Revista UBC #33

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#33

AGOSTO 2017

Al tís si mo naipe

Os bastidores da união de Gilberto Gil, Gal Costa e Nando Reis no projeto “Trinca de Ases”

MERCADO

Quem é o ouvinte digital? Pelo País

Crise na música de concerto UMBERTO TAVARES

O eclético produtor que ajudou a levar Anitta ao sucesso


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#33

AGOSTO 2017

RE VIS TA

A Revista UBC é uma publicação da União Brasileira de Compositores, uma sociedade sem fins lucrativos que tem como objetivos a defesa e a distribuição dos rendimentos de direitos autorais e o desenvolvimento cultural.

Diretor executivo Marcelo Castello Branco Coordenação editorial Elisa Eisenlohr Assistente de coordenação editorial José Alsanne Projeto gráfico e diagramação Crama design estratégico Editor Alessandro Soler (MTB 26293) Textos Alessandro Soler (Nova York), Andrea Menezes (Brasília), Eduardo Fradkin (Rio de Janeiro), Fabiane Pereira (São Paulo), Gilberto Porcidônio (Rio de Janeiro) e Kamille Viola (Rio de Janeiro) Fotos Imagens cedidas pelos artistas (créditos nas respectivas páginas) Capa Foto Daryan Dornelles (Rio de Janeiro) Tiragem 8.500 exemplares/Distribuicão gratuita Rua do Rosário, 1/13º andar, Centro Rio de Janeiro - RJ, CEP: 20041-003 Tel.: (21) 2223-3233 atendimento@ubc.org.br

por_ Manno Góes

“Com quantos gigabytes se faz uma jangada, um barco que veleje nesse infomar?”, pergunta Gil em sua ‘Pela Internet’. O avanço da tecnologia e da inserção da conectividade virtual em nossas vidas provocou mudanças significativas, não só na produção artística, como também na sua forma de consumo. Há um novo universo de consumidores habitando exclusivamente o mundo digital, provocando uma nova revolução na indústria da música, criando inéditas oportunidades e possibilidades de se velejar em mares nunca antes navegados.

Editorial

Diretoria Paulo Sérgio Valle (Presidente) Abel Silva Antonio Cicero Aloysio Reis Ronaldo Bastos Sandra de Sá Manoel Nenzinho Pinto

A criação é uma eterna evolução, desde as ranhuras nas cavernas até as mais modernas obras de arte. A criatividade artística é justamente o instrumento que representa essas transformações ao longo do tempo, através da sensibilidade e da visão do criador. Nesta edição, que traz em sua capa três artistas que vivenciaram inúmeras transformações ao longo de suas vitoriosas carreiras, tratamos do assunto através da matéria de Gilberto Porcidônio, ao mesmo tempo em que, através das linhas de Eduardo Fradkin, abordamos as dificuldades que a Música de Concerto vem enfrentando para se adaptar aos novos tempos. Essa conexão entre futuro e presente é sempre necessária para se preservar não só a arte e seu importante papel educador e cultural, mas também para manter a dignidade e o respeito aos criadores intactos nas constantes vazantes da infomaré que nos atinge. Enfrentando todas as tsunamis que ocasionalmente tentam diminuir a representatividade dos autores, a UBC segue firme e atenta ao seu propósito de navegar conectada à correnteza do tempo, para bem servir e melhor representar as peças-chave e fundamentais de toda transformação e revolução artística que existe: os autores. UBC: Por quem faz a música.


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NOVIDADES NACIONAIS NOTÍCIAS INTERNACIONAIS Pelo País: Crise nas orquestras FIQUE DE OLHO HOMENAGEM: Ney Matogrosso CAPA: Gal, Gil e Nando ENTREVISTA: Fernando Moura MERCADO: Ouvinte digital RELATÓRIO ANUAL

30 34 36 38 DÚVIDA DO ASSOCIADO

10

DISTRIBUIÇÃO: Taxa de administração

8

ENTREVISTA: Zé Ricardo

6

PERFIL: Umberto Tavares

5

JOGO RÁPIDO: Luana Carvalho

ín dI ce 10

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1 40

36


jogo rápido 5

Filha de Beth Carvalho lança seu primeiro trabalho solo, composto de dois discos “gêmeos” e um farto conteúdo extra em palavras e imagens do_ Rio

Lu ana Car va lho

foto_ Tati Domais

Luana Carvalho não crê em artes estanques, divorciadas uma das outras. Filha da madrinha do samba, Beth Carvalho, traz do berço o amor pelas misturas. Seu primeiro trabalho, por isso, não é um; são inúmeros: dois discos gêmeos — “Branco” e “Sul” (a maioria das composições é dela) —; além de encartes repletos de poemas (de Eucanaã Ferraz e Alice Sant’Anna) e ilustrações (de André Dahmer, Tomás Cunha Ferreira e Kammal João); e, por fim, há também um material extra em forma de livro, com textos de Lenine e Gonçalo M. Tavares. Num trabalho tão multiartístico, o que vem primeiro? Letra? Melodia? Ideia? Imagem? Primeiro vêm os dias. A canção se anuncia muito antes de começar a acontecer. Tem a ver com a estação do ano, com o tempo lá fora, com o tempo aqui dentro, com o que sonhei, com as

Ouça MAIS Escute o álbum “Branco” na íntegra em ubc.vc/LuanaBRANCO

notícias, com as pessoas que andam cruzando comigo as esquinas, as redes, o coração. A canção me compõe mais do que eu componho a canção. É ela que determina o assunto, o ritmo, aonde ir. Quais as principais diferenças entre “Sul” e “Branco”? O “Branco” tem muitas músicas, mistura sonoridades. Já o “Sul” é mais intimista. Para o início da turnê, estamos misturando um pouco dos dois. Foi difícil lançar um trabalho solo e de modo independente? O trabalho solo requer um esforço de lutar para o seu nome fazer sentido. Por mais que exista uma galera trabalhando e me ajudando, até porque sem eles eu não faria nada, é a Luana que está ali.


NOVIDADES nacionais 6 por_ Fabiane Pereira

Sepultura:

30 anos em 100 min

de_ São Paulo

O documentário que conta a história dos 30 anos do Sepultura está em cartaz desde junho e é uma joia para os fãs da banda de heavy metal. Com 100 minutos e direção de Otávio Juliano (do premiado documentário “A Árvore da Música”), é recheado de imagens de arquivo raras ou inéditas, registros intimistas de turnês, cenas de bastidores e entrevistas com grandes roqueiros contemporâneos deles, como Lars Ulrich (Metallica), David Ellefson (Megadeth), Phil Campbell (Motörhead) ou Corey

Taylor (Slipknot). Durante seis anos, Juliano acompanhou o Sepultura de perto, de maneira a criar um retrato sem censura em mais de 800 horas de filmagens. “Uma das minhas principais motivações foi a vontade de conhecer o processo criativo da banda brasileira mais conhecida no mundo”, diz o diretor.

VEJA MAIS Adreas Kisser conta sua visão sobre a improvável trajetória global da banda em ubc.vc/AndreasKisser

Mallu Magalhães:

maturidade em novo disco Mallu Magalhães mostrou, com o recém-lançado álbum “Vem”, a maturidade musical que vinha perseguindo desde que surgiu, há 10 anos, como um fenômeno da rede MySpace. Os videoclipes de “Casa Pronta” e “Você Não Presta” já contam com mais de 2 milhões de visualizações no YouTube. Com arranjos de Mario Adnet e Marcelo Camelo, além de participações dos músicos Dadi Carvalho, Kassin e Rodrigo Amarante, o disco tem samba, pop, rock e outros ritmos. “Acho que o que eu trago desde o começo é a coragem. Irreverência e bom humor são marcas que sempre vou levar”, ela diz.

