Versus Magazine #18 Fevereiro/Março 2012

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Sejam bem-vindos a mais uma grande edição da VERSUS Magazine, onde podem encontrar desde logo o nosso balanço – mais tardio, mas também mais ponderado – relativo aos álbuns lançados em 2011. Os Alcest, a banda francesa do apaixonado Neige, que entrevistamos nesta edição, continuam a ser o colectivo com o trabalho mais consensual entre o staff da VERSUS, não admirando por isso que o último registo tenha as honras de álbum do mês neste número. Não tão consensuais mas sem dúvida merecedores da distinção de capa são os deathsters Asphyx, que por intermédio do baterista Bob Bagchus nos explicam o verdadeiro sentido da expressão old school. E há mais: para além das entrevistas com os Sear Bliss e Stéphan Forte bem como com um contingente mais reforçado de artistas/bandas nacionais, temos ainda a 4ª e última parte da História esquecida do Metal forjado entre portas que se debruça desta vez nos saudosos anos 90. Ah e atenção ao passatempo alusivo ao novo trabalho dos Darkside of Innocence! Como sempre, estamos sempre receptivos aos vossos comentários. Escrevamnos para versusmagazinept@gmail.com. e esperem mais novidades nas próximas edições. Ernesto Martins


Do maravilhoso e do etéreo

Fiel às suas ideias, Neige, o mentor de Alcest, lançou mais um álbum – «Les Voyages de l’Âme» -, em que a música quase etérea nos abre as portas para um mundo maravilhoso que algumas experiências de vida nos podem ajudar a pressentir. Da conversa com o jovem e talentoso músico ficounos a ideia de que a evolução de Alcest não parou aqui.


Que relação há entre «Écailles de Lune» e «Les Voyages de l’Âme»? Neige: Todos os álbuns de Alcest estão ligados entre si, porque, como sabem certamente, todo o trabalho da banda assenta num conceito. Logo, todos os álbuns tratam o mesmo assunto, apresentam-no a partir de várias perspetivas. Este álbum assinala uma nova fase na carreira de Alcest? O que pode ele trazer à música extrema em França e à cena em geral? É difícil responder a essa pergunta. Penso que Alcest tem trazido uma certa frescura ao metal por ser muito diferente das outras bandas da cena. Será que «Les Voyages de l’Âme» é mesmo um álbum de metal? Que adjetivos/expressões usarias para descrever a tua mais recente obra-prima? Realmente, nem sei se podemos usar o termo metal para designar a música que Alcest faz.

Há quem nos associe ao BM, mas eu não estou de acordo. É cada vez mais difícil escolher rótulos para descrever a música que faço. A música de Alcest vem de um outro mundo. É uma espécie de “rock mágico”! Pode ser rock, metal, indie. Não há nenhuma designação que me satisfaça, para descrever a música que faço. Como é que os teus companheiros da banda reagiram ao álbum? Na banda, somos só dois: eu e o baterista [Winterhalter]. Depois temos músicos de sessão. As reações foram das mais variadas. O baixista disse-me que este álbum era mais acessível do que os anteriores. Inversamente, o guitarrista disse que era algo muito monolítico, muito complexo, muito denso. Estas foram as reações à primeira audição. Penso que este álbum exige várias audições para poder ser devidamente apreciado. És tu o único responsável pela composição do álbum ou con-

taste com a ajuda de alguém? Faço sempre todo o trabalho de composição sozinho. Parece-nos que neste álbum se insiste bastante na guitarra e que essa predominância é propositada. Que pensas deste comentário? Efetivamente é assim mesmo. Comecei por compor todo o álbum usando a guitarra. É o meu instrumento principal. A guitarra é a essência de Alcest, muito mais do que a voz. A base da música da maior parte das bandas é dada pela bateria e pelo baixo. No caso de Alcest, a base é dada pela guitarra, depois vêm as linhas vocais e só depois a bateria e o baixo. Pode-se dizer que uma boa parte da nossa música é instrumental. Pode-nos explicar a relação entre a canção que deu o título ao álbum e o conceito subjacente a ele? É o centro do álbum e representa um bom resumo do conceito subjacente a ele. Fala de


“É cada vez mais difícil escolher rótulos para descrever a música que faço. A música de Alcest vem de um outro mundo.” viagens da alma, de experiências de pessoas que sentiram a morte e regressaram. Aliás, essa canção foi precisamente inspirada por essas experiências. Como sabem, o conceito de base da banda deriva de uma experiência esotérica que vive em criança. Esta banda permite-me exprimir essa experiência que tive, o que senti, recorrendo à música, em vez de falar sobre ela. O uso da língua francesa produz um efeito mágico neste álbum. Este efeito resulta de um esforço de composição da tua parte ou tem apenas a ver com as caraterísticas da tua língua materna? Tem algo a ver com a língua em si. Afinal, é a minha língua materna. Não me vejo a cantar em Inglês, até porque nem sequer tenho uma boa pronúncia.

Além disso, o Francês tem a vantagem de incluir muitas palavras para designar uma mesma realidade, o que nos dá mais opções, quando estamos a escrever as letras. Passei muito tempo a escrevê-las e andava sempre com um dicionário de sinónimos, para ir escolhendo as palavras e poder variar. Tu és um homem do sul. É possível relacionar a tua obra poética e musical com as tradições literárias da parte de França de onde és natural? Sim. Conheço bem alguns poetas franceses. Costumava ler muita poesia francesa, quando era mais novo. Gosto muito da obra de Baudelaire. O homem é um génio: a poesia dele parece muito, muito simples de perceber, mas bem depressa te apercebes de que, na realidade, é muito rica, esconde um pen-

samento muito profundo. É isso que faz a sua grandeza. Acontece o mesmo com Verlaine, que também é um excelente poeta francês, muito do meu agrado. E acerca do vídeo. Por que decidiste fazer um vídeo? E por que escolheste aquela canção em particular? Um amigo meu apresentou-me uma realizadora de cinema. Falámos sobre o conceito de base de Alcest e ela compreendeu logo do que se tratava. No caso desta canção, a ideia é que, contrariamente à natureza, que parece nunca mais acabar, nós – humanos – não somos eternos, estamos condenados a desaparecer. O local em que fizeram as filmagens é muito bonito. Fica no sul de França?


“[…] não é bem um pavão, é uma espécie de ave-do-paraíso, algo de divino. Adoro as cores das penas de pavão. São irreais… […] quase etéreas!” Não. Fica na Normandia, que se situa ao norte, perto da Bretanha. Tudo o que aparece no vídeo é real, à exceção do castelo. É um local maravilhoso. Quem fez a capa do álbum? É maravilhosa. É mais uma criação de Furzy Teyssier? Sim. Ele é o meu melhor amigo. Conhecemo-nos muito bem. Costumamos fazer juntos as capas dos álbuns. Já fizemos umas cinco. É claro que a parte do desenho é com ele. Mais uma vez, ele fez um excelente trabalho. Por que razão representaram um pavão na capa do álbum? Esta imagem tem um valor simbólico? O desenho da capa do álbum representa a porta que conduz ao reino de Alcest. Em vez de usarmos a imagem de uma

pessoa, ou uma representação de um espírito, preferimos usar um animal mítico. Aliás, não é bem um pavão, é uma espécie de ave-do-paraíso, algo de divino. A ideia também veio do facto de eu gostar de usar colares feitos de penas de pavão. Adoro as cores das penas de pavão. São irreais… como as das asas das borboletas. São quase etéreas!

anuncia aqui Estaremos no vosso concerto no Hard Club do Porto a 14 de fevereiro. Sim, vamos estar no Porto. Será a quarta ou quinta vez que tocamos em Portugal. E onde vão ser os outros concertos para dar a conhecer as viagens da tua alma? Vamos fazer uma digressão na Europa. Depois regressamos a França para descansar um pou-

co. De seguida, vamos passar um mês a tocar nos Estados Unidos. Seguem-se participações em vários festivais. Em Setembro, vamos à Escandinávia. Isso é que vai ser trabalhar. Felizmente! Queres deixar alguma mensagem especial? Espero que os vossos leitores tenham gostado de «Les Voyages de l’Âme» e que venham ouvir-nos tocar ao Porto. Vamos muitas vezes a Portugal e somos sempre muito bem recebidos. Temos a impressão de que os fãs portugueses seguem atentamente a carreira de Alcest. Daí que tenhamos sempre muito gosto em tocar no vosso país. Entrevista: Victor Hugo e CSA


Foram referidos, na entrevista a Thy Catafalque, como uma das bandas mais promissoras da Hungria, país pouco citado no mundo do metal, mas de onde vieram bandas de grande nome como Tormentor, cujo vocalista, Attila Csihar, viria a ocupar essa posição nos Mayhem. O lançamento do sétimo álbum – «Eternal Recurrence» – levounos ao contacto com András Nagy, o fundador da banda. Ficamos a saber que o lugar de destaque que Sear Bliss ocupa

Uma demand

na cena metal europeia não impede a banda de prosseguir a sua eterna demanda, senão da perfeição, pelo menos de algo que esteja o mais próximo possível desta.


da sem fim

Vocês são a segunda banda húngara que entrevisto em dois meses. A outra foi Thy Catafalque. Tamás Kátai referiu-se a Sear Bliss como uma das bandas mais internacionais no vosso país. Que pensas disto? András – Estou muito feliz por o Tamás ter mencionado Sear Bliss como uma das bandas mais

in-

ternacionais. Mas a mim parece-me que há outras bandas mais famosas na Hungria. Nós temos a vantagem de termos sido a primeira banda húngara a lançar um álbum através de uma editora internacional. Na altura, era muito raro tal acontecer. Na tua opinião, que contributo importante pode a Hungria dar ao metal europeu e à cena em geral? A cena húngara é muito restrita e está bastante isolada. Mas, por outro lado, essas caraterísticas também conferem às nossas bandas uma certa especificidade. Temos algumas bandas bem originais, com ideias frescas, e espero que isso lhes venha a trazer o reconhecimento internacional cada vez mais cedo. Podes referir algumas influências da vossa banda? Vindas da Hungria? De fora do vosso país?


“temos a vantagem de termos sido a primeira banda húngara a lançar um álbum através de uma editora internacional” O nosso país e a sua forma de viver caraterística são certamente uma grande influência para nós. Não posso referir bandas ou géneros que nos tenham influenciado em particular, porque todos os membros dos Sear Bliss têm personalidades muito diferentes e os nossos gostos musicais também variam muito. Penso que a maioria das nossas influências vem do nosso subconsciente e que tudo o que nos rodeia nos pode influenciar de algum modo. Tentamos exprimir o que nos vai na alma e na mente. Podes fazer-nos um resumo da história da banda? É uma história bem longa e não quero entrar em grandes detalhes, porque poderia ser maçador. Quem quiser informar-se sobre nós, encontra bastante informação disponível na net. Por isso, vou limitar-me a referir os aspetos mais importantes. Formei Sear Bliss há exatamente 18 anos. Depois de termos feito uma única demo, assinámos contrato com a Mascot Records e o nosso primeiro álbum («Phantoms») foi lançado em 1996. Foi um sucesso inesperado no mundo underground, especialmente tendo em conta que se tratava de um álbum de estreia. Mais tarde, em 1997, a nossa demo foi lançada em CD com uma faixa bónus especial e, logo após o lançamento deste mini CD, partimos em tournée com os Marduk. O segundo álbum («The Haunting») foi

gravado na Holanda, já com uma formação diferente, e foi o último que fizemos para a Mascot. O terceiro álbum («Grand Destiny») foi lançado pela Red Stream, dos EUA, e, pouco depois, lançámos o quarto («Forsaken Symphony»), que era um álbum cru, de verdadeiro regresso às raízes. O nosso quinto lançamento («Glory and Perdition») teve lugar em 2004, e, logo em 2005, saiu o nosso primeiro DVD. Nessa altura, assinámos o contrato com a Candlelight Records e já foi esta que lançou o nosso sexto álbum («The Arcane Odyssey»), em 2007. Fizemos imensos concertos e participámos em muitos festivais e, entretanto, tivemos mais uma mudança de formação: alguns dos membros originais da banda regressaram. Foi com esta formação que gravámos o nosso último álbum («Eternal Recurrence»), em 2010. Por favor, define a vossa música em três palavras/expressões. Profunda, tenebrosa e desestabilizadora. E como conseguiram um contrato com uma grande editora como a Candlelight? Deve ter sido por causa da reputação da banda na cena underground. De facto, andávamos à procura de uma nova editora, depois de termos cumprido o nosso contrato com a Red Stream, porque queríamos que os nossos álbuns fossem melhor promovidos e distribuídos na Europa. Sem-


“Recorrendo a instrumentos de sopro [trompete], conseguimos alargar o horizonte das nossas experiências musicais…” pre gostei das bandas e álbuns que fazem parte do catálogo da Candlelight. Além disso, o álbum de estreia da minha outra banda – Forest Silence – foi lançado por uma sucursal desta editora, portanto já tínhamos uma espécie de ligação à Candlelight. Fiquei maravilhado quando soube que estavam interessados em Sear Bliss e tenho a certeza de que nos ajudaram a atingir um nível superior. Trabalhámos bem em conjunto e estamos orgulhosos de sermos artistas da Candlelight.

arte do álbum. Mas é verdade que o motivo escolhido representa algo fechado, mas que se pode abrir para os que ousarem enfrentar o desconhecido e o mistério. Este conceito é passível de muitas interpretações, apesar da sua simplicidade.

É um conceito positivo ou negativo? Na minha opinião, pode apontar nos dois sentidos. Exatamente. Pode ser positive ou negativo. A canção intitulada “There’s No Shadow Without Light” é um bom exemplo deste paradoxo. O álbum é uma Adorei o vosso último álbum. O som do trompete verdadeira demanda filosófica. combinado com a atmosfera Black Metal, que encontramos em algumas das faixas, é verdadeira- Conheces algumas bandas portuguesas? Há uma mente fascinante. Que efeito pretendem produzir? na Candlelight (Corpus Christii) a fazer Black Queremos apenas exprimir o que nos vai na Metal fantástico. alma. Recorrendo a instrumentos de sopro, conSó conheço Moonspell e Ava Inferi, mas sei que seguimos alargar o horizonte das nossas experiên- há muitas mais bandas no teu país. Já ouvi excecias musicais, de modo a expressar melhor os lentes referências a Corpus Christii e, como somos nossos sentimentos. Por outro lado, penso que bandas da mesma editora, havemos certamente de estes instrumentos se adaptam perfeitamente ao nos cruzar um destes dias. universo do metal, porque têm um som poderoso e cru. Esta combinação converteu-se numa esTencionas vir a Portugal para promover «The pécie de imagem de marca de Sear Bliss. Eternal Recurrence»? Temos alguns festivais interessantes, sobretudo no verão, um dos quais se A arte do vosso álbum também é fantástica. O passa não muito longe da cidade onde vivo. motivo escolhido faz-me pensar em algo fechado. Adorava ir tocar finalmente a Portugal. Seria maraComo descreverias a relação entre a imagem que vilhoso. Estamos agora mesmo a programar a difigura na capa do álbum e o conceito subjacente gressão para promover o nosso álbum e gostaríaa ele? mos de chegar a Portugal. Seria um prazer tocar Desta vez, queríamos algo simples, mas eficaz e em festivais, mas, até ver, ninguém nos convidou. o resultado está de facto intimamente ligado ao conceito e à atmosfera do álbum. Não me vou alargar em pormenores, porque compete ao ouEntrevista: CSA vinte descobrir as conexões entre a música e a


PossuĂ­dos pelo Heavy Metal


«Agony & Opium» foi um álbum que poderá ter passado despercebido, mas quem o caçou soube sem dificuldade decifrar a qualidade. Com a passagem para a Relapse Records, a banda de Olympia, Washington, viu-se cercada de atenção e ouvintes a quererem saber quem são eles. A VERSUS Magazine teve oportunidade de conversar com a banda para saber como estão os ânimos à volta de «Possession». O novo álbum, «Possession», mantem-se na mesma linha que o anterior. Sem dúvida que acredito que será o vosso único caminho, estou certo? Christine: Não tenho tantas certezas. A essência da arte/música é de não haver regras, por isso quem sabe, talvez faremos um álbum diferente um dia destes. Para já, esta música é o que tocamos. E penso que o «Possession» é diferente que o anterior, «Agony and Opium», mas pessoas diferentes ouvem coisas diferentes, e isso é uma grandiosidade na vida. Reuben: Continuam a se as mesmas cinco pessoas a fazerem arte juntos, por isso espero que haja alguma linhagem audível. Oscar: Isso faz sentido em qualquer catálogo retrospetivo de arte/música. Tu podes olhar o passado mudar para algo completamente diferente que as suas origens, e seres capaz de deslindar as suas raízes. Para a banda é orgânico e natural desenvolver-se. Acredito que crescemos muito e continuaremos a crescer. Vocês tocam a vossa música com um verdadeiro feeling Heavy Metal, o que é espantoso. O que é que vocês pensam sobre a atual cena Metal? Oscar: É difícil de responder, porque há muitas cenas Metal diferentes por aí fora. Ultimamente a minha interpretação do Metal/Rock é tocar o que acho ser acertado. Estou feliz por ouvir que o verdadeiro feeling anda aí. Apanhei o bichinho do Heavy Metal muito cedo… arruinou a minha vida e fez-me quem eu sou. Ryan: É a mesma como qualquer outra cena, ou, em muitos sentidos, uma função social. Macaco vê, macaco faz. É como 1 pessoa em 1000 ter uma ideia original, e as restantes tentam de uma maneira ou de outra simular essa ideia. É como jogar ao “telefone”. Assim que uma palavra/ideia dá uma ou duas voltas à sala, acaba por chegar ao fim distorcida. É uma questão de tempo até a cena ficar saturada. Novas ideias são cobiçadas! A saturação

acontece em todas as cenas. Nós apenas tentamos mante-la real fazendo a nossa própria música. Reuben: Eu acredito que tocamos com um verdadeiro feeling, dentro de um movimento Heavy Metal. Olhei várias vezes para a capa do vosso álbum, e pensei acerca do significado da imagem. Podem dizer-nos um pouco sobre o seu sentido? É muito intrigante. Christine: A arte engloba a totalidade das ideias líricas e direções do novo álbum. Pintado por Benjamin Vierling, ela representa diretamente as letras em «Possession». A mão apresenta linhas do destino que se estendem a relâmpagos: da música “Conviction” – “In this hand do lines divine all we don’t see, and extend to the mind to divide you from me”; da música “There is Nowhere” – “Lightning strikes from my hands, illuminating the unseen glories”. A ideia por detrás da pintura é sobre a posse da fé e como ela molda os dias das pessoas. As flores negras à volta da base da pintura fazem referência à linha no tema “Hauted Hunted” – “In his garden at night where are black flowers bloom under the light of the flames reaching higher, will he find somwhere to hide, a focused mind to get lost in a time, where ancients reveries rise.” Como foram as circunstâncias da composição do álbum? Todos contribuíram com ideias, foi espontâneo ou planeado… como foi? Oscar: É um processo infindável de mudanças. Eu escrevi a maioria deste trabalho, o Reuben ajudou nos arranjos e também com algumas ideias “catchy” e a Christine compôs todas as partes da sua voz. Já o Ryan, o tema “The Way Beyond” foi o bebe dele. Muito material é composto previamente, e também algum material saiu de jamms. Há imensas passagens na música “Black To Gold” que trabalhamos em grupo. Ter outros músicos com ideias é o que


“Iniciámos a banda para nossa própria catarse, e é fantástico como as pessoas conseguem relacionar-se com o que fazemos.” há de divertido em estar numa banda. Nós tocamos muito bem juntos, e por isso por vezes deixamo-nos ir com o feeling. Apenas pelas músicas me interesso em criar bons alicerces. Tenho muitos desígnios quando componho.

que fazemos. Estamos espantados com todas as oportunidades que se abriram para nós ao estar nesta banda – Roadburn, por exemplo. Até agora o feedback tem sido muito bom, e estou ansioso para ver o que o futuro nos reserva.

Ryan: Oscar apareceu com muitas ideias iniciais. Depois, cada um de nós contribuiu em alguns momentos. Algumas são mesmo ideias antigas que estavam guardadas no cofre. Por exemplo, o riff principal da música “Black To Gold” é uma das primeiras coisas que eu e o Oscar tocámos juntos para esta banda.

Acredito que vocês são uma banda para estar no palco a fazer concertos, estou certo? Oscar: Temos tocado desde que completámos o nosso alinhamento. Para mim sabe a pouco, mas felizmente haverão digressões a sério futuramente.

Vocês têm um contracto com a Relapse Records. Vocês pensam que esse passo foi uma boa medida para espalhar ainda mais a vossa música a ouvidos que ainda não a ouviram? Oscar: A Relapse Records tem muita pujança e tenho a certeza que eles vão fazer bem à nossa banda. Ryan: Até agora parece que isso aconteceu. Estamos a ter muito mais atenção do que alguma vez tivemos. E o nosso álbum ainda nem sequer foi lançado (NR: a entrevista foi feita antes do lançamento do álbum). Vocês têm algumas espectativas? Tenho a certeza que o feedback será bastante positivo. Oscar: Nenhumas espectativas. Estou surpreendido por ter chegado até aqui. Iniciámos a banda para nossa própria catarse, e é fantástico como as pessoas conseguem relacionar-se com o

Para terminar: porque escolheram um nome como Christian Mistress? Há algum sentido particular no nome, ou algo de especial? Ryan: Quisemos um nome que soasse e que tivesse algum significado, mas na verdade foi muito ambíguo. A palavra “mistress” pode significar dez coisas diferentes dependendo do contexto. Qualquer coisa desde uma fêmea que é dona de uma terra, até uma fêmea patroa de uma casa. Uma mulher que tem poder, autoridade e liderança sobre algo. Também poderá ter, claro, conotações sexuais. É engraçado, na minha experiência os cristãos normalmente pensam que somos uma banda cristã, e pensam os Heshers como “FUCK YEAH! CHRISTIAN SLUT WOAH METAL DUDE”. Tira as tuas próprias conclusões. Entrevista: Victor Hugo



Já com o ano de 2011 a uma distância de segurança, e depois dum razoável período a reflectir sobre as largas dezenas de lançamentos discográficos que nos passaram pelos ouvidos, revelamos finalmente as selecções dos melhores álbuns do ano, a nível internacional e nacional.

