Versus Magazine #27 Agosto/Setembro 2013

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Depois do atraso sem precedentes que esta edição sofreu – e do qual pedimos desde já aos leitores as nossas sinceras desculpas – só nos resta esperar que o que vos trazemos neste número #27 da VERSUS Magazine seja compensação suficiente para a vossa paciente espera. Estou certo que sim! Senão vejamos: entre as várias bandas em entrevista, temos desta vez um trio imbatível: os lendários Death SS, os deathsters de culto Gorguts e o incontornável Dan Swano que nos falou do seu novo projecto Witherscape (banda de capa). Além de outros nomes sonantes como os Autumnblaze e os vanguardistas Vulture Industries, continuamos a apostar na diversificação de conteúdos, incluindo nesta edição entrevistas com Salvo Rubio, autor do livro “Metal Extremo: 30 Años de Oscuridad”, e com o artista gráfico britânico Chadwick St. John que ornamentou muitos dos discos que aqui temos vindo a falar. O 30º aniversário desse marco absoluto da história do thrash metal, intitulado «Kill’em All», também não nos passou ao lado, sendo aqui alvo de uma justa homenagem. Mas há muito mais!... O melhor mesmo é passar às leituras sem mais delongas. Da nossa parte ficamos, como sempre, à espera do vosso feedback. Contactem-nos através da nossa página do facebook.

Ernesto Martins


O mestre do som revela-se


Dan Swanö é um músico de renome e engenheiro de som do universo do Metal. O seu nome, aliado a qualquer banda é sinónimo de qualidade. Depois de no final dos anos 90 ter tentado um projecto a solo de Death Metal progressivo, os Moontower, Dan, regressa 14 anos depois com Witherscape e o álbum de estreia: «The Inheritance». O novo projecto corre na mesma veia do anterior, mantendo-se no mesmo género, congregando muito daquilo que tem feito na definição do som de bandas reconhecidas e logo à partida apresenta-nos um trabalho que se coloca imediatamente na primeira linha do Metal Europeu. A herança de Dan Swanö, contada em primeira mão à VERSUS Magazine, pelo próprio, revela-nos tudo sobre o novo projecto, com um olhar esclarecedor sobre a sua carreira. Há vários anos que tens vindo a planear este projecto. Quando é que decidiste avançar e quais foram os maiores entraves que tiveste desde então até ao lançamento pelo Century Media? Dan Swanö: Tinha o desejo de criar algo musicalmente brutal desde que a opção de me tornar parte dos Bloodbath me foi roubada. De qualquer forma, nunca tinha conseguido ter qualquer música completa, a não ser alguns riffs. Quando comecei a falar com o Ragnar sobre “fazermos um projecto juntos”, logo de início, decidi utilizar um tunning mais profundo com guitarras barítonas [NR: guitarras com uma escala mais longa] e ir na normalíssima direcção de um som Death Metal para Witherscape. Mas, passado pouco tempo, esta abordagem não parecia estar a inspirar-me o suficiente para eu “rastejar” para fora da minha “caverna” de composição. Uma vez definidas as regras para o “Normal E Tunning das guitarras” sem concessões, bateria à Death Metal com partes rápidas e blast beats, os growls e voz limpa deveriam ser tratadas de forma equitativa, tal como, a parte limpa pode cantar um coro e a parte gutural o segundo coro (tal como em «Astrid falls»), as coisas começaram a acontecer e eu regressei ao meu “espírito criativo ”, do qual já sentia falta há algum tempo. Durante bastante tempo, eu e a Century Media discutimos os termos da nossa cooperação, mas como não tinha ainda nada de concreto para apresentar, tentei sempre evitar ter qualquer compromisso contractual, não obstante as conversações entre nós nunca terem parado, nomeadamente no que se referia á “da altura certa”. Depois de ouvirmos a pré-produção do álbum, acordámos lançar os Witherscape e senti-me seguro para assinar um contrato. E este contrato é para aquilo que eu fizer musicalmente, no seio da Century Media ou em alguma das suas subeditoras.

O Dan já tinha iniciado em 1999 um projecto a solo, os Moontower, igualmente na vertente Death Metal progressivo. Quanto distante ou próximo está este projecto de 1999 do actual projecto de 2013? Porquê 14 anos de distância entre os dois projectos e o que te manteve longe de vir mais cedo com os Witherscape? Bem, Witherscape está longe de ser um projecto a solo, pelo que só tenho um verdadeiro álbum a solo (a não ser que contes os 1ºs dos Nightingale, o qual é igualmente um álbum do tipo “eu toco tudo”). Há bastante dos Moontower nos Winterscape, simplesmente por causa da minha bateria/gowlings e da afinação das guitarras estar no E normal a E tunning. Além do mais, eu toco os teclados da mesma forma com o meu Moog-ish. Moontower é como o filme Seven, não há qualquer forma de se fazer um segundo tão bom como o primeiro. Moontower foi um estado de espírito e um momento no tempo que congelei, e, revisitá-lo é impossível. Witherscape é o mais próximo possível que se consegue neste mesmo estilo. Eu até posso lançar outro álbum com o meu nome mas até esse não soará nada como os Moontower. Qual é a tua percepção sobre o resultado final de «The Inheritance»? Sinto-me de uma certa forma quando uma música funciona tal como eu a escrevi. Sempre que componho uma canção, tenho sempre um certo feeling sobre ela, e tens de ter esse feeling sobre tudo o que tu fazes. Fiz tanta mistura e aprovei todos os masters, que neste ponto, normalmente eu não suportaria mais o álbum. Não, por anos! Mas, neste presente álbum, continuo a sentir que o consigo ouvir outra vez agora mesmo. Eu sabia, que a única forma de fazer um verdadeiro regresso seria se estivesse 5


“… Tinha o desejo de criar algo m que a opção de me tornar parte dos

100% por detrás da música. A diversidade musical de «The Inheritance» é bastante densa e consegue-se aqui e ali distinguir algumas das influências, principalmente de bandas com as quais trabalhaste no passado, por exemplo Opeth ou Ayreon. Quanto importante foi para a música dos Witherscape estas influências? Há alguns momentos Opeth no álbum, isto é tido como certo, há também o mindset de um tipo como o Arjen [Lucassen – Ayreon, Star One, Guilt Machine...], o qual foi uma grande inspiração. Não vale a pena fazer as coisas com meias-medidas. Está lá tudo. Porquê Death Metal progressivo? O que te atrai neste género particular? Simplesmente achomais fácil de conseguir acertar melhorneste género. Desde 2004 que tenho vindo a tentar obter a perfeição com o “soft pomp rock” dos 6

Second Sky e ainda não o consegui. Acho que tenho mais conhecimentos na criação desta música do que outros em outros géneros, por isso, decidi revisitala! Porquê Witherscape para o nome da banda? Qual é a história por detrás do nome? Nós não conseguimos achar nenhum nome bom que já não tivesse sido utilizado. Por isso, no final da nossa busca, disse apenas para o Ragnar ir procurar palavras fixes de que nós gostássemos e tentar juntálas... No final surgiu as palavras “wither” [Murchar] e “scape” [Escapar] e apenas para termos um nome composto, chamamo-lo: “Witherscape”. E colou! «The Inheritance» é um projecto com bastante qualidade, não fosse ele um projecto do Dan Swanö. Quais são as tuas expectativas? A minha primeira expectativa foi de no final gostar! E gosto! Depois, foi que a editora gostasse, e eles


musicalmente brutal desde Bloodbath me foi roubada.”

gostaram, que as críticas sejam boas e mais tarde, que os fãs também gostem... E eles parecem gostar! Até agora tivemos várias críticas boas e as reacções no geral têm sido muito positivas... Fantástico! Como foi surgir com o som dos Witherscape? Em termos do feeling geral, eu estava a ir em diferentes direcções. Cheguei a um ponto em que senti que o álbum estava a ser completamente sobre produzido, do género de esconder tudo com overdubs, reverbs e delays. Perdi o fio à meada porque tinha em mente que o álbum devia ser épico! Lembro-me um dia, estar sentado na bateria enquanto trabalhávamos o disco e de pensar “Isto é épico!”. Afinal, nós tínhamos o som dos Witherscape logo desde o início, era apenas um caso de permitir que a música respirasse e fosse para onde quisesse ir. O Dan assina todas as vocalizações. As mesmas soam excelentemente e vão ao encontro da quali-

dade da música. Porque o fizeste assim (e não por exemplo na forma Ayreon com múltiplos vocalistas convidados) e quanto difícil foi para ti este papel? Obrigado!!! Eu estou bastante satisfeito como acabou por sair. Tinha algumas ideias para utilizar diferentes vocalistas ao longo das várias músicas, mas depois apercebi-me e entendi, que queria saber de antemão como todas as partes soavam com a voz, pelo que, decidi ficar com a parte vocal. No fim, havia algumas secções com as quais não achava que os meus growls combinavam com aquilo que tinha em mente, pelo que, deixei o Paul, Morten e Eddie fazer o que quisessem nessas partes. Witherscape é uma banda de dois homens, o Dan e o Rganar. Como foi trabalhar com o Ragnar Widerberg e quanto profundo foi a sua contribuição na escrita musical e definição do vosso som? 7


“... Moontower é como o filme Seven, não há qualquer forma de se fazer um segundo tão bom como o primeiro. “ Ragnar escreveu cerca de metade dos riffs em todas as músicas excepto «Dead for a Day» e pequenas partes de piano em «The Inheritance». Por isso, a sua influência está em todo o lado. Mas certamente, há alguns riffs dele que poderiam bem ter sidos meus igualmente, a não ser que não tivéssemos gostado. Trabalhar com o Ragnar foi uma lufada de ar fresco. O homem é tão talentoso que mete medo! Eu sou um picuinhas com o tempo e afinação das coisas, e ele sobreviveu a isso com grande sucesso! Como foi o processo de desenvolvimento com o Ragnar Widerberg? Uma das coisas surpreendentes sobre esta banda foi que nós ensaiámos imenso as canções. Eram dois adultos, na sala de ensaio, com os seus cafés e sandes, todo o equipamento musical e ensaiar o material horas e horas. Gravávamos tudo, levávamos para casa, ouvia-mos o e escolhíamos as partes das músicas que mais nos agradavam. Depois de concluídos os ensaios e de estarmos satisfeitos com as canções, fizemos uma pré-produção à grande escala. Porque é que as letras foram escritas pelo Paul Kuhr dos Novembers Doom? Tínhamos definido o conceito dos dois episódios passados numa aldeia remota da Suécia no final do século 19 e verificámos que eu nunca conseguiria escrever as letras. Então, pus-me em contacto com o meu amigo Paul Kuhr dos Novembers Doom, isto porque eu misturei todos os seus discos, e, porque sabia que ele era um excelente escritor de letras de músicas e que ele acredita naquilo que faz, o qual é importante quando lhe damos 8 músicas com letras a partir do nada com a qual ele tem de fazer corresponder sílaba a sílaba com a história do nosso conceito. E consegui. Ter o teu nome junto com uma banda qualquer é sinónimo de qualidade musical, “Dan Swanö” é um selo de qualidade. Este foi o nome que construíste no seio da indústria de Metal. Há mesmo editoras que colocam um autocolante na capa do álbum da banda a fim de nos dizer que o teu nome esteve envolvido (por exemplo o «Onyx» dos Ava Inferi). Do teu ponto de vista, como é que vês esta distinção do teu trabalho?

É claro que isso é lisonjeiro! Há imensos talentosos engenheiros de som por aí que não são um selling point. Quando fazes da tua paixão/obsessão um meio de subsistência, todas estas coisas ajudam. Todos estes anos a masterizar o som das bandas, quanto longe tu vais a definir o próprio som e música dessas bandas, dando mesmo direcções? Quanto do teu envolvimento afecta o trabalho das outras bandas com as quais estiveste envolvido? As bandas pretendem geralmente o som que lhes dei da última vez, com algumas mudanças ou upgrade. Para novas bandas, peço sempre algumas misturas que eles adorariam com a qual o seu trabalho soasse. Se eles não conseguirem chegar a um consenso sobre pelo menos um bom álbum com bom som, então como é que eles acordariam com o som com o qual estou para lhes dar? Como é que vês a tua carreira no seio da indústria do Metal e qual foi o projecto com o qual ficaste mais satisfeito e o que mais lamentas? A mais satisfatória é o que está para vir! O que lamento mais foi a separação dos Altar. Aquele álbum soa mesmo horrível. Também tenho pena pelos Dark Funeral. A primeira versão do primeiro álbum deveria ter sido bem melhor, mas, eu estava a fazer experiências com o novo equipamento, o qual não soube como lidar com alguns aspectos técnicos e foi uma estupidez... Mas eu aprendi bem a minha lição! Quais são os planos futuros para os WItherscape como banda? Teremos alguma tournée de suporte a «The Inheritance»? Não haverá qualquer tournée. Eu e o Ragz temos a agenda demasiada ocupada para esse tipo de coisas. Poderemos eventualmente participar num ou noutro festival no futuro. Não estou seguro disso ainda. Temos de ensaiar primeiro e ver qual o som que sai ao vivo. Não sou um fã do “ao vivo” e prefiro gravar num estúdio mais do que tocar vivo, mas veremos. Não vejo a necessidade de levar os Witherscape além de um projecto de banda de estúdio, mas, se a procura e ofertas aparecerem, nós poderemos ver isso no próximo ano. Entrevista: Carlos Filipe

SITE OFICIAL www.witherscape.com

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VÍDEO www.youtube.com/watch?v=EwsLxPBknOk


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Uma demanda espiritual

Do Canadá, vêm os Gorguts, uma nova aposta da Season of Mist. Mas, o facto de serem novos na editora não significa que sejam novos na cena metal. Luc Lemay, que fundou a banda em 1989, a deu por terminada em 2005 e a retomou depois, aceitou o repto da Versus e saciou a nossa curiosi10

dade sobre este regresso. As suas respostas revelam a singularidade de Gorguts e deste seu novo álbum – «Colored Sands» –, que se apresenta como uma reflexão sobre acontecimentos políticos ligados a uma demanda espiritual. Afinal, é também este sentimento que anima a banda oriunda do Quebeque.


Gorguts tornou-se conhecida na cena death metal sobretudo depois do lançamento do lendário «Obscura», em 1998. Sabes que há uma banda alemã (muito boa, por sinal) que adotou como nome o título desse vosso álbum? Como te sentes perante esta homenagem? Luc Lemay: Sim, tomei conhecimento desse facto… Fiquei muito lisonjeado. Por acaso, conhecios na Alemanha, quando estávamos em digressão. Um membro da nossa equipa logística tinha tocado com os Obscura e apresentou-nos. São excelentes pessoas e grandes músicos. Por que razão a banda esteve desativada durante tantos anos? Parei a banda durante alguns anos muito simplesmente porque queria fazer coisas diferentes, que também fazem parte da vida. Relembrando o pas-

sado, depois do lançamento de «From Wisdom to Hate» (em 2001), saí de Montreal e fui viver na região do Canadá onde nasci. Em 2002, morreu o Steve MacDonald, o que me afetou profundamente, pelo que decidi afastar-me da música. Estava contente com a carreira da banda, não sentia nenhuma amargura em relação à música, apenas precisava de fazer coisas diferentes. Sempre gostei de trabalhos manuais, por isso resolve dedicar-me à escultura. Rapidamente, adquiri uma boa reputação na região onde vivo e, quando mal olhei, já tinha a minha própria oficina, onde fazia tabuletas para estabelecimentos. A seguir, vieram as encomendas de mobília, pelo que tive de comprar muitas ferramentas. Há dez anos que vivo destes trabalhos. Em 2006, o Steve Hurdle convidou-me para fazer parte dos Negativa e eu aceitei. Em 2008, ele sugeriu-me que se lançasse um álbum para celebrar os 20 anos 11


“O conceito de base do álbum está relacionado com o Tibete, com o facto de o ritual de desenhar um mandala ter despertado a minha atenção. […]” dos Gorguts e assim foi. O resto é história. A formação atual de Gorguts inclui pelo menos dois músicos que são sobretudo conhecidos pela sua relação com bandas de prog/instrumental e não de death metal. Estou a referir-me, obviamente, a Colin Marston e Kevin Hufnagel. Por que decidiste recrutá-los? O seu envolvimento com o metal progressivo pesou na tua decisão? Talvez… A razão principal que me levou a convidálos para fazerem parte de Gorguts foi o facto de os considerar como excelentes compositores e executantes. Sou um grande fã deles, apesar de não serem músicos de death metal típicos. Ouvem uma grande variedade de música e, por conseguinte, trouxeram novas cambiantes, de grande interesse, ao som de Gorguts. És o líder da banda, o único membro que fez parte da sua formação original, o único originário do Quebeque. Parece-te que este último facto é relevante para a identidade de Gorguts? O único facto verdadeiramente relevante é eu ter sido o fundador de Gorguts, em 1989… pelo que sempre soube que direção artística lhe queria dar. Tenho consciência de que o som da banda mudou muito, devido aos diferentes colaboradores que fui tendo ao longo destes anos todos. No entanto, se eu sentisse que alguma ideia apresentada por um membro não estava de acordo com o espírito de Gorguts, na qualidade de líder, tê-la-ia recusado. A que correspondem estas “areias coloridas”? Parecem-me bastante sombrias. O conceito de base do álbum está relacionado com o Tibete, com o facto de o ritual de desenhar um mandala ter despertado a minha atenção. Fiquei completamente fascinado pelo lado visual, pelo significado e pelo processo. A princípio, queria fazer do álbum um relato das várias etapas do processo… mas depois de ler muito sobre esse assunto, descobri que era um tema demasiado complexo e que precisaria de investigar durante uns bons dez anos, antes de saber exatamente do que estava a falar. Por outro lado, também não era minha intenção fazer um álbum que parecesse um “documentário”. Faltava ao álbum uma dimensão narrativa. Por isso, decidi mudar o meu ângulo de abordagem e contar uma história sobre a cultura tibetana. 12

O álbum está dividido em duas partes. A primeira refere-se à beleza, à filosofia e à cultura desse povo. Depois vem o instrumental que se refere à invasão de 1950. As faixas que se seguem mostram que tudo mudou para pior para esse povo. “Le toit du monde” (que significa “O Teto do Mundo”) leva os ouvintes até à área geográfica onde a história se vai desenrolar. Falo da impressionante cordilheira em termos poéticos… “An ocean of wisdom” conta a história da descoberta do décimo quarto Dalai Lama. Fala dos rituais, do lago sagrado Lhamo-Latso (“lago da visão”) e da épica demanda da pessoa em quem teria reencarnado a alma do Dalai Lama. Logo, o “Oceano de bom senso” é precisamente o Dalai Lama. “Forgotten arrows” trata das regras da causalidade. Tudo na vida tem uma razão para acontecer. Fui inspirado por um texto de Matthieu Ricard, um intérprete francês do Dalai Lama. Ele escreveu que todas as ações da nossa vida são como setas que lançámos e que depois esquecemos. Um belo dia, subitamente, elas caem-nos em cima, como os ecos das nossas ações. “Colored sands” fala do processo de desenhar um mandala e da experiência mística que o acompanha, dos peregrinos que caminham durante meses em direção ao lugar onde o ritual se vai desenrolar. Caminham e prostram-se por terra a cada três passos, com o rosto virado para o chão. “Enemies of compassion” é sobre os chineses que invadiram o Tibete e se impuseram perseguindo o povo tibetano. “Ember’s voice” fala do horror que era ver o povo tibetano a imolar-se publicamente em protesto contra a ocupação chinesa. “Absconders” conta a história de um grupo de alpinistas que gravaram cenas do assassinato de tibetanos em fuga para o Nepal, abatidos a tiro por guardas chineses, postados na fronteira. O vosso álbum anterior – «From Wisdom to Hate» – era, sem dúvida, o mais acessível dos vossos lançamentos (se podemos usar esse adjetivo para a música de Gorguts). Que diferenças encontras entre este álbum e esse? Quais são os pontos mais relevantes de «Colored Sands»? Para mim, «Colored Sands» tem a sua própria personalidade, apesar de apresentar todos os ingredientes musicais que é possível encontrar em «Ob-


scura» e «From Wisdom to Hate»… Vejo esses dois álbuns anteriores como as primeiras palavras de uma nova língua que, ao longo do tempo, se vai tornando cada vez mais complexa e refinada. A principal diferença entre eles e «Colored Sands» está relacionada com as estruturas das canções. Demorámos mais tempo para traduzir a nossa mensagem em termos musicais. Os arranjos são mais “orquestrais”, na medida em que cada instrumento tem a sua própria voz, funcionando em contraponto. Tudo isto cria uma paisagem sonora muito rica, muito pormenorizada, muito expressiva. Por outro lado, como compositor, não me vejo a fazer o mesmo álbum duas vezes… O tempo decorrido permitiu-me ver que há coisas em «Obscura» que adoro e outras que não poria no álbum agora. “The battle of Chamdo” é uma faixa muito estranha, singular neste álbum. É a primeira vez que fazes música assim? Por que decidiste incluir nele uma peça musical tão bizarra? Não é a primeira vez que uso esse tipo de instrumental. Em «From Wisdom to Hate», há uma intro – “The quest for equilibrium” que é também uma peça para orquestra de cordas. A única diferença é que, neste álbum, tive músicos reais a tocar, em vez de usar samples e teclados. Essa faixa permite retomar fôlego. Também é uma peça importante do conceito subjacente ao álbum, dado que simboliza a invasão do Tibete pelos chineses em 1950. Foi em Chamdo que os FACEBOOK www.facebook.com/GorgutsOfficial

tibetanos perderam a sua independência. Sempre incluímos instrumentais nos nossos álbuns e, desta vez, eu queria mesmo ter músicos reais a tocar, porque isso confere um sentido dramático ao álbum, dá-lhe emoção, um valor épico. Também afasta do ouvinte toda a instrumentação característica do metal (guitarras, bateria, baixo e vocais). Depois desse instrumental, entramos na segunda parte do álbum, o que confere um grande poder à música. Já tiveste ecos da forma como «Colored Sands» foi acolhido pelos fãs (os antigos e os que podem ter aderido à tua “música torturada” mais recentemente)? Tive reações muito positivas, assim que lançámos os dois singles. As pessoas têm sido muito generosas! Não podia pedir mais! Foram fazendo concertos durante este hiato na vida da banda? Ou decidiram reaparecer de súbito com um álbum poderoso? Vamos começar com os concertos, quando o álbum for lançado em setembro. Com certeza, têm planos para o promover. Que podes dizer-nos sobre este assunto? Passar tanto tempo quanto possível na Estrada. Obrigado pela entrevista. Entrevista: CSA e Ernesto Martins VÍDEO www.youtube.com/watch?v=WGdNFxbCUTE


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Sem papas


s na lĂ­ngua


“O ventre de Lilithu é a fonte de todo o Mal…”


Parece-nos uma boa forma de descrever Joakim Sterner, fundador de Necrophobic e baterista desta banda sueca, que já é veterana nestas andanças. Sempre com o propósito de abrir novos caminhos na cena do death/ black metal, os suecos lançam – a 25 de outubro – o seu sétimo longa duração, significativamente intitulado «Womb of Lilithu». Depois de vinte anos de Necrophobic e de sete álbuns, o que pensas que conseguiste levar a cabo do teu plano inicial? E o que falta fazer? Joakim: Há sempre algo que ficou por fazer. Aliás, se já tivesse feito tudo o que pretendia, punha fim à banda. De momento, como dizes, lançámos sete álbuns e sentimos que contêm música de excelente qualidade. Pessoalmente, penso que não é fácil encontrar uma banda do nosso género que se possa gabar de igual proeza. Há alguma alusão ao Mal no título do vosso último álbum? O ventre de Lilithu é a fonte de todo o Mal… O vosso novo álbum é sinistro, mas, ao mesmo tempo, cheio de melodia e de equilíbrio, de groove. Que relação estabeleces entre a sua estrutura musical e o tema que escolheram para ele? Antes de mais, quero referir que, na minha opinião, a música e as letras de um álbum não podem ser escolhidas de antemão. Nascem de sentimentos e emoções, de experiências que fazemos, da testagem das ideias que vamos tendo. No caso deste longa duração, sabíamos o que procurávamos, o que queríamos criar, mas só o processo que acabo de descrever nos permitiu chegar à música e às letras que nos pareceram adequadas a este álbum fenomenal. Que elementos ajudaram a construir o atual estilo musical de Necrophobic? Ouvi algumas faixas dos vossos álbuns anteriores e dei-me conta de que têm continuado a produzir death-black metal, mas que a vossa interpretação desse género é cada vez mais original. No início da nossa carreira, ouvimos todas as bandas desses “novos géneros”, cuja origem data dos anos 80: speed, thrash, death e black metal. Descobrimos qual desses géneros nos agradava mais, em termos musicais, líricos e de imagem, e começámos a criar o nosso próprio tipo de música. Gostávamos de música com mais melodia do que riffs, mas queríamos que esta fosse tenebrosa e evocasse o Mal e exprimisse forças e poderes obscuros. No que diFACEBOOK www.facebook.com/necrophobic.official

zia respeito às letras, sentíamo-nos mais próximos das bandas satânicas do que das que se ocupavam de temas políticos ou gore. Em termos de imagem, pareceu-nos que o mais adequado ao nosso caso não seria propriamente usar jeans e camisas aos quadrados vermelhos, típicos daquela altura. Apostámos nas calças e blusões de couro, nas camisas pretas, nas botas da tropa e nos cintos de balas. Vi o artwork da capa do vosso álbum nos Metal Archives. Quem o fez? Que relação existe entre a imagem em questão e o conceito subjacente a «Womb of Lilithu»? O artista é Adrien Bousson. Começou por nos enviar um esquisso, elaborado com base nos títulos do álbum e de algumas das suas faixas e numa proposta de artwork que lhe apresentámos, e vimos logo que a sua ideia tinha muito potencial. Como eu também sou um artista gráfico, dei-lhe indicações, para chegarmos a um resultado final capaz de satisfazer plenamente a banda. Trata-se de um retrato de Lilituh. Para saberes exatamente como ele foi criado, terias de espreitar para dentro da cabeça de Adrien. Conheces Portugal? E algumas bandas portuguesas? Já estive aí algumas vezes, com Necrophobic e sozinho. Conheço Moonspell, mas confesso que não ouvi muito a música deles. Li algures que participaste na formação de Dark Funeral. Achas que ainda há afinidades entre Necrophobic e essa banda ou parece-te que seguiram caminhos completamente diferentes? Essa informação não está correta. Nunca tive nada a ver com Dark Funeral. Formei Necrophobic com o David Parland (que morreu tragicamente no início deste ano) e foi ele que formou essa banda, em 1993. Mais tarde, abandonou os Necrophobic para se dedicar exclusivamente a Dark Funeral. Num primeiro momento, fiquei muito magoado com a sua decisão, mas depois esse desagrado passou. Entrevista: CSA VÍDEO www.youtube.com/watch?v=tdUdNDpwGHU

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Ao quarto ch

Ao quarto chamamento a banda de Boston parece que traz à mente “roupa velha” (a.k.a. old school), os Revocation trazem n gar a essência do Thash Metal. Num cenário como este, em que VERSUS Magazine quis saber qual a voz dos Revocation e conv


hamamento

luz do Thrash Metal alguma roupagem nova. Não sendo totalneste álbum novo sonoridades mais modernas, sem com isso larse sentem forças de apoio misturadas com forças de negação, a versou com David Davidson, guitarrista e vocalista da formação.


