiu assim caçar com mais eficácia e mais animais de grande porte, assegurando melhor a sua sobrevivência. Devem ter sido estes os primeiros passos no longo caminho da domesticação do cão. Não é fácil reconstituir o momento em que estes lobos passam a ser considerados cães primitivos. Em comparação ao lobo, o cão Primitivo tinha um focinho mais curto, o crânio tornou-se ligeiramente mais largo e alguns ossos aumentam na densidade e na largura. O crânio mais antigo identificado até hoje foi encontrado numa caverna de Goyet na Bélgica e demostra uma idade de 32.000 anos. Foi precisamente nesta época que o Homem Neandertal desapareceu enquanto que o Homem Sapiens conseguiu expandir-se. Tudo isto porque muito provavelmente houve uma “aliança” entre o homem e o cão. Encontraram-se também indícios que demonstram que o homem préhistórico teve uma certa adoração pelo cão que o ajudava no sucesso de grandes caçadas. Encontraram-se crânios de cães com ossos metidos na boca, um ritual que existia nos funerais desta época, enterrar o morto

com objetos que lhe pertenciam. Neste caso o cão era considerado mais do que um animal de utilidade, mas um aliado estimado. Conclusão destas investigações: sem a ajuda do cão, a evolução do homem dificilmente teria progredido tanto. Nestes recuados tempos, o homem só foi alterando os seus hábitos ao longo de milhares de anos pela força das circunstâncias. Hoje em dia, numa época em que tudo muda tão rapidamente, é difícil imaginar que o homem tenha levado milhares de anos até começar a cultivar certas plantas e cereais e que tenha levado tanto tempo antes de começar a capturar animais vivos para os guardar e comer nas alturas em que havia falta de caça. Sem o cão, estes passos teriam sido impossíveis. O cão iniciou-se assim como ajudante indispensável na caça e na guarda dos bens. Só muito mais tarde foram sendo domesticados todos os outros animais. Ao longo deste enorme período de convivência, o cão foi desenvolvendo um tipo de sensibilidade que tinha por finalidade agradar ao homem, já que a sua vida dependia deste. No entanto, o cão nunca perdeu completamente certos instintos característicos dos lobos.

Conselho

Existem alguns comportamentos que não se devem ignorar. Podem ser o indício de uma atitude agressiva. Neste caso, convém pedir ajuda a um profissional, de modo a corrigir o problema. Se pensa que o seu cão é agressivo verifique os seguintes comportamentos: • • • • • • • • •

Ladrar excessivo; Tendência para rosnar ou morder para proteger a comida; Atitude demasiado protetora em relação aos objectos; Receio em novas situações ou com pessoas desconhecidas; Ataques a outros animais; Tentativas de se agarrar às pernas das pessoas; Rosna quando vai à tosquia ou ao veterinário; Tenta perseguir carros ou bicicletas; Foge frequentemente de casa, e fica muito tempo fora. Página 23

Autoria: Tiago Barreto Foto: Google


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Adestramento

Autoria: André Moreiras Fotos: Google Vamos falar de um assunto que a meu ver tem muito interesse.. Muitos donos de cães têm grande resistência em mudar o hábito de dizer (gritar) continuamente a palavra "NÃO" quando os seus cães fazem (ou fizeram) asneiras. Mas porque é que haviam de mudar esse hábito se com os seus filhos funciona perfeitamente? A questão é: Temos de entender o uso da palavra "NÃO" em termos caninos (e quais as suas consequências) ao invés de humanizarmos as situações dos nossos amigos de 4 patas.

maneira de conhecer o seu meio ambiente. Realmente, sendo cachorrinho não é muito diferente de um bebé humano de dois anos, porém, como não tem mãos usa a boca com mais frequência que uma criança de dois anos.

Quando os donos vêm o cachorrinho a morder a perna da mesa de madeira de carvalho, o José grita logo.. "Não! Pára com isso!" O cachorrinho muito contente continua a mordiscar a mesa de madeira e finge não ter ouvido. O José reage repetindo essa ordem... "Não.. Nãol!" O cachorrinho não presta a mínima atenção e continua a morder como se Ora vejamos, num breve exemplo nada se tivesse passado. pitoresco... O José já frustrado vai ter com o cachorrinho e afasta-o da mesa suaO José e a Maria compraram/ vemente.. o cachorrinho não vai de adotaram um cão para lhes fazer modas, olha para o José, afasta-se companhia, esse cão ainda é cachor- uns passos e faz um belo xixi no tapero pois querem acompanhar o seu te persa da sala que tinha sido caríscrescimento e muito felizes vão bus- simo! cá-lo e trazem-no para casa. O José e a Maria gritam.. "Não!" em Chegam com o cão a casa, metem- uníssono... pegam no cachorrinho e no no chão da sala e o levam-no até ao seu quintal, onde o cão começa a põem no chão enquanto dizem farejar e a em voz severa.. "Cão mau, ficas andar de um aqui e não vais lá para dentro" lado para o A situação é hipotética, mas infeoutro... até lizmente acontece. aqui sem proÉ algo que os donos simplesmenblemas, é te seguem por impulso sem apenas o cão terem noção das eventuais a conhecer consequências que isso podeo seu novo rá ter futuramente. Será esta espaço, uma atitude dos donos cormas reta ou incorreta? entretanto, ele Em termos de adestraconhece a perna de uma linda mesa mento canino verificamos de madeira de carvalho na sala que que estes dois donos estão a lhe cativa o interesse, e depois de a dar continuamente ordens ao cheirar começa a mordiscá-la... visto seu novo cão e ele continuamente as que, sendo um cachorro esta é a ignorou, basta observar. Página 24