André Monteiro 1- ADEPT - «Death Dealers» 2- MY CUBIC EMOTION - «It’s a World Receiver» 3- LIKE MOTHS TO FLAMES - «When We Don’t Exist» 4- CONFESSION - «The Long Way Home» 5- ARCHITECTS - «The Here and Now» Carlos Filipe 1- ARCH / MATHEOS - «Sympathetic Resonance» 2- SEPTICFLESH - «The Great Mass» 3- PAIN OF SALVATION - «Road Salt Two» 4- PRIMORDIAL - «Redemption at the Puritan’s Hand» 5- WOLVERINE - «Communication_Lost» Cristina Sá 1- NARGAROTH – «Spectral Visions of Mental Warfare» 2- LIFELOVER – «Sjukdom» 3- INFESTUS – «Ex I ist» 4- SEPTICFLESH – «The Great Mass» 5- THY CATAFALQUE - «Rengeteg» Eduardo Ramalhadeiro 1- WOLVERINE - «Communications Lost» 2- ICED EARTH - «Dystopia» 3- IN FLAMES - «Sounds of a Playground Fading» 4- AMON AMARTH - «Surtur Rising» 5- PAIN OF SALVATION - «Road Salt Two» Ernesto Martins 1- SILENT STREAM OF GODLESS ELEGY – «Návaz» 2- OPETH - «Heritage» 3- ARCH / MATHEOS - «Sympathetic Resonance» 4- A FOREST OF STARS - «Opportunistic Thieves of Spring» 5- PAIN OF SALVATION - «Road Salt Two» Jorge Ribeiro de Castro 1- PRIMORDIAL – «Redemption at the Puritan’s Hand» 2- DRACONIAN – «A Rose for the Apocalypse» 3- SEPTICFLESH – «The Great Mass» 4- SILENT STREAM OF GODLESS ELEGY – «Návaz» 5- BOOK OF BLACK EARTH – «The Cold Testament»


Sérgio Pires 1- DEVIN TOWNSEND PROJECT - «Deconstruction» 2- AMON AMARTH - «Surtur Rising» 3- OPETH - «Heritage» 4- XERATH - «II» 5- TEXTURES - «Dualism» Sérgio Teixeira 1- AMON AMARTH - «Surtur Rising» 2- ARCH ENEMY - «Khaos Legions» 3- MEGADETH – «TH1RT3EN» 4- OPETH - «Heritage» 5- OMNIUM GATHERUM - «New World Shadows» Victor Hugo 1- INFESTUS – «Ex | Ist» 2- ESOTERIC – “Paragon of Dissonance» 3- LANTLÔS – «Agape» 4- IN FLAMES - «Sounds of a Playground Fading» 5- ALTAR OF PLAGUES – «Mammal» André Monteiro 1- BEAUTIFUL VENOM - «Endless Endeavor» 2- FOR OPHELIA’S DEATH - «For Ophelia’s Death» - EP Carlos Filipe 1- AVA INFERI – «Onyx» 2- THANATOSCHIZO – «Origami» Cristina Sá 1- CORPUS CHRISTII – «Luciferian Frequencies» 2- HEAVENWOOD – «Abyss Masterpiece» Ernesto Martins 1- THANATOSCHIZO – «Origami» 2- HEAVENWOOD – «Abyss Masterpiece» Jorge Ribeiro de Castro 1- HEAVENWOOD – «Abyss Masterpiece» 2- CORPUS CHRISTII – «Luciferian Frequencies» Sérgio Pires 1- THANATOSCHIZO – «Origami» 2- ECHIDNA - «Dawn of the Sociopath» Sérgio Teixeira 1- HEAVENWOOD – «Abyss Masterpiece» 2- ECHIDNA - «Dawn of the Sociopath» Victor Hugo 1- CORPUS CHRISTII – «Luciferian Frequencies» 2- GROG – «Scooping the Cranial Insides»


Em defesa da velha guarda Marcados por um percurso de várias alterações no alinhamento, passando por interrupções na carreira musical, os Asphyx parecem agora estar mais sólidos do que nunca. Após a reunião de 2007, continuam incansavelmente a evangelizar a herança conquistada pelo Doom/Death-Metal do final dos anos 80. Uma banda que rejeita por completo o adjectivo ‘talento’, em favor da pureza do estilo mais cru, mas que na realidade são objectivamente uma das bandas que melhor sabem colocar em disco o espírito original do Doom/Death-Metal. O baterista Bob Bagchus respondeu a algumas questões para a VERSUS Magazine. Alguns dos factores mais intrigantes com que os Asphyx tiveram de lidar foram as constantes mutações e caminho irregular tanto em termos de alinhamento como as separações e reuniões dos vários elementos da banda. Seria de presumir que tais processos levassem qualquer banda a ficar musicalmente fragmentada e consequentemente

com perda de identidade. Porém não foi isso que aconteceu com vocês. Em função destes factos como explicas a sobrevivência da banda após mais de vinte anos de percalços ao longo da vossa história? Bob: Sim, os Asphyx tiveram a sua dose de mudanças de alinhamento, etc, etc. Eu poderia escrever um livro inteiro sobre isso


se quisesse. Porém apesar de todas essas coisas continuamos fiéis às nossas raízes e a nós memos. O que é facto é que formei os Asphyx em 1987 e tive uma clara visão de como a banda deveria soar tanto nessa altura com no futuro. E essa visão era clara: pura e simplesmente doom/death brutal. É por isso que provavelmente sobrevivemos a todas as novas tendências musicais desde o início, pois os Asphyx foram sempre os Asphyx. Nós nunca quisemos saber de outros estilos ou tendências que foram surgindo. Depois do percurso percorrido até agora, podes dizer-nos quais os piores momentos que a banda teve de ultrapassar e como é que lidaram com isso para continuar a trilhar novos caminhos? E qual a melhor altura da banda? Os piores momentos foram com certeza quando houve alterações no alinhamento. Mas estas também tiveram de acontecer, caso contrário os Asphyx não teriam continuado na mesma linha sonora. Quando alguém quer alterar o estilo musical, quebrando com isso as regras na banda, então terá de sair e seguir o seu próprio rumo. Simples. O tempo em que nos sentimos mais realizados foi durante a reunião de 2007 até agora, resultando em «Deathhammer». Este álbum é com certeza a coroa do nosso trabalho até

hoje. Muitas bandas vêm o seu som a evoluir ou mesmo a sofrer mutações ao longo do seu tempo de existência. Mas como vocês dizem muitas vezes o som da banda seguiu sempre a mesma direcção desde o início. Deveríamos entender essa opção como uma procura de solo firme em termos musicais ou simplesmente uma incondicional devoção às raízes do Death-Metal? Sim, e nunca irá mudar. Os Asphyx irão ser sempre uma banda de Doom/Death brutal até ao fim. É uma devoção às nossas raízes, aos nossos admiradores e acima de tudo e mais importante a nós próprios. Eu não me imagino a fazer outra coisa qualquer que não isto. É o que nós hoje somos e o que sempre fomos musicalmente. Vi numa outra entrevista onde falaram da particularidade da gravação do álbum «The Rack». Acredito que é a prova que o talento não é necessariamente dependente do dinheiro. Concordas? Poderias brevemente dedicar umas linhas a contar aos nossos leitores como foi a gravação desse álbum? Não! Tudo isto tem que ver apenas com o espírito e a alma que estão na música. Isso pode ser percebido facilmente ao ouvir as músicas. E isso é tudo aquilo que consid-


“…Os Asphyx irão ser sempre uma banda de Doom/Death brutal até ao fim.”

eramos ser música. Que se lixe o talento ou a técnica extremamente apurada. Quem é que quer saber disso? Nós é que não de certeza. A história do disco «The Rack» foi que o álbum foi gravado entre tijolos e cimento na nossa sala de ensaios enquanto o estúdio Harrow ainda estava a ser construído. Foi gravado apenas em 8 pistas e custou não mais do que 1000 euros. Quando fomos a Dortmund (Alemanha) ao escritório da Century Media, os nossos gestores ouviram a cassete DAT e pensaram que estávamos a gozar com eles. Eles disseram “ahah, boa piada rapazes, mas deixem-nos ouvir a versão para o álbum por favor…”. Então dissemos que essa era a versão final e eles quase começaram a chorar de frustração pois acharam que o som estava uma porcaria, haha! Mas como não tínhamos tempo para gravar o álbum novamente (tínhamos de ir para a estrada com os Entombed no espaço de 5 semanas) eles tiveram de editar o que tínhamos. No fim eles puderam voltar a sorrir porque o «The Rack» vendeu bastantes cópias. Vocês têm o novo álbum a sair e aposto que são muitas vezes solicitados para comentar sobre «Deathhammer»; de acordo com vocês este é o melhor álbum da banda. Porquê? Que factores podes enumerar que sustentam esta afirmação? Sim. O porquê de pensarmos que é o melhor álbum até agora? Porque é o melhor álbum dos Asphyx de sempre… pelo menos para nós, mas também alguns dos mais

respeitáveis fãs da banda nos dizem precisamente isso mesmo. Em «Deathhammer» tudo faz sentido, todas as peças encaixam. A escrita das músicas é a melhor de sempre e portanto as músicas são do mais pesado que alguma vez fizemos. Este álbum tem uma alma. Vocês continuam zelosamente a tocar com guitarras BC Rich – tanto quanto pude descortinar é o que sempre usaram – ou introduziram uma nova marca desta vez? Também usamos Gibson e Jackson, mas principalmente guitarras BC Rich. De alguma maneira adequam-se melhor ao nosso estilo de tocar. Entre os vossos dois últimos originais – «Deathhammer» este ano e «Death… the Brutal Way» em 2008 – houve entretanto o lançamento dum DVD ao vivo. Quando estavam a preparar o DVD já estavam convencidos que a reunião de 2007 era suficientemente sólida para avançaram para novo material sem olhar para trás? Trata-se de Live Death Doom e é um álbum 100% ao vivo, SEM quaisquer overdubs. Está tudo lá, a atmosfera, o suor, os erros ao tocar, tudo o que confere a um espectáculo o carácter humano. Nós acreditávamos que tínhamos em nós o que era preciso para conseguir novos álbuns de qualidade com a alma dos Asphyx e mais pesados do que nunca. Acho que conseguimos isso mesmo. Achas que a presente formação vai esta aí


para mais um par de álbuns? Nós fizemos dois split EP’s e «Deathhammer». Acho que facilmente conseguimos fazer mais 2 álbuns certamente. Se tivesses de escolher duas ou três bandas que consideras os melhores representantes do Death-Matal da velha guarda de hoje, quais é que escolherias? Autopsy, Master e Possessed. Como é que avalias o papel da Indústria na vida das bandas actualmente? Isto é, devido principalmente ao surgir de novas tecnologias, notaste algumas diferenças relevantes (progressos, ou mesmo retrocessos) no modo como as bandas e as editoras se relacionavam há vinte anos e como se relacionam hoje? Não, nem por isso para ser honesto. Ainda tens que fazer álbuns sólidos e com qualidade. Essas coisas nunca mudam. Apenas a comunicação é melhor e mais fácil actualmente devido ao e-mail / skype etc. As capas podem ser carregadas num segundo e a banda pode responder em cinco minutos em vez de estar a telefonar ou deslocar-se até à editora etc etc. Portanto essas tecnologias tornam tudo muito mais fácil no que diz respeito à comunicação e á tomada de decisões rápidas. Regressando à vossa vida pessoal vs. carreira musical, as interrupções prolongadas significam que os membros dos Asphyx não estiveram sempre a viver da música supon-

ho. Isso levaria a que provavelmente tivessem/tenham outras actividades. Achas que na Holanda existe uma flexibilidade social e empregadores de mente aberta, que fazem com que o vosso país esteja especialmente equipado para encorajar músicos em geral a procurar o sucesso? Nem sempre vivemos apenas da música. Fizemo-lo em 1991/1992, mas apenas nessa altura. Eu, o Paul e o Alwin todos temos empregos regulares. Os empregadores apenas querem que tu estejas no teu trabalho e é completamente compreensível pois, acima de tudo, são eles que nos pagam. Mas o meu empregador tem de facto uma grande abertura e compreensão no que diz respeito â minha vida musical. Se eles me podem ajudar com alguma coisa eles ajudam e isso é muito porreiro. Para finalizar, achas que o Death-Metal da velha guarda vai continuar por aí durante muitos anos, ou prevês uma diluição inevitável nos vários sub-géneros existentes ou ainda por surgir do Death-Metal? Eu espero que sim, mas no mundo da música nunca sabes. Existirão sempre tendências… mas no que diz respeito aos Asphyx, nós seremos os mesmos de sempre. Asphyx surgiu como uma banda doom/death metal e do mesmo modo também terminará como uma banda doom/deaht metal… Entrevista: Sérgio Teixeira


A ideologia do ódio De França, vem-nos os Haemoth, uma banda composta por dois elementos, cujo tema de culto é o ódio, ideia muito evidente no título do seu último álbum «In Nomine Odium». Apesar da inevitável misantropia subjacente a este projeto musical, Syth, o baterista, aceitou responder a algumas perguntas, ajudando-nos a compreender melhor qual a essência da banda e a forma como esta se posiciona na cena metal europeia.


A música de Haemoth assemelha-se a Black Metal de contornos muito clássicos. Concordas? Syth – Haemoth reflete apenas a nossa perceção do Black Metal, nada mais. Parto do princípio de que se sentem mais influenciados por bandas nórdicas do que francesas (se é que reconhecem alguma influência). É assim mesmo? Ao ouvir o vosso «In Nomine Odium», recordei-me dos primeiros álbuns de Emperor, os meus favoritos. Descobrimos o Black Metal no início dos anos 90 através da cena escandinava. Portanto, é natural que a nossa música seja influenciada por essas bandas. Bandas como Mysticum, Thorns, Mayhem, Manes, Darkthrone, Emperor e até Dodheimsgard afetaram profundamente a nossa perceção da música e, por conseguinte, surgem para nós como fontes de inspiração nos nossos primórdios. Contudo, compomos de forma espontânea e não com o intuito de nos assemelharmos a qualquer outra banda. Na realidade, as nossas influências são muito nu-

O ritmo é rápido, mas, por vezes, a música surge como muito monótona. É impiedosa, obsessiva. Que tipo de ódio pretendem representar através de som desta natureza? As passagens mais lentas simbolizam um ódio visceral, aquele que faz com que tenhas vontade de fazer explodir uma bomba num local público, ou planear um assassínio a sangue frio, ou espancar o teu patrão numa rua escura depois de teres esperado “calmamente” que o teu miserável dia de trabalho chegasse ao fim. É uma tensão constante, que só precisa de um estímulo para explodir violentamente. A vossa ideologia musical tem alguma ligação a convicções políticas? Nenhuma. A política e a música são dois mundos completamente distintos. A nossa mensagem de ódio dirige-se a todo a mundo, não a uma pessoa ou grupo em particular. E, muito francamente, não me parece que combinar política e Black Metal produzisse algum resultado apreciável.

“As passagens mais lentas simbolizam um ódio visceral, aquele que faz com que tenhas vontade de fazer explodir uma bomba num local público […]” merosas e ultrapassam o Black Metal e até o campo musical. O vosso último álbum soa como um pesadelo musical. É o efeito que produz em mim o vosso som compacto (combinando as guitarras – predominantes – com a bateria não muito audível e os vocais desestabilizadores). É este efeito que pretendem atingir? Este álbum é muito diferente dos vossos trabalhos anteriores? Com «In Nomine Odium», pretendíamos compor a música mais odiosa que conseguíssemos criar. Queríamos que fizesse o ouvinte pensar apenas em elementos como dor e tortura, experimentar uma espécie de som vindo diretamente do Inferno. Desde a criação dos riffs até à masterização, o nosso objetivo foi sempre exprimir o ódio que sentimos, que é a essência da nossa música. O ódio está – e estará sempre – no centro da entidade musical que Haemoth constitui.

Como se sentem em relação à ideia corrente de que o fim do mundo pode estar iminente? O fim está à vista! A humanidade tem dificuldade em aceitar que é perecível, mas o ser humano não é mais útil, nem mais imortal do que um verme. O seu tempo está a chegar ao fim, tal como aconteceu com outras espécies ditas dominantes. O regresso ao nada inicial é inevitável. O vosso álbum tem uma excelente capa, que me faz lembrar o inferno de Dante, particularmente visto através das ilustrações de Gustave Doré. Quem é o autor? E que relação mantêm com o conceito subjacente ao álbum? Quem a criou foi o Haemoth [o outro membro da banda]. Usou múltiplas imagens/impressões/ símbolos que evocam ideias abordadas no nosso álbum. Inspirou-se na nossa música e nos sentimentos que esta expressa. Aliás, a imagem e a música estão sempre intimamente ligadas e constituem um todo.


Se tivessem de escolher parceiros para um concerto, onde iriam buscá-los. A França? Algures na Europa ou nos EUA? E quem escolheriam? Se quiséssemos fazer concertos – e não é esse o caso – temos em França os recursos necessários. Mas Haemoth é um duo, mais nada. A integração de um terceiro elemento iria comprometer a nossa identidade. Então não vamos poder vê-los ao vivo? Nunca tocaremos ao vivo, é uma opção de base da banda. A nossa música não é feita para ser partilhada num recinto público. Não é uma festa. É um sofrimento para enfrentar sozinho, de preferência num local escuro e solitário. Um verdadeiro salto para o Inferno! Podes deixar-nos uma mensagem que permita aos nossos leitores compreender qual é a verdadeira essência da banda? Já disse tudo o que havia para dizer. Entrevista: CSA

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Após sete anos de existência, Darkside of Innocence volta com um novo álbum, uma perda de membros, apenas tendo ficado o seu mentor, Pedro Remiz, mas também com uma nova vitalidade. Usando e abusando do classicismo, jazz e electrónica somos levados a uma viagem sonora e psicológica que de certeza não nos deixará indiferentes.

A filosofia da evolução


“ainda me mobiliza uma necessidade altruísta de dar algo extraordinário ao mundo” Saudações! Desde já, dou-te os parabéns por um excelente álbum. Tendo em conta as influências musicais, quais achas que serão pertinentes para descrever a sonoridade da banda? Achas que ser original é contraproducente pois nem todos poderão compreender o que foi criado? Pedro Remiz: Boas, Jorge. Desde já ficote bastante grato tanto como pelo interesse, como pelos elogios proferidos relativamente ao recentemente editado «Xenogenesis». Bem, em primazia falar de influências musicais é falar do mundo – daquilo que nos rodeia e daquilo que podemos apreender do cosmos. Qualquer coisa pode fazer com que queiras produzir um álbum; uma visão do paraíso, uma memória trágica, um sentimento que nos prende a um determinado objecto ou ainda uma ideologia. É a expressão destes pequenos grandes detalhes, dentro dos mais variados contextos artísticos, que depois irá moldar a sonoridade/imagética relativa ao projecto. Já relativamente à segunda questão, não penso que seja contraproducente, porque em primeiro lugar o artista é quem se tenta deleitar em primeiro lugar, depois então e não obstante, por norma procura satisfazer-se com o feedback social – que não pretendo de todo menosprezar. Acho no entanto e realmente que quando há algo muito diferente do que se espera conhecer – seja na música ou em qualquer outra área da vida -, a reacção vai ser no mínimo de estranheza e em primeira instância, penso que será mais complicado que aquilo se entranhe de uma forma mais efectiva, levandonos muitos vezes a rejeitar ao primeiro contacto, uma possível nova abordagem artística. Cada ser é capaz de vir com uma determinada filosofia embora nem sempre seja a mais positiva. Em que consiste a que pretendes transmitir? Achas que o público será capaz de compreender a temática, vir com as suas próprias ilações e olhar para o universo de uma forma menos… comodista? A filosofia que abordo permanece de certa forma, em incógnita até para mim mesmo.