O vosso álbum novo está aí. Como tem corrido? A promoção tem sido boa? David: O novo álbum tem tido até agora uma excelente promoção. Temos feito montes de entrevistas graças ao «Revocation», e parece que há um buzz muito bom online. Parece que esse buzz produziu efeito, já que o nosso novo álbum mais que dobrou as vendas na primeira semana comparando com o álbum anterior – o que é um acontecimento ao qual estamos muito gratos. Este é o vosso quarto trabalho. Como se sentem em relação a isso? Melhores que nunca? Alguma vez pensaste estar onde estás agora? Todos nós nos sentimos muito apaixonados com o material e sentimo-nos como uma banda. Sim,

bém nos parece ser o mais coerente deles todos. Também posso afirmar que este é o mais técnico e dotado registo que fizemos até ao momento.

fãs; mas também reconheço que alguns dos nossos fãs ouvem-nos simplesmente pela musicalidade das nossas composições – e sintome bem com isso, claro.

Vocês têm um baixista novo, Brett Bamberger. Esta mudança na banda influenciou o trabalho no «Revocation»? Não mudei assim muito o processo de composição, mas o Brett adicionou o seu próprio estilo nas suas partes. Por exemplo, ele adicionou um verdadeiro tapping de morrer na parte de passagem da música “Fracked”, que levou essa parte ao nível seguinte. Brett tem muito talento e utiliza técnicas diferentes. Por isso, incorporar o seu estilo de tocar para o nosso som só enriqueceu ainda mais a nossa música.

Já que retomas a essência do Thrash Metal old school, alguma vez partilhaste o palco com algum dos teus ídolos? Com quais mais bandas gostarias de partilhar o palco? Já tivemos a oportunidade de partilhar o palco com uma data de bandas que eu seguia quando era miúdo. Por exemplo, foi um verdadeiro delírio quando soube que iríamos fazer uma Tour com os Forbidden. Nunca pensei que iria ver os Forbidden ao vivo, quanto mais fazer uma Tour com eles. E eles mostraram-se ser uns tipos altamente – continuo a manter o contacto com o Craig [NR: Craig

“E acho que no fundo da minha mente eu sabia que tínhamos algo de especial com esta banda…” sentimos que estamos mais fortes que nunca. E acho que no fundo da minha mente eu sabia que tínhamos algo de especial com esta banda, mas é de doidos pensar acerca do quanto nos tornámos. Tivemos oportunidade de fazermos digressões com bandas que eu admirava quando era miúdo. Tem sido uma viagem fantástica, até agora. E esperamos continuarmos com esta energia. Porquê o titulo «Revocation» para este álbum? Sentimos que este foi o nosso material maduro até à data, e também tivemos uma mudança no lineup que serviu para fortalecer a banda. Por isso sentimos que seria certeiro o título homónimo. Quais são as maiores diferenças entre o «Revocation» e os últimos álbuns? O «Revocation» é, definitivamente, o mais negro e pesado registo que até ao momento lançámos. Tam22

Que mensagens têm as vossas canções? Têm alguma coisa a dizer aos vossos ouvintes? E aos outros que não ouvem a vossa música, claro. As letras das nossas músicas abordam diferentes mensagens. No nosso novo álbum as letras alcançam temas desde o desdém pelos media, passando pela poluição até a tópicos mais pessoais que passaram pela minha vida. O Metal foi sempre um género musical que nunca teve medo de enfrentar assuntos tabo, ou trazer à luz as injustiças do mundo, e cada vez mais penso que as nossas letras mantêm-se nessa tradição. O mundo em que vivemos hoje está carregado de injustiças, e estamos a enfrentar um futuro muito distópico. As minhas letras são um modo pessoal de desabafar as minhas frustrações, medos e raiva quando me encontro perante a dureza do mundo real em que vivemos. Felizmente as minhas letras ressoam, de algum modo, nos nossos

Locicero, guitarrista], e de vez em quando falamos. Outra banda que nunca pensaria fazer uma Tour foi com os Atheist. Fizemos um punhado de concertos com eles, e vê-los a tocar todas as noites foi de morrer por mais. Sei que os Gorguts lançaram recentemente um álbum, e adoraria fazer uma Tour com eles. Tenho a certeza que seria altamente inspirador. Creio que vocês irão trabalhar mais e mais, e lançar mais álbuns. Já têm algum material, algumas músicas, na garagem? Sim! Estou constantemente a compor e a trabalhar em material novo. Por isso, os nossos fãs não terão de esperar muito tempo pela próxima gravação. Temos toneladas de riffs onde trabalhar. Estou entusiasmado em compor mais brevemente, apesar de o álbum ter acabado de sair. Entrevista: Victor Hugo FACEBOOK www.facebook.com/Revocation


JAMES LABRIE «Impermanent Resonance» (InsideOut Music) James LaBrie sendo o vocalista da mítica banda Norte-Americana Dream Theater tem já uma projeção e reconhecimento notáveis. Na carreira a solo, que eu acompanho desde «Elements of Persuasion» sempre fiquei com a ideia que era uma excelente mistura de várias contribuições a começar obviamente em LaBrie não só na voz mas também na composição, passando pelo virtuosismo e destreza de Marco Sfogli na guitarra ou pelo brilhantismo de Matt Guillory na composição. Mas esta era uma mistura em que as malhas da rede musical resultante estavam ainda um pouco indefinidas, aqui e ali, por uns losangos que transmitiam uma certa insegurança quanto à sua fiabilidade e quanto à solidez do projeto. Pois é, mas os senhores do projeto LaBrie não brincam em serviço e aqui estamos em 2013 com o 3º registo de originais intitulado de «Impermanent Resonance». E desta feita fico mesmo convencido que a malha musical está perfeitamente interlaçada. Obviamente que há quem ache que a voz de LaBrie não é voz ideal ou que o estilo de composição podia ser mais aquilo ou menos aqueloutro. Na minha opinião está perfeito e sinceramente não consigo apontar um defeito. «Impermanent Resonance» é para mim melhor que uma mão cheia de outros álbuns dos Dream Theater, tecnicamente está praticamente ao mesmo nível e é daqueles álbuns que se começa a ouvir na primeira música e só paramos na última. Dotado de uma sonoridade pesada, forte, marcante, mas que respira o suficiente para ser do gosto de um vasto leque de audiências. Recomendo vivamente. [10/10] Sérgio Teixeira

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A ressurreição do horror gótico


Death SS é uma alusão à morte do seu mentor: Steve Sylvester. «Ressurection» é a última peça de Metal na vertente horror gothic metal show desta subestimada banda italiana que já por aqui anda há 35 anos! A fim de nos dar a conhecer melhor este magnânimo projeto e o seu último álbum, que agrega várias variantes do metal, estivemos à conversa com o senhor por detrás do acrónico “SS”, o próprio Steve Sylvester. Death SS é uma banda com 35 anos de existência e somente 8 álbuns em carteira, vários EPs e muitas compilações. Infelizmente, Death SS não é uma destas bandas que toda a gente conhece, que seja um ponto de referência. Porquê os Death SS não conseguiram obter a sua merecida posição e reconhecimento na cena metálica Europeia durante estes anos todos? O nosso caminho foi sempre muito difícil. Conhecemos todo o tipo de obstáculos e impedimentos na obtenção de um bom sucesso. Somo bastantes famosos em Itália mas todos estes anos nunca conseguimos encontrar uma editora que conseguisse de forma séria distribuir os nossos álbuns e lançar a banda além-fronteiras [Itália]. Penso que a principal razão prende-se com o nosso nome “In Death of Steve Sylvester = DEATH SS”, que muitos confundiram como sendo uma provocação nazi. De qualquer forma, o nosso nome sempre circulou no mercado underground e somos a única banda italiana que recebeu dois álbuns tributo por parte de grupos vindos de todas as partes do mundo. «Resurrection» é um passo firme em frente na carreira da banda e por coincidência o primeiro lançamento pela Scarlet Records. Como é que esta nova editora se cruzou convosco? E estarão eles a ir ao encontro das vossas espectativas? No passado, confiámos sempre na nossa editora italiana, a qual fez um óptimo trabalho no país, mas nunca teve poder negocial fora de Itália. Como resultado, os nossos trabalhos tiverem sempre de lutar imenso para estar nas prateleiras das lojas, quer na Europa, quer na

América. Caso contrário, iria sempre parar ao circuito das mail-orders. Desta vez, e graças à sugestão do nosso guitarrista Al DeNoble, que já tinha trabalhado com a editora, decidimos pôr o nosso trabalho nas mãos da Scarlet Records e confiar no seu bom trabalho na distribuição de «Resurrection». Eles são pessoal simpático e estou certo que farão um bom trabalho... Como é que caracterizas os Death SS? Podemos falar de uma banda mais Gótica ou horror, ou ambos? Não gosto de caracterizar a minha música... Actualmente, quando escrevo uma canção, nunca penso no que será seu “estilo”. Muita gente me diz que desde «Do What Thou Wilt» [1997] para a frente, nos tornamos “industriais”. Esta afirmação faz-me sorrir porque, para mim, “Industrial” são artistas como os Throbbin Gristle, Einsturzende Neubaten ou Psychic TV, não propriamente Death SS! Simplesmente, eu apenas sigo o meu gosto na música e a sua melodia, a fim de conseguir algo belo (pelo menos para mim) nas minhas canções. Se alguns pensam que a música de Death SS é “Metal” ou “Gothic”, ou, “Industrial”, “Pop”, “Prog” ou “naquilo que quiseres”, não é a mim que cabe dize-lo. Para simplificar as coisas, apenas dizemos que tocamos “Horror music”. Para mim não há qualquer diferença entre as primeiras composições e as últimas dos Death SS. Vejo-as como sendo uma mesma entidade que cresceu ao longo dos anos. Olhando para trás, como vês estes 35 anos de música dos Death SS? Não consigo interiorizar que já tenha passado tanto tempo! Houve anos verdadeiramente intensos

onde tentei desenvolver a minha veia artística e musical, lutando contra qualquer restrição que existisse (moral, social, racional e estética), e, tentar sempre realizar a minha vontade. O que nos podes dizer acerca das raízes musicais dos Death SS? A banda atravessa quatro décadas de desenvolvimento musical desde o rock dos 70, o Metal dos 80 e todas as fusões de géneros dos 90 e 2000. A raiz musical dos Death SS foi sempre a mesma. Começou com a minha primeira experiência musical enquanto adolescente, onde avidamente ouvia músicas de bandas como os The Sweet, Slade e T.Rex, alternando com os primeiros trabalhos dos Black Sabbath, Black Widow e Uriah Heep. À temática recorrente dos teus álbuns, os filmes de horror e o ocultismo, para «Resurrection», adicionaste uma nova temática: a da BD italiana de sexy-horror dos setenta. Porquê adicionar esta camada temática às duas anteriores? Desde a minha infância, além dos filmes de horror, eu sempre me fascinei pela BD conhecida como “sexy-horror”, sabes, aquele tipo de BD “não aconselhável a crianças”, que circulava em Itália no fim dos 60 e que foi até aos 80. Eles foram definitivamente uma grande fonte de inspiração para a criação da banda. Com «Resurrection» quis celebrar esta minha antiga paixão, fazendo o conceito artístico da capa e do interior do booklet coincidir com o mestre Emanuele Taglietti, o autor das melhores capas destas BDs vintages. Pela primeira vez, o Steve pro25


duziu o álbum sozinho, confiando na experiencia adquirida todo estes anos. Quanto difícil foi produzir este álbum sem uma segunda opinião e quais foram as maiores dificuldades e desafio que teve? Após muitos anos gastos a trabalhar juntamente com vários famosos produtores, tais como, Neil Kernon, David Shiffman ou Sven Conquest, penso que adquiri toda a experiência necessária para produzir o álbum sozinho. Por outro lado, o nosso teclista, Freddy Delirio, é o dono de um fantástico estúdio de gravação, pelo que, fui capaz de trabalhar neste disco sem qualquer pressão, em absoluta tranquilidade e levar o tempo que quisesse. «Resurrection» está repleto de grandes e futuros hinos da banda. “The devil’s graal”, “Dionysus”, “Star in sight” ou “The darkest night”, só para mencionar alguns. Quando compões e a posteriori produzes estas músicas, tens consciência e feeling que está na presença de futuros clássicos? Obrigado pelos elogios! Quando escrevo uma canção, tenho imediatamente em mente como será o resultado final. O mais importante para mim é que cada música saia

“ … Para nas dizemos

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como os Sisters of Mercy ou Bauhaus. Qual é a temática e história por detrás do álbum «Resurrection»? Podemos falar de um álbum conceptual? «Resurrection» não é um álbum conceptual. No entanto, cerca de metade das músicas, contam a minha reelaboração pessoal da filosofia do ocultismo de Aleister Crowley, tal como fiz no álbum anterior «Do What Thou Wilt». O resto das canções são histórias de horror envoltas em si próprias, criadas por mim para bandas sonoras de filmes de horror ou séries de televisão. Para além do que mencionaste anteriormente, quais foram as bandas ou géneros que mais influenciaram a tua música, no que respeita às diferentes texturas musicais facilmente reconhecíveis no álbum? Eu sempre ouvi todo o tipo de música, sem nunca ficar fossilizado num particular género. Obviamente, hard rock e heavy metal foram as minhas principais influências na composição de «Ressurection», mas não te consigo nomear as outras bandas que tiveram igualmente um papel preponderante. Os pontos de refer-

branca para o teu trabalho. Resumindo, estou habituado a compor a minha música de uma forma “cinematográfica”, no sentido de cada música, estar associada a imagens. No reverso da coisa, esta consonância ajuda-me a compor as bandas sonoras. Li algures pretendes desenvolver uma carreira de actor paralelamente aos Death SS. O que nos podes dizer acerca deste teu objectivo? A coisa começou por acaso. Alguns realizadores amigos pediram-me para participar em alguns dos seus filmes de horror e depois, estive envolvido como protagonista de um popular telefilme sobre o rock satânico. Não vou embarcar numa nova carreira como actor profissional, mas se alguém me der o papel no filme certo, eu não recusarei! Quais são os teus planos para um futuro próximo no que diz respeito aos próximos trabalhos, o crescimento da banda e tournées? Será que teremos de esperar outros 4-6 anos para um novo álbum dos Death SS? De momento não quero fazer planos a longo prazo. Veremos como o mundo irá receber este novo trabalho. No entretanto, estamos a

simplificar as coisas, apeque tocamos “Horror music”.

tal e qual como eu quis e que represente aquilo que queria exprimir. Se depois a música se torna num “clássico”, melhor ainda!

ência são sempre aqueles com os quais eu cresci, retrabalhando-os cada um numa forma de desenvolvimento pessoal.

Por falar em “Dionysus”, mas que grande canção! É a minha preferida. Em algumas partes, faz-me lembrar a banda italiana Goblin e a banda sonora do filme “Suspiria”. Reconheces alguma influência dos Goblin nesta música e o que nos podes dizer sobre esta música em particular? Eu conheço bem os Goblin e sou amigo do Claudio Simonetti. No entanto, não penso ter sido influenciado por eles durante a composição de “Dionysus”. Na obstante, penso que a música paga um tributo a um certo tipo de goth-rock de que eu gostava nos 80. Estou a referir-me a grupos

Os Death SS e as bandas sonoras de filmes estão interligados. A tua música no campo do horror metal é bastante cinematográfica. Quanto diferente é de escrever um álbum ou compor para um filme? Penso que a maior diferença reside no facto de quando escreves para um filme tens de necessariamente adaptar a tua música ao argumento do mesmo. O teu som tem de seguir a imagem, palmo a palmo, a fim de engrandecer o impacto emocional no espectador. Além disto, a relação com o realizador é muito importante, dado que ele tem de confiar em ti e dar-te carta-

planear criar um novo espectáculo ao vivo, que eu espero nos leves ao máximo de lugar possíveis! Entrevista: Carlos Filipe SITE OFICIAL www.deathss.com Death SS - THE DARKEST NIGHT de «Ressurection» 2013 www.youtube.com/watch?v=7Y_ ZEpBSSpQ DEATH SS DOCUMENTARY The First Seal of Six www.youtube.com/watch?v=szG MVg6h91Y&feature=share&list= PLIq6-t_QWe7GCugjwDClwmgKvqs7Dayfk



À conquista da torre Esta banda Norueguesa repartiu a sua existência musical em dois percursos. Nos primeiros cinco anos sob o nome de Dead Rose Garden pouca produção musical teve, acabando por mudar em 2003 o nome para Vulture Industries sendo com esta designação que chega ao presente. No mais recente álbum «The Tower» encontramos uma mistura de estilos muito interessante que pode despertar diferentes aceitações, mas que distingue esta banda de entre tudo o que se faz dentro do Metal. Bjørnar E. Nilsen respondeu a algumas questões sobre a banda. 28


realmente convencido que este é o nosso melhor álbum até à data. Considerando que tendencialmente temos muito boas reviews eu não posso imaginar que seja diferente desta vez. Temos mostrado ao vivo as músicas do novo álbum «The Tower» (faixa título) e a composição mais longa feita pela banda até hoje «The Hound». Estes dois temas juntos são representativos do álbum como um todo, e ambos têm sido muito bem recebidos. A Noruega é um país que tem, claramente um lugar relevante na história do metal. Quanto desta cultura metaleira está presente em «The Tower»? Quanto do “outro” lado da cultura popular faz também parte? 8% Norueguesa, 10% “Outra” e 82% de bocados estranhos, extremamente saborosos mas que tendem a lixar completamente o teu sistema digestivo. Eu considero que somos como que revendedores culturais de lixo, pegando em peças que outros descartaram como lixo, transformando-as em algo novo, algo profundo. Às vezes, chegamos mesmo a colocar “chifres” em cima desta mistura. Realmente não nos consideramos como fazendo parte de qualquer tendência. Olhando para o mundo às vezes pergunto-me se eu sou de todo ser humano. É tudo estranho para mim.

O vosso mais recente álbum «The Tower» está já aí ao virar da esquina, qual foi a força motriz que deu a forma estética a este novo trabalho, comparando por exemplo com o trabalho anterior? Bjørnar: Um desejo de criar e um desejo de mudança. Uma profunda necessidade de agarrar o mundo pela base e imprimir-lhe alguma agitação. Eu não gosto de fazer comparações entre os meus filhos. Eles são todos preciosos para mim. Mas este é, naturalmente, melhor. O álbum deve ser lançado no final de setembro, mas quais são as vossas expetativas quanto à receção do mesmo? Já têm informação da crítica da especialidade, etc.? A recetividade de todos os que já ouviram o álbum até agora tem sido extremamente positiva. Estou

«The Tower» é um álbum muito denso, com muita integração de muitos estilos. Foi este um álbum particularmente difícil de compor, ensaiar, gravar e produzir? Nunca é um processo fácil fazer um álbum dos Vulture Industries, mas eu não posso dizer que lutei com um sentimento de o processo estar a ser extremamente difícil. Eu prefiro dizer que trabalho é exigente e meticuloso. Escrever para os Vulture Industries é um processo não linear com ideias musicais e pedaços de música flutuando e chocando uns nos outros. Às vezes, eles corrigem-se uns aos outros, às vezes eles misturam-se e às vezes eles rejeitamse. Às vezes, um conceito é absorvido pelo outro e temos no final uma ideia única. Algumas ideias por vezes nascem demasiado cedo e percorrem um longo caminho para amadurecer. Por exemplo, algumas ideias para músicas que são concebidos nos estágios iniciais da escrita não atingem a idade adulta antes das sessões finais de estúdio. Algumas podem até mesmo ser sujeitas a um aborto tardio, que pode acontecer nos estágios finais da mistura. Esse processo leva tempo e contribui para um fluxo de trabalho um tanto imprevisível. Ainda assim, eu acho que essa maneira de fazer música é uma parte essencial da nossa expressão musical, mudando assim o processo iria mudar o resultado. 29