Ignorou-as justamente porque ninguém lhe ensinou que aquele comportamento era errado. Nós (humanos) sabemos perfeitamente que o uso da palavra "NÃO" significa que um cão deve parar imediatamente aquilo que está a fazer, no entanto, na situação que eu relatei o cachorrinho ouviu a palavra "NÃO" quando estava a morder a perna da mesa pelo menos duas vezes sem que nada tenha sido feito posteriormente para corrigir essa situação. Resultado final: O cão vai aprender a ignorar a palavra "NÃO", principalmente se esta situação se repetir seis vezes por dia, durante um, dois ou três meses. E claro, este casal fantástico ainda não aprendeu


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os conceitos de prevenção e redireccionamento. Isto é, ainda não aprenderam a ensinar ao seu cão aquilo que deveria roer, para depois o poderem elogiar quando ele rói as coisas que deve. Ou seja, quando puseram o cachorrinho no chão da sala já deveriam ter brinquedos para morder destinados à sua exploração. E mais importante, os cachorrinhos têm a bexiga extremamente pequena e não aguentam as suas necessidades, cabe a nós "donos" colocar o cachorrinho lá fora (ou no tapete de treino) e esperar até que ele se alivie por completo e só posteriormente é que o levamos para dentro de casa ou de uma determinada divisão da nossa casa... após o cachorrinho terse aliviado, deveria ter sido elogiado por isso (e eventualmente premiado com um biscoito) para que o comportamento que acabou de fazer seja considerada uma experiência positiva

Adestramento Então o que ensinaram José e Maria ao seu cachorrinho? a) A não ouvir/ignorar a ordem "NÃO" b) As pernas das mesas estão à disposição e são interessantes para mordiscar. c) A sala é um sítio tão bom como os outros para fazer xixi, aliás, até tem um tapete persa fantástico! d) O quintal pode ser um sítio bonito, porque é para aqui que as criaturas grandes me levam e depois começam a gritar. Obviamente que o José e a Maria não queriam fazer nada disto, acabou por ser uma reação completamente humana.

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Como acontece com tantos outros donos, não se aperceberam de que, se têm um cão, estão a treiná-lo desde o primeiro segundo. O cenário acima descrito não ensinará este cão apenas de uma vez só, mas muitos donos repetem-no ou repetem cenas semelhantes centenas e centenas de vezes, antes de começarem um treino de adestramento "formal" adequado aos seus cães. Muito mais se poderia dizer desta conotação negativa da palavra "NÃO", nomeadamente, porque no nosso dia-a-dia a utilizamos diversas vezes e ao condicionarmos essa palavra ao cão como forma de o corrigir poderemos cair no erro de o cão a associar a uma situação completamente errada. (Exemplo de discurso com outra pessoa que poderá fazer confusão ao cão: "NÃO vás por aí") Eu pessoalmente, como adestrador canino, prefiro fazer um som... "Schhhhht!" ou um "Ai Ai", pois não existirá qualquer possibilidade remota do cão ser induzido em erro.

Máximas “Felizes os cães, que pelo faro descobrem os amigos.” Machado de Assis "Os cães são o nosso elo com o Paraíso. Eles não conhecem a maldade, a inveja ou o descontentamento. Sentar-se com um cão ao pé de uma colina numa linda tarde, é voltar ao Éden onde ficar sem fazer nada não era tédio, era paz." Milan Kundera “Cães amam seus amigos e mordem seus inimigos, bem diferente das pessoas, que são incapazes de sentir amor puro e têm sempre que misturar amor e ódio em suas relações.” Sigmund Freud " ... o amor aos cães costuma ser acompanhado por uma certa perda de confiança no homem " Crônica: Homens e cães - Livro: Montanha Russa Martha Medeiros “Sinto pena pelos que não gostam de cães... pelo simples motivo de que nunca saberão o que é realmente ser amado, de verdade... pois nenhum outro ser vivo nos ama incondicionalmente…” Melissa Salles Compilação: Tiago Barreto Página 25


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Comportamento

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Autoria: Tiago Barreto As histórias de animais que nunca abandonaram os donos, mesmo depois da sua morte, tocam qualquer dono. A dedicação presente na história que se segue elevou os cães a um estatuto de símbolo ou exemplo a seguir. São animais leais que tocaram todos os que ouviram a sua história. Greyfriars Bobby, um longo luto Os cães da raça Skye Terrier são oriundos da ilha de Skye e são conhecidos pela sua lealdade e companheirismo. Bobby, um cão Skye Terrier ainda novo, era o fiel companheiro de um polícia chamado John Gray. John e o cão tornaram-se amigos inseparáveis, estavam sempre juntos, especialmente à noite quando o Bobby não arredava do tapetinho ao pé da cama de John, notadamente durante a doença do seu dono, acometido de tuberculose. Esta cumplicidade perdurou até o ano de 1858, quando John morreu e foi enterrado no cemitério Greyfriars. Seu cãozinho acompanhou o caixão do seu dono até terminar o seu enterro. A partir daquele dia, durante 14 anos, diariamente, Bobby dirigiu-se ao cemitério e permaneceu ao pé da sepultura do seu dono, durante a noite. Mesmo com chuva, frio e madrugadas nevadas, o fiel cãozinho nunca deixou de ir para perto do seu dono, nem a velhice, as doenças e a visão deficiente impediram-no de visitar o lugar que sabia guardar o Página 26