É a filosofia da evolução, da constante mudança e da adaptação crua e dura ao que nos rodeia, sem olhar para o ontem ou para o amanhã com remorso. É a filosofia de Sophia - a magnitude que esta imprime em mim. Por acréscimo e sinceramente, ainda me mobiliza uma necessidade altruísta de dar algo extraordinário ao mundo, relembrando aqueles que igualmente trouxeram a mim, o que posso conhecer de melhor hoje. Pondero a possibilidade do público entender a temática de uma maneira muito intra-subjectiva e parcial, sendo que de certa forma, é só através das suas projecções que o sujeito tem a oportunidade de entender o que pretendo transmitir. Talvez seria melhor precisarmos ao que seria referente o ser-se comodista perante o universo, antes de escrutinarmos o tema. Isto porque não acredito em comodismos totalitários e generalistas. Tal como tudo, a pergunta deve ter a sua especificidade ainda por cima quando falamos de um termo que tem tanta extensão como o universo. Acho que cada pessoa tem necessidade de obter prazer e evadir-se da dor e, graças à subjectividade que é inerente a cada um e à nossa inevitável susceptibilidade aos mais variados estímulos, fomentamos os mais variados desejos, que podem ou não, ter consequências grandiosas ou desastrosas na nossa presciência colectiva. Talvez e a título de exemplo, um jogador de futebol que ganhe milhões, feche os olhos à crise e à miséria instaurada, mas não é isso que faz com que este seja menos ambicioso noutros contextos talvez mais egocêntricos. Consegues encontrar um fio condutor aquando da composição ou deixas-te levar pelo que te inspira no momento? Deixo-me levar pelo que me inspira no momento, por vezes. Noutros teço laços relacionais e estruturas que ligam as músicas de forma perfeita e permitem a elaboração de obras de cariz bem mais conceptual. E curiosamente é engraçado que fales nisso, já que ainda recentemente estive a conceber mentalmente um novo registo com alguns


“falar de influências musicais é falar do mundo – daquilo que nos rodeia e daquilo que podemos apreender do cosmos”


temas interligados de certa forma, que vem dar azo a esta nova era de renascimento pelo qual os Darkside of Innocence estão a passar. Foi-te fácil compor para este álbum, aquela necessidade que todos os artistas têm, mesmo com a perda de membros? Há algumas músicas que te transmitem mais do que outras? Como quase toda a música que temos feito, «Xenogenesis» teve os seus contornos mais delicados que levaram alguma frustração e fragilidade a quem foi interveniente na sua composição. É um álbum que marca uma época de transição, de uma banda que se formou há sete anos atrás, quando éramos crianças inocentes com meros sonhos e fantasias sem qualquer rumo ou saber, para um projecto que tem agora no seu cerne alicerçada uma noção bem mais consciente e assente do que se deve projectar no meio em que nos encontramos. Na verdade, é engraçado porque, no álbum há exactamente duas fases; uma que representa o culminar dessa experiência enquanto banda – as últimas três músicas excluindo a outro -, e uma fase que reflecte bem esse renascimento – as três primeiras faixas excluindo a intro. No geral o álbum apraz-me sem temas predilectos, fazendo fluir cada um destes com as suas especificidades. Quando crio álbuns todos os temas têm que estar ao mesmo nível na minha consideração. Gostei imenso da capa. Como surgiu a ideia para a idealização da mesma? Obrigado. Especificamente é uma imagem que trata da cada vez maior influência que Sophia tem sobre nós - seres vivos capazes de sentir compassividade. Aquela sombra a projectar uma serpente – que demonstra sapiência - para dentro da boca do personagem em foco, representa a forma como cada vez mais somos sujeitos a atingir o modelo de singularidade, à medida que vamos conhecendo o universo e abrangendo os nossos padrões éticos a todos os tipos de vida sensível à dor e ao prazer. É engraçado como parece de todo uma entidade maligna com motivações macabras, mas acho que a minha intenção foi mesmo a de representar uma espécie de vírus que se quer alastrar violentamente e vive à sombra da própria vida, ainda que a sua necessidade

de existência, possa ser considerada como algo benévolo. Foi um processo de lenta incrementação com variações tremendas. As ideias nunca surgem acabadas – pelo menos comigo – e neste caso não foi excepção. É a moldura de um espaço temporal, em que vários fenómenos ocorrem e me inspiram consecutivamente para criar arte. O que consideras ser melhor para promover um agrupamento? Uma editora que edita álbuns da forma mais convencional ou a Internet, que possibilita o download pago e ajuda mais a banda, mesmo que seja mais difícil arranjar concertos? Acho que a conciliação das duas possibilidades, é o caminho para um sucesso de vendas. Pretendes adquirir mais membros de modo a poderes promover a banda, tanto a nível nacional como internacional? Em suma, há já planos para alguns concertos este ano? Sim. É um dos sectores em que me encontro a trabalhar actualmente, não só para possibilitar as desejadas actuações em eventos ao vivo, como para poder compor um novo registo. Posso adiantar, que me encontro a trabalhar com dois músicos, que em principio constituirão parte do núcleo que a longo prazo deverá antes de tudo, ser sólido. Relativamente aos concertos, não me concerne propriamente apressar as coisas. Como referi numa das questões prévias, existiu um renascer no seio dos Darkside of Innocence, sendo que, nesta fase tão prematura é totalmente impensável levar o projecto para a estrada infelizmente. Agradeço-te imenso pelas respostas. Deixa um comentário final. Aproveito para te parabenizar pelas questões realizadas e pelo trabalho que tens vindo a efectuar. Confesso ainda que comentei há uns dias com o Joel – da Infektion Records – como as perguntas estavam muito bem elaboradas e deu-me gozo poder responder a estas. Entrevista: Jorge Ribeiro de Castro


A geometria da perfeição e a decadência da Humanidade


O nome chama logo a atenção pelas suas conotações geométricas. Quando descobrimos o facto de que esta figura surge associada à ideia de perfeição, logo suspeitamos que estamos perante uma banda com um projeto artístico ambicioso. M. Eikenaar e M. Nienhuis, respetivamente o vocalista e o guitarrista/compositor dos Dodecahedron, proporcionaram-nos uma interessante conversa em torno destas questões..

Por que razão escolheram para a banda um nome tão “geométrico”? Há algum simbolismo ligado a ele? Sempre associei um valor mágico a essa palavra, desde que a ouvi pela primeira vez na escola. E a investigação que fiz sobre ela revelou-me que os dodecaedros são mesmo misteriosos. M. Eikenaar: Escolhemos este nome por causa da complexidade do seu significado e do mistério a ele associado. Segundo Platão, há quatro elementos: ar, água, fogo e terra. A cada um destes elementos corresponde uma figura geométrica. Mas ele também fez referência a um quinto elemento: o universo que contém tudo, cuja figura geométrica é o dodecaedro. Logo, este é uma forma perfeita, que contém todos os outros elementos. A complexidade desta figura geométrica e o seu significado adaptam-se perfeitamente à nossa música. Esta também apresenta muitas camadas, contrastes e atmosferas. Precisas de

a ouvir várias vezes para compreender exatamente o que se está a passar. O que vos levou a formar esta banda? O que aconteceu à anterior? M. Eikenaar: Nada. Apenas mudámos o nome da banda. M. Nienhuis é o responsável pela composição deste álbum e andou à procura de um grupo de músicos que lhe parecessem os mais adequados para dar corpo às suas ideias musicais. Trata-se de mergulhar num abismo e deixar que o vazio se apodere de ti. Não há limites para a nossa abordagem musical e artística. M. Nienhuis: Na sua primeira versão, a banda chamava-se Order Of The Source Below. Com esse nome, editámos duas demos divulgadas online. A dada altura, sentimos que esse nome já não era adequado e mudámo-lo para Dodecahedron. Esta forma geométrica é um


dos elementos de base do mundo à nossa volta, tal como as espirais e os fractais. Constitui uma imensa fonte de inspiração. Por outro lado, a partir do momento em que adotámos este nome, o projeto da banda tornou-se muito mais claro para todos nós. Ouvir o vosso álbum constitui efetivamente uma experiência musical extraordinária. Como designam o tipo de música que fazem? Como a descrevem? M. Eikenaar: Ao longo da nossa curta existência como banda, estivemos associados a diversos géneros de música extrema. O género que mais se aproxima da música que fazemos é o Black Metal (BM). Mas o nosso BM está longe do género musical a que normalmente se dá este nome. A nossa música corresponde muito simplesmente à nossa maneira de tocar BM. Centra-se essencialmente na agressividade, cria uma atmosfera tenebrosa. Engloba muitos contrastes e tem muita profundidade, sem ser demasiado técnico. Pretendemos construir composições coerentes, mas levámo-las até aos

bizarra que o carateriza. Por outro lado, considero Attila Csiha como uma grande influência para mim. M. Nienhuis: Os Mayhem têm sido uma banda de importância capital para a evolução do BM. São os fundadores do que fazemos atualmente e, mais do que isso, foram capazes de reformular o seu projeto musical mais do que uma vez. Por exemplo, «Grand Declaration of War» é um álbum extremamente progressivo, cuja receção se revelou muito difícil para os fãs da época em que saiu. Algumas das opções musicais que assumiram nesse álbum revelam não só que se trata de uma banda muito criativa, que não se repete, mas também que se estão nas tintas para tudo e todos e que fazem tudo à sua maneira. Com «Ordo Ad Chao», foram

seus limites. M. Nienhuis: De qualquer modo, não é importante para nós sabermos que nome havemos de dar à nossa música. Normalmente, uns consideram-na como uma forma moderna de BM, outros veem-na como pós-BM ou BM avantgarde. Mas isso não tem qualquer importância para nós. Posso acrescentar que, na nossa abordagem do BM, tentámos usar métodos contemporâneos para atingir os nossos objetivos. Pareceu-me que se podia enriquecer este género de música extrema criando uma atmosfera deprimente e recorrendo a uma composição de índole contemporânea. Era o que eu tinha em mente, quando estava a escrever este álbum, e penso que funcionou muito bem. Como reagem ao facto de a vossa editora ter associado o vosso álbum ao «Ordo ad Chao» dos Mayhem? Que influências musicais pensam que têm? M. Eikenaar: Estamos muito orgulhosos dessa associação. Esse álbum foi realmente uma inspiração para nós, por causa da atmosfera

capazes de captar uma atmosfera brilhante e produziram música maravilhosa, que eu adoraria ter escrito. Portanto, só posso sentir-me honrado pela comparação. Qual é o tema central do vosso álbum? Os títulos das faixas contêm referências muito interessantes: por exemplo, à escada de Jacob (uma fascinante história da bíblia que me faz sempre pensar na “Stairway to Heaven”, dos Led Zeppelin), ao Chronocrator [N.T.: sistema de medição do tempo utilizado na Antiguidade clássica] e a um lugar chamado Hverfell [N.T.: cratera de um vulcão situado na Islândia]. Informei-me sobre essas referências e, aparentemente, não há ligação entre elas. Mas estou certa de que a banda tem outra opinião


sobre o assunto. M. Eikenaar: As faixas a que chamámos “The View From Hverfell” estão obviamente relacionadas entre si. As letras do álbum referem-se à luta pela existência, um dos grandes dilemas da Humanidade. O Homem tem-se mostrado capaz de criar, simultaneamente, maravilhas e atrocidades, o que é fascinante. Basta pensar na arte renascentista e em Auschwitz. O Homem levanta-se e cai constantemente. Logo, as nossas letras tratam do fracasso da Humanidade e nelas combinamos metáforas associadas à religião e ao ocultismo. Não pretendo entrar em pormenores, porque tanto a música como as letras são muito cinemáticas. Neste álbum, evocamos cenários multidimensionais e muito tenebrosos, recorrendo à linguagem musical e poética.

simbolizada pelo dodecaedro, mas, ao mesmo tempo, apresentam-na corrompida. O layout gráfico e o design são da autoria do nosso baterista, J. Barendregt. Dodecahedron é um projeto que congrega todas as nossas potencialidades artísticas. Nós fizemos tudo: a composição, a gravação, a masterização, a arte gráfica, o layout, as letras. É importante para a banda que assim seja. Assim, temos a certeza de que tudo sai exatamente como queremos.

Como veem o futuro da vossa banda? O vosso álbum homónimo está a ser bem acolhido? M. Eikenaar: Até ao momento, não temos razões de queixa. Temos recebido aplausos e críticas fantásticas. Sabíamos que o nosso trabalho era bom, mas mesmo assim não estávamos à espera de uma tal receção. Nem nos passava pela caFazem batota na capa do álbum. Nela aparecem beça chegarmos tão depressa a uma editora como um pentágono invertido e uma espécie de a Season of Mist (SoM). A sua equipa faz um hexágono semidestruído. Mesmo que somemos trabalho maravilhoso em prol da banda e, com o os seus lados, não dá doze. Então, onde está seu apoio, temos obtido a atenção que merecíao dodecaedro? Curiosamente, ao fazer a minha mos. pesquisa, fiquei a saber que o dodecaedro é M. Nienhuis: Trabalhámos intensamente para landescrito como uma figura geométrica formada por çar este álbum. Desde que comecei a escrever pentágonos. as primeiras notas, há 5 anos atrás, o meu M. Eikenaar: Fui eu próprio que fiz a capa do objetivo foi sempre produzir um álbum completo, nosso álbum. Representa efetivamente um dodefazer um álbum que me satisfizesse em absoluto caedro, mas semidestruído. A figura que produzi e conseguir lançá-lo. Em 2009, a formação atual contrasta profundamente com o dodecaedro: as da banda estava definida e, desde então, temos suas linhas trabalhado “Ao invés do dodecaedro, que evoca a “arranhadas”, juntos na negras, perfeição, o Homem é profundamente elaboração a pingar imperfeito. É essa ideia que a capa do deste produentram em to artístico. nosso álbum representa.” contradição Agora que com a natureza geometricamente perfeita dessa foi lançado, vamos dar início a um novo capítulo. figura. É este o sentido que tentamos dar à nos- Portanto, temos de discutir em conjunto como será sa música: evoca, ao mesmo tempo, a claridade o futuro de Dodecahedron. e uma atmosfera tenebrosa, decadente. M. Nienhuis: De facto, o dodecaedro é uma E quais são os vossos planos para promover espécie de globo com 12 lados, cada um dos este álbum? Como vai a SoM apoiar-vos? quais corresponde a um pentágono bidimensional. M. Nienhuis: Primeiro, precisamos de avaliar o Tal como outras representações geométricas das impacto do álbum a longo prazo. Para já, a proporções (como, por exemplo, as espirais) são promoção feita pela SoM está a obter excelentes elementos básicos do nosso universo e muito inresultados. Tivemos críticas maravilhosas e choverspiradores para a banda. Ao invés do dodecaedro, am os pedidos de entrevistas. A equipa da SoM que evoca a perfeição, o Homem é profundamente não se poupa a esforços e revela uma profunda imperfeito. É essa ideia que a capa do nosso paixão pela música extrema, tal como nós. Tamálbum representa. bém fazem parte da “Underground Activists”. TeComo ele próprio revelou, foi o nosso vocalista, mos tido uma excelente parceria até ao momento que é também um artista gráfico, que fez a capa e esperamos continuar assim. do álbum, assim como todas as ilustrações incluídas no livro que o acompanha. Foi a nossa música que inspirou estes desenhos tenebrosos Entrevista: CSA e abstratos. Adaptam-se perfeitamente à atmosfera do álbum, porque se baseiam na perfeição


BEAUTIFUL VENOM «Endless Endeavor» (Audioplay Records) Os Beautiful Venom são uma banda de Vagos a caminho dos seis anos de existência, que apareceram em 2011 com o álbum de estreia intitulado «Endless Endeavor», o qual, como os próprios afirmam, surge de um “enorme esforço e empenho dedicado” por uma causa. Para primeira amostra estão de parabéns pelas músicas que apresentam mas, na minha opinião, a banda ganha mais “veneno” e mais qualidade quando a voz/músicas são mais pesadas. [7.5/10] Sérgio Pires

DEAD TO THIS WORLD «Sacrifice» (Soulseller Records) Estamos perante uma banda constituída por Srs do Black Metal. O álbum de estreia foi surpreendente e o coletivo contra ataca quatro anos depois para mostrar que estão vivos. Esta amostra do que futuramente a banda poderá fazer é aceitável, e recomendo a apreciadores de Black Metal maduro. Mas, esperava mais deste grupo porque é certo que estes músicos têm mais poder do que é demonstrado. Ora vão lá ver os créditos destes tipos e depois digam qualquer coisa. [6/10] Victor Hugo

DEUS MORTEM «Darknessence» (Witching Hour Productions) Um tal de Necrosodom, músico bastante ativo no panorama Black Metal polaco, juntamente com um tal de Inferno, igualmente ativo nos Behemoth e outras bandas, decidiram gravar um tema de originais e, para que a coisa não ficasse curta de mais, uma cover dos Sigh – o tema “The knell”. Decididamente “Receiving the impurity of Jeh” é um bom momento de Black Metal a recordar a glória dos Marduk e a tal cover acaba por se estender a esse momento e nem damos por isso. No meio de bons solos de guitarra e blastbeats à lá Inferno, anseio pelo longa duração. [7/10] Victor Hugo DOOMDOGS «Unleash The Truth» (Doomentia Records) Segundo álbum destes Suecos que praticam um estilo doom/stoner (O nome da banda diz tudo...) com temas que ficam imediatamente no ouvido. «Unleash The Truth» percorre o caminho entre o stone e o doom com exemplos bem patentes: desde “Eye for na eye” – o tema que abre o álbum (e o meu favorito) com riffs que dão vontade de rebentar as colunas até ao mais puro doom com “Welcome to the future”. No entanto, o que destaco mais no álbum é a produção no que diz respeito ao som do baixo: potente e distorcido, não ficando escondido atrás da guitarra. Um bom disco para apreciadores deste estilo. [7.5/10] Eduardo Ramalhadeiro


NEIL MORSE «Testimony 2 – Live in LA» (InsideOut Music) Mais uma vez Neil Morse (NM) surpreende. Esta edição ao vivo de Testimony 2 é constituída por 2DVDs e 3CDs. No que aos 3 CDs diz respeito, NM reúne os músicos originais de Testimony 1(T1) mais Mike Portnoy na bateria. A primeira parte do concerto (os dois primeiros CDs) é constituída por vários épicos de álbuns anteriores, incluindo, “Lifeline”, “Sola Scriptura” ou “Seeds of gold” (~27minutos), mais um medley de temas de Testimony 1. Só este set list seria o suficiente para compensar o preço do bilhete (ou desta edição) mas não… Neal Morse ainda nos oferece o álbum Testimony 2 na íntegra. Sem mais palavras: 2 edições absolutamente obrigatórias. [10/10] Eduardo Ramalhadeiro SEAGULLS INSANE AND SWANS DECEASED MINING OUT THE VOID s/t (Witching Hour Productions) Este é o resultado duma espécie de trip astral que levou o dueto polaco Havoc (Blindead, ex-Behemoth) e Nihil (Furia, Massemord) muito para lá da orbita terrestre, a anos-luz de todos os parâmetros definidores do metal extremo. Um bizarro cocktail de mantras post-black metal com devaneios industriais, divagações electrónicas e efeitos psicadélicos que nos transportam para uma mundo distante de paisagens desoladas e ambientes hostis. Mais do que um daqueles caprichos irrelevantes que por vezes brotam em estúdio de egos insuflados, este é um trabalho invulgar e bem conseguido que merece toda a atenção. [8/10] Ernesto Martins STEVE HACKETT «Beyond The Shrouded Horizon» (InsideOut Music) Tal como Neil Morse, também Steve Hackett (SH) dispensa qualquer tipo de apresentação – foi guitarrista (excelente) de umas das melhores bandas de Rock Progressivo nos anos 70 – Genesis. Após 1977 lançou-se numa carreira a solo onde se destacam «A Midsummer Night’s Dream», gravado com a Royal Philharmonic Orchestra e «Tribute», um hino ao virtuosismo, interpretando algum do reportório de Bach. É um prazer ouvir «Beyond The Shrouded Horizon»: convidados ilustres, técnica, virtuosismo, harmonias vocais a fazer lembrar Pink Floyd misturadas com soberbas orquestrações – muito ao estilo Deep Purple – no fundo, do melhor que SH e o rock progressivo nos têm para oferecer. [9.5/10] Eduardo Ramalhadeiro

SUPREME LORD «Father Kaos» (Witching Hour Productions) Desde 1995 que os Supreme Lord gravavam demos, até 2004, ano em que lançaram o seu primeiro longa duração «X99.9» «Father Kaos» é só o segundo álbum de originais destes Polacos que tocam um Death Metal ultra brutal. Os temas são muito directos e incisivos, boa técnica e muita rapidez. No entanto, e como opinião pessoal, não me agrada a produção da bateria (muito comprimida) e o abuso dos “gritos” de guitarra nos solos – tão típicos nos Slayer. Um álbum para quem gosta, por exemplo, de Incantation. [7/10] Eduardo Ramalhadeiro


Vive lรก guitare!


Possivelmente, Stephan Forté é uma figura do Metal desconhecida para muitos. Aquilo que vão passar a saber é que o mentor dos franceses Adágio é um guitarrista virtuoso, do melhor que há. Contando com mais de dez anos de carreira e quatro álbuns pelos Adagio, chegou a hora, numa decisão sábia, que era tempo de se lançar numa carreira a solo, abrindo as hostilidades com «The Shadows Compendium», um álbum de estreia de puro Metal neo-clássico instrumental, repleto de peso, garra e consistência, onde o dedilhar de Stephan não deixa de fora nenhuma escala musical. Stephan Forté é um daqueles guitarristas que fazem jus ao conhecido género do Guitar Hero. Não sei como surgiu a expressão “Guitar Hero” (Nada a ver com o popular jogo de consolas), mas é um termo que conheço desde o início dos anos 90. Guitar Hero é um género do Metal que define todos aqueles guitarristas virtuosos, que lançam álbuns centrados na composição da guitarra. Estou a referir-me a Yngwie Malmsteen, Joe Satriani, Steve Vai, Patric Rondat, Jeff Loomis, Eddie Ojeda, James Murphy e, claro está, Stephan Forté! E onde se posiciona então Stephan Forté relativamente a todos estes guitarristas? A resposta não tardou numa clara desmarcação: “não me cabe a mim decidir sobre este assunto, mas sim, ao ouvinte.” disse Stephan. “Considero-me simplesmente um guitarrista dedicado ao seu instrumento e com uma performance ao vivo claramente centrada nele - na guitarra”. Mas, entrando no cerne da questão, todos aqueles nomes tocam na essência deste francês “Eu gosto do trabalho da maioria deles e a resposta não é fácil porque todos eles me influenciaram de certa forma (excepto o Eddie Ojeda que infelizmente desconheço) ”. Estas influências estão bem patentes na música de Stefan Forté, sendo completamente dissimuladas no seu estilo, muito próprio e acutilante. Pode sentir-se as influências mas não se consegue vislumbrá-las: “Eu tentei sempre desenvolver a minha entidade musical e penso que isto advém do facto de eu ter sido, e continuo a ser, influenciado por tudo quanto é possível. No seio dos Guitar Hero, posso afirmar que fui amplamente influenciado pelo Marty Friedman e Jason Becker, mais do que por Shawn Lane, Paul Gilbert e Malmsteen… mas há outros tantos e tantos. E evidentemente, oiço tudo aquilo que eles lançam de novo!”. Stephan Forté fundou os Adagio em 2001, banda de metal progressivo neo-clássico francesa, e desde então conseguiu solidificar esta banda neste mesmo universo do metal, tendo os Adagio lançados quatro excelentes álbuns. Desde sempre que Stephan desejava lançar a sua carreira a solo. Demorou quase 10 anos a consegui-lo! “Bem, já faz algum tempo que eu desejava isso. Mas queria que fosse algo bem feito e não realizado à pressa, pelo que esperei pelo momento

“… já faz algum tempo que eu desejava isto [carreira a solo]. Mas queria que fosse algo bem feito e não realizado à pressa…” certo para o fazer. Assim, logo a seguir ao «Archangels In Black» dos Adagio, senti que tinha chegado a hora: foquei-me e trabalhei neste álbum a 100%.” Mas há mais, Stephan levou quatro anos a compor «The Shadows Compendium». “Trabalhei na escrita deste álbum já vai para mais de quatro anos. Finalmente, estou contente por estar preparado para partilhar isto convosco. Este álbum reflecte a minha visão particular da guitarra e claro está, é um álbum de Metal, com acutilantes breaks, mas mesmo assim bastante melódico.” «The Shadows Compendium» é um álbum totalmente instrumental onde o rei é a guitarra, quer pela palheta de Stephan, quer pela palheta dos seus convidados. E que convidados! “No que respeita os convidados, tenho sorte em ter tanto talento amigo”, Jeff Loomis – “The shadows compendium”, Mattias IA Eklundh – “De praestigis daem-


onum”, Glen Drover – “Duat”, Derek Tayler – “Sorrowful centruroide”, Daniele Gottardo – “I think there’s someone in the kitchen”, “eles fizeram cada solo mais maravilhoso, obrigado a todos!” “Sim, isso é uma coisa certa” – Disse Stephan quando lhe perguntei se tinha em mente desenvolver ambas as carreiras, a solo e com os Adagio. “Este álbum a solo é só o primeiro de muitos. Pretendo ter as duas carreiras a decorrerem em paralelo (e outras coisas que aí vêm). Começarei o próximo álbum a solo logo que tenha terminado com o quinto dos Adagio”. A cumplicidade entre Stephan e os Adagio é bem patente em tudo o que o rodeia, desde a música até à produção. O álbum foi misturado por Kevin Codfert, produtor com o qual Stephan já tinha trabalhado anteriormente no quarto

“… Este álbum a solo é só o primeiro de muitos“

álbum dos Adagio, «Archangels In Black». Stephan: “Quando decidi gravar este álbum, foi obvio que queria outra vez trabalhar com o Kevin. Ambos nos conhecemos tão bem, que por vezes nem necessitamos de falar enquanto fazemos a mistura. O Kevin sabe perfeitamente aquilo que pretendo e eu estou 100% satisfeito com a mistura que fizemos neste álbum. Tem sido um verdadeiro trabalho de equipa, até porque ele não só misturou o álbum mas também fez as programações da bateria e, claro está, tocou todas as teclas e o piano. E foi claro desde o início que o Franck (Hermanny) faria o baixo. Ele é um dos mais talentosos baixistas que conheço na cena metálica. Ele está comigo nos Adagio desde o dia um, e além de mais ele é um dos meus melhores amigos, pelo que não poderia ter agido de outra forma!” Composto por oito temas instrumentais, a guitarra de Stephan não pára um segundo, ladeada por uma pujante bateria e um agressivo baixo, sem esquecer os teclados/piano, que têm uma quota-parte na sonoridade e musicalidade final de «The Shadows Compendium». O álbum acaba com uma pura pérola de neoclássico: «Improvisation on Sonata no. 14, c # minor - Op. 27 no». Respeitante às músicas, Stephan teceu o seguinte comentário sobre «De Praestigiis Daemonum»: “Este é provavelmente a música mais rica em detalhes. Acredito que também não é a mais fácil de ouvir do álbum, mas como foi a primeira música que demos a conhecer aos nossos fãs, queríamos-lhes dar uma música tipo ‘in your face’. Esta é uma música que eu compus para homenagear o Jason Becker. Ele é desde sempre uma das minhas maiores influências no universo da guitarra. ” Entrevista: Carlos Filipe



Pautas pesadas


No seguimento de termos sido notificados de um álbum a solo de um jovem guitarrista de Castro Daire, de esperar que o álbum chegasse à caixa do correio, de ouvi-lo, aprecia-lo e escrever sobre ele, não ficou dúvida que o Hélder Oliveira merecia mais destaque do que uma opinião nossa. A VERSUS Magazine sugeriu esta entrevista para saber mais sobre o guitarrista e para saber como é que ele chegou até ao seu álbum de estreia – «For Eternity». Aqui tens o teu primeiro lançamento. Com um material como o teu, achei anormal nenhuma editora não o aproveitar. Cá dentro é complicado, não é? Hélder Oliveira: Olá, sim, neste país é muito complicado levar para a frente um projecto musical de Metal, sobretudo quando se trata de um trabalho totalmente instrumental, tenho tentado ao máximo promover este álbum, já enviei centenas de e-mails (risos), e vários CDs promocionais para os meios de comunicação e inclusive editoras, é preciso continuar a lutar e ter paciência… porque neste país quando não se tem “cunhas” é mesmo muito difícil conseguir chegar a algum lado (risos).