Cantores de Ébano,

reencontro afetivo

LEIA MAIS Uma entrevista com Mallu Magalhães em ubc.vc/MalluVEM

Um dos grupos vocais mais emblemáticos da nossa música, Nilo Amaro e seus Cantores de Ébano, formado por vozes negras masculinas e femininas, encantou o país por quase meio século, até a morte de seu líder, em 2004. Agora, 13 anos depois, Jair Medalha, Valmir de Sousa, Iaci Pinto, Marcio Alexandre e Maria Helena voltam com álbum novo, depois de “Um Sonho a Mais” (2014). Em “Gralha Azul” (gravadora Fina Flor), eles fazem uma revisita afetiva a alguns dos seus grandes trabalhos, com destaque para “Serrada” (Marcio Alexandre e Jair Medalha) e “Gralha Azul” (Iaci Pinto e Luiz Leite).


REVISTA UBC

Herocoice:

Audax:

um disco pelo WhatsApp

do rock ao pop eletrônico

A banda alagoana Herocoice inovou na forma e no conteúdo. O segundo álbum deles, o recém-lançado “Trabalho Novo”, foi distribuído pelo aplicativo de mensagens WhatsApp. “As pessoas adicionam um número passado por nós e recebem o disco por ali, de forma gratuita”, explica o guitarrista John Mendonça, que integra o grupo ao lado de Deraldo Veloso (vocal), Junior Beatle (baixo e vocal), Marcelo Feth (bateria) e Tiago Godoi (guitarra e vocal). Na forma, a mistura sonora deles também inova: o trabalho tem influências de Ramones, Bob Dylan, Queen, Angra, AC/DC, Led Zeppelin, Joelho de Porco, Luiz Gonzaga e forró em geral.

O duo Audax, formado pelos gêmeos Pedro (guitarra) e André (voz), era o núcleo da banda de rock de mesmo nome do final da década passada, que virou o leme para o pop eletrônico e lança o explosivo álbum “Feel the Beat” pela Midas Music. Canções compostas em violões e guitarras foram transpostas para a cena eletrônica. “Teach me How to Love You”, por exemplo, traz uma linha melódica pop rock que vai virando electro. Após remix do DJ britânico Hoxton Whores, as portas foram abertas, e o duo já fez sua primeira turnê europeia em abril.

Ouça MAIS A canção-título do disco em ubc.vc/ClipeAudax

O credo de

Mari Blue

A cantora Mari Blue, uma das boas novidades da cena independente do eixo Rio-São Paulo, acaba de lançar um novo álbum antenada na tendência contemporânea de apresentar, junto com as canções, as versões visuais das obras. Assim, três dos singles de “Fruto da Flor” já ganharam vídeos produzidos pela Meduzza Filmes e com direção artística de André Hawk. Um deles, o rock soul “O Credo”, que abre o álbum e funciona, segundo ela, como um prefácio do trabalho, aborda na letra a busca pela valorização da dúvida e da liberdade individual. “Cresci na presença forte do catolicismo, onde é comum se rezar uma oração com esse nome, mas nunca concordei com as palavras ditas, achava muito autoritário dizer em quê se deve crer”. Aqui eu faço o meu “credo”, que fala de mim, pode falar do outro, mas não é uma verdade ou um caminho a ser seguido”, afirma a cantora, que, só este ano, já recebeu três prêmios em festivais de clipes e bandas independentes.

foto_ Juliana Henriques

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NOTícias internacionais 8 de_ Madri

Pirate Bay:

finalmente responsabilizado

Europa terá nova diretiva sobre

direitos autorais na era digital A União Europeia lançou, em setembro do ano passado, uma proposta de reforma da sua Diretiva de Propriedade Intelectual (publicada originalmente em 2001) para adequá-la à era digital. Desde então, uma série de reuniões e debates têm se dado no âmbito do Parlamento Europeu, onde já se constrói o rascunho de uma normativa continental que equilibre os interesses dos criadores e dos principais players do mercado, influenciando futuras legislações sobre o tema em diversos países, inclusive o Brasil. No caso da música, os autores se queixam principalmente da injusta e desproporcional transferência de valor às plataformas de UUC (user uploaded content, ou conteúdo carregado pelo usuário), das quais a mais emblemática é o YouTube. Ainda não há data para a entrada em vigor da nova diretiva.

O Tribunal de Justiça da União Europeia decidiu que o The Pirate Bay, o mais famoso site de compartilhamento de arquivos em torrent, é responsável direto por infrações de direitos autorais, o que deve abrir espaço não só para o seu fim como os de outras plataformas similares. É que, até esta decisão, os provedores de internet do continente europeu não eram obrigados a bloquear o acesso a tais plataformas, uma vez que, ao alegar ser meros “portos” de compartilhamento de arquivos entre usuários, elas diziam não ser responsáveis pelos conteúdos. A decisão contesta esse argumento e sustenta que o Pirate Bay e as demais plataformas, na prática, estabeleceram há muito uma comunicação direta com os usuários, o que lhes permite ser enquadrados nas cláusulas de pirataria previstas na atual Diretiva de Direitos Autorais da União Europeia, de 2001.

Pelo fim da

transferência de valor

Num momento em que ganha força o debate global sobre a necessidade de um novo pacto que permita melhores pagamentos aos compositores e artistas na era digital, a Unesco realizou em junho, pela primeira vez em sua história, uma conferência sobre o tema. Especialistas de várias áreas falaram no evento “Remunerando de maneira justa os criadores no ambiente digital”, entre eles o presidente da Confederação Internacional das Sociedades de Autores e Compositores (Cisac), Jean-Michel Jarre. Ao deixar claro o papel central das criações artísticas na revolução digital, Jarre fez um chamamento pelo fim da chamada “transferência de valor”, que leva diretamente aos bolsos das grandes corporações a esmagadora maioria dos lucros com o consumo de cultura em rede.


REVISTA UBC

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ubc no mundo

Apra:

parceria em expansão

O repertório dos associados da UBC é representado na Austrália e na Nova Zelândia pela Apra (Australasian Performing Right Association), a maior sociedade de gestão coletiva da Oceania. Os laços entre as duas entidades vêm se estreitando nos últimos anos, com visitas de representantes da Apra à UBC e a expectativa de um salto na promoção da música nacional por lá. Com PIB somado de mais de US$ 1,5 trilhão de dólares, Austrália e Nova Zelândia, cuja população conjunta supera os 28 milhões de habitantes — a imensa maioria de classe média e consumidora ávida de música — são uma excelente oportunidade para os nossos artistas. “Ano passado, Scot Morris, diretor de relações internacionais da Apra, veio ao Brasil

Cisac faz assembleia anual

com representantes da indústria musical australiana para sondar o nosso mercado e prospectar iniciativas. Estamos em contato estreito desde então e criando uma parceria sólida”, afirma Peter Strauss, gerente de relações internacionais da UBC. Strauss vê um potencial de expansão na arrecadação internacional dentro destes dois territórios muito grande. “Há um diálogo musical entre Brasil, Austrália e Nova Zelândia, hits do verão, música de praia… O momento é de pensar em estratégias juntos para melhorar a posição dos nossos criadores naquele mercado importante, um dos mais organizados e estruturados da área do Pacífico”, conclui Strauss.

