Versus Magazine #25 Abril/Maio 2013

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Sejam bem-vindos a mais uma dose maciça de entrevistas, como habitualmente com bandas para todos os gostos dentro do vasto espectro da música extrema, desde o death/prog dos grandes Amorphis ao musette black metal dos inovadores Pensées Nocturnes, passando pelo neoclássico dos singulares Chaostar até ao death mais ortodoxo dos regressados noruegueses Aeternus. Temos ainda os Monolith Deathcult, cujo último trabalho distinguimos como álbum do mês e, é claro, a nossa banda de capa, os Aborym, colectivo que se mantém com a mesma relevância de outrora no panorama black-metal industrial, e da qual vos apresentamos uma entrevista com o seu mentor Malfeitor Faban. Chamo a vossa atenção para a rubrica Reflexões Musicais, de Dico, que a partir desta edição volta às páginas da VERSUS, e que aborda a conferência “Heavy Metal and Popular Culture” que aconteceu em Abril passado numa universidade dos States. Finalmente destaco também a secção retroVERSUS, que inclui desta vez uma singela e merecida homenagem ao malogrado Clive Burr, baterista dos icónicos Iron Maiden, que faleceu no passado mês de Março. Mas há muito mais nas páginas que se seguem. Leiam, divulguem e escrevam-nos como sempre para versusmagazinept@gmail.com.

Ernesto Martins


O círculo não se fechou


Não se fechou, nem há previsões de que vá fechar. Este «Circle», décimo primeiro álbum da banda, prova precisamente que os Amorphis continuam num bom caminho, um caminho pouco linear, com vários cruzamentos e trilhos sinuosos. Contudo, a banda finlandesa, que pouco tem a provar, mostra uma garra muito bem-vinda neste «Circle», que pareceu estar esvanecida no álbum anterior, «The Beginning of Times», apesar das boas criticas. A VERSUS Magazine falou com o Niclas Etelävuori (baixista) para perceber que círculo é este que nos propõem. Eduardo Ramalhadeiro – Parabéns pelo novo álbum. Quão bem ele está a ser recebido? Já tocaram alguns temas ao vivo? Niclas Etelävuori - Obrigado. Até agora só li duas reviews e foram boas. Penso que virão muitas mais brevemente. Tocámos “Shades of grey” e correu como “faca quente em manteiga”, apesar de ninguém ainda conhecer o tema. Porque soa muito mais pesada destacou-se de alguns temas mais antigos. Victor Hugo – 22 anos de Amorphis e sinto que vocês ainda têm muito para dar. Para vocês deve ser um desafio terrível, manter a inspiração todos estes anos para compor tão boa música. Como te sentes com o teu trabalho? Bem, para nós tornou-se um estilo de vida e é muito difícil imaginarmo-nos a fazer outra coisa. Penso que, ano após ano, ainda nos tornamos músicos melhores e cada vez o resto da malta contribui mais para a composição, por isso, está-se a tornar mais fácil à medida que avançamos. O line-up tem-se mantido desde há muitos anos e, portanto, conhecemo-nos muito bem e isso torna o nosso trabalho menos complicado. ER – 11 álbuns em 22 anos. Eu e o Victor concordamos em dois pontos: o nosso álbum menos favorito é «Far From The Sun» e «Tales From The Thousand Lakes» é um marco na vossa discografia. No entanto, discordamos no favorito: Além de «Tales...», o Victor prefere o «Tuonela» enquanto eu prefiro o «Skyforger». Então, fazendo um tipo de retrospectiva, e na tua opinião, quais são os altos e baixos na discografia dos Amorphis? Eu juntei-me à banda em 2000, logo depois do «Tuonela». Os primeiros anos foram muito difíceis, fizemos «Am Universum» e «Far From The Sun» com Pasi Koskinen na voz. Após «FFTS» parecia que tudo ia acabar depressa. Não havia motivação, especialmente com Pasi, então, estes

devem ter sido, provavelmente, os piores tempos desde que estou nos Amorphis. Após a partida de Pasi, demorou quase um ano até encontrarmos um novo vocalista e quando Tomi J entrou pela porta, sentimos que haveria uma oportunidade de por a banda outra vez a andar. Penso que «Eclipse» foi o ponto de viragem para nós, não fazíamos a mínima ideia do que se iria passar a seguir. Tínhamos um novo vocalista e nenhuma ideia se iriam gostar da voz ou do álbum. «Skyforger» é, provavelmente, o mais popular destes últimos e fiquei surpreendido por tanta gente gostar dele VH/ER – Peter Tägtgren foi o produtor. Foi a primeira vez que trabalharam com ele? O trabalho dele é muito abrangente e, então, em que medida é que ele vos influenciou em «Circle» Sim, desde «Am Universum» que não tínhamos produtor, à exceção das vozes. Foi muito gratificante trabalhar com o Peter e ele entendeu perfeitamente o que queríamos. Nós não somos mais novatos, temos o nosso estilo mas queríamos que soasse diferente do tudo o que fizemos anteriormente. As músicas foram todas terminadas quando ele veio para a Finlândia, só fizemos pequenas alterações a algumas delas, só no sentido de como as tocar, batidas de bateria, etc.. VH/ER – Como foi escrever/compor «Circle»? É minha impressão ou este álbum é mais pesado e com um estilo mais baseado em riffs de guitarra que os anteriores? Estão excelente e bem audíveis – influências do Peter? Aconteceu dessa forma. Comecámos com, aproximadamente, 20 temas e podíamos ter seguido várias direções. Depois das escolhas percebemos que tínhamos material muito pesado. Na verdade eu até acho que temos menos guitarras gravadas, elas são é mais pesadas. O Peter teve excelentes ideias que fizeram com que as guitarras ficassem assim tão pesadas.


“Os primeiros anos foram muito difíceis, fizemos «Am Universum» e «Far From The Sun» com Pasi Koskinen na voz. Após «FFTS» parecia que tudo ia acabar depressa. (...)” VH – Pekka Kainulainen foi, mais uma vez, o escritor das letras. Porque é ele o responsável? Tomi J gosta muito de trabalhar com ele, vêm da mesma parte da Finlândia e acho que ele pode transmitir qualquer ideia que o Pekka escreve sobre isso. ER – Como é tocar/cantar as letras quando são escritas por uma pessoa “fora” da banda? Sempre foi assim com exceção de «Tuonela», «Am Universum» e «Far From The Sun». Estamos, por isso, habituados. Em «Circle» tivemos que re-escrever algumas partes para melhor encaixarem na música e por vezes esta é a parte mais dura. VH – Estou em crer que «Circle» é um álbum conceptual. Que círculo é esse? Qual é a história subjacente ao conceito? É uma história de sobrevivência. As coisas na vida andam em círculos, umas vezes grandes outros pequenos. O círculo do álbum é um dia na vida das personagens. VH/ER – O trabalho artístico foi feito pelo Tom Bates. Ele e o Esa partilham um interesse comum por Alphonse Mucha. O que está representado nesse desenho? Isso diz-nos alguma coisa sobre o conceito do álbum? O trabalho artístico é muito bom e é bem difer-

ente do que tínhamos antes. Na capa do CD é um guia espiritual que o personagem encontra em seu caminho. VH - Em certos momentos do álbum o ambiente é muito negro, com a voz gutural de Tomi J. na sua máxima força, assim como o instrumental “Nightbird’s song” é um bom exemplo. Há aqui alguma relação entre as letras e a música? Toda a música foi escrita antes das letras e tínhamos somente uma ideia delas. Penso que resultam muito bem em “Nightbird’s song”. Este tema é bem pesado em muitos aspetos. ER - Em 2011 vocês estiveram no Hard Club, no– Porto, e este ano vão atuar em Lisboa. Lembraste de alguma coisa do concerto do Porto? O que podemos esperar desta tournée? Foi realmente um dia porreiro. Lembro-me do sítio e dos passeios que fizemos pela cidade. É uma cidade bonita. Ainda não começámos a tournée e, portanto, não sei como irá ser. Iremos tocar todos os temas de «Circle» em Helsinkia daqui a um mês e aí saberemos quais os temas que resultam melhor ao vivo. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro e Victor Hugo



O pecado e a vida Ares, fundador e único membro da formação inicial presente no atual line-up, fala-nos do seu último álbum – «… And the Seventh His Soul Detesteth» – e da sua visão do pecado, tão eterno como o nome da banda. A fazer dark metal desde 1993, os Aeternus ressurgem das cinzas, qual fénix renascida, para se fazerem à estrada, com uma nova formação e um sétimo álbum assaz impressionante. Por que razão Bergen está na origem de tantas bandas tenebrosas? O que há na vossa cidade que leva os artistas a aderirem a essa estética? Ares: Será que há mesmo alguma coisa? Eu diria que é uma coincidência. É evidente que esta cidade parece inspirar os músicos. A natureza que a rodeia é bela, sobretudo as montanhas. É fácil perderes-te nos teus pensamentos, quando andas a subir uma das

nossas sete montanhas. Quem é o “sétimo” a que o título do vosso álbum faz referência? O título refere-se ao sétimo pecado capital definido pela igreja católica apostólica romana. O conhecimento dos pecados capitais era uma peça importante da educação cristã, no que se referia à prevenção do pecado, mas estes pecados capitais representam vícios pelos quais todos podemos ser afetados

ao longo da nossa vida. A diferença reside na nossa atitude para com eles: nem todos os vemos de forma negativa. Além disso, o título pareceu-me ideal, porque este é o sétimo álbum de Aeternus e ligao ao nosso segundo longa duração [«… And So the Night Became», de 1998]. E por que razão na capa deste vosso último álbum aparece uma espécie de coroa/círculo de


“[…] esta cidade [Bergen] parece inspirar os músicos. […] É fácil perderes-te nos teus pensamentos, quando andas a subir uma das nossas sete montanhas.” braços cortados, em putrefação? É uma imagem fascinante, mas também muito macabra. Foi uma escolha do autor da capa, ou resultou de uma ideia da banda? São sete braços, que representam os sete pecados capitais. Foi uma ideia do nosso ex-baixista, que também escreveu todas as letras para este álbum. Estou a referir-me ao V’Gandr, agora membro dos Helheim e dos Taake! Outro detalhe importante prende-se com o facto de as letras que vês nos braços decepados formarem a palavra saligia, que é composta pela primeira letra da palavra latina que designa cada um dos sete pecados capitais: Superbia (soberba, orgulho), Avaritia (avareza), Luxuria (luxúria), Invidia (inveja), Gula (gula), Ira (ira) e Acedia (preguiça). És tu o compositor da banda? E, se assim é, fazes tudo sozinho? Como de costume, eu compus quase todo o material apresentado neste álbum, mas, desta vez, tive muito apoio do Specter, o novo guitarrista da banda. Ele tem ideias fantásticas e é muito intuitivo, além de ser excelente nos solos. O vosso death metal é muito melódico, mas também muito negro. Quais são as vossas fontes de inspiração? Aeternus toca dark metal. Designamos a nossa música desta forma, porque a situamos algures entre o death e o black metal. Temos poucas fontes de inspiração, mas são de peso: Morbid Angel, Immortal … talvez Emperor. A guitarra tem um papel de relevo na vossa música. Podemos dizer que a forma de tocar a guitarra na sexta faixa deste álbum (um instrumental intitulado “Hubris”) é quase hispânica? De certa forma, sim. Trata-se de uma guitarra clássica. Compus essa faixa instrumental já há muito tempo e pareceu-me que encaixava muito bem neste álbum. Gera uma pausa, dá ao ouvinte tempo para

respirar, cria um momento diferente na música… antes de seres arrasado pela faixa que se segue! Conheces algum guitarrista clássico português? Ou algum da cena metal? Somos exímios nesse instrumento. Não. Ouço muito Jesse Cook [guitarrista canadiano conhecido por tocar “nouveau flamenco”], porque gosto imenso do seu trabalho. Às vezes, também ouço Armik [guitarrista iraniano-arménio, famoso como compositor e intérprete de flamenco]. Sempre gostei de guitarra clássica, acho que tem um som quente. Já receberam muitos convites para irem “rugir” em palcos para promover o novo álbum? Alguns, mas não muitos. Mas hão de aparecer mais, tenho a certeza. Tenhamos esperança! Estamos prontos para dar muitos concertos, Adoramos tocar ao vivo e somos muito bons nisso, portanto estamos dispostos a aceitar todas as propostas que nos fizerem. A informação dada pela vossa editora sublinha o facto de que Aeternus está de volta com uma nova formação depois de um longo período de silêncio. O que mudou e porquê? Bem! Depois de termos lançado «Hexaeon», em 2005, Erik, o nosso baterista, abandonou a banda. No ano a seguir, tivemos outro baterista, de Stavanger, uma cidade perto de Bergen. Esteve algum tempo connosco e até estava a correr muito bem, mas tivemos de o dispensar, porque era muito difícil trabalhar com um baterista que morava noutra cidade. Depois, aí por volta de 2007, o primeiro guitarrista da banda – o Erik – veio ter comigo e sugeriu que contratássemos um baterista mais novo, aconselhando-me a ouvi-lo tocar algumas canções da sua banda. Assim fiz e fiquei muito bem impressionado. Assim, contactei esse jovem – o Phobos – e constatei que

ele também estava interessado em fazer parte dos Aeternus. Fizemos alguns ensaios com ele, fiquei com a sensação de que nos íamos entender bem… e foi exatamente isso que aconteceu. Depois tive de dispensar o guitarrista… aí por volta de 2009-2010. Por conseguinte, contactei um bom guitarrista, de quem já tinha ouvido falar e que tinha encontrado algumas vezes: o Specter. Ele também estava interessado em entrar para a banda e foi assim que aconteceu. Fiquei com dois novos músicos fantásticos na banda. Apesar de seres relativamente jovem, já és um veterano da cena metal. Quando começaste a tocar e o que te levou a formar uma banda? Hahaha, hmmm... obrigado?! Formei Aeternus em 1993 e já lançamos sete álbuns. Preferi formar a minha própria banda a ir tocar com uma que já existisse, porque gosto de controlar os projetos em que me envolvo. Queria fazer música brutal, negra… pesada. Era um ENORME fã de Bolt Thrower, por exemplo. Contudo, sabia que nunca iria formar uma típica banda de death metal. Agora que já se passaram 20 anos, acho que Aeternus resultou a 100%! Como são eternos – pelo menos, de nome –, veem-se a fazer este tipo de música durante mais 20 anos? Não. Mas acredito que a minha música ainda será conhecida daqui a 20 anos, quer eu esteja vivo, quer não. A música é ETERNA. A medíocre e a excelente! Estou-me a borrifar para essas distinções, todos precisamos dela. O que te faria terminar a tua carreira musical? Perder a voz ou a capacidade de tocar guitarra! Entrevista: CSA


Guardadores de runas e de sonhos «Yggdrasil» é o segundo álbum de uma trilogia na qual os Wardruna andam a trabalhar desde 2009. Kvitrafn, o mentor desta original banda falou-nos – apaixonadamente – da sua criação, dos seus propósitos, da sua – curta mas significativa – história, da sua relação com a cultura do país de onde são oriundos os seus membros. Vi uma parte do vosso concerto no museu viking num vídeo divulgado no youtube e foi isso que chamou a minha atenção para a vossa banda. Sou uma grande fã de música inspirada em folclore. Que lugar ocupa Wardruna na cultura norueguesa contemporânea? Kvitrafn: Embora Wardruna trate temas e toque instrumentos de tempos recuados, nunca foi minha intenção ressuscitar a era viking. Penso que tal propósito tornaria o nosso trabalho bem menos interessante e relevante. O principal objetivo da banda é criar algo de muito inovador a partir de algo muito antigo e, na minha opinião, os temas que abordamos têm tanto significado no mundo atual como tinham há 1500 anos atrás. Wardruna trata da nossa relação com a natureza, com os nossos semelhantes e com algo maior do que nós, com quem a maioria das pessoas se relaciona de alguma forma, independentemente da idade, da cultura ou da classe social. As-

sim, parece-me que a nossa banda ocupa um lugar interessante na cultura norueguesa contemporânea, porque lidamos com a cultura antiga de um modo sério e chamamos a atenção para esta. Onde conheceste Gaahl e Lindy? E como decidiram formar esta banda? Conheci o Gaahl lá por 1999-2000, quando me tornei baterista dos Gorgoroth. Depressa descobrimos que tínhamos muitas afinidades ligadas à nossa paixão pela antiga cultura esotérica nórdica, além de sermos ambos pagãos praticantes. Fui sentindo uma necessidade cada vez mais forte de trabalhar em algo que estivesse mais relacionado com as minhas crenças e os meus interesses pessoais, portanto, em 2002, comecei a idealizar o conceito que deu origem a Wardruna e a gravar algumas canções. Na altura, o Gahal era a pessoa a quem eu mostrava esse meu trabalho e que me ajudava a dar forma às minhas id-


eias. Ambos conhecíamos a Lindy-Fay e admirávamos a sua voz maravilhosa e única. Por conseguinte, em 2005, eu convidei-a para se juntar a nós e ela aceitou de muito bom grado! Eram todos membros de bandas de black metal? Que relação existe entre essa música tenebrosa e a música popular do vosso país? Não. Penso que os noruegueses têm uma nítida preferência por música melancólica. Também encontras esse sentimento no nosso folclore, materializado na existência de uma linha estranha e indefinida, que separa os tons menores dos tons maiores. Acredito que o trabalho de um artista seja essencialmente condicionado pelo seu ambiente, portanto penso que o Norte exerce sobre ti esse efeito, associado à melancolia. O que significa Wardruna? A palavra Wardruna pode ser traduzida por “guardião das runas”. Já runa é uma palavra cujo sentido é muito difícil de explicar, porque corresponde a muitas coisas. Podem ser vistas como símbolos gráficos ou letras. Mas o termo também pode significar segredo, conhecimento, murmúrio e canção mágica. Suponho que têm uma formação permanente e depois convidam outros músicos para participar em cada lançamento, de acordo com a sua natureza. Esses músicos participam de algum modo na composição da música de Wardruna? Fui eu que compus a música para Yggdrasil, mas, na fase dos arranjos, trabalhei muito mais com o Gaahl e a Lindy-Fay do que quando compus «Gap Var Ginnunga». Sinto que entre nós há uma química maravilhosa, que facilita imenso o processo criativo, pelo que tudo flui naturalmente. A vossa editora declara que Wardruna não faz música new wave, nem folk. Então, que tipo de música fazem? Consegues descrevê-la em três palavras? Não. Deixo a outros a imensa tarefa de tentar encaixar a nossa música em categorias já existentes. Eu teria muita dificuldade em fazê-lo, até porque me parece que o som de Wardruna não se assemelha ao de nenhuma outra banda existente. Tal como já disse, a nossa banda pretende criar algo completamente novo a partir de algo muito antigo. Falando agora do vosso último álbum, sei que Yggdrasil é uma árvore. Que papel desempenha na mitologia nórdica? Um papel de destaque, em muitos aspetos. É o centro

do “eixo do mundo”, na mitologia nórdica, a entrada para os nove reinos. Na trilogia “Runaljod” [em que «Yggdrasil» é o segundo álbum], permitiu-nos criar uma continuação natural para «Gap Var Ginnunga» [o primeiro álbum da banda e desta trilogia, lançado em 2009]. Este primeiro álbum falava da criação, da sementeira. Este trata do crescimento da semente e do fortalecimento das raízes. A capa do vosso álbum evoca essa árvore de uma forma simples, mas muito profunda. É mais que bela! De quem era a ideia que lhe deu origem? Obrigado por esse comentário. Também estou muito orgulhoso dessa capa. Fui eu que tive as ideias para as três capas, quando forjei o conceito que deu origem a Wardruna. E estou encantado por constatar que elas não perdem nada do seu poder, quando concretizadas. Em que se inspiraram para as letras das canções? E de que falam? Também fui eu que escrevi todas as letras, mas algumas delas são inspiradas em antigos poemas rúnicos, em pedras rúnicas proto nórdicas e na velha poesia da cultura nórdica. Falam de tudo, desde as coisas mais básicas até aos grandes temas cosmológicos, ao conhecimento esotérico e a conceções filosóficas sobre a natureza. Penso que as runas são instrumentos artísticos que fornecem imagens maravilhosas que nos ajudam a compreender as tradições nórdicas de antes do cristianismo. Serias capaz de levar Wardruna a um festival de metal? Ou isso parece-te inconcebível? Nunca ponho de parte qualquer hipótese, logo tal seria possível. Mas só aconteceria, se eu sentisse que as condições práticas e estéticas eram as ideais para poder proporcionar ao público uma experiência inesquecível. Tens alguma mensagem a deixar aos fãs portugueses? Esperamos poder visitar Portugal em breve. Portanto, falem de nós aos promotores de concertos e festivais no vosso país! Entrevista: CSA


“[…] nunca foi minha intenção ressuscitar a era viking. […] O principal objetivo da banda é criar algo de muito inovador a partir de algo muito antigo […]”



ElĂŠtricos, obsessivos, extremos, sujos


Assim são os Aborym, uma banda que combina a luz do sul da Europa com as brumas do seu Norte e que, em «Dirty», quis refletir sobre a sociedade atual. Malfeitor Fabban, o fundador da banda, e Bård Faust, que já conhecemos de outras guerras, juntaram-se, a fim de usar as perguntas curiosas da VERSUS Magazine como base para uma reflexão sobre a identidade de Aborym, a sua carreira e o seu pensamento sobre um mundo, que vêem podre e decadente. Desde o início, Aborym revelou uma marcada tendência para incluir membros de várias nacionalidades. Este facto é relevante para a identidade da banda? Bård: Eu aprecio imenso o facto de a banda ter membros de diferentes partes do mundo. Não sei dizer se isso nos afeta de forma positiva ou negativa, embora reconheça que suscita alguns problemas logísticos. Mas, pensando bem, tenho a certeza de que é uma vantagem para todos nós. São veteranos do metal, já que a banda foi formada em 1992. Que lugar ocupam na cena metal italiana? E na cena europeia? Bård: Na Noruega, os Aborym sempre tiveram direito a um lugar especial, talvez porque eu faço parte da banda e também porque, em tempos, teve como membro o Attila [Csihar], que foi vocalista dos Mayhem no início e voltou a ser em 2004. Fabban: Não penso que se possa falar de uma “cena italiana”. Por aqui, só vejo muitas bandas e pessoas que servem os seus próprios interesses, trabalhando isoladamente. Em Itália, temos banda excelentes – por exemplo, Forgotten Tomb ou Hour of Penance –, mas a maioria não vale um chavo. A maior parte dos metaleiros italianos são fantasmas xenófilos maçadores, que não saem da frente do monitor do PC. As pessoas não têm conhecimentos sobre música,

não sabem nada de como fazer arranjos, criar harmonia, manipular sons usando software adequado ou muito simplesmente tocar um instrumento e compor uma canção. Só são capazes de criticar e de te apontar o dedo, de forma acusadora, se se sentirem excluídos pelo facto de um álbum ser difícil de decifrar, ou de te elogiarem disparatadamente, se, pelo contrário, se sentirem capazes de compreender o teu trabalho. Não se importam nada com o trabalho de criação subjacente à tua obra, porque são incapazes de compreender que são necessários anos de estudo e imenso esforço criativo, para juntar, de forma adequada, as peças que dão origem a um álbum. Faço a minha arte só para mim e as pessoas que respeito, não para a dita “cena”. Como deixaram de ser uma banda de covers e se converteram num projeto original? Fabban: Isso aconteceu há muitos anos. Começamos por fazer covers de bandas que admirávamos, mas, ao fim de algumas semanas, eu descobri que queria ter uma banda a sério, com o seu próprio som e canções originais. Na altura, parecia-nos formidável tocar canções como “Beneath the remains” (de Sepultura) ou “The old coffin spirit” (dos Rotting Christ). Que boas recordações! E por que decidiram ser uma banda industrial/elétrica? Por

que vos pareceu que esse estilo era o mais adequado à mensagem que queriam passar à sociedade? Fabban: Não escolhemos… Aconteceu, percebes? «Dirty» é um álbum para gourmets musicais. Não gosto de categorizar a realidade, não acredito que a música possa ser classificada. Limitamo-nos a tocar a música que gostamos de tocar, por isso ela flui naturalmente. NÃO fazemos parte do mundo dos negócios, que impõe sempre as suas regras, e, pela parte que me toca, não vivo do que ganho com os lançamentos de Aborym. Portanto, posso fazer o que me dá na real gana, como sempre fiz, desde 1992 até agora. Este álbum é mais uma demonstração de como a música pode ser universal e capaz de chegar a qualquer lado e a nossa música é a banda sonora mais adequada para esta sociedade podre, para o sistema que a rege, para este mundo moribundo… Pensam que a atual formação da banda vai durar muito tempo? Fabban: Espero que sim... Por que mexeríamos em algo que funciona tão bem? Como fazem esta música frenética, quase alucinada? Fabban: Muitas das canções deste álbum começaram a ser escritas com sintetizadores e programação em hard disk-rec, porque queríamos fazer algo muito “psycho” e decadente. Queríamos fazer algo


verdadeiramente chocante, provocando algo como o que se sente quando se acorda num hospital depois de um acidente, ou quando se faz algo muito perigoso como injetar-se com uma combinação de heroína e cocaína. Queríamos fazer algo que nos parecesse formidável, como fazer sexo com uma playmate ou uma stripper… E assim fizemos, porque nos estamos a borrifar para as regras do “negócio” ou clichés, como sempre. Não estamos interessados em lançar muitos álbuns, que não passem de cópias do que fizemos anteriormente ou que, simplesmente, pareçam desprovidos de qualquer tipo de inspiração. Aborym é um projeto em que damos o nosso melhor como músicos e tentamos atingir sempre algo de novo. Tocamos ao estilo de Aborym. E chega! Quem compõe na banda? Fabban: Eu e o Paolo… É um trabalho de equipa. Paolo é um músico muito talentoso, um verdadeiro profissional e uma pessoa com quem é um prazer fazer música. E quem escreve as letras? Fabban: Eu. Parto do princípio de que os títulos que deste às faixas deste álbum representam tudo o que é sujo neste século XXI. É assim? Podes fazer alguns comentários sobre as tuas opções? Fabban: É isso tudo! Escrever let-

ras sobre a realidade é algo muito importante para mim. Escrevo sobre os pesadelos que temos acordados, sobre esta sociedade suja, sobre a sua irreversível decadência. Mudei-me para Los Angeles, para escrever as letras de «Dirty»... porque é verdadeiramente um lugar de perdição. Hoje podemos ter sexo, dinheiro, beleza e juventude, mas tudo isso vai desaparecer um dia. E só restará o que fomos capazes de construir e que nos interessa verdadeiramente. A Califórnia é o lugar ideal para te afundares no caos e, quando conseguires sair de lá, terás compreendido, sem sombra de dúvida, a importância do silêncio e da paz espiritual. As letras de «Dirty» falam da crise (económica, social, espiritual), da solidão (é por isso que adoramos o conceito de “cidade”, que vemos como um lugar onde nos podemos sentir horrivelmente sozinhos no meio de milhões de pessoas, de luzes, de clubes, de ruas, afundados na tecnologia, em atrações, etc.), de repressão sexual, de violência urbana, de doenças, de relações complexas, instáveis, violentas… Apenas escrevi sobre o que vejo todos os dias na minha cidade. A minha única inspiração, o que me levou mesmo a escrever estas letras foi a vida quotidiana, a minha observação atenta das pessoas que vejo todos os dias. Trata-se apenas de um retrato da sociedade moderna, porque estas letras falam de coisas que todos nós conhecemos.

