Turbo Oficina 75

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PÁ G

IN AS

2,50€ (CONT.)

#75 SETEMBRO 2018

RICARDO VENÂNCIO “APOSTA EM MARCA PRÓPRIA ESTÁ NOS PLANOS”

profissional

DOSSIÊ

O FUTURO CHEGOU! AUTOMÓVEIS CONECTADOS E AUTÓNOMOS / NOVAS FRONTEIRAS DO AFTERMARKET E OFICINAS IMPRESSÃO DE PEÇAS EM 3D / A EVOLUÇÃO NA PINTURA AUTOMÓVEL

AUTOMECHANIKA-2018 AS NOVIDADES DA MAIOR FEIRA DO ANO

MECÂNICA 2018 SAIBA COMO VAI SER O SALÃO DE LISBOA

REPARAÇÃO PREPARAR A CHAPA PARA UMA PINTURA PERFEITA



profissional

SUMÁRIO #75 / SETEMBRO 2018

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DESTAQUE

As razões do sucesso da Autozitânia

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REPORTAGEM

Automechanika anuncia uma nova era

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ENTREVISTA

José Frazão desvenda novidades da Mecânica-2018

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TENDÊNCIAS

Carros conectados, autónomos e outros “sonhos” que afinal já são uma realidade!

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OFICINA 4.0

O que já existe e o que ainda vai mudar

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DIGITALIZAÇÃO DA COR

Os novos caminhos da pintura automóvel

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BOAS PRÁTICAS

Mercedes desvenda-nos os segredos do seu após-venda

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REPARAÇÃO

A importância decisiva do trabalho de chapa numa pintura impecável

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TÉCNICA

Para-brisas – agora muito mais que um vidro!

ESTA EDIÇÃO É OFERECIDA PELOS NOSSOS ANUNCIANTES: EUROREPAR V. CAPA JAPANPARTS PÁG. 5 TRW PÁG. 11 VALEO PÁG.13 PETRONAS PÁG.15 NGK PÁG.17 ZF PÁG.21 METELLI PÁG.23 EUROREPAR PÁG.25 MANN-HUMMEL PÁG.27 BERNER PÁG.29 CARF PÁG.30 BOSCH PÁG.37 CESVIMAP PÁG.45 CONTITECH PÁG.51 LD AUTO PÁG.53 BREMBO PÁG.54 DOLZ PÁG.55 AUTOZITÂNIA PÁG.57 MCOUTINHO PÁG.59 MIRKA PÁG.60 NTN PÁG.61 ROBERLO PÁG.65 JAPOPEÇAS PÁG.67 SAGOLA PÁG.69 SEICAR PÁG.74 VELYEN PÁG.75 VALEO PÁG.77 WYNNS PÁG.81 MECÃNICA V. CONTRACAPA WOLF OILS CONTRACAPA

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SETEMBRO 2018 TURBO OFICINA


EDITORIAL

INFORMAÇÃO DE QUALIDADE

PROPRIEDADE E EDITORA TERRA DE LETRAS COMUNICAÇÃO UNIPESSOAL LDA NPC508735246 CAPITAL SOCIAL 10 000 € CRC CASCAIS

É

SEDE, REDAÇÃO, PUBLICIDADE E ADMINISTRAÇÃO AV. DAS OLAIAS, 19 A RINCHOA 2635-542 MEM MARTINS TELEFONES 211 919 875/6/7/8 FAX 211 919 874 E-MAIL oficina@turbo.pt

provável que não reconheça imediatamente a revista onde se acostumou a encontrar a melhor informação relativa ao Aftermarket independente. Quando surgimos, há seis anos, quisemos trazer para este setor os pilares que durante mais de três décadas permitiram à Turbo afirmar-se como a publicação de referência no segmento das revistas de automóveis. Quisemos trazer os fundamentos do jornalismo de qualidade: o respeito por quem nos lê, o rigor e a disponibilização da informação mais completa e atual. Hoje, passado todo este tempo, temos a certeza de que elevámos a fasquia e, ao fazê-lo, contribuímos para que os profissionais do Aftermarket pudessem beneficiar de algo que é decisivo para o sucesso: informação de qualidade. Percorremos, com êxito, um longo caminho mas a verdade é que aquilo que então nos estimulou está, porventura, ainda mais atual. As alterações que observámos há sete anos são, afinal, pouco menos do que insignificantes quando comparadas com os desafios que o setor tem hoje pela frente; com a velocidade a que tudo se passa, com a necessidade inadiável que os profissionais sentem de se adequarem às novas tecnologias que aí estão, com um novo mundo que está ao virar da esquina.

profissional

Estamos atentos a tudo isto. Temos – acreditamos – condições únicas para compreender esses novos desafios. Desde logo porque. estando integrados na mesma estrutura que edita a revista de referência no setor automóvel em Portugal, contactamos todos os dias com essas novas tendências e tecnologias. Olhando-as de forma atenta, tornou-se muito óbvia a necessidade de fazer evoluir a Turbo Oficina. Mais importante do que nova imagem, mais sofisticada e de leitura mais fácil, é a nova “perspetiva”. Desde logo a alteração da periodicidade (a cada dois meses) para permitir que todos os temas sejam abordados com o devido detalhe, respeitando a atualidade, como fazemos nesta edição que chega às suas mãos com um pequeno atraso decorrente da decisão de lhe mostrarmos tudo o que se passou no maior certame do Aftermarket a nível mundial. E, sobretudo, privilegiando artigos que reflitam as novas tendências que, bem breve, farão parte do quotidiano de todos os que estão neste setor. Esta preocupação de olhar o futuro está já refletida nesta nova Turbo Oficina, mas muito mais se seguirá. Porque acreditamos que a informação de qualidade será cada vez mais decisivo para o sucesso dos profissionais e das empresas.

Júlio Santos D IRE TO R

TURBO OFICINA SETEMBRO 2018

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DIRETOR JÚLIO SANTOS juliosantos@turbo.pt EDITOR CHEFE SÉRGIO VEIGA sergioveiga@turbo.pt REDAÇÃO CARLOS MOURA PEDRO carlosmoura@turbo.pt ANTÓNIO AMORIM antonioamorim@turbo.pt MIGUEL GOMES miguelgomes@turbo.pt RICARDO MACHADO ricardomachado@turbo.pt RESPONSÁVEL TÉCNICO MARCO ANTÓNIO marcoantonio@turbo.pt COORDENADOR COMERCIAL GONÇALO ROSA goncalorosa@turbo.pt COORDENADOR DE ARTE E INFOGRAFIA JORGE CORTES jorgecortes@turbo.pt PAGINAÇÃO LÍGIA PINTO ligiapinto@turbo.pt FOTOGRAFIA JOSÉ BISPO josebispo@turbo.pt SECRETARIADO DE REDAÇÃO SUZY MARTINS suzymartins@turbo.pt COLABORADORES FERNANDO CARVALHO MIGUEL ASCENSÃO PARCERIAS CENTRO ZARAGOZA CESVIMAP 4FLEET IMPRESSÃO JORGE FERNANDES, LDA RUA QUINTA CONDE DE MASCARENHAS, 9 2820-652 CHARNECA DA CAPARICA DISTRIBUIÇÃO VASP-MLP, MEDIA LOGISTICS PARK, QUINTA DO GRANJAL-VENDA SECA 2739-511 AGUALVA CACÉM TEL. 214 337 000 contactcenter@vasp.pt GESTÃO DE ASSINATURAS VASP PREMIUM, TEL. 214 337 036, FAX 214 326 009, assinaturas@vasp.pt TIRAGEM 10 000 EXEMPLARES REGISTO NA ERC COM O N.º 126 195 DEPÓSITO LEGAL N.º 342282/12 ISSN N.º 2182-5777 INTERDITA A REPRODUÇÃO, MESMO QUE PARCIAL, DE TEXTOS, FOTOGRAFIAS OU ILUSTRAÇÕES SOB QUAISQUER MEIOS E PARA QUAISQUER FINS, INCLUSIVE COMERCIAIS



DESTAQUE

RICARDO VENÂNCIO, AUTOZITÂNIA

O RITMO DE MUDANÇA É ESTONTEANTE! Com forte aposta na logística e na diversidade de produtos, a Autozitânia cresce a dois dígitos por ano. E todos os dias acelera para se manter na linha da frente do aftermarket nacional! Texto Sérgio Veiga Fotos José Bispo

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eferência incontornável do aftermarket nacional, uma das nossas maiores empresas de importação e distribuição de peças automóveis, a Autozitânia tem tido uma trajetória ascendente invejável, com um ritmo de crescimento em torno dos 10% nos últimos anos que a levou a ultrapassar a barreira dos 30 milhões de euros de volume de negócios em 2017. “Para já estamos em linha com esse objetivo de crescermos a dois dígitos e vamos tentar manter essa dinâmica até ao final do ano para crescermos 10% relativamente ao ano passado”, diz-nos um dos administradores da empresa, Ricardo Venâncio, que partilha as “rédeas” com Francisco Neves, um dos dois fundadores da Autozitânia. Diz não haver segredos nem fórmulas mágicas para este sucesso, mas antes “uma conjuntura que permite crescer a esse ritmo”. “Para começar a conjuntura económica do País que mudou nos últimos três anos para algo muito mais positivo. No caso da Autozitânia fizeram-se investimentos avultados que estão agora a dar resultados e de que as novas instalações [inauguradas em 2016] são o lado mais visível. Vieram alavancar o nosso crescimento, pois nas anteriores estávamos ‘estrangulados’ e não teríamos crescido a este ritmo”. Nos 4000 m2 do armazém central de Lisboa (em Famões, Odivelas, mais concretamente), a maior parte do espaço é ocupada pela enorme nave onde se encontram quatro andares de pratelei-

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ras repletas de peças. “Neste momento trabalhamos com perto de 80 marcas e referências ativas serão umas 180 mil, número que tem vindo a aumentar a um ritmo estonteante, são mais cinco a dez mil referências por ano!”, revela Ricardo Venâncio. São quase meia centena de funcionários que ali trabalham e cuja produtividade aumentou 35% com a mudança para as novas instalações. “Permitiram introduzir novas linhas de produto e alargar a nossa oferta, com novas marcas. E trabalhar de maneira diferente!”. A organização perfeita que leva a que as várias peças de uma mesma encomenda saiam de quilómetros de prateleiras espalhados por quatro andares e se encontrem num ponto final da área de expedição está a cargo do… “sistema caótico”, curioso nome do “software” desenvolvido especificamente para a Autozitânia. Permite guiar pela rota mais eficaz o funcionário encarregue de recolher as peças de determinada encomenda que estão num andar específico – cada trabalhador está adstrito a um andar para não andar escada acima, escada abaixo –, podendo as caixas dos andares mais altos ser enviadas até à zona da expedição por uma espiral que funciona por gravidade, sem gastos energéticos. Este armazém funciona quase em contínuo, das 23 às 20 horas, aproveitando o turno da noite para arrumações e organizar as expedições para repor os “stocks” nos outros armazéns da Autozitânia (Porto, Coimbra e Algarve, próximo de S. Bartolomeu de Messines), mas também para 6

O dinamismo conseguido com as novas instalações e a forte aposta na logística são alguns dos segredos do sucesso da Autozitânia que nos foram desvendados por Ricardo Venâncio, um dos seus administradores


preparar as encomendas recebidas até à meia-noite para que possam ser entregues logo as nove da manhã, na primeira das quatro entregas diárias feitas a partir de Lisboa, Porto e Coimbra. No Algarve são feitas duas entregas todos os dias e há ainda constantes despachos de peças para a Madeira e Açores. APOSTA GANHADORA NA LOGÍSTICA “Conseguimos ter uma boa cobertura do território, incluindo as ilhas. Não é perfeita, mas julgo que estamos a trabalhar num bom nível, com uma oferta logística entre as melhores em termos nacionais”, refere Ricardo Venâncio. “Há sempre aspetos a melhorar e algumas zonas importantes, entre armazéns, que já estão identificadas e que precisam de mais atenção e investimento da nossa parte e vamos fazê-lo”. Com o armazém de Coimbra ampliado recentemente e com a enorme capacidade do de Lisboa, a estratégia de distribuição de Autozitânia sofreu alterações. “Os armazéns de Porto, Coimbra e Algarve são agora 7

SETEMBRO 2018 TURBO OFICINA


DESTAQUE

A enorme nave ocupada pelo principal armazém da Autozitânia, em Odivelas, tem quatro andares e comporta à volta de 180 mil referências de quase 80 marcas

No final da linha de "picking", as caixas com as diversas peças de uma mesma encomenda encontram-se todas nas estações de expedição

armazéns de suporte local, não tendo o ‘stock’ gigantesco que temos em Lisboa. Quando o cliente precisa de uma reposição mensal de ‘stock’ respondemos sempre a partir de Lisboa graças ao serviço logístico que montámos”. A partir das instalações de Odivelas, quatro vezes por dia saem 14 furgões de uma empresa externa, mais uma moto para entregas urgentes de peças mais pequenas, para 14 rotas pré-definidas. Funcionando toda a logística em regime de “outsourcing”, aquele que é um dos segredos do sucesso da Autozitânia acaba também por ser a sua maior despesa. “Em 2017 a logística custou-nos 700 mil euros no total, todas as entregas, todas as avenças que temos com transportadores. E é uma verba que, obviamente, poderá aumentar, se quisermos cobrir mais território e fazer mais entregas… Temos sempre de dimensionar isso em função do que o negócio nos pode trazer”. E a logística passou a estar sob muito maior pressão com a chegada em força do comércio online. “Principalmente porque baixou muito a tolerância ao erro. Uma situação em que, antigamente, en-

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comendavam de manhã e recebiam à tarde ou no dia seguinte, agora se não receberem dali a duas ou três horas já é o fim do mundo…”, explica Ricardo Venâncio que assume: “Mas fomos nós que criámos estes hábitos!”. É incontornável a necessidade do desenvolvimento das plataformas online para agilizar o negócio e, recentemente, a Autozitânia lançou a “app” Catálogo & Webshop. “Neste momento, o catálogo online, juntamente com outra ferramenta que temos – uma espécie de portal que os nossos clientes fidelizados há mais tempo já utilizavam, entrando diretamente no sistema para fazer encomendas –, já representam cerca de 80% das nossas vendas. Há cinco anos nem tínhamos catálogo online e todas as vendas eram feitas ao balcão ou pelo telefone, veja-se as voltas que o negócio deu! Atendíamos no nosso ‘call center’ mais de mil chamadas por dia, eram mais que o INEM! A equipa dos ‘call centers’ dedica-se agora muito mais à resolução de dúvidas e problemas, do que à venda e ao atendimento direto. O portal resolve 90 a 95% dos problemas e a faixa que sobra está lá a equipa 8

para ajudar o cliente e direcioná-lo para a peça certa”. Mas as grandes (r)evoluções também têm o revés da medalha e, neste caso, a dor de cabeça das devoluções aumentou exponencialmente… “O catálogo online, juntamente com quatro entregas por dia, aumentou brutalmente as nossas devoluções… Passou a haver um certo facilitismo para quem está à frente do ecrã, se houver duas ou três opções chega a pedir todas e depois devolve as que não interessarem. E nós também, de alguma maneira, protelámos isso porque também traz negócio. Dá muito trabalho aos colegas que tratam dessa área porque as nossas devoluções terão aumentado 100%... É claro que vamos ter de tomar algumas providências para que este número não continue a aumentar, não faz sentido”. FUTURO COM MARCA PRÓPRIA Trabalhando com cerca de 180 mil referências, a Autozitânia procura, segundo Ricardo Venâncio, satisfazer todos os tipos de procura. “Temos gamas ‘premium’, intermédia e ‘budget’. Pratica-


RICARDO VENÂNCIO, AUTOZITÂNIA

DESAFIOS E RECEIOS

mente em todos os tipos de produtos temos três ofertas, há até produtos em que temos cinco marcas, por exemplo em áreas como a filtragem ou a travagem. Tem muito a ver com o que o mercado pede…”. Que, apesar de um parque automóvel envelhecido, nem é tanto os produtos mais baratos. “É um mercado que gosta muito da marca ‘premium’. Se puder compra a marca ‘premium’, mas se há outro tipo de condicionalismos tem de se tentar vender o que é possível. Se não conseguimos vender uma pastilha cara, temos de ir ao encontro do que o cliente consegue comprar, temos de ter soluções para que os nossos clientes não deixem de vender”. Por agora não trabalha nenhuma marca em exclusivo e só tem uma marca própria, com as baterias NoStop. Mas a marca própria da Autozitânia é algo que está para aparecer em força. “Interessa-nos e, a curto/médio prazo, teremos novidades em áreas muito específicas em que poderemos alargar a nossa oferta com marca própria e com produtos que estamos a estudar. O que fará sentido serão sempre produtos de maior volume,

Quais os desafios e os maiores perigos que o aftermartket nacional enfrenta a curtomédio prazo? Eis um tema a que Ricardo Venâncio está particularmente atento: “Um primeiro desafio será o que vão fazer os próprios fabricantes, pois estão a aparecer com estratégias muito agressivas de aftermarket, coisa que nunca tínhamos visto. Essa é uma primeira coisa a que temos de estar atentos porque isso é para já, já está a acontecer. A eletrificação é um problema que vai afetar o mercado no geral, mas não será um cenário assim tão negro. Vamos vender menos peças? Seguramente. Agora se isso é daqui a cinco anos, a dez ou a trinta… Daqui a 30 anos ainda teremos muitos carros com motor a combustão, se calhar metade do parque ainda terá motor de combustão, eventualmente com uma componente híbrida. “A entrada de grupos internacionais também poderá ser uma ameaça que venha distorcer a atual organização do mercado português. E o próprio comércio online. Até aqui não nos tem afetado significativamente, apesar da proliferação de sites de venda direta. Mas se um dia destes a Amazon decide entrar no mercado ou um dos grandes “players” como a Oscaro decide mesmo ter uma base em Portugal, se calhar a coisa complica-se… “Preocupa-me também a atual tendência de saltar canais de distribuição e a forma como temos de nos adaptar a essa realidade. Todas as empresas se estão a tentar aproximar mais da oficina. Está a suprimir-se um patamar da cadeia de distribuição. Para mantermos a nossa posição convencional – com o fornecedor, a Autozitânia importador e depois um distribuidor com uma loja que vende à oficina –, temos de fazer um jogo de cintura nos próximos anos para encontrarmos o nosso espaço e nos mantermos. Essa é, talvez, a ameaça mais próxima porque a pressão é diária e sempre a aumentar. É o desafio mais premente”.