Num encontro internacional marcado por proposições pelo empoderamento dos compositores, a Cisac realizou sua Assembleia Geral anual, no último dia 8 de junho, em Lisboa. Mais de 200 criadores e representantes de sociedades de gestão coletiva estiveram presentes, e a UBC, como membro do conselho diretivo da entidade, teve papel de destaque. Hospedada pela maior associação portuguesa, a SPAutores, a reunião reforçou iniciativas para buscar melhores remunerações e o fim da transferência de valor. Segundo Gadi Oron, diretor geral da Cisac, “o ano foi excepcional”, mas cabe aos criadores se organizar mais para combater as injustiças no pagamento. “A Cisac sozinha não consegue movimentar esse debate. A voz dos autores é mais necessária do que nunca”, afirmou.

em Lisboa


Pelo País 10

Música de concerto sofre com a crise na cultura, e orquestras demitem, atrasam salários e até encerram atividades; especialistas debatem soluções por_ Eduardo Fradkin

do_ Rio

Na área da cultura, que já teve três ministros só no curto governo Temer, a crise se abateu com força incomum sobre orquestras e teatros dedicados à arte clássica. O mais recente “grito de socorro” — assim definido pela primeira bailarina do Theatro Municipal do Rio Márcia Jaqueline — foi emitido na forma do espetáculo “Carmina Burana”. Marcou a despedida de Jaqueline do Brasil. Ela está entre os cerca de 200 membros dos corpos artísticos do teatro que receberam do governo do

estado em meados de junho a primeira parcela do salário de abril. No site do Municipal, não há qualquer título futuro programado com os grupos da casa (orquestra, coro e balé). No início do mesmo mês, o pedido de ajuda viera da Orquestra Sinfônica Brasileira, em dois concertosmanifesto. Seus 83 músicos estão há oito meses sem salário. Com um déficit de R$ 21 milhões, não há programação anunciada para o ano. A orquestra recorreu à prefeitura do


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Rio, onde está sediada, em busca de socorro financeiro, mas ainda não teve sucesso. “A cultura está pagando o preço de anos de descaso”, conta o compositor João Guilherme Ripper, que dirigia o Municipal do Rio até ser exonerado em fevereiro, encerrando uma gestão que surpreendeu pela montagem de vários espetáculos graças a verbas da iniciativa privada e a parcerias com outras casas de ópera.

Uma nota fora da cura Na elogiada Filarmônica de Minas Gerais, a captação junto à iniciativa privada tem crescido lentamente ao longo dos anos. Mas a maior parte do seu orçamento anual, que é de R$ 28 milhões, ainda vem do governo mineiro: R$ 18,3 milhões. O diretor artístico do grupo, Fabio Mechetti, garante que a situação é estável: “Nosso orçamento é enxuto, e temos vagas congeladas na orquestra. Não estamos crescendo, mas tampouco teremos demissões. O pior é no eixo Rio-São Paulo.”


Pelo País

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“Não importa o modelo de gestão. Seja através de renúncia fiscal ou de aporte direto de recursos, o Estado tem papel fundamental. Ele deveria garantir, no caso de teatros e orquestras, a manutenção dos espaços e o pagamento de salários dos profissionais, para que a captação de verbas possa ser dirigida exclusivamente para o conteúdo artístico”, defende.

Mais música nas escolas Ripper cita a deficiente formação de plateia, mesmo ponto destacado por Heloísa Fischer, jornalista especializada na área e produtora. “Como a formação do gosto se dá prioritariamente na família e na escola, o ideal é que organizações artísticas tenham projetos regulares e de longo prazo. No caso da música clássica, é comum que o foco das atividades esteja nos concertos em teatros, voltados a iniciados. Tem que mudar isso.” O regente Ricardo Rocha, que comanda a orquestra e o coro da Cia. Bachiana Brasileira, tem opinião semelhante: “É função de qualquer Estado proteger os elementos que formam a cultura do seu povo. No Brasil, temos uma jabuticaba chamada lei de incentivo, que repassa a responsabilidade do Estado para a iniciativa privada. Ela é quem escolhe o que vai ser patrocinado, por renúncia fiscal. Só que ela usa critérios de mercado, que excluem a música de concerto”, avalia.

Fechamentos em São Paulo Em terras paulistas, a Orquestra de São José dos Campos e a Banda Sinfônica do Estado de São Paulo foram extintas no começo do ano. A centenária Orquestra do Theatro São Pedro teve 19 músicos demitidos por decisão do governo paulista, que anunciou a contratação de estudantes para esses postos. No Theatro Municipal de São Paulo, a proposta do governo foi reduzir em 30% os salários dos artistas. A mais elogiada orquestra brasileira, a Osesp, não demitiu músicos, mas teve alguns cortes na área administrativa e extinguiu projetos como o de itinerância pelo interior de São Paulo, deixou de programar concertos ao ar livre e turnês para este ano e diminuiu os concertos didáticos para estudantes da rede pública.

Sem ação clara do governo, em maio foi criado o Fórum Brasileiro da Música de Concerto, uma entidade que reúne orquestras, teatros, salas de música e instituições de ensino de música e dança, a fim de elaborar e propor políticas públicas para o setor. A esperança é que eles encontrem uma luz no fim deste longo túnel.

Dinheiro minguante Entre 2016 e 2017, a maior e mais famosa orquestra do país, que chegou a figurar em rankings internacionais de orquestras mais prestigiosas, teve um corte de quase 17% no seu orçamento, passando de R$ 100,7 milhões para R$ 84,4 milhões. Segundo a administração da Osesp, ainda não há, contudo, salários atrasados.


FIQUE DE OLHO

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de_ Brasília

Artistas dizem

#Não aoPacotão daIsenção Uma campanha gravada em Belo Horizonte põe a classe artística na linha de frente contra as inúmeras isenções de pagamentos de direitos autorais reunidas no Projeto de Lei nº 3.968, de 1997, que isenta rádios, entidades filantrópicas, eventos beneficentes e religiosos, órgãos públicos, hotéis e motéis. A iniciativa “#NãoaoPacotãodaIsenção” reúne em vídeos depoimentos de Lô Borges, Fernanda Takai, Samuel Rosa, Flávio Renegado, Márcio Borges, Rogério Flausino, Telo Borges, Luiz Carlos Sá, Chico Amaral, Alan Walace (Eminence), Déa Trancoso, Duca Leindecker e Jefinho BH. Eles alertam sobre as perdas da classe artística, que, segundo o Ecad, podem chegar a R$ 430 milhões anuais. Na Câmara, a relatora Renata Abreu, dona de rádios inadimplentes e alinhada ao lobby da indústria hoteleira, ainda está “avaliando” os argumentos contrários e não tem data para apresentar o relatório final do projeto, que motivou carta de repúdio da Cisac, a Confederação Internacional das Sociedades de Autores e Compositores.

SBT é condenado a pagar pelo

uso de músicas O SBT foi condenado em segunda instância a pagar pelo uso de músicas que usou em sua programação desde 1º de janeiro de 2006. Em primeira instância, o valor de 2,5% do faturamento bruto com publicidade já havia sido considerado correto pela 38ª Vara Cível do Tribunal de Justiça de São Paulo. Como a emissora recorreu, a 4ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu, no final de maio, favoravelmente ao Ecad. Desde o início da ação, o SBT deposita parte do valor devido em juízo. Estes valores são levantados e distribuídos aos titulares normalmente. Perdendo a ação, o SBT terá que complementar os pagamentos. Ainda cabe recurso por parte do SBT.

