Revista Brasil em Código 29ª Edição

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BRASIL EM CÓDIGO

GS1 Brasil – Associação Brasileira de Automação

Uma publicação da GS1 Brasil – Associação Brasileira de Automação • jul/ago/set 2018 • www.gs1br.org

EDIÇÃO 29

EDIÇÃO 29

NA ONDA DOS DADOS

ENTREVISTA

RONALDO LEMOS APONTA AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS TECNOLÓGICAS


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centro de inovação e tecnologia

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Patrocinadores Ouro

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Brasil

SISTEMAS DE MOVIMENTAÇÁO E ARMAZENAGEM

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Patrocinadores Prata

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Sunny.xale Dlii!iENVOLVfiNDO SOLUÇ0ES

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ao leitor

Atualmente, os dados representam o principal ativo das empresas e, para tanto, precisam ser muito bem qualificados para que elas possam direcionar suas estratégias de modo eficaz. Aliás, o conceito de qualidade de dados tornou-se premissa para o crescimento sustentável dos negócios. Pesquisa da GS1 realizada neste ano, com mais de 500 empresas comprova essa realidade, apontando que os principais desafios das companhias para 2020 envolvem a integração de dados em toda cadeia de abastecimento e a segurança na gestão dessas informações. Pensando nisso, nesta edição, preparamos um verdadeiro especial destacando a importância da qualidade das informações nos negócios. A matéria de capa mostra como a identificação das mercadorias com informações corretas, precisas, padronizadas e organizadas em um cadastro único, constantemente atualizado, contribuem para a gestão. Como especialista em padrões globais, a GS1 Brasil levanta esta bandeira e reforça seu apoio técnico para as empresas adotarem os princípios da qualidade de dados, estimulando o uso do código de barras e do Cadastro Nacional de Produtos (CNP), por exemplo. Quando esses princípios são adotados, com a garantia de dados certeiros, integrados e alinhados ao negócio, há uma série de benefícios, como redução de custos, ganho de competitividade e satisfação dos clientes. Entretanto, ao trabalhar com informações equivocadas, a companhia sofre com o aumento de custos e falhas operacionais decorrentes de pedidos incorretos de compras, falta de produtos nas gôndolas ou imprecisão no estoque. Mas, além dos dados das mercadorias, é preciso muita atenção ao lidar com as informações pessoais de clientes, como mostra a reportagem sobre a nova Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que estabelece regras para uso, proteção e transferência de dados pessoais, como nome, endereço, e-mail, idade e estado civil. A matéria aponta as adequações legais para atender à norma e manter a segurança dos envolvidos. Destacando o tema por outro ângulo, a seção Jogo Rápido traz uma entrevista com o coordenador técnico do Encontro Nacional dos Coordenadores e Administradores Tributários Estaduais (ENCAT), Álvaro Bahia, que esclarece a importância da qualidade dos dados para os órgãos de administração tributária do País. O especialista fala sobre os diversos esforços para tornar as informações íntegras, confiáveis e consistentes no âmbito governamental. Esses são alguns exemplos que comprovam que investir na qualidade de dados é um caminho sem volta. E é por esta trilha que a GS1 Brasil continuará nesta jornada, incentivando as companhias a seguirem conosco.

Um forte abraço, João Carlos de Oliveira presidente

Foto: Paulo Pepe

A era dos dados


[EXPEDIENTE

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A revista Brasil em Código é uma publicação trimestral da GS1 Brasil dirigida e distribuída gratuitamente aos seus associados, aos parceiros e à comunidade de negócios. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores e não representam a opinião da entidade e da editora.

GERENTE DE MARKETING E SUSTENTABILIDADE Frederico Bellini COORDENAÇÃO DA REVISTA Andréa Palmer GS1 BRASIL Rua Henrique Monteiro, 79 Pinheiros – 05423-020 – São Paulo Telefone: (11) 3068-6229 www.gs1br.org REDES SOCIAIS facebook.com/gs1brasil www.linkedin.com/company/gs1-brasil www.youtube.com/gs1brasil www.flickr.com/gs1brasil FALE COM A REDAÇÃO revista@gs1br.org PRODUÇÃO EDITORIAL E GRÁFICA G&T Comunicação Ltda. redacao@gtcomunica.com.br EDITORA Denise Turco – MTB 43.537 EDITORA-ASSISTENTE Kathlen Ramos REVISÃO Helder Profeta FOTOGRAFIA Paulo Pepe e Eliane Cunha CAPA Marcelo Gorzoni ARTE Adriano Cristian Fernandes COLABORAÇÃO Adriana Bruno, Denise Brito, Flávia Corbó e Katia Simões (texto) IMPRESSÃO Referência Gráfica TIRAGEM 3 mil exemplares

24 O desafio da qualidade de dados


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SUMÁRIO

20

30

38 6 CURTAS 10 INSTITUCIONAL 12 ECONOMIA 14 MERCADO 18 EVENTO 40 SUSTENTABILIDADE 42 EDUCAÇÃO 44 GESTÃO 46 TENDÊNCIA 52 PERFIL 54 RECURSOS HUMANOS 56 DESCONEXÃO 58 RADAR 64 VITRINE DE SOLUÇÕES 66 PADRÃO DE QUALIDADE

24

CAPA A qualidade de dados é um dos pilares mais importantes para os negócios. Saiba como ter informações confiáveis e padronizadas em toda a cadeia de suprimentos

16

VENDAS Confira as dicas

20

ENTREVISTA O especialista em

para pequenas e médias empresas conquistarem mais espaço na Black Friday

direito e tecnologia Ronaldo Lemos fala sobre as inovações tecnológicas

30

DIGITAL Entenda os desafios

34

NEGÓCIOS Tire suas dúvidas sobre

36

JOGO RÁPIDO A importância da

para implementar a nova Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD)

certificado digital com as orientações da Serasa Experian, que firmou parceria com a GS1 Brasil

qualidade de dados no âmbito dos órgãos de administração tributária

38

AUTOMAÇÃO Correios implementam projeto para rastrear encomendas com uso de EPC/RFID

48

VAREJO Diante da força

60

INOVAÇÃO Summit 4.0, evento promovido pela GS1 Brasil, apresentou cases de empresas que apostam nas tecnologias digitais

do e-commerce, será que a loja física continuará a existir?


[

]

CURTAS

Desde 8 de agosto, é obrigatório que produtores ou responsáveis pela venda de vegetais frescos forneçam informações padronizadas sobre a procedência desses alimentos ao consumidor, conforme Instrução Normativa Conjunta nº 2, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). O objetivo é assegurar vegetais sem irregularidades no uso de agrotóxicos e contaminantes. Assim, o produtor deve informar, no próprio item ou na embalagem, os seguintes dados: endereço, nome, variedade ou cultivar, quantidade, lote, data de produção, fornecedor e identificação (CPF, CNPJ ou Inscrição Estadual). A identificação pode ser realizada por meio de etiquetas impressas com caracteres alfanuméricos, código de barras, QR Code ou qualquer outro sistema. A GS1 Brasil oferece padrões de identificação que ajudam a atender à nova norma, a exemplo do código de barras, das etiquetas inteligentes (EPC/RFID) e dos códigos bidimensionais, como o GS1 DataBar.

Conexão Portal GS1 Brasil Provedores de soluções A automação é uma importante ferramenta para a inovação em toda cadeia de abastecimento. Afinal, a constante evolução das tecnologias permite que as empresas aprimorem processos, reduzam custos e aumentem a produtividade. Entretanto, acompanhar as novidades e buscar quem são os parceiros apropriados não é uma tarefa simples. Pensando nisso, a GS1 Brasil se propôs a conectar essas “pontas”, criando um espaço em seu portal onde é possível buscar provedores de soluções associados, selecionando os produtos ou serviços desejados: hardware, software ou materiais de suprimentos. “Como resultado da busca, é apresentada uma lista de provedores de soluções, com o detalhamento dos serviços oferecidos e meios de contato”, esclarece a executiva responsável pelo setor têxtil e de confecções da entidade, Claudilena Murro. “Conexão, simplicidade e informação é o que a GS1 Brasil deseja proporcionar aos seus associados e a toda cadeia de suprimentos”, destaca.

Para mais informações, acesse:

www.gs1br.org/servicos-e-solucoes/provedores 6 jul/ago/set 2018 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

Fotos/Imagens: iStock

Rastreabilidade de vegetais frescos



CURTAS

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[

Alimentação fora do lar A Associação Brasileira da Indústria de Alimentação (ABIA) promoveu o 11º Congresso Internacional de Food Service, em outubro, em São Paulo (SP). O evento, que contou com o apoio institucional da GS1 Brasil, abordou as últimas tendências do setor, as alternativas para estimular o desenvolvimento de negócios, além de incentivar a troca de experiências entre a indústria e os operadores do food service. Para mostrar a importância da rastreabilidade e do uso de padrões para acompanhar o trajeto de cada item desde a produção até o consumidor final, o executivo de negócios da GS1 Brasil, Nilson Gasconi, fez uma palestra sobre o tema durante o congresso.

Sustentabilidade em pauta Qual é a relação entre automação e sustentabilidade? Para responder a essa pergunta, em agosto, a GS1 Brasil promoveu o evento Sustentabilidade em Código, em sua sede na capital paulista, para mostrar, de forma prática, como a automação está conectando tecnologias, pessoas, meio ambiente e negócios. A equipe da GS1 Brasil compartilhou informações de cases já consolidados no mercado sobre temas, como rastreabilidade e garantia de origem de plantas da mata atlântica (leia mais na página 40), economia circular, combate ao desperdício de alimentos, segurança do paciente e rastreabilidade de medicamentos. O evento contou também com um painel de startups, que foram convidadas a compartilhar suas soluções. O sócio-diretor da BHS, José Francisco Roxo, apresentou o programa Descarte Consciente, que promove a coleta de medicamentos vencidos, colaborando para a diminuição da contaminação química da água. Já o diretor-executivo da Triciclo, Felipe Cury, mostrou os resultados do programa Retorna Machine, que coleta, de forma automatizada, as embalagens pós-consumo, gerando benefícios para toda da cadeia de valor. O executivo da Saveadd, Salvador Ramalho, compartilhou as iniciativas da startup no que diz respeito à prevenção de perdas na indústria e no varejo, gerando benefícios econômicos, ambientais e sociais. O encontro contou com a presença de profissionais da área de sustentabilidade de empresas associadas à GS1 Brasil. 8 jul/ago/set 2018 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

Saciando a fome com aplicativos Trinta e três por cento dos internautas brasileiros pediram comida delivery via aplicativo nos últimos três meses, revela uma pesquisa do IBOPE Conecta realizada com os internautas brasileiros. Os entrevistados que mais fizeram este tipo de pedido têm entre 16 e 34 anos e são das classes A e B. A pesquisa aponta que os pedidos foram feitos, predominantemente, nas regiões Sudeste e Sul do País.


Novo horário de atendimento Visando a maior eficácia no suporte aos seus associados, a GS1 Brasil passa a prestar atendimento telefônico em novos horários: de segunda a sexta-feira, das 8h00 às 22h00; e, aos sábados, das 8h00 às 18h00. Conecte-se com a Central de Relacionamento da entidade pelo telefone: (11) 3068-6229.

Agenda de cursos A GS1 Brasil oferece cursos presenciais e in company com o objetivo de capacitar associados, empresários e colaboradores em temas como logística, automação e processos. Acompanhe a agenda dos próximos meses: IDENTIFICAÇÃO E QUALIDADE DE DADOS O curso, que mescla teoria e prática, mostra como identificar produtos com dados precisos, bem como aplicar o código de barras nos itens e caixas utilizando as ferramentas do Sistema GS1. O aluno também poderá entender o valor da qualidade de dados na cadeia de suprimentos. DATAS DISPONÍVEIS

LINK PARA INSCRIÇÃO

04/09

www.gs1br.org/educacao-e-pratica/eventos/camp-04719-x8h4c1

18/10

www.gs1br.org/educacao-e-pratica/eventos/camp-04715-w7v3m5

13/11

www.gs1br.org/educacao-e-pratica/eventos/camp-04721-q7h6h5

04/12

www.gs1br.org/educacao-e-pratica/eventos/camp-04725-c7m3y8 Carga horária: 7 horas (período da manhã + tarde)

EPC/RFID Neste curso, os participantes poderão conhecer as principais aplicações, características, padrões, oportunidades de negócios e metodologias de identificação, captura e compartilhamento de dados utilizando o padrão EPC/RFID. Também serão detalhados os principais componentes da Rede EPC e sua aplicação na Indústria 4.0 e Internet das Coisas (IoT). LINK PARA INSCRIÇÃO www.gs1br.org/educacao-e-pratica/eventos/camp-04720-h6y4f3

CARGA HORÁRIA

3h30 DATA

31/10

[ BRASIL EM CÓDIGO ] jul/ago/set 2018 9


[

] Fotos: iStock

INSTITUCIONAL

Inspiração nórdica Da Redação

GS1 Brasil promove Missão Técnica para Finlândia e Suécia A fim de conhecer as tendências que estão transformando a era digital em um dos pontos mais inovadores do planeta, a GS1 Brasil promoveu uma Missão Técnica para Finlândia e Suécia, no mês de setembro. O grupo de executivos participantes também aproveitou para conhecer as atividades da GS1 nesses países, conhecidos pela qualidade de vida excepcional que oferecem aos habitantes, além da rica vida cultural e gastronômica. Em Helsinque, uma das capitais mais desenvolvidas do mundo, está localizada a GS1 Finlândia, que possui 6,5 mil empresas associadas. Entre os principais produtos da entidade estão o Golli, serviço em nuvem para fabricantes e fornecedores despacharem pedidos de varejistas, e o Synkka, datapool que garante que todas as partes tenham sempre informações atualizadas sobre o produto, incluindo imagens, garantindo dados confiáveis e de alta qualidade em toda a cadeia de abastecimento. Ainda em Helsinque, o grupo brasileiro fez uma visita técnica à rede finlandesa de hipermercados

10 jul/ago/set 2018 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

K-Citymarket, pertencente à Kesko Food, grupo com operações nos setores de alimentos, construção e automotivo. Com 80 lojas em 58 cidades da Finlândia, a K-Citymarket oferece amplo sortimento de mercadorias. A unidade visitada foi inaugurada em 2017 e representa a nova geração de lojas da rede, pois foi concebida utilizando dados dos consumidores, com um mix de produtos adequados para a região e também venda de alimentos on-line. Os brasileiros também tiveram uma experiência saborosa na Fazer, uma das maiores e mais tradicionais indústrias alimentícias do País, fundada em 1891. A empresa atua em quatro áreas: confeitaria, padaria, rede de cafeterias e cadeia de restaurantes. Com atuação em nove países, a companhia registrou vendas líquidas de 1,6 bilhão de euros em 2017. Outra visita foi à Inex Partners Oy, empresa que fornece serviços logísticos para cadeias de supermercados e bens de consumo. O centro logístico instalado na cidade de Sipoo, próximo a Helsinque, foi inau-

gurado em 2016 e é um dos maiores da Europa. Com uma área de armazenagem e processamento de 300 mil m 2 e mais de 900 funcionários, distribui quase 50% de todos os alimentos vendidos na Finlândia. O centro de logística é quase totalmente automatizado e utiliza tecnologia de última geração para manuseio de produtos. PAÍS INOVADOR Estocolmo, a capital da Suécia, foi o segundo ponto de parada dos executivos brasileiros. Na GS1 Suécia, que possui 11 mil empresas associadas, a grande atração foi a visita ao Concept Centre, espaço aberto em 2012 com o objetivo de destacar as vantagens do Sistema GS1 e do Validoo, um conjunto de serviços desenvolvidos com base nos padrões GS1 que oferece a possibilidade de as empresas melhorarem a qualidade e a eficiência nos fluxos de informação. O Concept Centre possui várias estações, simulando diferentes setores (varejo, hospital, etc.) onde o visitante pode interagir e assistir vídeos.


