Revista Brasil em Código 24ª Edição

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EDIÇÃO 24

BRASIL EM

BRASIL EM CÓDIGO • GS1 Brasil – Associação Brasileira de Automação

Uma publicação da GS1 Brasil – Associação Brasileira de Automação • abr/mai/jun 2017 • www.gs1br.org

EDIÇÃO 24

CÓDIGO

CONEXÃO PARA O

FUTURO Sua empresa está preparada para se tornar competitiva em um mundo conectado? Confira as tendências que vão impactar os rumos dos negócios no Brasil em Código – Conferência Internacional da GS1 Brasil

TENDÊNCIA

ECONOMIA COMPARTILHADA CRESCE NO PAÍS APOIADA NA TECNOLOGIA



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AO LEITOR

Foto: Paulo Pepe

Empresas e pessoas conectados Estamos vivenciando uma era de profundas mudanças econômicas, políticas e tecnológicas, que têm gerado forte impacto nos hábitos dos consumidores, no sistema de produção do mercado e nos modelos de negócios das empresas. Esta edição apresenta uma boa reflexão sobre essas transformações que estão em curso. A começar pela matéria de capa, que antecipa o clima de um dos principais eventos promovidos pela nossa entidade, o Brasil em Código – Conferência Internacional da GS1 Brasil, que será realizado em 29 de junho, em São Paulo (SP). Nesse encontro de líderes da cadeia de suprimentos, a conectividade será o pano de fundo para abordar os desafios com os quais as empresas têm se deparado atualmente. Dessa forma, a sétima edição da conferência traz uma ampla e diversificada visão das principais tendências da era digital. Convidamos renomados especialistas e profissionais para conduzir o público por uma série de reflexões e novos paradigmas do mundo corporativo. O CEO da Inova Consulting e da Inova Business School, Luis Rasquilha, apresentará as principais tendências em inovação. O head de marketing da 3M, Luiz Eduardo Serafim, fará sua contribuição falando a respeito da importância da formação de redes internas de conhecimento entre os colaboradores. Já o vice-presidente de marketing e assuntos corporativos da Samsung América Latina, Mario Laffitte, compartilhará as experiências da companhia nas áreas de realidade aumentada, realidade virtual e Internet das Coisas. Com uma boa dose de humor, o empreendedor e comediante Murilo Gun explicará o conceito life as a service. O comércio eletrônico será o tema abordado pelo COO do Mercado Livre, Stelleo Tolda. E Miguel Nicolelis, considerado um dos 20 maiores cientistas da atualidade, contará sobre suas sofisticadas pesquisas científicas que exploram a relação cérebro-máquina, conduzidas no Brasil e nos Estados Unidos, que têm contribuído para a recuperação de pacientes paraplégicos. Esta edição traz ainda duas reportagens que exploram as novas tendências de negócios. Em uma entrevista exclusiva, a empresária e professora da ESPM Marina Pechlivanis apresenta o conceito de economia das dádivas, que incentiva um sistema de lucratividade responsável entre as empresas, fazendo com que as metas comerciais também considerem valores éticos, sociais e ambientais. Na mesma linha, e de maneira complementar, a reportagem sobre economia colaborativa ou compartilhada reflete sobre o nascimento de um novo modelo econômico que valoriza mais a experiência e a interação entre as pessoas do que a posse de um produto. Essas são informações que podem servir como guia para as empresas que desejam se perpetuar no mercado.

Um forte abraço, João Carlos de Oliveira presidente


[EXPEDIENTE

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Conheça as tendências que vão transformar os negócios A revista Brasil em Código é uma publicação trimestral da GS1 Brasil dirigida e distribuída gratuitamente aos seus associados, aos parceiros e à comunidade de negócios. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores e não representam a opinião da entidade e da editora.

GERENTE DE MARKETING E SUSTENTABILIDADE Frederico Bellini COORDENAÇÃO DA REVISTA Andréa Palmer GS1 BRASIL Rua Henrique Monteiro, 79 Pinheiros – 05423-020 – São Paulo Telefone: (11) 3068-6229 www.gs1br.org REDES SOCIAIS facebook.com/gs1brasil www.linkedin.com/company/gs1-brasil www.youtube.com/gs1brasil www.flickr.com/gs1brasil FALE COM A REDAÇÃO revista@gs1br.org PRODUÇÃO EDITORIAL E GRÁFICA G&T Comunicação Ltda. Telefone: (11) 2503-4618 redacao@gtcomunica.com.br EDITORA Denise Turco – MTB 43.537 EDITORA-ASSISTENTE Kathlen Ramos REVISÃO Tami Buzaite FOTOGRAFIA Paulo Pepe CAPA Marcelo Gorzoni ARTE Adriano Cristian Fernandes COLABORAÇÃO Ana Paula Garrido, Camila Guesa, Flávia Corbó, Katia Simões e Ticiana Werneck (texto) IMPRESSÃO Referência Gráfica TIRAGEM 3 mil exemplares


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SUMÁRIO

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48 6 CURTAS 12 INOVAÇÃO 36 EMPREENDEDORISMO 42 EMBALAGEM 44 JOGO RÁPIDO 46 RECURSOS HUMANOS 52 PERFIL 54 DESCONEXÃO 56 RADAR 58 SAÚDE 64 VITRINE DE SOLUÇÕES 66 PADRÃO DE QUALIDADE

CAPA Brasil em Código - Conferência Internacional da GS1 Brasil chega à sua sétima edição apresentando os novos rumos na era da conectividade, com impactos nos negócios e no comportamento das pessoas

ENTREVISTA A professora da ESPM Marina Pechlivanis aborda o conceito de economia das dádivas

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DIGITAL As vantagens e os

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MERCADO As oportunidades

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NEGÓCIOS GS1 Brasil marca presença

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GESTÃO Dicas para o pequeno varejo

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TECNOLOGIA Cresce o uso de

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cuidados ao fazer parcerias com influenciadores digitais

para pequenas e médias empresas investirem em exportação

na APAS Show 2017, destacando a importância de manter um bom cadastro de produtos

aplicar o gerenciamento por categoria

chatbots, robôs inteligentes que assumem as funções de assistentes virtuais

TENDÊNCIA Saiba mais sobre a economia compartilhada, que ganha força no País


[CURTAS

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Hora de erguer o troféu

Programe-se: Prêmio Automação Data: 7 de novembro, às 19h00 Local: Tom Brasil, São Paulo (SP) Inscrições de cases e informações: www.premioautomacao.com.br

Conexão Portal GS1 Brasil Comunicação digital Os blogs se tornaram uma das ferramentas de comunicação mais populares da internet. Muitas companhias têm utilizado essa plataforma para se relacionar ou transmitir informações e opiniões aos seus públicos interno e externo. A GS1 Brasil não ficou de fora dessa tendência e desenvolveu o seu canal. No blog da entidade, os associados e demais interessados podem acompanhar, diariamente, textos dinâmicos contemplando dicas e soluções que podem ajudar na gestão e contribuir para a inovação dos processos. Os empreendedores que buscam otimizar a automação de seus negócios também se mantêm informados sobre os últimos padrões e soluções da GS1. Acesse: blog.gs1br.org

Para mais informações

www.gs1br.org

6 abr/mai/jun 2017 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

Imagem: GS1

Os preparativos para a principal premiação da área de automação já estão a todo vapor. O Prêmio Automação chega à sua vigésima edição neste ano, destacando o trabalho de empresas que utilizam as soluções e os padrões GS1 para melhorar a produtividade e a eficiência de suas operações. Em 2017, serão premiados cases em quatro categorias: Educação, Sustentabilidade, Negócios e Imprensa.


Convidados especiais

Fotos: Divulgação

Entre os meses de março e maio, o Centro de Inovação e Tecnologia (CIT), da GS1 Brasil, recebeu a visita de 148 estudantes das Escolas Técnicas Estaduais (ETECs), do Centro Paula Souza, advindos dos cursos de administração, eletrônica e informática, e 23 alunos da Fundação Getulio Vargas (FGV), dos cursos da área de saúde. “O objetivo dos encontros é levar o conhecimento dos padrões globais para os estudantes, que serão os profissionais e formadores de opinião do futuro”, afirma Luiz Renato Martins Costa, da equipe de educação da GS1 Brasil.

Inteligência artificial Um grupo de 16 empresas com atuação na área de inteligência artificial acaba de anunciar a criação da primeira entidade representativa do setor: a Associação Brasileira de Inteligência Artificial (ABRIA). O grupo reúne startups e empresas já consolidadas na área. Na avaliação do presidente da ABRIA, Yan Di, a criação da associação permitirá acelerar a adoção de plataformas de inteligência artificial que melhorarão a produtividade da economia brasileira. “Estudos internacionais indicam que a aplicação desse tipo de solução gera, em média, um aumento de 40% na produtividade das empresas que o adotam. Em segmentos como o varejo, por exemplo, esse ganho chega a 60%”, afirma.

Seguindo a tendência de melhora de indicadores como o Produto Interno Bruto (PIB), produção industrial e controle da inflação, o consumo apresentará números positivos, sem, no entanto, superar patamares da bonança econômica, segundo estudo da Kantar Worldpanel em parceria com o IBOPE DTM. Após cair 7,4% em volume em 2015, as compras dos lares brasileiros cresceram 2,6% em 2016, mesmo patamar alcançado em 2012. Para este ano, o aumento deve ficar na casa de 1,7%, positivo, porém longe dos 4,2% registrados em 2014. O levantamento indica que a cesta de limpeza deve apresentar o melhor desempenho em 2017 e o atacarejo continuará se destacando entre os canais de compra.

Fotos/Imagens: Thinkstock

Previsão de alta no consumo

[ BRASIL EM CÓDIGO ] abr/mai/jun 2017 7


CURTAS

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Foto: CPB

A GS1 Brasil promoveu um encontro com representantes de universidades, consultorias, indústrias e empresas fornecedoras de soluções para discutir frentes estratégicas para a aplicação de Internet das Coisas (IoT) nos negócios. A motivação para a realização do evento, que ocorreu em abril na sede da entidade, é o Plano Nacional de Internet das Coisas, que o governo federal deve lançar no segundo semestre. Essa política pública está sendo discutida pela Câmara de IoT, fórum multissetorial criado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) para promover o desenvolvimento de soluções de IoT no País. A iniciativa da GS1 Brasil não tem relação direta com os trabalhos do órgão federal, mas a proposta é aprofundar o debate sobre o tema e, a partir daí, apresentar sugestões para a Câmara de IoT, da qual a entidade faz parte. “Com os padrões, a GS1 Brasil se propõe a trabalhar na interoperabilidade de produtos conectados para maximizar o uso da tecnologia em toda a cadeia de suprimentos”, diz o diretor da entidade, Roberto Matsubayashi.

Foto: GS1 Brasil

IoT em pauta

Ritmo de vitórias O Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro, localizado na zona sul de São Paulo (SP), sediou o Open Internacional Loterias Caixa de atletismo e natação, entre 21 e 23 de abril. O espaço recebeu grandes nomes do esporte paralímpico nacional e de sete países, que disputaram medalhas na competição, que faz parte do calendário oficial do Comitê Paralímpico Internacional. O nadador Daniel Dias, patrocinado pela GS1 Brasil e maior medalhista do País, surpreendeu com ótimos resultados, recebendo ouro nos 50m livre, 100m livre e 50m costas. Já no Circuito Brasil Loterias Caixa – 1ª Fase Nacional, realizado em São Paulo, o rendimento do atleta foi similar. A medalha do ouro foi garantida para as categorias 200m livre, 50m livre e 50m costas. Entre 9 e 11 de junho, Daniel Dias competiu no Para Swimming World Series, em Indianápolis, Estados Unidos, e ganhou medalha de ouro em três modalidades. Agora a torcida fica para as próximas competições. Em agosto, entre os dias 3 e 6, o nadador participará do Circuito Brasil Loterias Caixa – 2ª Fase Nacional, na capital paulista. Para saber mais sobre a agenda do atleta, acompanhe o site: www.gs1br.org/danieldias

8 abr/mai/jun 2017 [ BRASIL EM CÓDIGO ]


Profissionais capacitados Em maio, a GS1 Brasil e a Associação Nova Projeto, ONG dedicada a programas socioeducativos para pessoas com deficiência intelectual, promoveram a formatura da 41ª turma dos cursos Práticas Administrativas e Práticas no Varejo. Na ocasião, 12 jovens receberam o certificado de conclusão desses treinamentos, que visam a capacitação profissional e a inclusão no mercado de trabalho. A parceria entre as entidades começou em 2003 e faz parte do Programa Sustentabilidade em Código, da GS1 Brasil. Nesses 14 anos, já foram contabilizadas 482 pessoas qualificadas, das quais 80% entraram no mercado de trabalho e 46 estagiaram na GS1 Brasil. Mais informações em: www.novaprojeto.com.br e www.gs1br.org/sustentabilidade.

Espaço para inovação O SENAI-SP está criando as minifábricas e o Open Lab, espaços que prometem ampliar conhecimentos, experiências e contribuições para o setor têxtil. O projeto é feito em parceria com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT) e algumas empresas da área, como Mimaki, Igus, Audaces, entre outras. “As minifábricas servem de plataforma de tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e inovação para a cadeia têxtil, moda e confecção. O objetivo é tornar a cadeia mais ágil, versátil e integrada, sempre orientada pelo consumo e pela inovação”, explica o diretor do SENAI-SP, Marcelo Costa. Com o sistema Purchase Activated Manufacturing (PAM), que consiste na produção ativada pelo consumidor, as minifábricas vão colocar a manufatura na era da internet e fazer com que o cliente final seja criador e usuário do sistema de produção. As minifábricas e o Open Lab têm inauguração prevista para o segundo semestre, na unidade Francisco Matarazzo do SENAI, na capital paulista.


CURTAS

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Barreira dos juros As altas taxas de juros cobradas pelas instituições financeiras são o principal motivo para que as empresas dos ramos do comércio e serviços não busquem crédito para investir em seus negócios. A constatação é de uma pesquisa feita pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) com empresários de todos os portes nas 27 capitais. Entre aqueles que nunca recorreram a empréstimos e financiamentos, 38% atribuem a decisão ao fato de considerarem os juros elevados, 44% conseguem manter a operação da empresa com recursos próprios e 12% destacam a burocracia na aprovação de um empréstimo.

Conforto nos automóveis

Fotos/Imagens: Thinkstock

Quando o assunto é carro, o consumidor brasileiro é o que mais valoriza a presença de tecnologias de assistência ao motorista, como sensores de estacionamento, sistemas de controle de velocidade e acionamento de motor sem uso de chaves, revela pesquisa da GfK realizada em 17 países. No Brasil, tal conjunto de atributos foi considerado muito importante por 48% dos entrevistados. O segundo lugar da lista ficou com a China (43%) e o terceiro, com a Coreia do Sul (42%). A média global ficou em 36%.

Atenção para as gôndolas A ruptura, indicador que mede a falta de produtos nas gôndolas dos supermercados, teve aumento recorde em 2017 e chegou a 13,93% em abril. É o maior registro desde que o índice começou a ser divulgado pela NeoGrid/Nielsen, em 2015. O resultado pode estar relacionado a diversos fatores, como: redução da oferta de itens pelas lojas, diminuição de estoques no varejo, redução na produção de alguns produtos pela indústria e atitude do consumidor, que procurou mais produtos em oferta e trocou as marcas normalmente consumidas.



[INOVAÇÃO

Foto: Paulo Pepe

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Em busca da excelência Da Redação

Centro de Inovação e Tecnologia (CIT) da GS1 Brasil ganha duas novas soluções que demonstram como facilitar o atendimento ao cliente e a gestão dos negócios Com o objetivo de estimular o uso da automação entre as empresas e disseminar o conhecimento sobre inovação, a GS1 Brasil se preocupa em apresentar constantemente novidades em seu Centro de Inovação e Tecnologia (CIT), por meio de parcerias com importantes fornecedores do mercado. A ideia é demonstrar soluções que ajudem a atender bem o cliente e atingir a excelência na gestão. Foi com esse foco que recentemente o CIT, instalado na sede da entidade, na capital paulista, ganhou duas novas soluções direcionadas ao varejo: o Self Checkout, da Consinco, e o RUB, da GIC.

12 abr/mai/jun 2017 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

O Self Checkout é um modelo de caixa inteligente de autoatendimento que permite ao cliente realizar, sozinho, todas as etapas da compra numa loja, desde pesar os produtos e registrar os códigos de barras no leitor até efetuar o pagamento. A Consinco aposta nos terminais de self checkout para mudar a experiência de compra dos consumidores, que querem, cada vez mais, praticidade, eficiência e qualidade no atendimento. Apesar de ser uma desenvolvedora de sistemas de gestão (ERPs) para o atacado e varejo alimentar, a Consinco buscou um player de hardware brasileiro para criar uma solução completa.

Assim, para lançar o Self Checkout, estabeleceu uma parceria com a Laurenti, líder em ATM bancário na América Latina. Pelo fato de ser um equipamento fabricado no Brasil, foi possível eliminar os custos de importação e facilitar a manutenção para as empresas usuárias. “O Self Checkout é uma solução que dá autonomia para o consumidor e reduz em 30% a espera na fila do supermercado. O principal benefício é ter o caixa inteligente disponível durante todo o tempo em que a loja está aberta, além de mostrar que o estabelecimento investe em inovação”, afirma a gerente de marketing da Consinco, Fabiana


Ribeiro. A empresa já implementou 80 equipamentos de self checkout no País, e prevê a instalação de mais 50 até o final do primeiro semestre. O equipamento é destinado para estabelecimentos de médio e grande porte. A orientação da companhia é instalar de quatro a seis equipamentos por loja. “Hoje, o investimento em tecnologia é estratégico. É fundamental que o varejo se preocupe, além da gestão do negócio, com inovação, produtividade e competitividade, principalmente no cenário atual”, ressalta Fabiana. Pensando nisso, a exposição do equipamento no CIT vem em boa hora. “É importante estarmos juntos da GS1, que é uma associação de nível global e com muita força no Brasil, a fim de mostrar a nossa marca para os supermercados e também para outros segmentos que possam adotar a automação comercial”, conclui Fabiana. VISIBILIDADE A GIC, empresa brasileira de consultoria, desenvolvimento de softwares e prestação de serviços que otimizam os processos de operação do varejo, leva para o CIT a solução RUB, já utilizada em 500 lojas das principais redes supermercadistas que atuam no País.