Por que usaram uma combinação de negro e amarelo na capa do álbum? Não devia ser apenas negro, já que aborda tudo o que é inaceitável na sociedade atual? Fabban: Queria fazer algo chocante, inovador, que as pessoas não pudessem esquecer… Experimentei muitas soluções… mas, quando usei o amarelo, disse para mim próprio: “Raios, é esta a cor ideal para este álbum lixado”. Adoro o amarelo. E o preto já foi demasiado usado... E, para ser sincero, nem eu próprio consigo compreender bem o que criei. Nenhum artista consegue ter uma compreensão absoluta do que criou, porque a sua obra o transcende ao ponto de ser impossível apreciá-la de forma objetiva, racional. Foi o melhor que eu consegui fazer naquela altura, só isso me interessa. Mas, raios, adoro aquele amarelo… Onde vão apresentar «Dirty»? Fabban: Vamos participar em alguns festivais de verão em agosto e faremos também alguns concertos em novembro. No palco, vamos arrasar tudo… Informação adicional: https://www.facebook.com/aborymofficial Entrevista: CSA



“Classicismo” e maturidade Com lugar afirmado na cena metal francesa e um grande culto pelo black metal mais primitivo, os Aosoth chegam ao seu quarto álbum com uma maturidade invejável, afirmada pela banda e certamente reconhecida por quem a ouve. BST, responsável por todos os instrumentos da banda, num tom extremamente circunspecto, mas que nada tira à paixão que sente pela banda a que pertence, responde às perguntas da VERSUS Magazine e apresenta ideias muito interessantes sobre a carreira da banda e o espírito de «IV – An Arrow in Heart».


“[…] respeitamos o espírito do black metal dos primeiros tempos. Se é francês ou não, é assunto que não me preocupa.” Já vos vi ao vivo, porque fiz a reportagem do concerto com Shining e Watain no Hard Club do Porto, em março de 2011. Gostei imenso da vossa música e do merchandising da banda. Consegui perceber o que vos unia aos Watain, mas não a Shining. O que tens a dizer sobre isto? BST: Shining não é uma banda que eu tenha ouvido antes dessa digressão. Penso que são bons músicos, mas não se trata de um tipo de música que me impressione verdadeiramente. Mas estabelecemos uma boa relação com eles noutros níveis e estou contente por ter tido a oportunidade de andar na estrada com pessoas tão interessantes e decadentes.

cado dessa demanda? É algo desse género, efetivamente. Algo de natureza divina está a guiar-nos para um lugar bem definido, mantendo-nos unidos durante essa peregrinação até que essa demanda nos consuma.

Como aconteceu que o logo da vossa banda tenha sido feito por Eric Danielsson dos Watain? O nosso vocalista, Mkm, mantinha contacto com os Watain, nos anos 90, e como tinham ideias semelhantes, surgiu essa colaboração.

Por que têm uma espécie de réplica feminina de São Sebastião na capa do vosso álbum? Essa imagem tem um ar francamente religioso, o que está perfeitamente adaptado ao espírito do álbum. É mesmo uma imagem de índole religiosa, mas não contém nenhuma referência a São Sebastião. É uma pintura de um talentoso artista gráfico chamado Benjamin Vierling e sentimo-nos muito honrados por termos podido usar uma obra tão bela na capa do nosso álbum.

Podemos dizer que Aosoth é black metal clássico francês por oposição a bandas como Alcest, por exemplo? Não conheço bem Alcest, mas, pelo que ouvi deles, parece-me que é uma banda que não tem grande coisa a ver com o que os Aosoth consideram como black metal. Não sei ao certo o que entendes por “clássico”, mas nós respeitamos o espírito do black metal dos primeiros tempos. Se é francês ou não, é assunto que não me preocupa. Por que sentiram a necessidade de criar esta banda, se eram/são membros de Antaeus, que é do mesmo género? De qualquer modo, foi uma excelente ideia. Aosoth começou por ser um projeto que envolvia apenas membros de Antaeus. Estava previsto que fosse um projeto secundário. Mas Antaeus parou por uns tempos e convidaram-me para fazer parte de Aosoth e participar na composição de algumas canções. Essa colaboração levou a que, mais tarde, Aosoth passasse a ser um projeto independente. Podemos dizer que os quatro álbuns da vossa banda correspondem a outros tantos marcos numa espécie de viagem? E, se assim for, qual é o signifi-

E que momento dessa jornada representa «IV – An Arrow in Heart»? A palavra que me vem à mente de imediato é “maturidade”. Da forma como vejo este álbum, os lançamentos anteriores levaram-nos a encontrar o nosso som próprio e, com este álbum, aprendemos a dominá-lo e aperfeiçoámo-lo.

Vamos ter Aosoth em Portugal para promover este álbum? Ou preferem convidar os vossos fãs portugueses para irem ouvir-vos algures na Europa? Isso vai depender dos convites que nos fizerem. Somos muito seletivos, no que diz respeito a fazer concertos ao vivo. Contudo, as minhas recordações das várias vezes que passei por Portugal são geralmente boas, quer no que refere à organização, quer à audiência. A propósito, conhecem bandas portuguesas de black metal? Lembro-me de ter gostado muito do primeiro EP de Moonspell e também de algum material de Decayed e Corpus Christii... Mas não tive oportunidade de ouvir muitas bandas provenientes do vosso país. Obrigado pela entrevista. Entrevista: CSA


ANTHRAX «Anthems» (Nuclear Blast) Antes de mais, «Anthems» não é um novo álbum mas antes um EP de covers, como tributo às bandas (dos anos 70) favoritas dos Anthrax. Como sempre, não se pode questionar a escolha mas encontramos aqui grandes “malhas”. “Smokin’” é um original dos Boston e pode parecer estranho ouvir os Anthrax interpretarem um tema onde se inclui... teclas, mais conhecida é “TNT” dos AC/DC ou “Jailbreak” dos Thin Lizzy. A forma como são interpretados não foge excessivamente dos originais. Desde EP faz parte, ainda, uma nova remix do tema “Crawl” do último «Worship Music». A nota reflete, única e exclusivamente, a interpretação dos Anthrax. [8.5/10] Eduardo Ramalhadeiro COUGH/WINDHAND «Reflection of the Negative» (Relapse Records) «Reflection of the Negative» é um EP partilhado entre os Cough e os Windhand, com um tema dos primeiros e duas faixas dos segundos. Apesar do pequeno número de temas, este trabalho dispõe de cerca de 35 minutos de doom metal sombrio como imagem de fundo. O trabalho é relativamente interessante mesmo não sendo um prodígio. Intencionalmente ou não, o som das guitarras soa meio abafado o que tira algum peso à composição e a voz por vezes parece afastada da masterização. Para quem quer conhecer algo diferente dentro deste género tem aqui uma proposta relativamente interessante. [6/10] Sérgio Pires ELECTRIC LIGHT ORCHESTRA «Mr. Blue Sky – The Very Best of Electric Light Orchestra» (Frontiers Records) Este “best of” é uma compilação de alguns dos êxitos novamente gravados por Jeff Lynne e seus pares. Esta edição contém, ainda, um tema nunca antes lançado – “Point Of No Return”. Como sempre acontece nos “best of”, não ponho nem comento as escolhas dos temas. Para quem gosta de uma excelente banda de Symphonic rock, pop rock progressivo tem aqui um bom ponto de partida, mais que não seja para descobrir os ELO. [8/10] Eduardo Ramalhadeiro

GREAT WHITE «Ready For Rock’n’Roll» (Collectors Dream Records) Mais um grupo que decide prestar homenagem às suas maiores influências musicais. Os Great White lançam um conjunto de músicas onde se incluem bandas como AC/DC, Status Quo, Bob Dylan, Rolling Stones ou The Cult. Sinceramente, para as covers me despertarem atenção têm de ter algo de diferente ou novo. Neste caso não têm nada e os Great White tentam colar-se muito aos originais. Bah... que valente seca. Prefiro, de longe, os originais. [5/10] Eduardo Ramalhadeiro


HOWL «Bloodlines» (Relapse Records) Depois de dois discos, um EP e um álbum, os norte-americanos Howl presenteiam-nos com a sua mais recente obra «Bloodlines», repleta de riffs brutais stoner/sludge de influência Mastodon, Pantera entre outras bandas do género. A voz, muito death de Vincent Hausman, empresta uma ambiência muito negra e carregada e este novo conjunto de 10 temas, que alternam entre o doom bem pesado e balançado e o midtempo algo urgente, com aceleração à mistura. Não estando o disco exactamente cheio de solos, os que há são bem lançados e melódicos, fazendo um bom contraponto com o ambiente negro e pesado que os envolve. Um álbum a conhecer para todos os que não estão muito familiarizados com este conceito. [7.5/10] Joey NEAL SCHON «The Calling» (Frontiers Records) Para os nossos leitores mais incautos o nome Neal Schon provavelmente não diz nada. No entanto, se disser que é um dos fundadores e guitarrista principal dos Journey, então, aí já sou capaz de despertar um pouco da vossa atenção. «The Calling» é um álbum de rock instrumental onde instrumento principal é... a guitarra. Schon rodeou-se de músicos de topo: Steve Smith, antigo baterista dos Journey, Jan Hammer (Jeff Beck, Mahavishnu Orchestra) ou Igor Len. O resultado só poderia ser brilhante. Não esperem shred ou grandes velocidades mas sim bom gosto, melodia e virtuosismo... Muito! [9/10] Eduardo Ramalhadeiro NIGHT RANGER « 24 Strings and a Drummer – Live and Acoustic» (Frontiers Records) De modo a comemorar os 30 anos do seu álbum de estreia os Night Ranger prepararam algo especial. «24 strings...» é um concerto intimista em forma de “best of”, totalmente acústico, uma espécie de “unplugged”. Como é óbvio novos arranjos foram feitos, dando uma nova “forma” aos temas. Este é daqueles discos diferentes e que não me passam ao lado – Assim que tiver oportunidade, juntar-se-á aos meus velhinhos “unplugged” de Eric Clapton e Tesla – “5 Man Acoustical Jam”. Excelente! [8.5/10] Eduardo Ramalhadeiro

SYNDROME «Now and Forever» (Hypertension Records) Nunca tinha ouvido um álbum de guitarra que recriasse um ambiente “atmosférico” tão bom e tão puro como este. Aliás, nunca pensei que existisse, sequer, algum que me conseguisse despertar tanta atenção, já que é a terceira vez seguida que “rola” no leitor. Da responsabilidade do Belga Mathieu Vandekerckhove que dedica este trabalho ao seu filho Wolf, «Now and Forever» é pessoal, melancólico e deveras profundo ao nível da narrativa e letra. Tem só um tema de 35 minutos mas vale bem cada cêntimo gasto. Esqueçam o CD, este é daqueles trabalhos que sabe tão bem, mas tão bem ouvir em vinil... Precioso! [8.5/10] Eduardo Ramalhadeiro


TEN «Heresy And Creed» (Frontiers Records) «Heresy and Creed» é o décimo álbum dos rockers Ten e estamos perante um registo bem moderno e “fresco” do sexteto britânico liderado por Gary Hughes. Produzido pelo “peso pesado” Dennis Ward em conjunto com Gary, «Heresy and Creed» continua a fazer dos Ten uma das excelentes bandas de Hard Rock. Particularmente chamou-me a atenção os riffs e solos de guitarra, estes últimos muito acima da média, no que costuma dizer respeito a bandas de Hard Rock. Confirmem os solos em “Arabian Nights” ou “Gunrunning” e claro está, sem esquecer a (magnifica) balada “The Last Time”. Bom álbum de Hard Rock melódico. [7.5/10] Eduardo Ramalhadeiro THE BIG TEUTONIC FOUR «The Big Teutonic Four» (Nuclear Blast) Mais um EP de covers, desta vez interpretado por 4 bandas representativas do Thrash vindo diretamente da Alemanha. Desta vez temos os Kreator, Sodom, Destruction e Tankard a interpretar 4 temas dos Maiden (“The Number Of The Beast” e “The Prisoner”) e Motörhead (“Ace of Spades” e “The Hammer”). Se no caso dos Anthrax ainda se compreende o porquê, neste caso nem por isso. As interpretações são muito boas mas dada a escassez de temas e bandas não compreendo o porquê deste EP [--/10] Eduardo Ramalhadeiro

TIAGO MARQUES «Expressive Folk» (edição de autor) Na sua maior parte, este é um trabalho que funde com relativo sucesso sonoridades de um rock progressivo naive dos 70s com folk português (baseando-se em instrumentos como o acordeão e o cavaquinho) e neofolk. Depois da ambiência sóbria e serena estabelecida pelas primeiras quatro faixas não se percebe o porquê de um tema jocoso como “Na taberna do Jacinto” nem muito menos a razão de ser de um fecho todo ele inspirado em Space/Kraftwerk. O que se depreende é que «Expressive Folk» pretende ser, mais do que um trabalho coerente, uma mostra de potencialidades do seu autor. E as potencialidades são claramente muitas! [7/10] Ernesto Martins TOXIC HOLOCAUST «From the Ashes of Nuclear Destruction» (Relapse Records) Com uma já longa carreira, que remonta a antes de 1999, data em que lançaram a sua primeira demo, estes norte-americanos têm diversificado os lançamentos através de muitas demos, splits, singles e ocasionalmente, álbuns. Neste caso concreto, falamos de uma compilação que nos mostra a evolução da banda ao longo do tempo. Sendo uma compilação referente a um período algo alargado no tempo, seria natural existirem algumas diferenças naturais de som, mas tal quase não sucede. O Speed-thrash muito inspirado em Destruction e Sodom dos TH é da velha escola, mas beneficia de uma produção eficaz, esmagando tudo à sua frente. Não há, como é óbvio, “novidades” a nível da criatividade, mas os aficionados não estarão preocupados com isso: apenas com o nível da intensidade. Deve ser ouvido bem alto. Para quem não os conhece, é uma excelente forma de o fazer. A merecer audição. [7.5/10] Joey



Parem, escutem e olhem


Os The Monolith Deathcult já têm uma década de contribuições para o Death-Metal. Sendo uma particularidade de certo modo distintiva certas incursões humorísticas (pessoalmente eu não conhecia exaustivamente a obra destes Holandeses), o que se destaca neste último registo é a vertente cinematográfica de superprodução made in Hollywood. Ficamos a saber entre outros pormenores que houve inclusivamente a participação de Optimus Prime dos Transformers… uma entrevista a não perder. Antes de mais deixem-me felicitá-los pela edição do vosso último álbum «Tetragrammaton». A minha primeira questão é o porquê desse título? Michiel: Obrigado Sérgio. Acerca do título. Nós sempre procuramos criar títulos que tenham um impacto massivo tais como «The Apotheosis», «The White Crematorium», «TRIVMVIRATE» (em maiúsculas) e agora «TETRAGRAMMATON» (também em maiúsculas). A palavra soa massiva e tem também outros significados interessantes. O termo TETRAGRAMMATON (do grego τετραγράμματον, quer dizer “[uma palavra] com quatro letras”) refere-se ao (1) Quarto álbum dos The Monolith Deathcult; (2) na cultura popular: nome do Deus JHWH (Hebreu: ‫הווצמ טול‬ ‫ )ןהכ דוד‬usado na bíblia Hebraica. Nós também escolhemos este título devido ao ‘A’ triplo que contém, enfatizando o nosso papel relevante e porque AAA significa «PRIME». Esteticamente «TETRAGRAMMATON» é um álbum ultra polido especialmente naqueles trechos falados que nos transportam claramente para uma produção de Hollywood. Porque é que escolheram incluir essas partes faladas? Carsten: Porque é porreiro! A sério, as partes faladas são principalmente ouvidas no primeiro tema, que versa uma civilização avançada vinda do espaço e no quarto tema que é sobre o quão ultra espetaculares os «The Monolith Deathcult» realmente são. Ambos os temas pediam e exigiam grandes arranjos orquestrais cinematográ-

ficos. Esses segmentos vocais são apenas a cereja no topo do bolo cinematográfico. Nós gostamos de acrescentar cerejas nos nossos bolos. Eu gosto de abordar as nossas composições tal como um compositor de cinema. Eu entro primeiro no script (ou neste caso, nas letras), enquadro o tema completo e componho os sons apropriados. O primeiro tema seria uma grande história para um “block buster” de ficção científica, portanto acrescentar orquestrações e sobreposições vocais pareceram ser bastante apropriadas. Michiel: 2/5 dos elementos dos TMDC são grandes fãs dos Transformers portanto seria bastante interessante ter o Optimus Prime no nosso álbum para algumas partes faladas. Foi um trabalho dos diabos conseguir a sua participação neste álbum. A sua voz encaixa perfeitamente no tipo de som blockbuster que o Carsten criou com as suas orquestrações. Os The Monolith Deathcult são uma espécie de Michael Bay do (death) metal. A nossa música está cheia de sons e fúria. Em geral o espírito do álbum assenta em parte em segmentos muito bem produzidos assentes em teclados/sintetizadores. Isto quer dizer que após o hiato do Carsten ele está definitivamente de volta para participar sem restrições na definição do som da banda? Carsten: Na realidade eu nunca saí da banda. Em 2009 eu acabei por não querer tocar mais sintetizadores ao vivo, portanto desisti de ser um live band member mas propus-me continuar como elemento ativo em estúdio. A

banda anuiu com essa proposta e eu fui substituído por computador portátil que faz o meu papel ao vivo. O que também foi bom para o resto da banda. Mais espaço no autocarro, mais bebidas no frigorífico e mais miúdas para o resto da rapaziada já que eu era claramente o que mais atraía as raparigas todas no backstage. Nessa altura comecei uma empresa como compositor e arranjos, que estava a funcionar lindamente, e formei uma banda rock em que eu queria espancar o meu guitarrista. Infelizmente nessa banda não fomos bem-sucedidos pois Make Waves faleceu de causas naturais no final de 2012. Nessa altura eu estava a trabalhar no novo TMDC. Eu realmente senti falta de estar em palco e de me divertir com a malta dos TMDC, portanto pensei “bem, porque não voltarmos aos concertos outra vez”! A banda acolheume novamente como músico ao vivo! Portanto sim, provavelmente irei contribuir em futuros CDs. Michiel: A verdade é: Carsten ia viver à grande fazendo música como gente crescida, (não deathmetal como é lógico). Isso foi um total e rotundo falhanço e voltou para nós a rastejar, insípido, e arrependido com o rabo entre as pernas. O Carsten já tinha tido um papel proeminente no som dos TMDC em TRIUMVIRATE, portanto a sua contribuição já não nada de novo para nós. Já conhecíamos as suas capacidades. Eu não escrevo canções a pensar em “Oh, podemos tocar Si em décima-sexta porque o Carsten vai eliminar o tédio com orquestras e coros magnânimos”. Não é assim que funciono. As canções têm bastantes camadas e são muito de-


talhadas portanto o Carsten e eu andamos sempre em discussões na mesa de mistura.: “Mais flautas” “Não! Mais guitarras” “Não mais flautas” “Nunca! Apenas uma flauta não pode soar tão alto como as guitarras e a bateria” E por aí fora…

“A inspiração vem dos livro

Na altura em que escrevo estas perguntas não tenho comigo as letras. Podes dizer aos nossos leitores quais são as mensagens principais que estão nas letras? Michiel: Não temos uma mensagem principal nas letras. Nós tentamos sempre fazer algo novo. A inspiração vem dos livros, documentários e filmes. Desta vez temos letras acerca de “Der Rote Armee Fraktion”, os massacres Hutu/ Tutsi no Rwanda, “Uday Saddam Hussein’s Fiday (body double/bullet catcher)”, o romance de Lawrence Wright “The Looming Tower” e a guerra Irão/Iraque.

das religiões árabes; as Cruzadas ao abrigo do cristianismo também mataram em séculos passado em nome de Deus. Queres comentar estas observações? Não está correto pois o foco não é acerca dos líderes Árabes religiosos. “Human wave attack” é acerca de crianças (chamadas Basij) que foram alvo de lavagem ao cérebro em escolas que lecionam o Alcorão chamadas Madrassas. Os fracamente treinados Basij então lançariam ataques humanos para inundar as zonas mais fracas das linhas iraquianas sendo seguidos pelos mais experientes membros da guarda revolucionária. Eles tinham uma chave ao pescoço que lhes abriria os portões do Céu quando fossem despedaçados pela explosão. Portanto não é uma posição típica do tipo “Os árabes são maus” mas apenas uma peculiar observação sobre a mente humana.

No segundo tema “Human wave attack” há o realçar da violência promovida pelos líderes árabes religiosos. Isso não é exclusivo

Há esporadicamente ao longo do algum partes humoradas; julgo que é algo não muito comum em bandas de Death-Metal. Talvez

isto não transforme o género do dia para a noite mas planeiam manter esta faceta para os próximos álbus? Michiel: Huhm, nós andamos a fazer isso há já 10 anos... Ainda não consegui encontrar muitas reviews acerca de «TETRAGRAMMATON». Qual tem sido a recetividade de fãs e críticos até agora (espero não ser demasiado cedo para perguntar isto)? Michiel: Não é demasiado cedo. As promos foram sendo enviadas desde há 2 semanas portanto esperamos um monte de reviews já no próximo mês (Abril/Maio). Huhm… eu encontrei uma review e não sei muito bem o que pensar acerca desta: ”Listening to TETRAGRAMMATÖN is like being cornered by a dim-witted and semi-belligerent drunk possessed by an idée fixe he keeps reciting over and over again, jabbing your shoulder each time.” Então?


os, documentários e filmes” Como tem sido a recetividade do público ao vivo relativamente a «TETRAGRAMMATON»? Ainda não tocamos estas canções ao vivo. Todos os membros contribuíram nas suas partes individualmente para o álbum, mas nunca tocamos uma única nota com a formação completa. Neste momento estamos desesperadamente a tentar tocar as nossas canções sem o back-up colossal do Pro Tools. Comparando com as vossas edições anteriores, neste momento estão cada vez mais a usar elementos eletrónicos. É este o caminho a seguir no futuro? Vão continuar com esta vertente épica e de superprodução para os próximos álbuns? Carsten: Provavelmente sim. As nossas canções são filmes sónicos. Para contar uma história musicalmente, ajuda bastante ter uma vasta palete de sons. Comparando com a configuração de

Death-Metal mais standard com bateria, guturais, baixo e guitarra temos agora também a possibilidade de adicionar sons acústicos (tais como a orquestra em “Gods amongst insects”, ou a Mbela em “Drugs, thugs and machetes”) e sons eletrónicos (tais como os samples processados em “Human wave attack” ou o sintetizador C64 nas leads em “Todesnacht von Stammheim”. Nós não selecionamos sons ao acaso, não me vais encontrar a fazer algo como “vamos despejar um patch de coros sintetizados aqui e ali”, tal como muitos teclistas fazem na cena metaleira. Isso é demasiadamente fácil e aborrecido. Todos os sons acústicos e sintetizados foram criteriosamente escolhidos para realçar a história que dá base ao tema. Eu acho que acrescentar instrumentos eletrónicos E acústicos à nossa música é o caminho a seguir pelos TMDC, pois dá à nossa música muito mais profundidade. Quaisquer que sejam as futuras composições que necessitem de uma coloração “extra”, adicioná-la-emos acusticamente

e/ou eletronicamente. Michiel: Vamos continuar numa vertente de superprodução. A nossa música assenta em inúmeras camadas portanto precisamos de um grande som mas ao mesmo tempo transparente. Foi também por isso que nós escolhemos o produtor Guido Aalbers ligado ao (Indie) Rock. Ficamos novamente satisfeitos por trabalhar mais uma vez com ele. Tens algumas palavras finais para os nossos leitores? Queres dizer algo mais em relação ao novo álbum? Se gostam de álbuns de DeathMetal produzidos até ao limite sem limites, procurem «TETRAGRAMMATON». Juntem-se a nós no Facebook onde estamos sempre em contacto com os nossos fãs e verifiquem a nossa secção de merchandise: www.facebook.com/monolithdeathcult

Entrevista: Sérgio Teixeira


Por sombras da escuridão Ao segundo ato, os franceses Way To End apresentam-se mais interessantes do que nunca. «Various Shades of Black» é composto de black metal com pitadas vanguardistas, o que é o mesmo que dizer que o black metal que se ouve é um tanto esquizofrénico e paranóico, com os seus contra tempos e ritmos jazzísticos. Para intelectualizar mais a peça artística, Hazard, guitarrista, vocalista e responsável pela parte lírica, evoca letras que são a tradução das sombras da Escuridão. Foi com ele que a VERSUS Magazine conversou.