Tenho a certeza de que já te perguntaram inúmeras vezes de onde vem o nome de «Vulture Industries». No entanto não posso evitar de perguntar também como surgiu este nome? O nome vem de uma história do início do século passado. Num certo lugar na Europa do leste havia uma grande fábrica de produção de munições para a 1ª Guerra Mundial. O diretor da fábrica foi amplamente conhecido por ser um homem frio e cínico, que pouco se importava com os seus empregados e ainda menos para as pessoas em geral. As suas granadas foram comercializadas e conhecidas como sendo as fabricantes de viúvas da Europa, e ele ostentava pouca preocupação com as mortes 30

ou membros mutilados causadas por acidentes de produção. Ele foi ainda conhecido por supostamente molestar os seus empregados e uma vez correu um boato em que ele tinha morto a tiro um dos seus capatazes por este perturbar o seu almoço. Enfim, o homem era muito reservado e constatava-se que vivia dias a fio isolado no seu escritório, apenas tocando um sino esporadicamente para ter refeições entregues por meio de um elevador ligado à cozinha abaixo. Por vezes a sua reclusão estendiase por largos períodos e não era visto por semanas e quando os salários dos trabalhadores estavam por pagar e não havia sinal dele, a preocupação transformou-se em agitação. Aterrorizado pela ideia de


ouviram o sino do interior e toda a gente congelou. Ainda assim a mulher decidida não se intimidou e arrombou a porta do escritório. Quando a porta se abriu um grande fedor nauseabundo emanou da sala, matando logo ali a animação e alvoroço do pessoal. O fedor foi seguido por um grande barulho de dentro da sala, o bater de asas e um terrível grasnido. O barulho terminou abruptamente com o som de vidro partido. Depois de permanecer congelada de terror por alguns minutos a mais corajosa de entre toda a gente ousou entrar no escritório. Lá eles viram uma bandalheira total. Grande parte da sala estava coberta de penas, excrementos de pássaros e cartas de reclamação. Um vento quente veio através de uma janela aberta soprando as penas e pedaços de papel. Na outra parede, preso nos estilhaços de uma janela quebrada, estava entalado o corpo de um abutre a morrer. Por perto, caído sobre a mesa estava o diretor. O seu corpo jazia morto e em decomposição mas em funcionamento rigoroso continuava a embraiagem que acionava a campainha. Em alguns momentos, quando eu ouvi o álbum eu senti que era claramente atmosférico e psicadélico, mas debitado com uma base sonora sempre pesada. Achas que esta é a fórmula da qual deriva a maior parte da sonoridade em Vulture Industries? Eu sou adepto que a nossa expressão musical seja preenchida com contraste e singularidade. Felizmente somos seres ambíguos, por isso criamos principalmente músicas ambíguas. Chamamos a inspiração de todo o lado, mas procuramos dar a cada parte um bom pontapé no sentido de alterar um pouco a forma inicial. Se desenhares um hexágono e colocares Tom Waits, Nick Cave, Devil Doll, Alice Cooper dos anos 70, Mastadon e Screaming Jay Hawkins, em cada esquina, vais ver que nos encontrarás no meio. entrarem no escritório do homem, ninguém ousou entrar para confrontar o homem sobre os salários em falta, então começaram a entregar cartas anónimas de reclamação através da caixa de correio do escritório. Nada de novo aconteceu, mas como disse a cozinheira da fábrica: “O homem está certamente lá, pois ele toca o sino para as refeições e come as melhores partes antes de mandar de volta os pratos sujos.” Quanto mais dias passavam, mais crescia a frustração e, finalmente, a mulher resoluta de um dos trabalhadores irrompeu pela fábrica para confrontar o diretor. Quando ela subiu as escadas em direção ao escritório os outros reuniramse para acompanhar e assim que chegaram à porta,

Temas como “The Dead Won’t Mind” e “A Knife between Us” sugerem uma ligeira abordagem filosófica sobre a condição humana. Concordas? Há algum segredo escondido nas palavras guardadas em “The Tower” que queiras abordar? O álbum é todo construído em torno do conceito do mundo que criamos, e não apenas como uma entidade física, mas também subjetivamente. A imagem simbólica de “The Tower” é como um reflexo da nossa sociedade e as construções que constituem os nossos mundos. É uma imagem de um sistema de construção que parece torto e distorcido ao olhar de longe, mas que se equilibra e se torna mais e mais fascinante à medida que se é atraído por ela. Um exemplo fundamental é a nossa sociedade 31


“A arte é um espelho da alma. A tua vida e quem tu és serão sempre refletidas na tua música” hiper-consumista, um sistema impulsionado pelo sistema bancário de reservas fracionárias, onde o principal método de criar dinheiro novo é através da criação de dívidas. Empréstimos compostos principalmente de dinheiro que os bancos não têm pois só são obrigados a manter em reserva uma fração do dinheiro que eles realmente emprestaram aos consumidores e empresas. Estes empréstimos geram os juros sobre os quais novos empréstimos podem ser criados. Isso gera uma curva de juros compostos em que uma parte cada vez maior da riqueza existente é transferida para as mãos do sistema bancário. Enquanto isso, continuamos presos dentro de uma criatura que come a própria cauda. Uma criatura que é insaciável e insustentável. Uma criatura que poucos compreendem a sua verdadeira dimensão e a em que a maioria está apenas vagamente consciente. Uma criatura que só se preocupa consigo própria e que fica feliz por devorar qualquer recurso que lhe esteja ao alcance de modo a colocar-lhe um dólar em cima, independentemente de qualquer consequência externa. Recentemente, um músico norueguês (Kristian Vikernes) foi preso por alegadamente a preparar um ataque terrorista. Qual é a tua opinião sobre o limite que separa a arte de Metal e os efeitos reais sobre as pessoas, tomando como exemplo, o

caso de K. Vikernes? A arte é um espelho da alma. A tua vida e quem tu és serão sempre refletidas na tua música. Durante o mês de Setembro vocês vão estar em turnê com os Leprous. Já conheces os membros da banda? Já escolheram o set-list para os concertos? Quais são as tuas expectativas para os próximos concertos ao vivo? Einar, o cantor dos Leprous foi na verdade a primeira pessoa a requisitar-nos para concertos fora da nossa cidade natal. Ele estava a organizar um pequeno festival em Notoden juntamente com outros elementos dos Leprous. Eles são pessoas muito agradáveis e uma grande banda, por isso estamos ansiosos por participar na tournée. Também visitaremos países nos quais não atuamos antes e estamos ansiosos para novas experiências. Eu, pelo menos pretendo lutar com o grande urso Russo. Alguma mensagem final para os nossos leitores? Para citar um homem bem mais importante do que eu que infelizmente partiu deste mundo: “Be nice to each other”. Entrevista: Sérgio Teixeira


s i a c i s u m s e õ x e l f re

dico Endoutrinar para o Metal Desde cedo que para mim divulgar o Metal constitui uma missão, quase um propósito de vida. Já aos 13 anos passava longas tardes no meu quarto, acompanhado de amigos e colegas, a quem dava a escutar álbuns dos Saxon, Deep Purple, AC/DC, Scorpions ou Iron Maiden. “Oiçam bem este disco”, afirmava eu, entusiasticamente. O sentimento que transmitia nas palavras era genuíno e contagiante. Assim como o intenso brilho nos olhos. “E esta música? Já ouviram este ritmo?”. Permanecia neste registo durante horas, a “saltar” de faixa em faixa, a por e a tirar discos do prato, quase sem dar oportunidade aos meus “ouvintes” de se pronunciarem, tal era o entusiasmo que manifestava neste desígnio. Por vezes, quase me engasgava de tanto querer dizer em simultâneo. Ao mesmo tempo, qual guia musical, explicava aos meus “pupilos” a história dessas bandas e curiosidades que lia nas revistas da especialidade. Elogiava as capas dos álbuns, incentivava-os a acompanharem as letras, impressas no inlay, à medida que a música fluía. Dizia-lhes para fecharem os olhos e sentirem a música. Basicamente, ensinava-os a ouvi-la! Mais do que um enorme prazer, falar das minhas bandas favoritas e divulga-las constituía para mim uma necessidade. Fazia-o com enorme paixão. Ansiava que os meus amigos gostassem do mesmo género musical que eu. Assim, mais ou menos conscientemente, iniciei este processo de “endoutrinação” ao fabuloso universo do Metal. Essas tardes repletas de Heavy Metal culminavam comigo a tirar, à so-

capa, cassetes do Trio Odemira, Marco Paulo ou Duo Ouro Negro de uma gaveta do meu pai. Colocava-as no deck da aparelhagem e gravava sobre os registos originais das cassetes os álbuns que os meus amigos haviam eleito para ouvir em casa. Oferecia-lhes as cassetes e deixava-os ir em paz, ainda atordoados pelo manancial de informação. De cada vez que pretendia ouvir música, o meu pai deparava-se com a gaveta progressivamente mais vazia. “Faltam aqui mais cassetes. Onde estão?”, perguntava, cheio de razão, com ar de poucos amigos. “Sei lá, não oiço esse tipo de música”, respondia eu, em tom inocente. Dias mais tarde, o ciclo repetia-se. Tendo plena consciência da minha culpabilidade no desaparecimento das cassetes, o meu pai nunca conseguiu, todavia, prová-la. Através deste esquema introduzi ao Metal vários amigos que ainda hoje são fãs. Eles, por seu lado, também “angariaram” novos headbangers, num ciclo interminável. Ainda bem. Hoje, o meu contributo para a divulgação do Som Eterno é distinto. Mais abrangente, metódico, rigoroso e mediático mas sempre, sempre apaixonado. Como da primeira vez. Dico www.dicobrevehistoriadometalportugue.weebly.com dicopt@yahoo.com

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Olá, para começar parabéns pelo novo álbum. Como está a ser recebido? Tor Oddmund: Obrigado! Temos recebido bastantes opiniões positivas. «Coal» é bem diferente daquilo que fizemos, então, estávamos um pouco na dúvida sobre o que as pessoas iriam pensar. Parece que estão, realmente, a gostar, se bem que há sempre alguém que nos pede um Bilateral #2. Tendo ouvido algumas vezes «Coal» e «Bilateral» (Review feita na edição #15 da Versus (9/10)) acho difícil de escolher “o melhor” ou pelo menos o meu favorito. Há sempre um, certo? Acho «Bilateral» mais “cru” mas mais melódico e «Coal» um pouco mais refinado mas com uma atmosfera mais negra. Concordas? Qual dos dois é o teu favorito? As pessoas terão sempre os seus favoritos. Esta é uma das coisas boas na música. É o que torna possível todos este géneros musicais «Coal» é de longe o meu favorito. Penso que será assim para a maior parte das bandas... gostarem no álbum recém-lançado. Apren34

Negros com

Após o aclamado «Bilateral» «Coal». Ao contrário do que «Coal» não é uma continuaç diferente, mais negro e pesad Tor Oddmund que nos falou


mo carvão

» os Leprous voltaram com muita gente estava à espera ão de estilo nem conceito. É do. Estivemos à conversa com essa dicotomia e muito mais.

demos muito sobre composição na realização de «Coal» e penso que progredimos muito desde «Bilateral» Penso que será ideia geral que «Bilateral» foi/é um grande álbum. Quão duro foi para vocês sentaremse e compor o seu sucessor sabendo que seria uma árdua tarefa e “difícil de bater”? Bem, nós na realidade não pensamos nisso. Em primeiro lugar, se vais para os ensaios com isso em mente será sempre um obstáculo para o processo criativo. Queremos sentir-nos livres quando fazemos música e não criar de qualquer maneira um Bilateral # 2. Qual seria a diversão nisso? Em segundo lugar, esforçamo-nos sempre por fazer cada álbum melhor que o anterior. Se achas que o teu melhor trabalho está no passado, então, nunca poderás pensar em fazer coisas maiores. Você apenas tem que confiar em si mesmo e sua musicalidade e vá em frente! Ainda és a mesma pessoa e, provavelmente, já aprendeste muito desde a última vez, então, não há realmente nada no 35


teu caminho. Exceto tu próprio. :) Na última vez que vocês estiveram em Portugal fiz uma reportagem fotográfica para a VERSUS e notei que vocês usavam duas guitarras de 8 cordas. Para mim foi a primeira vez que vi uma banda fazer tal coisa em palco. Ainda usam esta configuração em «Coal»? No que diz respeito ao estúdio e aos concertos a produção é muito diferentes do que as usais 6 cordas? Sim, ainda tocamos com essa configuração. No entanto, só o fazemos em alguns temas: “Chronic”, “Coal” e “Contaminate Me” Tocar com guitarras de 8 cordas é bastante diferente. Elas são mesmo guitarras de metal, não dão para fazer outra coisa. Eles realmente são guitarras metálicas e não pode fazer outra coisa (um pequeno revés) Então, terás que ser um pouco cauteloso naquilo que elas podem ou não fazer. Nas cordas mais grossas (graves) não podes, na realidade, fazer acordes. Então, notas simples (ou oitavas) é o que resulta melhor. Isto soa muito porreiro e é, basicamente, a sua principal função, sonoridade profunda e negra para riffs pesados. Mas como disse, na realidade não usámos muito as 8 cordas na gravação de «Coal». As guitarras que temos não são as melhores, e desta vez usámos uma Danelectro barítono downtuned. É barata, mas os pickups nessa guitarra dão-lhe um som distorcido e bem potente.

Algo que é comum aos dois álbuns é a vossa energia, Lembro-me do vosso concerto no Hard Club e não paro de pensar na vossa energia e entrega, o headbanging do Einar enquanto tocava o sintetizador e o resto de vocês no palco. Vi no vosso sítio que nos vêm visitar no dia 1 de Novembro, podem confirmar esta data? Vamos ter mais desta energia? Oh yeah! Vamos voltar como banda de suporte na tourneé europeia. Serão à volta de 40 concertos e estaremos no Hard Club, tal como disseste, no dia 1 de Novembro. Estamos muito empolgados e ansiosos por começar. Irás ver, certamente, mais desta energia. Gostamos muito de tocar ao vivo e que o publico passe um bom tempo. Algum material de «Coal» está uns tons abaixo do que foi feito em «Bilateral» mas será de certeza algo para toda a gente ouvir. Algo que me tem chamado a atenção desde há muito é o artwork feito por Jeff Jordan. A capa está verdadeiramente espetacular mas muito diferente de «Bilateral» esta muito mais surreal. Porquê esta mudança? Será esta a interpretação de Jeff da música em «Coal» ou foi vossa a ideia de mudar o estilo? Para nós foi uma evolução natural. Fazer uma capa para «Coal» que se assemelhasse à de «Bilateral» não faria sentido se ouvissem a música. «Coal» é mais

“Queremos sentir-nos livres quando fazemos música e não criar de qualquer maneira um Bilateral #2” Um bom exemplo é o fim de “Coal”. As 8 cordas são boas para se tocar quando te habituares mas são terríveis para tocar o que foi originalmente composto para as 6 cordas. É um pouco confuso! Fora isso, a troca faz-se sem problemas. “Contaminate me” é um dos melhores temas no álbum e conta com um convidado especial. Contanos mais um pouco sobre o tema e como foi voltar a trabalhar com essa grande personalidade do Black Metal chamada Ihsahn. É, sem dúvida, o tema mais pesado do álbum. Afasta-se um pouco dos outros pela vocalização extrema e contribuição do Ihsahn. Há nela muita energia e penso que é um excelente complemento para todas as outras faixas. A dinâmica também é muito interessante, porque na realidade tem dois pontos altos: Um no meio do tema e outro no fim. Como sempre, foi divertido trabalhar com Vegard e de facto fez um excelente trabalho. Mesmo o que estávamos à procura. Queríamos algo mais extremo e desesperado do que a voz de Einar e podemos dizer que aquele final soa bem desesperado. 36

maduro e settled e uma capa escura, como aquela que temos encaixa perfeitamente no conceito do álbum e na nossa mudança de estilo. Nós só demos o conceito inicial, mas é dele o resultado final. Trabalhou na capa durante muito tempo e acho que foi muito frustrante para ele. (risos) Desenhar aquilo só com um lápis é muito difícil mas o resultado final acabou por ser muito bom! O trabalho no interior (presume que tenha sido feito por Ritxi Ostáriz) terá o mesmo estilo que a capa? O artwork para o interior é feito por Ritxi e é puro design, muito minimalista. Queríamos algo escuro e simples, para ser coerente com a música. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro


Rosas e‌ espinhos


Segundo Erik Grawsiö, que está na banda quase desde o início, Månegarm não tem tido vida fácil. Mas isso nunca foi razão para que os “lobos” suecos baixassem os braços. Após um interregno de cinco anos, voltam à carga com um novo álbum – «Legions of the North» –, que deu origem a um percurso complicado, com a partida de membros da banda a meio e traços inovadores, que exigiram grande esforço por parte de quem ficou. Nesta conversa, o vocalista e baixista de Månegarm revela um bom humor invejável e dá largas à sua satisfação pelo resultado final de uma espécie de “travessia do deserto”. Adorei o vosso novo álbum. É muito variado, tal como a própria vida. Erik Grawsiö: Obrigado pelas tuas amáveis palavras! É verdade, este álbum tem muitos ingredientes… tal como a vida. Este álbum é sobre o Ragnarök, como a capa sugere? E por que razão há tanta variedade de sentimentos nas suas músicas, se eventualmente se refere ao fim do mundo tal como é visto na mitologia nórdica? Não pretendíamos fazer um álbum sobre o Ragnarök, não foi esse o tema que escolhemos abordar. Mas compreendo por que razão as pessoas o associam a esse tema, tendo em conta a sua capa e também as letras das canções. Mas penso que cada fã irá ver (e ouvir) este álbum à sua maneira e criar as mais variadas interpretações para ele a ouvir a música e contemplar o respetivo artwork. É isso que faz a magia das artes em geral e da música em particular. A nossa música foi sempre muito variada e este álbum não é uma exceção à nossa regra. Se tivéssemos querido abordar a temática do Ragnarök, talvez o álbum fosse mesmo diferente do que é. Mas, como já referi, não é esse o seu tema central. De que tratam as letras do album? Quem as escreveu? O Jonas [Almquist, guitarrista da banda] e eu escrevemos todas as letras, exceto a de “Raadh”, que é da autoria do Jakob [Hallegren, baterista da banda]. Tanto quanto me 38

lembro, à partida o tema escolhido era a morte, vista de diferentes perspetivas. Portanto, as letras falam da guerra e da morte, tendo como pano de fundo a mitologia nórdica. Algumas letras são mais fáceis de compreender do que outras. Por exemplo, “Fallen” fala de um guerreiro ferido, que agoniza no campo de batalha, sozinho com os seus derradeiros pensamentos… penso que é essa a interpretação mais direta dessa música. Mas podemos também vê-la como uma metáfora sobre os momentos negros da nossa vida, aqueles em que quase não conseguimos respirar, porque o desgosto pelas perdas sofridas é insuportável. E cada um sabe que derrotas sofreu ao longo da sua vida. Por que têm letras em inglês e sueco? Será por que vos pareceu que, sendo as duas línguas diferentes, cada uma delas seria mais adequada a esta ou àquela faixa do álbum? A principal razão para o uso do Inglês prende-se com as grandes mudanças que Månegarm sofreu. Pierre (o nosso antigo baixista e habitual autor das nossas letras) abandonou a banda precisamente quando estávamos a começar a compor este álbum. No ano passado, o nosso violinista – Janne – também saiu da banda, mas isso é outra história. O Pierre preferia escrever em sueco. Como ele saiu, eu e o Jonas decidimos escrever as letras para este álbum e preferimos fazê-lo em inglês. Já quase no fim, o Jonas quis escrever uma

longa letra para “Rhada” e preferiu usar o sueco. Penso que, de futuro, será ele o autor das letras de Månegarm, que voltarão a ser exclusivamente escritas em sueco. De qualquer modo, estamos à vontade nas duas línguas e, no que diz respeito às letras, o que nos preocupa é que elas combinem com a música e transmitam a mensagem da história a ela associada. Penso que isso acontece neste álbum. Quem compôs a música para «Legions of the North»? É obscura, mas, ao mesmo tempo, cheia de groove. Estou a pensar, por exemplo, em “Hordes of Hel” e na faixa que se lhe segue. O Jonas e eu escrevemos a música para todas as faixas, à exceção de “Arise” e “Forged in fire”, que foram compostas pelo Markus [Andé, o outro guitarrista] e por mim. “Hordes of Hel” e a faixa a seguir (“Tor hjälpe”) são bastante diferentes das outras músicas do álbum. Isto É Månegarm. Fazemos música muito variada e misturamos muitos estilos, mas, no fim, soa sempre a… Månegarm. “Hordes of Hel” tem, de facto, um groove poderoso. Se te disser que a minha banda favorita é Motörhead, vais compreender que, subjacente a essa canção, está “Orgasmatron”. A esta segue-se “Tor hjälpe”, uma faixa muito mais áspera e primitiva. Este álbum tem belos momentos de percussão. Estava a pensar na primeira faixa, por exemplo. Por que pediram esse esforço suple-


mentar ao vosso baterista? Ele tem de trabalhar para merecer o que lhe pagamos. Hehe! No início, tínhamos pensado em usar cordas e melodias, mas depois o Markus sugeriu este efeito de percussão sedutor. Mas ele não percebe nada de bateria e, portanto, o Jakob teve que se desembaraçar para o tocar. Para a passagem que combina baixo e bateria, tivemos de recorrer a uma solução radical… ir buscar o nosso antigo baterista: EU. Essa passagem, (que combina baixo e instrumentos de percussão) foi gravada na cave do Markus, para ficar com aquela ressonância especial. A tua voz destaca-se pela aspereza, num fundo musical muito dinâmico e quase eufórico. Era esse o efeito que queriam produzir? Sim, e, desta vez, fui mesmo ÁSPERO, podes crer! Tive graves problemas vocais durante todo o tempo que demorei a gravar as minhas partes. Foi um trabalho muito duro. Tive de fazer esse trabalho com muita calma, para não dar cabo da minha voz, e só conseguia gravar uma ou duas canções por semana. Estou muito contente com o resultado final, mas foi mesmo um grande desafio. Para dizer a verdade, houve momentos em que pensei que não ia conseguir

chegar ao fim. Canto em estilos variados, desde o black/death metal até esta “voz áspera”. Há mesmo canções e partes de canções em que uso também voz limpa. Gosto da mistura de todas estes tipos de vocais, desde que a prestação vocal esteja adequada à música em questão. Portanto, se for melhor preciso grunhir, vamos a isso. Mas, se for preferível uma voz áspera, rouca, é assim que canto. Quem convidaram para participar neste álbum? O Martin Björklund tocou violino e saiu-se maravilhosamente bem. A bela voz feminina pertence à Stina Engelbrecht, uma grande autora/intérprete de música folclórica. A vossa banda combina uma mão cheia de influências. Que bandas vos têm inspirado? É difícil dizer, porque tenho ido buscar as minhas influências a todos os tipos de música e a tudo o que acontece na minha vida. No que diz respeito estritamente à cena metal, posso referir Running Wild, AC/DC, Motörhead, Deep Purple e são apenas algumas das minhas bandas favoritas. Sentem-se Vikings? Os vossos antepassados são um mito para o resto da Europa e Portugal não

constitui exceção. Até temos uma banda de Viking metal que dá pelo nome de Gwydion. Considero a mitologia nórdica e a era Viking da nossa história verdadeiramente fascinantes, mas não me sinto como um deles. Já ouvi falar dos Gwydion, mas ainda não ouvi a música deles. Tenho de me atualizar! Onde vais levar a tua legião para promover este álbum? Vão fazer alguma estadia em Portugal? As legiões vão começar por rumar ao Hörnerfest, na Alemanha, a 20 de junho. Depois, vão seguir para o Sabaton Open Air, em Rockstad:Falun, na Suécia, onde estarão a 17 de agosto. Depois, logo se verá. Para já, não planeamos passar por Portugal, mas ficaríamos contentes, se essa oportunidade surgisse. Nunca visitamos o teu país. Obrigado pela entrevista! Entrevista: CSA SITE OFICIAL www.manegarmsweden.com VÍDEO www.youtube.com/ watch?v=scvh1bfCpoM


AMBERIAN DAWN «Re-Evolution» (Spinefarm Records) «Re-Evolution» é uma compilação dos melhores temas desta banda Finlandesa em que o destaque é o facto de todos os temas terem sido regravados com a nova vocalista Capri. Segundo a banda, esta foi a melhor maneira de apresentarem o novo elemento responsável pelas vocalizações aos fãs e ao público em geral, facto que acaba por ser o ponto de interesse deste álbum. Tirando isso nada de realmente novo se encontra aqui nesta edição. Por vezes parece-me que há um excesso de digitalização no som, e fica-se sem saber o que é realmente tocado em estúdio e o que é exclusivamente software. Poderá ser do interesse de quem tenha descoberto recentemente a banda e queira ter um “best-of” para não esgotar o orçamento no resto da discografia. [7/10] Sérgio Teixeira BARONESS «Live At Maida Vale» (Relapse Records) O meu primeiro contacto com os Baroness não podia ser melhor. Quatro temas gravados para a BBC nos históricos estúdios Maida Vale. Só quatro!?!? Valem por um álbum inteiro até porque ouvindo estes quatro temas vão ficar tão seduzidos e apaixonados que vão ter mesmo que descobrir os restantes. John Baizley dá corpo à voz e já agora, à soberba capa. Stoner/alternative rock melancólico, dinâmico... único. Ouçam o EP e garanto que vão querer devorar e descobrir tudo o que diga respeito aos Baroness. Excelente! [9/10] Eduardo Ramalhadeiro

