Turbo Oficina 90

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#90 DEZ. 2021 / JAN. 2022

2,90€ (CONT.) PUBLICAÇÃO BIMESTRAL

JOSÉ AMARAL,

VALORCAR “AS OFICINAS SÃO UM ATOR IMPORTANTE"

profissional

BALANÇO

O ANO DE 2021 E OS PROJETOS PARA 2022

JOAQUIM CA NDEI

DPAI

AS

JOSÉ COUTO

AFIA

ROBERTO GA SPAR

ANECRA

RODRIGO SILVA

ARAN

COMISSÃO ESPECIALIZADA DE SERVIÇOS DE MOBILIDADE DA DPAI

SEMPRE PRESENTE PARA AS OFICINAS

ESTUDO CLEPA ELETRIFICAÇÃO COLOCA 500.000 EMPREGOS EM RISCO



profissional

SUMÁRIO

#90 / DEZEMBRO 2021/JANEIRO 2022

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PROTAGONISTA

José Amaral: A Valorcar está empenhada em potenciar a reciclagem dos veículos em fim de vida

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ATUALIDADE

32.a Convenção ANECRA: As tendências para o futuro do Aftermarket no centro do debate

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ATUALIDADE

M Force: Na inauguração da 83.a oficina, a rede de oficinas revela planos para crescer ainda mais em 2022

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ATUALIDADE

Top Car: As melhores oficinas nacionais foram premiadas na Gala Europremium

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ATUALIDADE

Comissão Especializada de Pneus da DPAI: Oficina de Confiança é uma forte aposta

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DOSSIER

Associações do sector automóvel: O balanço de 2021 e os planos para 2022

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INTERNACIONAL

Impacto da Covid no Aftermarket Mundial: Estudo revela os efeitos da pandemia no sector

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TÉCNICA

Pegada de Carbono nas Oficinas: Como calcular o impacto ambiental e criar estratégias de descarbonização para a sua empresa

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PNEUS

Michelin e Bridgestone: União de esforços pela sustentabilidade

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EDITORIAL

UNIDOS PARA UM ANO DE DESAFIOS O

ano de 2021 foi extremamente desafiante, tendo começado sob uma enorme vaga pandémica que nos obrigou a confinamentos alargados e medidas de restrição. Mas, durante a Primavera, Verão e Outono, a situação foi evoluindo positivamente, graças aos progressos na vacinação. E quando, com o regresso da Expomecânica tudo parecia encaminhar-se para um bom final de ano, eis que neste Inverno a terrível Omnicrom veio esfriar o entusiasmo numa recuperação continuada e sem sobressaltos da pandemia. E, se os dados do final do ano não são animadores, os desafios que se colocam ao sector também não tornam o cenário mais agradável. São muitas as exigências para 2022, incluindo novos regulamentos e transformações no negócio, como destacado no Fórum DPAI | ACAP, a necessidade de continuar com a descarbonização através da recuperação e reutilização de materiais, como tão bem frisa a Valorcar e é também é demonstrado pela Bridgestone e Michelin, ou a necessidade de combater fenómenos ilegais, como alerta a Comissão Especializada de Serviços de Mobilidade da DPAI.

É reconfortante saber que o sector está a preparar-se para abraçar as transformações à sua atividade. E também que, como fica bem patente nesta edição da Turbo Oficina, as associações do sector estão a trabalhar para garantir que as empresas têm o suporte necessário para continuar a elevar o nível de qualidade dos serviços, produtos e dos seus funcionários. Porque é importante frisar que, como afirma Dário Afonso, o essencial nesta transformação serão as pessoas, pois garantir a sua capacitação pode ser a diferença entre vencer ou desaparecer com as mudanças que estão a ocorrer. Neste campo a formação tem, obviamente, um papel fulcral, mas é igualmente necessário que os responsáveis pelas empresas coloquem um foco cada vez maior na gestão dos recursos humanos. Para terminar, não posso deixar de destacar as palavras de Joaquim Candeias no Fórum DPAI | ACAP, com um apelo para que o Aftermarket esteja unido e faça em conjunto este trajeto rumo ao futuro do automóvel. Porque, perante os enormes desafios que se colocam ao sector neste novo ano, a união vai fazer a força.

profissional

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NUNO FATELA E D ITO R CHE FE

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ENTREVISTA

VALORCAR

MAXIMIZAR A RECICLAGEM DOS VEÍCULOS José Amaral, Diretor Operacional da Valorcar, revela em entrevista à Turbo Oficina a importância da reciclagem e reaproveitamento de peças ou materiais dos veículos. Depois desta entidade ter superado o patamar do milhão de veículos reciclados, e agora focada no objetivo de chegar aos 350 centros de abate, a Valorcar reclama por novas medidas estatais, ao nível do desmantelamento informal, rapidez no cancelamento das matrículas e um sistema informático rápido e eficaz. José Amaral revela também que a Valorcar pretende maximizar ainda mais a reciclagem das viaturas, que neste momento se situa nos 97% Texto David Espanca

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A

Valorcar foi criada em 2003 e iniciou a sua atividade em termos operacionais no ano seguintepara atuar na gestão dos resíduos da indústria automóvel. Atualmente esta entidade possui licenças do Estado Português para gerir o Sistema Integrado de Gestão de Veículos em Fim de Vida (SIGVFV) e o Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Baterias e Acumuladores (SIGRBA), e desempenha papel fulcral na reduçao do impacto ambiental do automóvel. Agora, momento em que foi superado o registo de um milhão de veículos em fim de vida abatidos, José Amaral, Diretor Operacional da Valorcar, falou com a Turbo Oficina sobre o significado deste feito. E, entre os vários temas abordados, foi revelado que uma das apostas da entidade para o futuro é um projeto dedicado à reciclagem das baterias de lítio dos veículos elétricos e híbridos. Quais os principais objetivos inerentes à atividade da Valorcar? Eles passam por garantir que os resíduos que são entregues nos centros de abate da rede sejam corretamente tratados, separando os seus materiais e encaminhando-os para reciclagem, de forma a atingirmos determinadas metas que estão previstas na legislação nacional. Por exemplo, implica que aquilo que está num veículo em fim de vida tenha de ser reaproveitado ou reciclado em mais de 95% do seu total, seja na reutilização de peças ou na valorização energética. A Valorcar efetua visitas aos referidos centros, para ver como é que as coisas estão e para promover sugestões de melhoria, organizando e suportando os custos de formações sobre o desmantelamento de veículos em fim de vida, remoção de materiais e até mesmo de operador certificado para a remoção do fluido do ar condicionado, que também existe no veículo em fim de vida. E estamos a organizar uma formação sobre o desmantelamento de baterias de veículos elétricos. Não sendo ainda uma realidade habitual, já começam a surgir alguns veículos elétricos em fim de vida, não pela idade, mas sim devido a algum problema ou um acidente. Os centros já estão preparados para esta nova realidade? Desde 2019 que estamos a preparar os centros de abate para esta realidade, e organizamos formações sobre veículos elétricos e híbridos, os cuidados a ter na remoção das baterias, o seu acondicionamento ou os equipamentos de proteção individual. Uma larga maioria dos centros já está capacitada, tiveram pessoas nas formações. Acontece também haver centros preparados que ainda não receberam este tipo de veículos.

