Turbo Oficina #85

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PÁ G

IN AS

2,90€ (CONT.)

#85 NOV./DEZ. 2020

ENTREVISTA EXCLUSIVA

MOTUL

A AFIRMAÇÃO DE UM LÍDER

FAÇA-SE LUZ AS NOVAS TECNOLOGIAS NA ILUMINAÇÃO

REPARAÇÃO EM TEMPO DE PANDEMIA NADA SERÁ COMO ANTES

DIESEL TECHNIC FABRICANTES DE COMPONENTES O QUE MUDA AUTOZITÂNIA COM OS OLHOS RECLAMAM MEDIDAS ADERE À AD EM PORTUGAL URGENTES



profissional

SUMÁRIO

#85 / NOVEMBRO/DEZEMBRO 2020

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DESTAQUE

Diesel Technic: um líder mundial com os olhos em Portugal

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ATUALIDADE

Reparação em tempo de pandemia: nada será como antes

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ATUALIDADE

Indústria de Componentes reclama medidas

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ATUALIDADE

Pós-Graduação ISCTE/DPAI – Futuro do Aftermarket passa por aqui

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ESPECIALISTA

Krautli – Uma dinâmica de crescimento

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ESPECIALISTA

Brembo – Uma nova estratégia explicada pelo CEO da empresa

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DOSSIÊ

Iluminação - As tecnologias mais recentes e as tendências para o futuro

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ENTREVISTA

Motul – Reforçar o investimento na investigação para prosseguir na vanguarda

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ATUALIDADE

Autozitânia passa a integrar a AD. O que muda

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REPARAÇÃO

Equipamentos de proteção para manipular veículos elétricos e híbridos em segurança

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NOVEMBRO/DEZEMBRO 2020 TURBO OFICINA


EDITORIAL

ACREDITAR NO FUTURO V

ertiginosamente, 2020 “corre” para o fim. O “ano impossível” – o ano que nos mostrou aquilo que nem o mais ousado filme de ficção científica seria capaz de conceber– não deixará saudades. Ou talvez não seja exatamente assim. Porque abundam, aqui e ali, sinais em que vale a pena fixarmo-nos, lições que importa extrair. Desde logo, a resiliência de pessoas e organizações, uma descoberta de forças e capacidades de cuja existência não suspeitávamos. Na adversidade cerrámos os punhos e, como sempre, partimos para a luta. Mas, mais do que isso, inventámos processos que terão no futuro uma importância capital para as nossas vidas e para as nossas empresas. Com evidentes necessidades de aperfeiçoamento, o teletrabalho, que parecia um paradoxo, revelou virtudes e potencialidades que superaram todas as previsões. O rápido e efetivo assimilar das ferramentas digitais atingiu níveis que não julgávamos possíveis e que testemunham a capacidade que o ser humano tem para se superar. Coloco, aliás, ênfase especial no indivíduo. Penso mesmo que a disponibilidade individual e a capacidade de superação de cada um, nas respetivas funções, tem sido a grande lição a extrair da crise em que o mundo mergulhou. Aqueles que não tinham a noção precisa do quanto as pessoas são determinantes para as empresas devem agora meditar sobre a força motriz que permitiu que a economia continuasse a trabalhar. Mais, devem aproveitar

PROPRIEDADE E EDITORA TERRA DE LETRAS COMUNICAÇÃO UNIPESSOAL LDA NPC508735246 CAPITAL SOCIAL 10 000 € CRC CASCAIS

as rápidas aprendizagens realizadas para acelerar as mudanças que pareciam impossíveis de realizar. É verdade que a necessidade e o engenho estão de mãos dadas, mas nunca como nesta crise ficou tão claro que as capacidades das pessoas, desde que catalisadas pelo instinto de sobrevivência, pela motivação e pelo chamado “empowerment”, não têm limites. Foi exatamente isso que permitiu que organizações débeis tenham conseguido sobreviver à crise a ponto de estarem agora melhor preparadas para enfrentar o futuro do que alguma vez julgaram. Como foi isso que permitiu que o setor oficinal português tenha mantido uma atividade quase normal, superando largamente aquilo que aconteceu em Espanha. É em momentos como os que vivemos que se reforça a confiança dos consumidores nas organizações. E foi isso que aconteceu com o setor oficinal. Quem precisou de recorrer a uma oficina, mesmo no período mais agudo da crise, não teve dificuldade em encontrar uma solução, ainda por cima, com níveis de segurança sanitária que respeitaram todas as exigências. Isso foi possível por mérito dos profissionais que aí trabalham e, também, porque toda a cadeia de distribuição foi preservada. O setor revelou uma capacidade de organização notável. As pessoas demonstraram uma disponibilidade e uma capacidade para reagir à adversidade soberbas. Nunca foram tão claras as razões para acreditarmos no futuro!

Júlio Santos D IRE TO R

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DESTAQUE

DIESEL TECHNIC

UMA HISTÓRIA BASEADA NA CONFIANÇA A relação de confiança que conseguiu construir com os seus parceiros de negócio ao longo de quase meio século de existência está entre os fatores decisivos para o sucesso da Diesel Technic, como refere Martin Ratón, diretor geral da divisão ibérica da empresa

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Texto Júlio Santos

om sede na Alemanha e centros logísticos nos Emirados Árabes Unidos, Espanha, França, Itália, Holanda, Reino Unido e Singapura, a Diesel Technic é um dos principais atores do Aftermarket a nível mundial, empregando mais de 650 trabalhadores em 30 países. Prestes a celebrar meio século (no próximo ano) a Diesel Technic enfrenta agora a situação pandémica, com “impacto direto sobre o negócio”, segundo Martin Ratón, diretor geral da divisão ibérica da Diesel Technic. Qual é o segredo para a solidez da Diesel Technic? Quando olhamos para a história da empresa, vemos um desenvolvimento constante, baseado na expansão contínua das linhas de produtos, com elevados padrões de qualidade e uma colaboração muito próxima com os nossos parceiros; procurando uma situação "win-win" em que os seus clientes, as oficinas, também beneficiem. Sempre seguindo a nossa filosofia: “Crescer junto com o nosso parceiro”. Ao longo de todos estes anos, o nosso trunfo principal tem sido o desenvolvimento de peças de reposição de marca com qualidade garantida, para múltiplas aplicações no segmento dos veí-

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culos pesados, e garantir o seu fornecimento mundial com as nossas marcas DT Spare Parts e SIEGEL Automotive. E devemos fazê-lo bem, pois os nossos parceiros e os seus clientes confiam nos nossos produtos. Precisamente para recompensar a sua confiança e fidelidade, fomos pioneiros, há mais de 10 anos, em estabelecer uma garantia excecional de 24 meses para a nossa marca DT Spare Parts. Esta garantia foi implementada para nos diferenciar dos nossos concorrentes. A Diesel Technic está em 150 países. Existe uma linha de comportamento, uma filosofia comum a todos eles? No final, não há muitas diferenças entre o que necessita um concessionário que fornece uma oficina que repara camiões em Hamburgo e o que o faz no Carregado. Todos devem atender ao cliente final com maior ou menor urgência e profissionalismo, e para isso, precisam de peças de substituição confiáveis, num prazo razoável. Toda essa cadeia de abastecimento, a Diesel Technic simplifica como ninguém. Seguindo a nossa filosofia, sempre estivemos muito próximo dos nossos distribuidores, onde quer que estejam, ouvindo-os sempre para adaptar constantemente a nossa oferta às suas necessidades. E podemos fazer isso por6

A Diesel Technic está presente em 30 paises onde ocupa um lugar de primeiro plano, devido à relação de proximidade e confiança que estabelece com todos os parceiros. Martin Ratón, diretor geral da divisão ibérica, destaca que o objetivo é adaptar a oferta e os modelos de trabalho às necessidades dos clientes e oferecer produtos confiáveis


que no Grupo Diesel Technic contamos com uma equipa com colaboradores de mais de 30 países, que também trabalham comprometidos com a missão de oferecer aos nossos parceiros produtos e serviços confiáveis, que lhes proporcionem vantagens e benefícios. Com esta filosofia, crescemos ao mesmo tempo que eles e tornamo-nos, provavelmente, o fornecedor líder mundial de peças para veículos comerciais. Como resultado, os nossos revendedores, os seus clientes, os mecânicos e os nossos fornecedores e prestadores de serviços em todo o mundo confiam no que está por trás de nossas "Soluções globais para a indústria automóvel- feitas na Alemanha". Para o sucesso é fundamental manter uma estreita colaboração dentro e fora da empresa, com os nossos fornecedores e com os nossos parceiros, podendo estes estar na Alemanha ou em

Portugal. É assim que podemos responder de forma simples, rápida e flexível às suas necessidades. CONCORRÊNCIA ESTÁ AÍ Novos operadores chegaram ao mercado. Como está a Diesel Technic a olhar para as mudanças no mercado? Como vão continuar a liderar? O nosso compromisso continua a ser o de oferecer a mais vasta gama do mercado, com um elevado e constante nível de qualidade, e oferecer novos serviços e soluções que se adaptem às necessidades dos nossos clientes. É aquilo que nos tem caracterizado até agora, que nos tem dado muitos sucessos e o que nos ajudará a enfrentar os desafios futuros. Variedade, Qualidade, Serviço - com ênfase especial na disponibilidade e nas facilidades logísticas que oferecemos - e Simplicidade fazem parte do nosso ADN. 7

Como veem os chineses? Antes, todos os viam como uma ameaça. Todos olhavam para eles como um "player" que dependia apenas de preços baixos e cópias de baixa qualidade. Acha que isso está a mudar? A situação mudou. Atualmente, existem muitos fornecedores em todo o mundo, não só chineses, e, entre eles, alguns que se destacam mais ou menos e que são concorrentes a ter em conta. Mas continuam a basear-se, principalmente, em políticas de preços baixos e, embora a qualidade nalguns casos tenha melhorado, o controle de qualidade muitas vezes não está à altura. Pelo menos de forma constante e em todas as linhas de produtos que oferecem (que também não costumam ser muitas). Obviamente, isso tem impacto na confiança, duração, apresentação do produto, disponibilidade, apoio de pós-venda - inexistente – na sua capa-

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DESTAQUE

A Diesel Technic baseia o relacionamento com os seus parceiros na formação e disponibilização de materiais de apoio que lhes permite lidar de forma mais eficaz com eventuais problemas

cidade limitada de fornecer soluções completas... Todos são fatores que devem ser levados em consideração por um distribuidor, para evitar dores de cabeça e, por isso, na Diesel Technic contamos com as nossas forças para enfrentar a concorrência, seja ela chinesa, turca ou de qualquer outro país. A amplitude da nossa gama, a confiança que os nossos produtos inspiram - garantida pelo rigoroso controle de qualidade alemão e pelos seus exigentes bancos de teste - e a nossa capacidade de fornecer soluções adaptadas aos clientes de todos o mundo é, hoje, muito difícil de igualar. Além disso, deve ficar muito claro que quando um cliente final opta pela nossa marca, o produto em si é apenas uma pequena parte de tudo o que ele vai receber. Conhecemos as suas necessidades, os desafios do dia-a-dia do trabalho na sua oficina e temos serviços e soluções que desenvolvemos especialmente para ele ao longo dos anos. Essas soluções incluem formação especializada, vídeos com instrução dos nossos especialistas sobre

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como lidar com potenciais problemas usando as nossas peças, um Helpdesk para suporte direto em casos especiais... DIGITAL É PARTE DO NEGÓCIO Como encara a concorrência das plataformas digitais? A Diesel Technic está preocupada com a entrada em cena de “players” como a Amazon, Alibaba etc, que estão na distribuição mas também chegam com marcas próprias diretamente às oficinas? Estamos cientes dessa tendência. Vários dos nossos parceiros já usam os canais digitais para vender as nossas peças, seja nas próprias lojas online, ou por meio dessas plataformas, como a Amazon, etc... Só comercializamos os nossos produtos através de distribuidores. Se o nosso distribuidor decidir vendê-los por meio desses canais, não o vamos impedir. Além disso, se a sua aposta for sólida, iremos apoiá-lo com um abundante fornecimento de dados e material gráfico para que possa oferecer a melhor apresentação digital dos nossos produtos. 8

Por outro lado, o profissional da oficina deve ser capaz de fornecer gratuitamente, da forma que for mais fácil e rápida para ele. Mas ao fazê-lo não acho que ele leve em consideração apenas o fator preço, porque neste setor confiança, qualidade, logística e o pós-venda são fatores muito importantes. Muito vai depender do grau de desenvolvimento e da importância do comércio eletrónico em cada país. A Diesel Technic um dia pode fazer parte de uma grande plataforma como o Nexus ou outra similar? Ou a Diesel Technic pode continuar a crescer e tornar-se numa plataforma ainda maior? O desenvolvimento de cada mercado é muito diferente, incluindo o estabelecimento de parcerias com grupos de distribuição, grupos de compras ou redes. Há anos que observamos e acompanhamos esses desenvolvimentos de muito perto e, se forem interessantes, as decisões serão tomadas caso a caso. A Diesel Technic tem acordos nacionais, como fornecedor homologado, com alguns destes grupos, no-


REAÇÃO RÁPIDA À PANDEMIA

meadamente em Espanha e Portugal, com os maiores especialistas em peças sobressalentes para veículos comerciais. Como já disse, temos uma relação estreita e sólida com os nossos distribuidores, e são eles que, por sua vez, fazem parte, ou não, destes grupos e que em alguns casos nos conduzem pela mão se é do interesse de todos as partes.

De acordo com Martin Ratón, diretor geral da divisão ibérica da Diesel Technic, a forma como a empresa enfrentou, desde início, os problemas decorrentes da situação pandémica foram determinantes para a rápida recuperação do negócio. A faturação começou por cair 30% mas atualmente está já a níveis de 2019. “Desde os primeiros dias da pandemia, concebemos soluções para agilizar o processo de aquisição e apoiar os nossos distribuidores. Como o acesso aos pontos de venda se tornou mais difícil a mobilidade não era aconselhável e, além disso, havia menos funcionários disponíveis. Decidimos oferecer a nossa plataforma de aquisição de produtos, o Portal do Parceiro, que em princípio era apenas para uso dos distribuidores, para que estes pudessem utilizá-lo como a sua própria loja online, permitindo que parte das funções alargadas que oferece sejam acessíveis aos seus clientes revendedores, oficinas ou frotas - como ver os preços e comprar os produtos deles”. Dessa forma, refere, “as peças puderam ser rapidamente entregues ao revendedor local, ou diretamente ao cliente nos centros da Diesel Technic; sem que o revendedor tenha que se preocupar em identificar a peça, lançar a oferta, informar a disponibilidade... e organizar o transporte. Assim, os atrasos desnecessários são evitados tanto no pedido quanto na logística subsequente. Além disso, este serviço permite, também, diminuir o tempo e o custo de transporte, porque, graças à nossa vasta gama de produtos, é possível efetuar reparações completas sem ter que recorrer a terceiros; e isso diminui o número de envios”.

Antes de chegarem aos distribuidores, todos os produtos Diesel Technic são testados na Alemanha, devendo cumprir com os mais altos padrões de qualidade

PRESENÇA EM PORTUGAL Como está a relação entre os fabricantes de veículos e os produtores de peças independentes? A informação é mais transparente? Sinceramente, não posso garantir que a situação tenha melhorado, mas aproveito para continuar a exigir uma concorrência aberta que garanta ao consumidor o direito de escolher entre várias alternativas. Cada participante do mercado, seja OE, OEM ou independente, tem os seus pontos fortes e o direito de existir e o cliente final tomará a sua decisão no final da cadeia de fornecimento com base nos seus requisitos e necessidades. 9

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DESTAQUE

"Quando um cliente opta pela Diesel Technic o produto é uma pequena parte do que vai receber"

Como está a evoluir a presença da Diesel Technic em Portugal? Está a comprar a fornecedores portugueses? A Diesel Technic especifica de maneira detalhada os seus requisitos para a produção de cada componente das suas marcas DT Spare Parts e SIEGEL Automotive. Com base nesses requisitos, diversos fornecedores de todo o mundo fornecem-nos produtos que, antes de serem comercializados, passam por exigentes controles de qualidade na nossa sede, na Alemanha, num processo auditado pelo nosso Sistema de Qualidade Diesel Technic (DTQS). Como os processos de aquisição de produtos são continuamente otimizados e isso significa que também há mudanças nos fornecedores, é arriscado fornecer dados concretos sobre países específicos. Como está a evoluir a distribuição da Diesel Technic em Portugal? Tradicionalmente, os distribuidores portugueses recebiam as suas encomendas diretamente da nossa sede, na Alemanha, mas, a partir de 2013, os pedidos urgentes passaram a ser assegurados pela delegação espanhola, para encurtar os prazos de entrega. Após quatro anos de crescimento exponencial, as encomendas à delegação excederam em muito as feitas à sede alemã. É nesta altura que se decide que a Diesel Technic Iberia é totalmente responsável pela gestão, uma vez que organizacional e logisticamente seria muito mais vantajoso para todos. A partir daí, a maior parte dos nossos parceiros portugueses continuaram a evoluir muito bem e houve um aumento significativo de vendas, nalguns casos graças ao desenvolvimento da divisão de carrinhas. Esses parceiros perceberam que havia um nicho de mercado interessante e empenharam-se em

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Após 2013, as encomendas realizadas pelos distribuidores portugueses passaram a ser satisfeitas a partir da divisão ibérica, com ganhos de tempo importantes

oferecer as nossas peças de reposição para oficinas com potencial na reparação e manutenção de vans. Assim, viram que o seu turnover cresceu acima da média e, obviamente, essas oficinas também beneficiaram com essa nova linha de negócios. Esperamos continuar a aumentar a nossa colaboração com os nossos parceiros portugueses. Como vê as mudanças que estão a ocorrer na mobilidade ao redor do mundo? É uma ameaça para o vosso negócio? A mobilidade é uma questão que tem de ser considerada. Devido à nossa presença internacional, com distribuidores em mais de 150 países, essas mudanças na mobilidade são analisadas de acordo com cada país. O feedback que recebemos do contacto direto com os nossos parceiros e da nossa experiência no mercado é muito valioso para nós e ajuda-nos a antecipar respostas. Desta forma podemos programar melhor os desenvolvimentos na nossa gama de produtos e antecipar10

mo-nos às necessidades do mercado. Portanto, não vemos essas mudanças como uma ameaça, mas como uma oportunidade de crescimento. A eletrificação vai revolucionar o aftermarket? Em que sentido? À medida que a eletrificação se for implementando, irá determinar mudanças nas necessidades da frota automóvel, porque uma parte importante dos componentes destes futuros veículos irá mudar ou desaparecer. Porém, esta implementação será mais ou menos lenta dependendo de muitos fatores: tipo de veículo, aplicações, localização nacional ou regional ... Em qualquer caso, a nossa gama é muito completa. As aplicações dos produtos de nossas marcas DT Spare Parts e SIEGEL Automotive são muito diferentes e, portanto, muitos deles não verão a sua procura alterada com a introdução do veículo elétrico. Em qualquer caso, estamos sempre atentos e agimos com rapidez para nos adaptarmos ao mercado.



NOTÍCIAS

N ACIONAIS

Novas velas de ignição Bosch EVO Os modernos motores turbo de injeção direta a gasolina colocam exigências particularmente elevadas no que diz respeito à resistência e fiabilidade das suas velas de ignição. A Bosch lança agora a nova vela de ignição Bosch EVO, especialmente robusta e desenhada para garantir de forma fiável uma ignição estável durante um longo período de funcionamento - mesmo sujeita às condições extremas que enfrenta nos motores modernos. Graças ao design melhorado do isolador e à alta rigidez dielétrica aumentada para 45 kV, as novas velas de ignição resistem até mesmo a eventos de combustão irregular - conhecidos como mega knocking - que podem ocorrer nos motores modernos altamente desenvolvidos. A nova vela de ignição Bosch EVO integra um pino de irídio soldado a laser no elétrodo central e uma placa de platina no elétrodo com ligação à massa, que garantem a sua longa vida útil e uma elevada resistência ao desgaste. Apresentando um design de isolador melhorado, as velas de ignição EVO reagem bem a remoções e reinstalações repetidas. No momento da sua instalação, o binário correto deve ser respeitado sob qualquer circunstância, já que isso garante o posicionamento e a orientação exata das velas dentro da câmara de combustão. As velas de ignição EVO da Bosch já estão disponíveis, marcando o início de uma expansão do portfólio. Numa primeira fase, as velas de ignição EVO são lançadas para os motores de injeção direta a gasolina dos veículos Volkswagen e Mercedes-Benz.

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CGA CAR SER V IC E

Em Ourém, as reparações já têm o Selo CGA Car Service E m mais uma adesão importante para o futuro da maior rede oficinal da Península Ibérica, a Auto Delta anuncia que a Sobrocar é o mais recente membro da CGA Car Service, numa operação feita em parceria com a M.A.E. Com este anúncio, a Sobrocar é a primeira adesão à rede oficinal desenvolvida pela Auto Delta no distrito de Santarém, suportada também pela M.A.E., o seu parceiro histórico em Ourém e Torres Novas. Originalmente especializada em serviços de chaparia e pintura, o crescimento do negócio e a necessidade de aumentar a capacidade de resposta levou à procura de novas instalações. Criadas de raiz e

inauguradas já com o apoio da CGA Car Service, estas instalações contam, também, com uma área dedicada a serviços rápidos e mecânica.