que restava de John. E assim foi até sua própria morte em 1872. Bobby foi encontrado morto, deitado sobre o túmulo de John. Mas, onde ficava e o que fazia Bobby durante o dia, após a morte do seu dono? Ora, não lhe faltaram amigos e pessoas que o alimentassem, pois tornara-se um cãozinho famoso e querido devido à sua amizade e lealdade à memória de John. Além disso,

sábios e belas mulheres. Tinha só um problema, ninguém sabia a hora correta do dia. Tinham suficientes relógios, mas nenhum deles indicava o mesmo horário. Em 1861, a situação foi corrigida quando os servidores públicos da cidade decidiram que fosse feito um disparo de canhão todos os dias no castelo. Desse modo, todos os cidadãos poderiam ajustar seus relógios. Ao mesmo tempo em que esta tradição começou, Bobby ficou amigo de um soldado nos quartéis do castelo, seu nome era Scott, que apresentou a Bobby aos seus amigos e todos deram as boas-vindas ao novo camarada peludo. Uma das responsabilidades do sargento Scott era a de ajudar a disparar o canhão e Bobby sempre o seguia às rampas do castelo para ser testemunha da ação. Imediatamente após o disparo, Bobby se dirigia a um restaurante chamado "The Eating House", onde o dono regularmente lhe dava o seu almoo Castello de Edimburgo era um dos ço. lugares favoritos de Bobby, resultan- O que fez dele uma atração diária. do dessa sua preferência o surgimen- Uma multidão frequentemente reuniato de uma tradição que ligou o cãozi- se nas portas do cemitério ou do resnho ao Castelo de Edimburgo: trata- taurante para esperá-lo. Bobby não se do disparo de canhão que passara perdia tempo com a comida. Nem a ser dado diariamente às 13 hrs. bem terminava, corria para o cemitéConta a lenda que um capitão de rio para se sentar pacientemente ao marinha visitou Edimburgo em 1860. lado da sepultura de John Gray. Quando voltou a seu lar, informou que O cãozinho é uma parte querida da tinha visto uma cidade maravilhosa, história de Edimburgo, a sua coleira cheia de construções e monumentos e o seu prato são preservados na esplêndidos, onde viviam homens Casa Huntly, o museu dedicado à


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Edição Nº 4

Comportamento

Lápide Túmulo de John Gray

cãozinho. Sir William ficou encantado com ele e decidiu pagar por sua história da cidade. licença indefinidamente. Ele deu uma Após a morte de John Gray, Bobby coleira a Bobby, a que se encontra não tinha dono oficial. Era amado e hoje no museu, e um prato de bronze regularmente alimentado pelas famícom a seguinte inscrição: "Greyfriars lias e comerciantes situados ao redor Bobby do Prefeito, 1867, autorizado". do cemitério, mas ninguém tinha A área da cidade antiga por onde pago a sua licença, motivo pelo qual, Sepultura de Bobby Bobby passeava e agora se encontra mais dia menos dia, seria levado sepultado, tem muitos exemplos de pela carrinha até ao canil. Ainda nos dias de clima mais horrível, belos monumentos dos séculos XVII O Sr. James Brown que tratava do Bobby não abandonava sua posição, e XVIII. cemitério, contou como encontrou e com frequência latia naqueles que Um ano após a morte de Bobby, a Bobby deitado sobre o túmulo, à tentavam convencê-lo de que ficasse Baronesa Burdett Coutts mandou manhã seguinte do enterro. Como esculpir uma estátua e uma fonte era proibido a permanência de cães em suas casas. no cemitério, o Sr. Brown perseguia Felizmente para Bobby, o prefeito da para comemorar a vida de um cão cidade, Sir William Chambers era um devoto e a história de uma amizade o cãozinho até tirá-lo dali, mas na amante dos cães. Como chefe do que superou a morte. A estátua está manhã seguinte ele voltava. Uma e município, era um homem poderoso e a poucos passos do cemitério e atrás outra vez Bobby foi afugentado ate quando o assunto da licença de dela, há um pub que leva o nome do que o Sr, Brown ficou com pena e Bobby surgiu, pediu para conhecer o cãozinho em sua honra. permitiu que ficasse.

Evento

III Congresso Ibérico do Lobo Dias 24 e 25 de Novembro de 2012 em Lugo - Galiza - Espanha. Para mais informações e inscrições consulte o Site Oficial do evento em:

www.iiicongresolobo.org Página 27


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Evento

Nos passados dias 07, 08 e 09 de Setembro o Dr. Ian Dunbar, veio a Portugal a convite da Escola Canina “It's All About Dogs” de Cláudia Estanislau, dar um seminário acerca de treino e comportamento canino. Foi um seminário muito interessante e eloquente, o Dr. Ian Dunbar conseguiu explicar de uma forma simples e muito simpática todas as grandes dúvidas dos donos e dos profissionais da área de treino canino. Resumidamente, foram abordadas no seminário as seguintes temáticas: 1º dia - Treino sem Trela com Luring e Recompensas Uma vez que a técnica de luring permite-nos prever precisamente quando é que o cão irá efetuar um comportamento desejado, o treino através de luring e recompensa permitenos começar a associar o comando verbal ao comportamento desde o primeiro treino, permite-nos ensinar sinais gestuais em cerca de 12 tentativas, permite-nos implementar esquemas de reforço diferenciais desde o segundo treino e permitenos ensinar sinais verbais para vários comportamentos ao mesmo tempo. 2º dia - Preveja e Previna Problemas de Comportamento e Temperamento Como prever e prevenir tudo o que pode correr mal durante a adolescência – os muitos problemas de comportamento e temperamento que se criam enquanto cachorros, usualmente só se manifestam mais tarde – necessidades nos locais errados, destruição, ladrar excessivo, ansiedade por separação, medos e agressão a humanos e outros cães. Existe grandes deficiências na educação básica dos cachorros que levam à drástica diminuição da qualidade de vida de muitos cães e dos seus donos ou para muitos cães pode mesmo levar à morte. 3º dia - Comportamento Social Canino e o seu relacionamento com a Dominância no treino de cães “Dominância” é certamente o tópico mais confuso no treino e comportamento dos cães. Uma interpretação errada do comportamento dos lobos foi aplicada aos cães e em seguida uma série de mal entendidos no comportamento entre cães foi extraordinariamente extrapolado para o treino e as interações humano-caninas. As noções erradas das hierarquias supostamente físicas e dominantes são muitas vezes usadas Página 28

Autoria: André Moreiras

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Evento

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Quem é Ian Dunbar

como justificação (e desculpa) para o uso de punições físicas e dolorosas durante o treino de cães e especialmente quando se tentam resolver problemas de agressão e lutas.

O Dr. Ian Dunbar é um veterinário, comportamentalista animal e escritor. Recebeu o diploma de veterinário e uma Honra Especial em Fisiologia e Bioquímica do Colégio Real Veterinário da UniverEsta visão simplista do comportasidade de Londres e recebeu também um Doutoramento dos cães é um insulto aos mento em comportamento animal do Departamencães. Os cães domésticos vivem to de Psicologia da Universidade de Califórnia em juntos e desenvolvem sofisticadas e Berkeley, EUA, onde passou dez anos a investigar complexas estruturas sociais e os a comunicação olfactiva, o desenvolvimento do cães que habitam sozinhos precisam comportamento social hierárquico e agressão nos de ter competências sociais impecácães domésticos.O Dr. Dunbar é membro do Colégio Real de Cirurgia Veteriveis para conhecer, relacionar e conhecer cães completamente des- nária, da Sociedade de Etologia Aplicada, da Sociedade Veterinária Americana de Comportamento Animal, da Associação Médico-Veterinária da Califórconhecidos que encontram todo o tempo (na verdade as competências nia, da Associação Médico-Veterinário Sierra e da Associação de Treinadores sociais humanas comparativamente de Animais Domésticos – APDT - (fundada por ele). são muito mais fracas). Mais perturO Dr. Dunbar juntou-se à Sociedade Veterinária de Etologia (agora chamada bante, a aplicação desmedida do domínio físico (por parte dos huma- de Sociedade Internacional de Etologia Aplicada) há mais de 35 anos, sendo que na altura era o único membro especializado em problemas de comportanos) no treino tem tido um impacto extremamente negativo na qualidade mento de cães e gatos. Mais tarde esteve envolvido no estabelecimento da de vida dos cães e dos seus donos. SVE Americana (hoje em dia conhecida como Sociedade Veterinária Americana de Comportamento Animal).Escreveu numerosos livros, incluindo “How Mas mais importante que tudo, o Dr. to teach A New Dog Old Tricks”, o “Good Little Dog Book” e uma série de Ian Dunbar ensinou a conhecermos livros pequenos acerca de comportamento – cada livro focando-se num problemas comportamental frequentemente encontrado no cão. Gravou mais de melhor o nosso cão e a sabermos onze DVDs acerca de treino e comportamento de cachorros e cães, incluindo respeitá-lo. o “SIRIUS® Puppy Training”, “Training Dogs with Dunbar” e “Every Picture Tells a Story”. Todos estes vídeos ganharam vários prémios. Os cães são os nossos melhores amigos, temos de aprender a ser Por mais de trinta anos que o Dr. Dunbar dá seminários a veterinários e clumelhores donos conhecendo por completo todas as necessidades do bes de cães. Na realidade desde 1986 ele já efectuou mais de 800 dias de seminários e workshops para treinadores e veterinários por todo o mundo. nosso cão por forma a podermos treiná-lo de uma forma simples, ade- Existem poucos treinadores actualizados que não foram fortemente influenciados pelos jogos, treino e perspectiva divertida do Dr. Dunbar. quada e positiva. O cão tem que gostar da nossa companhia e de treinar (brincar) connos- No campo dele, não há comparação com o trabalho desenvolvido pelo Dr. co, e assim sendo dever-se-á excluir Dunbar. Não existe outra pessoa com as suas qualificações, experiência e quaisquer métodos aversivos de trei- capacidades no mundo do treino e comportamento canino , campos nos quais o Dr. Dunbar desempenha um papel predominante há mais de 25 anos. no com punição física e dolorosa.