CSA – Gosto do negro como cor, portanto não posso deixar de sentir curiosidade por um álbum intitulado «Various Shades of Black»! Que “tons de negro” são estes? Hazard – Os que podes ver, quando estás às escuras. Quando não há luz, esses cambiantes de negro surgem e parecem estar a dançar à tua frente. É como olhar para o céu e ir vendo as diversas formas que as nuvens vão assumindo. Ao fim de algum tempo, começas a reconhecer nelas algumas formas familiares e a reparar nos pormenores, nos “cambiantes das nuvens”. Com este álbum acontece o mesmo. Vais precisar de algum tempo para te habituares a ele, mas, quando isso acontecer, vais começar a dar atenção aos pormenores, à estrutura oculta das canções, vais-te familiarizar com elas e, de repente, surge-te algo em que não tinhas reparado antes. Não é um álbum fácil, que possas ouvir enquanto estás a fazer outra coisa. É mais complicado que outros álbuns de metal, portanto terás de lhe dar toda a atenção, a fim de apreender as suas subtilezas. CSA – Este álbum parece feito de uma mistura de vários tipos de música. Há alguma relação programada entre os tons de negro de que fala o título e esses diversos estilos musicais? Esse é outro dos sentidos que o título do álbum pretende transmitir. Alguns dos tons de negro do álbum derivam das influências que recebe de outros estilos musicais. O metal representa sempre emoções extremas: violência, tristeza, dor, etc. Mas há muitas maneiras de exprimir a dor, há diferentes tipos de dor. Usar outros estilos musicais (tango, rancheras, drum ‘n bass) permitiu-me introduzir nuances nas emoções que eu pretendia representar. VH – No livro associado ao CD aparece uma citação de Aloysius Bertrand, um poeta francês. Qual a relação entre esse texto e «Various Shades of Black»? Gosto muito desse poeta. No único livro que ele escreveu – “Gaspard de la nuit” –, há uma atmosfera muito especial. Essa frase impressionou-me profundamente desde a primeira vez que a li e adotei-a, porque me parece que ela traduz o que senti quando estava a compor este álbum. Além disso, traduz a essência do ser metaleiro: um monge, sozinho na sua cela, que se entretém a desenhar crânios e tíbias cruzadas no seu livro de horas. CSA – É um álbum triste? Ou tu vê-lo de outra forma? De certo modo, é triste, sim. Mas também é um álbum tranquilo. A paz interior, que sentes quando es-

tás sozinho e não ouves um único som, é negra como breu. Este álbum funciona como a banda sonora desses momentos, uma mistura de tristeza e paz. VH – Realmente, também gostei muito do teu álbum novo. É muito complexo e verdadeiramente fascinante. Afinal, como te sentiste ao compô-lo? É um álbum muito exigente, em termos de ideias. Através dele, quis escapar à situação de estar sempre a imaginar melodias típicas do metal. Pelo contrário, fui procurá-las noutros estilos: por exemplo, no tango, em que estas são muito interessantes e soam muito bem! Portanto, segui nessa direção e tentei ver o que conseguia fazer com essas diferentes formas de tocar. Também experimentamos vozes diferentes, para encontrarmos as que convinham mais à música. VH – Quais são as maiores diferenças entre «Various Shades of Black» e «Desecrated Internal Journey»? Quatro anos de experiência. «Desecrated Internal Journey» foi a minha primeira tentativa, uma espécie de resumo da música que eu queria tocar, ainda com poucas ideias de como esta deveria soar. «Various Shades of Black» tem uma estrutura mais homogénea e ideias mais definidas sobre o tipo de som que se pretende criar. Daí resulta um álbum complexo (afinal de contas, a minha música é mesmo assim), mas, ao mesmo tempo, mais homogéneo. CSA – Quem fez o artwork, verdadeiramente tenebroso? Um artista chamado Slo Sombrebizar, que se dedica sobretudo à banda desenhada. Entramos em contacto com ele graças ao Gérald, o responsável pela LADLO. Discutimos juntos a natureza do álbum e tentamos traduzir graficamente o conceito subjacente a este, enquanto bebíamos umas cervejas. Acho que ele conseguiu representá-lo muito bem. CSA – Parece-te que Gustave Doré seria o artista gráfico ideal para WTE, se a banda tivesse surgido no séc. XIX? Se vivêssemos no séc. XIX, certamente não faríamos black metal. No entanto, reconheço que aprecio muito a obra de Doré, apesar de não ser um especialista na matéria. No início, pensamos em usar alguns dos seus desenhos, mas já tinha sido muito usado no mundo do black metal. Por isso, acabamos por pôr essa ideia de parte. Se tivéssemos vivido no séc. XIX, tudo seria muito diferente. Quem sabe? CSA – Li que Dissection e Emperor vos influenciaram. Em que medida?


“É mais complicado que outros álbuns de metal, portanto terás de lhe dar toda a atenção, a fim de apreender as suas subtilezas.” Quando comecei a banda, Dissection era, sem dúvida, a minha maior influência. Foi por causa deles que eu quis formar uma banda de black metal. Não me sentia tão influenciado por Emperor, banda em que apreciava principalmente a harmonia entre as duas guitarras. Algum tempo depois, comecei a libertar-me progressivamente da influência dessas duas bandas e a descobrir o que realmente queria ser como músico. Atualmente, acho que WTE nada tem em comum com essas bandas, mas admito que posso estar errado. CSA – Por que saíram da Debemur Morti? Parece ser uma boa editora. Void, da Debemur Morti, não parecia ter muita vontade de lançar o nosso segundo álbum. Por conseguinte, fomos procurar outra editora. O Gérald, da LADLO, é um amigo e já estava interessado em Way to End, quando lançamos o primeiro álbum. Fiquei bem impressionado com a promoção, distribuição e apoio que ele dava a todos os seus lançamentos, portanto propus-lhe que lançasse “Various Shades of Black”. Mostrou-se muito entusiasmado e foi assim que acabamos por trabalhar com a LADLO Productions. Entrevista: CSA e Victor Hugo



THE MONOLITH DEATHCULT «Tetragrammaton» (Season of Mist) Todos nós sabemos o quanto difícil é fazer algo de distinto em qualquer género musical, quanto mais no Brutal Death Metal. Mas, quando a inspiração está presente, a forma escolhida é a correcta e a atitude “in your face” é a lei, o resultado final acaba por funcionar na perfeição e é completamente arrebatador, ou melhor: avassalador. Esta é a arma de arremesso dos holandeses The Monolith Deathcult. «Tetragrammaton» para um novo “assalto” à sua carreira, e é simplesmente brutal, na forma magistral como consegue aplicar o seu Death Metal dando-lhe um cunho pessoal, na palete musical que apresenta, onde cada música tem a sua textura própria, sem se repetir, sem destoar do todo, temos um saboroso travo de metal industrial, sinfónico, groove, experimental, sempre sobre o signo do Death Metal e sempre com numa ferocidade atroz. Nada em «Tetragrammaton» passa despercebido, desde os marcantes riffs e solos dos dois guitarristas Michiel Dekker e Ivo Hilgenkamp, ao pujante baixo de Robin Koka, avassaladora bateria de Sjoerd Visch e a partitura orquestral de Carsten Altena, tudo brutalmente guturado pelo homem do baixo. Os The Monolith Deathcult estão a puxar os limites do Death Metal, quer na velocidade, quer na componente de brutalidade, mas para que o resultado final não seja uma cacofonia de sons e barulho. Tal como os Nile conseguiram levar mais além de forma excepcional o Death Metal técnico, os The Monolith Deathcult conseguiram o mesmo com «Tetragrammaton» no campo do Death Metal Brutal. Nunca a brutalidade tinha soado tão perfeita e magnífica. [10/10] Carlos Filipe



Profanos entre os profanos

JB Le Bail, vocalista e guitarrista dos Svart Crown, desenvolve esta ideia, a propósito de «Profane», o terceiro álbum da banda, que exprime a sua essência. Satisfazendo a curiosidade da Versus (e a dos seus leitores, esperemos!), traça um panorama do metal francês, em que se fundem elementos muito negativos com outros extremamente positivos. Afinal, a vida é feita de contradições… também!


Fiquei muito surpreendida, quando descobri que Svart Crown era uma banda francesa. Por que escolheram este nome? JB Le Bail: Escolhemos este nome em 2005. Precisamos de o fazer, por causa dos concertos. Foi o Clément Flandrois (o nosso atual guitarrista) que o inventou, quando ainda nem sequer fazia parte da banda. Pareceu-nos interessante ter um nome que expressasse a diversidade da nossa música. E, de facto, muitas pessoas ficam surpreendidas por descobrirem que somos franceses e pensam que somos uma banda de black metal. Vi, na informação fornecida pela vossa editora, que investem muito nos concertos e que já tocaram com bandas bem conhecidas. Sou grande fã de Shining, Septicflesh e Melecesh. Com que banda francesas já tocaram ou quais gostariam de ver ao vosso lado? Já tocamos com muitas grandes bandas francesas: por exemplo, Gojira, Benighted, Trepalium, Klone, Otargos, Gorod, para mencionar apenas algumas. Aconselho-te vivamente a informares-te sobre elas, se não as conheces… Mas, na sua maioria, são

diferentes de Svart Crown. Em maio, vamos fazer uma digressão em França e tocaremos com Aosoth (black metal) e Necroblaspheme (death metal), que são bandas realmente sinistras e muito no género da nossa. «Profane» é um belo álbum. A que profanação se refere? Obrigado. Mas é raro usarem o adjetivo “belo” para designar a nossa música. «Profane» retrata o que a nossa banda representa. A nossa música está completamente isenta de qualquer forma de sagrado. Se regressares ao passado, constatarás que toda a música popular que não tinha conotações religiosas era considerada como profana. Nós representamos uma nova variedade de música profana. Não respeitamos qualquer código, nem aceitamos nenhumas regras. As nossas raízes estão tingidas do que há de mais horrível e sinistro na Terra. É este o sentido de «Profane». Penso que o artwork foi feito por Matthew Vickerstaff, porque vi no facebook um post dele sobre


“[…] é raro usarem o adjetivo ‘belo’ para designer a nossa música.” a polémica em torno da capa de “Profane”. Fezme pensar nas polémicas literárias do séc. XIX desencadeadas por obras de escritores franceses como Flaubert ou Baudelaire, de que sou grande apreciadora. O que tens a dizer-nos sobre isto? Não foi o Matthew Vickerstaff que fez a capa do álbum, ou o seu artwork. Neste momento está a trabalhar como gerente de produção para a nossa editora: Listenable Records. Quem fez o artwork para «Profane» foi Stefan Thanneur. Já o conhecemos há alguns anos e foi também ele que fez todo o artwork do nosso álbum anterior [«Witnessing the Fall», lançado em 2010]. Queríamos que ele fizesse todo o design para Svart Crown (desde os álbuns ao merchandising). Confio cegamente no seu trabalho. Consegue sempre surpreender-me e parece-me que não podia estar mais adaptado ao universo de Svart Crown. No que diz respeito à capa deste álbum, limitei-me a pô-lo ao corrente das principais ideias veiculadas pelas letras das canções e ele sentiu-se particularmente inspirado por uma delas: “In Utero: A place of hatred and threat”. Esta canção fala de uma jovem mãe que acredita piamente em Deus. Está grávida de gémeos e, durante a gravidez, os exames permitem verificar que uma das crianças está a morrer, enquanto a outra está muito desenvolvida. Ela convence-se de que o gémeo mais forte está possesso e

a tentar matar o outro. Então, chama um exorcista para por cobro ao demónio que cresce dentro dela. E acaba por dar à luz um nado morto. Ainda não consegui perceber a polémica em torno deste álbum. Ao que parece, teve origem nos EUA, graças ao nosso distribuidor e à iTunes. Parece que não conseguem aceitar o facto de se representar os seios de uma mulher na capa de um álbum. Esse país nunca deixa de me surpreender. Não consigo perceber como podem ser tão hipócritas. Mas prefiro não falar mais desse assunto. Parece-te que o metal é bem aceite em França, ou continua a ser uma manifestação cultural quase clandestina? É certo que, de um modo geral, o metal e o rock não fazem parte da tradição cultural francesa. Os mass media interessam-se muito mais pela música popular francesa e, mais recentemente, pelo clubbing e pela música feita por Djs. Já não há praticamente concertos de metal na TV, à exceção de uma cadeia. Mas é algo verdadeiramente confidencial. Por vezes, as grandes salas contratam bandas como Gojira, mas a maioria dos concertos de metal continua a ter lugar em pequenas salas. Paralelamente, em França, temos o Hellfest, que atrai mais de 30000 pessoas por dia. Mesmo que 15% dessas pessoas venham do estrangeiro, vê-se que


“As nossas raízes estão tingidas do que há de mais horrível e sinistro na Terra.” ainda há muita gente no nosso país a ouvir metal. Mas ficas a saber que os franceses estão sempre a queixar-se de alguma coisa. Se houvesse concertos de metal na TV, deixariam de ter interesse, porque já não eram clandestinos. Como não passam dessa música na TV, não presta, porque ninguém verdadeiramente importante no mundo do espetáculo se interessa por ela. Portanto, só temos o que merecemos… Adoro a vossa música. É viciante, por ser pesada, muito obscura (a voz desempenha um papel importante na criação deste efeito) e, ao mesmo tempo, iluminada por belos riffs de guitarra. Revêem-se nesta descrição do vosso som? Bem, penso que sim. Como já te disse, não estamos habituados a que usem palavras como “bela” e “iluminada” a propósito da nossa música, mas não tenho nada contra! Sempre pretendemos criar música que gostássemos de ouvir, é esse o nosso segredo. É simples! A música de Svart Crown resulta de uma combinação de influências muito diversificadas… Penso que uma das nossas caraterísticas mais importantes tem a ver com o facto de produzirmos sempre riffs acutilantes, sobretudo na parte final das faixas. Gostamos de fins hipnóticos, à base de guitarra, como os que podes ouvir na música de Immolation

ou Alice in Chains. Vão fazer muitos concertos para promover «Profane»? Sem sombra de dúvida! Somos uma banda de estrada, adoramos fazer digressões, viajar e tocar a nossa música por esse mundo fora. Para já, temos uma pequena digressão em França, prevista para maio, e vamos participar em alguns festivais nacionais e estrangeiros: Neurotic Deathfest (Holanda), Extremfest (Alemanha), Metal Days (Eslovénia), Motocultor Fest (França) … Gostariam de ser convidados para participar no SWR ou no VOA, dois importantes festivais portugueses? Ou de tocar no Hard Club, no Porto, ou numa sala equivalente, em Lisboa? Temos estado em contacto com o Ricardo (promotor do SWR), mas este ano não vai ser possível estarmos presentes no festival… Tenho muito pena, porque cada ano o cartaz me parece melhor. Mesmo assim, ainda vamos tentar ir a Portugal este ano. Se estiveres a ler esta entrevista, Ricardo… Entrevista: CSA


Do Pecado e da Queda Chega-nos de França mais uma proposta com laivos de Sludge cruzado com alguma essência Black Metal. São argumentos que convencem, e a VERSUS Magazine quis saber até que ponto há espaço para estes Regarde Les Hommes Tomber num espectro a transbordar. A verdade é que a conversa com A.M., guitarrista do grupo, e a audição da estreia do mesmo, apoiaram as premissas acima indicadas. Num discurso interessante, por entre Black Metal, filosofia e religião, percebemos de que Queda do Homem nos conta este trabalho curioso e fascinante.


É o vosso álbum de estreia. Como te sentes depois de terminares o «Regarde Les Hommes Tomber»? A.M.: Antes de mais, estamos todos muito satisfeitos com o nosso trabalho. Este álbum representa meses e meses de trabalho duro. Estamos orgulhosos de ter este álbum, o nosso primeiro álbum, nas nossas mãos… A vossa música é muito curiosa. Como é que aconteceu criarem uma música onde se pode ouvir Sludge e Black Metal? Tiveram dificuldades em harmonizar esses elementos? Todo o álbum foi escrito por apenas uma pessoa que tem uma grande cultura musical, o J.J. (guitarrista). Inicialmente ele trabalhou sozinho, e só depois fez-nos ouvir diferentes pistas das músicas. Portanto, foi um processo de composição bastante pessoal. Penso que o objectivo dele era criar uma música negra, épica, mas também eficiente. O titulo do álbum e a capa são muito elucidativos acerca do conceito de «Regarde Les Hommes Tomber». O que nos diz este álbum conceptualmente? Este trabalho fala-nos da oposição que existe entre o Homem e o Divino. O Homem quer ser mais superior e grandioso que o Divino. Mas continua a falhar na sua demanda pelo Absoluto, porque a sua condição de mero mortal não lhe permite entender uma ínfima parte daquela imensidão. É uma luta sem esperança com uma conclusão inevitável. O Homem será sempre traído pelos seus instintos mais básicos, os seus desejos e egoísmo. O Ser Humano, levado por uma vontade de se tornar num Ser melhorado, irá sempre alterar a sua demanda pelo Absoluto por um caminho de dominação com o intuito de controlar o que lhe rodeia – ambiente e pessoas. Foi essa a razão que nos levou a pedir a Fortifem, que criou a capa do álbum, para desenhar a Torre de Babel que ilustra a queda do Ser Humano, a sua má interpretação e o castigo Divino. Estamos muito satisfeitos com o resultado final. Portanto, não tem nada a ver com o filme com o mesmo nome do vosso álbum, realizado por Jacques Audiard. Não. Apenas adoptámos o título do filme. Sou o responsável pela ideia do título. “Regarde Les Hommes Tomber” é um dito bastante negro e épico. Continua a assombrar-me desde o dia que o ouvi, há muitos anos atrás. Tinha de fazer alguma coisa com esta frase. Este título foi uma evidência quando iniciámos os ensaios – finalmente tinha encontrado um sentido para a frase “Regarde Les Hommes Tomber”. Já agora, acho que nunca irei ver esse filme, porque este titulo já me é muito pessoal!


“O Homem será sempre traído pelos seus instintos mais básicos, os seus desejos e egoísmo” Onde é que o Henoch encontrou as suas influências e inspirações para o conceito de «Regarde Les Hommes Tomber»? Alguns livros, escritores, artistas? Das Escrituras Sagradas! O Henoch é um apaixonado pela Bíblia e pela Divina Comédia. Por isso, ele agarrou a influência destes grandiosos livros para escrever o conceito do álbum. As nossas letras são reinterpretações de eventos da Antigo Testamento. Irão promover o vosso álbum com concertos e espectáculos? Como descreverias um concerto da vossa banda? Poderoso, negro e frio ao mesmo tempo. Não há comunicação com a audiência. A música deve comunicar por si mesma através de uma determinada postura. Tocamos com o volume muito alto, com poucas luzes e muito fumo!

Para terminar, o que nos podes dizer acerca da evolução do Metal na França, mais especificamente no Black Metal e musica similar? Há cada vez mais e mais grupos interessantes, o que não era o cenário de há uns 10 anos trás. As coisas estão a desenvolver-se… graças, em parte, à nova geração de músicos que não se deixou influenciar pelo Neo-Metal. A cena do Black Metal provou-se a si mesma durante muito tempo, e grupos como Deathspell Omega, Blut Aus Nord, Antaeus ou Aosoth, continuam a lançar cartas. Entrevista: Victor Hugo


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Um som entre várias dimensões

Os Lifeforms são uma banda de Sacramento na Califórnia que começa a dar firmes passos dentro da aventura que é tocar baseado em contratempos, poliritmos, guitarras pesadíssimas e esquizofrénicas, vozes cortadas, baixos distorcidos etc, que muitos apelidam como djent e que no fim tudo soa matematicamente bem. Com o novo álbum em carteira, intitulado de «Multidimensional» fomos tentar perceber as motivações, percepções musicais e objectivos da banda, bem como o passado, presente e futuro.


Olá! Podes apresentar-nos os Lifeforms? A banda e o vosso estilo musical? Nós somos cinco elementos de metal progressivo, podendo alguns dizer “uma banda de djent” da Califórnia. Se não estou em erro, «Synthetic» é o vosso primeiro album sucedendo ao vosso EP «Illusions». Podes explicar-nos como foi feita a passagem de um EP para um álbum “completo”? «Illusions» foi de facto o nosso primeiro EP, e depois lançamos o «Synthetic». A transição foi realmente tentar e realmente agilizar o que é musicalmente os Lifeforms. Para realmente eliminar o meiotermo. Então foi uma passagem de uma espécie de som pesado e uma espécie de som progressivo para um som super pesado e super progressivo. Quais foram os principais objectivos quando entrastes em estúdio para gravardes o «Illusions». Esses objectivos foram atingidos? De que forma? Os nossos objectivos eram, obviamente, apenas fazer algo que nos lançasse. Criar a nossa marca musical e potencialmente a nossa assinatura. Nós tivemos alguns contratempos quando descobrimos o tipo de som que queríamos e tivemos alguns problemas para passar a ideia para o nosso produtor da altura. Penso que posso falar em nome de toda a banda, mas nós

não estamos muito orgulhosos do «Illusions» (Risos). Os poliritmos e as acelerações/ desacelerações são uma constante na vossa música, em especial no vosso novo álbum «Multidimensional» onde criais uma álbum muito homogéneo e nada aborrecido. No que vos inspirastes para chegar ao vosso som? Os sons que temos são realmente o culminar de, não só sermos uma banda de djent, mas também uns grandes fãs do estilo. Quando escrevo músicas, eu faço realmente o que gosto sobre o estilo e adiciono o que eu gostaria de ouvir mais e que acho que está a faltar. A capa do novo álbum é bastante psicadélica, aparecendo uma imagem entre um alien e um louvaa-deus. Como apareceu este artwork e quem o desenhou? O artwork foi desenhado pelo Daniel Wagner do D-Dub Disigns. É realmente baseada no título do álbum «Multidimensional» que tem imensos sons e dimensões diferentes. O álbum é envolto em várias mudanças do princípio ao fim. Uma questão um pouco mais provocadora: O vosso som é baseado em algo que já está criado (e bem) pelos Meshuggah! Não vos assusta serdes considerados como uma “imitação”? Honestamente eu acho que não. Eu sei que há bandas que fazem

um djent de muito pouca qualidade tentando ser os Meshuggah, está um pouco na moda isso. Nos anos 80 algumas das maiores bandas como The Doors, Rolling Stones, The Beatles, etc, todos eles tinham o seu próprio estilo mas muitos deles usavam a mesma escala de blues em um ou dois dos seus êxitos. Naquela época todos usavam guitarras de seis cordas na afinação clássica etc. Hoje em dia todos os músicos a experimentar diferentes afinações e diferentes formas de ver o metal como um estilo musical. O mais recente e emergente estilo de metal é o djent e eu penso que é um estilo musical muito expansivo e expressivo O que fazeis então para vos diferenciardes? Eu penso que tocamos o tipo de djent que gostaríamos de ouvir e de facto ter certeza que é a mais pura simplificação do nosso estilo Como está a vossa agenda de concertos este ano? Bem, nós vamos ter bastantes espectáculos na Califórnia até à saída do novo álbum e espero que o álbum seja bem recebido para nos levar a tournées à volta do mundo para os nosso fieis fãs e não só terem oportunidade de nos ver. Entrevista: Sérgio Pires


s i a c i s u m s e õ x e l f re

dico

O Metal investigado e debatido pela ciência Defendo há muito o amplo interesse académico e científico da música pesada enquanto fenómeno artístico, social e cultural. Na última década esse interesse aumentou exponencialmente, manifestando-se através da produção de um vasto número de livros (enciclopédias, biografias de bandas e de músicos, bem como estudos sociológicos, históricos, etc.) e documentários sobre o tema. No entanto, só agora o Metal passará oficialmente a constituir objeto de reconhecido interesse científico, académico e cultural, por via da criação da revista Metal Music Studies, órgão oficial da International Society for Metal Music Studies (ISMMS). A primeira edição está agendada para 2015. Segundo atesta Karl Spracklen, investigador na Metropolitan University, em Leeds (Inglaterra), e editor da publicação, os objetivos do projeto incluem a criação de um “hub intelectual para a International Society of Music Studies e um veículo para promover o desenvolvimento dos estudos sobre Metal enquanto campo interdisciplinar em termos internacionais”. Outros objetivos passam pelo foco na investigação tendo o Metal como principal objeto de estudo. Pretendese desta forma gerar um campo de pesquisa multidisciplinar que, progressivamente, se quer interdisciplinar, agregando uma miríade de disciplinas relacionadas, como a Sociologia, a Musicologia, as Humanidades, os Estudos Culturais, a Geografia, a Filosofia, a Psicologia ou a História. A direção da revista apela agora aos investigadores, escritores, ensaístas e jornalistas de todo o mundo para

que enviem papers visando a seleção de estudos desenvolvidos no âmbito da teoria musical, da musicologia, da estética, da tecnologia musical, da representação cénica, da arte, dos estudos culturais, entre outras áreas, para eventual publicação na revista. O convite expande-se ainda aos agentes da indústria musical e aos fãs. No entanto, o reconhecimento do interesse que o Metal suscita hoje na comunidade científica não se resume à Metal Music Studies. Com efeito, entre 4 e 7 de abril último realizou-se na Bowling Green State University, no estado norte-americano do Ohio, a conferência internacional “Heavy Metal and Popular Culture”. Ao longo dos quatro dias, através de intervenções a solo, painéis de debate ou mesas redondas, investigadores, músicos, jornalistas e especialistas de todo o mundo abordaram os diversos aspetos que unem o Metal e a cultura popular (Portugal esteve representado com elementos dos Malevolence). Congregando vários subtemas, cada sessão foi subordinada a um tema principal: “Rethinking Heavy Metal”, (1ª sessão), “Crossing Over: Metal Transgressing Genre and Cultural Boundaries” (2ª sessão), “Metal Sounds” (3ª sessão), “Race With the Devil: The Racial Politics of Heavy Metal, or Who Gets to Play (with) Heavy Metal Anyway?” (4ª sessão), “Women and Gender in Heavy Metal” (5ª sessão), “Local Scenes and Sounds, Historically and Today” (6ª sessão), “Global Dimensions” (7ª sessão), “Finnish Take on Metal Management and Consumption” (8ª sessão), “Heavy Metal and Culture in the Caribbean Island of Puerto Rico: National Identities, Religion and Gender” (9ª sessão), “Nostalgia and Kitsch: Metal Gets Sentimental” (10ª sessão) e “Comics, Sci-Fi and Superheroes: Metal Meets Fiction” (11ª sessão). Em destaque estiveram ainda as mesas redondas subordinadas aos temas “What Are the Origins and Meaning of Heavy Metal?” e “The Toledo Heavy Metal Scene”, tendose ainda verificado debates, a projeção dos filmes Global Metal e Heavy Metal in Baghdad e uma sessão de autógrafos de Laina Dawes, autora do livro What Are You Doing Here? A Black Woman’s Life and Liberation in Heavy Metal. Eventos como este são fundamentais ao desenvolvimento, à compreensão e ao conhecimento do Metal numa perspetiva académica, científica, histórica e filosófica, pois de senso comum já sabemos tudo o que existe para saber. Para quando um evento do género em Portugal? Dico - livrobhmp@yahoo.com



Quebra

A alma de Christos Antoniou parece estar repleta de ideias, apenas à espera de tanto, o veículo dessa criação, quiçá, mais pessoal que em Septicflesh. Seja como tonalidade a divergir entre a luz e a treva e, mais importante, arrojados. Somo clássico e o experimentalismo, o tradicional e a electrónica. «Anomima», palav prova, mais uma vez, o génio das pautas e da visão além delas.


ar regras

e uma forma para que sejam, por fim, concretizadas. Chaostar talvez seja, poro for, a verdade é que os resultados em Chaostar são muitíssimo bons, com uma os levados e conduzidos por entre texturas e sons altamente poderosos, entre o vra Grega que significa “pecados”, é mais um passo na carreira de Christos, que