Foto: Divulgação

Caixa inteligente Consinco aposta nos terminais de self checkout para mudar a experiência de compra do consumidor

Trata-se de um sistema de gestão de loja que funciona a partir de um aparelho móvel com leitor de código de barras e tecnologia wireless para automatizar o deslocamento dos produtos e gerenciar os colaboradores envolvidos em todo o processo – recebimento de mercadorias, auditoria de etiquetas de preços, inventário, controle de data de validade, etc. A solução oferece informações detalhadas sobre estoque, localização e valor dos produtos, permitindo aos gestores ter uma visão precisa do fluxo das mercadorias. “Com o RUB, é possível, por exemplo, identificar se o item está exposto ou em estoque, visualizar com precisão os problemas e determinar as tarefas a serem feitas, como repor determinada mercadoria na gôndola”, explica o diretor operacional da GIC, Ivan Fernandes. A solução possibilita controlar a operação de loja, diminuir a ruptura de exposição, validar preços, aumentar a produtividade dos

colaboradores e, logo, melhorar a experiência para o consumidor final. Para se ter uma ideia dos resultados, a rede Assaí Atacadista diminuiu a ruptura de gôndola de 18% para 4,5% utilizando essa solução. “A GIC atende grandes redes do varejo, mas tem planos de tornar o RUB mais acessível para as empresas de menor porte”, revela Fernandes. Mas a tecnologia não anda sozinha. Fernandes destaca a importância de promover a capacitação dos colaboradores do varejo. Nesse sentido, a parceria com a GS1 Brasil é bastante produtiva. “Além de ser regulamentadora do uso dos códigos, criando um padrão em toda a cadeia de suprimentos, a entidade nos ajuda a educar os usuários na utilização de ferramentas de automação. A parceria da GIC com a GS1 no CIT é fundamental para a evolução do varejo, que possui 80 mil supermercados no País, mas ainda é carente em termos de capacitação.”

Fotos: Paulo Pepe

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Sistema funcional A solução RUB, da GIC, fornece informações gerenciais para operação de supermercados [ BRASIL EM CÓDIGO ] abr/mai/jun 2017 13


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[ENTREVISTA

Lucratividade responsável Por Kathlen Ramos

A empresária Marina Pechlivanis incentiva um sistema no qual as metas comerciais das empresas também considerem valores éticos, sociais e ambientais

Por trás do perfil suave e delicado de Marina Pechlivanis está uma grande idealizadora que traz um novo modelo de pensar e fazer negócios. Por meio do livro Economia das Dádivas – O novo milagre econômico (Editora Alta Books), lançado em 2016, a autora mostra às empresas uma visão holística para estabelecer relações sustentáveis e eficientes com marcas, culturas e pessoas, inspirada em conceitos da sociologia e da antropologia. A economia das dádivas considera que valores sociais, ambientais, éticos e credibilidade são pilares fundamentais em todos os níveis de troca, atendendo a uma demanda do próprio mercado consumidor, muito mais crítico, e que deseja cada vez mais se relacionar com marcas responsáveis. “O papel da economia das dádivas está em planejar o “dar-receber- retribuir” objetos, experiências, serviços e sensações do mundo corporativo de forma mais equilibrada e sustentável, sem deixar de divulgar marcas e fazer bons negócios”, esclarece a autora.

14 abr/mai/jun 2017 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

Com mais de 25 anos de experiência nas áreas de planejamento, criação e novos negócios, Marina é sócia-fundadora da Umbigo do Mundo, agência de comunicação integrada criada em 1999, e sócia da UDM&Co Projetos para Comunicação Eficiente, consultoria para negócios alicerçada em relações de troca. Também é mestra em Comunicação e Consumo pela ESPM, onde é responsável pelo curso “Gifting”, o estudo que estrutura políticas de troca em todas as plataformas de comunicação corporativa, definindo parâmetros de valor e métricas de circulação. A seguir, confira os principais trechos da entrevista. BRASIL EM CÓDIGO Qual o conceito da economia das dádivas, tema de seu livro? MARINA PECHLIVANIS O livro tem como norte conceitual e metodológico o estudo das trocas que se efetivam no mundo da economia e das relações sociais. No conceito de Gift Economy – traduzido como economia do dom,

das dádivas, dos presentes, da doação ou do compartilhamento –, para além das coisas trocadas, são consideradas e valoradas as relações de troca estabelecidas, modificando a visão mercantil de lastros econômicos para atos recíprocos e afetivos. Essa lógica vale para objetos e serviços, mas serve também para favores, elogios e indicações. Nessas relações recíprocas, que promovem os valores humanos, são fortalecidas a confiança, a ética e a credibilidade. No livro, o exercício foi transformar o conceito em método, despertando para uma série de processos que ocorriam de maneira informal no mundo dos negócios e que, nos últimos anos, vêm adquirindo uma condução mais organizada e engajada. Por exemplo: como as trocas são efetivadas? O que de mágico existe em um modelo quase automático de “dar-receber-retribuir” que funciona desde os primórdios da sociedade até hoje? Qual é o poder dessas trocas, a ponto de gerarem poderosos vínculos entre pessoas, objetos e entidades?


Fotos:Paulo Pepe

“Estamos em uma era de questionamento de valores, com limites confusos pela falta de parâmetros de certo ou errado, de bom ou ruim, de justo ou injusto”


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ENTREVISTA

BC Hoje, quais são as principais dádivas de uma empresa? MP A resposta está em repensar os vínculos de confiança e credibilidade entre pessoas e empresas. Quais são os verdadeiros valores? Que vínculos a sociedade quer formar e com quem? Essa reciprocidade indireta está presente não apenas nas relações familiares e de cooperativas, mas nas atitudes de adoção, doação e compartilhamento – de tempo, dinheiro, objetos, órgãos, conhecimento ou experiências. Atuar sobre essas trocas de forma planejada e estratégica traz vantagens competitivas para as marcas e cria vínculos mais efetivos. Essas trocas criam uma nova economia na qual circulam não apenas dinheiro, mas emoções, interesses, desejos e sonhos de um mundo melhor. Neste raciocínio, dádiva é o que a marca tem de mais valioso: sua história, legado, dons, talentos e emoções que gerou nas pessoas com quem se relacionou e a diferença que fez e faz para as pessoas e para o mundo. BC Quais os riscos futuros para as empresas que continuam apenas pensando nos lucros e se relacionando com seus clientes pela entrega comercial? MP Não adianta lançar uma nova fórmula para resolver todos os problemas do mundo se as pessoas têm entendimentos distintos sobre o real sentido das coisas. O segredo do sucesso está em compartilhar; ninguém ganha sozinho. Juntos, podemos gerar boas fórmulas para reenergizar as relações de troca propostas pelo mercado. Eis o desafio: fazer bons negócios, ajudar o próximo e melhorar o mundo.

16 abr/mai/jun 2017 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

BC Diante do conceito da economia das dádivas, você acredita que o sistema capitalista passa por uma fase de transição ou atualização de conceitos? MP Quando se fala em economia das dádivas, as opiniões são diversas. Alguns propõem o término do sistema capitalista sem considerar a melhora das condições de vida, com acesso à saúde, alimentação, habitação e educação, entre outros, que o sistema proporcionou – algo nunca visto na história da humanidade. Outros defendem o fim do dinheiro em prol de uma sociedade mais harmoniosa, como se fosse fácil reorganizar o mundo globalizado da noite para o dia. Há também quem idealize um mundo de altruístas, uma sociedade em que todos têm a mesma percepção de bondade e gentileza, assim como podem e querem doar para o próximo, em busca de uma utópica equanimidade social. O

que proponho é um caminho do meio, como inscrito no milenar Oráculo de Delfos, um modelo perfeito para as questões de abuso, desuso e mau uso do capitalismo: “nada em excesso”. BC Como é possível fazer negócios usando esses ideais? MP Um case de sucesso que mostra como esse conceito pode ser aplicável é o da Colgate Palmolive, por meio do projeto “Turning Packaging into Education/ Myanmar”, que levou a comunidades carentes em localidades rurais remotas de Mianmar ilustrações explicativas sobre como escovar os dentes, impressas nas caixas de embarque dos produtos, que seriam descartadas, levando em consideração que a mídia convencional e as redes sociais não chegam até essas pessoas. Os comerciantes locais foram instruídos a armazenar essas embalagens e a levá-las para as escolas e centros comunitários.


“Dádiva é o que a marca tem de mais valioso: sua história, legado, dons, talentos e emoções que gerou nas pessoas”

O que receberam em troca pelo engajamento? A possibilidade de melhorar as estatísticas de higiene bucal na região. BC Você acredita que grandes empresas podem adotar essa nova relação de negócios a curto prazo? MP Muitas empresas desperdiçam grandes quantias de dinheiro investindo em ações de comunicação e relacionamento genéricas, que falam a mesma coisa para todos ou que falam o que as outras marcas já estão falando. O segredo para ser percebido e reconhecido como alguém que tem interesse em compartilhar e trocar (produtos, histórias, conhecimentos, know-how, soluções, etc.) com base na economia das dádivas é ter um território de marca claro e objetivos reconhecíveis. Apenas dessa forma pode haver aceitação e geração de valor entre players de mercado, integrando o sistema de crenças e valores de todos os que se relacionam com a empresa: consumidores, fornecedores, funcionários, colaboradores, advogados da marca, semeadores, early adopters, fãs, críticos, prospects. Lucro social agora virou condição sine qua non de existência de um negócio, independentemente do tamanho da empresa — seja uma startup ou uma gigante multinacional.

BC Quais são os benefícios da economia das dádivas para pequenas e médias empresas? MP Inúmeros, especialmente porque o tamanho da empresa é menos importante que a sua vontade de fazer a diferença. Há excelentes projetos vindos de startups que os aplicaram na prática, mensurando os resultados financeiros, sociais, culturais e educacionais. Por outro lado, há empresas gigantes e que poderiam investir recursos (tempo, dinheiro, talentos, know-how) em projetos vinculados às novas economias, mas que possuem estruturas limitadas na abertura para o novo, no olhar para o entorno e na aferição de resultados sociais, por vezes mais subjetivos e de longo prazo. BC Como a economia das dádivas se torna estratégica num momento de crise econômica, como o vivenciado no Brasil? MP Estamos em uma era de questionamento de valores, com limites confusos pela falta de parâmetros de certo ou errado, de bom ou ruim, de justo ou injusto. Todo mundo, cada qual em seu sistema de crenças, quer saber “onde iremos parar e por que estamos indo assim”. Essa instabilidade é um território frutífero para se gerar um novo panorama, no qual princípios

humanitários como respeito ao próximo, gentileza, reciprocidade, doação e generosidade, entre outros, podem ser soluções viáveis para um mundo melhor, descentralizando a autoridade pública como geradora única do bem-estar social e transferindo para o indivíduo, como pessoa física ou pessoa corporativa, o papel de agente transformador para um novo ambiente. Talvez esta seja a forma mais forte de geração de vínculos entre pessoas. E, por que não, entre marcas e pessoas. BC Você acredita que a economia das dádivas é a economia do futuro? MP Apesar de ser a mais arcaica de todas as formas de troca, a Gift Economy é um assunto extremamente contemporâneo e relevante. Muita gente pratica e não sabe; outros deveriam praticar, mas não fazem ideia de como. Passou pelas mãos de antropólogos, sociólogos e filósofos; foi deixada de lado pelos economistas e financistas, provavelmente por desconhecimento de seus fundamentos associados à eficiência. Possivelmente, mais que um modelo econômico, é uma forma atualizada de fazer negócios buscando alguns valores humanos que ficaram esquecidos por conta da primazia dos valores monetários. 7 898357 410015

[ BRASIL EM CÓDIGO ] abr/mai/jun 2017 17


Imagens: Thinkstock

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[ CAPA

Expandindo os limites


Por Denise Turco

As mudanças culturais e a evolução tecnológica são as novas dimensões da era conectada apresentadas no Brasil em Código – Conferência Internacional da GS1 Brasil

Uma das mais importantes invenções recentes do homem, que mudou a lógica da sociedade e do mundo corporativo, foi a chegada do smartphone em 2007, inaugurando uma era de funcionalidades e aplicativos que hoje, uma década depois, estão totalmente incorporados ao dia a dia das pessoas. Paralelamente, ocorreu a democratização do acesso à internet e a facilidade de navegação na rede. O smartphone engajou o comportamento conectado, influenciando o relacionamento entre as pessoas e os negócios das empresas, iniciando a quarta revolução industrial, que trouxe consigo muito mais: inteligência artificial, impressão 3D, machine learning, realidade virtual e realidade aumentada, explica Luis Rasquilha, especialista internacional em futuro, tendências e inovação, e CEO da Inova Consulting e da Inova Business School. “Tudo isso está evoluindo de maneira muito rápida”, analisa. Na era da conectividade, na qual as informações estão cada vez mais

acessíveis graças aos devices, às redes sociais e ao e-mail, a produção de conhecimento cresce em larga escala, e a interconexão de máquinas com pessoas e máquinas com máquinas torna-se mais comum. “O ritmo acelerado da revolução digital nos força a reaprender diariamente. Será importante mantermos o equilíbrio e criarmos processos ágeis”, pontua o head de marketing da 3M, Luiz Eduardo Serafim. Apesar da burocracia e das dificuldades econômicas e estruturais do Brasil, a consciência de que é preciso inovar está cada vez mais presente no universo corporativo. Prova disso é o crescente surgimento de startups e de polos e centros de inovação que ajudam as empresas a olharem de maneira mais positiva para o futuro. Para que tantas informações, desafios e conexões possam ser um passaporte para as empresas fazerem a diferença em seus negócios, a GS1 Brasil prepara a sétima edição do evento Brasil em Código, com uma ampla e diversificada visão das principais tendências da era digital. E como compartilhar é algo típico dos novos tempos, renomados especialistas e profissionais vão dividir seus conhecimentos e experiências no

evento, realizado no dia 29 de junho, no Hotel Unique, em São Paulo (SP). Conheça, a seguir, os palestrantes da conferência e uma prévia do conteúdo que será apresentado. Inovação na prática Atualmente, as companhias enxergam a inovação como um “bem necessário”, acredita Luis Rasquilha. “Há muitas empresas no Brasil que estão dando passos consistentes rumo à transformação digital e direcionando esforços para adotarem uma nova mentalidade a respeito de inovação. Tem muita coisa acontecendo, desde as mais simples até as mais complexas, como impressão 3D de uma parte do corpo humano e implantes para segurança e monitoramento de animais e pessoas. Muitas companhias estão pesquisando e testando soluções avançadas para entrar nesse mundo da conexão e da inovação”, afirma. Alguns segmentos mostram uma evolução importante nessa direção, como bancos, seguros, varejo, telecom e companhias aéreas. Entretanto, a burocracia e a regulamentação das inovações ainda são grandes problemas enfrentados no País, mas isso não deve desanimar os profissionais. “O Brasil é um inovador ineficiente, porque produz as ideias com muita qualidade, mas falha em problemas de logística, de burocracia, questões trabalhistas, etc.”, analisa.


Luis Rasquilha, presidente e CEO da Inova Consulting, CEO da Inova Business School. Professor da FIA/

USP e colunista da Rádio CBN. Possui 20 anos de experiência em consultoria nas áreas de comunicação, marketing, futuro, tendências e inovação estratégica, com atuação na Europa, Estados Unidos, África e América do Sul. Autor e co-autor de 15 livros.

Mesmo diante de tantos desafios, um ponto é comum: a conectividade é um caminho sem volta e o desafio, agora, é a sua implementação efetiva. “Dez em cada dez executivos com quem converso têm consciência de que o mundo está mudando e querem entender essa mudança. Isso é ótimo. Mas a questão é: como fazer essa transformação? Para isso, a cultura das empresas precisa se flexibilizar, pois elas ainda estão engessadas no passado. A dica é começar a refletir sobre o propósito e a cultura da empresa, investir mais em recursos humanos e em inovação”, sugere Rasquilha. REDE DE CONHECIMENTO Um dos principais vetores da evolução humana é a capacidade de formar redes e cooperar. Todo conhecimento

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que se domina hoje é resultado de ideias e estudos que se chocaram, se complementaram e se acumularam ao longo do tempo. A partir dessa premissa, o head de marketing da 3M, Luiz Eduardo Serafim, conta como a companhia – criadora de um dos maiores marcos da inovação no mundo, o Post-it – faz um trabalho intenso para criar redes internas de conhecimento. “Qualquer organização que pretende crescer e inovar dependerá do aperfeiçoamento de suas redes sociais para promover a troca de ideias e experiências, bem como acumular e distribuir conhecimento. Isso se constrói dentro de um ambiente de confiança que busque a excelência, preze a meritocracia e valorize as pessoas”, acredita. Com esse aprendizado, os colaboradores geram inputs preciosos que ajudam a criar vantagens competitivas. Na 3M, a gestão estratégica de recursos humanos é a chave para o sucesso da rede de conhecimento. Por isso, investe pesado em educação corporativa. A companhia também adota um modelo de trabalho que privilegia a execução de projetos por times multidisciplinares. Outra iniciativa é que, desde a década de 1950, os funcionários se organizam para promover, por exemplo, grupos de estudos para aprender sobre adesivos, nanotecnologia, sustentabilidade, entre outros temas. “Isso só funciona porque há identidade dos valores dos colaboradores com a cultura de liberdade e cooperação da 3M.” Serafim conta que a cultura de inovação foi sendo moldada aos poucos pelas lideranças da companhia. Por aqui, há bons exemplos de iniciativas inovadoras. A subsidiária brasileira criou a 3M Services, empresa voltada para a área de serviços que realiza projetos de comunicação visual,

e também lançou a categoria de produtos para cuidados com os pés com a marca Nexcare. A cada ano, a 3M do Brasil realiza cerca de 90 lançamentos. A SERVIÇO DO CONSUMIDOR Empreendedor e humorista, Murilo Gun propõe uma nova visão para os negócios: life as a service ou a vida como serviço. Essa proposta vem da observação do perfil do consumidor que, cada vez mais, deseja contratar os benefícios que os produtos podem oferecer e não necessariamente comprá-los. “As pessoas que nasceram entre as décadas de 1940 e 1950, a geração conhecida como baby boomers, viveram uma época de instabilidade mundial. Eles cresceram com a mentalidade de querer tudo garantido, cultivando nos filhos e gerações futuras, a obsessão por ter casa, carro, acumular muito. Isso não é ruim, mas ficamos obcecados por essa questão da propriedade”, analisa.