Livro recomendado Sinopse Título: O Filósofo e o Lobo Autor: Mark Rowlands Editora: Lua de Papel

Página 29

No dia em que Mark Rowlands comprou um Lobo, teve a sua primeira grande lição sobre a espécie: os lobos não gostam de ficar sozinhos. Ao regressar a casa encontrou-a completamente destruída. Começava assim a estranha amizade entre um professor de filosofia, misógino e alcoólico, e o seu imponente Lobo de 70 quilos. O Filósofo e o Lobo é uma história real de uma amizade de doze anos entre um homem e um lobo. É um ensaio sobre o que nos separa (e aproxima) dos animais, é um tratado sobre a lealdade. Mas é também, acima de tudo, uma narrativa comovedora, pungente, sobre o que significa ser-se humano - e sobre o que podemos aprender com os lobos.


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Notícias

Cães enterrados vivos são resgatados Uma casa para o Ol Boy Uma denúncia alertou a RSPCA (The Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals) - Sociedade Britânica de Proteção aos Animais - para eventuais maus tratos de animais por parte de um casal que se dedicava à criação de cães. Através de uma investigação local, deu-se a descoberta de duas crias recém nascidas, enterradas no jardim. Os agentes da RSPCA tentaram resgatar os animais a tempo de os salvar, contudo a desidratação e o sofrimento em que se apresentavam impossibilitaram o salvamento, tendo sido abatidos poucos minutos depois. Para além das crias, mais de vinte cães da raça Staffordshire Bull Terrier foram encontrados no local em condições precárias, presos em pequenas jaulas, sem quaisquer condições sanitárias apresentando também um estado de saúde débil. James Perks de 74 anos e a sua mulher Lorraine de 49, foram condenados a uma pena de prisão de 25 semanas por crueldade animal.

U cão foi encontrado nas ruas de Singapura, esfomeado, desidratado e incapaz de se mover. O grupo de ativistas batizaram-no de - Ol Boy - e tenaram salvar-lhe a vida, contudo os esforços fora em vão. Resgatado e levado para o veterinário, todos os esforços foram feitos para salvar o animal, mas a deteção de uma infeção generalizada deixou claro que este cão não tinha hipótese de sobreviver. Porém, o grupo de ativistas tomou uma decisão diferente do esperado e em vez de abater o animal, optaram por levá-lo para casa e cuidar dele até à hora da sua morte. A ideia foi de dar, pela primeira vez na vida deste cão, carinho e afeto que durante a sua vida de maus tratos nunca teve. “Ficámos a seu lado e tentávamos confortá-lo sempre que gemia e uivava de dor", disse um dos ativistas. O grupo que criou e mantem o site www.saveourstreetdogs.com, dedicado ao salvamento de cães vadios nas ruas de Singapura, realizou um funeral a Ol Boy com todas as honras e publicou o vídeo na Internet, na esperança que a sua história alerte a sociedade para os maus-tratos dos animais de rua.

Revista Sábado, Julho 2012

Revista Sábado, Agosto 2012

Cão não abandona dono que morreu há seis anos

Chamou a polícia após receber telefonema do cão

El Capitan - é um pastor alemão que chegou à familia Guzman em 2005. Um ano depois o seu dono faleceu. Na semana seguinte o cão fugiu de casa e para surpresa da família foi encontrado no cemitério local, em Concórdia, na Argentina, onde permanece há seis anos. "Durante o dia vagueia, mas às seis em ponto regressa sempre ao local onde o dono está enterrado, deita-se no topo da campa e aí permanece toda a noite", revela o diretor do cemitério. O veterinário local explica que apesar de nunca lhe ter sido mostrado o local onde estava o dono, o cão tê-lo-á encontrado através do alfato: "São capazes de detetar pessoas enterradas a dez metros de profundidade." O cão divide o se tempo entre o cemitério e a casa de família. mas regressa sempre para a companhia do seu dono antes do anoitecer.

Um homem chamou a polícia após receber um telefonema do cão. Foi isso mesmo que aconteceu, segundo um relatório da polícia de Orem, no estado norte-americano do Utah. A história, no entanto, é mais simples do que à primeira vista parece. Bruce Gardner temeu que a sua casa pudesse estar a ser assaltada quando o seu telemóvel tocou e do outro lado ouviu apenas sons estranhos, como coisas a bater e a raspar. Este norte-americano contactou, de seguida, a polícia, que ao deslocar-se a sua casa encontrou tudo em ordem, inclusive o cão, Maya. Bruce percebeu, depois, que teria sido Maya a telefonar para si, ao pressionar a tecla de repetição da última chamada enquanto brincava com o telefone sem fios.

Revista Sábado, Setembro 2012

Revista Sábado, Outubro 2012

Buraka Som Sistema lançam videoclip de sensibilização para o abandono O novo videoclip dos Buraka Som Sistema quer chamar a atenção para o problema dos animais abandonados, pois em tempo de crise, há cada vez mais cães e gatos entregues nas associações e canis municipais. Foi lançado este mês, a propósito do Dia do Animal. SIC, Outubro 2012 Página 30

Compilação: Anabela Guerreiro


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Sabia que...

... O olfato canino é um milhão de vezes mais sensível que o humano. Sua vantagem está no tamanho da membrana nasal e da quantidade de células dos recetores olfativos. Enquanto nos humanos a membrana tem um tamanho de cerca de 165m³, a canina tem aproximadamente 2.290 cm³. Isso faz com que um pastor alemão tenha cerca de 220 milhões de recetores contra o...