BEELZEFUZZ «Beelzefuzz» (The Church Within Records) Os Beelzefuzz são um trio de heavy rock tradicional. Em 2013 conseguem “sacar” uma sonoridade muito tradicional dos 70, o que até me agradou de sobremaneira. Dana Ortt é uma mistura de Bruce Dickinson com menos 30 anos e Geof Tate, embora não consiga aquela potência e volume que este dois conseguem empregar. Nota-se isso mesmo nas harmonias dos coiros. À medida que fui ouvindo «Beelzefuzz» foi “entrando” mais no ouvido, no entanto, há algo que nem por isso me agradou: o som de baixo está muito alto e sobressai dos demais instrumentos, provocando um ressoar que por vezes incomoda. Tirando isto está um lançamento bastante interessante. [7.5/10] Eduardo Ramalhadeiro BLACK TUSK «Tend No Wounds» (Relapse Records) Os Black Tusk lançam este EP, não de apresentação mas como um interlúdio entre «Set The Dial» e o que estará para vir. Seis temas num total de vinte minutos de um Southern rock/metal a roçar um pouco o hardcore. «Tend No Wounds» é duro e pesado mas não traz nada de novo. Aprecio muito mais o instrumental que a voz, a fugir já um pouco aos meus gostos pessoais e deslizando para o hardcore. Prefiro de longe o EP dos Baroness. [7/10] Eduardo Ramalhadeiro

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COFFINS «The Fleshland» (Relapse Records) Coffins é uma banda Japonesa de doom-death metal, que tem em «The Fleshland» o seu quarto trabalho. Conseguindo balancear a componente death com a doom perfeitamente, o ponto de interesse deste álbum reside na atmosfera nua e crua da sua música, aliada à voz gutural de Bungo Uchino, proporcionando-nos uma descarga visceral, ora rápida à death, ora lenta e pesada à doom. A passagem de um estilo a outro e vice-versa é realizada de forma bastante sublime e consistente. Os Coffins mostram aqui como cruzar dois estilos de forma eficaz e funcional, mas, sem trazer mais do que isso de novo. [7.5/10] Carlos Filipe

DARKANE «The Sinister Supremacy» (Prosthetic Records) Utilizando um pouco o calão: que JARDA! O quinteto sueco combina Death Metal melódico com um Thrash Metal muito técnico. Os Darkane já vêm desde 1998 mas confesso que foi o primeiro álbum a sério que ouvi, muito por culpa de Peter Wildoer. Peter faz, também, um magnifico trabalho no álbum a solo de James LaBrie – Impermanent Resonance. No entanto, com os Darkane é uma autêntica chuva de trovões enfurecidos, qual fúria de Zeus! A voz de Lawrence Mackrory está mesmo no meu limite, quase a roçar o Metal Core quando mais agressiva. De resto, isto é potência pura e dura! Para ouvir bem alto até a chegada da polícia! [8.5/10] Eduardo Ramalhadeiro

DEAD SAMARITAN «The Only Good Samaritan» (Casket Music) Com duas demos no currículo, os Dead Samaritan presenteiam-nos com o seu primeiro registo oficial. «TOGS» é Thrash/Black melódico com laivos Death. É uma espécie de Arch Enemy, mas com voz mais “Black” e menor quantidade e qualidade de solos de guitarra. Sem grandes variações rítmicas e surpresas, é bom para um bom headbanging, até porque os temas não são longos. Ouvem-se bem, mas é, ainda assim, um tanto genérico e não penso que seja disco de audições repetidas. Melhor evolução aguarda-se. Temas a reter: “Hell if I care” devido ao seu riff rítmico viciante; “Bleeding ground”, com bom speed e variação rítmica a meio; “Thunderbolt”, o tema que me chamou mais a atenção. Boas influências de Overkill e Forbidden e “River runs red”, boas harmonias e solo. Um tema um pouco mais variado. [6.5/10] Joey EXHUMED «Necrocracy» (Relapse Records) Com mais de 20 anos em cima das costas, os norte-americanos Exhumed continuam a sua saga Death/Grind, juntamente com as 27349 bandas semelhantes (e algumas com o mesmo nome). Sem surpresas de maior, as características do género mantêm-se bem vivas: Blastbeats, guitarras afinadas um pouco mais abaixo, mudança de ritmo a meio, bons e viciantes solos e voz gritada “à Metalcore”, alternada com a típica vocalização Death. Destacam-se “Dysmorphic”, com uma boa parte acústica, seguida de solo e “Carrion call”, com o seu registo inicial a fazer lembrar Obituary. A produção é eficaz, sem luxos. Tudo o resto é demasiado semelhante entre si. Não é que seja mau. O problema é que já ouvi demasiadas vezes coisas muito semelhantes. [5.5/10] Joey

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FLOTSAM & JETSAM «My Noise» (Metal Blade Records) São rotulados como uma das mais proeminentes bandas no género Thrash, principalmente, durante os anos 80. «My Noise» marca o retorno à Metal Blade, no entanto, de Thrash não tem nada. Era de esperar mais destes veteranos mas «My Noise» é uma desilusão. O álbum até abre bem com «Ugly Noise» mas a maior parte deles perde-se em... nada. Bom exemplo disso é “Rage”: bom riff a abrir mas com o decorrer do tema acaba por cair na banalidade. Salva-se “To Be Free”. [6/10] Eduardo Ramalhadeiro

HYPOCRISY «End of Disclosure» (Nuclear Blast) Uma das bandas mais influentes no que diz respeito ao Death Metal. Após o lançamento de «Catch 22» os Hypocrisy voltaram-se para um Death mais contemporâneo e «End of Disclosure» não foge a esta regra. No entanto, este revela-nos uns Hypocrisy mais melódicos mantendo, aliás como sempre, uma enorme pujança musical. Peter Tägtgren é um dos produtores mais influentes da senda metaleira e «End of Disclosure», como é óbvio, está um portento sonoro, demasiado até! (Penso que este CD sofre da guerra sonora – “Loudness War” – som muito alto mas com pouca dinâmica). Iremos ouvi-los, muito alto certamente, nos dias 29 e 30 de Setembro, Paradise Garage e Hard Club, respetivamente. [8.5/10] Eduardo Ramalhadeiro KNEEL «Interstice» (edição de autor) Depois dos Kneeldown, Pedro Mau está de regresso, agora a solo, com um trabalho que expande o thrashcore da sua banda anterior com riffs dissonantes, elementos característicos do djent e uma composição ainda mais torcida, mas que teima em não se colar a fórmulas estéticas especificas. Com Mau por detrás de todos os instrumentos (bem como a assinar a composição e a produção), e o convidado Filipe Correia dos Concealment a expelir inconformismo a golpes de laringe, «Interstice» é um trabalho ambicioso que deixa marcas de uma tareia enérgica da qual vamos precisar de algum tempo para recuperar. [7.5/10] Ernesto Martins LORD DYING «Summon the Faithless» (Relapse Records) Álbum de estreia para os americanos Lord Dying, «Summon the Faithless» dá-nos doses de Sludge Metal bem esgalhadas, sem grandes lentidões a quererem cair nos tempos do Doom. Felizmente esta estreia agarra-nos e acorda-nos para a vida, como se fossem duas lambadas na cara, bem dadas. Riffs ríspidos, solos acutilantes, uma voz arranhada – eis o trabalho destes Lord Dying. Soa bem, não? Podem crer que sim. E cheira a garagem com farrapos de Thrash Metal. [7/10] Victor Hugo

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MAEGI «Skies Fall» (Focusion) Maegi é o novo projeto do canadiano Oganalp Canatan. Após trabalhar uma década com os Dreamtone e Neverland, Oganalp decidiu abraçar uma carreira a solo e trabalhar neste projeto power/progressivo. «Skies Fall» conta com uma série de convidados, entre os quais Hansi Kürsch (Blind Guardian), Chris Boltendahl (Grave Digger), Tim “Ripper” Owens (Judas Priest, Iced Earth), Zak Stevens (Savatage, Trans Siberian Orchestra) and Jerry Outlaw (Jon Oliva’s Pain). É um álbum muito bem interpretado e produzido que poderá não passar indiferente. Para ouvir e ter em conta. [8/10] Eduardo Ramalhadeiro

MUMAKIL «Flies Will Starve» (Relapse Records) 24 Musicas em 35 minutos. Estão a ver onde se irão meter? Nem as moscas ficam para contar a história. Num registo a que os Mumakil já nos habituaram, estes 25 momentos são feitos de Grind Core pesado e podre q.b., e tão rápidos que facilmente nos perdemos, tal é a brevidade e a velocidade com que é tocado. Excelente, sem dúvida, a prestação dos músicos. Verdadeiras máquinas! Mas (há sempre um “mas”), «Flies Will Starve», apesar de ser um bombardeiro, é também um registo de mesmidade. Falta-lhe alguma dinâmica e momentos “rewind”. [5/10] Victor Hugo

PAYLOAD «Odissey Dawn» (Shadow Records) Segundo disco, após o EP «Last Action Hero», vários problemas e mudanças de formação depois, estes finlandeses apresentam-nos um disco de Heavy Metal melódico, com uma ou outra ocasional variação mais Hard Rock. Os ritmos são mid-tempo, bem marcados à maneira finlandesa, não entrando muito no território “meloso” e sempre mostrando alguma agressividade q.b. O registo vocal é um tanto monótono, nos registos médios, eficaz, bem cantado, mas sem grandes rasgos. Apesar disso, os últimos 3 temas ganham um certo dinamismo e “rispidez”, o que permite ao álbum sair um pouco da mediania. Destacam-se “War machine” a invocar um pouco da boa herança Dio; “Wounds”, talvez o tema mais interessante, devido ao bom refrão e solo e “Nails”, bem ritmada. Ouve-se bem, sem problemas, mas não considero essencial. [5.5/10] Joey REVOCATION «Revocation» (Relapse Records) Ao quarto lançamento os Revocation apresentam-se com poucas mudanças estruturais na sua música, a não ser um laivo de contemporaneidade a roçar, muito ao de leve, o Metal moderno como o Metal Core. Mas o Thrash Metal old school continua a ser o grande pilar que ajudou a elevar esta banda que, sem sombra de dúvidas merece o merecido destaque. Riffs acutilantes, um baterista incansável e os solos de guitarra no momento certo e sempre bem-vindos. «Revocation» não é um estrondo, mas satisfaz bem. [6.5/10] Victor Hugo

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SAINT VITUS «Die Healing» (Season of Mist) «Die Healing» foi lançado originalmente em 1995 e marcou o fim dos Saint Vitus como banda, até eles se reunirem e gravarem “Lillie-F65” o ano passado. Agora, em 2013, a Season of Mist relançou o álbum remasterizado e melhorado, à semelhança do que fez com o “C.O.D.” (ver review anterior deste vosso escriba). Na época, foi encarado como o canto de cisne perfeito e permitiu aos aficcionados ver o regresso do vocalista original Scott Reagers, tal como o retorno parcial à sonoridade clássica anterior a 92. Assim como à produção mais forte e clara do reissue “C.O.D.”. Não há muito mais a escrever sobre este disco, à excepção de que é um álbum excelente, com o som melhorado, e que não inclui temas extra. Para quem já tem a edição original, não há muitas razões para adquirir a edição remasterizada. A quem ainda não tem, aconselho a comprar, pois não se irão arrepender. [8/10] Joey STARKILL «End of Disclosure» (Nuclear Blast) Mais outra “bujarda”! Álbum de estreia dos teenegers Americanos que fazem uma interessante mistura entre os solos de Children of Bodom, com a brutalidade de Amon Amarth, a rapidez e os blasts beats dos Dragonforce e algumas orquestrações (programadas) à lá Nightwish. Tirando a parte pouco “humana” dos blasts beats, o que na minha opinião lhe confere uma sonoridade muito pouco orgânica, é uma brutalidade de som. Não obstante isto, estes jovens são muito bons tecnicamente e tal como os Lost Society uma banda a ter em conta no futuro. [8/10] Eduardo Ramalhadeiro

UNKIND «Pelon Juuret» (Relapse Records) Hardcore com laivos ambientais negros? Pois, só podiam ser do norte, Finlândia, quero eu dizer. A atmosfera que estes tipos criam é absolutamente viciante. Uma verdadeira droga em forma musical. É impossível ser-se passivo perante esta força, agressividade e inteligência. A música mexe com o ouvinte, e este terá, sem dúvida, alguma coisa para dizer – uma força reactiva para expressar seja de que maneira for. Quando isto acontece, e podem crer que acontecerá, só coisas boas poderão estar em jogo. [8/10] Victor Hugo

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A melancolia feita música Repetindo o que tinha acontecido com o álbum anterior (que demorou cinco anos a sair), os Autumblaze fizeram os seus fãs esperar quatro anos pelo sucessor de «Perdition Diaries». Mas eis que, em 2013, surge «Every Sun Is Fragile», que, segundo Arisjel (o baterista da banda) resultou de muita experimentação e de uma firme vontade de não lançar o produto final, enquanto este não estivesse à altura do que os seus criadores queriam exprimir. Parece que valeu a pena esperar todo esse tempo! 46


Vocês já são veteranos (uma vez que a banda foi formada em 1996) e, aparentemente, o vosso som mudou muito ao longo dos tempos. O que mudou e por que mudou? Arisjel: Criámos Autumnblaze para dar vazão ao nosso amor pelo blackmetal e pelo deathmetal, combinando estes estilos com melodias épicas e uma pitada de folk. Se ouvires o nosso álbum de estreia (“Dämmerelbentragödie”, de 1999), constatarás que nele aparecem estes “ingredientes” de forma muito evidente. Mas, quando estávamos a ensaiar para o “Bleak” (2000), apercebemo-nos de que Autumnblaze não suporta a fidelidade a nenhum género específico. As nossas canções nascem do nosso desejo de transformar em música estados e imagens psíquicos, que surgem nas nossas almas, o que não é viável, se tivermos de nos manter ligados a géneros específicos. Portanto, «Bleak» resultou de um humor pálido e claustrofóbico e apresentava uma espécie de trip-rock. «Mute Boy, Sad Girl» (2002) era mais alternativo e «Words Are Not What They Seem» (2004) ainda mais postrock. «Perdition Diaries» (2009) foi um renascimento da raiva e uma luta contra velhos fantasmas, com influências deathmetal muito agressivas. Como descreverias o vosso som atual? Adorei a melancolia da vossa música, os momentos obsessivos, os vocais limpos interrompidos por alguns rugidos. Melancolia é a palavra-chave. «Every Sun Is Fragile» é um álbum muito diversificado, extremamente melancólico, revelando grandes paisagens íntimas, constituído por melodias e estados de espírito que vão do sonho ao grito, da esperança ao desespero. Que tipo de música andam a ouvir atualmente? Os atuais favoritos do Markus são Magenta Skycode, Sigur Ros, My Vitriol, In Flames, The National e Arcade Fire. Eu tenho-me dedicado a ouvir Riverside, Antimatter, Dark Tranquillity, Katatonia e Eluveitie. O Andreas prefere Powerwolf, Ghost Brigade, Dismember, Dark Tranquillity e In Flames. Quem é o compositor da banda? E quem escreve as letras? O Markus é o compositor. Cria as ideias principais e as estruturas que todos trabalhamos na sala de ensaios. E também escreve as letras comigo. Por que incluíram faixas em Inglês e em Alemão neste álbum? Aconteceu por acaso ou fizeram-no com algum fim em vista? Não derivou de nenhuma razão em especial. Eu gosto muito de usar as duas línguas. Fui eu que escrevi as letras em Alemão. Também me dedico à poesia, portanto estou muito familiarizado com a dimensão poética da minha língua materna. Na informação que acompanhava o álbum, li que

o artwork foi realizado sob a supervisão de Travis Smith. Mas quem fez a sua base? É maravilhoso, faz pensar numa combinação de um sol com um girassol, de uma bomba com um sol incandescente. Os desenhos foram feitos pela mulher do Andreas: Andrea Wolf-Schuler. Ela é uma pintora muito talentosa. O Travis partiu desses desenhos, reformulou-os usando meios digitais, e acrescentou novos elementos e estruturas, criando assim um artwork único, assombroso e belo. Por que razão este álbum – que é melancólico e um tanto depressivo – tem um artwork tão brilhante e colorido? Essa ideia foi ganhando raízes durante o processo criativo. Mas, apesar de as cores serem brilhantes e darem nas vistas, de certo modo, o artwork exprime a fragilidade da vida nos seus bons momentos de uma forma perfeita. O que aconteceu à banda nos últimos quatro anos? Foram fazendo concertos? Quais são os vossos planos para este álbum? Depois do lançamento de «Perdition Diaries» (2009), passámos algum tempo a criar uma formação para tocar ao vivo no nosso concerto exclusivo no Wave Gothik Treffen, em Leipzig. Infelizmente, devido a problemas relacionados com os nossos empregos, acabámos por não poder partir em digressão. O Markus passou algum tempo em Scarlet Youth, uma banda shoegaze fantástica. É o vocalista desse fabuloso projeto finlandês. Eu e o Andreas fundámos uma pequena banda acústica chamada Troisfeuxnoir e fizemos alguns concertos de covers. Além destes projetos musicais, fomos experimentando novas ideias para o nosso atual álbum, sem nos sentirmos pressionados pelo tempo. No que diz respeito a «Every Sun Is Fragile», estamos abertos a qualquer proposta que apareça, mas, de momento, não temos nenhuns planos precisos. Aconselho-vos a irem saboreando o álbum, enquanto aguardam os concertos. Já que trocaram o black metal e o dark metal por uma espécie de rock – simultaneamente luminoso e melancólico -, quem escolheriam como parceiros, se pudessem organizar a digressão dos vossos sonhos? Eu escolheria Riverside como cabeça de cartaz. E a terceira banda seria Scarlet Youth. Entrevista: CSA FACEBOOK www.facebook.com/autumnblaze.band VÍDEO www.youtube.com/watch?v=qZtPP9UrcjY

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positivismo e esperanca i Para os mais desatentos, We Came As Romans é uma banda americana, formada em 2005. Oito anos chegaram para já terem corrido praticamente todo o globo, partilhando palco com bandas como The Used, Megadeth, Nofx, Parkway Drive, Gwar, Suicide Silence, August Burns Red e The Devil Wears Prada. A VERSUS Magazine teve o prazer de falar com Joshua Moore, guitarrista e letrista da banda, que nos falou sobre o quarto álbum «Tracing Back Roots» e de como foi gravar o mesmo, numa nova cidade e com novo produtor. 48


Para os que não conhecem WCAR, fala-nos um pouco sobre a banda. Joshua Moore: Há oito anos que estamos juntos como banda e temos tocado por todo o mundo. As nossas letras são focadas nas coisas positivas da vida e como um estilo de vida positivo pode ser benéfico para cada um de nós e para todos os que nos rodeiam. Porquê «Tracing Back Roots» para nome do álbum? Fala-nos um pouco sobre isso e sobre a sua mensagem positiva. O álbum mantem a “boa vibe”

que sempre quisemos manter. De uma forma geral é sobre usares experiências passadas e tudo em que já estiveste envolvido e que faz seres quem és, ajudando-te assim a ultrapassar obstáculos futuros e a progredires na vida. Desvenda-nos a simbologia da capa e o porquê de escolheram o Paul Romano? A capa ilustra realmente a mensagem de que falei anteriormente. Mantivemos a mesma personagem dos nossos últimos dois álbuns, neste um pouco mais madura, mas mantendo

as suas raízes, enquanto tentei alcançar o céu. Mantendo também a presença do bem e do mal (do «Understanding What We’ve Grown To Be») e a mesma figura que usámos em «To Plant A Seed». Este álbum foi produzido pelo John Feldmann, em Los Angeles. Como foi trabalhar com ele e o que significou para a banda? Foi espetacular! Foi um novo ambiente para nós, gravar na Califórnia em vez de em Indiana, que foi onde gravámos todos os nossos discos anteriores. 49


Isso deu-nos uma nova perspetiva e oportunidade de experimentar novas técnicas e composições para assim conseguir o melhor produto possível. O álbum não seria o mesmo se não fosse o contributo e trabalho do John. Porque escolheram Aaron Gillespie, dos The Almost, como vocalista convidado em “I Survive”? Esta escolha foi só devida a serem grandes amigos ou existe mais alguma coisa para além disso? O Aaron é um músico que todos nós acompanhamos e sempre admirámos a música que ele fez com os Underoath. É de alguma forma um tipo de inspiração para toda a banda, sempre foi

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um sonho nosso, e adorámos que ele se tenha disponibilizado a participar nesta faixa. Tive oportunidade de ouvir todos os vossos álbuns e parece que todos eles estão interligados. Isto é intencional ou apenas conveniência? Os álbuns são o sinónimo do que se passa na minha vida e na da banda. Eles vão ter sempre uma ligação, o próximo álbum também estará interligado com os três primeiros, assim como «Tracing Back Roots» está ligado ao «Understanding What We’ve Grown To Be» e com o «To Plant A Seed». A banda passa uma mensagem de positivismo, esperança e fé

em que as pessoas se identificam. De alguma forma vocês acham que essa é a chave para todo o sucesso dos WCAR? Definitivamente penso que essa é a chave que tranca os fans à banda. Penso que eles sentem que fazem parte de algo e que há alguém que se preocupa com eles. Eu não poderia estar mais feliz com isso, pois essa é a razão principal de seremos uma banda. Entrevista: André Monteiro FACEBOOK www.facebook.com/wecameasromans VÍDEO youtu.be/5JvmqRYZ56Y


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Metal Up Your Ass 30 Anos desde «Kill’em All»


Por incrível que pareça comecei esta reminiscência do primeiro álbum dos Metallica por aquilo que melhor os define!* Terá sido neste dia, 25 de Julho de 1983, que nasceu o verdadeiro espirito do Thrash Metal? Terá sido neste dia que nasceram os Metallica? Penso que a resposta às duas perguntas é consensual. A identidade dos Metallica começou há 30 anos. Para muitos, ter-se-á perdido a partir da segunda metade da década de 90. Apesar de ser um clássico intemporal, acho que «Kill ‘em All» será mais importante, ou melhor, terá tido uma maior influência para os nascidos na década de 60/70. Para quem, como eu, viveu a adolescência nos anos 80, sabe perfeitamente como era ouvir o vinil e a cassete em casa dos amigos, as gravações e a descoberta de álbuns que fazem parte da nossa vida como «Kill ‘em All». A disseminação e partilha de música era feita desta forma e cada disco era devorado “como se não houvesse amanhã” e as cassetes “morriam” de velhas e gastas. Eram assim os tempos vividos, sempre numa vã esperança de que um dia podíamos fazer da música um estilo de vida, tendo quase sempre como modelos, não só os Metallica, mas outras bandas que proliferavam na casa de um qualquer amigo metaleiro: Anthrax, Overkill, Kreator, etc. Por isso é que «Kill ‘em All» acaba por ser tão importante. Faz parte da nossa vida e deixou uma marca indelével. Todos nós nos revíamos nesta pirataria das cassetes, da mesma forma que os Metallica o faziam. Este modo de vida, de viver e sentir a música, virou ganancia e hipocrisia aquando da luta com o Napster. De qualquer forma, hoje em dia com a ajuda da internet, mp3, cd’s e youtube tornamo-nos mais solitários no que toca à audição “Considero o «Kill’em All» como o primeiro dos 4 e vivência da música.

mandamentos da lei do thrash. Com tudo o que se É, portanto, indiscutível a influência que teve passou desde 1983, ver que o «Kill’em All» mantém tantos fãs no mundo, é a prova que o Metal é mais do no metal - Um dos melhores álbuns de (Thrash) que apenas música.” metal de todos os tempos. É cru, visceral, veloz, Adriano Godinho

técnico, riffs intemporais e acima de tudo muita irreverência! Toda a atitude que definiu os Metallica na altura, está por demais evidente em «Kill ‘em All» - “nós fazemos aquilo que nos apetece”!

Li algures numa entrevista, segundo K.Hammet, que este álbum foi “chegar, ver e gravar”, sem hesitações, alterações ou complicações mas com muita vodka à mistura não deixado a alcunha de “Alcoholica” por “mãos alheias” Segundo ele, foi isto que permitiu o álbum soar desta forma. No meio disto há algumas curiosidades que também o ajudam a ser impar: O álbum estava inicialmente para se chamar “Metal up your ass”. Como é óbvio, qualquer 53


editora em 1983 estaria relutante em aceitar tal nome. Um outro óbice era a capa: um punhal a sair de uma sanita... rumo ao infinito. Com tanta relutância na aceitação do nome, Cliff Burton teve o seguinte desabafo: “why don’t we just kill ‘em all?” Et voilá! Dave Mustane era o guitarrista original. Devido ao problema de álcool, drogas e também por ser uma besta – dizem as más línguas - foi substituído por Kirk Hammet. Mustaine tem ainda os créditos de “Jump in the Fire”, “Phantom Lord,” “Metal Militia” e “The Four Horsemen,” originalmente chamada “The Mechanix,”. Todos os solos eram da responsabilidade de Mustaine... Hammet só tocou as primeiras notas e alterou tudo o resto.