Foto: Divulgação

Foto: Paulo Pepe

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Luiz Eduardo Serafim, head de marketing da 3M do Brasil.

Palestrante e professor de Gestão de Marketing e Inovação nos cursos de MBA da Fundace USP Ribeirão Preto, ESAMC/Campinas e Inova Business School. É autor do livro O Poder da Inovação – Como alavancar a inovação na sua empresa.


CÉREBRO E MÁQUINA UNIDOS Miguel Nicolelis. Ganhou 40 prêmios internacionais e publicou

Foto: Divulgação

mais de 200 artigos, dos quais onze na Science e na Nature, as revistas científicas mais importantes do mundo. É autor dos livros: Muito além do nosso eu: a nova neurociência que une cérebros e máquinas – e como ela pode mudar nossas vidas; Made in Macaíba; e O Cérebro Relativístico. Uma das características do cérebro humano é a capacidade de se adaptar continuamente às mudanças do corpo, do ambiente e das interações sociais. Outro aspecto é construir objetos, desde uma ferramenta de pedra até uma nave espacial, criando tecnologias como uma extensão do corpo. O cérebro é o ponto de partida das pesquisas de Miguel Nicolelis, considerado um dos 20 maiores cientistas da atualidade. Professor do Departamento de Neurobiologia e Codiretor do Centro de Neuroengenharia da Duke University, nos Estados Unidos, ele lidera grupos de pesquisadores lá fora e no Brasil, que empregam as ferramentas computacionais da robótica e da neu-

Life as a service não quer dizer que tudo vira serviço, mas o mercado caminha para oferecer benefícios ao consumidor. Segundo ele, no setor de software as empresas já trabalham com o conceito de serviço. O usuário não compra um sistema, mas contrata um software por um determinado tempo ou tipo de recurso.

roengenharia para desenvolver neuropróteses capazes de restaurar a mobilidade de pacientes paraplégicos. “Ao longo dos últimos 20 anos, venho pesquisando sobre a relação cérebro-máquina, com aplicações reais e práticas que têm mudado a vida de várias pessoas.” O tratamento envolve múltiplos estágios combinados para criar a terapia completa do paciente. Começa com o uso da interface cérebro-máquina para participar de um treinamento com realidade virtual. Depois dessa primeira etapa, o paciente usa as mesmas interfaces cérebro-máquina para controlar os movimentos de andadores robóticos até chegar ao nível do exoesqueleto, uma espécie de roupa robótica (na Copa

“O Netflix já virou um exemplo clássico. Antes a gente comprava filme, hoje temos acesso. Cada vez mais, as famílias têm apenas um carro, porque, no fundo, não precisamos de carro, mas de mobilidade – ir do ponto A para o ponto B.” Outro exemplo é da Rolls Royce, indústria de motores e automóveis,

do Mundo em 2014, no Brasil, um paciente de Nicolelis utilizou o exoesqueleto para dar o pontapé inicial nos jogos). Todos os pacientes são brasileiros e recebem acompanhamento no ambulatório do projeto de Nicolelis, na capital paulista. Eles passaram a sentir algumas partes do corpo antes lesionadas e recuperaram funções viscerais fundamentais, como controle da bexiga. O cientista também é fundador do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra e do Campus do Cérebro, localizado em Macaíba (RN), um centro de pesquisa biomédica com laboratórios, centro de saúde e uma escola voltada para a educação científica de crianças.

que não vende mais turbinas, mas passou a alugar esse equipamento por um período determinado de horas para os grandes fabricantes de aviões, como Boeing e Airbus. Toda a manutenção fica a cargo da Rolls Royce. Em vez de a Boeing, por exemplo, ter uma um departamento de manutenção de turbina, ela pode pensar

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CAPA

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MEGATENDÊNCIAS NO MUNDO DOS NEGÓCIOS Megatendências são mudanças sociais, econômicas, políticas e tecnológicas que se manifestam de forma consistente na realidade atual e que influenciarão decisivamente o futuro. Luis Rasquilha, da Inova Consulting, resume as principais megatêndencias em três pontos:

Foto: Divulgação

1. Empoderamento Hoje as pessoas têm mais informação e estão mais atentas, engajadas e empoderadas.

Murilo Gun. Um dos pioneiros da internet brasileira, conquistou em 1997, o prêmio de melhor site pessoal do Brasil. Depois de uma carreira de dez anos como empreendedor de tecnologia, resolveu se dedicar ao humor e a palestras sobre empreendedorismo, criatividade e inovação. Em 2014, foi selecionado entre 80 empreendedores do mundo para estudar inovações disruptivas na Singularity University, no vale do Silício. Em 2015, lançou o curso on-line “Reaprendizagem Criativa”.

22 abr/mai/jun 2017 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

2. Conectividade As informações estão cada vez mais acessíveis. A conectividade reforça o empoderamento e acelera a velocidade dos mercados.

mais no negócio dela, que é fabricar o avião como um todo. “Portanto, life as service é uma tendência que está sendo criada pelo novo consumidor, que é menos acumulador. O conceito não é aplicável a todos os negócios, pois cada um tem a sua peculiaridade, mas é um tema que merece a atenção das empresas. Quem deseja inovar deve ter a coragem de correr riscos”, resume Gun. NOvA REALIDADE Na visão da Samsung, a tecnologia não é o fim, mas o meio pelo qual a empresa ajuda a melhorar a vida das pessoas. Nesse sentido, a companhia tem feito uma série de investimentos em soluções e iniciativas em realidade virtual, realidade aumentada e Internet das Coisas (IoT). A aplicação da realidade virtual e da realidade aumentada nos negócios ajuda a aprimorar processos, reduzir custos e aumentar a eficiência. Na

3. Qualidade de vida Está relacionada ao fato de usufruir do benefício em vez da posse de um produto. As pessoas querem viver experiências prazerosas.

prática, isso significa, por exemplo, promover treinamentos complexos sem a necessidade de um ambiente físico. “Com os óculos de realidade virtual é possível aprender funções e técnicas de forma prática e efetiva, sem risco e com baixo investimento”, destaca o vice-presidente de marketing e assuntos corporativos da Samsung América Latina, Mario Laffitte. Uma indústria que precisa ensinar os funcionários a operar determinados tipos de máquina pode simular o funcionamento dos equipamentos e inserir as pessoas nesse contexto, mesmo sem dispor da máquina. Esse tipo de treinamento também pode ser aplicado na área da saúde, para simulação e ensaio de procedimentos cirúrgicos. Já para os consumidores, essas tecnologias permitem vivenciar conteúdos educativos e de entretenimento, como jogos e simuladores. A Samsung Brasil recentemente apre-


Mario Laffitte, vice-presidente de marketing e assuntos corporativos da Samsung América Latina. Possui

formação em engenharia mecânica pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduação em Gestão pela FGV. Na Samsung desde dezembro de 2013, lidera atualmente as atividades de marketing, comunicação, e assuntos corporativos nas sete subsidiárias da companhia na América Central e do Sul.

sentou a solução Teatro para Todos os Ouvidos, que, ao utilizar a realidade aumentada, permite que pessoas com limitação auditiva possam assistir a peças de teatro com legendas por escrito em tempo real, utilizando os óculos de realidade virtual Gear VR. Quando o assunto é IoT, a companhia planeja um investimento global de US$ 1,2 bilhão em pesquisa e desenvolvimento nos próximos anos. “Até 2020, espera-se que mais de 34 bilhões de dispositivos estejam conectados em todo o mundo, o que na América Latina resulta em uma média de três aparelhos por pessoa. Em um futuro próximo, os mais diversos tipos de produtos estarão ligados entre si, como wearables, smartphones, tablets, aparelhos domésticos, sensores, entre outros”, diz Laffitte. Em março deste ano,

COMÉRCIO ELETRÔNICO Apesar da crise na economia nacional, o segmento de comércio eletrônico vem crescendo nos últimos anos. Em 2016, registrou alta nominal de 7,4% no faturamento, atingindo R$ 44,4 bilhões, segundo o 35º Webshoppers, levantamento realizado pelo Ebit. “O e-commerce deve continuar com um crescimento expressivo nos próximos anos”, projeta o COO do Mercado Livre, Stelleo Tolda, destacando que são vários os fatores responsáveis por esse desempenho positivo. “Trata-se de um segmento de baixa penetração, pois a maioria da população brasileira ainda não compra pela internet: 96% do varejo acontece offline e apenas 4% on-line. Ou seja, existe um potencial muito grande e essa mudança de hábito está acontecendo de forma muito rápida. Outro ponto que tem impulsionado é que os consumidores têm usado cada vez mais o celular para as compras on-line”, constata. Nesse panorama, o Mercado Livre, uma das maiores plataformas de compra e venda da internet, presente em 19 países, cresce 60% ao ano, segundo Tolda. Esse resultado é atribuído a várias estratégias, entre elas, facilitar a experiência do cliente por meio do app do Mercado Livre, no qual a compra acontece em um clique, já que todos os dados do consumidor já estão cadastrados. A companhia também tem feito um amplo trabalho junto aos vendedores – pessoas físicas, varejistas e indústrias que utilizam o Mercado Livre como canal de vendas – para traba-

lharem com informações organizadas e padronizadas, e, assim, integrá-las aos sistemas do Mercado Livre. “Com os dados do catálogo de produtos organizados e padronizados, os vendedores ganham eficiência no processo logístico, um dos gargalos do e-commerce, como localização e separação do produto no centro de distribuição e despacho para transportadora”, diz Tolda. Isso também tem reflexos na experiência do consumidor, afinal, com as informações dos produtos bem organizadas no site, ele pode fazer buscas mais otimizadas. “Estamos propondo uma melhor organização e padronização das informações para ajudar em todo o processo do comércio eletrônico”, conclui. 7 898357 410015

Foto: Ramede Felix

Foto: Divulgação

a companhia lançou a BixBy, assistente pessoal que obedece a comandos de voz e de imagens através do Galaxy S8, e permite a ativação e a interação entre funcionalidades.

Stelleo Tolda, COO do Mercado Livre. Já atuou no mercado finan-

ceiro em empresas como Lehman Brothers, Inc., nos Estados Unidos, Banco Pactual e Banco Icatu, no Brasil. Possui MBA na Escola de Administração de Negócios da Universidade de Stanford e é formado em Engenharia Mecânica pela mesma instituição. Especialista em gestão de marketing, estratégia digital, planejamento de negócios e e-commerce.

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[DIGITAL

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Imagem: ThinkStock

Bons de papo Por Ana Paula Garrido

Os influenciadores digitais conquistaram credibilidade nas mídias sociais. Confira como as empresas podem estabelecer parcerias com esses profissionais Eles são pessoas como você, tanto que adoram redes sociais. São tão populares quanto aquele artista que você segue nas mídias digitais. E, por falar em seguidores, isso é o que não falta a eles: ao darem opiniões sobre os assuntos que dominam, atraem um público cada vez maior e, de quebra, despertam o interesse de empresas como a sua. Aproveitando essa proximidade com o público, os chamados influenciadores digitais conquistaram uma posição estável no mundo virtual. Apesar do sucesso entre os jovens – seu sobrinho já deve ter comentado sobre algum youtuber, por exemplo -, há conteúdos para todos os gostos e idades. Uma prova de que os novos formadores de opinião, de comediantes a jornalistas, vieram para ficar. “O fenômeno dos influenciadores digitais é uma realidade consolidada. Antes mesmo das redes sociais garantirem a força desses perfis, os blogs já dialogavam com as marcas e começavam a apontar para o que estamos vivendo hoje. Esse movimento ganhou força em 2013 e sua curva continua crescente desde então, na medida em que as marcas percebem que esse novo modelo de publicidade é mais fluido e mais interessan-

26 abr/mai/jun 2017 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

te para o público consumidor”, resume Marina Alves, coordenadora de business intelligence da A2ad, agência responsável pela metodologia do Prêmio “Influenciadores Digitais”, criado em 2016, em parceria com a revista Negócios da Comunicação. A premiação tem o objetivo de valorizar a habilidade de quem percebe oportunidades de se comunicar de forma inovadora a partir das novas tecnologias, e promover negócios entre marcas e influenciadores. Tamanho poder de influência de blogueiros e youtubers pode ser atribuído à tendência de acreditar e confiar mais na opinião de outras pessoas, mesmo desconhecidas, do que na própria empresa fornecedora de um produto, avalia o consultor do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), Adriano Augusto Campos. A hipótese é confirmada pela pesquisa realizada pela Sprout Social, que indicou que 74% dos consumidores se orientam por meio das redes sociais na hora de comprar. O lado bom é que essa dependência da opinião dos influenciadores tornou-os mais preparados para exercer esse papel. “Eles estão desenvolvendo um trabalho cada vez mais profissional no relacionamento com as


Fotos: Divulgação

Marina Alves, da A2ad Influenciadores estão mais preparados para exercer um trabalho profissional em conjunto com as marcas

marcas”, garante Marina. Além disso, do ponto de vista financeiro, o trabalho desses profissionais tem se mostrado mais interessante do que o investimento no marketing tradicional. “O custo é muito mais baixo do que o de um anúncio numa revista ou na TV”, explica o professor e coordenador do MBA de marketing da FIA, Marcos Cortez Campomar. PERFIL Para atingir um bom resultado, porém, vale a pena seguir as dicas de especialistas antes de buscar um influenciador digital para sua empresa. O primeiro passo, segundo Campos, é identificar os canais e as fontes de informação que são relevantes. Depois avalie a reputação do influenciador. “Ele é confiável ou tem audiência só porque gera polêmica?”, alerta o consultor do SEBRAE. Campomar, por sua vez, chama atenção para uma característica das mídias digitais em relação à facilidade na propagação de notícias ruins em detrimento das boas. “Se alguém diz que um produto é bom, demora para as pessoas acreditarem. Mas se for o contrário, no dia seguinte todo mundo estará sabendo”, pontua. Por isso, o professor reforça o conselho

de procurar informações sobre o perfil do influenciador para diminuir o risco de que uma informação negativa sobre o blogueiro, por exemplo, tenha impacto na imagem da marca que o contratou. Nessa investigação digital, não basta olhar o número de seguidores, o que, aliás, já não reflete mais o impacto que uma pessoa exerce nas redes sociais. “A autenticidade do conteúdo e da imagem do influenciador faz com que ele seja considerado um ponto forte na publicidade de um produto ou serviço, e isso tem cada vez menos a ver com a quantidade de seguidores e cada vez mais com o seu poder de mobilização da audiência”, analisa Marina. Isso significa que o chamado microinfluenciador pode conquistar um resultado melhor – leia-se poder de convencimento – do que celebridades. ALTERNATIVAS Como gastar mais nunca é um bom negócio – nem mesmo os influenciadores digitais conseguem convencer um empreendedor a fazer isso –, especialistas indicam algumas opções econômicas de contratação. Uma delas é a tradicional parceria entre empresas para financiar o marketing

em conjunto. “Se um supermercado está fazendo uma promoção de um produto de determinada indústria, o blogueiro fala das duas marcas e ambas as empresas dividem os custos”, explica Campomar. Outra saída está na parceria com o próprio consumidor. “Dá para coletar depoimentos ou experiências dos clientes atuais e compartilhar. Será a mesma lógica de ter alguém falando, que não seja a empresa”, ensina Campos, lembrando que, dependendo do setor, o próprio empresário pode ser considerado um influenciador. Mas quando o assunto é retorno do investimento, especialistas confessam ser difícil prever. A sugestão é fazer uma pesquisa com os clientes para tentar identificar quais fontes de informação eles julgam mais confiáveis. “Se o resultado mostrar que muitas pessoas acessam determinada rede social, é um indício de que pode valer a pena buscar parcerias”, comenta Campos. 7 898357 410015

Adriano Augusto Campos, do SEBRAE É importante avaliar se o influenciador digital é confiável ou se tem audiência porque é polêmico