OSRAM LANÇA NOVOS PISCAS LEDRIVING PARA VW PASSAT B8 O portefólio de produtos LED da OSRAM continua a aumentar com o lançamento de mais uma novidade ao nível dos piscas LED de espelhos. Agora os modelos VW Passat B8 (2015), VW Arteon (2017) e VW Golf VIII (2020) podem ter um novo look LED e acesso a um ótimo desempenho de luz homogénea com os novos piscas LED de espelho dinâmico OSRAM LEDriving para o Passat B8 – White Edition. A nova solução da OSRAM oferece um design inovador para complementar a aparência individual dos modelos VW Passar B8, e destaca-se pelos seus LEDs de alto desempenho com até 200% mais brilho em comparação com os requisitos mínimos da ECE R6. Quando comparado com outros piscas de espelho apresenta também alto contraste durante o dia e a noite, devido à sua intensa luz LED amarela. A distribuição homogénea da luz ao longo de toda a superfície iluminada permite uma perceção melhorada do veículo no trânsito e, dessa forma, aumenta a segurança rodoviária. 12

A conversão para os piscas LED de espelho dinâmico OSRAM LEDriving é totalmente legal e descomplicada, confirmou uma fonte da empresa. Estes piscas têm certificado ECE de acordo com a norma ECE R6 / R10. Todos os testes e aprovações necessários foram realizados, o que significa que são totalmente legais no tráfego rodoviário e não é necessário qualquer registo nos documentos do veículo. A tecnologia Plug & Play garante uma instalação rápida e fácil nos três modelos da Volkswagen. A OSRAM concede 5 anos de garantia para os piscas LED de espelho dinâmico OSRAM LEDriving.


O E 20 21

ARAN acusa Orçamento de Estado que esquece o setor automóvel

"O

Orçamento de Estado não está a apoiar o setor automóvel. Pelo contrário, está a aumentar o fosso fiscal, acentuando as diferenças e favorecendo a economia de outros países em detrimento da nacional. A ARAN está desiludida, pois o Orçamento de Estado vai estimular a importação de carros usados, sendo importante criar o registo profissional de revendedores de usados para combater a evasão fiscal e a concorrência desleal. Neste momento deveria ser estimulada a retoma de um setor que representa cerca de 20% das receitas fiscais do Estado, 19% do PIB português e emprega cerca de 200 mil pessoas” defende o presidente da ARAN, Rodrigo Ferreira da Silva. Por isso, a ARAN fez um apelo ao Governo para que apoie a redução do ISV, bem como o registo profissional de revendedores de usados. Estas são duas medidas estratégicas propostas, que a associação considera importantes

bilstein group patrocina World Shopper Conference 2020

para impulsionar a retoma económica, já que fortaleceriam a tesouraria das empresas, apoiariam a renovação do parque automóvel e atenuariam o impacto da quebra da receita fiscal (ISV e IVA). Para a ARAN, a criação de um registo profissional de revendedores de veículos automóveis seria fundamental para o combate à evasão fiscal e potenciaria a criação de uma base estatística fidedigna referente ao comércio de automóveis usados em Portugal.

LUB R I F I CA N T E S

FUCHS COMPRA WELPONER SRL Com o objetivo de reforçar o seu negócio de especialidades, o Grupo FUCHS, player global no setor de lubrificantes, comprou o negócio de lubrificantes da WELPONER SRL em Bolzano, Itália. A empresa WELPONER, parceira comercial de longa data da FUCHS, alcançou um volume de negócios de 4 milhões de euros em 2019 e vai agora ser integrada na sua filial italiana, a FUCHS LUBRIFICANTI S.P.A. A aquisição inclui a carteira de clientes e os colaboradores, e o negócio da WELPONER vem completar a operação

da FUCHS em Itália. Esta concentração dos canais de distribuição permite à FUCHS LUBRIFICANTI S.P.A. tornar-se o parceiro central e competente em todos os lubrificantes e especialidades relacionadas em Itália. 13

Inicialmente planeada para maio mas adiada para outubro, a 10.a edição da World Shopper Conference teve como tema “A toolbox for the automotive recovery” e decorreu num formato exclusivamente digital. O bilstein group aliou-se a esta iniciativa, fazendo assim a sua estreia como patrocinador de eventos online. Cada semana da conferência apresentou um tema diferente, e foram mais de 40 oradores de 10 países que partilharam os seus conhecimentos através da plataforma Hopin. Ao longo de todo o evento o bilstein group expôs os seus conteúdos, nomeadamente vídeos das instalações locais e internacionais e da área de produção, e também apresentou alguns dados sobre a empresa. Os participantes tiveram ainda oportunidade de se registar no partsfinder – o catálogo do bilstein group – e subscrever as newsletters para saberem mais sobre a vasta gama das marcas febi, SWAG e Blue Print. Foi igualmente possível interagir com a equipa comercial e de marketing do bilstein group por canais virtuais, através do chat ou de chamada de vídeo.

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NOTÍCIAS

N ACIONAIS

Indústria automóvel afirma a sua posição na Cimeira Ibérica

BL UE P R IN T

Nova gama de travagem para modelos europeus e asiáticos A Blue Print, marca do bilstein group, anunciou o lançamento de uma gama de componentes de travagem para todas as marcas, garantindo cobertura quase total dos fabricantes europeus e asiáticos. Com esta adição a especialista do aftermarket consegue uma cobertura equivalente a 98% dos discos e pastilhas de travão para os automóveis ligeiros de passageiros e comerciais ligeiros fabricados nos dois continentes, oferecendo mais de 3400 componentes de fricção no seu portfólio. Além disso, estão também disponíveis 3200 componentes de travagem destinados a mais de 70000 aplicações para os automóveis fabricados na Ásia, com a Blue Print a referir que isso lhe garante uma “cobertura abrangente e profunda para veículos asiáticos”. Destaque ainda para a pre-

sença na gama agora lançada de diversas pastilhas e discos para modelos híbridos e elétricos, conseguindo assim fornecer estes veículos mais ecológicos e cujas vendas continuam em crescimento. Mas esta não foi a única novidade nos componentes de travagem das marcas do bilstein group. Também a gama da febi, composta apenas por produtos de qualidade equivalente OE, foi revista e a alargada. Com o aumento da oferta está agora garantida uma cobertura de 98% dos veículos de passageiros europeus lançados desde o ano 2000, incluindo híbridos e elétricos. Com este reforço da oferta, a febi conta agora com 2750 componentes para aplicação nos modelos mais populares, onde se incluem discos, pastilhas, tambores e calços de travão.

A ACAP, AFIA, ANFAC e SERNAUTO, as associações de construtores de automóveis e de componentes de Portugal e Espanha, destacaram na XXXI Cimeira Ibérica o sector automóvel como instrumento estratégico na recuperação económica dos dois países. Numa declaração conjunta assinada pelos presidentes das quatro associações, foi pedido maior compromisso e trabalho conjunto dos governos na definição de uma estratégia para lidar com o impacto da Covid-19 e restabelecer os índices pré-crise, levando em consideração o processo de reindustrialização em curso e a transformação do sector em áreas como a descarbonização e a digitalização. Este trabalho dos dois países é considerado essencial para garantir que o sector automóvel ibérico mantém no futuro a sua posição de relevância e liderança.

MEYLEXPERIENCE RECRIA VIRTUALMENTE VISITA À AUTOMECHANIKA Com a Automechanika adiada devido à pandemia, a MEYLE apresentou uma interessante alternativa para quem iria conhecer as suas novidades no evento. Para manter o contacto com clientes e parceiros, a empresa criou uma nova forma exclusiva e digital de vivenciar a marca, a “MEYLExperience 2020”, que permite uma experiência semelhante à de uma visita física ao recinto da feira em Frankfurt.

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A MEYLExperience apresenta, de forma inovadora e interativa, os grandes destaques preparados para a Automechanika, bem como os mais recentes desenvolvimentos do mundo MEYLE. São os casos das novas linhas de produtos, com destaque para o novo kit de manutenção Meyle-Original, que contém um filtro especial para assegura a mais elevada segurança funcional para o utilizador. 14



NOTÍCIAS

N ACIONAIS

Nexus encoraja fornecedores

T R AVÕ E S

Delphi anuncia oito novas pastilhas de travão A Delphi Technologies acaba de apresentar oito novas pastilhas de travão, no âmbito do seu programa de componentes para o aftermarket, reforçando o posicionamento da empresa como fornecedor de referência em toda a Europa. A gama agora lançada soma-se à já ampla oferta de pastilhas de travão da Delphi Technologies, garantindo assim

uma cobertura superior a 98,5% do parque circulante europeu. O programa de travões da Delphi Technologies oferece uma grande vantagem, permitindo às oficinas ter rendimentos adicionais ao aceder mais rapidamente a novas oportunidades de reparação dos veículos mais recentes, aumentando a rentabilidade e a fidelização dos seus clientes.

VENEPORTE AUMENTA FUNCIONALIDADES ONLINE A Veneporte disponibilizou no seu catálogo online, que pode ser consultado no site da empresa, uma nova funcionalidade que permite visualizar a 360o a imagem dos produtos. Esta funcionalidade foi desenvolvida com o objetivo de enriquecer a experiência do utilizador quando recorre ao catálogo online do fabricante para procurar um determinado produto. Após efetuar a pesquisa por modelo de automóvel, por matrícula ou por referência, além de toda a informação técnica que o catálogo já disponibilizava, passa a ser também possível visualizar a peça pretendida de todos os ângulos. Assim, de uma forma rápida, fácil e intuitiva, o utilizador consegue em apenas três cliques ter acesso a toda in-

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formação técnica do seu Catalisador, Filtro de Partículas, SCR, Silencioso ou Acessório e também visualizar todos os detalhes da peça que procura. 16

Os gestores executivos da Nexus organizaram uma visita de três dias aos “N! Suppliers”, fornecedores do norte de Itália, numa iniciativa que visou reforçar o apoio a estas empresas no contexto da pandemia. O CEO da Nexus, Gael Escribe, o Diretor Executivo de Gestão de Fornecedores da N!, Robert Kirr, e o Diretor da Nexus Automotive de Itália, Roberto Olivero, reuniramse com cinco fornecedores com sede no norte de Itália (Brembo, Dayco, Japanparts, Sogefi e Ufi), num encontro que serviu para partilhar estratégias e ideias e também para preparar o futuro. Após a viagem, o CEO Gael Escribe salientou que "a indústria automóvel italiana aumentou a sua atividade após as férias de Verão e durante a nossa visita definimos novas estratégias sobre como podemos ajudar a acelerar isso." Por sua vez, o Diretor Executivo de Gestão de Fornecedores da N!, Robert Kirr, destacou a excelente qualidade de serviço que estes parceiros continuaram a prestar na primeira vaga da pandemia e recordou que o evento Nexus Virtual Days irá ajudar estes fornecedores a ficarem ainda mais próximos da comunidade global da Nexus.



ATUALIDADE

ROBERTO GASPAR, SECRETÁRIO-GERAL DA ANECRA

OFICINAS ESTÃO MELHOR PREPARADAS

O secretário geral da ANECRA explica como o setor oficinal reagiu à pandemia, assegurando que a associação teve um papel fundamental junto dos seus associados. Roberto Gaspar diz que “as oficinas têm hoje novos modelos de funcionamento”, garantindo, por isso, que “estão melhor preparadas para enfrentar com sucesso a segunda vaga da pandemia” Texto David Espanca

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oberto Gaspar, secretário geral da ANECRA, não têm dúvidas que depois da situação pandémica, “nada será como antes”. Desde início a associação teve uma forte ação pedagógica junto do setor oficinal que representa, implementando medidas fundamentais com vista a consolidar a indispensável confiança de que os consumidores precisam. Quais os efeitos da pandemia no setor da reparação e manutenção automóvel? Julgo que, não obstante ser ainda cedo para balanços, podemos afirmar que, de uma forma geral, o segmento da reparação e manutenção automóvel terá sido um dos menos afetados pela pandemia. Primeiro, porque nunca chegou a fechar completamente a atividade. Em grande medida porque foi considerado pelo Governo como setor de atividade de interesse estratégico para a economia do país, tendo para isso contribuído o papel concertado das associações do setor, com destaque para a ANECRA. Depois, porque apesar de quebra efetiva na atividade, muito particular nos meses de março, abril e maio, a generalidade dos operadores do setor soube reagir rapidamente, com particular destaque para a implementação de medidas de vária ordem (operacionais, de segurança sanitária, entre outras), que tiveram grande sucesso junto do cliente final.

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Este segmento tem conseguido um processo de retoma mais célere quando comparado com os restantes segmentos de mercado. Em termos acumulados, julgamos que estaremos ainda abaixo de 2019, mas com sinais de retoma de atividade muito encorajantes. CONFIANÇA É FUNDAMENTAL Como é que o setor oficinal atravessou esta fase da pandemia? O que foi aprendido na primeira vaga e que poderá ser útil para a segunda vaga? Estou convicto de que hoje estamos todos mais bem preparados para enfrentar esta segunda vaga

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A generalidade das oficinas adotou processos que visaram incutir confiança nos clientes. Os resultados foram positivos e todos admitem que, mesmo num contexto de desejada normalidade, muitos desses processos acabem por perdurar


e as potenciais consequências da mesma. Desde logo a questão da segurança e da confiança dos consumidores que frequentam os estabelecimentos. A própria ANECRA lançou um programa/serviço de consultoria, que denominámos Estabelecimento Seguro ANECRA e que tem como missão ajudar os nossos associados a garantir que cumprem de forma efetiva todos os requisitos e boas práticas previstas no Protocolo Sanitário do Setor Automóvel. Hoje, como antes, o fator confiança (clientes, colaboradores e parceiros) é determinante para que a atividade económica e empresarial seja o menos afetada possível. Como também já foi referido, as empresas implementaram processos, procedimentos e medidas extraordinárias (algumas delas provavelmente vieram para ficar), que hoje fazem parte da sua atividade normal e diária: marcações de serviços “online”, recolha e entrega de viaturas em casa dos clientes, entre outros, são hoje uma realidade em muitas das nossas oficinas. Houve muitos operadores a ficarem pelo caminho? Se estivermos a referirmo-nos apenas à atividade da reparação e manutenção, os dados que temos dizem que, felizmente, o número de operadores que “caíram” fruto da pandemia é relativamente baixo. Provavelmente, uma parte significativa das empresas que fecharam já estavam em má situação

Roberto Gaspar tem a certeza que a ação direta da ANECRA junto dos seus associados foi determinante para que estes ultrapassassem a fase mais aguda com manifesto sucesso

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financeira antes da pandemia e, inclusive, em muitos casos, não tiveram condições para aceder a algumas das medidas extraordinárias disponibilizadas (casos concretos do regime excecional de “lay-off” e das moratórias). As medidas adotadas a nível governamental satisfizeram as necessidades do setor? O que mais poderia ter sido feito? Convém reconhecer que algumas das medidas implementadas pelo Governo, com particular destaque para as moratórias (a diferentes níveis) e o regime excecional de “lay-off”, contribuíram, e continuam a contribuir, de forma absolutamente

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determinante, para a sustentabilidade de muitos operadores do mercado. É lógico que julgamos, e temos vindo a tomar posição pública e junto das entidades oficiais, que outras medidas mais especificas para o setor deveriam ter sido tomadas há bastante tempo. ONLINE MELHORA PRODUTIVIDADE Que “novos” modelos de funcionamento irão vigorar no futuro? Todos nós sabemos que as empresas, tendo em vista a necessidade de fazerem frente aos constrangimentos resultantes da pandemia e das próprias questões de segurança sanitária, implementaram novos modelos de funcionamento e de negócio, que diga-se, na sua grande maioria já existiam, mas numa escala mais reduzida: as vendas e os agendamentos de serviços “online”, o “homeworking”, as reuniões “online”. Mesmo serviços mais prosaicos, como a recolha e entrega de viaturas na casa do cliente, já eram uma realidade há muito. Claro que a pandemia funcionou como um verdadeiro catalisador e, por força da necessidade, aceleraram-se processos, melhoraram-se outros e em determinados casos criaram-se alguns absolutamente novos. Dito isto, a única certeza que temos é que muito dificilmente teremos modelos idênticos ao que tínhamos antes da pandemia. Os clientes que, numa logica custo/beneficio, perceberam as vantagens de alguns destes processos vão querer continuar a utilizá-los. As empresas que perceberam que podem ser mais produtivas recorrendo às reuniões “online” ou, em determinados casos, ao trabalho em “homeworking” vão logicamente querer manter esses processos.

A pandemia lançou desafios e colocou exigências que obrigaram os agentes do setor oficinal a, praticamente, reinventaremse. Para Roberto Gaspar, nada será como antes para um setor que, em certa medida, saiu mais robusto

Qual o papel da ANECRA ao longo de toda esta pandemia? Numa primeira fase, a nossa grande prioridade foi dar o nosso contributo para tentar garantir por todos os meios possíveis que a pandemia fosse rapidamente controlada e com as menores consequências possíveis do ponto de vista da saúde pública. No início de maio, a ANECRA, em conjunto com mais duas associações congéneres do setor, lançou o Protocolo Sanitário para o Setor Automóvel que, estamos seguros, foi uma peça determinante para que alguns segmentos do setor pudessem retomar a sua atividade, caso concreto do comércio de automóveis (novos e usados). Ainda no decorrer do mês de outubro, lançou o Selo Estabelecimento Seguro ANECRA, que pretende ser uma face visível (para clientes, colaboradores e parceiros) do cumprimento das regras e das boas práticas sanitárias, constantes no Protocolo Sanitário do Setor Automóvel. Em junho, lançámos o serviço de consultoria “Es-

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tabelecimento Seguro ANECRA”: um serviço de excelência e que acreditamos de elevado valor acrescentado, exclusivo para os nossos associados e que visa, primeiramente, permitir-lhes o total acompanhamento e cumprimento de todas as regras e boas práticas constantes do Protocolo Sanitário para o Setor Automóvel. Este serviço tem ainda uma versão de “upgrade”, que denominamos como “Estabelecimento Seguro ANECRA Premium”, que resultou de uma parceria com a consultora multinacional SGS. Realizámos variadíssimos “workshops” especializados e seminários “online”, tendo em vista o esclarecimento e o apoio ao mercado e muito em concreto aos associados. Nestes eventos, que contaram, na sua globalidade, com a presença de alguns milhares de participantes, tratámos de questões como a segurança sanitária, o cumprimento do Protocolo Sanitário do Setor Automóvel, esclarecimentos sobre as medidas excecionais implementadas pelo Governo, entre outros. OFICINA 4.0 EM SUSPENSO Uma das consequências foi a suspensão do processo da Oficina 4.0. Para quando a sua retoma? Julgo ser óbvio que, neste momento, em que temos muito mais dúvidas que certezas, face à evolução da pandemia e do consequente desempenho da economia e em concreto do setor automóvel, dificilmente poderemos pensar em processos como o da Oficina 4.0. Os variadíssimos processos que estavam em curso vão logicamente, na sua grande maioria, continuar o seu caminho. Provavelmente com diferentes velocidades; a Oficina 4.0 vem na linha desta

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MAIS QUALIFICAÇÃO E FORMAÇÃO NAS OFICINAS Nada será como dantes é muito provavelmente a única grande certeza que todos poderemos ter relativamente ao futuro do setor oficinal. “Claro que no início deste ano todos apontávamos para 2020 como um ano de grandes transformações, de vários processos com um forte carácter disruptivo e que, em grande medida, esta pandemia veio, em muitos casos, congelar ou pelo menos ter um efeito de desaceleração, explica Roberto Gaspar. E a denominada Oficina 4.0 vai mesmo acontecer, garante o responsável, sendo da opinião que “este evento que estamos a viver, na sua grande maioria, apenas veio atrasar alguns processos”. Mas as oficinas irão deparar-se com várias necessidades, nomeadamente “mais qualificação/formação dos seus quadros face à gradual complexidade das tarefas com que se deparam e dotar as suas empresas de mais meios técnicos e tecnológicos ajustados às novas viaturas”, avança o secretário-geral da ANECRA. Por outro lado, considera que “o acesso à informação/dados técnicos serão cada vez mais determinantes para poderem operar”, assim como “alterarem a forma como se relacionam com os clientes, cada vez mais informados, mais exigentes e com novos hábitos de consumo”. O responsável conclui que “tudo isto são factos que todos nós poderemos apontar, sem grande receio de nos equivocarmos, como dados adquiridos num processo evolutivo e no espaço de muito poucos anos”.


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evolução. Julgo ser relativamente claro que alguém que está a passar um processo de luta pela sua sobrevivência, dificilmente consegue ter o foco em processos que, não obstante a sua efetiva importância, estão longe de ser prioritários no curto prazo. E no âmbito do projeto Caruso, houve desenvolvimentos este ano? O Projeto Caruso foi, à semelhança de grande parte do setor, afetado pelos efeitos da pandemia. No entanto, podemos destacar como grande novidade o facto da plataforma Caruso ter passado a contar com a Mercedes-Benz como parceiro e fornecedor de dados, pelo que atualmente passa a ter dentro da sua plataforma seis marcas: Volkswagen, BMW, Mini, Audi, Ford e Mercedes-Benz. Das últimas conversas que tive com o responsável comercial do Caruso, Gwenael de Calan, está numa fase bastante avançada de conversações com mais três grandes construtores automóveis para que possam entrar ainda no decorrer de 2021. Em 2019 a ANECRA estabeleceu um protocolo de parceria com o Caruso, constituindo-se como parceiro privilegiado para o mercado português. Na verdade, fruto desta parceria, a ANECRA tem aberto canais de comunicação entre vários operadores que estão dentro do ecossistema do Caruso e que mostraram vontade de estabelecer algum tipo de relação com o mercado português. É o caso concreto da multinacional holandesa que se dedica ao serviço de “live chats” WEB1ON1, que está já hoje a operar em Portugal e que, muito em breve, a ANECRA disponibilizará aos seus associados em condições privilegiadas. E quais os objetivos a curto e médio prazo a que se propõe a ANECRA? Para a ANECRA, 2020 foi um ano de uma enorme exigência, pessoal e coletiva de todos os que aqui trabalham e colaboram. Mas foi também um ano de grande afirmação, de uma grande Associação centenária e com um papel de grande importância no apoio (aos mais diferentes niveis) aos seus mais de 3.400 associados e ao mercado automóvel de uma forma geral. Acreditamos, sinceramente, que, pelo menos no imediato, estamos mais fortes, mais capazes e mais motivados que nunca. Os nossos objetivos a curto e médio prazo são claros: que os nossos associados nos reconheçam como um parceiro que os ajuda todos os dias a serem melhores empresários e melhores profissionais e, portanto, cada vez mais preparados para terem empresas sólidas e rentáveis; que o mercado, e a sociedade de uma forma geral, possa reconhecer o nosso papel e a nossa contribuição para um setor sustentável aos mais diferentes níveis (economico, social e ambiental).