“Kill’em’All foi o disco-zero do Thrash Metal, sendo impossível quantificar a sua influência no Metal Extremo em geral. O primeiro álbum dos Metallica ajudou a estabelecer as bases dos sons extremos, influenciando milhares de grupos em todo o Mundo. É um dos maiores clássicos do género.” Dico

«Kill ‘em All» foi certificado tripla platina em 1999. Isto é o equivalente a 3 milhões de cópias vendidas! O martelo e o sangue foram ideias de Cliff que trazia sempre um na mala de viagem com intuito de destruir algumas coisas. Nas alfândegas deixavam passar o martelo mas ficavam-lhe com a pornografia!

Não faz muito sentido falar de temas melhores ou pi“30 anos depois, «Kill’em All» permanece como um ores, nem criticar ou fazer uma review ao que quer marco de força jovem, agressão e velocidade, refer- que seja. São 10 temas diferentes que fazem um todo. ência obrigatória de uma nova tendência: o Speed- No entanto, e por ser diferente, menciono a minha Thrash. Não foram os inventores do género, mas sem favorita: “(Anasthesia) Pulling teeth”. Porquê? Bem... dúvida que o popularizaram e lhe deram visibiliCliff Burton! Foi o melhor e mais talentoso músico dade. Enorme e essencial.” que alguma vez passou pelos Metallica. Este tema é Joey um solo de baixo somente acompanhado por Lars. Todo o estilo e genialidade estão aqui bem patentes: mistura de tapping, distorção bem pesada e combinada com um pedal wah-wah. No início do tema ouve-se: “Bass solo, take one”, muito provavelmente a informar que o tema foi gravado à primeira tentativa. Como última curiosidade, este foi o primeiro tema que James e Lars ouviram Cliff tocar com a sua banda Trauma. ... e tudo se resume a isto: *“No life till leather We are gonna kick some ass tonight We got the metal madness When our fans start screaming” “Hit The Lights” - «Kill ‘em All» Eduardo Ramalhadeiro 54



Da insanidade e da

Lawrence Mackrory, vocalista de Darkane mação original, fala-nos do regresso da band As palavras são simples, mas as ria para reflexão, não só sobre o mun pel que um género musical como o Sintomaticamente, Lawrence passou emy Is Us para outra em que o t


a decadência mental

e e único membro que não faz parte da forda em força, com «The Sinister Supremacy». ideias são profundas e dão maténdo atual, como também sobre o padeath metal pode desempenhar nele. de uma banda cujo nome é Entema central é a insanidade mental.


O vosso álbum começa por uma bela passagem orquestrada. É alguma alusão ao mundo que vai ser esmagado pela “supremacia sinistra” a que este se refere? Lawrence: Não, é só uma bela passagem musical que o Cristofer [Malmström, guitarrista da banda] escreveu, a partir de algumas melodias de “Existence is just a state of mind”, que foi composta pelo Klas [Ideberg, outro guitarrista da banda). Pareceunos uma boa forma de entrar no álbum. Não há nenhuma ideia em especial subjacente a essa passagem. Temos aqui a supremacia do rock. Podemos dizer que “cozinharam” este álbum usando muitas influências musicais? E de onde vêm elas? Somos sobretudo influenciados por nós próprios, inspiramo-nos essencialmente nos nossos trabalhos anteriores. Mas, neste álbum, usamos alguns “condimentos” novos. Os músicos são sempre influenciados pelo que ouvem e, desta vez, penso que as nossas influências nos ajudaram a explorar alguns territórios musicais diferentes dos habituais. Há alguma relação entre este lado “roqueiro” do álbum e o conceito subjacente a ele? Não é um álbum conceptual, No entanto, a meio da escrita das letras, apercebi-me de que estava a desenvolver um tema. E que tema é esse? Tem a ver com o lado tenebroso da nossa mente, a parte que nos arrasta para o mal. Nas letras das nossas canções, abordámos sempre temas relacionados com problemas de saúde mental. Mas, desta vez, concentrámo-nos em sentimentos negativos, mas que não são exclusivos de quem sofre de distúrbios mentais: a inveja, o ciúme, o egoísmo, a falta de empatia levada ao seu extremo. Por que razão se vê uma espécie de borboleta iluminada na capa do álbum? A imagem representa um teste de Rorshach particularmente sinistro, portanto, é curioso que a tenhas interpretado como representando uma borboleta. Cada um de nós vê algo diferente. Já houve quem visse uma aranha ou o focinho de uma avestruz. Afinal, é para isso que serve o teste de Rorschach. A “sinistra supremacia” de que falam no vosso álbum existe no mundo real? E a que corresponde? Vive nas nossas mentes. Todos os dias temos a possibilidade de fazer inúmeras escolhas e algumas delas decorrem de um imenso egoísmo. Mas é assim que somos. E depois há pessoas que atingiram o 58

limite neste tipo de comportamento, que sucumbiram por complete ao desejo de se sobreporem aos outros, como é o caso dos serial killers. Darkane é agora uma banda que atingiu a maturidade. Foi por esse motivo que este vosso álbum demorou cinco anos a aparecer? Foi uma reação ao peso da responsabilidade? Ou estavam a refletir sobre o vosso percurso ao longo dos tempos, como os Dark Tranquillity? Apenas demorámos bastante a compô-lo e graválo, muito simplesmente por falta de tempo. Não estamos na banda a tempo inteiro, todos temos os nossos empregos. Também decidimos construir o nosso próprio estúdio e demorámos muito tempo a concretizar esse projeto. Além disso, a saída do Jens Broman [o anterior vocalista], em 2011, também atrapalhou o funcionamento da banda. Mas, assim que nos dispusemos a começar a compor o álbum, há cerca de um ano, o processo foi bastante rápido. A Terrorizer deste mês faz um balanço acerca do black metal na atualidade. O que dirias sobre o death metal? Está vivo e de boa saúde? Claro que está, agora mais do que nunca. Até está dividido em death metal moderno e old school. Há bandas que têm contribuído para a sua renovação, como The Black Dalia Murder, enquanto outras preferem manter-se fiéis às origens do género, como é o caso de Autopsy, por exemplo. Eu admiro as duas bandas e as tendências opostas que elas representam. Onde vão tocar para promover o vosso novo álbum? Em qualquer sítio onde nos queiram ouvir. Queremos ter digressões mais longas do que as que fizemos para os álbuns anteriores. Neste momento, estamos a fazer os nossos planos, que contemplam primeiro a Europa e depois os Estados Unidos. Espero que nos encontremos num desses concertos! Entrevista: CSA FACEBOOK www.facebook.com/darkane VÍDEO www.youtube.com/watch?v=xTSw2PfJx_s


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Sakis, vi-vos dar o que foi o melhor concerto de Vagos em termos de energia pura e atitude. A energia em palco, sem luzes nem truques, foi fantástica; choviam crowd surfers no fosso; o som era tremendo. Foi perfeito. Do vosso lado, como é que sentiram o concerto? Sakis Tolis: Sentimos as vibrações Sul Europeias muito intensificadas lá no palco e isso foi algo que influenciou a nossa performance como músicos. Sentimo-nos a tocar em casa, o que nos deu um forte e majestoso impulso para ultrapassar os nossos limites e criar um espectáculo que, além de não ter efeitos especiais, teve muita alma. Agradecemosvos pelas vibrações que criaram, meus irmãos e irmãs do Metal. O Vaggelis Karzis e o George Emmanuel entraram na banda em 2012, depois da saída de dois membros de longa data. Em palco, estavam a dar um espectáculo tremendo e pareceram já totalmente dentro do espírito de Rotting Christ? Sim, os dois deram-nos o empurrão que precisávamos como banda e estou contente que a decisão de mudar de membros tenha tido sucesso. Fico contente ao ouvir de metaleiros à nossa volta que os Rotting Christ estão a dar os seus melhores concertos, de longe. Planeias continuar com a banda somente com o núcleo de ti e do teu irmão, usando músicos de sessão? Se eles provarem que os Rotting Christ são uma parte da sua vida, então com certeza que serão bemvindos. Quantos mais formos na nossa armada, melhor será o resultado no campo de batalha. Em 2012, os Rotting Christ passaram a marca dos 1000 concertos, um feito a todos os níveis extraordinário. Vendo-vos ao vivo, como parecem tão compenetrados na vossa música, no vosso simbolismo, fico com a sensação que só ao vivo podemos apreciar a verdadeira dimensão dos Rotting Christ, com o misticismo da vossa música incorporada na vossa prestação. Toda a gente diz isso, portanto é por isso que vamos tentar fazer outros 1000 concertos, porque apesar dos problemas que levanta, a única maneira de entrarmos nos sentimentos de alguém, é com algo genuíno. E não há nada mais genuíno do que tocar ao vivo. É a única maneira de alguém conseguir falar para a alma de outro. 60

Do Olimpo para o

Formados em 1987 em Atenas muito que são mais do que um corporando a cultura e identid e ao mesmo tempo mantendo u que viu álbuns sucessivos cresc sonora, os Rotting Christ são a fundível. Na edição deste ano d levado ao rubro foi testemunho actualmente em topo de forma. uma oportunidade de conhecer tor, e um dos mais carismáticos m


o Vagos Open Air

s, Grécia, os Rotting Christ há ma banda de Black Metal. Indade nacionais na sua música, uma filosofia musical ecléctica cerem em diversidade e riqueza actualmente uma banda incondo Vagos Open Air, um recinto o do portento da banda Grega, . Para a VERSUS Magazine, foi r Sakis Tolis, compositor, menmúsicos no Metal internacional.

Adoro o nome “Rotting Christ”. Na mitologia Cristã, Cristo ressuscita e ascende ao céu, não apodrece. Então entendo “Rotting Christ” como um dos nomes com mais despeito e força de qualquer banda: com uma única palavra, negam uma divindade, negando-lhe a imortalidade e invocando a decadência, tanto do homem quanto das ideias religiosas que o rodeiam, imagino? Sim, é realmente um nome muito forte. É um nome que pode ser criticado por ser ofensivo face às convicções de alguém. Talvez até seja. Não tenho dúvidas disso, mas tem um significado profundo… um significado que pode dar um safanão ao mundo utópico e falso de paz e calma de algumas pessoas. Nós simplesmente acreditamos que as religiões em todo o mundo estão a apodrecer… Posso estar errado, mas vejo a Grécia como um país Cristão muito ortodoxo. Como é ergueremse e ir contra essa mentalidade? Realmente foi muito duro, meu amigo. Tivemos de enfrentar muitos problemas mas tivemos a banda a combater sempre na primeira linha. Agora ultrapassamos isso e posso dizer que a Grécia deu alguns passos ao longo da última década, e sabes uma coisa? Temos hoje em dia alguns problemas tão reais que os “assuntos” da religião parecem de somenos importância por comparação. «Kata ton Daimona Eaytoy» lida muito com o ocultismo ancestral, desde o Xibalba dos Maias, ao número da besta, incluindo voodoo e a lenda babilónica de Gilgamesh. Como encaras estes antigos mitos e tradições comparados com as religiões de hoje em dia? Há imensas mensagens muito bem escondidas dentro dos mitos, mensagens que não têm nada que ver com as religiões organizadas de hoje em dia. Conhecimento bem escondido que faz a banda querer viajar para o passado. Parece que a nossa sociedade globalizada e sem cara precisa cada vez mais os seus mitos. Isso é algo que falta muito às sociedades modernas, na minha opinião. Imagino que tenhas enfrentado muitas más concepções sobre a vossa música, a vossa filosofia de vida e sobre os temas sobre os quais escrevem. A minha curiosidade é: como te inspiras e pesquisas temas tão variados e mal compreendidos? Nós simplesmente não gostamos de ir pelo caminho mais fácil. E como único compositor da banda eu 61


“Sentimos as muito

as vibrações Sul intensificadas lá no

posso dizer que esta direcção foi a que tomei desde que me lembro de mim. Gosto de viajar para mundos desconhecidos e proibidos que me enriquecem com cada risco que tal actividade pode ter. Olhando para a vossa discografia, «Theogonia», «Aealo» e «Kata ton Daimona Eaytoy» marcam uma mudança no vosso som em direcção a orquestrações imperiosas e, claro, uma forte aposta em letras Gregas. Como surgiu esta mudança? Foi uma mudança espontânea que resultou de profunda meditação e procura pela minha personalidade ao longo da última década, especialmente desde o nascimento da minha filha. Sou da opinião de que ideias culturalmente carregadas não conseguem sempre ser passadas para uma língua não materna sem alguma perda de significado; os sentimentos, o modo como dão vida aos teus pensamentos, tudo muda. Sentes isso quando cantas em Grego em vez de Inglês? Eu canto em Inglês, mas nos últimos anos tenho 62

Europeipalco…”

tentado outros idiomas, incluindo Grego e Grego antigo, precisamente pelas razões que mencionas. O Metal é um fenómeno multicultural e não pode ser representado somente a partir do motivo anglosaxónico que os media querem impor-nos a todos. Todos nós, cidadãos que não têm o Inglês como língua materna, não podem ter simplesmente menos oportunidades de avançar as nossas vidas pelo acaso de nascermos em terras onde se fala outro idioma! Sakis, muito obrigado pela entrevista. Foi um prazer conhecer-te. O vosso interesse em incluir as nossa banda nas vossas páginas honra-nos. Abraços, e… Non Serviam! Entrevista: Marco Trigo


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AMON AMARTH «Deceiver of the Gods» (Metal Blade Records) A música peculiar dos Amon Amarth, um death metal melódico numa vertente viking, é um som arriscado que tanto pode dar para o bem como para o torto. Já há alguns álbuns em que o resultado final tinha dado para o torto, e deixado um bocado a desejar, com a apresentação de uma certa musicalidade algo monocórdica e monótona. Felizmente, com «Deceiver of the Gods» isso não se verifica na sua essência, bem pelo contrário. Não sendo um álbum de referência, longe disso, desta vez os suecos acertaram na composição e conseguiram um verdadeiro álbum como só eles sabem fazer, constituindo este o seu melhor trabalho dos últimos anos. Isto é puro Amon Amarth na sua efectiva génese e um verdadeiro regalo do género preconizado por eles mesmos. Carregaram na força e vigor da música, no seu “corridinho melódico” que os caracteriza, proporcionando-nos dez excelentes músicas sempre a abrir, repletas de grandes riffs e solos. Nota-se aqui e ali uma certa vontade de experimentalismo musical, nomeadamente nas partes mais calmas, que se encaixa perfeitamente no contexto da música. Não há uma única música a destacar, pois todo o álbum pauta por um grande nível, e todas as faixas têm algo intrinsecamente interessante a mostrar, quer seja o brutal solo a começar «As Loke Falls», a entrada e mid section à Manowar de «Father of the Wolf» ou o feeling à Arch Enemy em «We Shall Destroy». Os Amon Amarth provam com este trabalho estarem em plena forma e têm em «Deceiver of the Gods» um sólido trabalho e uma verdadeira lufada de ar (Nordíco) fresco na sua carreira. [8.5/10] Carlos Filipe

BLACK STAR RIDERS «All Hell Breaks Loose» (Nuclear Blast) Eu acho que é daqueles lançamentos que não se pode ficar indiferente! Bem, mas quem são os Black Star Riders? Se me permitem um pouco de história: Os Thin Lizzy são uma banda Irlandesa formada em 1969, onde pontificava Phil Lynott, frontman e principal compositor. Os Thin Lizzy atingiram o auge du-

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rante a década de 70, lançando grandes álbuns e temas como «Jailbreak», onde reside um dos maiores sucessos da banda: “The Boys Are Back In Town”; «Bad Reputation» e o single “Dancing in the Moonlight” ou “Whiskey in the Jar”. Após a morte de Phil Lynott em 1986, os Thin Lizzy continuaram esporadicamente até que John Sykes os decidiu reativar. A banda continuou, então, como tributo a Lynott até à saída de Sykes. Em 2011, o guitarrista Scott Gorham, um dos membros mais antigos afirmou que tinham novo material para um novo álbum dos Thin Lizzy. Em 2012 decidiram que estes novos temas não fariam sentido serem gravados sob o nome de Thin Lizzy, sem a sua estrela maior. Assim, de uma das últimas formações dos Lizzy nasceram os Black Star Riders. A pergunta que se põe é: Serão a

continuação dos Lizzy? A minha opinião? Não, os Lizzy acabaram em 1986. Os Riders são um passo em frente, um legado que deixaria bastante satisfeito e orgulhoso Phil Lynott. Podem sempre argumentar que não há um elemento da formação original – Devido às tournées Brian Downey declinou, amigavelmente, o convite – mas há Scott Gorham que esteve na banda desde 1974. Como é óbvio, «All Hell Breaks Loose» respira Thin Lizzy por todos os poros - É algo que simplesmente não se pode tirar de Scott Gorham. Basta ouvir o timbre de Ricky Warwick para percebermos a semelhança. Desde “Bound For Glory” até “Hey Judas” isto é rock melódico no seu estado mais puro. Onde quer que esteja Phill Lynott, está orgulhoso e a curtir à brava!!! The boys are back in town! [9.5/10] Eduardo Ramalhadeiro

BLACKMORE’S NIGHT «Dancer And The Moon» (Frontiers Records) Antes de mais: Se associaram Blackmore’s Night a Richie Blackmore, antigo guitarrista dos Deep Purple e Rainbow, fizeram muito bem mas se estão à espera de ouvir algo parecido com as suas duas anteriores bandas, então, estão redondamente enganados. (Poderão encontrar alguns laivos de Purple

ou Rainbow mas nada mais) Blackmore’s Night é um projeto nascido em 1997 e além de Richie tem a participação de Candice Night. Como é timbre nos álbuns de Blackmore’s Night existe um ecletismo musical: folk, new age, celta, medieval, rock progressivo... «Dancer And The Moon» apresenta muitas marcas distintas que o fazem muito sóbrio, “fresco” e de um terrível bom gosto. Desde já a suavidade


e sobriedade da voz de Candice, aquele som, técnica e mestria tão característicos em Richie e os vários instrumentos medievais e renascentistas que ajudam a criar tão distintos ambientes. O resultado é um álbum elegante, distinto, melódico e cheio de influências clássicas. Estar a de-

stacar alguns temas numa obra tão homogénea e cheia de bom gosto seria um pouco injusto, no entanto, e não somente pelo trocadilho dos nomes, “The Moon is Shining (Somewhere Over the Sea)” é a versão mais rock e com influências dos Rainbow da semi-acústica “Somewhere Over

the Sea (The Moon is Shining)” e como não poderia deixar de ser «Carry On... Jon» um Blues muito... Purple, acompanhado com o Hammond que foi tão soberbamente tocado por... Jon Lord. «Dancer And The Moon» termina, assim, em grande! [9.5/10] Eduardo Ramalhadeiro

CARCASS «Surgical Steel» (Nuclear Blast) Pessoal, ouçam e contemplem o álbum do ano! Apetecia-me, simplesmente, deixar a review por aqui e “obrigar-vos” a redescobri-los novamente. Após 17 anos de interregno, os Carcass reuniram-se, apareceram e VENCERAM! Não são muitos os casos de regressos de bandas que conseguem uma opinião tão unânime. De volta aos anos de

90, foi com grande tristeza que assisti ao fim dos Carcass e o canto do cisne foi «Swansong»... um álbum, também ele, unânime mas pelas piores razões (Não concordo, de qualquer das formas). Estará ao nível do magnânimo «Heartwork»? Não mas anda lá perto... muito perto! Imaginem um «Heartwork» do novo século. Não tem aqueles riffs que ainda assim considero únicos, do tipo de “Buried Dreams”, “No Love Lost” ou “Heartwork” mas cum raio que dizer de “Thrasher’s Abattoir”, “Cadaver Pouch Conveyor System”, com as harmonias a fazer lembrar «Heartowrk», a brutalidade de «The Master Butcher’s Apron» e «Noncompliance(...)», o “amigável” «The Granulating Dark Satanic Mills» com excelentes riffs para curtir... air-guitar! E podia continuar com o resto dos temas. Em «Surgical Steel» não há temas menos bons, não há aquele tema “ranhoso” que

faz dar uso ao botão da “faixa seguinte”. Ou são todos ou nenhuns, ouvem-se todos sem nos apercebemos que o tempo passa. Bill Steer, como sempre, consegue manter as guitarras a um nível... Carcass. Todo o ADN de uma das bandas mais proeminentes está repartido entre a sonoridade muito característica e inconfundível de Steer (agora elevado a um novo nível) e na voz de Jeff Walker. Incrível como após um interregno de 17 anos a voz continua... mais na mesma e só isso já é dizer muito! Por último, impressionou-me bastante o trabalho de Daniel Wilding na bateria. Que máquina! Rapidez, técnica e potência! Em conclusão, «Surgical Steel» já é um clássico, viciante, potente! É Carcass, é o álbum do ano. «Heartwork» já não tem que se sentir sozinho na estante, pois, acabou de chegar o companheiro ideal! Keep on rotting...! [10/10] Eduardo Ramalhadeiro

DEBAUCHERY «Kings of Carnage» (Massacre Records) Uma chacina! É o que nos chega aos ouvidos quando ouvimos este álbum. De uma banda que não esconde essa vontade sanguínea, com temas como “Murder squad”, “Blood god kills”, “Killerbeast” ou “Kings of carnage”, sendo este último o nome do álbum. Debauchery é uma mistura de rock rítmico à la AC/DC com metal rápido e contundente. Há faixas como “Demonslayer” que são mais thrash e faixas como “Let there be blood” que são mais baseadas no ritmo e no riff rock. O tema central do slash gore que intervém em todos os passos deste trabalho vem um pouco saturar o espaço disponível para outras intervenções. Baseado em certas opiniões escritas que podem ser consultadas facilmente, que estatuam que o metal não fala de mais nada que não sejam mamas, morte e sangue; este álbum deve ser o core do espécime Metal com ‘M’ grande. Gosto de acreditar que a música extrema possa dar-nos mais do que isto, mas não estraga a qualidade do trabalho musical aqui presente nem o empenho mostrado neste conjunto de 11 faixas nada cansativas nem repetitivas que nos fornece um bom momento de heavy metal. A faixa “Killerbeast” mostra uma intro original e um bom corpo bem desenvolvido, faixas como “Blood god kills” e “Let there be blood” vertem mais para um rock ‘n roll agressivo; “Victory awaits” mete melodias que nos levam mais ao misticismo celta e à música pagã; “The last crusade” com uma intro marcada e fortes refrões dá um passo à frente; A conclusão surge com a temática “Debauchery motherfuckin familiy” que se despede de nós com aquele abraço, daquele que mais nos quer. [6/10] Adriano Godinho

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EREB ALTOR «Fire Meets Ice» (Cyclone Empire) Aos primeiros acordes de «Fire Meets Ice» somos de imediato transportados para o arrebatador universo viking metal dos Suecos Ereb Altor, universo

FELIX MARTIN «The Scenic Album» (Prosthetic Records) Tenho sempre alguma relutância em considerar discos de virtuosos da guitarra como sendo dignos de destaque por uma simples razão: invariavelmente já ouvi aquele tipo de som ou estrutura musical, feito por al-

esse que me faz lembrar o dos magnânimos Bathory, mas aqui, numa escala diferente, mais moderna e ainda mais atmosférica. Se os anteriores três álbuns tinham mostrado muito do que estes senhores conseguem fazer, e onde o nível já de si é bastante alto, este quarto trabalho «Fire Meets Ice» é o corolário perfeito e a confirmação de que Ereb Altor não é uma das... Mas sim a melhor banda da actualidade deste género. «Fire Meets Ice» é um álbum, onde pautam momentos épicos que são um hino ao universo musical Viking Metal, sendo estes, enriquecidos quanto baste com uma dose de elementos Black Metal aqui e ali, ou com furiosos compostos de blast beats e partes vocais

agressivas. Desde «Fire Meets Ice» até «Our legacy», não há uma ponta de crítica a fazer, a atmosfera Viking, a sonoridade doomica, os riffs pesados, a voz gutural de Ragnar ou mais limpa de Mats, a frenética e segura bateria de Tord, a melodia e ritmo subjacente às músicas, a sua composição, tudo aqui prima por uma realização com mestria e sabedoria para um álbum deveras excepcional, uma verdadeira obra-prima. É ouvir e desfrutar de puro Viking Doom Metal do melhor que se faz ou alguma vez já se fez desde Bathory. Ereb Altor são simplesmente os verdadeiros herdeiros do Viking Metal preconizado por Quorthon e os grandes Bathory. [10/10] Carlos Filipe

guém, algures, e cuja audição quase sempre se torna algo enfadonha. Apesar de os respetivos intérpretes serem tecnicamente evoluídos é preciso uma grande capacidade de sair fora dos limites da guitarra para se conceber um disco que no final seja um meio de comunicação efetiva de emoções sejam elas quais forem. Felix Martin é um virtuoso que ultrapassa esses limites. De nacionalidade Venezuelana, emigrou ainda novo para os E.U.A. após ganhar uma bolsa de estudo. Se genuinamente tentou dar um salto de gigante do ponto de vista da estrutura musical da guitarra ou se é apenas show-off é o que «The Scenic Album», o seu segundo registo de originais, nos vem dizer. Na minha ótica é de facto um salto de gigante,

pois trata-se de alguém que não só decidiu agarrar em 2 guitarras de 7 cordas e juntá-las formando um instrumento de 14 cordas, como compor a um nível muito acima da mediania. Tappings, acordes de 8 dedos, solos e não sei quantas mais técnicas inovadoras debitam 11 temas que vão do metal-progressivo (por vezes bem pesado), passando pelo jazz, fusão e musica do mundo. Enfim é um autêntico universo novo que se reabre perante os nossos ouvidos. De tudo o que tem aparecido nos últimos tempos, Felix Martin consegue, muito embora à custa de revolucionar a estrutura física da guitarra, conceber um álbum que é uma nova pedrada nas águas estagnadas do mundo do virtuosismo. [9,5/10] Sérgio Teixeira