Como analisa a ausência de incentivos para o abate de veículos em fim de vida? Um dos aspetos que a Valorcar defende é o retorno de políticas no âmbito da renovação do parque automóvel. Se não me falha a memória, este incentivo terminou em 2010 e seria importante que voltasse, porque iria aumentar a matéria-prima destinada aos centros que existem por todo o País, dinamizando a sua atividade económica. Noutro sentido, promover-se-ia também uma mais rápida transição para a descarbonização, com uma política de renovação do parque automóvel, que neste momento se situa nos 22,6 anos. Este número significa, basicamente, um envelhecimento do nosso parque automóvel. Em cidades como Lisboa e Porto até se pode achar que só há veículos extremamente recentes. Mas a realidade não é essa, pelo contrário. Por isso, são necessárias políticas de renovação deste parque, nomeadamente pelos objetivos da reciclagem e para conseguimos atingir as metas da descarbonização. FISCALIZAR O DESMANTELAMENTO INFORMAL Existem mais iniciativas em que o Estado devia ter um papel mais relevante? Uma poderia ser o cancelamento mais rápido da matrícula. Hoje entregam um veículo no centro de abate, este passa um documento chamado certificado de destruição, o qual é emitido numa plataforma informática gerida pela Valorcar. Só que depois esse documento tem de ser impresso e entregue no IMT, juntamente com os documentos do veículo e com o requerimento do proprietário para solicitar o cancelamento da matrícula. Este processo pode ter demoras muito significativas, que em algumas situações pode mesmo durar meses. Temos estado a trabalhar em conjunto com o IMT e a Agência Portuguesa do Ambiente para concretizar uma ligação informática entre estes dois sistemas, para que o proprietário entregue o veículo no centro de abate, seja emitido o documento do certificado e haja uma comunicação entre os dois sistemas informáticos, para que o Instituto, de forma automática, possa muito mais rapidamente cancelar a matrícula e comunicar à Autoridade Tributária. Outro aspeto também muito importante na gestão dos veículos e que, de alguma forma, tem paralelo também com a área das oficinas, é o chamado desmantelamento informal, no que diz respeito à mecânica automóvel.

A Valorcar tem lutado contra os circuitos ilegais de desmantelamento, considerando que eles são uma forma de concorrência desleal

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ENTREVISTA E o que defende a Valorcar nesta matéria? Apenas os centros de abate podem remover as peças dos veículos para depois as venderem reutilizadas. No entanto, há um circuito informal dos veículos antes de chegarem ao centro de abate. Por exemplo, algumas oficinas ou entidades ilegais retiram as peças do veículo e comercializam-nas, tornando-se um circuito não documentado. Como a Valorcar não tem acesso a essa informação, ela não é tida em conta quando se contabiliza o aproveitamento do veículo. Por outro lado, temos aqui uma situação de concorrência desleal com os operadores que estão licenciados pelo Ministério do Ambiente, que tem custos e a obrigatoriedade de remoção dos resíduos perigosos, como óleos ou baterias e o seu correto acondicionamento. O ponto principal aqui é que este setor existe, retira peças, faz concorrência desleal e comercializa essas peças muitas vezes em plataformas informáticas de grande circulação, como sites de comércio online, redes sociais, etc. O que pode ser feito em relação a isso? A perspetiva da Valorcar, e dos operadores de desmantelamento, é que temos de sensibilizar as nossas autoridades para haver maior fiscalização deste tipo de comércio. A nossa expectativa também é que as autoridades na área económica e ambiental estão cientes deste problema e irão fazer fiscalizações, sobretudo nos casos em que se verifica um maior volume de transações ou nos mais gritantes. As nossas autoridades não têm de chegar a todas as situações. Mas devem haver alguns exemplos em que seja publicamente comunicada a detecção dessa situação e dos problemas, e que os prevaricadores foram responsabilizados e tiveram uma penalização. Porque, acontecendo isso, a mensagem depois passa de forma muito rápida. As entidades oficiais estão cientes desta problemática e acreditamos que irão voltar a fazer fiscalizações e responsabilizar quem não está a cumprir este requisito. Como tem sido a evolução da Valorcar e que números espera alcançar em 2021? Neste momento, todas as empresas na área do desmantelamento em Portugal têm de estar associadas à Valorcar, assim como na área das baterias, existindo ainda outra entidade neste caso. Os quantitativos dos veículos que recebemos têm vindo a aumentar, tendo já atingido o patamar do milhão de unidades e acreditamos que este ano o total de veículos recebidos nos nossos centros deverá situar-se entre os 110 mil e os 120 mil. Em termos de baterias, os centros recebem cerca de 20 mil toneladas de baterias, e relativamente às de iões de lítio a quantidade recolhida foi na ordem das 10 toneladas. Por outro lado, a taxa de reaproveitamento dos veículos em 2020

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Uma ds medidas que a Valorcar defende é o regresso dos incentivos ao abate de veículos, que ajudaria a baixar a idade média de 22,6 anos do parque automóvel nacional

Com cerca de 300 centros de abate em Portugal, a Valorcar espera receber este ano entre 110.000 e 120.000 veículos em fim de vida 8

foi de 97%, enquanto os restantes 3% vão parar a um aterro, em condições controladas. O objetivo é que, cada vez mais, se caminhe no sentido destes materiais serem reaproveitados e reintroduzidos no circuito económico. Quais as principais aplicações dos materiais reciclados? Mais de 88% do veículo é reaproveitado como material ou em peças para utilização: • Dos metais, por exemplo, as siderurgias fabricam essencialmente ferro para a construção civil; • Os alumínios são aproveitados para novos motores, jantes ou outras aplicações fora da área automóvel, como perfis de janelas, utensílios domésticos; • O granulado de pneu é reaproveitado desde os parques infantis, campos de futebol de relva sintética, entre outras aplicações; • Os vidros são triturados, depois de separado o plástico, sendo novamente introduzidos, por exemplo no fabrico de embalagem de frascos ou de garrafas, assim como de revestimento cerâmico para loiça sanitária; • Os para-choques são triturados e usados para fazer várias aplicações, por exemplo, de mobiliário urbano feito a partir de plástico reciclado, pinos que limitam estacionamentos e alguns dos apoios de praia; • No que respeita ao chumbo das baterias também é reciclado em grande extensão, até porque a sua principal aplicação é ser usada no fabrico das novas baterias.