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31.a CONVENÇÃO DA ANECRA EM DEZEMBRO A 31.a edição da Convenção da ANECRA vai ter lugar de 9 a 11 de dezembro em moldes diferentes do habitual. Face às restrições de segurança impostas pela Direção-Geral da Saúde, foi adotado um formato "misto". Os dois primeiros dias serão “online” e dedicados aos temas do comércio de viaturas usadas e no pós-venda; enquanto o último dia é presencial, a decorrer no centro de congressos da FIL, na Junqueira, com um número de participantes limitado e uma transmissão por “streaming” para a restante audiência. Uma das principais tónicas da Convenção irá recair na comemoração dos seus 110 anos da existência.

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PANDEMIA: AS MEDIDAS DA ANECRA - Criação de um “Gabinete de Crise”, composto por vários profissionais e membros da direcção da ANECRA; - Reforço da capacidade instalada de apoio aos associados nos gabinetes jurídico, económico e fiscal, entre outros; - Criação de uma zona dedicada no “website”, com informações, esclarecimentos e recomendações efetuadas pelos diferentes organismos estatais; - Abertura de uma linha de diálogo com outras associações do setor automóvel, visando tanto quanto possível tomar posições conjuntas e concertadas;

- Lançamento do Protocolo Sanitário para o Setor Automóvel; - Lançamento do Selo Estabelecimento Seguro ANECRA; - Lançamento do serviço de consultoria Estabelecimento Seguro ANECRA/Premium; - Lançamento de comunicados públicos e diligências junto das autoridades; - Realização de “workshops” especializados e seminários “online”; - Alerta para a necessidade da implementação de medidas especificas para o setor com vista a retoma e dinamização do mesmo durante e após a pandemia.

Alguns dos projetos que estavam em marcha tiveram, inevitavelmente, de ser congelados. Foi o caso da Oficina 4.0. Em tempos de incerteza, quando está em causa a sobrevivência, há que fazer escolhas

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JOSÉ COUTO, PRESIDENTE DA AFIA

FABRICANTES DE COMPONENTES EM ESTADO DE ALERTA A indústria de componentes está em estado de alerta. À crise pandémica juntam-se os riscos inerentes ao possível não acordo comercial entre a União Europeia e o Reino Unido, o quarto principal destino das nossas exportações, como alerta José Couto, presidente da AFIA Texto David Espanca

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indústria de componentes para automóveis agrega um total de 240 empresas com sede ou laboração em Portugal, com um volume de emprego direto na ordem das 59 mil pessoas, uma faturação anual de 12 mil milhões de euros e uma quota de exportação superior a 80%. Em termos de importância para a economia nacional, representa 6% do PIB, 8% do emprego da indústria transformadora e 16% das exportações nacionais de bens transacionáveis, contribuindo assim fortemente para o equilíbrio das contas externas do País. Fundada em 1966, a AFIA – Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel representa nacional e internacionalmente os agentes deste setor instalados em Portugal. É o seu porta-voz junto das autoridades e de outras instituições, tanto portuguesas como no estrangeiro, e divulga-o junto das diferentes entidades. A TURBO OFICINA falou com José Couto, presidente da AFIA, que abordou o atual panorama deste setor, as principais dificuldades que atravessa e as perspetivas para o futuro. Como analisa a evolução recente da produção de componentes em Portugal? Em 2019, pelo sexto ano consecutivo, a indústria portuguesa de componentes para automóveis bateu recordes em termos de volume de negócios. As vendas globais atingiram 12 mil milhões de euros, uma subida de 4,3% face a 2018. As exportações totalizaram 9,7 mil milhões de euros (+3,2% em relação a 2018), enquanto as vendas para o mercado nacional aumentaram 4,5%, para os 2,3 mil milhões de euros. Em termos de quota, as exportações representam 81% da atividade das empresas, sendo que o mercado nacional absorve os restantes 19%. No que diz respeito ao volume de emprego, entre 2010 a 2019 foram criados 19 mil novos postos de trabalho. Assim, em 2019, a indústria de componentes para automóveis empregava, diretamente, 59 mil pessoas.

Por ser inevitável tomar medidas sanitárias, e por inexistência de vendas de veículos, verificaram-se grandes cortes na produção de automóveis. Na União Europeia, as fábricas estiveram paradas nos meses de abril e maio, logo obrigaram os fornecedores a parar e a considerar mudanças drásticas no futuro próximo. Esta situação, ao afetar toda a cadeia de produção, culminou no encerramento total ou parcial, vulgo “layoff”, das empresas portuguesas de componentes para a indústria automóvel. Segundo os dados compilados pela AFIA, tendo como base as Estatísticas do Comércio Internacional de Bens do INE – Instituto Nacional de Estatística, no acumulado até ao mês de agosto, as exportações de componentes automóveis ficaram-se pelos 5,1 mil milhões de euros, representando uma diminuição de 20% em relação ao período homólogo. Ou seja, entre janeiro e agosto de 2020, as vendas ao exterior registaram uma diminuição de 1,3 mil milhões de euros comparativamente a 2019. Pode-se afirmar que o país já está a recuperar da crise? O que está a ser feito para que as empresas se adaptem a esta nova realidade? Efetivamente, analisando o comportamento das exportações de componentes automóveis nos meses de julho e agosto, regista-se um acréscimo de 1% e 3%, respetivamente, por comparação com os mesmos meses de 2019. No en-

A AFIA, através do seu presidente, José Couto, reclama para a indústria nacional de componentes para automóveis apoios capazes de mitigar os efeitos da crise que está instalada

EXPORTAÇÕES DESCEM 20% De que forma a pandemia afetou o setor? Com o abrandamento da economia e a redução da procura, por força da emergência de saúde com que nos deparamos, com os consumidores em pânico e sem confiança relativamente ao amanhã, as vendas de automóveis caíram de forma acentuada. De acordo com a LMC Automotive, de janeiro a setembro deste ano, venderam-se menos 30% de carros na Europa Ocidental, face ao mesmo período de 2019, ou seja, uma quebra de 3,2 milhões de automóveis. 25

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tanto, o clima de incerteza mantém-se para os próximos tempos. Como está o setor nacional dos componentes automóveis face a outros mercados europeus? A atividade das empresas portuguesas da indústria de componentes automóveis está a acompanhar o ritmo da produção automóvel nos seus principais mercados: Espanha, Portugal, Alemanha, França e Reino Unido. CAPITALIZAR EMPRESAS Quais as principais dificuldades com que o setor se debate atualmente e o que pode ser feito para as ultrapassar? As empresas de componentes têm, mais uma vez, um desafio de uma grande dimensão. É que para além de terem que enfrentar o dia-a-dia caótico determinado pela crise pandémica, terão de fazer face às alterações que se apresentam no mercado automóvel e, consequentemente, as reações que os construtores irão promover. Este é um desafio que devemos encarar, as empresas têm que responder às dificuldades deste novo quotidiano, da queda do mercado, do redimensionamento da capacidade produtiva, da manutenção dos postos de trabalho, de cumprirem as responsabilidades económicas e sociais, de consolidarem os investimentos em curso e, ao mesmo tempo, prepararem-se para

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As empresas nacionais produtoras de componentes para a indústria automóvel revelaram na última década uma pujança assinalável, evidente na capacidade de afirmação no estrangeiro e na capacidade para atrair os clientes mais exigentes

um futuro que exigirá mais investimento para se poderem adaptar e responder a uma nova competição, que exigirá conquistar um lugar na “pole position”. O que está em causa não são acréscimos de capacidade ou modernização de equipamentos, o que está em causa é o incremento de soluções tecnológicas e de processos de gestão necessários para manter a capacidade competitiva numa nova dimensão. Esta conjuntura representa uma ameaça para as empresas fabricantes de componentes para a indústria automóvel, porque exige meios financeiros substanciais, reforço de competências e uma forte ligação às instituições tecnológicas que produzem saber e às instituições de ensino superior. Uma das soluções passa pelo investimento na indústria automóvel portuguesa? De que forma esse investimento pode ser aplicado? É preciso não perder empresas e adequar as respostas a novos desideratos. É crucial que as empresas se mantenham capitalizadas e focadas no que é necessário para serem competitivas e capazes de se manterem como fornecedoras de uma indústria tão exigente e que se prepara para se reinventar num futuro imediato. Será um esforço suplementar, que não poderá ser solitário. A capitalização das empresas é crucial e o governo tem de saber responder com os meios e formas adequadas.

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Pode-se afirmar que este setor está cada vez mais tecnológico? Quais as principais tendências a este nível? A indústria automóvel é pioneira em inovações tecnológicas, sendo muitas delas também absorvidas e replicadas depois por outras indústrias. O setor investe fortemente em inovação técnica, o que promove uma evolução muito rápida, podendo de facto afirmar-se que o ritmo de mudança está a acelerar. E, sem dúvida, estão a acontecer mutações profundas nos veículos, na sua produção e na mobilidade em geral, designadamente para responder aos desafios da descarbonização, das motorizações alternativas, da condução autónoma, de novos conceitos de mobilidade, da indústria 4.0 e da digitalização da produção e dos veículos. Como está a ser concretizada a competitividade de Portugal? Pelo preço, pela tradição, pela qualidade, pela tecnologia? As empresas que trabalham em Portugal tiveram um desempenho assinalável, durante a última década, porque conseguiram reconhecimento, junto dos construtores e fornecedores de primeira linha, e cresceram mais que o mercado na Europa. Isso é visível nos números que indicam PUBLICIDADE

A indústria nacional de componentes para automóveis representa 6% da riqueza nacional e assegura 8% do emprego. Estes números expressam a sua importância na economia portuguesa

um crescimento de 7% em média ao ano, que são claramente uma afirmação de competitividade. 3 MILHÕES DE VEÍCULOS EM RISCO Estamos a conseguir entrar em segmentos novos ou continuamos focados nos tradicionais? Os fabricantes de automóveis e os seus fornecedores estão continuamente a investir em tecnologias inovadoras que ofereçam ao mercado


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ASSOCIAÇÕES IBÉRICAS RECLAMAM MAIS APOIOS As principais associações de construtores de automóveis e de componentes em Espanha (ANFAC e SERNAUTO) e Portugal (ACAP e AFIA) assinaram, recentemente, uma declaração conjunta, tendo em conta o momento crucial que o setor está a passar, com o processo de reindustrialização, os desafios da descarbonização e digitalização que surgem para fazer face à nova indústria da mobilidade. Tudo isto, no contexto do forte impacto económico e industrial da crise Covid-19 no setor, o qual veio estabelecer novos objetivos, a curto prazo, de recuperação da procura e da produção. Tendo em conta o próximo Plano Europeu de Recuperação, o setor automóvel necessita de uma dotação financeira significativa para garantir não só a recuperação aos níveis pré-crise, mas também um maior crescimento sustentável para reforçar o seu papel como motor para os outros setores da economia. As associações do setor solicitaram aos governos português e espanhol a criação de um quadro mais estreito de cooperação e colaboração face às políticas europeias relacionadas com o automóvel, para assim impulsionar a competitividade da indústria. Solicitam que sejam tomadas ações bilaterais, para responder às necessidades do setor e promover uma estratégia com instrumentos específicos em matérias económicas, laborais, regulamentares e de investimento que deem um forte apoio à indústria automóvel, em linha com a sua importância para a economia ibérica e o seu papel de importante motor da recuperação económica.

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automóveis mais seguros e mais automatizados, tendencialmente autónomos, e soluções mais amigas do ambiente. O setor está atento às evoluções e as empresas estão a tomar as decisões necessárias para se prepararem para as mudanças que se anunciam no médio e longo prazos. Neste momento já produzimos em Portugal componentes para os modelos de carros elétricos mais carismáticos, como o BMW i3, Nissan Leaf, Porsche Taycan ou Renault Zoë, e até para o mais recente modelo da Volkswagen, o ID.3. Quais serão as consequências para Portugal de um eventual não acordo entre a União Europeia e o Reino Unido? No passado mês de setembro, a AFIA foi uma das 23 associações da indústria automóvel que assinaram uma nota conjunta a apelar para que seja alcançado um acordo de comércio entre o Reino Unido e a União Europeia. O impacto catastrófico das tarifas da Organização Mundial de Comércio, em caso de não acordo, põe em risco a produção de três milhões de carros e carrinhas fabricados na União Europeia e no Reino Unido nos próximos cinco anos. O eventual não acordo significaria perdas comerciais combinadas até 110 mil milhões de euros em cinco anos, além das perdas de 100 milhões de euros de valor de produção este ano devido à crise da Covid-19. A indústria automóvel necessita de um acordo que mantenha a competitividade e permita às empresas continuarem a relação comercial com os seus parceiros britânicos. É importante recordar que o Reino Unido é o quarto principal cliente dos componentes automóveis fabricados em Portugal. 28



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ISCTE

PÓS-GRADUAÇÃO CADA VEZ MAIS RELEVANTE PARA O AFTERMARKET O Programa Avançado de Gestão para Profissionais do Pós-Venda Automóvel é uma Pós-Graduação destinada a todos os profissionais que desejam adquirir as competências indispensáveis ao sucesso pessoal e das suas organizações. Fundamental para o Aftermarket Texto Osvaldo Pires

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O ambiente em sala de aula é sempre muito participativo e as trocas de opiniões e experiências extremamente enriquecedoras para o objetivo de proporcionar uma visão abrangente do Aftermarket

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Pós-Graduação em Aftermarket foi concebida por profissionais do setor automóvel, com larga experiência no pós-venda, com o objetivo de preparar as organizações para os desafios de hoje e de amanhã. O ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa - é o parceiro da DPAI (Divisão do Pós-Venda Automóvel Independente), neste projeto formativo, e os professores foram criteriosamente escolhidos. Crespo de Carvalho, professor do ISCTE e responsável pela Pós-Graduação, começa por referir que “a ideia inicial que ditou o lançamento desta iniciativa partiu da DPAI, que concluiu que havia uma base significativa de players que precisavam de se qualificar em termos de gestão. Se nada fosse feito havia o risco real de muitas empresas não conseguirem acompanhar a evolução que o setor regista, levando ao seu desaparecimento.” 31

Neste âmbito, a DPAI começou por procurar uma instituição universitária para promover o aumento do conhecimento dos profissionais do setor, “com vista a melhorar o desempenho das suas funções”, salienta o docente do ISCTE. O processo foi pensado de uma forma transversal, para que se pudesse incorporar os profissionais das diferentes áreas: marketing, vendas, administrativos, gestores de stocks, etc. O desenho do Programa de Gestão Avançado para Profissionais do Pós-Venda Automóvel assentou num conceito inédito, em termos de conteúdos e abordagens conceptuais. Segundo o responsável pelo curso, “tal deveu-se a uma construção partilhada e ao intercâmbio de propostas entre o ISCTE e os responsáveis da DPAI, - todos motivados em lançar esta qualificação do setor, de forma a que fossem identificados todos os objetivos essenciais à construção do curso, contemplando o que

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APRENDER SEMPRE

PERFIL MULTIDISCIPLINAR É CRUCIAL

José Pires, diretor geral e CEO da Krautli, destaca a qualidade do curso.”Em primeiro lugar, participei para aprender. E, depois, não podia deixar de apoiar uma iniciativa tão importante da José Pires Diretor geral e CEO ACAP no sentido de melhorar as da Krautli qualificações dos protagonistas do pós-venda independente. Uma das graves lacunas no sector é a falta de formação de gestão – a maior parte das empresas são de empreendedores que são, fundamentalmente, operacionais. São bons comercialmente, com uma visão adequada do mercado e empenhados em inovar, mas a parte da gestão da empresa muitas vezes deixa a desejar”, refere. Fiel à máxima “aprender sempre”, José Pires sublinha que mesmo nos conteúdos com que os participantes estejam familiarizados "há sempre coisas novas, além da partilha de experiências e práticas de outros. É uma mais-valia o facto de participarem os vários tipos de operadores no mercado – fabricantes, distribuidores, retalhistas e oficinas. Fiquei positivamente surpreendido com a forma como o programa está pensado para o nosso ramo e com o envolvimento de todos os participantes. Também considero muito positivo incluir-se uma parte sobre a evolução do nosso mercado e antevisão do futuro”. O caráter transversal é outra dos aspetos salientados por este responsável da Krautli, empresa que, como sublinha ”teve oito participantes no programa, e na 5ª edição teremos mais dois. É um programa excelente para os profissionais do ramo em funções de responsabilidade/ direção das empresas. Como está direcionado para a atividade específica do pós-venda automóvel, as vantagens práticas são óbvias” - conclui.

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Para Ricardo Candeias, diretor do departamento de Marketing e Vendas do bilstein group, entre as características mais relevantes da Ricardo Candeias Diretor do departamento Pós-Graduação desenvolvida pelo de Marketing e Vendas ISCTE e pela DPAI está a diversidade do bilstein group dos perfis profissionais das pessoas que com ele partilharam a primeira edição, em que participou. “Inicialmente, a minha expetativa era perceber o funcionamento do curso e a forma como ele poderia enriquecer os meus conhecimentos. Cedo constatei que isso iria acontecer, a diversos níveis, fruto do facto de os meus colegas serem oriundos de diferentes áreas do negócio, o que suscitou discussões muito interessantes e permitiu adquirir uma visão muito mais abrangente do negócio”. Ricardo Candeias não tem dúvidas em classificar como “extremamente enriquecedora” a sua participação nesta iniciativa conjunta do ISCTE e da DPAI, considerando que está hoje muito melhor preparado para entender e enfrentar os desafios que o Aftermarket tem pela frente. “Sem dúvida que no final estamos muito melhor preparados para tomar as melhores decisões”, sublinha. Referindo-se ao cariz multidisciplinar que caracteriza o curso, o diretor do departamento de Marketing e Vendas do bilstein group não tem dúvidas em classificar essa decisão muito mais útil do que uma eventual especialização apenas no setor específico de cada um dos participantes.

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5.a EDIÇÃO EM CONTEXTO DE PANDEMIA Já em preparação, a 5ª Edição da Pós-Graduação, que arranca em janeiro, leva em conta as profundas implicações que a crise pandémica teve ao nível das organizações, dos processos de trabalho e da forma de encarar o negócio. Crespo de Carvalho assegura que a quarta edição que agora termina foi, inevitavelmente, impactada pelos efeitos do confinamento, mas acrescenta que os ensinamentos extraídos, ao nível dos procedimentos, vão ser determinantes para levar a cabo, com sucesso, a próxima edição desta iniciativa tão importante para o Aftermarket em Portugal. O objetivo, sublinha, é manter a formação presencial, embora tudo esteja preparado para uma situação em que se venha a revelar necessário um novo confinamento. Para isso “equipámos todas as nossas salas com câmaras para a assistência às aulas, fruto de um investimento avultado. Ou seja, concebemos um modelo híbrido entre aulas presenciais e online; podemos ter participantes em casa e outros em contexto de aula. É mais um testemunho da importância das competências digitais”, assume o responsável pela PósGraduação.