A minha primeira pergunta é acerca da origem de Chaostar. Alguma vez pensaste em criar um projecto como Chaostar antes do single «The Eldest Cosmonaut», dos Septicflesh? Foi esse momento, em 1998, a verdadeira origem de Chaostar? Christos Antoniou: Eu diria que o primeiro sinal foi no álbum «Fallen Temple». A “Trilogy of Underworld” foi a opus 1 para Chaostar. Mas o verdadeiro nascimento foi em 1999, mais especificamente na Suécia, a gravar o álbum «Revolution DNA» com os Septicflesh nos estúdios Fredman. Sotiris lançou um nome, e tivemos a ideia de formar uma band que seria o lado clássico dos Septicflesh. Agora, claro, as circunstâncias são totalmente diferentes e Chaostar não é um projecto meu. É, antes, uma banda plena de energia pronta para actuar por todo o mundo e produzir mais álbuns. Acompanho o vosso trabalho deste o primeiro lançamento, e a primeira evidência que concluo é a clara evolução na composição musical. E este «Anomima» não é excepção. Como olhas para o teu trabalho até agora nos Chaostar? Alguma vez pensaste chegar até aqui? Estou verdadeiramente satisfeito com o modo como trabalhei as músicas de Chaostar ao longo destes anos. O meu objectivo é experienciar sons diferentes e, se possível, criar um diálogo entre elementos controversos. Penso que preparei o chão para um resultado frutífero, e durante esses anos todos e colhi essa satisfação. Não vejo barreiras na música e pretendo transmitir essa ideia à audiência. O elemento surpresa será aquele que irá dominar daqui em diante. No «Anomima» podemos ouvir mais instrumentos tradicionais, entre outros sons, tais como sons

electrónicos. Tens músicos para tocar esses instrumentos e produzir esses sons? Sim, claro. Como disse, Chaostar já não é um projecto. Tenho músicos fantásticos na banda. Cada um é virtuoso no seu instrumento. Para um compositor isto é uma vantagem de “ouro”. Posso experimentar sem quaisquer limites. George, o tipo que toca todos os instrumentos tradicionais, é o “mestre da orquestra tradicional”. Ele consegue tocar imensos instrumentos com uma grande paixão. Considero as nossas tonalidades tradicionais como a nossa maior arma. Androniki Skoula é a terceira vocalista em Chaostar. Foi difícil encontrar uma vocalista desse calibre para os Chaostar? Androniki é uma cantora esplêndida. Ela é a melhor cantor com quem já alguma vez trabalhei. O seu talento e adaptabilidade a vários estilos é fora de série. Para fazer parte de um ensemble com tantos músicos talentosos, tem de se ser um mestre no seu instrumento. Chaostar é uma ensemble exigente; e a cantora, especialmente a cantora, tem de ser dedicada e concentrar-se na sua tarefa de transmitir a música para a audiência. Tu convidaste o Fernando Ribeiro dos Moonspell, e o David Vincent dos Morbid Angel. Porquê eles? Primeiro, tenho uma boa relação com ambos. Quando estava a compor as peças tinha na minha cabeça estes artistas. No tema “Dilate the Time” queria uma voz quente, gótica e enigmática. Quem a tinha? O Fernando. Na outra canção, eu tive sorte em ter uma Lenda como David Vincent para narrar o tema mais negro e avant-garde do «Anomima». As interpretações destes artistas são altamente arrepiantes. Estou muito agradecido pelo contributo deles. Ambos são

artistas únicos. Conceptualmente o que é que exploraste em «Anomima»? Desta vez o conceito é mais preciso. Desejávamos muito obter uma inspiração para este álbum que se focasse em sentimentos e pensamentos. Todos os membros da banda acharam interessante a ideia de se concentrarem num assunto. O pilar central, cujo álbum circula à sua volta, é a força e o poder individual que cada um tem com o intuito de lutar por uma ideia, ou proteger as suas crenças. Fomos estimulados por personalidades da Antiguidade; mesmo nos nossos dias, por simples heróis que se erguem das ideias estabelecidas e fazem a diferença. Uma pequena ideia que pode crescer dentro de nós, e tornar-se numa parede para nos proteger das investidas do inimigo – essa tem sido a raiz da minha inspiração. Para este trabalho usaste vários idiomas, como o Inglês, Francês e o Grego. Porquê? Sim, a variedade de línguas não é um mero acidente? Na verdade, tem sido muito difícil organizar as canções com as diferentes línguas, adicionando o facto que tivemos de manter inalterado o sentido da letra. Levamos as várias línguas à experimentação, e posso dizer que por vezes uso-as de um modo nada convencional. Até que nessa área quis fazer uma espécie de testes. Para mim é muitíssimo importante esticar as barreiras da estrutura de uma canção. A variedade de línguas mostra que o resultado final pode levar-nos a outra dimensão, se elas forem constantemente sujeitas a testes. Todos os países têm uma língua que dá à luz uma distintiva tonalidade musical nos nossos ouvidos, e que desempenham, também, um papel importante para o resultado final. Além do mais, algumas línguas tendem a ser extremamente belas


quando usadas para expressar determinados sentimentos. Agora uma curiosidade: há algum elo entre a música “Les Réminiscences Extatiques” do «Anomima», e a música “Pleasure Dome” do «The Scarlet Queen»? Pergunto porque parece que ouço algo similar nos acordes e melodias de ambas. Eu diria que ambas estão numa

forma de “adagio”, com algumas similaridades na base. Também possuem aquele odor trágico que te dá essa impressão. Tens um ouvido muito bom! Estão preparados para espectáculos, concertos e uma Tour na Europa? Ou agora é complicado? Não, de todos! Estamos preparados para tudo! Até agora agendámos a presença em três festivais, e

iremos ser cabeça de cartaz num festival na Roménia, em Julho. Iremos actuar no maior festival da Grécia, o Rockwave Festival, e em Outubro temos o Metal Female Voices Festival, na Bélgica. Acerca da Tour, Serei cuidadoso nas minhas decisões. Veremos… Entrevista: Victor Hugo


Tragédia e teatralidade Acabamos de descobrir esta one man band francesa, que faz da música extrema (misturada com muitos outros géneros) um instrumento de reflexão (filosófica e artística) sobre a fatalidade do destino humano a que chamamos vida. Através das nossas perguntas e das respostas de Vaerohn (mentor de Pensées Nocturnes), tentamos perceber um pouco melhor a natureza de «Nom d’une Pipe», o seu mais recente lançamento, cujo título humorístico não retira nada à ansiedade que tão profunda reflexão pode provocar no ouvinte. Compuseste este álbum completamente sozinho ? É admirável ! Vaerohn: Não penso que a solidão seja algo de surpreendente, mas PN é efetivamente um projeto a solo. Não consigo imaginá-la senão como uma one man band. A estrutura habitual (duas guitarras e um baixo) já não tem nada de inovador. Surge em quase todas as bandas de metal, que também apresentam grandes semelhanças em termos de estilo, recorrendo sistematicamente às mesmas gamas sonoras. Daí a espécie de carrossel sem fim, que constitui a nossa pitoresca cena atual. Esta estrutura é indispensável ao funcionamento da minha banda, precisamente porque combina música proveniente de diferentes contextos: como explicar a um trompetista que só precisamos dele para tocar alguns compassos durante um concerto ? Além disso, não tenho paciência para estar constantemente a explicar as minhas extravagâncias a outros hipotéticos membros da minha banda.

Ao ouvir o teu álbum, vêm-me três palavras à cabeça : trágico, teatral, mágico. Que pensas disto ? Concordo com os qualificativos trágico e teatral. Mas não concordo que seja um álbum mágico. É trágico, porque apresenta uma visão autêntica e esclarecida do que é a vida, ou seja: não é otimista, mas também não é pessimista. A vida não é cor-derosa, nem negra. Todos conhecem as suas regras. Também me parece teatral, dado que a sua composição apostou muito na encenação. A música de PN descreve uma cadeia de acontecimentos, de personagens e de ações que por si só implica uma espécie de cenografia imaginária. Contudo, não vejo nada de mágico em PN. Muitos veem a música como um passaporte para o sonho, uma forma de se aproximar de uma divindade inatingível, de se transportar para um além, à semelhança de Neige, que usa Alcest para refletir sobre a imortalidade. Muitos sentem-se arrastados por uma força superior e espiritual, um misticismo incontrolado, que os guia na sua demanda. A estes


“sonhadores de domingo” só tenho uma coisa a dizer: PN corresponde, pura e simplesmente, à materialização de um aqui e agora, ao prazer malicioso de encriptar uma reflexão e de perder o ouvinte num dédalo de vibrações, à distância crítica de um sábio que se ri do mundo que o rodeia, ao gozo que decorre do ato de criar, por muito limitado e vão que ele seja. Não há nada de mágico nisto. Onde foste buscar a expressão que usaste para o título do teu álbum? Gosto muito de Popeye. E que relação existe entre este “cachimbo” quase escandaloso e a capa do álbum? Estava prevista uma capa bem mais escandalosa do que a que ficou. O teu álbum quase parece divertido, mas acaba por inspirar uma angústia aterradora. É o que tu sentes perante a vida? Volto à definição de trágico que apresentei acima. O nascimento condena-nos a uma fatalidade que apenas podemos aceitar ou ignorar. Parece-me que a melhor atitude a adotar face a este fado não é refugiarmo-nos nas invenções da religião ou de qualquer outro tipo de crença, mas a aceitação consentida da nossa condição. Tal como dizes, esta vivência leva-me a uma espécie de divertimento crispado, de troça humorística, mas, ao mesmo tempo, perfeitamente lúcida. Onde foste buscar todos estes músicos fantásticos? O teu álbum é uma verdadeira sequência de “colagens” musicais, que eu vejo como outros tantos comentários sobre a vida. Encontrei-os nas profundezas do meu crânio. Falas de “colagens”, mas chamo-te a atenção para todo o cuidado que dei às transições entre os diversos tipos de música, para que o álbum não pareça o produto de um exercício grosseiro de copiar/colar e se mantenha coerente na sua globalidade. Voltando à tua pergunta, o álbum é complexo, porque o Homem, a Natureza, o mundo, a vida são complexos. PN não apresenta uma visão universal do mundo, assenta antes numa perspetiva nominalista e procura mostrar que as palavras, os conceitos, as imagens, em suma, qualquer interpretação da realidade não passam de instrumentos que não podem, de modo nenhum, substituí-la na sua materialidade. Um triângulo, uma reta, “1 + 1 = 2” são coisas que só existem no nosso espírito, não têm nenhuma existência real. Do mesmo modo, não podemos reduzir as emoções de um bípede a palavras simples como triste, calmo, alegre, maldoso,

divertido… A natureza humana é mais complexa do que isso e PN procura, muito simplesmente, exprimir essa verdade. Fizeste estudos de música? Pareces ser um verdadeiro “poliglota” no que diz respeito a essa arte. Não, sempre aprendi por tentativa e erro. Esse processo faz parte do prazer que sinto em compor. Como qualquer indivíduo são e que se respeita a si próprio, a minha vida é uma luta permanente contra o aborrecimento. Estou incessantemente à procura de novidades, de sensações que nunca experimentei, de sonoridades inéditas, de instrumentos estranhos. Tenho horror à ideia de dominar perfeitamente um instrumento, por exemplo. É algo que implica que se gaste muito tempo a fazer, refazer e fazer novamente os mesmos movimentos, as mesmas ações. Implica também experimentar sempre as mesmas sensações… É de dar em louco. O Homem não é perfeito e essa procura da excelência não me atrai. Portanto, a educação musical seria sempre insuficiente para mim. Terias podido fazer este álbum, se não fosses francês? Nele encontro retratados muitos aspetos da cultura francesa dos séculos XIX e XX, sobretudo no que se refere à música, ao teatro e até ao cinema. Qualquer obra é uma autobiografia, mais ou menos consciente. Logo, PN é forçosamente influenciada pela minha infância e pela cultura em que fui criado. Contudo, não é uma cópia dessas vivências, feita de modo voluntário. Nada de chauvinismo! E, voltando à questão anterior, não tenho o hábito


de descansar à sombra da bananeira¸ no que concerne à procura de novas sonoridades. És capaz de reproduzir ao vivo o som que se pode ouvir no CD? Para já, não estou a pensar em fazer concertos. Isso implicaria que eu alterasse bastantes partes da minha obra. Parece-me que o resultado final não estaria à altura das minhas exigências. Já tens alguma informação sobre a reação do público a esta obra tão bizarra? Não propriamente. Sabes, quando és uma one man band, as únicas reações que recebes são crónicas frequentemente mal escritas e comentários de cibernautas confortavelmente instalados diante dos seus computadores. Não se pode dizer que seja uma interação muito informativa. Entrevista: CSA

“[…]PN corresponde, pura e simplesmente […]à distância crítica de um sábio que se ri do mundo que o rodeia, ao gozo que decorre do ato de criar […]”


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Desconfiança sem desespero Como sempre, coube a Mikko Lehto a tarefa de saciar a curiosidade da banda sobre o seu último álbum: «The Plague of a Coming Age». De modo contido, mas nada timorato, o mentor da banda e seu único membro durante alguns anos, falou deste trabalho e das características do projeto musical a ela subjacente, permitindonos compreender quão especial este parece ser na cena metal europeia. É pena que dessas características faça parte a indisponibilidade para tocar ao vivo!


Têm aqui um álbum fantástico. Tendo em conta a informação prestada pela Debemur Morti e o logo da banda que escolheram para este lançamento, trata-se de um álbum num estilo mais ligado ao metal. Que critérios usam para decidir que orientação vão dar a cada álbum de October Falls? Mikko Lehto: Muito obrigado! Mais uma vez, o novo álbum acabou por se converter em algo áspero e não num objeto acústico. Na realidade, nunca planeio à partida que tipo de álbum vou fazer. Limitome a começar a escrever material novo e, pouco a pouco, ele próprio me indica em que direção quer seguir. Por vezes, tenho uma combinação de faixas mais acústicas e outras mais “ásperas” e então tenho de decidir que direção lhes quero imprimir. Mas, geralmente, as coisas tornam-se claras depois de eu ter escrito algumas (poucas) canções. Se me soarem melhor na versão acústica, serão integradas num álbum dessa natureza. Se necessitarem de uma abordagem mais “áspera”, será um álbum para toda a banda. Provavelmente, outros artistas formariam duas bandas diferentes (uma para cada estilo), mas, para mim, é tudo música, portanto vejo os dois estilos apenas como modos diferentes de dar vida à

Mas, certamente, também repararam que os media criaram uma enorme celeuma sobre o fim de uma era e o advento doutra, sobretudo por causa das “profecias” relativas a 2012. Agora que já estamos em 2013 e que nada parece ter mudado nas vidas das pessoas, essa agitação está a esbater-se e só voltará, quando acontecer alguma catástrofe. No entanto, mesmo pondo-me à margem dessa histeria, tenho de reconhecer que nos espera uma era de decadência, se é que não estamos já mergulhados nela. Mas não me parece que isso tenha a ver com o fim de uma era. Ouvir o vosso álbum deu-me uma grande sensação de ansiedade. É um problema meu, ou algo que a banda queria passar neste longa duração? Bem, todos os álbuns são assim: cada um faz nascer certos sentimentos nos respetivos ouvintes. E, como este é bastante pessimista, é provável que faça surgir a angústia. Contudo, chamo a atenção para o facto de que não se trata de um álbum desesperado. Afinal, temos sempre de encontrar forças para seguir em frente, mesmo que o caminho nos pareça difícil e que o futuro não nos dê certezas nenhumas.

“[…]Há velhas serpentes que continuam a rastejar nas sombras, depois de tantos séculos, envenenando as pessoas com as suas crenças. […]” música, não como algo completamente diferente. Sentes-te pessimista em relação à chegada de uma nova era? Sim e não. É impossível saber o que o futuro nos reserva. Quando recordo como era o mundo da minha infância, sinto que era muito diferente do de agora, para o bem e para o mal. De um modo geral, não encaro o futuro com pessimismo, mas há tantas coisas a desaparecer que seria estranho que eu o visse apenas com lentes cor-de-rosa. Há velhas serpentes que continuam a rastejar nas sombras, depois de tantos séculos, envenenando as pessoas com as suas crenças. E, quando a confiança cega se sobrepõe ao raciocínio, só podemos esperar que o futuro seja dominado pelo obscurantismo e pela regressão. Recentemente, entrevistei os Porta Nigra sobre o seu «Fin de Siècle» e também eles pareciam bastante céticos acerca do fim de uma era, que pode anunciar o início doutra. O que tens a dizer sobre isto? Nada sei sobre as suas opiniões e pensamentos.

Podemos dizer que as faixas deste álbum funcionam como uma espécie de texto narrativo/descritivo? Os seus títulos fizeram-me vir essa ideia à cabeça. Penso que sim. As letras e a música de algumas partes foram reescritas depois de as faixas terem sido ordenadas, para ficarem mais adequadas à “história” que o álbum conta. De um modo geral, as letras foram reescritas três vezes, desde as primeiras demos, para que o trabalho final ficasse uno e coerente. Porque escolheram Santiago Caruso para ilustrar a capa do álbum? Essa aliança entre o norte finlandês e o sul argentino pareceu-me muito curiosa. Como a nossa música começou a seguir uma nova direção, ao fim do lançamento de alguns álbuns, decidi que a sua arte deveria refletir essa inflexão e comecei a procurar algo diferente do que tinha usado antes. Analisei o trabalho de muitos artistas que não eram demasiado vistos nas capas de álbuns até ao momento e, quando me deparei com a arte do Santiago, soube imediatamente que tinha en-


“[…]nunca planeio […] que tipo de álbum vou fazer. Limito-me a começar a escrever material novo e […] ele próprio me indica em que direção quer seguir.” contrado o meio ideal para dar existência gráfica à atmosfera deste álbum. Entrei em contacto com ele, dei-lhe a conhecer algumas ideias minhas e uma parte das letras que escrevi e ele pintou aquela imagem, em que inseriu muitos tópicos que eu tinha focado. Até os rascunhos que ele fez para chegar a este resultado final eram espetaculares e é claro que o trabalho final os ultrapassava de longe. Na minha opinião, é a arte perfeita para este álbum. Também apreciei muito positivamente o facto de teres escolhido o Tomi Joutsen (de quem sou grande admiradora, assim como dos Amorphis) para fazer as vozes limpas em duas faixas deste álbum. Como é que isso aconteceu? Foi uma colaboração prevista desde o início ou fruto de um momento de inspiração? Quando acabámos de escrever toda a música, vimos que íamos precisar de alguém para cantar as partes de voz limpa, porque eu não sou capaz de o fazer. Depois de reunirmos vários nomes, o Marko [Tarvonen, o baterista da banda] sugeriu que convidássemos o Tomi, que ele já conhecia. Pessoalmente, gosto muito da voz dele e a ideia pareceu-me excelente. Portanto, enviámos-lhe algumas demos e letras do álbum e ele aceitou cantar nas faixas em que precisávamos da sua colaboração. Depois, foi só encontrar um horário que conviesse às duas partes, para gravarmos essas faixas. Pela parte que me toca, fiquei mais que feliz com esta situação. Par dizer a verdade, não sugeri eu próprio o Tomi, porque pensei que estaria demasiado ocupado com os Amorphis para reservar tempo para uma banda pequena como os October Falls, mas ele foi fantástico e a colaboração acabou mesmo por acontecer. A sua voz cria a atmosfera perfeita para o álbum e constitui um verdadeiro trunfo para as faixas em que participou. E como obtiveram a colaboração do outro músico que convidaram? Bem, já é o terceiro álbum que fazemos com o Marko Tarvonen, mas o Sami Hinkka apareceu quando estávamos a gravar as partes de bateria. Entretanto, tomámos consciência do facto de que o nosso anterior baixista ia mesmo sair, apesar de ter gravado alguns momentos acústicos deste álbum. O Marko já conhecia o Sami e sugeriu que lhe pedís-

semos para participar nas gravações e, uma hora depois de o convidarmos, ele já estava no estúdio a ouvir demos e as faixas de bateria recém-gravadas. É um baixista fabuloso e, por conseguinte, demoslhe carta branca. Foi ele que fez os arranjos para todas as linhas de baixo. Vi que a banda foi criada por ti, embora tenha deixado de ser o projeto de um só homem há alguns anos atrás. Como te dás com os teus colegas de banda? De facto, fui eu que criei October Falls e gravei os primeiros álbuns completamente sozinho. E ainda o faço para alguns dos lançamentos. Mas acho maravilhoso trabalhar com gente como o Marko e o Sami. São ambos excelentes músicos e, por isso, posso beneficiar das suas sugestões e dos seus contributos, que melhoram sempre o material que escrevo, embora a última palavra seja sempre minha e eu seja o único responsável pelas entrevistas da banda. De certo modo, não somos uma banda comum, porque não fazemos concertos ou ensaios ao vivo e só nos juntamos quando há música nova. Portanto, temos pausas longas na atividade da banda e isso torna as coisas muito diferentes. Sabemos que há muitas bandas que raramente gravam, mas os seus membros tocam juntos frequentemente nos intervalos. No nosso caso, só nos reunimos quando há material novo composto, que é preciso arranjar e gravar, para um álbum ou outro lançamento menos ambicioso. Têm alguns planos especiais para difundir esta “praga”? Não, nada de especial. Vamos apenas tentar contaminar todas as pessoas que pudermos atingir. Portanto, mesmo os que nunca ouviram falar de October Falls até agora vão dar-se conta da sua existência graças a este álbum. De resto, vai continuar tudo na mesma. Não haverá festas de lançamento, nem atuações ao vivo. Caberá ao álbum a tarefa de difundir esta “praga” por si mesmo. Entrevista: CSA


Clive Burr: um talento que perdurará Há um ano sugeri ao Ernesto Martins, diretor desta revista, a publicação de um texto-tributo a Clive Burr, ex-baterista dos Iron Maiden. Já na altura o antigo músico se encontrava extremamente debilitado pela esclerose múltipla que lhe consumia a vida. Parece agora que a ideia para o texto constituiu uma premonição do triste desfecho ocorrido a 12 de março passado.


Biografia da besta Nascido a 8 de março de 1957 em East Ham (Londres), Burr inicia a carreira musical nos Maya. Integra os Samson entre 1977 e 1978, sem chegar a gravar com a banda (em 1980 e 1981 Bruce Dickinson, mítico vocalista dos Iron Maiden, também haveria de atuar no grupo, gravando os álbuns Head On e Shock Tatics). Entre 1979 e 1982 o baterista ganha fama planetária nos Iron Maiden, com quem grava os álbuns Iron maiden (1980), Killers (1981) e The Number of the Beast (1982), além do EP Maiden Japan (1981) e vários singles. Problemas devido ao consumo abusivo do álcool levam à sua expulsão do grupo durante a The Beast on the Road Tour. Burr troca então de lugar com o seu substituto, Nicko McBrain, proveniente da banda francesa Trust. Com os gauleses regista os álbuns Trust IV (1983) e Man’s Trap (1984) mas o vício e as vicissitudes daí decorrentes não mais lhe permitem manter uma carreira estável. O baterista passa a transitar de banda para banda, quase sem aquecer o lugar. Toca por um curto período de tempo nos americanos Alcatrazz (nos quais Yngwie Malmsteen iniciou a carreira), funda, com ex-elementos dos Praying Mantis, os Clive Burr’s Escape, sucessivamente conhecidos como Tygon, Stratas e, finalmente, Stratus, sob cuja designação gravam o álbum Throwing Shapes (1984). Com os Gogmagog Clive Burr regista o EP I Will Be There (1985), no qual participam o igualmente ex-Iron Maiden Paul Di’Anno e o futuro guitarrista da “Dama de Ferro” Janick Gers. Com os Desperado (de Dee Snider, na altura ex-vocalista dos Twisted Sister; e Bernie Tormé, ex- Gillan) grava em 1988 o álbum Bloodied but Undowed, só editado oito anos mais tarde. Já nos Elixir o músico edita Lethal Potion (1990) e Sovereign Remedy (2004) e, com os Praying Mantis, Captured Alive in Tokyo City (1996). Lentamente, a vida profissional de Clive Burr acaba por se desmoronar. O álcool falava mais alto. Para sobreviver, Clive chega a tornar-se taxista. No final dos anos 90 é-lhe diagnosticada esclerose múltipla, cujo tratamento enfraquece significativamente o músico. Burr cria então o Clive Burr MS Trust Fund e o Clive Aid, uma instituição de caridade. Ainda que deslocando-se numa cadeira de rodas devido ao seu débil estado de saúde, o agora ex-baterista continuou até à morte a angariar fundos em concertos para benefício de vários proje-


tos mundiais no âmbito do tratamento da esclerose múltipla e do cancro. Recebeu ainda o apoio dos Iron Maiden, que realizaram diversos concertos de beneficência em prol do ex-colega. Clive Burr faleceu durante o sono a 12 de março de 2013. Nós, os fãs, agradecemos o imenso legado que nos deixou. Que descanse em paz. Dico

anuncia aqui


Filhos d

S坦 falta mesmo um concerto de ras. Uma carreira t達o certa, t達o merecia uma passagem por Por tece, poder達o ouvir e degustar es frente a querer marcar a sua po bandas no mesmo patamar, e a c superar-se a si mesma. Altti Vet plicou a naturalidade do sucesso


de Sami

estes finlandeses nas nossas terhomogénea e tão superlativa já rtugal. Enquanto isso não aconste «Saivon Lapsi», um passo em osição, embora não haja muitas confirmar que a banda consegue teläinen, baixista e vocalista, exo dos Eternal Tears of Sorrow.


A primeira vez que ouvi «Saivon Lapsi» pensei: “Estes tipos estão melhor que nunca. Eles conseguem superarem-se a si mesmos!” Este sentimento é mutuo no seio da banda? Sentiram que fizeram um excelente trabalho? Altti: Muito obrigado. É muito bom ouvir-te dizeres que gostaste do álbum, tendo em conta que sentiste isso logo na primeira audição. Posso afirmar que estamos também bastante satisfeitos com o álbum. Não pensámos muito em como seria o álbum na íntegra. Trabalhámos, como sempre, tentando fazer as melhores canções possíveis para Eternal Tears of Sorrow, e não pensando exactamente no estilo para o álbum, nem pensando que estaríamos a fazer o melhor trabalho da nossa carreira. Apenas queríamos que cada canção soasse bem, dando para isso o nosso melhor – tendo a confiança que por fim o álbum na sua íntegra seria puro Eternal Tears of Sorrow.

demorar a produzir um bom trabalho, do que um rápido mas mau trabalho, certo? É mesmo isso! Não queremos saber quanto tempo demoraremos a trabalhar num álbum para que ele fique pronto e carregado de boas canções. O que importa é que no final o trabalho seja grandioso e o melhor que poderemos oferecer aos nossos fãs.

Desde o álbum «A Virgin and a Whore» vocês têm demorado mais tempo a lançar álbuns. Não estão preocupados com o tempo, pois não? E preferem

É impressão minha ou poderemos ouvir em «Saivon Lapsi» mais solos de guitarra e de teclas do que nos álbuns anteriores?

Como foi trabalhar no «Saivon Lapsi»? Mais difícil que nunca, ou simplesmente natural? Devo dizer que alguns momentos foram duros, mas por outro lado houve partes do trabalho que foram realmente fáceis. Por exemplo, o nosso novo guitarrista, Mika [NR: Mika Lammassaari], compôs muitas canções para o «Saivon Lapsi», e mesmo sendo a sua estreia na banda, as canções foram tal e qual canções dos Eternal Tears of Sorrow da primeira à última nota. Foi bastante natural, e gostaríamos que ele trabalhasse sempre na banda.