Pouco tempo depois os meus avós ofereceram-me uma guitarra acústica, e cerca de dois anos mais tarde fui trabalhar para a França na altura das férias escolares de verão para conseguir poupar dinheiro para comprar a minha primeira guitarra elétrica. Assim o fiz, em finais do verão de 2004 tinha a minha primeira guitarra elétrica, uma Jackson Kelly KE3, altura em que comecei a praticar mais para desenvolver mais a minha técnica. Nessa altura formei uma banda de metal de originais juntamente com o meu irmão na bateria, um primo meu na voz e guitarra e um outro primo na guitarra baixo, uma banda em família! (risos), que se chamava Mad Angels. O primeiro espetáculo És novo e já tens muito talda banda (e o meu primeiro ento. Queres falar um pouco espetáculo de sempre) foi a sobre o teu percurso até ao 3 de Dezembro de 2005 na «For Eternity»? minha terra natal – Moita, CasObrigado. Por volta de 2001 ou tro Daire, e então demos mais 2002 quando já ouvia várias alguns concertos, mas a banda bandas de Heavy Metal comenão durou muito tempo porque cei-me a interessar pela guitarra, cada um teve que seguir as e decidi começar a aprender a suas vidas, o baixista foi viver tocar. Na altura o meu padrinpara o Canadá, e eu pouco ho emprestou-me uma guitarra tempo depois fui trabalhar para acústica onde comecei a tentar a Suíça, onde me viria a surgir tocar algumas coisas, nomea ideia de escrever um álbum adamente músicas das minhas instrumental de guitarra, isto por bandas favoritas como Metallica, volta de 2006. Então comecei Megadeth, etc… através de ala escrever material e a treigumas tablaturas mas sobretudo nar mais nos tempos livres, e aprendendo a tocar de ouvido. desde aí nunca mais parei até

conseguir o meu objetivo. Dois anos depois regressei a Portugal e continuei a trabalhar no álbum até finalmente o conseguir editar em Novembro de 2011. Quando me deste a ouvir o teu trabalho lembrei-me logo do Gonçalo Pereira, mas dei conta que tens um modo de tocar distinto do dele, diria que mais malmsteeniano - com aqueles arranjos clássicos que se fundem genialmente com o Metal. Quais foram para ti as influências mais significativas? As minha maiores influências como guitarristas a solo foram sem dúvida o Marty Friedman, Jason Becker, Tony MacAlpine, Yngwie Malmsteen, Joe Satriani, Steve Vai, Gonçalo Pereira, Michael Angelo Batio, Jeff Loomis, etc. Além do Metal, também tenho algumas influências de música clássica como Mozart ou J. S. Bach, daí a minha sonoridade ser mais virada para o lado clássico. As músicas do «For Eternity» são as tuas primeiras grandes criações? Não. As músicas do «For Eternity» são as minhas criações mais importantes mas antes já tinha escrito vários temas para a minha primeira banda (Mad Angels).



onde tive uma grande ajuda do Campino em termos de arranjos, dinâmica, etc. Na parte das baterias também inicialmente construí a bateria em midi, e posteriormente nos Estúdios Singular juntamente com o Campino e dois amigos bateristas que trabalharam a bateria quer em termos de arranjos, dinâmica, para que a bateria soasse muito mais real, e até mesmo reconstruindo ritmos de bateria, fills, ou por exemplo secções de pratos. Isto foi um processo de alguns meses, de muitas tardes e noites passadas no estúdio a trabalhar no álbum, foi muito trabalhoso mas ao mesmo tempo foi bastante divertido Apesar de tudo o que ouvimos (risos). Depois de cerca de 6 no álbum ser da tua autoria, meses no estúdio e de umas tiveste alguma ajuda do Camboas dezenas de cervejas pelo pino nos Estúdios Singular em meio (risos), finalmente o álbum Viseu. Como foi trabalhar com foi editado. ele? Quero aqui realçar mais uma Foi excelente! Ele é um bom vez que o Campino fez um profissional, e também uma pes- excelente trabalho, foi ele que soa espetacular. Tudo começou assumiu todo o processo de em Fevereiro ou Março de 2011 mistura e masterização do «For quando um amigo meu que já Eternity», realmente aconselho

tal componente humana (risos). Em relação a concertos, tenho feito vários espetáculos a solo, com backing tracks, inclusive este ano, que já toquei por exemplo na Fnac de Cascais, na Fnac do Algarve em Albufeira, etc… e estou já a planear mais concertos para breve, poderão seguir todas as novidades na minha página oficial de myspace: www.myspace.com/helderfoliveira ou em www.facebook. com/helderoliveira.official

conhecia o Campino me aconselhou a ir gravar o álbum aos estúdios dele, então um dia telefonei-lhe e falámos sobre o assunto e passado uns dias estava nos estúdios dele para começarmos a trabalhar no álbum. Nessa altura eu mostrei-lhe uma pré-produção do álbum que eu tinha gravado em casa, discutimos sobre isso, e decidimos aproveitar as guitarras elétricas que eu tinha gravado (riff e solos) assim como alguns teclados. Então gravámos o Baixo, as guitarras acústicas e restantes teclados. Em termos de orquestrações, construí tudo em midi e então levei para o estúdio

banda de suporte para continuar a promover o álbum mas com uma componente mais humana! (risos).

Quando olho para o título do teu álbum fico com a sensação de que as oito composições são muito especiais para ti. Serão aquelas músicas que recordarás na prosperidade e que estarão sempre contigo? Sim, tens razão (risos). Estas músicas são muito especiais para mim, foram escritas ao longo de vários altos e baixos na minha vida, elas refletem o meu estado de espírito quando as compus e ao mesmo tempo deram-me força e motivação para continuar em frente. Este álbum vai ser sempre especial para mim, sem dúvida, e por isso decidi atribuir-lhe o nome «For Eternity».

Decerto que não estagnarás após o lançamento deste álbum, e espero que lances um sucessor. Tens projetos para o futuro? Claro! (risos) Espero que este seja o primeiro de muitos futuros álbuns… no que diz respeito a um sucessor eu estou constantemente a compor material novo, por isso não será um problema… mas ainda é cedo para pensar nisso. Neste momento quero concentrar-me neste «For Eternity», tentar tocar o máximo possível ao vivo, tentar arranjar editora, e formar a

“… Este álbum a solo é só o primeiro de muitos“ qualquer artista ou banda a gravarem nos Estúdios Singular de Viseu!!

Na minha opinião, ao teu trabalho falta a componente huEntrevista: Victor Hugo mana na bateria. Já pensaste em juntar mais um pessoal para tocar contigo? Sim, é algo que quero fazer no futuro, formar banda para tocar ao vivo os temas do «For Eternity», neste momento já falei com alguns músicos por isso acho que será para breve! E concertos? Pudemos esperar concertos teus em 2012? Gostaria muito de assistir a uma atuação tua. Se possível com a




o d ca pe o ov n m u e d to en m ci as n O


Dez anos foi o tempo que demorou a sair «Same Old Sin», edição de autor da banda de Albergaria-a-Velha Skypho, que nos mostra toda uma panóplia de estilos e tendências provando que a qualidade musical em Portugal é elevada. O guitarrista Hugo Sousa fala deste trabalho, da banda e das dificuldades que existem principalmente para uma banda que não pertence às grandes metrópoles. Espera-os os grandes palcos nacionais e quem sabe a estreia em palcos internacionais. Viva, para começar podem-nos contar quem são os Skypho? E o que significa a palavra Skypho? Hugo Sousa: Os Skypho são uma banda de Albergariaa-Velha, composta por seis elementos: Carlos Tavares na voz e guitarra acústica, Ricardo Aguiar no baixo, Ricardo Fontoura na bateria, Hugo Sousa na guitarra, José Vidal na guitarra e segundas vozes e o Hugo Oliveira nas percussões e didgeridoo. Somos uma banda com fusão de muitos estilos musicais, onde o metal se mistura com rock, grunge, ska, funk, folk, samba etc., e por ser difícil atribuir-nos um estilo, talvez o que melhor seja definir-nos como Avantgarde-Metal. O nome da banda nasceu numa pesquisa de arte grega. Skypho vem do nome “skyphoi” (plural skyphos), que eram taças sem pé decoradas com pinturas de batalhas entre deuses e lobos ou orgias com deuses e humanos. Achamos um nome interessante, quer pela simplicidade e sonoridade quer pelo conceito. Ao fim de “tantas lutas”, aqui está finalmente o vosso álbum de estreia, «Same Old Sin »

(SOS). Podem falar-nos um pouco deste lançamento e o porquê de não terem uma editora a publicá-lo? O álbum «SOS» foi lançado no passado dia 15 de Outubro 2011, no salão dos bombeiros em Albergaria-a-Velha, para uma plateia com cerca de 300 pessoas que assistiram com entusiasmo a uma viagem pelo novo trabalho e por temas que fizeram parte de um percurso com mais de dez anos de banda, os quais quisemos partilhar com a cidade que nos viu nascer. «SOS» foi gravado no Unkle Rock Studio (Porto), pelo produtor Ivo Magalhães. E se a captação dos sons decorreu em Portugal, já a masterização decorreu na Suécia, mais concretamente nos Fascination Street Studios, trabalho este a encargo de Jens Bogren (conhecido pela colaboração com bandas como Opeth, Katathonia e Soilwork entre outras). Como sabemos, cada vez é mais difícil encontrar uma editora, e acima de tudo, é difícil, em Portugal, encontrar quem leve este estilo musical a sério. Se uma banda não for mainstream, dificilmente encontra uma editora que aposte. Os Skypho sempre tentaram

fazer algo diferente do que está na moda, por isso arriscamos em nome próprio. Damos o nosso melhor na divulgação e distribuição e esperamos conseguir chegar ao maior número de pessoas. O «SOS» é um misto de estilos. Com qual deles é que os Skypho se identificam mais? Ou será que este misto é que “são os Skypho”? Exato, esse misto é que nos caracteriza. Somos difíceis de inserir num estilo. Simplificamos dizendo que somos uma espécie de Avantgarde-metal, mas deixamos esses rótulos para as pessoas que nos ouvem. Para nós é apenas música que nos dá prazer fazer, sem nos preocuparmos se devia ou não ser de uma determinada maneira. Não existem receitas fechadas, basta ver pelo lado da culinária (risos): os bons chefes são aqueles que arriscam e reinventam. Neste álbum, usam tanto a língua portuguesa como o inglês. Também são da opinião que fazer música cantada em português é mais complicado e que as pessoas acabam por “engolir” melhor o inglês? Não achamos que seja mais


complicado, apenas diferente. As músicas em português têm obtido um excelente feedback tanto em reviews portuguesas como estrangeiras. Acho que aquele mito de que se cantar em inglês me posso esconder por detrás das palavras, já morreu. O importante é que este trabalho seja universal; um misto de culturas, não pondo a nossa língua e raízes de parte. Pessoalmente, achamos que soa bem e vamos continuar a fazê-lo.

Sendo uma banda do norte (Albergaria-a-Velha), acham que o número de escadas que é necessário subir para chegar a um patamar superior é maior quando comparado com bandas mais a sul (zona de Lisboa)? Sim, sem dúvida. Sentimos que existem muito mais facilidades para tocar nos grandes centros. Infelizmente a cidade de Aveiro nesse campo está muito abaixo da média, sendo que quase não existem locais

sabemos apenas que queremos continuar livres para poder compor como bem entendermos. Não queremos tornar-nos em mais uma banda de um catálogo qualquer. Como é óbvio, não fechamos as portas às editoras; vamos é analisar muito bem antes de dizer o sim. Daqui a 4 ou 5 anos esperamos que a evolução seja ainda maior, e que hajam muitos concertos pela frente. Para já, estamos ansiosos por começar

para bandas de metal tocarem. O trabalho fotográfico e o art- Nota-se também que as banwork do álbum estão, na min- das de Lisboa ou Porto se ha opinião, muito bem conse- apoiam mutuamente e fecham guidos levando em conta que o círculo, o que torna tudo não teve a “mão de editoras”. ainda mais difícil. Mas sem Como foi desenvolvida a parte dificuldades nada disto fazia gráfica e visual da banda? sentido e cada obstáculo ultraAntes de mais queríamos agra- passado é uma vitória com um decer o elogio. O artwork do sabor especial. Já conseguimos álbum, merchandising, layout do tocar em algumas queimas das palco e cartazes foram desen- fitas. Fomos a Dublin fazer volvidos pelo nosso vocalista, uma mini digressão, partilhamos Carlos Tavares, que paraleo palco com bandas como os lamente à banda é também Moonspell, Primitive Reason, finalista do curso de design Blasted Mechanism, W.A.K.O., na Universidade de Aveiro e Anger, Dead Combo, Xutos & já tinha alguma experiência Pontapés entre outros, e esperna área, o que facilitou assim amos que este álbum nos abra o processo de concepção da novas portas e nos leve ainda imagem do álbum. O «SOS» mais longe. tem como base o tema dos “sete pecados mortais”. Estes Assisti à vossa prestação no foram ilustrados através de fo- C.O.M.A. (Concurso de Música tografia, com cada elemento da de Aveiro) há cerca de 4 o banda a encarnar um pecado, 5 anos e confesso que notei deixando o sétimo para o uma enorme evolução/matuáudio. O digipack é composto ridade na vossa sonoridade. pelo CD, que tem 13 temas, e O que é que os Skypho nos uma brochura com 28 páginas. irão proporcionar nos próximos Queríamos também dizer que 4 ou 5 anos? É vossa ideia temos t-shirts, isqueiros e pins encontrar uma editora ou prefcom a nova imagem e logótipo erem continuar independentes da banda. e porquê? A editora é uma incógnita;

a “S.O.S. tour” e mostrar o novo trabalho de norte a sul do país, e quem sabe talvez no estrangeiro. Todos temos vidas paralelas o que limita a disponibilidade, mas este é o nosso “filho” e não o vamos deixar morrer à fome. Fica aqui o convite a todos os bares que queiram uma noite de peso - os Skypho estão aí com novo álbum e uma tour para agendar.

“Somos uma banda com fusão de muitos estilos musicais onde o metal se mistura com rock, grunge, ska, funk, folk, samba...”

A nível de agenda, como estão os Skypho? De momento ainda não temos nenhuma data agendada. Estamos neste momento a preparar a “S.O.S. Tour”. Para acabar queríamos agradecer esta entrevista e partilhar com os leitores que o vídeo do nosso primeiro single “Your love, my cage, my prison, my rage” está quase a sair e será apresentado aos fãs brevemente. Muito obrigado pela entrevista e desejo a maior sorte aos Skypho. Boa música nacional é precisa. Entrevista: Sérgio Pires



Bastante conhecidos na zona de Aveiro e já com algum feedback noutras zonas do país, os Beautiful Venom apresentam no seu recente trabalho, «Endless Endeavor», a matéria de que são feitos. Numa simbiose de Rock e Metal, a banda consegue elevar os ânimos nos concertos, nos quais cada vez são mais bem recebidos e aplaudidos. A VERSUS Magazine teve o prazer de conversar com os guitarristas Andrés e David, que se mostraram bastante otimistas e entusiasmados no seu empenho

Esforço e


e brio

A primeira questão é a praxe. Falanos sobre a vossa banda. Como surgiram e como caminharam até aos dias de hoje? David: A banda foi inicialmente formada em 2006 por quatro membros, dos quais, actualmente, apenas resta um, o Andrés, sendo que apenas em 2007 se estabeleceu o nome de Beautiful Venom. Começámos com um punk rock mais cru e ainda muito adolescente, mas, com as mudanças no alinhamento rapidamente evoluímos para um projecto mais maturo com influências principalmente de metal, hardcore e rock. O vosso mais recente lançamento data de Setembro de 2011. Quero crer que as reações aos vossos trabalhos têm sido bastante positivas. Como correu, ou como está a correr, a promoção ao «Endless Endeavor»? Andrés: A reação da imprensa ao disco, mesmo que sendo pouca, tem sido muito boa, com boas reviews e bons comentários das atuações. A reação que nós vemos do público em cada actuação é muitíssimo boa, nota-


mos que o nosso público gostou muito deste trabalho e gostam de nos ver a tocá-lo ao vivo. Uma prova disso é a cada vez maior assiduidade de público aos nossos concertos.

pressão alguma, sem compromissos, alugámos uma sala em Aveiro, chamámos duas bandas muito chegadas a nós (modo mudo e Ella Palmer) e que de maneira direta ou indireta nos ajudaram muito no Vocês destacam o conprocesso de elaboração do certo de apresentação, disco, comprámos caixas e caracterizam-no como de cerveja e fizemos a “memorável”. Querem falar festa. Felizmente para nós, sobre ele? o concerto foi muito melDavid: Nunca encarámos hor do que nós estávamos esse concerto como apà espera. Tivemos muito enas mais um “concerto público, os modo mudo de apresentação” de uma e os Ella Palmer deram banda que acaba de grandes concertos e nós, lançar um disco. Decipor nos terem pedido endimos levar as coisas da cores mais que uma vez, forma mais descontraída tocámos as músicas quase e relaxada possível! Astodas, repetindo ainda sim, além de apresentar algumas. É por isso que o disco ao público e de fazemos isto e por isso demonstrar que os Beau- que para nós foi memotiful Venom ainda estão rável. “vivos” e com mais vontade que nunca, o conDe que falam as vossas certo foi acima de tudo músicas? Quais os temas uma festa para nós. Sem que mais abordam?

Andrés: Os temas do álbum são vários e dependem principalmente de quem escreveu o quê e em que altura foi. A morte é um tema que abordamos de uma maneira aberta e profunda porque foi o que vivemos mais de perto nesse período, assim como a separação. A humanidade e a maneira como a nossa sociedade encara a vida e a religião também é um tema abordado mas de uma forma mais metafórica. Criaram um vídeo clip para a música “Juggernaut wings”. Como foi essa experiência, e porquê essa música e não outra? Andrés: Escolhemos a “Juggernaut wings” para ser o primeiro vídeo clip porque achamos que é a música que melhor resume o disco, tem elementos que exploramos mais pro-


fundamente noutras músicas e também por uma questão de gosto. O vídeo foi realizado pelo Luís Soares no seu homeStudio e foi uma experiência completamente nova para nós, pois tivemos de “actuar” uma performance só com um pano verde no

confortável gravar lá pois estamos perto de casa, o que nos permitia marcar quando nos fosse mais conveniente. Podíamos gravar um dia e achar que não estava bom e voltar na semana a seguir com as coisas melhor estudadas sem quaisquer proble-

misturamos muitos desses elementos nas nossas músicas. Por isso, como banda, assumimos o rótulo geral de Rock/Metal, tendo cada um dos nossos ouvintes a liberdade de nos rotular como quiser. Cada membro tem gostos peculiares e que diferem

“A reação da imprensa ao disco, mesmo que sendo pouca, tem sido muito boa, com boas reviews e bons comentários das atuações.” fundo. Ao início estávamos um pouco constrangidos, mas o Luís fez um excelente trabalho e conseguiu deixar-nos à vontade e calmos para fazer um bom trabalho. O artwork/capa do vosso álbum é interessante. Podem dizer-nos quem o criou? David: O artwork do disco foi feito pelo André Trindade Fernandes. Tentámos transmitir a ideia de um homem dominado e cego por forças que não consegue compreender e que lentamente o está a sufocar sem ele se dar de conta. Basicamente falámos com ele e explicámos que queríamos uma coisa relacionada com as letras das músicas e não queríamos um logo ou letras num fundo preto. O André percebeu de imediato o que pretendíamos mostrar e acertou à primeira com o artwork. Grande trabalho.

mas. Não havia a pressão de ter duas semanas para gravar tudo e ficar como ficar. Conhecemos o estúdio há algum tempo, o Andrés faz alguns trabalhos lá e por isso estava familiarizado com o equipamento e com a sala. E sermos rápidos e objectivos no trabalho, o que nos poupou bastante dinheiro e tempo. Gravámos quase tudo lá com exceção de “Far... (Too far)” e alguns Overdubs que fizemos em casa.

ligeiramente dos restantes membros, mas como exemplos de bandas cujo gosto é comum temos, Metallica, Mastodon, As I Lay Dying, Machine Head, August Burns Red, Between The Buried And Me, Parkway Drive, Lamb Of God, entre outros.