Garantir o máximo reaproveitamento dos materiais é algo de grande importância para a Valorcar? Temos de fazer aqui um esforço, e todos os dias trabalhamos para maximizar o reaproveitamento destes materiais. Há um enquadramento legal que assim o determina e que se baseia nas nossas preocupações enquanto sociedade que caminha para uma economia cada vez mais circular, em que não produzimos desperdício e reaproveitamos enquanto matéria-prima para outro fim. ATINGIR OS 350 CENTROS DE ABATE O marco de um milhão de veículos abatidos foi atingido. O que significa isso e quais os planos para o futuro? Significa que a rede Valorcar tem estado em crescimento e que necessariamente agora vamos chegar a uma fase de estabilização, estimando que possamos atingir os 350 centros. Iremos continuar ainda mais focados na melhoria da qualidade do desempenho dos mesmos, para que consigamos reaproveitar cada vez mais materiais dos veículos e que os procedimentos aplicados sejam cada vez mais produtivos. Vamos prosseguir a nossa política formativa, só neste ano foram doze as ações de formação que organizamos para os centros.Iremos continuar a desenvolver este esforço no sentido de capacitar cada vez mais as pessoas que estão no terreno. Um aspeto que nos apercebemos é a importância de dotar estas pessoas de competências ou certificar as que elas já têm.

A SEGUNDA VIDA DAS BATERIAS DE LÍTIO Quando já não tem capacidade para ser usada num automóvel, uma bateria de iões de lítio é testada para verificar se ainda pode trabalhar, ou se os seus componentes (as suas células) ainda podem desempenhar bem a função de acumular energia. Nesse caso, ela é reaproveitada ou reutilizada numa segunda vida. Um exemplo desta situação, citado por José Amaral, são as instalações da ACAP. “Temos um sistema de painéis fotovoltaicos e, quando a energia produzida não é consumida, armazenamola através de um sistema com baterias para utilizar mais tarde. E essas baterias foram reaproveitadas a partir de outras usadas de veículos elétricos. Estamos a falar de uma reconstrução, um recondicionamento da mesma, prolongando-lhe a vida”. José Amaral revelou ainda que existe um projeto em curso com os operadores da rede Valorcar, que envolve o desmantelamento de resíduos de baterias de lítio. Ele prevê a separação dos componentes (tais como caixas, circuitos eletrónicos, módulos e células), trituração dos módulos e análise da composição dos materiais presentes no interior das células. Neste momento, em Portugal, avança o responsável, “há a capacidade para trabalhar e separar os vários constituintes da bateria até ao nível das células, que está no seu interior. Estamos a efetuar contactos para que surjam novas iniciativas no nosso País, para conseguir avançar e separar ainda mais materiais ao nível das células, com a sua trituração e a separação de outros materiais que existem no seu interior, como algum lítio e grafite. Este projeto terá continuidade porque irão surgir em Portugal instalações especializadas na trituração das células e no aproveitamento dos materiais que resultam desse processo”.

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Ao nível formativo, quais são as vossas principais preocupações? Há alguns aspetos a ter em atenção. Esta é uma área que, de alguma forma, conjuga a mecânica com a gestão de resíduos, e requer nalguns casos competências de mecânica (o desmantelamento dos elétricos, o desmantelamento de um veículo em fim de vida, mesmo que não seja elétrico, as várias operações são preciso realizar, etc.), mas também conhecimentos na parte de gestão de resíduos (correto acondicionamento e sinalização, óleos, baterias, etc.). Por outro lado, muitas vezes algo transversal a todas as áreas é a organização, limpeza e disciplina no local de trabalho. Que outras iniciativas levam a cabo? Além das formações, a Valorcar faz muitas visitas ao terreno. Penso que irá terminar 2021 com mais de 200 presenças em centros de abate e operadores de gestão de resíduos, para acompanhar a sua atividade, propor melhorias e até mesmo para aprender, tudo para que este setor tenha um desempenho cada vez melhor. De salientar que nestes 300 centros de abate temos empresas com uma performance muito elevada, com condições muito boas a nível de equipamentos e de instalações, que estão ao nível do melhor que existe a nível europeu.

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ENTREVISTA

No que diz respeito a estes centros, que ilações se podem tirar da avaliação dada aos mesmos, em que 14 obtiveram a nota A e 60 a nota B? Criámos esta classificação para traduzir aos centros de uma forma muito simples como está a ser o seu desempenho. Aos que estão na categoria A, por estarem a ter um bom desempenho, dá o incentivo de assim se manterem, e leva os que estão nas outras categorias a querer melhorar para atingir essa avaliação. A reação dos centros a esta classificação foi, de uma forma geral, positiva, já que é do conhecimento do próprio centro e da Valorcar, a qual faz um apanhado geral mas que não é público. O principal objetivo da criação desta classificação foi permitir aos centros, de forma simples, avaliar o seu desempenho, e tornar isso numa ferramenta de melhoria. O que temos notado é que isto tem contribuído para muitos centros caminharem nesse sentido. Além disso, anunciamos publicamente todos os anos quais são os cinco centros com a melhor classificação. E atribuímos um prémio, também na perspetiva de promover o bom desempenho e passar essa mensagem aos centros.

A Valorcar está a desenvolver um projeto para os seus operadores que envolve o desmantelamento de resíduos de baterias de lítio

“OFICINAS SÃO UM ATOR IMPORTANTÍSSIMO” Qual o papel das oficinas na atividade da Valorcar e a relação com os centros de abate? Estas têm um papel importante no tratamento de resíduos e envio de componentes removidos dos veículos? As oficinas são um ator importantíssimo na cadeia do automóvel, na sua manutenção, podendo ter papéis importantes a vários níveis. Por exemplo, muitas vezes são o local que serve de intermediário da entrega do veículo para abate, porque é no decorrer de uma reparação que se pode perceber que terá um problema e o custo da sua reparação não compensar, face ao valor do carro, podendo levar o proprietário a decidir entregar o seu veículo para abate.

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A oficina acaba depois por ser um facilitador do encaminhamento do veículo para um centro de abate, mas também ao informar o proprietário da documentação necessária, até porque pode ter algum tipo de parceria com um centro de abate. Outra vertente é o facto da oficina ser um grande consumidor das peças reutilizadas que são retiradas dos veículos encaminhados para abate, daí também ser um parceiro privilegiado dos referidos centros. Há um aspeto importante, que passa por sensibilizar as oficinas de que não devem atuar como centros de abate de forma ilegal. Ou seja, receberem veículos ou efetuarem operações de desmantelamento para o qual não estão licenciados. Atenção, temos situações na rede Valorcar de oficinas que depois têm também uma parte licenciada como centro de abate, o que nos parece uma solução ótima e normalíssima. É importante que as oficinas percebam que, se quiserem optar pelo negócio da reutilização das peças e remoção das mesmas, então devem cumprir os requisitos legais obrigatórios, obtendo uma licença como centro de desmantelamento. Isto é algo que, em termos técnicos, está perfeitamente ao alcance destes estabelecimentos. Por outro lado, são parceiros importantes ao nível do encaminhamento de resíduos, nomeadamente das baterias. Muitas delas quando chegam ao fim de vida são removidas em oficinas, que as devem acondicionar de forma correta e encaminhar para os destinos adequados. Há espaço para mais desafios ao nível da reciclagem de veículos? Os desafios vão estar do lado de uma maximização da reciclagem do veículo, ao nível de uma maior qualidade no próprio processamento dos resíduos. Por exemplo, hoje em dia estamos a separar uma fração principalmente constituída por plásticos ou espumas, mas se conseguirmos