Para conhecer mais a fundo a cultura de inovação local, o grupo visitou também o Epicenter. Trata-se do principal hub de inovação de Estocolmo, concentrando as empresas digitais que mais crescem no mundo. No local, há laboratórios de inovação que ajudam a acelerar o crescimento das companhias. Outro destaque foi a visita a uma loja da Ikea, uma das maiores e mais inovadoras varejistas da área de móveis e decoração do mundo. A companhia, de origem sueca, possui 355 lojas em 29 países, sendo a maioria na Europa, além de unidades nos Estados Unidos, Canadá, Austrália, Ásia e Oriente Médio. A empresa oferece produtos acessíveis, combinando função, qualidade, design e sustentabilidade, que podem

ser comprados na loja e montados em casa pelos clientes. Com faturamento de 38,3 bilhões de euros, possui 194 mil colaboradores. Ainda no varejo, o grupo esteve no The Lobby, uma loja-conceito em constante mudança que abriga marcas internacionais e escandinavas de roupas. O espaço é conhecido por traduzir um novo conceito de varejo, o phygital (físico + digital), unindo as experiências de consumo do mundo real e virtual. No setor de indústria, outro destaque foi a visita à Electrolux, fundada em 1919 e com sede em Estocolmo. A companhia, considerada a segunda maior fabricante de eletrodomésticos do mundo em unidades vendidas, atrás da Whirlpool, comercializa mais de

40 milhões de produtos ao ano em 150 países. Na fábrica visitada, o grupo viu de perto a aplicação de tecnologias como Internet das Coisas (IoT), Indústria 4.0, smart homes e produtos conectados. O roteiro incluiu, ainda, a Ericsson Studio, um ponto de encontro da empresa sueca de telecomunicações para demonstrar seus produtos, serviços e visão de negócios. Inaugurado em 2010, recebe 20 mil visitantes por ano. O grupo brasileiro fez um tour pelo espaço e experimentou as mais recentes soluções tecnológicas da empresa com base em 5G e IoT. Finalizando a viagem, os executivos conheceram a Embaixada Brasileira em Estocolmo. Em uma visita organizada pelo diretor-executivo da Câmara de Comércio Sueco-Brasileira – Swedcham, Jonas Lindström, conheceram o ministro-conselheiro do Itamaraty, Alexandre Henrique Scultori de Azevedo Silva, e o primeiro secretário, André Costa. 7 898357 410015

Foto: iStock

Foto: Divulgação GS1 Brasil

Conhecimento Grupo brasileiro em viagem aos países nórdicos

Referência De origem sueca, Ikea é uma das lojas de móveis e decoração mais inovadoras do mundo

[ BRASIL EM CÓDIGO ] jul/ago/set 2018 11


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Imagem: iStock

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ECONOMIA

Radar do mercado Da Redação

Para ajudar a entender melhor o ambiente de negócios, GS1 Brasil lança indicador que aponta o momento em que as empresas encerram seu portfólio de produtos Empenhada em gerar informações relevantes para apoiar a análise e a tomada de decisão, a GS1 Brasil lançou, recentemente, mais um indicador econômico: o Radar Empresarial. A fim de auxiliar o mercado nacional a se preparar para movimentações futuras, o indicador contabiliza todas as vezes em que uma empresa encerra seu portfólio de produtos. Dessa forma, pode

12 jul/ago/set 2018 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

ajudar empresários, economistas, jornalistas e acadêmicos a terem uma percepção mais apurada sobre o ambiente de negócios no País. O indicador contempla todos os setores da economia nacional, tendo maior representatividade na indústria de transformação. Os resultados são publicados mensalmente, no décimo dia útil do mês subsequente ao mês de referência. Elaborado com o


Agosto/2018 vs. julho/2018

Agosto/2018 vs. agosto/2017

Acumulado 2018 janeiro a agosto

Variação 12 meses

Brasil

-2,3%

1,5%

-4,2%

-2,1%

Micro e Pequenas Empresas

-11,3%

-1,3%

-4%

-0,2%

apoio da 4E Consultoria, o Radar Empresarial apresenta dois recortes: Brasil e Micro e Pequenas Empresas (MPE). Em agosto, mês da terceira publicação do indicador, os dados apontaram queda de 2,3% na comparação com o mês anterior, mostrando que uma menor quantidade de empresas decidiu encerrar seu portfólio de produtos. Na comparação com agosto de 2017, houve um aumento de 1,5%. Já no acumulado de janeiro a agosto, ocorreu queda de 2,1% na comparação com o mesmo período do ano passado. O resultado para MPE foi similar ao total Brasil, com um recuo mais acen-

tuado de 11,3% no comparativo com o mês anterior. Em relação a agosto de 2017, ao contrário do número Brasil, MPE manteve a tendência, apresentando queda de 1,3%. Nesses primeiros resultados, o índice apresentou descobertas relevantes, como seu comportamento cíclico ao longo do ano, ou seja, existe uma tendência de que os picos de encerramento de portfólio de produto ocorram entre os meses de dezembro e fevereiro. Portanto, o cenário de confiança apresentado no acumulado de janeiro a agosto ainda pode sofrer alterações até o final do ano. O Radar Empresarial

também possui forte correlação com o indicador de falências do Serasa, sendo possível, inclusive, a utilização do Radar para antever seus resultados. Segundo a especialista em pesquisa e desenvolvimento da GS1 Brasil, Carolina Fernandes, o indicador negativo no acumulado no ano é um sinal de que os números são melhores do que 2017. “Mas é importante levarmos em consideração que este é um momento de cautela dos empresários e os acontecimentos políticos e econômicos que virão podem alterar a curva do indicador nos próximos meses”, afirma Carolina.

VARIAÇÃO MENSAL 2018 (Comparada ao mês anterior)

14,2%

9,4%

-6,2%

Os indicadores negativos apontam que uma quantidade menor de empresas têm encerrado o portfólio de produtos

-7,4%

-8,4%

ABRIL

MAIO

-4,2%

-2,3%

-15,8% JANEIRO

FEVEREIRO

MARÇO

JUNHO

JULHO

AGOSTO

[ BRASIL EM CÓDIGO ] jul/ago/set 2018 13


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Imagens/Foto: iStock/Divulgação

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MERCADO

Casa arrumada Por Flávia Corbó

Setor de artigos para o lar mostra resiliência durante os períodos de turbulência econômica e segue como fonte de movimentação financeira e geração de empregos Os encargos tributários aplicados nos produtos de utilidade doméstica são muito altos no Brasil. Para os consumidores, no entanto, os itens parecem ter grande valia, afinal, mesmo em meio a uma crise econômica, o setor movimentou R$ 54,1 bilhões em 2017, de acordo com mapeamento realizado pela Associação Brasileira de Artigos para Casa, Decoração, Presentes, Utilidades Domésticas, Festas e Flores (ABCASA). O montante foi gerado pelas vendas realizadas em 173,5 mil pontos de venda no País, sendo 129,6 mil estabelecimentos especializados em utilidades domésticas e decoração e 43 mil não especializados, como lojas de departamentos, variedades e home centers. “Temos uma maior quantidade de pequenos e médios empreendimentos, pois esse é perfil do varejo brasileiro em geral, mas contamos com grandes redes que também trabalham com artigos

para casa hoje em dia, como lojas de materiais de construção”, explica o presidente da ABCASA, Renato Orensztejn. Além de movimentar um expressivo volume de negócios, a mão de obra empregada pelo varejo desse segmento corresponde a 2,2 milhões de pessoas. Já os 21,9 mil fabricantes da área, que produziram R$ 23 bilhões em valores líquidos em 2017, empregam 344 mil funcionários diretos. A expectativa é que esses números apresentem crescimento ao final de 2018, mesmo com os obstáculos que o ano vem apresentando. “É normal que a Copa do Mundo gere uma retração, mas ela veio potencializada pela greve dos caminhoneiros, que acabou impactando o mercado. No entanto, como estávamos em meses de relativas baixas, porque nossos meses fortes vêm no fim de ano, acredito que, ao final de 2018, teremos crescido

SETOR EM NÚMEROS

R$ 54,1 bilhões movimentados em 2017

173,5 mil pontos de venda espalhados pelo País

2,2 milhões de pessoas empregadas no varejo Fonte: ABCASA

14 jul/ago/set 2018 [ BRASIL EM CÓDIGO ]


Renato Orensztejn, da ABCASA Entidade possui cerca de 550 empresas associadas de diferentes segmentos

mesmo assim, porque não fomos afetados no momento de maior pico do setor”, avalia Orensztejn. ENTIDADE DE APOIO Para batalhar pela sustentabilidade do setor, há dois anos foi fundada a ABCASA, que possui cerca de 550 empresas associadas de diferentes segmentos, entre fabricantes, distribuidores, importadores e artesãos. Em um futuro próximo, a entidade deve criar um núcleo de varejo. “Trabalhamos tanto nas funções institucionais quanto nas operacionais que uma associação pode exercer. Promovemos palestras, workshops e encontros de associados com foco no desenvolvimento profissional, aumentando o conhecimento da legislação e impulsionando as equipes de vendas”, enumera Orensztejn.

A entidade também busca firmar parcerias para que os associados possam comprar serviços e produtos mais baratos. Na esfera social, ajuda a desenvolver artesãos, para que eles possam comercializar os produtos nas feiras atacadistas do setor. De olho nas oportunidades do mercado internacional e também para atrair investimentos estrangeiros, a entidade faz um trabalho com o apoio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX-BRASIL). Para se ter uma ideia, as importações do setor somaram US$ 1,1 bilhão em 2017, enquanto as exportações foram de US$ 883,9 milhões. Outro papel da organização é promover feiras para fomentar o ambiente de negócios do setor. Entre 17 a 21

de agosto, a entidade realizou a terceira edição da ABCASA Fair, no Expo Center Norte, em São Paulo (SP). Considerado o maior evento da América Latina no segmento de artigos para casa e decoração, reuniu mais de 400 expositores. Os fabricantes apresentaram cerca de 400 mil lançamentos de produtos no evento, que ainda contemplou palestras com especialistas das áreas de economia, decoração, design e marketing. Para 2019, a Associação planeja ampliar o espaço da ABCASA Fair, além de lançar o ABCASA Natal & Festas, que será realizado entre 30 de maio e 2 de junho. 7 898357 410015

PADRONIZAÇÃO NECESSÁRIA

Sempre focada em auxiliar o desenvolvimento do setor de artigos para o lar, ABCASA uniu forças com a GS1 Brasil para estimular a adoção de padrões globais e da automação entre as empresas que atuam nesta área. Com a obrigatoriedade da inclusão dos códigos de barras nas notas fiscais, a entidade resolveu ajudar seus associados, em especial as pequenas empresas, que necessitam de um apoio maior do que os negócios mais maduros. Assim, a ABCASA abriu espaço para a equipe da GS1 Brasil fazer palestras sobre o uso correto do código de barras em sua sede, em São Paulo (SP), e também durante a ABCASA Fair 2018.

[ BRASIL EM CÓDIGO ] jul/ago/set 2018 15


[

] Imagens: iStock

VENDAS

Black Friday é para todos Por Flávia Corbó

Grandes empresas têm estratégias agressivas nesta data comercial, mas, com planejamento e boa comunicação, pequenos e médios também podem atingir bons resultados Como parte de uma tradição centenária, lojas de todo os Estados Unidos promovem grandes promoções e descontos na sexta-feira após o Dia de Ação de Graças, a chamada Black Friday. Aos poucos, esse ritual rompeu fronteiras e passou a ser adotado em outros países. No Brasil, a data é realizada com maior visibilidade há oito anos. De lá para cá, o evento ganhou cada vez mais adeptos, tanto entre os varejistas quanto entre os consumidores. Enquanto na primeira edição brasileira, em 2010, a data movimentou cerca de R$ 3 milhões, em 2017, o

16 jul/ago/set 2018 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

montante atingiu R$ 2,1 bilhões em apenas um dia, de acordo com dados da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABCOMM). A expectativa é de que os ganhos aumentem 15% este ano. Para algumas categorias, como a linha branca, esse chega a ser o segundo evento mais importante do ano, atrás apenas do Natal. O varejo brasileiro segue o mesmo calendário dos Estados Unidos, com a diferença de que, em terras brasileiras, alguns lojistas estendem a duração das ofertas e realizam uma semana inteira (Black Week) ou até mesmo um mês todo de descontos especiais.


Esse posicionamento mais agressivo, geralmente, vem de grandes players, mas pequenos e médios varejistas também podem ter espaço na Black Friday. Para que a empreitada traga lucro, e não dor de cabeça, é preciso organizar-se. Neste ano, o dia do evento será em 23 novembro e, com alguns passos, é possível aderir à data de maneira profissionalizada. Confira. PLANEJAMENTO No cenário ideal, o planejamento para a Black Friday deve começar com cerca de três meses de antecedência. “Primeiro, os varejistas devem selecionar os produtos que estarão em oferta e definir uma verba para investimento. Deve ser levado em conta o volume de venda esperado com a ação e se haverá estoque, além da estrutura do site ou da loja física”, orienta o CEO da Performa Web, Denis Casita. O consumidor também deve ser avisado previamente sobre as ofertas, para que tenha tempo de se programar financeiramente. “Sugerimos que, em meios digitais, as campanhas comecem em torno de 30 dias antes e, em meios impressos, cerca de 15 dias de antecedência”, sugere o fundador da Publinog, Otávio Nogueira. DIVULGAÇÃO A ideia de que ações de marketing são muito onerosas costuma assombrar o pequeno e médio empresário. No entanto, mesmo com pouca verba, é possível fazer uma comunicação assertiva, desde que se escolha, corretamente, o perfil do consumidor, a mensagem e o veículo de divulgação. Assim, a recomendação é concentrar o orçamento em campanhas de marketing digital, que não têm muita restrição de valor inicial, além de serem eficazes. A estratégia pode prever uma distribuição ideal entre links patrocinados e redes sociais. Pode-se investir também na compra de espaço publicitário em sites relacionados com o público-alvo, como portais de notícias, marketplaces ou páginas que fazem pesquisa de preço e localidade de lojas. Já nas ações de marketing off-line, o segredo para não exceder o orçamento é focar no público local, com panfletagem, anúncio em jornais de bairros e mídias dentro do ponto de venda. “Regionalmente, há diversas opções de publicidade a

preços acessíveis. Basta se planejar bem e estudar o custo-benefício de cada mídia publicitária”, afirma a diretora da agência Twist & Shout, Andrea Cece. PARCERIAS Embora a Black Friday já ocorra há muitos anos no Brasil, ainda há uma dificuldade de o varejo oferecer descontos realmente agressivos, como nos Estados Unidos e outros mercados, onde muitas marcas desenvolvem produtos específicos para a data ou fazem negociação prévia de altos volumes para garantir escala. “Uma dica interessante para pequenos e médios comércios que desejam participar da campanha é ter boas parcerias com seus fornecedores, de modo que tenham possibilidade de ofertar seus produtos com descontos atraentes e reais aos seus clientes”, destaca Nogueira.

RESPONSABILIDADE Em edições anteriores da Black Friday, alguns varejistas brasileiros forjaram descontos, usando a estratégia de aumentar os preços dos produtos dias antes do evento para, depois, realizar falsas ofertas – a famigerada promoção “metade do dobro”. Para evitar esse tipo de fraude, as ações da Black Friday começam a ser monitoradas pela Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor (PROCON) 60 dias antes do evento. “Além de ofertas reais, as regras normais dos direitos do consumidor devem ser garantidas, como disponibilidade de estoque, trocas por defeitos de fabricação, trocas em até sete dias para compras na internet, etc.”, lembra Casita. 7 898357 410015

[ BRASIL EM CÓDIGO ] jul/ago/set 2018 17


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EVENTO

Conexão total

Fotos: Jair Leite

Por Kathlen Ramos

8ª Brasil em Código – Conferência Internacional discutiu os desafios da nova era de transformação digital Com o tema “Tudo Conectado a Tudo”, que propôs uma reflexão sobre o impacto da Indústria 4.0 no modelo dos negócios, a GS1 Brasil realizou a oitava edição de seu evento anual Brasil em Código – Conferência Internacional, no Hotel Unique, em São Paulo (SP). O encontro promoveu uma tarde de networking entre a equipe da entidade e mais de 400 executivos das principais empresas do País, além de especialistas em tendências de tec-

nologia, indústria e logística. “Estamos no momento da interoperabilidade e da capacidade em entregar resultados em tempo real, o que mudou completamente o perfil das pessoas, tanto profissionalmente quanto do ponto de vista do consumidor”, comentou o presidente da GS1 Brasil, João Carlos de Oliveira. Acompanhe, a seguir, algumas das mensagens dos palestrantes do evento, que teve a apresentação e a mediação da jornalista Sabina Simonato. 7 898357 410015

Fernando Caprioli, diretor de vendas e serviços da Tetra Pak

Daniel Scuzzarello, diretor de portfólio da Siemens PLM

Segundo o executivo, a velocidade de transformação das empresas por meio da digitalização dos processos tem sido cada vez mais rápida. No caso do setor de alimentos, os recursos da Indústria 4.0 têm possibilitado a rastreabilidade, que propicia estratégias mais assertivas, melhoria na produtividade, além de fornecer informação em tempo real. “Para que tudo isso funcione, tudo precisa estar conectado numa única base de dados. Desde a máquina do rolamento até o Sistema de Gestão Empresarial (ERP)”, ponderou.

Na Siemens, as transformações rumo à era digital já estão contempladas no propósito da empresa. “Há dez anos, começamos a nossa jornada digital. Precisamos atender à demanda de consumo com segurança, flexibilidade e rapidez na entrega. E a digitalização otimiza os processos”, contou Scuzzarello. Para que a Indústria 4.0 acelere da maneira esperada no mercado, é preciso a aliar a iniciativa humana à tecnologia. “Companhias que têm visão digital já são líderes de mercado”, assinalou.

18 jul/ago/set 2018 [ BRASIL EM CÓDIGO ]


Ronaldo Fragoso, sócio-líder de Risk Advisory da Deloitte Brasil

Carlos Santiago, COO da Mercedes-Benz do Brasil

Fragoso apresentou um estudo da Deloitte com 1,6 mil executivos no mundo (entre eles, 112 brasileiros), de empresas que faturam mais de US$ 1 bilhão, que analisou se esse público está pronto para a Revolução 4.0. O levantamento detectou que menos de 35% estão preparados. Sobre as mudanças que estão por vir nas estratégias das empresas nos próximos cinco anos, 44% dos executivos brasileiros (40% de forma global) dizem que existirão impactos significativos em novos produtos, serviços e modelos de negócios a partir de agora.

A transformação digital também atingiu em cheio a área automobilística, explicou Santiago. “Muito do que conhecemos do carro ou do caminhão vai mudar por conta disso.” Diante desse cenário, a empresa criou uma divisão interna chamada de CASE, acrônimo para Connected (conectado), Autonomous (autônomo), Shared (compartilhado) e Electric (elétrico). “São essas as quatro megatendências que vão causar uma disrupção muito grande no mercado de automóveis”, disse. Isso já vem ocorrendo na primeira fábrica 4.0 de caminhões do mundo, inaugurada neste ano no Brasil pela Mercedes-Benz.

Ronaldo Lemos, pesquisador e representante no Brasil do MIT Media Lab

Duília de Mello, astrônoma, vice-reitora da Catholic University (EUA), e colaboradora da NASA

Apresentando um panorama das mudanças da revolução digital, Lemos destacou algumas tendências mundiais (confira mais informações na entrevista da próxima página). Entre elas, o aplicativo WeChat, similar ao WhatsApp, mas que, na China, ganhou novas funções, como a de pagamento, excluindo a necessidade de uso de dinheiro ou cartões. “Tudo é feito por meio do QR Code”, explicou. Outra forte tendência é a Internet das Coisas (IoT). Tanto é que o Brasil criou o Plano Nacional de IoT, publicado em abril, e do qual Lemos é um dos coautores.