Leitores de códigos de barras "guiam" os funcionários pelos corredores em busca das peças das várias encomendas. Finalizada a recolha, as caixas que não estão ao nível térreo podem chegar à expedição através da espiral, apenas pela força da gravidade

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DESTAQUE

"A Autozitânia tem de adaptar-se à velocidade da mudança" nas áreas da filtragem, travagem, etc.”, revela Ricardo Venâncio. A entrada para a Temot International, em 2012, foi, segundo Ricardo Venâncio, fundamental para o crescimento da Autozitânia. “Além do benefício financeiro pela entrada no grupo, permitiu-nos ter novos fornecedores, contactar com novos ‘players’ no mercado, ter novos conhecimentos a que não teríamos acesso. O próprio catálogo online foi feito numa parceria com a Temot que tem sido muito enriquecedora que nos tem ajudado a mudar a nossa mentalidade para fazermos coisas novas”. E isso é decisivo “num mercado que caminha para a diferenciação”. “Hoje em dia ter peças e preço nas peças, qualquer um tem. Depois, para nos diferenciarmos, temos de oferecer tudo o resto, quer seja formação, logística ou outro tipo de soluções que vão ao encontro das necessidades dos nossos clientes”. A nível da formação que presta aos seus clientes, a Autozitânia uma estratégia bem definida. “Temos parcerias com entidades certificadas na área da formação, como a Atec, a Polivalor ou o Cepra e tentamos criar planos específicos para os nossos clientes e para os clientes dos nossos clientes, depois de fazermos um levantamento das necessidades e ver o que é mais benéfico em função dos objetivos e disponibilidade de cada um”. SOLIDEZ FINANCEIRA DÁ CONFIANÇA Segundo Ricardo Venâncio, o aftermarket nacional está “num período de ‘boom’, com toda a gente a aproveitar ao máximo esta fase de crescimento económico”. “Se vamos conseguir manter este crescimento ao nível atual, não será crível. Se a economia não está a crescer a este ritmo, como é que nós estamos a conseguir e como iremos mantê-lo?... É possível continuar a crescer, mas é possível que algumas das empresas mais pequenas comecem a minguar e tenhamos empresas maiores no aftermarket portu-

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Ricardo Venâncio destaca a solidez financeira da Autozitânia como fator de confiança para o futuro, mas mostra-se consciente de que só isso não chegará, terá de haver uma adaptação às rápidas mudanças por que o setor irá passar

guês, com maior dimensão…”. Compras, fusões, ganhos de dimensão? “Não são movimentos muito habituais em Portugal mas, de facto, vão-se notando algumas coisas. E a Autozitânia está atenta e a tentar ganhar dimensão. Ainda não por aquisições porque não vi nenhuma oportunidade que o justificasse, mas é algo a que não fechamos a porta”. Com um volume de negócios acima dos 30 milhões de euros – e quase a tocar nos 40 milhões, se juntarmos as lojas Autozitânia II que operam na zona metropolitana de Lisboa, em pontos onde não fazem concorrência a clientes da Autozitânia – a saúde da empresa parece recomendar-se, nomeadamente a nível de capitais próprios… “Temos, de facto, essa solidez que nos permite trabalhar com os principais parceiros sem quaisquer 10

constrangimentos que são críticos quando nos sentamos para negociar. Porque a pergunta chave que nos fazem é logo ‘quando é que nos vão pagar?’”. Quando perguntamos a Ricardo Venâncio como vê a Autozitânia dentro de dez anos, solta uma gargalhada e dispara de imediato: “Pelo que foram os últimos cinco será seguramente muito diferente do que é hoje! O ritmo de mudança tem sido assustador nestes últimos anos e continua a acelerar…”. De forma mais ponderada, reflete: “Para estar aqui daqui a dez anos, a Autozitânia tem de conseguir adaptar-se a este desafio da velocidade da mudança e já se sabe que tudo o que é mudança não é fácil. Mas vejo a Autozitânia daqui a dez anos como está agora, sendo um dos maiores ‘players’ do aftermarket”.



NOTÍCIAS

N ACIONAIS

Lift Tek com nova imagem A Lift Tek, representada no nosso país pela Krautli Portugal, efetuou uma alteração da imagem do logotipo da marca, que passou pela introdução de um novo símbolo inspirado pelo dinamismo das linhas estáticas contemporâneas, com formas suaves combinadas com uma estrutura sólida, sugerindo rigor, tecnologia e alta qualidade, refletindo os valores do grupo ALGO, a que pertence, A Lift Tek é uma das principais marcas europeias de produção e distribuição de elevadores elétricos para veículos ligeiros e comerciais. A nova imagem vai abranger todos os aspetos da comunicação, desde os catálogos ao site, e da embalagem a todas as atividades de presença nas redes sociais. krautli.pt

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Aposta em Certificação

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uas oficinas multimarca da Madeira, FBI Automóveis e A+Mecânica, e a Oficina Auto Nuno Martins, de Lousada, decidiram apostar na Inovação e Qualidade através da Certificação MVBER para Oficinas Independentes. Com este reconhecimento, passaram a dispor das competências, técnica e humana necessárias para prestar um serviço de qualidade superior por um valor mais acessível ao cliente final, cumprindo os procedimentos e parâmetros exigidos pelo fabricante automóvel, assumindo-se como alternativa viável aos reparadores autorizados da marca. 12

A oficina da FBI Automóveis, que “nasceu” do decorrer da atividade do stand com o mesmo nome, concluiu o processo de certificação MVBER durante o primeiro trimestre de 2018 e tornou-se no primeiro reparador independente certificado do arquipélago da Madeira. Recentemente, a FBI Automóveis criou inclusive um espaço destinado a oficina de manutenção e reparação automóvel, motivada pela paixão pelos automóveis, a vontade de inovar e garantir a satisfação do maior número de clientes. A A+Mecânica, por sua vez, desenvolveu sempre a sua atividade na área da


As oficinas independentes portuguesas têm vindo a apostar na certificão MVBER, que lhes permite obter as competências necessárias para prestar um serviço de qualidade ao cliente final, cumprindo os parâmetros exigidos pelos fabricantes

reparação e manutenção de veículos automóveis na localidade de Gaula. A Certificação MVBER permitiu-lhe ir de encontro à aposta no crescimento e evolução no serviço de qualidade. O processo de certificação foi concluído em meados de junho de 2018, o que veio possibilitar a capacidade para a realização, entre outros, de serviços certificados de manutenção e de reparação em viaturas em período de garantia sem a perda da mesma, assim como o acesso aos principais fabricantes automóveis em condições exclusivas, a utilização do SiGMA (Sistema Integrado da Manutenção Automóvel) e a emissão de Livros de Manutenção Digital para os seus clientes. A Oficina Auto Nuno Martins passou a integrar a Rede Eco Oficina Premium, reforçando a cobertura desta rede de oficinas independentes. O novo ponto de assistência está localizado em Lousada, no distrito do Porto, e as suas instala-

ções possuem uma área coberta com 1400 m2, além de cerca de 4000 m2 de área exterior dedicada a parqueamento de viaturas. A Oficina Auto Nuno Martins disponibiliza serviços de mecânica (reparações rápidas, tal como também reparações e manutenções certificadas), chapa e pintura; diagnóstico de motores, montagem de pneus e carregamento de ar condicionado. Está equipada com sete elevadores, nove máquinas de diagnóstico e ainda toda a ferramenta específica necessária para poder realizar os serviços solicitados. A oficina conta com uma zona de receção ampla, acolhedora e confortável onde os clientes podem aguardar pela entrega da sua viatura. Proporciona inclusive um espaço de fraldário já a pensar nos "futuros clientes", onde se podem prestar os devidos cuidados a bebés que acompanhem os pais na ida à oficina. ebi.pt 13

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NOTÍCIAS

N ACIONAIS

Dayco oferece fatos macaco

JO HN BE A N

Nova Visualiner 1200 A John Bean, distribuída em Portugal pela Domingos & Morgado, lançou uma nova máquina compacta de alinhamento de direções, que alia o conceito 3D à capacidade de poder funcionar em qualquer local. A Visualiner 1200 dispõe de câmaras de filmar (em vez dos tradicionais equipamentos fotográficos) para garantir uma medição contínua, em vídeo, eliminando todo e qualquer tempo de espera durante o alinhamento, além de uma elevada precisão e rapidez. Segundo a Domingos & Morgado, a portabilidade da John Bean Visualiner 1200

torna os obstáculos intransponíveis para outros sistemas em meros ‘incidentes’ sem qualquer relevância para o seu funcionamento. Outra vantagem consiste na possibilidade de utilização de um smartphone como monitor auxiliar quando, por exemplo, se pretende um eixo traseiro de acesso mais difícil de um automóvel. Para o efeito está disponível a ‘app’ gratuita “MyAligner” da SnapOn Equipment na loja Google, que transforma o telemóvel Android num monitor auxiliar portátil. domingos-morgado.pt

Com o objetivo de premiar os seus clientes, a Dayco lançou uma campanha no mercado português que consiste na oferta de fatos de macaco para todas as oficinas, quer de ligeiros, quer de pesados. A Dayco é uma multinacional americana, líder global em pesquisa, desenvolvimento, produção e distribuição de produtos essenciais para motores, sistemas de transmissão e distribuição para automóveis, camiões, máquinas de construção, máquinas agrícolas e indústria. dayco.com.pt

AUTOZITÂNIA E BREMBO OFERECERAM CAMISOLAS DE FUTEBOL A Autozitânia e a Brembo lançaram uma campanha que oferece aos clientes camisolas de futebol oficiais da nova época de 2018/2019. Para ganhar uma camisola do seu clube de eleição – Benfica, Sporting ou Porto –, o cliente tem de adquirir 100 jogos de pastilhas Brembo. A campanha está limitada ao stock de camisolas disponíveis para oferta. Com grande foco na investigação e desenvolvimento, a Brembo, disponibiliza produtos de alta qualidade, segurança e sempre com um design distintivo. autozitania.pt

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NOTÍCIAS

N ACIONAIS

Monroe B-Connected regressou a Portugal

EURO R E PA R CA R SE R VICE

Rede ultrapassa 90 oficinas A rede de manutenção e reparação multimarca do Grupo PSA, Euro Repar Car Service, já ultrapassou as 90 oficinas aderentes em Portugal. Este número corresponde ao plano de desenvolvimento previsto para o corrente ano e que tem o objetivo de atingir os 150 operadores em 2020. A rede de proximidade e confiança Euro Repar Car Service foi lançada em 2016 no nosso país e, no final do ano seguinte, já contava com um total de 63 oficinas, distribuídas por todo o território nacional. Para atrair os clientes, a rede aposta numa excelente relação entre qualidade, competência e preços praticados,

contando com equipas de profissionais qualificados que realizam a manutenção e a reparação de viaturas de diferentes marcas, de acordo com as preconizações de serviço dos respetivos construtores. Com o objetivo de reforçar este posicionamento, a rede nacional Euro Repar Car Service tem em vigor, até final de setembro, uma campanha com revisões a 89 euros, independentemente da marca da viatura, e de acordo com a preconização dos fabricantes. A nível internacional, o plano “Push to Pass” aponta para que a rede Euro Repar Car Service alcance, até 2021, cerca de dez mil operadores. eurorepar.pt

CATÁLOGO ONLINE DE REPARAÇÃO DA 3M Todas as novidades de reparação automóvel da 3M já estão disponíveis no seu novo catálogo online, encontrando-se classificadas em diferentes áreas: abrasivos, chapa, mascaramento, PPS, acabamento, DMS, adesivos para revestimentos, proteção pessoal e acessórios. De forma fácil e intuitiva, os clientes podem encontrar todas as gamas de produtos, vídeos, demos e fichas técnicas. Para aceder à plataforma, as oficinas terão de facultar alguns dados, num pequeno for-

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mulário e, dessa forma, poderão receber também informações das últimas novidades e promoções da 3M. Cada uma das áreas do catálogo dispõe de informação atualizada e completa sobre os produtos, incluindo características técnicas, detalhes da embalagem, vídeos de utilização e a respetiva referência para compra. Existe ainda um espaço exclusivo, dedicado a “promoções do mês”, e outro para contato direto com os responsáveis da empresa. 3m.pt 16

A Monroe e a Autozitânia voltaram à estrada com a digressão B-Connected 2018 que, durante o mês de agosto percorreu todo o País, de norte a sul de Portugal Continental. Nesta ação participaram dois veículos decorados com imagem e produtos da Monroe, que visitaram os clientes da Autozitânia. O objetivo consistiu na promoção a nível técnico de toda a gama da Monroe, realçando a importância e a qualidade dos amortecedores da marca detida pela Tenneco. autozitania.pt

bilstein group apoia bombeiros da Malveira No âmbito da sua política de responsabilidade social, o bilstein group ofereceu aos Bombeiros Voluntários da Malveira um frigorífico para incorporação num dos veículos de combate a incêndio. Segundo explicou o Comandante Miguel Oliveira, da corporação dos Bombeiros Voluntários da Malveira, este frigorífico será extremamente importante para toda a equipa do quartel, na medida em que vai contribuir para que, quando haja uma descompensação de líquidos nos operacionais, rapidamente se consiga controlar essa necessidade com águas frescas. bilsteingroup.com



REPORTAGEM

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AUTOMECHANIKA-2018

DISCURSOS VISIONÁRIOS “ESCONDERAM” PRODUTOS As alterações que se anunciam na mobilidade vão mudar todo o paradigma do aftermarket e trabalho oficinal. Uma “onda” de mudança que arrastou para segundo plano todas as novidades de produto que apareceram na maior feira do Mundo! Texto Sérgio Veiga, em Frankfurt

É

incontornável que a maior feira do Mundo do aftermarket e de tudo o mais que se relacione com o automóvel – das técnicas de reparação às lavagens, passando pela repintura, acessórios e, este ano, até pneus – seja sempre muito focada na divulgação de novos produtos. Em especial quando, num espaço imenso de doze pavilhões com um total de 315 mil metros quadrados, se juntam mais de cinco mil expositores de 76 países. E os visitantes vêm de mais de 170 países, tornando a feira de Frankfurt uma autêntica filial das Nações Unidas especializada em todos os detalhes que digam respeito ao automóvel. Houve, contudo, uma diferença na Automechanika deste ano, ou deste biénio, se se preferir, já que a próxima edição apenas se realizará em 2020. Uma ideia, um discurso, todo um conceito que “varreu” os principais pavilhões da gigantesca feira germânica e que, pelo menos nos primeiros dias, se conseguiu sobrepor à importância de novos produtos. O principal mote foi o da era da digitalização que já começou, mas que se irá espalhar à “velocidade da luz” pelo aftermarket e pelas oficinas. Não estar conectado a esta nova realidade é começar a perder o comboio, é baixar velozmente nos índices de competitividade, num setor cada vez mais aguerrido. Porque os carros elétricos podem vir aí mas, a grande vaga que irá alterar profundamente o aftermarket e após-venda, será a dos carros conectados: a Bosch estima que serão 470 milhões em 2025, sejam elétricos, híbridos ou com a tradicional propulsão a combustão; a Del-

phi estima que a nova realidade fará disparar o valor do aftermarket mundial dos atuais 800 mil milhões de euros por ano para mais de 1200 mil milhões (ou 1,2 biliões), em 2030! Foi essa onda de mudança que marcou, mais que a apresentação de novos produtos, a edição 2018 da Automechanika, numa altura em que o próprio automóvel atravessa uma fase de profunda evolução. E o aftermarket tem de se preparar para ela, nomeadamente com novos equipamentos, alguns dos quais foram mostrados neste certame na sua fase final de desenvolvimento, outros já em início de comercialização. Quase todos virados para uma maior rapidez e facilidade de diagnóstico, de auxílio ao trabalho na oficina, conseguindo reduzir o tempo das intervenções e aumentar o coeficiente de “fazer bem à primeira”. Mais que investimentos em novos produtos e equipamentos estamos a falar, antes de isso, de uma mudança de mentalidades. “Ou temos medo desta mudança, ou avançamos e participamos de forma decidida na forma como ela será moldada”, foi uma afirmação marcante de Helmut Ernst, chefe da divisão de Pós-venda da ZF Aftermarket. “Quando o próprio carro passa a comunicar à oficina que tem um problema, o processo de decisão de manutenção vai mudar das pessoas para o sistema. Mas temos de garantir que as pessoas continuarão a fazer parte deste ciclo, nomeadamente podendo escolher qual a oficina a que pretendem recorrer. Haverá todo um conjunto de relações que terá de ser refeito”. É uma nova era que se está a abrir tanto a nível do af19

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Num grande painel que desliza ao longo do carro, num "tablet" ou nuns óculos, a realidade aumentada veio para ficar e auxiliar nos diagnósticos e nas reparações, para acelerar processos e permitir trabalhar mais carros no mesmo tempo

termarket como do mundo oficinal, em que as empresas mais abertas e dispostas à mudança conseguirão captar mais clientes. É, no fundo, a entrada irreversível na era da Oficina 4.0 que abordamos a partir da página 46. OS AVANÇOS QUE ACRESCENTAM PRODUTIVIDADE À OFICINA Esta (r)evolução não se limita, contudo, à nova comunicação entre veículo e oficina, em que esta conseguirá saber da iminência de uma avaria, antes sequer de o condutor se aperceber de qualquer problema. E de lançar um alerta e preparar-se para intervir, no caso de o condutor o desejar. Há também uma série de tecnologias de apoio às oficinas que visam facilitar o trabalho, tanto a nível da correção dos diagnósticos como da própria reparação, recorrendo a técnicas como a realidade aumentada, comandos por voz, máquinas portáteis cada vez mais potentes ou plataformas completas de apoio. A Bosch, por exemplo, apresentou um novo aparelho de diagnóstico ultraportátil, o KTS 250, pouco maior que um “tablet”, perfeito para pequenas oficinas ou para complementar aparelhos maiores em oficinas de maior dimensão, cobrindo já 150 marcas de automóveis de passageiros. O KTS 250 recorre à nova versão do software Esitronic 2.0 que permite reduzir o tempo de reparação, pela base de dados que, entre outros auxiliares, inclui 750 mil casos reais que já passaram pelas oficinas da marca e que servem de exemplo para resolver problemas semelhantes. A Bosch recebeu ainda o prémio de Inovação pela sua aplicação de realidade aumentada que tem usado no treino de novos empregados de oficinas, mas também em diagnósticos mais rápidos, por o “tablet” conseguir exibir componentes que estão inclusive escondidos do olhar. A realidade aumentada foi também exibida pela Schaeffler que, além de mostrar um dispositivo semelhante ao da Bosch que identifica cada componente de um órgão mecânico e como deve ser montado, tinha um protótipo de algo espantoso e que estará próximo (questão de um ano) de chegar ao mercado: uns óculos de realidade aumentada que vão indicando ao mecânico exatamente os passos

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ideais a dar em cada reparação para tornar tudo mais célere e preciso; vimos um colega nosso pouco dado a “pôr a mão na massa” a executar uma reparação simples de um motor em escassos minutos só com as instruções que lhe apareciam nos óculos! O futuro é isto, tal como é também um grande painel digital que a Continental mostrava junto a um automóvel e que deslizava ao longo do mesmo, mostrando todos os seus componentes e eventuais avarias, quase como se fosse… uma TAC de oficina! A divisão ContiTech mostrava ainda um assistente por voz que, reconhecendo ordens num discurso perfeitamente normal, ajudava o mecânico com dicas ou mostrando o local preciso do livro de instruções da montagem de um determinado componente. A ideia de tudo isto é poupar em, pelo menos, 15% o tempo gasto com cada passo numa reparação o que, no final do dia, podem significar mais carros reparados, logo mais negócio para a oficina! 20