Mais parcelas da

Vivo TV e da Band Julho marcou a distribuição de R$ 21,6 milhões do acordo de R$ 106 milhões fechado entre o Ecad e a operadora de TV por assinatura Vivo TV em 2015. Já foram feitas cinco distribuições. Também em julho foi distribuído o valor pago de R$ 4,1 milhões da TV Bandeirantes referente ao período de janeiro a junho de 2015. No início do ano foi firmado acordo de pagamento no valor de R$ 17,2 milhões pela Band, que estava inadimplente.

Mudanças na distribuição de

streaming O calendário de distribuição dos valores pagos pelas plataformas de streaming, como Deezer e Spotify, mudou. Agora, os meses de distribuição são fevereiro, maio, agosto e novembro.

LEIA MAIS Confira o calendário completo em ubc.vc/calendarioUBC


HOMENAGEM 14

Ney,

a mil Enquanto continua em turnê, a mais longa de sua carreira, um dos nossos mais ecléticos cantores já trabalha num novo álbum e é celebrado no Prêmio da Música Brasileira por_ Kamille Viola

do_ Rio


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Com três álbuns lançados pela sua banda de estreia, o Secos & Molhados, e 34 em carreira solo, Ney tem espaço garantido na história da música nacional. Foi eleito pela revista “Rolling Stone” uma das três maiores vozes brasileiras de todos os tempos. É inventor de um estilo cênico único, inspirador de gerações depois dele. Um showman a toda prova, com experiência também nas letras, na cenografia, na iluminação e até mesmo na direção de cinema.

Ney Matogrosso tem apenas um dia para encaixar esta entrevista. Na véspera, voltou veloz de seu sítio, no interior do Estado do Rio de Janeiro, onde passou um feriado prolongado de pouco descanso encaixado entre duas viagens, a Portugal, em abril, e a Uruguai e Argentina, em maio. Em todos esses países, apresentou, mais uma vez, o repertório do disco “Atento aos Sinais”. Há meses, ultrapassou a marca dos 200 shows desse disco de 2013, que derivou em um CD e um DVD ao vivo, lançados em 2014, e na mais longa turnê da sua carreira. Em julho passado, foi homenageado no Prêmio da Música Brasileira pelo conjunto de sua obra vasta, rica, camaleônica. Já trabalha num novo disco, com inéditas, ainda sem data de lançamento cravada. Ney está a mil. “Mas sem pressa”, define, enquanto celebra seus 76 anos de vida, 46 de carreira. “Este show vai até outubro, e aí, depois disso, vou ver o que vou fazer da vida. Por enquanto, estou selecionando repertório. Não estou preocupado em lançar agora, mas (o disco) tem músicas inéditas”, adianta. A ideia inicial era gravar um álbum só com compositores ‘malditos’: Itamar Assumpção (1949-2003), Jards Macalé, Jorge Mautner e Luís Capucho. Porém, um desentendimento com um dos autores (ele não revela quem) o fez desistir. Apenas um dos inicialmente planejados continua no disco, que agora terá músicas de Chico Buarque, Milton Nascimento, Roberto Carlos e Sérgio Sampaio. “Itamar sempre estará”, garante Ney, que até hoje gravou 13 canções do paulistano. Se, nos últimos anos, o Nego Dito vem sendo lembrado e celebrado com mais frequência, ele acredita que ainda é pouco: “Não é um reconhecimento à altura do que ele merecia, porque acho Itamar um dos mais originais compositores.”


HOMENAGEM 16

Disco dedicado a Caetano, ainda nos planos

Há três anos, Ney também acabou mudando os planos em relação a um desejo antigo: gravar um disco dedicado à obra de Caetano Veloso. “Essa ideia não se perdeu, mas, depois que falei (sobre a vontade) em entrevista, saíram dois trabalhos com cantores interpretando só Caetano. Achei que não precisava do terceiro. Mas não descarto, tudo tem o momento certo.” Ele cogita ainda outras homenagens: “Tem muita gente que admiro e que ainda não gravei. Gonzaguinha, por exemplo, cantei no Prêmio da Música (em 2016), nunca tinha interpretado. E muitos nomes do samba dos quais eu gosto. Eu faria o disco novo só com músicas que já tinham sido cantadas por outros artistas, daria a minha versão, mas estão surgindo coisas novas que estão me agradando, e eu vou botar também”, diz.

Sou transgressor, mas tenho bom senso, não sou porra-louca. Não sou aquele que vai atear fogo ao circo.” Ney Matogrosso O mesmo pode se dizer de Ney Matogrosso, artista de trajetória incomparável. Transgressor desde o início de sua carreira, com o grupo Secos & Molhados, nos anos 1970, ele conta que se assusta com o conservadorismo do mundo atual: “Quando eu achei que estava tudo liberado, que era permitido que as pessoas fossem diferentes, cada um à sua maneira, vi que o mundo estava regredindo. A evolução não é contínua e linear. Quando você observa o mundo, chega à conclusão de que são dois passos para a frente e um para trás.” Ele conta que sua visão sobre a atualidade acaba influenciando sua obra. “Não posso separar as coisas: atrás do artista, está a pessoa, que pensa, que raciocina. Coloco no meu trabalho a minha conclusão sobre o que me incomoda e aquilo de que gosto, que eu também não sei só reclamar”, explica. Mas não acha que a onda planetária de conservadorismo deva levá-lo a quebrar mais tabus: “Se eu transgredir mais, não sei o que vou fazer (risos)... Sou transgressor, mas tenho bom senso, não sou porra-louca. Não sou aquele que vai atear fogo ao circo. O que faço é me posicionar, me colocar.”


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foto_ Guilherme Paranhos

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Outra coisa que causa espanto ao cantor é a agressividade nas redes sociais. “Não tenho nenhuma além do Instagram, porque não quero bater boca. As pessoas são muito agressivas, muito radicais. Eu preservo minha integridade emocional e mental. Demorei até a ter celular, comprei depois de que todo mundo tinha, porque viviam me enlouquecendo tanto... Eu não tinha interesse em ser achado a todo tempo, eu posso ficar quieto. É um modo de viver, e me deixa mais concentrado, claro. Não vou queimar neurônios e gastar energia. Prefiro ficar no meu canto, procurando disco voador”, diverte-se ele, que garante ter visto OVNIs diversas vezes. “Acho que eles nem querem mais contato com essa gentalha que acha que é o ápice da criação divina. E, quando falo

‘essa gentalha’, me incluo”, faz graça. “É tudo transitório.” O raciocínio o leva a falar sobre a longevidade de sua carreira. “Parece que foi ontem (que comecei). Antigamente, quando eu pensava no ano 2000, imaginava: ‘Não vou viver até lá, é muito longe’... Enquanto eu conseguir, vou cantar. Porque (a corda vocal) é um músculo também e que, com a idade, se torna flácido. Eu sei que tem um limite, mas, enquanto eu não chegar ao limite, vou cantar”, promete. Sorte a nossa.