... Pela primeira vez, neurologistas dos EUA foram capazes de gravar imagens do cérebro de um cão acordado através de uma ressonância magnética. Os cientistas treinaram animais especialmente para aprender a tolerar os exames dentro do tomógrafo durante a captura da imagem. Os pesquisadores esperam descobrir como pensam os cães e qual o segredo de sua comunicação com os humanos. O estudo está sendo realizado por pesquisadores da Universidade Emory, em Atlanta, Geórgia.

A bióloga Silvia Ribeiro foi galardoada com o 2º lugar no Prémio Terre de Femmes 2011, um justo reconhecimento ao empenho e trabalho que tem desenvolvido no “Programa Cão de Gado”, iniciado em 1996 pelo Grupo Lobo. Este Programa tem por objetivo fomentar a utilização de métodos de proteção do gado, socialmente aceites e ambientalmente sustentáveis, que permitam a redução dos prejuízos causados pelos lobos nos animais domésticos e, desta forma, o aumento da tolerância das comunidades rurais para a presença deste predador ameaçado. s 5 milhões dos humanos.

... A raça mais pequena é o Chihuahua, cujo peso aceite é 0,9-2,75 Kg. O Museu de História Natural da Cidade do México tem o esqueleto de um Chihuahua completamente desenvolvido medindo apenas 18 cm de comprimento total. Não há um peso atribuído a este cão, que foi apresentado em 1910, mas estima-se que, pelos seus ossos, não poderia ter pesado mais de 500g.

... O biólogo Inglês Rupert Sheldrake, da Universidade de Cambridge, acredita que os cães têm uma conexão telepática com seus donos, embora a existência de telepatia seja descartada pela maioria dos cientistas. Numa das suas experiências, uma mulher é monitorada enquanto está a fazer compras, assim como seu cão, que permaneceu em casa. Num momento aleatório, o cientista pede à mulher que volte para casa. Onze segundos depois, na sua sala o seu cão levanta-se e vai para a porta. Ele fica lá até á chegada da sua dona. Sheldrake acredita que os cães e seus donos estão conectados à distância, ao que nome de campo amórfico, uma espécie de elástico invisível. A maioria dos cientistas rejeitou as teorias do pesquisador, dizendo que o comportamento animal pode ser explicado por hábitos ou ansiedade.

... Cães que viajavam no Titanic também são lembrados. Está a decorrer na Universidade de Widener, na Pensilvânia, uma exposição que aborda uma parte da história até hoje pouco falada. Esta exposição aborda a presença de 12 cães que viajavam no fatidico navio quando este se afundou, faz 100 anos. Dos 12 cães a bordo, só 3 sobreviveram ao naufrágio, dois Spitz Alemães e um Épagneul Pequinês, e é principalmente sobre estes e sobre o que lhes aconteceu que a exposição mais se foca. Concluiu-se que se salvaram devido ao facto de serem pequenos e da sua presença nos botes salvavidas não por em questão a sobrevivência de nenhum passageiro.

... Joana Bessa, do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), da Universidade do Porto, diz que os cães também são contagiados pelo bocejo dos humanos e reagem mais se for o seu dono, uma característica que pode refletir empatia e ser útil na seleção dos animais para ajudar em determinadas situações.

... O cão possui duas glândulas próximas ao ânus responsáveis pela liberação de uma substância de cheiro muito desagradável (pelo menos do ponto de vista humano). Essas glândulas têm um papel muito importante no reconhecimento entre os cães. A atitude do cão em cheirar o ânus de outros cães significa um "aperto de mão" entre eles.

Página 31

Compilação: Vanessa Correia


Formamos: Cães & Lobos

Edição Nº 1

Profissionais competentes... Departamento de Formação do:

CENTRO CANINO DE VALE DE LOBOS

Presencial Curso destinado a todos aqueles que nutrem uma paixão pelos cães e por todos os mecanismos que têm a ver com o seu comportamento. Nesta situação enquadram-se os Adestradores caninos, os Veterinários e os Tratadores, mas fundamentalmente é destinado a todos aqueles que, não tendo formação nesta área, têm como sonho trabalhar com cães, não só lúdica como profissionalmente. Este Curso tem a vantagem de ser composto no máximo por 4 formandos.

Primeiro curso administrado em Portugal com base nas últimas investigações científicas desenvolvidas na área da aprendizagem canina Estrutura Programática do Curso

Módulo 1

(teórico)

1.1 CONHECER O CÃO 1.1.1 1.1.2 1.1.3 1.1.4 1.1.5 1.1.6

Conhecer como funciona um cão O Carácter num cão O Temperamento num cão A Comunicação canina Os Instintos Básicos caninos Conhecer o cão que se vai adestrar

1.2 MÉTODOS DE ADESTRAMENTO 1.2.1 Métodos de Adestramento 1.2.2 Traçar objetivos 1.2.3 Escolher o melhor método de Adestramento 1.2.3.1 Em função do cão 1.2.3.2 Em função do dono 1.2.3.3 Em função dos objetivos 1.2.4 As várias fases do Adestramento

1.3 CONDICIONAMENTO OPERANTE 1.3.1 1.3.2 1.3.3

Definição O que é o Clicker O treino com Clicker

Módulo 2

(prático)