FOCO NO SETOR AUTOMÓVEL FAZ A DIFERENÇA A clara orientação do curso para o setor automóvel foi a principal razão que levou António Costa, responsável financeiro na Auto António Costa Furtado, a interessar-se pela PósResponsável financeiro na Auto Furtado Graduação em Aftermarket do ISCTE e da DPAI. “Já fiz diversas formações ligadas à Gestão, nas vertentes Financeira, Logística ou de Marketing, mas é muito diferente e muito mais enriquecedor participarmos em algo que está direcionado para a nossa atividade. Foi esta a razão que me levou a participar neste curso: a especificidade no setor automóvel, que não encontramos noutros programas”. Embora especialmente interessado em aprofundar os conhecimentos de gestão que já possuía, transpondoos para o setor automóvel, António Costa também dá importância ao facto de o curso se debruçar praticamente sobre todas a vertentes que formam o Aftermarket. “Tanto encontramos alguém ligado a um concessionário, como um profissional que desenvolve a sua atividade num fabricante de peças, um retalhista, um distribuidor ou alguém que trabalha numa oficina. Conseguimos lidar de perto com toda a cadeia de valor. Isso permite-nos compreender o ponto de vista de cada um”.

fazia realmente falta, e com o objetivo de tornar a aprendizagem aplicável em contexto de trabalho”. BALANÇO E EVOLUÇÃO DO PROGRAMA Com a quarta edição desta iniciativa prestes a chegar ao fim (a próxima deverá começar em janeiro), o balanço que Crespo de Carvalho faz é bastante positivo, embora tivesse sido necessário proceder a alguns ajustamentos ao nível de conteúdos e de metodologias, fruto das experiências anteriores. Com o objetivo de melhorar o plano curricular, “houve a inclusão de questões que são absolutamente críticas, como a componente digital. Orientámos a abordagem de marketing precisamente para a vertente digital e adequámos os módulos iniciais e finais ao nível de tendências e desafios; quase todos os módulos passaram a ser muito mais orientados para as necessidades do setor e para os tempos em que vivemos”. Crespo de Carvalho faz uma avaliação positiva sobre o nível atingido pelos formandos no final dos nove meses de formação, sobretudo quando com33

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ATUALIDADE

A formação é fundamental para o sucesso das organizações - dos distribuidores de peças às oficinas. É esse o ponto de partida da Pós-Graduação organizada pela DPAI e pelo ISCTE

para com o estádio de conhecimentos que tinham no início dos trabalhos. “Afinal, nove meses acaba por não ser muito tempo, porque temos apenas uma sessão mensal, logo, a formação acaba por estar dividida em vários momentos”. Outro motivo de satisfação tem a ver com as opiniões que são expressas nos inquéritos realizados no final dos trabalhos, com a generalidade dos participantes a elogiar a experiência por que passaram, dando conta de que estão muito melhor habilitados a contribuir para o sucesso das respetivas organizações. E dizendo, sem margem para dúvidas, que recomendam a Pós-Graduação a qualquer profissional que queira ter sucesso no futuro. Sobre este ponto, Crespo de Carvalho refere que, ao longo das sessões, são vários os relatos que lhe chegam de colegas dos participantes que desejam viver a mesma experiência, o que considera um registo importantíssimo, pois permite criar um “clima” de networking, um tipo de ‘diáspora’ que considera essencial para expandir os conhecimentos. Para este objetivo central muito contribui, também, o facto de curso ser frequentado por profissionais oriundos dos vários subsetores, portanto com características muito distintas. Segundo Crespo de Carvalho, a partilha de experiências e de conhecimento entre pessoas com visões diferenciadas, por vias das diferentes áreas da sua atividade profissional, acaba por ser um elemento enriquecedor para elas e para própria Pós-Graduação. No ambiente de sala “é comum existir a troca de impressões e o convívio entre o fornecedor, o distribuidor e o retalhista, ou seja, entre quase toda a cadeia que forma o setor. Este é, aliás, um dos principais objetivos deste projeto: ver os diversos players a partilhar problemas e a encontrar soluções sobre realidades de que, de outro modo, dificilmente falariam. Ou seja, proporcionar aos intervenientes uma melhor noção sobre as dificuldades de quem opera do outro lado.

MUITO TRABALHO PELA FRENTE Após quatro edições da Pós-Graduação, Crespo de Carvalho aponta a heterogeneidade do tecido empresarial como uma dificuldade para implementar uma estratégia única, capaz de elevar a fasquia dos conhecimentos, das pessoas e das organizações. Diz, por exemplo, que é fundamental ter em conta as diferenças de perspetivas entre responsáveis por empresas pequenas e muitas vezes familiares e organizações com fortes ligações a grandes operadores internacionais, com acesso muito mais fácil a realidades mais evoluídas. “Para uns e para outros” – refere – “os problemas não se resolvem sempre nos mesmos locais e da mesma forma”, salienta. Apesar dessa disparidade, Crespo de Carvalho diz que existem diversas áreas cuja necessidade de maiores competências se faz sentir, independentemente da dimensão ou das ligações das empresas. Entre as principais aponta como exemplos o Marketing (e em especial o Marketing digital), as Finanças e a gestão de stocks. Há, segundo refere, “um longo trabalho a fazer. Os desafios são enormes, o setor é muito vasto e, portanto, não bastam quatro edições da Pós-Graduação. São precisas muitas mais para começar a introduzir uma nova linguagem que contribua para a introdução das melhores práticas no setor”, conclui.

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ESPECIALISTA

KRAUTLI PORTUGAL CELEBRA 30 ANOS

REFERÊNCIA NO “AFTERMARKET” QUER CONTINUAR A CRESCER Passados 30 anos de atividade da Krautli em Portugal, José Novais Pires, diretor geral da empresa, recorda as etapas que lhe permitiram assumir-se hoje como uma referência no Aftermarket no nosso País. E destaca a permanente aposta no crescimento como elemento essencial para o sucesso alcançado, uma estratégia que promete prosseguir e que pode passar por novas aquisições Texto David Espanca

A

Krautli Portugal fez, nos últimos anos, uma forte aposta no crescimento, a qual lhe valeu uma posição de destaque no Aftermarket nacional. O ano em curso fica marcado pela pandemia mas, também, pelo trigésimo aniversário da empresa. José Novais Pires, diretor-geral da Krautli Portugal, recorda como tudo começou. “Em 1989 criei uma empresa para trabalhar os tacógrafos da VDO, que hoje pertence à Continental. Na altura estava-se a proceder ao 'retrofit' do parque de pesados, para cumprir a diretiva europeia para os tacógrafos”. Sucede que “os investimento em causa tornaram-se muito elevados, devido ao volume de veículos a instalar e, no fim de 1990, por sugestão da VDO, associei-me a Markus Krautli, que entrou na empresa como sócio maioritário, explicação para a designação Krautli Portugal”, relembra José Pires.

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Foi esse o momento de viragem, a partir do qual teve início a diversificação do portefólio, primeiro com produtos elétricos e eletrónicos, e depois na mecânica. SEMPRE A CRESCER O crescimento ao longo do tempo levou primeiro à mudança para Santa Iria de Azóia e, em 2016, para as instalações atuais da sede, na Póvoa de Santa Iria. Destaque, ainda, para a abertura no Porto, em 2005, e a chegada a Coimbra, em 2013. A diversificação do portefólio de produtos também tem assumido um papel importante,. Nomeadamente a entrada na área da mecânica, em 2008, com a Textar e a Mann Filter, sendo “o passo inicial para nos tornarmos num operador de referência no pós-venda independente”, refere o diretor-geral da Krautli Portugal que destaca, ainda, a incorporação da distribuição da 36


A Krautli comercializa mais de 80 marcas premium com cerca de 200 mil referências, das quais mantém em stock mais de 50 mil num esforço permanente de apoio aos operadores do sector da reparação e manutenção

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Valvoline em 2010 e, principalmente, “o crescimento notável que tivemos durante a crise de 2008-2011”. Atualmente, a Krautli tem um papel bastante ativo no Aftermarket em Portugal, nomeadamente ao nível de distribuição de produtos e peças. A prová-lo, está o facto de comercializar mais de 80 marcas “premium”, com cerca de 200 mil referências, das quais mantêm em “stock” mais de 50 mil. Segundo o responsável máximo da Krautli Portugal, “existem vários formatos de distribuição, mas todos eles concorrem para fazer chegar o produto aos instaladores – seja através de estruturas locais de fornecimento (retalhistas ou lojas de importadores) ou através de plataformas de venda 'online'”. No que à Krautli diz respeito, a sua estrutura de distribuição tem sido a tradicional, ou seja, “fornecemos retalhistas que são os nossos parceiros

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José Pires lamenta que muitos retalhistas encarem os grandes operadores como uma espécie de armazém e não augura um futuro promissor para quem se comporta dessa forma

A correta identificação das referências é fator decisivo para o negócio e uma aposta forte da Krautli

na cobertura do mercado local, com 'stock' e serviço para as oficinas, mas sempre nos mantivemos atentos às várias tendências e alterações aos modelos existentes”. Por isso mesmo, José Novais Pires garante que estão prontos “para ajustar a forma de trabalhar sempre que seja necessário para garantir a cobertura nacional homogénea das nossas vendas”. Uma das premissas é a comparação que fazem sempre da sua implantação em cada zona com o respetivo parque circulante, que “ajuda-nos a tomar as decisões adequadas no que diz respeito à distribuição”. A Krautli Portugal é hoje um distribuidor com uma gama muito abrangente, facto que lhe permite assumir-se como uma “one stop shop”, cobrindo a maior parte das necessidades de peças do mercado independente. Ainda assim, está fortemente empenhada em continuar a introduzir novas gamas de produtos, para colmatar lacunas que estão identificadas e incluir no portefólio componentes que estão a ser fornecidos quase em exclusivo pelas OES” - refere.

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"É essencial estarmos atentos a todos os fatores de mudança e às suas implicações" ADAPTAÇÃO À MUDANÇA É FATOR DE SUCESSO Tal como o país, também a Krautli sofreu com os efeitos da pandemia, mas a empresa optou por transformar a adversidade numa oportunidade para mudar. José Pires não tem dúvidas de que “o sucesso depende da adaptação à mudança que, para nós, tem sido uma constante ao longo destes anos”. É essencial estarmos atentos a todos os fatores de mudança e às implicações de cada um deles na atividade para nos podermos ajustar e, em muitos casos, reinventar”. A propósito da comemoração dos 30 anos da Krautli Portugal, José Novais 38

Pires adianta que “gostávamos de celebrar as vitórias com os nossos parceiros em ambiente chegado, pessoal, mas, infelizmente, nas circunstâncias atuais isso não é possível. Fomos forçados a adiar as celebrações que tínhamos previsto para este ano, para quando possamos estar juntos, sem restrições”. Quanto à atual situação que o setor atravessa o diretor geral da Krautli Portugal entende que “o mercado independente está a recuperar aceitavelmente dos meses tenebrosos de abril e maio e penso que no final do ano a quebra do volume de negócios será, no máximo, de 5%, face a 2019”. No caso da empresa, graças à introdução de novas gamas de produtos e ao crescimento em algumas áreas de negócio, a estimativa aponta para o fecho do ano em linha com o resultado de 2019. DEVOLUÇÃO DE PEÇAS PREOCUPA SETOR José Novais Pires aponta como problema transversal a todos os operadores independentes aquilo que designa de logística inversa. “Em geral, cerca de 12


KRAUTLI: UMA HISTÓRIA CENTENÁRIA por cento de todas as vendas dos distribuidores são devolvidas. Isto comporta custos exorbitantes! As razões são várias, mas a principal é a identificação incorreta das peças, apesar da quantidade de informação disponível”. Para contornar esta dificuldade, a Krautli Portugal tem implementado ferramentas de que os retalhistas necessitam, continuando a aprimorá-las com vista a simplificar o trabalho dos operadores a jusante na cadeia de distribuição. Isto a par da formação técnica e comercial, que é um elemento essencial na atividade da empresa. Além disso refere que “muitos retalhistas habituaram-se a encarar-nos como os armazéns deles. Têm surgido, inclusivamente, nos últimos tempos, retalhistas que têm o 'conceito' de trabalhar sem 'stock', dependendo totalmente do serviço dos distribuidores. Não vaticino um futuro de sucesso para esses operadores”, remata. Ainda sobre a logística, considera “que por mais eficaz que seja é sempre insuficiente na perspetiva de muitos retalhistas. Já não basta entregar 'até às 11h', tem de ser 'até às 10.15h'. O ramo

A história da família Krautli no setor automóvel teve início na Bélgica. No fim dos anos 20 do século passado, há quase 100 anos, Gottlieb Krautli, pai de Markus Krautli (atualmente sócio da filial portuguesa), deixou a Suíça por não querer trabalhar no negócio de azulejos da família. Foi então que aproveitou uma oportunidade para comprar peças que estavam retidas na alfândega belga por falta de pagamento, começando assim o negócio da distribuição. Durante a Segunda Guerra Mundial voltou para a Suíça, iniciando a empresa em Zurique, em 1941, expandindo depois a atividade para França e Itália. No final de 1990, deu-se, então, a entrada no mercado nacional, através da associação a José Novais Pires. Ao longo destas três décadas, a empresa tornou-se numa referência no Aftermarket do nosso País, destacando-se enquanto distribuidor de peças.

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ESPECIALISTA NEXUSAUTO E PROFISSIONAL PLUS

CONCEITOS OFICINAIS APOSTAM NA PRESENÇA LOCAL

Uma das apostas fortes da Krautli Portugal é no setor oficinal, através das redes NexusAuto e Profissional Plus. Na verdade, afirma José Novais Pires, “não estamos presentes no setor oficinal comum já que, regra geral, não fornecemos oficinas. Apoiamos os nossos parceiros locais para que estes o possam fazer, pois acreditamos que só com presença local se pode ter sucesso”. A exceção é a divisão de serviços para a mobilidade, que trabalha com produtos específicos. Estes são fornecidos diretamente às oficinas, por necessitarem de formação e de apoio exclusivos. Por exemplo, “no caso dos produtos legislados, como os tacógrafos ou o ar condicionado, temos de estar em contacto direto com os instaladores” – refere Novais Pires. Para tal, continua, “temos redes de oficinas específicas que desenvolvemos nestas áreas – nos tacógrafos os serviços oficinais VDO e os serviços VDO DTCO+, os Dometic Truck Partners e os VDO Diesel Repair Services, na área do 'common rail diesel' ”. Os conceitos oficinais NexusAuto e Profissional Plus são, assim, “ferramentas de apoio às oficinas, para que estejam adequadamente apetrechadas com todas as condições para prestarem os serviços necessários aos utilizadores”. As oficinas NexusAuto e Profissional Plus são fornecidas pelos seus parceiros locais. A Nexus tem três membros em Portugal, cabendo a cada um trabalhar de acordo com objetivos comuns de presença geográfica, sob uma coordenação central, utilizando esta mais-valia importante para ajudar as oficinas (e, consequentemente, os retalhistas) a desenvolverem o seu negócio com sucesso. “O nosso negócio depende das oficinas, que instalam as peças que fornecemos. Por isso é para nós muito importante facultar-lhes todos os meios e ferramentas que pudermos para que a sua atividade seja um sucesso”, remata o diretor-geral da Krautli Portugal.

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José Pires garante que o aftermarket tem que prepararse para o impacto decorrente da cada vez maior presença dos operadores OES nas oficinas e no mercado independente. Se não o fizer os danos poderão ser devastadores

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tem uma logística mais apurada que a do fornecimento às farmácias, o que é um 'overservice' desnecessário. Uma vez mais, sofre-se pela falta de organização e/ou falta de meios de muitos operadores”. Quanto aos desafios do futuro, o CEO da Krautli Portugal aponta como a tendência mais evidente “a presença dos operadores OES no mercado independente, que penso que vai aumentar, particularmente num período de crise de venda de viaturas novas”. Assim sendo, continua, “temos de 'jogar' com a nossa grande vantagem – a disponibilidade. Precisamos de ajustar continuamente os nossos 'stocks' para termos o que é preciso quando é preciso. Isso inclui estarmos atualizados em relação ao parque automóvel, nomeadamente à evolução das viaturas a energias alternativas, cuja presença é ainda muito pequena mas que precisa de peças.A nossa estratégia é continuar a fortalecer o nosso portefólio com mais produtos e com mais soluções para a mobilidade. Queremos continuar a crescer, e não necessariamente só de forma orgânica. Estamos abertos a possibilidades de aquisições”.


E D I Ç Ã O

E S P E C I A L

O GUIA PARA QUEM SE QUER AVENTURAR FORA DE ESTRADA

5€ NAS BANCAS


ESPECIALISTA

NOVA ESTRATÉGIA

BREMBO APOSTA NA PROXIMIDADE AOS PARCEIROS Daniele Schillaci, CEO da Brembo, explica, em declarações à Turbo Oficina, a nova estratégia da empresa: “queremos ser um fornecedor de soluções que ajudem os nossos parceiros a enfrentar os desafios do futuro” Texto Pedro Afonso

L

íder mundial em sistemas de travagem e referência absoluta no equipamento de automóveis de luxo ou de altas performances, a Brembo está a preparar-se para enfrentar os desafios da eletrificação e as oportunidades da digitalização.

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Em declarações à Turbo Oficina, Daniele Schillaci, CEO da empresa, refere que o objetivo é uma maior aproximação aos parceiros, “ajudando-os com soluções que lhes permitam encarar os desafios do futuro. Queremos tornar-nos um fornecedor de soluções”. Esta mudança é facilitada pela saúde 42

que a Brembo respira a todos os níveis. À imagem forte a empresa junta uma solidez financeira invejável. “Como todos sabemos, no primeiro trimestre o mercado automóvel caiu 24% a nível global, mas os lucros da Brembo diminuiram ‘apenas’ 13%. Significa que a empresa teve uma performance me-


Daniele Schillaci, CEO da Brembo, anuncia em entrevista à Turbo Oficina que a empresa especialista em travagem quer alargar o seu âmbito de atuação e assumir-se como fornecedora de soluções aos seus parceiros

lhor do que o mercado, tal como sempre aconteceu no passado e acreditamos que conseguiremos manter essa tendência no futuro”. ALTERAÇÃO DE ESTRATÉGIA “Recentemente” – explica-nos Daniele Schillaci – “anunciámos a nossa nova estratégia para nos tornarmos naquilo que definimos como um fornecedor de soluções, através da comercialização de produtos e serviços mais digitais e inteligentes. Acreditamos que é o momento certo para abrirmos novos horizontes para o futuro do mercado e apoiar os nossos parceiros nos desafios que se avizinham”. É uma mudança estratégica sem, no entanto, afetar aqueles que são os valores essenciais da empresa e, principalmente, um posicionamento alicerçado nas tecnologias mais evoluídas e nos mais altos 'standards' de qualidade. Características que valeram um forte reconhecimento, nomeadamente junto dos construtores de automóveis de luxo e desportivos. “É aí que conseguimos expressar todas as nossas capacidades tecnológicas, permitindo-nos desenhar, desenvolver e produzir sistemas de

travagem no seu todo, incluindo pistões, pastilhas e discos, muitas vezes fabricados em fibra de carbono” – refere o CEO da Brembo. ”Fornecemos todas as marcas premium a nível mundial, mas cada vez mais vemos outros fabricantes que nos escolhem para melhorar os seus automóveis, recorrendo a tecnologias que, em geral, apenas eram utilizadas pelas marcas de luxo, onde a Brembo é líder mundial. Alguns exemplos recentes são a Alpine, o Kia Stinger ou o 500 Abarth, apenas para citar algumas marcas e modelos não premium que escolheram os sistemas Brembo para as suas propostas mais desportivas ou topo de gama. Além disso, fora do perímetro das marcas de luxo existem alguns casos em que fornecemos apenas os discos de travão”. Nesta incursão por segmentos onde a marca não estava representada até há ainda não muito tempo, a Brembo faz, no entanto, questão de preservar os mais altos padrões tecnológicos e de qualidade. De acordo com a empresa, a principal razão para essa aposta tem a ver com o facto de "os sistemas de travagem Brembo serem, em primeiro lu43

gar, produtos de segurança e, por isso, a sua qualidade é essencial. Todas as fábricas espalhadas pelo mundo estão alinhadas pelos mesmos padrões de qualidade. É uma regra para todos os produtos, quaisquer que sejam os segmentos ou regiões”. NOVAS FÁBRICAS SE NECESSÁRIO É também uma regra que enquadra a alteração estratégica já descrita por Daniele Schillaci, e que tem como objetivo estabelecer com os parceiros laços fortes, que permitam trilhar com eles os caminhos do futuro da mobilidade. O foco neste objetivo é total, de acordo com a empresa, a ponto de, como nos foi referido, existir a intenção de abrir novas fábricas “se tal se revelar necessário”. Até porque essa pode ser a forma mais eficaz de responder aos novos desafios que se colocam a toda a indústria automóvel, os quais estão na base da decisão da Brembo se transformar naquilo que define como um fornecedor de soluções no âmbito, portanto, da alteração de estratégia anteriormente referida. Para a empresa é claro que a digitalização, a eletrificação e a condução autó-

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ESPECIALISTA

noma são exemplos das grandes tendências que estão a mudar a indústria automóvel, os veículos, o seu desenvolvimento e o seu design. Segundo a empresa, "a complexidade e a pressão sobre todos os players está a aumentar, a par, aliás, das expetativas dos consumidores”. A Brembo considera, por isso, que este é o momento para se focar no apoio aos seus parceiros “ajudando-os a enfrentar aqueles desafios e, ainda mais, de os surpreender, antecipando o impacto dessas megatendências nos seus produtos, aconselhando-os com vista a tomarem as melhores decisões”. Para isso a estratégia desenhada tem por base três pilares: digital, global e marca virada para o futuro. “A Brembo ambiciona ser uma empresa digital, propondo soluções digitais. Para isso vai mesmo reforçar de forma muito significativa o investimento em investigação e desenvolvimento, criando centros de excelência em diferentes regiões. Isto porque a empresa acredita que, desta forma, "poderá tornar-se numa marca mais aspiracional para as próximas gerações”. Sobre o futuro, a empresa assume que tem como objetivo antecipar o impacto das megatendências que estão a

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moldar a indústria automóvel e, além disso, conseguir surpreender os parceiros oferecendo soluções que são as mais avançadas no plano da inovação. “A Brembo está a seu lado, construindo com eles soluções de mobilidade sustentável”. A Brembo diz olhar para o futuro com

A Brembo anuncia alterações estratégicas que, no entanto, não alteram o seu foco na qualidade e na oferta das soluções tecnológicas mais avançadas. Os valores essenciais para a Brembo 44

confiança e para a mobilidade elétrica com total pragmatismo, ciente de que, qualquer que seja o tipo de veículo, a travagem é e será sempre um elemento essencial para a segurança e para o conforto. Mesmo um automóvel elétrico precisará sempre de um sistema de travagem que, no entanto, será elétrico em vez de um sistema hidráulico. O desafio é compreender e antecipar até que ponto chegará a eletrificação. Em termos gerais, os automóveis tornar-se-ão mais pesados e precisarão de maior capacidade de travagem. Para a Brembo isso significa disponibilizar melhores performances e elementos mais leves”. A Brembo garante que tem-se vindo a preparar para a eletrificação dos veículos, apostando em soluções que estão na vanguarda tecnológica.” Exemplo disso mesmo é o desenvolvimento dos sistemas BbW (Brake by wire) que asseguram uma capacidade de travagem superior à que encontramos nos automóveis equipados com sistemas convencionais. A empresa acredita, por isso, que os construtores integrarão, cada vez mais, sistemas BbW nos seus modelos futuros, estando bem preparada para satisfazer essa tendência.