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Foto:Thinkstock

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[MERCADO

Oportunidades além da fronteira Por Flávia Corbó

Crise interna faz pequenas e médias empresas investirem em exportação. Entenda os trâmites necessários para vender produtos e serviços no exterior Comer uma tradicional pamonha brasileira durante o lanche da tarde no Japão parece uma cena improvável. E era, até bem pouco tempo atrás, antes dos produtos da Pamonha Gourmet aterrissarem na terra do sol nascente. Agora, por meio de um processo de exportação, a iguaria é vendida congelada para supermercados japoneses e também estabelecimentos no Canadá e em outros cinco países da Europa. A ideia de criar o negócio surgiu da dificuldade de encontrar o produto, mesmo dentro do Brasil. “Quem gosta de pamonha só consegue comprar em lojas à beira de rodovias, em feiras ou por meio de vendedores ambulantes. Fora do País, então, era impossível de achar. Por isso, tivemos a ideia de fabricar um produto congelado, sem perder a qualidade, que pudesse ser consumido a qualquer hora”, explica o sócio fundador da Pamonha Gourmet, Humberto Azenha. Fundada em 2015, na cidade de Jambeiro (SP), a empresa já nasceu com o intuito de exportar parte da produção. Para regularizar a operação, Azenha contou com a orientação do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e 28 abr/mai/jun 2017 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

Pequenas Empresas (SEBRAE). Desvendados os trâmites necessários para uma exportação regular, hoje a empresa vende 50% das 20 mil pamonhas produzidas por mês para o mercado externo. Diversos outros empresários seguem no mesmo caminho, tanto que 70% da demanda de atendimento do SEBRAE está relacionada à venda de produtos e serviços no exterior. No entanto, segundo a entidade, as micro e pequenas empresas representam apenas 1% das exportações do Brasil. O mau momento da economia nacional é apontado como o maior motivo do crescente interesse em explorar o mercado estrangeiro. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) já mostram que a quantidade de empresas brasileiras que exportaram pela primeira vez saltou de 1.943, em 2015, para 4.843 no ano passado – um aumento de 149,25%. A expectativa é que esse índice siga crescendo, diante de medidas recentes tomadas pelo governo visando facilitar o processo de exportação. No final do ano passado, o presidente Michel Temer sancionou


Humberto Azenha, da Pamonha Gourmet Empresa vende 50% das 20 mil pamonhas produzidas por mês para Japão, Canadá e Europa

Foto: Divulgação

do Simples Nacional. Chamado de Simples Exportação, o decreto prevê unificação no trâmite de registro das exportações, entrada única de dados e maior integração entre os órgãos envolvidos nas operações.

o Decreto 8.870/2016, que simplifica o procedimento de exportação para micro e pequenas empresas optantes

PERFIL Empresas localizadas no Estado de São Paulo lideram o avanço da exportação, considerando as pequenas e médias organizações. Do total de empreendimentos que estrearam nesse universo em 2016, 41% são da região, segundo

levantamento do Investe São Paulo. As cidades de Campinas, Limeira, Jundiaí e Indaiatuba somam o maior número de empresas que entraram no ramo de exportações no último ano. Os destinos mais comuns das mercadorias e serviços brasileiros são Estados Unidos, México, Colômbia, Coreia do Sul, Arábia Saudita e Emirados Árabes. Quando se trata de pequenas e médias empresas, o melhor mercado é o da América do Sul, com destaque para a Argentina. “O país importa mais manufaturados do Bra-

O segredo para obter sucesso no mercado externo envolve planejamento e organização. Antes de fechar qualquer negócio, é preciso se informar sobre todos os procedimentos necessários para exportar mercadorias de maneira regular e legal. De maneira geral, são necessárias três etapas:

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Licença para exportar

É preciso criar um perfil de acesso ao Sistema Integrado de Comércio Exterior (SISCOMEX), onde todas as operações precisam ser registradas. Para ter o acesso liberado, é necessário apresentar uma série de documentos e formulários e se habilitar no Rastreamento da Atuação dos Intervenientes Aduaneiros (RADAR) na Receita Federal. Esse sistema de controle permite que todas as operações de comércio exterior sejam disponibilizadas em tempo real para os auditores fiscais da Receita. “Foram meses difíceis até conseguir a autorização para exportar. Um caminho é procurar um despachante que ajude a agilizar o processo, mas custa caro”, conta Azenha, da Pamonha Gourmet.

2

Adequação de embalagem

Antes de enviar uma mercadoria ao exterior, é preciso certificar-se de que o produto atende à legislação vigente nos países importadores quanto à composição, às informações necessárias no rótulo e às especificações de tamanho, caso se trate de vestuário e calçado. Também é preciso contar com uma embalagem segura e resistente, já que o produto passará por transporte, movimentação, armazenagem e comercialização até chegar ao consumidor final. A utilização de um código de barras eficiente nas embalagens é outra medida importante para agilizar os processos e facilitar a identificação dos produtos respeitando as normas técnicas, conforme indicado no e-book Guia de Exportação para Pequenas e Médias Empresas (PMEs), produzido pela GS1 Brasil (confira na próxima página). O valor da venda de remessas pequenas e de baixo valor pode ser pago por cartão de crédito, de preferência por meio de uma empresa garantidora de pagamento, como Paypal. Em casos de valores mais altos, a modalidade mais segura é a carta de crédito. O importador precisa realizar a abertura da carta de crédito e enviar uma cópia ao exportador pelo banco responsável.

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Meios de pagamento

Fontes: SEBRAE e AEB

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sil do que os Estados Unidos. No acumulado de janeiro a abril deste ano, 98% de tudo que a Argentina importou do Brasil foram manufaturados, enquanto que esses produtos representaram apenas 55% do que os Estados Unidos importaram do Brasil”, conta o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. Os principais produtos ofertados são eletroeletrônicos, madeira, plásticos injetáveis, alimentos e bebidas. “Já no segmento pequeno e médio, os setores com melhor desempenho são os de alimentos, calçados e confecções”, afirma Castro. OBSTÁCULOS NO CAMINHO O consultor do SEBRAE-SP Marcos Stahl garante que trabalhar com exportação no Brasil não é tão difícil quanto se imagina. “Os maiores problemas são

o desconhecimento e o medo”, afirma. Esse receio faz com que 95% das empresas decidam partir para o mercado externo somente quando são procuradas por algum potencial cliente. “Alguém faz uma encomenda, pede uma cotação. Poucos pequenos empresários tomam a iniciativa de se adaptar para começar a exportar”, comenta. No entanto, agora que o mercado interno está ruim, essas empresas decidiram averiguar a possibilidade de atender a pedidos que antes eram ignorados. Stahl garante que a operação é viável e vantajosa: “É um processo bem desburocratizado e sem tributação nenhuma. Não tem Substituição Tributária nem Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para calcular”, reforça. Em resumo, os obstáculos enfrentados são os mesmos de todos os pequenos e médios empreendimentos: o

Foto: Cris Castello Branco/Sebrae-SP

MERCADO

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Marcos Stahl, do SEBRAE Processo de exportação é viável e com pouca burocracia Custo Brasil (demasiadamente alto), o câmbio valorizado e a insegurança das medidas por parte do governo. “As empresas não sabem o que vai acontecer, e isso desestimula as exportações, em um momento em que a demanda no País é muito baixa e a única válvula de escape é o mercado externo”, complementa Castro. 7 898357 410015

GUIA PRÁTICO Com o objetivo de incentivar a inovação e o aprimoramento dos processos das empresas brasileiras, a GS1 Brasil produziu o e-book Guia de Exportação para Pequenas e Médias Empresas (PMEs), que contém orientações para ter sucesso ao exportar produtos e serviços. Confira algumas dicas: ANÁLISE DE MERCADOS Faça um estudo do mercado onde se pretende atuar, verificando se o produto que se deseja exportar tem demanda lá fora. Informe-se sobre os preços vigentes no país importador, as diferenças de câmbio, as exigências sanitárias e técnicas, as embalagens, os gastos com transporte, entre outras questões. CONTATO COM O CLIENTE Identificado o importador, é preciso passar informações sobre a mercadoria, como preço, quantidade, especificações técnicas, condições de venda e entrega. É possível utilizar catálogos, amostras e listas de preços.

FORMALIZAÇÃO DO NEGÓCIO Confirmada a transação, deve-se enviar ao cliente uma fatura com informações sobre o vendedor e o comprador, forma de pagamento, tipo de embalagem e transporte, especificações sobre a mercadoria (descrição, peso líquido e peso bruto, quantidade, preço unitário e total do produto).

Acesse o e-book gratuito: conteudo.blog.gs1br.org/ebook-guia-de-exportacao-para-pmes 30 abr/mai/jun 2017 [ BRASIL EM CÓDIGO ]



[NEGÓCIOS

Fotos: Paulo Pepe

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Cadastros de qualidade podem ampliar as vendas? Por Kathlen Ramos

Essa foi uma das questões respondidas pela equipe da GS1 Brasil durante a APAS Show 2017, o maior evento supermercadista do mundo

32 abr/mai/jun 2017 [ BRASIL EM CÓDIGO ]


Encontro de líderes Da esq. para dir.: José Humberto Pires, vice-presidente da GS1 Brasil; João Sanzovo Neto, presidente da ABRAS; Virginia Vaamonde, CEO da GS1 Brasil; e João Carlos de Oliveira, presidente da GS1 Brasil

Garantir um cadastro de produtos completo, consistente, preciso e baseado em padrões globais. Esses são requisitos fundamentais para que empresas se tornem mais competitivas. No entanto, poucas organizações aplicam esses conceitos na prática. Segundo levantamento da GS1 do Reino Unido, os setores de indústria, distribuição e varejo contabilizaram uma perda aproximada de R$ 4 bilhões, entre 2010 e 2015, devido a falhas nos processos de automação na cadeia de abastecimento, como ineficiências e duplicidade de informações, algo que poderia ser resolvido com qualidade de dados. Com foco em ajustar esse gargalo que prejudica as empresas, a GS1 Brasil

esteve presente na APAS Show 2017, considerado o maior evento do setor no mundo, promovido pela Associação Paulista de Supermercados (APAS). No estande da entidade, a equipe da GS1 Brasil demonstrou como o segmento pode investir em qualidade de dados e padronização das informações por meio do Cadastro Nacional de Produtos (CNP), plataforma on-line para o cadastro e o gerenciamento de informações das mercadorias, geração, controle da numeração e impressão do código de barras. A solução, que pode ser usada por empresas de todos os portes e segmentos, ajuda a garantir transparência e segurança aos processos. “Pelo fato de ter a informação cadastrada em

um único local, a indústria pode utilizar o CNP para assegurar dados uniformes a todo o mercado, sem correr o risco de ter o cadastro administrado por terceiros, já que é ela mesma que identifica e coloca informações sobre o seu produto”, explica o presidente da GS1 Brasil, João Carlos de Oliveira. MENOS PERDAS, MAIS LUCROS O cadastro sincronizado entre indústria e varejo significa redução de custos, de tempo e melhora do relacionamento entre os parceiros de negócios, que podem se dedicar mais à estratégia de vendas. Em contrapartida, a falta de padronização pode gerar falhas de fornecimento e recebimento.

Mágica nos negócios Ilusionistas fizeram truques para mostrar como o CNP é estratégico na gestão empresarial

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NEGÓCIOS

No CNP, o varejo consegue obter características detalhadas inseridas pelos fabricantes dos produtos, como descrição do item, categoria, marca, pesos e medidas do produtos. Dessa forma, o CNP ajuda o supermercado a aprimorar a gestão das mercadorias e a alimentar o cadastro interno com os dados dos itens já inseridos na ferramenta. O consumidor também é beneficiado com a informação correta daquilo que está adquirindo. Os profissionais que passaram pelo estande da GS1 Brasil puderam se divertir com os mágicos Celio Amino e Rudi Alexandre Solon que, por meio de truques com cartas de baralho, mostraram os benefícios do CNP, surpreendendo os visitantes. PARCERIAS No estande, além das facilidades do CNP, foram demonstradas outras soluções em conjunto com empresas parceiras da entidade. A BicData, que atua na área de coleta de dados e automação, por

34 abr/mai/jun 2017 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

Vitrine Pequenas e médias empresas tiveram a oportunidade de expor produtos no estande da GS1 Brasil

exemplo, apresentou os beacons, tecnologia de geolocalização que pode ser instalada em vários pontos de uma loja, capaz de fornecer ao varejista informações sobre o perfil de compras do cliente e, ao mesmo tempo, enviar promoções e dicas diretamente para o smartphone do consumidor (é possível conhecer essa solução em funcionamento no Centro de Inovação e Tecnologia, o CIT, da GS1 Brasil). A BicData também mostrou leitores de RFID portáteis, que ajudam na rastreabilidade de mercadorias. Já a Toshiba demonstrou os benefícios do Self Checkout, caixa automático no qual o consumidor consegue realizar o pagamento da compra de até dez itens utilizando cartão, sem a necessidade da ajuda de um atendente. Essa solução, que ajuda a evitar as longas filas nos caixas, já pode ser vista em lojas do País, a exemplo do Supermercados Mambo, que instalou-a em uma de suas unidades na capital paulista.

A GS1 Brasil também montou uma vitrine para promover os produtos de empresas associadas, a maioria de pequeno e médio porte. Essa foi uma maneira de a entidade ajudar a fomentar os negócios entre esses pequenos fornecedores e supermercadistas. As empresas presentes no estande foram: Ingenico, Cielo, Pankz, Nabi Cosméticos, Sorvetes Verão Vivo, Delícias de Areal, Vinícola Toscana, Nutricandy Alimentos, Alfiniz, Fred Bier, Doces Art Minas, Herbal Nutrition, Canabella, Taty Decorações e Cookie Dog. ESTANDE PREMIADO Como acontece todos os anos, a APAS, em parceria com o POPAI Brasil, realizou uma premiação dos estandes do evento, que foram selecionados de acordo com a estética, o conceito e


Entenda o Cadastro Nacional de Produtos (CNP) O QUE É? Banco de dados da GS1 Brasil que conecta todas as pontas da cadeia produtiva. O CNP armazena informações atualizadas sobre os produtos e as disponibiliza para os parceiros comerciais, fazendo com que as empresas tenham a possibilidade de ampliar os negócios. QUAIS OS PRINCIPAIS BENEFÍCIOS? Sem dúvida, a qualidade de dados. O CNP proporciona informações confiáveis e completas ao mercado e consumidor final, baseadas nos padrões GS1, ajudando a aperfeiçoar o processo de automação. O QUE A SOLUÇÃO PERMITE? • Cadastro de informações dos produtos para transações comerciais e logísticas, como descrição do item, marca, imagem do produto, peso, volume, etc. • Geração de relatórios e de etiquetas com código de barras. MAIS INFORMAÇÕES: gs1br.org/cnp ou (11) 3068-6229

a forma como a estrutura foi construída. A avaliação foi feita por um corpo técnico composto por mais de 20 jurados, especialistas em design, arquitetura e sustentabilidade. Na categoria Melhor Ação Promocional, a GS1 Brasil conquistou medalha de bronze entre os estandes de grande

porte. Aliás, nos últimos anos, o estande da entidade recebeu vários prêmios nesse evento. A APAS Show foi realizada de 2 a 5 de maio, no Expo Center Norte, em São Paulo (SP), e teve mais de 74 mil inscritos e 719 expositores nacionais e internacionais, além de uma extensa

programação de palestras. Segundo o presidente da APAS, Pedro Celso Gonçalves, foram gerados R$ 7 bilhões, exatamente R$ 1 bilhão a mais em relação a 2016. O evento contou com a presença de varejistas, empresários, executivos da indústria e representantes do governo. 7 898357 410015

Patrocinadores BicData e Toshiba mostraram soluções que facilitam a gestão da cadeia de suprimentos

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[EMPREENDEDORISMO

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Imagens: Thinkstock

Qual é o seu perfil? Por Camila Guesa

Pesquisa da Serasa Experian mostra características dos microempreendedores individuais Atualmente, cerca de 6 milhões de brasileiros estão formalizados como um microempreendedor individual (MEI), que, apesar de pequeno, enfrenta grandes desafios como qualquer negócio. A MEI é a categoria jurídica que mais cresce no País. Passou de 48,9% dos novos empreendimentos, em 2010, para 78,4%, em 2016. O dado é da Serasa Experian, que realizou um estudo para entender o perfil desses empresários e suas principais dificuldades. O levantamento foi feito com 450 MEIs selecionados dos segmentos

de comércio e serviços, entre homens e mulheres de 19 a 57 anos, em diversas cidades do País. Com base nos dados coletados, a Serasa Experian traçou quatro perfis: arrojado, realizador, malabarista e tranquilo (veja abaixo). “Notamos que para os perfis de maior planejamento, como arrojado e realizador, as taxas de sucesso são maiores; mesmo entre os que passam por dificuldades iniciais. Mas, no geral, eles conseguem reverter positivamente o resultado”, afirma o gerente de serviços de crédito da Serasa Experian, Eduardo Crivelari. Segundo ele,

não basta empreender por gosto pessoal pela atividade ou setor, mas sem experiência como administrador, ou capacitação para a atividade. “É preciso ter uma noção mínima sobre gestão financeira e separar as finanças pessoais das da empresa, além de usar ferramentas que auxiliem no controle do negócio como um todo.” Assim, o grande desafio para os microempreendedores individuais passa pela profissionalização dos negócios. “Empreender, por natureza, não é fácil. É preciso um plano, muita energia e preparo”, alerta Crivelari. 7 898357 410015

OS DIFERENTES PERFIS DOS MEIS ARROJADO É o empreendedor nato, que segue as tendências do mercado, assumindo mais riscos. As frustrações, acumuladas, em parte pelo seu jeito destemido de agir, tornaram-no melhor preparado ao longo do tempo.

Motivação: buscar diferenciais para o negócio. Objetivo: crescer de forma estruturada e sustentável.

MALABARISTA Para ele, empreender não era um plano, mas aconteceu. Não se preparou muito para o negócio e o dia a dia é a sua verdadeira escola. Contorna as dificuldades com otimismo. Motivação: entregar um produto ou serviço de qualidade. Objetivo: terminar o mês no azul e começar o seguinte um pouco melhor.

