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Ouvinte digital: Jovem e viciado em novidades

83% das músicas ouvidas nas principais plataformas de streaming foram produzidas de 2000 para cá, o que gera necessidade de produção constante para participar deste bolo

por_ Gilberto Porcidônio ■ do_ Rio

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A música está, cada vez mais, no ar. Ano passado, o streaming cresceu 52%, passando a representar o triplo do faturamento com a venda de CDs e DVDs. Trata-se de um fenômeno catapultado por uma audiência muito jovem, nativa digital e não habituada ao consumo de mídias físicas. Até mesmo baixar uma música já é coisa do passado para esse público, o que fica claro num estudo da consultoria americana Nielsen segundo o qual a relação atual entre streamings e downloads de grandes hits alcançou a ordem de 98 para um. Um exemplo disso é o sucesso de 2016 “Closer”, do duo americano de electropop The Chainsmokers, que liderou o ranking digital da Billboard por 12 semanas, com média de 8 milhões de streamings por semana, contra uma venda total de “apenas” 84 mil downloads.

Não é caso isolado. A audiência do novo milênio, dizem plataformas e agregadores digitais, consome especialmente música produzida de 2000 para cá. Segundo um levantamento ainda inédito, o índice é impressionante: 83% de tudo o que se escuta nos serviços de streaming foi criado neste milênio. Não surpreende: o perfil do ouvinte digital é muito jovem, com alto grau de engajamento e busca permanente por novidades. É o que diz Arthur Fitzgibbon, da ONErpm, um dos principais agregadores digitais do país, que fazem a ponte entre artistas e serviços de streaming.

52% foi o crescimento do streaming no ano passado

18 a 25 anos é a idade predominante do ouvinte digital no país, segundo Arthur Fitzgibbon, da ONErpm

70% dos usuários do Spotify têm até 34 anos e ouvem prioritariamente músicas mais recentes

2 hits de Anitta lideravam o top 50 nacional em junho

De acordo com Fitzgibbon, a faixa etária predominante é de 18 a 25 anos, concentração na Região Sudeste e gosto por músicas populares dos universos do funk, do rap e do sertanejo.

Para tentar ficar com parte desse bolo, artistas mais velhos têm apostado em novos e contínuos lançamentos. A ideia é aparecer nas playlists e nas seções de novidades e tentar, assim, atrair a atenção desse público tão instável. “A cada dia aumenta o volume de lançamentos de artistas mais veteranos no mercado musical”, corrobora Fitzgibbon.

Em junho, o líder mundial Spotify anunciou que chegou a 140 milhões de ouvintes pelo mundo, o que corresponde a um aumento de 40% em relação a 2016. Os assinantes da opção premium (paga) correspondem a 50 milhões. A empresa sueca tem, no Brasil, 70% dos seus usuários na faixa etária de 18 a 34 anos, sendo 48% mulheres e 52% homens, que estão concentrados nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre, sobretudo. Em média, eles ficam na plataforma 148 minutos por dia e, em junho, o top 50 nacional era liderado por dois hits da Anitta: “Paradinha” e “Sua Cara”. Levantamento do portal Gizmodo corrobora que mais de 80% das canções que se ouvem ali foram produzidas nos últimos anos, mas sustenta também que 80% de todas as obras cadastradas no Spotify tiveram pelo menos um stream.

Não que esse dado chegue a animar muito. Afinal, são lendários os baixos pagamentos pelos streams, e uma quantidade pequena de execuções naturalmente representará lucro quase zero aos artistas. A necessidade de acabar com as distorções e com a chamada transferência de valor, ou seja, a alta remuneração aos players do mercado em detrimento dos criadores, está na ordem do dia.

Na página 8 (Notícias Internacionais), conheça o movimento global de artistas e legisladores para corrigir a transferência de valor.

Para o diretor executivo da UBC, Marcelo Castello Branco, esse quadro só terá alguma mudança significativa se houver um crescimento exponencial no consumo pago de streams, gerando aumento de escala. “O Spotify representa 70% do streaming digital nacional, e eu considero o serviço muito barato (a partir de R$ 16,90 por mês). Por mês, sai menos que um cafezinho e um sanduíche”, opina. “Essa é uma fase que o mercado vai resolver em breve, com o aumento da escala de volume”, aposta.

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