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A ZF Aftermarket irá lançar em Portugal, em breve, o seu conceito ZF [pro]Tech, programa que oferece larguíssimo apoio técnico a reparadores independentes e com base nos produtos das marcas que comercializa (TRW, Sachs, Boge e Lemförder). Também a Tenneco – que mostrava as suas gamas de amortecedores Monroe e escapes Walker – exibia as plataformas de acesso universal e sem registo que são autênticas universidades online para ajudar os reparadores independentes a tirar qualquer tipo de dúvidas. Isto são só alguns exemplos da importância da conectividade no futuro da reparação e também do aftermarket, em que já não há empresa que dispense a presença online, com catálogos sempre a conhecerem aperfeiçoamentos. Veja-se o caso do bilstein group que sempre teve um dos melhores catálogos online com a sua marca blue print, mas agora juntou as outras marcas (Swag e febi) numa única plataforma, a Partfinders que tem vindo a evoluir e a ganhar funcionalidades semana após semana. TOTAL ABERTURA AOS ASIÁTICOS Esta Automechanika de 2018 foi também a da definitiva abertura do mercado europeu às empresas asiáticas. E quando se fala em asiáticas pensa-se de imediato nos chineses que estiveram, de facto, presentes em força em Frankfurt, com centenas de pequenas empresas e algumas de já grande dimen-

são. Mas asiáticas são também as empresas indianas, com um grande interesse no aftermarket e que compareceram também com uma forte vertente de cliente! Oportunidade já explorada por algumas empresas nacionais. Além de muitas empresas produtoras espalhadas pelos diversos pavilhões, em função da sua atividade, a feira de Frankfurt colocou num espaço nobre, no exterior e bem no centro do recinto, uma vasta tenda onde se concentraram largas dezenas de pequenas companhias quase todas chinesas. Essa dinâmica, conjugada com a quantidade de “stands” que vimos de importadores de componentes da China para a Europa diz-nos que o aftermarket tradicional do Velho Continente tem de estar preparado para um forte embate nos anos que aí vêm… Pelo preço vai ser difícil combater, a qualidade e a logística ainda são os grandes trunfos das empresas já estabelecidas! Mas, com tudo isto, não houve produtos novos na Automechanika-2018? Claro que sim, novidades foram muitas, milhares, impossíveis de elencar aqui. Muitas delas foram, aliás, sendo apresentadas nos últimos meses, como as novas pastilhas de travão da Brembo de altas prestações XTRA (à venda em Janeiro de 2019, 40 a 70% mais caras que as normais) que completam a X-Range, depois dos discos MAX e os discos perfurados XTRA. Também a ZF Aftermarket mostrou novas pastilhas, as Electric Blue, especiais para veículos elétricos. A Delphi exibiu uma nova

Tendo comprado a fabricante de embraiagens KM, o bilstein group optou por distribuir aqueles produtos pelas suas marcas febi (pesados, na foto) e blue print (ligeiros)

A organização da Automechanika reservou uma enorme tenda para dezenas de expositores asiáticos, a maior parte dos quais provenientes da China, com muitas empresas de olho no mercado europeu de aftermarket

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REPORTAGEM

tecnologia que permite subir a pressão de injeção direta dos motores a gasolina até aos 350 bar, otimizando o seu funcionamento. E as novidades não mais terminariam… Mas vale a pena acrescentar uma nota quase “à parte” nesta “imersão no futuro”, para uma “chamada à terra” feita pelo responsável de vendas e marketing do grupo Exide, um dos gigantes das baterias em que se inclui a conhecida marca Tudor. Nem tudo o que conhecemos no presente e do passado tem os dias contados: quando só se fala em baterias de iões de lítio para os veículos elétricos, Michael Geiger recordou que as baterias chumbo-ácido não só continuam a ter a fatia maioritária das vendas, como assim continuará a ser durante muitos anos. Porque até os veículos elétricos… as utilizam, como bateria de 12 V, indispensável para colocar uma série de dispositivos em funcionamento. A que propósito vem este exemplo? A Automechanika-2018 foi, toda ela, um hino ao futuro, à evolução, à mudança para um novo paradigma do aftermarket e do trabalho oficinal, acompanhando os novos cânones da mobilidade. Mas o mundo e a vida não são a preto e branco, não acordaremos um dia e tudo estará diferente. O segredo está em saber evoluir e agarrar as inovações que nos serão úteis, sem nunca abandonar cegamente as práticas fiáveis e rentáveis, enquanto não houver uma alternativa segura. É esta, no fundo, a mensagem da grande feira de Frankfurt.

O novo equipamento de diagnóstico KTS 250 da Bosch (em cima do motor) é muito prático por ser tão portátil. A Brembo lançou as pastilhas de travões de melhores performances, para funcionarem com os discos perfurados XTRA

PORSCHE QUER EVITAR “IDAS AO DENTISTA”! Único construtor presente oficialmente, com “stand” próprio, na maior feira de aftermarket? A Porsche! E a pergunta a Robert Heismann, diretor de plataformas, e quem tinha proposto à administração a presença na Automechanika foi nestes exatos termos: mas o que está a Porsche a fazer numa feira destas?! Resposta surpreendente! “Queremos abrir-nos mais ao público e mostrar que, nas nossas oficinas, temos novas tecnologias, como a realidade aumentada, para melhorar os serviços. Porque, para os nossos clientes, ir ao concessionário é como… ir ao dentista! Queremos clientes mais satisfeitos e reduzir os tempos de espera para que possam desfrutar mais dos seus carros”. A Porsche mostrava o seu carregador rápido para o futuro veículo elétrico, o Taycan (600 cv, 500 km de autonomia real), que carrega a 800 V, conseguindo 100 km de autonomia em apenas 4 minutos ou os 500 km em 20 minutos! E exibia ainda um “robot” feito por um parceiro, a Kuka, que automaticamente liga o carregador da “wallbox” ao carro. Um “gadget” para não sujar as mãos nos cabos e que estará à venda dentro de um ano...

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Se o 911 GT3 RS chamava a atenção, era no Panamera Turbo Hybrid que a Kuka exibia o seu assistente de carregamento

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REPORTAGEM E MP R E S AS S ÓLIDAS E M BU S CA DE NOVO S HO R IZO NTES

FORTE PRESENÇA LUSA!

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á empresas portuguesas que são autênticas veteranas da Automechanika: a João de Deus, a SIM – Sociedade Irmãos Miranda ou a Indasa são três exemplos de presenças que já datam de… 1992! A João de Deus é um colosso dos “intercoolers” e não dispensa a feira alemã para alargar a clientela no aftermarket, mesmo que represente “apenas” 20% dos cerca de 60 milhões de euros anuais de volume de negócio. O foco continua no fornecimento de quase todas as marcas do Grupo VW (incluindo praticamente todos os modelos Porsche e Bentley), Fiat/Iveco e, desde que entrou no universo da Denso, alguns modelos japoneses. “Aqui, a aposta é no aftermarket, é imprescindível para crescermos essa componente”, disse-nos João Neves, responsável de vendas daquela empresa já centenária. “A nossa presença serve para reencontrarmos clientes atuais e também novos clientes, nomeadamente de fora da Europa, como do Norte de África ou do Médio Oriente”. INDASA EM MAIS DE CEM PAÍSES Para a SIM – Sociedade Irmãos Miranda, a presença na Automechanika tem cariz quase obrigatório, até porque a Alemanha é o maior dos 52 mercados para onde vende toda a tecnologia de iluminação e refletores virada para camiões e reboques, bem como para material agrícola. “Exportamos 93% da nossa produção e a presença nesta feira serve para continuar a divulgar a marca e para contactar novos clientes”, referiu-nos o diretor-geral João Barroso. A qualidade dos seus produtos levaram a SIM a tornar-se também fornecedor de primeiro equipamento dos dois maiores fabricantes de reboques (Kogel e Humbaur) e da Kuhm, um dos maiores construtores de veículos agrícolas, com “kits” completos de luzes e cablagens. A Indasa tem longa história nos produtos abrasivos para a repintura automóvel (40.º aniversário daqui a cerca de um ano), estando entre as maiores empresas europeias deste ramo. Aproveitou a Au-

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tomechanika para apresentar o sistema Ultravent, numa patente que incorpora um disco de lixagem multifuros com sistema de aspiração que melhora em muito a qualidade final do trabalho. “Vendemos para mais de cem países e não há nenhum país europeu que não tenha um distribuidor nosso. Mas houve muitos clientes que começaram aqui, na Automechanika, é uma feira obrigatória para fazer novos contactos e arranjar novos clientes”, garantiu-nos um dos seus administradores, Machado Lobo. “A empresa continua a crescer, numa unidade que deverá ser aumentada, no próximo ano, de 25 para 35 mil metros quadrados de área coberta”. Com um “stand” imponente e geminado com o da gigante Faurecia, com que tem uma parceria, a Veneporte mostrou as mais recentes propostas de escapes para o “aftermarket” e o que também propõe a nível de primeiro equipamento com que fornece a Renault e o Grupo PSA, inclusive a Motrio e a Auto Repar. “A nossa produção continua a ser praticamente toda feita em Portugal, sendo 89% para exportação e está dividida em 37% para primeiro equipamento e 63% 26


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para aftermarket”, explicou-nos o CEO, Abílio Cardoso, CEO. A Veneporte espera atingir os 15 milhões de euros de volume de negócios no final deste ano, pelo que a presença na Automechanika serviu “para ganhar notoriedade, apresentar uma nova gama de produtos (nomeadamente para Euro5 e filtros de partículas) e ganhar clientes em novos mercados, o que parece ter sido conseguido”. Já a Fabriscape tinha um objetivo importante para a presença em Frankfurt, segundo o seu diretor comercial, Marco Costa: “A Fabriscape apareceu em 1984 para o aftermarket em Portugal, mas o mercado português é muito pequeno e começámos a oferecer soluções completas de emissões ‘chave na mão’. Criámos depois a EuroFlo para o mercado do Reino Unido e acabámos por adquirir uma participação que nos deu o controlo da TPCats, especializada em catalisadores e filtros de partículas. Esta presença na Automechanika é a primeira oportunidade de comunicarmos ao mercado que as três empresas formam um conjunto único”. A Fabriscape vende na Europa e Norte de África e com uma vantagem: “Não estamos dependentes de terceiros, controlamos todo o processo, desde a compra da matéria-prima até ao produto final”.

resistência, o que permite elevar a potência debitada pelos motores», explicou-nos o diretor geral da HP Turbo (de Corroios), Luís Santos. «O rolamento em cerâmica permite reduzir muito a fricção interna e também desenhamos novas turbinas e coletores de escape. Tivemos excelentes reações ao nosso trabalho, não só de alemães mas de muitos outro mercados, por isso foi tão importante vir a esta feira”. NOVAS LINHAS DE KROFTOOLS A MF Pinto também trabalha com turbos, mas numa perspetiva quase puramente comercial, de compra e venda. A sua quarta presença na Automechanika justifica-se pelo caráter quase global do seu negócio. “Compramos e vendemos em quase todo o Mundo, começámos com os turbos, mas agora já alargámos para as injeções diesel e para algum material elétrico”, referiu-nos Paulo Rodrigues. “Estamos em todos os continentes, temos um volume de negócios a rondar os 8 milhões de euros e começámos também a vender máquinas de reparação de turbos”. A Hispanor conta com a marca Wetor sob a qual “fabricamos produtos e soluções para a reparação de plásticos”, segundo o responsável comercial Paulo Alves. A empresa bracarense esteve pela quarta vez em Frankfurt e já vende para três dezenas de mercados. É também essa internacionalização que a sua conterrânea Crofil pretende para as ferramentas Kroftools, embora exporte já para Espanha e França. “Mas agora procuramos expandir-nos para novos mercados, de forma a que a maior parte das nossas vendas se façam para o estrangeiro”, confidenciou-nos José Barbara. Na Automechanika a Krotools mostrava novas linhas de gambiarras, máquinas pneumáticas compactas, ferramentas sincronizadoras e um carro de ferramentas que também permite diagnóstico auto. Este ano a Automechanika teve a novidade de um piso dedicado aos pneus, em que também houve uma presença portuguesa, com a Joaquim Barros Rodrigues e Filhos, Lda a mostrar os eternos Camac numa vertente mais para veículos clássicos. A DGA Comércio e Indústria com os seus deflectores de vento e chuva para 55 marcas e 1100 modelos e a Sucatas Pinto a mostrar o que faz em reciclagem e nos veículos em fim de vida completaram a presença portuguesa em Frankfurt.

TURBOCLINIC É LÍDER MUNDIAL É já bem conhecido o caso de sucesso fulgurante da Turboclinic e das bancadas completas que permitem rápidas afinações e reparações de turbocompressores de geometria variável. Criada em 2012 em Coimbra, já “colecionou” mais de 70 mercados dos cinco continentes, sendo líder mundial deste segmento, podendo ter aberto, em Frankfurt, a porta da Índia. “Esta feira é vital, há aqui gente de todo o Mundo e conseguimos ganhar novos mercados, também a Rússia e outros na Ásia”, contou-nos Nuno Lopes para quem a presença na Automechanika é o ponto alto do ano: «É a partir desta altura que fazemos 50 a 60% da nossa faturação anual». Estreante nestas andanças e com outra área de negócio, embora também centrada nos turbocompressores, a HP Turbo foi à Alemanha mostrar o seu “know-how” na reparação daqueles componentes, mas também noutra área de extrema importância naquele país: “Alteramos os turbos para melhorar a sua eficiência e

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OPINIÃO

Dr. Miguel Ascenção ADVO GA D O

O ADVOGADO NA OFICINA

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om a crescente judicialização da actividade económica e com a incessante produção legislativa, em Portugal, como na Europa, torna-se cada vez mais relevante a existência de um apoio jurídico permanente na gestão de uma oficina seja por questões administrativas, por questões relacionadas com o recrutamento e gestão de recursos humanos ou questões referentes à resolução de conflitos. Embora normalmente a contratação de um advogado ou de uma sociedade de advogados seja vista como mais um custo, a verdade é que a existência de uma assessoria jurídica permanente acaba, muitas vezes, por significar uma poupança nos custos de exploração de uma oficina já que, utilizando essa assessoria de uma forma preventiva, ela acaba por evitar gastos que são desnecessários tais como multas, indemnizações, custos judiciais e, em certos casos, a suspensão de actividade por incumprimento de regras e requisitos administrativos e legais que são impostos por lei. Desde logo, e do ponto de vista administrativo e legislativo, um dos grandes problemas das diversas actividades económicas prende-se com a incessante produção legislativa que com uma frequência muito superior à que seria desejável vai impondo aos empresários novas obrigações, requisitos e regras aplicáveis ao seu negócio e que, muitas vezes, por simples desconhecimento, os empresários deixam de observar podendo essa “distracção” implicar a imposição de multas, retenção ou apreensão de mercadorias e, por vezes, até a suspensão da actividade. Para evitar estes custos e contingências desnecessárias, é da maior conveniência ter uma assessoria jurídica que mantenha os empresários permanentemente informados sobre os requisitos e prazos legais a que a sua actividade está sujeita a cada momento. Outra das áreas em que uma ajuda especializada é fundamental é na área dos recursos humanos para que, no momento da contratação, os contratos de trabalho sejam bem elaborados - seja nos contratos de trabalho a termo certo ou nos contratos sem termo onde deve ser sempre previsto um período experimental que possibilite ao empregador,

em caso de insatisfação, ter maior flexibilidade no momento de redefinir a sua estrutura de trabalhadores. De igual forma, e pela graves e onerosas consequências que pode assumir um despedimento mal organizado do ponto de vista legal, é também fundamental neste âmbito que o empresário preencha todos os requisitos formais e substâncias no processo disciplinar para que, por questões formais, não veja as contingências decorrentes de um despedimento tornarem-se um custo insuportável para a sua actividade. Outros casos em que a existência de um advogado ou de um escritório de advogados pode assumir uma relevância capital e determinar uma poupança em custos, são aqueles decorrentes de litígios e na relação e interacção com clientes. Os advogados, seja por meio de acordos extra judiciais, seja com recurso a centros de arbitragem, acabam requerendo um custo significativamente inferior àquele que um empresário terá de considerar na eventualidade de não ter uma ajuda especializada na resolução de litígios de uma forma extra judicial. Por fim, e contando com a ajuda de um advogado fiscalista e de um advogado versado em direito societário, um empresário pode ver a sua sociedade ser potenciada do ponto de vista fiscal e empresarial dentro dos limites impostos pela lei, o que, embora possa representar um investimento inicial, regra geral, acaba por o compensar largamente, numa reestruturação levada a cabo para este efeito. NOTA: o autor optou por escrever segundo a anterior ortografia

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ANTEVISÃO MECÂNICA-2018

A FEIRA PARA AS OFICINAS Em Lisboa porque é onde está o maior potencial de negócio e os expositores querem mostrar os seus produtos. É este o lema da Mecânica, com nova edição na FIL. Conheça as novidades! Texto Sérgio Veiga Fotos José Bispo

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aem os Transportes que encontrarão um novo espaço próprio e entra o decisivo setor da Logística. É esta a principal novidade da edição deste ano da Mecânica – Salão do Aftermarket, Equipamento Oficinal e Logística que, apenas onze meses após a estreia em Lisboa, de 26 a 28 de Outubro, voltará a realizar-se na FIL, no Parque das Nações. De acordo com José Frazão, responsável máximo da Mecânica mas também da Exposalão, onde nasceu este certame, será a edição da consolidação do encontro das empresas do aftermarket e dos equipamentos oficinais na capital, depois de uma primeira edição que serviu para “apalpar terreno”. Porque, mesmo havendo a concorrência da ExpoMecânica do Porto, José Frazão defende que é fundamental a realização deste certame em Lisboa, até pelos contactos internacionais e pela atração que pretende exercer sobre alguns mercados do Norte de África (nomeadamente o marroquino e o argelino), em franca expansão. Mas não só isso. “É verdade que muitos dos expositores estão, de facto, a Norte, mas o grosso dos clientes está na região de Lisboa, a Sul”, explica. Numa conversa franca em que não se furtou a temas delicados, como a pertinência de haver duas feiras anuais num mercado da dimensão do nosso ou o preço exagerado pedido pela FIL aos expositores, José Frazão desvendou-nos, em traços gerais, o que poderemos descobrir, entre 26 e 28 de outubro, na Mecânica de 2018. Com que novidades conta a Mecânica este ano e porquê juntar a Logística ao Aftermarket e Equipamentos Oficinais?