Vocês são todos muito jovens mas com uma vontade enorme de lutar pela vossa música, pois são bastante ativos quer em lançamentos quer em concertos. O que poderemos esperar no futuro dos Assumem-se como um Beautiful Venom? banda de Rock/Metal, David: Podem esperar mas decerto que têm as vossas inspirações e ído- uns Beautiful Venom cada los. Querem falar/destacar vez mais empenhados em fazer chegar a sua música alguns deles? a um maior número de Andrés: Assumimo-nos pessoas, tal como actucomo banda de Rock/ Metal porque sentimos que ações cheias de energia e emoção, para que o públia música que fazemos é co sinta que valeu a pena influenciada por inúmeros sub-géneros dentro destes a experiência. Por fim, um próximo disco talvez daqui dois grandes estilos, não nos enquadrando especifi- a um ano ou dois. Vocês gravaram nos Estú- camente e somente num dios Audioplay, na Ponte sub-género. Não somos Entrevista: Victor Hugo de Vagos. Como foi gra- uma banda de metalcore var nessas instalações? puro, ou de hardcore, David: Para nós foi muito ou de rock ‘n rol porque


A guerra do som e da imagem


O nosso gráfico deste mês desencadeia (em parceria) verdadeiras “guerras” na pista de dança, aliando cartazes altamente apelativos a escolhas musicais criteriosas, que não deixam espaço para desilusões ao participante nestes eventos, qualquer que seja o papel que neles desempenhe. A VERSUS Magazine teve curiosidade em falar com Armando Marques, um designer do Porto, para saber um pouco mais sobre o que está por trás deste seu trabalho mais conhecido. Antes de mais, gostava de saber se alguma vez tiveste um nome artístico? Armando: Oi, Cristina! Primeiro, deixa-me dizer-te que é para mim uma honra poder “falar” contigo, porque sei quão empenhada estás na divulgação do trabalho de artistas gráficos associados à música extrema. Penso que nome artístico é uma designação demasiado forte para mim. Eu falaria antes de um nick/alcunha... Thormentor, que surge devido ao excelente tema old school dos Kreator e à antiga e clássica banda portuguesa do mesmo nome. Atualmente este “nick” aparece em alguns cartazes de festas e, por vezes, de concertos, quando faço pequenos “serviços” como dj, normalmente apanhando di-

versas vertentes do universo de peso, esporadicamente piscando o olho ao universo mais gothic-rock!

amante da cena goth-rock e electro, essencialmente). Estas festas surgiram há cerca de ano e meio, tendo como objetivo a divulgação Do trabalho que fazes, de clássicos e novidades conheço sobretudo os carselecionados por nós (goth/ tazes que realizas para as metal/electro). Metal não é sessões da “War On The só Metallica, Iron Maiden e Dancefloor”. Queres falarSlayer e gótico não é só nos um pouco dessa tua Sisters of Mercy e Mission. atividade e explicar aos Por norma, a parte gráfica nossos leitores como surgiu (essencialmente constituída essa ideia? por flyers e cartazes) fica a Como já referi, atualmente, meu cargo, juntando várias sou convidado, com alguma ideias e tendo em conta a frequência, para passar músi- temática atribuída a cada ca no Porto, sempre dentro festa. das vertentes alternativas! As sessões designadas pela Certamente, tens feito outros expressão “War on The trabalhos gráficos. GostaríaDancefloor” são uma ideia mos que nos revelasses a de três pessoas (eu insua natureza e te referisses cluído), embora atualmente com mais pormenor aos que tenham no seu comando te parecem mais significaapenas duas (eu e um dj tivos.


Não tenho assim tantos trabalhos e também é difícil escolher um dos cartazes que elaboro quase todos os meses. Mas, procurando responder à tua questão, proponho este -> ver reprodução do cartaz “War on the Dancefloor”. Selecionei-o pela sua grandiosidade e pelas felicitações que recebi, aquando da publicidade à festa em questão! Tens formação nesta área? Que tipo de formação? Sim. Frequentei um curso de Nível IV em multimédia. Mas, acima da formação de nível X ou Y, coloco o gosto e o empenho, a análise levada aos últimos detalhes e alguma noção de estética.

Ainda neste domínio, também me dedico à elaboração de Ultimamente, não muitos. Mas movo-me bem em tudo pequenos websites, normalmente destinados à apreseno que diz respeito à parte tação/divulgação de empregráfica/design. sas/indivíduos. Este trabalho Para além dos vários caré feito em part time e cada tazes de que sou autor ou vez menos frequente, pois para os quais apresentei conceitos, de vez em quan- a recompensa é mínima, do, faço também catálogos e infelizmente! No entanto, o folhetos para empresas, que gosto pela atividade está vivo! são sempre trabalhos mais “formais”. Também trabalho Se tivesses de escolher um na web, pelo que, muitrabalho da tua autoria para tas vezes, esses catálogos ser o teu ex-libris, qual insurgem em formato digital. dicarias?

Segues alguma tendência estética em especial? Tens algumas “regras de ouro” para a tua arte gráfica? É um pouco difícil responder a essa pergunta, porque as opções variam consoante o tipo de trabalho em questão. Se for para uma empresa, por norma, o look tem de ser mais limpo e tenho sempre algumas “regras” da própria entidade a respeitar. Para material gráfico relacionado com festas e eventos, tenho mais liberdade: até aos dias de hoje, a decisão final foi sempre minha! Posso apenas referir que, para os cartazes, tenho o hábito de conjugar vetores com pequenas imagens e variadíssimos efeitos de luz,


sombra e brilho, máscaras, tigas e conceituadas (e nisto ou seja, detalhes que dão não exagero) do Porto, a vida ao que queres transmitir Piranha (www.piranhacd.com)! a um determinado público! Quais são as tuas ambições Reconheces alguma(s) para o futuro? Que outras influência(s) vinda(s) de out- coisas gostarias de fazer? ros artistas? Uma delas, seria finalizar/ Influências de artistas em continuar a minha formação. especial não, mas sim inTenciono continuar a abraçar fluências diversas, que poos projetos que me vão dem vir da música, ou de surgindo! São coisas simples, um outdoor que vi, ou de mas com muito significado livros que folheei, ou de pa- para mim. Com paixão, que lavras que troquei... foi o que sempre fiz até Em tudo há design e todas aos dias de hoje, nas diferas formas/cores/composições entes, mas muitas vezes, que vislumbras, por mais complepequenas que sejam, podem trazer-te variadíssimas ideias! A que técnicas recorres nos teus trabalhos gráficos? Quais as que, na tua opinião, caraterizam o teu estilo pessoal? Basicamente, como já referi, trabalho com vetores e “bocados” de imagens, que, conjugados e trabalhados, dão origem ao produto final! No caso dos cartazes, há muito trabalho ao nível de tratamento de imagem. Para catálogos empresariais, esse tratamento de imagem também existe, mas circunscrito a recortes e sobreposições e, aqui e ali, alguns retoques ao nível da cor! A que outras atividades te dedicas que possam ser relacionadas com a música extrema? Para além de ser bom ouvinte e dj em part-time, sou também bom leitor da imprensa da especialidade e trabalho atualmente numa das lojas mais an-

mentares, áreas em que tenho investido! Já agora, passando a publicidade, deixo-vos o meu site: a r m a n d o - m a r q u e s . n e t n e . n e t Entrevista: CSA


Nos anos 90 o Underground metálico nacional viveu uma assinalável evolução, ainda que praticamente restrita ao nosso mercado, à exceção dos Moonspell e, em menor escala, dos Sacred Sin. Os grupos de Metal começaram a passar na TV e nas rádios, surgiram novas salas de espetáculos, chegaram ao mercado as primeiras revistas especializadas e registou-se um boom de álbuns assinados por agrupamentos lusos. Acompanhem-me na quarta e última parte deste resumo da história do Metal forjado entre portas. O espírito Underground emergente nos anos 80 prosseguiu a sua evolução de forma exponencial na década seguinte. Abundavam os grupos, as fanzines, os programas de rádio, as newsletters e as mail orders. As editoras já existentes lançaram mais discos e outras houve que se formaram. A oferta de concertos nacionais era abundante. A Norte, a escola de música Rec’n’School e os estúdios Rec’n’Roll, dos irmãos Barros (Paulo e Luís, respetivamente guitarrista e baterista dos Tarantula) tornaram-se referências absolutamente incontornáveis na cena metálica local, primeiro, e nacional, em seguida. No geral as iniciativas diversificavam-se. A 15 de maio de 1990, a loja Valentim de Carvalho do Centro Comercial de Alvalade, em Lisboa, acolheu um dos mais importantes momentos na história do Som Eterno em Portugal no início dos anos 90: uma memorável sessão de autógrafos do malogrado Quorthon, líder dos Bathory (há vídeos disponíveis no Youtube). Centenas de fãs acorreram àquele que terá sido o primeiro evento oficial do género no país tendo um músico estrangeiro de Metal como protagonista. As bandas nacionais passaram à fase seguinte no que à sua divulgação diz respeito. Em 1992 os Dinosaur tornaram-se um fenómeno de popularidade a nível underground com airplay radiofónico massivo e rodagem na RTP2 de três videoclips em simultâneo, numa altura em que apenas os Ibéria, Tarantula, Cen-


surados, Ramp e Procyon passavam na TV. Os programas televisivos “Clipmanias”, “Vira o Vídeo”, “Clip-Club” e “Pop-Off ”, dedicados à música, começaram a rodar Hard’n’Heavy nacional. Na primeira metade da década foram editados vários álbuns clássicos do Metal luso - Kingdom of Lusitânia (Tarântula); Thoughts (Ramp), Darkside (Sacred Sin), Ecstasy (Joker), V12 (do grupo com o mesmo nome), Abstract Divinity (Thormentor), Diva (Heavenwood), Genocide (Genocide), Vast (Disaffected), Reality Asylum (W.C. Noise), Wolfheart e Irreligious (ambos dos Moonspell). A par destes registos salientese a importância histórica das compilações The Birth of a Tragedy (em vinil duplo), Mortuary Nº 1 e 16 Portuguese Metal Bands, totalmente preenchidas com agrupamentos nacionais. Apesar das ainda escassas condições em termos de estruturas editoriais e técnicas de gravação registou-se um aumento substancial de grupos com álbuns editados. Em 1993 os Sacred Sin tornaram-se o primeiro coletivo nacional a gozar de airplay na MTV (no programa “Headbanger’s Ball”, com o tema “Darkside”), muito antes de estrelas pop como os Delfins ou Pedro Abrunhosa. No ano seguinte foi editado Under the Moonspell, o mini-LP de estreia do coletivo de Fernando Ribeiro, que assinalou a primeira contratação internacional de uma banda portuguesa (neste caso, pela francesa Adipocere Records). Cedo os Moonspell ganharam fama nos mercados alemão e francês, através de álbuns como Wolfheart e Irreligious. A partir de então, conquistaram o Mundo. Em 1992 surgiu a edição nacional da “Rock Power”, a primeira revista profissional portuguesa especializada em Metal. No entanto, durou pouco mais de um ano. Os fãs nacionais tiveram que aguardar até 1999 para virem chegar uma nova publicação dedicada ao Som Eterno, desta feita apresentando conteúdos


100% originais: a “Riff ”, que virou uma página na imprensa nacional especializada. Até meados dos anos 90 a demotape reinou enquanto formato preferencial para as bandas editarem a sua música, mas na segunda metade da década a demo-CD, resultante da evolução tecnológica, ocupou o lugar da mítica demo em cassete. De igual forma, no final da década já não havia rasto das fanzines em papel, optando as bandas pela autopromoção em páginas “pessoais” na Internet (à época ainda não existiam blogues, redes sociais ou o Youtube. Os fóruns não passavam de meros projetos online).

O fervilhante cenário ao vivo nos anos 90 Nos anos 90 Portugal tornou-se finalmente rota obrigatória para receber as grandes produções de bandas internacionais de primeira linha, da Pop ao Rock passando pelo Metal. Os concertos de estádio vulgarizaram-se, com espetáculos memoráveis dos Guns ‘n Roses, Metallica, Bon Jovi ou AC/DC. Nesta altura o Dramático de Cascais era justamente considerado a catedral da música pesada em terras lusas, recebendo nesta década inúmeros espetáculos de grupos internacionais – Judas Priest, Manowar, Megadeth, Sepultura (o segundo concerto nacional dos brasileiros foi objeto de reportagem alargada no programa “Headbangers Ball” da MTV), Pantera, Slayer, Iron Maiden, entre outros. Em paralelo, a Sociedade Filarmónica Incrível Almadense, em Almada, começava a gozar de semelhante estatuto, acolhendo espetáculos dos Ratos de Porão, Death, Cannibal Corpse, Amorphis, Fear Factory ou Forbidden. Timidamente, o Coliseu dos Recreios (Lisboa) começou também a receber concertos de Metal. Nesta década centenas de grupos estrangeiros estrearam-se ao vivo em terras lusas para nunca mais deixarem de cá atuar a cada nova digressão. Para substituir o extinto RRV surgiu o Johnny Guitar, onde, à semelhança do Rock Rendez Vous, atuavam grupos de todos os quadrantes musicais. Contudo, ao longo dos anos 90 a oferta noturna de música ao vivo multiplicou-se. Em Lisboa tornou-se obrigatória a frequência do histórico Gingão (taberna antiga onde desde os anos 80 os metaleiros se juntavam religiosamente às sextas-feiras e sábados à noite). Os bares Lusitano, Ritz Clube, Rockline e Rookie assumiram nesta década o protagonismo da música underground ao vivo e do dying. Também a Voz do Operário e a Gartejo (mais tarde batizada de Garage) se tornaram referências para os metaleiros ouvirem música e ver bandas ao vivo. Em Vila Nova de Gaia o Hardclub assumiu-se como o grande centro de concertos de Metal na invicta. Aliás, segundo Miguel Almeida no segundo volume da Enciclopédia da Música Portuguesa em Portugal no Século XX, “a crescente popularidade do género na década de 90 viabilizou a realização de espe-


táculos para audiências maiores e a apresentação de grupos portugueses em eventos como o Festival da Ilha do Ermal, Festival Vilar de Mouros (…), com destaque para o Festival Penaguião Open Air (Penafiel) [NR: melhor conhecido por Ultra Brutal], nas suas várias edições, dedicado exclusivamente a grupos de heavy metal, nacionais e estrangeiros”. De igual forma, o Festival Diz “Sim” à Vida, realizado no estádio do Barreiro, marcou uma época. Nele participaram artistas como os Tarantula, Adelaide Ferreira (na sua fase hard rock), Ibéria, Afterdeath ou os britânicos British Lion (protegidos de Steve Harris, baixista dos Iron Maiden), numa iniciativa arriscada mas inesquecível. Preparava-se desta forma o passo seguinte na evolução do Metal português e tudo o que este nos proporcionou nos anos 00. Dico Textos detalhados em www.soundzonemagazine.blogspot.com Texto redigido ao abrigo do novo Acordo Ortográfico


ALCEST «Les Voyages de L’Âme» (Prophecy Productions) As viagens da alma, traz-nos os Alcest, na sua pura essência, aquilo que é o seu universo musical, atmosférico e temático. Tudo nos Alcest irradia luz, presença, magnificência, excelência... Não há palavras para descrever «Les Voyages de L’âme». Neige, a alma dos Alcest, já que assina a voz, guitarras, teclas e baixo e Winterhalter, na bateria e percussão, elevaram de tal forma o nível – de si já elevado – da excelência dos Alcest com este lançamento que nos próximos tempos vai ser difícil de igualar, conseguindo em cada uma das músicas que o compõem estar sempre no sítio certo, no tom certo, no timming certo, na conjugação de estilos certos. Tudo se entrelaça e ecoa com perfeição, de forma irrepreensível. Desde os primeiros acordes de “Autre temps”, que funcionam como um passadiço melancólico para a quintessência dos Alcest, até “Summer’s glory”, todas as músicas flúem maravilhosamente bem, com um Neige a cantar ora em francês, ora em inglês. Deixando cada vez mais para trás o Black Metal que caracterizou os Alcest nos seus primórdios, a orientação actual privilegia o estilo de Metal emergente, que congrega melancolia/nostalgia/beleza, com um censo de Black Metal. As origens mais negras dos Alcest continuam presente aqui e ali, como no pseudo-instrumental “Beings of light”, com forte sentido Black Metal e certamente em “Là où naissent les couleurs nouvelles”, talvez a melhor música de entre as melhores que compõem o ensemble. «Les Voyages de L’âme» vive desde balanceamento perfeito entre as diferentes atmosferas musicais criadas e conjugadas brilhantemente. Já há algum tempo que não ouvia um álbum assim, tão bem criado, executado, conseguido e com um alto nível de criatividade. [10/10] Carlos Filipe


ABIGAIL WILLIAMS «Becoming» (Candlelight Records) Motivado talvez pela instabilidade crónica de um line-up em constante mutação ou simplesmente o resultado de um desejo de explorar a vasta amplitude de possibilidades que o metal tem para oferecer, «Becoming» é, antes de mais, um disco muito diferente de tudo o que os Abigail Williams gravaram até aqui. Se em «In the Absence of Light» o grupo norte-americano soou excessivamente a uma versão sintética e híbrida de Emperor, Dimmu Borgir e até Cradle of Filth, (apesar da inegável qualidade de muitas composições), neste terceiro álbum a música tem tanto da agressão do black metal que já lhes é conhecido, como – e esta é a novidade – das belas melodias e dos andamentos pesarosos do doom. É verdade que já muito se fez articulando estas duas dimensões do metal, mas, com originalidade ou sem ela, este é certamente um resultado que levará a muitas visitas ao leitor de CDs. “Radiance”, por exemplo, inclui um crescendo rítmico na segunda metade que é absolutamente aditivo. A faixa seguinte, “Elestial”, depois do frenesim inicial de velocidade, fascina com a sua atmosfera à lá Agalloch. Já “Infinite fields of mind” surpreende a meio com um riff potente e incisivo que nos deixa sem jeito, e finalmente o sinfónico e folkish “Beyond the veil”, com os seus dezassete minutos de duração, mostra que é bem possível que Ken Sorceron ainda tenha muita para dar ao Metal. Com uma execução de grande classe onde brilha com especial exuberância o baterista Zach Gibson, este é um disco que não podemos deixar de recomendar vivamente a qualquer fã de black/doom. [8/10] Ernesto Martins ABORTED «Global Flatline» (Century Media) Após um razoável «Strychnine.213», de 2008, os belgas Aborted lançaram um EP, «Coronary Reconstruction», dois anos depois. Com um line up quase totalmente alterado, a banda não sofreu rigorosamente alteração nenhuma na sonoridade, e quis dar-nos um cheirinho do que prometeriam no futuro. Outros músicos instalam-se no seio da banda, e este ano estreou o «Global Flatline», um estouro de poder e podridão que, acreditem, é quase palpável. A banda parece estar mais brutal que nunca e a tocar muito mais rápido do que alguma vez tocou, trazendo à vida o feeling que marcou os primórdios desta banda, fazendo, assim, com que este «Global Flatline» soe como uma recriação genética, cujo resultado é uma super brutalidade otimizada e afiada. Esperem ficar colados com temas como “The origin of disease”, cuja projeção sonora sente-se fisicamente, ou “Fecal forgery” que vai direto ao assunto sem rodeios – aliás, este álbum caracteriza-se pela sua frontalidade. Para ajudar a guturalidade do vocalista Sven, em alguns momentos é acompanhado por Trevor (The Black Dahlia Murder), Julien Truchan (Benighted), Jason Netherton (Misery Index) e Keiijo Niinima (Rotten Sound). Já a produção, ela está bastante boa, com todos os instrumentos a tomar o seu lugar sem menosprezar o feeling orgânico – foi produzido, misturado e masterizado por Jacob Hansen. Esperem, portanto, um «Global Flatline» muito porreiro e com longevidade, que mostra uns Aborted capazes de se superarem a si mesmos. [7.5/10] Victor Hugo ADRENALINE MOB «Omertá» (Century Media) Desde que Mike Portnoy (MP) saiu dos Dream Theater (DT) que a sua participação em projectos por si criados ou como musico convidado tem vindo a diversificar-se ainda mais: Avenged Sevenfold e mais recentemente, dois megaprojectos: Adrenaline Mob e Flying Colors. Ao ouvir falar de mais uma banda criada por MP, a curiosidade adensou-se. Quando «Omertá» me chegou às mãos nada sabia da sua história ou quem participava no projecto. “Undaunted” é o tema que abre o álbum e à primeira audição pensei numa espécie de Rob Zombie ou mesmo Sully Erna dos Godsmack. No entanto, aquela voz parecia demasiadamente familiar… “Psychosane” tratou de dissipar todas as dúvidas: Russell Allen (RA) (Symphony X). E já que estamos nos músicos o guitarrista é o prodígio Mike Orlando (Sonic Stomp) e o baixista é Paul DiLeo. Quanto à música não contem com um MP da era DT mas sim um MP muito mais próximo do que fez com os Avenged Sevenfold. No entanto, não é por isso que o trabalho não deixa de ter valor, porque tem… e muito. Mike Orlando é magnífico, técnica e virtuosismo desde a primeira nota, bem secundado por