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separar esses materiais a 99,9%, seguramente conseguiremos ter melhores características e mais facilmente encaminhá-las para as respetivas soluções. No caso dos materiais não metálicos, há também alguns desafios em termos de investigação e desenvolvimento no que respeita à sua separação e respetivo encaminhamento para segunda vida, ou seja, saber em que áreas poderá ser maximizada a sua reciclagem. Temos estado a participar em candidaturas ao PRR (Plano de Recuperação e Resiliência), nomeadamente para surgirem iniciativas em Portugal que permitam ir mais longe na reciclagem das baterias de iões de lítio. Penso que num prazo máximo de cinco anos já teremos unidades em Portugal capacitadas para realizar estas atividades. Os objetivos da Valorcar para 2021 foram concretizados? E que outros projetos têm em carteira? Relativamente à rede e ao seu crescimento, esse propósito claramente está atingido e ultrapassado. Neste momento qualquer centro que queira associar-se é bem-vindo, desde que reúna as condições necessárias, integrando a Valorcar e passando a ser acompanhado. Quanto ao objetivo das metas de aproveitamento, perspetiva-se que

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este ano também seja cumprido, mas temos que continuar a acompanhar a atividade dos centros. Na esfera da rede, diria que passa muito pelo surgimento de unidades que possam fazer a reciclagem das baterias de lítio e ir mais longe do que já estamos a fazer. Tal como foi falado, também temos como finalidade a efetivação da ligação informática, certificado de destruição, cancelamento da matrícula e cancelamento do pagamento de IUC. Também era importante haver ações de fiscalização conhecidas com resultados na área do desmantelamento ilegal, já que está em causa o desempenho deste setor da reciclagem dos veículos. Mas não depende só de nós.

Os pneus são um dos materiais reciclados dos automóveis, sendo depois reparoveitado para parques infantis ou campos de futebol de relva sintética


NOTÍCIAS

N ACIONAIS

Q&F Lda distribui Akrapovic A empresa de comércio de automóveis e acessórios Q&F Lda anunciou a expansão da sua gama de produtos com os componentes de escape da marca Akrapovic. Considerando um orgulho a possibilidade de integrar esta “marca mundialmente reconhecida do mundo da competição automóvel e motociclismo”, a Q & F destaca os “14 prémios Red Dot Awards que comprovam que a Akrapovic não só é capaz de elevados níveis de performance, como também em qualidade, som e claro, no seu design”.

DIE SE L T EC HNIC

Rino e Cofidis anunciam acordo Procurando facilitar o financiamento das reparações aos seus clientes, a rede de oficinas Rino criou uma parceria com a Cofidis que permite aos automobilistas pagarem as reparações num prazo até 12 meses sem juros. A Rino explica ainda que “esta ferramenta já se encontra disponível em algumas oficinas, e em breve vai estender-se a toda a Rede".

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Balanço de 2021 revela ano pleno de sucesso

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iesel Technic relevou a sua análise aos resultados obtidos durante 2021, e não tem dúvidas em considerar que este foi “um ano de negócios bem-sucedido”, referindo ainda que um dos segredos para este sucesso foi a cooperação “estável com parceiros de distribuição e seus 12

clientes de oficina”. Considerando que estes ano foi de aprendizagem e adaptação para atuar num cenário de pandemia, a empresa assinala o relevo das “a fortes parcerias com parceiros de distribuição e destaques, bem como inovações do setor de produtos e serviços” para o bom resultado anual.


TotalEnergies revela embalagens mais sustentáveis

O lançamento da divisão de Peças Universais foi um dos destaques da atividade da Diesel Technic em 2021

Entre os destaques na atividade da Diesel Technic, o principal vai para a integração das Peças Universais como uma nova divisão totalmente independente, que agrupa cerca de 2500 referências da DT Spare Parts e da SIEGEL Automotive. A Diesel Technic destaca como se tornou mais simples a procura por estes produtos, que ficaram “ainda mais fáceis de se navegar e acessar” nesta nova divisão. E, concluindo a apresentação das vantagens para os seus clientes, a empresa assinala que “dentro da estrutura do princípio “One Stop Shopping”, da Diesel Technic, as peças universais necessárias podem ser acrescentadas diretamente a um pedido, pelo que os parceiros de distribuição poupam tempo e dinheiro no processo de compra”.

A implementação de conceitos digitais para a troca de componentes também marcou o ano de 2021 na DT, com destaque para as soluções de formação digitais colocadas ao dispor dos clientes. E, na vertente da comunicação online, a empresa destaca também a evolução positiva das suas redes sociais, superando a barreira dos 10.000 subscritores do seu canal de Youtube e com a integração de um grupo exclusivo no Facebook para a Comunidade Parts Specialists. Apesar do cenário de pandemia, a Diesel Technic teve inda a possibilidade de regressar aos eventos presenciais. Nesse regresso ao contacto ao vivo a empresa destaca a presença na Solutrans, realizada na cidade gaulesa de Lion entre os dias 16 e 21 de novembro. 13

Como parte do seu contributo para uma economia mais sustentável, a TotalEnergies Lubrificantes revelou que estão já disponíveis no mercado as suas novas embalagens para a gama Quartz Xtra, que são mais sustentáveis. Recorrendo a novos materiais como o HDPE (Polietileno de alta densidade), as novas embalagens da especialista em lubrificantes, com capacidade de 1 litro e de 5 litros, são agora fabricadas com 50% de materiais reutilizados e podem ser recicladas na totalidade.

Metalcaucho tem novo catálogo Para entrar em 2022 com todo o ímpeto, a Metalcaucho lançou de um novo catálogo que inclui, de forma resumida, as suas 35 gamas e mais de 300 famílias de produtos. Indicando que esta é “uma ferramenta muito útil que permite ver de uma nova forma o nosso catálogo”, o formato agora apresentado pretende oferecer uma visão abrangente das mais de 26.000 referências da Metalcaucho.

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NOTÍCIAS

N ACIONAIS

Data Quality Management recebe elogios

LO C T I T E

Nova plataforma de formação online gratuita J á está disponível online a LOCTITE XPLORE, uma nova solução digital para passagem de conhecimentos que a especialista em selantes e adesivos apresenta como “uma inovadora plataforma de formação online gratuita para facilitar o trabalho dos profissionais do setor de montagem, manutenção e reparação automóvel”. O objetivo desta nova ferramenta de trabalho passa por ajudar a garantir que as oficinas tomam as decisões mais acertadas e fazem a escolha dos produtos ideais para cada intervenção, mesmo quando se trata de responder às exigências das últimas inovações no sector.

Esta plataforma simplifica o acesso a um vasto manancial de recursos relacionados com a utilização dos adesivos e selantes da LOCTITE. E, partindo de 65 anos de experiência nesta área, toda a informação ficará organizada em módulos que dão a conhecer a tecnologia oferecida por cada um dos produtos. De momento já estão disponíveis na LOCTITE XPLORE duas formações para consulta, subordinadas aos temas de “Como aumentar a fiabilidade e prevenir falhas dos fixadores de roscas” e “Como aumentar a segurança e evitar os erros mais comuns na colagem de janelas”.