FLESHGOD APOCAYPSE «Labyrinth» (Nuclear Blast) Antes que me esqueça, quem quiser submeter os seus ouvidos a uma prova de fogo pode pesquisar num motor de busca pelo stream oficial deste álbum e rapidamente ficará a par da densidade que nos é proposta em «Labyrinth». Esta densidade sonora é tal que facilmente damos por nós indefesos e vulneráveis, perdidos no meio de um labirinto sonoro em que é virtualmente impossível racionalizar as progressões melódicas e rítmicas que surgem vertiginosamente, segundo após segundo. Daí que o nome do álbum seja um espelho da sonoridade que nos é proposta e em que os caminhos a serem percorridos neste «Labyrinth» não podem obedecer à razão mas sim ao puro instinto. Julgo que em termos de densidade, originalidade e progressões vertiginosas não estarei muito enganado se disser que este é um dos álbuns de 2013 que mais procura reunir em simultâneo todas estas características. Nos meandros desta proposta de Death Metal sinfónico temos guitarras ultra pesadas, baterias a disparar em todas as direções, vocalizações guturais,

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passando pelos elementos essenciais de uma orquestra clássica, e vozes de soprano. Se pensarmos que todas estas sucessões de riffs e progressões devem realmente ser tocadas ao vivo, percebemos a destreza que estes senhores possuem. É um álbum quase inhumanamente concebido e só por isso merece o mínimo de destaque. A característica labiríntica a par com a notória densidade musical é o mais interessante mas, ao mesmo tempo, o que deixa o ouvinte porventura mais desorientado. «Labyrinth» é no mínimo um desafio. [8/10] Sérgio Teixeira JORN «Traveller» (Frontier Records) Senhor de uma voz impar, Jorn têm-nos habituado a grandes álbuns de puro heavy/rock metal, com riffs poderosos e solos a condizer, bem regados pela magnânima e poderosa voz de Jorn Lander. Então o que dizer de «Traveller»? Bem, à primeira audição, parece ter tudo para ser um grande álbum, afinal, está lá tudo o que faz um grande álbum, Jorn, guitarristas virtuosos, uma produção segura e um ritmo melódico que sobressai, mas, falta-lhe qualquer coisa, falta-lhe emotividade. «Traveller» não consegue sair da regularidade, nunca conseguindo arrebatar o ouvinte. Penso que Jorn e companhia quiseram complexar o álbum, tentando incutir algum experimentalismo, de tal forma que acabaram por não conseguir pô-lo a funcionar. É pena dado o bom conjunto de riffs e solos presentes em todas as onze músicas, das quais destaco «Traveller», «Legend Man», «Overload» e «The Man Who Was King», talvez a canção mais interessante a par de «Rev On». Claramente, «Traveller» é um álbum cheio de coisas interessantes e boas mas que no seu conjunto não funciona, passando a mensagem de uma aposta numa certa continuidade, revelando-se um álbum algo insonso e agridoce no seio daquilo que esta banda já mostrou conseguir fazer. [7.5/10] Carlos Filipe KONGH «Counting Heartbeats» (Agonia Records) Estes três cidadãos Suecos lançam agora em 2013, ano em que também surgiu o original «Sole Creation», a re-edição do seu álbum de estreia «Counting Heartbeats» acompanhado de um CD extra com versões demo de alguns temas tanto de «Counting Heartbeat» como do restante reportório. Bom, o destaque desta edição é para o formato CD duplo acompanhado de t-shirt impressa e o facto de a edição ser limitada a 1000 unidades. É no entanto um pouco limitativo, uma banda ao fim de três originais fazer uma edição especial do seu primeiro lançamento. Claro está que quem fizer a respetiva aquisição encontra tanto nos temas originais como nas versões demo o suficiente para se regozijar com uma amostra do melhor Doom/Sludge da atualidade. A título informativo os temas presentes no CD reservado às demos são “Zihuatanejo”, “Adapt the void”, “Turn into dust”, “Thunders collide”, “Drifting on waves” e complementam o package com a pertinência que permite aos Kongh ter algum impacto nas hostes mais dedicadas do Sludge/ Doom. Esta reedição é portanto uma aposta para colecionadores e apaixonados deste género mas não seria justo deixar passar despercebido da maioria do público um álbum que em 2007 foi fortemente aclamado e que é de facto um reaparecimento justificado em 2013. Como último comentário e relativamente às faixas demo, é muito fácil o ouvinte deixar de lado a noção de demo e encarar os minutos sonoros como material quase final e praticamente 100% produzido. Desse ponto de vista é algo que realmente surpreende. [8/10] Sérgio Teixeira

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LINGUA MORTIS ORCHESTRA «LMO» (Nuclear Blast) Devo dizer, antes de mais que considero os RAGE uma das bandas mais subestimadas da história do metal recente. Bem mas o que têm os Rage a ver com isto? Basicamente, os Lingua Mortis Orchestra são os Rage enriquecidos com uma orquestra. Este é

o segundo álbum dos LMO que já em 1996 foram, talvez, um dos pioneiros neste género de arranjos sinfónicos - Os Deep Purple já o tinham feito antes com “Concerto for Group and Orchestra” em 1969. Este é composto por temas já gravados e posteriormente regravados com arranjos de orquestra. Mas então, onde é que este é diferente dos outros? Musicalmente, «LMO» é quase da exclusiva responsabilidade de Victor Smolsky que compôs todos temas com excepção de “The Devil’s Bride” e “Eye For An Eye” este em parceria com Peavy. A juntar a este trabalho todo, Smolsky ainda colaborou com as orquestras de Espanha e Belarus, elevando, assim, «LMO» a um patamar muito alto, talvez só comparado com os Purple e o mais recente de Nightwish. Não posso deixar de

adivinhar os vossos pensamentos: “Então e o «S&M» dos Metallica?” Caso à parte, meus caros, todos os temas já estavam compostos e a parte orquestral foi composta por Michael Kamen sobre o que já estava feito. Aqui foi tudo composto de raiz, por Victor Smolsky – Honra lhe seja feita! À parte deste trio, o rol de cantores é ainda enriquecido por Jeannette Marchewka, cantora soprano Dana Harnge e Henning Basse (ex-Metallium). Smolsky é de facto um exímio guitarrista neo-classico, as diferentes vozes estão conjugadas na perfeição e Peavey está melhor que nunca. Não satisfeitos com este poderio musical, Peavey ainda conseguir elevar as letras a um nível conceptual! O círculo virtuoso ficou, assim, completo. [9.5/10] Eduardo Ramalhadeiro

MECHANICAL SWAN «Black Dawn Romance» (Bakerteam Records) Posicionando-se no género do heavy rock com grooves de música eletrónica, este trabalho de estreia não terá a sua vida fácil, tendo em conta que a música dos Italianos Mechanical Swan pode soar um bocado desinteressante à maioria dos fãs de metal. Mas, este «Black Dawn Romance» tem mais do que aquilo que parece à primeira “vista”. Os preconceitos e complexos podem ser aqui fatais e levar ao engano. Deixem o álbum “respirar” no vosso leitor de cd/mp3 a fim de descobrir um álbum simpático, bem conseguido e produzido, com músicas repletas de grandes melodias e momentos de heavy rock pautados aqui e ali com passagens sinfónicas. A temática não podia ser outra senão as relações humanas e os Mechanical Swan não deixaram a coisa por menos neste campo. O reverso da medalha poderá estar na voz de Pasquali Matteo, que não agradará a todos e ao ambiente geral muito na onda de HIM e afins, deixando no ar a sensação de não acrescentar nada de novo ao panorama heavy rock, mas, não deixando de ser um álbum interessante e de fácil audição. Eu diria que os Mechanical Swan se situam entre Him e os conterrâneos Lacuna Coil (mas numa vertente sem a voz feminina!). A cover dos Depeche Mode «In Your Room» é das músicas menos metal e mais pop rock do álbum. [8/10] Carlos Filipe

ORPHANED LAND «All is One» (Century Media)

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Aos primeiros acordes de «All is One» ficamos com a sensação que estamos perante um excelente álbum dos Israelitas Orphanage land, o que, com o decorrer do álbum só se confirma na plenitude. Mas que grande álbum! Yossi Sassi e companhia já nos habituaram à sonoridade do medio oriente, a qual está bem latente na música dos Orphaned Land, mas, o que estes conseguiram com «All is One», foi ampliá-la, puxando essa peculiar sonoridade mais além, carregando o tom étnico e dan-

do maior graciosidade à partitura orquestral, isto, sempre com bons e grandes riffs e solos - que só ele sabe fazer - bem à frente a marcar a composição. O resultado é soberbo e avassalador. Tudo neste álbum parece ter sido feito de forma artesanal e cuidada, sendo o resultado colossal. Tudo está no lugar certo no tempo certo. A variedade díspar de texturas é bem patente ao longo das 11 músicas que o compõem, caracterizando bem cada música sem comprometer o todo. Perfeito! Este é sem dúvidas, o melhor


álbum dos Israelitas e o “alvo a abater” - vulgo benchmark - para o futuro. Não há momentos baixos e tudo está bem nivelado por cima. Não quero deixar de destacar as minhas preferidas de «All

is One», que são «The Simple Man» e a sua textura do Médio-oriente, a magnífica, sinfónica e bastante melódica «Through Fire And Water» ou «Shama’im» - tal como «Ya benaye», cantada em

hebreu - e «Brother» a par de «All is One», que abre o álbum de forma portentosa. Nunca os percussores do Oriental Metal hastearam a bandeira tão alto. [10/10] Carlos Filipe

POWERWOLF «Preachers Of The Night» (Napalm Records) Aqui está um álbum de Power Metal que cativa e prende o ouvinte. Já todos sabemos que neste género e nos dias que correm é difícil fazer algo que sobressaia e seja diferente. Devo dizer que os Powerwolf o conseguem com facilidade. Tal como nos Sabaton, a voz não segue o que costuma ser muito habitual nas bandas de Power Metal Germânico. De facto, a voz tenor de Attila Dorn confere um som e ambientes distintos das mais típicas bandas. No entanto, os Powerwolf não se ficam por aqui, «Preachers Of The Night» é inundado por todo um conceito e ambiente de “sacristia”. O uso dos coros opulentos e órgão elevam ainda mais esta atmosfera. “Kreuzfeuer” ou “In The Name Of God” são bons exemplos disso. Por aquilo que falei na review dos Sirenia, é isto, precisamente, o que procuro encontrar num álbum deste género: algo diferente e que cative. Os temas são muito diretos e fáceis de ouvir. Sem complicações. Os Riffs épicos e bombásticos ficam com facilidade no ouvido e o ambiente que os Powerwolf criaram para «POTN» é, realmente, distinto. Se os Sabaton conseguem ser diferentes na abordagem ao tema e ambiente da segunda guerra mundial, também, os Powerwolf o conseguem com a temática da religião. Como nem sempre estamos disponíveis para ouvir algo complicado e técnico, aqui está um excelente álbum para desanuviar. Não paro, no entanto, de pensar como seria uma missa rezada ao som de Powerwolf. No lugar do habitual Ámen o coro em uníssono de “Amen & Attack”, o sermão com “Cardinal Sin” em música de fundo, a comunhão feita ao som de “In The Name Of God” ou “Lust For Blood” e o fim apoteótico com “Secrets Of The Sacristy”. Perdoem-me desde já a heresia mas assim, até eu ia à missa. [8,5/10] Eduardo Ramalhadeiro

QUEENSRYCHE «Queensryche» (Century Media) Uma das minhas bandas favoritas e que mais tinta tem feito correr no mundo da música. Com uma biografia muito sui generis, em grande parte devido ao comportamento de Geoff Tate que entre outras atitudes se contam comportamentos impróprios, em palco, para com os colegas de banda e publico e ainda processos em tribunal, sobre quem tem

direito ao nome “Queensryche”. Chega-se ao cúmulo de neste momento haver duas bandas com o mesmo nome e símbolos iguais. Quanto a Geoff Tate, o comportamento e atitudes demonstrados deixaram transparecer a besta-quadrada que havia nele, e por conseguinte, não é digno de liderar uma banda chamada “Queensryche”. Os 3 membros originais Wilton, Jackson e Rockenfield, juntamente com o guitarrista Lundgren que está na formação desde 2009, juntaram-se a Todd La Torre e decidiram continuar o legado, renascem os autênticos Queensryche. Antes de mais interessa analisar a prestação e desempenho de La Torre. Acho que é demasiado óbvio. Os ‘ryche não tiveram problemas em recrutar um vocalista o mais parecido possível com o velho Tate - sim, porque além de ser uma besta, as qualidades vocais têm vindo

a decair... – e sendo assim, estamos perante um retorno às origens. Um rock muito direto e incisivo, não tão progressivo como «Operation: Mindcrime», digamos que é uma versão light e “menos musculada”. No entanto, a energia de “Speak” e “The Needle Lies” estão bem presentes. «Quensryche» só peca por dois pormenores: os temas, e por conseguinte, o álbum são curtos. Os temas são muito bons mas acabam depressa e quando damos por isso estamos no fim do álbum com aquela sensação... “Já está!?” Queria (e merecia) mais. Os ‘ryche esforçaram-se e conseguiram voltar à sonoridade que os catapultou para glória. P.S. Apesar de achar que Geoff Tate é muito mais que um parvalhão, não o deixo de considerar um excelente vocalista (foi) e com um lugar de destaque na história do rock. [9/10] Eduardo Ramalhadeiro

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SAINT VITUS «C.O.D.» (Season of Mist) «C.O.D.» ou «Children of Doom» foi lançado originalmente em 1992, e nessa época os Saint Vitus tinham lançado três álbuns de originais, um álbum ao vivo e um EP, naquela que é por muitos, considerada a formação clássica da banda. Contudo, no ano anterior, o vocalista Scott “Wino” Weinrich saíu, tendo deixado o álbum escrito na totalidade. A banda prosseguiu sem ele, substituindo-o por Christian Linderson. E é este disco que se nos apresenta, relançado e devidamente remasterizado. À época, no entanto, não foi muito bem recebido pelos fãs, sendo visto como um distanciamento do som tradicional, antigo “vintage”, quase “lamacento” e sujo, em favor de uma clareza sonora mais próxima do Doom de bandas como os Candlemass. Isto no que à produção diz respeito. E é este som que a remasterização actual se propôs a melhorar e a tornar mais forte e cristalino. Tarefa que, no meu entender, foi cumprida. Como factor extra de interesse, para além das doze faixas originais, possui dois temas novos: “To Breed a Soldier” e “The Chameleon”, que enriquecem este lançamento e acrescentam cerca de doze minutos ao opus promordial e cuja sonoridade, curiosamente se assemelha mais a Saint Vitus anterior. Em conclusão: é bom ver que este injustiçado clássico recebe o tratamento e a importância que há muito merecia, pois contém excelentes temas como o tema-título, “Shadow Of a Skeleton”, “(I am) The screaming banshee”, entre outros... A Comprar! [8.5/10] Joey

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SCHWARZER ENGEL «In Brennenden Himmeln» (Massacre Records) Depois do WOW do EP/single «Schwarze Sonne», chegou a vez do Álbum. Dave Jason conseguiu expandir o seu prelúdio musical para um álbum consistente e repleto de excelentes momentos

de dark/gothic metal, ao longo das 13 músicas que o compõem. Há aqui um pouco de tudo dentro deste género particular, havendo em cada música uma textura própria, que faz «In Brennenden Himmeln» um excelente álbum, oiçam «Hymne Für Den Tod» ou «Der Untergang» ou mesmo «Der Fährmann». Todo cantado em alemão - esta particularidade não constitui nenhum problema - funcionando o álbum perfeitamente na língua germânica e sendo mesmo um ponto de honra dos Schwarzer Engel. Ora, com solos acutilantes ou riffs bem conseguidos aqui ou ali, a verdadeira atmosfera é dada pelos teclados, que sempre no lugar certo vem ao de cima, aliás, tal como os solos que compõem as músicas. Há mesmo uma música

com uma entrada brutalmente rápida, «Drachen Über Eden». O sucesso do EP, «Schwarze Sonne», não podia faltar, claro está, destoando um bocadinho do ambiente pesado criado até então (é a faixa nº 12) e porque a qualidade desta faixa é tal que aqui é ofuscada por esse mesmo ambiente. A temática das emoções, suicido, apocalipse mantem-se, só mesmo o naipe alargado de texturas músicas é que mudaram para melhor. Resumindo, «In Brennenden Himmeln» confirma o que descobri no EP e faz desta banda alemã, uma das melhores descobertas dos últimos tempos. Não é certamente o melhor álbum do ano mas é daqueles que merece estar na lista. [9.5/10] Carlos Filipe

SHINING «8 ½ - Feberdrömmar I Vaket Tillstånd» (Dark Essence Records)

Para os seguidores desta banda, este não é um verdadeiro álbum novo dos Shining, mas sim uma reedição de músicas do tempo de «Livets Ändhållplats» e «Angst», tendo os Shining mantido a préprodução original e regravando tudo o resto, com seis vocalistas convidados, que cantam na sua língua original, pelo que não estranhem a disparidade linguística entre músicas. Os vocalistas são Famine, Attila Csihar, Pehr Larsson, Gaahl, Maniac e o próprio Kvarforth. E qual é o resultado final? Esse é avassalador! A essência de Shining está lá toda, a rudeza crua do seu black metal

aliado ao excelente trabalho de novo teclista Fredrik Fröslie (Angst Skvadron, Wobbler, Ásmegin) e todo o ritmo melódico que os Shining conseguem transferir aliado aos excelentes vocalistas fazem deste trabalho algo de único e do mais interessante que já se ouviu no género do black metal. Como seria de esperar, cada música tem a sua própria vida e atmosfera, mas sem nunca destoarem muito da atmosfera black metal geral de «8 ½ – Feberdrömmar I Vaket Tillstånd». As seis “pérolas” musicais que o compõem são “Terres des anonymes”, “Sz-


abadulj meg Önmagatól”, “Ett liv utan mening”, “Selvdestruktivitetens emissarie”, “Black industrial misery” e “Through corridors of oppression”. Shining e

esta retrospectiva da sua car- mesmo por não ter um tema reira em seis músicas com seis original. vocalistas diferentes constituem [9/10] Carlos Filipe um dos melhores actos do black metal actual. Este álbum só peca

SIRENIA «Perils Of The Deep Blue» (Nuclear Blast) Não tenho pachorra. Este é daqueles álbuns que por mais que ouça não consigo fixar-me nele, nem tão pouco “queimar” um cd para “rodar” no carro. Ouvi o suficiente para escrever uma review honesta e shift+del. Estes álbuns de power metal sinfónico, dada a variedade e a facilidade com que se fazem maus álbuns devem obedecer, na minha opinião, a dois ou três critérios para me cativar: boas orquestrações e fazer algo de novo ou diferente de modo a sobressair dos demais. Não encontro nada disto em «Perils Of The Deep Blue». Uma voz lírica feminina que, apesar de ser bem interpretada, me pareceu algo “deslocada” de alguns temas por ser demasiado… “fina”, uma voz agressiva masculina e alguns coros épicos, assim como o instrumental. Apesar de tudo, os dois tipos de vozes estão bem “doseados”. Este álbum resulta de um grande esforço por parte de Morten Veland que abandonou e formou os Sirenia após a sua saída dos Tristania. Dos álbuns anteriores nota-se uma clara evolução a nível da composição, interpretação e musicalidade, notando-se um ambiente mais “negro”. No entanto, não encontro em «Perils…» o suficiente que me faça ouvir e recomendar. Em algumas reviews que tenho lido é um álbum que parece estar a ser bem recebido e, no fundo, poderei estar a ser injusto. Ou, então, não aprecio mesmo. Quem gostar deste género de metal sinfónico aconselho, mesmo assim, a dar uma oportunidade aos Sirenia. Ouçam, tirem as vossas conclusões. A mim, simplesmente, não me cativa. [6/10] Eduardo Ramalhadeiro THE SAFETY FIRE «Mouth of Swords» (InsideOut Music) Existem aqueles discos progressivos que são bons, os que são mais do mesmo e os que trazem algo de novo. «Mouth of Swords» é o segundo de originais dos The Safety Fire e enquadra-se na última categoria. Não é muito fácil encontrar em bandas progressivas uma abordagem tão clara a elementos jazzísticos como neste caso; estas abordagens são sobretudo identificadas nos caminhos sonoros dispersivos que Lori Peri ataca no seu baixo mas que encaixa que nem uma luva na restante personalidade do álbum. Essa personalidade extremamente rica é do ponto de vista das guitarras suportada por um conjunto de sonoridades que vão desde o acústico melódico até a intensidades elevadas de energia distorcida que se desdobram por entre sequências rítmicas intrincadas ou solos virtuosos que oferecem um rejuvenescimento constante dos temas à medida que estes se sucedem. Obviamente que este multiverso rítmico é suportado por um senhor chamado Calvin Smith e que se aventura aos comandos da bateria sedenta de contratempos e conduzida por entre assinaturas temporais que dão para tudo. Para além da forte componente jazzística, penso ser muito interessante o modo como as guitarras assumem formas rítmicas ligadas à bateria, algo que não é inédito mas penso ser em «Mouth of Swords» muito bem conseguido. Apesar do ponto menos positivo causado por alguma falta de fluidez inicial que vai sendo compensada com mais audições, julgo que é praticamente essencial ouvir este álbum e, caso ainda não conheçam, ficarem a conhecer estes britânicos. [8.5/10] Sérgio Teixeira

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THE WINERY DOGS «The Winery Dogs» (Loud & Proud Records) Vou começar pelo fim: numa das próximas edições da VERSUS surgirá no top 3 dos álbuns do ano 2013. Até a este data a luta estava renhida entre este e os Witherscape, até ao aparecimento dos... Carcass! E o que tem de tão especial os The Winery Dogs?