Paul DiLeo. Quem esperava algo de muito progressivo, dada a presença de tão ilustres “progressistas” desengane-se, pois, isto é muito diferente de Dream Theater ou Smphony X. Quem ouvir Disturbed, Black Label Society, Godsmack ou mesmo Pantera vai encontrar muitas parecenças. “Indifferent” é um dos melhores temas do álbum com um riff simplesmente espetacular e destaco, ainda, a versão “Come Undone” dos Duran Duran. Deixo para o fim o que considero o melhor de «Omertá»: Russell Allen! Voz mais agressiva e mais poderosa, nada do que se ouve em Symphony X. No entanto, no tema mais leve do álbum consegue cantar bem suave, assim ao jeito de Jorn Lande. Em jeito de conclusão, estamos perante 11 temas de rock moderno bem duro e agressivo, interpretado por músicos de excelência. [9/10]Eduardo Ramalhadeiro ASPHYX «Deathhammer» (Century Media) Com uma extensa carreira de 25 anos, mas apenas 8 álbuns de estúdio editados, fruto dos altos e baixos que têm acompanhado os Asphyx, chegamos a 2012 e a «Deathhammer»: uma potentíssima afirmação de Death Metal Old School, repleta de nostalgia, pois estes Asphyx fazem-me lembrar os antigos Pestilence – não fosse o vocalista um ex-membro - e Obituary dos já longínquos anos 80/90. “Into the timewastes” e “Deathhammer” afinam o tom de imediato para o resto que aí vem. Com o inigualável e inconfundível Martin van Drunen na voz, ele é a mais-valia e verdadeira alma dos Asphyx, dando-lhe carácter, alma e sobriedade, a esta brutal e refinada sonoridade destes holandeses. Que performance! Que voz! Com os asphyx, preparem-se para tudo: uma bateria pujante e consistente, músicas de cortar a respiração, riffs verdadeiramente magistrais. Oiçam “The flood”, “We doom you to death” e “As the magna mammoth rises”, música que em parte faz-nos recuar aos tempos dos Bathory. Todos estão ao seu mais alto nível para nos proporcionarem com um dos melhores álbuns de Death Metal dos últimos tempos. Oscilando entre tempos rápidos e outros lentos e sempre pesados, entramos mesmo na área do Doom Metal, como podemos sentir e ouvir em “MineField”, uma pérola de puro Doom Metal e uma das melhores músicas. «Deathhammer» é uma das boas surpresas deste ano que ainda está no início e o prenúncio de um certo revivalismo que aí vem. Com toda a garra demonstrada até então, por onde andaram estes Asphyx, durante praticamente todo o 2000? [9/10] Carlos Filipe BLAZE s/t (High Roller Records) Aos primeiros acordes, ou melhor dizendo, estridente solo dos Blaze - não confundir com a banda de Blaze Bailey - a impressão com que ficamos não é muito boa, para não dizer, péssima. Infelizmente, o resto apesar de melhorar um pouco não chega para mudarmos de opinião. A ideia é boa, a composição é de “trazer por casa”, mas acima de tudo a performance é má – em especial do vocalista, apesar da garra demonstrada ao longo de «s/t». A sonoridade dos japoneses Blaze deixa muito a desejar, Ora senão vejamos, o Heavy/Rock apresentado é do mais básico e déjà-vu que conheço, o nível de produção ficou bem aquém daquilo que é exigido nos dias de hoje a qualquer banda. As músicas, bastantes catchy – como tinha de ser, constituem o ponto mais positivo de «s/t», mas esbarram na criatividade, que é inexistente. Este álbum é uma amálgama de clichés do Heavy Metal. Por fim, vêm os dois elementos que aniquilam de vez este álbum: a mistura e o vocalista. A guitarra está demasiado à frente em todo o álbum, abafando de certa forma a bateria e o baixo – que mal se sente. O vocalista Wataru Shiota tem ainda muito caminho para percorrer e apreender, quer ao nível do canto, quer ao nível do inglês. Quando canta a letra corrida ainda consegue safar-se, mas quando puxa pela voz para as vocalizações é um desastre, revelando todas as suas limitações e fragilidades. Há momentos que parece um carneiro a berrar. Blaze não consegue valer o esforço de existir uma banda de metal do país do sol nascente, país este que tanto aprecia o metal. É pena. [3/10] Carlos Filipe


CHRISTIAN MISTRESS «Possession» (Relapse Records) Quem desconhece por completo esta banda e começar a ouvir qualquer tema deles ficará imediatamente com a sensação que serão oriundos de Inglaterra. Mas, apesar da sonoridade NWOBHM este coletivo, que já conta com o seu segundo álbum, é de Washington. Seguindo a mesma linha do álbum de estreia, «Agony & Opium», este «Possession» apresenta-se melhorado, com uma sonoridade ainda mais sonante, e sem perder a característica tradicional da sonoridade Heavy Metal que transborda de todos os temas. Preparem-se para ficar totalmente agarrados (e possuídos) às músicas destes Christian Mistress. Pois, quem poderá ficar indiferente ao início aguerrido da “Over & over”, com notas a solarem das guitarras sem qualquer aviso prévio? E quem poderá ficar indiferente ao malhão motörheadiano que constitui o tema “Conviction”? Ou o ritmo contagiante da “Pentagram and crucifix”? Ou mesmo às malhas ironmaidenianas presentes em várias músicas? De certeza que se gostarem de Heavy Metal tradicional ficarão rendidos perante estes argumentos, aos quais poderei juntar o espetáculo dos solos de guitarra presentes em todos os temas (especial destaque para o solo da “Black to gold”). Contudo, apesar das suas influências óbvias, estes Christian Mistress destacam-se das demais bandas que ressuscitam a alma do Heavy Metal – a voz da Christine Davis encaixa que nem uma luva na sonoridade da banda, e verdade seja dita os ritmos são um verdadeiro contágio! Caros leitores, deixem-se contagiar! [9/10] Victor Hugo CORROSION OF CONFORMITY «Corrosion Of Conformity» (Candlelight Records) De certeza que há por aí muitos leitores que já tinham saudades de um álbum dos Corrosion of Conformity. Para esses, e para os outros que desconhecem esta banda, preparem-se para este álbum homónimo carregado de speed Hard Core mas também com a presença da demolição do Sludge, do peso do Doom e também do feeling Southern Metal. Sim, estas características estão cá todas, como se neste álbum a banda pretendesse unir todos esses elementos que ao longo de 30 anos ajudou a moldar a sonoridade deste coletivo americano. Passados 7 anos desde o último lançamento, «In the Arms of God», com feedback razoável, «Corrosion of Conformity» pretende ser uma explosão do melhor que a banda sabe fazer – cruzar os estilos acima enumerados. E o resultado é muito bom: ora não ficássemos colados perante a energia de “Leeches” e de “The moneychangers”, ou esmagados com o peso de “The doom” – que tal como o titulo sugere, está carregado de movimentos Doom Metal, com pitadas de Sludge e, claro, o sempre presente feeling sulista, ora sentido nos acordes sonantes, ora sentido nos solos de guitarra típicos e fantásticos – ou mesmo catatónicos perante tamanho poder sulista do tema “Newness”, que decerto irão repetir a dose vezes em conta. No final ficamos com a sensação que este álbum irá ficar nos nossos ouvidos durante uns tempos valentes, porque a diversidade é grandiosa e mesmo harmoniosa, o peso do Metal é fantástico, e está carregadíssimo de boas malhas que ficarão connosco durante muito tempo – tenho a certeza que o riff pesadão da “What we become” não passará despercebido ao mais distraído e passivo dos ouvintes. [8/10] Victor Hugo DARK HELM «Persepolis» (Demonstealer Records) Os Indianos Dark Helm conseguiram a proeza de fazer um disco que dá para perceber claramente onde era suposto ter chegado mas que ficou pelo caminho. Passo a explicar. Quando ouvi pela primeira vez o disco, todo ele conceptual, achei logo que havia claramente uma excelente combinação de criatividade, mística, sonoridades e talento musical. Mas para se atingir a perfeição é preciso semanas, meses, anos, o tempo que for preciso a afinar todos os pormenores possíveis e imaginários para conseguir uma obra-prima. E foi isso que falhou. Os pormenores que colam as músicas, que mantêm a homogeneidade e que permitem


que se ouça um álbum como quem lê um livro abstraído completamente do mundo real não foram suficientemente apurados. Nota-se por vezes um evidente desequilíbrio na harmonia entre os teclados e o resto dos instrumentos (no tema “Warcry”) e que nos deixam a pensar se temos os auscultadores ideais para ouvir este trabalho. Honestamente não encontro explicação para alguns desacertos no equilíbrio dos instrumentos. Já ouvi álbuns muito menos dotados de genialidade nas composições e na mistura de elementos criativos de relevo mas que com uma produção muito mais capaz conseguem a ligação e o equilíbrio que faltam a «Persepolis». Este era um álbum de Deathcore que teria merecido claramente uma nota 10, que teria sido uma obra-prima, mas que por algum factor aparentemente inexplicável não foi onde deveria ter ido. Mas atenção, julgo ser uma obrigação ouvir este disco dos Dark Helm que como banda têm um potencial enorme e que espero consigam colmatar num próximo álbum o que faltou a «Persepolis». [8/10] Sérgio Teixeira DIABULUS IN MUSICA «The Wanderer» (Napalm Records) Nuestros hermanos ‘Diabulus in Musica’ estão de volta em 2012 e decidiram quiçá inspirar-se na potência dos touros de Pamplona, de onde são originários, para produzir um excelente disco de Gothic Metal. Começando pelos pontos menos conseguidos eles serão a inevitável colagem às inúmeras bandas que proliferam actualmente com vozes femininas; a comparação com Nightwish é inevitável… Talvez não tenham conseguido também aquelas melodias que ficam logo na memória auditiva e que nos fazem repetir a audição do álbum em loop; mas tirando estes pormenores arrisco a dizer que tudo o resto é sempre a somar. Quem gosta do género, vai encontrar um conjunto de 12 temas dotados de peso e energia, temperados pela voz sensual de Zuberoa Aznárez superiormente colocada ao serviço de uma obra de distinção. A produção está excelente, os teclados presentes estão na dose certa conferindo o fio condutor que mantém o álbum a respirar nos momentos certos e colocam a tonalidade certa nos vários temas. O trabalho de bateria não causa rupturas incoerentes mas também não se limita ao básico; mais uma vez a técnica esteve ao serviço do equilíbrio a dar resultados de distinção na parte rítmica. Em termos de originalidade como disse pode haver a tendência de se comparar com o resto do que se faz dentro do género; apesar de não ser uma obra-prima está muito perto de o ser e cativa desde o primeiro até ao último minuto. Dentro do Gothic Metal provavelmente não haverá muito mais por onde inovar e por isso a nota de distinção para «The Wanderer» inteiramente merecida. [9/10] Sérgio Teixeira DIGAMMA «Guidance» (Edição de autor) Agradado! Deveras agradado com este grande álbum de estreia dos nacionais Digamma. Após uma breve passagem pela sua biografia é incrível como os Digamma ainda procuram editoras ou distribuidoras. Esta primeira edição de «Guidance» teve só 1000 cópias. Musicalmente falando, para um álbum de estreia, onde todo o trabalho de produção, mistura e masterização foi muito bem feito por Miguel Carvalho (guitarra), está incrivelmente coeso, adulto, maduro e original. São 13 temas cantados em Inglês dos quais 2 em Português e 2 interlúdios. A voz de André Cardoso é perfeita para este estilo de música – rock moderno/alternativo – muito ao estilo de Manuel Cruz (Ornatos Violeta/Pluto) ou Pedro Laginha (Mundo Cão), deveras competente e “salpicada”, q.b., com mais agressividade em alguns temas, tais como “Two Edged Sword”, “African Cowboy” ou “O Ódio Libera a Razão”. A qualidade técnica dos restantes músicos está bastante acima da média e como não acontece muitas vezes, todos os instrumentos têm a força certa e sobressaem cada um à sua maneira. O que me espanta (pelo lado negativo) é muitas vezes ouvir bandas que não têm 1/10 da qualidade serem promovidas enquanto, quem realmente merece não tem a devida atenção. «Guidance» foi dos melhores lançamentos nacionais (Sim! E a nível internacional!) que tive o prazer de ouvir e que farei tudo para os promover e dar a conhecer. Merecem! [9/10] Eduardo Ramalhadeiro


DRUDKH «Eternal Turn of the Wheel» (Season Of Mist) É com grande entusiasmo que ouço o novo trabalho dos ucranianos Drudkh, pois reparo logo no segundo tema, “Breath of cold black soil”, que a banda regressou à sua sonoridade primordial após um «Handful of Stars» aquém das expetativas, mas nem por isso mau. Por isso, caros leitores, podem esperar um «Eternal Turn of the Wheel» com mais Black Metal que o seu anterior à boa maneira que os Drudkh já nos habituou. Curiosamente, para além de ter recuperado essa sonoridade, a banda voltou a explorar o tema das Estações do Ano. Se no álbum «Autumn Aurora» eles exploraram o Outono desde o seu início glamoroso até à primeira neve de Inverno, neste trabalho a banda explora o ciclo das Estações. Recorrendo a metáforas e outras figuras de estilo, Romam Sayenko decidiu escrever as letras em vez de descobrir poemas ucranianos, criando, desta feita, um ambiente de mistério que só será possível ser desvendado ouvindo ao mesmo tempo que se acompanha as letras. Para alimentar esse mistério os sintetizadores que ao longo do álbum assombram as estruturas de cada tema dão um toque precioso, de um modo simples mas sofisticado. Já essas estruturas estão muitíssimo boas, pesadas e orgânicas – sentimos verdadeiramente que estão ali pessoas a tocar – e totalmente com base em riffs (nada de solos). Quanto à voz, Thurios está melhor que nunca, conseguindo de um modo fantástico transmitir momentos fortes, ou melhor, momentos mais fortes que outros, ao ponto de sentirmos a ressonância dessa força no corpo. «Eternal Turn of the Wheel» apresenta-se como um álbum curto mas irresistível. Aproveitem este momento dos Drudkh, pois o Inverno mal começou. [8.5/10] Victor Hugo FOR THE IMPERIUM «For The Imperium» (Lifeforce Records) Da Finlândia continua a vir uma quantidade de produção musical assinalável sendo cada vez mais óbvio o facto de ser uma das sociedades mais activas nesta vertente. Desta feita, os responsáveis por mais uma explosiva produção de música da pesada são os For The Imperium que em Abril deste ano lançam o seu primeiro álbum homónimo. Numa primeira audição poderá passar despercebida a qualidade da obra que temos em mãos mas experimentem ouvir uma segunda vez... Este álbum fez-me lembrar os Noruegueses Kvelertak (review na Versus 17). As semelhanças resumem-se à capacidade de fazer música como quem cozinha as mais complexas saladas que degustamos avidamente por terem os mais diversos aromas e ingredientes numa perfeita combinação culinária. Assim, não é fácil classificar esta obra a não ser dizendo que o denominador comum é a energia electrizante debitada pelas guitarras, as composições originais com uma forte base de diversidade melódica e de estilos, vocalizações para todos os gostos e ritmos versáteis a segurar os tempos num quadro dinâmico de ideias musicais. A junção destas várias componentes é de facto homogénea e o álbum ouve-se sem estranharmos os vários pormenores ou detalhes que sucedem marcando a diferença. Tudo encaixa, com uma superior capacidade de conjugar conceitos tão diversos que fico a pensar se estes tipos serão deste planeta. Em geral é um álbum vivo que emana vida. Por isso, recomendo vivamente a quem tenha o seu interruptor ecléctico e eléctrico ligado pois não se vai arrepender. [9/10] Sérgio Teixeira HAEMOTH «In Nomine Odium» (Debemur Morti) Se estiveram atentos como eu aos mais significativos lançamentos de Black Metal lançados ultimamente, deverão ter notado que da França e da Alemanha tem-se alastrado uma boa onda de sonoridade obscura. Dessas sombras espalhadas pelo mundo podemos destacar estes Haemoth que já têm uma lista de lançamentos jeitosa, sendo quase toda constituída por Demos e outros lançamentos dispersos, e três álbuns de estúdio. Este «In Nomine Odium» é um tónico de Black Metal que fará efeitos muito positivos no ouvinte, apesar da banda mencionar no press-release que causará precisamente o contrário. Este dueto quer espalhar uma mensagem satânica pelo mundo, contribuindo, assim, para a ruína dele mesmo e da humanidade. E além disso espera o nosso fiel contributo para tal, de modo que o ouvinte terá de morrer interiormente para renascer das chamas do odium, e espalhar a miséria e a doença na humanidade. Apesar desta mensagem negra q.b. esperem uma sonoridade igualmente à altura do seu propósito. Caros leitores


podem ouvir e abusar deste álbum pois muito provavelmente não irão arder nas chamas deste odium para renascer e espalhar o caos. Vão, decerto, ficar deliciados com tão grandiosa vaga sonora, pesada e negra que quase nos iludimos que a podemos tocar. A frieza de “Slaying the blind”, a grandeza de “Demonik omniscience” e a obscuridade de “Son of the black light” são momentos que repetirão sem qualquer receio de arder no inferno… pois esse destino é reservado para os mais fracos. [8.5/10] Victor Hugo HEIDEVOLK «Batavi» (Napalm Records) Esta banda Holandesa de Pagan/Viking Metal volta em Março de 2012 à carga com o álbum conceptual «Batavi» em que o contexto histórico é centrado nas lutas entre os povos germânicos e o império de Roma pelo controlo do Norte da Europa. Em termos de conteúdo lírico integralmente em holandês as coisas andam muito por aí. Bom mas o que interessa mesmo é o que se pode desfrutar ao ouvir o álbum que do ponto de vista musical e sonoro nos transporta exactamente para essa época, tendo por base o uso de linhas melódicas características do nosso imaginário pré-medieval. Apesar de o Pagan/Viking Metal ser um estilo musical bastante estanque e pouco dado a inovações ou grandes misturas, acaba por se ter uma certa lufada de ar fresco ao ouvir «Batavi». Isto em certos temas; noutras faixas fica um pouco a desejar e é precisamente a limitação inerente como referi ao estilo que impede o álbum de descolar para outros níveis de criatividade. No geral os riffs e as vocalizações são poderosos, as dinâmicas rítmicas são variadas e as composições fáceis de digerir. Do ponto de vista da produção há aparentemente uma ligeira dose de contribuição do digital nas guitarras, mas tirando isso o equilíbrio sonoro foi claramente conseguido. Gostei bastante do single “Een nieuw begin” ou ainda “Als de dood weer naar ons lacht” que recomendo como uma boa porta de entrada. Em suma, resulta assim um álbum que possivelmente não colando toda a gente ouvir Pagan Metal acaba por ser algo que captará o interesse dos adeptos deste género musical e não só. [8/10] Sérgio Teixeira IRON FIRE «Voyage Of The Damned» (Napalm Records) Confesso que já tinha saudades de ouvir um álbum de Power Metal com as características deste. Confesso também que me afastei do estilo nos últimos anos, e por isso é com espanto e renovado entusiasmo que ouço esta nova proposta dos dinamarqueses Iron Fire intitulada de «Voyage of the Damned». Mas vamos lá ver porque é que este trabalho me agarrou pelos colarinhos e ainda não me largou. Não é pelo conceito nem pela história de ficção-cientifica que os Iron Fire apresentam, nem pela capa que por sinal está bastante porreira, mas antes pela pujança sonora que estes tipos espalham em cada tema do álbum, pelos ambientes criados com texturas orquestrais muito boas sem serem demasiado sinfónicas, e pelo facto de terem transformado a aura da sua música. Continuamos a ouvir um Power Metal, mas não tão “happy”, por assim dizer, nem tão medieval com espadas, machados e feitiços. «Voyage of the Damned» é um álbum negro, obscuro e também sumptuoso. Muito graças aos ambientes criados e às estruturas dos temas que estão muito bem trabalhados, com ritmos ora rápidos, ora lentos, sempre com a mestria das guitarras no ritmo e nos solos arrasadores, e com o pano de fundo dos teclados, orquestrações e coros. Já a voz de Martin Steene está bastante boa e afinada, mas também poderemos escutar momentos com vozes mais agressivas e guturais que dão um toque genial nas músicas. Para ajuda-lo, Martin pôde contar com a ajuda da voz de Dave Ingram e da voz de Nils K. Rue, dos Pagan’s Mind, que canta no tema “The final odyssey”. Os Iron Fire parece que tomaram vitaminas e otimizaram-se, razões suficientes para lhes darem uma oportunidade de se agarrarem e não vos largarem durante uns tempos. [8.5/10] Victor Hugo