MOBIL REVELA NOVOS ÓLEOS PARA CAIXAS MANUAIS O Lubrigrupo, Distribuidor Autorizado de lubrificantes Mobil em Portugal, revelou quatro novos óleos para caixas manuais, numa expansão da gama que contempla as referências 75W Multi Vehicle, o 75W-80 Multi Vehicle, o EP 75W-80 Multi Vehicle e 75W-90 Multi Vehicle. Entre as características destes novos produtos um dos destaques vai para a versatilidade, já que todos eles podem ser utilizados em transmissões de modelos de diversas marcas. O Mobil 75W Multi Vehicle destina-se a modelos da BMW, Ford, Land Rover e VAG Group com caixas manuais que, geralmente, tenham especificações

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um de 75W API GL4. Já o lubrificante Mobil 75W-80 Multi Vehicle, que garante “excelente proteção para rolamentos e engrenagens, bem como desempenho comprovado dos sincronizadores” em caixas manuais, pode ser utilizado em veículos da BMW, Vauxhall/Opel, Mini, Land Rover, Honda, Volvo e Grupo VAG. A lista de novidades fica completa com o Mobil EP 75W-80 Multi Vehicle, com aplicação em modelos da Citroen, Peugeot, Renault, Nissan e Mazda, e com o novo Mobil 75W-90 Multi Vehicle a destinar-se às transmissões manuais de automóveis da Ford, Opel/Vauxhall, Mazda, Volvo e Grupo VAG. 14

A Alliance Automotive Group (AAG), distribuidora de peças e fornecedora de mais de 30.000 oficinas na Alemanha, elogiou as vantagens do Data Quality Management do TecDoc, considerando que ele pode ser essencial para aumentar o sucesso do e-commerce neste sector. A AAG recorda que esta área, que já estava em expansão nos últimos anos, ganhou maior fulgor devido às restrições da pandemia, pelo que soluções como a implementada pelo TecDoc são essenciais. Este grupo automóvel considera que, para triunfar no Aftermarket Independente, é necessário combinar fiabilidade, uma vasta gama de produtos e uma pesquisa fácil pelos clientes, afirmando que neste último campo tem total confiança no TecDoc, com quem trabalha há duas décadas. Andreas Leusbrock, da AAG, explica que os dados da plataforma de componentes são integrados nos sites, “um fator de sucesso crucial. Facilita a identificação da peça exata a partir da linha de produtos, simplificando a venda de peças online e reduzindo os erros”. Falando especificamente das vantagens do Data Quality Management, este responsável conclui que ele “otimiza os nossos processos diários de gestão de dados. Queremos ser mais eficientes, o que é possível com a qualidade de dados que recebemos do TecDoc. Para nós vai significar mais encomendas online”.


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NOTÍCIAS

N ACIONAIS

S U ST E N TABILIDADE

bilstein group reforça performance ambiental

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econhecendo que “a proteção do ambiente significa a proteção do negócio”, o bilstein group deu a conhecer as mensagens que estão na base da sua estratégia de sustentabilidade. A referência do Aftermarket assinala que “é importante reter que a sustentabilidade vai para além da pegada de carbono de uma empresa”. E, como tal, para si este conceito parte de três pontos principais. Ou seja, para minimizar o seu impacto no planeta, o bilstein group coloca ênfase nas vertentes económica (combinando proteção ambiental e mobilidade acessível com a durabilidade e qualidade dos produtos), ecológica (focando processos e estruturas que conservem os recursos, tanto na produção como na distribuição) e nos aspetos sociais do negócio (pela preocupação com os seus colaboradores e com o meio ambiente). O bilstein group recorda que “o foco na nossa sede é a Proteção Ambiental e, na verdade, desde 2004 que esta é uma preocupação transversal ao grupo” e que tem dado origem a diversas iniciativas.

Desse rol de melhorias fazem parte o sistema logístico automatizado implementado nesse mesmo ano, que reduz as emissões de CO2 na ordem dos 40%, a introdução em 2016 do padrão KfW 55 que permite hoje um consumo energético 45% inferior e, no ano de 2017, a utilização em exclusivo de lâmpadas LED, introdução de um sistema fotovoltaico e o conceito de aquecimento inovador com a utilização de uma máquina específica”. Mais recentemente, em 2020, o bilstein group recorda a sua iniciativa para usar embalagens 100% de cartão ou 100% de plástico, afastando-se do conceito de solução combinada. Na análise às vantagens proporcionadas por estas iniciativas de melhoria ambiental, o bisltein group recorda que hoje em dia as suas instalações consomem menos 45% de energia que as instalações similares. Entre as alterações que permitiram esta melhoria, a empresa destaca “o sistema de gestão de energia nas localizações logísticas e de produção mais importantes, o uso de materiais de embalamento totalmente recicláveis e a transição para uma frota automóvel gradualmente eletrificada. A terminar, o grupo que representa as marcas febi, SWAG e Blue Print revela que “todos os processos de produção no bilstein group Engineering foram analisados e otimizados, o que representou uma poupança de 47 toneladas de CO2 e 140 400 kW/hora de processamento de energia por ano”.

FEBI DESTACA GAMAS DE DIREÇÃO E SUSPENSÃO

Foi revelada a nova campanha febi ‘Partilhamos o mesmo Destino’ que pretende “promover a forte gama de componentes de direção e suspensão”. Com o objetivo de destacar as características destas duas gamas de componentes da marca, é explicado que “com as peças de direção e suspensão da febi tem um

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parceiro de confiança que o ajuda a estar seguro e confortável, onde quer que a estrada o leve”. De momento a febi disponibiliza mais de de 10.000 componentes para direções e para suspensões, que respondem às necessidades de manutenção e reparação para as principais marcas europeias e asiáticas. Além disso, a marca coloca foco na qualidade e comportamento eficaz dos seus componentes, referindo que ela também deriva das capacidades superiores da produção, confiada ao bilstein group Engineering. 16

Bosch HDEV6 chega ao mercado A Bosch anunciou que já está disponível para o mercado de após-venda a sua bomba de injeção HDEV6, que representa a evolução da anterior HDEV5 e está concebida para pressões nominais de injeção de até 350 bar. A empresa destaca a importância deste lançamento pela crescente procura por esta solução nos motores a gasolina, onde cada vez mais marcas recorrem à HDEV6 e promete “apoiar as oficinas disponibilizando conhecimentos técnicos e os kits de reparação e substituição adequados”.

Revelada nova nova geração de e-fluids Petronas A Petronas deu a conhecer a nova geração da gama de fluidos para veículos elétricos ‘iona’. Considerando que a evolução desta gama de produtos “representa uma jornada contínua em direção às tecnologias e tendências mais recentes do mundo da mobilidade elétrica”, as inovações incorporadas neste produto destinam-se a dar resposta a diversas exigências dos sistemas de propulsão elétrica (Electric Drive Unit) e dos E-axles.