VEJA MAIS Reviva alguns momentos da homenagem a Ney em ubc.vc/UBCnoPMB


capa 18


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Com a turnê ‘Trinca de Ases’, pela primeira vez Gilberto Gil, Gal Costa e Nando Reis se unem em projeto; à Revista, eles contam o que os aproximou por_ Kamille Viola do_ Rio fotos_ Daryan Dornelles


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Foi em outubro do ano passado, em Brasília. Num evento em homenagem ao centenário de nascimento de Ulysses Guimarães (1916-1992) idealizado pelo jornalista Jorge Bastos Moreno, recém-falecido, Gal Costa, Gilberto Gil e Nando Reis se viram pela primeira vez dividindo palco. A ideia de partir para algo maior, um projeto que os unisse, logo surgiu e foi parecendo boa. Tomava corpo o show Trinca de Ases”, que estreia neste 4 de agosto no Citibank Hall, em São Paulo, antes de rodar por diversas capitais brasileiras até dezembro.

Turnê sem fim Gil praticamente emendará uma turnê na outra. Ao longo de dois anos, até o fim de 2016, ele excursionou com Caetano Veloso no projeto “Dois Amigos, Um Século de Música”, celebrando seus respectivos 50 anos de carreira. No setlist, clássicos de cada um deles, parcerias e releituras emocionantes de faixas como “Tropicália”, “Terra” e “Toda Menina Baiana”.

Além de músicas já conhecidas do repertório de cada um, como “Esotérico” e “A Novidade”, de Gil, e “O Segundo Sol” e “Por Onde Andei”, de Nando, o show trará uma parceria dos dois, “Tocar-se”; a faixa que batiza a turnê, composta pelo baiano; e outras duas inéditas do cantor e compositor paulista. Eles ganham a companhia do baixista pernambucano Magno Brito e do percussionista baiano Kainan do Jêjê, que trabalha com Ivete Sangalo. Os três assinam a direção musical do show, criado com assessoria artística de Marcus Preto.

Gosto do modo de compor do Nando, é interessante a maneira como trata as palavras, tem uma coisa muito pessoal.” Gilberto Gil


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Eles estão dentro da minha gênese, não só na formação como músico, mas como indivíduo.” Nando Reis

O meio é a mensagem Conectado, inquieto, ligado ao mundo à sua volta, Nando lançou seu último álbum em novembro do ano passado numa transmissão ao vivo por uma rede social. Além de apresentar cada uma das faixas de “Jardim-Pomar”, ele fez pausas para comentá-las e interagir com os fãs. A turnê teve início em março e dá um tempo durante os shows da “Trinca de Ases”.

“No momento em que eu e Gil tocamos juntos, houve uma química, um encontro. Aquilo ali nos deixou muito satisfeitos, criou muita alegria no palco para receber a Gal, a gente passou a se divertir, curtir, uma coisa fundamental na proposta de comunicação com a plateia. Mas estava longe das minhas ambições e suposições que pudesse ir adiante. Quando a Flora (Gil) falou que poderia ter sequência, percebi que de fato era a semente de algo”, lembra Nando Reis. “Mas agora será diferente, estaremos os três o tempo todo no palco”, frisa.

Gil e Gal são amigos de longa data e já estiveram juntos em diversos projetos musicais, como o show “Nós, Por Exemplo” (1964), o álbum “Tropicália ou Panis et Circensis” (1968); a turnê dos Doces Bárbaros (1976) e o show em Londres (gravado em 1971, mas lançado em disco só em 2014). “Gil é meu eterno parceiro, somos parte dos Doces Bárbaros, somos irmãos espirituais e musicais. Temos uma química boa”, derretese a cantora. “Gal é amor antigo, começamos juntos, fizemos tanta coisa, a Tropicália, trabalhamos juntos quando voltei do exílio,


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produzi o disco ‘Índia’ (1973), depois fizemos show juntos, excursões fora do Brasil, pela Europa... Estivemos juntos em circunstâncias variadas, sempre muito próximos” devolve ele. O encontro dos dois com Nando Reis, descrito na letra de “Trinca de Ases” como “menino impetuoso e viril”, foi uma grata surpresa para todos os vértices desse triângulo musical. “Eu tinha uma percepção à distância do trabalho que ele fazia com os Titãs”, lembra Gil. “Tive um momento de aproximação nas gravações de um disco da Marisa Monte anos atrás (Gil gravou os

Com Gil tenho uma antiga afinidade. Com Nando é o começo de muitas parcerias, assim espero.” Gal Costa violões em quatro faixas e vocais em duas, Nando era autor de quatro músicas e tocou em diversas). Ele era dos Titãs ainda. Depois, seguiu em carreira solo, e eu continuei a prestar atenção... A aproximação dele com a Cássia Eller e o trabalho que fizeram juntos teve muito significado para mim”, recorda o cantor. “Gosto do modo dele de compor, é interessante a maneira como trata as palavras, tem uma coisa muito

pessoal, trata dos assuntos com muita liberdade. E o que mais gosto é o seu jeito de tocar violão, como transporta elementos do modo de tocar música americana e junta com a coisa brasileira, alguns traços de bossa nova”, Gil elogia. Tampouco Gal tinha proximidade com o artista paulista. “Mas agora, sim. Ele é um cara bacana e grande compositor. Com Gil tenho uma antiga afinidade. Com Nando é o começo de muitas parcerias, assim espero”, afirma.


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Nando revela que a verdadeira “trinca de ases” em sua vida é formada por Gil, Caetano Veloso e Gal. “Eles estão dentro da minha gênese, não só na formação como músico, mas como indivíduo, presentes não só como aprendizado, mas como parâmetro, aí, sim, na minha linguagem. Tocar com eles é quase a realização de um sonho, embora eu seja sincero (quando digo) que não sonhava com isso”, ele confessa. E admite: a turnê ao lado de Gil e Gal dá um frio na barriga. “Às vezes, eu falo para mim mesmo: ‘Nossa, onde é que eu tô?’ Mas isso é que é bom. Quando as coisas não são desafiadoras desse jeito, elas dão uma sensação de estagnação”, pondera. A aposta, sem dúvida, é alta. Mas a partida, pelo visto, já está ganha.

Gal, em dose dupla A turnê de “Estratosférica”, de Gal, também dá uma pausa durante o projeto com Gil e Nando. Lançado em maio de 2015, o álbum é o 36º da cantora e marca os seus 50 anos de carreira. Mais pop e menos experimental que o anterior, “Recanto”, tem o estilo solar de Gal, dona de uma das vozes mais admiradas na nossa música.

Entre composições recentes de Nando Reis, sabe-se que uma tem como musa inspiradora Gal Costa: “A mãe de todas as vozes”. “É uma linda canção e me comovi muito com ela”, diz a cantora. “Fazer uma música pra Gal não é apenas uma homenagem, é uma declaração da importância dela na minha formação. Mesmo eu não sendo uma cantora, e sim um cantor, a minha relação com a música está muito relacionada com a voz feminina, a começar pela minha mãe, que cantava. A música trata disso e coloca ela na órbita dos corpos celestes de primeira grandeza na minha vida”, ele afirma.