TÉCNICA

PARA A MELHOR GESTÃO DOS RECURSOS HUMANOS

NÍVEIS DE PROFICIÊNCIA: O QUE SÃO E COMO AFERIR A correta gestão das competências de cada um dos trabalhadores pode ser o segredo do sucesso de uma empresa, nomeadamente de uma oficina. Aqui ficam algumas pistas de como, de uma forma simples e, em especial, transparente, se pode aferir o trabalho de cada um para que a rentabilidade final seja a mais desejada Texto Cláudia Ramos*

O

Capital Humano é considerado um dos ativos mais importantes das empresas. O Capital Humano engloba habilidades, experiência, conhecimentos, capacidades e perceções individuais dos colaboradores. A gestão do Capital Humano, em todas as suas vertentes, constitui um desafio para qualquer responsável hierárquico, pois as pessoas são, sem dúvida, o fator diferenciador de qualquer empresa, contribuindo de forma decisiva para o sucesso da mesma a partir da sua formação, da qualidade do serviço prestado e da capacidade de inovar. Merecendo esta questão um olhar especial, é aqui abordado o tema das competências e sugerido um modus operandi eficaz que pretende servir de base para a gestão das competências dos colaboradores.

der continuamente ao longo da vida, depende de uma aptidão cognitiva e engloba todas as formações teórico-práticas do colaborador. O saber-fazer é a capacidade de aplicar em contexto real de trabalho os conhecimentos adquiridos em formações teórico-práticas e está dependente de uma aptidão psico-motora do colaborador. O saber ser/saber estar é a capacidade de se relacionar de forma positiva com os demais colegas em ambiente de trabalho e está dependente das aptidões socio-afetivas do colaborador. Uma função ou cargo engloba um conjunto de tarefas específicas que devem ser executadas pelo seu ocupante. O nível de proficiência do colaborador em cada tarefa é fundamental para determinar a eficácia e eficiência com que o mesmo as desempenha.

O QUE SÃO COMPETÊNCIAS? Pode definir-se competência como um conjunto de habilidades ou capacidades que se subdividem em três dimensões: (1) o saber-saber, (2) o saber-fazer e (3) o saber ser/saber estar. O saber-saber é a capacidade de apren-

O QUE SÃO NÍVEIS DE PROFICIÊNCIA (NP)? Possuindo as competências exigidas para o exercício de determinada função, cada colaborador terá diferentes níveis de proficiência relativamente a cada tarefa. Esses níveis são definidos

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A correcta e justa avaliação de todos os trabalhadores é o segredo para o funcionamento harmonioso de uma oficina

por escalas quantitativas (números) e/ ou qualitativas (atributos tais como, por exemplo, “Bom”, “Muito Bom”) que definem o nível de domínio e de desempenho de um colaborador. É desejável que, para além da aferição das competências dos colaboradores, deva existir simultaneamente uma coordenação entre as competências, o correspondente nível de proficiência e a tarefa que vai ser realizada. Para facilitar esta gestão, que deve ser realizada periodicamente, torna-se necessário que seja construído a priori um registo do perfil de competências de cada colaborador e a posteriori a correspondente matriz de níveis de proficiência. COMO CONSTRUIR UMA MATRIZ PARA REGISTO DO PERFIL DE COMPETÊNCIAS? O primeiro passo será definir as diferentes áreas de trabalho existentes na


empresa, os diferentes postos de trabalho e as diferentes tarefas inerentes a cada posto de trabalho. Esta tarefa é denominada análise e descrição de funções e, normalmente, é realizada por um elemento da área de gestão de recursos humanos, em conjunto com os responsáveis hierárquicos dos diferentes departamentos. A análise e descrição de funções deve permitir identificar as competências necessárias para a execução de cada tarefa e estabelecer níveis de proficiência adequados para cada uma delas. A questão que se coloca em seguida é a de os colaboradores corresponderem os seus níveis de proficiência aos níveis de proficiência considerados adequados pelos responsáveis da empresa para a execução de cada tarefa. Para ir ao cerne desta questão, devem agendar-se reuniões individuais com os colaboradores de forma a que

ocorra um “diálogo de competências”, isto é, que seja comunicado e explicado ao trabalhador as competências e correspondente nível de proficiência exigível para as diferentes tarefas associadas à sua função. Por outro lado, neste diálogo de competências, deve também ser comunicado ao trabalhador o nível de proficiência que lhe é atribuído pelos seus colegas e responsáveis hierárquicos. A aferição dos níveis de proficiência de colegas e chefias resulta da aplicação de um questionário em ambiente de avaliação denominado 360 graus. Neste “diálogo de competências” deve também ser dada a oportunidade ao colaborador de realizar a sua autoavaliação. O registo de competências é realizado em três níveis: cognitivo (saber-saber), psico-motor (saber-fazer) e socio-afetivo (saber ser/saber estar) tal como referido anteriormente. Para registar as 47

competências cognitivas é sugerida a construção de uma matriz (ver Figura 1, pág. seguinte). Devem ser registadas apenas as competências reconhecidas e certificadas por uma entidade externa ou interna credível e habilitada para o fazer. O registo deve incluir todas as competências dos colaboradores quer sejam relevantes para o desempenho da função atual, ou não. Cada empresa deve registar as competências de acordo com o seu caso específico, sendo a Figura 1 um exemplo válido em termos de estrutura que pode ser reproduzido. Para registar as competências psico-motoras, ou seja, aquelas que estão relacionadas com aquilo que o colaborador é efetivamente capaz de realizar em contexto de trabalho, deve ter-se em atenção que existem competências adquiridas pela experiência que podem não estar certificadas. Estas

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TÉCNICA

A capacidade de trabalhar em equipa deve ser um dos mais importantes critérios de avaliação, no que respeita à área socio-afetiva

competências estão relacionadas com tudo o que o trabalhador aprendeu ao longo do seu percurso profissional e resultam de experiência adquirida em ambiente de tarefa. São competências válidas e devem ser registadas com a devida anotação da sua falta de certificação formal. Sugere-se, na Figura 2,

uma matriz de registo para as competências psico-motoras. O registo das competências socio-afetivas, ou seja, aquelas que estão relacionadas com a forma como o colaborador se relaciona com os demais colegas e também com os demais parceiros de negócio (por exemplo, clientes, forne-

cedores) em ambiente de trabalho, deve ser uma missão tripartida entre os responsáveis hierárquicos, os colegas de trabalho e o próprio colaborador (em regime de autoavaliação). Na Figura 3 sugere-se uma matriz para o registo de competências socio-afetivas passível de ser reproduzida em qualquer

FIGURA 1. MATRIZ DE COMPETÊNCIAS COGNITIVAS 1

2

3

4

Amândio Soares

Carlos Rebelo

Celso Dinis

Rui Carriço

NP ATRIBUÍDO

NP ATRIBUÍDO

NP ATRIBUÍDO

NP ATRIBUÍDO

COMPETÊNCIAS COGNITIVAS

NP ESPERADO

Licenciatura na área da mecânica

S

N

N

N

S

Curso técnico-profissional na área da mecânica

S

S

S

S

S

Domínio língua inglesa

S

N

S

S

N

Domínio outras línguas

NA

-

-

ALEMÃO

FRANCÊS

Outras competências

NA

-

-

-

-

Níveis de proficiência (NP) N = Não possui S = Possui NA = Não aplicável

FIGURA 2. MATRIZ DE COMPETÊNCIAS PSICO-MOTORAS 1

COMPETÊNCIAS PSICO-MOTORAS

NP ESPERADO

2

3

4

Amândio Soares

Carlos Rebelo

Celso Dinis

Rui Carriço

NP ATRIBUÍDO

NP ATRIBUÍDO

NP ATRIBUÍDO

NP ATRIBUÍDO

Proceder à manutenção programada de veículos de acordo 3 com a respetiva documentação técnica

2

3

3

2

Diagnosticar, reparar e verificar sistemas de direção, suspensão, travagem, segurança ativa, rodas e pneus.

3

2

3

3

4

Diagnosticar, reparar e verificar sistemas mecânicos de cli- 3 matização

3

2

3

4

Diagnosticar, reparar e verificar sistemas de arrefecimento e lubrificação

3

2

3

4

3

Níveis de proficiência (NP) 0 = Não conhece 1 = Insuficiente 2 = Satifaz 3 = Bom 4 = Muito Bom

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FIGURA 3. MATRIZ DE COMPETÊNCIAS SOCIO-AFETIVAS 1

2

3

4

Amândio Soares

Carlos Rebelo

Celso Dinis

Rui Carriço

NP ATRIBUÍDO

NP ATRIBUÍDO

NP ATRIBUÍDO

NP ATRIBUÍDO

COMPETÊNCIAS SOCIO-AFETIVAS

NP ESPERADO

Espírito de equipa

3

2

2

3

3

Orientação para o cliente

4

3

3

2

2

Comunicação

3

3

3

3

3

Capacidade de Liderança

3

2

4

4

4

Níveis de proficiência (NP) 0 = Não conhece 1 = Insuficiente 2 = Satifaz 3 = Bom 4 = Muito Bom

FIGURA 4. MATRIZ DE PROFICIÊNCIA COMPETÊNCIAS

NÍVEIS DE PROFICIÊNCIA

Cognitivas

Competências Indicadores

NP esperado NP tribuido colaborador

NP tribuido colegas

NECESSIDADE DE FORMAÇÃO NP tribuido chefia

A Elevada B Média

Notas adicionais

Licenciatura na área da mecânica Curso técnico-profissional na área da mecânica Domínio da língua inglesa Domínio de outras línguas

Socio-afetivas

Psico-motoras

Outras competências Proceder à manutenção programada de veículos de acordo com a respetiva documentação técnica Direção, suspensão, travagem, segurança ativa, rodas e pneus Diagnosticar, reparar e verificar sistemas mecânicos de climatização Diagnosticar, reparar e verificar sistemas de arrefecimento e lubrificação Espírito de equipa Orientação para o cliente Comunicação Capacidade de liderança

empresa, ressalvando mais uma vez, a necessidade de proceder aos devidos ajustes a cada caso específico. Terminada a tarefa de construção das matrizes cognitiva, psico-motora e socio-afetiva, o momento subsequente assume uma dimensão importante na gestão dos recursos humanos: o desenho da matriz de proficiência. O QUE É UMA MATRIZ DE PROFICIÊNCIA? É uma base de dados que nos permite comparar em uníssono os diferentes níveis de proficiência das diferentes competências. Nesta matriz são comparados os níveis de proficiência esperados, os níveis de proficiência atribuídos pela chefia e os níveis de proficiência atribuídos pelos colegas e pelo próprio colaborador (avaliação 360 graus). Tendo em vista que um número diz muito pouco isoladamente, é essencial que seja

atribuída, para aquela síntese numérica, uma interpretação qualitativa que se torne numa mais-valia para futuras intervenções a nível organizacional. Para esse efeito, esta matriz deve conter um espaço para notas adicionais. A Figura 4 representa um exemplo de matriz de proficiência que é feita individualmente para cada colaborador. As escalas a utilizar nesta matriz de proficiência, por uma questão de organização de todo o processo, devem manter-se iguais às utilizadas nas matrizes anteriores (ver Figuras 1, 2 e 3). A Figura 5 resume a escala e correspondente codificação utilizada. Esta matriz vai permitir, a partir do “diálogo de competências”, criar um clima de confiança na relação existente entre o trabalhador e a empresa. Dialogar, sendo a capacidade de se dirigir ao outro, neste contexto, visa transmitir mensagens claras, com o objetivo de melhorar 49

FIGURA 5. CODIFICAÇÃO DOS NP Código Descrição N Não possui S Possui NA Não aplicável 0 Não conhece 1 Insuficiente 2 Satisfaz 3 Bom 4 Muito Bom

rotinas e procedimentos de trabalho. A correta aplicação desta metodologia é um vetor de melhoria contínua ao nível dos recursos humanos, tornando possível uma qualificação sustentada dos colaboradores. Permite ganhar uma maior consciência profissional e consequente abertura para soluções e para novos cenários. * Docente da Escola Superior de Tecnologia de Setúbal do Instituto Politécnico de Setúbal

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TENDÊNCIAS E NOVIDADES

ILUMINAÇÃO AUTO: O FUTURO É BRILHANTE A iluminação automóvel tem registado grandes evoluções, sendo hoje complexos sistemas inteligentes. O halogéneo é, ainda, dominante, mas é já claro que a tecnologia LED veio para ficar Texto David Espanca

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setor da iluminação automóvel revela sinais de crescimento, denotando grande maturidade, graças ao dinamismo dos operadores que apostam, cada vez mais, nas tecnologias de última geração. Apesar de a iluminação de halogéneo ser, ainda, dominante, a tecnologia LED está a marcar o seu território, por ser muito mais eficiente, mesmo ao nível da redução das emissões de CO2. Além disso, os especialistas acreditam que, no caso das luzes de travagem, a iluminação LED possibilita uma reação do condutor 30% mais rápida. Não menos importante, alguns fabricantes revelam que os LED têm uma vida útil de 15 mil horas. Não admira, assim, que a tecnologia LED esteja cada vez mais presente em equipamentos originais, sobretudo em modelos de última geração, ou opcionais. No entanto, como lembra Solène Cloâtre, gestora de produto de iluminação da Bosch Automotive Aftermarket, “a tecnologia halógena ainda representa o maior volume do mercado e tem ainda belos anos pela frente”. Seguindo a tendência de todo o aftermarket, também o setor da iluminação está empenhado em retomar o seu normal funcionamento. E, de uma maneira geral, todos os agentes com quem falámos dizem estar otimistas quanto ao futuro, anunciando, mesmo, o lançamento de novos produtos para os próximos meses. Mónica Violante, SP “marketing iberia” da Osram, considera fundamental estar atento às constantes mudanças do mercado, bem como “às novas oportunidades, para poder continuar a oferecer as melhores soluções e o melhor serviço”. Neste momento, prossegue, “estamos munidos das ferramentas que julgamos necessárias para enfrentar o que possa surgir na 'nova realidade' com muita tranquilidade”. Também a marca Lucas, comercializada pela TRW Automotive Portugal, “foi bastante penalizada pela pandemia. No entanto, o último trimestre revelou já 51

alguma recuperação, compensando parcialmente perdas anteriores”, avança André Martinho, gestor de produto. “A nossa atividade esteve em modo hibernação entre maio e junho”, descreve Frederico Abecasis, “sales manager” da Hella Portugal, que destaca o aumento da procura verificado no final de junho. Quanto a julho “registámos, mesmo, uma faturação já acima do plano”. Desde então, prossegue, “temos assistido a uma retoma consistente da procura dos nossos produtos e esperamos que essa tendência seja para continuar”. AFTERMARKET EM RECUPERAÇÃO Quanto às perspetivas de evolução, André Martinho aponta para a continuação da recuperação no último trimestre do corrente ano, relativamente ao anterior período, “se bem que se mantém a incerteza quanto a um eventual agravamento da pandemia, conforme tem ocorrido em Espanha e França, que poderão penalizar novamente o mercado”. Idêntica opinião tem Frederico Abecasis: “Este ano há um grau de incerteza elevado. Não obstante, cremos que chegaremos ao final de dezembro com uma ligeira quebra em relação ao ano anterior.” E quando se fala em tendências, o responsável da Hella não deixa de salientar que elas estão muito ligadas ao panorama de pandemia que se vive. Nesse sentido, afirma que atualmente se nota muito “o recurso ao veículo particular em detrimento do transporte público e, para além disso, a manutenção do automóvel atual que, eventualmente, estava a ponto de ser trocado por um novo”. Devido ao atual panorama, conclui que “a mudança de atitude de 'trocar' para 'ficar' influí positivamente na venda de peças para o aftermarket”. Por seu lado, Mónica Violante afirma que a Osram quer privilegiar a “proximidade ao cliente e dar-lhe ferramentas para desenvolver, com sucesso, o seu negócio nestes tempos de maior incerteza”. Ao nível do produto, a Osram vai continuar a apostar em artigos inovadores com tecnologia LED, mantendo

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o calendário previsto para o lançamentos de novos produtos. Além disse, a empresa promete alargar o seu portefólio, nomeadamente com uma nova categoria de produtos designada BLS (Beyond Light Sources), que inclui acessórios para automóvel, como compressores para pneus, e dispositivos destinados a prolongar a vida da bateria. NOVIDADES ANIMAM MERCADO A responsável da Osram garante, ainda, que “existem muitas novidades na calha: desde novas lâmpadas LED, a equipamentos para farol, farolins e piscas de espelho dinâmicos e inclusive novas luzes de condução LEDriving”. Quanto à Lucas, o gestor de produto da TRW Automotive Portugal anuncia o “lançamento de novas embalagens para retalho das lâmpadas Lucas e de novos expositores”. Trata-se, neste caso, de um expositor de parede com 200 Lâmpadas com construção modular para fácil visualização e acesso às lâmpadas, “para além da lâmpada HIR2 recentemente acrescentada à gama”. Relativamente ao produto em si, André Martinho esclarece que “não se conhecem no mercado evoluções tecnológicas assinaláveis”. Opinião diferente tem o “sales manager” da Hella Portugal: “As mais recentes evoluções são, para além da tecnologia LED, o LCD que, no fundo, é uma evolução quântica do sistema LED e que permite, para além das características de rendimento e durabilidade já conhecidas dos sistemas LED, um foco de tal maneira preciso que nos oferece a possibilidade de 'desenhar' e projetar figuras no asfalto e destacar obstáculos na via.” Por isso, segundo Frederico Abecasis, “é esse o caminho que estamos neste momento a desenvolver ativamente na Hella para que possa ser aplicado em soluções de automóveis num futuro muito próximo”. Para já, a Hella anuncia o “lançamento dos faróis adicionais em novas versões LED muito atrativos, como sejam o Luminator LED Edgelight, o Rally Edgelight e os novos faróis Jumbo LED com o 'smile' em LED de luz diurna, que é neste momento a joia da coroa”. O IMPORTANTE PAPEL DAS OFICINAS Quando falamos em iluminação automóvel, não nos podemos esquecer da importância que as oficinas desempenham junto dos clientes, no sentido de os elucidar sobre as diversas opções que existem, mas também, e sobretudo, para os “educar” sobre o quão importante é que os veículos estejam “iluminados a rigor”. É, pois, a segurança do veículo e dos seus ocupantes que está em causa! Uma oficina independente que queira ter uma relação de confiança e livre de reclamações com o seu cliente, “deverá sempre optar por produtos de

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qualidade comprovada de fabricantes de renome, que lhe garantem fiabilidade e qualidade superior de produto, apoio profissional e serviço pós-venda personalizado”, explica a SP “marketing iberia” da Osram. No fundo, prossegue, “evita problemas e queixas dos seus clientes, bem como contribui para a valorização do mercado e combate a concorrência desleal de pequenos fabricantes menos fiáveis, que muitas vezes lançam para o mercado produtos contrafeitos que constituem um perigo em si pela sua fraca qualidade e materiais pouco fidedignos”. A mesma ideia é defendida pelo responsável da TRW Automotive Portugal. “A oficina deverá sempre assegurar a identificação e instalação correta de um produto de qualidade, sem qualquer defeito que possa comprometer a segurança ou a satisfação do cliente.” Segundo revelam alguns estudos, a maioria dos condutores confia fortemente nos conselhos das oficinas ao selecionar novas peças, pelo que dedicar algum tempo para explicar a importância da iluminação de qualidade é bom para os condutores e bom para os negócios. Ajuda a construir confiança ao demonstrar experiência, ao mesmo tempo que mostra preocupação genuína com a segurança do cliente. Substituir as luzes regularmente e em pares significa que os 52

As novas tecnologias de iluminação, associadas aos sistemas de visão noturnas e de identificação de obstáculos, tornam a condução mais segura


SUBSTITUIR LÂMPADAS AOS PARES Para o correto funcionamento do sistema de iluminação, a Bosch Automotive Aftermarket aconselha “a substituição as lâmpadas por jogos, o que evitará uma disparidade de iluminação entre o lado direito e o lado esquerdo. Além disso, a vida útil de duas lâmpadas novas que se encontrem nas mesmas condições é mais ou menos a mesma, de modo que quando uma funde é uma questão de tempo até que a outra falhe”. Solène Cloâtre, refere, também, que “as lâmpadas não precisam de ser trocadas apenas quando estão fundidas, sendo aconselhável substituí-las a cada dois anos. Deve-se evitar tocar nas lâmpadas, uma vez que quando os dedos entram em contacto com estas, uma fina camada de gordura que se encontra na pele é depositada na lâmpada, queimando e criando uma camada opaca que diminuirá a potência e o feixe de luz, além de causar o aquecimento desigual, o que reduz a sua vida útil”. A gestora de produto da Bosch recorda que “o ajuste incorreto dos faróis pode causar risco de encadeamento aos condutores”. Por isso, “é imprescindível verificar o seu ajuste e a correta fixação do bulbo, pois pode causar vibração excessiva e curto-circuitos nos filamentos que escurecem a lâmpada”. Os critérios que uma oficina deverá seguir aquando da escolha de produto de iluminação deverão passar pela qualidade. Frederico Abecasis destaca que “quanto mais avançada está a tecnologia, mais gritante é essa necessidade, uma vez que as cópias dos faróis originais podem levantar problemas de reconhecimento por parte da unidade de comando do veículo e como tal, é sempre um risco optar pelas cópias, por melhor qualidade que estas possam oferecer”. O “sales manager” da Hella Portugal crê que “o argumento do 'plug and play' que oferece um farol original Hella, é uma poupança de tempo, recursos e problemas, parâmetros que uma oficina não se poderá alhear”. Tendo já o futuro assegurado, é só uma questão de tempo até que a tecnologia LED assuma as rédeas de uma área que se apresenta com um forte dinamismo, sendo esta uma mais-valia para o tão importante crescimento e desenvolvimento do setor do aftermarket.

clientes estão mais bem equipados nas estradas, ao mesmo tempo que aumenta as vendas. “Uma verdadeira situação 'win-win'”, conclui Mónica Violante, acreditando ainda que “a indústria de reparação automóvel não só tem o poder de mudar o comportamento dos condutores, como também a responsabilidade de fazê-lo”. Naturalmente a questão da segurança é um argumento de peso, sendo que “as lâmpadas, apesar de pequenas peças com custo relativamente reduzido, têm com enorme importância a esse nível, tanto na capacidade de visão do condutor e na visibilidade do próprio veículo face aos demais condutores”, avança André Martinho. De forma a facilitar a correta identificação das lâmpadas por parte das oficinas, continua, “a Lucas dispõe de um catálogo de aplicações completo, sendo que a gama está também presente no catálogo eletrónico TecDoc”. Argumenta ainda que “as lâmpadas Lucas são concebidas para oferecerem um desempenho equivalente ao do equipamento original, aliado a uma fiabilidade excecional, sendo sujeitas a procedimentos de teste meticulosos durante o processo de fabrico e não só, incluindo fluxo luminoso, cromaticidade, teste de durabilidade, vibração e choque, medição geométrica, teste segundo os padrões do Regulamento ECE n.º 37 e marcação 'E' quando relevante”. 53

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MARCAS E PRODUTOS DOS “PLAYERS” A iluminação automóvel é um setor cada vez mais tecnológico e, também fruto disso, apresenta uma vasta oferta de produtos, tornando por vezes a escolha mais complicado. Conheça aqui algumas das propostas que os “players” disponibilizam ao mercado oficinal.

e longa duração 24/7. Naturalmente que as lâmpadas H4 e H7 de farol principal continuam a ser os produtos estrela, sendo de referir o crescente peso das lâmpadas de Xenon/ HID, principalmente com refletor”.