As novidades na Mecânica resumem-se sempre a acompanhar a evolução das grandes empresas que estão precisamente a evoluir na área da logística. E como conseguimos acompanhá-las? Vendo as necessidades que têm. Com a dinâmica das empresas ligadas ao aftermarket, acabam quase por ser elas a empurrar-nos neste nosso papel de as ajudar a promover o que têm. No mundo automóvel, as grandes novidades estão para chegar, com a grande alteração que vai haver dos carros elétricos, com menos equipamentos e o reajustamento a que isso obrigará. Neste momento, o importante serão as palestras, criar as condições necessárias para fazer esse debate. O que queremos acrescentar este ano é tornar a feira mais interativa, com uma maior dinâmica. No fundo, o que tem sucedido no mercado europeu, em que as feiras têm dimensões médias, mas com um lado ativo, em que se fala mais e se mostra bem o que é novo. E nós vamos criar as condições para se falar mais nas novidades, com diversas salas distribuídas pela feira onde as pessoas poderão falar sobre as suas novidades. E aqui entra a Logística porque, no setor do aftermarket, está a acontecer como nos medicamentos: há tudo dentro de uma oficina mas, de repente, é preciso uma peça que tem de vir de avião. Mas tem de ser rápida porque não se pode ter veículos dentro de uma oficina a ocupar espaço. E a Logística é a pensar no espaço, nem tanto pela distribuição, mas por causa do espaço que é demasiado caro. Foi por isso que associámos a Logística. E o facto de não termos os Transportes, para os quais estamos a reequacionar uma nova estratégia que passará por fazer um novo salão na Batalha, em março do próximo ano. 33

O aftermarket e os equipamentos oficinais vão voltar a ter o seu encontro em Lisboa, com mais uma edição da Mecânica, nos dias 26 a 28 de outubro, este ano com o "plus" de um espaço dedicado à logística

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A fasquia está nos 170 expositores e 25.000 visitantes do ano passado. Qual o objetivo para esta edição? Não estamos na expetativa de ter mais expositores, poderemos ter mais dez ou quinze, mas não é por aí... Estamos sim na expetativa de termos expositores a reajustar-se, depois de um primeiro ano em que muitos vieram na expetativa de ver como seria o salão em Lisboa. Esta região tem 40% do mercado nacional e, dada a importância de Lisboa neste setor, o aftermarket está muito presente na região Sul, estamos a assistir a um reajustar. E se, no primeiro ano, as empresas maiores não quiseram vir, na segunda edição já querem estar presentes. Depois, há umas que fazem um intervalo – porque há aqui um problema de haver duas feiras em que, se calhar, perdemos os dois… – mas, nestas coisas, o “marketing” deve ser agressivo, quanto mais lembrar e ficar na memória melhor. E nós, no fundo, somos uns promotores do “marketing”. Portanto, poderemos aumentar o número de expositores em 5 a 10%, mas isso não é o importante para nós, estamos focados em termos os mesmos do ano passado e se conseguirmos aumentar será excelente. Mas a área ocupada pelo Aftermarket e Equipamentos Oficinais será a mesma. OS EXPOSITORES PODEM ESTAR A NORTE MAS OS CLIENTES ESTÃO EM LISBOA Dez meses passados sobre a última edição, a frieza do tempo já lhe permite perceber se foi uma boa decisão, embora difícil, trocar a Batalha por Lisboa? Para estar em Lisboa eu tenho a Batalha fechada… É a mesma coisa que alugarmos uma casa à beira-mar e outra mil metros mais para dentro. Mas a da beira-mar é melhor… Aqui é um pouco isso, estamos numa posição mais central, até em termos internacionais. Até porque o que queremos trabalhar aqui em Lisboa não é só o mercado português, é também alargar para o mercado do Norte de África. Ainda não nos afirmámos porque no ano passado não tivemos tempo para trabalhar as coisas em condições, este ano já estamos a trabalhar um pouco mais, mas já percebemos que é passo a passo. O Norte de África, nomeadamente Marrocos e Argélia, são mercados muito importantes, fala-se até já na Nigéria porque temos muita gente a trabalhar esse mercado. Depois, temos Angola e Moçambique. Em especial o primeiro que compra em Portugal, quer vir, mas quer vir a Lisboa, é a cidade referência para o angolano. E isso é o que acrescentamos ao vir da Batalha para Lisboa. Embora eu costume dizer que para se ter lucro é na Batalha, para se ganhar clientes e crescer tem de ser em Lisboa.

"O que queremos trabalhar aqui em Lisboa não é só o mercado português, é também alargar para o mercado do Norte de África, nomeadamente Marrocos e Argélia, são mercados muito importantes", garante José Frazão

É negócio organizar este certame? Se não acompanharmos o mercado, o mercado afasta-se de nós… Então temos, não só de ir à

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procura do negócio e esperar que ele cresça, mas também que os clientes gostem cada vez mais. Porque o mercado, a nível das marcas, está muito bem representado em Lisboa, as marcas estão quase todas em Lisboa apesar de terem os seus próprios meios. Há empresas que podiam fazer uma feira lá dentro, têm condições para isso, mas querem encontrar-se no local próprio com os seus clientes, de uma forma aberta porque é isso que nós lhes proporcionamos. Se eu quiser informação vou a uma revista ou a um site, mas se quero ver as peças ao vivo e cumprimentar as pessoas, ou vou a um congresso ou a uma feira. É essa a razão social deste certame, serve para as pessoas se conhecerem e é também por isso que está em Lisboa. Refere a importância da região de Lisboa no setor do aftermarket, mas a verdade é que há uma enorme quantidade de empresas que estão localizadas no Centro e Norte do País… Mas isso são os expositores, esses estão de facto a Norte, enquanto os clientes estão em Lisboa, estão a Sul. E eu faço uma feira para o meu cliente que é a oficina, o cliente de mecânica. Sem dúvida que a força dos expositores está a Norte e não é fácil conseguir atrair tantos quantos gostaríamos. É


"Costumo dizer que para ter lucro é na Batalha, para se ganhar clientes e crescer tem de ser Lisboa"

sempre uma dificuldade que temos, vender os metros quadrados que gostaríamos aos expositores, porque são contidos nos gastos e defendem o seu mercado. Mas uma empresa de mecânica de Lisboa que tenha de ir ao Porto tem de fazer cerca de 700 km, enquanto a Expo é “já ali”, mesmo que haja um engarrafamento em que demore hora e meia a chegar… E um cliente de Marrocos também pode ir ao Porto, mas vem mais facilmente a Lisboa. Isto demora o seu tempo, mas o expositor vai percebendo porque vai olhando sempre para onde está o negócio, é isso que ele procura. E se entender que o negócio está em Lisboa, acabará por vir, embora saibamos que muitos expositores balancem muito entre que feira será mais favorável. Olhe, para mim também seria muito mais favorável organizar a feira na Batalha, mas tenho de ir ao encontro do mercado que me diz que o local ideal é Lisboa. NUNCA MAIS HAVERÁ “MECÂNICA” SEM O ESPAÇO PARA A “LOGÍSTICA” O nosso mercado de aftermarket e equipamentos oficinais tem dimensão para comportar duas feiras anuais? Pode ter, mas é difícil… Esse é um tema polémico, delicado… Mas há um outro fator: há expositores

que um ano querem vir e no outro não querem, por uma questão de estratégia própria. Até ver, as coisas vão correndo bem. Sinto, atualmente, que para um expositor é delicado e dispendioso mas, lá está, é preciso contactar as pessoas e os clientes. E, depois, um expositor mesmo que não esteja presente em Lisboa ou no Porto, acaba sempre por lá estar, nem que seja enviando alguns dos seus vendedores… Vamos ter calma e alguma cabeça porque uma feira é uma coisa muito cara, temos de avaliar tudo muito bem e o barómetro do mercado é que vai dizer. Porque, paradoxalmente, com a chegada dos carros elétricos, o consumo vai baixar, as peças poderão ser menos, mas será nesta altura que o aftermarket vai crescer mais.

No ano passado, a Mecânica contou com 170 expositores e atraiu cerca de 25 mil visitantes. Para a edição de 2018, o número de empresas presentes será semelhante, mas esperam-se ainda mais visitas profissionais

E porquê?... Porque os recondicionamentos vão ser maiores, as pessoas vão aproveitar até 2023-2025 e andar a aguentar os carros. Porque agora recondiciona-se e é novo outra vez. E não há dúvida de que o aftermarket está a chegar a todo o lado! Não tenho uma marca, mas tenho um certificado da marca, então porque não? E percebe-se que é esse o caminho que as pessoas estão a tomar. Os automóveis, pode dizer-se, são todos bons, os produtos também são 35

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ENTREVISTA

"A logística representa no aftermarket talvez 25% da capacidade de sucesso" bons, os carros hoje em dia só se deterioram com os quilómetros ou se se bater… Recuando um pouco, à questão das duas feiras, há queixas dos expositores de que o espaço na FIL é bastante caro, muito mais que na Exponor… Sente que isso provoca retração de algumas empresas? Sinto, sem dúvida e é um problema que já expusemos à própria FIL… Porque eu também faço feiras a Norte, no Porto, e é tudo muito mais fácil, mais eficaz. Fazer feiras no Porto é “cinco estrelas”, fazer em Lisboa é muito mais difícil em duas frentes: os custos e a elevada burocracia. Às vezes é mais o que complica do que o que facilita, até costumo dizer que, de cada vez que temos de ir para Lisboa, temos de nos pôr “firmes e hirtos”. Os expositores têm, por isso, uma certa razão de queixa. Eu sinto que sou respeitado e ouvido, mas bato muito o pé em Lisboa… Agora, que tenho um retrocesso de clientes que não vêm por o preço ser elevado, isso é verdade. Como vê a situação atual do aftermarket nacional? Está a passar por um período dourado que não vai passar tão depressa, mas tem muita gente a trabalhar nesse negócio. Não é gente a mais mas, quando os mais agressivos aparecem, pode haver quem sofra com isso. E houve empresas de aftermarket

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que tiveram um enorme crescimento, com uma capacidade de fornecimento que se irá refletir nas empresas menos dinâmicas. Porque o mercado está muito agressivo, competitivo. O mercado está forte, musculado, mas é condicionado pelo poder do “marketing” de cada um. E é também aí que entra a capacidade logística como uma das razões do êxito, daí termos trazido esse setor para a feira deste ano. Que mais-valia traz a Logística para esta feira e, mais que isso, sendo um conceito tão lato, como foi definido quem irá participar? O que sucedeu é que comecei a ver logística para alimentos, logística para medicamentos, logística para o mercado… A dada altura apercebi-me de que a logística está em tudo e, sendo uma ideia tão vaga e lata, representa no aftermarket talvez 25% da sua capacidade de sucesso. O êxito do aftermarket está na logística. Veja o caso dos pneus, as primeiras marcas que começaram a ter os pneus em casa do cliente da manhã para a tarde passaram a ter muito mais sucesso. Vamos ter, por exemplo, uma empresa de materiais plásticos de Leiria que irá expor caixas específicas de apoio ao aftermarket, já para armazéns automatizados. A logística dá um apoio extraordinário a toda a atividade, ganhando tempo e eficácia. É o maior parceiro e, na minha opinião, um fator decisivo para o sucesso do aftermarket. E a Logística veio para ficar? Sim, a Logística vai ficar a acompanhar sempre as próximas edições da Mecânica. Não vai haver Mecânica sem Logística!



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CARROS CONECTADOS

BEM-VINDO AO FUTURO! Um carro autónomo ou conectado era, há pouco tempo, apenas sonho de visionário, mas a evolução tecnológica vai concretizá-lo. Num mercado em que todos querem estar, há quatro áreas que não podem falhar: Big Data, Inteligência Artificial, Internet das Coisas e a rede 5G Texto David Espanca

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s carros conectados são cada vez mais uma realidade próxima, em que empresas de vários setores estão a trabalhar arduamente, muitas delas em conjunto, com o intuito de desenvolverem uma verdadeira revolução na indústria automóvel. Apesar de ainda não se saber ao certo quanto virá a valer este mercado, as estimativas apontam para montantes na ordem dos 115 mil milhões de euros! Por isso, não é de estranhar os avultados investimentos que as empresas estão a realizar, assim como das fontes de receitas que irão gerar. Daí que vários sejam os estudos realizados para melhor perceber o que está verdadeiramente em jogo. Por exemplo, a consultora SNS Research estima que, até 2020, os serviços fornecidos para o desenvolvimento de veículos conectados representem receitas anuais na ordem dos 34,5 mil milhões de euros. E estamos a falar de uma série de aplicações, tais como o infoentretenimento, navegação, gestão de frotas, diagnóstico remoto, aviso automático de falhas, segurança reforçada, UBI (seguros baseados na utilização do veículo), gestão de tráfego e até mesmo condução autónoma. Por seu turno, a consultora AT Kearney prevê que o mercado dos veículos autónomos deva valer cerca de 416 mil milhões de euros, em 2035. Já a consultora McKinsey aponta para valores entre 394 e 657 mil

milhões de euros, até 2030, dependendo também da capacidade que os “players” tiverem em gerir os dados criados pelas viaturas, condutores e sistemas de mobilidade, de forma a desenvolverem produtos que produzam receitas e reduzam custos, melhorando a segurança e proteção. Embora o potencial seja significativo, a rentabilização de dados dos carros, em larga escala, continua a ser um grande desafio. Atualmente, o setor é dominado pelo infoentretenimento e telemática, mas a assistência ao condutor conectado e a condução autónoma irão registar um maior crescimento nos próximos anos. Os carros estão a transformar-se rapidamente em verdadeiros centros de conectividade, constantemente ligados ao mundo exterior. A Opel prepara-se para apresentar, no final deste ano, uma nova geração de sistemas de infoentretenimento, Multimedia e Multimedia Navi Pro, cabendo à gama Insignia a estreia absoluta. A conectividade é realizada através dos convencionais Bluetooth ou porta USB, ou com recurso à avançada integração de “smartphones” com Apple CarPlay ou Android Auto. “Há vários anos que a Opel desempenha um papel de liderança em conectividade e em sistemas completos de informação e entretenimento. O nosso IntelliLink, compatível com Apple CarPlay e Android Auto, a par dos serviços abrangentes OnStar, tornam a condu39

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ção também numa experiência multimédia”, adiantou o CEO da Opel, Michael Lohscheller. Entretanto, já este ano, o Grupo PSA lançou o DS 7 Crossback, o primeiro veículo com plataforma CVMP - Connected Vehicle Modular Platform, dotado de tecnologia Huawei para o uso de novos serviços conectados e cujo conceito se baseia na plataforma IoT (Internet das Coisas). Apresenta uma navegação conectada, reconhecimento de voz em “linguagem natural” e um portal de serviços conectados, a partir do ecrã de bordo do veículo. O estado da manutenção do veículo, o histórico dos trajetos e os modos de condução são igualmente acessíveis a partir dos “smartphones” dos clientes. Jean Leflour, vice-presidente sénior da divisão SVP Connected Vehicle & Services Architecture Strategy do Grupo PSA, declarou que a plataforma CVMP “será implementada, de seguida, na totalidade dos veículos do Grupo”. Por outro lado, a Volvo Cars anunciou que irá integrar os sistemas Google Assistant, Google Play Store, Google Maps, entre outros, na próxima geração do seu sistema de infoentretenimento Sensus. Tendo por base o sistema operativo Android, todas as funcionalidades estarão acessíveis por comando de voz. “Ao trazermos os serviços da Google para os nossos automóveis, estaremos a melhorar a nossa inovação e desenvolvimento ao nível dos serviços de conectividade”, explicou Henrik Green, vice-presidente sénior de investigação e desenvolvimento do Grupo Volvo Car. Também a Renault já está a preparar as infraestruturas necessárias para os automóveis autónomos e conectados do futuro, através do projeto SCOOP, que testa e implementa, em condições de circulação real, a conectividade entre veículos (V2V) e entre veículos e infraestruturas (V2X). Segundo Christine Tissot, responsável pelo projeto, “o objetivo prioritário é propor aos nossos clientes automóveis que melhorem a segurança na estrada e tornem mais fluída a circulação, que comunicam entre eles e emitem alertas, em tempo real, em caso de perigo, acidentes ou congestionamentos. As gestoras de infraestruturas transmitem também aos automóveis, as informações sobre a circulação, trabalhos na via, velocidade autorizada e eventuais acidentes ou obstáculos na via”. A Kia revelou, no início deste ano, o seu plano estratégico para a mobilidade, que passa pela introdução de automóveis autónomos em 2021. "A realidade virtual, os carros autopilotados e a conectividade já foram consideradas as tecnologias de futuro. Mas, à medida que rapidamente se tornam uma realidade, a Kia trabalha para que se adaptem no imediato aos seus clientes", explicou o vice-presidente da Kia, Woong-Chul Yang. Recentemente, a Huawei estabeleceu uma parceria com a Audi para fomentar o desenvolvimento de veículos inteligentes conectados. “Entrámos numa

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nova era de veículos inteligentes, que vai levar a novas sinergias entre a tecnologia de informação e comunicação e a indústria automóvel”, frisou Veni Shone, presidente da área de soluções LTE da Huawei. INDÚSTRIA INVESTE EM BIG DATA E, assim, abre-se uma das várias janelas de oportunidades, como revela um relatório da consultora SNS Telecom & IT, de julho deste ano, onde aponta para investimentos em Big Data na indústria automóvel na ordem dos 2,85 mil milhões de euros. Originalmente usado como um termo para descrever um grande conjunto de dados armazenados, cujo tamanho está para além da capacidade dos bancos de dados tradicionais, o Big Data expandiu-se significativamente ao longo dos anos. Já não se refere apenas aos dados em si, mas também a um conjunto de tecnologias que capturam, armazenam, gerem e analisam grandes e variáveis coleções de dados, de forma a resolverem problemas complexos. Permite a propagação de dados históricos, em tempo real, de diversos tipos de fontes, tais como dispositivos conectados, internet, redes sociais, sensores, registos de eventos e aplicações transacionáveis, pelo que está a ganhar muita força em vários setores. A indústria automóvel não é exceção a esta tendên40

Numa espécie de uma corrida contra o tempo (ou, mais concretamente, contra os rivais...), todas as marcas estão a trabalhar afincadamente para desenvolver soluções para novas funções de conectividade ou para oferecerem os primeiros modelos de condução autónoma


CIBERATAQUES: UMA REALIDADE CRESCENTE Segundo um estudo da Accenture, realizado no início deste ano, o número médio de ataques cibernéticos direcionados por organização mais do que duplicou, como consequência do aumento dos Distributed Denial of Service (DDoS) e de “ransomware”, em comparação com os 12 meses anteriores (232 até janeiro de 2018 versus 106 até janeiro de 2017). Tendo em conta este aumento de ameaças cibernéticas, as organizações estão a mostrar um maior sucesso na deteção e bloqueio destas ameaças. Apesar dos progressos neste domínio, apenas duas em cada cinco empresas estão atualmente a investir em tecnologias inovadoras como “machine learning”, inteligência artificial (AI) e automação, indicando que há ainda mais terreno a conquistar com o aumento do investimento em inovações e soluções ciber resilientes. O estudo revelou que as organizações estão a melhorar o seu desempenho e previnem agora 87 por cento de todos os ataques direcionados, quando comparados com os 70 por cento registados em 2017. Contudo, com 13 por cento destes ataques a conseguirem invadir as suas defesas, as organizações ainda enfrentam uma média de 30 falhas de segurança 41

bem-sucedidas por ano, que causam danos ou perda de ativos de alto valor. Kelly Bissell, “managing director” da Accenture Security, revelou que “o investimento em segurança deve ser uma prioridade para as empresas que pretendem colmatar a lacuna nos ataques bem-sucedidos. Para aqueles que continuam a investir e a adotar novas tecnologias, atingir um nível sustentável de ciber resiliência pode ser uma realidade para várias organizações, nos próximos dois a três anos". De forma a amenizar o impacto de possíveis ciberataques, a Associação Europeia de Fabricantes Automóveis (ACEA) e respetivos membros identificaram um conjunto de seis princípios fundamentais, com vista a melhorar a proteção de veículos conectados e automatizados contra ameaças cibernéticas: - Cultivar uma cultura de segurança cibernética; - Adotar um ciclo de vida de segurança cibernética para o desenvolvimento de veículos; - Avaliar funções de segurança através de fases de teste; - Gerir uma política de atualização de segurança; - Fornecer uma resposta e recuperação de incidentes; - Melhorar a partilha de informações junto dos “players” do setor.

