Versus Magazine #30 Abril/Maio 2014

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Dos sonhos


perigosos!!!


Teloch “tem medo” dos sonhos… mas deve estar a viver um neste momento!!! De facto, está previsto para o primeiro semestre de 2014 (mais concretamente, em junho) o lançamento de um novo álbum dos lendários Mayhem: «Esoteric Warfare». Como parte do ritual iniciático previsto para a integração na banda, coube ao “novato” (que já leva uns bons anos de carreira noutras bandas e toca com Mayhem desde 2011) a grata – mas temível tarefa – de compor a música para o novo álbum, com Attila de serviço nas letras. A nossa conversa levou-nos ainda a analisar a arte do álbum, da responsabilidade do artista polaco que dá pelo nome de Zbigniew Bielak, que já nos tinha maravilhado com a capa do último álbum de Watain. Não és novo na cena metal. Qual é a diferença entre Mayhem e as outras bandas em que estiveste (ou ainda estás) envolvido? Qual é a sensação de fazer parte de uma banda mítica? Teloch – É verdade que já ando nisto há alguns anos. Penso que Mayhem – comparada com as outras bandas de que fiz parte – é, sem sombra de dúvida, a maior. Para mim ainda é estranho tem vindo parar aqui, porque nunca foi meu objetivo tocar em nenhuma “grande” banda. Mas Mayhem fez-me abandonar o Death Metal, para começar a dedicar-me ao Black Metal. Quando «Mysteriis» saiu, fiquei siderado por esse álbum. É claro que conhecia o álbum anterior – «Deathcrush» –, mas não gostava muito dele. Nem me passou pela cabeça, quando cirandava na minha cidade natal a ouvir «Mysteriis» no meu walkman, que, um dia, também eu viria a tocar nesta banda. Nunca penso no seu lado “mítico”, nem na sua grandeza. Tento apenas fazer o melhor que posso com o meu pequeno banjo. Será que atualmente Mayhem ainda é um dos arautos do “true Norwegian Black Metal”? Ou sentem que estão a explorar novas sendas, como Darkthrone por exemplo? Espero que Mayhem continue à frente do “true Norwegian Black Metsal”. Mas tenho dificuldade em avaliar isso, porque não acompanho de modo nenhum a cena atual, não faço a mínima ideia do que se passa nesse contexto. De qualquer modo, não gosto nada de rótulos, nem mesmo desse. Para mim, Mayhem é apenas uma banda que procura dilatar as 6

fronteiras do género, continuando a explorar novos caminhos. E parece-me que é para continuar nessa direção, em vez de olhar com saudosismo para o passado. Para mim, o TNBM morreu nos anos 90. O que outros quiserem chamar a Mayhem é-me indiferente. Este é o teu primeiro álbum com a banda. O que há de ti neste lançamento? Não sei dizer ao certo, mas provavelmente muito, uma vez que fui eu que o escrevi. Quando componho, nunca penso em como serão os riffs que vão fazer parte dele. Para mim, trata-se de “expelir” algo que sinto naquele momento, que faz parte de mim. Portanto, deve haver muito de Teloch em «Esoteric Warfare». Ao mesmo tempo, tenho de tentar “pensar à moda de Mayhem” e excluir o que possa vir das outras bandas de que fiz parte. Além disso, tenho de respeitar o legado de Blasphemer ou de Euronymous, de algum modo, na medida em que eles foram largamente responsáveis pelo que Mayhem é atualmente. Seria absurdo tentar fazer algo completamente novo, precisamente porque este é o meu primeiro álbum com esta banda. Tal equivaleria ao suicídio de um potencial compositor de álbuns de Mayhem. De qualquer modo, fiz o mesmo de sempre: deixei-me ir! Podes dizer-nos quando e como te tornaste um membro de Mayhem e de que forma isso afetou a tua vida? Mayhem tem uma regra própria: ninguém faz verda-


deiramente parte da banda antes de ter tocado num álbum novo. Portanto, seguindo essa regra à risca, só agora é que me tornei efetivamente membro da banda, embora trabalhe com eles (uma verdadeira escravatura!) desde 2011. Começaram por me convidar para me juntar a eles, assim que o Blasphemer saiu, mas, nessa altura, eu andava em digressão com Gorgoroth. Portanto, tive de recusar. Foi uma pena, porque, doutro modo, teríamos podido começar a trabalhar neste álbum mais cedo. Como é que isso afetou a minha vida? Tenta imaginar o que é trabalhar com mongoloides drogados e logo perceberás como é a vida que levo agora. O que há de novo em «Esoteric War»? É verdade que todos os álbuns de Mayhem são especiais, já que não se trata de uma banda que lance um novo de 2 em 2 ou de 3 em 3 anos. “Esoteric Warfare”. O que há de novo neste álbum identifica-se comigo e com o que eu trouxe à banda. Os outros dizem que se trata de uma combinação de tudo o que Mayhem lançou até agora. Antes de começar a escrever este álbum, a minha intenção era apresentar a banda a novos fãs, tornar a sua música mais fácil, mais acessível, sem a converter numa merda comercial. Foi este o desafio que tive de enfrentar, mas parece-me que consegui fazê-lo. Este álbum é um comentário à sociedade atual? Por que decidiram lança-lo em 2014? Nada disso. É mais uma coisa para te dar cabo dos miolos. É o Attila a revelar o que se passa neste mundo. Controlo da mente, culturas antigas, experiências relacionadas com a Guerra Fria, etc. Escolhemos 2014, porque estava mais próximo que 2015. Portanto, não há nada de especial a dizer sobre o ano de lançamento do álbum. Temos aqui a bateria inspirada do Hellhammer, o baixo do Necrobutcher, a tua guitarra e a voz devastadora do Attila. Por que decidiram chamar a esta mistura explosiva «Esoteric Warfare»? Veio de um verso das letras que o Attila escreveu. Pareceu-nos que soaria muito bem como título do álbum. “The will of man is broken, esoteric warfare”. Tão simples como isto. Pretendem destruir o mundo? Ao ver a magnífica capa do vosso álbum, fiquei com a impressão de que o logo da banda está literalmente a esmagar uma esfera. É claro que ansiamos sempre por destruir o mundo! É esse pensamento que ilumina as nossas vidas e nos dá energia. SITE OFICIAL www.facebook.com/mayhemofficial

Que parte coube à banda na conceção desta imagem criada por Zbigniew Bielak? Attila trabalhou com o Bielak na capa. Explicoulhe as letras do álbum em pormenor e deu-lhe algumas instruções. Também lhe passámos o álbum, para ele se inspirar na música. Portanto, no fundo, a sua arte traduz a sua receção do nosso álbum, incluindo a música e as letras. É qualquer coisa de extraordinário! Vais ver, quando tiveres acesso ao livro que o acompanha, é algo de verdadeiramente extraordinário! Será que o Attila vai ser tão dramático como é seu hábito, quando participar nos concertos para promover «Esoteric War»? Ou vai preferir ser mais simples, de modo a deixar o público focar-se inteiramente na música? Não sei bem o que ele irá fazer, ainda não pensamos nisso. Mas calculo que ele será o Attila de sempre, a fazer coisas que deixam todos de boca aberta. Que reações esperam dos vossos fãs? Não faço ideia nenhuma. Não tenha a certeza se os fãs incondicionais de Black Metal dos anos 90 vão gostar dele, mas estou-me a borrifar para isso. Sei que adoram queixar-se, disso não tenho dúvida nenhuma. Mas os fãs “normais” de Mayhem vão certamente encontrar nele algo de interessante. É difícil falar disso neste momento: ainda só mostrámos o álbum a um reduzido número de pessoas. Estive no vosso concerto no Hard Club do Porto em abril de 2011, no sábado de Aleluia. Foi um grande momento para mim, porque também tocou Corpus Christii. Desde essa altura que, em Aveiro (a cidade onde vivo), temos a “Páscoa Negra” (um concerto de Black Metal sempre no sábado antes da Páscoa). Tencionam tocar em Portugal este ano? Se sim, onde e quando? Yeah! Lembro-me bem desse concerto. Foi um belo momento, com uma atmosfera fantástica, uma multidão! Para já, ainda não te posso responder a essa pergunta. Ainda estamos a planear a nossa digressão pela Europa. Mas é muito provável que Portugal venha a fazer parte da lista! Será que Mayhem ainda tem algum sonho por cumprir? E qual será esse sonho? Eu nunca tenho sonhos. Martin Luther King tinha grandes sonhos e bem viste o que lhe aconteceu. Entrevista: CSA VIDEO www.youtu.be/7d7cr-zdm1Y

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Um vazio‌cheio de sons e ideias!!!


Andras, a alma de Infestus, conseguiu, mais uma vez, surpreender-nos – da forma mais positiva que se pode imaginar – com o seu novo álbum, novamente lançado pela Debemur Morti, uma das editoras que mais tinta gasta à VERSUS Magazine. Relembrando a entrevista de 2011, aquando do lançamento de «Ex|ist», tivemos uma longa conversa com o músico sobre «The Reflecting Void», que de vazio nada tem. Assim, ficámos a conhecer as novas direções seguidas por Infestus, reveladas pelo seu criador no decurso de um diálogo quase introspetivo, se tal coisa pode existir. É a segunda vez que te entrevisto sobre um álbum lançado pela Debemur Morti. Como correu a promoção do álbum anterior? Sempre fizeste concertos para o promover? O sucesso do álbum foi muito prejudicado pela “fuga” que afetou Infestus e Blut Aus Nord. Andras: O meu álbum anterior fez um tremendo sucesso, quer junto dos críticos, quer junto dos fãs. Mesmo eu sinto isso. Escrever esse álbum foi um passo muito importante na minha vida. Realmente, fiz alguns concertos ao vivo. Mas isso só aconteceu bastante depois do lançamento do álbum. Em 2012, decidi constituir uma formação para tocar ao vivo, mas, devido a alguns incidentes, o processo demorou mais de um ano e só conseguimos passar à ação em março de 2013. Desde essa altura, ando a atravessar um processo difícil, que visa substituir alguns dos meus músicos ao vivo. Muito aborrecido! Ah, essa fuga em 2011… Até já me tinha esquecido disso. DMP decidiu antecipar o lançamento do álbum para minimizar os prejuízos. Mesmo assim, esse incidente afetou a sua promoção.

mente recuperam por completo. Alguns desenvolvem um sentimento de vazio interior, que resulta da repressão dos seus sentimentos. Contudo, eu ousei espreitar por detrás desse vazio refletor que esconde o cancro que prolifera por baixo dele. Mais uma vez, fiz um álbum cujo conteúdo é muito pessoal, íntimo mesmo. Muitas vezes, hesito em dar esta direção à minha música. Mas, no fim, acabo sempre por o fazer, porque é isso que me motiva, que torna as minhas criações tão autênticas e honestas. São as trevas que moldam o espírito do sobrevivente e a dor que fazem nascer um novo “eu”.

E aqui temos mais um fantástico álbum de Infestus. Da morte ao vazio, passando por um processo de destruição mental… Pode-se descrever deste modo a passagem de «Chroniken des Ablebens» (2008) até «Ex|ist» (2011) e depois «The Reflecting Void» (2014)? Pode sim. Mas é uma forma um tanto superficial de abordar a questão. “The Reflecting Void” está bem de acordo com o lado introspetivo do meu processo de criação. Trata-se de ver o que está por detrás do “espelho” da alma, que apenas serve para esconder o que lhe está subjacente. Acontecimentos trágicos, incidentes traumáticos, tudo o que ameaça seriamente a sobrevivência do teu ser deixa marcas profundas na “carne” da nossa existência. Depois precisamos de muito tempo e esforço para ultrapassar esses golpes. Alguns falham redondamente e afundam-se na depressão e noutros estados mórbidos. Outros aparente-

Parece-me que este álbum também é diferente dos seus predecessores. Afigura-se-me muito mais melódico, embora continue a ser Black Metal. És capaz de descrever as diferenças que o separam dos anteriores? E de as relacionar com o conceito subjacente a «The Reflecting Void»? Encarei este álbum como um novo passo no meu afastamento do Black Metal e integrei nele mais aspetos diferentes das minhas preferências musicais, que tinha parcialmente evitado trazer à liça em “Ex|Ist”. Este ato corresponde meramente a uma iniciativa orientada para a auto realização e não tem nada a ver com o conceito de «The Reflecting Void». Resulta apenas da minha necessidade de me expressar através da minha música num dado momento da minha vida. Comparando a música deste álbum com a de “Ex|Ist”, constatarás que neste encontras mais partes em que há

A crise que o mundo atual atravessa está de algum modo relacionada com a tua reflexão pessoal e estética sobre a vida? Ou reportas-te apenas à tua forma de ver a humanidade? Não. Os problemas do mundo não me incomodam. As maiores batalhas são sempre as que travamos no nosso íntimo, cada dia, cada noite. Essas lutas internas frequentemente tornam a nossa existência muito penosa. E são essas trevas pessoais que enchem o poço da minha criatividade.

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“[…] fiz um álbum cujo conteúdo é muito pessoal […]é isso que […] torna as minhas criações tão autênticas e honestas. […]” camadas sobrepostas, mais riffs rítmicos, uma experiência musical mais aberta e canções mais dinâmicas. Contudo, a experiência emocional subjacente a «The Reflecting Void» não é menos intensa que a veiculada pelo álbum anterior. Da última vez que falámos, estavas a pensar em escrever o teu álbum seguinte maioritariamente em alemão e, afinal, em «The Reflecting Void» usaste mais o inglês. Por que razão privilegiaste novamente esta língua, sabendo que usas sempre a que te parece mais adequada à expressão das tuas ideias? Neste álbum, decidi que só teria duas faixas ema alemão. Em “Ex|Ist”, só havia uma. Há uma diferença básica entre o alemão e o inglês. A minha língua materna é mais agressiva na sua pronúncia, pelo que se adequa particularmente a canções mais bélicas, enquanto o inglês consegue dizer o mesmo com menos palavras, o que faz dele uma língua mais fluida. Tentei descobrir qual das duas línguas era mais adequada a cada uma das faixas de «The Reflecting Voi» e acabei com apenas duas escritas em alemão.

cunspecto num festival diante de milhares de fãs. Sim, vou fazer vários concertos. Contudo, reservo-me o direito de fazer apenas os que me agradarem. Ainda por cima, estou outra vez a braços com uma mudança da formação da banda de sessão. Vamos ter um novo baterista. O próximo concerto vai ter lugar em Viena, a 6 de maio. Mais tarde, haverá outras datas, que serão anunciadas nos meus sites. De facto, quando decidi começar a dar concertos com Infestus, também não conseguia imaginar-me em cima de um palco. Mas, nesse contexto, o meu lado agressivo avivase e a minha música soa muito bem ao vivo. E a verdade é que, quando me apanho lá em cima, vivo a minha música com uma intensidade tal que tudo à minha volta se esfuma.

Pode-se dizer que Infestus é um projeto musical “solitário”, cujas obras devem ser saboreadas na intimidade? Penso que a minha música nunca foi fácil de ouvir. O seu som requer toda a atenção do ouvinte. Não é música “fácil de digerir”. Por isso, de certo modo, posso dizer que foi feita para ser ouvida a sós, num ambiente desprovido de Li algures que a arte deste “álbum reflexivo” foi feita por qualquer elemento que te distraia. Só assim o álbum se revti e mais alguém. Qual foi o teu contributo para o pro- elará inteiramente. cesso criativo que lhe deu origem? E quem te ajudou a fazer essa arte e o layout do álbum? Uma última pergunta, que não é forçosamente a menos Para fazer a arte, trabalhei com um dos guitarristas de importante: o teu vazio já se está a encher com ideias sessão de Infestus. Falámos várias vezes sobre o conceito musicais e líricas a usar num novo álbum? subjacente ao álbum e, então, ele trouxe um rascunho da Para já, preciso de recuperar do imenso esforço que foi a capa. A partir daí, trabalhámos mais ou menos juntos, produção deste álbum. O tempo dirá o que vem a seguir. acrescentando e alterando detalhes. Depois, eu encarreguei-me do layout e do booklet e também desenhei a Entrevista: CSA caixa do LP. Gosto muito da capa deste álbum. Acho que “reflete” muito bem o seu conceito de base. SITE OFICIAL www.facebook.com/pages/infestus/155765537837904 Vai haver concertos ao vivo para promover “The Reflecting Void”? Onde e quando vamos poder ouvir Infestus? VIDEO Não consigo imaginar-te a apresentar este álbum tão cir- www.youtu.be/aArBRu4AIlY


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Liberdade para criar Morbus Chron são uma banda Sueca, com um historial ainda reduzido mas que captou as atenções da Century Media e por conseguinte as atenções da crítica internacional e claro dos adeptos do Death Metal. Como muitas outras bandas suecas, começaram a carreira a ensaiar em estúdios comunitários; porém diferenciam-se pela necessidade de criar música sem limitações tendo como alicerces as lições dos velhos percursores do old school. O baterista Adam Lindmark respondeu a algumas questões.