I N TE R N AC I O N A I S

UFI FILTER e Sofima passam a usar nome UFI

AF I A

Exportações continuam em queda N os últimos dados revelados durante 2021 sobre o comportamento das exportações automóveis nacionais, referentes ao mês de outubro, a AFIA anunciou que se verifica uma quebra anual de 7,8%, com um total de 7537 milhões de euros em componentes automóveis fabricados em Portugal destinados ao estrangeiro. Ao longo do décimo mês do ano a descida foi ainda mais acentuada, com o acumulado de 728 M€ a significar um diferencial negativo de 27,6% em relação ao total do ano transacto. A associação apresenta várias explicações para esta performance, consi-

derando que a falta de chips e componentes eletrónicos têm a maior parte da culpa nesta redução, mas que também a escassez de matérias-primas, a pandemia e o Brexit foram fatores influentes. Neste último caso o impacto é evidente, já que o Reino Unido passou de quarto para quinto maior destino de exportação nacional, sendo ultrapassado neste ranking pelos Estados Unidos. O pódio dos países de envio dos componentes automóveis nacionais é ocupado pela Espanha (destino de 28,9% dos produtos e com uma performance acima dos registos pré-Covid), a Alemanha (20,5%) e a França (11,7%).

MARELLI APOSTA NA DESCARBONIZAÇÃO A Marelli anunciou que pretende atingir a neutralidade carbónica na sua atividade até 2030, num objetivo inserido no plano de transformação do seu negócio para garantir a sustentabilidade ambiental. Para lograr este feito, a empresa vai implementar diversas mudanças, onde se inclui o recurso apenas a energias de origens renováveis, a eliminação de todas as formas de CO2 emanado da sua atividade que podem ser evitadas e ainda a aposta no mercado de créditos de carbono para compensar as restantes emissões.

Neste plano para atingir a neutralidade carbónica em 2030 destaca-se ainda o projeto “Monozukuri de eficiência energética”. Este plano congrega várias estratégias e planos de ação para tornar as fábricas da Marelli mais eficientes, onde se incluem melhorias para racionalizar as linhas de produção e a introdução de novos equipamentos mais evoluídos e com menores gastos de energia. 17

A Imprefil, distribuidora da gama de filtros hidráulicos UFI no mercado ibérico, anunciou que as referências da Sofima e UFI FILTER estão agora agrupadas num único catálogo com a imagem e cores da UFI. Esta medida pretende simplificar a pesquisa e “melhorar a velocidade de resposta à procura do mercado", e surge acompanhada da renovação do site da UFI, para que os “utilizadores acedam aos conteúdos de forma mais rápida, fácil e intuitiva, assegurando uma navegação flexível e acessível a partir de todos os dispositivos de última geração”.

Brembo obtém novo recorde no desporto automóvel Presença histórica na competição automóvel em todo o mundo ao longo dos últimos 45 anos, a Brembo anunciou que em 2021 foi alcançado um novo recorde de títulos por veículos equipados com os seus componentes de travagem. No balanço de final de ano, a empresa transalpina revela que obteve um total de 62 títulos mundiais, o que permitiu superar a fasquia dos 500 títulos mundiais obtidos durante a sua longa história de associação ao desporto motorizado.

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NOTÍCIAS

INT E RN ACIONAIS

Revelados os componentes de reparação mais procurados

BOSCH

Produção de chips de carboneto de silício vai arrancar R esultado de um projeto de desenvolvimento efetuado ao longo dos últimos anos, a Bosch anunciou que vai agora começar a produzir em larga escala chips de carboneto de silício (SiC), já que estes semicondutores permitem cumprir maiores distâncias e o carregamento mais rápido para carros elétricos. A empresa revela que já este processo de fabrico foi já otimizado ao longo de 2021, pois durante todo o ano tem vindo a produzir chips SiC para validação do cliente.

A Bosch define estes novos semicondutores como “pequenos, poderosos e extremamente eficientes”, prevendo que eles ganhem um peso cada vez maior na produção automóvel. Harald Krueger, membro do conselho de administração da empresa, afirma que “o futuro dos semicondutores de carboneto de silício é brilhante”, e que por isso a intenção da Bosch passa por assegurar que “nos tornamos um líder global na produção de chips de SiC para eletromobilidade”.

A Sernauto, associação espanhola de fornecedores de componentes automóveis, revelou a lista dos componentes com maior procura para reparações de veículos. Este documento, que serve de ajuda para perceber quais as peças que se devem monitorizar de perto ao fazer a gestão de stocks, mostra que os filtros e velas lideram a procura, seguidos dos componentes de iluminação, baterias e dos para-brisas. Neste ranking de demanda de produtos em Espanha revelado pela Sernauto surgem ainda, entre as principais necessidades das oficinas, as peças para ar condicionado, pneus, amortecedores, travões e componentes de transmissão.

BILSTEIN GROUP ADQUIRE MOTAIR Especialista e fornecedor de turbocompressores para diversos fabricantes OE de renome, e também fabricante de turbocompressores recondicionados e ainda produtos de reparação adicionais, a Motair foi agora adquirida pelo bilstein group. O reconhecido fabricante e fornecedor de peças sobresselentes para veículos ligeiros e pesados anunciou ter concluído esta compra em novembro, numa aposta feita com o propósito de aumentar a oferta disponibilizada aos clientes. Karsten Schüßler-Bilstein, Diretor-Geral do bilstein group, afirma que este investimento

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é “mais um importante passo no nosso caminho, para oferecer aos nossos clientes uma gama mais abrangente de soluções de reparação, com a maior qualidade possível”. O responsável considera, por isso, que os produtos da marca “são a extensão ideal à nossa gama atual com mais de 62 000 peças de reposição diferentes”, assinalando ainda que “o bilstein group e a Motair vivem segundo os mesmos valores em termos de serviço, qualidade e sustentabilidade. Para nós, a orientação máxima para o cliente é o padrão através do qual medimos todas as nossas ações”


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ATUALIDADE

32.a CONVENÇÃO ANECRA

AS TENDÊNCIAS DE UM SETOR EM PROFUNDA MUDANÇA A 32.a Convenção da ANECRA voltou em 2021 ao formato presencial com o mote “Um setor em mudança acelerada”, levando a debate os efeitos que a mobilidade, a pandemia, as novas motorizações e a Inteligência Artificial vão ter no mercado automóvel Texto David Espanca