2.1 O ADESTRAMENTO EM OBEDIÊNCIA SOCIAL 2.1.1 Material de adestramento 2.1.1.1 Material de contenção 2.1.1.2 Material de assistência 2.1.1.3 Material didático 2.1.2 Postura corporal do adestrador 2.1.3 Desenvolvimento da motivação do cão 2.1.4 Condicionamento e aquisição de hábito 2.1.5 Exercícios de Obediência Básica 2.1.5.1 Exercício de andar ao lado 2.1.5.2 Exercício de sentar 2.1.5.3 Exercício de deitar 2.1.5.4 Exercício de deitar e ficar quieto 2.1.5.5 Exercício de chamada

2.2 SOCIABILIZAÇÃO 2.2.1 Sociabilização intraespecífica 2.2.2 Sociabilização interespecífica

1.4 O ADESTRADOR 1.4.1 1.4.2 1.4.3

Exigências Físicas Exigências Mental Ética profissional

… e donos responsáveis! Página 1


Formamos: Cães Cães & & Lobos Lobos

Entrevista

Edição Edição Nº Nº 1 4

Profissionais competentes... Departamento de Formação do:

CENTRO CANINO DE VALE DE LOBOS Módulo 3

(prático)

3.1 ADESTRAMENTO EM GUARDA E DEFESA 3.1.1 Determinar as aptidões do cão 3.1.2 O Figurante (Homem de ataque) 3.1.2.1 Vestuário 3.1.2.2 Equipamento 3.1.2.3 Formação 3.1.3 O trabalho de motivação 3.1.4 O treino técnico das mordidas 3.1.5 O treino da inibição da mordida (larga) 3.1.6 O treino da fuga do figurante 3.1.7 O treino da busca do figurante 3.1.8 O treino do ataque surpresa ao guia 3.1.9 O treino do ataque longo

Módulo 4

(teórico)

4.1 COMPORTAMENTOS ANÓMALOS E DESVIANTES 4.1.1 Agressividades 4.1.1.1 Definição e tipologias 4.1.1.2 Tratamento 4.1.1.3 Prevenção de agressividade por complexo de controlo

4.1.2 Micção ou defecação inadequadas 4.1.2.1 Definição 4.1.2.2 Tratamento 4.1.3 Ansiedade por separação 4.1.3.1 Definição 4.1.3.2 Tratamento 4.1.4 Fobias 4.1.4.1 Definição 4.1.4.2 Tratamento 4.1.5 Manias Maternais 4.1.5.1 Definição 4.1.5.2 Tratamento 4.1.6 Hiperatividade e hiperexceptibilidade 4.1.6.1 Definição 4.1.6.2 Tratamento 4.1.7 Comportamentos estereotipados 4.1.7.1 Definição 4.1.7.2 Tratamento 4.1.8 Ingestão Inadequada 4.1.8.1 Alimentação Estranha 4.1.8.2 Coprofagia 4.1.8.3 Objetos 4.1.9 Síndrome de Disfunção Cognitiva 4.1.9.1 Definição e Sintomas 4.1.9.2 A importância de um Diagnóstico Correto 4.1.9.3 Prognóstico 4.1.9.4 Tratamento

Curso intensivo de formação de monitores de adestramento científico canino (presencial) Curso destinado a todos aqueles que nutrem uma paixão pelos cães e por todos os mecanismos que têm a ver com o seu comportamento. Nesta situação enquadram-se os Adestradores caninos, os Veterinários e os Tratadores, mas fundamentalmente é destinado a todos aqueles que, não tendo formação nesta área, têm como sonho trabalhar com cães, não só lúdica como profissionalmente Características do Curso Tipo de Curso: Curso presencial ministrado em sistema intensivo de 15 dias de duração, com uma carga horária lectiva diária de 4 horas, incluindo as componentes prática e teórica. Início do Curso: A combinar com o formando Local das Aulas: Campo de Trabalho do Centro Canino de Vale Lobos – Vale de Lobos - Sintra Método de Ensino: Científico Quantidade de Alunos por Curso: 1 Documento fim de Curso: Certificado com informação detalhada sobre as avaliações intercalares e finais e matéria leccionada

Estrutura Programática do Curso Módulo 1 (teórico) Módulo 2 (prático)

Do Curso de duração normal

… e donos responsáveis! Página Página 131


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Adestramento Canino

Anabela Guerreiro - Treino e Avaliação de Comportamento Canino - Pet-sitting Visite-nos em: http://mydogcenter.blogspot.com/ Email: mydogcenter@gmail.com Telef. 966 159 407

www.pipinhaecompanhia.net 31 Página 34

Zona: Algarve


Cães Cães & & Lobos Lobos

Entrevista Publicidade

Edição Edição Nº Nº 4 4

Visite-nos em: www.adestramentoresponsavel.com Email: adestramentoresponsavel@gmail.com Telef. (21) 3435 4776 / (21) 9262 5111 Atendimento na zona sul do RJ. Para outras localidades atendimento via Skype.

Érika Rocha.  