Especialista em imagens que captam as profundezas do universo utilizando o telescópio espacial Hubble, a astrônoma brasileira contou sobre os últimos investimentos da NASA, com destaque para o telescópio espacial James Webb. “Com ele, poderemos ver as primeiras galáxias, as primeiras estrelas e, finalmente, entender como o universo evoluiu depois do Big Bang.” Duília também compartilhou seu orgulho em ser cientista, sempre estimulando aqueles que têm talento, curiosidade e interesse a não desistirem do sonho.

Todos conectados Participantes tiveram a oportunidade de aprofundar seus conhecimentos, além de fazer networking

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entrevista

Tecnologia para transformação Por Denise Turco

Conheça as tendências e os novos paradigmas criados pelas inovações da era digital na visão do especialista em direito e tecnologia, Ronaldo Lemos A tecnologia muda o comportamento, a forma como se faz negócios e se consome produtos e serviços. E, neste momento, as inovações tecnológicas atingem patamares ainda mais sofisticados. Assim, depois de conectar as pessoas, agora, com a Internet das Coisas (IoT), é o momento de conectar todo tipo de objeto à rede. E o blockchain, por exemplo, pode trazer soluções para controlar e padronizar a cadeia de abastecimento. Neste mundo onde até as cidades tornam-se inteligentes, é preciso agir rápido para acompanhar tanta complexidade e inovação. Essas foram algumas reflexões de um dos mais influentes especialistas em direito, tecnologia, mídia e cultura do País, Ronaldo Lemos, nesta entrevista para a revista Brasil em Código. Mestre em direito pela Universidade de Harvard e doutor em direito pela Universidade de São Paulo, ele é sócio do Pereira Neto | Macedo Advogados e diretor do ITS Rio, instituto de pesquisa sem fins lucrativos que se dedica a analisar as diversas dimensões da tecnologia e promover melhores práticas de regulação e acesso ao conhecimento.

20 jul/ago/set 2018 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

Lemos tem ampla atuação no âmbito acadêmico. É professor da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e já atuou como professor visitante da Universidade de Princeton e da Universidade de Oxford. Atualmente, é pesquisador visitante e representante no Brasil do MIT Media Lab, o laboratório do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) que pesquisa e cria novas tecnologias digitais. Ele é um dos criadores do Marco Civil da Internet, lei que regula a internet brasileira, protegendo direitos civis, privacidade e a neutralidade da rede e que virou referência internacional. Bem articulado, Lemos também circula pelo ambiente empresarial e mídia. É membro do Conselho de Administração de várias organizações na área de inovação e tecnologia. Em 2015, foi eleito um dos Jovens Líderes Globais pelo Fórum Econômico Mundial. Além disso, é colunista da Folha de S.Paulo e colunista e apresentador da GloboNews. Nesta entrevista, ele comenta sobre novos conceitos, como, por exemplo, Internet dos Serviços, economia com-

partilhada e Inteligência Artificial. “Da mesma forma que empresas tradicionais tiveram de se tornar empresas de internet, agora as empresas de internet terão de se tornar empresas de Inteligência Artificial. E esse é um salto enorme, é um novo paradigma.” Confira. BRASIL EM CÓDIGO Na sua avaliação, como está o nível de maturidade tecnológica do Brasil? RONALDO LEMOS Como tudo, há áreas no País na ponta da maturidade tecnológica e muitas outras ainda incipientes. O importante aqui é considerar menos as condições atuais, mas o quanto conseguimos alavancar um processo de inovação e a velocidade que conseguiremos imprimir nessas mudanças. BC Quais são as principais tendências tecnológicas que as empresas devem ficar de olho no curto prazo? RL Acredito que há enormes oportunidades na IoT. Além disso, Inteligência Artificial e blockchain são outras duas grandes tendências para se prestar atenção. E outro tema de destaque: identidades digitais, que acredito que vai ganhar enorme força.


Fotos: Divulgação

“Internet das Coisas, Inteligência Artificial e blockchain são grandes tendências para se prestar atenção”


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ENTREvista

BC Em abril deste ano, o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) lançou o Plano Nacional de IoT, do qual você participou da elaboração. Na sua visão, quais são as oportunidades que a IoT pode trazer para o Brasil? RL No Plano, priorizamos quatro setores: cidades inteligentes, aplicações rurais, saúde e manufatura. Há oportunidades enormes nessas áreas. Por exemplo, tornar setores em que já somos competitivos ainda mais competitivos, como é o caso do agronegócio. Ou tornar setores em que ainda engatinhamos, como a questão das cidades inteligentes, em prioridade para o desenvolvimento local. Infelizmente, as cidades brasileiras ainda estão longe de serem inteligentes, mas o incentivo à IoT pode ajudar a mudar isso.

BC Poderia falar um pouco sobre a tendência da Internet dos Serviços? RL Ela é uma consequência direta dos avanços da Inteligência Artificial. A sua principal aplicação visa construir agentes que irão atuar em nosso nome, realizando tarefas e interagindo com outras pessoas e outros agentes automatizados. É quando a rede funciona como um assistente pessoal, multiplicando nossa capacidade de atuação e abrindo várias novas oportunidades de negócio. BC Quais são os impactos do blockchain nos negócios e nas cadeias de abastecimento? RL Para um País como o Brasil, onde a burocracia é enorme, o blockchain pode trazer inúmeras soluções. Por exemplo, no desenvolvimento de aplicações que possam controlar a cadeia de produtos, de forma granular e au-

tomatizada. Isso pode trazer competitividade a vários setores. Além disso, pode tornar a relação entre governo e cidadãos menos ineficiente . BC Qual é o impacto da Inteligência Artificial nas empresas? RL Muda tudo. Da mesma forma que empresas tradicionais tiveram de se tornar empresas de internet, agora as empresas de internet terão de se tornar empresas de Inteligência Artificial. E esse é um salto enorme, é um novo paradigma. BC Na sua opinião, qual é a importância dos padrões da GS1 neste momento de evolução tecnológica tão forte? RL Essenciais. Padronização e interfaces globais são ferramentas de competitividade. Precisamos de simplicidade que funcione.

“O Brasil tem uma cultura de empreendedorismo de fazer inveja” 22 jul/ago/set 2018 [ BRASIL EM CÓDIGO ]


BC De que forma as novas tecnologias digitais podem ajudar a gestão pública, aprimorando as relações entre cidadãos e governo? RL O Brasil é um dos campeões mundiais de ineficiência pública. Podemos usar a tecnologia para revolucionar os serviços públicos. Por exemplo, unificando todos os serviços em um único portal, com uma identidade digital única. Estamos ficando para trás nessa área. Países tão diversos quanto a Índia, o Uruguai e a Estônia já caminharam nesse sentido.. BC A economia colaborativa é outro conceito que vem sendo bastante discutido e aplicado por novas empresas que estão surgindo no mercado. Quais são as oportunidades que as empresas em geral podem vislumbrar a partir disso? RL O fundamento da economia colaborativa é a confiança. Qualquer empresa que conseguir sistemas de confiança objetivos, que permitam a realização de negócios, mesmo com pessoas que não conhecemos, irá prosperar.

RL Elevadíssima. O País tem uma cultura de empreendedorismo de fazer inveja. E isso traz consigo o germe da inovação. O problema é que o empreendedor brasileiro tem de lutar contra tudo e contra todos, especialmente o próprio governo. Isso tem de mudar. A vida do empreendedor tem de ser facilitada. BC Você foi um dos criadores do Marco Civil da Internet. Recentemente, foi aprovada a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, que estabelece regras sobre coleta, armazenamento e compartilhamento de dados pessoais de todos os setores da economia e administração pública. Qual é a sua avaliação sobre essa lei? RL Minha avaliação é positiva. O Brasil era um dos poucos países do mundo sem uma lei desse tipo. A nova lei levará a uma adaptação obrigatória, como aconteceu com o Código de Defesa do Consumidor.

No início, todos tiveram de se adaptar e houve custos. Depois, todos ganharam, porque o ecossistema de consumo se fortaleceu. O mesmo acontecerá com a lei de dados. BC Você é o representante brasileiro no MIT Media Lab, o laboratório do MIT voltado para desenvolver pesquisas e novas tecnologias para melhorar a vida das pessoas. Quais são os principais ensinamentos que você traz de lá para a realidade brasileira? RL Uma das lições é que o papel da academia e das universidades precisa mudar. As universidades precisam dedicar mais tempo para gerar produtos úteis e resolver problemas do País. Infelizmente, uma grande parte dos trabalhos acadêmicos publicados hoje no Brasil são inúteis ou pouco lidos. Se uma parcela pequena desse tempo fosse usada para resolver problemas práticos, teríamos um grande salto. 7 898357 410015

BC Hoje, fala-se muito em empreendedorismo e da atuação das startups, que cada vez mais destacam-se com soluções inovadoras. Na sua análise, como está a cultura de inovação no Brasil?

“Podemos usar a tecnologia para revolucionar os serviços públicos” [ BRASIL EM CÓDIGO ] jul/ago/set 2018 23


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24 jul/ago/set 2018 [ BRASIL EM CÓDIGO ]


Onda estratégica Por Denise Turco

Empresas de todo o mundo estão investindo na qualidade de dados dos produtos para surfarem com sucesso no mundo dos negócios É bem provável que sua empresa tem ou já teve algum tipo de problema no cadastro de produtos. Inconsistência no inventário, produtos expostos no local errado ou armazenados de forma incorreta, atraso na entrega e divergência entre pedido e nota fiscal são algumas das adversidades mais comuns enfrentadas quando o assunto é cadastro, conforme pesquisa da GS1 Brasil realizada neste ano com 550 companhias de vários setores que fabricam produtos para o consumidor final. Todas essas situações podem ser resultado da má qualidade de dados, afetando a dinâmica dos processos operacionais e da tomada de decisões. No limite, pode colaborar para afundar os negócios. A Wow! Nutrition, por exemplo, já enfrentou problemas decorrentes da inconsistência das informações. Há algum tempo, cada departamento inseria dados sobre os produtos no sistema da empresa de um jeito diferente, sem qualquer tipo de padronização. Foi então que a companhia – que atua nos segmentos de bebidas saudáveis, diet, light e nutrição infantil, com marcas como Sufresh, Feel Good, Assugrin e Doce Menor – começou a investir em várias ações para ajustar o cadastro. “Nossa jornada iniciou com a conscientização e o engajamento dos colaboradores e todos aqueles que fazem parte da cadeia receptora e mantenedora do dado cadastral, em torno

de uma única causa: cuidar de um dos ativos mais importantes da companhia: a informação”, conta o analista de cadastro da Wow! Nutrition, Richard Vasconcellos. Outras iniciativas nessa busca da evolução da qualidade de dados foram centralizar as informações de cadastro em um único departamento e implementar um projeto para padronizar as descrições, identificando, por exemplo, item (suco, adoçante, etc.), tipo (néctar, soja, etc.), sabor (uva, laranja, etc.) e embalagem (caixa com 12 ou 24 unidades, etc.). Essas informações ajudam, inclusive, a trazer mais clareza para colocar o código de barras nos produtos. Além disso, a empresa conta, ainda, com as informações do seu ERP (Sistema de Gestão Empresarial) e, mais recentemente, passou a usar o Cadastro Nacional de Produtos (CNP), plataforma gratuita disponibilizada ao associado da GS1 Brasil. Assim, consegue efetivar uma correta categorização, qualificação, padronização da descrição e parâmetros fiscais das mercadorias. “Com essas iniciativas, temos o envolvimento de todas as áreas responsáveis e da trilha de auditoria do processo. Nossa meta é utilizar a gestão do conhecimento para maximizar o valor de nossos recursos de dados, garantindo que a informação apropriada seja capturada e compartilhada”, afirma Vasconcellos.

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Portanto, o trabalho de qualidade de dados não é uma tarefa isolada. “Trata-se de um processo contínuo, para que não haja degradação do cadastro com o passar do tempo. Hoje, nossa empresa tem mais controle e segurança na utilização dessa informação”, comemora o analista. TEMA PRIORITÁRIO A qualidade de dados é um dos pilares mais importantes para indústria e varejo, pois garante a eficácia em aspectos primordiais, como rastreabilidade e integração das informações, facilitando, assim, o processo de tomada de decisão. Essa é a visão da Wow! Nutrition e de várias outras empresas que estão surfando nesta onda e definindo o tema como pauta prioritária. Aliás, não é à toa que a afirmação de que “os dados são o novo petróleo” tem se tornado clichê entre especialistas da área, revelando a importância do assunto para a sustentabilidade dos negócios nos dias atuais.

A exigência de informações confiáveis em toda a cadeia de suprimentos é essencial não somente para a fluidez dos processos mas também para a geração de estratégias. Ao dispor de dados corretos e confiáveis, a companhia tem uma poderosa ferramenta de análise em mãos e pode tirar proveito disso, detectando novas oportunidades, elaborando uma política de preços adequada, etc. Até porque trabalhar com dados equivocados gera impactos nos custos decorrentes de erros de pedidos de compras, problemas de gerenciamento de categorias, falta de produtos nas gôndolas, duplicidade de mercadorias no sistema, imprecisão no estoque, entre outros. No e-commerce, por exemplo, a qualidade de dados também faz toda a diferença para o sucesso do negócio. Na opinião do presidente e CEO da Rakuten Brasil, René Abe, é importante ficar atento para a exatidão da descrição dos produtos, que auxilia o consumidor a entender melhor as características da mercadoria que está vendo apenas on-line. “A quantidade e a qualidade da informação colocada pelo fabricante são fundamentais”, ressalta Abe. Além disso, é preciso considerar que a descrição do item está atrelada aos mecanismos de busca, em especial do Google, que traz os resultados mais relevantes na primeira página. Para conseguir isso, um dos pontos principais é ter um conteúdo original, com informações atrativas dos produtos, inteligíveis e formatadas de acordo com técnicas de SEO (Search Engine Optimization) para otimização da busca. A integração dos dados nas ferramentas

Foto: Divulgação

Richard Vasconcellos, da Wow! Nutrition Empresa investiu em um conjunto de ações para ajustar o cadastro de produtos

de busca também está baseada no GTIN (Numeração Global de Item Comercial), um padrão GS1. “Produto que não tem GTIN não consegue aparecer no Google Shopping. Ter esse dado de forma consistente é muito importante. Cada detalhe conta”, destaca Abe. A Rakuten Brasil – subsidiária da multinacional japonesa Rakuten Inc., que atua em 29 países e faturou US$ 8,5 bilhões em 2017 – é uma plataforma que oferece um ecossistema de soluções com serviços de e-commerce, meios de pagamento, logística, entre outros. A principal dificuldade das 1,2 mil empresas usuárias da plataforma no Brasil é a falta de informação. “O varejo e a indústria tentam refletir no on-line o que fazem no off-line e acreditam que basta colocar o produto no site e vender. Mas é preciso investir em automação e estar atento para as informações relevantes que ajudam a aumentar o tráfego para o site”, destaca o executivo. Para ajudar as empresas nesse aspecto, a Rakuten fornece um checklist que orienta sobre as questões fundamentais para atuar no e-commerce, como equipe, estoque, logística, etc. Nesta análise,


Foto: Fernando Alexandrino

IDENTIFICAÇÃO ÚNICA Como começar a melhorar a qualidade de dados dos produtos? De acordo com a GS1, especialista em padrões globais, é preciso ter informações completas, consistentes, precisas, datadas e baseadas em padrões de mercado. “A qualidade do dado nasce com a identificação única e inequívoca de um produto, caixa ou palete”, explica a executiva de negócios da GS1 Brasil, Alessandra Parisi. A entidade oferece apoio técnico para que as empresas trabalhem com esses princípios, estimulando o uso do código de barras e, mais recentemente, do CNP. Assim, é necessário adotar um conjunto de processos para garantir que os dados armazenados estejam corretos, integrados e alinhados ao negócio. Esses processos devem contemplar a identificação, a classificação e a qualificação das informações, além de monitoramento, a fim de promover uma “limpeza” nos dados “sujos”, ou seja, o saneamento das informações. Além disso, é pre-

ciso verificar, constantemente, se erros estão sendo introduzidos a fim de evitá-los. Também é importante ter a mesma informação circulando em todos os sistemas de consulta da empresa e, até mesmo, alinhar esses dados com fornecedores e clientes. São muitos os benefícios em se apostar na qualidade de dados. “Adotando uma identificação única de produtos, torna-se mais fácil controlar e fazer a rastreabilidade da mercadoria ao longo da cadeia de abastecimento”, comenta Alessandra. Desse modo, é possível atender rapidamente aos órgãos reguladores, que exigem repostas imediatas das empresas, em caso de recall de alimentos, por exemplo. Além disso, é preciso levar em conta o novo comportamento do consumidor, que deseja saber a origem do produto que consome. Para isso, é preciso ter informação qualificada. COMPROMISSO DA EQUIPE De maneira geral, a executiva da GS1 Brasil recomenda que as empresas invistam em qualidade de dados com os recursos que já possuem. Não é necessário adquirir um novo sistema ou se desfazer do existente. A tecnologia e a padronização são sempre aliadas nesse momento, mas também é preciso dedicar atenção especial para mobilizar a equipe, assim como fez a Wow! Nutrition, promovendo

René Abe, da Rakuten Brasil Quantidade e qualidade da informação dos produtos são fundamentais no e-commerce

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PRINCÍPIOS DE QUALIDADE DE DADOS RECOMENDADOS PELA GS1 BRASIL

01

Ter o cadastro completo, com todos os atributos dos produtos preenchidos

02 03

Ter a mesma informação circulando em todos os sistemas de consulta

04 05

Adotar dados padronizados, conforme as boas práticas do mercado

Trabalhar com exatidão e precisão dos dados informados

Realizar a atualização constante das informações cadastradas

[ BRASIL EM CÓDIGO ] jul/ago/set 2018 27

Fonte: GS1 Brasil

a qualidade de dados também é contemplada, estimulando as empresas a fazer a checagem da descrição dos itens, dos dados dos fabricantes e de ter os GTINs dos produtos estabelecidos.


uma verdadeira mudança cultural no que diz respeito ao tratamento de dados. “Crie um grupo de trabalho interno com colaboradores de várias áreas para discutir o tema”, sugere Alessandra. Os funcionários devem assumir o compromisso de que a qualidade de dados é condição fundamental para desenvolver qualquer projeto, desde abrir uma loja até investir em automação. “A qualidade de dados precisa fazer parte da governança da empresa”, reforça a especialista da GS1 Brasil.