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A minha primeira questão é o que vos levou a escolher o nome Morbus Chron para a banda e qual o significado que possa ter? Adam: O nome Morbus Chron vem de um jantar em família no casa de Edvin (guitarra), quando ele tinha 15 anos. A mãe dele expressou preocupação com

a velocidade com que ele comia, e avisou-o de que tal ingestão rápida de alimentos poderia causar-lhe Morbus Crohn. Quando ele perguntou o que aquilo significava, a mãe dele disse que era uma doença intestinal que poderia fazer as pessoas sangrar no ato de evacuar. Edvin trouxe esse nome para o ensaio


seguinte como uma sugestão para o nome da banda, e foi bem recebido à mistura com risos adolescentes. Ele esqueceu-se da verificação ortográfica, porém, é por isso que o H aparece trocado. Qual foi a maior evolução entre o mais recente trabalho «Sweven» e os primeiros trabalhos lançados em 2010/2011? Adam: O novo álbum «Sweven» é musicalmente bem diferente da nossa demo, EP, e primeiro álbum. No entanto, não era uma ideia premeditada em que disse: “Ei, vamos fazer um álbum completamente diferente desta vez”. O que decidimos foi que iríamos ter as mãos completamente livres para fazer o que queríamos, e não manter a nossa criatividade tolhida em função de algumas regras de género, etc. Esta foi provavelmente a maior evolução. Vocês assinaram recentemente com a Century Media; como foi a colaboração com eles até agora? Adam: Por causa da sua posição relevante na indústria da música metal, a Century Media tem a vantagem de ser capaz de fazer chegar a nossa música a um público mais amplo, o que é ótimo para nós. Para além disso, a experiência que tivemos com eles, até agora, deixou bem claro que não estamos com Fat Cats-corporativos de fato e gravata, mas com pessoas profissionais e normais. Acaba por ser o melhor de dois mundos, por assim dizer. Até agora vocês têm sido essencialmente uma banda de estúdio. Pretendem começar a aparecer em mais concertos ao vivo? Adam: Nós não somos uma banda que sai para uma turné de 200 dias por ano, isso é certo. No último par de anos, já tivemos um conjunto de atuações. Fizemos apenas a nossa primeira turné em março deste ano, e todos sobrevivemos. Também estamos a planear uma turné europeia de uma forma mais extensa, em dezembro, juntamente com At The Gates e Triptykon. Portanto, para nós, já é mais do que o habitual. Eu vi recentemente um debate na TV, onde um dos participantes disse que países como o Canadá, a Austrália e os escandinavos têm as democracias mais eficazes. Achas que, no caso da Suécia, isso se reflete em liberdade na produção de música e artística? Adam: Nah, política nunca foi uma influência para Morbus Chron. Mantemos um olho sobre o mundo que nos rodeia, mas nunca foi e nunca será uma parte de nossa música. Em relação à Suécia enquanto nação e o modo como nos afetou como uma banda, tem mais a ver com o facto de ser muito fácil encontrar e usar uma sala de ensaio aprovada pelo governo quando ainda somos adolescentes. Foi por aí

que, como tantas outras bandas suecas, começamos. Vocês são uma banda muito jovem, mas parecem escolher algumas paisagens sonoras inspiradas em Death Metal old school. Ao mesmo tempo, li alguns comentários nos media onde vocês são referidos como altamente inovadores. Gostarias de comentar sobre essa dualidade (old school vs inovação)? Adam: Quando se trata de Death Metal, somos principalmente fãs do som old school. Tipicamente o Metal moderno tende a soar demasiado plástico e polido para o nosso gosto. Dito isto, há um monte de grandes bandas dentro do Death Metal que não seguem necessariamente a fórmula tradicional de Death Metal até ao ínfimo detalhe. O que conseguimos com «Sweven» foi escrever um álbum que realmente não soa como qualquer outra banda de metal, mas ainda assim ter o som e o espírito do género música que achamos ter as melhores características. Em 2010 o vosso alinhamento foi parcialmente alterado. Como é que isso se refletiu no resultado do mais recente trabalho? Adam: O line-up com que gravamos a nossa demo foi semelhante ao que temos hoje, embora eu estivesse a tocar baixo, e um tipo chamado Stefan tocava bateria. Como nossas músicas começaram a progredir mais para o que viria a ser as músicas do álbum «Sleepers in the Rift», eu senti que eu não era um baixista bom o suficiente para a tarefa. Ao mesmo tempo, não achei que o estilo de Stefan fosse o adequado, e para mim, ser um baterista, foi principalmente a expressão do desejo de tocar bateria. Este processo acabou comigo a mudar de baixo para bateria, e Dag entrou para o baixo, e é como nos mantemos hoje. Este é o line-up dos Morbus Chron que tem a mais longa duração, e é o que mantemos desde a nossa demo. Em «Sweven», há uma série de temas cujo foco sobre a morte (ou se aproximando ou após o ocorrido). O tema da morte é para vocês o Santo Graal do conteúdo lírico da banda? Adam: Não há realmente um santo Graal para nós. Isto é, o Robert escreveu sobre assuntos diferentes em todos os nossos lançamentos, para refletir sobretudo todas as mudanças musicais pelas quais passamos. «Sweven» não é suposto falar sobre a morte. O álbum é baseado em sonhos. Algumas palavras finais para os nossos leitores? Adam: Não passem ao lado de «Sweven». Obrigado pela entrevista! Entrevista: Sérgio Teixeira

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Do frio da Antártida ao Black Metal ambiental! O estranho universo de H. P. Lovecraft inspira esta banda francesa, ao ponto de ver este seu álbum como uma espécie de adaptação musical de uma das suas narrativas. A atmosfera criada por The Great Old Ones suscita realmente o calafrio associado a essa ficção, que também tem inspirado artistas de outras áreas: por exemplo, a banda desenhada. Sébastien Lalanne, o baixista da banda, respondeu ao desafio da VERSUS Magazine e esclareceu-nos sobre o que presidiu à criação deste interessante álbum. 14


Quem são os “antigos” a que alude o nome da banda? Trata-se de personagens da ficção de H. P. Lovecraft ? Sébastien – De facto, os Grandes Antigos fazem parte da mitologia criada por Lovecraft. São entidades ameaçadoras e muito poderosas.

bela pintura? Jeff Grimal, o nosso vocalista e guitarrista, que faz toda a arte para a banda. O seu trabalho gráfico está muito bem adaptado ao conceito. As capas do LP e do digipack (que são diferentes) representam paisagens da Antártida de uma forma bastante impressionista.

Como se situam os TGOO na cena metal francesa, uma das mais célebres na atualidade? Se vos pedissem para indicar o nome de uma banda francesa que veneram e que é uma inspiração para TGOO, quem mencionariam? A cena francesa atravessa um excelente momento atualmente. Dela fazem parte bandas muito diferentes, mas também muito interessantes. Tendo em conta a nossa forma de abordar a música, sentimo-nos muito próximos de

Quando ouvi o álbum – sobretudo porque estava atenta à bela combinação de melodiosas harmoniosas e vocais típicos do Black Metal – lembrei-me de Altar of Plagues. Parece-vos que há alguma relação entre TGOO e esta banda irlandesa? De facto, Altar of Plagues faz parte das nossas referências. Pertencemos ao mesmo espetro musical, apesar de eles terem uma abordagem mais direta do que nós, no que toca à composição.

escrevem em Inglês, que surge quase como a “língua materna” desta forma de expressão musical. É mesmo assim. O metal – e o Rock, de um modo geral – são géneros originários de países anglófonos. Logo o Inglês adapta-se de forma mais natural a eles. Mas também há bandas de Metal que cantam em Francês e soa muito bem. Estou a ver que H. P. Lovecraft figura na foto da banda como se fizesse parte dela ! Porque se assumem como herdeiros da sua ficção literária? Não haverá, na literatura francesa – ou até francófona – um escritor capaz de ombrear com ele? H.P Lovecraft é uma referência mundial no campo da literatura fantástica. A sua obra é profunda, complexa e muito pessoal. Há pou-

“[…] As capas do LP e do digipack […]) representam paisagens da Antártida de uma forma bastante impressionista.” bandas como DSO, os vários projetos do Neige e de uma banda que dá pelo nome de Year of No Light. Conhecemo-los bem, tanto mais que gravámos «Tekeli-li» e «Al Azif» [o anterior álbum de TGOO, lançado em 2012] com o Cyril Gachet, que é o engenheiro de som deles. Revemo-nos na sua identidade sonora e na sua forma de tratar os ambientes. Parto do princípio de que o conceito subjacente a este álbum tem algo a ver com a novela de H. P. Lovecraft à qual foram buscar o grito monstruoso que se converteu no título deste lançamento. É assim? «Tekeli-li» baseia-se na novela intitulada “At the mountains of madness”. De certa forna, constitui uma adaptação musical desse texto. O que podemos ver na capa do álbum? Quem é o autor dessa

Quem compõe a música dos vossos álbuns? E quem escreve as letras? Benjamin Guerry [o outro guitarrista da banda] compôs 80% da música e escreveu todas as letras. É ele o responsável pela nossa identidade musical. Porque misturam o Francês e o Inglês neste álbum? Na verdade, penso que esta “mistura” produz um efeito maravilhoso! Ainda por cima, não faltam palavras francesas no Inglês! Combinar estas duas línguas permite dar conta de pontos de vista, de ângulos narrativos diferentes e dá mais relevo a algumas partes do álbum. Por outro lado, é algo que fazemos naturalmente: cantar em Inglês e falar em Francês. O que pensam do Francês como língua ao serviço do Metal? Geralmente, os músicos desta cena

cos autores capazes de construir uma obra assim tão coerente. Isso dá-nos uma grande liberdade para desenvolver o universo e os ambientes retratados nos seus textos. Poderíamos ter-nos inspirado noutros autores – como Poe ou Kafka. Não conheço nenhum escritor francês que se possa comparar a Lovecraft. Acredito que haja alguns muito bons neste género, mas não li as suas obras. Dão muitos concertos? Ou parece-vos que a vossa música foi feita para ser ouvida em casa, numa atmosfera de calma e meditação? Queremos fazer o máximo de concertos que for possível. Trabalhámos muito para montar um espetáculo coerente, em termos musicais e visuais. Tentamos recriar no palco o lado introspetivo da nossa música graças às luzes, à introdução de samples entre as 15


“[…] Tentamos recriar no palco o lado introspetivo da nossa música graças às luzes, à introdução de samples entre as músicas […]” músicas, à organização do show. Se fizerem uma digressão, onde irão mostrar este álbum que se destaca pelo seu título aparentemente fantasista? Recentemente, tocámos no Roadburn, na Bélgica e no norte de França. Temos algumas datas previstas para o nosso país antes do

verão. Fazemos parte do cartaz do festival Under The Black Sun, que terá lugar na Alemanha, em julho. Gostaríamos muito de fazer uma digressão no outono. Estamos a tratar disso. Queremos também tocar novamente na Inglaterra, assim que for possível. Entrevista: CSA

FACEBOOK w w w.faceb o ok.com/thegreatoldones VÍDEO www.youtu.be/Qe7cNUBv9TA


s i a c i s u m s e õ x e l f re era horrível. Berrávamos como se estivessem a estriparnos. Há cerca de dez anos, coloquei pela primeira vez numa plataforma online alguns temas dos Paranóia. Um fã recém-conquistado não perdeu tempo a publicar o seguinte comentário no post: “Foda-se, não sabia que nesta altura já havia bandas portuguesas a fazer este tipo de som. Porque é que estes cabrões acabaram? Voltem, por favor.” Fiquei estupefacto não só por ainda conquistarmos fãs passados tantos anos (como é possível alguém ainda apreciar aquela atrocidade “musical”), mas também pela efusividade do testemunho – nunca nos haviam chamado “cabrões” de forma tão carinhosa, emotiva e bonita. Ficámos sem palavras.

dico A responsabilidade que reconhecimento nos trás

o

As coisas mais simples, realizadas de forma inocente e desinteressada, são as que marcam mais profundamente as pessoas. Obras feitas em tempo recorde, baseadas no amor incondicional, com meios rudimentares (ou mesmo sem eles) e baixíssimo orçamento. Todos os dias verificamos isso mesmo, enquanto fãs. Em geral, são os primeiros álbuns (ou demos) dos nossos grupos favoritos que mais ouvimos. São esses registos que os fãs e os media especializados rapidamente elevam ao estatuto de clássicos. Aqueles que, passadas décadas, permanecem relevantes, vencendo com distinção o sempre cruel e decisivo teste do tempo. Muitas vezes congratulamos os nossos ídolos por essas obras, explicando-lhes emocionadamente a importância que têm nas nossas vidas. À custa de se repetirem tantas vezes, ao longo de décadas, por milhares de pessoas em todo o mundo, essas manifestações de afeto perderão algum significado para os músicos famosos, que no final de uma digressão contabilizam milhões ou centenas de milhares de fãs nos seus espetáculos. Mas para os criadores modestos, de pequena dimensão, o impacto e a relevância desses testemunhos é sempre enorme. Ainda mais quando esses criadores somos nós próprios. Sim, porque uma coisa é, no papel de fãs, manifestarmos o nosso apreço aos ídolos que respeitamos. Outra muito diferente é sermos nós o objeto dessas manifestações de afeto (numa escala bem mais reduzida e realista), de tal forma que parece sempre a primeira vez. Nunca deixo de me surpreender com a efusividade e a emoção manifestada pelos meus fãs (só a profundidade da frase “os meus fãs” é brutal). Nesses momentos, tenho a certeza de ter feito algo bem. O meu primeiro projeto musical, designado Paranóia, existiu entre 1988 e 1990. Literalmente não sabíamos tocar ou afinar os instrumentos. O som das gravações

Por outro lado, ainda hoje, passados 23 anos sobre a gravação da histórica maqueta homónima dos Dinosaur, os fãs continuam a manifestar o carinho que nutrem pela música do grupo. Literalmente não passa um mês em que não haja pelo menos uma ou duas pessoas que me procuram especificamente para o fazer. A proximidade que as redes sociais proporcionam facilita o processo. Perdi a conta ao número de fãs que, ao longo dos anos, me enviaram emails ou mensagens via Facebook exprimindo a importância dessa gravação nas suas vidas. Quase sempre referem, também, os videoclipes gravados pelos Dinosaur para a RTP2 e que ainda hoje permanecem na memória de tantos, como se tivessem sido transmitidos ontem. Ainda hoje impressiona ouvir músicos conhecidos do nosso Underground afirmarem que a música dos Dinosaur os impeliu a formar um grupo. Ou que influenciou a sua obra. Embora não fosse eu o compositor da banda, só quem já recebeu elogios semelhantes sabe o que representam. É avassalador. Quando tal acontece, atravessame um turbilhão de emoções. Não é fácil lidar com essa realidade. Nesses momentos, tomo (uma vez mais) consciência de que a banda tocou muita gente de uma forma profunda, inesperada. Chegámos aos corações dos fãs. Esse é, porventura, o maior feito de toda uma vida. E uma enorme responsabilidade. Como lidar com ela? Alguma vez o ser humano estará preparado para o fazer? Ainda hoje me manifestam apreço, também, pelo trabalho desenvolvido no meu extinto blogue Metal Incandescente. Nos concertos, nos fóruns e nas redes sociais fala-se da influência que teve no jornalismo underground nacional, do impulso determinante que exerceu na criação de outros projetos análogos e na divulgação dos grupos nacionais. Refere-se a abordagem e as rubricas originais. São jornalistas e divulgadores respeitados, com obra feita, a dizê-lo. E fãs/leitores meus, que há muito seguem o meu trabalho. Pessoas que me pedem para reativar o blogue. Que me solicitam, emocionadas, a edição em CD ou vinil da maqueta dos Dinosaur (decisão que, neste caso, não está nas minhas mãos). Pessoas que me agradecem a coragem de escrever e publicar o livro Breve História do Metal Português. Leitores que sublinham o pioneirismo desta obra e da sua importância para a música pesada nacional. São testemunhos emotivos, que me trazem lágrimas aos olhos. Testemunhos que, uma vez mais, me asseguram que fiz algo bem. Que valeu a pena. Obrigado a todos. Continuarei a fazer o meu melhor, para que valha sempre a pena.

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Uma peregrinação íntima! Jochen Stock (aka Elviga), o inspirado mentor de Dornenreich fala-nos das sendas percorridas pela sua banda, dos seus planos para o futuro e discute o papel que «Freiheit», o último longo duração da banda, desempenha neste contexto. Pelo caminho, fala-nos do seu entranhado amor pelo Black Metal e da forma como o vive: em total LIBERDADE!!! Adorei este álbum. Ouvi-o durante uma viagem de comboio em que atravessei quase metade de Portugal (um país pequeno, mas absolutamente admirável) e a vossa música fez-me apreciar ainda mais intensamente a paisagem que ia desfilando. O vosso álbum não soa como uma obra “clássica” de metal. O que há de metal nele? Eviga – OObrigado por me dares a conhecer a tua descoberta pessoal de «Freiheit». Fez-me recordar como foi bom tocar em Portugal. Foi em 2001, durante a nossa digressão europeia, e tocámos no Hard Club do Porto. Depois, em 2010, demos dois concertos no Barroselas Metalfest. Para mim, o metal é essencialmente uma forma de expressão livre, autêntica e intensa. Pensando na discografia extremamente variada e na “história de 18

vida” de Dornenreich, ao longo dos últimos dezoito anos, parece-me que posso dizer que o metal é – sem sombra de dúvidas – o núcleo duro da banda e também deste álbum, já que freiheit significa liberdade. Quem escreveu a música? E as letras? As versões iniciais de todas as canções são criadas por mim, de forma intuitiva, usando a minha guitarra. Portanto, a base rítmica e harmónica de todo o álbum foi criada na minha guitarra acústica. Contudo, a versão final da estrutura melódica e harmónica, os arranjos e as estruturas das canções foram criados com a colaboração do nosso violinista Inve e do nosso baterista Gilvan. Mais uma vez, as letras são da minha autoria.


para atravessar melodias e harmonias de uma forma comovedora e contrastante, ou seja, consegue ser simultaneamente forte e frágil. E tem um som saudoso, especialmente quando o Inve o toca. Ele estudou violino e é professor desse instrumento, é o seu modo de vida. Portanto, consegue tirar dele inúmeros timbres diferentes. Por vezes, o tom aproxima-se do da voz de uma soprano, outras vezes parece um murmúrio a passar através da relva, outras vezes tem um som semelhante ao de uma flauta, outras soa como um acordeão, outras imita camadas de teclados fantasmagóricos sobrepostas –, frequentemente, soa como um instrumento tocado por alguém que vive profundamente essa emoção. Em «Freiheit», pela primeira vez, usámos uma quinta corda nos tons mais baixos, que nos proporcionou um acréscimo de expressividade, tornando o som do violino semelhante ao do violoncelo ou de uma viola da gamba… Ouve atentamente a parte intermédia da segunda faixa do álbum ou o início da sexta, por exemplo, e perceberás do que estou a falar…

A guitarra é a verdadeira estrela deste longa duração. O que pretendes expressar através dela? Uma variante de paixão comovente e muito terrena. Considero a minha forma de tocar guitarra muito percussiva e enérgica e baseada numa dinâmica forte. É de realçar que Dornenreich como um todo corresponde a reunir em torno da lareira uma expressão artística sem amarras temporais, feita com as mãos e o coração, se me é permitido usar esta metáfora. Portanto, partimos de instrumentos acústicos. Que pensas do facto de, por coincidência, Paco de Lucia ter morrido pouco tempo antes do lançamento deste álbum, em que podemos sentir a influência da sua forma tão especial de tocar guitarra? Sou uma grande fã da sua arte. Também sou um grande fã desse artista, sou mesmo. Adoro a tensão que criava entre a sua forma de tocar – tão cheia de cambiantes – e a sua linguagem corporal… Uma grande perda e uma estranha coincidência… Passei anos a ver vídeos do Paco a tocar (com Al di Meola e John McLaughlin) e dava-me sempre vontade de ir tocar também – era uma grande inspiração para mim… Penso que o violino dá um toque de ansiedade à vossa música. Concordas comigo? Na minha opinião, o violino desempenha um papel muito importante na música, porque é um instrumento com qualidades quase vocais. Foi feito

Por que sentiste a necessidade de fazer esta espécie de peregrinação íntima? Não és demasiado novo para estares já a fazer uma síntese da tua vida? Boa pergunta e bem legítima (!?), de certo modo, hehe. De facto, não é isso que estou a fazer. Mas penso que, quanto mais depressa analisarmos as profundezas da nossa vida – mas de uma forma alegre e positiva –, mais rica esta se torna. Às vezes, fico farto da seriedade dos meus pensamentos e perceções, não quero entristecer à medida que avanço na vida. Eu sou assim. Tenho de me aceitar como sou e tentar sempre transformar o que puder. Há alguma relação entre este álbum de Dornenreich e a literatura austríaca? Quase nenhuma. Pelo menos, na minha perspetiva. A única ligação entre essas duas realidades que consigo descortinar tem a ver com a intensidade com que ambas lidam com problemas existenciais, pensando em escritores como Handke, Bernhard ou Jelinek e até no realizador Michael Haneke. Podemos dizer que se trata de um álbum multicultural? Sem dúvida nenhuma. Os ciclos e estádios da vida de que este álbum trata (e também os anteriores) são importantes para qualquer indivíduo, quer tenha consciência disso, quer não. Como referi acima, para mim, o metal tem de ser livre, também no que diz respeito aos instrumentos e timbres que usas. Aliás, quando descobri o Black Metal – há muito 19


tempo atrás – o que me impressionou mais foi o culto do individualismo e a grande variedade de instrumentos e sons que permitia usar. Estou a pensar em bandas como Ulver, Kvist, Emperor e Ved Buens Ende ou The 3rd and the Mortal, por exemplo. A capa do álbum não será demasiado simples comparada com a riqueza do seu simbolismo? Como foi concebida? Não a vejo dessa maneira. Na minha ótica, dá acesso direto à mensagem central do álbum. Representa o limiar que separa duas experiências contrastantes: o dia e a noite. É um “lugar” em que nos sentimos particularmente vivos, em que tudo parece especialmente visível e palpável, todas as possibilidades estão em aberto, todas as decisões são possíveis. Nesses momentos, sentimo-nos especialmente sensíveis e vulneráveis. Temos consciência da fragilidade, mas também da força da vida, de todos os processos, nuances e ciclos que dela fazem parte. Esta é a melhor disposição de espírito para ouvir este álbum. Portanto, a capa do álbum é mesmo uma porta de acesso à sua perceção. Leva o ouvinte diretamente à atmosfera deste e representa a essência da mensagem que pretende transmitir. Além disso, adoro a sua simplicidade! Quão surpreendidos ficarão os vossos fãs com este álbum? Bem, este álbum tem um grande potencial dramático, foi mesmo feito para surpreender – e essa intenção sobressai especialmente no momento em que se passa da faixa três à faixa quatro. Na minha opinião, o álbum será surpreendente para a maioria das pessoas que quiserem ouvi-lo. Quem gostou do nosso último álbum – «Flammentriebe» – e quiser obrigar-nos a seguir cegamente o seu estilo ficará mesmo muito surpreendido.