TRANQUILO É o autônomo que tornou-se MEI para legalizar sua atividade, garantir benefícios e atender às exigências das empresas para as quais presta serviços. Motivação: até pensa em estruturar o negócio, mas não tem pressa para isso. Objetivo: manter os clientes e garantir a renda mensal. Fonte: Serasa Experian

Motivação: alcançar o sucesso financeiro. Objetivo: ser um grande empresário de sucesso.

REALIZADOR É o empreendedor de uma ideia, da qual tem muito orgulho. Seu negócio é estruturado e foi concebido por meio de muita pesquisa e dedicação. Para ter segurança no que faz, investe em cursos e pesquisas.

36 abr/mai/jun 2017 [ BRASIL EM CÓDIGO ]



[GESTÃO

Foto/Imagens: Thinkstock

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Solução completa Por Kathlen Ramos

Encontrar o produto que procura com praticidade e ter uma experiência prazerosa é tudo o que o consumidor espera do varejo. O gerenciamento por categorias é a chave para atingir esses objetivos O gerenciamento por categorias (GC) surgiu no mercado no final da década de 1980, com o propósito de trazer soluções capazes de atender às diferentes necessidades dos clientes no ponto de venda. De lá para cá, os objetivos dessa técnica continuam os mesmos, mas indústria e varejo passaram a enxergar esse concei-

38 abr/mai/jun 2017 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

to de forma mais ampla e estratégica. “Hoje, notamos que o GC considera um maior e mais profundo foco no shopper, que está no centro das decisões”, analisa a fundadora da Connect Shopper, consultora de varejo e shopper marketing e especialista em gerenciamento por categorias, Fátima Merlin.


Além disso, o uso do GC, atualmente, vai além da definição do sortimento e da exposição. Ele funciona também como um laboratório para testar diversas ações, formas de exposição, impacto das embalagens e outros tipos de ferramentas de trade. “Por meio de um projeto de GC é possível, por exemplo, identificar tendências que podem mudar toda a forma como a companhia enxerga a categoria”, ressalta o gerente de gerenciamento por categorias da consultoria Mind Shopper, Cristiano Samara. Os conceitos do merchandising também têm se mostrado grandes aliados do GC e há várias formas de utilizá-los: por meio da disponibilização da equipe de promotores e no desenvolvimento de materiais que deem apoio à venda, como réguas de gôndola, stoppers, testeiras e móbiles. Também é marcante o uso de novas tecnologias. Por exemplo, as plataformas de business intelligence (BI) geram relatórios gerenciais e auxiliam em todo o COMO EXPOR OS PRODUTOS NA LOJA?

Coloque-se no lugar do cliente e considere momentos de uso e consumo, e a hierarquia de decisão do shopper. Avalie como você compraria a categoria e monte sua oferta de produtos; Analise o fluxo de pessoas para identificar por onde e como expor as soluções; Pense em criar soluções para atender a necessidades específicas, passando da venda de produto para a entrega de soluções, como limpeza da cozinha, café da manhã, higiene bucal, entre outros.

processo de análise. Há, ainda, suportes para definição de sortimento e montagem dos planogramas (representações gráficas do posicionamento de um produto na gôndola). “Estão igualmente disponíveis soluções tecnológicas empregadas no compliance do processo. Após as definições e implementações nas lojas, essas ferramentas são utilizadas para checar se o que foi definido está, de fato, executado”, diz Samara. ATENÇÃO AO CADASTRO Para que o GC dê certo, é fundamental ter um cadastro bem completo e atualizado de produtos, que é a base para gerenciar a informação da indústria e do varejo. “É importante trabalhar com dados consistentes, completos, precisos e atualizados”, ressalta o executivo de negócios da GS1 Brasil, Edson Lima. A falta de qualidade de dados pode gerar impactos negativos na eficiência do processo e em toda a cadeia de suprimentos. Mas, infelizmente, algumas empresas ainda convivem com esse problema. “Uma pesquisa da GS1 identificou que há 80% de inconsistência nas informações que as empresas cadastram em seus bancos de dados. E menos de 20% dos dados mantidos pelos varejistas são iguais aos dos fornecedores. Ou seja, não há muita sintonia”, adverte Lima. Além de prejudicar a implementação do GC, a falta de qualidade de dados pode ter como consequências: erro de pedido de compra, maior tempo para recepção de pedidos no centro de distribuição, devolução da mercadoria e ruptura na gôndola. RESULTADOS COMPROVADOS Na rede Coop, que atua na região do ABC Paulista, o GC é parte estratégica dos negócios. Tal conceito é aplicado na empresa desde 2012 e, para tanto, há um departamento especializado na área, com responsabilidades que passam por análise de sortimento adequada por categoria, rentabilidade por marca/ item, introdução de novos itens no sortimento, entre outras atribuições. A gerente comercial da empresa, Marta Borges, explica que antes da execução do GC, é realizado um amplo estudo da categoria, com troca de informações com a indústria sobre faturamento, sobras, margem, dados de mercado, entre outros indicadores para confecção dos planogramas. Depois de prontos, os pla-

Fonte: Fátima Merlin, da Connect Shopper

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ETAPA 1

GESTÃO

GC NA PRÁTICA PARA O PEQUENO VAREJO Para implementar o GC no pequeno varejo, é necessário adaptar o processo tradicional, que está apoiado em oito passos (definição da categoria, papel, avaliações, cartão de metas, estratégia, táticas, implementação e revisão), para algo mais simples, porém não menos efetivo. Acompanhe, a seguir, as orientações da fundadora da Connect Shopper e especialista em gerenciamento por categorias, Fátima Merlin:

Definição da categoria Para começar, determine quais produtos vão compor a categoria, com o objetivo de atender a uma necessidade específica do cliente. Veja esse exemplo da ECR Brasil:

Definição: solução nutritiva para alimentação matinal da família. Abrangência: produtos que propiciam uma alimentação saudável no café da manhã: café, leite, pão, frutas, iogurtes, achocolatados, etc. Correlatos e substitutos: filtros de café, cafeteiras, xícaras.

Definição do layout Esta decisão orienta o varejista em relação ao local mais apropriado para expor os itens. A definição do layout envolve a análise de três pontos: fluxo da loja (caminho que os clientes normalmente realizam no ponto de venda); espaços destinados para cada seção e pontos extras; e definição dos papéis das categorias e seus objetivos (confira ao lado).

Destino (5-7% das categorias): o consumidor vai até a loja especialmente para comprar estes produtos. Por isso, é preciso oferecer a melhor experiência. Ex.: fraldas e vinhos. Rotina (55-60% das categorias): por ser a categoria de maior representatividade, o foco deve estar no sortimento e serviços. Ex.: produtos de limpeza e artigos culinários. Sazonal (15-20% das categorias): neste caso, é preciso oferecer valores diferenciados em determinadas épocas do ano. Ex.: ovos de Páscoa e cartões de Natal. Conveniência (15-20% das categorias): são produtos que ajudam a reforçar a imagem da loja como um lugar de única parada de compra. Ex.: doces e roupas.

ETAPA 3

ETAPA 2

PAPEL DAS CATEGORIAS

Definição do sortimento Nesta fase, é preciso compilar todas as informações, analisando faturamento e margem, para chegar a uma classificação das categorias. Considere a experiência de compra do cliente e sua árvore de decisão. É fundamental definir o posicionamento da loja, pois isso vai determinar como organizar as gôndolas. Se a estratégia for se destacar por diferenciação, deve-se trabalhar com quatro ou cinco marcas (premium, líder, intermediária, regional, baixo preço). Já as lojas que decidem se posicionar como baixo custo, no máximo duas marcas (a líder e a de preço baixo).


nogramas são compartilhados com as lojas para implementação. “Um estudo de GC completo leva, em média, três meses para ser concluído. Mensalmente, são feitas as manutenções em virtude das mudanças constantes no sortimento e inovações da indústria”, esclarece Marta. A Coop também utiliza dados fornecidos pelas indústrias sobre o comportamento de compra do shopper. “As empresas consideradas líderes em seus segmentos, chamadas de capitães de categoria, compartilham conosco esses estudos e, juntos, traçamos estratégias para que os planogramas tenham efeito positivo na gôndola”, explica Marta. A rede também utiliza um software da Nielsen de confecção de planogramas, que indica algumas variáveis importantes, como estoque, ruptura, retorno sobre o investimento (ROI), demanda, entre outros indicadores. Assim, de modo geral, os resultados desse investimento são bastante satisfatórios para a Coop. “Com a implementação dos planogramas, algumas categorias cresceram em lucratividade, a exemplo de café (10%) e iogurte (7%). Além disso, conseguimos aumentar o tíquete médio e crescer as categorias

Fotos: Divulgação

Investimento Johnson & Johnson aposta no GC há dez anos

como um todo”, comemora Marta. Ela salienta que após a implementação do GC, alguns erros de exposição foram detectados, como dificuldade de abastecimento por parte da indústria e de manutenção por parte das lojas. PODER DA PARCERIA Assim como já acontece no varejo, a indústria também acredita no gerenciamento por categorias. A Johnson & Johnson (J&J), por exemplo, investe na área há mais de dez anos. Há um departamento estratégico voltado somente para essa prática, que visa desenvolver a categoria, e não somente a marca, trazendo benefícios como maior troca de conhecimento entre indústria e varejo, fortalecimento de categorias de produtos e entrega de no-

vas experiências de compra. “Quando pensamos juntos no desenvolvimento da categoria, conseguimos ser mais assertivos nas ações e, dessa forma, obtemos um resultado muito melhor para a categoria. É vantajoso para todos os envolvidos”, reflete a diretora de trade marketing da J&J, Juliana Sztrajtman. Os resultados da aplicação do GC podem ser bastante expressivos e dependem da realidade de cada loja. Segundo Juliana, nos três primeiros meses após a implementação os varejistas têm aumentos em torno de 30%. Depois desse período, o objetivo passa a ser o acompanhamento dos resultados, identificando possíveis ajustes e novas oportunidades que incrementem as vendas da categoria e facilitem a compra do shopper. 7 898357 410015

Marta Borges, da Coop Rede implementa planogramas que aumentam o lucro das categorias [ BRASIL EM CÓDIGO ] abr/mai/jun 2017 41


[EMBALAGEM

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Canal de comunicação Por Adriana Bruno

Estratégico, o rótulo deve conter informações claras e precisas sobre o produto Além de proteger e armazenar o produto, as embalagens são ferramentas de marketing e comunicação entre o fabricante, o varejo e o consumidor final. O rótulo é parte fundamental da embalagem, pois contribui para escolhas de compra mais assertivas, e vem ganhando atenção cada vez maior de empresas, órgãos regulamentadores e consumidores. Entre os meses de junho e julho de 2016, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC) realizou uma pesquisa pela internet para identificar as dificuldades que as pessoas têm para entender os rótulos. Segundo o estudo, 93,3% dos entrevistados afirmaram que ter uma informação resumida na parte da frente da embalagem ajudaria na compreensão do produto. Outro dado mostrou que 39,6% dos consumidores compreendem parcialmente ou muito pouco a tabela nutricional, sendo que o tamanho da letra (61%), o uso de termos técnicos (51%) e a poluição visual do rótulo (41,6%) foram apontados como fatores que dificultam o entendimento das informações. Diante dessa postura mais crítica do consumidor e da necessidade de

42 abr/mai/jun 2017 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

se adaptar à legislação vigente, as empresas precisam ajustar suas embalagens e rótulos. LEGISLAÇÃO As informações de rotulagem no Brasil são regidas pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO), pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC). De acordo com a diretora executiva da Associação Brasileira de Embalagem (ABRE), Luciana Pelegrino, essas três referências buscam assegurar que a comunicação seja transparente, precisa e objetiva para que o consumidor tenha clareza em sua decisão de compra. Segundo Andressa Marcelino, instrutora de formação profissional da Escola Senai Horácio Augusto da Silveira, na capital paulista, as informações obrigatórias nos rótulos de alimentos são: denominação de venda, ingredientes, conteúdo líquido, identificação da origem, nome ou razão social e endereço do importador (se for importado), lote, prazo de validade, instruções sobre o preparo e uso do

alimento (se necessário), serviço de atendimento ao consumidor, se contém ou não glúten, e declaração de alérgenos e lactose. A rotulagem feita de maneira inadequada pode ocasionar, além de infrações sanitárias, danos à saúde do consumidor, principalmente por conta de alergias alimentares, e a perda da credibilidade do produto e do fabricante. “Por outro lado, uma rotulagem bem feita possibilita a divulgação de informações adequadas às normas dos órgãos regulamentadores”, ressalta Andressa. Além disso, constrói de forma efetiva a percepção do valor do produto, posicionamento, características e diferenciais, o que estimula a venda. CAMINHOS E TENDÊNCIAS Para a também instrutora de formação profissional da Escola Senai Horácio Augusto da Silveira, Viviane Cremaschi Lima, depois da aprovação das normas obrigatórias de rotulagem dos principais alimentos que causam alergias e intolerância à lactose (Resolução RDC 26/2015, que está em vigor no País desde julho de 2016), as indústrias estão adap-


EMBALAGEM E CÓDIGO Além do cuidado com o design e as informações contidas no rótulo, é importante adotar o código de barras nas embalagens, pois nele estão contidas informações que identificam o fabricante e os dados do produto. Os códigos de barras mais apropriados para produtos vendidos no varejo alimentar são: o EAN/GS1-13, com simbologia linear, composto por 13 dígitos e desenvolvido especialmente para leitura no ponto de venda; o GS1 DataBar que, além da identificar o produto, pode conter número de lote e data de vencimento; e o GS1 QR Code, código bidimensional utilizado somente para carregar informações do produto, ou seja, como extensor da embalagem. Porém, não é lido no ponto de venda. A GS1 Brasil oferece um serviço para certificação da qualidade dos códigos impressos na embalagem ou rótulo, além de cursos e treinamentos. Confira a programação em: www.gs1br.org/educacao-e-pratica/eventos/calendario

tando os rótulos para tornar mais fácil a identificação do teor de sódio, açúcar e gorduras – informações importantes para quem sofre de doenças como diabetes, hipertensão e obesidade. Segundo Viviane, dentre as tendências em termos de rotulagem, merece

destaque a adoção do QR Code, código de barras bidimensional que armazena as informações do produto. “O interessante é que com o QR Code o consumidor tem acesso, por meio da câmera do celular ou tablet, a uma série de informações sobre aquele produto”, diz Viviane. Outra ten-

dência é o Clean Label, que diz respeito a uma rotulagem mais limpa e clara, com nomes de ingredientes que são mais familiares para o consumidor. Afinal, ele precisa entender e reconhecer os componentes do produto para realizar uma compra mais segura. 7 898357 410015


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[JOGO RÁPIDO

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Corações e mentes Por Denise Turco

Quais são as preocupações, dilemas e desejos de um CEO? Livro retrata as experiências de profissionais de alto escalão no Brasil O que passa pela cabeça de um CEO de uma grande companhia? Como esse ser humano (sim, ele também é gente) lida, ao mesmo tempo, com questões do mercado, gestão e a preocupação em construir algo importante a fim de colaborar com a sociedade? Para tentar desvendar as mentes e os corações desses executivos, a Corall Consultoria, que trabalha com foco em transformação organizacional e gestão da mudança, reuniu 20 conversas em profundidade com líderes, que revelam uma jornada de transformação organizacional a partir de suas próprias experiências no comando de grandes corporações. As entrevistas foram realizadas pelos cinco sócios da Corall e organizadas no livro Diálogos com CEOs – Conversas que Transformam (Polén Editorial), lançado recentemente. Um dos pontos em comum entre os CEOs retratados na obra é a disponibilidade para experimentar novos modelos de negócios, conta o sócio e CEO da Corall, Fabio Betti. “Todos estavam dispostos a uma conversa que fosse além dos assuntos clássicos sobre negócios, abordando legado, propósito, inspiração e novo jeito de gerir pessoas.” A seguir, Betti conta sobre alguns aprendizados e insights que pôde observar junto aos executivos. A Corall entrevistou 20 CEOs de diferentes ramos da economia. Qual foi a intenção desses diálogos? Nossa intenção foi promover conversas que pudessem ser transformadoras, fazendo perguntas que os CEOs não estão acostumados a responder. Por exemplo: se você encontrasse consigo mesmo recém-formado, o que falaria? Quem te ensinou a ser o líder que é? Quais foram as dificuldades pelas quais passou e o que fez para resolvê-las? Com o livro, pensamos em criar um espaço no qual o CEO

44 abr/mai/jun 2017 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

tem a oportunidade de ler coisas sobre si mesmo para se reafirmar, mas também de saber o que os colegas estão dizendo. Um espaço em que esses executivos pudessem falar de mercado, tendências, produtos, e também de temas não convencionais, como cultura da empresa, liderança em um ambiente onde há muita desigualdade social e o seu papel na transformação da sociedade, por exemplo. Quais são os principais aspectos que definem a gestão desses executivos? Todos têm a visão da liderança transformadora e estão mobilizados para experimentar novos modelos de negócios. Eles se colocam num espaço de vulnerabilidade, o que não é o mesmo que fragilidade, ou seja, algo que quebra. O CEO vulnerável escuta o que está acontecendo no seu contexto e aquilo o toca. E, a partir daí, ele age como integrante desse sistema, não está à parte. Às vezes, o CEO é colocado num pedestal, mas nem sempre quer isso. O Allan Finkel, CEO da Novo Nordisk, começou a convidar funcionários de diferentes níveis hierárquicos para tomar um café. O objetivo é conhecer as pessoas e criar um tipo de ligação para entender o que acontece na organização de maneira respeitosa, sem hierarquia e sem os filtros que os diretores costumam fazer para ele. Isso tem tudo a ver com a comunicação em rede de hoje.