Bem, é ROCK AND ROLL, BABY! Há determinados músicos que mantenho um acompanhamento mais ou menos regular. Um deles é Mike Portnoy que após a saída dos Dream Theater tem enveredado por uma série de projetos: participou, entre outros, no desenrascanço dos Avenged Sevenfold; The Flying Colours com Steve Morse. Portanto, num desses périplos descobri este projeto que me chamou duplamente a atenção pela presença de Billy Sheehan (saiu a review dos Niacin na edição anterior da VERSUS). O único que não conhecia bem era Richie Kotzen, ou melhor, a última coisa que tinha ouvido dele foi o «Native Tongue» dos Poison. Devo dizer que fiquei bastante surpreendido com a voz de Kotzen, tinha-o somente como um bom guitarrista. Algo que também me agradou de

sobremaneira foi Portnoy. Nunca gostei de o ouvir tocar desde, talvez, «Black Cloud...». Sóbrio, discreto, (aparentemente) simples e somente revelando a sua imensa técnica pontualmente. O seu melhor trabalho desde que saiu dos Dream Theater. A presença de Sheehan, com o seu baixo distorcido, dispensa a presença de uma segunda guitarra mas a estrela é Kotzen! A voz é qualquer coisa de... apaixonante, sim, é mesmo este o adjetivo. Uma mescla de Paul Rodgers e Chris Cornell , conferindo um brilhantismo extra aos temas. O som e técnica que “saca” da guitarra é excelente e a ideia de que era um bom guitarrista mudou completamente. Rock and roll do melhor, “fresco” e alegre. Isto é mesmo bom! Compra obrigatória! [9,5/10] Eduardo Ramalhadeiro

TURISAS «Turisas2013» (Century Media) «Stand Up And Fight» foi um dos meus preferidos em 2011 e, por conseguinte, fui assistir ao concerto dos Turisas no Hard Club. Em 2013 quando começaram a surgir as primeiras notícias dum novo álbum, toca a esfregar as mãos de contente. No entanto, após ver a capa e o título, comecei a temer algo dececionante. Após um excelente álbum muitas bandas tendem a optar por não dar continuidade à forma e estrutura anterior. Desta forma estou sempre recetivo a mudanças e a ouvir novas formas de música. Os Turisas encaixam, pois, nestas ideias. «The Varangian Way» e o já citado «Stand Up And Fight» foram dois álbuns conceptuais e «Turisas2013» começa logo, neste aspeto, por ser diferente. Ao nível da composição, os dois álbuns anteriores refletem a história na música, acabando por estar de alguma maneira interligadas. A versão dos Turisas para 2013 deixa isso para trás e uma das coisas que os fãs vão certamente sentir falta, é o fecho do álbum. Se nos dois anteriores terminavam de uma forma ÉPICA, neste não é bem assim e termina de uma forma... normal. «Turisas2013» tem “malhas” bem interessantes e sempre a “rasgar” o que faz antever uns concertos bastante movimentados. Como sempre no menu musical temos vários instrumentos, entre os quais violino, piano e até saxofone. As orquestrações continuam muito bem feitas, apesar de sintetizadas. Se em «Stand Up And Fight» os temas eram melhor trabalhados, de modo a acompanhar o conceptualismo da história, em 2013 os temas são mais “crus” e diretos. No entanto, os coros épicos e os growls de Nygard mantêm-se. Os Turisas souberam reinventar-se… para melhor ou pior, ficará ao critério de cada um. [8,5/10] Eduardo Ramalhadeiro TWILIGHT OF THE GODS «Fire on the Mountain» (Season of Mist) Só pelo nome da banda, a coisa parece prometer! Depois, temos logo a abrir o magistral riff de entrada de «Destiny forged in blood», a sua batida pujante a anteceder a entrada forte do baixo a comandar a voz do primeiro verso... Esta voz não me é estranha... Pois não, é o frontman dos Primordial, Alan Averill.

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O mote está dado para mais um supergrupo composto por músicos de excepção, com Rune Eriksen (ex-Mayhem, ex-Ava Inferi, ex-Aura Noir) e Patrik Lindgren (Thyrfing) nas guitarras, Frode Glesnes (Einherjer) no baixo e Nick Barker (ex-Cradle of Filth, ex-Dimmu Borgir) na bateria, sendo desta forma Twilight of the Gods e o seu álbum de estreia «Fire on the Mountain», uma banda a ter em conta logo


de início, constituindo-se logo à partida como um poderoso porta estandarte do Heavy Metal que há muito já não se ouvia. A melhor forma que encontro para descrever este projecto é imaginarem um encontro musical de Primordial com os Manowar (sempre os Manowar) mais inspirados dos tempos áureos, tudo envolto naquela característica atmosfera musical nórdica: isto

é Twilight of the Gods! Com cada música conseguida de forma plena, segura, bem equilibrada e bem misturada – ouve-se todos os instrumentos na perfeição – com um baixo sempre presente e uma bateria demolidora a impor o ritmo ou a ser conduzida pelo ritmo do riff – Brutal! Este álbum está repleto de grandes momentos de puro Heavy Metal, para se ouvir com atenção e

deixar-se levar pelo ritmo. Algumas músicas têm partes bastantes originais que contrastam com outras excelentes partes que nos fazem lembrar as grandes bandas clássicas que todos nós conhecemos, constituindo este um álbum obrigatório para qualquer fã do género. Nunca nos últimos tempos o nível deste género atingiu tamanha façanha. [9,5/10] Carlos Filipe

TÝR «Valkyrja» (Metal Blade Records) Vikings!!!! Incrível, dois álbuns de Power Metal que chamaram a minha atenção. Este muito particularmente, pois, despertou-me uma ansia e vontade de escrever e dar a conhecer. Se a religião é o tema principal dos

Powerwolf, os Týr dedicam-se a contar histórias de Vikings mas a um nível conceptual. Este trio oriundo das Ilhas Faroé contanos a história de um guerreiro Viking que abandona a sua mulher para impressionar a Valkyrie no campo de batalha. Como é óbvio, este tipo de “personalidade” é refletido na música. O Power Metal deriva ligeiramente para um género mais folk, pagão e viking. Após a tournée Americana o baterista, Kári Streymoy, abandonou os Týr e para gravar «Valkyrja» foi recrutado George Kollias. Este álbum mostra-nos a banda a seguir uma nova direção, que não pode ser dissociada do maior envolvimento do guitarrista Terji na composição, assim como a presença de Kollias – Seria um crime não aproveitar tamanho talento. Os temas são

muito diretos e incisivos. Heri Joensen consegue imprimir muita emoção e algum sofrimento à voz, principalmente nos temas “Nation” e “Another Fallen Brother” – O grito que antecede o primeiro verso faz lembrar Hans Kuch do Blind Guardian. Dez dos onze temas não têm mais de 4m30s mas isso não impede que o álbum possa correr fluidamente. A exceção é “The Lay Of Our Love”. Esta balada é a curva apertada numa autoestrada sem limite de velocidade. Como resultado acabo sempre por cortar a curva a direito e saltar para o próximo tema. Num álbum deste calibre só podia terminar de uma forma: “Valkyrja” é o épico de 7m31s que fecha esta alucinante viagem e sem direito ao pagamento de portagens! [9,5/10] Eduardo Ramalhadeiro

VATTNET VISKAR «Sky Swallower» (Century Media) A introspecção a que nos incita este trabalho é uma tortura. Negro e de uma profundidade incomensurável, é sempre interrompido com um blast sistemático que impede de nos manter lineares por períodos de tempo suficientes, para divagações da nossa perdida existência na imensidão da superficialidade moderna. E isso causa uma arritmia a qualquer ouvinte, deixando-o num estado de total submissão. Ao dia de hoje, tudo relacionado com a nossa vida nos parece diferente após ouvir “Fog of apathy”, um nevoeiro que causa a dúvida e deposita cautelosamente a angústia em qualquer um. Um ambiente criado para nos tirar de nós próprios, é assim que vejo o primeiro trabalho de longa duração destes americanos (com nome sueco), que apenas somavam dois EPs; mas que já sofreram algumas dissoluções. Capturados pela Century Media para começar algo de mais forte mas já bem definido nos trabalhos anteriores, os Vattnet Viskar mostram uma qualidade de composição e de execução bastante interessante, não deixando adivinhar ao ouvinte mais distraído que se trata de um primeiro álbum. A faixa “Mythos” mostra a dimensão da obra, os sombreados esguios, a força do detalhe nas entrelinhas, a intensidade e força do corpo do trabalho e uma saída digna de um rei. Um perfeito encaixe com “As I stared into the sky”; para nos mostrar como é a dignidade do momento e o culminar num “Apex” que me deixa sem palavras, sem reacção. Apenas ouçam. [8/10] Adriano Godinho

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VULTURE INDUSTRIES «The Tower» (Season of Mist) Classificar ou catalogar Vulture Industries é tão estranho como tentar descer para cima, ver alguma coisa com os olhos fechados ou dormir acordado. Passo a explicar. Esta obra dos Vulture Industries é aparentemente, numa primeira audição superficial, algo que anda para ali perdido no oceano da indústria musical e que pronto… ouve-se, mas “deve haver para aí algo mais fixe”. Em certa medida é algo a que pode estar sujeito este «The Tower»; porém, provavelmente exigirá do ouvinte mais do que uma olhadela rápida para a torre. O que encontro neste «The Tower» é um mundo estranho de sonoridades inspiradas pelo imaginário da época dos exploradores mineiros dos primórdios da conquista americana assente na expansão do caminhode-ferro a vapor, hidratados pelas chuvas que caem sobre as encostas de Bergen na Noruega contemporânea do século XXI, embrulhadas pelo inconformismo intelectual e artístico de Bjørnar Nilsen, pela sua voz ao estilo de Ian Astbury (The Cult) mas ainda mais encorpada. Um dos temas mais apelativos é “Blood on the trail” que intercala excertos de vocalizações em jeito de relato de estórias, com mudanças de tempo e ritmo estonteantes. Esta filosofia musico-narrativa impera sobre todo o álbum e é, julgo eu, a melhor maneira de ilustrar «The Tower». Esta mesma estrutura musical apesar de ser de algum modo original acaba por ser excecionalmente cerebral o que implica um período de maturação. O vídeo do tema “Lost among liars” já circula por aí, é só espreitar. «The Tower» poderá ser um bom disco para acompanhar os céus cinzentos do outono que se aproxima. [8.5/10] Sérgio Teixeira

WITHERSCAPE «The Inheritance» (Century Media) Ao ouvir «The Inheritance» aqueles sentimentos e emoções que estavam adormecidos desde a descoberta dos Ne Obliviscaris voltaram a acordar. Os Witherscape nasceram da colaboração do produtor e multi-instrumentalista Dan Swanö e Ragnar Widerberg. Este foi um projeto pensado durante muito tempo

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e como é óbvio, só poderia sair daqui algo de épico e conceptual. Para algo ser assim tão especial e que faça a diferença entre os demais, nada poderá ser deixado ao acaso. Liricamente, a história centra-se por volta de 1800, no norte da Suécia e tem como base uma herança de uma propriedade, claro que estranhas coisas acabam por acontecer... O conceito criado por esta dupla foi passado para o papel por Paul Kuhr dos November Doom. Como extra, Paul ainda escreveu uma curta história descrevendo com mais pormenor o desenrolar de toda a situação. Já que estamos a falar em pormenores, a edição limitada Mediabook CD além deste desenvolvimento, ainda contém 32 páginas de ilustração da história, duas versões e duas misturas alternativas do álbum. Chamo a particular atenção para a versão Full Dynamics – Leiam mais um pouco sobre

Loudness War. Sobre a música, propriamente dita, «The Inheritance» é uma mescla magistral de vários géneros e influências que ajudam a criar uma atmosfera variada. Death, Progressivo, old school, interlúdios acústicos, riffs que nos fazem ouvir em loop, a excelente mistura entre a voz limpa e gutural, dando assim um toque de Opeth e ajudando a criar um ambiente negro, melancólico e/ou agressivo. A música segue paralela à história, ou seja, é tão coerente e sólida, que tal como um livro, não faz sentido saltar um capítulo. Um excelente álbum nem sempre é só feito de boa música. Quando temos toda uma boa história, ilustrada e um conceito que a apoiem e suportem, então, temos algo para guardar e disfrutar com todo o prazer. Os sentimentos e as emoções não voltam a adormecer tão cedo. [10/10] Eduardo Ramalhadeiro


O Mundo Mudou Um mundo novo. É este mundo que se renova a cada dia, com coisas novas a ser criadas, com coisas antigas a ser reencontradas, experiências que misturam o conhecido com o desconhecido, dando assim luz a caminhos nunca dantes iluminados. Difunde-se o que se pareça mais provável ser aceite e deixa-se ficar para a próxima algo que possa chocar mais ou ter reações negativas primeiramente. Com uma mentalidade destas, muito se perde, ou se espera demasiado para conhecer, e por vezes encontramo-nos a descobrir algo maravilhoso apenas para mais tarde nos lamentarmos pela demora a que tal levou.

centrados nos nossos afazeres, ou, por vezes até, ironicamente, a pensar em que género musical se vai procurar pela nova música favorita das cinco da tarde, que os nossos olhos vão postos nas biqueiras das nossas botas e não nos nossos congéneres. E ainda que assim se descubra muitos caminhos nos mares do desconhecido, continua a ser de boca em boca que vão as melhores apostas, e mesmo aquelas que não são, quando aconselhadas por alguém fortalecem um laço que de outra maneira não se consegue; a partilha do conhecimento daquilo que nos dá mais prazer. Daí que seja não só interessante mas importante até, a ousadia de ver ao vivo aquilo que à partida não se gostaria, facilmente se tem uma boa surpresa, além disso, tudo ao vivo tem mais energia e sabe sempre melhor. Daniel Guerreiro

Certamente é algo comum a todos nós a descoberta de uma banda espetacular e pela qual ansiamos ver ao vivo, quando sem aviso nos vem a conhecer que essa banda cessou atividades antes ainda de termos provado a sua sonoridade. Este cenário entristece. Mas mais triste ainda é, muitas das vezes, existir acontecimentos e eventos próximos de nós e dos quais nem damos conta, apenas ficando a saber deles numa conversa entre amigos na qual alguém diz que o fulano da esquina ouvia barulho e foi ver o que se passava. O espírito de descoberta e aventura pelas montanhas do mundo da música parece tanto perdido como no seu auge, e ambos ao mesmo tempo. Com o poder enorme da navegação informática é fácil descobrirmos coisas do outro lado do globo terrestre, mas ao mesmo tempo esquecemos o que acontece na rua da frente, olhamos e não vemos o conjunto de pessoas que se forma próximo de uma porta que nunca está aberta, às tantas vamos tão con75


Extremismos literários Ao contrário do que se verifica em Portugal, já vários autores espanhóis publicaram livros sobre música pesada. Salvador Rubio (de nome artístico Salva Rubio) é um dos mais proeminentes, devido em parte às vastas áreas que o seu trabalho abrange. Guionista, argumentista, escritor, músico e conferencista, Rubio tem no livro Metal Extremo: 30 Años de Oscuridad (1981-2011) a menina dos seus olhos e não é para menos: abrangente, exaustiva e rigorosa, a obra reúne todas as condições para se tornar um clássico da literatura especializada nas sonoridades extremas. A recente edição no Perú alimenta altas expectativas quanto à internacionalização da obra, sobre a qual falámos com o autor. 76


Acima de tudo és um headbanger devoto, mas o teu papel no Metal ultrapassa em muito essa condição. Fala-nos dos vários aspetos da tua vida relacionados com o Metal. Salva Rubio: Com efeito, o Metal, e em particular o Metal Extremo, é uma parte essencial da minha vida. À semelhança do que, julgo, se terá verificado contigo e com os leitores da revista, o Metal tem-me acompanhado sempre, proporcionandome momentos de enorme alegria, mas também de apoio nos momentos difíceis. Assim continua a ser. Mas abordando a minha atividade, sou autor do livro Metal Extremo: 30 Años de Oscuridad (19812011), que chegará brevemente à quarta edição. Este livro permitiu que me tornasse conferencista na área do Metal, especialmente nas Jornadas Rock & Metal, organizadas em Jaén. Finalmente, sou vocalista dos The YTriple Corporation. Tocamos uma fusão de Thrash, Death Metal melódico e Industrial. Para teres uma ideia da sonoridade que praticamos imagina uma fusão dos Carcass com os Fear Factory e com os Machine Head. Gostaria de aproveitar esta oportunidade para convidar os leitores da Versus Magazine a descarregar o nosso primeiro álbum, «Medusa Megalopolis», do site www.ytriple.com. Julgo podermos afirmar que as raízes do livro residem num trabalho académico da tua autoria intitulado Breve Historia del Metal Extremo. Mais tarde fizeste incidir a tua tese de doutoramento na mesma temática e o resultado foi Metal Extremo: 30 Años de Oscuridad (1981-2011). De que forma evoluiu o processo desde o primeiro momento até a publicação do livro?

De facto, tudo começou em 2003, quando elaborei o trabalho que referes para a cadeira de História da Música na universidade. O professor da disciplina era um grande musicólogo mas desconhecia um género musical tão diferente como o Metal Extremo. Assim, encorajou-me a escrever um livro. Infelizmente, morreu uns anos mais tarde. No entanto, só em 2009 decidi concretizar o projeto. Quanto tempo demoraste a completar o livro? Quase posso dizer que levou décadas, pois estudo o Metal desde que oiço este género de música. Julgo que toda uma vida de amor pelo Metal está bem patente no livro. Mas falando em termos práticos, o tempo que pude dedicar à obra variou ao longo do tempo, portanto demorei vários anos a investigar, dois anos a escrever e mais um ano para atualizar o texto e completar o livro até finalmente ser publicado no final de 2011. A obra revela-se extremamente detalhada, incidindo particularmente nas raízes, origens, história e evolução dos vários subgéneros do Metal Extremo no Mundo, como o Thrash, o Death, o Doom, o Black Metal ou o Grindcore. Nela descreves ainda as características (técnicas, não técnicas, líricas, etc.) subjacentes a cada subestilo, o conceito a eles inerente, entre outros aspetos. Assim, que metodologia usaste na pesquisa e redação do livro? Obrigado pelas tuas palavras, Dico. Para escrever o livro recorri ao método habitualmente usado para a escrita de trabalhos académicos. Primeiro, tomei em consideração a “fonte direta”, ou seja, a música em si. Na medida em que este é um livro formal, digamos (enquanto documento baseado em anális77


es neutras e não sobre a forma como os artistas vêm a sua própria música) ouvi e dissequei cuidadosamente cada álbum mencionado, tendo prestado especial atenção à evolução dos grupos ao longo do tempo. No que às fontes secundárias diz respeito não existem muitos livros formais ou ensaios dedicados a este género musical, apenas livros menos úteis. Recorri também a fontes online como o Metal Archives para verificar datas de edição de discos, por exemplo. Por outro lado, a redação do livro consumiu-me vários meses, durante os quais ouvi muitos discos e tirei muitas notas. O verão de 2010 foi particularmente trabalhoso, implicando entre oito a 12 horas diárias de escrita. Foi árduo, mas de outra forma não teria conseguido terminá-lo. Como estabeleceste a estrutura e a arquitetura do livro? Quanto tempo demorou este processo? Com efeito, a organização da estrutura constituiu a minha principal preocupação durante o processo de escrita. Estava certo que haveria uma forma de classificar os géneros segundo a qual, em dada altura, todos os grupos e discos encaixassem, quase como se faz na botânica. Desenhei uma árvore genealógica de estilos e corrigi-a sistematicamente, mudando grupos de um subgénero para outro. No fim, acabaram todos por se enquadrar muito bem. Encontraste o equilíbrio certo relativamente à abordagem que fazes de bandas “mainstream” (se é que podemos usar este termo) e underground.

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Foi difícil obter esse equilíbrio? Essa foi outra preocupação minha. Há grandes bandas que mereciam, obviamente, ser mencionadas no livro, bem como grupos mais pequenos, cujo reconhecimento público não foi tão significativo mas julguei ser interessante incluí-los. No livro encontramos centenas de grupos, oriundos de todo o Mundo, incluindo Portugal. Que critérios usaste para selecionar as bandas inclusas? Queria que todos os agrupamentos fossem relevantes, não queria, de forma alguma, referir bandas para “encher”. Portanto, julgo que o principal critério foi obter uma panorâmica equilibrada das várias possibilidades existentes neste género musical. Não quis satisfazer ninguém, e a maioria das pessoas poderá questionar a inclusão de grupos de “segunda linha”, mas queria proporcionar uma outra visão sobre dois géneros de grupos e de discos: por um lado, aqueles que a idiossincrasia da “cena” levou à rejeição (recordo-me por exemplo, dos Xysma, dos Carcass pós «Necroticism - Descanting the Insalubrious» ou dos Entombed na sequência do «Wolverine Blues») e, por outro, bandas menos conhecidas, que poderiam ter feito a diferença caso tivessem editado mais discos ou obtido maior grau de promoção, como os Ton, Mourning Sign, Absorbed, etc. Na conclusão do livro questionas-te sobre que futuro está reservado ao Metal Extremo e também dás a resposta: ninguém sabe! Julgo ser verdade. Ainda assim, que formas poderá assumir o estilo? Haverá ainda mais subgéneros? Alguns deles poderão fundir-se num só? Esses géneros serão ainda mais extremos? Ainda ontem me escreveu um leitor e músico dizendo ser um recém-chegado ao Metal Extremo. Afirmava estar fascinado pelas possibilidades aparentemente infinitas que o género oferece. Esta ideia resume bem a minha visão sobre o género. Para ser mais objetivo, julgo que o Metal Extremo irá consolidar-se e crescer ainda mais. Afinal, já ultrapassou os 30 anos de existência. As facões mais conservadoras do Underground continuarão a proteger a essência do género (o que é bom). Por outro lado, algumas características do Metal Extremo serão lentamente incorporadas pelo mainstream, tal como se verificou com o Punk e, paradoxalmente, com o Black Metal (o que é igualmente bom e impossível de evitar, penso eu). Apesar de tudo, acho que é possível ser-se ainda mais brutal e mais extremo, sim. Afinal, neste género de música, todas as barreiras foram repetidamente quebradas (e con-


“Algumas características do Metal Extremo serão incorporadas pelo mainstream” tinuarão a sê-lo, com certeza, já que este princípio subjaz à essência do Metal Extremo). Como reagiram os fãs, os leitores e a comunicação social ao livro? Deixarei os factos falarem por si: estamos prestes a chegar à quarta edição em pouco mais de um ano e meio após o lançamento original. Portanto, quer em Espanha quer na América Latina a reação foi incrivelmente positiva. Aproveito desde já para agradecer esta receção á obra e estendê-la aos milhares de leitores que recomendam o livro aos seus amigos, nomeadamente através das redes sociais; e aos jornalistas que me entrevistaram e analisaram Metal Extremo: 30 Años de Oscuridad (1981-2011). Chegámos a estes resultados sem qualquer promoção do editor. O êxito alcançado resultou do apoio da “cena”. O livro já foi traduzido para outras línguas? Estamos a preparar algo em Inglês, mas não posso darte mais pormenores, nomeadamente quanto a formatos ou datas de lançamento. Atualizarei as informações no meu blogue (www.librometalextremo.com) . Embora a originalidade constitua uma utopia para os artistas em geral achas que, ainda assim, existem abordagens musicais que o Metal Extremo ainda pode vir a configurar? Ou tudo o que podia ser inventado já chegou aos nossos ouvidos? Como disse, ainda há muito a explorar, especialmente quando géneros estranhos ao Metal Extremo, como a Música Sinfónica Contemporânea, descobrem as texturas e recursos que lhe estão associados. Estou certo que pelo menos a música de vanguarda, a música académica ou o Jazz irão lentamente incorporar elementos próprios da música extrema à medida que os compositores forem descobrindo este género musical.

Enquanto fã, que subgéneros do Metal Extremo preferes? Oiço de tudo um pouco, mas para teres uma ideia neste momento o meu iPod tem álbuns dos Akercocke, Carcass, Cathedral, Darkthrone, Death, Dismember, Down, Ghost, Grip Inc., Hail of Bullets, Los Halcönes, I, Immolation, Impaled Nazarene, Isvind, Napalm Death, Necronaut e Tragedy. O que podemos esperar de ti no que respeita a novas obras? Talvez uma edição revista e ainda mais aumentada do livro? Um novo volume sobre Metal? Ou talvez um documentário? Levei algum tempo a decidir mas sim, haverá um novo livro sobre Metal, desta feita especializado no universo do Metal “lento”: Doom, Sludge, Stoner, Drone, etc. Haverá atualizações frequentes no blogue sobre este projeto, espero que gostes quando te chegar às mãos. Irei gostar, certamente. Queres deixar algumas palavras finais ao nossos leitores? Muito obrigado pela entrevista e lembrem-se que as páginas iniciais do livro encontram-se disponíveis para leitura em www.edmilenio.com/ESP/ llibre_milenio2.asp?id=11&id_llibre=501. Podem adquirir a obra através do link http://www.librometalextremo.com/, sendo que o álbum da minha banda pode ser gratuitamente descarregado no site www.ytriple.com. Entrevista: Dico (Fotos cedidas pelo entrevistado)

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CHADWICK SAINT JOHN A vida é um sonho… longo e errante É o talentoso autor de capas de álbuns que, certamente, chamaram a atenção dos leitores da VERSUS Magazine nestes últimos tempos. É particularmente apreciado por bandas de black metal. Numa escrita cautelosa, em que se pressente o homem focado e seguro do que pretende, fala-nos da sua arte e do trabalho a ela associado. E, tal como Caldéron de la Barca, vê a vida como um sonho, que temos de seguir à procura do que houver de melhor em nós.