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cia, onde o Big Data encontrou uma série de aplicações: do projeto e fabrico de produtos à prevenção na manutenção de veículos e à condução autónoma. A consultora estima que a taxa composta anual de crescimento dos investimentos em Big Data na indústria automóvel seja de aproximadamente 16 por cento nos próximos três anos. As oportunidades de negócios são vastas, nomeadamente para fabricantes de equipamentos originais, fornecedores de primeira linha, seguradoras, concessionárias e outras partes interessadas. Uma outra inovação que permite o aumento de conectividade e automação entre os veículos e o ambiente, passa pela tecnologia da Internet das Coisas (IoT), a conexão e ligação em rede de objetos ou "coisas". Até 2020, espera-se, à escala mundial, uma rede IoT de cerca de 50 mil milhões de objetos, o que terá um enorme impacto na mobilidade conectada. Também a inteligência artificial (AI) é parte integrante deste processo, ao assumir um papel mais sofisticado nas interfaces tecnológicas, visto que pode pensar, aprender, decidir, realizar tarefas e resolver problemas de forma inteligente, tudo através de análises computorizadas. E os fabricantes de automóveis estão a utilizar as potencialidades desta tecnologia no desenvolvimento de novas soluções conectadas. A Bosch está cada vez mais a apostar no fornecimento de soluções de mobilidade. De acordo com Volkmar

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Denner, CEO daquela marca alemã, “a condução conectada é uma área importante para a Bosch, que pretende ter um crescimento na ordem dos dois dígitos com as soluções que oferece”. Por outro lado, a Continental está a desenvolver o sistema Predictive Connectivity Manager, que se destina a fazer uma análise prévia da disponibilidade da rede de dados e a qualidade da receção ao longo de um determinado trajeto e depois tomar uma decisão adequada. Em abril deste ano, a Valeo, fornecedora do setor automóvel, com pesquisas avançadas em veículos autónomos e conectados, e a NTT Docomo, operadora móvel do Japão, assinaram uma parceria para desenvolver e oferecer em conjunto serviços de mobilidade e carros conectados da próxima geração. A Mobileye, uma empresa do Grupo Intel, assinou recentemente um contrato para fornecer oito milhões de veículos para um fabricante europeu, com a tecnologia de condução autónoma. Logo a seguir anunciou uma parceria com a ZF para o fornecimento de câmaras tecnologicamente avançadas, as S-Cam4. C-V2X: NOVA FORMA DE COMUNICAÇÃO Entretanto, de forma a melhorar a comunicação entre veículos, 24 membros da Associação Automóvel 5G (5GAA) enviaram, no passado mês de julho, uma carta à Comissão Europeia com o intuito de ver aprovado

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Todos os dias aparecem novas aplicações para os nossos automóveis, com a maioria dos modelos mais recentes preparados para serem compatíveis com os sistemas Android Auto ou Apple Car Play

Sem o desenvolvimento da rede 5G não será possível avançar com os automóveis autónomos em segurança o C-V2X (Cellular Vehicle-to-Everything) como comunicação standard entre os veículos. Neste grupo incluem-se alguns dos principais construtores automóveis, operadoras móveis e empresas tecnológicas, tais como BMW, Daimler, Ford, Ericsson, Intel, Nokia, Qualcomm, Samsung ou Vodafone, entre outras. O documento refere que o C-V2X é a única tecnologia capaz de oferecer, no futuro, uma interligação eficaz entre veículos ou condutores, através da conectividade dos “smartphones”. A implementação desta tecnologia terá um impacto positivo muito rápido na segurança rodoviária, permitindo reduzir os acidentes e feridos graves nas estradas da União Europeia. Atualmente, muitas empresas europeias já estão a realizar investimentos significativos para a rede 5G na Europa e no resto do Mundo, nomeadamente através de ensaios com o C-V2X, estando previsto o seu lançamento comercial em veículos até 2020, o mais tardar. A Comissão Europeia prepara-se para debater o tema, com a proposta de legislação a ser conhecida mais para o final do ano. Ainda no mesmo mês, decorreu a primeira demonstração ao vivo na Europa da tecnologia de comunicação C-V2X, operando através de veículos de vários fabricantes de automóveis. “Desde 2013 que o Grupo BMW utiliza os sistemas C-ITS (Cooperative Intelligent Transport Systems). Com a implementação do C-V2X, o Grupo completa a última peça do puzzle de

QUANTO VALERÁ O MERCADO DE CARROS AUTÓNOMOS*

396 ATÉ 2030 (MCKINSEY)

416 ATÉ 2035

(AT KEARNEY) * em milhares de milhões de euros

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forma a que o C-ITS mostre os seus rápidos benefícios”, disse Christoph Grote, vice-presidente sénior de eletrónica do Grupo BMW. Por seu turno, Carla Gohin, vice-presidente de engenharia e pesquisa avançada do Grupo PSA, explicou: "Estamos a avançar para a comunicação contínua entre carros e ambiente, de forma a melhorar a segurança rodoviária, bem como a dos nossos clientes". Já o presidente da Qualcomm Europa, Enrico Salvatori, chamou a atenção de que “esta demonstração de interoperabilidade entre vários fabricantes de automóveis, não é apenas outra meta alcançada rumo à implantação do C-V2X, mas prova ainda mais a viabilidade comercial e a compatibilidade global das comunicações diretas C-V2X para veículos conectados". 5G DESEMPENHA PAPEL FUNDAMENTAL Se até aqui as tecnologias 2G, 3G ou 4G eram suficientes, o futuro dos carros conectados depende do desenvolvimento da 5G. A chegada desta tecnologia trará processamento de dados rapidíssimos e uma maior disponibilidade e capacidade de rede, assim como mais segurança. Um estudo da SNS Research, de dezembro de 2017, indica que as redes 5G serão responsáveis por mais de 40% de todos os gastos em infraestruturas de redes sem fios até ao final de 2025. O mercado das redes móveis está atualmente numa fase de transição, já que as operadoras procuram

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responder à crescente procura de tráfego móvel, mudança de paradigma que está a trazer novos desafios e oportunidades para estes fornecedores. Em 2016, de acordo com aquela consultora, as receitas globais das redes móveis de 2G, 3G e 4G atingiram valores na ordem dos 49 mil milhões de euros. Até 2020, as redes 5G serão responsáveis por quase 5% de todos os gastos em Internet móvel, mas com os investimentos significativos que se avizinham, esse valor poderá atingir os 40% até ao final de 2025. No início deste ano, Don Butler, diretor executivo para veículos e serviços conectados da Ford, afirmou: “Nos próximos anos, todos os pontos de luzes e cruzamentos poderão ter 5G ou comunicação C-V2X, permitindo que enviem sinais com o mínimo de interferência. Uma vez que essa infraestrutura já está a ser desenvolvida e construída, devemos aproveitar essa vantagem e equipar os nossos veículos com tecnologia que permita eles comunicarem entre si, seja agora ou na próxima década”. Já este mês, a Audi e a Ericsson anunciaram a intenção de utilizarem a tecnologia 5G para a produção de veículos, pelo que nos próximos meses irão realizar ensaios práticos no centro técnico “Audi Production Lab” em Gaimersheim (Alemanha). Frank Loydl, responsável pelos serviços de informação da Audi, destacou que “a fábrica inteligente, totalmente conectada, irá ter um impacto significativo na produção do futuro, uma poderosa arquitetura de rede, que responde em tempo real, é de importância decisiva para a nossa empresa”. Já o CTO do Grupo Ericsson, Erik Ekudden, adiantou que “a Ericsson já está a executar programas indus-

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A Audi e a Ericsson anunciaram a intenção de utilizarem a tecnologia 5G para a produção de veículos numa fábrica inteligente triais 5G em todo o Mundo para ajudar os fabricantes a aumentar a produtividade e criar novas oportunidades de negócio. Este projeto é uma ótima possibilidade para ver o que é possível quando incorporarmos o 5G num ambiente de produção de automóveis para realmente permitir a produção inteligente sem fios”. Os veículos conectados e condução autónoma são, pois, a grande aposta da indústria automóvel e estão a avançar rapidamente. Os fabricantes, fornecedores ou distribuidores que mais rapidamente e melhor se prepararem para esta nova realidade, alcançarão um diferencial competitivo face à concorrência. Aqueles que adotarem estratégias de transformação digitais estarão com certeza no bom caminho, sobretudo na implementação de soluções que protejam os softwares das viaturas. No âmbito da condução autónoma, a questão da segurança não pode ser descurada. Até porque, em caso de acidente de quem será a culpa? Do ocupante do veículo que nada fez, ou do fabricante responsável pela tecnologia que toma a decisão de determinada manobra feita no automóvel. Resta-nos esperar por novos desenvolvimentos neste mercado em constante renovação e dar as boas-vindas aos carros do futuro que estão mesmo a chegar! 44



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OFICINA 4.0

EVOLUIR É PRECISO

A evolução do automóvel e da sociedade fará com que aftermarket e, em especial, os serviços de assistência mudem radicalmente abordagens e funcionamento. A altura é de alterar mentalidades, apostar em formação e novas tecnologias. Saiba o que vai mudar Texto Sérgio Veiga

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A realidade aumentada já está a ser usada nalgumas oficinas, com resultados práticos muito positivos, por facilitar as intervenções e por poupar até 15% do tempo em cada operação

unca o automóvel avançou tão depressa como agora e como se prepara para o fazer nos anos que aí vêm, num gigantesco desafio que se colocará também ao aftermarket e ao após-venda. Há todo um novo mercado e um mundo de oportunidades que se irão abrir no paradigma da mobilidade do futuro, mas que também exigirão enorme capacidade de adaptação, de aprendizagem e de evolução constante. Ao falarmos de automóveis conectados, da partilha de dados na “cloud”ou da irreversível aposta na eletrificação é de uma outra realidade, de outro mundo automóvel que estamos a falar. Em que, por um lado, os carros poderão tornar-se mais simples numas coisas – um elétrico tem cerca de duas centenas de componentes móveis, contra vários milhares num tradicional veículo a combustão –, mas bastante mais complexos noutras: a quantidade de sistemas de ajuda à condução a nível de segurança (ADAS); apoios eletrónicos ao funcionamento do chassis; tecnologia embarcada para a condução autónoma; elementos de conectividade, quer para a comunicação entre veículos (V2V), quer para as inúmeras “apps” do sistema de infoentretenimento; e, por fim, o que mais nos interessa, a sua capacidade de comunicarem antecipadamente os problemas e as avarias que têm… ou estarão em vias de ter! É um mundo mais complexo que exigirá assistência mais especializada e com elevado grau de formação. Nos últimos quatro anos, segundo a consultora KPMG, a mobilidade elétrica, baterias e híbridos, conectividade e digitalização tornaram-se os tópicos mais importantes da indústria automóvel. O caminho está traçado e bem visível, temos apenas de nos preparar para ele. Do lado do aftermarket, procurando as oportunidades de negócio que os novos paradigmas da mobilidade irão abrir, com novos e mais tecnológicos componentes a tomarem o lugar dos que forem ficando obsoletos. Do lado das oficinas, buscando a atualização constante de conhecimentos e nunca descurando o equipamento para estar na linha da frente da nova e fascinante era… que já começou! Haja, contudo, alguma calma e tranquilidade. Não há razões para temores, pessimismos ou depressões, em especial para 47

os “players” de menor dimensão, para as oficinas mais pequenas. É verdade que o tempo é de mudança e que será acelerada, mas também não será de um dia para o outro, a adaptação pode ser feita de forma progressiva, desde que se mantenha o espírito aberto e a vontade de seguir as novas tendências. Além de que, com um parque automóvel tão envelhecido e pela lenta taxa de rejuvenescimento, os carros atuais estarão para durar nas nossas estradas… e oficinas. Portanto, o trabalho como hoje o conhecemos não vai faltar, mas há que aproveitar esta “almofada” para ir alterando procedimentos. INFORMAÇÕES DO ESTADO DO CARRO PASSAM A ESTAR NA “CLOUD“ A satisfação do cliente terá de continuar no topo das prioridades, para empresas de aftermarket e oficinas. Em especial porque os clientes estão cada vez mais informados, obrigando quem está no mercado a satisfazer pedidos que passarão a ser mais exigentes. Empresas mais bem estruturadas, com melhor comunicação – forte aposta nas redes sociais – e com funcionários em constante formação é algo a que já hoje assistimos e que será decisivo que continue. É também de salientar o esforço que muitas oficinas, algumas até de pequena dimensão, têm feito a nível da certificação de processos. Tudo passos na direção certa, mas não chegam para a revolução tecnológica que se aproxima. Quando dizíamos que a mudança não será de um dia para o outro, referíamo-nos também a uma importante decisão tomada, em abril passado, pelo Parlamento Europeu (PE), ao impedir que se desse um passo maior que a perna e que poderia ter tido graves consequências para as oficinas independentes. Na altura, os construtores automóveis tentaram fazer passar um novo projeto de lei que estipulava os equipamentos obrigatórios e que deixava de fora, estrategicamente, as fichas OBD (On-board Diagnostics), passando toda a informação dos novos automóveis a ser transmitida para uma “cloud” a que, potencialmente (nunca o foi, obviamente, assumido), só os fabricantes teriam acesso. Contudo, a regulamentação que entrará em vigor em setembro de 2020 mantém a ficha OBD como equipamento obrigatório dos automóveis, pois a sua falta implicaria a obrigatoriedade de os consumidores se

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IMPRESSÃO 3D ESTARÁ NA OFICINA DO FUTURO

A chamada “Oficina 4.0” poderá contar também com uma ferramenta que se arrisca a revolucionar a sua relação com as empresas de aftermarket… Coloquemos assim a questão: e se a oficina passasse a construir “in house” a peça de que necessita em determinado momento, na hora?! Essa é uma possibilidade que se abre com aquilo que poderemos traduzir por “fabrico aditivo” (“additive manufacturing”), de que a sua forma mais conhecida é a impressão 3D. Já usado em inúmeras atividades (até na Fórmula 1, nos circuitos!), a indústria automóvel já se interessou por esta tecnologia que permite poupar muito dinheiro. Por exemplo, a Audi usou a impressão 3D para acabar com os “stocks” de alguns componentes do superdesportivo R8, passando a ter centros especializados espalhados pelos principais mercados que construíam peças específicas em caso de necessidade. Este processo de fabrico aditivo é, genericamente, a deposição de várias camadas até à formação de uma peça, podendo ser feita em vários materiais. No caso de se tratar de uma peça metálica há o processo da deposição metálica por laser – vai fundindo e soldando a partir de um metal em pó – ou a fusão metálica por laser, comumente conhecida por impressão 3D.

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Os automóveis geram tal quantidade de dados que a única solução será partilhá-los na "cloud", mas garantindo o seu acesso aos reparadores independentes

Neste caso, a partir de um modelo que foi “fatiado” por um “software” em camadas muito finas, com espessuras de 20 a 100 microns, a peça é construída “fatia a fatia”, com o feixe de laser a fundir o pó metálico à base ou à “fatia” anterior, de acordo com a forma pretendida. Curiosamente, esta técnica está a ser empregue… no restauro de automóveis clássicos, em que já não se encontram peças no mercado mas, pela digitalização das peças originais, se conseguem construir novas! Um dia que se banalize – por enquanto os investimentos são demasiado avultados para oficinas até de média dimensão… –, poderemos chegar de facto ao ponto de a própria oficina construir uma peça de que necessite, na hora, para concluir uma reparação. Basta que exista numa base de dados de uma marca ou de uma empresa de aftermarket, podendo fazer-se o “download” (certamente mediante um pagamento) do necessário “software”. O maravilhoso mundo novo que aí vem, mas que estará longe de ser uma ameaça às empresas de aftermarket. Porque a impressão 3D será sempre um último recurso para solucionar problemas pontuais e também porque se abre uma nova área potencial de negócio, com a venda dos indispensáveis “downloads”!

dirigirem aos serviços de assistência oficiais. Por aqui, pois, boas notícias para os reparadores independentes. Mas que não haja ilusões, não tardará muitos anos até que tudo passe a ser feito no mundo virtual, pois é preciso arranjar forma de lidar com a incomensurável quantidade de dados gerados por cada automóvel. Se um modelo topo de gama atual chega a processar 25 Gb de dados por hora, imagine-se quando chegarmos à fase dos carros conectados, em que todos “falam” com todos, o que será fundamental para a segurança rodoviária, num ambiente de progressiva autonomização da condução. Nessa fase, será inevitável o recurso à “cloud” para o armazenamento constante e em tempo real dos dados gerados e emitidos por cada carro. Mas também aí se abrem novas oportunidades para os “players” do após-venda, em especial na sequência da pressão que várias associações representantes de distribuidores e operadores independentes têm vindo a fazer junto das autoridades europeias, para que lhes seja “garantido o acesso aos dados, a possibilidade de comunicar com o veículo e o cliente através de canais de comunicação pro48


tegidos”. Ou seja, para que o sistema não fique fechado pelos construtores e seja aberto a operadores de aftermarket e a reparadores independentes. CLIENTE E OFICINA AVISADOS ANTES DE A AVARIA OCORRER… Nessa altura, as atividades de reparação e manutenção poderão começar até antes de o veículo chegar à oficina, num processo todo ele mais ágil e rápido, com vantagens para o cliente que esperará menos, mas também para a própria oficina que conseguirá gerir melhor o seu tempo e aumentar a rotatividade de automóveis a reparar, ou seja, o número de clientes. Diversas “apps” detetam os problemas que o carro tem ou que esteja na iminência de ter, avisam o condutor e até comunicam com a oficina desejada para que esta esteja a postos para a intervenção necessária, quando mais convier ao cliente. É aqui que começa o conceito da “Oficina 4.0”, já iniciado até pela Bosch com os seus “tablets” de realidade aumentada. Basta apontar a câmara, por exemplo, para o motor e aparecem identificados os problemas, até em componentes ou cablagens que estão escondidos. Evita

As atividades de reparação e manutenção poderão começar até antes de o veículo chegar à oficina também a demorada consulta dos manuais de instruções, aconselhando logo os técnicos com as melhores práticas para a resolução do problema. A experiência mostrou que a poupança de tempo atinge os 15% em cada operação, além de tornar o trabalho mais eficaz. Mas outras soluções estão a chegar à “Oficina 4.0”, como “robots”, sensores, vidros virtuais, “smart watches”, tudo para tornar o trabalho mais rápido e simples. Finalidade principal: menor tempo de imobilização do veículo. Ganho implícito: possibilidade de atender mais clientes por dia! A chamada Internet das Coisas vai também tomar conta das oficinas e é necessário que os seus responsáveis estejam conscientes de que terão de garantir a constante formação dos seus funcionários. Porque comprar o material do “último grito” é o passo mais fácil, mas será deitar dinheiro à rua se não se souber ex49

trair o seu potencial máximo. Ou seja, as pessoas continuarão a estar no centro da questão, porque haverá tarefas e ofícios que tenderão a desaparecer, mas outros serão criados, acompanhando a evolução do automóvel. Aliás, sempre assim foi… Há muito que se fala dos automóveis conectados, autónomos, da Inteligência Artificial, quase como se fosse ficção científica. Mas eis que se tornou algo bem real, estão aqui e há que adaptar mentalidades e procedimentos. Os automóveis vão ganhar novas funções e tecnologias e tudo o que é mudança abre uma janela de oportunidade a novos negócios. Também alterações que poderão ser dolorosas… Sobreviverão oficinas especializadas numa área muito específica? Necessitarão do mesmo número de empregados? A crescente tendência do agrupamento em redes também já é uma primeira resposta a estas questões.