Quais são os principais dilemas e inquietações desses CEOs? O dilema de gerar lucro para o acionista e atender a sociedade ao mesmo tempo, como disse o Marcelo Willer, do Alphaville, marca que é um ícone de condomínios de bem viver. Isso é um reflexo dos grandes temas que nos afligem, falados por pessoas com muito poder de influência. O Mauro Capa, do Vagas.com, é um modelo simbólico e bem-sucedido no Brasil. A empresa tem 17 anos, 160 funcionários e cresce a dois dígitos. Mas o Mauro não tem nenhum objetivo econômico e financeiro. Suas metas são, por exemplo, quantos produtos e inovações a empresa conseguirá desenvolver por ano e o índice de satisfação do cliente. O Vagas.com tem um modelo de gestão horizontal, no qual não há chefes. Não é anarquia, mas tem muito processo, gestão e colaboração envolvidos. O Mauro foca em valores e princípios de cultura. O lucro é apenas combustível. Hoje, fala-se muito da importância de empresas e marcas terem um propósito. Como esses executivos pensam essa questão? O José Carlos Magalhães Neto, do fundo de investimento Tarpon, disse algo que me mobilizou: “você não cria o propósito, você o descobre, porque ele já existe”. Normalmente, a empresa que consegue prosperar mais é aquela que, ao descobrir seu propósito, consegue conectá-lo rapidamente com o propósito da sociedade.

De que forma esses executivos buscam inspiração e energia para estar à frente dos negócios? Como qualquer pessoa. O Rafael Santana, da GE, monta um setlist de músicas para ouvir no carro nos dias que serão mais “pesados”. O Silvano Andrade, da mineradora MRN, mora em uma vila ribeirinha a 200 km de Santarém, no Pará. A inspiração dele é a natureza, andar de barco no rio. O Marcelo Willer, da Alphaville, gosta de nadar, porque consegue se desligar do e-mail, da rede social. Todos os CEOs vivem uma verdadeira jornada do herói: receberam um chamado, não sabiam direito qual caminho trilhar para seu objetivo, mas acreditaram e o resultado apareceu. São pessoas comuns, mas que estão disponíveis ao chamado das organizações. Quais são os principais conselhos e mensagens deixados por esses profissionais? Em uma sociedade de cultura patriarcal como a nossa, o CEO precisa dar o exemplo, porque é tido como um pai ou um herói, papéis que se equivalem, nessa cultura hierarquizada. O Daniel Campos, da AkzoNobel, diz que o problema de estar nessa posição é que ela presume uma perfeição. E perfeição pressupõe que você está pronto, logo, não evolui. Assim, o CEO precisa assumir que não é perfeito e buscar sua evolução. Já o fundador do Buscapé, o Romero Rodrigues, deu um recado para a geração Y, que tem urgência em experimentar muitas coisas ao mesmo tempo: essa turma precisa parar de trabalhar em várias empresas num curto período de tempo, para conseguir realizar algo e, assim, ter uma história para contar. Nas conversas, CEOs – como o Jorge Nishimura, da Jact, e o Silvano Andrade, da MRN – falaram sobre a importância de atuar como um líder a serviço de um propósito e das pessoas. Ninguém é mais importante que ninguém dentro da empresa.

Foto: Divulgação

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“O maior dilema dos CEOs é gerar lucro para o acionista e atender a sociedade ao mesmo tempo” Fabio Betti, da Corall Consultoria

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[RECURSOS HUMANOS

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Invista no seu maior capital

Por Kathlen Ramos

Pequenas empresas podem e devem ter um departamento de recursos humanos. Afinal, é preciso saber gerenciar e valorizar seu principal ativo: as pessoas Por trás de empresas de sucesso, sejam elas de grande ou pequeno porte, sempre estão notáveis talentos. Para que a prosperidade continue, é fundamental que os colaboradores estejam sempre satisfeitos e alinhados aos objetivos da companhia. Dessa forma, assim como os departamentos de compras, financeiro, tecnologia, marketing, e outros envolvidos em um negócio, é preciso gerenciar pessoas. “Lidar com pessoas não é uma tarefa fácil. Se não há profissionais focados no capital humano, a companhia pode ter problemas. Uma empresa sadia se preocupa com essa questão”, afirma o CEO do Instituto Passa-

46 abr/mai/jun 2016 2017 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

dori, que atua na área de educação corporativa, Reinaldo Passadori. Assim, é fundamental ter um departamento ou um profissional que atue na área de Recursos Humanos (RH). “O papel do RH é conduzir as relações entre os colaboradores, recrutar e integrar, de forma adequada, cada um à função que irá desempenhar”, resume o diretor comercial do Grupo Meta RH, Gutemberg Leite. As pequenas e médias empresas precisam, portanto, considerar a implantação do RH não somente como uma despesa, mas, principalmente, como um investimento que trará resultados positivos a médio prazo. “Muitas organizações de porte

menor têm um departamento pessoal, responsável por gerar a folha de pagamento e outras atividades burocráticas. Entretanto, nem todas têm alguém preocupado em selecionar e desenvolver talentos, algo essencial para a sustentabilidade do negócio”, alerta a diretora geral de regionais da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-Brasil), Danielle Quintanilha. Negócios sem essa visão podem ter problemas organizacionais que um bom RH evitaria, desde uma insatisfação com o salário até processos trabalhistas por desvio de função. Pagamentos incorretos, falta de reconhecimento profissional e de ca-


pacitação/aptidão para desempenhar determinadas funções, perfil comportamental em discordância com o da organização e desmotivação são alguns dos problemas que uma empresa pode enfrentar. Além disso, as companhias que não têm um trabalho efetivo com gestão de pessoas também podem ter um custo elevado em função da alta rotatividade de funcionários e baixa produtividade. PARA COMEÇAR Antes de iniciar a estruturação de um departamento de RH, é muito importante que os fundadores definam antecipadamente missão, visão, valores, normas e procedimentos sobre os quais o departamento que será criado deverá trabalhar. Em seguida, deve-se buscar um bom profissional da área. “Ele deve ter experiência para estruturar o programa de integração de todos os colaboradores na cultura que a organi-

zação deseja disseminar e iniciar a implantação. Também deve ter perfil agregador e possuir habilidades de relacionamento, tendo um olhar voltado para o desenvolvimento organizacional e humano”, ensina o especialista do Grupo Meta RH. Na visão de Passadori, que também é autor do livro Quem não comunica não lidera, as características mais relevantes de um profissional do RH são: gostar de pessoas e ser um bom comunicador. “Em relação à formação, ele pode ser graduado diretamente nesta área ou vir dos campos de administração ou psicologia, por exemplo”, complementa. PLANO DE CARREIRA Junto com a preocupação de criar uma área de recursos humanos, por que não pensar em um plano de carreira para os colaboradores? Mesmo em pequenas empresas, é fundamental que o funcionário enxergue oportunidades de crescimento pessoal e profis-

sional, a fim de que siga motivado com projetos futuros. Segundo Leite, alguns passos são importantes para começar a construir um plano de carreira: listar todas os cargos e salários da empresa; identificar se as atividades estão corretamente alinhadas ao cargo, à remuneração e ao profissional; estabelecer metas e avaliar seu andamento. “Para empresas de pequeno porte, desafios e metas possíveis ajudam nesse sentido. Por exemplo, se o vendedor conseguir conquistar ‘x’ clientes em ‘y’ tempo, a companhia contratará mais dois colaboradores e ele fará a gestão deles. Desta forma, um cargo que antes não existia será criado”, exemplifica Leite. Assim, a remuneração não se torna o único ponto de atração para reter e motivar colaboradores. “É preciso se preocupar com benefícios, possibilidade de desenvolvimento, abertura para sugestões de novas ideias, entre outros fatores”, aconselha Danielle Quintanilha. 7 898357 410015

O QUE O PROFISSIONAL DE RH PODE FAZER PELA EMPRESA? 1- Recrutar colaboradores alinhados à cultura e à estratégia da organização; 2- Desenvolver políticas internas nas quais serão estabelecidas as regras para administração de desempenho das atividades;

3- Gerar ações que promovam o desenvolvimento da equipe, de acordo com as necessidades atuais e projeção futura da organização;

4- Estabelecer o que se espera de cada cargo e time de trabalho, identificar gaps e propor ações para desenvolvimento, como treinamentos ou mentorias;

5- Criar formas de avaliação de desempenho por meio do estabelecimento de metas e diagnósticos;

6- Elaborar planos de cargos, salários e carreiras, estabelecendo metas e prazos para o crescimento do profissional;

7- Fazer a gestão do departamento pessoal, contemplando atividades como admissão, compensação e desligamento;

8- Identificar o grau de satisfação dos colaboradores, com foco no aumento do comprometimento e da produtividade. Fontes: Gutemberg Leite, do Grupo Meta RH; Danielle Quintanilha, da ABRH-Brasil; Reinaldo Passadori, do Instituto Passadori

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Em que posso ajudar?

Por Katia Simões

Chatbot, solução que marca a interação entre o homem e a máquina, é uma revolução no atendimento ao consumidor Você é daqueles que se irrita profundamente com as frases decoradas e repetidas pelos atendentes dos serviços de atendimento ao cliente (SACs) das empresas? Se positivo, saiba que elas estão com os dias contados. Isso porque a cada dia cresce o número de chatbots, robôs inteligentes que assumem as funções de assistentes virtuais, resolvendo as dúvidas e os problemas dos consumidores. A tecnologia, que automatiza ao mesmo tempo em que se propõe a humanizar a interação com o cliente na internet, é baseada em inteligência artificial. Os robôs virtuais 48 abr/mai/jun 2017 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

são capazes de realizar tarefas como responder a uma pergunta básica sobre o funcionamento de um produto, reservar hotéis, pedir pizza e agendar a retirada de documentos, por exemplo, sem a necessidade de baixar um aplicativo no smartphone ou tablet. O avanço da programação de inteligência artificial e a proliferação de aplicativos de mensagens permitiram que os robôs especializados em conversas com humanos ganhassem mais espaço. Na visão dos especialistas, o grande impulso para essa solução é recente, e se deu em abril de 2016,

quando Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, anunciou o lançamento da Messenger Platform Beta, que permite a criação de chatbots, tornando as conversas em chats mais atrativas. Vedetes do momento, os chatbots compõem uma pequena parcela do mercado de inteligência artificial, que deverá movimentar US$ 153 bilhões até 2020, segundo o Bank of America Merrill Lynch. Se depender da disposição das pessoas, a tendência é que os robôs ganhem espaço rapidamente. Estudo da Nielsen revela que mais de um terço dos consumidores prefere

Fotos/Imagens: Divulgação/Thinkstock

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[TECNOLOGIA


usar as redes sociais em vez do telefone para falar com o serviço de atendimento ao cliente e a maioria desses consumidores espera ser atendido em menos de uma hora. Na visão do fundador da empresa de tecnologia, mídia digital e dados Reamp, David Reck, os chatbots são responsáveis pela forma como as companhias passaram a solucionar as demandas de seu público-alvo. “Trata-se de um atendimento rápido, inteligente, de baixo custo, que centraliza, em um único lugar, diversos tipos de serviços, alterando a forma como os usuários se relacionam com as marcas. Se compararmos a evolução dos bots com a dos aplicativos, podemos constatar que sua velocidade é infinitamente maior. Vão se popularizar muito rápido”, afirma.

Foto: Paulo Arias

COMODIDADE Os chatbots também têm na conveniência um dos seus principais atrativos. As pessoas podem pedir uma refeição, comprar um produto, emitir a segunda via de um boleto ou resolver um problema na conta bancária sem precisar baixar um aplicativo. Este é um grande benefício, já que, a cada dia, a disputa pelo espaço na memória dos smartphones tem se tornado mais acirrada. De acordo com a pesquisa

“Forrester Research 2015”, 84% das pessoas utilizam apenas cinco aplicativos por mês. Por outro lado, os aplicativos de mensagens estão em ascensão e são usados por mais de 2 bilhões de pessoas. Bons exemplos são o WeChat, popular na China, e o WhatsApp, no Brasil. O primeiro já permite o uso de chatbots, enquanto o segundo ainda está em compasso de espera. “É nessa faixa que os chatbots ganham relevância. Em pouquíssimo tempo, ter um bot será tão necessário para as empresas quanto foi, há quatro anos, ter uma página no Facebook”, afirma Mitikazu Lisboa, CEO da Hive Marketing Technology, com sede em São Paulo e uma unidade no Vale do Silício. Há um ano no mercado, a startup já desenvolveu cerca de 20 chatbots. O mais famoso é o Gígio, criado para receber encomendas de comida, com 30 clientes em carteira e previsão de 200 restaurantes listados até o final de julho. O Gígio funciona integrado ao Facebook Messenger. “Fazer um pedido leva menos de um minuto, desde a escolha do sabor até a forma de pagamento”, diz Lisboa. Enquanto a solicitação está sendo feita, o restaurante acompanha todo o processo por um administrador ou e-mail e autoriza o

Bruno Dalla Fina, da Aivo Custo de um chatbot varia entre R$ 5 mil e R$ 50 mil pedido. O robô apresenta os produtos do cardápio e os preços sem que o cliente precise perguntar a um atendente. Outra estrela da companhia é o James, um chatbot voltado para o mercado hoteleiro, capaz de realizar reservas, fazer as vezes de concierge e, ainda, contatar o cliente após a estadia oferecendo-lhe uma nova oferta. CUSTO NÃO É PROBLEMA Se, num passado recente, a tecnologia estava nas mãos de gigantes como IBM, Google, Apple, Amazon e Microsoft, hoje startups desenvolvem chatbots sob medida para as necessidades de pequenas, médias ou grandes empresas. É o caso da Calamar, com sede em São Carlos, interior de São Paulo, criada no início de 2016. De olho no mercado, a empresa criou o Bigode, chatbot desenvolvido sob medida para a Click Bus, portal de vendas de passagens rodoviárias. “O Bigode é a personificação do atendente dos sonhos, pois consegue anotar infinitos pedidos ao mesmo tempo, conversar com milhões de pessoas e lembrar do histórico de cada conversa”, diz o sócio Thiago Christof.

Sob medida Equipe da startup Calamar substitui as limitações de um serviço de atendimento por tecnologia [ BRASIL EM CÓDIGO ] abr/mai/jun 2017 49


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TECNOLOGIA

Conversando com vários clientes, a startup conseguiu identificar os principais problemas de manter um serviço de atendimento: custo alto das contratações, dificuldade em escalar a equipe e manter a qualidade do atendente. A partir daí, a empresa substituiu essas limitações por tecnologia. O resultado foi a criação do Assistente Virtual Calamar, que é utilizado pelo Buscapé e Tupperware, por exemplo. “O valor do pagamento depende do pacote de serviços, mas o preço básico é de menos de R$ 0,50 por cada atendimento retido”, explica Christof. Já o Gígio, da Hive, por exemplo, custa R$ 150 por mês. O cliente só

pagará um valor extra se o número de pedidos for superior a mil. “Com o aperfeiçoamento da ferramenta e o acúmulo de informações, já que o robô é capaz de oferecer um maior número de respostas à medida que acumula conteúdo, as empresas vão oferecendo pacotes extras”, afirma Lisboa. De acordo com o country manager da Aivo, empresa argentina especializada nessa solução, Bruno Dalla Fina, o custo médio de desenvolvimento de um chatbot varia entre R$ 5 mil e R$ 50 mil, dependendo da necessidade de cada empresa. A questão, na visão do executivo, não é o preço, mas o estágio de aplica-

ção dos bots. A maioria das empresas ainda está na fase de adoção dos robôs informativos, daí batizá-los com nomes e dar a eles uma fisionomia. “O próximo passo, e o mais desafiante, será o de transformá-lo em um robô resolutivo, integrado ao sistema da companhia e capaz de dar uma resposta no ato”, afirma. “Hoje, estima-se que apenas 10% dos bots em atividade sejam resolutivos e que apenas 20% dos clientes no Brasil têm integração.” Segundo Fina, um bom exemplo de integração é o Hotel Urbano, que permite alterar via chatbot uma reserva completa de hotel apenas com a emissão de um formulário, sem a interferência do atendente. 7 898357 410015

HISTÓRIA RECENTE

Foto: Divulgação

Foi ainda na década de 1960 que a psicóloga Eliza – software que simulava um diálogo entre paciente e psicólogo e a partir de suas respostas formulava novas perguntas – causou furor no mercado. Naquela época, o termo chatbot nem sequer existia. Foi popularizado em 2015, depois que as respostas automáticas de e-mails e SMS já faziam parte da rotina das pessoas. No modelo atual, os chatbots deslancharam há pouco mais de um ano, quando plataformas de mensagens, como WeChat e Sine, no Oriente, e Messenger, Telegram e Skype, no Ocidente se abriram para suportar softwares de interatividade. Estima-se que mais de 100 mil chatbots estejam em operação apenas no Messenger. No Brasil, quem virou garoto propaganda recentemente foi o Poupinha, o chatbot do Poupatempo, desenvolvido pela Nama. Por meio de uma interação com o robô, o cidadão tem acesso às informações sobre os serviços de RG, condições, prazos de entrega e realização de novos serviços. Entrou em operação em dezembro de 2016 e atende, em média, 5 mil usuários por dia, teve mais de 8,5 milhões de mensagens trocadas apenas nos três primeiros meses de operação, além de 218 mil agendamentos concluídos. Outro exemplo é o do empresário Douglas Paiva, que não pensou duas vezes ao apostar suas fichas em um chatbot para solucionar as dúvidas dos clientes de sua rede de academias, a Pure Pilates, com 35 unidades. Com formação na área de TI, desenvolveu o Zack em três meses e a cada dia trabalha no seu aprimoramento. “Ele responde perguntas sobre valores, localização, telefones, formação de professores e tipos de aula. O objetivo final não é fechar uma matrícula, mas, sim, que a pessoa agende uma aula grátis”, diz o empresário. O resultado, garante, está acima do esperado, e será ainda melhor quando as pessoas passarem a interagir com os robôs com mais naturalidade e facilidade. Douglas Paiva, da Pure Pilates Academia com 35 unidades aposta em chatbots para responder dúvidas dos clientes