VEJA MAIS A pedido da Revista, Gal, Nando e Gil fazem perguntas uns aos outros sobre sua vida e carreira. Confira a entrevista em vídeo no nosso canal do YouTube: youtube.com/ UBCMusica


ENTREVISTA 24

Fernando Moura:

Mago das trilhas

Um dos mais bem-sucedidos criadores brasileiros de mĂşsicas para audiovisual fala sobre seu trabalho e dĂĄ dicas a iniciantes por_ Alessandro Soler

de_ Nova York


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Fernando Moura é um craque das canções originais para TV, cinema, teatro e publicidade. Nem por isso deixa de aceitar virtualmente qualquer pedido que lhe caia nas mãos. Trabalhar, trabalhar e trabalhar são as variáveis da equação simples e certeira deste que tem no currículo trilhas para mais de três mil comerciais, centenas de programas de canais como Globo, Record, GNT, TV Brasil, Futura, mais de 30 discos produzidos e/ou estrelados por ele mesmo, 21 trilhas de filmes, onze de peças de teatro...

colocar uma demo incrível no YouTube e ficar em casa esperando que te chamem. Procure os que estão no mesmo nível. Não espere trabalhar com o maior diretor do momento ou começar no horário nobre da TV Globo. Cresça com os iniciantes, vá fazendo contatos, uma rede. Leva tempo, mas eu não conheço outra fórmula.

Neste papo por telefone com a Revista, ele fala sobre esse universo em expansão.

Que outros segmentos estão em expansão? Videogames, por exemplo? A música original, de trilha sonora, é um nicho em crescimento em qualquer área. Como a galera da UBC diz, a coisa mais fácil, com as novas tecnologias, é descobrir música utilizada sem autorização. Antigamente, pegava-se música de outros, mascarava-se e mandava. Hoje não dá, daí a demanda por tanta coisa nova.

Para começo de conversa, a palavra trilha está mesmo proscrita? O correto é dizer música original? Bobagem, trilha é trilha. A única coisa que incomoda mesmo é ser chamado de trilheiro. Adoraria ser aquele cara com mochila nas costas, bermudão, subindo uma trilha. Mas o meu dia a dia é de muito trabalho. O processo de produção de uma trilha difere demais de uma composição normal? É muito diferente. A música, na trilha sonora, está a serviço de uma imagem para construir uma narrativa. Quando a gente Lasdae dent id ut es quer que a música apareça está começando, paritatioam re sum cum demais, faz a orquestração cheia, os truques, as aut laut dendandus qdui quamend anihil Aí, quando vai ouvir o resultado reverberações. inllllarnpudigni naratela, a música está baixa, e a voz do ator ou scipsam, volorep taectata docomniatist, locutor, si alta. É a maior frustração (risos). ut excerum utempore nemq.Vent Você precisa aprender a deixar o ego de lado e verovid quisinc iment. trabalhar em conjunto com o produtor, o diretor. uoditinum quidelessequat. id euempore nempore. O seu trabalho vai somar ao todo. Como entrar nesse filão tão promissor? Em primeiro lugar, vá se formar. Faça uma lista de grandes filmes, vá vê-los, vá estudar o trabalho dos criadores de grandes trilhas. Depois, fique atento a todas as oportunidades. Não adianta

Nino Rota, Bernard Herrmann, Ennio Morricone, John Williams, Hans Zimmer… O que esses compositores de música original para cinema têm que os torna grandes? “Uma das cenas mais famosas, a do banho de Psicose, não teria dado certo se alguém dissesse: ‘põe uns violinos aí’… Mas o Bernard Hermann pôs”, diz Fernando Moura. “Ele espera até o último momento para entrar com a música, e em três minutos resolve a coisa toda. A tensão é criada pela fotografia, a água, a silhueta do assassino… A música entra no último momento, o momento certo, sem desejos descabidos de protagonismo. Quem entender isso entendeu tudo.”

LEIA MAIS Confira o Guia de Música em Audiovisual da UBC, em ubc.vc/GuiaMusicaAudiovisual


MERCADO 26

OUVINTE

di gi tal:

jovem e viciado em novidades

83% das músicas ouvidas nas principais plataformas de streaming foram produzidas de 2000 para cá, o que gera necessidade de produção constante para participar deste bolo por_ Gilberto Porcidônio

do_ Rio


REVISTA UBC

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A música está, cada vez mais, no ar. Ano passado, o streaming cresceu 52%, passando a representar o triplo do faturamento com a venda de CDs e DVDs. Trata-se de um fenômeno catapultado por uma audiência muito jovem, nativa digital e não habituada ao consumo de mídias físicas. Até mesmo baixar uma música já é coisa do passado para esse público, o que fica claro num estudo da consultoria americana Nielsen segundo o qual a relação atual entre streamings e downloads de grandes hits alcançou a ordem de 98 para um. Um exemplo disso é o sucesso de 2016 “Closer”, do duo americano de electropop The Chainsmokers, que liderou o ranking digital da Billboard por 12 semanas, com média de 8 milhões de streamings por semana, contra uma venda total de “apenas” 84 mil downloads. Não é caso isolado. A audiência do novo milênio, dizem plataformas e agregadores digitais, consome especialmente música produzida de 2000 para cá. Segundo um levantamento ainda inédito, o índice é impressionante: 83% de tudo o que se escuta nos serviços de streaming foi criado neste milênio. Não surpreende: o perfil do ouvinte digital é muito jovem, com alto grau de engajamento e busca permanente por novidades. É o que diz Arthur Fitzgibbon, da ONErpm, um dos principais agregadores digitais do país, que fazem a ponte entre artistas e serviços de streaming.


MERCADO

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52% foi o crescimento do streaming no ano passado 18 a 25 anos é a idade predominante do ouvinte digital no país, segundo Arthur Fitzgibbon, da ONErpm 70% dos usuários do Spotify têm até 34 anos e ouvem prioritariamente músicas mais recentes 2 hits de Anitta lideravam o top 50 nacional em junho

De acordo com Fitzgibbon, a faixa etária predominante é de 18 a 25 anos, concentração na Região Sudeste e gosto por músicas populares dos universos do funk, do rap e do sertanejo. Para tentar ficar com parte desse bolo, artistas mais velhos têm apostado em novos e contínuos lançamentos. A ideia é aparecer nas playlists e nas seções de novidades e tentar, assim, atrair a atenção desse público tão instável. “A cada dia aumenta o volume de lançamentos de artistas mais veteranos no mercado musical”, corrobora Fitzgibbon. Em junho, o líder mundial Spotify anunciou que chegou a 140 milhões de ouvintes pelo mundo, o que corresponde a um aumento de 40% em relação a 2016. Os assinantes da opção premium (paga) correspondem a 50 milhões. A empresa sueca tem, no Brasil, 70% dos seus usuários na faixa etária de 18 a 34 anos, sendo 48% mulheres e 52% homens,

que estão concentrados nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre, sobretudo. Em média, eles ficam na plataforma 148 minutos por dia e, em junho, o top 50 nacional era liderado por dois hits da Anitta: “Paradinha” e “Sua Cara”. Levantamento do portal Gizmodo corrobora que mais de 80% das canções que se ouvem ali foram produzidas nos últimos anos, mas sustenta também que 80% de todas as obras cadastradas no Spotify tiveram pelo menos um stream. Não que esse dado chegue a animar muito. Afinal, são lendários os baixos pagamentos pelos streams, e uma quantidade pequena de execuções naturalmente representará lucro quase zero aos artistas. A necessidade de acabar com as distorções e com a chamada transferência de valor, ou seja, a alta remuneração aos players do mercado em detrimento dos criadores, está na ordem do dia. Para o diretor executivo da UBC, Marcelo Castello Branco, esse quadro só terá alguma mudança significativa se houver um crescimento exponencial no consumo pago de streams, gerando aumento de escala. “O Spotify representa 70% do streaming digital nacional, e eu considero o serviço muito barato (a partir de R$ 16,90 por mês). Por mês, sai menos que um cafezinho e um sanduíche”, opina. “Essa é uma fase que o mercado vai resolver em breve, com o aumento da escala de volume”, aposta.