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Convenção da ANECRA – Associação Nacional das Empresas do Comércio e da Reparação Automóvel, voltou a realizar-se em novembro de 2021 num formato presencial, e decorreu no Centro de Congressos de Lisboa, na Junqueira. E, no ano em que a Associação comemorou 111 anos de existência, cerca de 300 profissionais puderam presenciar este evento, que na sua 32ª edição debateu as últimas tendências do setor, nomeadamente a digitalização e eletrificação do automóvel. A sessão de abertura esteve a cargo do Presidente da Associação, Alexandre Ferreira, que ressalvou exatamente estes temas, seguindo-se a intervenção do Secretário-Geral da ANECRA, Roberto Gaspar, que enfatizou o “momento absolutamente único” que o setor automóvel atravessa. No painel dedicado ao após venda, “Um setor cada vez mais digitalizado”, o fundador e CEO da Claim Genius, Raj Pofale, falou sobre o impacto da Inteligência Artificial (IA) na reparação de colisão. O facto de a orçamentação automática beneficiar desta tecnologia, “permite-nos uma redução no tempo e custo despendido”, algo possível através de uma avaliação instantânea de danos baseada em “uploads” de vídeos ou fotos das viaturas. E esta é uma tecnologia comprovadamente amadurecida, já que foi assinalado que ela garante uma precisão superior a 80% para orçamentação de pequena dimensão ou perdas totais. Isso oferece diversas melhorias às empresas, que incluem a eliminação da necessidade de reboque, otimização da ocupação dos espaços e evitar inspeções desnecessárias, possibilitando ainda o envio direto das perdas totais para “salvados”. Os orçamentos mais complexos ainda terão de ser realizados por profissionais, mas, de uma maneira geral, a utilização de IA “vai reduzir a intervenção manual, o tempo do processo e o custo. E isso vai aumentar a eficiência da equipa e melhorar a experiência do cliente”, remata o responsável da Claim Genius. O segundo orador, José Ignácio Diaz, Diretor de Desenvolvimento da CESVIMAP (centro de formação da Mapfre), abordou o impacto que o fenómeno da IA pode ter num futuro próximo no após-venda, focando especificamente as oficinas de colisão. E explicou que “para uma oficina de colisão, a Inteligência Artificial vai ter implicações no fator tempo, melhorar a experiência do cliente e influenciar positivamente a gestão da oficina”.

nicos das viaturas). E foi referido que o processo de adaptação das oficinas na transição para os elétricos não é complicado, no que diz respeito aos recursos técnicos e humanos, centrando-se o problema no retorno do investimento que se tem de fazer para ter capacidade instalada que responda à procura. Outros dos temas deste painel foi a conectividade das viaturas, referindo-se a possibilidade dela gerar variadas oportunidades, pela nova relação que se estabelece com o consumidor final. E, na opinião dos presentes neste painel, todo o trabalho de manutenção passará no futuro a ser gerida de forma preditiva. O debate seguinte centrou-se na eventual desregulação do setor, com o fim de alguns processos específicos, em discussão em Bruxelas entre as diferentes associações do setor e a Comissão Europeia, bem como a nova regulamentação que irá reger as relações entre os diferentes protagonistas. Destacaram-se aqui os temas do acesso aos dados das viaturas comunicantes e da alteração do modelo de distribuição, que prevê a figura de agentes em detrimento dos concessionários, e do fenómeno das vendas diretas e das vendas online realizadas pelos fabricantes. A finalizar o período da manhã, João Ricardo Moreira, Administrador da NOS Comunicações, centrou a sua intervenção no enorme impacto que o 5G irá ter na sociedade em geral, com particular destaque para as viaturas autónomas. E elencou os principais atributos desta nova tecnologia, referindo “a alta velocidade e densidade, e uma baixa latência”, que vem proporcionar “condições reais a um conjunto de outras tecnologias já existentes”. O responsável acredita que “o 5G consegue entregar valor na dimensão social, contribuindo

O painel sobre "Desregulação do Sector" discutiu as alterações legislativas que estão a ser preparadas para 2022/23

OFICINAS: MANUTENÇÃO PREDITIVA No painel “Desafios de uma atividade em mudança acelerada” esteve em foco o tema da eletrificação do parque automóvel e o fenómeno das viaturas conectadas (com foco no acesso aos dados téc21

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ATUALIDADE

UNI LANÇA NOVO PROTOCOLO PARA OS ASSOCIADOS Uma das intervenções da 32ª Convenção da ANECRA coube ao Administrador da Universo (Grupo Sonae), Carlos David, que apresentou à plateia a nova parceria efetuada com a ANECRA, anunciando que ela vai oferecer condições especiais para os associados. Trata-se do UNI, uma solução flexível de pagamentos, ferramenta de apoio ao negócio para as empresas associadas do após venda e reparação automóvel. Foi explicado no evento que esta nova solução permite oferecer aos clientes soluções de financiamento sem juros, com o Administrador da Universo a assinalar que “proporcionar crédito aos clientes é um enorme acelerador de vendas, mas é um processo pesado”. Por isso, Carlos David afirmou que cartão Universo “foi criado para potenciar as vantagens de crédito e eliminar as dificuldades”. Explicando os moldes da parceira, o orador explicou que, para oferecer todas as opções de crédito flexível Universo, basta o associado ter um terminal UNI, que as vantagens ficam imediatamente disponíveis. Como exemplo desses benefícios, foi explicado que esta solução permite ao cliente dividir o custo da reparação em várias prestações, mas que a oficina recebe o valor total no momento do pagamento. O UNI substitui o terminal bancário do estabelecimento, permitindo receber pagamentos com todo o tipo de cartões, tal como nos tradicionais TPA's. E ele incorpora, sem qualquer custo adicional, várias aplicações úteis para o negócio dos profissionais. Além disso, o UNI premeia os associados que utilizem o TPA com regularidade: ao ultrapassarem determinado número ou valor de transações ficam isentos de mensalidade.

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Os cerca de 300 participantes na 32.a Convenção da Anecra foram unânimes a considerar que o sector vai passar por grandes transformações nos próximos anos

ativamente para o desenvolvimento da sociedade como um todo”. O carro autónomo serviu de exemplo dessas capacidades, pela necessidade de receber 1 Terabyte (1000 Gigabytes) de dados por dia, com o Administrador da NOS a concluir que apenas as conexões 5G têm capacidade para lidar com estes fluxos de informação. VEÍCULOS USADOS EM FORTE EXPANSÃO A tarde da 32ª Convenção da ANECRA começou com foco na temática do comércio de veículos usados, um negócio em forte transformação. E a discussão teve como pano de fundo dois grandes temas: a rutura de stocks de viaturas e a entrada em cena de alguns grandes operadores. Neste último estão em destaque as gestoras de frota, os grandes grupos de retalho e até mesmo as marcas, que deixaram de ser unicamente operadores de B2B e apostam nesta vertente de negócio de forma estratégica. No decorrer do debate registaram-se várias ideias, mas a plateia foi unânime ao afirmar que nos próximos três ou quatro anos este setor tende a sofrer grandes transformações. No painel seguinte, sobre o comércio de veículos novos, o foco recaiu na revolução que está em curso, e foram abordadas as alterações muito rápidas ao modelo de negócio como o conhecíamos até hoje. Em foco esteve a introdução de novos modelos de distribuição, que preveem a substituição dos atuais concessionários pela figura dos agentes, as vendas diretas dos fabricantes aos grandes operadores de mobilidade e as ven22


das online, entre outras. E os oradores consideraram que isso lança um desafio gigantesco aos diferentes operadores no mercado, e de forma absolutamente transversal ao após-venda, comércio e fabricantes. Os desafios da competitividade e da mobilidade sustentável foram as temáticas em destaque na intervenção do último orador, António Pires de Lima, Presidente Executivo da Brisa. “Portugal é um país adiado do ponto de vista de reforço da