50 abr/mai/jun 2017 [ BRASIL EM CÓDIGO ]



[PERFIL

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Desafios para todos os gostos Por Katia Simões

Escape 60 cresce no Brasil aliando entretenimento e capacidade de resolução de problemas, o que atrai o público em geral e empresas Para uns a curiosidade é um defeito. Para outros, abre portas. Foi exatamente o que aconteceu com a empresária Jeannette Galbinski Abraham, uma curiosa por natureza, que viu numa brincadeira na periferia de Paris a oportunidade para abrir um novo negócio. Acompanhada do marido, Marcio Abraham, e de um casal de amigos, José Roberto Szymonowicz e Karina Papautsky, ela resolveu conferir in loco uma das dicas de entretenimento apontadas pelo TripAdvisor, maior site de viagens em operação no mundo. “O endereço era afastado e o prédio, pouco convidativo para quem se propunha a oferecer um jogo coletivo repleto de desafios, os chamados jogos de fuga”, lembra Jeannette. “Embora a cenografia fosse básica, saímos de lá maravilhados e com a certeza de que não havia nada parecido no Brasil.” Pensar em abrir um negócio no ramo de entretenimento no início da crise econômica, porém, não passava pela cabeça de ninguém, até porque os quatro amigos já

52 abr/mai/jun 2017 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

estavam com as malas prontas para se mudar de vez para Miami. Entre idas e vindas aos Estados Unidos, Jeannette confirmou que os jogos de fuga também estavam despontando por lá, caseiros e escondidos, assim como em Paris. Mas como oportunidade não se perde, ela propôs uma reunião num sábado à tarde para discutir o assunto. “Ninguém disse sim, nem não. Mas todos fizeram a lição de casa e chegaram com as propostas afinadas”, lembra. Assim, em junho de 2015, a empresa abriu as portas em São Paulo, com apresentação e localização bem diferentes das praticadas no exterior. O Escape 60 propõe jogos coletivos em salas temáticas das quais os participantes têm uma hora para sair. Cada grupo, composto de quatro a dez integrantes, deve desvendar os mistérios por meio de pistas espalhadas pela sala e escapar em 60 minutos. Caso não consigam (apenas 20% dos participantes podem se gabar de ter escapado), as pessoas são resgatadas do local. É Abraham, ex-professor de inovação da Poli-USP,


Enigmas estratégicos Jogos estimulam o trabalho em equipe, a comunicação e a resolução de problemas

Fotos: Divulgação

quem desenvolve os enigmas, que envolvem exercícios de lógica, mensagens nas paredes, bilhetes secretos, entre outras coisas. A decoração das salas – entre elas Cassino Paket: O Golpe, Escape Kitchen, Jogo Sujo e Missão - E60 – remete de forma fiel à temática escolhida. “Cada peça tem seu significado e uma utilidade. A ideia é promover uma experiência, em um ambiente de mistério especialmente desenvolvido para aguçar as habilidades e a inteligência dos participantes”, afirma Jeannette. Para garantir ainda mais autenticidade ao cenário, os objetos de decoração foram garimpados em antiquários, bazares e depósitos, além do acervo pessoal dos sócios. “A receptividade foi acima do esperado, porque se trata de um jogo de inteligência, capaz de atrair, com a mesma intensidade, o avô e o neto”,

afirma a empresária. Em quase dois anos de funcionamento, a Escape 60 já recebeu cerca de 250 mil pessoas, de todas as faixas etárias. Entre elas, nomes como Neymar, Tiago Leifert, Boninho e Camila Queiroz. O negócio cresceu. O faturamento em 2016 foi de R$ 15 milhões, valor que deve saltar para R$ 20 milhões neste ano. Hoje, soma 15 jogos inéditos, 38 salas e nove unidades, sendo cinco franquias. O investimento inicial é de R$ 350 mil para um complexo de três salas. A meta para 2018 é dobrar de tamanho. “Nosso maior desafio não é a expansão, é explicar às pessoas do que se trata”, afirma a empresária. “É algo muito novo não só no Brasil, mas no mundo.” MERCADO CORPORATIVO Mas nem tudo é tão fácil e lúdico quanto parece. Trabalhar com entretenimento exige investimento constante em inovação e no entendimento do comportamento distinto do público de acordo com o mercado. No Rio de Janeiro, por exemplo, a praia é um concorrente forte; o Carnaval, apesar de ser um feriado prolongado, provoca queda no movimento porque é impossível transitar nas grandes cidades. “Aprendemos tudo isso na prática. Não dá para ter a mesma estratégia para todos os lugares, embora o produto principal seja o mesmo”, pontua Jeannette. Diferentemente do modelo encontrado

na Europa e nos Estados Unidos, os sócios já conceberam o Escape 60 não somente para lazer, mas também para que empresas utilizem o espaço para avaliar competências de funcionários, treinamentos de liderança, dinâmicas em processos seletivos, entre outras ações. “Os jogos estimulam o trabalho em equipe, a comunicação e a resolução de problemas. Trabalhamos com gestão empresarial há mais de 25 anos. É um nicho pouco explorado no Brasil e com potencial de crescimento”, afirma Jeannette. Desde que abriu as portas, o Escape 60 já recebeu 700 empresas, com o segmento corporativo respondendo por 25% do negócio. Outro diferencial para atender às demandas empresariais é levar parte da experiência a eventos de marketing ou adaptar as salas temáticas com o patrocínio das companhias para o lançamento de produtos e divulgação de marcas. “Na Nestlé, por exemplo, montamos um jogo personalizado que ficou em atividade por quatro meses.” As marcas podem, também, patrocinar as salas nas unidades da rede, algo que a Fox tem feito com frequência. “As oportunidades de expansão são muitas. Mas o segredo está na concepção de novos jogos, cada vez mais desafiadores, atendendo às expectativas e demandas de cada público-alvo. O próximo passo será o desenvolvimento de jogos voltados à área de educação”, anuncia Jeannette. 7 898357 410015

Jeannette Galbinski, da Escape 60 Segredo do negócio está na concepção de jogos desafiadores

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[DESCONEXÃO

Faixa preta nos negócios

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Por Flávia Corbó

Todo caçula enxerga no irmão mais velho uma referência a ser seguida. Com a empresária Malu Pontes não foi diferente. Quando seu irmão começou a lutar judô, a menina, de então 11 anos, ficou encantada e decidiu que também queria praticar a modalidade. Porém, encontrou resistência do pai, que considerava as artes marciais uma atividade masculina. “Ele tentou me colocar em vários esportes tidos como femininos, como patinação, vôlei, natação e jazz, mas eu sempre gostei de ação. Tenho um temperamento competitivo”, conta. A personalidade forte acabou prevalecendo e, depois de muita insistência, Malu conseguiu autorização para pisar em um tatame. A sintonia foi imediata. O que parecia apenas um desejo de imitar o irmão mais velho revelou-se uma paixão. O irmão desistiu do judô antes de atingir a graduação máxima, mas Malu seguiu firme na prática do esporte, tornou-se faixa preta e há 29 anos não passa uma semana sem lutar. Durante muitos anos, a dedicação ao esporte foi total. Malu treinava de cinco a seis vezes por semana e não demorou para que tivesse o empenho recompensado. Aos 16 anos, foi convocada para integrar a seleção brasileira de judô. Por meio de patrocínios, pôde conhecer mais de dez países durante a disputa de campeonatos internacionais. O futuro como atleta parecia promissor, mas, com o passar dos anos, o desejo de construir uma carreira profissional convencional falou mais alto. “Até pensei em me dedicar exclusivamente ao esporte, mas eu via que a carreira não era valorizada, ainda mais no judô feminino. Percebi que teria dificuldade em me manter”, lembra. Enquanto amigos próximos pararam de estudar para se tornarem atletas olímpicos, Malu fez faculdade de letras e de jornalismo, e foi em busca de um bom emprego. “Não teria uma vida confortável só com o judô. Para mim, realização pessoal é fazer o que se gosta e, ao mesmo tempo, ter um retorno financeiro. Por isso, procurei fazer uma carreira”, explica. Diante da decisão, Malu passou a conciliar o esporte com a vida profissional. E, por um bom tempo, a estratégia deu certo. Aos 30 anos, ela conquistou o primeiro lugar no campeonato mundial de judô, em 2007. As vitórias não pararam por aí: no ano seguinte, mais um ouro. Em 2009, veio a terceira colocação e, em 2010, ela subiu no lugar mais alto do pódio novamente.

Fotos: Elisabete Pacifico

Praticante de judô desde pequena, a empresária Malu Pontes tirou dos ensinamentos dessa milenar arte marcial a coragem necessária para empreender


Dedição ao esporte Empresária faz treinos semanais de judô para manter corpo e mente equilibrados

NOVA ROTINA Depois de tantas conquistas, o judô foi perdendo terreno, e hoje ocupa o espaço de hobby na vida da multitarefa Malu. Locutora, dona de uma produtora de áudio e sócia-diretora do Khea Thai, rede de franquias de restaurantes especializados em culinária tailandesa, Malu chega a trabalhar 12 horas por dia. Por isso, frequenta a escola de artes marciais apenas duas vezes por semana. “Agora pratico o judô como uma forma de relaxamento. Também corro e faço musculação. Acredito que o esporte é fundamental para manter bem o corpo e a mente”, afirma. Essa lição a empresária de 40 anos aprendeu na prática. Logo que fundou a franquia de restaurantes, o ritmo de trabalho era tão intenso que Malu abandonou o hábito dos exercícios físicos diários. Hoje, ela percebe que foi um erro. “Acabei indo parar no médico e no terapeuta. Por mais que a vida seja complicada, com muitas horas de trabalho e problemas a serem resolvidos, precisamos encaixar o lazer, senão esquecemos quem somos, nossa cabeça entra em colapso.” As lições tiradas de uma vida inteira de dedicação ao esporte ainda vão além. A filosofia da arte marcial japonesa foi fundamental para que a empresária tivesse coragem de empreender em um País com tantos obstáculos como o Brasil. “No judô, a primeira coisa que aprendemos é como cair. Antes de dar qualquer golpe, caímos e levantamos repetidamente. Na vida pessoal e profissional, tomamos tombos e pensamos que tudo está acabado. Mas aprendi que, sempre que caio, levanto melhor e mais preparada para uma queda mais suave ou para não me deixar derrubar novamente.” Essa identificação com a cultura asiática foi uma das razões que animaram Malu a investir em uma rede de gastronomia tailandesa. Quando uma amiga e chef de cozinha, que morou na região, mostrou vontade de abrir

um restaurante, ela abraçou a ideia. Ao que tudo indica, o sucesso obtido outrora nos tatames deve se repetir na esfera comercial. Em dois anos, Malu e a sócia obtiveram uma rápida expansão. Além da primeira unidade, instalada em São José do Rio Preto (SP), rede Khea Thai tem uma franquia em Curitiba (PR) e previsão de abertura de outras três unidades – duas no Paraná e uma no Mato Grosso do Sul. Em 2016, a rede faturou R$ 1,3 milhão, crescimento de 20% comparado ao ano anterior. Para garantir um crescimento contínuo e saudável do empreendimento, Malu se apoia em um dos preceitos básicos do judô, o ‘jita-kyoei’, que significa trabalhar com mínimo esforço para atingir o máximo de resultado, em busca do benefício e bem-estar mútuo. “Ou seja, ter uma gestão inteligente, pensando não só nos meus ganhos, mas em todos ao meu redor, como franqueados, fornecedores, família e amigos”, conclui Malu. 7 898357 410015

Máximo resultado Preceitos da arte marcial inspiram Malu Pontes na gestão da empresa, que cresceu 20% em 2016 [ BRASIL EM CÓDIGO ] abr/mai/jun 2017 55


[RADAR

Por Ticiana Werneck

O turismo de experiência ganha adeptos que desejam ir bem além das atrações típicas, mergulhando na cultura local Que tal participar da colheita da uva em Bento Gonçalves (RS), visitar fábricas de cerveja artesanal na região serrana do Rio de Janeiro, conversar com nativos que vivem em ilhas artificiais feitas de emaranhados de palha no Lago Titicaca, no Peru, adentrar nos porões onde viveu a garota judia Anne Frank, em Amsterdã, na Holanda? Estas são apenas algumas das possibilidades do chamado “turismo de experiência”, modalidade que vem crescendo entre os brasileiros. São roteiros para o viajante que busca atrelar o lazer das férias a uma vivência diferenciada, mergulhando fundo na cultura local. Para esse perfil de turista, os atrativos estendem-se para além de museus, parques e pontos turísticos. Por isso, as agências oferecem pacotes, prontos ou customizáveis, para todos os gostos. Em Israel, por exemplo, as rotas religiosas percorrem os caminhos da Terra Santa, seguindo as passagens bíblicas e narrativas adaptadas para ca56 abr/mai/jun 2017 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

tólicos ou evangélicos. Já o roteiro gastronômico em Lima, no Peru (foto acima), inclui visitas a restaurantes e bares, dedicando atenção especial ao ceviche e ao Pisco Sour, produtos peruanos que seduziram os paladares mais exigentes do mundo. Neste caso, os turistas participam da seleção dos ingredientes, fazem degustação e têm aulas com chefs e bartenders renomados. No Brasil, a rota dos restaurantes na Serra Gaúcha oferece cardápios especiais e receitas típicas da colônia italiana, como, por exemplo, o galeto assado com polenta, e também jantares harmonizados. Fora do País, há pacotes de duas semanas para jovens, que englobam, além de curso do idioma local, a vivência em uma casa de família; em Paris, incluem aulas de culinária; e em Málaga, aulas de flamenco. Há ainda quem opte pelo “volunturismo”, no qual o turista se envolve em atividades de voluntariado, contribuindo na comunidade que está visitando.

Fotos: Divulgação CVC

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Viagens que transformam


Vinícolas abrem as portas para turistas mergulharem na cultura do vinho

A gerente de vendas da CVC, Viviane Piovarcsik, conta que os turistas mais adeptos das experiências diferenciadas são os casais de meia idade, que já acumulam um certo número de viagens e, nesse momento da vida, procuram algo diferente. Mas, para quem se aventura pela primeira vez, ela dá a dica: “Vá com o coração aberto, sem medos ou restrições em participar das vivências propostas”. Quem embarca com essa motivação volta com muitas histórias na bagagem. Confira alguns roteiros disponíveis no Brasil. VINDIMA Durante o inverno, a Serra Gaúcha é um dos destinos mais procurados do Brasil. Mas de janeiro a março,

Buriti, no município de Turmalina, no Vale do Jequitinhonha (MG). Na região, a pobreza gerada pela seca e pela falta de emprego convive com uma rica cultura e um forte capital social. Os voluntários se hospedam em casas de família e participam de oficinas com mestres ceramistas, além de auxiliar na manutenção da escola local e em pequenas obras na comunidade. Já na Ilha de Cotijuba, em Belém (PA), o viajante tem a oportunidade de participar de atividades ligadas à culinária e cultura amazônica, projetos de conservação de espécies nativas

TOUR CERVEJEIRO Já para os amantes de cerveja, o Circuito Cervejeiro com o Tour Imperial oferece visita com degustação às fábricas da Bohemia, Buda Beer e Grupo Petrópolis, nas cidades da região serrana do Rio de Janeiro. O pacote, que é oferecido pela CVC, inclui passeios nos principais pontos turísticos da região e na St. Gallen, uma vila com inspiração germânica que possui uma micro cervejaria. VOLUNTURISMO A Vivejar, agência de viagens especializada em volunturismo, possui pacotes diversos, como a imersão com os ceramistas no povoado de Campo

Vale do Jequitinhonha Voluntários se hospedam em casas de família e participam de oficinas com mestres ceramistas

Foto: Favela Orgânica

Serra Gaúcha

quando as temperaturas estão elevadas, o Vale dos Vinhedos ganha vida e cores com a Vindima, época da colheita das uvas. As vinícolas abrem as portas para celebrar esse momento e receber turistas, que aproveitam para mergulhar na cultura do vinho. Eles vivenciam as etapas da produção: corte dos cachos, visita à cave, processo de engarrafamento e, por fim, uma degustação, orientada por um enólogo. Em algumas vinícolas, dá até para participar da “pisa”, uma forma antiga de fabricar vinho pisoteando os cachos ao ritmo de músicas italianas.