Alessandra Parisi, da GS1 Brasil A qualidade do dado nasce com a identificação única e inequívoca de um produto INTEGRAÇÃO Saindo dos limites da organização e pensando no relacionamento com clientes e fornecedores, é possível contar com uma plataforma que já existe, o CNP, que oferece recursos para alinhar as informações junto aos parceiros de toda a cadeia de abastecimento. A solução permite que qualquer empresa parceira consulte as informações cadastradas pela indústria fornecedora da mercadoria. A grande vantagem é que o CNP é uma base de dados única para o mercado nacional, auxiliando empresas de diferentes portes e setores. “A ‘dor’ dos problemas no cadastro é de todos. Nas grandes companhias, o desafio maior é envolver todas as áreas no compromisso de qualidade de dados. Além disso, acontece, muitas vezes, de cada departamento ter muitas planilhas separadas sobre os produtos. Por isso, é importante ter uma central de dados viva e qualificada como o CNP”, argumenta

Foto: Eliane Cunha

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a executiva da GS1 Brasil. A plataforma também é uma aliada dos pequenos negócios. “Empresas que possuem infraestrutura tecnológica reduzida também podem investir na qualidade de dados e num cadastro correto. Basta ter os dados de produtos organizados dentro do CNP”, conclui Alessandra. 7 898357 410015

APOIO PARA MELHORAR O CADASTRO Sempre focada em ampliar o leque de facilidades para seus associados, a GS1 Brasil passa a oferecer a Qualificação de Dados para ajudar as empresas a capturar e a cadastrar no CNP as informações corretas sobre os produtos, como descrição, peso, dados nutricionais, componentes alergênicos, informações técnicas, dados tributários, entre outras, incluindo fotos. Essas informações também possibilitam a criação do gêmeo digital do produto físico, no caso de vendas on-line. A entidade conta uma equipe treinada para conduzir esse trabalho junto aos associados. A iniciativa atende a diferentes necessidades. Por um lado, ajuda a melhorar a experiência do consumidor, faci-

28 jul/ago/set 2018 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

litando suas decisões de compra. Por outro, auxilia as companhias a terem um cadastro completo, garantindo que a informação correta, padronizada e atualizada circule por toda a cadeia de abastecimento. Para as empresas que preferem fazer esse tipo de trabalho internamente, a GS1 Brasil disponibiliza materiais de apoio com orientações para lançar os dados dos produtos no CNP, além de cursos que explicam como preencher o cadastro e a importância de ter dados qualificados.


DESAFIOS DAS EMPRESAS EM RELAÇÃO AO CADASTRO DE PRODUTOS PROBLEMAS COMUNS NO CADASTRO Compras emergenciais Atraso na entrega para o varejo ou distribuidor Divergência entre pedido e nota fiscal Inconsistência no inventário Produtos expostos no local errado ou armazenados de forma incorreta

TENDÊNCIAS

69% das empresas brasileiras consideram o fluxo de informação fundamental para o controle de distribuição dos produtos

A exigência de informações confiáveis em toda a cadeia é essencial para a geração de estratégias

Para 2020, os desafios das empresas são: integração de dados em toda cadeia, qualificação das equipes e segurança de dados

INICIATIVAS PARA GARANTIR A QUALIDADE DE DADOS

62%

Ter uma infraestrutura tecnológica para integração de todos os canais de venda e comunicação

54%

Ter uma estratégia clara da Diretoria para integração de todos os canais de venda e comunicação

50%

Contar com uma área de tecnologia dedicada para qualidade de dados

48%

Buscar informações sobre as melhores práticas sobre gerenciamento de dados

42%

Ter uma equipe de gerenciamento central das lojas físicas e on-line

37%

Implementar uma estratégia que forneça uma visão única do consumidor

Fonte: Pesquisa da GS1 Brasil realizada com 550 empresas que fabricam produtos para o consumidor final de vários setores (entre eles: alimentos, saúde, têxtil, calçados, higiene, cosméticos, etc.), em maio de 2018. O estudo foi feito com o apoio da H2R Pesquisas.

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DIGITAL

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Segurança extra

Fotos/imagens: iStock

Por Kathlen Ramos

46 jul/ago/set 2018 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

Empresas passam a ter a obrigação de proteger os dados pessoais de seus clientes. Entenda as principais mudanças e desafios para implementar a nova lei vigente no Brasil


Foto: Divulgação

Caio Lima, da Opice Blum Advogados Associados Inspirada na lei europeia, LGPD fará com que as pessoas tenham maior controle sobre os seus dados

Nunca a questão sobre proteção de dados esteve tão em evidência como nos dias de hoje. Sem dúvida, o caso de Mark Zuckerberg, CEO e fundador do Facebook, trouxe os holofotes para o tema, já que o executivo teve de esclarecer, recentemente, o vazamento de dados de 87 milhões de usuários da plataforma e que teriam sido usados na campanha eleitoral do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Mas notícias similares a essa, em maior ou menor proporções, tendem a diminuir, inclusive no Brasil. Logo após ao início da vigência da legislação europeia, conhecida por GDPR (General Data Protection Regulation ou Regulamento Geral de Proteção de Dados), que entrou em vigor em 25 de maio, e diante dos diversos questionamentos éticos e jurídicos sobre o uso de dados pessoais, dos constantes vazamentos e da falta de regulamentação específica no País, o Congresso Nacional aprovou o projeto que criou a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados). Sancionada pelo presidente Michel Temer em agosto, a Lei 13.709/2018 estabelece as novas normas que regulamentam o uso, proteção e transferência de dados pessoais, como nome, endereço, e-mail, idade, esta-

do civil e situação patrimonial. “Com a LGPD, os titulares passarão a ter maior controle acerca de todo o ciclo de vida do tratamento de seus dados pessoais, englobando desde a coleta, passando pelo uso, armazenamento, compartilhamento até a exclusão desses dados”, resume o especialista em direito digital e proteção de dados e sócio do escritório Opice Blum, Bruno, Abrusio e Vainzof Advogados Associados, Caio Lima. Os benefícios esperados da lei são muitos, especialmente porque, no mundo físico, os brasileiros até têm certo cuidado com seus documentos e pertences, mas, no universo digital, essa cautela é praticamente nula, na opinião do especialista em criptografia e diretor técnico da Dinamo Networks, Celso Souza. “Quando andam na rua, as pessoas costumam se certificar de estar com a bolsa fechada e evitam parar em locais escuros ou desertos. Porém, na internet, o cuidado é mínimo, e elas só se dão conta disso quando as consequências são muito ruins”, alerta. Pela lei, toda e qualquer transação que envolva dados pessoais, que, em síntese, representam qualquer informação que identifique ou torne identificável uma pessoa física, estão resguardados. A norma determina que o usuário saiba que a empresa está armazenando dados pessoais e como eles serão utilizados. Também estabelece que dados de crianças devem ser tratados com o consentimento dos pais; que informações sobre a saúde das pessoas podem ser

utilizadas para pesquisa; que dados pessoais deverão ser excluídos após o encerramento da relação entre o cliente e a empresa; que os titulares das informações poderão corrigir dados que estejam de posse de uma empresa; entre outras medidas. Na prática, será um contrato com tópicos explícitos. “O cliente poderá

pedir, a qualquer momento, que a empresa apague suas informações. “Será um desafio, pois há companhias que acham que sempre podem aproveitar o dado de alguma forma, mas precisam aprender a apagar definitivamente. Se não forem deletados e a informação vazar, a companhia pode ser punida”, adverte Souza. Nesse cenário, tanto os clientes quanto as organizações que cumprirem a lei serão beneficiados. “Regras claras quanto ao uso de dados diminuem a vulnerabilidade das empresas. Com um embasamento legal, o desenvolvimento de novos modelos

[ BRASIL EM CÓDIGO ] jul/ago/set 2018 31


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DIGITAL

7 DESAFIOS NA IMPLEMENTAÇÃO DA NOVA LEI DE DADOS A LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) entrará em vigor em fevereiro de 2020. Até lá, as empresas terão de fazer todas as adequações legais para atender à norma. Acompanhe algumas orientações.

1 - TRANSPARÊNCIA: o tratamento dos dados pessoais deve ser realizado com total informação para o usuário, sendo obrigatório ter o seu consentimento.

2 - COLETA: a empresa deve captar somente os dados necessários ao serviço prestado. Quanto menos informações forem solicitadas, melhor. Uma faculdade não precisa saber se o pai do aluno tem imóvel, por exemplo.

5 - IMPLANTAÇÃO: é importante criar um grupo de

trabalho para liderar internamente o projeto de implantação da LGPD. Podem participar os representantes das principais áreas que lidam com dados pessoais, como recursos humanos, marketing, segurança da informação, tecnologia, compliance, auditoria e novos negócios.

6 - AUDITORIA: com

3 - TECNOLOGIA: será preciso

investir em tecnologias de segurança, a exemplo da certificação digital que, entre outras funções, inibe o roubo de dados; e a implantação de cofres digitais, que garantam a guarda da criptografia responsável por detalhar quem movimentou o dado pessoal.

4 - INFORMAÇÃO: é fundamental conscientizar os colaboradores acerca do assunto, por meio de palestras e treinamentos, disseminando a cultura de proteção aos dados pessoais na organização.

o time montado, é preciso mapear todo o ciclo de vida do tratamento de dados pessoais. Para tanto, serão identificados os contratos que precisarão ser ajustados, tanto jurídica quanto tecnicamente, para que a companhia fique compatível com a legislação.

7 - PUNIÇÕES: as penalida-

des podem chegar a 2% do faturamento da companhia. O valor limite da pena é de R$ 50 milhões. Se o dado do cliente for roubado, além da multa, a empresa ainda corre o risco de ser processada por outros delitos, como danos morais, por exemplo.

Fontes: Caio Lima, do Opice Blum, Bruno, Abrusio e Vainzof Advogados Associados; e Celso Souza, da Dinamo Networks

de negócios será mais seguro”, destaca o diretor da OTRS Brasil, Matheus Baeta – a empresa é fornecedora de soluções para gerenciamento de processos e comunicação. Diante dessa nova realidade, a proteção de dados dos clientes é um tema que deve entrar na agenda das

empresas nacionais. Afinal, aquelas que, por algum motivo, exporem informações não autorizadas estarão, a partir de agora, sujeitas a penalidades (veja infográfico). Entretanto, a maioria das companhias brasileiras não está preparada para tais níveis de conformidade. “Será preciso que, nos próxi-

mos meses, as corporações busquem tecnologia e know how de processos que estejam de acordo com a nova lei, de forma a evitarem transtornos operacionais e econômicos. Será essencial que as empresas registrem incidentes de segurança de TI e as documentem legalmente”, conclui Baeta. 7 898357 410015

32 jul/ago/set 2018 [ BRASIL EM CÓDIGO ]


[ BRASIL EM CÓDIGO ] jul/ago/set 2018 55


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Empresas com identidade digital Imagem: iStock

NEGÓCIOS

Por Kathlen Ramos

Em parceria com a GS1 Brasil, Serasa Experian oferece 10% de desconto aos associados da entidade que precisam adquirir certificado digital Sempre em busca de promover facilidades para os seus 58 mil associados, a GS1 Brasil firmou uma parceria com a Serasa Experian, na qual as empresas que quiserem adquirir ou renovar os serviços de certificação digital ganham 10% de desconto. As empresas associadas que optarem pelo serviço da Serasa Experian poderão contar com a comodidade e a expertise da primeira autoridade certificadora homologada no Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI) e que já emitiu mais de 5 milhões de certificados digitais. “Atualmente, oferecemos mais de 350 pontos de atendimento homologados para realizar a emissão do Certificado Digital e contamos com um processo bastante robusto e auditado. Nosso papel é tor-

nar o processo de aquisição do certificado digital simples para os nossos clientes”, afirma o gerente de marketing de identidade digital da Serasa Experian, Fabiano Leite. Segundo ele, as expectativas com esta parceria são as melhores possíveis. “Ter a GS1 Brasil fazendo parte desta nossa nova fase da Serasa, que está há 50 anos no mercado, é fundamental. Estamos em um novo momento de retomada de mercado e buscando parceiros estratégicos que tenham sinergia e propósito de implementar e disseminar padrões de identidade digital”, afirma Leite. São muitos os benefícios que o certificado digital propicia às empresas. Com este documento eletrônico, as organizações ganham agi-

lidade nos processos, aumentam a segurança e reduzem custos. Outro ponto positivo é que o acesso deve ser realizado pelo usuário utilizando sempre seu certificado digital e uma única senha. Isso aumenta o nível de segurança das aplicações e melhora o processo interno das companhias. Na prática, a certificação digital melhora a eficiência dos processos do dia a dia, na medida em que dispensa a coleta de assinaturas, bem como o uso de cópias e papéis. Além disso, evita deslocamentos e o uso de mensageiros para reconhecimento de firmas em cartório e transporte de documentos assinados. Por fim, a empresa não precisa armazenar arquivos e documentos, poupando espaço físico. 7 898357 410015

34 jul/ago/set 2018 [ BRASIL EM CÓDIGO ]


Foto: Divulgação

DÚVIDAS FREQUENTES O gerente de marketing de identidade digital da Serasa Experian, Fabiano Leite, esclarece os principais pontos sobre o tema.

O que é certificado digital?

É um arquivo eletrônico que funciona como uma assinatura digital, com validade jurídica, e que garante proteção às transações eletrônicas e outros serviços via internet, de maneira que as empresas se identifiquem e assinem digitalmente, de qualquer lugar do mundo, com segurança e agilidade.

Como saber se a empresa precisa de certificado digital?

Toda empresa precisa ter um certificado digital para cumprir suas obrigações contábeis, tributárias e trabalhistas enviadas aos órgãos governamentais.

Quais são os principais passos para adquirir a certificação?

É simples. Basta o associado GS1 Brasil acessar o site www.bit.ly/2MVufVn e selecionar o tipo do certificado digital que deseja comprar. Em seguida, realizar o agendamento em um ponto de atendimento homologado pelo Serasa. A partir daí, o cliente já consegue utilizar o documento para processos governamentais ou para assinaturas de contratos com clientes e fornecedores. A presença do responsável no ponto de atendimento é importante para evitar fraudes, pois são colhidos dados biométricos.

Quais são os tipos de certificados digitais disponíveis?

O e-CPF é a versão digital do Cadastro de Pessoas Físicas (CPF), que permite realizar operações de Pessoa Física com validade jurídica pela internet; e o e-CNPJ é a versão digital do Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ), que permite assinar digitalmente e transmitir dados de operações de empresas, garantindo a integridade das informações. Já a versão NF-e é o certificado para emissão de notas fiscais, com várias opções de modelos, de acordo com a necessidade da companhia. Vale lembrar que as pequenas e médias empresas precisam ter um certificado do tipo e-CNPJ para realizar as transmissões de dados da empresa para os órgãos

governamentais, como, por exemplo, acessar o ReceitaNet, o e-CAC; e o certificado NF-e, para companhias que querem emitir nota fiscal eletrônica.

Qual é o período de vigência?

Os certificados digitais possuem validade de 12, 24 e 36 meses e, após esse período, é necessário realizar a renovação do produto.

Quais são os prazos para implementação do certificado?

Para Microempresa (ME) ou Empresa de Pequeno Porte (EPP) optante do Simples Nacional e com mais de oito funcionários, desde 1º de janeiro deste ano, é necessário certificado digital para a entrega da Guia de Recolhimento do FGTS ou de Informações à Previdência Social (GFIP) ou entrega eletrônica do eSocial (Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas). É preciso ficar atento ao calendário do eSocial (portal. esocial.gov.br) para evitar problemas futuros.

Que riscos o certificado digital é capaz de prevenir?

A empresa fica mais segura, pois ele pode ser usado para controlar acessos, assinar e-mails, etc., coibindo possíveis fraudes. Outro ponto positivo é que o acesso deve ser realizado pelo usuário utilizando sempre seu certificado digital e uma única senha, aumentando a segurança dos processos internos. Além disso, o número de ligações para o help desk reduz drasticamente em qualquer tipo de organização pública ou privada em virtude de os usuários não realizarem a gestão de inúmeras senhas para acesso aos diferentes ambientes e aplicações.

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Evolução fiscal Por Denise Turco

Órgãos de administração tributária apostam em ações inovadoras para melhorar a qualificação dos dados de documentos fiscais eletrônicos Em 2006, foi lançada a Nota Fiscal Eletrônica (NF-e) no Brasil. De lá para cá, os órgãos de administração tributária vêm dando passos significativos para aprimorar os mecanismos desse e de outros documentos fiscais eletrônicos. Um dos pontos principais consiste em melhorar a qualidade de dados por meio da implementação de regras a fim de torná-los cada vez mais íntegros. Nesse sentido, a obrigatoriedade de inclusão do GTIN (Número Global de Item Comercial), padrão global GS1, e, mais recentemente, a validação deste código na NF-e, conforme Ajuste SINIEF 7, de 14 de julho de 2017, foram importantes para identificação e classificação das informações das mercadorias. Nesta entrevista, o coordenador técnico do Encontro Nacional dos Coordenadores e Administradores Tributários Estaduais (ENCAT), Álvaro Bahia, fala sobre a evolução dos documentos fiscais eletrônicos. Ele, que é auditor fiscal da Secretaria de Fazenda do Estado da Bahia e líder nacional do Sistema da Nota Fiscal Eletrônica Brasileira (NF-e), também comenta as perspectivas futuras da administração tributária.