LACUNA COIL «Dark Adrenaline» (Century Media) Depois de terem enveredado por vias mais experimentais com «Shallow Life», os Lacuna Coil pareciam ser mais uma daquelas bandas que se tinham perdido pelo caminho. Felizmente, aos primeiros acordes e teclas de «Dark Adrenaline», os Lacuna Coil que conhecemos estão de volta, com uma proposta consistente, eclética e um álbum bem pesado, encaixando-se perfeitamente no mote através do qual a sua música é conhecida, trazendo de volta tudo aquilo que faz esta banda ser uma das principais do Metal Alternativo. De “Trip the darkness” até “My spirit”, todas as músicas mostram-nos o que os Lacuna Coil fazem de melhor, atingindo um dos dois pontos mais altos em “Give me momething more”, a música que mais se destaca, simplesmente por ser a mais bem conseguida do álbum e catchy, bem como “I don’t believe in tomorrow”, que apresenta o riff mais pesado e feita para o headbanging. A banda de Milão está em forma! De Andrea Ferro a Cristina Scabbia, toda a gente se aplicou afincadamente e partilham quantitativamente as mais valias das doze músicas que compõem esta proposta. Tudo em «Dark Adrenaline» foi cuidadosamente talhado e trabalhado para nos oferecerem um dos melhores álbuns da carreira, até mesmo não acrescentando nada de novo, na sua essência. Eu compreendo que as bandas tenham necessidade de experimentar, mas às vezes, para quê inventar quando a base musical está mais do que aprovada e comprovada. Resta aceitar o reverso da medalha: a dificuldade em trazer algo de novo, brindar-nos com uma lufada de ar fresco. É este o maior pecado de «Dark Adrenaline», mas desde que os Lacuna Coil me presenteiem com propostas destas, eu consigo viver bem com isso. Será que vocês também conseguem? [8/10] Carlos Filipe LAY DOWN ROTTEN «Mask of Malice» (Metal Blade Records) “Forgive me father for I have sinned. It’s been two weeks since my last confession. I’ve lied, I’ve betrayed, I broke my woes. And I’ve killed…”. São assim as primeiras palavras (faladas) que dão início a esta impiedosa brutalidade sonora intitulada «Mask of Malice». Do que tenho ouvido recentemente este é um dos álbuns de Death Metal mais pesados lançados para o mercado. E é bom que quem o comprar se prepare para sobreviver à sonoridade explosiva que sairá da aparelhagem que poderá ou não aguentar a pujança dos sons debitados. Acho que se no nosso imaginário há o bem e o mal, este álbum transforma o mal algo cem vezes pior do que o que a nossa imaginação consegue produzir. Mas o conjunto de dez temas não se limita a despejar riffs e ritmos de qualquer maneira só a contribuir para a vertente peso. Nota-se claramente que houve a presença de algum brilhantismo nas composições, mas isto não é à primeira audição que se interioriza. À medida que os temas se vão sucedendo, acabamos por ter uma nova ideia, um novo conceito apesar de a base assentar em Death clássico. A renovação de sons pesados é constante. No final, a produção está ao nível do melhor que se ouve por aí, as guitarras dinâmicas e claro pesadas, bem pesadas, os ritmos todos eles pertinentes e a voz simplesmente gutural e demoníaca. Dentro do género é do melhor que tem surgido. Por isso quem procura ouvir um álbum ultra pesado tem aqui certamente algo com que se entreter. Porém fica a faltar o componente “disco que cola aos ouvidos” que neste caso ainda é bastante. [8.5/10] Sérgio Teixeira NAPALM DEATH «Utilitarian» (Century Media) Os mais do que consagrados Napalm Death estão de volta. E para os que após 30 anos continuam à espera do álbum em que eles decidem começar a usar bengalas e ir ao médico para ir buscar comprimidos para o reumatismo, bem podem continuar a esperar sentados. Acho que é impressionante a maneira como continuam a fazer Grindcore / Death Metal como se estivessem acabados de sair do serviço militar obrigatório. E ainda por cima inovam como se pode constatar pela introdução desta feita de trompete no tema Everyday Pox. De resto não se poderá dizer muito mais. É uma das bandas com mais agressividade sonora que


dentro daquilo a que os Napalm habituaram os seus fãs com dinâmicas vivas e electrizantes. Julgo também que pode ser apontado um senão ao álbum, que é o facto de chegar-se a meio dos 16 temas e começar-se a entrar na fase do ‘vira o disco e toca o mesmo’. Cada tema acaba por ser curto, com duração em média de 3 minutos, não deixando espaço para se interiorizar os riffs e ritmos que aparecem incessantemente. Ora, ao chegar a meio do álbum já estamos tão bombardeados com mísseis sónicos que já não sabemos se o disco começou do início ou se ainda falta muito para acabar. Porém é natural que quem tiver mais afinidade com o som dos Napalm, após ouvir o disco algumas vezes comece a encontrar padrões musicais que lentamente se começarão a interiorizar e a apreciar. [7.5/10] Sérgio Teixeira NEMESEA «The Quiet Resistance» (Napalm Records) Jogando num campo já muito batido, o do Metal Feminino, Alternativo Gótico, a banda Holandesa de Manda, ao nível de produção mostra uma clara evolução relativamente aos dois antecessores álbuns, mas já o mesmo não se coloca ao nível da sonoridade, ou melhor da sua música. Os Nemesea estão a seguir as mesmas pisadas dos seus conterrâneos, After Forever, deixando cair cada vez mais a componente sinfónica, para abraçar uma sonoridade mais Pop Metal, ou seja, estão a ser Within Temptationizados. Quanto ao álbum, este consegue balancear a combinação de riffs mais pesados com vaipes de alguma fugaz música sinfónica e muitos acrescentos de pop e influências electrónicas. O conjunto das treze músicas pauta-se por serem bastantes catchies – aquilo que se pode esperar desta banda agora e para o futuro - e cativantes de se ouvirem, onde se destaca a excelente performance da vocalista Manda Ophis. Ela arrebata por completo o álbum, destacando-se veementemente em todos os pontos. Parece que as músicas foram feitas à sua medida e para brilhar – o que acontece. Depois de um intro de 52 segundos com a música título, os Nemesea entram a matar com “Caught in the middle”, a mais sonante, pesada e mais Metal das músicas. Infelizmente, o resto do prisma do Metal, não passa da austeridade, mas se visto do prisma do pop, entra na abundância, culminando em “2012”, música puramente electrónica, a qual nada tem a ver com Metal, nem o Pop Metal! Para completar o álbum temos uma cover dos Rammstein, “Allein”, onde Manda é acompanhada por Heli Reissenweber of Stahlzeit. [5/10] Carlos Filipe NO SKY TODAY «No Sky Today» (Capital City Music Factory) Mais uma banda que chega à VERSUS de gente com talento. No Sky today é o álbum de estreia da banda com o mesmo nome. Os mentores por trás deste projeto são Wayne Findlay (Michael Schenker Group e Slavior) que divide a guitarra e teclas e Paul Jones (Robot Lords of Tokyo) na voz. Na primeira audição NST as harmonias da voz fazem lembrar um pouco Alice in chains. Desde o primeiro tema que se chama, precisamente, “No Sky Today” que o mote fica dado, rock no seu estado mais puro e duro. Guitarras com um som fantástico e com uma das melhores distorções que já ouvi. (Não é por acaso que usa as famosas Dean Guitars, eternizadas por Dimebag Darrell.) Riffs com um groove fantástico e coros que ficam imediatamente na cabeça, basta para isso ouvir “She’s on fire”, “Final Hour”, “Heavy is the debt”, “Another goodbye” ou “Grinder”. O trabalho de produção de Wayne Findlay é notável, apesar do som pesado da guitarra, o som do baixo (Kelly Garni) distingue-se na perfeição e acaba por adicionar mais um “peso” extra. As composições estão a cargo do próprio WF e Paul Jones encarregou-se das letras e harmonias de voz. NST é um excelente álbum de rock bem pesado para ser ouvido com o som bem alto. Entretanto, o line-up sofreu alterações com a substituição da secção rítmica e consta-se que os NST já trabalham no seu sucessor. Se assim for, será um dos álbuns que aguardarei com mais interesse. [9/10] Eduardo Ramalhadeiro


NOCTE OBDUCTA «Verderbnis (Der schnitter kratzt an jeder tür)» (MDD) Apesar de contarem já com oito álbuns gravados e quase vinte anos de carreira, são ainda um nome bastante obscuro na cena black metal europeia. Quem teve a felicidade de descobrir como eu os fantásticos trabalhos mais recentes da banda, nomeadamente o épico «Nektar», publicado em duas partes, em 2004 e 2005, bem como o experimental «Sequenzen einer Wanderung», poderá ficar agora surpreendido com o aparente retorno às origens protagonizado por este novo álbum. De facto, depois dum interregno que teve o seu início em 2008, a formação alemã decidiu que uma espécie de regresso à fase mais extrema da banda era a forma mais apropriada de assinalar o retorno dos Nocte Obducta. Vai daí que convidaram uma série de ex-membros e, num espaço de cerca de um ano, gravaram «Verderbnis», um trabalho que recupera deliberadamente uma parte da sonoridade passada, misturando-a com alguns traços da sofisticação avantgarde mais recente (especialmente notórios no tema “Obsidian zu pechstein”) juntamente com uma vasta gama de influências que vão desde a crueza básica do punk (patente, por exemplo, em “Niemals gelebt”) até às referências aos post-tudo-e-mais-alguma-coisa. O resultado é, inevitavelmente, um álbum mais directo, com temas mais breves, e que faz até um certo sentido como álbum de recomeço para os Nocte Obducta. Contudo, o que é pena é que este é também um registo criativamente inferior àquilo a que a banda germânica nos habituou, e que tem, além disso, pouco de interessante para oferecer no contexto actual da música extrema. [6.5/10] Ernesto Martins ORANGE GOBLIN «A Eulogy for the Damned» (Candlelight Records) Guardiães zelosos dos pergaminhos fundamentais do doom metal sabathiano, os Orange Goblin são, a par de outras formações emblemáticas como os Kyuss e os Electric Wizard, uma daquelas bandas para quem a essência do heavy metal se resume a uma certa sonoridade vintage e a uma atitude que liga rebeldia a um fascínio indisfarçável pelo místico. Lançado oficialmente (e orgulhosamente) no mesmo dia do calendário em que os Black Sabbath publicaram, em 1970, o seu álbum de estreia, «A Eulogy for the Damned» é um disco onde a assinatura stoner do colectivo londrino – plena de vocalizações roucas e riffs potentes e groovy – aparece marcada por ritmos mais puxados ao meio-tempo, com uma desenvoltura mais rock’n’roll ao estilo duns Motorhead. As super catchy “Stand for something” e “The filthy & the few” sobressaem de imediato como as faixas mais irresistíveis, constituindo hits de rádio garantidos se a oportunidade lhes for concedida. Mas o termo ‘stoner’ não reflecte com rigor o que a banda apresenta neste sétimo registo de estúdio. Por exemplo, a deliciosa “Save me from myself” remete para um hard rock mais light e bluesy, que traz de imediato à memória colectivos lendários como Bad Company ou Lynyrd Skynyrd. Já o tema-título do álbum – o melhor aqui em oferta – apresenta uma refrescante digressão muito 70s através dum riff principal que tem tudo a ver com Led Zeppelin ou Thin Lizzy. É exactamente esta capacidade de beber de várias fontes, aliada a uma habilidade criativa que nos deixa sempre a agitar alguma parte do corpo, que faz deste um trabalho a não perder. [8/10] Ernesto Martins SERPENTIA «The Day in the Year of Candles» (Recession Records/Fantom Media) Os Serpentia são uma banda polaca que nasceu em 1996 em Cracóvia. Passaram por um hiato de sete anos sem editar nenhum álbum novo aparecendo em 2011 com o seu recente trabalho intitulado «The Day in the Year of Candles». Este álbum é uma interessante história que começa quando Deus desaparece de forma misteriosa do paraíso e o arcanjo Gabriel declara o paraíso como uma república, decisão esta que despoletou uma guerra carregada de traição e conspiração no paraíso, no inferno e na terra. “Pain” (dor) é a palavra mais repetida ao longo das várias músicas, sendo o sentimento mais notório de uma guerra que mesmo sendo “divina” não passou incólume a este sentimento. Os Serpentia cortam um pouco com a sonoridade do passado, apresentam-nos um death metal melódico com atmosferas progressivas de grande qualidade, a voz do Ivy muito interessante capaz ela só por si só causar “Pain” e muito bem guardada pelo seu baixo, a bateria do Phoenix e a guitarra do Damian com riffs atraentes e solos cheios


de harmonia e intenção. Os vários instrumentos são coadjuvados com letras fortes com passagens intensas como “Take my anger, take may pain take my sacrifice” o demonstra. Para quem não conhece tem aqui uma bela banda para ouvir e para quem gosta aconselho a apressarem-se a comprar a edição limitada que inclui um DVD o vídeo da música “Procamation of tragedy”, alguns vídeos das gravações e um cover dos Depeche Mode. [9/10] Sérgio Pires SHEAR «Breaking the stillness» (Lifeforce Records) Oriundos da Finlândia e tendo firmado o alinhamento em 2008, Shear é composto por membros de Elenium, Imperanon, Omnium Gatherum, Amoral e Crystal Blaze e praticam uma sonoridade que tem como influências o metal melódico, power-metal sinfónico e rock clássico. O seu debut, «In Solitude», foi editado por conta própria um ano mais tarde, uma pujante revelação para um estilo um tanto saturado pelas incongruências de demasiadas melodias adocicadas. A verdade é que não interessa quem está num agrupamento, nem o estilo que pratica, desde que este transborde de qualidade. Um álbum de estreia pode ter muitos espinhos que não fazem falta, o que se evidencia ainda mais no facto de demonstrar uma aderência particular que não pressupõe originalidade. Shear pode não ser, com este lançamento, uma banda que mudará algum coisa no contexto musical, mas demonstra que tenta singrar um caminho que lhes cativa. A audição deste álbum mostra que este incorre em melancolias a meio gás, aquele sabor a algo doce que, mesmo assim, aperta. Talvez o tempo mude alguma coisa nas suas influências já que os seus instrumentistas são excelentes e certos ritmos e melodias não soariam descabidas em agrupamentos ainda mais pesados. A pérola que enaltece este álbum é a voz de Alexa Leroux que ora soa límpida, ora um tanto mais ríspida e cativa em ambos os aspectos. Talvez mais algum tempo e Shear possa demonstrar que é uma banda à parte de todas as outras que tocam o mesmo género… vezes sem fim. [7.5/10] Jorge Ribeiro de Castro SIGH «In Somniphobia» (Candlelight Records) Não é pedir muito se pedimos que haja alguma luz quando o cenário é tão negro quanto a nossa imaginação abalada pelo medo. Por vezes, até descaímos em gargalhadas quando nos lembramos de que esse terrível sentimento não tinha razão de existir. No entanto, a nossa essência é assim, facilmente atordoada pelas incongruências de quaisquer realidades. Nisso, os japoneses Sigh são mestres… Eles, que nunca tiveram que fazer vénias para agradar a uma legião de mentes fechadas, conspurcando assim a sua criatividade com a infantilidade de criar o que se pede, não o que se deseja! Formados em 1990, já desde cedo elevaram a mais bela ode a traumatismos insanos, agarrando qualquer fronteira, trespassando-a com o despejar de maravilhosas e delirantes ideias e fazendo com que qualquer paisagem não tivesse apenas as cores e os sons a que o cérebro está acostumado. Com esta nona edição, o agrupamento apresenta-nos um pesadelo que revolve por diversos estilos musicais, como se esse fosse um lancinante jardim do qual não queremos nos aproximar. Bem, isso talvez dependa do quão aberto se está ao que é estranho, pois ouvir um álbum que funde de forma tão pouco ortodoxa heavy-metal, música clássica, música tradicional indiana, Stockhausen e Xenakis não é para todos. Aliás, se estivermos sempre a fincar o pé no mesmo pedaço de terreno, de certeza que este se afundará. É o preço a pagar por não desejar sair da zona de conforto. Só que, por vezes, nos empurram… [9.5/10] Jorge Ribeiro de Castro


SPAWN OF POSSESSION «Incurso» (Relapse Records) Após 6 anos de espera eis que surge a mais recente proposta dos super técnicos Spawn of Possession. Ouvir um trabalho destes tipos é uma experiência fantástica – claro, se gostarem de Death Metal e malhas ultra técnicas carregadas de notas à velocidade da luz. A velocidade é realmente estonteante e a páginas tantas perdemo-nos no meio de tanta complexidade. Mas nem tudo aqui é técnica, porque à medida que ouvimos o álbum vamos notando uma constante, embora ténue, melodia sacada das harmonias das guitarras. Este aspeto dá um brilho a este tipo de música, e faz toda a diferença entre um álbum mau (igualmente ultra técnico e rápido) e um álbum bom. Como devem saber, esta banda está carregada de músicos com créditos firmados: eles ora são dos Deeds of Flesh, ora dos Obscura, ora dos Necrophagist – o que prova ainda mais a categoria destas 9 composições. E de facto ao escutarmos aquelas notas lançadas pelo guitarrista Christian Müenzner lembramo-nos logo de Necrophagist. Mas, nem só de guitarras é feito este «Incurso», e poderemos ouvir um baixo especializado pelos dedos de Erlend Caspersen (Deeds of Flesh), e que é uma maravilha; uma bateria rápida, brutal e sem ser monótona; e uma voz gutural que encaixa na perfeição e que não cansa. Podem ter a certeza que não ficarão indiferentes ao segundo tema, “Where angels go demons follow” – após uma intro ambiental e orquestral – à brutalidade deliciosa de “Servitude of souls”, à mega composição “The evangelist” e mesmo ao inesperado “Apparition” – tema que junta a técnica do Death Metal com estruturas e elementos orquestrais. Fabuloso! [8.5/10] Victor Hugo THE TANGENT «COMM» (Insideout Music) Para quem não sabe e não conhece, em 1996 poucas horas após o lançamento da 1ª versão do codec mp3, pela Fraunhofer, Andy Tillison, líder dos The Tangent, foi o primeiro músico a colocar um mp3 promocional na internet. Foram, também, os primeiros a gravar um álbum entre dois países (Reino Unido e Suécia) mesmo sem os membros se conhecerem pessoalmente. Os The Tangent já andam nestas andanças desde os anos 70 e sempre com uma quase constante mudança de formação – Andy Tillison e Jonathan Barret estão juntos há 25 anos. Apesar destas constantes mudanças os The Tangent sempre conseguiram manter um nível elevado no que ao Rock Progressivo clássico diz respeito. «COMM» demorou 2 anos a ser escrito e gravado. É um álbum que gira sobre o conceito das comunicações – COMMunications. Constituído por 5 temas, “The Wiki Man” é dividido em 6 partes, com soberbos solos e “diálogos” de teclas e piano, intercalados com solos “aveludados” de baixo e um guitarrista que vai dar muito que falar – Luke Machin tem 22 anos e já demonstra ser virtuoso. “The Minds’s eye” é um tema mais rock orientado, grooves fantásticos e mais uma vez, “diálogos” entre guitarra e teclas deliciosos. “Shoot Them Down” um tema a lento a fazer lembrar Pink Floyd, com bonitas harmonias vocais e mais uma vez… Luke Machin! “Tech Support Guy” uma paródia mas que musicalmente é muito rica, sobressaindo o grande trabalho de teclas, com interlúdios de guitarra e até flauta. “Titanic Calls Carpathia”, também, dividido em 6 partes. Talvez o melhor tema do álbum e o mais progressivo. Abertura cinemática, bem orquestrada, o baixo sempre com um som “aveludado”, ouvindo-se na perfeição, “diálogos” instrumentais (flauta, saxofone), mudanças de ritmo perfeitamente interligadas. Técnica e Virtuosismo ao serviço da música. Para ouvir com muita atenção. [9.5/10] Eduardo Ramalhadeiro WOLFEN «Chapter IV» (Pure Steel Records) Mais uma banda de peso vinda de terras Germânicas e que se dedicou ao Power/Thrash Metal. Confesso que nunca fui grande apreciador do género Power Metal mas os Wolfen neste disco conseguiram captar a minha atenção. Não é um álbum do outro mundo, e acaba por não mudar muito a minha opinião que este género dificilmente consegue produzir obrasprimas. Porém está de facto um bom álbum e julgo que acaba por trazer um pouco de originalidade e revestir as composições de alguma roupagem mais oxigenada. Acho que as vocalizações de Andreas von Lipisnki acabam por ser o grande factor diferenciador. Conseguem congregar potência e melodia sem recorrer à embriaguez dos coros que para mim foram sempre a pior


característica do Power Metal; os coros estão lá mas não atingem o limiar da alergia auditiva. De resto temos composições interessantes, bastante vivas, algumas chegando a ficar na memória auditiva e claro power chords para dar e vender. Na bateria não temos do material mais virtuoso que já se ouviu mas Holger Bloempott cumpre os mínimos para dar às composições as dinâmicas rítmicas necessárias. Como seria de esperar da Alemanha a disciplina e método na produção de discos é um conceito presente em 365 dias do ano e «Chapter IV» também não foge à regra. O som está praticamente perfeito a complementar a fluidez das composições. Acho sinceramente que é um bom disco de Power Metal que poderá captar atenção de quem nunca gostou muito do género e que poderá granjear novos adeptos dada a versatilidade presente nas composições e nas vocalizações. [8.5/10] Sérgio Teixeira XANDRIA «Neverworld’s End» (Napalm Records) Ao fim de cinco anos de inactividade, os germânicos Xandria estão de volta numa nova vertente, vertente bem conhecida por todos nós. Sim, essa nova vertente chama-se Nightwish, dos tempos áureos de «Oceanborn» e «Wishmaster». Fruto da inclusão de uma nova vocalista na banda, Manuela Kraller, deixou para trás a sonoridade mais Pop Metal sinfónico – ao estilo de Within Tempation – para enveredar pela vertente Hollywood Symphonic Metal dos Nightwish com Tarja. Ao ouvirmos «Neverworld’s End» não conseguimos dissociar desta comparação que irá assombrar os Xandria nos próximos tempos. No meu entender, não vejo isto como algo pejorativo para os Xandria, antes pelo contrário, um golpe de destreza e visão, ocupando os Xandria um espaço há muito deixado vago pelos Nightwish. Musicalmente, este lançamento de 2012 é bombástico, poderoso, pesado, ao bom estilo Power/Hollywood Metal, com grandes momentos de Metal Sinfónico, brilhantemente executado a todos os níveis, produzido de forma a enaltecer todas estas características e com uma performance vocal ao mais alto nível – que por vezes até nos faz lembrar a Tarja! Não há um único momento decepcionante aqui, onde tudo foi puxado para o máximo, composto e arranjado com mestria, para arrebatar o ouvinte, desde os primeiros acordes. “Soulcrusher”, “The dream is still alive”, “Valentine” ou “A prophecy of worlds to fall” serão certamente futuros clássicos. Este é um álbum para saudosistas que sempre gostaram daquele período finlandês e encontram aqui a possibilidade de serem surpreendidos e arrebatados por este novo período germânico. Ouve-se por aí dizer que há quem prefira estes Xandria aos actuais Nightwish... E não é que até têm razão! Kuningas on kuollut (king is dead), lang lebe der König (long live the king)! [9/10] Carlos Filipe

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KYLESA + CIRCLE TAKES THE SQUARE + KEN MODE Hard Club – Porto 18.01.2012

Três dimensões alternativas Para começar o ano de 2012, o HardClub teve a presença de três bandas provenientes do outro lado do Atlântico. Assim, no dia 18 de Janeiro estiveram presentes na Sala 2 os Canadianos KEN Mode e os Norte-Americanos Circle Takes The Square e ainda Kylesa que contaram no final com uma assistência de mais de 200 pessoas. O denominador comum da sonoridade foi a presença de distorções e efeitos a decorar a paisagem sonora durante a noite. Mas para começar, entraram os KEN Mode. Já com quatro álbuns, a banda formada pelos irmãos Jesse e Shane Mathewson, encontrou uma plateia ainda a meio gás. Com o decorrer da prestação enérgica e dinâmica, os canadianos foram no entanto gradualmente captando alguma atenção do público. Com uma atuação de cerca de 40 minutos despejaram decibéis de metalcore/noiserock e mostraram uma presença interessante; mas para