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TENDÊNCIAS

AXALTA COATING SYSTEMS

FUTURO PASSA PELA OFICINA DIGITAL A conectividade e a digitalização estão a mudar o setor automóvel e as próprias oficinas já estão a acompanhar essa transformação. A Axalta Coating Systems também apoia a mudança para o mundo digital Texto Carlos Moura Pedro

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om uma quota de 25% no mercado mundial de repintura automóvel e de 27% no europeu através das suas diferentes marcas, a Axalta Coating Systems tem o objetivo de continuar a crescer, quer organicamente, quer através de aquisições. A empresa reivindica a liderança na área de soluções digitais, baseadas na ‘cloud’ e pretende continuar a

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inovar, acompanhando as principais tendências do setor automóvel num futuro que não está assim tão longínquo, designadamente ao nível dos veículos autónomos, da eletrificação e conectividade. De acordo com estudos da Axalta Coating Systems cerca de 84% dos automóveis novos comercializados em 2020 terão algum nível de conectividade. Serão fabricados com materiais mais leves e mui50

tos deles terão as carroçarias pintadas com duas cores. Os fabricantes de equipamento original terão maior influência no mercado, designadamente no serviço de após-venda, enquanto as frotas terão tendência a crescer, não só as das empresas tradicionais, mas também de empresas de renting e de operadores de novas formas de mobilidade como a Uber, a mytaxi, a DriveNow, a car2go, entre outras.


Este processo conduzirá a uma segmentação das oficinas para responder às necessidades destes tipos de operadores e também ao crescimento das redes de reparação multimarca. A “padronização” dos serviços será uma das consequências do novo paradigma, que passará pela digitalização do processo de reparação. Para os fabricantes de sistemas de repintura automóvel, estes desafios da sustentabilidade e da economia energética também são oportunidades. “Estamos a assistir a uma mudança muito rápida”, afirma João Calha, key account manager da Axalta Coating Systems Portugal. “Os automóveis têm acabamentos cada vez mais distintos e personalizados, o que obriga à preparação de toda a oficina, não só o pintor que vai fazer a reparação, mas todo o processo de receção da viatura na oficina. Logo nessa altura é necessário perceber qual é o tipo de cor do veículo, para que o orçamentista possa ter a informação imediata relativamente ao tipo de acabamento e à sua especificidade. A própria gestão da oficina também tem de ser sensível a esta questão para melhorar a rendibilidade da secção de pintura”. Com o objetivo de ajudar as oficinas a melhorar a produtividade e a reduzir os tempos de intervenção, a Axalta Coating Systems desenvolveu uma solução baseada na "cloud", denominada Phoenix Cloud. Com recurso a um espectrofotómetro, o sistema identifica a fórmula de cor de uma forma precisa e objetiva. A informação é enviada para a base de dados global de cor da Axalta Coating Systems, com mais de 200 mil fórmulas, através de uma ligação sem fios. O software produz toda a informação necessária para o orçamentista e para o pintor, que a podem consultar num tablet com acesso à Internet. O sistema identifica a cor exata, as tintas e corantes necessários para o trabalho, assim como o custo da reparação. O próprio sistema também auxilia a gestão da oficina porque, ao funcionar em associação com o software integrado de gestão, permite monitorizar os trabalhos efetuados, os tempos dispendidos em cada operação, os materiais utilizados. Se algum produto ficar abaixo de um stock mínimo, o sistema emite um alerta para a sua encomenda. Tudo online e sem fios. REDES DE OFICINAS VÃO CRESCER Na apresentação das novas soluções digitais da Axalta Coating Systems pudemos trocar impressões com o responsável de 51

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TENDÊNCIAS

O uso de um espectrofotómetro permite identificar a fórmula da cor de uma forma precisa e objetiva. A informação é transmitida para a "cloud" por wireless

marketing e produto de repintura automóvel para a Europa, Médio Oriente e África, Gilles Navez. Para uma empresa especializada no desenvolvimento de sistemas de repintura para a área automóvel, estes tempos de mudança – da conectividade, automatização, digitalização, eletrificação e sustentabildade – representam um desafio e a empresa está a desenvolver soluções para ajudar as oficinas a melhorarem a sua produtividade. “A Axalta Coating Systems também está empenhada na sustentabilidade e na redução do consumo de energia. Apresentámos uma solução que permite diminuir em 50% o consumo de energia pelas oficinas na área da repintura automóvel”, salienta Gilles Navez. “Se as oficinas utilizarem os nossos sistemas, conseguem diminuir significativamente o consumo de energia nas estufas de pintura. Se aumentarem a produtividade, utilizam menos materiais”. No que se refere a soluções de partilha de veículos, a Axalta Coating Systems pretende ser um dos principais fornecedores das redes que dão assistência a essas viaturas. “Nós poderemos oferecer trabalho de qualidade às frotas ou às empresas de veículos partilhados porque as oficinas contam com as mais avançadas ferramentas para o desempenho da sua função”. Não obstante a tendência de crescimento de veículos partilhados, a Axalta Coating Systems acredita que o parque automóvel deverá continuar a aumentar a nível mun-

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Gilles Navez apresentou as novas soluções da Axalta

dial. “Os nossos estudos apontam para um aumento do parque circulante. Haverá uma diminuição nos veículos particulares, mas haverá um crescimento na propriedade partilhada”, refere Gilles Navez. E adianta que a abordagem ao mercado também irá ser diferente para responder às necessidades específicas de clientes empresariais, com frotas bastante significativas, sublinhando que isso já está a suceder atualmente nalguns países. “Nos Estados Unidos, as oficinas estão integradas em grandes redes de operadores multimarca e a Axalta desenvolveu ferramentas para poder apoiar esses grandes operadores. Essa é uma tendência que irá ter mais importância no futuro e já se verifica na Europa. Na Escandinávia também já existem redes de oficina de grande dimensão. Na Holanda, as redes já cobrem mais de 60% do mercado. Pensamos que o mercado irá evoluir para uma situação em que existe uma grande consolidação”. 52

Relativamente aos novos serviços digitais, como o Phoenix Cloud, o responsável de marketing da Axalta Coating Systems não tem dúvidas em afirmar que o processo será lento. "Mas existem já oficinas que estão abertas às novas tecnologias e abraçaram a mudança para se adaptarem à nova realidade. Essas oficinas são as que irão adotar mais rapidamente as novas soluções. Já temos centenas de oficinas que utilizam diariamente os nossos sistemas digitais baseados na 'cloud' e o espectrómetro digital. Acredito que vai ser um sucesso na Europa”. Entre as principais vantagens do novo sistema destaca a substituição do catálogo tradicional de dez mil cores por uma base de dados online com mais de 200 mil fórmulas de cor. “Isso significa que se obtém uma melhor identificação de cor. Quando se utiliza o programa baseado na 'cloud' temos mais possibilidades e podemos adaptar o nosso processo de trabalho. Podemos identificar imediatamente a cor do veículo quando o carro entra na oficina em vez de esperar que vá para a cabina de pintura. É possível planear melhor o trabalho, utilizando os mesmos produtos e a oficina consegue melhorar a sua produtividade. A própria gestão da oficina também tem de entender estas diferenças e a própria mudança do mercado. A tecnologia permite obter uma maior rendibilidade da secção de pintura, reduzindo tempos de trabalho e desperdícios dentro da oficina”, conclui.


LD AUTO

PARA LIMPEZAS "IMPOSSÍVEIS" A LD Auto disponibiliza um serviço de limpeza bidirecional a seco, para filtros de partículas, catalisadores de oxidação e catalisadores de redução de viaturas ligeiras, pesadas e industriais. Este é eficaz na remoção de partículas, cinza, remoção de cerina, AD Blue e outros contaminantes. Quando a limpeza não é possível devido a danos estruturais nos componentes, são disponibilizadas duas opções: filtros novos equivalentes aos originais e reconstrução das peças danificadas, sendo substituído o material interno (cerâmico ou metálico). Colaboramos nesta área não só para o sector aftermarket, mas também com concessionários. Os principais métodos de limpeza dedicados à intervenção de filtros de partículas e catalisadores são a limpeza bidirecional, utilizada pela LD Auto, e a limpeza pulsada.

LIMPEZA BIDIRECIONAL OU PULSADA?

De forma a fazer uma escolha acertada, são de seguida apresentadas as características de cada método.

LIMPEZA BIDIRECIONAL Na limpeza bidirecional (Figura 1, do lado direito) o filtro é aberto de forma a expor ambas as faces do componente e a limpeza é realizada nas duas faces. A abertura da peça permite uma análise rigorosa quanto ao estado do componente durante todo o processo de reparação. Cada célula é limpa individualmente e de forma autónoma. Este processo é o utilizado pela LD Auto.

LIMPEZA PULSADA O método de limpeza pulsada é realizado sem abertura de componente e são normalmente utilizados líquidos, que podem ou não conter aditivos químicos para acelerar o processo de limpeza.

Figura 1- Limpeza pulsada VS Limpeza bidirecional

O serviço é realizado através da injeção de ar ou água (mais comum) pela falange de entrada do filtro. A limpeza tende a ser unidirecional, o filtro é limpo num dos sentidos. A não abertura do componente, faz com que seja impossível avaliar o estado do filtro ao pormenor. Na Figura 2, é apresentada de forma esquemática, uma peça composta por catalisador e filtro de partículas. Através da análise da imagem verifica-se que sem abrir o componente, o operador apenas conseguirá verificar o estado da face de saída do filtro de partículas (identificada a laranja), o estado das restantes zonas permanecerão incógnitas. A LD Auto utiliza o método de limpeza bidirecional no seu serviço de limpeza de filtros de partículas e catalisadores. Adicionalmente, de forma a melhorar o serviço prestado, possui um equipamento dedicado à regeneração térmica prolongada (12h) de forma controlada. A fim de garantir o estado dos componentes e quantificar o seu nível de desobstrução, todas as peças são submetidas a um teste de obstrução em fluxómetro, o seu valor é comparado com os valores padrão e os componentes são acompanhados por um relatório técnico de serviço e procedimentos de montagem.

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Figura 2- Representação esquemática de componente (DOC+DPF)

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NOTÍCIAS

INT E RN ACIONAIS

BO S C H E DAIMLE R

Piloto de condução autónoma na Califórnia

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O projeto-piloto da produzidos pela Bosch e pela Daimler, utilizando métodos Bosch e da Daimler de "machine-learning". Como visa demonstrar de consequência, a rede de unique modo podem dades de controlo eletrónico ser conectados os (ECU) vai alcançar uma capacidade computacional de serviços de mobilidade centenas de triliões de opee plataformas móveis rações por segundo, o que é equivalente a seis estações de trabalho com computadores altamente avançados e sincronizados. A rede de unidades de controlo agrupa os dados de todos os sensores com radar, vídeo, tecnologia de ultrassom e LIDAR (fusão de dados do sensor), avalia-os em milissegundos e planeia os movimentos do veículo num processo denominado fusão de sensores. A rede de ECU combina dados oriundos de todos os sensores ao redor do veículo e avalia esta informação, projetando a trajetória da viatura entre 20 e 500 milissegundos. bosch.pt

Bosch e a Daimler vão implementar um projeto-piloto de condução totalmente automatizada e sem condutor (nível de SAE 4/5) numa cidade localizada na baía de São Francisco, na Califórnia, onde será disponibilizada a primeira frota de testes. No segundo semestre de 2019, os dois parceiros irão oferecer aos seus clientes um serviço de transporte com veículos autónomos em rotas selecionadas numa área metropolitana da Califórnia. A Daimler Mobility Services irá operar esta frota de testes e o serviço de mobilidade baseado em aplicações. O projeto-piloto visa demonstrar de que modo os serviços de mobilidade, como car-sharing (car2go), ride-hailing (mytaxi) e plataformas móveis (moovel) podem estar conectados de uma forma inteligente para moldar o futuro da mobilidade. Nesta parceria, a Nvidia vai fornecer a sua plataforma Drive Pegasus alimentada por processadores de IA de alto desempenho para automóveis, juntamente com o software de sistemas que vai processar os algoritmos de condução de veículos

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M AG N E T I M ARE LLI

NOVO CATÁLOGO INSTRUMENTAÇÃO A Magneti Marelli lançou um novo catálogo da gama de instrumentação, que assegura a cobertura de 80% do parque automóvel ibérico. O catálogo conta com mais de 500 referências, incluindo 104 bombas de combustível, 89 bóias de combustível e 314 conjuntos completos de aspiração. A gama foi reforçada com 65 referências testadas para cumprir os padrões dos fabricantes. magneti-marelli.it

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R-M

Design dos rótulos alterado

No âmbito do centésimo aniversário, a assinalar em 2019, a R-M renovou a imagem dos rótulos dos seus produtos, que incluem uma alteração no logotipo da marca de tintas premium da BASF. A nova imagem simplifica o ‘layout’ na lata e disponibiliza todas as informações relevantes. Os produtos livres de VOC são marcados com um símbolo especial para que possam ser reconhecidos imediatamente. As informações constantes na lata são fornecidas em inglês. As cores das categorias de produtos permanecerão inalteradas para que os clientes identifiquem o produto rapidamente. As formulações também não sofreram alterações. rmpaint.com/pt


NOTÍCIAS

INT E RN ACIONAIS

Novo primário da Glasurit

HELL A

Vendas cresceram 7,2% A Hella registou um volume de negócios de 7,06 mil milhões de euros no ano fiscal de 2017/2018, o que se traduziu num aumento de 7,2% face a período homólogo do ano anterior. A empresa alemã especializada em iluminação e eletrónica refere que o crescimento alcançado entre 1 de junho de 2017 e 31 de maio de 2018 foi superior ao do mercado automóvel em geral. A Hella adianta que a rentabilidade também melhorou: os lucros antes de impostos e encargos financeiros (EBITBA) subiram 8,8% para os 581 milhões de euros, resultando numa margem ajustada de 8,2%. O setor automóvel foi o principal responsável pelo crescimento do volume de negócios, tendo sido registado um aumento de 8,0% para 5,4 mil milhões de euros. Esta subida é justificada pela elevada procura de soluções de iluminação e eletrónica integradas. Os lucros ajustados antes de impostos e encargos financeiros aumentaram 3,3% para os 459 milhões de euros, resultando numa margem ajustada de 8,5%.

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No mercado de após-venda, verificou-se um crescimento de 3,4% no volume de negócios para 1,2 mil milhões de euros. O aumento das vendas foi sustentado por um desenvolvimento positivo em todos os segmentos de negócios. Além disso, os lucros antes de impostos desta área também evoluíram significativamente, com uma subida de 19,3% para os 87 milhões de euros, enquanto a margem cresceu 7,1%. O segmento de aplicações especiais, que inclui soluções para maquinaria agrícola e construção civil ou acessórios para camiões, registou um aumento de 11,6% nas vendas para os 430 milhões de euros. Para o ano fiscal de 2018/2019, a Hella acredita na manutenção do atual ritmo de crescimento, apontando para um aumento dos lucros antes de impostos e encargos financeiros entre 5% e 10%, enquanto os lucros ajustados antes de impostos e encargos financeiros deverão atingir um valor semelhante ao do exercício anterior. hella.com 58

Com o objetivo de acelerar os processos, aumentar a flexibilidade entre os fluxos de trabalho na oficina, a Glasurit lançou no mercado o novo aparelho primário 283-1780 CV Multi Wash Primer Filler. Com este produto, a marca premium da BASF oferece uma solução que facilita o trabalho do pintor e aumenta a eficiência. O tempo de evaporação é de apenas 30 minutos à temperatura ambiente, permitindo libertar a cabina de pintura para outros trabalhos. A ampla gama de aplicações do 283-1780 CV Multi Wash Primer Filler da Glasurit possibilita a sua utilização em pequenos retoques ou em pinturas completas. Em função do trabalho, o pintor pode usar este aparelho primário num sistema de duas etapas ou utilizá-lo com base para resultados de ponta num sistema de três etapas. Este produto oferece uma excelente proteção contra a corrosão para diferentes substratos, incluindo peças complementares de alumínio, aço e aço galvanizado. glasurit.com


BR E MBO

Pinça para Nissan GT-R50 A

Brembo estreou uma pinça de travão de cor vermelha que foi desenvolvida especificamente para o novo Nissan GT-R50 by Italdesign. Esta cor está associada a elevadas prestações e salienta as caraterísticas desportivas deste veículo equipado com pinças de travões da Brembo. Utilizada pela primeira vez há 25 anos, a cor reforça o caráter distintivo de automóvel superdesportivo como sucede no caso do Nissan GT-R50 by Italdesign. Neste protótipo, o design progressivo foi realçado por uma maior abertura nos raios das jantes em liga leve, que deixam mais a descoberto o sistema de travagem e os seus componentes. Além disso, os componentes introduzi-

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ZF nomeia novos administradores

dos no novo superdesportivo da marca japonesa incluem uma pinça monobloco frontal de seis pistões e um disco perfurado flutuante de duas peças de 390x3,6 mm, e uma pinça traseira monobloco com quatro pistões e disco perfurado flutuante de duas peças de 380x30 mm. brembo.com

O Conselho de Supervisão da ZF Friedrichshafen nomeou Holger Klein (tecnologia de chassis do carro e após-venda, além de liderar as regiões Ásia-Pacífico) e Sabine Jaskula (área jurídica e de compliance) para o Conselho de Administração da empresa. zf.com


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BOAS PRÁTICAS

APÓS VENDA MERCEDES

APOSTA NA QUALIDADE E FOCO NO CLIENTE O Customer Service é o após venda da Mercedes-Benz Portugal e um caso de sucesso na taxa de retenção de clientes. O seu responsável, Gustavo Arroz, desvendou-nos detalhes que podem ser replicados...