Na página 8 (Notícias Internacionais), conheça o movimento global de artistas e legisladores para corrigir a transferência de valor.

LEIA MAIS Spotify e o difícil equilíbrio entre a remuneração justa e o lucro: ubc.vc/Spotify RemuneracaoLucro


Relatório Anual

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2016 em números Apesar da crise econômica e política que insiste em não dar uma trégua real, a gestão coletiva — e, particularmente, a UBC — viveram um bom ano, com aumento substancial na distribuição e no número de titulares de direitos autorais contemplados. Este mês, a UBC divulga o seu Relatório Anual, e a Revista adianta alguns números que mostram que estamos no caminho certo.

R$ 368,1

milhões

foi o total distribuído somente pela UBC. Um crescimento de 11,8% em relação ao ano anterior e, deste total, o montante de execução pública no Brasil representa 43% do total distribuído pelo Ecad

156 mil

foi o número de titulares beneficiados, 58% mais do que em 2015 e recorde histórico

22,7 mil

foi o número de associados da UBC até 31/12/2016

575 mil

foi o número de obras, fonogramas e audiovisuais cadastrados ano passado

R$ 500 mil

foi o total investido no programa de assistência, que tem o objetivo de fornecer aos associados um pacote de benefícios que lhes permita enfrentar eventuais necessidades de sobrevivência

98,6%

foi a contribuição das obras e fonogramas executados no Brasil ao montante arrecadado

56%

foram os titulares nacionais contemplados pela distribuição

Grande 2016, grandes conquistas A UBC foi reeleita para a Diretoria da Cisac, a Confederação Internacional de Sociedades de Autores e Compositores. O CEO da UBC, Marcelo Castello Branco, que entrou para a nossa associação em 2016, integra também o Comitê Executivo de Governança da Cisac, com um papel de orientar questões estratégicas. Também no ano passado, Warner Chappell, Som Livre, Warner Music, Sony Music e outros grandes nomes do mercado passaram a fazer parte do time de associados da UBC.

LEIA mais O relatório na íntegra estará disponível no site da UBC na segunda semana de agosto


PERFIL 30

Produtor que ajudou a levar Anitta do funk ao pop, o carioca criado entre influências sonoras variadas aposta no encontro de gêneros como próxima grande onda da música por_ Kamille Viola

O produtor em seu estúdio: toque de midas e faro para o novo

do_ Rio

foto_ Elisa Eisenlohr


Umberto Tavares:

MIS TU RA

de sucesso

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Umberto Tavares tem mais de 600 composições gravadas por outros artistas. Já perdeu a conta das músicas produzidas por ele e pela equipe da UM Music, cofundada com o Carlos Costa, o Mãozinha. Um de seus últimos lançamentos foi nada menos que “Paradinha”, investida internacional de Anitta, composta e produzida por ele com seu parceiro Jefferson Junior, além da própria cantora, e que já conta mais de 60 milhões de visualizações no YouTube. Tem um quê de toque de midas em quase tudo o que Tavares faz na área musical. E bem que ele tentou enveredar por outros caminhos. Ex-estudante de Direito na Universidade Federal Fluminense (UFF), esse carioca nascido no bairro do Rio Comprido, na fronteira entre a Zona Norte e o Centro do Rio de Janeiro, talvez quisesse, inconscientemente, buscar um voo próprio. Não era tarefa fácil. Filho de Jurema Lourenço da Silva e sobrinho de Jussara e Robson, do Trio Ternura, além de neto de Umberto Silva, que foi diretor e tesoureiro da UBC e autor do sucesso “Ninguém é de Ninguém” (gravado por Cauby Peixoto), ele passou a infância e a adolescência entre discos e bastidores. “Minha mãe fez backing vocal para Marisa Monte, Cazuza, Sandra de Sá, Alcione, Grupo Raça, Beth Carvalho”, enumera. “Minha formação musical é muito heterogênea. Cresci assistindo à busca pela melhor palavra, ao meu avô levando dois dias para terminar uma frase de uma música”, descreve.


PERFIL 32

Anitta: do funk ao pop e o fenômeno ‘Paradinha’

Estouro com o Bonde do Tigrão Quando viu, estava fazendo suas letras. Na primeira, já teve sorte. “Em 1998, eu tinha 20 anos, estava na faculdade, fiz minha primeira música, e ela entrou no disco do Mauricio Mattar, que ia sair pela Sony, e foi título do álbum, ‘A Gente Nunca Esquece’”, conta. Tavares seguiu estudando Direito, compondo nas horas vagas e tendo canções incluídas em outros discos. Em 2000, surgiu a chance de produzir o Bonde do Tigrão para a Sony. Não tinha jeito:

teve que trancar o curso (inicialmente seria por só seis meses) e se dedicar ao projeto. “Era para sair com uma tiragem de três mil cópias. Lançamos antes a faixa ‘O Baile Todo’. Explodiu de tal forma que o álbum saiu com 105 mil, e o resultado final foram 510 mil cópias vendidas, disco duplo de platina”, lembra. “Até hoje não consegui destrancar a faculdade”, ri. Hoje, a produtora UM Music conta com um time que, além de Tavares e Mãozinha, inclui Jefferson Jr. (sobrinho de Alcione e parceiro


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Até hoje não consegui destrancar a faculdade (de Direito).” de Tavares na maioria de suas músicas), o técnico de gravação e mixagem Marcos Sabóia e o músico, arranjador e multiinstrumentista Toninho Aguiar. “A gente tem uma equipe e uma trajetória já muito sólidas”, resume Tavares. Workaholic e metódico, ele diariamente confere as mais ouvidas no Spotify e nas paradas da Billboard e está sempre ligado no que acontece no pop. Com seu talento quase inato para lançar hits, Tavares crava: a mistura de gêneros e estrelas de mundos às vezes opostos é a próxima onda forte na música. “A gente faz muitas músicas que são funks e têm momentos que são outra coisa, como hip hop, reggaeton, tudo junto. O ‘feat’ (participação especial) também está muito em voga. Aposto nisso, em pegar artistas de estilos variados e misturar essas sonoridades, o ponto forte de um e o ponto forte do outro, o público de um e o do outro. Ou mesmo vários estilos em uma mesma música de um artista só”, ensina. Pelo histórico dele em fazer sucessos em sequência, o curso de Direito vai continuar ainda um bom tempo trancado. Ouça MAIS Escute “Paradinha”, sucesso internacional de Anitta e mais recente superprodução de Umberto Tavares em ubc.vc/ParadinhaANITTA

Kelly Key, Sorriso Maroto, Belo, Nego do Borel, Buchecha, Ludmilla, Fiuk, MC Sapão, Naldo e MC Leozinho, além de Anitta, estão entre os artistas produzidos pela UM Produções. A virada pop da cantora com maiores aspirações internacionais do Brasil é obra deles. “Ela já era rainha no funk naquele momento, e a gente entendia que podia ser rainha no pop, com TV, tema de novela... Queríamos um projeto maior, e ela comprou. Começou aí o (álbum) ‘Meiga e Abusada’, de 2012. De lá para cá, produzimos tudo juntos”, diz Tavares.