Bem, não acho que haja tanta diferença, comparando com o «Saivon Lapsi» e os últimos três lançamentos. Penso que a quantidade é quase a mesma. Talvez os solos estejam mais expostos nestas novas canções, e tenham tido mais espaço nelas. A voz limpa de Jarmo Kylmänen está mais presente. Acharam que seria boa ideia neste trabalho dar-lhe mais espaço? Sentimos que estas canções precisavam mais de vozes limpas. Há, por isso, mais canções com vozes limpas neste álbum. Tudo o que podemos dizer é que as canções não seriam as mesmas sem as vozes do Jarmo. Elas simplesmente completam-nas. O meu primeiro contacto com o vosso novo álbum foi através do vídeo da musica “Swan Saivo”. E rapidamente percebi que contam uma história. Faz-me lembrar uma espécie de lenda. Depois vi a capa do álbum e vi a mesma história. Que história é essa? Saivo é um antigo mito Sami acerca do seu submundo – o mundo depois da morte. Como repar-

aste, este álbum é muito baseado neste mito porque achamo-lo interessante. Nos nossos primeiros álbuns escrevemos bastante não só acerca dos mitos dos Sami, como também acerca da sua gente. E agora pensámos que ainda há mais histórias que precisam de ser contadas nas nossas canções. Diria que o «Saivon Lapsi» é, em parte, um álbum conceptual; mas nem todas as canções estão atadas a esse conceito dos Sami. Mas mesmo assim muitas estão. Há alguma hipótese de haver um concerto vosso em Portugal? Diria que muitos fãs iriam adorar! Veremos essa hipótese futuramente. Seria muito porreiro tocar no vosso país, porque seria a primeira vez que o visitaríamos. Entrevista: Victor Hugo


Esquecidos ou nem por isso!?

Que o panorama musical português está cheio de artistas medíocres, já todos nós sabemos. O que muita gente não sabe é que (ainda) vão aparecendo artistas/grupos muito talentosos e, acima de tudo... Originais! Os The Godspeed Society são um dos grupos mais recentes e acabam de lançar o seu álbum de estreia, álbum este que continua “escondido” e esquecido das rádios e televisão. Porquê!? Qualidade, originalidade, talento não lhe falta e o mais engraçado é que o reconhecimento começa no estrangeiro. Sílvia Guerreiro foi inexcedível na entrevista e desvendou-nos muito sobre a “vida” dos The Godspeed Society.


Olá, antes de mais parabéns pelo vosso álbum de estreia. Está excelente! Sílvia Guerreiro: Muito obrigado! É bom sentirmos que o nosso trabalho e esforço são reconhecidos! Apesar de não ouvir rádio muitas horas seguidas, ouço alguns programas de referência principalmente de manhã e espanta-me ainda não ter ouvido nenhuma referência à banda. Acham normal ou ainda não começaram a promover o álbum? Acho estranho este projeto de imensa qualidade não estar mais divulgado, partilhado e difundido. Sendo assim, como está a correr a aceitação por parte do publico? Bom, respondendo por partes, normal é, ideal, não é de todo. Os The Godspeed Society de facto não trabalharam da forma convencional, fazendo a promoção do single antes do álbum sair, promovendo o álbum logo após o lançamento etc, por uma série de razões e impedimentos. Tínhamos duas opções, ou adiavamos o seu lançamento e ajustávamos contas com os nossos fãs ou concretizávamos o nosso desejo de lançar o álbum e trabalhavamos ao nosso ritmo e dentro dos timmings que nos eram possíveis cumprir. Entretanto a Ana Sofia (acordeonista) teve um bebé e nós estamos muito felizes por ela e a aproveitar o início do ano para começar, passo a passo, a marcar concertos e a divulgar o álbum, especialmente lá fora. Tal como afirmas, em Portugal o álbum saiu e a imprensa praticamente ignorou e não se deu ao trabalho de nos ouvir, enquanto a imprensa estrangeira recebeu o disco de braços abertos e as críticas que estão a ser publicadas são inacreditáveis. Quanto ao público português, a história já é diferente, pelo menos quem já adquiriu o álbum, tem-nos enviado as mais entusiasmantes mensagens e elogios. Estamos muito satisfeitos com o

resultado deste disco, sem dúvida. Sendo um projeto tão original como é que vocês se definem em termos musicais? Quais as vossas principais influências? Vem-me assim à ideia uns laivos de Yann Tiersen... Sim, aceitamos a comparação com Yann Tiersen, como tantas outras que nos têm sido feitas, porque percebemos que as pessoas fiquem intrigadas com o que fazemos e essa procura é muito motivadora. No fundo, a nossa principal influência é o “pacote” literatura / cinema / banda sonora, na medida em que todos nós somos fãs de filmes em que a história, a fantasia, o mistério, a música têm a mesma importância. Temos utilizado o exemplo dos universos de Tim Burton ou do Frank Miller, em que a criatividade empregue na imagem se reflecte na sua banda sonora e vice-versa. Assumimos desde sempre, que foi nossa intenção agregar todas essas influências e são perceptíveis em tudo o que fazemos, desde o cliché dos nomes das personagens, o guarda-roupa e o cenário nos espectáculos, a linguagem e o drama com que se descreve a história no livro. Musicalmente, a ideia seria ir contra as convenções e utilizar instrumentos que à partida não se pensa utilizar em conjunto. Deve ser a primeira banda nacional que faz um álbum conceptual – pelo menos que eu tenha conhecimento – e por conseguinte, quem foi o autor da história e de onde surgiu a ideia? Desvenda-nos um pouquinho da história. A ideia não foi fazer um álbum conceptual, nós tínhamos uma ideia, sabíamos o que queríamos fazer com esta ideia e a partir daí desenvolvemo-la até se chegar a este “conceptualismo” de que falas. No momento em que estamos a compor o “Dark River”, que é a

música que dá origem a tudo, percebemos que poderíamos construir uma história à volta daqueles personagens, que mereciam não ficar reduzidos a uma música. Depois foi um verdadeiro “namoro” entre a história e a música. Ora o Filipe (baixista) ia escrevendo a história à medida que alguém criava uma ideia para uma música, ora íamos compondo músicas para um capítulo que o Filipe tivesse escrito. Podemos dizer que por vezes a música foi a banda sonora do livro e outras vezes o livro foi a ilustração da música. «Killing Tale» conta a história de uma cantora de bar, a Baby, que é assassinada pelo seu namorado, NoFace. Jack, o melhor amigo de Baby, que é também detective, suspeita de NoFace e persegue-o na tentativa de descobrir se foi ele o autor do crime. Durante toda a trama, estes personagens cruzam-se com outros habitantes de “Bloody City” e a história adensa-se. No vosso sitio - http://killingtale. wix.com/godspeed - temos uma amostra de todo o artwork do cd. Vocês “não deixaram os vossos créditos por mãos alheias” e além de terem feito um álbum magnífico também elevaram o nível da apresentação. Quem foi o autor? Foi a interpretação da vossa música aos olhos dele ou, simplesmente, passou para o papel as vossas ideias? Podemos dizer que a concepção de tudo o que diz respeito a este álbum, desde a música, o booklet, o livro, a banda desenhada, é obra dos The Godspeed Society. Contudo, tivemos a felicidade de trabalhar com excelentes profissionais, que souberam por em prática as ideias e esboços que produzimos, como é o caso do Nuno Moreira que fez o artwork final, o Eduardo Antunes que tratou da paginação do livro e o Ricardo Lima que fez toda a ilustração.


Um dos últimos temas é “Perfect crime”, em Bloody City o crime compensa? No final da história, há criminosos que saem impunes e há os que pagam pelos seus erros. O “Perfect crime”, que descreve um linchamento em praça pública, reflecte o que a Baby sentia em relação aos habitantes de Bloody City, que a apedrejavam com os seus pensamentos e a condenavam com o seu desdém. E um linchamento colectivo é o mais perfeito dos crimes: os culpados foram todos, mas não foi ninguém. No caso dela, a inocência não compensou e foi ela alvo de um crime que culminou na sua morte. Geralmente nas entrevistas que faço peço aos entrevistados para falar um pouco sobre um tema que eu considero especial que sobressaia de alguma maneira ou porque simplesmente é o que mais gosto. Como é óbvio, vocês não são exceção e estou indeciso entre “Rose Lithium” e “Jack”. Mas como «Killing Tale» é especial vou-te pedir para falar um pouco destes dois temas. Estes dois temas são em tudo diferentes. Começando pelo Jack, que é o segundo tema do álbum e que equivale ao capítulo 2 do livro, descreve o personagem Jack, que é um detective da polícia, amigo de Baby e que investiga quem terá sido o autor do crime que a viti-

mou. Ele fica desde logo convencido que foi NoFace e tenta proválo e apanhar o suposto assassino. Ele é destemido e justo e ficamos a conhecer, no livro, a sua história e as suas origens. Musicalmente, o tema é muito ritmado, começando inclusivé com o som de uma perseguição policial. É um tema muito inspirado na temática do filme “Cotton Club”, com alguma dose de Swing e de Blues do passado e com uma distorção de guitarra muito presente e actual. Rose Lithium é o oposto. Esta música é uma das que representa um complemento à história. O livro culmina no capítulo 10, com o Grand Finale e os The Godspeed Society oferecem ainda músicas complementares, que falam um pouco mais sobre os habitantes de Bloody City e sobre a própria cidade. No caso de Rose Lithium, aprofundámos o que Baby sente realmente acerca da sua morte. Todos já percebemos que quando desperta, no seu mausoléu, a Baby é possuída por sentimentos de vingança em direcção ao assassino, mas quando tudo termina, ela expõe neste tema como se sente angustiada por ter sido morta pela pessoa que amava, a ponto de ter feito luto por si própria e percebe que essa pessoa que pôs fim à sua jovem vida, afinal será dela para sempre. Musicalmente, queríamos transmitir a beleza e a profundidade

destes sentimentos e encontrámos os aliados perfeitos para o fazer. Convidámos os Opus Diabolicum e fizeram um trabalho belíssimo com os seus violoncelos e percussão. É um tema dramático. Antes do album sair, os nossos fãs já estavam apaixonados pelo Rose Lithium, que conheciam dos nossos espectáculos. Por isso fizemoslhes a vontade e lançámos o tema como primeiro single de Killing Tale. Ouvi uma entrevista vossa no Youtube (... de uma rádio, por acaso) da dificuldade que vocês tiveram em fazer esta obra-prima e sei que cá dentro é terrivelmente complicado singrar neste meio. Quão difícil foi para vocês gravarem «Killing Tale»? Foi precisamente uma pessoa ligada a uma outra rádio, que já citámos numa outra entrevista que gostaríamos de voltar a citar aqui, que descreve tão bem o que os The Godspeed Society sentiram no começo: “O nosso país precisa de cumplicidade. Qualquer músico, em qualquer parte do mundo, precisa de cumplicidade mediática e Portugal às vezes tem esse problema, toda a gente se aproveita do sucesso dos artistas e ninguém quer ser cumplice do seu crescimento”. Esta frase foi dita por Henrique Amaro no documentário “Meio Metro de Pedra”.


No início de uma carreira musical tudo pode ser extremamente fácil ou extremamente difícil. No nosso caso, tudo tem sido “tirado a ferros”. Reunir a verba suficiente para gravar e produzir um álbum desta envergadura foi uma tarefa difícil, as noites mal dormidas, o abdicar de muitas coisas para estar em estúdio foi difícil, enfim. Contudo, não queremos que se confunda esta constatação de que o caminho não foi fácil, com lamentos. Sentimos que todas as coisas que nos venham a acontecer de bom, são fruto desse esforço e iremos sentirnos muito mais realizados depois. Sendo também músico – bateria e clarinete – compreendo que deve ter sido complicado produzir, gravar e coordenar todos estes músicos e todas estas “camadas” musicais. Como é o processo de compor com tantos e diversificados instrumentos? Quem produziu e misturou tudo isto de forma tão magistral? Bom, estamos de facto a ficar embevecidos com tantos elogios! Para nós o processo é muito simples: todos sabíamos qual era a direcção a seguir, como queríamos que soasse, qual era o tema. A partir daí, quem tivesse uma ideia, registava essa ideia base, esse riff ou essa melodia, chegava à sala de ensaios e mostrava. Logo aí cada um ia sentido a música e imaginando o que poderia fazer e onde. Depois toda a gente dava ideias e às vezes chegávamos a comportar-nos como verdadeiros adolescentes excitados com um brinquedo novo. O processo de criação foi mesmo muito divertido. Já em estúdio, foi um trabalho conjunto, tudo foi misturado e produzido por nós, com a preciosa ajuda e bom gosto do Paulo Ferro (STS Estudios). Pela vossa biografia distribuída com o álbum, vejo que vem em Inglês. Suponho que vocês estão

a ser promovidos internacionalmente. Certo? Em caso afirmativo, como está a correr? Há hipótese de ver os The Godspeed Society a darem concertos “lá fora”? Em caso negativo, porque não? Muito sinceramente, têm qualidade mais que suficiente para fazerem carreira internacional. Certo. Como dissemos anteriormente, não fizemos as coisas pelo timming convencional, pelo que a promoção a sério “lá fora”, só começou a ser feita muito recentemente. Já estamos a colher frutos desse trabalho, que está a ser conduzido de forma excelente, como podemos constatar pelas excelentes reviews que o nosso álbum está a receber. A nossa ambição é tocar lá fora, sim. Adoraríamos sair de Portugal e ver como o nosso espectáculo seria acolhido pelo público estrangeiro. Estamos ansiosos para que isso aconteça. Poderá estar para breve. O nome deixou-me curioso... como nasceu? Queríamos um nome extenso e sonante. Era regra que começasse com “THE”-qualquer coisa. Um nome que nos apresentasse. Depois pensámos no que nos poderia representar mais. Nós podemos até mudar de ideias e fazer algo diferente, mas o nosso propósito é sermos sempre personagens e contarmos uma história, por isso quando chegássemos ao fim do «Killing Tale», ao último capítulo, como daríamos continuidade a um segundo trabalho? E, sem revelar muito, foi assim que concluímos que éramos uma sociedade, um conjunto de pessoas que viviam num determinado sítio, num determinado tempo e que num segundo álbum teríamos de “viajar”. Godspeed é o termo utilizado para desejar boa viagem. The Godspeed Society!

Como é que vês o panorama musical nacional? O que ouves que seja feito por cá? Em termos de criação, vivemos numa Era fantástica. Imaginamos que nunca tenham havido tantas bandas por metro quadrado! Quantidade não é sinónimo de qualidade é certo mas no meio de muitas bandas de qualidade duvidosa, é verdade que a criatividade dos músicos portugueses está em altas. Muito sinceramente ouvimos de tudo o que se produz em Portugal, desde pop, jazz, folk, metal, desde o mainstream ao underground. Estamos muito atentos ao que se faz cá e não acreditamos em rivalidades e competição entre as bandas. Precisamos tanto de ouvir música, quanto precisamos que oiçam a nossa. Para finalizar: Desejo todo o sucesso do mundo aos The Godspeed Society! É incrível que dada a quantidade de mediocridade no panorama musical nacional, a meu ver, vocês ainda não tenham obtido o sucesso mais que merecido! Portanto, podes aproveitar para fazeres todo o tipo de publicidade e promoção. Nós aqui na VERSUS Magazine estamos a fazer o que nos compete. Obrigado! Aproveitamos então para agradecer a oportunidade dada, desejando também uma longa vida à VERSUS Magazine. Da nossa parte vamos continuar a trabalhar, com o objectivo de continuar a agradar a um público cada vez mais exigente e maior. Para finalizar, deixamos o convite a todos os leitores, para assistirem a um espectáculo dos The Godspeed Society. Fiquem atentos ao nosso facebook e website oficial. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro


Olá Samy! Antes de mais, quais são as vossas idades? Olá! Eu tenho 17, o Arttu (guitarrista) tem 20, o Ossi (baterista) tem 18 e o Mirko (baixo) tem 19. Que álbum extraordinario! Já fiz a minha review e dei 9.5/10! Ouvi-lo fez-me recuar no tempo. Parabéns! Fizeram um grande trabalho! Muito obrigado. É sempre bom saber que gostam do nosso trabalho Vocês são muito jovens. Há quanto tempo já tocam juntos? A banda em si é muito nova no sentido em que a fundei em 2010. Fui eu e um amigo de escola que começámos isto. Tocámos durante horas e horas num centro juvenil. Passados uns 6 meses ele saiu e comecei a recrutar a outra malta. Não demorou muito tempo, uma vez que no verão de 2011 tínhamos a banda completa. Faz uns dois anos que tocamos juntos com esta formação! Aqui em Portugal as novas bandas lutam desesperadamente, não só para gravar mas também

Juventude ir

Uma das grandes revelações de diretamente da Finlândia com u tagiante. Com idades compreen «Fast Loud Death» surpreende, ridade. O Thrash estava mesmo fresco. Apertem os cintos e prep cinante ao bom Thrash Old Scho


rreverente

e 2013! Os Lost Society chegam uma energia e irreverência conndidas entre os 17 e os 20 anos , também, pela técnica e matuo a precisar de uma lufada de ar parem-se para uma viagem aluool dos anos 80.

para se promoverem e não estou a falar em ganhar dinheiro para comprar os instrumentos. Como é que foi com vocês? Vocês candidatam-se a alguma espécie de subsídio ou foi tudo por vossa conta? À medida que compúnhamos mais e mais músicas começámos, também, a dar concertos em pequenas salas. À parte disso sempre nos promovemos o máximo possível! No nosso caso sempre foi tudo por nossa conta e isso significa muitas horas passadas online fazendo de tudo para nos promover! Também fizemos duas demos o que, também, nos ajudou a ganhar algum! Outra boa forma de promoção é entrar em competições de bandas, eles ajudam muito as bandas jovens e que estão a começar! Por falar em promoção… como foi assinar com a Nuclear Blast? O caminho foi longo? Depois de ensaiarmos durante uma “eternidade” e de termos “toneladas” de material novo, entrámos em algumas competições e saímo-nos muito bem, então, descobri uma competição chamada “Global Battle Of The Bands” e inscrevi-nos. Ganhámos a semi-final na nossa terra natal Jyväskylä e acabámos, também, por ganhar a final nacional em Hel-


â€œâ€Śsempre foi tudo por nossa conta e isso significa muitas horas passadas online fazendo de tudo para nos promover!â€?


sínquia! Isto foi uma enorme ajuda na assinatura com a Nuclear Blast, visto que as filmagens da final foram ligadas ao pessoal da NB. Eles viram em nós potencial e contactaram-nos de imediato. Com idades entre os 17 e 19 onde é que vocês vão buscar tanta maturidade? Não é só na música mas também nas letras. Estou a pensar em “Thrash all over you”. Para assinar com esta grande editora vocês devem ser especiais... Eu diria que o principal vem de ouvir muita música e por, simplesmente, ter a música nas nossas vidas. Ajudou-nos a ser o que queríamos e com tudo isto começámos a escrever e tocar música. Para a maior parte de nós a música é o mais importante nas nossas vidas Então, é altamente divertido tocar e praticar. Definitivamente, faremos isto o resto das nossas vidas! Como é que estão em relação aos estudos? Ainda frequentam a escola? Nesse caso como conciliam a escola com a música? Eu e o Ossi (baterista) ainda estamos a estudar e o Arttu (guitarra) e o Mirko (baixista) ainda estão a cumprir o seu trabalho comunitário. Em ambos os sítios as pessoas são muito compreensivas relativamente à música e claro, para nós a música está em primeiro lugar e acima de tudo. Então, com calma temos conseguido conciliar ambas as coisas durante muito tempo. Em breve estes trabalhos terminarão e podemos dedicar-nos a tempo inteiro à música. Na minha opinião «Fast Loud Death» é uma mistura perfeita entre as melhores bandas que despontaram nos anos 80 – Metallica, Anthrax, Overkill, Motörhead e, talvez, um pouco de Megadeth. Juntaria a isto uma enorme energia e irreverência típica da vossa idade. Concordas? Isto foi uma das coisas que me chamou a atenção e fez-me lembrar estas bandas que ouvia, precisamente, quando tinha a vossa idade. Yeah, definitivamente podemos ouvir influências dessas bandas e claro, são bandas que já ouvimos há muito tempo! Com um toque de Lost Society combinámos todas estas influências e, com certeza, uma das coisas mais importante é a nossa energia Como é que vocês desenvolveram o gosto pelo Thrash Old School? Começou pelo facto de que todos ouvíamos música dos anos 80 e 90, Iron Maiden, Kiss e todo esse tipo de música. Então, na procura por outros géneros, também desses anos, apareceram as primeiras bandas de Thrash – Megadeth e Anthrax! Estas duas últimas bandas realmente viciaram-nos com a sua

atitude e riffs extraordinários. Eu acho que uma das grandes virtudes que torna este álbum tão bom é o facto de ter sido feito por gente muito nova. Outras bandas tentaram fazer algo Old School mas penso que serão demasiado “velhos”. Talvez lhe falte essa energia e irreverência que falei anteriormente e que vocês tão bem aplicam na vossa música. Eu diria que ser jovem, definitivamente, teve um impacto na energia da nossa música, todos nós podemos andar no palco durante duas horas e não sentir cansaço. Hahaha Mas nós sabemos que com grande amor a este música nós podemos fazê-lo durante anos e daremos sempre o nosso máximo. A sala de ensaio que vemos no video “KILL (Those who oppose me)” é o local onde habitualmente ensaiam? Este vídeo faz-me lembrar o dos Twisted Sister - “We’re not gonna take it” (...e uma capa de um disco em vinil aparece no vídeo) em vez de “rebentarem” com o pai, rebentam com um copo de cerveja!!! Sim, é a nossa sala de ensaio. E sim, queríamos um vídeo assim desse género, divertido de ver! Maurice Swinkels dos Legion Of The Damned filmou, realizou e conseguiu que ficasse espetacular. Estamos mesmo satisfeitos com o resultado obtido. Eu sei que pode ser muito cedo mas… o que podemos esperar de vocês? Vão continuar a “Trashar-nos”? Agora que o álbum saiu, vamos dar muitos concertos, principalmente, na Finlândia mas também alguns no estrangeiro. Vamos continuar a praticar e compor novo material, então, só vos posso dizer que isto é somente o princípio dos The Lost Society! Por último mas não menos importante, quero ver-vos em Portugal. Não estou a pedir, estou a exigir! :-D Primeira cerveja fica por minha conta, penso que vocês já têm idade para beber alguma cerveja portuguesa! :-D Muito obrigado pela entrevista. Esperamos ir aí o mais cedo possível e está combinado, hahaha! O prazer foi todo meu. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro


AETERNUS «...And The Seventh His Soul Detesteth» (Dark Essence Records) Os noruegueses Aeternus são senhores de uma carreira já com 20 anos e embora tenham passado do Black Metal semelhante a vários dos seus compatriotas da época, para um Death Metal com laivos de Dark Metal, permanecem uma banda competente, procurando ter uma palavra a dizer na já muito saturada cena Black/Death. Não sendo uns portentos de originalidade, nem “abrindo novos caminhos”, conseguem contudo, manter o interesse do ouvinte durante os cerca de 52 minutos de duração do álbum. O vocalista/guitarrista/baixista Ares é o único membro fundador que ainda se mantém. Ponto alto são os solos de guitarra variados, incorporando muita melodia no ambiente geral opressivo e algumas passagens acústicas como por exemplo, a excelente “Hubris”e algumas passagens mais progressivas que possibilitam a este álbum ser algo mais do que mais um repositório de lugares-comuns estafados Black/Death. De salientar igualmente, a parte final de alguns temas, como o final quase Doom de “There will be none”, a brusca interrupção acústica de “Spurcitias” e de “Saligia” ou os contratempos de bateria seguidos de um solo bem vicioso em “The hand that severs the Bonds of creation”. Tudo isto são elementos que enriquecem e contribuem para elevar um disco, de outra forma, genérico. Bem tocado e interpretado e competentemente produzido, «…And The Seventh His Soul Detesteth» será um disco bastante bom, mas acima de tudo para os já convertidos à simbiose entre duas das mais negras e obscuras vertentes Metal. [7/10] Joey

AMORPHIS «Circle» (Nuclear Blast) Ao 11º lançamento, e com 23 anos de carreira, torna-se quase impensável avaliar negativamente um trabalho dos Amorphis. Porque há uma confiança inabalável na banda, porque os trabalhos desde o «Eclipse», ou desde a era do vocalista Tomi Joutsen, espalham brilhantismo que pensaríamos estar, deveras, esquecido no trabalho «Far From The Sun», ou mesmo «Am Universum», quiçá os álbuns

menos brilhantes dos Amorphis. Não lhes tirando o devido mérito, fazem parte do seu tempo, embora se o «Tales From the Thousand Lakes» fosse lançado hoje, não haveriam dúvidas que estaria nos ouvidos de muitos curiosos, e que seria um sério candidato a álbum do ano. Mas, também sabemos que desde o «Eclipse» a sonoridade da banda largou o experimentalismo onde se tinha enfiado e renovou a sua sonoridade para canções diretas, frescas, com o estilo ri ff+riff+refrão+riff+refrão+final num tom acima. Sim, pode não ser tão linear assim, mas sabemos que resulta muito bem, sem por isso ser fraco, medíocre ou pouco original. Os Amorphis não precisam de provar rigorosamente nada, e por isso lançam mais um álbum com a mesma métrica, por assim dizer, que os anteriores. «Circle» é um álbum de canções simples, sem grande complexidade, mas grandioso. Grandioso! Majestoso! Épico! A prova que a simplicidade resulta

muito bem, e como tal as canções caem no ouvido e ficam por lá, desejando ouvi-las durante muito tempo. Muito graças, claro está, aos músicos de serviço. As músicas têm como base as guitarras do mestre Esa Halopainen, o mestre das melodias típicas dos Amorphis, daqueles riffs imortais que reconheceríamos em qualquer parte do mundo. Além do mais, as construções das mesmas estão soberbas, com alguns solos de guitarras; outros dos teclados, que por sua vez parecem estar um pouco abafados pelas cordas; o baixo e a bateria estão em plena concordância; e as vozes do Tomi estão o costume, ou seja, fabulosas, divergindo entre a melodia e o gutural. Concluindo, este «Circle» não deixa aspetos negativos relevantes, sendo até bastante superior que o anterior trabalho, deixando-o a milhas de distância. Perceberão, claramente, que cada canção deste álbum soa a single. [9/10] Victor Hugo