A

Mercedes-Benz é caso claro de marca em que o após venda é sujeito a uma tremenda pressão, pela reconhecida exigência dos seus clientes. A atividade do agora denominado “Customer Service” da marca em Portugal “tem vindo a crescer de forma sustentada nos últimos quatro anos, com um aumento da retenção de clientes de 12%, reforçando a posição entre as congéneres europeias”, segundo Gustavo Arroz, o seu diretor-geral. Que nos explicou os métodos de trabalho empregues na rede

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oficial e a forma de fidelizar os clientes a um serviço que tem, necessariamente, um custo adicional. Qual a importância do após-venda da Mercedes-Benz? A atividade de após-venda da Mercedes-Benz visa garantir que os clientes possam usufruir da melhor experiência assim que entram no mundo Mercedes-Benz, assegurando um desenvolvimento positivo em termos de atividade desta unidade de negócio em particular, mas, sobretudo, assegurar um serviço de qualidade com um foco muito especial na sa62


tisfação dos clientes. Trata-se, por isso, de uma área de extrema importância na manutenção de relações duradouras entre o cliente e a marca, produtos e serviços. No decorrer do ano de 2017, a designação interna desta área passou de “After-Sales” para “Customer Services” o que, além da simples mudança de nome, revela a importância que o foco no cliente tem para a marca, reforçando o compromisso da Mercedes-Benz no que respeita à qualidade da assistência e à satisfação dos nossos clientes. Quais os “segmentos” em que há maior dificuldade de retenção dos clientes? Sabemos que quanto mais antigo o automóvel, menor o seu valor e mais difícil se torna manter o cliente fiel às Oficinas Autorizadas. Contudo, como o valor residual da Mercedes-Benz permanece alto por muito tempo (também devido a fatores emocionais entre cliente e veículo), isso permite-nos manter a retenção num nível bastante mais alto que a média do mercado. Estamos até a preparar algumas campanhas que denominamos internamente como Service Select, que permitem aos clientes com viaturas com mais de 6 anos a aquisição de determinadas peças a preços mais vantajosos. A que se deve o aumento de clientes “fora do período de garantia”? A qualidade da assistência prestada pelas Oficinas Autorizadas Mercedes-Benz continua a ser um dos principais fatores de preferência por parte dos clientes, pelos meios técnicos e humanos especializados, certificados e adequados à prestação de um serviço de qualidade, seja ao nível da formação dos técnicos, ferramentas específicas, logística de peças ou da própria qualidade das peças Mercedes-Benz, bem como ainda soluções de mobilidade únicas. Por outro lado, temos vindo a apostar em soluções inovadoras, como o Roadshow em que procurámos ir ao encontro dos clientes fora do ambiente de oficina, ou mesmo as soluções de conectividade que permitem uma comunicação mais próxima e eficaz entre o cliente, a oficina e a própria viatura. Adicionalmente, têm vindo também a ser desenvolvidas soluções adicionais e customizadas par ir ao encontro das necessidades e expectativas dos clientes, nomeadamente ao nível dos Contratos de Serviço, pacotes fixos para determinadas operações ou soluções específicas e bastante competitivas para viaturas mais antigas. O preço da mão-de-obra superior ao das oficinas independentes é entrave para a fidelização dos clientes? O valor de mão-de-obra praticado pelas Oficinas Autorizadas Mercedes-Benz reflete o nível de formação e certificação dos técnicos, assim como os equipamentos que fazem parte da estrutura das mesmas. O facto de os técnicos das Oficinas Autorizadas terem um elevado nível de formação, conhecimento e experiência faz com que os seus níveis de eficiência sejam muito elevados, resultando num processo de intervenção ou reparação muito profissional e efi-

LAYOUT DETERMINANTE PARA A EFICIÊNCIA Gustavo Arroz, responsável pelo após-venda da Mercedes-Benz em Portugal, atribui à organização do espaço oficinal um papel-chave. "O layout oficinal é determinante na eficiência e capacidade de resposta das oficinas. Ele é definido conjuntamente com a Mercedes-Benz Portugal, com base nas diretivas do fabricante. Leva em conta os fluxos oficinais e o aumento da eficiência, otimizando os tempos de cada intervenção, não descurando o foco no cliente, no que se refere às áreas de receção, de espera ou os acessos ao mesmo."

ciente, com um impacto muito positivo nos tempos e qualidade de intervenção, bem como nos custos. Neste âmbito, destacamos o sucesso dos resultados obtidos pelas Oficinas Autorizadas ao nível do FFV – Fixed First Visit, que avalia a capacidade das oficinas em reparar ou resolver qualquer avaria à primeira. Como dialogam com os clientes com carros mais antigos? O canal digital que importância tem? O contacto direto, nomeadamente via telefone, através de um dos “contact centers” que implementámos em Portugal, continua a ser um dos canais privilegiados para contacto com os clientes de viaturas mais antigas. Mas o foco tem caído cada vez mais em novas abordagens, nomeadamente o RoadShow ou o Mercedes me Adapter, dispositivo que permite dotar as viaturas mais antigas de um sistema integrado de conectividade para uma comunicação digital muito próxima entre o veículo, o cliente, a oficina e a própria marca. Outro dos pontos a destacar ao nível da comunicação digital é a ferramenta StarView, que permite à oficina enviar um vídeo explicativo ao cliente, relati63

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BOAS PRÁTICAS vamente a possíveis intervenções de que o seu veículo possa necessitar, em total transparência para com o cliente, reforçando a sua confiança e satisfação. Onde começa o sucesso da oficina? O ponto de partida é o foco no cliente para lhe proporcionarmos a melhor experiência. Tendo este ponto de partida por base e numa vertente mais operacional, são vários os fatores decisivos para o sucesso da oficina, nomeadamente a formação de todos os colaboradores, a adequação dos meios técnicos, o layout e acesso da oficina, a gestão adequada do stock e logística de peças, os procedimentos oficinais, a conectividade e a comunicação com os clientes. Não obstante os pontos atrás indicados, verificamos que, cada vez mais, a capacidade da oficina em gerir informação e dados é um dos principais fatores de sucesso, considerando as atuais expectativas dos clientes no que à conectividade e digitalização diz respeito. Como olha para a peça equivalente? A qualidade das peças é de extrema importância na durabilidade, funcionalidade e até segurança das viaturas. Em particular, se considerarmos o nível tecnológico e de desenvolvimento dos modelos mais recentes. Por exemplo o capot não é uma mera peça em chapa, mas uma parte integrante dos sistemas de segurança passiva, com uma função específica, seja ao nível da proteção de peões ou dos ocupantes da viatura. Também ao nível da segurança ativa e conforto, as viaturas atuais dispõem dos mais diversos e avançados sistemas, com vários sensores e câmaras, que implicam a sua correta calibração e programa-

A formação dos técnicos, os meios técnicos ou o "stock" de peças são importantíssimos, mas nada ultrapassa a atenção ao cliente

A multidisciplinaridade ainda é possível? Uma oficina de marca (Mercedes-Benz) pode assegurar todos os serviços com a mesma qualidade e rentabilidade? Apesar de as Oficinas Autorizadas disporem dos meios necessários para a prestação de um serviço de qualidade a todos os níveis, nos últimos anos temos vindo a assistir a uma adequação dos serviços disponibilizados e, em particular, à forma de interação com os clientes, com um foco cada vez maior na vertente digital e na conectividade, de acordo com as expectativas dos mesmos.

GUSTAVO ARROZ, MERCEDES-BENZ

RECRUTAMENTO E FORMAÇÃO O recrutamento dos técnicos, fundamental para o bom funcionamento de uma oficina, é, segundo Gustavo Arroz, “feito individualmente por cada uma das Oficinas Autorizadas, embora exista um “job profile” definido centralmente”. Já no que se refere à sua formação, “a Mercedes-Benz Portugal disponibiliza um plano muito exaustivo e completo, que assegura um vasto leque de formações e certificações, perfeitamente ajustados à prestação de um serviço, de acordo com os mais elevados padrões de qualidade definidos pela própria Daimler AG”. A marca alemã contribui ainda para o próprio mercado de trabalho, ao “trabalhar em conjunto com o IEFP, desenvolvendo programas específicos de formação que permitem aos formandos, obter equivalências a diferentes níveis de escolaridade, alimentando o mercado do após-venda de profissionais com um nível base de formação muito interessante, com elevadas competências ao nível da Mecânica, Mecatrónica, Chapa e Pintura, etc.”.

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ção, o que apenas se consegue assegurar com peças devidamente adequadas e ajustadas para o efeito. No caso concreto da Daimler AG, a mesma tem um foco muito particular na qualidade das peças originais Mercedes-Benz, submetendo-as a diversos testes e aos mais elevados padrões e critérios de qualidade, assegurando a sua perfeita adequação às viaturas Mercedes-Benz, sempre com garantia do fabricante. Em conjunto com a formação e certificação, com o rápido desenvolvimento tecnológico é cada vez mais crítico assegurar que as reparações são realizadas com a peça certa e não com uma peça que “também serve”, pois é possível que exista um impacto a nível do desempenho ótimo dos veículos.

Na rota para a eletrificação e condução autónoma, como vê o após venda Mercedes-Benz? A tendência atual do mercado implicará um reposicionamento e reajuste do modelo de negócio. Embora se preveja um peso significativo da presença destas viaturas no mercado, tendo em atenção a evolução do parque circulante, prevemos que, em 2025, sejam assistidas na Rede de Oficinas Autorizadas um número superior ao atual de viaturas com motores de combustão interna, pelo que a subcontratação destes serviços não está nos planos da marca, focando-nos mais na diversidade dos serviços que as Oficinas Autorizadas irão prestar aos clientes. 64


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BOAS PRÁTICAS

LOGÍSTICA VW

UM ARMAZÉM PARA 90 MILHÕES DE CARROS Uma pequena alteração aumentou em 40% a produtividade da joia da coroa da logística do Grupo VW, o armazém de Kassel (um quilómetro quadrado de área coberta!) que fornece os quatro cantos do Mundo

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Texto Sérgio Veiga

logística é um ponto crucial e até decisivo para qualquer empresa de aftermarket, em particular a forma expedita como consegue fazer chegar as peças ou produtos que vende aos seus clientes ou consumidores finais. São verdadeiros quebra-cabeças que vão aumentando de complexidade, à medida que cresce a dimensão da empresa.

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O caso que aqui trazemos, não sendo propriamente de uma empresa de aftermarket (embora funcione quase como tal…), é uma das situações mais extremas existentes em termos de logística automóvel, só para se ter uma ideia da dimensão a que o “puzzle” pode chegar: o grande armazém central da Volkswagen, em Kassel. Situemos, primeiro, esta história de gigantismo… A VW garante a produção de 66


É num dos grandes pavilhões que compõem o gigantesco complexo de Kassel que se encontra a zona dedicada ao frete marítimo que despacha 80 contentores todos os dias para levar componentes para os VW e Audi nos quatro cantos do Mundo!

peças de substituição para os seus modelos, pelos menos, até 15 anos após o final da sua produção e calcula que haja atualmente cerca de 90 milhões de veículos das marcas do Grupo VW a circular nas estradas de cinco dos seis continentes. Que realizam 300 mil visitas diárias às 23.500 oficinas dos parceiros da marca, muitas vezes exigindo peças que não existem em “stock”, mas que a VW garante conseguir colocar em quase todos os cantos do Mundo no espaço de apenas 24 horas. A “rede” assenta em 135 armazéns regionais, “alimentados” por 19 grandes armazéns centrais (chamados “master depots”), o maior dos quais é o de Kassel, 300 km a sul dos portos de Hamburgo e Bremerhaven, as portas de saída dos navios porta-contentores para todo o Mundo. Aqueles armazéns centrais recebem um total de 1,63 milhões de diferentes referências provenientes quer de fábricas do Grupo, quer de seis mil fornecedores externos. Só Kassel, um caso de gigantismo sem paralelo, com uma área coberta de um quilómetro quadrado, recebe 460 mil referências entre peças de substituição e equipamentos oficinais específicos para assistir veículos da VW (passageiros e comerciais) e Audi. À volta de dois mil trabalhadores rodam em três turnos para que aquela infraestrutura nunca pare,

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BOAS PRÁTICAS

Em dez estações de trabalho, os componentes são retirados das suas caixas habituais para serem acondicionados nas que serão, depois, colocadas nos contentores para serem despachados por via marítima

sendo responsável por 50% do valor dos bens vendidos pela Volkswagen, Audi e VW Commercial Vehicles! Nos últimos anos o armazém de Kassel passou por uma reforma importante para fazer face ao aumento de 50% registado na expedição por via marítima. Os próprios funcionários ajudaram a desenvolver uma nova linha de trabalho, em que passaram a ter de retirar as caixas de componentes das normais paletes para as reagruparem noutras caixas maiores antes de as colocarem nos contentores para os navios. PROPOSTA DOS TRABALHADORES AUMENTOU PRODUTIVIDADE EM 40% O resultado foi um longo tapete transportador com uma extensão de 550 metros acionado por 680 motores elétricos que, com um custo de 9 milhões de euros, aumentou a produtividade em 40% e reduziu muito as distâncias que os empilhadores tinham de percorrer. “A parte mais importante da evolução desta infraestrutura é que os nossos clientes passaram a receber as suas encomendas cinco dias mais cedo!”, comentou Claus Wriebe, responsável pelo armazém central de Kassel. Por outro lado, os postos de trabalho individuais foram também adaptados para se tornarem muito mais ergonómicos, com a possibilidade de regulação da altura a que as caixas são trabalhadas. Os funcionários

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têm de acondicionar os componentes em caixas apropriadas para transporte marítimo, escolhendo primeiro a dimensão apropriada. Em dez estações, as peças são devidamente arrumadas, sempre com as caixas em movimento através do tal tapete transportador, enquanto as paletes originais são devolvidas automaticamente ao início da linha. Por fim, as caixas são etiquetadas e fechadas num processo automático. Só nessa altura entra em cena o empilhador para levar cada caixa para o contentor, onde cabem 60 dessas caixas. Todos os dias o armazém de Kassel “despacha” 80 desses contentores para navios – fora, obviamente, o movimento normal feito em camiões para os armazéns regionais situados na Europa –, o que significa um total que ronda os 21 mil contentores anuais. Que, acrescenta a VW, se fossem colocados uns a seguir aos outros, totalizariam os cerca de 300 km que separam 68

Kassel do porto de Hamburgo para onde são dirigidos na sua maioria! Esta reformulação da linha de “empacotamento” das peças virada para o transporte marítimo, para chegar aos quatro cantos do Mundo foi, segundo Claus Wriebe, uma aposta ganhadora: “Não só foi um investimento que assegura o futuro das nossas operações de frete marítimo, como demonstra a enorme importância deste departamento no negócio do após-venda para o Grupo VW a nível mundial”. Obviamente que não queremos, com esta história, apontar um caminho para as empresas do aftermarket nacional, pois estamos a falar de mundos e dimensões totalmente distintas! Trouxemo-la apenas para mostrar o extremo de uma operação logística gigantesca mas que, uma vez mais, com a colaboração de quem está “com as mãos na massa”, evoluiu no sentido de um enorme aumento da produtividade.


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REPARAÇÃO

PREPARAÇÃO DA CARROÇARIA

INFLUÊNCIA DE UMA REPARAÇÃO DE QUALIDADE NA ÁREA DA PINTURA A reparação perfeita de um carro acidentado tem como imagem final uma pintura perfeita que faz… brilhar os olhos do proprietário do veículo. Mas para que isso seja possível, um trabalho aturado e muito cuidado tem de ser feito na preparação da chapa para que o resultado final da pintura seja de excelência! Texto Andrés Jiménez García

A

tonalidade da pintura e o brilho final do verniz são a carta de apresentação do veículo após uma reparação, a qual terá de ser aprovada pelo proprietário com uma análise visual. As camadas de tinta de acabamento escondem muitas horas de trabalho destinadas à aplicação de fundos; é nesta fase que ocorrem mais alterações durante o processo de reparação. Nos últimos anos a técnica mais utilizada pelas oficinas na reparação de chapa é a denominada "técnica de tração", em substituição da mais tradicional através de tais e martelo. Entendendo que existem certas diferenças entre as duas técnicas, vamos avaliar os trabalhos de pintura a realizar para obter reparações com a máxima qualidade. A avaliação ou peritagem dos trabalhos de chapa e de pintura é feita em separado. O mais habitual é que as reparações sejam realizadas por pessoas diferentes, cada uma especialista na sua área, mas que acabam por convergir numa dupla missão: atingir a máxima garantia de

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qualidade e obter a mais alta rentabilidade nas reparações de chapa/pintura. Portanto, os trabalhos de chapa e pintura devem avançar em simultâneo, sendo necessário controlar e assegurar a finalização correta dos trabalhos de chapa para que as tarefas de pintura sejam iniciadas nas condições ideais. TÉCNICAS E QUALIDADES DE REPARAÇÃO Na zona de pintura o pintor irá rever os trabalhos efetuados pelo bate-chapa e determinar o processo de pintura a realizar. Normalmente, dependendo do método de trabalho e da qualidade final resultante do processo de desamolgamento da chapa, o pintor irá distinguir três características: Trabalhos efectuados através de equipamentos de tração Na sua análise, o pintor poderá aperceber-se da existência de pequenas arestas e concavidades, que formam pequenos "dentes de serra" resultantes da técnica de tração. Isto traduz-se no 70

Uma pintura de qualidade é a prova final de uma reparação bem feita. Mas para lá chegar há todo um cuidadoso trabalho pela frente, em que bate-chapa e pintor devem colaborar de forma estreita para um... brilhante resultado final

aumento dos trabalhos de preparação de fundos. Retificação de chapa com tais e martelo Esta reparação de chapa costuma ser a mais indicada, pelo que os trabalhos de reposição das pinturas de fundo serão realizados em menor tempo, devido ao alto nível de uniformidade conseguido pelo bate-chapa nas superfícies reparadas.


Reparação combinada Com a combinação de ambas as técnicas de reparação a perceção da qualidade por parte do pintor estará mais próxima da retificação de chapa através de tais e martelo, com tempos de trabalho em pintura mais adequados à reparação. SE A REPARAÇÃO NÃO FOR DE TODO ADEQUADA… A preparação dos fundos é a fase com

A máxima qualidade e a mais alta rentabilidade devem ser fatores indissociáveis nas reparações de chapa e pintura 71

maior dependência da reparação de chapa. Por conseguinte, os seguintes trabalhos podem ser afetados: • Maior superfície no lixamento das extremidades. • Possíveis aplicações de massa de preenchimento (novas aplicações de massa). • Aumento das espessuras de massa após o lixamento, devido a deformações na chapa. • Aumento do número de demãos e da

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REPARAÇÃO

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4 TEMPOS E MATERIAIS LIXAMENTO, ENCHIMENTOS, PRIMÁRIOS, APARELHAMENTOS E MASCARAMENTOS ACABAMENTOS

DIFERENÇAS SIGNIFICATIVAS MÍNIMAS

PERCEÇÃO DA QUALIDADE DA REPARAÇÃO POR PARTE DO PINTOR ATRAVÉS DE TRAÇÃO PERDA DE QUALIDADE MAIS TEMPO NA PINTURA

RETIFICAÇÃO COM TAIS E MARTELO QUALIDADE ELEVADA MENOS TEMPO NA PINTURA

TÉCNICA COMBINADA QUALIDADE IDEAL TEMPO ADEQUADO NA PINTURA

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espessura do aparelho aplicado para corrigir as imperfeições. Haverá uma menor repercussão sobre os trabalhos de acabamento, o que poderá resultar numa possível diminuição da qualidade: • Superfícies com pequenas irregularidades na reparação. • Marcas ou danos em redor do remendo de massa (imperfeições). • Possíveis perdas de brilho no acabamento final por excesso de espessura dos fundos. Poderão ser afetados outros dois parâmetros muito importantes relacionados com as reparações de pintura: os tempos e os materiais utilizados. Tempos de trabalho • Ligeiro aumento nos trabalhos de fundos; fundamentalmente, aumento dos tempos de enchimento e de lixamento. • Em menor medida, os tempos nos trabalhos de acabamento também serão afetados. 72

Materiais • Pequena subida no consumo de materiais na parte de fundos, utilizando maior quantidade de massas de preenchimento, primários e aparelhos. • Ligeiro consumo em materiais de pintura (como abrasivos) e produtos de mascaramento, tendo em conta que estes materiais são os mais económicos no processo de pintura. UMA REPARAÇÃO ANTIGA PODE INFLUENCIAR O TRABALHO? Ao iniciar o processo de repintura sobre uma peça danificada o pintor considerará positivo que a pintura seja a original já que, desta forma, a nova pintura será menos morosa comparativamente a peças repintadas várias vezes. Caso a peça tenha sido reparada e repintada, a baixa qualidade desta reparação afetará o novo processo de repintura. Reparação antiga bem realizada Se a reparação tiver sido executada através de processos adequados, tanto


VERNIZ COR APARELHO

CHAPA REPARADA

REPARAR RISCO Massa lixada < 500 microns

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Lixar a borda do arranhão VERNIZ COR APARELHO

CHAPA REPARADA

REPARAR RISCO

Massa lixada > 500 microns

em chapa como em pintura, o pintor deverá simplesmente realizar, após a limpeza e o desengorduramento, um breve lixamento de extremidades, aplicando uma demão fina de massa que acabe de igualar a superfície deformada. Caso se trate de um risco, é possível que com a simples aplicação do primário fosfatante e do aparelho de preenchimento a reparação do dano fique solucionada no que se refere a fundos. Reparação antiga mal realizada Se a reparação antiga tiver sido mal realizada, quer se trate de uma mossa ou de um risco profundo, os tempos e os materiais utilizados no restauro dos trabalhos de fundos serão maiores. Podemos considerar más reparações de carroçaria aquelas nas quais o pintor, para conseguir salvar e nivelar a diferença entre as zonas mais altas e mais baixas da reparação, deixa aplicados mais de 500 mícrones de massa após o lixamento. Estas espessuras só devem ocorrer em casos únicos e em zonas muito pontuais.