OSRAM A Osram disponibiliza no mercado nacional as marcas Osram, Neolux e Ring, sendo a primeira a que tem maior peso. No que diz respeito à marca Osram, Mónica Violante adianta que “comercializamos um vasto portefólio de produtos de qualidade superior, desde lâmpadas standard, peças de substituição originais, a lâmpadas de valor acrescentado, que proporcionam ou maior duração (Ultra Life), ou maior luminosidade (Night Breaker) ou uma luz mais branca (Cool Blue Intense), e pode escolher de entre diferentes tecnologias: halogéneo, xénon ou LED”. Além disso, dispõem de uma vasta gama de luzes LED para inspeção e manutenção de veículos, “muito versáteis e práticas de usar, a gama LEDinspect”, acrescenta. Já a LEDinspect PRO está direcionada e adaptada para o mercado profissional, enquanto a LEDinspect foi concebida para os amantes de bricolage. Na vanguarda da tecnologia LED oferecem equipamentos LED para automóvel da gama LEDriving®, desde faróis LED, passando por farolins, piscas LED de espelho dinâmicos, até às luzes de condução de máximos auxiliares, todas com homologação ECE para utilização em estrada. “Pelo seu caráter inovador, tecnologia avançada, estética moderna e eficiência luminosa e energética, estes produtos LED são correntemente os nossos produtos estrela”, explica a responsável da Osram.

HELLA PORTUGAL A Hella Portugal representa as marcas Hella, Hella Pagid e Hella Hengst, todas elas presentes no primeiro equipamento e “marcas de uma qualidade a toda a prova”, assegura Frederico Abecasis, “sales manager” da empresa. Atualmente, o produto estrela “tem sido Travagem e Filtração, muito devido à alta procura no mercado que se tem verificado nestes últimos meses”, prossegue o responsável. Fora isso, a Hella está dividida em partes iguais entre iluminação, eletrónica e mecânica (Hella-Pagid e Hella-Hengst). Aliás, como faz questão de salientar o responsável da Hella: “São estes os três vetores de crescimento que formam o 'core-business' da companhia atualmente.” BOSCH AUTOMOTIVE AFTERMARKET A Bosch conta com uma ampla gama de produtos de iluminação, desde as lâmpadas para faróis, às luzes do habitáculo. No seu atual portfólio propõe uma oferta para a grande maioria dos veículos e as lâmpadas adequadas para todos os faróis e luzes, de 6V a 12 e 24V, sem esquecer as lâmpadas de descarga de xénon, nomeadamente as gamas Pure Light; Longlife Daytime; Xenon Blue; Ultra White; Plus 50; e Plus 120. A gama Ultra White para faróis “oferece um estilo moderno e elegante graças ao seu efeito de xénon branco, uma melhor e mais intensa luminosidade, com até 30% mais desempenho do que uma lâmpada de halogénio standard”. A gama Xenon White HID para faróis “permite obter um branco semelhante ao oferecido pelos faróis de LED, oferecendo também 20% mais desempenho do que uma lâmpada xénon padrão”, explica Solène Cloâtre. Finalmente, a gama Xenon Gigalight HID para faróis, prossegue, “fornece até 100% mais de luz na estrada em comparação com uma lâmpada de xénon padrão”.

TRW AUTOMOTIVE PORTUGAL A TRW Automotive Portugal, parte do grupo ZF, comercializa exclusivamente lâmpadas da sua marca Lucas com voltagens de 6V, 12V, 24V e 48V para automóveis, motociclos e veículos comerciais e pesados. Segundo André Martinho, gestor de produto da empresa, “inclui lâmpadas halogénio tradicionais, com melhoria de desempenho, HID (descarga de gás)

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ENTREVISTA

GIGANTE DOS LUBRIFICANTES

LIDERANÇA TECNOLÓGICA É PRIORIDADE DA MOTUL Marca de referência no setor dos lubrificantes, a Motul é, também, presença assídua nas pistas. As duas coisas estão ligadas já que, como afirma Ferran Carreras Boix, diretor geral da Motul Ibérica, “a competição desafia-nos e motiva-nos para criarmos os produtos mais evoluídos, capazes de responder às situações mais exigentes”. Para a Motul, a liderança tecnológica e satisfação total dos clientes são prioridades absolutas Texto Júlio Santos

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o próximo ano completa-se meio século desde que a Motul produziu o primeiro lubrificante 100% sintético, que marca para sempre a história da empresa. “Foi o primeiro óleo 100% sintético do mercado a nível mundial e ainda hoje é considerado como uma referência nos desportos motorizados. Impulsionado pelo sucesso do Century 2100 e inspirado nas 300 vitórias da Motul em diferentes competições, o 300 V converteu-se numa lenda que ainda hoje perdura” – recorda Ferran Carreras Boix, diretor geral da Motul Ibérica. “O forte envolvimento na competição possibilitou à Motul aplicar as tecnologias mais avançadas no desenvolvimento da gama 300V Motorsport, que permite extrair o máximo rendimento dos motores de competição”.

Ferran Carreras Boix, diretor geral da Motul Ibérica diz em entrevista à Turbo Oficina que a empresa está numa fase de grande expansão

Como está a Motul? A Motul está na Península Ibérica desde 1989. Passámos por muitas etapas e hoje consideramos que estamos numa fase de grande expansão do negócio, tanto no que diz respeito a novas divisões como em canais e gamas de produtos. Os investimentos que realizámos facilitaram o processo de crescimento que vivemos atualmente e é nosso desejo aumentar o investimento para conseguir-

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mos uma ainda maior notoriedade da Motul nos mercados espanhol e português. Estamos presentes em mais de 160 países oferecendo lubrificantes para o setor motorizado (carros, motos, camiões, náutica…) e, também, para a indústria (energia e processos produtivos). Estratégico é o investimento em Investigação e Desenvolvimento, que é muito forte e que crescerá no futuro. Isto porque é nossa intenção reforçar a liderança técnica e na área da inovação. O grupo está a trabalhar num projeto muito ambicioso que nos permitirá reforçar, ainda mais, a nossa imagem de especialistas, o que vai permitir-nos chegar ainda mais longe. Na Motul temos diferentes colaboradores a nível mundial, principalmente equipas de competição, industrias e embaixadores de marca. Estes colaboradores fazem-nos sair das nossas zonas de conforto, obrigando-nos a desenvolver soluções capazes de dar resposta às situações mais exigentes. ADITIVOS SÃO ESTRATÉGICOS Quais são as principais áreas de especialização da Motul? Somos especialistas em assegurar as necessidades de lubrificação para qualquer tipo de manutenção e processo produtivo, em todo o tipo de mercados e segmentos. Oferecemos solu-

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ções tanto para processos de fabrico como para a manutenção necessária a veículos e máquinas. A Motul conta com mais de mil referências entre o segmento motorizado e indústria, das quais comercializamos cerca de 650 na Península Ibérica. Quais são as principais divisões da Motul atualmente? As nossas divisões principais são as que estão ligadas ao automóvel e Powersport. E como analisa o negócio dos aditivos neste momento? Trata-se de uma área relativamente nova mas que parece estar a suscitar interesse crescente. Trata-se de uma área estratégica para nós. Estamos num momento de expansão e lançamento de novos produtos, temos uma gama muito bem estruturada e completa. Esperamos continuar a crescer rapidamente, graças à colaboração muito próxima que temos com os nossos parceiros, o que nos permite entender, cada vez melhor, as necessidades do cliente final. Nas áreas de lubrificantes e aditivos a marca Motul diferencia-se da concorrência mais pelos produtos que oferece ou pela forma como está no mercado? Graças à nossa aposta na inovação, bem como

ao trajeto da nossa filial nos últimos anos, conseguimos diferenciar-nos tanto pela qualidade do produto como pelo serviço que prestamos aos nossos clientes. Creio que o mercado compreendeu a nossa forma de trabalhar e os atributos da nossa proposta de valor são valorizados de forma positiva pelos diferentes agentes com quem colaboramos. Nesse sentido, qual é a principal característica da relação entre a Motul e os seus clientes (oficinas e mecânicos)? Temos uma relação que tem por base a confiança e estamos orgulhosos porque, cada vez mais, o nosso projeto de proximidade, seriedade e estabilidade comercial dá resultados que superam a tendência do mercado.

A Motul conta com uma gama de produtos composta por mais de mil referências, das quais 650 são comercializadas na Península Ibérica. A vanguarda tecnológica é o elo comum a todos os produtos que coloca no mercado

E qual o papel da formação? A formação é e tem sido, durante muitos anos, um dos grandes valores da nossa proposta de negócio. Todos os anos orgulhamo-nos de dar formação a mais de 2500 oficinas. A formação permite-nos estabelecer vínculos muito fortes com os profissionais do nosso setor. Aprendemos com eles e ajuda-nos a transmitir as vantagens dos nossos produtos a profissionais, que se querem diferenciar pela qualidade e por um serviço Premium. 57

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ENTREVISTA

A Motul tem uma presença forte da competição. O que retira dessa experiência? Desde o início que baseamos o nosso desenvolvimento tecnológico nos avanços requeridos pelas equipas de competição com quem trabalhamos. Colaboramos com eles ao nível de patrocínio e como de parceiro estratégico, melhorando o rendimento dos seus veículos e motores de alta tecnologia. Graças a este investimento em Investigação e Desenvolvimento conseguimos oferecer as melhores soluções de lubrificação nas condições mais difíceis. E que benefícios extrai o automovel de todos os dias dessa experiência? Esta relação permite-nos dispor dos produtos mais avançados muito antes dos nossos concorrentes. Graças à adaptação dos produtos de competição às necessidades inerentes ao uso quotidiano os nossos clientes têm acesso às tecnologias de lubrificação mais evoluídas. E que papel tem a relação direta com os construtores? É essencial para entender as suas necessidades e para podermos desenvolver os melhores produtos, que adaptamos a cada uma das suas exigências ajudando-os, por exemplo, a cumprirem as normativas de ambientais, necessárias para obterem as homologações, um processo cada vez mais exigente. MERCADO PORTUGUÊS É MUITO MADURO Como vê o mercado português? Tendo por base as estatísticas de que dispomos, podemos dizer que se trata de um mercado muito maduro, competitivo, com grandes atores tanto ao nível de marcas como de distribuidores. Atualmente, estamos a assistir a uma quebra das vendas, à semelhança do que acontece em toda a União Europeia, devido à situação provocada pela pandemia. No entanto, se compararmos com Espanha a quebra nas vendas de lubrificantes no mercado português não foi tão forte. Para a Motul o mercado português possui alguma característica particular? Poderia indicar várias. O mix de produto é específico, muito diferente do que se passa noutros países da UE. A idade do parque automóvel e as marcas predominantes definem o mix de lubrificantes. Outra particularidade é a rede de distribuição muito concentrada em grande atores.

nossa rede de clientes. Queremos crescer através da diversificação de segmentos e gamas de produtos, diversificação de canais. E, finalmente, queremos cobrir todo o território, queremos estar em todo o país.

A par da forte aposta nos lubrificantes e aditivos, a Motul oferece uma gama completa de produtos para o tratamento automóvel

No caso específico de Portugal como se relacionam como distribuidores e clientes (oficinas e mecânicos)? Como referi anteriormente, o projeto Motul baseia-se na relação de confiança com o cliente, na proximidade e na seriedade e estabilidade de mercado. É a forma como entendemos o negócio. No mercado dos lubrificantes há cada vez mais operadores a apostar nas chamadas marcas brancas. Ou seja, fornecer os seus produtos aos clientes (redes de oficinas, por exemplo) que depois os comercializam com a sua própria marca. Como vê a Motul este negócio? A Motul Ibérica está fora desse negócio. Somos uma marca Premium, sabemos competir em am-

Como vai evoluir a presença da Motul no mercado português? Basearemos o nosso crescimento na alavancagem dos nossos dois ativos principais: a marca Motul e a

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E quais serão as principais áreas de especialização? Serão o automovel e as duas rodas. No entanto, não perdemos de vista que, noutros países, também temos quotas de mercado significativas na indústria, veículos pesados e aditivos. Queremos ser olhados em Portugal como um especialista global em lubrificantes, como acontece noutros mercados.

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A Motul vai aumentar o Investigação e Desenvolvimento. O objetivo é consolidar a imagem de empresa líder na tecnologia de lubrificantes

bientes de alto valor acrescentado, oferecendo produtos e serviços de altas prestações. O mercado da marca branca vai na direção oposta ao nosso ADN e não nos interessa. Aliás, atualmente nem sequer tem relevância. Creio que se existem marcas brancas é apenas porque o mercado tem muitas facetas e a oferta adapta-se automaticamente às múltiplas possibilidades que surgem. Não nos incomoda que existam marcas brancas e até compreendemos. O que não gostaríamos era que as marcas brancas dominassem o mercado, pois isso significaria empobrecê-lo. De qualquer forma, como disse, não é um cenário que nos interesse dado que, em nossa opinião, uma grande parte dos clientes valoriza os projetos Premium de alto valor acrescentado como é o caso do projeto Motul. Como vê a evolução do mercado dos lubrificantes Não é possível generalizar. Depende muito de cada país. Mesmo se tentarmos encontrar uma resposta na perspetiva europeia é muito difícil consegui-la, porque cada mercado tem um comportamento específico. Em linhas gerais, podemos dizer que na União Europeia o consumo de lubrificantes para o setor automóvel vai diminuir em volume, mas as exigências técnicas serão cada vez maiores. A qualidade do lubrificante e o cumprimento das homologações são cada vez mais importantes. Este facto obriga-nos a estar

muito atentos na Motul, pois, para nós, os standards de qualidade e o cumprimento das homologações são fundamentais. No que ao setor industrial diz respeito, as fábricas estão num momento delicado: estão a reduzir os seus rácios de produção, o que nos obriga a procurar soluções mas eficientes que permitam ajudar o seu rendimento produtivo. O dinamismo que estamos a sentir, tanto no setor motorizado como industrial, obriga-nos a criar projetos empresariais e estruturas corporativas muito ágeis, reativas e resilientes, para poderem dar respostas ajustadas às necessidades dos nossos clientes, em tempo recorde.

Enquanto marca premium e de alta tecnologia a Motul não tem qualquer interesse no segmento das marcas brancas, que não acrescentam valor e retiram qualidade ao mercado

Os motores de combustão e os requisitos tecnológicos que lhes estão subjacentes evoluem a um ritmo muito rápido. Os lubrificantes conseguem acompanhar esse ritmo? Notamos essa realidade há já muito tempo e trabalhamos muito próximo dos fabricantes de automóveis para ajudá-los nos seus objetivos ambientais. Os nossos objetivos e os objetivos dos fabricantes são coincidentes: conseguir reduzir os índices de emissões. A única forma de o conseguir é a aposta em produtos cada vez mais tecnológicos e na Motul estamos totalmente conscientes de que temos que aumentar o investimento em investigação e sermos cada vez mais exigentes. 59

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A Motul possui uma gama completa de produtos especificamente desenvolvidos para automóveis híbridos. Comporta quatro óleos de motor, um lubrificante de transmissão e um líquido refrigerante

Quais são os grandes desafios? Todos os anos deparam-se com novas normativas, mais exigentes que requerem novos desenvolvimentos e novas tecnologias. Na Motul somos especialistas em lubrificantes e desenvolvemos os produtos mais exigentes, ano após ano. Os automóveis híbridos estão a evoluir muito rapidamente. Requerem lubrificantes específicos? Claro. São motores com especificações bastante diferentes. A Motul é uma das raras marcas que possui uma gama completa dedicada a veículos híbridos. É nosso objetivo contribuir para a melhoria da situação ambiental do planeta e apoiamos todas as iniciativas que vão nesse sentido. Há três anos que a gama Motul Hybrid satisfaz as necessidades destes veículos que têm como requisito a baixa viscosidade (especificação SAE 0W8, 0W12 y 0W20). A gama Hybrid comporta quatro óleos de motor, um líquido de transmissão e um líquido refrigerante. O diesel está a perder expressão. Estamos recordados dos enormes investimentos realizados a pensar em motores diesel capazes de funcionar a regimes cada vez mais elevados, temperaturas de funcionamento cada vez mais altas, etc. Esse dinheiro investido corre agora o risco de se perder? Não, de modo algum. Temos que fazer uma distinção clara entre as novas matrículas e o parque circulante. Nos dois últimos anos regista-se uma transferência da compra de diesel para a gasolina. Mas o parque circulante atual está com uma idade média de 12 anos o que significa que mais

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de 90% das necessidades em matéria de lubrificação mantêm-se iguais. Por isso, continua a ser muito significativo o peso dos motores diesel no mercado e continuamos a capitalizar os investimentos realizados. De qualquer das formas, as especificações dos motores a gasolina também são muito exigentes e requerem lubrificantes de altas prestações e nós, na Motul, estamos aptos a preencher esses requisitos. A mobilidade elétrica está a ganhar terreno. Como é que a Motul se está a preparar para um mercado onde os lubrificantes tendem a perder expressão? Desde há já alguns anos que na Motul estamos a implementar uma estratégia de diversificação de divisões e produtos. Assim, o nosso “know-how”, a nossa tecnologia e a nossa ambição de estar um passo à frente tem-nos permitido explorar novos mercados e novas oportunidades. Até há pouco tempo, a nossa presença nesses segmentos era residual, como é o caso do mercado industrial, da indústria pesada e, até, dos aditivos. Porém, graças a nossa força de marca, alicerçada na qualidade dos nossos produtos, estamos a crescer muito rapidamente nesses segmentos. Além disso, nos setores tradicionais do automóvel e da alta performance estamos em constante inovação lançando novos produtos para a manutenção do veículo, como é o caso do Car Care e do MC Care. Outras gamas, como os óleos de transmissão e de travões, ajudam-nos a seguir a nossa estratégia global de diversificação de divisões e produtos.