ANCIIENTS «Heart of Oak» (Season of Mist) A direcção para onde todos olham nem sempre é o foco de atenção a ter em conta; na vida e na música este sempre foi um motto que tive em mim. O som que me trazem os Anciients não passa de uma forma de expressão conhecida de todos e que não choca nem pára o trânsito. Sem esse objectivo, «Heart of Oak» é mais sobre a centralização, o core, o coração das coisas e não o cérebro, o calculus. Não metendo pés-pelas-mãos em mesclar conceitos de outras actuações/inspirações neste projecto focado; de onda curta, pés firmes no chão e olhar fixo num ponto: o próximo passo. A mensagem é aqui passada como uma representação da sua realidade, da chegada do adversário dissimulado em visita casual; em como qualquer subtil agressão pode não passar de uma cordial recordação do passado. Uma excepcional recepção, com a trabalhada “Raise the Sun”, das melhores de há muito; somos levados por ondas “mastodonianas” até sermos destronados e cair na linha melódica que recompõe a exactidão do diálogo. A instrumental sendo importante neste trabalho, somos projectados com sentenças claras de compreensão. Aqui. Primeiro álbum? Ah, mas de gente já com 3 polegadas de sangue. “…driven away…” E a água. Somente a meia distância da viagem, chegamos ao centro da floresta, com a faixa mais longa a sugerir outras influências que as lidas por toda a parte; Gosto do som dos gigantes que se aproximam, que depois de ter dado um passo em direcção à luz espalham as suas mágicas labaredas. “Faith and Oath” cerna-me a mente, talvez voluntariamente. O término é dedicado, tal como todo o conteúdo do sentimento deixado por este cheiro a velho carvalho. [7/10] Adriano Godinho AOSOTH «IV: An Arrow In Hearth» (Agonia Records) Esta banda francesa que compõe Black Metal tem vindo a progredir favoravelmente ao longo dos seus álbuns, sendo este, o quarto longa-duração, uma meta árdua, mas alcançável, após um «III – Violence & Variation» aclamado pelos fãs e por alguma crítica. Árdua porque segundo a banda as composições de «IV: An Arrow In Hearth» foram dolorosas, tanto espiritualmente como fisicamente, envolvendo, assim, o álbum com uma aura de sacrifício. São explicações que a banda destaca e que são relevantes para a compreensão deste trabalho. Este sacrifício é negro. As cores, os ambientes, as tonalidades, os sons, são manchas negras, e quanto muito surgem umas escalas de cinzento aqui e ali. Alcançável porque, como é óbvio, o sucessor está aí, prontinho para ser evocado. Os Aosoth esforçam-se para melhorarem, e apresentam neste recente lançamento provas desse esforço, prova de uma certa maturidade que transparece nas composições dinâmicas, complexas q.b., ou seja, sem aquele tipo de complexidade que só faz sentido para os compositores e músicos, e longas. Há por aqui temas longos, mas sem serem aborrecidos; muito graças à dinâmica dos ritmos que, como poderão adivinhar, pouco se resume a blast-beats, havendo antes ritmos a divergirem entre o rápido, o lento e o tribal – este último dá aquela aura de ritual, lançando a ideia do sacrifício, como poderão comprovar em quase todos os temas, principalmente no último, o mais longo, “Ritual Marks of Penitence”, com o seu fabuloso início de timbalões. «IV: An Arrow In Hearth» não é um álbum fácil de digerir, mas jaz nele ingredientes que os ouvintes mais experientes saberão saboreá-los à primeira, e ficarão encantados sem saberem bem porquê. [8/10] Victor Hugo


AVANTASIA «The Mistery of Time» (Nuclear Blast) Pelas histórias e aventuras que nos conta, pela música e pelos convidados que traz para os álbuns, cada lançamento dos Avantasia, projeto paralelo do genial Tobias Sammet, é sempre um acontecimento muito especial e este não foge à regra. Após aquilo a que podemos chamar “The Wicked Trilogy”, composta pelos álbuns “The Scarecrow”, “The Wicked Symphony” e “The Angel of Baylon” que foram os

maiores sucessos em termos de vendas aguardava-se com grande expectativa mais uma obra épica. Bem, no meu caso tem sido sempre assim desde 2000 altura do lançamento do “The Metal Opera part 1” (O meu favorito, diga-se de passagem). Relativamente aos convidados, especialmente os vocalistas, há um núcleo duro que se tem mantido fiel ao longo destes anos: Michael Kisk, Bob Catley, Jørn Lande e Amanda Somerville. Infelizmente em «The Mistery of Time» Jørn Lande não participa e pelas semelhanças é “substituído” por Ronnie Atkins. Outros super-convidados de relevo são Joe Lynn Turner e Biff Byford. Feita a introdução e apresentações como é «The Mistery of Time»? Bem... é mais do mesmo, querendo com isto dizer: Mais uma obra-prima épica, excelentemente orquestrada, viciante, Power/Rock do mais melódico que pode existir. Musicalmente falando, «The Mistery of Time» não tem falhas, com

exceção das duas baladas, cantadas por Eric Martin (Mr. Big) e Cloudy Young (Vocalista que participa nas tournées no coro juntamente com A. Somerville). Não são más, nem por sombras, mas é que a música decorre com tamanha fluidez que parecem duas curvas apertadas numa autoestrada. Pode haver quem goste de “curtir” duas baladazitas, eu cá por mim contentavame com mais um épico de 10 minutos! Não vale a pena falar ou destacar os temas, é desnecessário. Isto é do melhor que encontram (ponto). O que mais me preocupa é que em 2011 T. Sammet esteve para acabar com este projeto mas prevaleceram (sobretudo) as ideias, as histórias e aventuras para contar, a vontade de continuar, crescer e fazer algo cada vez maior e melhor. Esperemos que esta inspiração se mantenha e se traduza nas músicas e letras... aqui a malta agradece. [9/10] Eduardo Ramalhadeiro

CHAOSTAR «Anomima» (Season of Mist) Quem já conhece os trabalhos anteriores de Chaostar não achará estranha a evolução progressiva, passo a passo, de álbum para álbum, das composições neoclássicas de Christos Antoniou. No primeiro surpreendeu, no segundo arrasou, no terceiro conseguiu superar-se, e neste quarto trabalho o compositor parece ter conseguido o impossível: criar um pedaço de arte melhor que o «The Scarlet Queen», ou que o «Threnody». Utilizar aqui um modo de comparação talvez seja injusto; do mesmo modo que é injusto afirmar que um é melhor que o outro, quando o correcto seria empregar a premissa de que todos são diferentes de todos, já que os quatro álbuns se contextualizam numa temática muito própria e, por isso, numa sonoridade igualmente própria. Embora um bom ouvido saiba muito bem observar a aproximação das composições deste álbum com o anterior - não estão distantes sonoramente; mas o trabalho deste «Anomima» está sobejamente superior. Antes de mais, a cantora é outra. Androniki Skoula prova que é uma cantora estupenda. A voz dela consegue extravasar o ouvido mais desatento e desinteressado. As composições estão, como deverão saber, estruturadas em bases clássicas. Mas, deve-se notar que Christos não se fica pelas pautas normais. Ele reinventa, por assim dizer, o estilo, apostando na mistura de essências musicais, como a já referida clássica a roçar a contemporânea, a música tradicional, e a electrónica. Deve, também, referir-se que Christos se rodeia de músicos que o apoiam – e os resultados podem ser ouvidos. Por último, duas figuras de peso deram voz nalguns momentos do álbum: Dave Vincent, dos Morbid Angel; Fernando Ribeiro, dos Moonspell. Concluindo, este trabalho é verdadeiramente bom, com poucos pontos fracos e com uma longevidade acima da média. [8.5/10] Victor Hugo


DEATH WOLF «II Black Armoured Death» (Century Media) Morgan Håkansson, membro fundador e guitarrista dos conceituados Marduk, decidiu criar um projeto paralelo ao qual deu o nome de Death Wolf. E claro a Century Media não hesitou em dar abrigo debaixo da sua chancela ao projeto. Claro que Morgan poderia ter relaxado as coisas e feito algo mais à pressa ou secundarizar o trabalho face ao nome Marduk. Mas não é isso que se pode ouvir neste segundo registo enquanto Death Wolf. Bom, para quem não conhece a sonoridade é tudo menos Black-Metal. Tenho até o palpite de que a ideia de Morgan é precisamente criar um equilíbrio musical para complementar o registo mais radical dos Marduk. Portanto o que temos em Death Wolf é uma mistura de Punk subjugado por uma dose considerável de Heavy e umas pitadas de Sludge. A sonoridade leva-nos também aos primórdios do metal com um som algo sujo e por vezes baço criando uma atmosfera que faz lembrar as cassetes analógicas em que se iam gravando e copiando antigamente os álbuns preferidos. Acho honestamente que apesar de ser um projeto secundário e de ter um código genético algo datado no que diz respeito à sonoridade tem de facto composições que colam ao ouvido. Tais como “Noche de brujas”, “Night stalker” ou “Death wolf march” que apesar da simplicidade têm algo que lhes dá uma orgânica especial. Não fosse a predisposição para Morgan Håkansson & Friends criarem algo com cabeça tronco e membros, este teria sido apenas mais um álbum para o cesto. Mas no final acaba por ser muito mais do que apenas um disco para encher chouriços. Daí a minha recomendação para se ouvir «II Black Armoured Death» pelo menos uma vez. [8/10] Sérgio Teixeira DGM «Momentum» (Scarlet Records) Os DGM não são novos e «Momentum» é “só” o oitavo álbum de originais. Infelizmente só os ouvi pela primeira vez no concerto de suporte aos Symphony X/Pagan’s Mind no Hard Club e, por conseguinte, «Momentum» despertou a minha curiosidade. Além do mais, Russell Allen (Symphony X) e Jorn Viggo Lofstad (Pagan’s Mind) são convidados especiais, logo aí, mais um ponto de interesse. Vou começar pelo ponto menos bom: a falta de originalidade. De facto quem ouvir logo a primeira faixa vai pensar que está a ouvir um novo tema dos Symphony X ou então, Pagan’s Mind como é o caso de “Trust”. De qualquer das formas, tirando este “pormaior”, o álbum é excelente tecnicamente, grandes solos e “diálogos” muito bons entre guitarra e teclas. «Momentum» abre com um dos pontos de interesse: “Reason” com Allen a comandar a voz é absolutamente estrondosa. Que potência! “Chaos” com Viggo Lofstad dos Pagan’s Mind a comandar a guitarra é excelente, riff pesado já a pedir muito headbanging e o coro, como sempre, melodioso e harmonioso, contrastando com a dureza dos restantes riffs. Os temas seguem todos a mesma linha, pesados, técnicos, sempre com muita melodia e harmonia. Mark Basile tem um trabalho muito bom ao nível das vozes, resultado de uma excelente produção do guitarrista S. Mularoni. Os DGM são uma banda importante no género do power progressivo europeu e para os amantes do género é um lançamento a ter em conta, apesar da falta de originalidade. [8/10] Eduardo Ramalhadeiro ETERNAL TEARS OF SORROW «Saivon Lapsi» (Massacre Records) O meu primeiro contacto com este sétimo álbum dos finlandeses Eternal Tears of Sorrow foi através do magnífico vídeo clip do tema “Swan Saivo”, lançado previamente ao disco. E pensei: “Estes tipos estão cada vez melhores, de álbum para álbum. «Saivon Lapsi» promete ser uma bomba!” A ânsia foi grande, e quando ouvi o disco pela primeira vez não deixei de sentir um certo desconforto. Não por ser mau – que não é – mas por perceber que nem todos os temas têm a frescura de “Swan Saivo”. Nem tinham de ter. O problema foi meu. Tive, portanto, de ouvir este trabalho de um modo desconectado dessa música marcante, e a audição foi um pouco diferente. E a verdade é que essa frescura está presente em quase todo o álbum. Vejamos: começando pela produção, esta revela-se muito boa – todos os instrumentos estão audíveis e marcam a sua pre-


sença. A composição é a esperada, e com poucas surpresas. Mas convém afirmar que este trabalho está acima da média, em relação aos restantes lançamentos. Apesar de a fórmula ser precisamente a mesma, ou seja, com base ora nas guitarras ora nas composições sinfónicas dos teclados, há que notar a importância das vozes limpas do vocalista Jarmo, que contrasta com a agressividade da voz de Altti, e também comunga muito bem com a voz feminina e com os coros. O resultado é bastante fresco e torna mais viva uma faceta que a banda anda a explorar há um par de álbuns atrás – a sinfonia e o épico. O resultado final é positivo, claro, mas não há dúvidas de que o que ouvimos em «Saivon Lapsi» já ecoa há bastante tempo no espectro do Metal Sinfónico e Melódico. Contudo, este trabalho destaca-se dos demais seus contemporâneos.pescoço “The Great Artifice”, “Bestian Triumphans”, excelentes variações entre o Speed e o mid-tempo intercalados com arpejos de guitarra (Melhor tema do álbum, sem dúvida), o single “Dark Passenger” dominado por um riff “cavalgante” – cuidado a ouvir isto em lugares públicos – e “Crosswinds”. O resto dos temas são igualmente excelentes mas estes despertaram-me um “nadinha” mais a minha atenção. [7/10] Victor Hugo GROT «I Have No Mouth And I Must Scream» (Hammerheart Records) A fatalidade consome o espírito quando é imperioso renegar qualquer ataque ao bem-estar e é-se impedido pelo totalitarismo. Sem qualquer capacidade de expressão, somos reduzidos a meras folhas que passeiam pela paisagem sem fazer mossa. No entanto, há quem consiga desaprender qualquer vontade de reverenciar os que querem dominar em vez de aprenderem como governar. Grot é um colectivo irlandês de Death/ Grind cujos três membros estão/estiveram em outros de latejante renome como o baterista Kevin Talley (ex-Dying Fetus, Six Feet Under, Hate Eternal…), o guitarrista e baixista John Roche (Gama Bomb) e o vocalista Eoin Broughal (Cold War e Warpath). Podendo-se ter a certeza sobre o porquê do nome da banda, já que tem a ver com a podridão, não deixo de pensar que, por serem um trio, também quiseram usar uma metáfora que os representasse já que é também uma palavra poetizada designando uma pequena caverna. Só que, de pequena, esta banda nada tem… Preenchido por ritmos contagiantes e vocais tão podres que até metem nojo (nah!), com este mini-CD, também 7” EP, temos uma quase fatídica descarga de adrenalina que impele qualquer fã do género a amaldiçoar até a duração do mesmo. É que sabe mesmo a pouco ouvir apenas cinco explosões extraordinárias de Death/Grind, embora também regurgitem uma excelente cover, “Unchallenged hate”, dos deuses Napalm Death. [8.5/10] Jorge Ribeiro de Castro HARDCORE SUPERSTAR «C’mon Take On Me» (Nuclear Blast) De vez em quando sabe bem ouvir algo diferente. Seja o unplugged dos Night Ranger, seja uma mescla de hard com punk rock. Isto de “rotular” bandas ou associá-las a um determinado género é até determinado ponto interessante. Isto porque, permite a nós escritores/opinadores/críticos, dar logo uma (pequena) ideia do tipo de música que estamos a enfrentar (Isto, como é óbvio, não é consensual). Agora, quando na sua biografia os Hardcore vêm “rotulados” como sendo uma mistura de Thrash Metal e Sleaze (desleixado) Rock e denominam esta fusão como Street Metal (O quê!?), o caso já muda de figura. Aceito o Sleaze mas Thrash Metal é exagerado. Por isso, o mais longe que cheguei foi hard/punk rock melódico (ponto). Este é, sem dúvida, um álbum para ouvir com cuidado... e porquê? Bem, isto dá vontade de começar a moshar e partir coisas, o que se torna particularmente grave se estivermos em locais públicos ou, simplesmente, em casa. “One more minute”, “Above the law” ou “Won’t take the blame, pt 1” são exemplos disso mesmo. Para acalmar um pouco o ritmo temos uma pseudo-balada “Stranger of mine”, bem “porreira” por sinal. Este é o seu nono álbum de originais e foi produzido pela própria banda. No entanto, tem na mistura um nome de peso – Randy Staub que já trabalhou com os Metallica ou Mötley Crüe. Para quem procura bons momentos de diversão, este é seguramente um lançamento a ter em conta. [8.5/10]Eduardo Ramalhadeiro


IMPIOUS BAPTISM «Wrath of the Apex Predator» (Hammerheart Records) Com uma ambiência nada salutar à conformidade diurna, Impious Baptism dilacera-nos com este seu primeiro álbum, «Wrath of the Apex Predator», que segue a demoníaca saudação dos dois EPs anteriores. Excruciantemente rasgado da mente irresoluta do veterano da cena, J. (Nocturnal Graves, ex-Destruktor, ex-Destroyer 666…), este álbum carrega-nos por sonoridades convincentes onde o medo talvez tenha casa para aqueles que ainda não conhecem o estilo. Advindo de quem tem fortes convicções individualistas, de quem sente que não está envolvido em qualquer cena, de quem procura criar o que deseja sem se importar com o que as pessoas pensam, este álbum deverá ser apreciado por quem não está sujeito à conformidade do nosso tempo e até pelos saudosistas do Black/Death-Metal da velha escola. Contendo nove faixas que não descolam umas das outras em termos de qualidade, vocais tão ríspidos quanto abissais, riffs tão cortantes quanto demolidores e uma dilacerante base rítmica que desnorteia qualquer sobriedade, também somos convidados a enveredar por introduções e conclusões atmosféricas que apelam a uma tortuosa caminhada. Se vos cansa trabalhar em equipa, experimentem ter de pensar e fazer tudo sozinhos de modo a dar a conhecer ao mundo a vossa arte. Para os fãs aguerridos do género, «Wrath of the Apex Predator» é uma deliciosa iguaria que não pode sair da ementa. [8.5/10] Jorge Ribeiro de Castro

KONGH «Sole Creation» (Agonia Records) E da Suécia chegam os Kongh com o terceiro álbum de originais. Tenho escutado alguns álbuns de Sludge Metal recentemente e embora tivesse ignorado este subgénero musical ao

longo dos anos em que tem sobrevivido, reparo que há intérpretes muito interessantes a vaguear por entre as sonoridades próprias e sobretudo “quentes” do Sludge. Os Kongh não trazem muito de novo no que diz respeito a tentativas de transformar ou transportar o Sludge Metal para outros patamares. Mas o que cativa neste «Sole Creation» é o muito bom gosto nas paisagens sonoras, baseadas em composições sóbrias, cadenciadas, psicadélicas, elétricas… enfim, Rock’n’Roll analógico que entra pelos ouvidos como se de um bom vinho do Porto a confortar a alma se tratasse. Este exercício de dinâmica sonora chamado «Sole Creation» traduz-se em 45 minutos

repartidos por 4 temas necessariamente longos e arrastados por linhas estéticas Doom. Não tenho muitas mais palavras para descrever o que de bom encerra este disco. Basicamente é ouvir, deixar a mente migrar para o espaço sonoro proporcionado e desfrutar tantas vezes quanto apetecer. Acho que do ponto de vista da composição aliada à orgânica dos instrumentos e à segurança das vocalizações polivalentes é um dos discos mais equilibrados dentro do aparentemente limitativo e fortemente tipificado Sludge-Metal. Oiçam e se gostarem aposto que vão querer ouvir várias vezes este terceiro registo de originais dos Kongh. [9/10] Sérgio Teixeira

LIFEFORMS «Multidimensional» (Lifeforce Records) O quinteto de Sacramento Lifeforms regressa em 2013 com o novo álbum de título «Multidimensional». O registo do álbum é muito dentro do djent/ metal progressivo. Uma das características principais deste estilo musical são os poli ritmos, contratempos e quebras de tempo e, como não poderia deixar de ser, este álbum é carregado deles e de grande qualidade. Como já disse algumas vezes noutras reviews é muitíssimo complicado inovar neste estilo musical, visto que, está bem “inventado” e “re-inventado” pelos Meshuggah que torna difícil a tarefa de fazer soar as músicas a algo diferente que não uns “Meshuggah de qualidade inferior”. Um exemplo cabal é ouvirmos a música “Multidimensional” (que dá o nome ao álbum) com a Stengath (do «Nothing»). Mas concentremo-nos apenas nos Lifeforms. Musicalmente o álbum está com qualidade, bons instrumentistas, com uma guitarra esquizofrénica e bastante marcada e pesada, o baixo bastante distorcido, intencionalmente bem desalinhado com o resto dos instrumentos. A bateria tem variações


tecnicamente e sonoramente muito boas que se conjuga com uma voz corrosiva e por vezes estridente que faz um acompanhamento perfeito com o resto da música. Trata-se de um álbum sólido ao longo das dez músicas que o compõem apesar de não ser uma lufada de ar fresco no seu género, também não o envergonha. Vale a pena ouvir. [7.5/10] Sérgio Pires to, a beber uma qualquer bebida refrescante. Sem vocês contarem, surge por trás um daqueles seguranças de discoteca, assim tipo Bud Spencer - e vos dá uma valente chapada de mão aberta! Pronto, é assim «Fast Loud Death»... uma valente de uma lambada na cara! Juntem Metallica dos «Kill’em All», os Anthrax e Overkill dos anos 80, com uma “pitadinha” de Sepultura e aí temos um álbum verdadeiramente explosivo. Quando se fala em Thrash Old School este é o mais requintado exemplo. Está lá tudo, TUDO o que se ouvia nos anos 80 – “Braindead metalhead” é MONSTRUOSA. Imaginem, ainda, que as idades destes meninos variam entre os 17 e 19 anos! Sim até este

facto nos faz voltar à década de 80, pois, ouvíamos precisamente este tipo de música com esta idade e até tinha uma banda de garagem e tudo. Imaginem que este é SÓ o álbum de estreia deste quarteto Finlandês! Sim, pois, até eu fiquei incrédulo! Só com toneladas de talento e vivendo num país verdadeiramente civilizado é que quatro miúdos têm uma oportunidade destas. Imaginem, por último, que toda a técnica, essência, alma, alegria, poder, irreverência que muitos de nós vivemos ou sonhámos viver está toda aqui. Conseguem imaginar? Ainda bem! São assim os Lost Society. [9.5/10] Eduardo Ramalhadeiro

atingir um nível tal que, decididamente os Mourning Beloveth merecem um lugar de destaque no universo do Doom e um reconhecimento maior. «Formless» é o álbum da maturação e afirmação dos Mourning Beloveth como um dos grandes do Doom/Death Metal. Nunca a fasquia esteve colocada tão alto. Os Mourning Beloveth pautam magnificamente a sua música com guitarras, ora distorcidas, ora limpas, como podemos ouvir em “Ethics MOURNING BELOVETH on the precipe”, sempre com um «Formless» semblante carregado pelo ritmo (Grau Records) Doom imposto e a voz gutural e Conhecendo esta banda há já al- sofrida de Darren Moore. “Forgum tempo, é com regozijo que tless” é uma narrativa acústica os vejo (ou melhor, os oiço) a do sofrimento surreal humano

das elementares coisas que nos perseguem no dia-a-dia e de que já ninguém escuta. «Formless» é uma viagem ao centro de um mundo obscuro onde cada um é levado à loucura. A temática expressa em «Formless» e elevada pelo Doom/Death destes Irlandeses é do melhor que já ouvi. A simbiose entre o Doom/Death e as secções mais limpas/calmas funciona subliminarmente, composto por seis longas músicas se excluirmos “Old Rope” - que perfazem um sólido e consistente álbum de uma atmosfera carregada, sofrida e única, que nos toca cá dentro. [9.5/10] Carlos Filipe

LOST SOCIETY «Fast Loud Death» (Nuclear Blast) Nem sei por onde hei-de começar…! Um exercício de imaginação: Imaginem vocês que estão numa esplanada, meio de Agos-

NERO DI MARTE «Nero di Marte» (Prosthetic Records) Itália não são apenas pizzas, scooters e torres mal construídas; é um país que tem algum potencial na música apesar de no metal não haver grandes nomes que se destaquem fortemente. Os Nero di Marte pretendem mostrar o seu valor num metal que tem vindo a ganhar terreno nestes últimos anos, marcadamente melódico, galopante, técnico, quebrado, obscuro mas de esqueleto sólido. Inicialmente chamados Murder Therapy, lançaram o primeiro trabalho em 2009, seguido do EP «Molochian» em 2010. Agora sob a alçada da Prosthetic, lançam este full-lenght self-titled. A dimensão é outra, a profundidade: colossal; e não obstante apenas


apercebemos algumas texturas, nuances, na escuridão turva onde a música foi escrita. A faixa introdutória “Convergence” tem tudo isso; a marca, o feeling, a força constante em todo o trabalho e aqueles momentos caóticos/experimentais alternados com melodia. A voz torna-se presente quando mais agressiva mas capaz de criar momentos muito interessantes quando calma, sentido na faixa “Time dissolves”. A faixa “Nero di Marte” mergulha-nos bem fundo no mar melódico complexo e obscuro. A execução é aqui muito técnica e conseguida, ouve-se uma bateria original, com uma originalidade bem inserida, que completa a música sem a nublar com excessivo tecnicismo. Álbum recomendado a fãs de música técnica, agressiva, melódica e escura. [8/10] Adriano Godinho

OFFICIUM TRISTE «Mors Viri» (Hammerheart Records) Há muito que descobri os Officium Triste com o álbum de estreia «Ne Vivam» de 1997, e logo então, fiquei com uma boa impressão desta banda Holandesa de Doom Metal. Volvidos

15 anos desde esta agourada estreia, é com agrado que descubro «Mors Viri» e vejo como esta banda conseguiu evoluir musicalmente, atingindo hoje um nível que ombreia com o melhor que se faz neste género. A melancolia, os riffs pesados, a amargura musical Doom dos Officium Triste é contagiante e carregada de excelentes grandes momentos Doom, bem conseguidos e sempre acompanhados pelos atmosféricos solos de Gerard de Jong e os teclados de Martin Kwakernaak que lhe conferem a forma musical. O bom trabalho de composição e arranjos estão bem patentes em todo o álbum, a cada minuto, a cada segundo, fazendo de «Mors Viri» um dos melhores lançamentos Doom do ano. A voz gutural de

Pim Blankenstein é avassaladora – dispensando mesmo os Officum Triste a dicotomia musical voz gutural – voz angelical, tão em voga neste género. A única coisa que ainda falta aos Officium Triste é identidade musical. Se por um lado, o facto de «Mors Viri» romper claramente a barreira da mediania, a sonoridade por vezes colide com a de outras bandas bem conhecidas dos fãs deste género. Dificilmente alguém diria que é Officium Triste à primeira. Desde “Your fall from grace” até “Like atlas” passando por um dos melhores momentos que é “To the gallows”, «Mors Viri» é um magnífico momento de Doom metal, que irá seduzir os amantes deste peculiar género. [9/10] Carlos Filipe

ONE INCH GIANT «The Great White Beyond» (Soulseller Records) Oriundos de Gotemburgo, na Suécia, os One Inch Giant, lançaram dia 22 de Abril o segundo álbum da banda intitulado «The Great White Beyond». Com músicas de sonoridades antigas mas ao mesmo tempo com toques actuais e progressivos a banda contínua no caminho que começou a desbravar desde o seu início em 2009. Uma grande novidade é a troca de baterista (Gabriel Ek pelo Jakob Strand ex- Oppression) que resultou bastante bem com ritmos frescos e não conhecidos no álbum anterior que dá pelo nome de «Malva». A voz do Filip Åstrand continua bastante melódica e ao mesmo tempo com força. O guitarrista do Gabriel Lugo Méndez deambula por ritmos que fazem lembrar o nu-metal, passando para ritmos mais agudos provenientes heavy metal com um ligeiro down tempo à mistura. As linhas de baixo estão bastante bem construídas aparecendo por vezes com uma distorção que o faz destacar-se. Trocando por miúdos, o álbum tem bases sólidas com arranjos bem construídos usando o down tempo para enriquecer a música mas não se deixando cair para o lado do doom metal. Os One Inch Giant dão assim passos seguros e importantes para a sua afirmação musical e apesar das suas origens suecas variam o tipo de som “habitualmente mais pesado” que provem dos países vikings. Em relação ao primeiro álbum nota-se uma maturação e uma construção musical mais cuidada, não descurando o facto de a troca de baterista ter sido uma aposta ganha. [7.5/10] Sérgio Pires