36 jul/ago/set 2018 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

Qual é a importância da qualidade de dados no âmbito dos órgãos de administração tributária? É fundamental no que se refere à estrutura dos documentos fiscais eletrônicos gerenciados pelo ENCAT, a exemplo da NF-e, da Nota Fiscal de Consumidor Eletrônica (NFC-e), do Conhecimento de Transporte Eletrônico, do Manifesto de Documentos Fiscais e do Bilhete de Passagem Eletrônico (BP-e). Quando lançamos a NF-e, em 2006, migrando do mundo do papel para o eletrônico, não havia tantas regras de validação, porque ainda não tínhamos a consciência de que as empresas emitiam as notas com tantos erros. A partir disso, percebemos que, se não melhorássemos a qualidade dos dados por meio da aplicação de regras de validação, o uso da informação seria ineficiente. Como o senhor analisa a evolução da aplicação das regras de validação? Em 2010, incrementamos essas regras para garantir a integridade dos dados dos documentos fiscais eletrônicos. Mas leva um tempo para as empresas entenderem as normas e terem condição de aplicá-las. De 2015 para cá, trabalhamos

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jogo rápido


para ter uma classificação unívoca de um produto por meio de um código, de forma automatizada. Com isso, tem sido possível fazer a classificação fiscal da mercadoria, ou seja, saber as diversas regras tributárias vinculadas a ela. Inspirados no Google, que tem como missão ordenar e classificar todo tipo de informação, criamos o “Google de Mercadorias Fiscal”, para identificar e classificar fiscalmente um produto de forma informatizada. Qual é a importância do GTIN em todos esses processos? Identificamos que já existiam padrões de mercado utilizados por grande parte das empresas para atender seus interesses comerciais, processos de automação no ponto de venda, gestão de estoque, logística, distribuição e rastreabilidade. Vimos que poderíamos ter uma postura minimamente intervencionista nesse aspecto, pois o código GTIN já era o padrão usado em larga escala pelos contribuintes em virtude de seus interesses comerciais – não por determinação nossa. Não foi preciso criar algo novo. Depois da identificação e classificação de produtos usando GTIN, qual foi o desafio seguinte? Verificamos que cada empresa tinha o seu código GTIN, porém não existia um banco de dados centralizado que permitisse enxergar códigos

distintos, de marcas e empresas diferentes. A GS1 Brasil criou o Cadastro Nacional de Produtos (CNP) e essa foi uma atividade precedente para desenvolvermos o Cadastro Centralizado de GTINs (CCG) para receber essas informações das mercadorias. Atualmente, estamos fazendo a higienização desses dados, pois percebemos que alguns contribuintes têm dificuldades para se adaptar ao sistema, especialmente por conta da desinformação. Da parte da administração tributária, orientamos e prorrogramos os prazos, porque temos consciência de que isso se consolida de forma lenta. Inclusive, estamos transferindo a validação do GTIN para 2019 [esta regra diz respeito ao Ajuste SINIEF 7]. Poderia contar um pouco sobre as inovações mais recentes da administração tributária? Além do projeto do “Google de Mercadorias Fiscal”, temos outros integrados a ele, como o IoT Fiscal, que é a integração das informações que estão nos documentos fiscais eletrônicos com as coisas do mundo real que podem mensurar a movimentação física da mercadoria. Quando um item é vendido e despachado para entrega, o caminhão passa por uma de nossas unidades de rastreamento – praça de pedágio com antenas e leitores RFID em uma rodovia

ou uma câmera OCR, por exemplo – e, automaticamente, temos o registro de passagem daquele veículo. Já rastreamos milhares de passagens de veículos no Brasil. Por meio de outro projeto, a Cloud Fiscal, fazemos a integração dos documentos fiscais e dos itens que estão no veículo. Com todas essas informações, conseguimos fechar o ciclo do pagamento do imposto, ou seja, a emissão do documento e a circulação física da mercadoria. Desse modo, temos os três eixos que sustentam o futuro da administração tributária no Brasil: a identificação unívoca na NF-e, o “Google de Mercadorias Fiscal”; a rastreabilidade dos produtos e dos documentos, o IoT Fiscal; e, por fim, a capacidade de integração entre os documentos, a Cloud Fiscal. Gostaria de deixar alguma mensagem para os associados da GS1 Brasil? Este é o momento de se adequar a novos processos. Passada essa fase inicial, todos teremos benefícios. As empresas terão dados sólidos e consistentes para ajudar seus processos, e a administração tributária, por sua vez, contará com informações mais precisas para o cumprimento de sua atividade e para a correta aplicação da legislação tributária. 7 898357 410015

Foto: Divulgação

“Incrementamos as regras de validação para garantir a integridade dos dados dos documentos fiscais eletrônicos” Álvaro Bahia, do ENCAT

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Imagens: Istock

AUTOMAÇÃO

Padrão postal Por Denise Turco

Correios ampliam o uso de etiquetas RFID com padrão global EPC, da GS1, para possibilitar a rastreabilidade de objetos internacionais destinados ao Brasil Os Correios e a União Postal Universal (UPU), agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para os serviços postais, iniciaram a implantação da terceira etapa do projeto GMS (Global Monitoring System ou Sistema Global de Monitoramento) para que todos os objetos internacionais destinados ao Brasil sejam identificados com etiquetas RFID e, assim, possam ser rastreados em todo o território nacional. A iniciativa conta com o apoio técnico da GS1 Brasil, uma vez que a tecnologia escolhida tem como base o padrão global EPC/RFID. As tags RFID serão aplicadas nas encomendas e nos unitizadores, recipientes usados para acondicionamento e transporte das encomendas. Com as antenas RFID instaladas nas unidades operacionais consideradas estratégicas para os Correios neste projeto, será possível fazer a leitura das etiquetas inteligentes automaticamente, permitindo identificar, rastrear e gerenciar os itens de forma individual ou em lotes, dispensando o manuseio.

38 jul/ago/set 2018 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

A expectativa é aperfeiçoar os processos, trazer segurança e aproveitar para munir o cliente com mais informações relativas ao rastreamento da encomenda. O Brasil, juntamente com Gibraltar, Japão e Cingapura, integra o grupo-piloto para testar o uso da RFID no rastreamento de encomendas e de unitizadores. “Obviamente há outros países utilizando essa tecnologia. Entretanto, no âmbito da UPU, o projeto brasileiro é pioneiro e é a maior iniciativa mundial no uso da tecnologia RFID para rastreamento de encomendas”, afirma o vice-presidente de tecnologia da informação dos Correios, Eugenio Montenegro. Nos Correios, a iniciativa foi liderada pela equipe de Execução do Projeto RFID, tendo à frente o coordenador-executivo Ricardo Caron e o vice-coordenador-executivo Alberto Mello. EVOLUÇãO A primeira fase do GMS permitiu registrar a entrada de amostras de cartas internacionais no Brasil, bem como o


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Eugenio Montenegro, dos Correios Projeto brasileiro é a maior iniciativa mundial no uso da RFID para rastreamento de encomendas

Neste ano, os Correios continuam com os testes-piloto nos seus maiores centros operacionais do Estado de São Paulo. A partir de 2019, a empresa instalará leitores RFID em todas as unidades consideradas estratégicas para atender às metas estabelecidas. Estão previstos investimentos em equipamentos e adaptações de infraestrutura, que serão implantados até 2021. A expectativa é que, até lá, mais de 460 milhões de encomendas por ano sejam monitoradas pelo sistema RFID dos Correios.

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Padrão A GS1 Brasil e os Correios já mantêm relacionamento há mais de dez anos. Para este projeto de RFID, as organizações começaram a trabalhar juntas em uma cooperação técnica para identificar as principais demandas na área de automação e definir os padrões mais adequados desde o primeiro seFoto: Eliane Cunha

prazo que os itens eram retidos pela alfândega. Ela ocorreu em unidades dos Correios em São Paulo, mais precisamente na Capital e em Guarulhos. Posteriormente, na segunda fase, o sistema foi implementado em Pernambuco, Ceará, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, além de Brasília. O objetivo dessas duas etapas foi qualificar o Brasil quanto ao prazo de entrega das cartas internacionais. A terceira e atual fase do projeto consiste na instalação de antenas de radiofrequência em centros operacionais dos Correios. “O resultado obtido foi uma alta performance de qualidade de leitura, confirmando a viabilidade técnica de monitoramento exaustivo, e não somente amostral, de itens postais por meio da utilização da tecnologia de RFID. Em setembro de 2017, os testes foram repetidos com sucesso”, explica Montenegro.

mestre de 2017. “É sabido que o padrão GS1 é adotado em nível mundial e já está tecnicamente consolidado, o que traz segurança para a decisão de adotá-lo no rastreamento dos objetos”, afirma o executivo dos Correios. Dessa forma, para monitorar as encomendas por meio da RFID, foi adotada a chave de identificação SSCC (Serial Shipping Container Code ou Código de Série de Unidade Logística). Com ela, permite-se que empresas que já trabalham com esse padrão GS1 possam postar suas encomendas nos Correios sem qualquer alteração em seus processos. Além disso, o uso do padrão facilita a integração a outros parceiros e operadores logísticos. “Isso trará uma melhoria importante aos processos postais como um todo. As informações serão coletadas e tratadas em tempo real e com mais precisão no sistema dos Correios, ampliando a agilidade e a segurança dos dados”, destaca o executivo de negócios da GS1 Brasil, Ricardo Melo. “Acreditamos que o projeto do RFID, quando implementado em sua plenitude, será um marco positivo para a elevação da qualidade operacional dos Correios, com impactos positivos para clientes e usuários”, conclui Montenegro.

Ricardo Melo, da GS1 Brasil Com RFID, as informações são coletadas e tratadas em tempo real, ampliando a agilidade e a segurança dos dados dos Correios

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SUSTENTABILIDADE

Código Verde Fotos: Herbert Kanashiro/ Nicolle Castro

Da Redação

Equipes do Legado das Águas, GS1Brasil, PariPassu, Zebra Technologies e 3M lançam projeto inovador para promover a rastreabilidade de espécies da mata atlântica

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PariPassu, a Zebra Technologies e a contribuindo para compor sua biblio3M, empresas associadas e parceiras grafia, que ainda é escassa. Na visão da GS1 Brasil, esse projeto da entidade que participaram de inovador, sem similares no mundo, forma colaborativa e voluntária. O Legado das Águas já colhe vá- prova que é possível contribuir para a rios benefícios com a automação. conservação da natureza por meio da Agora, as atividades, os processos e integração com a tecnologia. Saiba mais a gestão do viveiro se tornaram mais em: www.gs1br.org/codigoverde. eficientes, consistentes e ágeis, ajudando a melhorar sua performance. Outra vantagem é a garantia de origem para empresas e consumidores finais, por meio da leitura do código contido nas etiquetas que acompanham as plantas adquiridas. Há ganhos também no médio prazo, pois o banco de dados on-line que está sendo criado Propósito sustentável apoiará os estudos das es- Parceiros reunidos durante o lançamento do pécies da mata atlântica, projeto no Legado das Águas

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Foto: Paulina Chamorro

Iniciativa pioneira em âmbito mundial para rastreabilidade de plantas, o Projeto Código Verde foi lançado, oficialmente, em 4 de setembro durante evento no Legado das Águas, maior reserva privada de mata atlântica do Brasil, com 31 mil hectares de fauna e flora nativas e conservadas a menos de 200 km da capital paulista. O Legado é administrado pela Reservas Votorantim, empresa da Votorantim S.A., dedicada a gerir seus ativos ambientais. No evento, os convidados puderam conhecer de perto os detalhes da iniciativa, aproveitando para apreciar a natureza. O projeto-piloto começou há cerca de um ano com o objetivo de automatizar a gestão e o processo de rastreabilidade do viveiro de plantas do Legado das Águas. Para entregar uma solução completa em automação, a GS1 Brasil convidou a



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] Foto: Divulgação Itaú Social

EDUCAÇÃO

A força da educação Por Kathlen Ramos

Instituições sem fins lucrativos apostam em iniciativas para valorizar os professores, disseminar boas práticas de ensino e lutar pela inclusão da população mais vulnerável O sistema educacional brasileiro está repleto de problemas, realidade que é comprovada por vários estudos. Levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), integrante da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgado em dezembro do ano passado com dados que se referem a 2016, aponta que 7,2% da população com 15 anos ou mais ainda é analfabeta. E mais: cerca de 24,8 milhões das pessoas de 14 a 29 anos estão fora da escola no País. Mais recentemente, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), divulgado em setembro pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), mostra que a educação no Brasil não avançou pelo segundo ano consecutivo: em 2017, o País manteve-se na 79ª posição, num conjunto de 189 economias. Já a pesquisa “Profissão Docente”, iniciativa do Todos Pela Educação e do Itaú Social, realizada entre março e maio deste ano pelo IBOPE Inteligência em parceria com a Conhecimento Social, indicou que metade dos professores brasileiros não recomenda a própria profissão por considerá-la desvalorizada. 42 jul/ago/set 2018 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

Dados como esses preocupam porque a educação de qualidade é o único caminho para levar o País a um estágio de desenvolvimento mais avançado, comenta a diretora do Instituto Península, Heloisa Morel. “Ainda que o Brasil tenha avançado no acesso à educação básica nas últimas décadas, enfrentamos desafios com relação à aprendizagem na idade certa, evasão no ensino médio e atratividade da carreira de professor”, constata. Nesse sentido, algumas instituições, muitas delas sem fins lucrativos, têm ajudado a melhorar a realidade do ensino nacional, por meio de ações que contribuem tanto na capacitação de professores quanto na formação de estudantes. Um exemplo é o portal Porvir (porvir.org), um programa do Instituto Inspirare, instituição sem fins lucrativos sediada em São Paulo e dedicada a promover o desenvolvimento de estudantes. Desde 2012, o Porvir produz conteúdos diariamente, além de levar mensagens da inovação em educação por meio de palestras e oficinas. “Mapeamos e difundimos experiências inovadoras no Brasil e em outros países por acreditar que o mo-


Foto: Divulgação Porvir

Novo modelo Porvir produz conteúdos e promove palestras que estimulam a inovação em educação

delo educacional que temos hoje não atende nem aos interesses dos alunos, nem às demandas do século 21”, analisa o editor do Porvir, Vinícius de Oliveira. No portal, são publicadas inovações em diferentes áreas, tais como gestão, formação de professores, educação integral e uso de tecnologia na educação. “O nosso objetivo é apoiar a transformação da educação por meio de materiais e conteúdos inspiradores e orientadores”, resume Oliveira. O site recebe cerca de 2 milhões de visitas por ano, entre educadores, gestores de secretarias e de escolas, empreendedores em educação e pesquisadores.

FOCO NOS DOCENTES O Instituto Península tem como principal meta apoiar a transformação do Brasil a partir da transformação das pessoas e, nesse sentido, a entidade investe no professor. “Acreditamos que esse profissional é o agente transformador da sociedade e que, de fato, tem um papel fundamental no desenvolvimento humano. É compromisso da sociedade e dos governantes garantir um bom preparo para o professor enfrentar os desafios contemporâneos dentro da sala de aula”, destaca a diretora da entidade, Heloisa Morel. Hoje, o Península possui três iniciativas. Entre elas, o Singularidades

é uma instituição de ensino superior que oferece cursos de graduação em pedagogia, letras e matemática, extensão universitária e pós-graduação, que já formou cerca de 3 mil educadores no País. Há, ainda, o Impulsiona, programa gratuito de educação esportiva, em parceria com o Ministério da Educação (MEC), que capacita professores e educadores a disseminarem os valores e a prática de esporte e que já impactou mais de 10 mil escolas em todo Brasil desde o início de suas atividades, em 2017. Por fim, há o Núcleo de Alto Rendimento Esportivo (NAR), que atua na avaliação e preparação de atletas e equipes de alto rendimento e tem a meta de impulsionar o desenvolvimento do esporte brasileiro. “O NAR atende mais de 1,5 mil atletas de alto rendimento por ano, sendo muitos deles olímpicos e paralímpicos”, comemora Heloisa. 7 898357 410015

AÇÕES EDUCACIONAIS DE DESTAQUE NO PAÍS FUNDAÇÃO ITAÚ SOCIAL: atua no desenvolvimento de projetos sociais, na formação continuada de docentes e gestores educacionais e na realização de pesquisas. Juntamente com parceiros, trabalha para que municípios, Estados e União unam-se para entregar acesso à educação a todos e com aprendizagem adequada. FUNDAÇÃO BRADESCO: nasceu com o objetivo de promover a inclusão e o desenvolvimento social por meio da educação. Hoje, possui 40 escolas em todos os Estados e no Distrito Federal.

FUNDAÇÃO ESTUDAR: a organização sem fins lucrativos tem foco em alavancar os estudos e a carreira de universitários e recém-formados por meio do estímulo à experiência acadêmica no exterior e do apoio à tomada de decisão de carreira.

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FUNDAÇÃO LEMANN: tem a missão de colaborar com pessoas e instituições em iniciativas que garantam a aprendizagem de alunos, além de formar líderes que resolvam os problemas sociais do País.