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1 Reparação da pintura de fundo 2 Reparação através de tais e martelo 3 Trabalho de lixamento de extremidades 4 Aplicação de pinturas de acabamento 5 Aplicação de massas de preenchimento 6 Reparação de um risco sobre reparação anterior de chapa bem realizada 7 Reparação de um risco sobre reparação anterior de chapa mal realizada 8 Reparação por tração 9 Reparação com tais e martelo

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CONCLUSÕES CESVIMAP As reparações de carroçaria através de técnicas de tração proporcionam uma qualidade superficial ligeiramente inferior à obtida através da retificação da chapa com tais e martelo. Os tempos e os materiais necessários são ligeiramente superiores; no entanto, permitem uma margem de lucro positiva, contribuindo para a rentabilidade da oficina. Não obstante, ao proporcionar a máxima qualidade na reparação da chapa, as margens de lucro continuarão a ser aceitáveis, tanto nas próprias tarefas de chapa como na pintura. A tabela de pintura da CESVIMAP (à esquerda, em baixo) contempla a realização dos trabalhos de fundos com a qualidade adequada. A espessura máxima da massa, depois de lixada, será de 500 mícrones; os tempos e materiais atribuídos serão fixados em conformidade. A tabela de pintura da CESVIMAP irá acrescer tempos e materiais adicionais nas reparações de chapa de menor qualidade superficial. 73

RISCO SOBRE REPARAÇÃO ANTIGA BEM REALIZADA LIMPEZA E DESENGORDURAMENTO LIXAMENTO DE EXTREMIDADES LIMPEZA E DESENGORDURAMENTO MASCARAMENTO APLICAÇÃO DE PRIMÁRIO - APARELHO LIXAMENTO DO APARELHO MASCARAMENTO APLICAÇÃO DA COR E VERNIZ

RISCO SOBRE REPARAÇÃO ANTIGA MAL REALIZADA LIMPEZA E DESENGORDURAMENTO LIXAMENTO DE EXTREMIDADES LIMPEZA E DESENGORDURAMENTO APLICAÇÃO DA MASSA LIXAMENTO DA MASSA NOVA APLICAÇÃO DE MASSA NOVO LIXAMENTO DA MASSA MASCARAMENTO APLICAÇÃO DE PRIMÁRIO - APARELHO LIXAMENTO DO APARELHO MASCARAMENTO APLICAÇÃO DA COR E VERNIZ

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TÉCNICA

PARA-BRISAS

MUITO MAIS QUE UM VIDRO A evolução do automóvel transformou o simples vidro dianteiro num autêntico suporte de tecnologia avançada, ao serviço da segurança! O problema é na hora de o reparar e tudo o que isso acarreta…

D

Texto Sérgio Veiga

e há alguns anos a esta parte, o para-brisas deixou de ser o simples vidro dianteiro com que, durante décadas, só nos preocupávamos em manter limpo, livre de riscos e danos. Esses cuidados continuam, obviamente, até porque é pelo para-brisas que o condutor recebe 90% das informações de que necessita para controlar o seu auto-

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móvel. Mas, com o avanço tecnológico, o vidro dianteiro tornou-se também num suporte de elementos de segurança que obrigam a determinados cuidados na hora de reparações. Além de ele próprio se ter tornado tecnicamente mais evoluído… Começaram por se montar no para-brisas os sensores de chuva e de luz para o funcionamento dos limpa-vidros e dos faróis automáticos. Mais recentemen76


Entre o para-brisas e o retrovisor interno estão agora colocados sensores e câmaras que "alimentam" com informações os sistemas de auxílio à condução. A sua montagem, após a reparação ou substituição do vidro dianteiro, obriga a uma cuidada e complexa recalibração

te, com a proliferação dos sistemas de ajuda à condução (ADAS) foi necessário arranjar um local para instalar as câmaras e os sensores mais evoluídos de que dependem. E o ponto ideal foi por trás do retrovisor interior, bem “colados” ao para-brisas. São elementos fundamentais para sistemas como a manutenção do veículo na faixa de rodagem, a leitura dos sinais de trânsito ou a travagem automática de emergência, tudo dispositivos que vieram para ficar, pois farão parte dos futuros automóveis autónomos. O problema adicional que estes sistemas vieram colocar foi na simples (anteriormente…) substituição de um para-brisas, ou apenas na sua desmontagem. Agora, ao substituir o vidro dianteiro dos automóveis mais recentes equipados com estes sistemas ADAS – e não é preciso serem modelos topos de gama, pois esta é uma tecnologia que se está a “democratizar” com grande rapidez – há também que desmontar as câmaras e os sensores. O maior problema não está, contudo, aí… A grande dificuldade que exige mão-de-obra especializada e muito qualificada é, depois, ao montar aqueles sistemas com o novo para-brisas, mais concretamente na sua recalibragem. Esta é uma operação crucial que não permite facilitismos e que deve ser feita por técnicos especializados, sendo fácil perceber porquê: uma falha na calibração de uma daquelas câmaras ou sensores são informações erradas que são passadas ao sistema que vai zelar pela segurança do automóvel e, acima de tudo, dos seus ocupantes! A importância do para-brisas não se limita aos 90% de informação que “dá” ao condutor e a ser suporte de sistemas que contribuem para a segurança. Por exemplo, contribui com 30% para a resistência estrutural do veículo, limitandoo afundamento do tejadilho em caso de capotamento e suportando uma forte carga do “airbag” do passageiro, em caso de colisão. Serve também para a projeção de informações, para o condutor não tirar os olhos da estrada, com os sistemas “head-up display”, além de contribuir para forte redução do ruído a bordo e de filtrar 90% dos raios UV, protegendo olhos e pele dos ocupantes da frente. Há até para-brisas térmicos com camada transparente de um óxido metálico que reflete a radiação infravermelha, embora também o faça aos sinais de GPS ou sistemas tipo Via Verde, o que obriga a abrir uma “janela” nessa película, habitualmente junto ao retrovisor. 77

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TÉCNICA

Aço macio Aço de alta resistência Aço de muito alta resistência Aço extra de alta resistência Aço de ultra alta resistência Alumínio

AÇO

A EVOLUÇÃO DO AÇO NO FABRICO DE CARROÇARIAS Desde os anos 30 que a história do automóvel também se conta pela evolução dos tipos de aço usados nas carroçarias Texto: Luis Casajús

M

uito tempo passou desde o fabrico da primeira carroçaria completamente em aço, utilizando o conceito de carroçaria autoportante, com o Citroën T Avant, em 1934. Desde então, os tipos de aço utilizados no automóvel evoluíram até aos nossos dias e de forma cada vez mais rápida, com destaque para a evolução das ligas de aço, sobretudo nas peças estruturais. Através dos seus designs, os fabricantes de automóveis têm procurado desde sempre melhorar a segurança dos ocupantes e reduzir o peso das carroçarias, de modo a diminuir o consumo e as emissões dos veículos. Por este motivo, os tipos de aço e respetivas

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ligas utilizados nas peças da carroçaria do automóvel foram sendo modificados, de forma a poderem ser fabricados com espessuras cada vez menores e, por conseguinte, com peso mais reduzido. Com vista a este objetivo, foi necessário assegurar que o material se tornava mais resistente sem menosprezar a geometria de cada peça e a forma como cada uma interage na resistência aos esforços, tanto nos estáticos e dinâmicos, como nos provocados por colisões. Neste artigo vamos descrever, de forma genérica, como os tipos de aço utilizados no fabrico de carroçarias foram evoluindo até aos nossos dias. O tipo de aço utilizado no fabrico das carroçarias de automóveis foi variando ao 78

longo do tempo. Conforme as técnicas de embutimento e de montagem foram evoluindo, os tipos de aço também evoluíram. Inicialmente as carroçarias eram construídas com aços convencionais, aços macios não ligados, com baixo conteúdo de carbono e laminados a frio, aços com uma grande capacidade de embutimento, aos quais era fácil conferir a forma adequada à peça, embora com espessuras consideráveis, uma vez que o material não tinha uma resistência muito elevada. As prensas de embutimento nas suas origens não tinham a tecnologia nem a potência que têm atualmente, portanto os aços tinham de ser menos resistentes para receberem a forma projetada. Além do mais, era necessário unir as peças en-


Alongamento (%)

LINHA DE BASE Aços convencionais

Aço inoxidável austenítico

15 partes 15.8*kg

RESISTÊNCIA À TRAÇÃO ANEL DE PORTA Gráfico que reflete a resistência à tração e o alongamento dos diferentes aços utilizados no setor automóvel. Fonte: WorldAutoSteel

tre si através de soldadura, e esta técnica também era pouco modernizada na sua origem. Algum tempo depois surgiram os aços de alta resistência (aços BH, aços microligados e aços refosforados). Os aços microligados ou de alto limite elástico (ALE), que embora tivessem uma resistência semelhante a aços convencionais, possuíam um limite elástico mais elevado, obtendo desta forma um material que, depois de montado, exigia um maior esforço para provocar uma deformação permanente, ou seja, podia ter uma espessura ligeiramente inferior à de um aço convencional. Os aços endurecidos (BH - Bake hardening), são utilizados fundamentalmente nos painéis exteriores. Estes aços têm uma grande capacidade de embutimento e, depois de receberem a forma, são endurecidos ao passarem pelos fornos de pintura. Os aços refosforados contêm fósforo até 0,12%, têm boas capacidades para a conformação por estampagem com um bom nível de resistência. Devido à necessidade de criar estruturas mais resistentes, sobretudo face a colisões laterais, foram concebidos os aços de muito alta resistência (aços DP, CP e TRIP). Os aços TRIP (Transformation-induced plasticity) são aços multifásicos, utilizados por exemplo para os reforços do pilar B. Os aços DP (Dual Phase) apresentam uma boa capacidade para absorção de energia de colisão. Os aços CP (Complex phase) têm baixo

AÇO DE PORTA fabricado numa só peça – Estampagem à Medida

conteúdo de carbono (<0,2%), caracterizam-se também por uma elevada absorção de energia. Mais recentemente, foram criados os aços de ultra-alta resistência, AHSS (advanced high-strength steel), dentro dos quais se encontram os aços MS e os aços BOR estampados a quente. Estes aços provocaram um grande avanço na procura pela redução de peso da carroçaria e atualmente são utilizados num grande número de peças estruturais. Os aços BOR ao boro (MnB+HF) estampados a quente têm um conteúdo em boro de até 0,005% e possuem uma resistência muito elevada, embora a sua deformação seja limitada. Os aços martensíticos (MS) apresentam uma microestrutura composta basicamente de martensite e atingem limites elásticos muito elevados. São utilizados em peças estruturais. E, por fim, continuam a surgir gerações atualizadas destes aços de ultra-alta resistência com um nível de resistência ainda mais elevado e melhor alongamento, como os Aços TWIP (twinning-induced plasticity), que são a segunda geração dos AHSS e contêm um alto teor de manganésio (17-24%), combinam uma resistência extremamente elevada com 79

10 partes 12.7*kg

uma capacidade de estiramento extremamente alta. São utilizados por exemplo nas barras anti-intrusão das portas. Além do mais, as técnicas de fabrico também foram alvo de modernização, com a técnica Tailored Welded Blank (TWB - estampagem à medida, também denominada Laser Welded Blank), na qual uma mesma peça é fabricada com diferentes espessuras e diferentes ligas, segundo as exigências em causa, sendo as diferentes partes unidas por um cordão de soldadura laser previamente à estampagem da peça. Por exemplo, na estrutura de uma porta, a zona dianteira das dobradiças tem maiores exigências que a posterior, por conseguinte é utilizada uma maior espessura na parte dianteira e uma menor espessura na parte posterior, obtendo deste modo uma redução de peso. Durante muito tempo esta técnica foi utilizada em aços convencionais e de alta resistência, e só há pouco tempo começou a ser aproveitada também em aços de ultra-alta resistência com estampagem a quente, como por exemplo, em reforços de pilares A superiores, longarinas traseiras, ou inclusivamente, mais recentemente, para realizar todo o arco da porta numa única peça (em vez de quatro peças: reforço pilar A inferior

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TÉCNICA

Parte superior interna do pilar A

Zona de transição ~ 15mm

Reforço do pilar A

TAILOR ROLLED BLANK

e superior, reforço pilar B e reforço do estribo). Há alguns anos, surgiu a técnica Tailored Rolled Blank, semelhante à tailored welded blank, que permite fabricar uma peça com espessuras variáveis, mas sendo neste caso realizada a variação das espessuras das peças na laminação, de forma a que a mudança de espessura entre uma parte e outra é mais gradual que no caso da TWB. É utilizada por exemplo em alguns reforços do pilar B. Outra técnica atual, é a Tailored Tempering (soft zone), que consiste em que uma mesma peça disponha de uma parte na respetiva estrutura que apresenta uma diferença na resistência, ou seja, uma resistência menor, para melhorar o seu comportamento para uma deformação programada e além do mais, para melhorar a sua soldabilidade com outros componentes. A evolução dos aços na carroçaria dos automóveis tem sido constante, destacando-se nestes últimos anos a utilização de aços de ultra-alta resistência estampados a quente. Inicialmente estes aços eram utilizados apenas em algumas peças estruturais como o reforço do pilar B, Contudo, progressivamente a quantidade de peças de aços de ultra-alta resistência incorporadas na carroçaria tem vindo a aumentar cada vez mais. Além de ser utilizado para reforço do pilar B este aço começou a ser utilizado também para o reforço da longarina inferior e posteriormente para o pilar A. E finalmente, para conceber uma estrutura de segurança que contempla toda a moldura lateral, pilar A inferior e superior, pilar B, longarina inferior, bem como, em

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Zona macia Aço de boro revestido com AlSi

TAILORED TEMPERING (SOFT ZONE) Aço macio Aço de alta resistência Aço de muito alta resistência Aço extra de alta resistência Aço de ultra alta resistência Alumínio

1 modelos mais atuais, o túnel, travessa do tablier e em alguns casos a travessa do banco posterior e travessa do banco dianteiro, criando desta forma uma célula de segurança para os ocupantes. Até há alguns anos todos os aços eram estampados a frio, mas a partir destes aços de ultra-alta resistência, devido à sua elevada resistência, tornou-se necessário o embutimento a quente e o arrefecimento adicional durante um tempo determinado, pelo que são necessárias prensas muito especiais e com refrigeração. Além do mais, este tipo de aço também está a ser utilizado no fabrico de peças estruturais com deformação programada tais como as longarinas traseiras e em alguns casos inclusivamente as longarinas dianteiras. Nestes casos, os fabricantes 80

2 enfrentam um desafio maior, visto que, por um lado, em algumas zonas é necessária uma grande resistência, mas noutras os componentes têm de permitir uma deformação programada. Por exemplo, para compreendermos a evolução dos tipos de aço utilizados numa carroçaria de automóvel, embora numa fase próxima dos nossos dias, podemos analisar um exemplo concreto como o Volvo XC90. Na primeira geração do Volvo XC90 (2001), cerca de 7% da carroçaria correspondia a aço de ultra-alta resistência. No entanto, na segunda geração do Volvo XC90 (2015), o aço estampado a quente de ultra-alta resistência representa quase 40 % do peso da carroçaria! Fontes: ArcelorMittal e AutoSteel.org


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NOTÍCIAS

PNE U S

MI C HE L I N P I LOT SPORT 4

Pneu oficial de eventos BMW A BMW Ibérica tem vindo a utilizar a gama de pneus Michelin Pilot Sport nos seus eventos “BMW Driving Experience” e BMW M Track Days, desde 2013. Além de um elevado prazer de condução em condições de máxima segurança, aqueles pneumáticos também oferecem as melhores prestações durante mais quilómetros. A gama Michelin Pilot Sport foi concebida para veículos “Premium”, “Sport” e “Super Sport”. Estes pneus receberam as mais recentes tecnologias desenvolvidas na competição e também sublinham a imagem estética do veículo, graças ao seu acabamento aveludado “Premium Touch” no flanco.

Para utilização em estrada, a Michelin propõe o Pilot Sport 4 que se carateriza pela sua reatividade e precisão na condução.Proporciona uma excelente transferência dos movimentos do volante à estrada, graças à tecnologia “Dynamic Response”, que consiste numa cinta híbrida de aramida e nylon. Destaca-se igualmente pela aderência em piso molhado, o que se deve aos seus compostos de borracha com elastómeros funcionais e sílica hidrofóbica. O elevado nível de escoamento de água é consequência da largura e da profundidade dos canais longitudinais do seu desenho. michelin.pt

GOODYEAR ESTUDA MATERIAIS NO ESPAÇO A Goodyear anunciou que irá testar componentes de pneus no Laboratório Nacional dos Estados Unidos na Estação Espacial Internacional. No ambiente de microgravidade, o fabricante irá estudar a formação de partículas de sílica, um material comum utilizado em pneus de consumo. Os resultados obtidos servirão para determinar se deverá ser considerada investigação adicional das formas únicas de sílica precipitada nos pneus. Se for obtido um progresso significativo, a Goodyear acredita que será possível obter melhorias na eficiência de combustível e em outros fatores de performance.

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A avaliação no Espaço está a ser conduzida através de um acordo com o Centro Nacional para o Avanço da Ciência no Espaço (CASIS), a organização encarregue pela NASA da gestão do Laboratório Nacional dos Estados Unidos. goodyear.pt 82

Kleber Novo Dynaxer UHP A NEX já tem disponível o novo pneu de verão Ultra High Performance da Kleber – Dynaxer UHP – que foi concebido para uma utilização com toda a segurança em qualquer tipo de superfície, incluindo velocidades elevadas. Este modelo oferece melhores prestações do que o seu antecessor – Dynaxer HP3 – tanto em piso seco como molhado. A Kleber anuncia uma redução na distância de travagem de 1,5 metros em piso seco e de 4,7 metros em piso molhado, obtendo assim a classificação máxima “A”. Este modelo, que já está disponível em jante de 17” ou superior, integra a gama Kleber, complementando a oferta desta marca do grupo Michelin. A introdução do Kleber Dynaxer UHP será efetuada durante o segundo semestre de 2018. A NEX, distribuidor exclusivo em Portugal, irá disponibilizar as seguintes medidas: 205/40 R17, 225/45 R17, 225/40 R18, 225/45 R18, 235/45 R18, 245/45 R18). nextyres.pt




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