PENSÉES NOCTURNES «Nom d’Une Pipe» (LADLO Productions) Não é a primeira vez que escrevo nas páginas da VERSUS Magazine, que um álbum complexo não é necessariamente bom. Já tentei mencionar isso algumas vezes, mostrando também que um dos critérios das minhas reviews é a capacidade que um trabalho tem de durar no tempo, de continuar a chamar o ouvinte ao longo do tempo, ou seja, a longevidade. A aplicação desse critério tem muito a ver com o contexto musical em que vivemos, no qual saem semanalmente dezenas de trabalhos, todos eles à espera de um publico para os ouvir. E apesar de haver espaço de sobra para esses lançamentos semanais, e ainda bem que há, a verdade é que a cena está saturada. Face a esta torrente de álbuns, os critérios serão, obviamente, mais vincados. «Nom d’Une Pipe», quarto álbum dos franceses Pensées Nocturnes, é um caso clinico, e sofre de vários sintomas comuns ao tipo de doença que outros já manifestaram. A complexidade da composição neste álbum não abona a favor do mesmo. E acaba por ser a sua grande maleita. Não julgando a capacidade performativa de Vaerohn, a alma de Pensées Nocturnes, e dos músicos que o ajudam, a esquizofrenia que se ouve é altamente desinteressante. Composições cujas tonalidades são dissonantes, distorcidas e, claramente a fugirem para paisagens jazzísticas altamente esquisitas, não convencem e chegam até a aborrecer o ouvinte mais liberal. Esta paisagem está calcetada, por assim dizer, num chão Black Metal manifestado por uma voz agonizante e suicida, que acaba por ser a cereja no topo de todo este monte de desinteresse. Mas nem tudo é mau – além da esquizofrenia, este trabalho sofre de bipolaridade, e acaba por haver nessas mudanças, nesses interlúdios, algo de audível, agradável, mesmo sendo negro, mesmo soando a circo, mesmo soando a fanfarra, ou mesmo soando a tragédia. Estão curiosos? Então ide ouvi-lo, e decidam se o adoptam. [5/10] Victor Hugo

PRETTY MAIDS «Motherland» (Frontiers Records) Uma das bandas que segui com especial interesse desde o princípio da década de 90. Álbuns como «Jump the Gun», «Sin Decade» e o unplugged/ acústico «Stripped» fazem parte

da minha coleção. No entanto, fiz um interregno de 15 anos e deixei de os seguir. Em 2010 estes Dinamarqueses lançaram «Pandemonium», um álbum muito bom e bastante melódico. Passados três anos eis que surge «Motherland». Este trabalho é um passo em frente, pesado como nunca visto nos Pretty Maids, muito coeso, refinado e ainda mais melódico do que «Pandemonium». Diria mais, será muito provavelmente o melhor desde o já citado «Jump The Gun» ou «Future World». Portanto, não será de todo descabido que estes dois álbuns marcam um ponto de viragem – principalmente «Motherland». Quando muitas bandas tendem a decair de qualidade, os Pretty Maids seguem precisamente em

sentido contrário. E com um álbum destes que melhor forma têm estes senhores do HardRock melódico comemorarem os seus 30 anos? Ken Hammer e Ronnie Atkins estão, por isso, de parabéns. Este é daqueles álbuns que me custa escolher ou destacar o melhores temas mas ouçam com atenção “Mother of all lies”, “The iceman” (!!!), “Sad to see you suffer”, “Why so serious?”, “Motherland” ou o bem melódico “Who what where when why”. A produção de Jacob Hansen – que já trabalhou no álbum anterior – é também um dos fatores que fazem de «Motherland» uma referência para o Hard-Rock melódico em 2013. Ouçam, ouçam.... e ouçam! [9/10] Eduardo Ramalhadeiro

SEBASTIAN BACH «ABachalipse Now» (Frontiers Records) Tenho de ser sincero: «ABachalipse Now» só me despertou atenção porque nele participa um dos melhores bateristas que o mundo do rock/metal já conheceu: Bobby Jarzombek! Ao ouvir este trabalho, o primeiro desde há muitos anos, percebi agora que talvez tenha sido um pouco injusto. Deixei de ouvir Sebastian Bach há muito tempo, desde que saiu dos Skid Row. «Slave To The Grind» é um marco na sua discografia. «ABachalipse Now» sai como um duplo CD com um concerto gravado em França e o outro em Los Angeles. Os temas tocados formam um best of dos dois primeiros


álbums dos Skid Row e 4 temas dos trabalhos a solo de Bach. “Slave to the grind” a abrir o primeiro CD é... potente, o groove de “Monkey business” não podia faltar e termina com o irreverente “Youth gone wild”. Em ambos os CDs estão também, as excelentes baladas “18 & life” e “I remember you”. O segundo concerto perde um pouquinho em termos sonoros e difere somente dois temas – “(Love is) A bitch slap” e “Tunnel vision” e é aqui que no meu entender este duplo fica a perder. Não entendo como é que o setlist dos dois concertos é quase igual. Não seria mais proveitoso para o ouvinte e para quem compra o CD, já que se lançaram dois concertos fazer dois setlists diferentes!? No entanto, o mais importante é que Sebastian Bach após os Skid Row construi uma carreira sólida, coerente, continua a cantar como o “velho” Sebastian Bach e, portanto, o tempo e dinheiro gasto neste CD não são mal empregues. [8.5/10] Eduardo Ramalhadeiro REGARDE LES HOMMES TOMBER «Regarde Les Hommes Tomber» (LADLO Productions) Ao primeiro lançamento os franceses Regarde Les Hommes Tomber têm a hipótese de se desmarcarem dos demais lançamentos. Essa desmarcação brilha por ser, precisamente, um álbum de estreia e por este mostrar argumentos convincentes, negros e pesados. Num contexto todo ele religioso e antropológico, este trabalho é daqueles cuja música comunga muitíssimo bem com as letras. Fatalista, trágico, humano – a intenção do Homem dominar, manipular e atingir um estado Absoluto, característica divina e um desejo humano que o leva somente à queda. São estas as premissas que constituem a tese deste álbum, que tem como base a negritude e a frieza do Black Metal, mas que se deixa libertar e permite que outras tonalidades invadam o seu monopólio. Desta feita, a banda muito sagazmente tece na sua base os músculos do Sludge e do Hardcore, e aplica um aroma de Post Rock nas suas composições altamente pesadonas. O resultado é bastante interessante e faz, como já referi, que se destaque da parafernália de títulos. Podem imaginar, assim, pitadas de Altar of Plagues e doses ambientais e frias de Lantlôs, tudo muito bem misturado e condimentado pela própria criatividade da banda. Esta está de mãos dadas com o feeling que transparece em todos os temas, já que todos os instrumentos são bem audíveis com a boa toada orgânica, embora a produção pudesse estar bastante melhor. E este acaba por ser um ponto fraco do álbum. Não pela sua crueza, pois esta é evidentemente tradicional do Black Metal, mas antes pelo alcance que a música poderia ter. Ou seja, falta dar voz à força da música e à sua pujança. Sabemos que ela está lá, mas falta força – como podem comprovar no fabuloso tema “Ov flames, flesh and sins”. Desta feita, esperemos que no próximo lançamento esses músculos sejam treinados. [7/10] Victor Hugo SERENITY «War of Ages» (Napalm Records) Às vezes perco a paciência para ouvir este tipo de Metal Sinfónico, ainda por cima quando existem muitas outras alternativas, mais apelativas por assim dizer, como por exemplo: Avantasia, Kamelot ou Nightwish. Na primeira audição pareceu-me mais um álbum tedioso e fastidioso mas aos poucos «War of Ages» foi-se revelando bem mais interessante e o que escrevi nas primeiras frases acaba por não fazer muito sentido. Os Serenity sempre utilizaram, além do vocalista principal, vozes femininas e no álbum anterior podemos ouvir prestações de Ailyn (Sirenia) ou Amanda Somerville (Avantasia, Kiske). «War of Ages» introduz uma grande mudança no line-up da banda com a inclusão de uma vocalista a tempo inteiro: Clémentine Delauney. Ao contrário dos Vision of Atlantis (Álbum também revisto nesta edição) a combinação das vozes é muito boa, além de serem mais competentes e agradáveis ao ouvido. Musicalmente, o álbum é bem orquestrado, tem momentos muito bons, pesados e com riffs cativantes: “Wings of madness” abre excelentemente o álbum e é um bom tónico para os temas seguintes, “The art of war” e “Legacy of Tudors” representam muito bem o trabalho realizado ao nível das vozes e coros épicos, “For freedom’s sake” é uma bela balada que demonstra bem a “cumplicidade” entre Clémentine e G. Neuhauser mas “Age of glory”, “The matricide” e “Symphony for the quiet” são, para mim, o melhor exemplo do que escrevi em cima: boas orquestrações, riffs bem pesados e melodia. Vendo bem, acabei por destacar quase todos os temas do álbum. Os Serenity não são os Avantasia ou Nightwish mas quase que “mordem os calcanhares”. Uma boa surpresa depois da primeira audição. [7/10] Eduardo Ramalhadeiro


SEVEN IMPALE «Beginning/Relieve» (Karisma Records) De Bergen, Finlândia, chegam-nos estas cinco faixas que nos dão um avant-goût de como é som quente nórdico. Trata-se do primeiro EP dos Seven Impale, que fazem música caracterizada como progressive rockjazz. O condimento progressivo é notório em todas as composições, deixando um sabor a 60’s que me é característico em nomes como King Crimson ou Yes, atravessado por ondas de divagação que são deixadas no ar para que o ouvinte seja levado por onde a sua mente o encaminhar. O som dos instrumentos é aqui muito importante para isso, e mais até: o tipo de instrumentos ouvidos nestes 25 minutos; Metais, cordas ou teclas dão aquele toque especial que nos mergulha neste ambiente delirante. Sons mágicos de órgão, contrabaixo seco, saxofone cortante. A guitarra eléctrica traz, com as suas frases melódicas, a confirmação do mellow estar impregnado nas paredes deste trabalho. Quando a voz surge, esta possui-nos a atenção e a emoção, levando-nos até ao rio Mississipi; para nos lembrar aquela que lá pereceu há já tantos anos e nos deixou um vazio na alma, que nunca mais foi preenchido. A componente jazz surge aqui e ali, sem nunca deixar de estar ausente mas também não caracterizando demasiado o som como puro jazz: é embutido de forma natural e demonstra um bom gosto e boa capacidade musical do conjunto. Os músicos que compõem este colectivo são muito ecléticos e provêm de diferentes estilos musicais: rock, jazz, electrónica, metal e até orquestra clássica ou big band. Trabalho muito conseguido, deixando apenas a desejar momentos mais catchy ou perturbantes, este irá permanecer no meu leitor mais algum tempo. [7/10] Adriano Godinho SPEKTR «Cypher» (Agonia Records) Mais um projecto interessante que me passou ao lado até à data, mas que desde já recomendo aos apreciadores da vertente mais industrial de black metal. «Cypher», o terceiro longa duração desta formação parisiense (que inclui Haemoth, da banda com o mesmo nome), é desde logo um trabalho ousado pela abordagem quase exclusivamente instrumental que adopta, algo que é raro no seu género. Mas a verdade é que o formato funciona graças à criatividade da banda e à variedade das composições. Às descargas de black metal ríspido e sem polimentos, juntam-se acordes dissonantes, samples (que sugerem temáticas filosóficas e sociais), efeitos electrónicos e ruídos de fundo de estática, e muito experimentalismo envolto em ambiências fantasmagóricas que nos levam a vaguear por dimensões que transcendem o real. Os riffs podem soar por vezes algo típicos do black metal nórdico, no entanto o contexto sónico em que se inserem desvanece qualquer possível sensação de deja-vu. Imbuída de algum psicadelismo e uma percussão jazzística, “Teratology” sobressai claramente entre as nove faixas em oferta. O tema seguinte, “The singularity”, também é altamente aditivo. Na curta “Solitude” é impossível não sentir ressonâncias dos The Axis of Perdition e o título-tema (a única que conta com breves vocalizações) destaca-se como a peça mais lenta, atmosférica e hipnótica em todo o álbum. Relativamente em linha com o promissor «Mescalyne» (EP lançado em 2007), «Cypher» eleva, no entanto, o estilo próprio de black metal dos Spektr a um novo patamar. [8.5/10] Ernesto Martins SVART CROWN «Profane» (Listenable Records) Intrigante. A palavra surge sem que tenha sequer pensado nela. Desde a capa do álbum que me deixa uma sensação de mal-estar, até aos primeiros sons que me chegam aos ouvidos. A sensação é a de ter caído num filme de terror, não os clássicos slashers… mas mais à imagem de Ichi, the killer. “Genesis architect” tem dificuldade em meter-se em palco, sucubindo a golpes deferidos pelo ar renovado e santificado do habemus papum. Quando se estabelece, a primeira longa faixa retêm o folgo do que a rodeia. No pequeno espaço entre os dois pads dos headphones que me atentam da queda, fico hipnotizado sem saber como me libertar. Sem sujidade no som, sem danificar a clareza do domínio, os gauleses por detrás deste meu sic stagnata, param o tempo, redefinem o medo, só voltando a mim no down beat de “Inter. Virus.


Human”. O terror apenas começou, quando “A place of hatred and threat” paira no ar. Não poderia haver forma mais desfigurada de me arrancar da realidade, com os gritos de terror e medo que assolam a intro desta faixa. “Profane”, a faixa-mãe é precedida por um momento de um desespero montante, igualável em selvagaria apenas pelo medo do desconhecido, mantido pela fragrância do terror, à temperatura fria do ar, sem luz, sem esperança de salvação. Ele não está por perto, mas isso não significa que estamos a salvo. A chacina acontece com “The therapy of flesh” sem que me aperceba, já nem importanto a dor, nem sendo comparável ao terror já criado, sinto-me levar. Afinal a morte não é pior do que uma vida levada a temê-la. [8/10] Adriano Godinho THE MOTH GATHERER «A Bright Celestial Light» (Agonia Records) Primeiro passo no sentido da imensidão, os suecos Victor Wegeborn e Alex Stjernfeldt formam este projecto, que lançam agora o primeiro trabalho «A Bright Celestial Light»; como se a luz natural do sol não nos fosse suficiente. Não querendo substituir esta, mas sim ser um complemento e iluminar, não os elementos do nosso planeta e tudo o que nos rodeia, mas sim a nossa mente; para a lançar em vagarosas viagens, em detrimento da triste realidade. Cinco faixas completam este momento, somando quase cinquenta minutos de música. Composições longas, portanto, de carácter bucólico e melancólico, que nos mergulham em composições soltas e livres, quase pertencendo a outro lado não-nosso. “Explosão emocional” como se refere Alex Stjernfeldt à sua música, esta tem mesmo isso de comportamental: o clique liberativo. A emoção tirada desta expressão poderá referir-se aos momentos licenciosos ou à nossa pessoa, aquilo que nós somos quando ouvimos “Intervention” ou certos momentos adjacentes em “The womb, the woe, the woman”, onde não nos podemos libertar de um certo receio e de um sentimento de desordem. Quando em certas alturas o caminho parece livre, em “A road of gravel and skulls” somos assomados com uma sensação de liberdade, porque não? Só o medo nos faz pensar em não avançar, mas qual chuva de Abril, cai a desolação em nós e custa a ir-se embora. Em “A falling deity” o som deambula, deixando a ilusão de não se importar com a nossa presença e voar livremente por entre os obstáculos imaginários que nos são reais. [7/10] Adriano Godinho TORMENTED «Death Awaits» (Listenable Records) Os Tormented são de entre os intérpretes ativos do Death-Metal clássico os que melhor vestem a camisola e honram as memórias mais genuínas dos antepassados deste género musical. Faço esta review não tanto pela descoberta de algo novo ou de um cataclismo de destreza e prodigiosas execuções instrumentais mas pelo que os Tormented representam atualmente. Do que eu conheço e obviamente não conheço tudo em absoluto o que se faz dentro do Death-Metal, mas de todos os discos que já tive oportunidade de escutar recentemente, Asphyx e Tormented são os dois ponta-de-lanças mais devotos às raízes do Death. Os Tormented porém têm apenas quatro anos de existência e parecem decididamente fazer ressuscitar dos túmulos os espíritos daqueles que criaram este género musical; não hesitam em vestir esta camisola e isso surpreende por comparação com a maioria das bandas que surgem atualmente. Neste «Death Awaits» o que se encontra é uma homogeneidade absoluta em relação ao que já referi; começando na faixa introdutória que dá título ao álbum até ao último tema “In the presence of death” não há que confundir o subgénero metaleiro em que o álbum se encontra. O desafio está em redesenhar as composições de forma a ter um cunho de originalidade e produzir-se um álbum que seja dentro do possível único. E os Tormented têm esse talento de conseguir reavivar as brasas de uma fogueira que erradamente podemos pensar como estando já morta. Daí o devido destaque para o mais recente trabalho destes suecos Tormented. [8.5/10] Sérgio Teixeira


VISIONS OF ATLANTIS «Ethera» (Napalm Records) Já é o terceiro álbum dos Visions of Atlantis que revejo para a VERSUS Magazine. No primeiro, «Delta», até achei alguma piada e porque havia ali algo que me fazia ouvi-lo do princípio até ao fim. No EP seguinte, «Maria Magdalena», achei-o horrível, considerando até o pior lançamento de 2012. Foi, portanto, com muitas reservas que peguei em «Ethera», o primeiro álbum lançado após a trágica morte da fundadora Nicole Bogner. Bem, à primeira audição o sentimento que me assolou foi o mesmo que senti quando comecei ouvir «Maria Magdalena»... não tenho pachorra para ouvir isto. (Ponto) As vozes são partilhadas entre Maxi Nil e Mario Plank que apesar de estarem em harmonia, não gosto e não aguento o timbre de M. Plank (Isto reflete, somente, o meu gosto). A voz (feminina) de M. Nil, apesar de cumprir, não é nada de especial e encontram-se por aí muito melhores. Em termos musicais é power metal sinfónico relativamente simples e banal, não havendo algo de diferente ou que faça a diferença. As orquestrações são demasiadamente “sintetizadas” e fogem ao meu gosto. Não querendo ser injusto com os Vision of Atlantis mas por muito que me tente esforçar não recomendo «Ethera», não é nada de especial. Quem pretender ouvir bandas mais ou menos do género, bem mais técnicas e progressivas tem muito por onde escolher, por exemplo Nightwish e Epica. Se ainda assim quiserem experimentar Visions of Atlantis sugiro «Delta» e é só. [5.5/10] Eduardo Ramalhadeiro WARDRUNA «Yggdrasil» (Indie Recordings) Depois da estreia com «Gap Var Ginnunga», em 2009, Wardruna passou a ser uma referência em como reinterpretar o folk ancestral norueguês. Esse trabalho é notável, mas a banda ganhou mais notoriedade com os concertos realizados em salas, ao ar livre e mesmo em museus – como no Viking Ship Museum, na Noruega – nos quais o ambiente proporcionado no disco é apresentado com todos os instrumentos tradicionais noruegueses, sendo o resultado evidentemente fabuloso. Wardruna vê-se, assim, com a pressão e responsabilidade de se superarem, ou manterem, a mesma magnifica aura do primeiro registo, já que o sucesso com esse trabalho foi positivo. Kvitrafn tem em mãos, portanto, a possibilidade de dar forma à segunda parte da trilogia Runaljod, com o apoio do bem conhecido Ghaal nas vozes, juntamente com a Lindy-Fay Hella, entre outros músicos responsáveis pelos vários instrumentos. Mas será que o resultado consegue superar as expectativas? Diria que «Yggdrasil» não reserva surpresas, já que é o seguimento lógico do seu antecessor. Há, até, momentos quase idênticos nas estruturas das músicas, com notas parecidas e sons parecidos – ouçam a “Fehu” e digam se não parece a “Hagal”? Mas, este segundo álbum não é uma cópia exacta do primeiro. Logo de início nota-se a evidência de uma certa melodia que no álbum de 2009 é quase obsoleta. Já neste, a melodia dá contornos épicos às músicas. As vozes estão mais reveladoras, havendo coros e cânticos, e não apenas suspiros negros e gélidos do Ghaal. Sendo o ritmo um pilar central em Wardruna, o hipnotismo está bem presente. E nota-se que este trabalho é mais longo, sem com isso ser monótono. Contudo, não há nada de surpreendente neste registo, parecendo que a grande surpresa está na estreia. Mas é certo que ao vivo a coisa é bem diferente. [7/10] Victor Hugo WAY TO END «Various Shades of Black» (LADLO Productions) A promo sheet que foi enviada juntamente com este álbum, informa-nos que esta banda francesa vai buscar influências ao Black Metal dos Emperor e dos Dissection. Rapidamente soltei um “uau!”, para logo após ouvir os primeiros minutos ficar decepcionado. Como poderão imaginar, nada do que se poderá ouvir neste álbum nos fará recordar as bandas referidas. Quanto muito uma pitada das estruturas clássicas das músicas de Emperor, já que este álbum dos Way To End denota algumas dessas estruturas, mas longe de soar a Emperor, muito menos Dissection. Influências à parte, a verdade é que jaz neste trabalho algo verdadeiramente apelativo, cativante e interessante. As estruturas clássicas são o derradeiro pilar das músicas deste «Various Shades of Black». Em todos os temas esse pilar é bastante evidente, e mostra-nos que há bons músicos por detrás dele. Essas estruturas notam-se, claro, nas guitarras, ou melhor, no diálogo quase


sempre presente entre as duas guitarras, o que nos revela uma certa complexidade e a justificação ao rótulo Avant-Garde. Além disso, essa complexidade poderá soar, também, a uma toada jazzística, que não fica nada mal. Ainda pelas guitarras, há por aqui alguns momentos acústicos a fazer-nos lembrar uma faceta mais barroca e épica. Épico é igualmente uma palavra de ordem, não só revelante nas estruturas das músicas, mas também nalgumas vocalizações acompanhadas de coros heróicos. São estes os argumentos que suportam o lado interessante deste álbum, e se se sentirem tentados, entreguemse que não se arrependerão. Contudo, poderá existir aqui uma certa mesmidade, havendo o risco de apontarmos somente três ou quatro highlights. [7/10] Victor Hugo WORMED «Exodromos» (Hammerheart Records) Os Avulsed que se cuidem pois têm aqui concorrência à altura no seu próprio terreno musical e geográfico. Ao contrário da temática gore dos primeiros, esta formação de Madrid vai buscar inspiração à ficção científica, o que lhes motiva títulos rebuscados como “Spacetime ekleipsis vorticity” ou “Techkinox wormhole”, num álbum conceptual que nos fala de algo tão ‘out there’ como um universo quântico apanhado numa re-ionização multi-vectorial invertida (!). À parte os floreados conceptuais o que temos aqui é death metal (eles gostam de lhe chamar sci-fi death) rápido e cheio de malhas intrincadas, com uma conjugação precisa entre uma percussão propulsiva e todo um trabalho demolidor de cordas, numa linha próxima duns Cryptopsy mas com substância em dose suficiente para nos seduzir e deixar de ouvidos colados ao longos dos seus trinta e poucos minutos duração. Por entre espasmos de brutalidade e frequentes mudanças de tempo, destacam-se “Stelar depopulation”, o citado “Spacetime ekleipsis vorticity” e o quasi-instrumental “Xenoverse discharger”, que constituem provavelmente os momentos mais impressionantes deste segundo longa duração do grupo, o qual surge quase dez anos depois do seu predecessor «Planisphaerium». Apesar da panóplia de bons riffs que preenche o álbum, fica a sensação de que uns leads virtuosos de guitarra – e não apenas os efeitos ou rasgos que se ouvem – seriam um valor acrescentado na abordagem técnica dos Wormed. Não obstante este eventual handicap, «Exodromos» passa como uma admirável experiência em extremidade. [7.5/10] Ernesto Martins KYLESA «Ultraviolet» (Season of Mist) Os Kylesa são uma das bandas em destaque dentro do estilo Sludge na sua vertente mais ambiental, mas que mantém o peso e a agressividade como elementos fundamentais. Sexto álbum de originais deste quinteto norte-americano, “Ultraviolet” oferece-nos contrastes entre momentos de transe hipnótico cortados pela violência das guitarras bem graves e pesadas, pela voz ora gritada ao estilo L7, ora mais calma de Laura Pleasants, que ecoa de forma etérea, aqui e ali um pouco por todo o disco. “Exale” inicia as hostilidades com loops e um registo mais “gritado” e um pouco “rappado”; assim como “We’re talking this”. “Unspoken” é mais ao estilo gótico, mas com uma ambiência “pesada” bem conseguida. “Grounded” é muito inspirada em Black Sabbath no início do tema. “What does it take” e “Vulture’s landing” são talvez os temas mais agressivos e rápidos. “Steady breakdown” é dos melhores temas, com o seu bom riff de condução e os vocais muito “à Type O Negative” em que o bom gosto impera. “Drifting” é o tema que encerra, de forma mais calma e ambiental. Disco coerente com a carreira da banda e a ter em conta para os aficionados. [7/10] Joey


LA GUNS «Tango on Sunset Strip (Hollywood Forever)» (Collectors Dream Records) A festejarem os 30 anos de existência, os LA Guns são uma das mais emblemáticas bandas de Hard Rock/Glam da cena de Los Angeles, juntamente com os Great White, Ratt, Poison ou Mötley Crüe. Muitos altos e baixos, entradas e saídas de membros depois, lançam «Tango on Sunset Strip (Hollywood Forever)». Já sem o histórico fundador Tracii Guns entre as suas fileiras, entregam um álbum de 14 temas com boa energia Hard Rock como manda a tradição e repleto de referências à cidade e às experiências que os fizeram crescer como banda. A viagem começa com “Hollywood forever”, a fazer lembrar uns W.A.S.P. mais comerciais, mas com boa dinâmica. “You better not love me” é mais mid-tempo, mas um bom tema para single. A reter também “Sweet mystery”, “Burn” (um certo sabor a Western), “Vine St. Shimmy”, na onda Great White, “Venus bomb”, com a clássica dinâmica Rock’N’Roll pesada e a balada “Requiem”, que termina o disco (de originais) com bom gosto. No fim, a surpresa: uma cover “Arana Negra (Black spider)”, aparentemente da autoria de uma banda chamada “The Bicicletas” (???). Cantada em castelhano, um tanto repetitiva, mas que fica no ouvido. A produção é eficaz e o som é claro, como se impõe. Não há naturalmente novidades, mas isso não é um problema para quem gosta de relembrar musicalmente os tempos áureos do bom Rock pesado de LA, tocado por um dos seus mais lendários intérpretes. [7/10] Joey

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Com palavras simples, mas cheias de sentido, Harvst, vocalista e baixista dos Vargsheim, vai revelando o mundo que povoa a sua arte, feito de sonhos e de uma intensa saudade de um tempo que nunca existiu. profissão e essa arte também constitui um escape para a minha criatividade. Não faço artwork apenas para me divertir, vejo-o também como uma forma de expressão. Já fizeste artwork para outras bandas além de Vargsheim e daquelas com quem lançaram splits? Artwork não, mas já desenhei alguns logos para diferentes bandas. Continuo a trabalhar só para os amigos. Mas gostaria de ter mais encomendas. Se tiveres algumas sugestões, contacta os Vargsheim.