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GESTÃO

Gestão top Por Adriana Bruno

O conceito de qualidade aplicada à administração dos negócios incorpora os fundamentos da excelência, essenciais para atingir bons resultados No dia 9 de novembro, é celebrado o Dia Mundial da Qualidade, data criada em 1990 pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o objetivo de promover a conscientização mundial sobre o papel que a qualidade tem para a prosperidade das empresas e de um país. Hoje, a importância da qualidade é tamanha que ela não se restringe a um produto ou serviço. No mundo corporativo, qualidade é um conceito a ser aplicado em todas as atividades desempenhadas por uma organização. “A qualidade da gestão incorpora os fundamentos da excelência: liderança transformadora, pensamento sistêmico, compromisso com as partes interessadas, desenvolvimento sustentável, orientação por processos, adaptabilidade, aprendizado organizacional, inovação e, por fim, geração de valor”, comenta o presidente-executivo da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ), Jairo Martins. Vale dizer que o conceito está direcionado aos processos de apoio do negócio, o famoso back office. “Qualidade pode

44 jul/ago/set 2018 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

ser traduzida como a busca pela máxima eficiência em atividades que, embora não sejam percebidas pelo cliente final, são de extrema relevância para suportar as operações principais das organizações e fator-chave para o sucesso do negócio”, diz o consultor da AGR Consultores, Julio Ferreira. Mas nem sempre foi assim. No passado, qualidade era representada por um departamento operacional responsável por medir a eficácia da produção. O foco era sempre o produto final, ou seja, fazer mais e melhor. Mas essa realidade mudou. “Atualmente, num mercado volátil, com preços ditados pela concorrência e pouca diferenciação de custos, as empresas tiveram de expandir os conceitos de qualidade, passando a atuar também nos processos de apoio ao negócio, medindo performance e aportando inovação em atividades de recursos humanos, vendas, financeiro e demais áreas de back office”, relata Ferreira. Hoje, quando não há investimento em qualidade, a ineficiência se traduz em perdas e desperdícios, além do mal atendimento ao cliente.


Assim, uma das principais tendências em torno do tema está ligada à orientação por processos, que devem ser desenhados com o objetivo de agrupar atividades e estabelecer uma maior fluidez organizacional, além de ser conduzido por pessoas capacitadas. “O grande desafio é formatar e adaptar os processos para que eles possam responder às tendências dos diferentes cenários”, resume Martins. PRODUTIVIDADE Fazer mais com menos. Esse mantra vem sendo repetido nas organizações de forma incansável e sob forte apelo de conseguir aumentar os índices de produtividade e competitividade. O diretor da Telos Resultados, Luiz Muniz, lembra que qualidade é um conceito que envolve cinco dimensões: qualidade, custo, entrega, moral e segurança. Esses pontos estão ligados a quatro perfis de públicos: cliente, acionista, colaborador e sociedade. Para que os índices de produtividade sejam

alcançados, é necessário definir, de maneira clara, o que o acionista espera do resultado financeiro da organização. “A partir daí, faz-se o desdobramento dos indicadores de desempenho em relação de causa e efeito para as demais dimensões da qualidade, como, por exemplo, número de produtos defeituosos (qualidade), tempo de parada de máquina (entrega), número de acidentes (segurança) e absenteísmo (moral)”, exemplifica. Eficiência é outro conceito totalmente ligado ao tema. Para Ferreira, se os custos de produção e o preço final dos produtos são praticamente definidos pelo mercado, investir na melhoria de processos e inovação garante maior eficiência na utilização dos recursos da companhia. “Menos gastos geram melhores margens e lucratividade.” RESULTADOS POSITIVOS Ao trabalhar a qualidade na empresa, outro grande benefício é a transparência. “A nova qualidade, que chamo de eficiência, está na cultura da organi-

zação disponível a todos e em tempo real. Informação democrática e rápida que inspira inovação e novas eficiências”, comenta Ferreira. Os investimentos que trazem retorno imediato estão nas pessoas, nos processos e em inovação. Segundo Martins, pessoas capacitadas e comprometidas conduzem processos eficientes e eficazes e têm a mente aberta para o aprendizado e para a inovação. “Uma vez que os processos e as informações são definidos, deve-se investir na correta tecnologia, que atua como meio para se ganhar em agilidade e no processo de tomada de decisão. No final, tudo se traduz na fidelização do cliente satisfeito”, diz. Sem dúvida, as ferramentas tecnológicas aumentam a velocidade de análise, mas a tomada de decisão e execução da ação ainda são, predominantemente, humanas e dependem do conhecimento do negócio. “O maior desafio está em entender que a digitalização não substitui um sistema de qualidade”, adverte Muniz. 7 898357 410015

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5 PASSOS PARA COMEÇAR A INVESTIR EM QUALIDADE

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1

Entender a relação com o cliente e com as suas experiências

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Definir o modelo de negócios e relacionamento com o mercado

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Escolher a tecnologia adequada para ganhar eficácia e eficiência

Definir os processos e o fluxo de informação

Promover uma mudança cultural na equipe

Fonte: Jairo Martins, da FNQ

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TENDÊNCIA

Foto/Imagens: iStock

Fome de novos negócios Da Redação

GS1 Brasil reúne toda cadeia de alimentos para debater as principais tendências da área, como a rastreabilidade e a adoção das novas tecnologias digitais Para saciar a fome de quem pretende crescer no setor alimentício, a GS1 Brasil promoveu o Summit Alimentos, evento que reuniu especialistas, produtores, representantes de indústrias e varejistas da área para discutir tendências, apresentar cases de sucesso e aproveitar a ocasião para fazer networking. No encontro, realizado na sede da GS1 Brasil na capital paulista, em setembro, o economista da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (ABIA), Cleber Sabonaro, mostrou um panorama do setor, que busca inovação em produtos, tecnologias e serviços. Segundo ele, a indústria de alimentação registrou vendas de R$ 642 bilhões em 2017. Cerca de 4,5% do faturamento anual é investido em pesquisas, inovação, marketing e novos produtos. Sabonaro reforçou o papel da indústria no apoio aos parceiros e a importância de todos trabalharem com padrões. A propósito, a padronização, aliada à automação, permite fazer a rastreabilidade, que atualmente está trazendo 46 jul/ago/set 2018 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

uma nova dimensão para os negócios a fim de garantir a segurança do alimento, como destacou o executivo do setor de alimentos da GS1 Brasil, Nilson Gasconi. Dessa forma, as empresas conseguem ter processos mais controlados bem como o histórico dos produtos em toda cadeia de abastecimen-

Cleber Sabonaro, da ABIA

to, fornecendo, inclusive, informações para o consumidor final. As empresas já estão bem atentas a isso, mas ainda há muitos desafios. No campo, por exemplo, o agricultor tem o desafio de registrar as anotações da produção em ferramentas eletrônicas como o Caderno Eletrônico de Campo,

Cristiane Lourenço, da Bayer

Felipe Macedo, da CoreBiz


Oportunidade Público conferiu um panorama do setor de alimentos e novas possibilidades de negócios

conforme comentou a gerente de food chain relations e sustentabilidade da Bayer, Cristiane Lourenço. Em sua palestra, ela contou sobre o projeto Made in Farm, cujo propósito é aproximar o campo e a cidade. Para isso, a Bayer criou uma plataforma digital na qual produtores podem comercializar as mercadorias diretamente para os clientes. VENDAS Códigos e padrões também podem ajudar a aumentar as vendas. É o que propõe o aplicativo Magic Code, de acordo com o diretor de tecnologia da Magic Code, Osvaldo Marchesi Junior. O app leva informações relevantes e em diferentes formatos (vídeo, download de catálogos, enquetes, etc.) para o consumidor final a partir da leitura do código de barras dos produtos. Os fabricantes cadastram todas as informações e, por meio de um dashboard, conseguem segmentar os conteúdos sobre os produtos para públicos específicos, inclusive por

região, além de acompanhar as métricas de acesso dos usuários. No encontro, o fundador e CEO da CoreBiz, Felipe Macedo, também mostrou que há oportunidades para melhorar as vendas de alimentos ao investir no omnichannel, conceito que integra os canais de vendas, unificando a experiência de compra do cliente em todos os pontos de contato. TENDÊNCIAS De olho nas tendências da área, a diretora-executiva da consultoria em foodservice GS&Libbra, Cristina Souza, apontou os quatro conceitos que direcionam a alimentação atualmente: sabor, saudabilidade, estilo de vida e confiança na origem. Outra tendência crescente é a da alimentação fora lar. Além disso, o aumento de vegetarianos no Brasil e no mundo também vem impactando o mercado. Segundo Cristina, na Europa e nos Estados Unidos também é forte

a discussão sobre a gestão do desperdício, que deve se aprofundar no Brasil. Nesse sentido, é preciso se atentar para a questão da prevenção de perdas. A startup Saveadd, por exemplo, desenvolveu uma plataforma que permite fazer a gestão de perdas e doações de produtos, combatendo as perdas e contribuindo para reduzir os custos das empresas, como contou o CEO da Saveadd, Salvador Ramalho, em sua palestra. O Summit Alimentos teve o patrocínio da Magic Code e contou com a participação do presidente da Rede Forte Supermercados, Gilmar Netto, que falou sobre a trajetória da empresa.

Fotos: Eliane Cunha

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Cristina Souza, da GS&Libbra

Nilson Gasconi, da GS1 Brasil

Osvaldo Marchesi, da Magic Code

Salvador Ramalho, da Saveadd

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varejo

Lojas físicas com novo significado Por Kathlen Ramos

Mais do que simples pontos de vendas, esses espaços tornam-se pontos de experiência, aprendizado, socialização e prestação de serviços Quem faz suas compras nas lojas físicas sabe: a paciência não é mais a mesma com as dificuldades para estacionar, filas grandes para pagar ou resolver problemas, layout confuso, falta de produtos (a chamada ruptura), mix inadequado e atendimento ruim. Boa parte da inquietude com esse tipo de situação é reflexo da facilidade que a internet trouxe para a vida do consumidor. Afinal, com o comércio eletrônico, as compras são feitas com um clique. As buscas são simples quando o produto é cadastrado de forma padronizada pela loja; as rupturas são rapidamente resolvidas, porque, com mais um clique, é possível encontrar o produto em outras lojas virtuais ou num marketplace.

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Além disso, as informações são vastas, inclusive com opinião de outros usuários. Diante de tanta comodidade e eficácia, são muitos os que se perguntam: o que mantém as lojas físicas ativas? Elas vão continuar a existir? A resposta é: sim. “O aspecto que faz as pessoas continuarem frequentando as lojas físicas é a possibilidade de experimentação. Quanto mais as compras forem complexas ou com produtos de alto envolvimento emocional, mais aumenta o desejo de visualizar, degustar e interagir”, aponta o fundador da Varese Retail, Alberto Serrentino. No entanto, são muitos os novos desafios que as lojas físicas terão de enfrentar para continuarem atrativas ao


Fotos: Divulgação

Fabíola Paes, da ESPM Loja física deve combinar o que oferece de melhor com a versatilidade da compra on-line

consumidor. Nesse sentido, os processos de inovação devem ser acelerados, incorporando, inclusive, a cultura digital. “O papel da loja física deve ser combinado com os melhores aspectos e versatilidades que se oferece em uma compra on-line, uma vez que os consumidores se tornaram onipresentes e exigem mais qualidade de atendimento e agilidade de entrega”, considera a professora do Núcleo de Varejo Retail Lab ESPM, Fabíola Paes. Nesse cenário, a cultura do omnichannel deve ser reforçada. “Integrar os canais é um caminho sem volta para as lojas que querem ter sucesso”, constata o gerente-sênior da Cosin Consulting, Cícero Santos. Portanto, ter o mesmo atendimento na loja física ou on-line é uma nova exigência do consumidor conectado. Experiência necessária Já faz tempo que se discute a necessidade de oferecer uma experiência de compra interessante para o cliente. Agora, esse aspecto ganha novos contornos. “O êxito da loja física está na competência em conjugar as experiências de marca e produto, a fim de oferecer algo customizado que o cliente

só encontre ali”, observa Fabíola. Na opinião de Serrentino, a redução de atritos, como filas ou mal atendimento, é outro passo fundamental nessa evolução. “O atrito é um forte incentivo para que se migre para as plataformas digitais. As lojas precisam ser simples, ágeis e eliminar as dificuldades do cliente”, sintetiza. A prestação de serviços também é essencial nessa jornada em busca da experiência perfeita. “Na área da moda, por exemplo, por que não oferecer uma curadoria com um estilista à disposição do cliente?”, sugere Cícero Santos. As várias possibilidades se estendem a outros segmentos. “No caso de eletrônicos e informática, vão desde instalação, reparo, upgrade, treinamento. Para produtos de construção e casa, pode-se oferecer decoração, projetos, reformas ou execução de obra. Farmácias podem disponibilizar clínicas, vacinação, entre outros”, enumera Serrentino. Investir na capacitação do time de vendas é essencial, já que os estabelecimentos tornam-se espaços para educar os consumidores. “O cliente vai à loja física não só para ver mas também para degustar o produto, o que inclui entender suas características e tirar dúvidas. Se ele não tiver essa experiência, o e-commerce volta a ser a preferência, já que tem menos burocracias e mais agilidade”, aponta Santos.

digital é o fenômeno click & collect, ou seja, quando o consumidor compra o produto no e-commerce e retira na loja física. “Na medida em que as lojas passam a se tornar, também, plataformas de distribuição e entrega de produtos para compras on-line, a configuração dela muda. Antes, a constituição dos layouts considerava maximizar a área de venda, entendida como o espaço onde o cliente circula, e minimizar o espaço de retaguarda, entendido como um custo morto. Mas isso está mudando. No modelo click & collect, a retaguarda também passa a ser uma área produtiva, ou seja, um estoque de produtos já vendidos, precisando, assim, de mais espaço”, explica Serrentino. Já em relação ao layout, os ambientes precisam ser mais dinâmicos e exaltar o que têm de melhor: a possibilidade de experimentação. “Pode-se usar aspectos sensoriais e direcionados para o perfil do cliente. Além disso, é possível explorar, dentro da mesma loja, diferentes ambientes, usando cores e luzes, a fim de trazer experiências mais adequadas para cada um deles”, sugere o diretor vogal do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (IBEVAR), Nuno Fouto.

Visual da loja Na infraestrutura do ponto de venda, um dos efeitos da transformação

Alberto Serrentino, da Varese Retail A possibilidade de experimentação é o que faz as pessoas continuarem frequentando as lojas físicas

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VAREJO

cLiEntE conEctAdo E inFoRMAdo Levantamento da gS1 Brasil apresenta insights sobre o que consumidor espera das lojas físicas e virtuais

FAtoRES QUE AFEtAM A dEciSão dE coMPRA NA LOJA FÍSICA

63%

Bom preço

46%

Atendimento bem informado

37%

Diversas formas de pagamento

35%

Encontrar facilmente o que procura

32%

ter a marca desejada

30%

Rapidez no atendimento

NA LOJA ON-LINE Bom preço

58%

ter informações claras

38%

Ser bem avaliada em outros sites

34%

Política de trocas prática

29%

Diversas formas de pagamento

26%

Facilidade de busca no site

25%

cAtEGoRiAS A maioria dos consumidores consultados ainda prefere ir à loja física. As categorias mais compradas nos pontos de vendas são:

90 % Frutas, verduras e legumes 90 % Queijos, carnes e perecíveis 90 % Pães, doces e lanches 81 % Grãos, cereais e não perecíveis 77 % Bebidas 76 % Itens de higiene pessoal 68 % Medicamentos 64 % Aparelhos ortopédicos 61 % Calças, vestidos, camisas e saias 57 % Vitaminas e complementos alimentícios 54 % Móveis 51 % Sapatos, tênis e botas

tEcnoLoGiA 56% das empresas acredi-

tam que oferecer canais de compra integrados é uma tendência que tornará o varejo mais inteligente.

Fonte: Estudo Consumidores e Empresas 7ª Edição: Tendências e Comportamento no Mercado Nacional (julho 2018), desenvolvido pela GS1 Brasil, em parceria com a H2R. Entrevistas com 417 consumidores e 550 empresas de diferentes setores.

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A reinvenção das lojas físicas No mundo, as lojas da Apple se tornaram referência em atendimento ao cliente, com um ambiente interativo e descomplicado. A seguir, confira outros exemplos do que o varejo vem fazendo nesse sentido.

Foto: Divulgação

Lojas MM: com atuação no segmento de eletroeletrônicos, eletrodomésticos e móveis, uma das gigantes varejistas no Sul do Brasil criou, com o auxílio de parceiros, uma plataforma omnichannel que permite aos clientes retirarem as compras feitas via app, na mesma hora, na loja física. Nesse caso, o vendedor responsável por atender o cliente no momento da retirada recebe comissão. Isso ajuda aumentar o movimento na loja física e a realizar uma nova venda para o consumidor. Amaro: nesta varejista digital de moda feminina, as lojas físicas, também chamadas de guide shops, funcionam mais como uma vitrine do que como ponto de venda. Nos pontos localizados em algumas cidades do País, o consumidor conhece as peças, mas as compras são feitas on-line, em terminais dentro da própria loja, e o produto é entregue na casa do cliente. Em São Paulo, algumas entregas são feitas no mesmo dia. Petz: a rede, especia-

lizada em soluções para pets, inaugurou a sua loja mais moderna em São Paulo (SP), com serviço de hotel e day care. Além disso, estão disponíveis inovações tecnológicas, como um sistema de curadoria com dicas de bem-estar em totens digitais, QR Code e realidade aumentada, holograma com orientações veterinárias e caixa de autoatendimento. Outras atrações são: playground, área especial de garden e um setor de adoção de gatos.

Foto: Divulgação

Foto: Portal Amaro

Foto: iStock

Walmart: nos Estados Unidos, a rede está expandindo o sistema de pick up store. Durante o checkout na compra pelo app, o cliente escolhe um horário para retirar seus pedidos. Quando chega na loja, há uma vaga no estacionamento reservada com a cor laranja e um número designado para que avise um funcionário sobre o atendimento.

Fontes: Alberto Serrentino, da Varese Retail; Cícero Santos, da Cosin Consulting; Fabíola Paes, do Núcleo de Varejo Retail Lab ESPM; e Petz.