Contudo, quem tiver acompanhado o percurso da banda ao longo dos últimos dezoito anos – isto é, as pessoas que compreendem bem a sua essência – não ficarão demasiado surpreendidas pelo caminho artístico que estamos a trilhar. Na minha opinião, aceitarão o álbum sem reservas e compreenderão por que motivo ele vai ser o nosso último álbum de estúdio durante um tempo considerável. Estão a pensar em dar concertos para promover este álbum? Imaginas-te a enfrentar milhares de fãs em festivais ou a atuar em lugares mais íntimos? Sim, vamos fazer uma digressão focada neste álbum, que começará nos fins de abril. Vai ser uma digressão essencialmente centrada em clubes, como gostamos de fazer. Por isso, dou-te razão, quando falas de “lugares mais íntimos”. No entanto, são também cenários poderosos. Mas também gostamos de tocar em grandes festivais, desde que adequem o momento em que atuamos às características da banda, permitindo-nos revelar a nossa aura especial. Por que razão pretendem fazer uma pausa durante algum tempo, como anuncia a vossa editora? É algo por que anseio já há três anos. Para além de outros aspetos, tal necessidade decorre das características especiais deste álbum. Pessoalmente penso que este longa duração revela na sua totalidade a natureza intensa, mística e intemporal da nossa arte, que também constitui uma verdadeira missão para mim, como ser humano… Por conseguinte, para nós, não vai ser uma pausa, mas sim uma mudança de direção, que nos levará, durante algum tempo, a focarmo-nos na música ao vivo. Vamos consagrar o nosso tempo à conceção de concertos baseados em setlists muito especiais e a decorrer em locais inspiradores. Este álbum trata essencialmente de liberdade – interna e externa –, um tema que precisa de ser vivido, explorado e concretizado em muitos níveis diferentes… Entrevista: CSA FACEBOOk w w w. f a c e b o o k . c o m / p a g e s / D o r n e n r e ich/109593395734403 VÍDEO www.youtu.be/j8iV2ijNkWw


Ode à imobilidade absoluta! É a terceira vez que a VERSUS Magazine vai bater à porta de Markus Siegenhort (aka Herbst), o criador de Lantlôs, uma banda que tem dado passos de gigante a cada álbum. Desta vez, fomos interroga-lo sobre «Melting Sun», o último produto da sua fértil inspiração. Constatámos que a origem da chama é sempre a mesma – perceções um tanto alucinadas sobre o que o rodeia –, mas, mais uma vez, a banda alemão brindou os seus fãs com mais uma bifurcação no seu caminho musical e concetual. Nós sentimo-lo e Markus confirma: nenhuma capa poderia ser mais adequada a este álbum que a psicadélica criação de Pascal Hauer. Victor – «Melting Sun» é mais um grande passo na tua carreira. Como descreverias o teu progresso desde o primeiro álbum? Markus: Quando o primeiro álbum saiu ainda éramos bastante novos. Penso que tinha 17 anos, quando escrevi a primeira música para esse álbum. Passaram 7 anos. Cresci como ser humano, mas também como

músico. Assim, durante esse tempo, movemo-nos por várias sonoridades – desde o Black Metal, passando pelo Post Rock, Screamo, algum Jazz e Ambiente. Agora estamos um tanto desapegados das nossas raízes. Eu/nós sempre tentei, e continuarei a tentar, criar algo inovador e NÃO continuar a escrever os mesmos álbuns vez após vez. Como disse anteriormente,

trabalhando arduamente, procuramos evoluir como seres humanos e músicos. Victor – Como foi trabalhar neste álbum? No que diz respeito à composição, não foi muito diferente do habitual. Mas, desta vez, tive alguma ajuda do Felix, o meu baterista. Trabalhou muito na produção e nos detalhes – por 21


exemplo, produzir ruídos, adicionar alguns efeitos ali, acrescentar uma melodia acolá. Ajudou-me muito, quando produzi o álbum. Continuo a ser eu a escrever a maior parte das músicas, mas de facto sente-se o seu impacto nas ideias que deram origem ao álbum e a nossa colaboração na busca de coisas novas tem vindo a expandir-se, situação que me agrada muito, depois destes anos todos a escrever sozinho. Mas, regressando à composição e escrita do álbum, como referi anteriormente, as motivações e o método de composição na verdade não mudaram. Continuo a sentar-me no meu estúdio e a compor sozinho grande parte da música, concentrandome profundamente nos pensamentos que me vêm à cabeça na minha vida quotidiana. Não é um processo muito consciente ou lógico. Se sinto que estou a ter um pico nos meus sentimentos, tento “documenta-lo” ou, por assim dizer, imprimi-lo, de forma tão precisa quanto possível. E tenho muita pressa de ir para o estúdio. A maior parte das vezes, lá pela noite, já tenho uma canção pronta, depois de ter passado algum tempo a explorar cordas que me agradam ou sons que me provocam uma forte “comichão” no peito, que me comovem no meu íntimo. No entanto, a minha forma de ver o que se passa dentro e fora de mim mudou muito, nos últimos 3 ou 4 anos, e, por isso, a minha música também mudou. Passámos da escuridão para a luz. Surgiu uma nova perspetiva, que deu origem a uma nova energia. As coisas surgiram naturalmente – mais: a mudança foi inevitável. Mas estou feliz por isso ter acontecido. Continuo a gostar de cada um dos trabalhos anteriores, mas sinto que isto agora é algo de realmente novo. Estou muito satisfeito e – permitam-me dize-lo - verdadeiramente orgulhoso com o que tenho em mãos. Victor – «Melting Sun» tem um som e uma atmosfera muito peculiares. Inspiraste-te em 22

algo particular para compor a música deste álbum? A minha música é principalmente influenciada pelas circunstâncias da minha vida. E, tal como já disse, procuro sempre desenvolver-me, como homem e como músico. Estava a viver numa aldeia no sul da Alemanha, quando escrevi a minha primeira canção: “Melting Sun I: Azure Chimes”. Estava bem longe da civilização, por assim dizer, haha. Até essa altura, sentia-me estranho, afastado de tudo e há tanto tempo que andava deprimido que já nem me lembrava de como a vida pode ser agradável. Pensava com os

“[…] Se sinto que estou a ter um pico nos meus sentimentos, tento “documenta-lo” […] de forma tão precisa quanto possível. […]” meus botões que, pelos vistos, eu era mesmo assim e não havia nada a fazer. Mas, nessa altura da minha vida, comecei a conseguir aceitar algumas das minhas idiossincrasias. Senti-me iluminado! Conheci novas pessoas, comecei a sair com elas, Íamos congelar para a beira de lagos ou nas montanhas, ou nalgum castelo abandonado, no verão. Estava sempre eufórico e saboreava o verão de uma forma muito calma, reconfortante, etérea. Essa experiência ajudou-me muito a ver as coisas de forma diferente e foi, sem dúvida, a grande inspiração para compor «Melting Sun». Tinha muito para dizer e experimentava novos sentimentos a toda a hora. Tinha de ir a correr “imprimir” essas sensações em canções. Quando regressei à minha terra natal, não tinha um emprego a sério, remediava-me com alguns biscates relacionados com a música, com têxteis, blabla. Portanto, podia ir para o estúdio a qualquer momento. Tenho o meu próprio estúdio,

onde gravámos «Melting Sun», logo podia gravar o que eu quisesse, quando me apetecesse faze-lo. Muitas vezes, ia para lá de manhã, com o meu cão, e ficava lá fechado a sentir-me eufórico. Sentia-me assolado por uma espécie de ondas etéreas. Não sei explicar bem. Mergulhava numa sensação espessa e vívida, brilhante, morna, distante, definitivamente bizarra. E, durante essas “viagens”, experimentava uma espécie de “flashes”, que me davam inspiração para escrever música e lá ia eu a correr para o estúdio, para a converter numa canção. Também recorri a substâncias, para tornar esses “flashes” ainda mais intensos. Portanto, estava mais ou menos drogado o tempo todo. A viver numa espécie de “bolha” estranha! Não consigo explicar melhor. Ouçam antes o álbum. Cada segundo dele fala dessa sensação, portanto espero que, ao ouvi-lo, percebam do que estou a falar. Quanto às canções, apenas “aconteceram”. Fui para o estúdio, concentrei-me ao máximo nesses “flashes” e fui tocando a minha guitarra e fazendo experiências com os sons. Mas não era nada consciente, nada lógico. Apenas algo que nascia dos meus momentos de inspiração. Victor – Já não podes contar com a voz do Neige, mas, pela primeira vez, tens uma banda com uma verdadeira formação. Onde foste buscar os novos membros? São todos amigos de longa data. Há muitos anos que os conheço quase todos, logo são os melhores companheiros que eu podia ter. Já tinha tocado numa banda chamada Liam com o Cedric (guitarrista) e o Julian (também guitarrista). O Felix já tinha tocado bateria para mim, no álbum anterior - «Agape» - e há séculos que o conheço. E temos um novo baixista – o Chris - que também conheço há uma eternidade. São todos muito talentosos e dedicados à causa. E, acima de tudo, são meus amigos.


CSA – Nunca pensaste em converter Lantlôs numa “one man band”? Bem, eu sempre me senti a trabalhar sozinho. Os outros membros são muito importantes, é claro. Mas, com exceção do primeiro álbum, eu sempre escrevi 90%-100% da música e letras de Lantlôs, tocava quase todos os instrumentos, produzia uma parte dos álbuns no meu estúdio, organizava o trabalho todo, blablabla. Portanto, basicamente, sem querer ficar com o mérito todo, na prática, eu sou o coração que bate em Lantlôs e o principal criador da banda. A maior parte do tempo, sinto-a como um projeto a solo. CSA – Mesmo assim, deixaste os membros da banda daremte algumas ideias? Na sua maioria, são músicos de sessão. Mas, como já referi, o Felix – o meu baterista – participou no processo que deu origem a «Melting Sun» com muito entusiasmo e energia. Tinha sempre ideias maravilhosas para os pormenores e para polir as canções e mostrou-se muito colaborativo e animador. O Cedric também ajudou durante a gravação e a produção do álbum. Até criou algumas partes da bonus track Melting Sun 5 e estava sempre a dar bons conselhos. Victor – Para mim «Melting

Sun» é uma viagem. O que tem o álbum para contar? O que é o “melting sun” de que fala? Como descreverias o conceito subjacente ao álbum? É uma viagem interior. Cheia de nuvens fofas de sombras bizarras. Não se move, é uma ode a uma sensação absoluta de afundamento num espírito etéreo nascido de substâncias consumidas e do verão. É um hino à completa imobilidade e a glorificação de um momento em que me senti abençoado. É uma reflexão sobre a ideia de que as sensações, os sentimentos são o que há de mais precioso no mundo. CSA – Quem fez a capa do álbum? Um artista chamado Pascal Hauer. É uma capa completamente alucinada. Um dos melhores trabalhos artísticos que já vi na minha vida. Tantos pormenores, tanta paixão. E quase não precisou de instruções. Compreendeu logo a essência do álbum, o que fez do trabalho com ele uma experiência maravilhosa. Por favor, ponham um like na sua página no facebook e vejam os seus trabalhos: https:// www.facebook.com/PascalHauerIllustration. APOIEMNO! Victor – Pensando nos vários álbuns de Lantlôs, é fácil de reconhecer que cada um deles

tem um som específico. Como descreverias cada um deles numa só palavra? Este último foi o que me fez pensar mais. Mas não consigo resumir nenhum deles numa só palavra. Talvez a palavra ideal para os descrever a todos seja documentário/diário. Porque eles são a história dos meus pensamentos e dos meus sentimentos. Victor – Vai haver concertos com esta formação nova? Sim, senhor! 2014 vai ser o nosso ano! Estamos a preparar uma digressão lá para o fim do ano e tentaremos dar o máximo de concertos que for possível, para divulgar a nossa música e ver novos lugares, conhecer pessoas novas e gozar a vida. Estou ansioso pela chegada desse momento! Entrevista: Victor Hugo e CSA FACEBOOK www.facebook.com/lantlos VÍDEO www.youtu.be/mFJSM3kvBQ4


BEYOND MORTAL DREAMS «The Mother of Virtues» (Lavadome Productions) Deixem-me começar por fazer uma chamada de atenção aos críticos main-stream que acham que o que é bom só porque é bom não é assim tão bom: Beyond Mortal Dreams estão no topo do Death Metal extremo da atualidade. Ponto final parágrafo. Estou só à espera que estes senhores se decidam editar em formato CD e deixem o formato EP para poder atribuir um merecido 10/10. Até lá fico-me pelos 9.5 e o apelo veemente a que todos ouçam esta pérola Australiana. Contra BMD só mesmo os demónios e os deuses a conjugarem-se para os derrotarem. E mesmo assim… [9.5/10] Sérgio Teixeira

CHRONOS ZERO «A Prelude Into Emptiness» (Bakerteam Records) Mais um álbum de estreia que chegou ao HQ da VERSUS. Desta vez os Italianos Chronos Zero trazem-nos um ambicioso projeto conceptual. «A Prelude Into Emptiness» faz-nos lembrar o Metal Progressivo clássico, muito na senda Symphony X ou Dream Theater. Apesar de estarmos na presença de cinco talentosos músicos muito experientes, que descarregam dez potentes temas, a originalidade não é muita. Com isto fico sempre num dilema, se a privilegio, ou não, se “penalizo” a classificação ou nem por isso. Sendo assim, vou esquecê-la e dizer-vos que estamos perante um potente, muito bem tocado álbum de Metal Progressivo clássico [7.5/10] Eduardo Ramalhadeiro

DEATH ANGEL «The Dream Calls For Blood» (Nuclear Blast) Mais outro que estava escondido à espera de ser descoberto. Infelizmente, a vida da malta aqui na VERSUS muitas vezes não permite ouvir tudo o que nos chega. «The Dreams Calls For Blood» saiu em Outubro mas tenho de vos dar a conhecer esta bujarda!!!! Vindo diretamente da Bay Area, os Death Angel entregam-se, mais uma vez e muito bem, à fúria desenfreada e irreverente do Thrash Metal! Mais demoníaco e negro, mais pesado que o seu sucessor este é daqueles que não engana! É assim que o Thrash deve ser! (E eu que já os vi ao vivo no HC no 25º Aniversário de «The Ultra-Violence») Brutal!… [8.5/10] Eduardo Ramalhadeiro

HARK «Crystalline» (Season of Mist) Álbum de estreia dos Britânicos Hark. Mistura muito interessante de Heavy Rock e Stoner com muito groove à mistura. Álbum e sonoridade muito coesa, com as vocalizações Jimbob Isaac ferozes e desesperantes mas ao mesmo tempo deixando transparecer uma tímida melodia. Os riffs, como devem ser neste estilo, são autênticos “socos” nos ouvidos, muito bem cadenciados e poderosos que só nos deixam descansar no fim do último tema. Para um álbum de estreia os Hark já demonstram uma grande maturidade. Boa malha! [7.5/10] Eduardo Ramalhadeiro

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MAYAN «Antagonise» (Nuclear Blast) Apetece-me dizer uma asneira! Que potência! Mayan é um projeto paralelo de Mark Jansen, um dos guitarristas, mentor e responsável pelos “grunhidos” dos Epica. Neste projeto Mark não toca guitarra e só descarrega toda a sua fúria vocal. Por falar em vocalizações, Laura Macri é a soprano de serviço que juntamente com Hennung Basse completam o trio de vocalistas. Portanto, monotonia é coisa que não assiste aos Mayan. Muito bem produzido, no entanto, o som parece-me demasiado comprimido e “alto” – pesquisem por “loudness war”. «Antagonise» é um bom exemplo de um portentoso Death Metal Sinfónico. Dêem asas ao vosso volume!!! [8.5/10] Eduardo Ramalhadeiro METALMORPHOSE «Máquina dos Sentidos» (Metalli Records) Banda brasileira de heavy metal tem aqui o seu 3º trabalho de originais. Cantado em brasileiro, «Máquina dos Sentidos» é um bom e honesto álbum de heavy metal clássico, ao bom estilo dos Iron Maiden, mas, sem nunca agarrarem a sonoridade tão característica destes, digamos que a música bebe aí a sua inspiração mas depois dá-lhe uma roupagem própria e bem definida, que acaba por os caracterizar musicalmente. Esta banda faz-me lembrar os espanhóis Heróis Del Silencio, dado a similitude musical entre ambas. Os Metalmorphose não acrescentam nada de mais ao panorama do metal mas têm qualidade e honestidade musical suficiente para ter a atenção devida e merecida, e, este «Máquina dos Sentidos» é um álbum bom e funcional. Só acho que merecia uma capa mais “metálica”. [7.5/10] Carlos Filipe NUX VOMICA «Nux Vomica» (Relapse Records) Num excelente álbum de 3 temas, estes intérpretes que coexistem nas fileiras do Sludge/Doom salpicam um trabalho com elementos sonoros emprestados de outras andanças tais como o Black Metal ou Punk. Ao invés de ser mais um para a prateleira, as paisagens sonoras são impregnadas de pertinência e despertam os sentidos. Não é difícil ouvir este álbum homónimo, mas também não é por isso que se transforma em fast-food sonora. Não hesitem em experimentar estas atmosferas bem inspiradas e imperdíveis. [9/10] Sérgio Teixeira

PYRRHON «The Mother of Virtues» (Relapse Records) Não há dúvidas que Pyrrhon é sinónimo de originalidade e técnica. O que não sei bem é se estes nova-iorquinos serão apenas um tiro de pólvora seca ou se são um projeto que poderá definir os novos trilhos do Death Metal progressivo. Seguindo a linha do trabalho inicial, este 2º de originais acaba por ser mais um álbum de “música metaleira ambiente” do que propriamente algo que se possa ouvir porque tem este ou aquele tema espetacular. É demasiado cerebral mas pelo conceito quase único merecem ser claramente destacados. [8/10] Sérgio Teixeira

