Versus Magazine #18 Fevereiro/Março 2012

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NOCTE OBDUCTA «Verderbnis (Der schnitter kratzt an jeder tür)» (MDD) Apesar de contarem já com oito álbuns gravados e quase vinte anos de carreira, são ainda um nome bastante obscuro na cena black metal europeia. Quem teve a felicidade de descobrir como eu os fantásticos trabalhos mais recentes da banda, nomeadamente o épico «Nektar», publicado em duas partes, em 2004 e 2005, bem como o experimental «Sequenzen einer Wanderung», poderá ficar agora surpreendido com o aparente retorno às origens protagonizado por este novo álbum. De facto, depois dum interregno que teve o seu início em 2008, a formação alemã decidiu que uma espécie de regresso à fase mais extrema da banda era a forma mais apropriada de assinalar o retorno dos Nocte Obducta. Vai daí que convidaram uma série de ex-membros e, num espaço de cerca de um ano, gravaram «Verderbnis», um trabalho que recupera deliberadamente uma parte da sonoridade passada, misturando-a com alguns traços da sofisticação avantgarde mais recente (especialmente notórios no tema “Obsidian zu pechstein”) juntamente com uma vasta gama de influências que vão desde a crueza básica do punk (patente, por exemplo, em “Niemals gelebt”) até às referências aos post-tudo-e-mais-alguma-coisa. O resultado é, inevitavelmente, um álbum mais directo, com temas mais breves, e que faz até um certo sentido como álbum de recomeço para os Nocte Obducta. Contudo, o que é pena é que este é também um registo criativamente inferior àquilo a que a banda germânica nos habituou, e que tem, além disso, pouco de interessante para oferecer no contexto actual da música extrema. [6.5/10] Ernesto Martins ORANGE GOBLIN «A Eulogy for the Damned» (Candlelight Records) Guardiães zelosos dos pergaminhos fundamentais do doom metal sabathiano, os Orange Goblin são, a par de outras formações emblemáticas como os Kyuss e os Electric Wizard, uma daquelas bandas para quem a essência do heavy metal se resume a uma certa sonoridade vintage e a uma atitude que liga rebeldia a um fascínio indisfarçável pelo místico. Lançado oficialmente (e orgulhosamente) no mesmo dia do calendário em que os Black Sabbath publicaram, em 1970, o seu álbum de estreia, «A Eulogy for the Damned» é um disco onde a assinatura stoner do colectivo londrino – plena de vocalizações roucas e riffs potentes e groovy – aparece marcada por ritmos mais puxados ao meio-tempo, com uma desenvoltura mais rock’n’roll ao estilo duns Motorhead. As super catchy “Stand for something” e “The filthy & the few” sobressaem de imediato como as faixas mais irresistíveis, constituindo hits de rádio garantidos se a oportunidade lhes for concedida. Mas o termo ‘stoner’ não reflecte com rigor o que a banda apresenta neste sétimo registo de estúdio. Por exemplo, a deliciosa “Save me from myself” remete para um hard rock mais light e bluesy, que traz de imediato à memória colectivos lendários como Bad Company ou Lynyrd Skynyrd. Já o tema-título do álbum – o melhor aqui em oferta – apresenta uma refrescante digressão muito 70s através dum riff principal que tem tudo a ver com Led Zeppelin ou Thin Lizzy. É exactamente esta capacidade de beber de várias fontes, aliada a uma habilidade criativa que nos deixa sempre a agitar alguma parte do corpo, que faz deste um trabalho a não perder. [8/10] Ernesto Martins SERPENTIA «The Day in the Year of Candles» (Recession Records/Fantom Media) Os Serpentia são uma banda polaca que nasceu em 1996 em Cracóvia. Passaram por um hiato de sete anos sem editar nenhum álbum novo aparecendo em 2011 com o seu recente trabalho intitulado «The Day in the Year of Candles». Este álbum é uma interessante história que começa quando Deus desaparece de forma misteriosa do paraíso e o arcanjo Gabriel declara o paraíso como uma república, decisão esta que despoletou uma guerra carregada de traição e conspiração no paraíso, no inferno e na terra. “Pain” (dor) é a palavra mais repetida ao longo das várias músicas, sendo o sentimento mais notório de uma guerra que mesmo sendo “divina” não passou incólume a este sentimento. Os Serpentia cortam um pouco com a sonoridade do passado, apresentam-nos um death metal melódico com atmosferas progressivas de grande qualidade, a voz do Ivy muito interessante capaz ela só por si só causar “Pain” e muito bem guardada pelo seu baixo, a bateria do Phoenix e a guitarra do Damian com riffs atraentes e solos cheios


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