ATUALIDADE

AUTOZITÂNIA

INTEGRAÇÃO NA AD REFORÇA OFERTA DA AUTOZITÂNIA A adesão ao Grupo AD representa para a Autozitânia um importante “upgrade” em termos de processos e o reforço da oferta em termos de gamas e produtos, como destaca Ricardo Venâncio, responsável pela Autozitânia que se mostra muito satisfeito com a decisão tomada

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A pandemia obrigou a Autozitânia a tomar medidas mas não abrandou a integração na AD Parts, onde garante o acesso alargado a várias marcas premium com elevada procura em Portugal. Este é, no entanto, um processo complexo e que levará tempo até ficar concluído, explica Ricardo Venâncio

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Autozitânia passa agora a integrar o Grupo AD e, com isso, reforça a sua oferta ao mesmo tempo que integra processos que permitem à empresa enfrentar o futuro de forma ainda mais confiante. Ricardo Venâncio, responsável da Autozitânia, destaca mesmo o reforço da oferta de marcas premium, fundamentais para a abordagem ao mercado nacional, como são os casos da ZF e da Valeo. Porque decidiram trocar a Temot pela AD Parts? Sentíamo-nos muito bem com a Temot, tínhamos bons resultados, mas estávamos na chamada zona de conforto. Então colocou-se a possibilidade de entrarmos na AD Parts e vimos que era um desafio que gostaríamos de enfrentar. Foi por isso que apostámos na AD. Não foi um processo rápido, nem tão fácil quanto gostaríamos, mas sabemos que são processos complexos. Quero, no entanto, salientar que a nossa saída da Temot foi totalmente pacífica; só temos palavras de agrade-

cimento para todos os amigos que ali deixamos e desejamos-lhes o melhor. Mas estamos muito contentes de fazer parte da AD Parts, é um novo capítulo na nossa empresa. Estávamos a implementar muitas mudanças quando chegou a pandemia e, apesar de complicar um pouco, todas elas foram realizadas. Como é que a Autozitânia viveu a fase mais crítica da pandemia? Todos os nossos serviços e as nossas sucursais continuaram a trabalhar mas a verdade é que o impacto foi muito forte. No início do ano tínhamos definidos objetivos ambiciosos de crescimento e até ao final da primeira quinzena de março estávamos muito contentes com os resultados que estávamos a alcançar, os quais, inclusive, superavam os objetivos. No entanto, a semana de 22 de março foi a pior de sempre, com uma faturação que foi de apenas 10% face ao mesmo período do ano passado. Esta quebra de atividade obrigou-nos a tomar várias decisões, como foi o caso da redução para metade dos serviços e rotas, e a diminuição de quatro para 63

duas no caso das entregas diárias. Infelizmente, fomos também forçados a não renovar contratos dos trabalhadores que estavam a prazo e fomos ajustando as equipas em função da procura. Suspendemos o nosso turno noturno e organizámos o trabalho do armazém em dois turnos (manhã e tarde). Foi assim que estivemos durante os meses de abril e maio, sempre respeitando as medidas de segurança para todos os trabalhadores. MAIS MARCAS E MAIS LINHAS DE PRODUTOS Já iniciaram o processo de mudança de fornecedores tendo em conta a integração na AD Parts? A mudança de fornecedores, para assumirmos aqueles que integram universo da AD Parts, requer tempo. Estamos a realizar esse processo e estimamos que demorará mais de um ano até ficar completo. É algo que já tivemos que fazer quando nos integramos na Temot e que agora temos que fazer de novo. Mas, sim, já começámos com produtos AD e continuamos a integrar mais marcas.

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ATUALIDADE

Este processo vai acarretar a perda de presença em alguma linha de produtos? Ou, pelo contrário, vai permitir à Autozitânia reforçar a presença no mercado? No balanço do “deve e do haver”, quais os segmentos de mercado em que reforçam posição? Não vamos perder presença em linhas de produtos, pelo contrário, iremos reforçar a nossa oferta e a nossa presença. Vamos reforçar o nosso portfólio com novas marcas, novas linhas e novos produtos! Vamos tornar a nossa oferta ainda mais completa e diversificada, com resposta às diferentes necessidades de diferentes clientes. O Grupo AD oferece-nos, também, múltiplas possibilidades para explorar em áreas e gamas onde poderemos reforçar a oferta aos nossos clientes. Podemos ter uma ideia do aumento do número de referências? Sabendo-se que o mercado português é muito focado nas chamadas marcas premium, esta integração na AD Parts reforça a oferta desse tipo de marcas? Sem dúvida, a integração na AD Parts vem reforçar ainda mais a nossa aposta em marcas premium. Vem complementar a nossa oferta, que já por si era muito alargada, ao permitir-nos aceder a marcas que são muito fortes no mercado e especificamente no universo e portfólio AD. Até ao momento introduzimos a marca AD (que é agora exclusivamente comercializada pela Autozitânia em Portugal), reforçámos a gama de marcas como a Valeo e as marcas do Grupo ZF, e temos vários lançamentos de novas marcas premium que são muito fortes no mercado a serem preparados. A Autozitânica tinha em marcha um processo de reforço das chamadas marcas próprias. Em que fase estamos? A integração na AD Parts compromete esse objetivo? Com a integração na AD Parts o processo de marca própria teve de ser redefinido, com uma nova abordagem e estratégia. Nesse sentido, introduzimos a marca AD, que é a marca própria e com a identidade do Grupo AD, e, como referido anteriormente, exclusiva da Autozitânia no mercado nacional, que tem uma notoriedade enorme e com uma oferta com imensas gamas

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e linhas de produto, na qual a nossa estratégia está assente e reforçada. Relativamente a outras marcas próprias que já detínhamos, podemos referir a nossa marca de baterias NoStop, na qual estamos a trabalhar para reforçar a gama e, consequentemente, a nossa oferta para todos os nossos clientes. Além dos fornecedores, que outras alterações está a Autozitânia a realizar com vista à integração na AD Parts? A nossa entrada na AD Parts é algo de muito importante e acreditamos que nos vai trazer uma grande evolução, permitindo-nos enfrentar melhor os desafios futuros. Estamos muito conscientes da importância da AD Parts no mercado ibérico e colocamos o nosso foco na realização desta mudança da melhor forma possível. Para isso contratámos uma pessoa que dirigirá toda a parte comercial e tudo o que esteja relacionado com o processo de integração na AD: Jorge Menezes que vem do Grupo Schaeffler. Há cerca de cinco meses 64

que está connosco, porque estamos bem conscientes da importância de todo este processo e pretendíamos alguém que estivesse 100% dedicado a esta integração. No fundo, todas as mudanças na Autozitânia para 2020 estão relacionadas com a integração na AD Parts e o desenvolvimento das ferramentas que o grupo coloca à nossa disposição. Refiro-me, por exemplo, ao Programa Millennium, à implementação da formação, ou à informação e assistência técnica com o Grup Eina, em Portugal.

"A integração na AD Parts vem reforçar a nossa aposta em marcas premium e complementar a nossa oferta"


Neste caso, trata-se de um pilar essencial da nossa estratégia, no qual vamos investir bastante. PANDEMIA DETERMINA REORGANIZAÇÃO Qual o impacto que esta crise poderá ter no mercado português? Poderemos, por exemplo, assistir a uma maior concentração de empresas e outras mudanças significativas? Creio que muitas empresas que atravessam dificuldades não resistirão e acabarão por encerrar. A faturação caiu muito. Acredito que vamos assistir a uma maior concentração do mercado, com menos “players” mas com empresas de maior dimensão. E, sobretudo, as pequenas lojas, que são a grande fatia do mercado, não conseguirão sobreviver se não estiverem ligadas a uma grande plataforma ou a um projeto como o nosso. Há quem afirme que a pandemia é uma oportunidade para a distribuição pensar em forma de reduzir custos de serviço e organizar-se melhor… No nosso

mercado o custo do serviço é muito alto. E isto mesmo no nosso caso, que temos quatro entregas diárias, a maior parte em lojas que não têm o mesmo grau de exigência que as entregas nas oficinas. É verdade que se tem dito que deveríamos aproveitar a pandemia para organizar os serviços com vista a uma redução de custos. Mas é fundamental ter em atenção que basta que um operador não o faça para que os restantes adotem a mesma atitude. A verdade é que é uma loucura; prestamos um melhor serviço do que as farmácias. As lojas têm uma pressão forte de entrega às oficinas mas acabam por transportar essa pressão para os grandes distribuidores. Esse “monstro” foi criado e a oficina sabe que se a loja não lhes prestar o serviço adequado alguém o fará. Que espera a Autozitânia com a entrada na AD Parts? Na AD Parts são muito ativos e focados no trabalho e naquilo que é pre65

ciso fazer. Todos os sócios se ajudam e estão muito próximos. Basta um telefonema ou um Whatsapp e estão aí para ajudar. Viemos de um grupo em que se falava muito mas se concretizava pouco. Na AD Parts é precisamente o contrário: fazem-se as coisas e depois fala-se. Estamos muito unidos. Acredito que esta dinâmica será muito positiva para nós e que vamos aprender muito. É neste contex to que queremos abrir um novo armazém na zona de Leiria mas isso só acontecerá em 2021. É uma zona onde temos uma cobertura débil e onde queremos crescer. Que mensagem pretende transmitir ao mercado? Penso que são momentos muito complicados mas temos que ser positivos e continuar a fazer o nosso trabalho. Nestas alturas não nos podemos deixar vencer, mas liderar e continuar com os projetos que tínhamos em marcha.

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TÉCNICA

SISTEMAS DE TRAVAGEM DE AR COMPRIMIDO

CUIDADOS NA REPARAÇÃO DOS CILINDROS DE MEMBRANA DUPLA A capacidade de travagem é essencial para a segurança dos veículos pesados, exigindo o funcionamento eficaz das bombas de travão de dois diafragmas. O bilstein group, que tem na gama da febi cilindros de membrana dupla, recorda o funcionamento deste componente e cuidados a ter na sua reparação

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Texto Nuno Fatela

eficácia do sistema de travagem é fulcral na segurança rodoviária dos veículos pesados, principalmente durante a época do Inverno com condições mais desafiantes. Nas viaturas com mais de 7,5 toneladas os sistemas de travagem de ar comprimido são a principal escolha,

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com as bombas de travão de dois diafragmas, também conhecidas como cilindros de membrana dupla, a ficarem responsáveis por gerir a força de travagem nos eixos motorizados. O bilstein group, através da sua marca febi, veio agora recordar o seu funcionamento e deixar alguns conselhos na reparação deste componente. 66


A febi, marca do bilstein group, conta no seu catálogo com cilindros de diafragma e de membrana dupla com qualidade equivalente OE

TRAVAGEM EM TODOS OS MOMENTOS O funcionamento deste sistema de travagem tem origem no motor, que gera o ar comprimido armazenado em depósitos a 8 bar de pressão. Depois, como recorda o bilstein group, a partir dos tanques o ar comprimido é “controlado por válvulas até às cargas, por exemplo, suspensão do ar, controlo e transmissão e bombas de ar do travão”. Os cilindros de travão têm a tarefa de converter a energia do ar comprimido em força mecânica, algo confiado ao diafragma que está no interior da bomba de travão. Quando o condutor trava, o ar comprimido flui para a bomba de travão, onde o diafragma move o pistão e a haste de pressão para deter o camião. Os cilindros de membrana dupla são também conhecidos como bombas de travão tri-stop e, além do diafragma responsável pelo travão do motor, contam também com a peça com mola de pressão (mecanismo de mola) para o travão de estacionamento, e com o travão auxiliar. Isso permite criar força de travagem mesmo quando não existe ar comprimido, recorrendo ao travão de estacionamento. O bilstein group explica que “a mola da peça do

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mecanismo de mola atua sob o travão até o ar comprimido atingir o mecanismo de mola da bomba de travão. Apenas nessa altura a mola é comprimida pelo diafragma e o travão solta”. CUIDADOS NA REPARAÇÃO DOS CILINDROS DE MEMBRANA DUPLA Danos no motor ou no sistema de ar comprimido podem fazer com que não exista ar comprimido no sistema de travagem, obrigando à atuação da mola de retorno do mecanismo de mola. Mas a ferramenta de redefinição, inserida na parte de trás da bomba de travão, pode levar essa mola a retrair ou tensionar. E apenas dessa forma a força de travagem do mecanismo da mola é libertada. Este é o primeiro grande cuidado a ter, porque “se a braçadeira da peça do mecanismo de mola estiver desapertada e a mola não estiver tensionada com a ferramenta de redefinição, significa risco de vida”, recorda o bilstein group. Igualmente importante é nunca esquecer a remoção da peça de redefinição após a sua utilização. A corrosão das peças em metal laminado, fugas, quebras da mola e o diafragma rasgado são os principais motivos para as falhas dos cilindros de membrana dupla. Na primeira situação, um dos motivos é a existência de orifícios obstruídos ou que não estejam virados para baixo, o que pode levar à acumulação de água e sujidade na bomba de travão e acelerar a corrosão dos componentes. Além disso, deve-se olhar para o sistema de travagem de forma geral. O bilstein group recorda que além de verificar a bomba de travão, assegurando a sua fixação, funcionalidade e desgaste, também os suportes e os componentes circundantes devem ser examinados. E, em caso de dúvida sobre o correto funcionamento da bomba de travão, ela deve sempre ser substituída, já que se trata de um componente vital da segurança rodoviária. Para isso o bilstein group enfatiza que se devem sempre confiar em componentes com qualidade equivalente OE, e que tão fulcral como a qualidade do equipamento é a qualificação de quem o utiliza. Como tal a reparação apenas deve ser confiada a profissionais, porque um mecânico especializado é também um ator principal na segurança rodoviária.

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ESPECIALISTA

DICAS DE REPARAÇÃO

MELHORIA DO DIAGNÓSTICO E RESOLUÇÃO DAS AVARIAS António Costa, gerente da Garagem da Lapa, no Porto, é engenheiro mecânico de formação e um apaixonado e profundo conhecedor da tecnologia automóvel. Neste primeiro artigo para a Turbo Oficina fala da importância de um diagnóstico correto e da forma de o conseguir

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setor automóvel, em particular os motores e todos os sistemas que os rodeiam, tem evoluído exponencialmente nos últimos anos. A capacidade da eletrónica e, ao mesmo tempo, a resistência dos materiais utilizados atualmente são cada vez mais evoluídas e por vezes comple-

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xas, sendo dos maiores desafios para as oficinas automóveis. Se olharmos de forma particular para aquelas que possuem atendimento multimarca ainda se eleva mais a fasquia da capacidade técnica e tecnológica para corresponder às necessidades do mercado. Impensável é não ter uma máquina de diagnóstico (ou até várias) que nos per68

mita ler os erros, fazer adaptações e, muitas vezes, visualizar os dados do motor ou outros componentes enquanto se encontram em funcionamento. Também sabemos que não existe um equipamento de diagnóstico capaz de abranger todas as marcas e todas as funções. Por essa razão devemos, em primeiro lugar, compreender como os


sistemas funcionam e interagem uns com outros, de forma a visualizar todos os pormenores envolvidos. OUVIR O QUE O CARRO NOS DIZ Quando nos deparamos com algum problema em determinado automóvel a primeira ação que deveremos ter é falar com o condutor, para que possa explicar, da forma mais detalhada possível, aquilo que aconteceu e as condições em que ocorreu o problema. Esta situação pode parecer óbvia, mas é, sem dúvida, uma das mais importantes para ajudar a solucionar o problema. Uma boa receção faz a oficina ser mais eficiente e sobretudo mais “suave” na sua operação. Por vezes é negligenciada, e todos os pormenores contam. O próximo passo é “ouvir o que o carro nos tem para dizer" utilizando a máquina de diagnóstico. A partir deste momento, temos uma perceção das condições em que o problema nos surge, graças ao testemunho do cliente

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Ouvir o condutor e a máquina de diagnóstico são essenciais para descobrir a avaria e, também, as indicações de qual “o” sistema ou "os" sistemas afetados no motor. Depois de verificar os códigos de avaria, teremos de fazer uma triagem de qual poderá ser, realmente, a causa do problema e a sua respetiva solução.

Com os dados anteriormente recolhidos, quer do cliente, quer da máquina, podemos focar o nosso trabalho especificamente no sistema ou na situação reportada. Pode parecer lógico e fácil, mas nos carros atuais, com muitos sistemas a interagir uns com outros, pode ser difícil isolar o problema em concreto. A título de exemplo, se o problema residir numa válvula EGR defeituosa é normal acabarmos por ter um código de avaria no sistema de Cruise Control. Logicamente não há interação entre o sistema de escape - a válvula EGR - e o Cruise Control. Contudo, se a EGR estiver defeituosa vai influenciar diretamente a performance do motor. Em consequência, vai condicionar o funcionamento do Cruise Control, porque não vai conseguir atingir a velocidade pré-definida pelo condutor, por exemplo. Outra situação comum é quando nos surgem problemas de injeção, que normalmente acabam por influenciar


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A triagem dos códigos recolhidos pela máquina de diagnóstico permite "atacar" logo de início os sistemas na origem do problema

diretamente a performance do turbo. Todos os códigos que possam estar relacionados com este sistema devem ser ignorados até que o sistema de injeção esteja a 100%. A INTERNET COMO FERRAMENTA Tal como nas urgências dos hospitais a triagem é fundamental para o diagnostico e resolução de qualquer doença, nos automóveis a situação é igual…é fulcral ter o panorama de tudo o que acontece com o automóvel. Existem claramente situações em que a realização desta triagem se revela mais difícil. Contudo, temos de perceber quais os sistemas que apresen-

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A internet pode ajudar a resolver alguns problemas, mas é preciso saber filtrar a informação 70

tam códigos de avarias suscetíveis de serem a causa dos problemas… esses são, sem dúvida, os que devemos de atacar logo de início. Por vezes isolar cada um dos sistemas é complicado mas, para nos ajudar, deveremos ter um conhecimento completo do sistema que desconfiamos que possa estar na origem da avaria. Nesse sentido a internet pode dar uma ajuda muito grande. Se por um lado é um ótimo local para aprender, por outro temos de ter muito cuidado pois a tentação de procurar a resolução para o nosso problema (o que é normal, quem nunca fez uma pesquisa de um problema…) por vezes condiciona a nossa forma de pensar e de atuar. É verdade que existem dicas importantes que descobrimos na internet, mas temos de filtrar de onde vêm para não cairmos no erro de ir atrás das "notícias falsas". Após esta situação podemos começar a meter mãos à obra. Para isso será necessário muitas vezes desmontar alguns componentes, medir determinados sensores ou, então, utilizar a máquina de diagnóstico para verificar os parâmetros quando o sistema está a trabalhar. Resumidamente, os passos essenciais são ouvir o condutor de forma a reunir o máximo de informação sobre o problema e analisar o que a máquina de diagnóstico nos diz e todos os dados recolhidos. Apenas depois devemos “atacar” o problema. Passos simples, mas que falhando em algum deles tem como consequência enorme dificuldade em resolver o problema.



REPARAÇÃO

PINTURA DE SENSORES DE ESTACIONAMENTO

RECONHECIMENTO DO PERÍMETRO As manobras de estacionamento tornaram-se mais fáceis graças aos pequenos sensores que medem a distância em relação a outros veículos, colunas ou paredes, minimizando os danos que possam ocorrer. No caso de terem de ser substituídos, há também que saber pintá-los

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Texto Andrés Jiménez García

s sensores de estacionamento costumam estar situados nos para-choques dianteiros e traseiros ou, em alternativa, nas grelhas frontais ou nas molduras e nos spoilers inferiores dos para-choques. TIPOS DE SENSORES DE ESTACIONAMENTO Existem dois tipos de sensores: os que funcionam por ultrassons e os que detetam os obstáculos através de ondas eletromagnéticas. Por ultrassons: facilmente reconhecíveis, são aqueles pequenos círculos embutidos nos para-choques, grelhas ou molduras dos nossos veículos. Aparecem pintados na cor da carroçaria ou, então, são cinzentos antracite ou pretos. Existem pelo menos quatro por veículo, podendo ser mais, distribuídos pela sua zona inferior dianteira e/ou traseira. Funcionam através de ondas de ultrassons (não detetadas pelo ouvido humano), que determinam a distância aos objetos através da medição de ecos. Ou seja, emitem ondas que fazem ricochete contra os obstáculos e, através de um recetor, processam os sinais recebidos para calcular a distância a que se encontram. Por esta razão, quanto mais sensores um veículo tiver instalados, mais segura será a manobra de estacionamento,

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pela maior precisão da medição das ondas recebidas. Este tipo de sensores tem um raio de ação que oscila entre 130º e 160º de varrimento horizontal e entre 50º e 60º, em varrimento vertical. Eletromagnéticos: os sensores com deteção eletromagnética ou radar encontram-se apenas na parte interior dos para-choques. Trata-se de uma tira metálica colada ao seu interior e, portanto, nem se veem nem se pintam. O seu princípio de funcionamento baseia-se numa deteção contínua das alterações do campo eletromagnético provocadas pelos objetos sólidos. MATERIAL DE FABRICO DOS SENSORES Os sensores de estacionamento são constituídos por diferentes partes. O conjunto principal é produzido em material plástico (também pode incluir uma fina lâmina de alumínio, logo por baixo da pintura). Para a sua repintura é importante saber a natureza do círculo exterior que define o sensor, a parte visível, que é a que se vai pintar. O resto ficará oculto na zona interior da peça. FORNECIMENTO DOS SENSORES NOVOS Dependendo dos fabricantes de automóveis ou dos fornecedores de peças de substituição, os sensores são fornecidos de duas formas distintas: 72

Só são pintados sensores com pequenos danos e aplicando exclusivamente cor e verniz


1. Cor final aplicada (carroçaria ou preto) Os sensores deste tipo não serão pintados. Caso sofram danos serão substituídos. - Têm a cor da carroçaria, seja lisa, metalizada ou perolada. - As partes que não coincidam com a tonalidade do automóvel podem ser de cor preto mate, brilhante ou cinzento antracite.