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RINGWORM «Hammer of the Witch» (Relapse Records) Da Relapse só podemos esperar coisas brutais e interessantes. É esta a sua imagem de marca. O novo Ringworm não foge à regra e presenteia-nos com uma descarga brutal de hardcore, com uma veia profunda de thrash metal. Depois de passadas as primeiras músicas de «Hammer of the Witch», o álbum arranca completamente para uma estratosfera musical acutilante e manifestamente poderosa, entregando-nos grandes momentos de hardcore - que por momentos me fazem lembrar o famoso álbum dos Slayer - com riffs e solos de bradar...ao metal! O headbanger, até a cabeça sair é garantido com este excelente trabalho dos Americanos de Cleveland. [9/10] Carlos Filipe

THE FORGERY «With These Fists» (Battlegod Productions) Com um percurso desde 1991, os noruegueses The Forgery entregam agora o segundo longa-duração, cinco anos após o «Harboring Hate». O álbum segue a linha já previamente definida pela banda com os anteriores álbuns mostrando além disso uma qualidade e consistência nos temas. O álbum passa bem a fãs de música escura e energética, mantendo a consistência de qualidade entre as especificidades de cada faixa. Do lote destaca-se a energia de “Final Genocide”, a textura de “Mind of Rage” e o despejo em “Shadows of Fear”. [6.5/10] Adriano Godinho

THY WORSHIPER «Czarna Dzika Czerwien» (Pagan Records) Música do mundo (ou melhor, música pagã) no universo da música extrema pode não ser sempre bem-vinda, especialmente quando o já-tentado não implica qualidade. O que os polacos Thy Worshiper fazem não é bem apenas isso e as composições não são só flauta com sons de ventos e um baterista esquizo; não, o presente «Czarna Dzika Czerwien» envolve o ouvinte, transporta-o e mostra-lhe um novo mundo. As evoluções das composições são consistentes e sólidas, com vozes que enriquecem com muito valor o ambiente criado por uma boa parte instrumental. [7/10] Adriano Godinho

VAN CANTO «Dawn of the Brave» (Napalm Records) Original, sem dúvida. Os Van Canto vão já no seu quinto álbum e continuam a ser uma referência no que ao seu estilo muito particular diz respeito – À Capella Metal. Para uns poderá ser uma blasfémia não haver guitarras e distorção mas se assim fosse, seriam mais do mesmo. Os Van Canto conseguem ultrapassar isso e elevar o Metal a um nível diferente. Como um bónus, 200 fãs do sexteto germânico tomaram parte nas gravações dos coros. Ouçam porque não é de alguma forma monótono e faz sempre bem abrir a mente para novas bandas e novas formas de estar na música. [8.5/10] Eduardo Ramalhadeiro

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Ferozes atĂŠ


é ao tutano!

Enthroned, uma banda veterana da cena Black Metal europeia, neste momento, não conta com nenhum dos membros da formação original e, recentemente, admitiu dois novos membros. Nornagest – atual mentor da banda belga – falou-nos das linhas que a regem nesta versão, dos seus planos e da prova de fogo que tem sido o lançamento do décimo álbum.


Vocês são veteranos nestas andanças e vêm de um país de que não se fala muito na cena metal. Para muitos portugueses, a Bélgica ainda é o “plat pays” de Jacques Brel, um cantor que muito admiro, apesar do meu gosto pelo tenebroso Black Metal. Como descreverias o momento presente na longa vida de Enthroned? Nornagest: Neste período, a banda está a balançar entre a calma e o caos. Estamos mais relaxados agora. Mas os últimos meses têm sido difíceis, devido à preparação do lançamento do nosso décimo álbum. Como é que a banda conseguiu sobreviver sem nenhum membro do alinhamento original? Temos de ser francos e lógicos. Todos sabemos que a força de uma banda não reside nos membros mais antigos, mas antes nos que se dedicam mais a ela e são mais empreendedores. Nunca sofremos de falta de inspiração, etc… desde que a banda perdeu todos os membros do alinhamento original. Eu escrevo a maior parte da música e das letras de Enthroned desde 1996. Agora estamos todos empenhados na banda a 200% e cada um de nós ocupa-se de algum aspeto da sua vida musical e concetual. Na minha opinião, quem compõe, é dedicada à banda e participa ativamente em todos aspetos da sua vida, nem que só esteja nela apenas há 6 meses vale mais do que um membro fundador que não componha nada, não escreva nada e não tome parte em nada do que diga respeito à banda. Por que tiveram de renovar a banda há alguns anos, admitindo um novo baterista e um novo guitarrista? Não sei se percebi bem a tua pergunta. Nós não desfizemos a banda. Apenas interrompemos o projeto por algum tempo, logo não houve nenhuma renovação da banda. Penso que estás a referir-te às últimas mudanças no line up. Quanto a isso, o que aconteceu foi que o Garghuf já não estava interessado em tocar Black Metal e mostrava uma evidente falta de motivação, pelo que decidimos seguir caminhos diferentes, o que é sempre a melhor solução nestes casos. Como já disse, quero ter membros empenhados a 200%. Portanto, contactámos o Menthor, que é como um irmão para nós, porque nos ajudou mais do que uma vez no passado, e ele passou a ser o nosso baterista oficial. No que diz respeito ao Zarzax, a história é diferente e menos habitual. Como eu já não consigo tocar guitarra durante muito tempo, devido a uma tendinite grave, convidámo-lo para ser nosso músico de sessão. Ele mostrou-se tão dedicado que acabámos por lhe propor passar a membro permanente. Pela primeira vez, na história de Enthroned, 30

passamos a cinco elementos, que participam nas gravações da banda, incluindo três guitarristas. Onde encontraram o vosso? Sei que é português. Nós somos um povo que está realmente espalhado por todo o mundo. Tivemos o nosso primeiro encontro com o Menthor, quando Corpus Christii (a sua antiga banda) gravou o seu último álbum no nosso estúdio. Mantivemos o contacto desde essa altura. Há alguma ligação entre esta nova formação e o facto de terem lançado agora um novo álbum? Sem dúvida… Esta formação criou e gravou o novo álbum. Não pode haver laço mais forte entre os dois factos. Pode-se dizer que a vossa música soa a old school Black Metal? Old school, new school, avantgarde… tudo isso são etiquetas sem importância real para mim. Enthroned é Enthroned, fazemos o que nos dá na gana e não ligamos a mínima a quem nos rodeia, sobretudo aos que fazem parte da cena Black Metal. Portanto, chama à nossa música o que quiseres. Eu acho que o que faço é apenas Black Metal. Que “soberanos” estão a celebrar neste álbum? Eu diria antes que esses “Soberanos” comunicam connosco através deste álbum. Esses seres são Buer, Machaloth, Azraël, Haagentii, Zagan, Botis, Phenex e Ipos. Mas quem são os verdadeiros soberanos? Eles, nós ou outros ou alguma coisa… Os teus vocais ferozes, a bateria furiosa, as guitarras veementes e o toque adicional de baixo enchem a música de Enthroned de angústia e fazem-na gerar ansiedade. É este o vosso propósito? Pretendem transmitir alguma mensagem ao ouvinte? Sim, pretendemos transmitir a ideia de que há muito mais coisas neste mundo do que aquilo que os comuns mortais podem ver. Esse alguém esconde-se por detrás da incerteza. Somos apenas as vozes e as mãos do nosso íntimo. Pode-se dizer que este álbum se assemelha a uma missa? Sim... é uma ideia implícita na sua conceção, mas tens de o perspetivar do ponto de vista de quem é invocado, convocado. Que lugar atribuirias a este álbum na discografia de Enthroned? Parece-me que ainda é cedo para eu poder responder a essa pergunta. O conceito lírico subjacente a «Sovereigns» é muito diferente do habitual na generali-


“[…] Todos sabemos que a força de uma banda não reside nos membros mais antigos, mas antes nos que se dedicam mais a ela e são mais empreendedores. […]” dade das bandas e mesmo do que fizemos até agora. Penso que ainda não estamos prontos para esse tipo de reflexão, que terá lugar a seu devido tempo. O álbum tem uma capa muito misteriosa, que corresponde a uma excelente pintura. Quem a fez? Que lugar coube à banda na sua conceção? Foi feita pelo nosso guitarrista Neraath, que é um pintor muito talentoso. Quando começámos a pensar na arte para o álbum, reunimos e partilhámos as nossas ideias. Quando comecei a escrever as letras para este álbum, enviava-as regularmente a todos os membros da banda, para podermos discutir o seu conteúdo, logo todos nós sabíamos de que falavam, o que justificava este verso, aquelas palavras, por que razão alguns termos – aparentemente irrelevantes – se tornavam tão fortes quando eram interpretados da maneira adequada. O artwork representa esses seres que se exprimem nestas letras, que as usam para dar a sua opinião sobre nós, a nossa ação, que dão a conhecer a sua filosofia de vida através das nossas líricas. A figura central representa o que somos como ocultistas… Harpocrates…

Dão concertos ao vivo? Será fácil assistir a um? Enthroned dá concertos há mais de 20 anos. Se é fácil ver-nos tocar? Bem, depende de onde viveres… obviamente, é mais fácil para um belga do que para alguém que viva na China ou no Egito. Como pensam recriar a atmosfera majestosa deste álbum no palco? Vamos ver… Entrevista: CSA FACEBOOK www.enthroned.be VÍDEO www.youtu.be/3_wzmYOLzCs


A Suíça é um país espantoso no que diz respeito ao Metal. Por um lado, temos a sensação de que a vossa cena é muito reduzida, mas, por outro, dela fazem parte algumas bandas de grande prestígio como Celtic Frost, Samael ou Triptykon. Como vês a cena Metal do teu país? C. S. R. – Está cada vez mais forte, mas continua pequena. Há algumas bandas novas de grande qualidade e bons promotores da música extrema. Foi bom termos tido bandas como Celtic Frost e podermos contar com Samael. No entanto, para dizer a verdade, não dou muita atenção a essas questões, nem sequer vou frequentemente a concertos, etc. Temos contacto com algumas bandas suíças que respeitamos e é tudo. Que lugar querem criar para Schammasch nessa cena? Há países mais importantes para nós do que a Suíça. Não há grande coisa a fazer por aqui, porque o país é muito pequeno. Também não há nenhuma revista suíça consagrada à música extrema. Com uma cena tão reduzida como a nossa, é muito difícil fazer planos para o futuro. Que contributo pode a vossa banda dar a este género musical tão debatido? Acabar com todos os dogmas que foram inventados para ele. Por que escolheram o estúdio de V. Santura para gravar o vosso álbum? A resposta é fácil. É um profissional com uma bela reputação e tem uma noção precisa do que é necessário fazer em termos de gravação/produção para obter o efeito desejado. Algumas das faixas de «Contradiction» foram muito difíceis de gravar/produzir, devido ao facto de incluírem inúmeros elementos que tinham de ser ouvidos em simultâneo. Portanto, gravar/produzir este nosso álbum teria sido um grande desafio para qualquer profissional. V. Santura soube enfrentá-lo da melhor maneira. O facto de termos apenas três semanas para gravar/ produzir mais de 80 minutos de música, já que dificilmente poderíamos dispensar mais uma semana para esse trabalho, também não ajudou. Como descreverias a contradição subjacente a… «Contradiction»? «Contradiction» corresponde ao momento que se segue a um estado de iluminação. É o momento da divisão e nascimento do sujeito, que muitos não conseguem enfrentar, vencer. Mas este álbum admite inúmeras interpretações. Basta “abrir os olhos”! Que relação estabeleces entre a capa do álbum e a sua contradição de base? E por que razão a cor dominante é um vermelho muito vivo (uma cor que, aparentemente, pouco tem a ver com o Black Metal)? A relação entre a capa do álbum e o seu conceito não poderia ser mais evidente. Nela podes ver a contra32

Das trevas n

Christopher Ruf (aka C. rista e frontman de Scham um tanto lacónica, mas m acerca da forma como vê a banda faz parte, e do que Para já, a sua qualidade, va Secrets of the Moon e Dark referência no mundo do Bl «Contradiction» não va


nasce a luz!

S. R.) – vocalista, guitarmmasch – de uma forma muito clara, elucidou-nos a cena suíça, de que a sua espera deste novo álbum. aleu aos suíços a atenção de k Fortress, duas bandas de lack Metal. Ao que parece, ai passar despercebido!!!

dição representada sob três formas diferentes: o protagonista [construído a partir de duas figuras dispostas simetricamente], o facto de o título estar dividido em dois segmentos e o simbolismo religioso da imagem. Não estou minimamente preocupado com o facto de a cor estar ou não adaptada ao Black Metal. O vermelho é a cor do sangue, da paixão e do fogo. No entanto, a escolha dessa cor não foi propositada, não é simbólica. Foi uma opção do nosso designer. A Prothestic Records compara-vos a Forgotten Tomb, uma banda de Black Metal de que sou grande fã oriunda de uma cena obscura [Itália]. O que tens a dizer sobre esta comparação? Não faço a mínima ideia de onde isso veio. Provavelmente, devem ter reparado que é uma das bandas com quem já tocámos. De qualquer modo, não vejo qualquer analogia entre as duas bandas. A música de Forgotten Tomb é completamente diferente da nossa. Mas eu tenho horror a essas comparações sem fim. Fazemos o que fazemos, não se ganha nada em comparar-nos com outras bandas. A única coisa que precisas de saber sobre uma banda que não conhecias é se a sua música te parece interessante ou não. Se sim, dás-lhe atenção. Se não, passas à frente. É tão simples como isto. Pode-se dizer que há um toque de flamenco na guitarra de algumas das faixas deste vosso álbum (na primeira, por exemplo)? É só na primeira. Foi um amigo meu que criou esse efeito. As raízes musicais dele estão implantadas no flamenco. Estamos a pensar em trabalhar com ele num futuro próximo, portanto prepara-te para mais álbuns com passagens de flamenco. Gosto muito desse estilo musical, é apaixonante, nada tem a ver com as porcarias musicais que circulam por aí hoje em dia. Calculo que devem estar a preparar uma digressão para promover este álbum. Onde vão toca? Que bandas vos vão acompanhar? Por acaso, ainda ontem recebemos um convite para abrirmos para Secrets of the Moon e Dark Fortress em outubro. É claro que estamos encantados com esta proposta. Para mim, é como um sonho que se converte em realidade. É uma digressão europeia com onze datas, que vai passar por países como a Suíça, a Alemanha, a Holanda, a Bélgica, França, a Áustria e o Reino Unido. Como reagirias se T G Warrior te convidasse para abrir os concertos da sua banda? Acho que tinha um orgasmo. Mas é possível que isso aconteça um dia, porque nos conhecemos de vista pelo menos. Entrevista: CSA FACEBOOK www.facebook.com/SCHAMMASCH VÍDEO www.youtu.be/c5gVAtWKdlQ 33


JOHN WESLEY «Disconnect» (Inside Out Music) Devo confessar que nunca tinha tido ouvido falar do John Wesley. Pode parecer e é, uma heresia, de alguém tão ligado ao Rock/Metal Progressivo nunca ter ouvido falar deste músico. Em minha defesa e muito provavelmente de muita gente, devo dizer que são muitos, os músicos excelentes que se “escondem” atrás de bandas/artistas muito importantes. A nossa “visão” acaba por ficar toldada por estes artistas principais e em 99% das vezes esquecemo-nos de quem os apoia. A carreira de Wesley vem já desde 1994 e conta com sete álbuns a solo. No entanto, onde talvez se destaque mais é na sua participação como guitarrista de suporte dos… Porcupine Tree, desde o álbum «In Absentia» até «The Incident». Infelizmente, a maior parte das vezes não nos preocupamos o suficiente para indagar sobre quem suporta as grandes estrelas. «Disconnect» é, pois, o sexto álbum a solo. Como devem ter percebido pelo (breve) historial é de esperar algumas influências das bandas com as quais J. Wesley tocou. Verdade! Rock Progressivo no seu melhor. A música é dinâmica, intima, sensível e muito emocional, complementada na perfeição pela voz “doce”, melódica e expressiva de Wesley. Se entenderem a metáfora vão perceber a honestidade da música, das letras e no sentimento nela empregue. Ouçam só os solos, por exemplo, “Any Old Saint”, são mais de quatro minutos de um solo “interminável”, cheio de “alma” que nos transporta para uma outra dimensão, longe de tudo e todos! É autêntica poesia! Esta “sinceridade” é algo que começa a ser raro hoje em dia. Poderão achar exagerado toda esta adjetivação, a nota “10” e o facto de este tipo de álbum não nos trazer algo de verdadeiramente novo. Mas… ouvir música não é só isto. É o prazer de a ouvirmos, o quanto nos sentimos bem e nos identificamos com tudo o que nos transmite. «Disconnect» é isso tudo… (Mais um para a lista de álbum do Ano) [10/10] Eduardo Ramalhadeiro

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Uma estranha forma de vida!