Novas tecnologias As ferramentas digitais também precisam passar a ser usadas de maneira inteligente. “O varejista deve preparar e remodelar as estratégias comerciais e de marketing, oferecendo treinamentos às suas equipes, a fim de que todos vejam a tecnologia como uma aliada na geração de novos negócios e no engajamento do

consumidor”, reforça Fabíola Paes, da ESPM. Entretanto, a tecnologia deve ser um meio, e não um fim. “A transformação digital é, antes de mais nada, uma transformação cultural e organizacional”, destaca Nuno Fouto. Usando a tecnologia como meio, explica, é possível ter processos ágeis, controle de estoque mais rigoroso, integração de canais, pagamen-

to invisível (por meio de app e cartão de crédito), redução de ruptura e aumento da interação do cliente com o espaço. “Quando bem utilizadas, as ferramentas tecnológicas podem ajudar os colaboradores das lojas na indicação do melhor produto para o cliente, com informações e, até mesmo, adequações de preço para aquele perfil”, conclui Fouto. 7 898357 410015

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Tradição e modernidade

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Fotos: Divulgação

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PERFIL

Por Katia Simões

A centenária Salton se reinventa no mercado para manter-se reconhecida como uma das maiores vinícolas do Brasil Lá se vão 140 anos desde que Antonio Domênico Salton, segundo filho do patriarca Ângelo Salton, deixou a Itália com o propósito de reconstruir a vida da família no Nuovo Mondo. Desembarcou no Brasil em 1870, trazendo na mala muita saudade, poucos pertences e algumas mudas de vinhas. Foi um dos primeiros imigrantes a fincar residência na Serra Gaúcha, mais precisamente em Bento Gonçalves.

As mudas gostaram do clima e não demorou muito para ele começar a produzir vinho como na velha Itália para consumir em casa e também para vender no estabelecimento da família, a Casa di Pasto. Com o passar dos anos, os filhos Paulo, Ângelo, João, José Cezar, Luiz e Antonio transformaram, em 1910, a produção informal do pai na vinícola Paulo Salton & Irmãos, mais tarde batizada de Vinícola Salton.

Seis anos depois, lançaram o primeiro vinho da marca, o licoroso canônico, um dos pilares do crescimento da indústria, produzido até hoje sob licença especial da igreja católica. Aliás, foi a centenária vinícola que forneceu o vinho para que os papas Bento 16 e Francisco celebrassem as missas em Porto Alegre, durante suas visitas ao Brasil. Pouco mais de um século depois da primeira safra, a Salton é reconhecida

Escala internacional Capacidade de fermentação e estocagem supera os 20 milhões de litros

52 jul/ago/set 2018 [ BRASIL EM CÓDIGO ]


como uma das maiores vinícolas do País, um dos raros exemplos de empresas centenárias nacionais que ainda continua sob a direção da mesma família. O faturamento estimado em R$ 420 milhões para 2018 é resultado de um trabalho de profissionalização da gestão, inovação e criação de novos nichos de produtos. “Nosso diferencial consiste em poder contar com a e experiência de uma vinícola centenária, que, ao mesmo tempo, apresenta práticas e estruturas modernas, de nível internacional”, afirma Maurício Salton, quarta geração da família, que em maio deste ano assumiu a presidência, em substituição ao pai, Daniel Salton. Os desafios para chegar a este patamar, porém, não foram poucos. Por anos, a vinícola teve seu faturamento concentrado em um único produto, o Conhaque Presidente. Os apreciadores da bebida envelheceram, os jovens deixaram de lado o sabor marcante e de alto teor alcoólico. Atenta, a Salton procurou outros caminhos. Na década de 1980, trouxe parte da administração da empresa para São Paulo e investiu na modernização da gestão, da indústria e dos vinhedos. “Foi um marco na nossa trajetória e um dos pilares para que a vinícola assumisse 20 anos depois a liderança na produção de espumantes nacionais”, recorda o ex-presidente Daniel.

Com vinhedos espalhados por Nova Prata, Vale dos Vinhedos e região da Campanha, em Santana do Livramento, na divisa com o Uruguai, a Salton alcançou excelência. A operação assemelha-se às das maiores produtoras internacionais de vinho. Sua capacidade de fermentação e estocagem supera os 20 milhões de litros, distribuídos em 18 gigantes tanques de aço inoxidável. É na fábrica de Bento Gonçalves que se produz vinho, suco de uva e, mais recentemente, chás à base de uva. É também um endereço turístico, onde brasileiros e estrangeiros podem acompanhar a história da família, da vinícola e conhecer de perto o parreiral e o ambiente onde os vinhos envelhecem em mais de 600 barricas de madeira. UM PASSO À FRENTE Diversificar o portfólio de forma estruturada e sustentável é um dos objetivos de Maurício Salton nos próximos cinco anos. O pontapé inicial foi dado por seu antecessor ao lançar, em 2016, a primeira linha de chás gourmet à base de uva. Batizada Grape Tea Salton, a bebida foi desenvolvida ao longo de dois anos e vai ao encontro de uma forte tendência do mercado, a da alimentação saudável. A bebida une os benefícios

da uva com os dos chás, além de ser enriquecido com vitaminas. No primeiro ano, foram comercializadas 20 mil caixas de chás, volume que saltou para 50 mil em 2017. Para este ano, a meta é crescer 150%, o que agregará R$ 9 milhões ao faturamento da vinícola. “Estimamos superar a marca de 1 milhão de garrafas de chá produzidas por ano até 2020”, afirma Maurício. O investimento girou em torno de R$ 500 mil, entre pesquisas, tanques e construção das salas. A embalagem de vidro é um diferencial frente à concorrência, assim como a proposta de oferecer sabores inusitados e fugir dos clássicos chás mate e preto. Na visão de Maurício Salton, o grande desafio não está dentro de casa, mas na estrutura de custos do País. “Competimos com os principais produtores de vinho do mundo, porém eles contam com estruturas de custos mais favoráveis, desde a matéria-prima até a cadeia logística.” O herdeiro dos Salton, observa, ainda, que no Brasil a representatividade do setor se dá por meio das 100 mil pessoas que dependem diretamente da vitivinicultura apenas na Região Sul, com 20 mil produtores rurais e mil vinícolas em atividade, somando uma receita anual de R$ 2,5 bilhões. 7 898357 410015

Maurício Salton, presidente da empresa Meta é diversificar o portfólio de forma estruturada e sustentável


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RECURSOS HUMANOS

Superando

as diferenças

Por Denise Brito

A convivência entre diferentes gerações de profissionais gera conflitos, mas também enriquece as relações no ambiente de trabalho A pluralidade entrou para o quadro de funcionários das empresas há alguns anos, desde que os jovens da geração Y passaram a trazer novas ideias e posturas para o mundo dos negócios. Por outro lado, cada vez mais os profissionais maduros adiam a aposentadoria, mantendo-se em atividade por mais tempo. A convivência entre perfis tão distintos tem enriquecido o ambiente de trabalho de maneira talvez inédita, mas também gerado novos conflitos às organizações. Até

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então, o departamento de recursos humanos também não se preocupava em criar uma uma política para lidar com o choque de gerações. Geralmente, os conflitos surgem de maneira velada, pois ninguém deseja se expor, nem o profissional mais velho, nem o mais novo, afirma a diretora de diversidade da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), Jorgete Lemos. “Por isso, o mais comum é que ocorram boicotes contra o colega de geração diferente.”

Para prevenir o surgimento desses problemas, diz Jorgete, as empresas têm como alternativa formalizar algumas normas aprovadas pela direção da empresa para apoiar uma gestão de política de diversidade e, assim, nortear o recrutamento de profissionais e seu desenvolvimento de maneira equilibrada. O tema vem sendo objeto de debate no mundo organizacional, havendo, inclusive, quem discorde da imposição desse tipo de regra.


Foto: iStock

DEMANDAS DIVERSAS Mesclar perfis diferentes de profissionais, maduros e jovens, pode ser uma fórmula de sucesso para a empresa, na opinião da headhunter da Upside, Fernanda Nogueira. “O conflito entre gerações distintas não necessariamente precisa ser visto como algo ruim, mas uma maneira de aliar uma tecnologia mais moderna, trazida pelos jovens, com um conhecimento e experiência dos mais sêniores”, diz. Apesar disso, tem sido comum que as áreas de recursos humanos sejam acionadas para ajudar a resolver as diferenças. Segundo Fernanda, as demandas que mais aparecem são, de um lado, o profissional mais velho entende ter uma determinada missão na empresa e não se interessa em receber feedbacks; de outro, o mais jovem sente-se estimulado por feedbacks positivos, mas deseja um movimento em sua carreira para se motivar.

“Pode parecer bobo, mas as diferenças surgem em situações como um benefício oferecido pela empresa que é atraente para um, porém não significa nada para outro. Flexibilidade de horário, por exemplo, não é benefício, mas é um valor importante para os mais jovens, que desejam qualidade de vida. Já os mais velhos não se interessam tanto por isso. Como os perfis são diferentes, cada um deseja algo diferente e precisam ser tratados também de maneira diferente”, diz. SENTINDO NA PELE Fabiana Coutinho, publicitária de 39 anos que trabalha em uma empresa de comunicação, por exemplo, acredita que o diálogo é o caminho para a boa convivência. “Se há profissionais com mais experiência que outros, por meio do diálogo fica mais viável contribuir para o desenvolvimento profissional”, aposta. No seu dia a dia, ela percebe

que os profissionais jovens são mais flexíveis, porém têm menos paciência que um colega mais maduro. “Se ele não está satisfeito, vai embora. O mais experiente está mais disposto a se dedicar”, pontua. Já a jornalista Andressa Pessanha, 22 anos, conta que, quando fazia estágio, teve um chefe de 58 anos que não gostava que ela fizesse o trabalho de forma diferente que ele estava acostumado. “Eu conhecia ferramentas digitais para ajudar neste trabalho, mas ele olhava com desconfiança e recusava. Acho que ele simplesmente não estava acostumado com a ferramenta e, então, achava um caminho de preguiçoso e sem mérito. Eu não discutia, fazia das duas formas”, lembra. Por mais que a convivência nem sempre seja harmônica, Andressa vê vantagem em um ambiente com diversidade de gerações. “Tanto pela experiência quanto pela troca de conhecimento”, resume. 7 898357 410015

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DESCONEXÃO

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Do escritório para os palcos Por Flávia Corbó

Com 12 peças de teatro e dois filmes no currículo, o ator e executivo Rafael Steinhauser, da Qualcomm, divide a liderança de uma multinacional com o ofício das artes cênicas Além da rotina atribulada como presidente para América Latina da Qualcomm, empresa especializada em tecnologia wireless, Rafael Steinhauser também vivencia uma cena bem diferente da maioria dos executivos: o teatro. Tudo começou há 15 anos, quando o engenheiro aeroespacial tomou uma decisão pouco usual entre os altos executivos na época: tirou um ano sabático. Havia trabalhado intensamente desde que se formou na Universidade Técnica de Berlim, em 1984. Ocupou cargos de alto escalão em grandes corporações, como Vésper, Cisco e Networks Brasil, mas decidiu que era hora de afastar-se, temporariamente, do cotidiano corporativo e dedicar-se a outras atividades. A escolha de como iria ocupar o tempo livre ocorreu de forma natural. Filho de uma atriz, cresceu envolvido no

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mundo das artes. Fascinado desde pequeno pelo universo dos palcos, holofotes e coxias, resolveu preencher o intervalo da vida de executivo com cursos de teatro. A identificação com as artes cênicas foi imediata e tão grande que Steinhauser decidiu que o teatro seria mais do que um hobby a ser praticado apenas nas horas livres. Matriculou-se em um curso profissionalizante de atores na Escola de Teatro Célia Helena (uma das mais tradicionais escolas de artes cênicas de São Paulo) e, com o diploma na mão, nunca mais se afastou dos holofotes. Desde 2006, atua como ator profissional em teatro e cinema no Brasil. “Não é um hobby, é um ofício que encaro com a maior seriedade. Não é uma mera distração. É uma atividade profunda e com propósito”, afirma Steinhauser.


“Na empresa, trabalho mais com a esfera racional, enquanto o teatro exige um mergulho no corpo físico e no universo das emoções”

UNIVERSOS COMPLEMENTARES Toda essa trajetória artística foi construída sem que o executivo abandonasse a carreira corporativa. Ao mesmo tempo em que subia nos palcos aos fins de semana, seguiu ocupando cargos de destaque em grandes corporações até tornar-se, em 2011, presidente para América Latina da Qualcomm, na qual já havia atuado como vice-presidente para América do Sul, em 1994. Com foco e seriedade, equilibra as duas facetas com maestria. “Considero que ambas são profissões, pois são decorrentes de uma formação acadêmica formal e procuro um desempenho da mais alta qualidade profissional nas duas frentes”, afirma. Por mais que Steinhauser concilie essa rotina de maneira natural, a combinação de duas profissões tão distintas costuma causar estranhamento. “As pessoas que me conhecem do mundo dos negócios se surpreendem quando sabem da minha vida artística, assim como as do teatro, quando ficam sabendo da minha atividade como líder de empresa. Quem fizer uma busca na internet, talvez pense que exista outro Rafael Steinhauser”, brinca. O executivo transita com tanta naturalidade entre o escritório e o palco que consegue enxergar pontos complementares em profissões tão distintas. “Na liderança da Qualcomm, trabalho mais com a esfera mental e racional, enquanto que o teatro exige um mergulho no corpo físico e no universo das emoções”, conta. A sinergia entre o ofício do ator e o trabalho são tantas que Steinhauser arrisca dizer que muitas das habilidades aprimoradas ao longo dos anos em cima

do palco são, hoje, fundamentais, para que ele exerça uma boa liderança. “A comunicação verbal e não verbal com funcionários, clientes e mercado são exemplos. Também é importante mencionar a escuta atenta, uma qualidade fundamental, e o trabalho em equipe”, descreve. Todo o complexo e árduo trabalho de pesquisa e montagem de uma peça de teatro é outra fonte de grandes ensinamentos a serem usados por um bom líder. “Chegar ao destino requer esforço contínuo, além de disposição para superar momentos de exposição e frustração”, reflete Steinhauser, que também faz o caminho inverso e leva do ambiente corporativo a assertividade, objetividade e disciplina, necessárias na hora de subir ao palco. Quando está atuando, ele também tem a experiência de vivenciar a liderança de outras maneiras, às vezes por meio de personagens autoritárias e despóticas, como a que interpretou recentemente, na peça Venus Ex Libris. “Na vida de executivo, tento sempre ser claro e assertivo, mas nunca impor a minha vontade pelo uso do poder. Já Thomas, a personagem que interpretei, é um homem autoritário, egocêntrico, que constantemente luta pelo poder, mas vai se transformando graças à relação com uma mulher que o desarma, até se tornar uma pessoa equilibrada, integrada e vulnerável”, conta. 7 898357 410015

Fotos: Divulgação

No currículo de ator, ele já acumula 12 peças de teatro no Brasil, México e Espanha, além de ter participado de dois filmes e ter forte engajamento no cenário artístico paulista. Membro da Cia. da Memória, Steinhauser prova que consegue dedicar-se à cultura com o mesmo afinco que lidera uma grande companhia. Em 2015, ganhou o prêmio Shell por seu trabalho como diretor institucional da Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, na categoria Inovação e, em 2017, o Prêmio Bravo! Bradesco de Cultura, por melhor Evento de Cultura do Ano.

Rafael Steinhauser, ator e presidente para América Latina da Qualcomm Superação, objetividade e disciplina são valores praticados nos negócios e nas artes

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Viva Chile!

] Fotos: iStock

RADAR

Por Kathlen Ramos

Em tempos de dólar alto, nada melhor do que explorar os roteiros deste país da América do Sul, que podem ser econômicos e encantadores Diversidade de passeios, excelente gastronomia, ótima infraestrutura hoteleira e entretenimento para toda a família. Somam-se a esses benefícios as paisagens inesquecíveis com desertos áridos, bosques e geleiras. Essas são algumas das vantagens de passar as férias no Chile, país que oferece opções para todos os bolsos. “A capital, Santiago, é uma ótima opção para viagens, ainda mais em tempos de alta do dólar. Os principais passeios e atrações da cidade saem por menos de R$ 200 por pessoa. Além disso, a capital chilena isenta os turistas estrangeiros que estejam há menos de 60 dias no país do Imposto

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sobre Valor Agregado (IVA), nas diárias de hotéis, o que torna o preço da hospedagem mais atrativo no pacote final”, explica a gerente de produtos da CVC para América do Sul, Heloisa Ananias. Acompanhe, a seguir, algumas atrações imperdíveis. SANTIAGO Ao passar pelo Centro Histórico da capital do país, é fundamental visitar a La Chascona, a mais poética das três casas-museu de Pablo Neruda, originalmente construída para abrigar a vida romântica desse poeta chileno. Depois, a dica é subir até o Cerro San Cristóbal de funicular, espécie de

bondinho que leva a uma vista atrativa da cidade. Se subir à tarde, é possível avistar o pôr do sol de um local privilegiado. Lá de cima, também vale fazer um passeio no Teleférico do Parque Metropolitano para continuar apreciando o cenário das montanhas. O Sky Costanera, mirante com 61 andares e considerado o mais alto da América Latina, é outro ponto exuberante da cidade. Vale também visitar o Mercado Central e conhecer a oferta de peixes, frutos do mar, frutas, além de restaurantes populares. Outros passeios obrigatórios são o Palácio de la Moneda, sede da presidência chilena; o Cerro Santa Lucía, parque que


DICAS DE VIAGEM QUANDO IR? O Chile oferece uma diversidade de climas e atrativos em todas as estações. As praias da região norte são mais visitadas entre dezembro e março. Para quem gosta de curtir os esportes de neve, o ideal é visitar o país entre junho e setembro. Os parques localizados na região sul, com suas geleiras, podem ser mais bem explorados entre outubro e abril. Para os visitantes que querem desfrutar do enoturismo, os meses recomendados são entre março e junho.