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A primeira vez que vi uma referência à tua obra foi quando estava a preparar uma entrevista a Svartsyn. Reparei na fascinante capa do álbum e foi o próprio Ornias que me deu o teu contacto. Ao que parece Svartsyn é um cliente frequente para ti. Como encontras as bandas para as quais trabalhas? Chadwick: Obrigado pelo elogio. As bandas, músicos ou editoras para quem trabalho contactam-me através de um website. Outras vezes, veem trabalhos meus em alguma publicação e a partir daí encontram o meu contacto. Frequentemente falam-me de pessoas que estão interessadas no meu trabalho. Foste tu que fizeste a capa do último álbum de Arckanum? Ando à procura do autor dessa obra de arte. Sim. Arckanum foi um dos meus primeiros clientes e eu sou fã de Shamatae e da sua arte. É um músico único no seu género e já fiz capas para vários dos seus álbuns. O primeiro trabalho que fiz para Svartsyn foi precisamente para um split com Arckanum, intitulado «Kaos svarta mar/Skinning the Lambs», lançado em 2004 por uma grande editora sueca: a Carnal Records. Desde essa altura, encarreguei-me frequentemente do artwork para os álbuns de Svartsyn. O que me fez pensar que a capa de «Fenris Kindir» [o último álbum de Arckanum] era da tua autoria foi o facto de apresentar um elemento que me parece característico da tua arte: uma espécie de “sangue negro”. Por que há tanto medo e “sangue” nas tuas ilustrações? Deixas-te fascinar pelo ter-

ror? Exprimo algo honesto e emotivo. Não me parece que fascinação pelo terror seja a melhor forma de descrever o meu estilo e o mesmo acontece com a expressão “sangue negro”. Usaria antes a palavra pânico, já que este pode converter-se numa poderosa fonte de inspiração, compreensão e, curiosamente, paz interior. Procuro exprimir uma certa forma de ansiedade, de medo, uma perspetiva tenebrosa, mas, ao mesmo tempo, cheia de sentimento, de emoção. Não considero que a minha arte se refira a coisas toscas, grosseiras, embora haja quem pense assim. As ilustrações que viste em álbuns de metal representam uma parte da minha arte e do meu passado. Faço questão de manter os vários aspetos do meu trabalho separados uns dos outros. Não me identifico com nenhuma definição fechada, estanque, com nenhuma estrutura rígida, porque isso seria demasiado constrangedor, limitativo, para a minha inspiração. Por que decidiste usar principalmente tinta negra e pena em papel branco? Essa opção deve-se ao facto de trabalhares com bandas de metal? Ou esses elementos são os mais adequados para exprimires o que te vai na alma? Há muito tempo que uso esses materiais na minha arte. Há bandas de metal, músicos e fãs de música extrema que apreciam a minha arte devido à sua estética própria e às emoções que exprime. A forma de expressão escolhida e os temas fazem parte dela. A arte pode ter várias camadas de significado e tanto a música extrema como a minha arte partilham essa característica, que é comum a ambas. Suponho 81


que é por essas razões que eles consideram a minha arte gráfica adequada à sua música. Há uma atmosfera e um conteúdo que fluem juntos gerando um tema comum… que é a sombra. Embora, por vezes, recorra a outras técnicas e materiais, pode-se dizer que a essência da minha arte está associada à pena e à tinta-da-china. Daí o meu site chamar-se Inkshadows. Há razões pessoais e artísticas que me levam a manter-me fiel ao preto e branco. Nesse aspeto, como noutros, penso que sou um minimalista. Aconteceu que eu tivesse criado arte para algumas talentosas bandas de black metal. Portanto, acho que tens razão... esta deve ser a forma de expressão gráfica mais adequada a esse público. Estudaste arte? Se assim foi, que papel desempenha essa formação na tua obra? Parto do princípio de que há outros fatores tão ou mais importantes do que este, já que na tua biografia estava escrito que desenhas desde os 13 anos de idade. Desenho desde que tenho consciência da minha existência, mas foi aos 13 anos que comecei a centrar-

me na pena e na tinta-da-china e que percebi que era isso que queria fazer. Tinha 15 anos a primeira vez que publiquei uma ilustração. Não fiz estudos de arte. E não frequentei a universidade, nem tinha a mínima vontade de o fazer. Consideras que és influenciado por alguém ou algo em particular? Geralmente, associo o uso de tinta-da-china, pena e papel branco à arte dos fins do séc. XIX e princípio do séc. XX? Tenho razão, no que se refere à tua obra? De um modo geral, deixo-me influenciar por elementos como atmosferas, a natureza, sonhos, experiências de vida, que são difíceis de traduzir em palavras. São importantes fontes de inspiração para a arte e a música. Exprimo a intensidade da influência que estes elementos exercem sobre mim da forma mais fluida que consigo encontrar. Aprecio todos os tipos de arte, incluindo o estilo que referiste, bem como muitos tipos de música e culturas muito diversificadas. Mas não posso indicar influências específicas para a minha arte. Propositadamente, mantive-me na ignorância relativamente a regras,


meu alcance para criar algo que permita capturar essas ideias. Não trabalho com modelos ou referências. Exprimo o que me vai no íntimo, não o que vejo com os olhos, portanto é um processo muito pessoal. Se alguém der sinais de apreciar a minha arte, então farei o possível por partilhar com essa pessoa algo único.

história da arte e estilos durante a maior parte da minha vida. Apesar de isso ter feito com que tivesse demorado mais tempo e gastado mais esforço a desenvolver o estilo que tenho agora, sempre me pareceu que este era o caminho mais natural. Fui educado no seio de uma família religiosa e sempre me deixei fascinar por fantasmas, demónios, o sobrenatural, o fantástico, artes marciais, monstros e horror. Uma parte do meu interesse por esses temas derivou do facto de serem assuntos proibidos, ou desconhecidos, alguns dos quais estão integrados na própria religião. Portanto, apesar de tudo, pode-se dizer que algumas influências pessoais, não específicas, se manifestaram na minha arte. Na sua entrevista, Ornias declarou que tinhas desenhado a capa para «Black Testament» a partir de uma visão que ele tinha tido. É sempre assim que trabalhas? Ou preferes que te deem a liberdade de apresentares a tua própria interpretação do conceito subjacente ao álbum em questão? Apresento sempre a minha própria interpretação, caso contrário não me consideraria como um artista. Ornias contou-me a sua experiência e eu tratei de criar a minha interpretação do tema de “Pazuzu”. Criei essa capa a partir de uma energia especial. Não queria de modo nenhum ser tentado a recriar a interpretação de Pazuzu dada por algum artista conhecido (por exemplo, em “The Exorcist”, o clássico do cinema). Fiz essa capa combinando elementos mitológicos provenientes das fontes mais antigas que referem Pazuzu, o que Ornias queria e as minhas próprias ideias. Nas ilustrações, é frequente haver mais do que aquilo que os olhos podem ver. Geralmente, parto de uma ideia ou tema ou muito simplesmente daquilo que a banda quer transmitir com a sua música. De seguida, faço o que está ao

No teu site oficial, vi capas que fizeste para bandas de metal, mas também ilustrações originais que estão à venda, logo disponíveis para diversos usos. O que te acontece com mais frequência: venderes essas ilustrações, ou seres contratado para fazer desenhos especificamente destinados a essas bandas? Forneço arte a vários tipos de públicos: bandas, colecionadores, organizações, editores, quem quer que esteja interessado no meu trabalho. Normalmente, pedem-me para fazer algo original. Pode ser a capa de um álbum, um livro, uma revista ou uma ilustração para um colecionador. Também disponibilizo ilustrações online que podem ser usadas uma só vez, mediante um pagamento. Não estão lá por não terem sido vendidas, mas sim porque esta proposta pode ser interessante para quem publica. Um trabalho original custa mais e demora mais tempo a fazer e, por vezes, quem publica precisa rapidamente de uma ilustração, para cumprir um prazo. É claro que isso depende do estilo individual ou do artista, mas a verdade é que as ilustrações feitas com tinta-da-china e pena podem demorar mais tempo a fazer do que a pintura. Expões o teu trabalho com regularidade, fora da internet (por exemplo, em exposições)? Pontualmente. Por exemplo, de vez em quando mostro originais a colecionadores privados. De há cinco anos para cá, resolvi uma parte dos meus originais. Na ilustração original, podes ver a verdadeira cor da tinta, assim como a textura das linhas, que se pode sentir com as mãos. De tudo o que vi e li, deduzo que és um artista de sucesso. Tens algum sonho especial? Todos sabemos que o sucesso vem do nosso íntimo e sinto-me grato por experimentar essa sensação. A vida é um longo sonho. Logo veremos onde o seu caudal me leva. Entrevista: CSA SITE OFICIAL www.inkshadows.com 83


Erguer

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Empurrados e nascidos num concurso de talentos, os Opium agarraram essa oportunidade de se misturarem no mundo do Metal. Evocando um certo Metal Progressivo, não hesitam em adicionar doses de Metalcore – mistura que tem a sua génese nos diversos gostos dos músicos. Oriundos de Santo Tirso (Monte Córdova), a banda tem vindo a construir-se e parece ter encontrado o seu caminho. A VERSUS Magazine falou com os Opium e soube que um EP está à vista - «Rise». Viva pessoal. Obrigado pelo vosso tempo. A primeira questão é sempre a mesma. Quem são os Opium? Como aconteceu? Ricardo: Boas. Nós é que agradecemos pela vossa oportunidade de nos dar a conhecer. Os Opium são constituídos por Gabriela na voz, Ricardo e Sérgio nas guitarras, Rafael na bateria e João no Baixo. Eu e o Sérgio já vínhamos de um projecto chamado InnerLess que havia terminado. Mas, como o “bichinho” da música nunca deixa de existir, queríamos continuar a tocar. Como organizadores de um concurso local (em Monte Córdova) decidimos participar. Convidámos o João e o Rafael e compusemos um tema para participar. Correu muito bem e então todos concordámos que deveríamos dar continuação ao projecto. O elemento da voz foi o último a colocarem? Ponderaram várias escolhas? Ou já tinham alguém específico para o lugar? Neste caso a Gabriela. João: Sim, a Gabriela é o elemento mais recente. Inicialmente eramos só os “instrumentistas”, depois decidimos convidar uma amiga para vocalista, a Susana, e acabámos por chegarmos à conclusão que não encaixava na nossa sonoridade e decidimos separar caminhos (Opium e Susana). Colocámos um anúncio on-line e respondeu um vocalista, o Celso. Também não funcionou, talvez por falta de empatia pois sentíamos que a banda era Opium mais o Celso na Voz, não havia união. Entretanto, depois de mais um anúncio, uma amiga da Susana (1ª Vocalista) mostrou vontade de tentar. Demos a oportunidade e gostámos. Curiosidade: pensaram em vozes masculinas, ou sempre pensaram numa voz feminina? Rafael: A nossa intenção foi sempre voz masculina, mas estávamos receptivos; tanto é que temos uma voz feminina. Caso não tivessem participado nesse concurso de talentos, haveria a hipótese de existirem hoje os Opium, ou qualquer outra banda?

Sérgio: Sem dúvida que sim. O concurso apenas serviu de pretexto e empurrão para o projecto andar para a frente. Vocês estão a trabalhar no vosso primeiro EP. Como está a correr? Já estão em gravações? Tem já data de lançamento? Ricardo: Estamos em gravações sim. Mas como temos tido alguns concertos está atrasado. Mas está a correr bem e estamos a gostar do resultado. Previsões... Tencionamos lançá-lo para o final do ano. Estamos neste momento em fase de composição de novos temas que poderão sair no EP. Têm alguma editora em vista, ou será um trabalho financiado totalmente por vocês? Gabriela: Todo o trabalho e financiamento estão a ser à nossa custa, com a excepção da captação de voz que contamos com um amigo (Hugo Rodrigues). Editoras em vista? Temos todas (hehe), estamos abertos a sugestões/propostas! Opium é um nome curioso. Porque este nome? Há alguma correlação com as vossas letras? Têm alguma mensagem a transmitir? Sergio: O nome surgiu no concurso... não tínhamos nenhum nome, então abrimos um livro, desfolhamos aleatoriamente e saiu-nos a palavra “Opium”. Parecia funcionar bem e o pessoal pareceu gostar. Também pareceu-nos um nome fácil de decorar. As letras... Cada uma tem a sua mensagem e o seu tema, mas essencialmente são “negras”! Vocês têm dado concertos, que eu sei. Como têm corrido essas actuações? Têm já histórias para contar? Há algum momento que gostassem de destacar? Ricardo: Felizmente correram muito bem. Temos a sorte de ter uma “legião” de fans que nos apoiam incondicionalmente e nos seguem para todo o lado. Momentos engraçados... Num dos concertos “em casa” (na nossa terra), o concerto coincidia com o aniversário de um amigo, o que fez com que al85


gum pessoal chegasse tarde. Quando a malta do aniversário chegou “exigiu” que tocássemos novamente, então decidimos tocar tudo novamente para a continuação da festa de aniversário. De notar que eramos banda de abertura para outra banda... Gabriela: Outro caso foi num dos concertos no Porto que apesar da recepção excelente da casa em questão, além dos nossos seguidores tínhamos 4 pessoas a ver-nos. E tornou-se engraçado pois tocamos 80% do concerto para uma plateia sentada à nossa frente. Rafael: Para finalizar, um concerto que demos num festival. Chegamos ao sítio e não víamos o palco que estaria atras de uma igreja - ao chegar ao local do festival reparamos que o palco era nada mais nada menos que um camião com o reboque aberto. Quando ainda estávamos a admirar as condições do palco, o pároco da localidade veio falar connosco com um bafo incrível a álcool e parecia não estar sozinho... Depois de feito o checksound, estávamos a conviver com a banda de abertura, malta impecável. Veio um dos elementos da banda, que se tinha recusado a ser banda de abertura, pois não tinha trazido material nenhum (amps, bateria...), pedir se tínhamos uma chave de fendas. Aí um elemento da banda de abertura respondeu-

lhe: “Se tivesse aqui uma chave de fendas era para te enfiar no cu! Estás-te a rir? Era porque ias gostar...!” Partimo-nos a rir. Mas la arranjaram uma chave de fendas aos miúdos... Continuando o dia, e após o jantar quando faltavam poucos minutos de começar o festival, perguntámos à organização se o pessoal costumava chegar tarde, ao que nos respondem : “Aqui o pessoal não adere muito, só se for pessoal de fora...”. Ficámos sem reacção. Fizeram um festival sem publicidade nenhuma, a contar com pessoal que viesse de fora para uma terrinha. Mas ainda veio algum pessoal da zona, mas quando chegou à nossa vez, tínhamos apenas o nosso público e pouco mais. Por último: vocês rotulam o vosso som de Metal Progressivo/Metalcore. Foram sempre esses os estilos que quiseram tocar? João: Sim desde o início. A nossa intenção era manter o Progressivo mas, talvez derivado aos nossos gostos musicais, têm surgido temas mais Metalcore. Mas fazemos questão que todas as músicas tenham pelo menos alguma progressão ou crescendos. Entrevista: Victor Hugo

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MOONSPELL

Festas de Lisboa – Jardins da Torre de Belém - Lisboa 29.06.2013 “Sombras” revisitado, atualizado e ampliado Coube aos Moonspell fecharem as festas de Lisboa 2013, tendo trazido para tal o seu espectáculo “Sombra”, o já bem conhecido e aclamado espectáculo semi-acústico dos Moonspell. Assim, mais uma vez, nos Jardins da Torre de Belém podemos contar com as coristas do Crystal Mountain Singers e o quinteto de violoncelos e percussão Opus Diabolicum, tendo Fernando Ribeiro e companhia assegurado para este particular espectáculo, a presença da cantora Anneke

Moonspell 88

Van Giersbergen (ex-The Gathering), dos músicos António Chainho, Beatriz Nunes, Pedro Ayres Magalhães, Carlos Maria Trindade (três dos elementos dos Madredeus), constituindo assim esta “ampliação” o verdadeiro grande ponto de interesse de todos os fãs de Moonspell presentes a oportunidade de ver um concerto único dos Moonspell. Outro ponto interessante deste concerto foi a sua gratuitidade, que a par do contexto das festas dos Lisboa, trouxe a estas paragens outros públicos alheios a estas “metaladas”, e que certamente levaram para casa algo de positivo e interessante para contar aos seus amigos, não tendo dado certamente o seu tempo por perdido. Assim, para todos os presentes, metaleiros ou não, às 22h00, os primeiros acordes acústicos ecoaram pelos jardins da Torre de Belém, ao som de «handmadeGod» e «The

Southerm DeathStyle», revisitando e aproveitando os Moonspell a ocasião para tocar temas de álbuns geralmente menos rodados nos seus concertos como, «Disappear here», «Can bee», «Mute» ou «Magdalene», a par dos habituais clássicos como «Wolfshade», «Opium», «Scorpion Flower» e «Luna», este dois últimos com a presença da Anneke; ou os «Senhores da guerra», cover dos Madredeus com os mesmos em palco numa jam session ao vivo. Claro está, não faltou o hino «Alma Mater» para esgotar todas as gargantas e o «Full Moon Madness» a fechar o set com o seu opulente crescendo final. No encore, os Moonspell optaram por revisitar «Opium» e «Scorpion Flower». Simplesmente, obrigado Lisboa! Reportagem e Fotografia: Carlos Filipe


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VAGOS OPEN AIR 2013

9 e 10 de Agosto, Quinta do Ega - Vagos 9 de Agosto Lacuna Coil – Sonata Arctica Evergrey – Moonsorrow Bizarra Locomotiva Secret Lie A edição de 2013 do Vagos Open Air esteve carregada de boas expectativas, com um cartaz interessante, válido para vários gostos e atitudes, e um espaço totalmente novo e diferente. A Quinta do Ega, mesmo no coração da cidade de Vagos, acolheu a 5ª edição de um dos mais prestigiados festivais nacionais da actualidade. O espaço foi um must para o evento e trouxe aos festivaleiros um pavimento com relvado, poupando-lhes tempo a procurar sítios para se sentarem. Nunca o tempo de espera foi tão bem passado. Além disso, todo o espaço circundante é bastante bonito e interessante para acolher um festival deste estilo. Este ano o VOA foi aberto pelos Secret Lie, banda que

Lacuna Coil 90

reúne vários músicos nacionais numa vertente mais rock e gótico, sem por isso deixar as sonoridades mais pesadas. A abertura não foi a mais interessante, mas pode-se destacar os solos de guitarra do Tó Pica (Ramp, exSacred Sin), num autêntico show off. Logo de seguida os ânimos elevaramse para níveis previsto, ou não fossem os Bizarra Locomotiva a subirem ao palco. Num visual altamente industrial e plastic, a banda tocou 7 temas; todos eles poderosos como seriam de esperar. A plateia esteve ao rubro! Ainda houve tempo para o Tó Pica aparecer com a sua guitarra no tema “O Anjo Exilado”. Foi, sem dúvida, um dos melhores concertos deste dia, ficando a sensação que mereciam mais tempo para actuar. Os finlandeses Moonsorrow foram uma das mais esperadas bandas desta edição e eles não desiludiram. O som épico e pesado teve início com a fantástica “Unohduksen Lapsi”, do não menos fantástico «Kivenkantaja». Temas longos, como seria de espera, uma actuação brilhante e uma viagem pelo ambiente nórdico ao cair do sol. Simplesmente espectacular! A segunda metade do primeiro dia inicia-se com os suecos Evergrey. Começa-se a ver a multi-

dão a crescer e aproximar-se do palco para assistir à actuação destes tipos. Melodia, peso, caracter, são alguns dos adjectivos que poderíamos aplicar aos Evergrey. Foram momentos de bom ritmo, solos de guitarra excelentes e alguma classe. Contudo, o som não foi o melhor. Talvez devido ao vento. Os Sonata Arctica foram, talvez, a banda que mais passou ao lado neste primeiro dia. A prestação foi boa, sem dúvida, com a sua sonoridade Power Metal melódico a funcionar. A banda puxou pelo público como conseguiu e como sabe. Mas pareceu faltar alguma coisa para que a actuação merecesse mais do que um horns up do povo. Ou poderia ser a ânsia e a espera pela banda cabeça de cartaz. Os Lacuna Coil pisaram mais uma vez um palco nacional e mereceram. Logo a abrir com a “I Don’t Believe in Tomorrow”, a energia em palco passou para a plateia e o êxtase foi enorme. A actuação foi bem longa e não foram esquecidos temas como “Heaven’s a Lie”, “Swamped”, a cover do tema dos Depeche Mode, “Enjoy the Silence” e já no encore a “Trip the Darkness”. A banda esteve muito bem. Com boas energias. E com uma Cristina Scabbia bem afinada.


Sonata Arctica

Evergrey Secret Lie

Moonsorrow

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10 de Agosto Testament – Gamma Ray Iced Earth – Rotting Christ Tarantula – Web Já se sabia logo no primeiro dia desta edição da triste notícia do cancelamento da actuação dos veteranos Saxon, devido a uma lesão, ou várias lesões, graves que o vocalista Biff Byford sofreu devido a uma queda. A noticia seguiu-se com a confirmação dos Gamma Ray para substituírem os Saxon, para alivio de uns e terror de outros. Mas a verdade é que nem foi assim tão mau. O segundo dia abriu com os portuenses Web, banda bem antiga que trouxe ao palco o seu Thrash Metal vincado e bem old school. O som esteve uma maravilha e fez as delicias de quem tanto esperou um Metal como deve ser desde os Secret Lie. Para acompanhar o ritmo

já acelerado deste segundo dia mais Heavy e Thrash, os Tarantula deram o seguimento com o seu já mais que conhecido Heavy Metal. A actuação foi boa, claro, mas nada de especial. Não foi esquecido o tema “Face the Mirror”. Os gregos Rotting Christ foram os mais deslocados da essência deste dia. Eles encaixariam muito bem no primeiro. Contudo a actuação foi brilhante. O som espectacular, com tudo o que uma banda como os Rotting Christ tem para oferecer. Peso, negrume, percurssões fortes, ambientes misteriosos. Tal como aconteceu com os Moonsorrow, este momento com os Rotting Christ foi igualmente uma viagem. De seguida os Iced Earth saltaram para o palco e foi o delírio. A energia era altamente contagiante e toda a gente sentiu-a. “Dystopia”, “Burning Times”, “Anthem” foram só alguns momentos altamente potentes e bem esgalhados. Mesmo tendo sido

uma banda com várias mudanças, ela mostrou-se bastante segura, e provou ser um dos pilares importantes do Heavy Metal americano. O que poderia ser Saxon foi antes Gamma Ray. Mas foi bom! Ou não fossem conhecidos pelo seu happy Power Metal, super bem disposto. Foi o que estes velhotes nos mostraram – boa disposição e bons momentos Power Metal. “Anywhere in the Galaxy” foi a abertura – e não poderia ter sido melhor! A energia fluiu pelos acordes e pelo ritmo forte acolhido pelo povo. “Master of Confusion”, “Rebellion in Dreamland” foram bons momentos antes de entrarem num par de músicas dos Helloween – as tão esperadas covers dos Helloween: “Future World” e a magnifica “I Want Out”. Já no encore não foi esquecida a enérgica “Send Me a Sign”. Em suma, o concerto foi muito bom. E por momentos esqueceu-se o desaire com os

Gamma Ray

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Iced Earth


Rotting Christ

Saxon. Mas eis que chega o momento final com os Testament. A banda não é nova para a maior parte do pessoal que lá estava e que já os tinha visto, mas para outros foi um sonho tornado realidade: ver uma banda da década de 80, no apogeu do Thrash Metal com banda como Metallica e Megadeth. O início foi reservado para momentos recentes da banda, como “Rise Up” e “Native Blood”. Mas a meio do set eis que surge o tão esperado momento old school: “Practice what you Preach”, “The New Order”, “Alone in the Dark” e “Over The Wall” a fechar. Headbanging por todo o lado, air guitar a mostrar saber os solos de guitarra todos de cor, saltos, mosh, enfim, uma autêntica euforia graças ao bom som dos Testament. E som esteve realmente muito bom. A presença em palco foi boa, e o Thrash Metal da Bay Area reinou por

momentos em Vagos. Terminou, assim, a 5ª edição deste festival que já se tornou num hábito nos apreciadores de Metal do país. Mas fica ainda a sensação que poderia ser melhor. Bem melhor. E não me refiro ao trabalho dos organizadores, porque é graças a eles que este festival é possível, mas antes à adesão ao festival. Com bandas como estas que passaram por Vagos esperava-se ver muito mais gente. Mesmo assim, é bom saber que correu bem e que para o ano haverá mais. E nós cá estaremos para apoiar.

Reportagem: Victor Hugo Fotografia: Eduardo Ramalhadeiro

Tarantula

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