Muito se passou desde o lançamento do anterior álbum de IXXI, em 2009, até ao aparecimento de «Skulls n Dust», no início do corrente ano. Aproveitando o lançamento do quarto álbum da sua discografia, contactámos a banda, que designou Outlaw, o novo vocalista e um dos seus principais criadores, para nos falar desta verdadeira – e dolorosa! – ressurreição. Lembro-me muito bem do vosso álbum anterior («Elect Darkness») lançado em 2009. Era sombrio, desesperado, tinha vocais aterradores, mas as guitarras eram muito melodiosas e a bateria muito compassada. Fantástico! Cinco anos depois lançam «Skulls n Dust». O que andou a banda a fazer durante este longo hiato? Por que demoraram tanto tempo a lançar o vosso quarto álbum depois de terem lançado dois em 2007 e o terceiro em 2009? Outlaw – Penso que a banda teve de fazer uma interrupção na sua atividade, para evitar a completa dissolução depois do lançamento de «Elect Darkness». Ressuscitou pouco antes de eu passar a fazer parte dela. A ideia inicial era que o Acerbus substituísse o Totalscorn nos vocais, mas isso nunca aconteceu, porque B (aka Nattdal) decidiu deixar a banda e focarse nos Lifelover. Foi nessa altura que o Acerbus me convidou para ser o novo vocalista. Só tive umas semanas para aprender os vocais do álbum antes do primeiro concerto, portanto tive de entrar de imediato na atmosfera da banda. Isto aconteceu depois do verão de 2011 e começámos a trabalhar em material para o novo álbum depois da minidigressão que fizemos com Lifelover. Demorámos cerca de seis meses a chegar a acordo com a Osmose Productions e, em agosto de 2012, entrámos no Sunlight Studio para começarmos a gravar «Skulls n Dust». Depois de termos gravado o álbum, começaram as adversidades. Por causa de uma determinada pessoa, meti-me em sarilhos e assim se passou o resto de 2012. Depois tivemos problemas com o indivíduo que devia ter feito a arte do álbum. Quando ficou pronto e foi enviado para a tipografia, 36


a primeira impressão desapareceu sem deixar rasto. Por conseguinte, foi um período agitado na vida da banda. Até que ponto a morte de B afetou a banda? Foi uma grande perda para a cena metal, já que Lifelover simplesmente desapareceu. Todos sentimos muito a sua falta. Era um gajo porreiro e um grande músico, Sabemos que ainda está connosco em espírito. Não vou especular sobre como seria a banda se ele ainda fosse vivo. Talvez ainda fizesse parte de IXXI, talvez não. O que é importante ter em mente é que temos de manter a banda viva, como ele desejaria. No nosso álbum, temos uma faixa de tributo a ele, que foi escrita pelo Acerbus. A faixa intitula-se “B”, fecha o álbum e é uma obra-prima tremendamente emotiva. 37


Quando ouvi o anterior álbum, fiquei muito impressionada com a voz do Totalscorn. Pareceu-me muito original. A tua é diferente, mas também é excelente. Como entraste em contacto com IXXI? Eu e o Acerbus já nos conhecíamos há mais ou menos um ano, quando eu passei a fazer parte de IXXI. Gostou muito do meu trabalho em Angrepp e dávamonos muito bem, portanto não se passou muito tempo até ao dia em que ele repensou o seu lugar na banda e me propôs encarregar-me dos vocais. Não sou o Totalscorn, nem tento imitar a sua voz. Sou o Outlaw e, desde o início, ficou muito claro, para mim e para o Acerbus, que não devíamos tentar “reinventar” a banda, mas sim ver esta fase da sua vida como uma evolução. Continuaríamos a evoluir e a desbravar novos terrenos. Aliás, o dia em que paras de evoluir, é o dia em que deves acabar. De um modo geral, as pessoas não reagem bem à substituição dos vocalistas, mas há bandas que o fizeram com muito sucesso. É o caso de Marduk, por exemplo. O que mudou em IXXI com esta nova formação? Vi que, da formação inicial, só restam o Acerbus e o Smoker. Mudou muita coisa! O som e a atmosfera da banda são diferentes. Penso que consegui dar um novo aspeto às letras das nossas músicas. Também me parece que a nossa música passou a ser mais diversificada. Estamos muito satisfeitos com o nosso novo álbum. O resto está nos olhos de quem vê. Ouvi novamente o vosso álbum anterior, para fazer esta entrevista, e pareceu-me diferente deste. És capaz de nos dar uma ideia das diferenças entre eles? Antes de mais, este é o primeiro álbum de IXXI que não tem um tema unificador. Em « Skulls n Dust», cada canção tem a sua própria identidade. De qualquer modo, não encontro nenhuma razão plausível para comparar este álbum com qualquer um dos que a banda lançou anteriormente. Algumas pessoas devem pensar que deviam correr comigo da banda, outras ficarão muito bem impressionadas com o meu trabalho e outras ainda manter-se-ão neutras e desfrutarão do álbum à sua maneira.

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Avsky, e o Totalscorn escrevia a maior parte das letras. De que trata a capa do álbum? Não consigo perceber o que lá está escrito, à exceção da palavra “Mors” (“morte” em Latim). Trata-se de uma adaptação de uma medalha de S. Bento. Cada letra do círculo à volta da cruz corresponde a um aviso. Na imagem que figura na capa de «Skulls n Dust», foram dispostas na vertical. É uma das medalhas mais antigas do cristianismo e supostamente funciona como um amuleto contra os ataques do demónio. Inversamente, o nosso propósito é atrair Satanás e encorajar as pessoas a ver o mundo de pontos de vista diferentes daqueles que a sociedade lhes impõe. Podemos dizer que os IXXI regressaram do mundo dos mortos? Muitos de nós já estão mortos por dentro. A vossa discografia conta com quatro álbuns lançados por quatro editoras diferentes. Por que aconteceu isto? Eis uma pergunta que exige uma resposta muito longa. Além disso, uma grande parte dessa história aconteceu antes de eu ter passado a fazer parte da banda. Mas, se pensares em tudo o que aconteceu com este último álbum, será fácil compreenderes que problemas dessa natureza não são uma novidade para a banda. Agora estão com a Osmose, uma “velha” editora que também andou um tanto afastada da cena. Como está a correr a vossa colaboração? Até agora, tem corrido tudo muito bem. Os problemas que tivemos com este álbum não têm nada a ver com a editora, nem com a banda.

Como tencionam promover o vosso quarto álbum com o apoio da Osmose? Penso que, da maneira como a música é distribuída atualmente, tudo depende essencialmente dela própria. Quer isto dizer que, se o produto for bom, promover-se-á a si próprio através das redes sociais e outras Quem escreveu «Skulls n Dust»? A mesma pessoa plataformas. que compôs «Elect Darkness»? Mas é claro que pretendemos fazer digressões tão lonFoi o Acerbus que compôs a maior parte da música, gas quanto possível e participar em festivais, sempre com a ajuda do Smoker no que dizia respeito à bate- que nos fizerem convites aliciantes. ria. Uma das canções – “Soiled Soul” – foi escrita por um antigo membro da banda; Avsky. Na verdade, nós Entrevista: CSA gostávamos muito dessa canção e pedimos-lhe para a juntar ao nosso álbum e ele concordou logo. Quanto às letras, na sua maioria, foram escritas por FACEBOOK mim. O Acerbus participou, em graus variáveis, na www.facebook.com/ixxiofficia maioria das faixas. Penso que nos álbuns anteriores a música foi escrita VÍDEO pelo B e pelo Acerbus, também com a participação do www.youtu.be/O0rAmzS1tcM


Agitando a bandeira do Thrash genuíno O surgimento oficial da entidade Perpetratör não foi simples nem rápido. O seu mentor, o vocalista/baixista Rick Thor (conhecido músico de bandas como Ravensire, Ironsword, Filii Ningrantium Infernalium ou Axe Murderers) sempre a entendeu meramente como um projeto paralelo. No entanto, a aceitação pública do álbum de estreia, «Thermonuclear Epiphany» (que antes de ser editado já era um dos registos mais aguardados do Metal português nos últimos anos) surpreendeu os músicos envolvidos, podendo mesmo resultar em algo mais sério. Em jeito de balanço do breve percurso do projeto, Rick Thor falou à VERSUS Magazine das suas fontes de inspiração, dos Ravensire, do desafio que constituiu acumular as vocalizações com o baixo e não poupou elogios aos seus colegas de projeto – o guitarrista Marco Marouco (ex-Extreme Unction, ex-Omission, ex-Sabatan) e Paulão (ex-The Firstborn). Embora fundados em 2008, no início do boom do retroThrash - alegadamente o momentum ideal para um grupo do género chegar ao mercado - os Perpetratör só resolveram sair do anonimato em 2012. Querias ir em contraciclo numa altura em que o boom do género se encontrava no apogeu? Rick Thor: Desde a curta ex-

istência dos Axe Murderers que eu desejava voltar a tocar numa banda de puro Thrash Metal. Na época estava bastante ocupado, nomeadamente com os Filii Nigrantium Infernalium, pelo que fui adiando a formação de tal banda. Entretanto surgiram grupos de bom Thrash em Portugal, como os Motörpenis ou os Alcoholocaust, o que reforçou a minha vontade de

fazer algo parecido, mas foi só em 2008 que compus e gravei o primeiro tema. Toquei todos os instrumentos, escrevendo as letras enquanto gravava. Depois, programei a bateria. Confesso que o boom revivalista orquestrado por editoras como a Earache também me fez pensar que essa era a pior altura para formar um grupo do género. Corríamos o risco de, para quem não 39


nos conhecesse, parecermos trendies a adotar a nova moda. Entretanto, após ouvir alguns temas o Paulão incentivou-me a fazer algo mais sério e mostrouse desde logo disponível para ajudar. Fiquei entusiasmado e algo incrédulo com a proposta. Tão incrédulo que só anos mais tarde, quando o Paulão a reiterou, resolvi finalmente aproveitar a oportunidade. Embora constituída por um trio, a banda apresenta músicos experientes, com um enorme background musical e percursos em grandes nomes do Metal ibérico. Eram estes os músicos que ambicionavas recrutar ou o seu ingresso no projeto revelou-se uma feliz coincidência? Esta equipa funciona como um relógio. Existe entre nós uma simbiose verdadeiramente singular. Tenho tido a sorte de me juntar sempre a bandas com executantes verdadeiramente dotados, e este não é exceção. Enquanto compositor, executante e produtor o Paulão é o melhor que se poderia desejar. É ele o verdadeiro pilar no qual se apoia a entidade Perpetratör. Quanto ao Marouco, é um guitarrista solo verdadeiramente excepcional que foi a minha primeira escolha, sem hesitar. Aliás, ele também esteve presente na primeira encarnação de Perpetratör enquanto banda, que se confunde com a fase embrionária dos Ravensire, embora posteriormente se tivesse verificado uma separação entre ambos os coletivos. 40

O baixo sempre foi o teu instrumento de eleição, aquele que nos habituámos a ouvirte tocar nos diversos grupos em que atuaste. Todavia, nos Perpetratör, assim como nos Ravensire, viste-te subitamente a acumular as funções de vocalista e baixista. No entanto, a assunção do posto de frontman não constava dos teus planos. Foi uma questão de necessidade ou o processo fluiu naturalmente? Jamais pensei ser vocalista, caso contrário teria tentado há décadas. Quando gravei os primeiros temas dos Perpetratör vários amigos me disseram que tinha potencial, embora não tivesse

ficado muito convencido. Após a formação dos Ravensire, o [Nuno] Mordred [guitarrista] sugeriu que eu assumisse também as vocalizações, mas entendi que não reunia o potencial exigido à função. Com os Perpetratör verificou-se um problema prático: eu queria usar uma voz semelhante à do Chris Bailey, dos Infernäl Mäjesty; à do Jeff Becerra, dos Possessed; ou à do Peter Hobbs, dos Hobbs Angel of Death. À falta de vozes do género em Portugal tentei e resultou. Como te vês nesta dupla função? Estás satisfeito com os re-

sultados obtidos? Não totalmente, porque não considero ter a voz verdadeiramente adequada nem para uma banda nem para a outra. Enquanto vocalista, sinto-me mais limitado nos Ravensire, porque se trata efetivamente de uma banda (ao contrário de Perpetratör, que tem sido apenas um projecto). Sinto mais o peso da responsabilidade e a exigência vocal é maior. No entanto, tem corrido bastante melhor do que poderia esperar, e a constatação de que posso alcançar uma mediania aceitável já me surpreende e satisfaz. Completado o line-up iniciouse a composição dos temas que dariam forma ao álbum de estreia, Thermonuclear E p i p h a n y. As músicas são bastante old school e prestam tributo, sem preconceitos, às vossas maiores influências. Por exemplo, encontramos no álbum a ambiência de grupos como Sodom, Celtic Frost, Destruction, Kreator ou Coroner. Essa abordagem foi intencional ou resultou naturalmente, dadas as vossas influências? O meu sonho nos Perpetratör resume-se a fazer uma banda de Thrash Metal ao estilo dos anos 80, que faça música agressiva e de qualidade, respeitando os cânones estabelecidos pelos mestres do género. Julgo que os restantes elementos partilham desta opinião. Não queremos fazer fusões nem explorar novos territórios musicais. Somos metálicos dos anos 80 e aquilo que se fez na altura é, para nós, a


melhor música do mundo. Pessoalmente, abomino a grande maioria dos sons modernos que, desde os anos 90, tentam fazer passar por Metal, desde o Metalcore e afins a todos os pós-qualquer-coisa, passando pelo Indie Rock manhoso com pretensões intelectuais. Nada disto tem a ver com Metal. As bandas que referes são deuses para nós, bem como outros nomes da altura, mais ou menos conhecidos. É este o som que queremos praticar. Entretanto, chamaram a atenção da Stormspell Records, com quem chegaram a acordo. Foi a editora que vos apresentou as melhores condições? Ao contrário de outros selos que abordámos, a Stormspell sempre se mostrou interessada. Originalmente o Iordan [K, patrão da Stormspell Records] até tinha mostrado grande interesse nos Ravensire, cujo álbum acabaria por ser lançado pela Eat Metal. Durante algum tempo nada aconteceu, até que ele nos desafiou a ter um álbum pronto até setembro de 2013. Passámos os poucos meses que restavam a compor temas a grande velocidade. Fiquei muito satisfeito por termos sido lançados pela Stormspell. Seria difícil escolher melhor. A qualidade dos lançamentos da editora é reconhecida e o Iordan é um tipo verdadeiramente dedicado ao Underground. Não é movido pelo lucro, ao contrário do que é comum. Além disso ele gostou do álbum. Inicialmente queria lançar 500 exemplares, uma vez que se tratava de um projeto desconhecido, que nem sequer gravara uma demo. Contudo, entendeu que o resultado ficou tão bom que duplicou a tiragem. As críticas já publicadas sobre o álbum têm sido bastante en-

tusiásticas, gerando um crescente entusiasmo pela banda. Esta constatação reporta-me a um post antigo do Facebook em que afirmavam ser bastante improvável o grupo alguma vez subir a um palco. Dado o entusiasmo do público e da crítica mantêm essa posição? Imagino que já tenham recebido propostas para atuar ao vivo, nomeadamente no estrangeiro. Recebemos várias, mas do estrangeiro praticamente só de Espanha, embora daí continuem a vir propostas com

frequência, em parte porque todos lá conhecem o Marouco pelo seu trajeto nos Omission. Desde o princípio que ficou assente que isto seria apenas um projecto e não uma banda, por não termos vida nem tempo nem dinheiro para ensaiar e para nos dedicarmos como deveríamos caso quiséssemos transformar Perpetratör numa banda. Porém, já houve algumas propostas bastante tentadoras que culminaram finalmente na aceitação, da nossa parte, em atuar na próxima edição do fes-

tival Sardinha de Ferro, em Benavente, no mês de junho. Será a nossa estreia em palco. Pode ser que, além deste, venha a haver outros concertos. O disco foi editado em CD e cassete. Prevêm uma edição em vinil e noutros formatos? Esperamos que o ‘Thermonuclear Epiphany’ chegue ao vinil, sim. O próprio Iordan sugeriu alguns nomes de editoras que poderão estar interessadas, mas ainda não as contactámos. Não há grande pressa, e o CD ainda agora saiu. É óbvio que temos todo o interesse em que exista um LP de Perpetratör; é naturalmente o meu formato de eleição como suporte físico para música deste género. Não quero deixar de elogiar o magnífico trabalho que o Nuno da Caverna Abismal fez com o lançamento em cassette. Tudo correu excelentemente, e o resultado final é espectacular. Creio que a edição diehard esgotou muito rapidamente, o que nos surpreendeu a todos. Entretanto, estava planeada a edição de um split com uma banda que não chegou a ser revelada. Alegadamente, esses temas irão constar de um outro registo com uma banda inglesa. O que podes dizer-nos sobre este assunto? Que previsões existem para a chegada deste registo ao mercado? Terá igualmente selo da Stormspell? Fomos nós que cancelámos o split LP cujo lançamento estava previsto. Foi uma proposta de uma editora europeia que aceitámos algo precipitadamente. Gravámos, mais uma vez em contra-relógio, vinte e tal minutos de originais. Quando terminámos percebemos que o material estava tão bom que não podíamos aceitar as con41


clear Epiphany’. Presumo que a linha musical se mantenha. Ou haverá surpresas? Surpresas não. Continua a ser Thrash furioso na mesma linha do material do ‘Thermonuclear Epiphany’. Haverá alguma experimentação, por exemplo em partes de guitarra e em melodias vocais, embora sempre dentro do mesmo estilo e com as mesmas influências. Talvez venha a tentar esporadicamente novas abordagens na voz. É mais provável que em alguns temas faça algo mais Power Metal (do genuíno) como tentei fazer em ‘Fire Unleashed’, que encerra o ‘Thermonuclear Epiphany’. dições que esse editor proporcionava, que equivaliam, na prática a perdermos os direitos daqueles temas. Tentámos renegociar o acordo, de maneira a dar-lhe exclusividade das músicas apenas enquanto o split LP estivesse disponível para venda. Assim que esgotasse, voltaríamos a poder fazer o que quiséssemos com a nossa obra. Ele não aceitou e não tivemos outra hipótese senão recusar a edição. Não nos interessa ajudar editoras a fabricar objetos de coleção instantâneos, em prejuízo dos fãs, que querem adquirir o som; e das próprias bandas, que se vêem privadas das suas criações. Por tudo isto ficámos com praticamente mais um álbum pronto, faltando apenas gravar mais dois ou três temas. No entanto, é natural que até o disco ser publicado gravemos ainda mais. Desse material, há um tema em três partes que será editado por uma editora nacional num split 7” com uma banda histórica do Reino Unido, previsivelmente em meados deste ano. Ao agora extinto site SoundZone a banda anunciou que tem compostos “um número considerável de novos temas que constituirão grande parte do sucessor de ‘Thermonu42

Apesar de o primeiro álbum só estar disponível há escassos meses presumo que, havendo diversos novos temas já compostos o novo registo chegará ao mercado a curto/médio prazo. Já existe um calendário definido? Por nós, o novo álbum sairia no final de 2014. Temos mais que tempo para o ter pronto até ao final do verão, mas ainda não fazemos ideia se a Stormspell estará interessada em lançá-lo. É problemático ter uma editora americana devido à questão dos portes, sobretudo com a alfândega portuguesa, até porque os recentes aumentos desmesurados nos preços dos serviços postais americanos vieram dificultar muito a vida a editoras como a Stormspell, que passou a ter de ser mais cuidadosa. Caso tenhamos de encontrar uma nova editora para o segundo álbum, as coisas poderão complicar-se e arrastar-se. Os Perpetratör são hoje uma prioridade na carreira dos seus músicos ou encaram a banda como um projeto paralelo? Como disse, os Perpetratör são um projecto, o que não quer dizer que não nos dê grande satisfação nem que seja algo marginal nas nossas vidas. O começo tem sido auspicioso e,

naturalmente, quanto melhor a aceitação, mais estimulados nos sentiremos para continuar e fazer mais. A prova disso é o concerto que está marcado. Não era suposto que alguma vez tocássemos ao vivo. Em termos de carreira musical não consigo colocar os Perpetratör no mesmo patamar dos Ravensire, pois estes são, de facto, uma banda, com muito trabalho, inúmeras horas de dedicação, camaradagem, chatices, bastante suor e empenho. Perpetratör tem sido, até aqui, algo muito mais leve, praticamente só com diversão envolvida. Todavia, aparentemente isso está a mudar, já que a exigência de tocar ao vivo acarretará uma mudança de paradigma e a transformação do projecto em algo mais sério. Não me assusta, pois já noutros tempos me dividi sem problemas entre Ironsword e Filii Nigrantium Infernalium, e creio que os Perpetratör nunca levarão a sua actividade musical demasiado a sério nem perderão a sua descontração natural. Entrevista: Dico


Seremos Censurados, nesta vida até morrer… e um dia morremos mesmo. A morte do João Ribas apanhou todos de surpresa. 30 anos se passaram desde os primeiros concertos dos Ku de Judas – mítica banda punk da qual já só resta João Pedro Almendra. Depois dos Ku de Judas, o Ribas formou os Censurados, que rapidamente se tornaram uma banda de culto e o João atingiu rapidamente o estatuto de lenda. Os dois primeiros discos da banda são incontornáveis na história da música moderna portuguesa e são, obviamente, discos de referência da cultura punk. Aos Censurados seguiram-se os Tara Perdida, que dispensam apresentações. Seis discos e centenas de concertos de norte a sul do país, alguns dos quais com milhares de pessoas é o legado que ficará de uma das maiores bandas que Portugal conheceu. A questão é que o João era – e foi sempre – maior do que qualquer banda. Havia muitas bandas, muitos músicos, muitos punks… e havia o Ribas. O Ribas era o Ribas, um estatuto à parte. Era, sem dúvida, o músico mais carismático do punk rock tuga. Costuma dizer-se que punk não é só música – punk é um estilo de vida. Ninguém melhor que ele encarnou esta máxima; levou a vida que quis, viveu a 1000 à hora e foi sempre fiel a si próprio e aos seus ideais. “Para mim, o punk é tudo – o resto é merda” – disse-me ele uma vez, quando o entrevistava, com o Augusto Figueira, para a biografia dos Censurados. Não sendo um excelente músico – do ponto de vista técnico – era sem dúvida um excelente letrista e um excelente front-man. Sei de cor quase todas as letras das músicas dos Censurados, porque elas são simples, fortes e diretas – parece que saíram da minha cabeça. Recordo com muita saudade os concertos dos Censurados e dos Tara – únicos, inigualáveis, irrepetíveis. Mas a vida do João não era só palco – ele era um verdadeiro militante da causa punk, um ativista, um lutador. Tão depressa dava uma entrevista para uma rádio nacional como para uma fanzine; um dia estava a abrir para uma banda internacional e no dia seguinte estava a ver o ensaio de uma banda nova, com a mesma naturalidade e simplicidade. O João era assim. Ainda me lembro das suas lágrimas sinceras no lançamento do livro dos Censurados, agradecendo a mim e ao Augusto por termos contado a história da vida dele. Eu é que agradeço, João, por tudo. João Ribas, o grande herói do punk português já não está entre nós. A música portuguesa ficou mais pobre – e eu também, porque perdi um amigo. Mas um dia ainda havemos de beber uma última jola juntos – e cantarmos mais uma vez o “Animais”. Até sempre, João! Renato Conteiro* (*) Co-autor com Augusto Figueira da biografia dos Censurados, “Censurados até Morrer”, Sete Caminhos, 2006.