2. Com primário-aparelho Como se se tratasse de uma peça de plástico, fornece-se com primário, de forma que o pintor, após uma leve matificação, tem de preparar e aplicar a cor pretendida. PARTICULARIDADES DO PROCESSO DE PINTURA Os sensores pintam-se sempre desmontados das peças em que estão in73

tegrados, sejam para-choques, grelhas ou molduras. Caso contrário, ocorrerão graves problemas, de que trataremos mais adiante. São repintados, principalmente, os sensores que vêm montados de origem no veículo. Também aos novos que tenham de ser colocados, fornecidos como peças de substituição, será necessário dar-lhes a sua cor correspondente. E apenas se pintarão os sensores que tenham sofrido

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REPARAÇÃO SISTEMA ULTRASSOM

SISTEMA ELETROMAGNÉTICO

Diferenças entre sensores ultrassónicos e electromagnéticos

Nos sensores na cor da carroçaria há que (à direita) pintá-los e, depois, envernizá-los para um trabaho perfeito Componentes do sensor (ultrasónicos)

Sensores de duas cores

Borracha desmontada junto de borracha pintada

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pequenos riscos ou raspadelas superficiais, com cor e verniz (nunca pinturas de fundo, como massas ou aparelhos). Caso tenham sofrido grandes danos será necessário substituí-los por uns novos. Fundamental é a espessura da pintura aplicada. A soma das camadas de cor e verniz não deve superar uma espessura máxima, aproximada, entre 150 e 180 mícrones. Para termos uma ideia das possíveis pinturas que permitem a referida espessura, a primeira é a que o sensor apresenta de origem, e somamos à mesma mais duas pinturas, aplicando exclusivamente cor e verniz. Em caso algum serão aplicadas pinturas de fundo como massas, primários pigmentados 1K ou 2K, ou aparelhos. Estas camadas de pintura aumentariam consideravelmente a espessura da pintura, originando possíveis erros no funcionamento dos sensores.

quena borracha, de cor branca, preta ou transparente, circundar a parte que é possível pintar. Esta borracha ajuda ao ajuste total, fechando a estreita folga que se cria entre a superfície do sensor e a da peça onde é colocado (para-choques, grelha, etc.). A borracha, com o sensor montado na peça principal, não se poderá mascarar e também não se deverá pintar. Portanto, uma pintura correta exige a desmontagem dos sensores da sua localização. Caso se pintem montados no veículo, as borrachas, consequentemente, também serão pintadas. Para além do defeito estético poderão originar problemas de funcionamento: as camadas de pintura aplicadas criariam uma película que "soldaria" a borracha ao sensor, pelo que não seria possível a emissão do eco e o correspondente ricochete do mesmo.

PROBLEMÁTICA Já comentámos a necessidade de desmontar o sensor para a sua correta pintura. Isto deve-se ao facto de uma pe-

PROCESSO CORRETO DE PINTURA Vamos explicar os passos para um processo correto de pintura dos sensores de estacionamento.

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É necessário desmontar os sensores das peças A primeira coisa que devemos fazer é desmontar as peças em que se encontram e realizar as seguintes operações: 1. Limpar e desengordurar os sensores para eliminar qualquer resíduo de óleo, alcatrão, mosquitos, etc., que possa estar presente. 2. Lixar ou matificar a zona danificada, a sua face visível, que é a que receberá a pintura. 3. Limpar, desengordurar e colocar os sensores num suporte para a sua pintura. 4. M ascarar as pequenas zonas dos sensores que não devem ser pin-

tadas, como as partes interiores e elétricas. 5. Pintar os sensores com a mistura preparada para pintar os para-choques, as grelhas, etc., sem encher as mãos de tinta. 6. Com a mesma mistura de verniz, terminar de envernizar os sensores para finalizar o processo. Após a secagem, são desmontados do suporte e retira-se o mascaramento, ficando os sensores prontos para a sua montagem nas diferentes peças onde são instalados. Em resumo, a pintura dos sensores de estacionamento é perfeitamente possível, tendo em conta e respeitando as peculiaridades comentadas. E é indiferente o local onde estejam instalados: grelhas, para-choques, molduras, spoiler, etc. A CESVIMAP realizou diversos testes com diferentes sensores, aplicando 75

mais de 200 mícrones, e o funcionamento dos mesmos continua a ser ótimo. Não aconselhamos repintar os sensores mais de duas vezes, visto que, com uma espessura elevada, o aspeto estético começa a ser grosseiro e sobrecarregado de tinta. Pode eliminar-se parte desses mícrones aplicados, para reduzir a espessura e melhorar o aspeto estético, e então, voltar a pintá-los. Todos os acabamentos disponíveis nos veículos, monocamada, bicamada sólidos, metalizados, perolados, tricamada e, inclusivamente, acabamentos bicamada pretos e cinzentos antracite ou vernizes mate, podem ser replicados nos sensores de estacionamento. Previamente à pintura dos sensores, será necessário desmontá-los das peças em que estejam instalados. Para a pintura destas peças, utiliza-se apenas a tinta e o verniz preparados para o embelezamento das peças principais em que se instalam os sensores.

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TÉCNICA

EPI PARA MANIPULAÇÃO SEGURA DE VEÍCULOS ELÉTRICOS E HÍBRIDOS

PARA O MÁXIMO DE PROTECÇÃO A crescente difusão de veículos elétricos exige cada vez maior formação de diferentes grupos profissionais. Pessoas que têm de manipular veículos elétricos e híbridos e que o devem fazer de forma segura, com os Equipamentos de Proteção Individual (EPI) apropriados e necessários Texto Ana L. Olona

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s veículos elétricos ou híbridos têm características específicas face aos veículos de combustão interna convencionais, visto que, entre outros componentes, incluem um motor elétrico e uma bateria de alta tensão que implicam novos riscos: elétricos, químicos, de incêndio ou explosão. Portanto, diferentes grupos profissionais, em que se incluem bombeiros, técnicos dos serviços de emer-

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gência, motoristas de reboques e, claro, técnicos de oficina, assim como os proprietários destes veículos, cada um a diferentes níveis, devem estar preparados para dar resposta perante um acidente ou uma reparação de um veículo elétrico ou híbrido. PREVENÇÃO DE RISCOS NA MANIPULAÇÃO Para poder prevenir os riscos indicados na manipulação de veículos elétricos 76

e híbridos, em primeiro lugar deve conhecer-se o funcionamento do sistema de alta voltagem que os alimenta. Dependendo da operação a realizar sobre o veículo elétrico e híbrido, caso exista risco decorrente da referida manipulação, será necessária a desativação em segurança do sistema de alta tensão. Por outro lado, com o objetivo de minimizar o risco de contacto com alta tensão quando se manipula um veículo elétrico ou híbrido de ligação à rede


elétrica existem ferramentas específicas. Nas oficinas deverão estar disponíveis, obrigatoriamente, um jogo de ferramentas manuais isoladas (devem ser homologadas de acordo com a norma IEC 60900 e apresentar a respetiva marcação), multímetros com uma classificação mínima de CAT III (indica o grau de proteção do dispositivo contra sobretensões e sobreintensidades), cartazes indicadores e sinalização periférica do veículo, para delimitar a zona de trabalho, e uma câmara termográfica ou um termómetro laser, para verificar a temperatura à distância. Além disso, é recomendável dispor de zona de quarentena, na qual se deve deixar o veículo acidentado sob controlo e supervisão. Para a manipulação segura do veículo elétrico e híbrido existem alguns Equipamentos de Proteção Individual (EPI) obrigatórios, assim como outros recomendados. A Lei de Prevenção de Riscos Laborais define EPI ou Equipamento de Proteção Individual como qualquer equipamento destinado a ser vestido ou envergado pelo trabalhador para que este seja protegido contra um ou vários riscos que possam ameaçar a sua segurança ou a sua saúde, assim

como qualquer complemento ou acessório destinado a tal fim. Os EPI constituem a última barreira de defesa do trabalhador em relação ao risco laboral, daí a sua enorme importância no campo da Segurança, Saúde e Proteção no trabalho. Há que ter em conta que os EPI não implicam uma redução do risco, mas sim uma redução das consequências resultantes do

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facto desse risco poder causar um acidente laboral. Utilizam-se quando não é possível eliminar os riscos através de meios técnicos de proteção coletiva ou organizacional. Há que ter em conta que os EPI não são utilizados com o objetivo de realizar uma tarefa ou atividade, mas sim para prevenção dos riscos que essa tarefa ou atividade implica. Por este motivo,

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TÉCNICA

as ferramentas ou utensílios, embora estejam concebidos para proteger contra um determinado risco (ferramentas isolantes ou isoladas, etc.) não são consideradas EPI. O EPI deve ser vestido ou envergado pelo trabalhador e deve ser utilizado segundo as indicações dadas pelo respetivo fabricante. Uma vez explicado em que consiste um Equipamento de Proteção Individual, serão agora indicados os EPI necessários para manipular um Veículo Elétrico ou Híbrido de forma segura. Todo o trabalhador que tenha de manipular ou reparar um Veículo Elétrico ou Híbrido acidentado deverá utilizar obrigatoriamente os seguintes EPI: Luvas de proteção dielétricas (categoria "00" 750 V DC, que podem isolar até 750 V em corrente contínua). Estas luvas protegem contra a passagem de corrente elétrica através do corpo humano (choque elétrico), provocada pelo contacto físico com um elemento condutor, com diferente tensão. (Não protegem contra correntes elétricas induzidas no corpo humano por campos eletromagnéticos fortes ou contra qualquer outro risco derivado da energia elétrica). Antes de utilizar as luvas, o operário deve verificar visualmente se não apresentam orifícios nem cortes e fazer um teste de estanquidade (manualmente ou com um equipamento de verificação). Uma verificação básica do estado das luvas consiste em fechar a extremidade por onde se enfia a mão e apertar a luva para ver se tem perdas ou fugas de ar. Se as luvas estive-

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rem deterioradas não deverão ser utilizadas, visto que não cumprirão a sua função, não protegerão, e a corrente poderá passar através das mesmas. No Centro Zaragoza recomendamos, também, a utilização das luvas dielétricas por baixo de umas luvas de proteção convencionais, para evitar perfurações e rasgos. Alguns grupos profissionais, como os bombeiros, utilizam as luvas dielétricas por cima de umas luvas ignífugas, para evitar os efeitos térmicos de origem elétrica. As luvas dielétricas devem cumprir a norma UNE-EN 60903:2005, que especifica os requisitos para o fabrico, verificação e correta utilização das luvas isolantes contra eletricidade, com e sem proteção mecânica. Esta norma pode contribuir para facilitar a verificação do cumprimento, por parte das luvas, das exigências essenciais de saúde e segurança e das condições para a comercialização e livre circulação intracomunitária dos equipamentos de proteção individual (EPI). Na marcação das luvas dielétricas deve

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aparecer a referência à norma, o símbolo IEC 60417-5216 (duplo triângulo: apropriado para trabalhos em tensão), n.º de série ou n.º de lote, classe e categoria, identificação ou marca do fabricante, mês/ano de fabrico, tamanho, n.º organismo notificado e grupo de verificações e controlos periódicos. Dentro das classes diferenciam-se as seguintes: 00, 0, 1, 2, 3 e 4, que indicam o valor de tensão máxima de trabalho. Devem ser escolhidas as luvas mais indicadas em função da voltagem do veículo que se vai manipular. A categoria é designada por uma ou várias letras (A, H, Z, R ou C) que informa sobre a resistência da luva a uma lista de agentes físicos e químicos. É um campo opcional e podem ocorrer todas as combinações. As luvas devem ser verificadas periodicamente, segundo as indicações do fabricante, não sendo suficiente comprá-las e tê-las à mão. Em geral, o período para verificação oscilará entre 30 e 90 dias, sendo substituídas por outras novas caso sejam detetadas


falhas ou danos nas mesmas, para evitar acidentes. Quanto à manutenção e limpeza deste tipo de luvas, deverão ser efetuadas segundo as indicações do fabricante. Em geral, é necessário lavá-las com água e sabão a uma temperatura não superior a 65 ºC. No momento de as guardar, deverão ser colocadas na respetiva embalagem. O tipo de embalagem adequado para guardar e transportar as luvas será indicado pelo fabricante e serão indicadas através do mesmo as seguintes informações: nome do fabricante, classe, categoria (se for o caso), tamanho, comprimento e tipo de rebordo da luva. Não se devem guardar perto de fontes de calor (temperatura de armazenamento entre +10 ºC e +21 ºC). É obrigatória a utilização de óculos contra impactos. Os óculos de proteção ocular deverão reduzir o mínimo possível o campo visual do trabalhador e serão de uso individual. O Centro Zaragoza recomenda a utilização de viseiras, em caso de realização de trabalhos em tensão que possam dar lugar a faíscas ou curto-circuitos, evitando desta forma queimaduras por arco elétrico na cara. As viseiras faciais, certificadas segundo a UNE-EN 166-2002 (proteção individual dos olhos), são os únicos protetores oculares válidos para esta zona do corpo, incluindo também a exigência de proteção contra arco elétrico de curto-circuito. Os principais riscos oculares gerados quando ocorre arco elétrico são os impactos de partículas projetadas, a ra-

Os diferentes grupos profissionais que têm de manipular ou reparar veículos elétricos e híbridos acidentados ou avariados devem conhecer as precauções de segurança necessárias para evitar possíveis acidentes. É fundamental que recebam formação e informação adequada e adotem certas medidas de segurança antes e durante a realização do trabalho, utilizando os EPI obrigatórios adequados

diação UV e a radiação térmica. A norma UNE-EN 170 especifica as classes de proteção e as especificações relativas ao coeficiente de transmissão dos filtros para a proteção contra a radiação ultravioleta. As restantes especificações aplicáveis a este tipo de filtros, e às armações às quais se destinam, são indicadas na norma UNE-EN 166. O calçado com proteção dielétrica é outro EPI obrigatório quando se manipulam veículos elétricos, para evitar 79

situações em que a corrente elétrica passe para a terra através do corpo do operário. Este tipo de calçado é elaborado com borracha ou materiais poliméricos similares aos utilizados nas luvas dielétricas. Caso o calçado inclua biqueira de proteção, esta nunca deverá ser metálica. Antes de se utilizar o calçado dielétrico deverá verificar-se, visualmente, se na sola não está qualquer peça metálica incrustada, visto que esta pode funcionar como condutor de eletricidade, limitando ou inclusivamente anulando a capacidade dielétrica do referido calçado. Como EPI opcional encontra-se a manta isolante para proteção contra partes ativas com tensão. Com a referida manta isolante cobrem-se fichas, bornes de bateria, etc., e todas as partes ativas com tensão, para evitar o contacto destas com a carroçaria e por sua vez, evitar o contacto acidental por parte do pessoal. Outro EPI obrigatório para o grupo profissional dos bombeiros é o ERA (Equipamento de Respiração Autónoma), que se utiliza para prevenir a inalação de gases produzidos por um derrame do eletrólito da bateria de tração. Vara de salvamento ou arnês de segurança para resgate elétrico. A vara não é uma ferramenta imprescindível, mas sim recomendável. Pode ser substituída por qualquer elemento isolante, como pode ser o arnês de segurança, que permita afastar uma pessoa caso seja eletrocutada enquanto manipula o sistema de alta tensão do veículo. A utilização da vara de extração ou de um elemento isolante evitará que a pessoa que efetua o resgate também seja eletrocutada ao tentar socorrer o acidentado. É conveniente recordar que, logicamente, é imprescindível tirar todos os objetos pessoais de metal que se estejam a usar (entre os quais se encontram joias e relógios) antes de começar a manipular um veículo elétrico ou híbrido. Por outro lado, as pessoas com pacemakers, desfibrilhadores e outros dispositivos médicos similares não poderão realizar trabalhos em veículos elétricos ou híbridos, visto que o campo magnético que estes últimos criam pode afetar o funcionamento desses aparelhos.

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Ú LT IM AS AU TOBRILL A NTE

Purmask: máscara Purflux de proteção Em colaboração com os grupos Alchimies e Georges Pernoud, respetivamente especialistas em aditivos e no setor do design de moldes para a injeção de peças plásticas, a Sogefi fabricou em apenas algumas semanas uma máscara inovadora, ecológica e confortável. A Purmask é uma máscara semirrígida e reutilizável que se adapta perfeitamente à forma do rosto, graças a uma borda flexível. E está também equipada com dois cartuchos laterais, que integram meios de filtragem. A máscara foi aprovada segundo a norma de máscaras cirúrgicas (EN14683 Tipo II) pelo laboratório francês LNE e possui uma eficácia de filtração superior a 99% e uma pressão média inferior a 25,7 Pa/ cm2, o que representa uma garantia de boa respirabilidade e limpeza microbiana de acordo com os regulamentos. A máscara está projetada para uso profissional e também oferece uma vantagem financeira significativa, pois apenas as recargas de filtro Purflux precisam ser substituídas.

Lançamento de linha ECO de materiais contra a Covid -19 N este momento, e mais do que nunca, está na ordem do dia a proteção da saúde dos profissionais das oficinas e dos seus clientes finais, por razões óbvias de higiene e para evitar possíveis contágios de Covid -19 através de superfícies contaminadas. A espanhola Autobrillante integra agora no portefólio a sua linha ECO de produtos de proteção para o interior do veículo: capas para assentos de automóveis, tapetes, tampas de volantes, etc., A segurança destes novos produtos foi amplamente testada e é considerada essencial, porque os seus materiais entram em contacto direto com a roupa ou a pele das pessoas durante as operações de reparação e de manutenção. No último Catálogo Covid-19, a Autobrillante inclui capas para assentos ECO, compostas por uma mescla de plástico virgem e reciclado a 50%. Fabricadas

ROADY LANÇA SERVIÇO DE REVISÃO OFICIAL A Roady está a celebrar o seu 22o aniversário em Portugal com o lançamento do serviço de revisões oficiais conforme previsto pelo fabricante, acrescentando esta importante oferta ao seu portefólio. Com um conceito inovador, os centros-auto Roady reúnem num só lugar uma loja de equipamento, peças e produtos para o automóvel e uma oficina de reparação e manutenção, permitindo aos clientes encontrar no mesmo espaço todas as soluções para o seu automóvel.

SCHAEFFLER AG PREPARA AUMENTO DE CAPITAL Durante a sua assembleia geral extraordinária, a Schaeffler aprovou a criação de capital autorizado até 200 milhões de ações. Esta autorização apenas permite a emissão de ações comuns, sem direito de voto, e o seu prazo deverá terminar em 31 de agosto de 2025, podendo ser utilizada uma vez ou em prestações durante este período.

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em polietileno de baixa densidade e de cor branca, graças à sua espessura de 18 a 25 microns protegem de forma eficaz o assento dos veículos nos trabalhos das oficinas, evitando danos e manchas. Já os tapetes de proteção de piso ECO do fabricante são feitos de papel 100% reciclado e resistente, que protege com eficácia o piso do veículo durante o trabalho na oficina. Tanto as capas como os tapetes podem ser personalizados com imagens ou logotipos de acordo com a necessidade da oficina.

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A Schaeffler AG vê a criação deste capital autorizado como uma resolução puramente antecipada. Estas medidas estabelecem as condições necessárias para um potencial aumento de capital. Isso permitirá reforçar a posição financeira da Schaeffler AG, impulsionando a transformação do Grupo Schaeffler e disponibilizando verbas para eventuais oportunidades de crescimento.



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PNE U S

GOODYEAR Auto Bild premeia Vector 4Seasons Gen-3

PNEUS

Bridgestone irá fornecer pneus à Volta Trucks A Volta Trucks anunciou uma aliança com a Bridgestone, que escolheu como fornecedor oficial de pneus. O acordo abrange o lançamento do primeiro veículo da marca e o fornecimento de pneus para os protótipos que vão começar a ser avaliados pelos operadores de frotas no início de 2021. Para o Volta Zero, a Bridgestone fornece o pneu 285/70R19.5 146/144M R-Steer 002 para os dois eixos. O padrão direcional do pneu oferece um desempenho ideal para veículos totalmente elétricos com elevado binário e, graças ao design direcional do piso, os pneumáticos R-Steer também garantem uma redução significativa no ruído durante a condução. Esta é uma característica fundamental para o Volta Zero, que tem um sistema de propulsão silencioso e totalmente elétrico,

pois trata-se de um modelo projetado principalmente para uso em centros urbanos, onde pode ser conduzido 24 horas por dia mesmo nas zonas com padrões mais restritos de poluição sonora. O Volta Zero, de 16 toneladas, é o primeiro veículo totalmente elétrico desenvolvido expressamente para a entrega de mercadorias na cidade, reduzindo o impacto ambiental do trânsito rodoviário. Projetado desde o início para ter uma autonomia entre 150 a 200 quilómetros, até 2025 o Volta Zero vai permitir uma redução estimada em 180.000 toneladas de CO2. O primeiro protótipo Volta Zero está atualmente em construção e será apresentado ainda em 2020. Os veículos do teste começam depois a ser avaliados pelos potenciais clientes logo no início do próximo ano.

D UN LO P

NOVO PNEU PARA TODAS AS ESTAÇÕES A Dunlop acaba de lançar o primeiro pneu indicado para todas as estações, o Dunlop Sport All Season. "Este é um produto concebido para oferecer uma performance superior em climas de inverno moderados", explica Mike Rytokoski, diretor de marketing para a Europa da Goodyear, que acrescenta ainda que o pneu "poderá lidar com todas as condições climatéricas: piso seco, molhado e com neve". O novo pneumático apresenta-se com nervuras diferentes e tem três caraterísticas principais: a construção de blocos desportiva, o desenho da banda de rolamento Aqua-Eject e o compos-

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to Weather-Flex. O Sport All Season é proposto numa gama de 31 medidas, em jantes que vão das 14 às 18 polegadas. 82

Colocado à prova com mais 50 pneus para todas as estações na medida 205/5516, o novo Goodyear Vector 4Seasons Gen-3 venceu os testes da revista alemã Auto Bild na sua categoria. A publicação refere que ele se destaca pelo “desempenho convincente em todas as condições climatéricas", conseguindo também o título 'EcoMaster'pela performance líder em quilometragem, resistência ao rolamento e relação preço/quilometragem. De referir que o Goodyear Vector 4Seasons Gen-3 combina várias tecnologias, para ter um comportamento eficaz em piso seco, piso molhado e na neve.

Michelin X Multi com novas referências A gama de pneus Michelin X Multi para camiões e semirreboques recebeu sete novas referências, indicadas para uma utilização polivalente no transporte regional. Eles beneficiam das mais recentes tecnologias da Michelin para "aumentar a capacidade de carga, a duração e a segurança, além do seu maior respeito pelo meio ambiente", já que podem ser reesculturados e recauchutados.




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