Kelly Key e Fiuk: dois dos artistas produzidos pela UM Music, de Umberto Tavares e Mãozinha


ENTREVISTA 34

Zé Ricardo fala sobre a curadoria do palco Sunset do Rock in Rio e relembra encontros marcantes por_ Fabiane Pereira

do_ Rio

“Existe pressão, sim”


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Mês que vem, a sétima edição do Rock in Rio onde tudo começou, a Cidade Maravilhosa, vai marcar também a nona edição do palco Sunset com curadoria do cantor, compositor e músico Zé Ricardo. Antenadíssimo ao que há de mais novo na cena musical contemporânea, ele fala sobre esse trabalho tão especial. Quando e como o Rock in Rio e você se encontraram? Na verdade, meu primeiro encontro com o Rock in Rio foi com a Roberta Medina (produtora do festival). Eu fiz a direção artística do (evento de cinema e música) Vivo Open Air no Rio, e o projeto foi levado a Portugal. Ao chegar lá, a Roberta era a produtora local. O Open Air foi um grande sucesso. Anos depois, ela me chamou para criar um palco musical para o Rock in Rio.

Entendi meu trabalho quando vi pessoas beijando o chão (da Cidade do Rock).” O que haverá de novo este ano? Uma das grandes novidades é a participação da dança. A Fernanda Abreu fará um encontro com a Cia de Dança Focus e com o Dream Team do Passinho. O Jongo da Serrinha vai apresentar seu balé. O Grande Encontro vai se apresentar com o maravilhoso grupo de dança pernambucano Grial. No Sunset, vai haver BaianaSystem com a angolana Titica e Johnny Hooker com Almério e Liniker. Há muita pressão por parte dos artistas para participar? Eu entendi meu trabalho no Rock in Rio quando, em 2011, depois de já ter feito o Rock in Rio em Madrid e em Lisboa, vim fazê-lo pela primeira vez no Brasil e vi, na entrada, algumas pessoas beijando o chão. Existe pressão, sim, mas é preciso lidar com ela. A maioria dos artistas é generosa comigo e entende que curadoria é um painel que precisa respeitar tanto o festival quanto o público.


Distribuição 36

Taxa de administração:

para que ela serve? R$ 363 milhões (43% do total do Ecad, o que nos torna, de longe, a maior sociedade de gestão coletiva do Brasil).

Entenda como a UBC e o Ecad usam os 15% cobrados sobre a arrecadação dos usuários do_ Rio

A taxa de administração cobrada pela UBC e pelo Ecad — que, a partir deste mês, cai para 5% e 10%, respectivamente — serve para manter uma infraestrutura operacional complexa, que inclui o desenvolvimento de sistemas tecnológicos para melhorar a verificação do uso das suas músicas, o emprego de centenas de profissionais, eventuais ações judiciais para demandar o pagamento de usuários de música inadimplentes e muito mais. Através do valor pago por você, conseguimos melhorar constantemente a arrecadação, ampliando, consequentemente, os seus lucros com direitos autorais. Com 24.455 membros filiados diretamente e centenas de milhares de outros mundo afora (através das sociedades estrangeiras que nós representamos), no ano de 2016 a UBC distribuiu a 156.295 titulares

Para que essas cifras continuem a subir, dispomos de uma estrutura com 119 colaboradores distribuídos pelos escritórios de Rio de Janeiro (sede), São Paulo, Minas, Goiás, Bahia, Rio Grande do Sul e Pernambuco, além de representações em Brasília e Mato Grosso do Sul. Dentre os diversos setores, a UBC tem um departamento de TI (Tecnologia da Informação) que é responsável por desenvolver os sistemas e dar suporte ao banco de dados que conta com um volume de mais de 6,9 milhões de obras, 1,8 milhões de fonogramas e 135 mil audiovisuais. “Com investimento constante em tecnologia e em melhoria de processos, a UBC proporciona um ambiente profissional aos seus titulares e, dessa forma, garante que a remuneração devida chegue a quem de direito”, diz Fábio Geovane, gerente de operações da UBC.


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Ecad: atuação em 5 mil municípios No caso do Ecad, a estrutura é ainda maior: são 758 colaboradores em 32 unidades próprias; 52 agências credenciadas, que dão apoio às unidades de arrecadação em regiões em que a instituição não possui escritório próprio; 41 escritórios de advocacia terceirizados para trabalhar em disputas com usuários inadimplentes e outras questões, além de gerenciar um banco de dados musical que é considerado um dos maiores do mundo: 7,3 milhões de obras musicais; 5,4 milhões de fonogramas; 136,2 mil obras audiovisuais e 531,8 mil usuários de música.

São gerados, em média, 89 mil boletos mensais aos usuários das músicas, que totalizam 1.064.962 boletos ao ano; e mais de 5 mil municípios são cobertos pela atuação do Ecad. A instituição conta com 150 servidores informáticos que suportam todo o portfólio de serviços e sistemas com aproximadamente 400 TB de dados. Em 2016, o escritório central distribuiu R$ 841.872.627,89 para 221.386 titulares e associações, o que representa um aumento de 9% nos valores e de 42,46% nos titulares em relação ao ano anterior.


Dúvida do Associado

“Como faço para editar minha obra na UBC? ”
 [ Pergunta enviada pelo Facebook ]

Revista UBC Esta é uma dúvida bastante comum, e nossa resposta rápida é que a UBC não edita músicas. Mas vale explorar um pouco mais esse tema e explicar a diferença entre o papel da editora e o papel da UBC. Em linhas gerais, o serviço que a UBC oferece ao associado é arrecadar e distribuir rendimentos de direitos autorais pela execução pública de música. Alguns exemplos de usos de música considerados execução pública são shows, bares, restaurantes, transmissão pela TV,

rádio e streaming. O associado à UBC, quando se afilia, nos dá um mandato para fazer a cobrança por esse tipo de uso da sua música. O trabalho da editora é bastante diferente. Uma editora também é um titular de direitos autorais, assim como os autores. Quando o autor assina um contrato de edição, a editora passa a ser um tipo de “parceira” da obra musical e passa a receber uma participação nos rendimentos gerados por ela. A contrapartida é estabelecida entre as partes em contrato e geralmente

engloba as funções de promover a obra, licenciar e administrar os pedidos de autorização para gravação, reprodução, distribuição, sincronização e outros direitos conhecidos como mecânicos. Vale lembrar que, quando um autor assina com uma editora, ela também fica responsável pelo registro da obra junto à UBC ou à associação de gestão de direitos de execução pública à qual é afiliada. Mas sempre vale dar uma conferida no nosso site para verificar se o cadastro do seu repertório está atualizado.

E você, tem dúvida? Entre em contato com a UBC pelo e-mail atendimento@ubc.org.br, pelo telefone (21) 2223-3233 ou pela filial mais próxima. E saiba mais sobre o trabalho das editoras em ubc.vc/EditorasMusicais.


Pode espalhar, a notícia é boa para o seu bolso. A partir de agosto, os associados passam a receber 85% do total arrecadado sobre suas músicas. A UBC reduziu a taxa para 5%, e o Ecad, para 10%.

WWW.UBC.ORG.BR


O Portal do Associado está diferente. Ganhou novas funções e novo visual, além de gráficos que permitem analisar melhor o desempenho financeiro do seu repertório e registrar músicas online. Passe em casa e sinta-se ainda mais à vontade.

WWW.UBC.ORG.BR


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D\u00FAvida do Associado

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page 38

Taxa de administra\u00E7\u00E3o: para que ela serve?

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\"Existe press\u00E3o sim\"

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