Joel McIver Produtividade Elevada ao Cubo O jornalista britânico Joel McIver é hoje o mais produtivo escritor sobre Metal em particular e música em geral. Com livros publicados sobre algumas das mais importantes bandas mundiais, prepara de momento mais uma série de obras, encontrando ainda tempo para ser editor da Bass Guitar Magazine, colaborar com vários órgãos de comunicação social, tocar baixo e escrever liner notes para discos. A propósito do recente lançamento da autobiografia de Max Cavalera, My Bloody Roots – From Sepultura to Soulfly and Beyond, a VERSUS Magazine falou sobre tudo isto com o autor, que estará em Lisboa a 30 de maio para uma dupla apresentação (na Feira do Livro e no RCA Club) da versão nacional da sua biografia dos Metallica, com chancela da portuguesa Publicações A Ferro e Aço. A palavra ao escriba. 25 livros escritos ou coescritos em 14 anos (entre 2000 e 2014) fazem de ti o mais prolífico e respeitado escritor no mundo do Metal. Além disso, és editor da Bass Guitar Magazine e colaborador em diversos meios de comunicação, incluindo plataformas como a rádio e a televisão. Com uma agenda tão sobrecarregada, como é o teu método de trabalho? Joel McIver: Provavelmente sou o mais prolífico escritor sobre Metal da atualidade, mas duvido muito 44

que seja o mais respeitado. Escritores como Martin Popoff [autor, entre muitos outros, da série de livros The Collector’s Guide To Heavy Metal], Mick Wall [que assinou biografias dos Iron maiden, Metallica, AC/DC ou Black Sabbath], Dave Ling [jornalista de revistas como a Metal Hammer ou a Classic Rock, autor de biografas dos Uriah Heep, entre outros] ou Geoff Barton [jornalista britânico criador da designação New Wave of British Heavy Metal, ex-editor da Sounds Magazine e fundador da Kerrang!, atual editor da Classic Rock], desenvolvem um trabalho intenso há décadas e são para mim grandes influências. De qualquer forma, o maior desafio que enfrento é encaixar tudo no meu dia de trabalho, simultaneamente dedicando tempo à família e encontrando tempo suficiente para beber uma razoável quantidade de Jagermeister [bebida alemã especialmente forte] aos fins-de-semana [risos]. Felizmente, escrevo depressa e os meus textos não requerem muita edição. Há muitas coisas em que não sou bom, mas cumpro facilmente prazos curtos com um elevado grau de qualidade. Aquando da edição original da biografia não autorizada Justice for All: The Truth About Metallica (publicada em 2004) levantou-se alguma polémica entre os fãs dos Metallica e a imprensa especializada. Pela primeira vez um autor expunha a realidade, nua e crua, dos quatro fantásticos de São francisco. Uma realidade nem sempre fácil de aceitar pela banda e pelos fãs mais acérrimos. Todavia,


a decisão de escrever uma biografia não autorizada revelou-se acertada, já que, apesar de tudo, os fãs e a crítica consideraram o livro uma obraprima. Depois de tudo, esperavas esse género de apoio? De todo, mas fazendo uma retrospetiva dos acontecimentos constatamos que, há uma década, não existia um livro abrangente sobre os Metallica, e os fãs ansiavam por uma obra do género. Na época já fora publicado um livro muito bom, da autoria de KJ Doughton, intitulado Unbound. No entanto, só cobria o percurso do grupo até 1993, pelo que havia uma lacuna no mercado quanto à existência de uma biografia completa. Decidi preencher essa lacuna e o meu livro resultou muito bem. Até agora foi traduzido para nove línguas, tendo-se publicado três edições atualizadas. No entanto, se o escrevesse hoje não seria tão agressivo em algumas opiniões sobre a música feita pela banda após o álbum homónimo, vulgarmente conhecido por Black Album. De qualquer forma, ficou tudo bem entre mim e a banda. Quando entrevistei o Lars [Ulrich, baterista dos Metallica] em 2008, ele disse-me que o livro é muito profissional e que fãs de todo o mundo lhe entregam exemplares para autografar. É, de facto, um enorme elogio.

Aconteceu algo do género com a biografia nãoautorizada The Bloody Reign of Slayer? Sim, embora numa dimensão inferior. Esse livro também foi particularmente bem aceite, apesar de muitos fãs se terem queixado de algumas das minhas análises aos temas mais lentos dos Slayer. Só gosto dos temas rápidos, o que, compreensivelmente, irritou algumas pessoas. Na tua perspetiva, quais são as principais diferenças, bem como os prós e os contras, de escrever biografias autorizadas e não autorizadas? As diferenças e os prós e os contras são idênticos. Num livro não autorizado és livre de dar as tuas opiniões e fazer interpretações próprias. Numa biografia autorizada tens de obter a aprovação do biografado para tudo o que escreves. No primeiro caso tens mais liberdade, no segundo obténs mais exatidão histórica e a credibilidade que o envolvimento do grupo (ou do músico) em questão confere. Ambas as abordagens podem ser boas ou más, conforme as circunstâncias. Quero todavia deixar bem claro que “não autorizado” não é necessariamente sinónimo de mau e “autorizado” não significa que seja bom. Que géneros de biografias exercem maior atração


sobre ti – as autorizadas ou as não autorizadas? Escrevi biografias de todos os géneros – autorizadas e não autorizadas, assim como biografias dos próprios músicos. Gostei do processo em todos os casos, mas sem dúvida que trabalhar diretamente com o biografado se revela uma experiência mais profunda e intensa. As três autobiografias que redigi desde 2007, com Glenn Hughes [vocalista com percurso musical nos Trapeze; Deep Purple, Black Sabbath, Iommi/Hughes e Black Country Communion]; David Ellefson [baixista dos Megadeth, ex-Soulfly] e Max Cavalera foram magníficas experiências do princípio ao fim. Justice For All: The Truth About Metallica é o teu maior best-seller até à data. Considera-lo a tua melhor obra? Sim, a par de To Live Is To Die, a biografia que redigi sobre Cliff Burton [malogrado baixista dos Metallica]; e Unleashed, a minha biografia dos Tool. Defendo todas as minhas obras, tudo o que escrevo, mas no que respeita a esses três livros acho que as estrelas se alinharam na perfeição. Obtive resultados muito próximos dos objetivos que defini. Fala-nos da génese de um livro teu. O que te leva a selecionar um dado grupo sobre o qual escrever? A génese de um livro meu pode acontecer de várias formas. Abordo frequentemente bandas e/ou músicos para saber se querem escrever comigo um livro que relate o seu percurso. Em outras ocasiões acontece o inverso - os meus agentes de Londres ou de Nova Iorque são contactados por managers ou editores no sentido de saber se eu gostaria de trabalhar com o artista que representam. Por vezes, um músico ou uma banda em concreto contacta-me diretamente nesse sentido. Nem todas as ideias são boas, obviamente, pelo que nos últimos anos recusei algumas propostas terríveis, acredita. No fundo, é uma complexa relação entre mim, os meus agentes, vários editores, os músicos e os seus managers, 46

mas tudo acaba por se resolver, com o auxílio de mil milhões de emails e chamadas em conferência. [risos] Como surgiu a ideia de coescreveres a biografia de Max Cavalera? Em 2009 entrevistei-o para uma revista sobre guitarras e dei-lhe um exemplar do meu livro The 100 Greatest Metal Guitarists, em que ele figura. Nessa ocasião, ele disse-me que estava a pensar escrever uma autobiografia. Fiquei imediatamente interessado, pelo que informei a Gloria [Cavalera, esposa de Max e manager dos Soulfly] que gostaria de trabalhar com o Max nesse projeto. Dois anos mais tarde ela contactou-me e começámos a trabalhar. Fala-me do vosso método de trabalho. Tiveram longas reuniões presenciais com várias horas seguidas de trabalho? Ou os vossos contactos foram maioritariamente remotos? À exceção de uma entrevista presencial de três horas feita no Reino Unido, trabalhámos sempre via telefone. Foi um processo simples? Agradável, mas por vezes difícil – não para mim, para o Max. Ele teve que mergulhar bem fundo em memórias difíceis de enfrentar, o que exigiu coragem da parte dele para discutir alguns assuntos abordados no livro. Por tudo isso, estou muito orgulhoso do Max. O livro foi originalmente publicado no Brasil, em Português, no final de 2013, mas a versão em Inglês apenas chegou às lojas em abril. Sendo o Max brasileiro, esta calendarização resultou de algum compromisso/estratégia comercial estabelecidos entre ele, a Gloria, os editores e a Nuclear Blast [editora dos Soulfly]? Não, foi apenas coincidência. O acordo de edição brasileira foi assinado antes do contrato para a edição em Inglês. Em seguida, assinámos acordos para tradução e edição em outras línguas.


No livro, o Max fala abertamente de assuntos como a morte do seu pai e as dificuldades que a família atravessou na sequência dessa tragédia. Aborda ainda as mortes do seu enteado, do neto por afinidade e de Dimebag Darrel [guitarrista dos Pantera e Damage Plan, assassinado a tiro num espectáculo destes últimos]. Obviamente, a separação dos Sepultura também é amplamente analisada, bem como a dependência do álcool e dos medicamentos, que desembocou numa bemsucedida desintoxicação. Na introdução da obra ele afirma “a minha história tem de ser contada, de forma verdadeira e precisa”. Sentiste que a escrita deste volume o ajudou a superar essas experiências traumáticas? Funcionou como uma catarse? Terás de lhe colocar essa pergunta, mas julgo que sim, sem dúvida. Escrever uma autobiografia é sempre terapêutico, se o processo for exaustivo e corretamente feito. Ele mergulhou bem fundo no seu passado, o que se refletiu no livro. O resultado final é muito bom. Até agora, como foram as reações dos fãs e dos media à obra? Todas as críticias foram boas, estamos bastante contentes. O Max critica bastante Mônika Cavalera [ex-mulher de Igor Cavalera, irmão de Max e antigo baterista dos Sepultura] e Paulo Júnior [baixista dos Sepultura]. Eles já responderam oficialmente a essas críticas? Ainda não [McIver respondeu a esta entrevista no final de abril]. Seria expectável que o Max também criticasse o guitarrista dos Sepultura, Andreas Kisser. Contudo, na maior parte das vezes Max elogia-o muito, o que é perfeitamente justo devido às suas capacidades técnicas e ao enorme contributo do guitarrista para a evolução musical da banda. Po-

deremos entender esta abordagem como uma tentativa de Max resolver as diferenças entre ambos e possibilitar uma reunião do line-up clássico? Efetivamente, o Max discute uma possível reunião no livro, mas a autobiografia nada tem a ver com o assunto. É apenas a história dele. Ao longo da obra o Max é merecidamente cortês com o Andreas, pois o trabalho desenvolvido pelo atual líder dos Sepultura foi essencial para a evolução do grupo. Os restantes músicos dos Sepultura não parecem muito interessados numa possível reunião do line-up clássico. Achas que algo do género ainda pode vir a acontecer? Julgo que sim, mas essa é meramente a minha perspetiva enquanto fã, não porque tenha em minha posse alguma informação privilegiada. Terás que perguntar ao Max e à Gloria qual é a posição oficial sobre este assunto. Gostarias que tivesse lugar uma reunião ou seria preferível manter as coisas como estão? Como fã gostaria que se verificasse uma reunião. Quem sabe o que o futuro reserva? Existem planos para a realização de um digressão promocional do livro contigo e com o Max juntos em algumas datas? Ainda estou a aguardar por essa informação. Quais são os teus álbuns favoritos dos Sepultura e dos Soulfly? Dos Sepultura é o Beneath The Remains, dos Soulfly são os álbuns do Dark Ages em diante. Porquê? Em relação ao Beneath the Remais porque adoro o material Death/Thrash, super-rápido, do início de carreira dos Sepultura. Quanto aos Soulfly, porque esses álbuns têm aquele feeling old-school brutal. O Enslaved é fantástico. 47


consigo interpretar a maior parte das linhas se tiver tempo suficiente para me preparar, embora provavelmente faça merda aqui e ali [risos]. Dado o meu trabalho como editor da Bass Guitar Magazine (www.bassguitarmagazine. com) acabei por me tornar um nerd do baixo [risos]. Além disso, tenho a oportunidade de entrevistar os meus baixistas favoritos, o que é sempre um enorme prazer.

Qual dos teus livros consideras ter sido mais excitante de escrever e investigar? As três autobiografias, decididamente. Todas requereram grande empenho e comprometimento mental. Quão difícil é encontrar o ângulo certo na fase de planeamento de um novo livro? Podes dar-nos alguns exemplos? O período temporal em que estás a planear o conteúdo é o que mais me entusiasma. Por exemplo, o meu livro sobre os Rage Against The Machine, Know Your Enemy, inclui várias discussões políticas com diversos peritos. Esse ângulo foi novo para mim, mas tinha de ser tomado, na medida em que a banda aborda muito estas temáticas [sociais e políticas]. Trabalhei recentemente com o David Ellefson, [baixista] dos Megadeth [na sua biografia My Life With Deth: Descovering Meaning in a Life of Rock’nRoll] e tivemos que encontrar o equilíbrio certo entre o conteúdo espiritual e as histórias típicas do Rock. Não foi fácil, mas gosto sempre de explorar diferentes ângulos de abordagem. Sobre que bandas ou artistas gostarias de escrever? Prince, Tom Waits, Opeth e Faith No More, bem como diversos politicos, realizadores, artistas plásticos, atores, etc. No fundo, gostaria de escrever sobre qualquer figura interessante, com talento criativo ou intelectual. Além de jornalista e escritor também tocas guitarra baixo. Fala-nos da tua relação com esse instrumento musical ao longo dos anos. Toco baixo a um nível semiprofessional, ou seja, 48

Fala-nos dos teus projetos atuais e futuros. O que poderemos esperar de ti a curto e a longo prazo? No próximo ano, ou coisa do género, haverá edições atualizadas dos meus livros sobre os Metallica e os Black Sabbath, a versão com capa mole da autobiografia do David Ellefson e a biografia oficial do maior grupo de Death Metal do mundo. Mal posso esperar para vê-la publicada. A longo prazo, gostaria de coescrever mais autobiografias (três músicos pediram-me recentemente para escrever as deles em 2015) e entrar em áreas como a política, os desportos, o cinema e a fine art. Há imenso trabalho a fazer e muitas oportunidades. Aproveito para te agradecer a realização da entrevista e convidar os teus leitores a visitor o meu site (www.joelmciver. co.uk) e a minha página do Facebook (www.facebook.com/joelmciver). Entrevista: Dico Fotos gentilmente cedidas pelo autor


À “escuta” da Natureza

Da distante e misteriosa Roménia, vem-nos Moga Alexandru, o mentor de Kogaion Art, cujo trabalho partilha com a mulher Liliana. Diz-se inspirado pela Natureza e dedica parte do seu tempo à sua observação e exploração, inclusive recolhendo matéria-prima para algumas das suas peças de arte. Tal característica valeu-lhe ter chamado a atenção de alguns cultores de Black Metal, que recorrem aos seus serviços para traduzir em imagens – sempre arrebatadoras – a atmosfera da sua música e poesia. Stefan Traunmüller, de Rauhnåcht, disse sobre ti, referindo-se à arte que fizeste para «Urzeitgeist» o último álbum da banda: “é um trabalho da Kogaion Art, que também fez o artwork para «Vorweltschweigen» [o primeiro álbum da banda, que data de 2010]. Adoro o estilo deles, que me parece simultaneamente original e perfeitamente adequado ao Black Metal. Atualmente, é difícil encontrar designers que saibam mesmo desenhar, que não se limitem a usar o Photoshop, algo que qualquer idiota é capaz de fazer.” Concordas com ele? Parecete que as suas palavras descrevem a tua arte de forma precisa? Gosto particularmente dos desenhos que fizeste para as capas dos dois álbuns desta banda. Moga Alexandru: Bem, todos temos de começar por algum lado. No início, podem andar a fazer experiências com camadas de Photoshop e, daí a uns anos, poderão estar a criar obras-primas. Não há problema que o talento e o tempo não consigam resolver. A diferença reside no facto de o meu estilo chegar mais depressa a níveis de arte mais elevados, que eles apenas atingirão daqui a uns anos. Fico muito contente por ver que gostaste desses dois trabalhos da minha autoria. Eu e a minha mulher trabalhámos duramente para obter esse resultado. 49