Arte e simplicidade O que significa o teu pseudónimo? E por que o escolheste? Harvst: Significa outono, no dialeto da região onde nasci. Desde a infância que tenho uma grande afinidade com o outono. Os meus dias favoritos do ano são os dias dourados de outono, Foi neles que me inspirei, para pintar a capa da nossa demo, que tirei de um conto de fadas. Em quase todas as bandas de black metal, os membros usam pseudónimos saídos da mitologia nórdica, mas nós queremos manter-nos fiéis às nossas origens. És um desenhador profissional ou fazes dessa atividade um hobby? Não sou um gráfico profissional. Até agora, só tenho trabalhado para a minha banda. Sou ourives de

Donde te vêm as ideias para as capas que desenhas? Aceitas alguma forma de colaboração dos outros dois membros da banda? Sim, claro! Também me inspiro nas letras do Kaelt. As ideias vêm-me quando estou a sonhar ou a magicar! São como uma espécie de visões. De algumas gosto, de outras nem tanto. Mas surgem-me mais das primeiras. Também me inspiro naquilo que me choca. Para os livros que acompanham os CDs, inspiro-me nas letras das canções. Os fãs costumam comentar as capas dos álbuns de Vargsheim? Tenho a impressão de que só alguns – pouco numerosos – se interessam pelo lado visual dos álbuns/demos/EPs e que, de um modo geral, essa parte é vista como quase irrelevante. O que tens a dizer sobre isto? Na cena metal, não pensa que seja tanto assim. Pelo contrário, diria que os fãs dão muito valor ao lado gráfico. Há quem compre LPs, não só por causa do som (que é melhor), mas também porque a imagem da capa é maior, logo podem ver melhor os seus pormenores. O nosso novo álbum está a chamar muito mais a atenção do que os anteriores. Por exemplo, nunca pensei que alguém se lembrasse de me entrevistar sobre a minha arte. Aliás, aproveito para te agradecer! Quando começaste a pintar? E porquê?


Pinto desde a infância. Eu e o meu irmão Kaelt trabalhávamos artisticamente com todo o tipo de materiais: madeira, barro, metal e até plástico. O nosso pai tinha o hábito de fabricar brinquedos de madeira para nós e foi ele que nos ensinou a usar as ferramentas de forma criativa. Fazíamos figuras, mas também armas, como, por exemplo, espadas e machados, fivelas e arcos e flechas. A pintura foi apenas mais uma arte em que encontrei saída para a minha criatividade. Mais tarde, encontrei nas capas dos álbuns de metal inspiração para desenhar e pintar, desde as de heavy metal (normalmente decoradas com paisagens fantásticas e dragões) até às de black metal (mais tenebrosas e tratando temas aparentemente mais sérios). Sempre me deram uma sensação de nostalgia, associada à ideia de que, subjacente àquela imagem, havia algo de mais profundo. Quando pinto, procuro captar lugares místicos, que surgem na minha imaginação e depressa se esfumam. Muitas vezes, fiz caminhadas, à procura de lugares que me dessem essa sensação de ausência de tempo. Mas, se pretendo limitar-me a representar um lugar desses numa ilustração, corre tudo mal. Por isso, geralmente, o resultado final é imprevisível, muito diferente do que eu tinha planeado.

Fizeste alguns estudos artísticos? Só frequentei artes no ensino secundário. Essas aulas deram-me a oportunidade de aprender e aprofundar técnicas de desenho, a que continuo a recorrer. Foi uma das mais sensatas decisões da minha vida! Quais são as principais características do teu estilo gráfico pessoal? Os teus trabalhos que vi eram todos mais ou menos figurativos, sobretudo alegóricos e apresentavam belas cores, geralmente desvanecidas. Reparei que o desenho da capa de «Erleuchtung» tem cores diferentes das que usaste no original, muito mais brilhantes. Os teus desenhos são sempre como os que eu vi? De um modo geral, são dominados pela escuridão. Gosto de representar neles ideias que podemos associar aos textos a que estão ligados, mas de forma indireta, através do nosso poder de interpretação e de expressão. Posso referir como exemplo, a canção “Weg aus Scherben” (“Way of shards”, em Inglês), para a qual pintei uma balança cheia de fragmentos de peças de cerâmica. O seu fiel aponta para duas palavras “ Ab-/Leben” (em Inglês, “living/demise”).


metaleiros. Também sou um grande admirador de Salvador Dali, Luis Royo e Theodor Kittelsen, autor do quadro que aparece numa das capas de Burzum (“Filosofem”) Quais são os teus grandes sonhos para 2013? Gravar o próximo álbum de Vargsheim. E que o meu estilo gráfico se aproxime cada vez mais do nosso som! Mais uma vez, obrigado pelo teu interesse. Foi um privilégio responder às tuas perguntas! Entrevista: CSA

Só usei cores brilhantes no livro que acompanha o álbum. Constituem o fogo que vive no coração do álbum, já que Erleuchtung” significa “enlighten-

“[...] Até agora, só tenho trabalhado para a minha banda. […] Não faço artwork apenas para me divertir, vejo-o também como uma forma de expressão.” ment”! A capa é escura, mas iluminada por uma luz que nela figura. Desenhei sobre tecido, para fazer as capas da nossa demo, do nosso primeiro álbum «Weltfremd» e de «Erleuchtung». Os outros desenhos, que aparecem no livro que acompanha este último álbum, foram feitos em papel, usando tinta e tinta-da-china. Neste último artwork, atingi um grau de maturidade, que permitiu que não tivesse de fazer grandes alterações. Há algum pintor alemão que admires em especial? Eu gosto imenso da arte de Dürer, sobretudo das suas gravuras. Essas gravuras inspiram-me muito, especialmente as que representam demónios. Gosto de “Ritter, Tod und Teufel” (em Inglês, “Knight, Death and the Devil”), de Dürer. Mas, à parte esse, não há nenhum pintor alemão que me entusiasme muito. Gosto muito de H. R. Giger, como a maior parte dos


Depois da tempestade, vem a… nostalgia É a segunda vez que aparecem nas páginas da VERSUS Magazine, sempre a merecerem destaque e atenção pela qualidade da sua música. Depois da tempestade de «Procella Vadens» (2010), vem a nostalgia de «Meadows of Nostalgia». Mas, segundo Horaz (vocalista, guitarrista e teclista), esta não é sinónimo de acalmia, antes de um redobrado vigor no black metal desta banda alemã. Com ele, conversámos sobre os feitos de Imperium Dekadenz e a colaboração de Vargsheim, outra das bandas entrevistadas nesta edição.


Em 2010, tivemos uma conversa bem interessante sobre o vosso «Procella Vadens». O que têm andado a fazer desde o lançamento desse álbum (o terceiro da banda) até agora? Conseguiram fazer a grande digressão que planeavam? Horaz: Não conseguimos fazer a digressão, mas ainda tocámos em alguns grandes festivais: por exemplo, no Wacken Open Air 2010 (Alemanha), no Inferno Festival 2011 (Noruega), no Summerbreeze 2011 (também na Alemanha) e no Metal Camp 2011 (Eslovénia). Passámos momentos maravilhosos em todos esses lugares e gozámos o estilo de vida do rock n’ roll, que é exatamente o oposto das nossas vidas normais, incluindo o lado profissional. Em novembro de 2011, começámos a compor o «Meadows of Nostalgia», juntando ideias que tínhamos reunido aos poucos. A sorte estava do nosso lado, por isso não tivemos problemas ao longo da realização deste trabalho e conseguimos manter-nos concentrados e disciplinar as nossas visões. Adoro a vossa música! É impressão minha ou tornou-se mais violenta, desde o álbum de 2010? Se mudou efetivamente, isso ac-

mos a ideia de fazer um álbum concetual sobre o nosso lar, as nossas histórias/experiências, desejos e sonhos pessoais, que nos acompanham desde a infância. Muitas vezes, discutimos sobre quais eram as nossas influências e fontes de inspiração mais importantes, pessoas que conhecemos e lugares que visitámos. Por fim, selecionámos estas nove canções, cada uma das quais representa algo que é muito significativo para ambos. Como, no decurso do processo, tivemos de analisar as nossas vivências, decidimos compor música adequada à ideia de um regresso ao passado, logo mais parecida com o estilo de «Dämmerung der Szenarien» [o

segundo álbum da banda, lançado em 2007] e das bandas que ouvíamos naquela altura, isto é, nos nossos primeiros tempos como fãs de black metal. Como já disse antes, penso que evoluímos muito, aproveitando tudo o que aprendemos durante

se com o facto de o nosso som ter melhorado mesmo. Nesta produção, recorremos a Christoph Brandes (dos Iguana Studios, na Alemanha). Ele conseguiu dar uma roupagem áudio aos nossos sonhos e desejos, hehehehe. Na nossa opinião, é um verdadeiro mestre. Por outro lado, como podem sentir-se tão nostálgicos, se ainda são homens novos? Aliás, a capa do vosso álbum associa a nostalgia à velhice, como é habitual. Não te sei dizer quando é que começámos a alimentar estes pensamentos nostálgicos. Pareceme que é algo que surge naturalmente na vida das pessoas e que faz parte das emoções humanas, ind e p e n d e nt e mente da idade do sujeito que as experimenta. Creio mesmo que eu e o Vespasian somos indivíduos nostálgicos e que ouvir black metal ou outro género musical emocional/ atmosférico alimenta essa nossa faceta. Do nosso ponto de vista, a nostalgia é uma espécie de velho amigo, que nos visita, quando ouvimos esse tipo de música, logo é um conceito de base ideal para um álbum de black metal. Considero que a nostalgia te ajuda a compreenderes-te a ti próprio, a refletir so-

“Tivemos a ideia de fazer um álbum concetual sobre […] desejos e sonhos pessoais, que nos acompanham desde a infância.” onteceu porque vocês mudaram, ou este estilo agressivo tem a ver com o conceito subjacente ao álbum? Como conseguem combinar nostalgia com esta violência? Tens razão. Nós também vemos este álbum desse modo e estamos muito contentes por termos conseguido fazer algo diferente dos nossos trabalhos anteriores. Tive-

a conceção de «Procella Vadens». Conseguimos evitar os erros do passado e, assim, fazer melhor uso dos recursos disponíveis, para dar mais poder à nossa música. Parece-nos que se pode sentir isso, quando se ouve o novo álbum e se estabelece a comparação com «Procella Vadens». Outro aspeto importante prende-

bre o que és, o teu passado e o que queres para o teu futuro. Portanto, ao contrário do que se pensa normalmente, a nostalgia tem tudo o que é preciso para te tornar mais forte. Foi o mesmo artista que fez a capa para este álbum e os anteriores? Francamente, a deste parece-me


“Considero que a nostalgia te ajuda a compreenderes-te a ti próprio […]” um tanto diferente. O artwork de «Procella Vadens» foi criado por nós próprios. A foto foi tirada por um fotógrafo checo. O de «Meadows of Nostalgia» é da autoria de Simon Bossert (Metal Artworks). Ele fez muitos outros trabalhos gráficos para nós, antes deste, e gostámos sempre muito do produto final. O artwork de MoN traduz, de forma clara, todos os aspetos do conceito subjacente ao nosso álbum. Li algures que os Vargsheim tocam convosco nos vossos concertos. Como vão fazer para conciliar as datas das duas bandas, uma vez que eles também têm um novo álbum? Até agora, nunca tivemos problemas dessa natureza e não estamos a contar tê-los agora. Também esperamos poder contar com eles durante muito mais tempo. As duas bandas estão a crescer, o que nos vai exigir um maior esforço em termos de conciliação das nossas atividades. Mas sentimos que vamos conseguir continuar a gerir esse aspeto da nossa atividade sem atritos, porque nos damos todos

muito bem e sabemos como proceder em situações críticas, relacionadas ou não com o excesso de trabalho. Temos passado momentos maravilhosos juntos ao longo destes anos e estamos todos conscientes de que a amizade é um tesouro que não se pode dissipar. Suponho que tu e o Vespasian escreveram este álbum juntos. Os vossos amigos de Vargsheim participaram de algum modo no trabalho de composição? Não. Mas têm a sua própria forma de abordar os temas para os tocarem ao vivo e também sobre a apresentação nos concertos. Logo, no que diz respeito às atuações ao vivo, são membros da banda como nós. No que se refere à composição e à gestão da banda, as peças-chave somos eu e o Vespasian, apesar de reconhecermos que é trabalho a mais para apenas dois homens. Quem é responsável pelos coros e pelos teclados feéricos que se ouvem em algumas faixas deste vosso álbum? Os coros foram compostos e gravados pelo Stefan Dittrich, de

Munique, um mestre do midi e da orquestração. Eu e o Vespasian fizemos os teclados entre os dois. Passaram-se alguns anos desde a nossa última conversa. Em 2010, falámos dos vossos sonhos. Será que, entretanto, se converteram em realidade? E que novos sonhos foram surgindo? Sentimos que estamos a viver os nossos sonhos, quando damos asas à nossa criatividade ou vivemos experiências extraordinárias. Atualmente, sentimo-nos felizes quando podemos pôr de lado as nossas vidas quotidianas para mergulharmos no universo tenebroso que existe no fundo das nossas almas. É claro que continuamos a querer participar numa grande digressão e tocar em festivais no estrangeiro, mas esse desejo está cada vez mais próximo de se converter em realidade. De qualquer modo, sem sonhos, nem desejos, não vale a pena viver. Obrigado por te manteres em contacto connosco. Morituri te salutant! Entrevista: CSA


Da vis達o e da escurid達o


São companheiros de armas de Imperium Dekadenz, outra banda alemã, com quem tocam como músicos de sessão. Mas tal não implica que os Vargsheim não tenham a sua personalidade musical própria. Embalados pelo rock da sua infância, segundo confissão de Kaelt (vocalista e guitarrista da banda) conseguem combinar este som com riffs de black metal, criando uma amálgama capaz de encantar o ouvido de um metalhead e, ao mesmo tempo, usar essa roupagem musical para pensar sobre o mundo que os rodeia e partilhar essas reflexões com os seus fãs. É este o conceito subjacente a «Erleuchtung»? O nosso álbum não tem um conceito rígido, cada canção é independente, conta a sua própria história. Mas és livre de interpretar o álbum no seu conjunto dessa forma. Está associado à ideia de que nos ocultamos na escuridão, para vermos o que os olhos não conseguem ver.

Como conseguem combinar o black metal mais infernal com um rock bem calmo? O resultado final soa muito bem. Kaelt: Não temos nenhuma receita especial para o nosso estilo, é o resultado das nossas influências musicais. Eu e o meu irmão Harvst estamos em contacto com o rock desde miúdos. Os nossos pais eram fãs de Scorpions, Rainbow, Queen, Guns´n´Roses e muitos outros. Portanto, fomos educados ao som do rock, já nos está no sangue. Podes aperceberte da vibração do rock em toda a música dos Vargsheim, desde o início, misturada com riffs de black metal. E como pode sair luz das trevas?

Parece-te que a demanda pelo sentido da vida humana é um projeto triste? Há momentos deste vosso álbum em que a música parece estar cheia de angústia e melancolia. Não penso que seja um projeto triste, embora me pareça que pode ser angustiante, até frustrante. Todos os seres humanos deviam empenhar-se na busca da luz que dá sentido à vida. Mas, infelizmente, só alguns se aventuram neste caminho. Os momentos melancólicos da nossa música evocam aquelas horas mais negras que vivem os que andam à procura da sua própria verdade, os que caminham sós neste mundo. Quem compõe a música de Vargsheim? Todos os riffs são escritos por mim. Depois, já na sala de ensaios, trabalho as músicas com o baterista Naavl e o baixista Harvst.

Qual é o significado da maravilhosa capa do vosso álbum? Apresenta um personagem que simboliza a raça humana. Este personagem segura nas suas mãos o livro da ignorância e do dogma e levanta-o acima da sua cabeça, para que a luz que dele emana não o possa atingir e assim possa permanecer na escuridão. É uma imagem adequada ao conceito de «Erleuchtung». Afinal, a Humanidade tende a bloquear tudo o que a poderia fazer evoluir por causa de ideias decorrentes da religião e de perspetivas rígidas sobre a vida. É sempre o Harvst que faz a arte dos lançamentos de Vargsheim? Sim. Só não é o autor da arte do split-CD que fizemos com Hlidskjalf, que apresenta uma foto. Todas as capas dos nossos outros trabalhos são imagens pintadas por ele. A quarta faixa do vosso álbum – a que deu o título ao álbum – faz-me pensar em composições de bandas como Alcest, Les Discrets ou até Lantlös. Há alguma relação entre Vargsheim e estas bandas? Não, nenhuma. Talvez tenhamos gostos parecidos em termos de melodias, mas é tudo. Sempre gostei de canções acústicas e instrumentais. Parece-me que contêm


“[…]Podes aperceber-te da vibração do rock em toda a música dos Vargsheim, desde o início, misturada com riffs de black metal.” em si a magia da música pura, sem as restrições impostas pela voz, que acaba sempre por impor à canção uma determinada direção, mais do que qualquer outro instrumento. Sei que são músicos de sessão dos Imperium Dekadenz, que já entrevistei duas vezes. Isso acontece por que os veem como uma importante influência da vossa banda? Apesar de ambas fazerem música extrema, o vosso som é bastante diferente. O efeito que os Imperium Dekadenz exercem sobre nós distingue-se da influência de qualquer outra banda. Quando ensaiamos as canções escritas por outros, temos de analisar a técnica

que presidiu à sua conceção e chegar às nossas próprias conclusões sobre a sua natureza. Isso levoume a aprender alguns truques de composição. Por outro lado, cada vez mais evito efeitos típicos do black metal, porque o faço muitas vezes quando estou a tocar para os ID. Mas não diria que eles são uma grande influência para Vargsheim, até porque o nosso estilo musical já estava definido antes de começarmos a tocar com eles e é muito diferente. Estão a pensar em fazer uma digressão com os Imperium Dekadenz para promover este vosso segundo álbum? Não sabemos bem ainda. Não sei

se vamos conseguir fazer uma digressão completa com eles, mas, pelo menos, estamos a contar fazer alguns concertos. De momento, os Vargsheim só fazem concertos em nome próprio na Alemanha. Mas nunca se sabe o que o futuro nos pode trazer. Entrevista: CSA



Sem limite


Na noite do evento Hard as Hell não esperava encontrar uma banda destas. São muito jovens mas foi a garra das músicas que tocam que me despertou a curiosidade. Speed, Metal, Punk - foram estas categorias que me fizeram fazer headbanging sem hesitar um minuto – e por momentos acreditei que estava num concerto dos Motörhead. Afinal, para que serve complicar quando a simplicidade resulta muito melhor? Os Destruction Eve são oriundos do grande Porto, e prometem incendiar plateias com o seu feeling old school e simples. Tive o prazer de vos ver na abertura do Hard As Hell, no dia 1 de Março, em Aveiro, e realmente Destruction Eve destacou-se pela diferença. Sendo vocês muito novos, como é que aconteceu formar uma banda com um feeling tão old school? Xicote: Boas. Quando começamos, no início de 2010, não tínhamos a intenção de fazer uma banda punk hardcore. As nossas influências eram sobretudo Metal. Tudo mudou em 2011 quando vimos pela primeira vez os Mais uma Queda, de skate punk ca da tuga - ficámos fascinados com a cena dos ritmos rápidos e isso influenciou bastante a nossa música. Vocês sempre foram os mesmos três músicos a tocar nos Destruction Eve? Ou já tiveram outros elementos? Fomos sempre os mesmos. Já tivemos mais um membro na guitarra, o Miguel (meu irmão), mas não deu mais que dois concertos. Há quanto tempo vocês fazem música? É a vossa primeira banda? Nós os três já tocávamos antes numa banda que era basicamente covers de Metallica (risos). Mas aí era só eu e o Alex [NR: guitarrista/vocalista]. O Carlos [NR: baterista] vinha aos ensaios, e no fim acabava sempre por tocar uns minutos de bateria. Destruction Eve foi a primeira banda que nós os três tivemos. Se não me engano vocês lançaram um EP / Demo, «Freedom is my Limit», estou certo? Têm mais material, ou apenas essa Demo? Estás certo. Temos mais uma demo que lançámos no início de 2012, mas tem apenas três músicas - e uma delas é uma cover. Como têm sido as reacções à vossa música nos concertos? Ultimamente temos tido boas reacções do público - melhor nuns concertos do que noutros - mas basicamente temos tido um feedback positivo. É certo que o sonho de todas as bandas é chegar ao maior público possível. Vocês trabalham nesse

sentido, arranjar editora e lançarem-se com a banda, ou ainda não pensam muito nisso? Pensamos em tocar aquilo que gostamos, sobretudo. Nunca procurámos uma editora, nem pensamos nisso - a cima de tudo DIY (NR: Do It Yourself) punk hardcore é isso mesmo. Não são as editoras que nos vão fazer tocar melhor. Estou curioso para saber o que vocês ouvem. Quais são as vossas maiores influências? Um pouco de tudo dentro do Punk, Hardcore e Metal. Mas citando alguns nomes que mais nos influenciam: Metallica, Minor Threat, Bad Brains, Mais uma Queda e Misfits. Vocês são realmente muito novos, mas já pretendem transmitir uma mensagem com a vossa música. Que mensagem é essa? O que dizem as vossas músicas? A maior parte fala sobre assuntos pessoais do diaa-dia que vão acontecendo connosco, ou seja, a mensagem é escrevermos aquilo que nos vai na tola. Por último, gostaria que nos dissessem o que acham do panorama underground do Metal hoje em dia. Isto dito por nós vai sempre soar um bocado mal para alguns, visto que não andamos neste circuito do underground (punk/metal/hardcore) há muito tempo. O Underground tem a sua parte boa e a sua parte má. Há sempre pessoal a fazer bandas, zines, blogs, etc.. o que é bom, ajuda a divulgar a música e as ideias, mas também há sempre pessoal que gosta mais de falar do que outra coisa - afinal de contas, isto não é só falar sobre apoiar a ‘cena’ e depois quando há concertos, até benefits, os que falam muito não aparecem. O underground do Metal, do Punk, e do Hardcore é todo o mesmo underground, ou deveria ser, embora haja sempre pessoas a fazerem grandes separações entre géneros musicais. Não somos nenhumas vedetas, nem somos mais que ninguém. Entrevista: Victor Hugo


Blindagem Metal Show & Berkana Orn Spirit

Ass. Cultural Mercado Negro – Aveiro 09.03.2013 Pela música dos Sarithin O pessoal do Blindagem Metal Show & Berkana sugeriram ao público de Aveiro um espectáculo diferente do habitual, sem Metal e bastante mais contemplativo. Decidiram levar ao auditório do Mercado Negro os Orn Spirit, banda de Sintra que após a realização do seu primeiro EP, «Tel’ Lindale en’ Sarithin Vol. I – The Music of Sarithin», está a promove-lo em pequenos concertos. O auditório do Mercado Negro, em Aveiro, foi, até àquele momento, o local mais distante de Sintra onde tocaram. E talvez por

isso o concerto teve um sabor especial – como se o público pensasse: “Somos o povo mais longínquo que os Orn Spirit visitaram. Como será este concerto?” A resposta foi muito positiva. Para quem não sabe, os Orn Spirit praticam uma sonoridade deveras interessante – conseguem comungar as essências e ideologias do Folk com os ritmos e ambientes psicadélicos do Rock Progressivo dos anos 70. Conseguem imaginar? O resultado é realmente brilhante. E foi uma mais valia vê-los tocar, sentir que aquele som, aquela musica, a musica dos Sarithin, é uma arte orgânica, proveniente de seres vivos com a capacidade de a criar. Não sabendo realmente qual a real base das músicas, se o Folk, se o Rock, a verdade é que isso pouco importou, porque tudo esteve muito bem construído. Desde a bateria a marcar os ritmos fortes, ora simples, ora jazzística com contra tempos e breaks; passando por um baixo sempre presente; as guitarras semiacústicas de onde

provinham ora solos espantosos, ora dedilhados, ora efeitos psicadélicos; até aos instrumentos tradicionais, alguns com ligações eléctricas e com efeitos. Foi realmente um show de feeling. Para ajudar, a banda ainda contou com a ajuda de uma bailarina que dançava numa espécie de ritual ao longo do pequeno auditório. Não posso afirmar que tenha havido high lights neste concerto, porque realmente todo o set foi uma verdadeira surpresa – destacando, talvez pela mensagem que transmitiram ao publico, “Naur Salka”, que significa A Dança do Fogo, sendo que este elemento é de uma importância suprema para o Homem e o seu pilar cultural ao longo da História. Reportagem e fotografia por: Victor Hugo


Corpus Christii

Ass. Cultural Mercado Negro – Aveiro 30.03.2013 Comunhão… involuntária e voluntária! Será coincidência (ou talvez não!), mas, desde que os Mayhem (acompanhados por Corpus Christii e Daemogorgon) se apresentaram no Hard Club – em 23 de abril de 2011 – para “celebrar” o Sábado de Aleluia, esta data (importante para os católicos) tem sido sempre marcada com um concerto de black metal. Este ano, foi a vez de os Corpus Christii, apresentados pela Blindagem, virem até ao Mercado Negro,

em Aveiro, a 30 de março de 2013. Pode-se dizer que foi um concerto de grande comunhão. Involuntária, porque o auditório é pequeno e a banda (na sua formação atual para os concertos ao vivo) ocupava uma boa parte do espaço disponível. Voluntária, porque, dos presentes na sala, muitos conheciam-se entre si e muitos também conheciam pessoalmente pelo menos alguns membros da banda. Para além do mais, o respetivo mentor usou largamente do espaço disponível, movimentando-se no palco, saindo deste para se misturar com os espetadores que ocupavam a fila de frente e, por vezes, cantando virado para os músicos. A dar um ar ainda mais ritual ao concerto temos o facto de a excelente prestação dos músicos ter servido de pano de fundo a uma verdadeira

representação dramática, protagonizada por Nocturnus Horrendus, completando a sua interpretação vocal. Do set faziam parte diversos temas retirados da célebre “trilogia” e sobretudo do último longa duração de Corpus Christii – «Luciferian Frequencies» – lançado em 2011. O que se passou no palco do auditório do Mercado Negro foi o suficiente para nos fazer lembrar que estamos todos à espera de mais um álbum desta one man band, com a Candlelight ou sem ela (já que, numa entrevista datada de junho de 2011, NH se mostrou insatisfeito com o apoio dado pela editora inglesa a este seu projeto musical, que fez dele um nome conhecido da cena black metal, nacional e internacional). Reportagem: CSA Fotos: Victor Hugo


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