Obediência Canina Problemas Comportamentais

Atendimento ao Domicilio

Fone: (32) 3331-2284 ou (32) 8876-2653. Barbacena - MG BRASIL Página Página 35 31

Brasil


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Ficha Técnica

Edição Nº 4

Cães & Lobos Nº 4

Propriedade:

Centro Canino de Vale de Lobos

www.ccvlonline.com contacto@ccvlonline.com Edição:

Dep. Divulgação do CCVL http://Comportamentocanino.blogspot.com

Colaboradores Revista Digital de Cães e Lobos Editor:

Sílvio Pereira sp@ccvlonline.com Colaboraram nesta Edição:

Anabela Guerreiro, André Moreiras, Karim Pirá, Paula Leal, Suzette Veiga, Tiago Barreto, Vanessa Correia Paginação e execução gráfica:

Sílvio Pereira Nota:

Todo o material publicado nesta edição é da exclusiva responsabilidade dos seus autores. _________________________ Página web: http://revistacaeselobos.weebly.com

Página 36

Anabela Guerreiro anabelapg@iol.pt André Moreiras a_moreiras@sapo.pt Karim Pirá adestramentoresponsavel@gmail.com Paula Leal paulaleal76@gmail.com Suzette Veiga suzette.veiga@sapo.pt Tiago Barreto tjoaobarreto@gmail.com Vanessa Correia fairy_butterpsy@hotmail.com


Formamos:

Profissionais competentes... Departamento de Formação do:

CENTRO CANINO DE VALE DE LOBOS

Curso destinado a todos os proprietários que queiram adestrar os seus cães em casa (portanto, no seu território) evitando assim as sempre stressantes e por vezes traumatizantes idas às escolas de treino canino. Características do Curso Início do Curso: Imediato Método de Ensino: Científico Documento fim de Curso: Diploma final de Curso com a qualificação obtida. Tempo médio despendido com o curso: De 2 a 4 meses ou 200 horas (varia em função da disponibilidade e da aplicação do aluno). A quem é dirigido este Curso: Com este Curso o dono dispensa as sempre angustiantes e traumáticas idas às escolas de treino, uma vez que o cão aprende no seu próprio território, portanto, qualquer pessoa está em condições de frequentar este curso, a única limitação prende-se com a obrigatoriedade de possuir um cão (seja ele de que raça for) uma vez que numa das fases do Curso terá que aplicar na prática, as técnicas que vão sendo estudadas. Perspectivas de conhecimentos adquiridos no final do Curso: Excelente bagagem técnico/teórica e conhecimento profundo do aspeto funcional do cão, assim como uma identificação da interação dos mecanismos da aprendizagem com os vários tipos de condicionamento. No aspeto prático adquire-se um conhecimento básico dos princípios gerais do Condicionamento Operante assim como a utilização do clicker como instrumento fundamental no moderno treino científico canino. Resumindo, o formando fica perfeitamente preparado não só para poder treinar o seu cão positivamente mas também para compreender a sua linguagem, o seu carácter, a sua personalidade e o seu temperamento.

Estrutura Programática (resumida) Módulo 1 (teórico) 1ª Parte - Conhecer o Aspeto Funcional do Cão 2ª Parte - O Carácter e o Temperamento num Cão 3ª Parte - A Comunicação Canina 4ª parte - Os Instintos 5ª Parte - Condicionamento Operante 6ª parte - Descobrir o Clicker

Módulo 2 (prático) 7ª Parte - O Adestramento em Obediência Social 8ª Parte - Motivar e Condicionar o Cão 9ª parte - Exercícios de Obediência Básica 10ª Parte - Sociabilização

http://formacaoccvl.weebly.com/curso-on-line-de-adestramento-positivo-canino.html

… e donos responsáveis!


Formamos:

Profissionais competentes... Departamento de Formação do:

CENTRO CANINO DE VALE DE LOBOS

Características do Curso Objetivos do Curso: Formar técnica e cientificamente através da aquisição de conhecimentos sobre a identificação, diagnóstico, tratamento e prevenção dos Comportamentos anómalos, desviantes e patológicos dos cães que vivem integrados na sociedade humana. É um Curso abrangente uma vez que é transversal a todos os Problemas Comportamentais dos canídeos domésticos. Início do Curso: Imediato Método de Ensino: Científico Documento fim de Curso: Diploma final de Curso com a qualificação obtida. Tempo médio despendido com o curso: +/- 3 meses ou 200 horas (varia em função da disponibilidade e da aplicação do formando). A quem é dirigido este Curso: Este Curso é dirigido a todos os Adestradores Caninos que sentem dificuldades na interpretação e tratamento destas patologias cada vez mais presentes na interação dos cães com os seus donos e o meio envolvente. Mas também a todos os interessados na temática do Comportamento Canino e nas alterações causadas por via da domesticação. Perspetival de conhecimentos adquiridos no final do Curso: Excelente bagagem técnico/científica e conhecimento profundo de todos os mecanismos ligados ao processo de interpretação, diagnóstico, tratamento e prevenção das Patologias do Comportamento. No final do mesmo, o formando fica em condições de, conscientemente, resolver todos os problemas ligados à área Comportamental.

Estrutura Programática do Curso Tema 1 - Como Funciona um Cão Tema 2 - O Carácter Tema 3 - O Temperamento Tema 4 - A Comunicação Canina Tema 5 - Os Instintos Básicos de Sobrevivência Tema 6 - Os Condicionamentos Tema 7 - As Agressividades Tema 8 - Ansiedade por Separação

(Resumido)

Tema 9 - Síndrome de Disfunção Cognitiva Tema 10 - Fobias Tema 11 - Manias Maternais Tema 12 - Hiperatividade e Hiperexcitabilidade Tema 13 - Comportamentos estereotipados Tema 14 - Ingestão Inadequada Tema 15 - Eliminação Inadequada

http://formacaoccvl.weebly.com/curso-de-psicologia-canina.html

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