O que pode ser adequado ao universo do Black Metal, na tua arte? Essa pergunta é difícil! Mas acredito que tudo, na minha arte, pode ser associado a esse estilo musical. Foste tu que escolheste esse tipo de clientes? Ou foram eles que te escolheram? Fui eu que os escolhi, já que o Black Metal é um dos meus estilos de música preferidos. Não podia seguir noutra direção. Como trabalham na Kogaion Art? Sei que são dois e que fazem a maior parte do trabalho juntos. Bem, tudo depende do projeto. Começamos por discuti-lo e trocar ideias sobre a forma como vamos desenvolvê-lo. Por vezes, trabalhamos alternadamente no mesmo projeto. Outras vezes, trabalho eu sozinho ou a minha mulher. Consegues encarar a possibilidade de usar instrumentos digitais na tua arte (como o Photoshop, por exemplo)? Ambos usamos o Photoshop há dez anos, é a nossa principal ferramenta. Já há poucos desenhos feitos da ma-

neira tradicional, porque estas ferramentas são muito vantajosas. O trabalho fica pronto para ser impresso praticamente no momento em que o acabas, o que poupa muito tempo ao artista. Por outro lado, nunca obterás um resultado exatamente igual ao que resulta do uso das técnicas tradicionais. Como conseguem usar o Photoshop na vossa arte, se assenta essencialmente em desenhos? Usamos ambos mesas gráficas Wacom. O Photoshop apenas nos dá uma base de trabalho e algumas cores. Para além de uma ferramente de edição, é também um excelente instrumento para fazer desenho digital. Andei a ver os sites cujos links me enviaste e reparei que nos teus trabalhos tudo é negro, embora, por vezes, seja possível encontrar algumas manchas de cor, nomeadamente um cor de laranja verdadeiramente infernal. O que queres exprimir através dessa paleta de cores? Trabalho de forma instintiva, deixo-me “afogar” num mar de mistérios, em que as minhas musas me guiam. Não seleciono cores previamente, nem escolho uma direção a seguir, quando dou início ao trabalho, a não ser que tenha instruções precisas de um cliente. Deixo-me levar pela corrente e vejo onde esta me leva. Só imponho uma condição: no fim, a obra criada tem


Na Roménia, existem bandas de metal fantásticas. Estou a pensar, por exemplo, em Negura Bunget e Din Brad, que já foram entrevistadas pela VERSUS magazine. És um fã de metal? Ou foi o mero acaso que fez de ti um artista gráfico associado à música extrema? É claro que sou um fã. Doutro modo, a minha arte não teria qualquer significado ou dificilmente o teria. Há outros talentos romenos na área a trabalhar para bandas de metal? De certeza que sim, porque a Roménia é um país grande. Mas eu não conheço nenhum. de ter um aspeto fantástico! Onde aprendeste a desenhar? És um autodidata ou estudaste arte? O meu pai licenciou-se em Arte e Design, portanto eu tive quem me desse alguma orientação. Mas a maior parte do que aprendi decorreu da minha experiência. A minha mulher é totalmente autodidata. Onde encontras a inspiração para a tua arte? Que artista gostarias de emular? Dou a mesma resposta às duas perguntas: a NATUREZA! Alguma vez fizeste uma incursão no mundo da música ou de qualquer outra forma de arte não gráfica? Há algum tempo atrás, tentei lançar-me no mundo da música, mas depressa descobri que não era o meu destino. Recentemente, lanceime num pequeno negócio: esculpir objetos em madeira, tais como bengalas. Podes ver esses produtos nesta página: samo-wood.blogspot.ro

O que queres para o teu futuro como artista? Espero ter acesso a muitos projetos de qualidade. Mas deixo o futuro decidir por mim. Obrigado por esta entrevista Entrevista: CSA SITE OFICIAL www.kogaion-art.com

“Trabalho de forma instintiva, deixo-me “afogar” num mar de mistérios, em que as minhas musas me guiam. […]”


A TREE OF SIGNS «Saturn» (Chaosphere Recordings) Não é mais apenas no terceiro calhau a contar do sol que encontramos boa música, mas agora também no sexto. Sem contar com o pó estrelar que nos toma o folgo, esta viagem sideral entre luzes, meteoros e forças gravíticas não podia deixar de ser tão perturbante quanto imaginada. A passagem entre o passado e o espectável obriga-nos a parar e perguntar por indicações para a não-ruptura da imaginação e a continuação da alucinação que define tão bem o estilo, a obra, a marca. A voz libertada entre os instrumentos é a causa da miscelânea de torturas mentais encaixadas em seres vitimados pela brilhante e simplista instrumental que possui o ente disposto a tal e martela a possibilidade de mais, sempre mais. Três faixas que nos são servidas em bandeja nobre, rodeadas de encantos marcados pelos vigentes Alexandre NH Mota no baixo e P. Tosher na bateria. Antes da viagem a Saturno, são-nos entre-fornecidas duas supra-variações de vermelho (faixas Red I e Red II) onde a elevação instrumental da segunda é pré-aquecida ao estado de fervura pela faixa de entrada deste EP, excelente momentum pendular de estado subconsciente. O ponto de chegada é sem dúvida a última faixa “Saturn”, que possui a mística do conceito, a força da intenção e a realização do esperado. Somos todos feitos de estrelas. [8/10] Adriano Godinho BEHEMOTH «The Statanist» (Nuclear Blast Records) Tendo obtido o primeiro lugar da votação do nosso Trial By Fire da edição anterior, não fazia muito sentido deixar de fora da nossa lista de reviews esta banda com créditos mais do que firmados, os Behemoth. Portanto o mais recente trabalho «The Satanist» destes Polacos teve data de lançamento a 31 de janeiro deste ano e embora não seja considerado uma rara pérola sonora nos meandros da música extrema, tem à sua volta um certo consenso no que diz respeito à qualidade de composição e linha bem durinha que se mantém intacta. Atualmente nestes Behemoth o código genético é claramente baseado em Black Metal mas com óbvias infiltrações causadas por derrames provenientes de Death Metal sem grande espaço para muitas invenções ou roturas. O que os Behemoth conseguem neste «The Satanist» é sobretudo uma linha condutora que identifica todos temas. Quase que basta ouvir uns quantos segundos do CD e percebe-se logo onde o disco se posiciona. Porém há algumas composições que tornam «The Satanist» bem mais demoníaco do que a rotulagem standard. Destaco então o tema “Amen” pela densidade muito cimentada numa bateria por vezes em modo metralhadora mas também pela assertividade das guitarras despejadas em cima da voz como se não houvesse amanhã. O tema “The Satanist” segue-se e numa toada ligeiramente mais contemplativa marca junto com “Amen” o centro deste disco. “In The Absence Of Light” oferece uma paisagem sonora bem demolidora assente num riff de guitarra tão simples como genial e junto com “O Father O Satan O Sun!” fecham com chave de ouro este trabalho imperdível para os amantes do género. [9/10] Sérgio Teixeira BRIMSTONE «Mannsverk» (Karisma Records) No meio de todo um conjunto de propostas que nos vão chegando existem aqueles álbuns que nos deixam a escutar como se fossemos crianças hipnotizadas por um conjunto de cores vivas e brilhantes em que a imaginação fica atordoada pelas combinações de luminosidades em função do ângulo sobre as quais olhamos mas que a cada perspectiva somos irremediavelmente atraídos para mais uma observação. E é portanto nesta vertente que os Brimstone alcançam o destaque. Num álbum intitulado «Mannsverk» que vai buscar quase todos os sons e padrões dos anos 60/70 (mas

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não só) e os coloca perante nós sem querer ser uma proposta pesada mas cujo trabalho acaba por ser algo pertinente, resulta algo que por momentos parece ser um tudo-nada genial. «Mannsverk» não é um disco extremo de todo mas é extremamente bem composto, extremamente bem executado e apelativo aos ouvidos que estejam à procura de um momento mais relaxante. Os limites não existem a não ser os impostos pelo transporte no tempo e no espaço para uma dimensão de criatividade regida por elementos que vão desde solos bem cheios até ao som do acordeão passando por estruturas de baixo típicas dos tempos de Jimmy Hendrix, órgão e sintetizadores made in 70. Obviamente que os Brimstone não abrem aqui uma página nova no mundo da música, mas foi com agrado que acolhi este trabalho. Um álbum progressivo que apela a novas audições, sejam elas como música de fundo ou captando toda a nossa atenção. Portanto quem estiver preparado para por de lado o extremismo sonoro e dar lugar a alguns minutos mas relaxados, poderá ter aqui uma boa opção. [8/10] Sérgio Teixeira CADENZA «Rage and the Sorrow Within» (Independente) Revisão completa da realidade em quatro faixas-mestres de suporte artístico onde a prepotência enquadrada a termo não advém do imaginado mas sim do realizado; “Trail of Changes” inicia a interrupção da realidade, a curto-termo, pois o EP em si apenas dura o tempo de algumas reflexões subjetivas e influenciadas pela demência introvertida dos denominados Cadenza. A força chega-nos através do ódio, onde em “Rage and Sorrow Within” ela se mistura quase insistentemente com a dor, até nos convencer que uma não é separável do outro, como se fosse errado odiar e este trouxesse sempre o arrependimento das suas inevitáveis consequências, que serão repetidas sem fim, até ao fim. O momento após tal refluxo é-nos cortado ou arrancado em “Escaping the Vortex”, uma fuga que não é uma; pois o que fica é tudo na mesma, a solução nunca é a fuga e o turbilhão em que se misturam as ideias, nesta terceira faixa, não é atenuado nem esquecido, marcando ainda mais a presença do tema de conclusão, “Crushed from Inside”, força das letras, insistência da força, inevitável queda sobre si-próprio e reconstrução de si/luta pela sobrevivência e ultrapassagem dos nossos próprios limites. O som cortante não tem a ver com o que se guarda em alusões de comum, pelo contrário, indo buscar mais longe do que o imediato e surpreende por bons momentos enaltecidos por um ambiente misterioso, em torno deste trabalho. [7.5/10] Adriano Godinho DARIO MARS AND THE GUILLOTINES «Black Soul» (Ván Records) Imaginem que encontram um enorme diamante em bruto. Provavelmente, se o mandam lapidar perde toda a sua beleza intrínseca. É assim que “vejo” «Black Soul». Para a música ser bela e marcante não tem de ser necessariamente complexa. «Black Soul» é puro, “cru”, minimalista e carregado de sentimento. Nascido da mente e do génio do multi-instrumentalista Belga Renaud Mayeur que se juntou ao Polaco David Kostman e juntos arranjaram os temas que Mayeur compôs. “Eldorado” foi um filme premiado em Cannes cuja banda sonora foi composta pelo Belga. Não é de estranhar, pois, que ao ouvirmos cada tema sejamos transportados para o mundo cinematográfico. “Death is Dead” “ilustra“ muito bem um Western Spaghetti à moda italiana, Tarantino não se sentiria defraudado em utilizar de “The Jailer” ou “The Day I Died” num dos seus filmes. Deixem-se levar pelo rude ecleticismo cinematográfico de «Black Soul». Este “diamante” não tem que ser “lapidado”. É assim que deve ficar: intrínseco, simples, original, “nu” e “cru”, no entanto, honesto e sentimental. O som palhetado e picado do baixo é magnífico e ouve-se na perfeição. Isto é quase como as moléculas de carbono que ligadas de forma perfeita entre si, formam um belo diamante. No entanto, basta uma ligação ligeiramente diferente e temos a vulgar grafite. Os Dario Mars definem a sua música como: “black and white music for black and white souls”. Traduzindo “música a preto e branco para almas a preto e branco”. E é a definição perfeita para aquilo que fazem. [9.5/10] Eduardo Ramalhadeiro

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DELAIN «The Human Contradiction» (Napalm Records) Até que enfim! Os Delain têm um álbum digno do seu nome. Demorou, mas lá conseguiram... «The Human Contradiction» é, até à data, o melhor álbum dos Holandeses Delain. Coube-me a crítica dos últimos trabalhos dos Delain e não fui lá muito simpático (e nem tenho de o ser!)-O trabalho que tinham apresentado é amorfo, sem interesse, sem garra, demasiado pop “Winthin Temptation” metal e sem uma veia artística definida. Volvido 2014, os Delain mudaram a agulha para um metal sinfónico, bem mais interessante na veia de uns Nightwish. «The Human Contradiction» tem tudo aquilo que faltou aos seus álbuns anteriores: grandes músicas, grandes momentos orquestrais, grandes momentos de peso e, claro está, para tornar as coisas ainda melhores, a presença de distintos convidados, tal como Marco Heitala dos Nightwish em “Sing To Me” e “Your Body is a Battelground”, músicas estas onde a componente orquestral mais se faz sentir. Uhau! Os convidados musicais não ficam pelo Marco, há a presença dos grunts de Alissa White-Gluz em “The Tragedy of the Commons”. Ao invés, os Delain também não quiseram esquecer a sua anterior vertente e têm em “Army of Dolls” a música mais pop metal, que não destoando, também não estraga o álbum – afinal é só uma. Felizmente, todo o resto é um must de Metal feminino sinfónico, onde os Delain regressam às raízes do seu primeiro álbum «Lucidity». [8.5/10] Carlos Filipe DREAD SOVEREIGN «All Hell’s Martyrs» (Ván Records) Os Dread Sovereign são mais um espectacular projecto de Nemtheanga, dos Primordial e consequentemente Blood Revolt, Plagued e Twilight of the Gods(ToG), operando mais uma vez na sua área de conforto: o doom metal. Depois do excelente trabalho de estreia de ToG temos agora mais uma estreia que não deixará ninguém indiferente neste extraordinário género. Começo por realçar que onde este senhor coloca a voz e a sua mestria musical, temos algo de excepcional, de valor acrescentado para o género onde se inserir, extremamente interessante e bem conseguido. «All Hell’s Martyrs» é tudo isto: uma lufada de ar fresco, de um doom metal com um travo de viking metal, que se mistura brilhantemente. A voz de Nemtheanga é inconfundível e dá ao álbum aquela força que o torna magnífico. Brilhante é igualmente o facto de o som dos Dread Sovereign ser bem distinto dos de ToG e principalmente de Primordial, onde a única ligação entre estas 3 bandas é o tom da voz. A acompanhar Nemtheanga, que assina a voz e baixo, temos igualmente dos Primordial Sol Dubh na bateria e Bones nas guitarras, formando um autêntico triunvirato old school. Desde o intro “Drink the Wine” até à faixa título, somos brindados por um doom influenciado e rendilhado pela influência de bandas de culto, tais como Venom, Saint Vitus ou Cirith Ungol. [10/10] Carlos Filipe EVENOIRE «Herons» (Scarlet Records) «Herons» é o segundo álbum dos Italianos Evenoire, que têm na sua vocalista Elisa “lisy” Stefanoni o ponto principal de atração. Claramente inseridos no metal gótico e sinfónico europeu, os Evenoire acrescentam aqui e ali um elemento de folk, principalmente com a inclusão de partes de flauta tocadas pela própria Lisy, e com um qb de sinfónico. O álbum é bastante bem conseguido, com a parte metal bem alinhada engendrada com a restante componente sinfónica, guitarras e uma bateria sempre com uma forte presença a dar peso ao álbum, conjugando as restantes texturas e variações, sinfónicas e folclóricas, com estes elementos tradicionais. Tirando a sonoridade da flauta e a vertente eclética da voz de Lisy, os Evenoire não acrescentam grande coisa ao panorama actual, mas, não obstante, conseguem de forma primordial e exemplar pelo menos acompanhar o melhor que se faz nesta área, sendo tal como os Tears of Martyr um dos melhores newbies do ramo. Esta é uma banda que entra de imediato para o top

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10 do género. «Herons» vale pelo seu todo musical e a forma como foi construído, a sua vocalista e um punhado de bons momentos de metal gótico e folk, com uma flauta a pautar todo o álbum de frescura. Banda obrigatória para todos os fãs deste género e do metal feminino em particular. Os Evenoire merecem ser descobertos.[8/10] Carlos Filipe FLOOR «Oblation» (Season of Mist) Apesar de ser o segundo álbum de originais, os Floor já andam pelo mundo da música desde o princípio da década de 90. No entanto, este trio oriundo de Miami nunca conseguiu manter-se com a uma formação estável. Somente em 2002 conseguiram gravar o seu álbum de estreia: «Floor». Mais uma separação e Steve Brooks formou os Torche. Em 2010 deu-se a reunião de 2/3 da formação original. Em dois anos nasce «Oblation». Antes de mais, um pormenor muito interessante é que os Floor não têm baixo. Ambas as guitarras são afinadas vários tons abaixo. Pode parecer uma grande seca e pensarem que seja um álbum monótono mas a forma como está tocado, composto e produzido quase não se dá pela falta do baixo. Os Floor fazem uma mescla muito interessante de Heavy Rock/Stoner e um “pitada” de Doom. São muito coesos (Tal como os Hark) na sua descarga dinâmica de riffs, pesados e “negros”, fruto da afinação muito grave das guitarras. No entanto, esta “negritude” é muito bem compensada com a melodia e harmonia das vozes - Ao contrário dos Hark não são tão ferozes e desesperantes. Um bom exemplo deste contraste é o tema “Forever Still”. Sendo assim, só temos que saudar este regresso e esperar que os Floor atinjam a estabilidade em termos de formação e, certamente, poderemos esperar mais coisas boas deste trio. Naturalmente, «Oblation» será uma referência para os Floor e para quem aprecia este tipo de sonoridade é um álbum que merece ser ouvido. [7.5/10] Eduardo Ramalhadeiro INFESTUS «The Reflecting Void» (Avantgarde Music) A fortes passos declara-se a liberdade, a oportunidade de obstruir o non-sense, nem que seja a um preço demasiado elevado. “A Dying Dream” inicia a tomada de posse sem revelar mais do que o poderia fazer um clarão no céu, antes da tempestade em alto mar. A intensidade e poder do ser dominante deixa sem razão o ente fraco, sem mobilidade, sem construção de oposição. A intensidade implantada toma o largo em nós, sem nos nausear da melodia do início da história sem fim. O caminho é tortuoso até ao “Cortical Spreading Darkness” onde “Constant Soul Corrosion” nos mostra o som em fragmentos de oportunidades de absolvição, mas sem deixar claro que o caminho entre nós e o vazio poderá ser alcançado sem grande esforço por parte do acaso. Se após a ereção da queda de “Fractal Rise Of The Fall” impõe um instante de libertação da sintonia entre o bem e o mal, a verdade é que nunca deixamos de ser o ser vil e característico de demência inoportuna. A reflexão deixada aqui entre nós e nós-mesmos é ondulada pela fragrância de “Inner Reflexion” que sugere a oposição da verdade com o vazio, como se a mentira nos rodeasse e recheasse o intuito do mundo moderno; tornando-o o repelente maximus da mente criativa. Uma mente tal seria improvável conseguir subsistir num universo real, compreendido, estudado e logo, impróprio à criatividade. Por entre linhas tortas falava alguém que já nada tem para nos dizer. [8/10] Adriano Godinho IXXI «Skulls n Dust» (Osmose Productions) Não sendo consensual a opinião acerca deste mais recente trabalho dos IXXI, pelo menos por comparação com «Assorted Armament» é no entanto de assinalar o regresso destes intérpretes Suecos de Black Metal. De facto «Assorted Armament» apesar de ser considerado para já o melhor trabalho da banda, não me parece que o mais recente «Skulls n Dust» seja menos dotado de motivos de referência. Apesar de ser um pouco “quadrado” em alguns temas, existem um conjunto de riffs que se agarram facilmente à memória auditiva sem cair no enfadonho ao ouvir pela n-ésima