O QUE COMER? Empanadas, humitas (espécie de pamonha salgada) e caçarolas (ensopado de carne ou peixe) estão entre os pratos típicos do país. Há, também, as machas, marisco típico da costa do Chile e Peru, e o caldo de congrio, peixe típico da região. É possível apreciar, ainda, a centolla, o famoso caranguejo gigante e muito saboroso. Para beber, pisco e os vinhos chilenos são a grande pedida. Fontes: LATAM Travel e Heloisa Ananias, da CVC

possibilita uma vista complementar da cidade; e as vinícolas, ou viñas, localizadas do Valle del Maipo (mais próximo da capital) e Valle de Casablanca.

Fotos: iStock

VALPARAÍSO Cidade portuária situada a 120 km de Santiago, é um dos mais principais destinos buscados por turistas locais ou estrangeiros, abrigando belos morros, considerados cartões-postais do país. A Casa La Sebastiana, antigo lar de Pablo Neruda, é uma das principais atrações.

Viña del Mar

VIÑA DEL MAR A cidade litorânea abriga o Castelo Wulff, localizado em cima das rochas na orla da praia Miramar. Com entrada gratuita, hoje abriga exposições artísticas temporárias e chama a atenção pelo chão de vidro que dá para as águas do Oceano Pacífico. Quem pre-

Foto: Divulgação LATAM Travel

COMO SE LOCOMOVER? Em Santiago (foto) e no seu entorno, os principais meios de transporte são o metrô, os ônibus e os trens urbanos. Para utilizá-los, é preciso adquirir um cartão de acesso e carregá-lo com dinheiro. Para aqueles que gostam de ter mais independência, é recomendável o aluguel de um carro. O Chile oferece uma boa rede de estradas, mas, por sua geografia e grandes distâncias, viajar por terra pode ser uma aventura de vários dias.

tende pegar um bronzeado nas férias, a dica é uma visita à Reñaca, praia com uma generosa orla. Também vale uma selfie junto ao famoso Relógio de Flores de Viña del Mar, localizado na entrada da cidade. CAJÓN DEL MAIPO E CORDILHEIRA DOS ANDES Região localizada aos pés da Cordilheira dos Andes, a cerca de duas horas de carro de Santiago, Cajón del Maipo é reconhecido pela vista exuberante com muitas montanhas e pequenos rios. Uma das principais atrações é o Embalse del Yeso, lago represado na Cordilheira dos Andes, uma das maiores cadeias de montanhas do mundo. Uma das formas mais divertidas de conhecer a Cordilheira é por meio dos passeios pelas estações de esqui próximas a Santiago, como Valle Nevado, Farellones, La Parva e El Corado. 7 898357 410015

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] Fotos: Eliane Cunha

Inovação

Cultura 4.0 Por Denise Turco

GS1 Brasil promove o Summit 4.0, evento que reuniu especialistas e executivos para discutir o uso e a integração das novas tecnologias da revolução digital De que forma as tecnologias 4.0 estão revolucionando empresas de diferentes setores, demandando muitos esforços, mas também novos aprendizados e oportunidades? A fim de discutir este tema, a GS1 Brasil, com o apoio da Associação Brasileira de Materiais de Construção (ABRAMAT), promoveu o evento Summit 4.0 em sua sede, em São Paulo (SP), em agosto. O encontro teve a apresentação de cases que comprovam que as empresas obtêm resultados significativos com a aplicação de Inteligência Artificial, Big Data, digitalização, robôs, Internet das Coisas (IoT) e RFID, por exemplo. “As tecnologias digitais não estão mais restritas a um nicho de mercado, mas estão impactando todas as áreas da economia. O futuro é agora”, destacou o executivo de negócios da GS1 Brasil, Ricardo Melo, responsável pela organização do evento. Os debates indicaram também que a entidade está alinhada a esta realidade, disponibilizando padrões que

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podem ser incorporados às ferramentas da Indústria 4.0. “Atualmente, a GS1 vem trabalhando com foco em integrar o físico com o digital, criando novas formas de utilizar os padrões, que cumprem as funções de identificar, capturar e compartilhar dados sobre os produtos”, explicou o diretor técnico da GS1 Brasil, Roberto Matsubayashi. Confira um panorama dos cases apresentados no evento, que reuniu um público diverso, entre especialistas e associados da entidade. Logística eficiente Um dos maiores operadores logísticos do País, os Correios têm estrutura para atender 100% dos municípios brasileiros, distribuindo 25 milhões de objetos por dia entre cartas, malotes e encomendas. Para se manter competitivo no mercado – em sintonia com as necessidades da era digital, em que o consumidor demanda serviços com rapidez


Beatriz Ferreira, dos Correios

“Nos Correios, a tecnologia vem gerando a base para a nova onda dos negócios” dentro dos Correios. Tags RFID aplicadas aos malotes, PAC e SeDeX permitirão controle mais preciso dos objetos, dispensando cada vez mais os processos manuais e permitindo o monitoramento automatizado dos itens postais (leia mais sobre o projeto na página 38).

– a empresa possui um conjunto de projetos e investimentos em inovações tecnológicas da Indústria 4.0. “nos Correios, a tecnologia vem gerando a base para a nova onda dos negócios”, afirmou a especialista em governança de TI dos Correios, Beatriz Ferreira. Incorporando a tendência mobile, a empresa utiliza smartphones para apoiar as entregas. Recentemente, lançou o piloto de um aplicativo que contempla realidade aumentada para corrigir as dimensões e o peso das encomendas. Para 2019, está prevista a implementação de data analytics e Big Data. Segundo Beatriz, a aposta também é grande em IoT, com potencial da captura de informações nas lojas dos Correios para identificar o perfil dos clientes e, assim, desevolver ofertas mais assertivas. A principal iniciativa para 2019 refere-se ao uso da tecnologia ePC/ RFID para melhorar o fluxo postal

COnSTRUÇÃO CIVIL O setor de construção civil representa cerca de 7% do Produto Interno Bruto (PIB). Apesar de ser uma área representativa da economia nacional, costuma dar passos lentos no que se refere à aplicação de tecnologias. Mas, aos poucos, vem se abrindo para as inovações da Indústria 4.0, como contou o professor da escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), Fabiano Correa, que conduz pesquisas sobre as novas soluções tecnológicas na área. Segundo Correa, uma das inovações diz respeito à digitalização, que vem acontecendo por meio do uso recente do sistema BIM (Building Information Modeling ou Modelagem da Informação da Construção). Com ele, cria-se uma réplica virtual em 3D de qualquer obra em construção, além da possibilidade de formar um banco de dados com informações de todo o ciclo de vida do empreendimento. O governo tem apoiado a implantação do BIM, tanto que, neste ano, foi publicado o Decreto Federal 9.377,

que institui uma estratégia nacional para sua disseminação. Há também outras iniciativas, como o estudo liderado por Correa com foco na construção de edificações usando Inteligência Artificial e gêmeo digital, por exemplo. “A proposta é automatizar o relatório do andamento da obra para ter informações em tempo real, sem precisar ir até o canteiro fazer essa verificação. É possível instalar sensores RFID para saber sobre o andamento da obra e, assim, ter informações para o nosso sistema BIM”, comentou o professor. A equipe de pesquisa conta com a parceria da empresa Tecverde, de Curitiba (PR). CASA InTeLIGenTe Se o assunto é tecnologia aplicada à construção, a Casae é um bom exemplo. Trata-se de uma casa-conceito de 400 m2, instalada na capital paulista, construída com soluções do portfólio da BASF e com o apoio de mais de 30

Roberto Matsubayashi, da GS1 Brasil

“Foco da GS1 em todo o mundo

é integrar o físico com o digital”

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INOVAÇÃO

parceiros. O espaço, que é aberto para visitação do público em geral, foi concebido com base nos pilares da sustentabilidade, como baixo consumo de energia e água, somadas à eficiência no processo construtivo diferenciado. no projeto, foram aplicados materiais como plásticos, produtos químicos para construção, tintas, vernizes e pigmentos de última geração, além de vários recursos tecnológicos. Segundo o gerente estratégico da construção civil e da Casae da BASF, Giancarlo Tomazim, a casa gera 17% de economia de energia, 64% de redução de consumo de água e 21% menos em manutenção. A cada dois anos, a companhia procura trazer novidades para a edificação. Mais recentemente, em 2017, foram incorporados recursos, como realidade aumentada, realidade virtual, IoT e Inteligência Artificial. “A casa continua sendo ecoeficiente, mas agora promove uma melhor experiência para o visitante com a ajuda da tecnologia”, disse Tomazim. Um exemplo é o aplicativo criado em parceria com a Samsung que, por meio da conexão com beacons espa-

lhados pela casa, fornece informações para os visitantes sobre o ambiente em que está naquele momento. O beacon possibilita a mapear os interesses das pessoas, ajudando a empresa aprimorar as visitas. em parceria com a Telefonica educação Digital, foram desenvolvidos vídeos em realidade aumentada para mostrar as características de um piso drenante instalado em torno da casa. Já a Beca é a assistente cognitiva da BASF com base no Watson, da IBM. O sistema de conversação entende a linguagem natural e é capaz de responder dúvidas dos visitantes. InDÚSTRIA COneCTADA A produção automotiva envolvendo as inovações da Indústria 4.0 foi o tema abordado por José Carlos Franceli, da área de planejamento de logística da Mercedes-Benz. O executivo detalhou como funciona a primeira linha de montagem de caminhões conectada na fábrica de São Bernardo do Campo (SP), apresentada ao mercado em abril deste ano. nesta operação, a empresa utiliza robôs colaborativos, produção integrada, apps para controlar a produção, compliance e segurança de dados, dados na nuvem, impressora 3D, óculos de realidade aumentada, analytics e Big Data. São utilizados AGVs (Automatic Guided Vehicle ou Veículos Guiados Automaticamente), apertadeiras eletrônicas, monitores de TV que dispensam papéis na orienta-

Fabiano Correa, da Poli-USP

“A proposta de nossa

pesquisa é automatizar o relatório do andamento da obra para ter informações em tempo real” ção aos montadores em cada estação de trabalho. Todos os equipamentos possuem sensores, que possibilitam a coleta de dados. As informações vão para um banco de dados, que faz o analytics, e, dessa forma, a equipe consegue tomar decisões com melhor embasamento. A logística foi toda reformulada para otimizar o grande fluxo diário

Giancarlo Tomazim, da BASF

“A CasaE é ecoeficiente e promove uma melhor experiência para o visitante com a ajuda da tecnologia” 62 jul/ago/set 2018 [ BRASIL EM CÓDIGO ]


José Carlos Franceli, da Mercedes-Benz

“A Cultura 4.0 não diz respeito apenas a equipamentos, mas a pessoas preparadas para essa nova realidade” de pessoas e equipamentos. Assim, os 53 pontos logísticos instalados dentro da fábrica foram concentrados em seis. Os armazéns também contam com tecnologias 4.0, como RFID. e nos processos de armazenagem e picking, o papel foi abolido, dando lugar ao tablet. Outra iniciativa considerada como uma das chaves para sucesso são os testes de produtos conhecidos como

POC (Proof of Concept), que permitem experimentar as soluções tecnológicas em menor escala, para depois ampliar a produção rapidamente. Para atuar nessa nova realidade, a Mercedes-Benz investiu em treinamentos para toda a equipe. “A Cultura 4.0 não diz respeito apenas a equipamentos, mas a pessoas preparadas para essa nova realidade”, ressaltou Franceli. 7 898357 410015

PRIVACIDADE DE DADOS “Sem dados as empresas não sobreviverão nos próximos anos e não teremos transformação digital.” O alerta foi de um dos maiores especialistas em direito digital do Brasil, Renato Opice Blum, do Opice Blum, Bruno, Abrusio e Vainzof Advogados Associados, que fez uma palestra no Summit 4.0. nesse cenário, é preciso considerar a coleta, o tratamento e o armazenamento de dados pessoais. O tema é de interesse de empresas de todos os setores e portes, especialmente com a recente aprovação da Lei Geral de Proteção de Dados, a LGPD (leia mais na página 30). “As empresas têm grande dificuldade para protegerem os dados. Mas as punições já acontecem hoje por algumas penalidades previstas no Marco Civil da Internet e, futuramente, pela LGPD”, disse. ele chamou a atenção para o impacto das novas tecnologias em relação à segurança de dados. A Inteligência Artificial e a IoT, por exemplo, envolvem o uso de dados de forma profunda, dinâmica e intensa. Portanto, é fundamental considerar alguns riscos, desde um funcionário deletar dados importantes até uma invasão de sistema. “É preciso que as empresas promovam a educação digital corporativa e invistam no monitoramento de sistemas.”

Renato Opice Blum, especialista em direito digital

“Empresas têm grande dificuldade para protegerem os dados ”

[ BRASIL EM CÓDIGO ] jul/ago/set 2018 63


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VITRINE DE SOLUÇÕES TENDÊNCIAS E NOVIDADES EM AUTOMAÇÃO

Seguindo a tendência de automação das compras no varejo e a evolução no perfil dos consumidores, a Perto, empresa gaúcha que atua nos segmentos de automação bancária, autoatendimento, automação comercial e de meios de pagamento, desenvolveu uma linha de Self-Checkout. O equipamento possui módulo de pagamento e troco com cédulas e moedas com reciclador incluído, o que garante facilidade e autonomia na operação. A empresa recomenda instalar o equipamento formando ilhas com quatro a seis terminais, com um atendente para auxiliar na operação. A Perto disponibiliza os modelos SC-100 e SC-50, que apresentam configurações específicas de acordo com a necessidade da loja. www.perto.com.br

Tarefa feita

Monitoramento de cargas A provedora de soluções ITS apresenta o MCS – Monitoramento de Cargas Sensíveis, uma plataforma de Internet das Coisas (IoT), hospedada em nuvem, que permite monitorar as condições ambientais de transporte e armazenagem de cargas sensíveis (flores, animais, alimentos, farmacológicos, etc.), como variação térmica, nível de radioatividade, qualidade do ar e umidade. Possui recursos de visualização em tempo real, emissão de relatórios e integração com outros sistemas. Sensores são instalados no veículo frigorificado e os dados são transmitidos em tempo real. As informações dos sensores podem ser combinadas com regras definidas pela empresa, resultando em ações, como ligar a refrigeração, entre outras. www.itsco.solutions 64 jul/ago/set 2018 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

Task é a novidade da RP Info, empresa que desenvolve sistemas de gestão para supermercados, atacados e centrais de compras. A solução faz a automação dos processos operacionais de loja, como remarcação, auditorias, reposições e transferência de produtos, oferecendo informação em tempo real aos gestores e operadores. Com uma simples interface, integra os vários sistemas do estabelecimento, contribuindo para aumentar a produtividade das equipes, retirando do papel os afazeres diários e colocando-os em meio eletrônico (aplicativo Android) na forma de tarefas para serem executadas. Segundo a empresa, a solução é destinada ao setor de supermercados, porém pode ser aplicada também em outras áreas do varejo e atacarejo. www.rpinfo.com.br

Fotos/Imagens: Divulgação

Automação no PDV



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Padrão de qualidade

Valor estratégico

‘ Virginia Vaamonde,

CEO da GS1 Brasil

Cada vez mais as empresas estão utilizando os dados de forma inteligente para definir os rumos dos negócios

Neste momento em que a transformação digital está em curso em companhias de todo o mercado, a informação ganha valor estratégico para os negócios. Dados de alta qualidade e uma análise assertiva são essenciais para ganhar eficiência em todos os processos da cadeia de abastecimento. Do lado dos consumidores, eles também precisam de informações confiáveis para realizarem suas compras. O dado é a informação básica para qualquer atividade, mas ter a disponibilidade não garante a assertividade da informação. Com uma solução de Big Data, por exemplo, é possível fazer um tratamento e uma abordagem do constante crescimento e complexidade dos dados. Nesse sentido, este conceito envolve 5 Vs: volume, velocidade, variedade, veracidade e valor. No caso do volume, é preciso verificar: a informação é suficiente para representar o todo? Em relação a velocidade, a questão é: com que frequência a empresa tem a informação atualizada? Pensando na variedade, é preciso questionar: a informação cobre todas as variáveis? Já no que diz respeito à veracidade, é importante avaliar se a informação é confiável e checar as fontes utilizadas. Por fim, em relação ao valor, a ideia é analisar se as informações têm alguma relevância para a companhia. Portanto, para que o dado contribua de fato para análises robustas, é preciso qualificá-lo. Assim, ele pode transformar-se em conhecimento útil, agregando inteligência ao negócio, possibilitando encontrar soluções para os problemas e, assim, atingir melhores resultados. A GS1 Brasil vem trabalhando com o foco voltado para a qualidade de dados, pois entende que, atualmente, é essencial que as empresas tenham um cadastro de produtos bem estruturado com informações padronizadas, corretas, atualizadas e compatíveis com as várias regras do mercado. Um estudo da GS1 apontou que os setores alimentício, indústria e saúde adotam ações diferenciadas para garantir a qualidade da informação. Quase 90% das empresas da área de alimentos têm o controle da data de fabricação e validade dos produtos. No setor de saúde, 87% fazem a rastreabilidade dos itens caso seja necessário seu recolhimento. Além disso, 56% das indústrias já identificam qual lote é enviado para cada distribuidor. O uso de padrões globais ajuda as empresas, independentemente do setor de atuação, nesta empreitada, dando ferramentas para construir uma base sólida de informações e, consequentemente, incrementar as transações comerciais. O código de barras é apenas o passo inicial nesse processo. Há outras soluções que a GS1 disponibiliza para ajudar a evoluir na escala de padronização das informações. Em um cenário de mudanças tão profundas dessa era digital, a maioria das empresas e profissionais ainda está aprendendo como usar as informações de forma inteligente para, justamente, extrair valor dos dados a ponto de impactar os rumos da companhia. Nesse sentido, você já pensou como garantir a qualidade dos dados inerentes ao negócio da sua empresa?

66 jul/ago/set 2018 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

Foto: Paulo Pepe

O dado pode transformar-se em conhecimento útil, agregando inteligência ao negócio e possibilitando atingir melhores resultados


ESPAÇOS GS1 BRASIL

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE AUTOMAÇÃO

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