Morro da Babilônia Projeto Favela Orgânica ensina cultivo e aproveitamento de alimentos em comunidade carioca

da região e criação de biojóias com recursos florestais locais. Também é possível fazer trabalho voluntário em projetos sociais destinados à socialização de idosos. Na cidade do Rio de Janeiro, no morro da Babilônia, localizado em frente ao Pão de Açúcar, o turista-voluntário conhece o Projeto Favela Orgânica, cujo objetivo é ensinar moradores da região a aproveitarem os alimentos em sua totalidade, evitando o desperdício e cuidando do meio ambiente. A proposta é fazer imersão em uma comunidade, além das oficinas de culinária com aproveitamento total de alimentos, cultivo, colheita e manutenção das hortas comunitárias. 7 898357 410015

Foto: André Dib

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[SAÚDE

Foto:Thinkstock

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Padrão de saúde Da Redação

Conferência promovida pela GS1 consolida as principais diretrizes globais para o uso de tecnologias no setor, com foco em segurança do paciente Garantir a segurança do paciente é um princípio básico, quando o assunto é saúde. E, cada vez mais, as soluções tecnológicas apoiam profissionais e empresas nessa tarefa. Ao redor do mundo, há muitas iniciativas envolvendo automação e processos de rastreabilidade de medicamentos e produtos para saúde que estão sendo implementadas por indústrias, laboratórios, hospitais e na cadeia de suprimentos de modo geral. Muitos projetos adotam os padrões GS1 como base para identificar os itens e fazer a rastreabilidade desde o fabricante até o usuário final, o que ajuda a diminuir erros no atendimento ao paciente e comprovar a procedência dos medicamentos, por exemplo. Essas diretrizes se mostraram um consenso para o setor da saúde durante a Conferência GS1 Healthcare, realizada em março, em Berlim, na Alemanha. O evento reuniu 400 participantes, vindos de 50 países, entre representantes de indústrias farmacêuticas, hospitais, ór-

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gãos reguladores, provedores de tecnologia e executivos da GS1. O objetivo do evento, realizado duas vezes por ano, é compartilhar as tendências e as melhores práticas na área da saúde com base na aplicação dos padrões GS1. A organização tem apoiado o setor na implementação do Unique Device Identification (UDI), sistema utilizado para identificar de maneira única os dispositivos médicos, já adotado na Europa e nos Estados Unidos. A entidade também criou um projeto, o “Imagine”, para ampliar o envolvimento dos profissionais que atuam em hospitais e farmácias no uso dos padrões GS1. Além disso, auxilia organizações voltadas para causas humanitárias, como a agência de refugiados da Organização das Nações Unidas (ONU). A GS1 Brasil esteve representada no evento pela gerente de negócios, Ana Paula Maniero, e pelo executivo de negócios, Marcelo Sá. Dois profissionais da Agência Nacional


de Vigilância Sanitária (ANVISA), Leandro Pereira e Patrícia Chagas, também participaram da conferência. A comitiva brasileira aproveitou para visitar o Centro de Conhecimento da GS1 Alemanha, na cidade de Colônia, que demonstra a aplicação prática de várias tecnologias e padrões globais. “Foi uma ótima experiência, pois no local há uma área dedicada ao setor da saúde na qual é possível ver a interação dos padrões GS1 em diversos processos. Por exemplo, uma máquina de impressão do GS1 DataMatrix na linha de produção de

Foto: GS1

Presença brasileira Ana Paula Maniero e Marcelo Sá, da GS1 Brasil, na conferência sobre saúde

medicamentos, e a simulação de uma recepção de hospital onde o paciente recebe uma pulseira com o GS1 DataMatrix que o acompanhará até o final da internação. Há também a simulação do ambiente de uma farmá-

cia, no qual é possível conferir o uso do EAN-13 para a venda do medicamento”, conta Marcelo Sá. A próxima Conferência GS1 Healthcare será realizada em outubro, em Chicago, nos Estados Unidos. 7 898357 410015


[TENDÊNCIA

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Fotos/Imagens: Divulgação/Thinkstock

Todos por todos

Por Ana Paula Garrido

Com a união de pessoas, ideias, produtos e serviços, a economia compartilhada conquista o mercado de pequenas e grandes empresas Quando criança, o conselho dos pais era sempre para dividir o brinquedo com o amigo. O tempo passou e esse discurso foi se perdendo até chegar à lógica do cada um por si. Porém, atualmente, o consumo desenfreado se tornou insustentável. “Há uma necessidade de desenvolvimento de um novo modelo econômico, que deixa o aspecto da posse do produto e passa a ser voltado para a vivência de experiências, valorizando a interação entre os seres humanos”, reflete

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o coordenador do MBA de Economia Criativa da ESPM, Caio Bianchi. Neste cenário, surge a economia compartilhada ou colaborativa, baseada na divisão da utilização de um produto ou serviço, que tem crescido no País com a difusão de aplicativos capazes de reunir pessoas dispostas a colaborar. Prova de que essa rede – formada por indivíduos que não se conhecem, mas estão aptos a convergir ideias e ações –, vem se


Demanda crescente Cozinha compartilhada e espaço de coworking são alguns dos negócios da House of All

expandindo é que o Brasil já é líder em negócios colaborativos na América Latina, de acordo com o relatório de 2016 da IE Business School, realizado em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Mas tal novidade ainda gera dúvidas entre consumidores e empresários. “Muitas pessoas ainda não entendem o que é compartilhamento”, comenta Laura Andrade, sócia de Lorena Barreto na My Open Closet, um site para aluguel de vestidos de festa que começou em 2016 como uma espécie de ajuda entre amigas, aflitas com uma maratona de casamentos pela frente, e hoje caminha sozinho. A empresa disponibiliza 250 vestidos para alugar e, neste ano, montou um showroom para facilitar a prova das peças. Um problema pessoal também foi o ponto de partida do aplicativo BlaBlaCar. Depois de enfrentar um baita congestionamento no Natal de 2003, na França, o empresário Frédéric Mazzella criou uma solução para conectar condutores e passageiros para dividirem custos, conta o diretor-geral da BlaBlaCar no Brasil, Ricardo Leite, satisfeito com os resultados locais. Segundo ele, desde que o aplicativo chegou por aqui, em 2015, já foram criadas mais de 25 mil diferentes rotas pelo País, 85 milhões de quilômetros foram

percorridos no último ano e 1 milhão de assentos foram disponibilizados para caronas. PILARES Seja qual for o tipo do negócio colaborativo, é importante ter em mente que ele precisa ser monetizado. “O compartilhamento tem de envolver dinheiro, não necessariamente em espécie, mas uma baliza de valores. Do contrário, não é economia”, resume Wolfgang Menke, dono da House of All, um conjunto de franquias especializado na arte de compartilhar, que possui espaços de coworking, sistema de rodízio de roupas e aluguel de cozinha profissional. As primeiras casas foram criadas em São Paulo (SP), em 2013. Outro pilar desse novo modelo de negócios é a importância da comunidade criada em torno da economia compartilhada (leia na próxima página). “Isso é fundamental para que o compartilhamento possa acontecer. Fornecer confiança em larga escala é a grande revolução da economia compartilhada”, acredita Leite. Confiança, aliás, é o que não falta às clientes da My Open Closet. Prova disso é que, em 2016, 30% dos aluguéis de vestidos de festa foram para fora de São Paulo, onde a empresa tem a sua base. Ou seja, sem

que as pessoas experimentassem antes. “Uma moça de Garanhuns, Pernambuco, alugou um vestido de formatura, que chegou apenas quatro dias antes da festa”, lembra Laura. Agora, as sócias já estão criando outra forma de alugar os vestidos. Elas testam um formato no qual a peça fica com a dona, que se torna responsável em entregar e receber a roupa, enquanto a My Open Closet atua como intermediária, facilitando a realização dos aluguéis via site. PRESENTE E FUTURO A superação de um momento difícil com atitudes inovadoras se encaixa bem no perfil da economia compartilhada. De acordo com o coordenador dos cursos de administração e de gestão de tecnologia da informação da FIAP, Cláudio Carvajal, a crise pode virar um estímulo para arriscar. “Quando o Airbnb foi criado nos Estados Unidos, as pessoas resistiam a alugar suas casas para receberem um estrangeiro. Mas quando a crise começou, os norte-americanos acabaram quebrando esse tabu cultural e começaram a compartilhar suas casas, algo que se tornou comum hoje.” No Brasil, a recessão também mostra seu lado bom para quem atua nessa área. “No fim de 2015, a crise afetou

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TENDÊNCIA

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Ricardo Leite, da BlaBlaCar Confiança é a grande revolução da economia compartilhada

a House of Food (cozinha compartilhada), já que as pessoas deixaram de comer fora. Em 2016, as empresas começaram a demitir e o coworking foi afetado. Mas faz três meses que o movimento foi retomado de forma ampla, porque a crise está mais amena”, avalia Menke. Com relação ao futuro, a comunidade empreendedora também compartilha uma visão otimista. Laura

aposta no fator crise para crescer. “Podemos dar oportunidade para as pessoas que têm vestido parado em casa ganharem um dinheiro alugando a peça, ou seja, disponibilizando vestidos que custam uma fortuna nas lojas por valores que as pessoas conseguem pagar.” Já Menke acredita que o trabalho desenvolvido ao longo de quatro anos na House Of All dará frutos em

COLOQUE A ECONOMIA COMPARTILHADA EM PRÁTICA Serviço pago Como fazer com que uma atitude aparentemente pautada apenas na solidariedade se torne rentável? Na opinião de Wolfgang Menke, da House of All, é importante monetizar a solução desde o começo, porque se a empresa iniciar os trabalhos, formar a comunidade e só depois começar a cobrar, pode dar algum problema. Questão de escala Um dos principais desafios refere-se à mudança do conceito de produção. Enquanto o modelo tradicional é baseado na escala – quanto mais você vende em volume, menor o custo unitário e maior a margem de lucro – a economia compartilhada prevê redução da demanda. Caio Bianchi, da ESPM, sugere que a empresa agregue outros tipos de uso para um determinado produto para que, assim, possa vendê-lo por um valor maior, sem precisar aumentar a escala. Quanto vale Menke chama atenção para a dificuldade de as pessoas entenderem o valor real do produto ou serviço compartilhado. “Não é uma questão de precificar, mas de valorizar”, comenta ele, que vive respondendo a questionamentos sobre a roupa disponibilizada ser usada ou a taxa de utilização da cozinha ser alta. Palavra escrita É preciso uma dedicação extra nas questões legais, porque no Brasil, ainda não há uma lei clara sobre compartilhamento. “Se houver algum problema em uma cozinha alugada, por exemplo, a lei não deixa claro quem é o responsável: o dono do imóvel, o chef ou os dois?”, questiona Bianchi. Portanto, estabelecer um contrato proporciona segurança jurídica, orienta Cláudio Carvajal, da FIAP.

62 abr/mai/jun 2017 [ BRASIL EM CÓDIGO ]


MENOS É MAIS: OS PILARES DA ECONOMIA COMPARTILHADA

Utilizar ao máximo produtos e serviços, evitando deixar recursos ociosos ou subutilizados O sistema deve ser descentralizado e distribuído, como a internet, que não tem dono, sendo de todo mundo. Confiança e relacionamento são as bases para estabelecer a comunidade, formada pela empresa que oferece o produto/serviço e pelas pessoas que o acessam. Fonte: Wolfgang Menke, da House of All

breve. “Sabemos que a demanda virá. Daqui a alguns anos, o grupo de consumidores em potencial será formado pelos jovens de hoje, que já compartilham tudo.” CONSUMO CONSCIENTE Para quem pensa em seguir o formato colaborativo, o professor Bianchi recomenda ficar de olho nos setores cujo modelo tradicional seja considerado insustentável atualmente. “Os espaços de coworking estão explodindo

em São Paulo, principalmente porque os aluguéis são muito caros na cidade. É por isso que se começa a buscar alternativas mais baratas por meio do compartilhamento.” Dessa forma, o modelo colaborativo abre novas oportunidades de mercado. “Os principais pontos positivos são a sustentabilidade e o incentivo ao consumo consciente”, analisa o presidente da DSOP Educação Financeira e da Associação Brasileira de Educadores Financeiros, Reinaldo Domingos.

O mesmo pensa o professor Caio Bianchi, enfatizando a interação social e a redução de impactos ambientais, pois não será preciso produzir em larga escala. Se você ainda tiver dúvidas sobre negócios compartilhados, não hesite em interagir com quem alguns poderiam chamar de concorrentes, mas que, nesse novo modelo, são considerados integrantes da rede. “Neste mercado todos estão muito disponíveis para conversar”, conclui Laura.

Fotos: Divulgação

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Lorena Barreto e Laura Andrade, da My Open Closet Site para aluguel de vestidos de festa cresce na crise

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TENDÊNCIAS E NOVIDADES EM AUTOMAÇÃO

Foco nos desenvolvedores A Axway apresenta ao mercado a nova versão da AMPLIFY™, plataforma de engajamento e integração de dados baseada na nuvem, com novos serviços, acesso grátis e ferramentas de código-fonte aberto para melhorar a produtividade dos desenvolvedores. A solução proporciona acesso sob demanda para desenvolver aplicativos e APIs (padrões de programação para a construção de aplicativos). A rede da Axway possui mais de 950 mil desenvolvedores no mundo.

Solução de PDV A Sweda, que atua com automação comercial para o varejo, apresenta duas novidades em soluções de PDV. A primeira é o Mobox Garnet, com monitor touch screen e projetado para locais com pouco espaço. Possui gabinete com sistema fanless, que reduz o acúmulo de sujeira e o torna mais silencioso. A segunda é o Mobox SPT-2500, direcionado para redes de fast-food e lojas de departamento, capaz de suportar ambientes de alta temperatura. Os dois modelos podem ser utilizados em conjunto com outros equipamentos da Sweda, como impressora não fiscal e leitor de código de barras. 64 abr/mai/jun 2017 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

Revolução fiscal Para ajudar as empresas a lidarem com o complexo cenário tributário brasileiro, chega ao mercado a Busca.Legal Tax One. Com ele, é possível acessar a plataforma interativa (www. t1.busca.legal) e obter a tributação (ICMS, IPI, PIS e COFINS) do produto nas operações de venda na indústria, atacado e varejo. Basta ter o código de barras do produto ou NCM. A solução foi desenvolvida com base na computação cognitiva, com a tecnologia IBM Watson, e faz parte do portfólio da empresa Busca. Legal Tecnologia, idealizada por ex-sócios da Fiscosoft e sócios da SYSTAX, empresa de inteligência fiscal.

App de medicamentos Em breve, todo medicamento vendido no Brasil terá uma identificação que permitirá fazer a sua rastreabilidade, de acordo com lei que está sendo implantada no País. Neste cenário, a R&B, focada no desenvolvimento de soluções de rastreabilidade, lança o MEDiD. O aplicativo mobile permite ao consumidor escanear o código de barras ou o GS1 DataMatrix de um medicamento pela câmera do celular para, assim, ter acesso a informações de rastreabilidade, bula digital, alertas de consumo e vídeos instrutivos. O app é gratuito e está disponível nas plataformas iOS e Android.

EDI para os pequenos A EDICOM, que desenvolve tecnologias e serviços para integração de dados, lança a Business@Mail, plataforma em nuvem para publicação de documentos que permite o intercâmbio eletrônico de dados (EDI). O foco é o compartilhamento de informações entre varejistas e fornecedores de pequeno porte, que geralmente têm pouca infraestrutura tecnológica. Segundo a empresa, a ferramenta é mais segura e rápida do que o envio de documentos por e-mail, fazendo com que os varejistas possam ter um fluxo de 100% de comunicação com fornecedores via EDI.

Fotos/Imagens: Divulgação

VITRINE DE SOLUÇÕES

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Base para bons negócios Diante da transformação digital que tem impactado todas as esferas de negócios, é vital que empresas e profissionais se preocupem também com a qualidade dos dados

‘ Virginia Vaamonde,

CEO da GS1 Brasil

Muitas oportunidades surgem no mundo todo em virtude da transformação digital e do avanço da tecnologia nos últimos anos. Comprar on-line ou acompanhar as transações bancárias pela internet, por exemplo, já são rotinas incorporadas por muitas pessoas. A cada dia, são criadas novas ferramentas, dispositivos e aplicativos para apoiar e facilitar atividades em diferentes áreas da sociedade. E, ainda, novos modelos de negócios se desenvolvem rapidamente, como o Airbnb, o Uber e muitos outros. Ao visitar a CeBIT 2017, evento mais importante do mundo no que diz respeito à economia digital, que aconteceu em Hannover, na Alemanha, no mês de março, me deparei com siglas e termos que são cada vez mais comuns no mundo dos negócios e já são apontados por especialistas como as tecnologias que moldarão nosso futuro. A maioria dos 3 mil expositores da feira tratou de AI, IoT, ML, VR e drones. A saber: inteligência artificial (AI, da sigla em inglês), Internet das Coisas (IoT), aprendizado de máquina (ML, do inglês machine learning), realidade virtual (VR, do inglês virtual reality) e veículos aéreos não tripulados (drones). A inteligência artificial permeou muitas das soluções apresentadas, desde assistentes pessoais, como o Alexa e o Google Home, até aplicações para cidades inteligentes, que ajudam as administrações no monitoramento de segurança e tomada de decisão rápida, por exemplo. Os assistentes pessoais em forma de robôs estão cada vez mais presentes e interativos, aproximando a internet das coisas do nosso dia a dia, assim como o conceito de que as máquinas aprendem rápido (machine learning), processam dados e tomam decisões em tempo surpreendente. A jornada de compra ganha um novo dinamismo quando contamos com o auxílio da tecnologia nos apontando se a melhor compra será no varejo on-line ou presencial. Mergulhar na realidade virtual pode remodelar a maneira como aprendemos e executamos nossas tarefas. Cirurgias realizadas à distância e participação em cursos e treinamentos, por exemplo, são apenas algumas formas de usar os óculos VR já disponíveis no varejo. Na CeBIT de 2017, os drones tomaram quase um pavilhão inteiro dos mais de 15 abertos à visitação. Mais robustos, inteligentes e rápidos, eles prometem otimizar a logística em diversas indústrias. Entretanto, a meu ver, não basta ter um conjunto de siglas e tecnologias à disposição se não houver uma boa base de dados. Não me refiro somente ao big data, mas à forma como as informações são organizadas, analisadas e disponibilizadas. Cada vez mais, será fundamental um movimento de todas as empresas e profissionais em prol de uma base de dados consistente e padronizada, visando o uso de aplicações e soluções em sua plenitude. Vejo muita sinergia entre as tecnologias da CeBIT e a colaboração da GS1 para a comunidade de negócios. Por aqui, a GS1 Brasil tem trabalhado para construir uma fonte de dados de qualidade e relevante ao mercado nacional. Temos compartilhado essa visão com os nossos stakeholders e oferecido estudos e pesquisas que demonstram ser esse o caminho.

66 abr/mai/jun 2017 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

Foto: Paulo Pepe

Cada vez mais, será fundamental um movimento de empresas e profissionais em prol de uma base de dados consistente e padronizada




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