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vez o tema x ou tema y. Sendo que os trilhos percorridos por estes 9 temas vão beber a tons e texturas um tudo-nada apoiadas nos primórdios do Black Metal, é a garantia de termos um q.b. de analógico e do quente acolhedor tipicamente escandinavo no que à música mais pesada diz respeito. Pelo menos na minha apreciação o que me chamou mais à atenção foi o equilíbrio que os IXXI conseguem entre o semi imediatismo e fácil absorção de alguns temas, ao mesmo tempo que estes se mantêm vivos do princípio ao fim. Num álbum que se ouve como um todo e não por apenas este ou aquele ponto, isolado do resto, acaba por ser um saborear de padrões analógicos, visuais, protegidos por um casulo sonoro construído com as madeiras mais quentes de uma qualquer floresta escandinava. “Necrocracy” é para já o meu tema preferido sobre o qual assenta quase tudo o que referi e que julgo ser uma boa porta de entrada para este «Skulls n Dust». [8.5/10] Sérgio Teixeira

LACUNA COIL «Broken Crown Halo» (Century Media) Depois do excelente «Dark Adrenaline» de há 2 anos – o qual eu ainda continuo a ouvir – seria difícil aos Lacuna Coil fazerem melhor. E, de facto, eles não conseguiram. Este «Broken Crown Halo» de 2014 fica uns valentes pontos abaixo daquilo que os Italianos conseguem e têm feito ultimamente. Não quero dizer com isto que, no geral, este seja um mau álbum, está lá tudo aquilo que faz os Lacuna Coil, a banda que são, mas, falta-lhe aquele je ne sais quoi que distingue um bom/razoável álbum de um excelente – se não tivesse havido o «Dark Adrenaline»... Se os fãs dos tempos primórdios não apreciam esta corrente mais recente e moderna, então este álbum, vão deitar as mãos à cabeça e exclamar “mama Mia!”. Já aqueles fãs dos tempos recentes vão achar alguma piada, mas lamentar o resultado final. «Broken Crown Halo» só parece querer arrancar lá para o final ficando numa espécie de limbo até esse momento. A música produzida pelas bandas já estabelecidas ou nomeadas geralmente sai excelente, mas por vezes sai “furado”, não funcionando de todo nem como um todo. É o caso de «Broken Crown Halo» que parece um barco sem rumo musical, sem orientação completamente perdido, e nem a bem conseguida “One Cold Day” e “In The End I Feel Alive” salvam o álbum. O problema está mesmo nas músicas e não nos seus executantes, a começar por Cristina Sccabia, que está ao seu nível, o problema é que isto quando não dá, não dá mesmo. Resta-nos esperar pelo próximo Lacuna Coil, que seja bem mais interessante e conseguido do que este. [6.5/10] Carlos Filipe

LOUDBLAST «Burial Ground» (Listenable Records) Em terras funestas apoiam-se os Loudblast para recrear a presentação do além-domínio esperado de bandas que já nos mostraram por que terras dominaram seus inimigos. Não são simples guitarras que aqui se ouvem, nem a voz nos chega por vias usuais, a sombra recreada espera cada um na próxima curva. Por onde quer que se olhe, nunca nos teriam habituado a tal «Ascending Straight In Circles», quer por vias naturais quer por desejar nos estontear por riffs como “Darkness Will Abide”. Não, nem através as simples palavras do tema de abertura “A Bloody Oath”. Como se nada os pudesse resfriar, a mim descai-me a mão da arma com o tema “From Dried Bones”, não que apoie q teoria da platitude do meio-caminho, mas a parte mais estaladiça permanece nas extremidades. “The Void” é uma intermitência entre o grito e a lassitude galopante da permanência do estado vegetativo cortante. A mitologia não impede a obra de nascer e nada poderia esperar o ateu, da obra “Abstract God”. O descanso do guerreiro não podia ser menos inquietante que em “The path”, tomando o partido de caminhar a passos largos entre os trilhos tortuosos que assombram cada vez mais o ambiente criado por temas não-esquecidos como “I reach the Sun” e o extra “The bird”. Como se para voar, fosse preciso estar escondido do olhar indiferente do comum desconhecido. [7/10] Adriano Godinho

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MONOLITH «Dystopia» (Final Gate Records) Os primeiros acordes e riffs de «Dystopia» revelam de imediato a sua base musical que estrutura o seu excelente doom groovy rock, ao bom velho estilo dos setentas. A verdadeira surpresa vem quando o vocalista entra em acção, e me questiono se foram mesmo buscar o Ozzy do início dos 70. Será? A aproximação vocal a este é de tal forma extraordinária que “até parece o próprio”, mas não. Além da sonoridade ao bom velho estilo de Black Sabbath, do início de carreira, esta aproximação vocal constitui um dos pontos fortes desta banda. Se têm dúvidas após a 1ª música, ouçam a segunda, ”Cosmic Fairy”, onde a “colagem” ao Ozzy é de tal forma que a questão primordial faz todo o sentido. Uhau! Tenho de deixar claro que os Monolith não se assumem como percursores e “copiadores” dos Sabbath, sendo esta uma simples e feliz coincidência, assumindo-se simplesmente como uma banda de doom-rock psicadélico, mas que acabam com «Dystopia» , por se transformarem nuns honestos seguidores destes. Nunca até hoje tinha ouvido tal som tão familiar com o dos “criadores” do heavy metal. Viva o revivalismo! As músicas são todas excelentes, com o tom, ritmo e temática no sítio certo, e, acima de tudo, uma atitude “monolítica”. Originários da Alemanha, os Monolith têm com este trabalho a sua estreia, e que estreia! Cada uma das 7 músicas apresenta um cardápio de excelentes riffs, solos e atmosfera à anos 70. Nunca o “Ozzy” cantou tão bem. [9/10] Carlos Filipe MORBUS CHRON «Sweven» (Century Media Records) Os Morbus Chron conseguem com o mais recente álbum «Sweven» subir mais um degrau nas escadas que levam o Death Metal para novos andares e o respetivo rejuvenescimento. No entanto o que me parece muito ambicioso é aproveitar alguma sonoridade da velha escola do Death Metal ao mesmo tempo que se descola para novos patamares. Não é pois de espantar que tenham subido apenas um degrau na escada da renovação deste género ao invés de 3 ou 4; algo que seria, digo eu, praticamente impossível sem arriscar cair na completa descaracterização deste ou de outro género musical. Portanto faz todo o sentido o que estes Suecos nos propõem do ponto de vista de inovação que legitimamente imprimiram em «Sweven». Para além de outros pontos interessantes destaco a incursão por algumas divagações algo jazzísticas, um razoável contributo de rock/metal progressivo o que resulta não raras vezes em segmentos abstratos e numa ausência de imediatismo na audição do álbum. Ora, isto propicia mais audições sem a sensação do tão indesejável “vira o disco e toca o mesmo”. Não é portanto um disco fácil de caracterizar por ser sobretudo uma combinação nada ingénua de riffs com indiscutível bom gosto mas com uma métrica cerebral que por vezes exigem uma audição um pouco mais exigente: às vezes o que é original tem destas coisas. Diria ainda que «Sweven» provavelmente faz todo o sentido se visto como a sequência do trabalho anterior da banda e não apenas isoladamente. Obviamente que a Century Media sabe o que tem entre mãos e as várias reviews de destaque para este «Sweven» confirmam a aposta. [8.5/10] Sérgio Teixeira TEMPERANCE «Temperance» (Scarlete Records) Os Temperance chegam-nos diretamente de Itália e logo com uma estreia explosiva. No entanto… (Já lá vamos). Como é óbvio uma estreia não significa que os músicos ou as bandas sejam novos nestas andanças. De facto, os Temperance já contam com mais de dez anos de vida e várias centenas de concertos com bandas como os Rhapsody of Fire, Dragonforce ou Rage. Os membros integrantes vêm de bandas como Secret Sphere ou Bejelit. Esta experiência nota-se na música: Power Metal Sinfónico, muito Nightwishiano. Vamos só ao “No entanto”… Como é óbvio, a originalidade dos Temperance é quase nula. Será este o único óbice de «Temperance». Já andam por aí tantas bandas a fazer bom Power Metal Sinfónico que é complicado uma

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“novata” destacar-se. Será que o conseguem? Na minha mui e modesta opinião… não. É bem tocado, som muito poderoso, riffs que ficam facilmente no ouvido, orquestrações sintetizadas, muita melodia e as vocalizações de Chiara são muito competentes, assim entre uma Floor Jansen e Simone Simons. Já estão a ver filme… Além disso, há também o complemento da voz masculina, ora limpa ora agressiva muito bem enquadradas. Ouve-se bem a primeira vez mas continua a faltar algo… algo que consiga fazer a diferença. De qualquer das formas, apesar de poderoso e explosivo peca muito pela falta de originalidade e quando temos bandas como os Epica e os Nightwish é muito complicado ouvir mais do mesmo. [6.5/10] Eduardo Ramalhadeiro

THE FLOWER KINGS «Desolation Rose» (InsideOut Music) São Suecos e não fazem Death Metal e já é a segunda review que faço para os lendários The Flower Kings. Quase, quase a fazer vinte anos de carreira os Suecos sempre se mantiveram fieis ao seu Sinfónico Rock Progressivo de altíssima qualidade e muito bom gosto. O que aprecio mais nos TFK e, por conseguinte, em «Desolation Road» é a sonoridade vintage muito anos 70. Nela incorporam um conjunto de elementos que enriquecem e elevam a sua música a patamares só alcançáveis aos predestinados. Logo na abertura de «Desolation Road», o Opus de 13m37s, “Tower ONE, é um perfeito exemplo de todos estes elementos sonoros e ambientais: influências clássicas, jazz, blues, etc. A nível musical há vários pontos de interesse, todos eles com uma sobriedade e bom gosto irrepreensíveis. Gostaria, pois, de realçar toda a sonoridade do conjunto de diferentes teclados vintage e a sonoridade do baixo… das melhores que já ouvi. Ao nível da composição e letras os The Flower Kings não fizeram por menos. O álbum é de alguma forma conceptual, sendo que os temas deverão ser ouvidos em sequência, de modo a preservar, também, a fluidez das letras que retratam os grandes falhanços da Humanidade. Os temas sofrem algumas reviravoltas mas sempre perfeitamente interligados. Exemplos disso são “Tower ONE” ou “The Resurrected Judas”. Isto, claro está, impede-nos de “desligar” das músicas. “Desolation Road” é um grande esforço dos The Flower Kings em dar um passo em frente e continuar o seu legado de Rock, melódico, vibrante que apesar de uma aparente sonoridade muito anos 70 consegue ser bem moderna. Desta forma, os The Flower Kings continuam bem no centro deste género música, lugar aliás, do qual nunca saíram. [9.5/10] ] Eduardo Ramalhadeiro

THE VINTAGE CARAVAN «Voyage» (Nuclear Blast) Da terra do frio, mais propriamente da Islândia chegam-nos os The Vintage Caravan. Formados em Reykjavik por dois miúdos de doze anos. Em seis anos estes rapazes cresceram e cresceram… «Voyage» é APENAS o seu segundo álbum! Progressivo q.b., a sonoridade do baixo e da guitarra é qualquer coisa de viciante, o groove agarra-nos de imediato e contagia-nos, com os seus vibes e trips. As influências dos maiores estão lá, Hendrix, Zeppelin, Sabbath ou Purple! Não julgem que é dizer muito que não é! Tudo é criado com uma coesão e uma maturidade impressionantes! Recentemente só encontro paralelo nos também muito jovens Lost Society mas estes num registo mais Thrash! Estes jovens de idade mas adultos no talento conseguem criar uma máquina do tempo e levar-nos numa viagem quarenta anos no tempo. Os TVC, no entanto, conseguem empregar o seu próprio estilo dentro do Rock clássico e, devo dizer, não encontram igual. A magnífica e sentimental balada – “Do You Remeber” aparece ao “4º Round” permitindo descansar a cabeça e o pescoço, acender, quem sabe, outro cigarro e preparando-nos para o resto da viagem. A intro de “M.A.R.S.W.A.T.T.” é espetacular, bateria e baixo distorcido a marcar são mais um bilhete para uma viagem alegre e despreocupada. Para terminar em beleza o último sprint “The Kings Voyage”, doze minutos sempre a abrir com muito psicadelismo Floydiano no meio! YEAH!! Como dizem no magnífico “Expand Your Mind”: “Take a trip with me…” É isso mesmo! Venham daí viajar! (P.S Vejam o vídeo de “Expand Your Mind) [9.5/10] ] Eduardo Ramalhadeiro

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VANDEN PLAS «Chronicles of The Immortals - Netherworld - Path 1» (Frontiers) Os Vanden Plas são daquelas bandas que já nada têm a provar e que a cada álbum que lançam, têm agregado o selo de qualidade, não havendo lugar a mais nada do que provar, conseguindo desde sempre lançar bons e excelentes álbuns. Felizmente para todos os fãs desta banda, este é mais um desses casos, com a presente proposta em tons de conceptual, um álbum que é puro Vanden Plas. Com o seu característico e inequívoco metal progressivo, liderado pela voz ímpar de Andy Kundz, «Chronicles of The Immortals» é um claro e directo trabalho dos Germânicos, dentro daquilo que nos tem presenteado ao longo da anterior década. A produtividade musical foi tal que os Vanden Plas escreveram músicas para não um, mas sim dois álbuns! Ambos com a temática base de uma análise da essência da condição humana. Por isso, esperem a conclusão desta jornada épica com um “2º caminho”. Quanto à música, não há muito para descrever: é simplesmente sublime e bem conseguida a todos os níveis. Está lá tudo aquilo que faz o metal progressivo dos Vanden Plas. «Chronicles of The Immortals» :é melódico, catchy e pesado quando tem de o ser, sem nunca descuidar a componente orquestral, tal como do tão famigerado piano e claro está de todos os solos que apimentam a música. Todo o álbum funciona como um bloco, não havendo nenhuma música que se destaca do alto nível e da experiência que as 10 músicas nos proporcionam. [10/10] ] Carlos Filipe W.E.T. «One – Live in Stockholm» (Frontiers) Eu sou da opinião que qualquer álbum que passe tempos intermináveis nos leitores de CD têm sempre uma história. Por mais insignificante ou “parva” que possa parecer. Nem que sejamos nós a pensar: “Raios! W.E.T.! Mais uma daquelas bandas Rock com gajos de cabelo comprido, presos aos anos oitenta, com vídeo-clips cheios de mulheredo, cabedal e todos os clichés que fizeram aquela década… mágica!” Mas… isso era se fosse há trinta anos atrás. O nome leva-nos a pensar isso mesmo mas só o nome. Os W.E.T. resultam da reunião de três membros dos Work of Art, Robert Säll; Eclipse, Erik Mårtensson e Talisman, Jeff Scott Solo. Este foi um concerto único, divulgado e promovido através de uma campanha viral na internet. Rock Melódico da altíssima qualidade na sua mais pura essência! Um dos melhores álbuns ao vivo que já tive o prazer de ouvir. O som é excelente e o setlist abrange, não só, as três bandas que compões os W.E.T. mas também temas dos dois primeiros álbuns «Rise Up» e «W.E.T.». O espaço é pequeno mas acolhedor, permitindo uma proximidade com o público, quase como um concerto intimista e é o cenário certo para a magnífica rockalhada. A interação como o público é muito interessante e divertida, até na apresentação dos vocalistas, visto tanto Erik como o convidado especial, Lars Säfsund, cantarem temas das respetivas bandas. Só me pareceu um pouco exagerado o “Hey Motherfucker” no tema “I’ll Be Waiting”. Scott Solo é simplesmente brilhante! O melhor disto tudo é que há uma edição com o duplo CD+DVD! E eu vou comprar, por isso, sugiro que façam o mesmo. Oportunidades destas não há muitas! (P.S.: Pelo tempo e pela companhia que este álbum me tem feito nas viagens… nota “10”) [10/10] ] Eduardo Ramalhadeiro ZODIAC «A Hiding Place» (Napalm Records) Bem, os Zodiac estiveram “escondidos” à espera que os ouvisse com atenção, pois, nem sempre temos tempo e disponibilidade para ouvir tudo o que chega à VERSUS. Pensaria eu que estaria perante “mais um”. Estava redondamente enganado. Agradável surpresa! Apesar de ser somente o segundo álbum, os Zodiac não são inexperientes. A banda foi formada pelo baterista Janosch Rathmer (Long Distance Calling) e Nick van Delft que partilha a voz e guitarra e aos quais se juntaram outros dois experientes músicos. Mas vamos lá apresentar-vos «Hiding Place». O melhor do Rock dos anos 70 encontra os tempos modernos, pode ser aquilo a que se chama de Retro Rock. Neste tipo de sonoridade o que me prende mais a atenção é quão

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“cru” é o som. Não aquele que nos leva diretamente para uma garagem mas sim, uma sonoridade “crua” bastante refinada, nada de excessivas produções ou compressões. Os Zodiac criam este ambiente na perfeição. Onde também são exímios é na combinação musical, nos vários elementos e estilos, riffs cativantes, guitarras melódicas e bem trabalhadas, especialmente quando deambulam para o Blues, em perfeita cumplicidade com a suavidade da voz, quase veludo! Magnífico! E tudo isto sob o groove da secção rítmica. Ouçam, por exemplo, o divertido funky “Underneath My Bed”, o bluesy “Believer” sem esquecer a magnífica balada acompanhada ao piano, “Leave Me Blind”. A minha lista de melhor do ano 2014 acabou de ser inaugurada! Ouçam, pois não sabem o que perdem. [9.5/10] ] Eduardo Ramalhadeiro

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MORTE INCANDESCENTE + KOLTUM Mercado Negro – Aveiro 19.04.2014 Morte… trepidante!!! Mais uma vez, a Blindagem Metal Fest e a Associação Mercado Negro brindaram a cidade de Aveiro com uma Páscoa Negra, ou seja, um concerto de Black Metal no sábado de aleluia. Este ano, os habituais frequentadores deste evento contaram com a presença de Koltum, uma banda relativamente recente, visto que foi constituída em 2006., mas que já conta com numerosos lançamentos, incluindo dois álbuns. Perante uma sala bem cheia, os el-

ementos da banda de Guimarães apresentaram um Black Metal bem cadenciado, entrecortado pelos ásperos vocais de Tenebris e ilustrado por um corpse paint bem aplicado, tremeluzindo à luz de velas, o que ajudou a criar o cenário ideal para este tipo de música. O público presente acolheu com agrado e interesse esta banda, cuja participação foi anunciada bem mais tarde que o evento para que foi convidada. Seguiu-se um sound check um tanto acidentado, em que alguns dos músicos de Koltum procuraram dar apoio aos dois elementos de Morte Incandescente. Ao fim de algum tempo, Alexandre Mota (aka Nocturnus Horrendus) estava devidamente instalado atrás da bateria e Hugo Leal (aka Vulturius) dominava à frente do pequeno palco, com a sua guitarra.

Seguiu-se um bom momento musical, com o conhecido duo a entusiasmar o público presente com uma série de canções em que o som bem cadenciado e melódico da banda era “enegrecido” pelos tenebrosos vocais assegurados por ambos os elementos. A atuação foi pontuada pelos habituais comentários de NH, que não parece pensar que ser músico de Black Metal obriga a ser depressivo!!! À saída, os fãs puderam tomar conhecimento do futuro lançamento de um LP de Morte Incandescente pela Nekrogoat Heresy Productions. Ficamos a aguardar pela oportunidade de entrevistar esta banda! Reportagem: CSA Fotos: Lino Gomes

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Morte Incandescente

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