Kylesa

uma banda já com quatro álbuns seria de esperar um pouco mais de afinidade com a plateia. O vocalista e guitarrista Jesse Mathewson deixou tudo o que tinha em palco, mas o ambiente ainda despovoado não deu para muito mais. Foi portanto uma atuação razoável a abrir a noite. De seguida, perto das 22h, entraram em palco os Circle Takes The Square. Os sons resultantes da fusão de múltiplas vertentes heavy/rock/punk colocam a banda em palco com uma tonalidade mais linear e eléctrica mas incomum, o que permite agradar tanto aos mais interessados pela vertente puramente técnica e de composição, como aos que do lado da plateia simplesmente estavam lá para se divertir e desfrutar do espetáculo. Apesar de sonoramente um pouco menos intensos do que os KEN Mode foram bem acolhidos pela assistência que continuava a chegar. Isso notou-se pelo cada vez maior entusiasmo do público a partir de “Way of ever-branching paths” até ao final da atuação de cerca de 45 minutos com “Our need to bleed”. Bom, mas os cabeça de cartaz Kylesa foram, como era esperado, quem cativou o público e de facto marcaram a noite com doses intensas de sludge metal. Com Laura Pleasants e Phlipp Cope nas guitarras eléctricas e vozes,

acompanhados por Eric Hernandez no baixo e, factor diferenciador, dois bateristas; ou um baterista e um percussionista, como queiram, o que é certo é que a percussão entregue a dois executantes - Carl McGinley e Tyler Newberry - que percorriam os trilhos rítmicos praticamente em sincronismo e sem qualquer falha, transportaram a sonoridade para uma cadência bem heavy. Este é um factor a destacar porque nos álbuns não é fácil percecionar estes detalhes da percussão mas é garantido que ao vivo funciona, e de que maneira! Não é fácil destacar momentos específicos da atuação que valeu pelo conjunto de treze temas tocados e em que o público foi aderindo em crescendo ao som emanado do palco; mas as últimas três ou quatro músicas da noite conseguiram gerar o auge da expansividade do público. Com muito mosh e head-banging na assistência os Kylesa deixaram o palco depois de pouco mais de uma hora de atuação com a certeza de que se tivessem tocado toda a discografia teriam tido a atenção incondicional até ao último minuto dos que se deslocaram ao Hard Club para mais uma excelente noite de música pesada. Reportagem e fotos: Sérgio Teixeira


Circle Takes The Square

Ken Mode

SETLIST: Circle Takes The Square

1. Same Shade As Concrete 2. Crowquill 3. Enter By The Narrow Gates 4. Spirit Narrative 5. Way Of Ever-Branching Paths 6. In The Nervous Light Of Sunday 7. Prefaced By The Signal Fires 8. Our Need To Bleed

Kylesa

1. Said And Done 2. Only One 3. Tired Climb 4. To Forget 5. Bottom Line 6. Forsaken 7. (Drum Jam) 8. Don’t Look Back 9. Distance Closing In 10. Unknown Awareness 11. Hollow Severer 12. Scapegoat 13. Running Red 14. Where The Horizon Unfolds


Defying Control + Amor Terror + Motim Bar do Estudante – Aveiro 10.02.2012 Voxwithoutwear A VOXFootwear, decidiu levar a cabo em Portugal a sua primeira Tournée musical, da qual, vai percorrer o país de Norte à Sul. Neste último fim de semana (10 de Fevereiro), foi a vez de Aveiro. Este tipo de evento, como esperado, iria chamar algum público mas isso não foi o que realmente aconteceu. A ausência, ou mesmo, a falta de adesão por parte do público Aveirense serviu bem para termos um reflexo do “underground” da cidade. Nem a oferta/sorteio de diversos brindes patrocinados pela marca serviu para chamar o público alvo (skaters e desportistas no geral). O evento não teve uma adesão positiva pela parte do público Aveirense, que é pena, pois as duas entidades organizadoras da casa (MYO Productions e BleedingHeart) não falham em iniciativas para dinamizar a nossa cidade com diversos concertos. Quanto a performance das bandas, no geral, foi boa. A banda da “casa”, ou seja, de Aveiro (Motim) abriu a noite com um repertório pesado, mas que não serviu para aquecer o pouco público presente, que se manteve assim durante a noite. Este cenário tem vindo a ser típico das noites underground de Aveiro: quando o público é pouco as pessoas parecem ficar “presas” com medo de soltarem, apesar de haver excepções. Consequentemente a banda também se acanhou. A segunda banda (Amor Terror), primeira representante da VOX, apresentou um repertório sólido e fez uma boa demonstração de punk rock/pop punk em português. Chegou, por fim, a vez dos Defying Crontrol, que fecharam o evento com o seu punk rock/ pop punk que fez jus a bandas como Fonzie, Borderline, Sum 41 ou até mesmo, Blink 182. Com a boa prestação das três bandas, o único defeito deste evento, como já foi referido, foi a falta de aderência do público Aveirense que não se mostrou muito “open-minded”. Com isto, parabéns as três bandas e as entidades organizadoras do evento. Até à próxima! Reportagem: Paulo Fernandes Fotografia: Vanessa Ribeiro

Defying Control

Amor Terror

Motim


ALCEST + LES DISCRETS + SOROR DOLOROSA Hard Club – Porto 14.02.2012

“Ménage à trois” atmosférico Era dia de S.Valentim , uma noite que chamava os amantes da música a sair à rua. Neste caso o amor aconteceu no Hard Club no Porto, com a chegada ao nosso país dos Alcest, que vieram para apresentar o lançamento do recente álbum «Les Voyages de l’Âme» . A abrir o evento, entraram em palco pelas 22h00, a banda de Toulose Soror Dolorosa. Com um EP de 2009, «Severance» e um primeiro e único álbum, «Blind Scenes», lançado em Fevereiro do ano passado, a banda apresentou um som com sabor de nostalgia, com influências dos The Cure ou Bauhaus, muito diferente do que se esperava para um cartaz deste género mas mesmo assim a fazê-los cumprir eficazmente o papel de anfitriões. Seguiram-se os Les Discrets, banda de Lyon onde pontifica Fursy Teyssier, guitarrista, vocalista e ilustrador, e o baterista Winterhalter (também dos Alcest). Para este evento o grupo con-

Alcest

tou com a ajuda de Neige (Alcest) na guitarra-baixo e de Zero (Alcest live) na guitarra e nas vozes de apoio. A banda trouxe temas como “L’échappée”, “Les feuilles de l’olivier” e “Song for mountains”, tendo explorado particularmente o novo álbum. Um dos pontos altos do concerto foi o do tema “Gas in veins”, dos Amesouers, banda que reunia Neige, Fursy e Winterhalter. A banda esteve à altura das expectativas visto que ao vivo existe sempre uma qualidade diferente do que é esperado em estúdio. Fursy despediu-se com um “esperamos voltar a ver-nos em breve”, agradecendo imenso a prestação do público, sem deixar de referir que acharam a cidade invicta muito bonita e que adoraram a gastronomia. Para finalizar, e com os pés em outra dimensão, seguiram-se os esperados Alcest, banda oriunda de Avignon, liderada pelo guitarrista e vocalista Neige, que inclui Winterhalter na bateria e cuja formação ao vivo se completou com Indria no baixo e Zero na guitarra e nas vozes de apoio. Com três álbuns na bagagem, sendo este um evento de apresentação do mais recente álbum «Les Voyages de l’Âme», os Alcest distinguem-se pela sua originalidade posicionando-se entre o rock mais atmosférico e o black metal, expressando um mundo de

Alcest

fantasia, que leva a alma a sonhar e dito isto, menos não seria de esperar, numa sala calorosamente cheia que se encontrava em sintonia com cada acorde e batida desta banda. Foi um espectáculo emocional, deixando uma vibração de total harmonia e amor no ar neste dia de S. Valentim. Resta-nos aguardar pela próxima visita destes fantásticos músicos ao nosso país. Reportagem e fotos: Paulo Martins e Victor Hugo

SETLIST: Alcest

1 Autre temps 2 Là où naissent les couleurs nouvelles 3 Les Iris 4 Les Voyages de l’âme 5 Printemps émeraude 6 Écailles de lune (Part I) 7 Sur l’océan couleur de fer 8 Ciel errant 9 Percées de lumière Encore: 10 Souvenirs d’un autre monde 11 Summer’s Glory

Les Discrets


Les Discrets

TARJA+BENIGHTED SOUL+HANNIBAL

Aula Magna – lisboa 15.02.2012 A Diva do Metal Desde que saiu dos Nightwish e abraçou uma promissora e cada vez mais segura carreira a solo, os fãs portugueses de Tarja Turunen ansiavam pela sua vinda a Portugal. Inserida na tournée final europeia de suporte ao álbum «What Lies Beneath», felizmente para todos nós, tal anseio tornou-se realidade este mês de Fevereiro de 2012, tendo sido a Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa o seu palco – não poderia ter sido escolhida melhor sala. Com os doutorais esgotados há meses e apenas uns escassos lugares por ocupar no anfiteatro, a primeira banda de suporte a entrar em acção foram os gregos Hannibal, com Alex Balakakis na liderança, tentaram aquecer as poucas hostes que já tinham entrado na sala e ir presenteando os demais que não iam parando de entrar à medida

Soror Dolorosa

que o tempo passava. Em seguida, foi a vez dos franceses Benighted Soul, que actuaram já com a Aula Magna praticamente completa, cheios de energia e garra, num estilo mais próximo da banda principal, mas que foram amplamente prejudicados na performance pelo fraquíssimo som do PA, que aniquilava a música por completo. Valeu o esforço. Por volta das 22h10, pontualíssimos, as luzes apagaram-se, a música de entrada começou a ecoar na sala, com os membros da banda de Tarja a entrar um a um. Primeiro, Max Lilja (ex-Apocalypica) com o seu “cello”, depois o teclista Christian Kretschmar seguido pelo baterista Mike Terrana (Masterplan, Savage Circus, ex-Rage, ex-Malmsteen). Momentos depois surgiu, quer o baixista Kevin Chown, quer o guitarrista Alex Scholpp, faltando apenas a entrada da diva, razão da presença de todos os que se encontravam aí. No crescendo final da música de entrada, Tarja entrou com um resplandecente e elegante vestido preto e a Aula Magna veio literalmente abaixo. A loucura foi total, a histeria feminina assombrante pela presença da diva do Metal, Tarja Turunen. A música de ataque, “Ante-

room of death” colocou logo o tom no concerto que se seguiu e ficará marcado para sempre na memória dos que ali estiveram presentes. Antes de “My little lies”, Tarja expressou um genuíno sentimento de felicidade no seu agradecimento, num excelente Português “Boa noite Lisboa, estou feliz por estar aqui pela primeira vez, muito obrigada”. Seguiu-se “I walk alone”, cantada de fio-a-pavio com a bandeira nacional na mão - o que é para mim, a imagem desde concerto o espectáculo ia de crescendo em crescendo, com uma performance fortíssima e magistral de todos os membros da banda e mostrando Tarja a todos, a sua magnífica voz e grande atitude metálica a todos. Neste capítulo, Tarja não deixou os seus créditos por mãos alheias e entregou uma exibição magistral – o som também ajudou desde o início, já que estava perfeito. Sempre puxando pelo público seguiu-se “Dark star” até praticamente todos os membros da banda saírem e sermos presenteados com o solo poderosíssimo da bateria de Mike “The Beast” Terrana, o que também serviu para Tarja mudar de indumentária, algo que já nós habituámos de outras para-


gens. Antes de o set list prosseguir, os músicos da banda tocaram um pesado e singular instrumental que serviu de introdução para “Little lies”. Seguiram-se “Underneath” e “Neno” dos Nightwish - única música tocada da ex-banda - antes do maior momento desta grande noite de metal, o set acústico, onde podemos assistir à presença de Tarja nos teclados com “I feel imortal”, canção que com “River of lust”, “Minor heaven”, “Montanas de silencio” e “Sing for me” compuseram este particular set acústico. “Cirian’s well” e “In for a kill” fecharam o set list, deixando-nos todos à espera de mais, evidentemente do encore. Aos primeiros acordes de “Phantom of the opera” o público vibrou exuberantemente e Tarja, agora vestida de branco, espalhou até às últimas cadeiras da Aula Magna, lá bem em cima, todo o seu potencial vocal na vertente de soprano, acompanhada de Alex Balakakis, cantando em dueto esta tão emblemática música. O encore ficou completo com “Die alive” e “Until my last breath”, a música perfeita para fechar este memorável concerto. Ficou a promessa nas palavras de Tarja, do regresso a Portugal com um futuro trabalho, e confidenciou que até poderia ser antes num contexto mais erudito. Reportagem: Carlos Filipe Fotografia: Sérgio Santos

Tarja

Benighted Soul

Tarja


Shape + Hard To Deal + The Idyll´s End + Destruction Eve metalpoint – Porto 18.02.2012

Metalpoint + Hardcore = MetalCore? No way! HARDPOINT!! Muita energia e espírito de entrega este sábado (18 de Fevereiro) no Metalpoint (Porto), numa noite maioritariamente de hardcore. Até se ouviu alguns a dizer que este local já não tinha uma casa tão composta há já algum tempo. Os concertos fluíram bem, as bandas tiveram um boa atitude e conseguiram interagir com o público, que este, respondeu de corpo e alma. A primeira banda, Destruction Eve, abriu a noite com o seu punk hardcore. Apesar de alguns covers (Mais Uma

Shape

Queda, Minor Threat…), o público, não se soltou muito. Talvez, pelo estilo da banda estar um bocado deslocado em relação ao das outras bandas do cartaz, ou por simplesmente por se estarem a guardar para o que viria a seguir. Mesmo assim, alguns ainda se apoderaram dos micros para ajudar a performance desta banda jovem. De seguida, os The Idyll’s End, que com duas actuações até à data, conseguiram captar a essência do hardcore moderno. A adesão foi imediata, quase mecânica, e ninguém ficou indiferente com a prestação da banda. Riffs ricos e trabalhados, conseguiram, assim, defender bem “a camisola”. Entre saltos e suor ainda conseguiram mandar “uma dica” sobre o respeito e espírito de entre-ajuda entre bandas, dedicando o seu último tema (Blood Brothers) a todos os presentes. Uma banda recente que se encontra de parabéns pelo espectáculo que ofereceram ao público do metalpoint. A terceira banda, os lisboetas, Hard

to Deal, pegaram então nas rédeas, de maneira eficaz, o público continuou a aderir. A banda deu o “litro” logo de inicio: o que resultou bastante bem. E, apesar de a meio do concerto o próprio vocalista afirmar que estava com a garganta “lixada” continuaram com uma óptima prestação. Chegou, por fim, a vez, dos também lisboetas, Shape. Que pode afirmarse que “arrebentaram” com a noite. Sempre com grande power, de início ao fim, uma excelente interacção com o publico, souberam meter a mexer os poucos que ainda estavam acanhados no canto da sala. Quem não os conhecia renderam-se, e quem já os conhecia estiveram sempre em êxtase. O evento foi um sucesso, há poucos (ou mesmo nenhuns) pontos negativos a apontar. Um bom convívio e performances de qualidade. Até à próxima! Reportagem: Paulo Fernandes Fotografia: Vanessa Ribeiro


Hard to Deal

The Idyll’s End

The Idyll’s End

Destruction Eve


s i a c i s u m s e õ x e l f e r

dico

Viver para o Metal Neste mês de março comemoro os primeiros 30 anos enquanto fã de Metal. Três décadas. Uma vida. Ficou-me gravado para sempre na memória o dia em que o meu irmão trouxe para casa o então recém-editado “The Number of the Beast”, dos Iron Maiden. Estávamos em março de 1982. Tinha eu apenas 11 anos. Aquele álbum mudou radical e automaticamente a minha vida, introduzindo-me a um género musical para mim desconhecido. À época, os Duran Duran eram a minha banda favorita, mas por influência da família lembro-me de aos 7 anos já ouvir extasiado o clássico «Bohemian Rhapsody», dos Queen (o primeiríssimo tema hard rock a invadir-me os tímpanos). No entanto, foi o grupo de Steve Harris que me deu a conhecer todo um novo e maravilhoso universo. Desde então a música tem-me acompanhado de forma permanente, nos melhores e nos piores momentos da minha vida. Seja enquanto fã, músico, letrista, compositor, jornalista, crítico, divulgador, estudioso, leitor ou cronista, ao longo destas três décadas o Metal tem sido o meu refúgio, a minha casa. Temme dado forças quando delas necessito e conferindo ainda maior intensidade aos momentos de júbilo. Só estar com a família me realiza mais do que ouvir música, ver um concerto ou escrever um texto sobre Metal. Pensar, ler, refletir, investigar ou escrever sobre música é para mim a catarse ideal. Nunca me limitei a ouvir música ou a ver um espetáculo. Não faz sentido. Necessito de mais, muito mais. Preciso de conhecer as origens do estilo, a sua história e desenvolvimento, os subgéneros, as biografias dos músicos e das bandas. Metal não é apenas música. É cultura, é um estilo de vida que só quem o ama consegue entendê-lo. E eu amo o Metal. Por isso mesmo também o critico, dando o meu contributo para o seu desenvolvimento. É isso que se espera de um fã genuíno, não anuir acriticamente a tudo. Tal não é amar nem respeitar o Som Eterno.

O Metal preenche-me e reflete-se em todas as áreas da minha vida. Chamem-me “mente fechada” mas ainda hoje constitui 99% da música que oiço. À parte o Som Sagrado apenas escuto, raramente, alguma Música Clássica e três ou quatro grupos de Rock. Foi a música pesada que sempre me apelou totalmente aos sentidos. É algo intrínseco, visceral. Mais do que paixão ou um estilo de vida é amor puro. O Som Eterno tem-me proporcionado alguns dos mais intensos momentos da minha vida: quando ouvi discos marcantes pela primeira vez, quando adquiri o meu primeiro vinil (Peace of Mind, dos Iron Maiden, em outubro de 1983), quando endoutrinei amigos para o Metal, quando assisti ao meu primeiro concerto (Iron Maiden com os W.A.S.P. a 5 de dezembro de 1986), quando vi inúmeros outros ídolos ao vivo, quando adquiri a minha primeira bateria, quando me estreei ao vivo, quando gravei a primeira demotape, quando me estreei na TV, quando dei a primeira entrevista, quando li a primeira notícia no jornal sobre uma banda minha, quando dei o meu primeiro autógrafo, quando obtive autógrafos de alguns ídolos, quando a minha bateria foi ouvida pela primeira vez em vinil, quando lancei um álbum, quando o meu texto inaugural sobre música foi publicado, quando realizei o sonho de escrever para a “Riff ”, quando abri o meu primeiro blogue ou quando terceiros manifestam o seu respeito pelas minhas realizações no Metal. É nestes momentos de significado inestimável que agradeço ao género tudo o que me deu e vai continuar a dar. Por mais sacrifícios (voluntários) que já tenha feito por ele (e foram vários) nunca poderei compensá-lo pelo que ele me tem proporcionado. Conferiu-me uma personalidade, um estilo de vida, uma forma profunda de sentir e apreciar cada dia. Nada supera tal feito. Nas diversas facetas supra referidas, desde a execução musical à escrita especializada, desde cedo que o Underground em concreto se revelou especialmente apaixonante aos meus olhos. Para alguém que, como eu, sempre gostou de enveredar pelo caminho mais árduo, os princípios do Underground e do espírito do it yourself, com as dificuldades e sacrifícios inerentes, encaixaram instantaneamente na minha personalidade. A luta insanável para formar um grupo e mantê-lo unido, encontrar uma sala de ensaios, gravar uma demotape ou manter uma webzine apresenta em si mesma algo de apaixonante, desafiador mas também romântico. São experiências riquíssimas, que guardo para sempre com imenso carinho e que anseio partilhar ainda mais profundamente com o meu filho quando ele tiver idade para entender melhor estes conceitos. E são histórias magníficas para, daqui a muitos anos, contar aos meus futuros netos! Dico

Texto escrito ao abrigo do novo Acordo ortográfico


São nossas as músicas dos outros O termo cover é algo que já estamos habituados a ouvir nos dias de hoje, mas a verdade é que é uma prática com tantos anos quanto a comercialização de música. Mas então o que é um cover ou versão? Utilizando o termo português daqui em diante, uma versão é nada mais que uma nova interpretação de uma música partindo de um outro ponto de vista. É mais comum ver e ouvir bandas em começo de vida a interpretar músicas já conhecidas da população, como forma quer de encher tempo nas atuações ao vivo quer de ganhar alguma prática nos palcos e poder cair nas graças do público, afinal de contas há que começar em algum lado! No entanto, também não é incomum ouvir versões feitas por bandas que tenham já a sua história e legiões de fãs, estas normalmente interpretam músicas de artistas que as influenciaram a fazer música e podem ser consideradas como uma visita às raízes e ao porquê de fazer o que se faz. O facto de haver versões de músicas já existentes deve ser tomado como um ponto positivo e não negativo, deve ser visto como uma vista de olhos num baú cheio de pó e trazer novamente cá para fora as relíquias que se encontram com uma pequena pitada de uma essência diferente. Muitos poderão não pensar da mesma forma, mas se for para fazer uma versão que em nada difere da original mais vale não mexer uma palheta, e aí não se tratará de versões mas sim de réplicas ou imitações que nada acrescentam ao mundo da música nem adicionam pontos de vista alternativos à música em questão. No entanto o facto de tentar dar uma nova vida a uma música nem sempre dá certo e por vez-

es saem para o mundo dos vivos as maiores aberrações feitas pelo homem. Mas repare-se que o contrário também acontece, e acontece de tal forma que em certos casos as versões adaptadas e interpretadas por outros artistas são mais (re) conhecidas que as originais (exemplo disso é a versão de Jimi Hendrix da música “All Along The Watchtower”, original de Bob Dylan), e tal não tem que ser considerado um mau aspeto pois um ouvinte curioso irá decerto procurar a versão original e assim descobrir um artista que talvez não conhecesse anteriormente. Outro dos pontos positivos na criação de versões é a migração entre géneros, que muitas vezes leva a versão a ser considerada uma paródia bem conseguida ou apenas uma grande piada de mau gosto (note-se a versão de Children Of Bodom a “Oops I Did It Again”, original de Britney Spears). Talvez estas duas situações aconteçam mais nos mundos do Metal e do Punk que “pedem emprestadas” músicas ao mundo do Pop e lhes dão a volta por completo. Para além da mudança de género das diferentes versões de uma única música, é ainda comum modificar um pouco a melodia e até mesmo a letra, consoante a intenção dos artistas. Com isto em mente temos várias bandas cujo todo trabalho é à base de versões (como por exemplo Ten Masked Men ou Me First And The Gimme Gimmes) e ainda séries de álbuns compilatórios (sendo “Punk Goes…” uma das mais antigas e conhecidas). Como forma de apanhado, uma versão pode ser considerada um tributo, positivo ou negativo, ao artista original demonstrando assim a importância e o impacto que o seu trabalho tem nos artistas musicais e no mundo da música em geral. Daniel Guerreiro


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