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sua competitividade económica”, começou por referir, pois, na sua visão, o país está “a viver uma estagnação há quase dez anos”. Depois o antigo político especificou os quatros campos onde Portugal mais falha do ponto de vista da competitividade, nomeadamente na estabilidade económica, na educação e competências, no mercado de trabalho, e na dimensão do mercado. A propósito da área onde atua de momento, Pires de Lima avançou, com base em dados atuais do tráfego nas autoestradas, que “o número de viaturas a circular em outubro deste ano já ficou muito próximo dos números pré-pandemia, o que pode anunciar que o automóvel vai continuar a ser um modo de mobilidade muito significativo e relevante”. O orador referiu ainda que “as profundas transformações são um enorme desafio para o ramo automóvel”, explicando que a transição energética dita uma substituição tecnológica (elétricos em vez de fósseis), o que força também a alterações nos modelos de negócio. Pires de Lima conclui que “o desafio para as empresas é saber interpretar esta mudança e saber tomar a liderança desta transformação”. O encerramento dos trabalhos da Convenção ficou a cargo de Alexandre Ferreira, que se congratulou por, mais uma vez, terem sido atingidos os objetivos do evento.


ATUALIDADE

"DESCARBONIZAÇÃO E MOBILIDADE ELÉTRICA"

UM LONGO CAMINHO A PERCORRER A ACAP realizou uma conferência dedicada à "Descarbonização e Mobilidade Elétrica", que mostrou que ainda há muito a fazer na redução das emissões. No evento surgiu também o alerta relativo à necessidade de apoiar a indústria automóvel no longo caminho que está por percorrer Texto David Espanca

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o âmbito do Portugal Mobi Summit 2021, iniciativa realizada recentemente em Cascais, a ACAP realizou uma conferência para discutir as temáticas da descarbonização, do mercado automóvel e da mobilidade elétrica. As principais conclusões que emanaram desta conferência apontam para o facto de ainda

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existir um longo caminho a percorrer, alertando que as metas traçadas pelo Estado Português dificilmente serão atingidas, seja pela ausência de medidas concretas ou pelo simples facto de um desconhecimento generalizado do consumidor. A abertura dos trabalhos esteve a cargo do Secretário-Geral da Associação Automóvel de Portugal, Hélder Pedro, 24

que assinalou como os temas estão na ordem do dia. Aliás, para demonstrar isso mesmo, foi explicado que a publicação pela Comissão Europeia, em julho passado, do pacote Fit for 55, "é um documento muito importante e que vem traçar as metas e os objetivos para o futuro em termos da União Europeia no que concerne à descarbonização". Este responsável recordou também


de automóveis que ainda temos em circulação E, por isso, conclui “que teremos diferentes caminhos para alcançar o objetivo” de redução de emissões.

que a indústria automóvel “que se readaptou, é apenas parte da solução", e salientou que na União Europeia é a que mais investe em Investigação e Desenvolvimento, pelo que tem soluções que vão no caminho dessa descarbonização da economia". Mas a indústria por si só não pode fazer o caminho sozinha, e o Secretário-Geral da ACAP afirma que é necessário garantir o importante apoio a nível europeu e nacional dos poderes públicos, nos incentivos à eletrificação, na renovação do parque automóvel em cada país e também no reforço das redes de carregamento para veículos elétricos”. E considera que este trabalho não pode ser compartimentado, pelo que devem existir estratégias “não só a nível nacional, mas também a nível europeu". FIT FOR 55: PLANO AMBICIOSO Para falar sobre o impacto do Pacote Fit for 55 na indústria e mercado automóvel, a ACAP convidou o Diretor de Mobilidade Sustentável da ACEA Associação Europeia de Construtores Automóveis. Petr Dolejsi. Numa participação via streaming, este responsá-

vel sublinhou que o plano traçado pela União Europeia para reduzir as emissões de CO2 é bastante ambicioso, pelo que tem de ser trabalhado em conjunto. Segundo o responsável, o grande desafio será implementar uma infraestrutura de carregamento eficaz, para que nenhum dos Estados-Membros fique prejudicado. O que sucede atualmente é que “muitos dos pontos de carregamento estão centralizados em três países apenas (Países Baixos, França e Alemanha), que representam 23% do total de pontos de carregamento na UE”. O pacote ‘Fit for 55’ prevê que em 2030 existam 3,5 milhões de carregadores públicos, “um aumento de 27 vezes em apenas nove anos, o que é realmente um desafio”. É de referir ainda que dos 224.237 pontos de carga na UE, apenas 24.987 têm uma capacidade de carregamento acima de 22 kW. Este Diretor da ACEA explica que também existem outras formas de atingir a neutralidade carbónica. E considera que a tecnologia do hidrogénio e os combustíveis renováveis são algo a implementar, em conjunto com as frotas 25

ELETRIFICAÇÃO: FALTAM INCENTIVOS DIRETOS Para ter uma noção mais aproximada da realidade portuguesa, a ACAP encomendou um estudo à consultora 3drivers. Eneste evento foram apresentados os resultados da "Análise de Políticas de Promoção de Veículos Elétricos na Europa". A principal conclusão de António Lorena, da 3drivers, foi a de que o nosso país necessita de objetivos concretos e incentivos diretos, adicionando que o Roteiro para a Neutralidade Carbónica (RNC2050) propõe cenários para o setor dos transportes, mas que não existe uma visão estratégica nem ações concretas para o setor. Para cumprir com este cenário, Portugal teria de ter um stock de veículos elétricos ligeiros de passageiros na ordem dos 30% do total nacional, ou seja 1,8 milhões de unidades, vendas anuais médias de 209 mil viaturas e 1,9 milhões de abate de veículos até 2030. Por isso, o interlocutor é da opinião que "Portugal precisa também acelerar o investimento na infraestrutura de carregamento elétrico, apostando na expansão dos PCR (Postos de Carregamento Rápido)", já que apenas 1 em cada 4 disponibiliza essas características. E explica que ainda existem 77 municípios nacionais onde não se encontra acessível qualquer posto de carregamento elétrico público. No nosso País, "temos 30 veículos elétricos para cada posto público”, um dos números mais baixos entre os países analisados.

Para atingir as metas de descarbonização é esssencial criar estratégias a nível nacional e europeu de suporte à indústria automóvel DEZEMBRO 2021/JANEIRO 2022 TURBO OFICINA


ATUALIDADE

"Os próximos 15 anos vão ser muito desafiantes para a indústria automóvel"

mais atrativo. Finalmente, refere que ainda existe bastante desinformação sobre as vantagens e as desvantagens da mobilidade elétrica por parte dos consumidores, pelo que se deve "promover a consciencialização sobre os seus benefícios".

O estudo avança que Portugal necessita de definir um quadro estratégico com uma visão, metas e o caminho para a promoção dos veículos elétricos, mas também reforçar os seus incentivos no Plano Nacional de Recuperação e Resiliência. Outra das conclusões aponta para a necessidade de assegurar financiamento direto para estimular as vendas de veículos de baixas emissões em Portugal, e também de aumentar e simplificar o âmbito de aplicação de incentivos fiscais, com um pacote de incentivos financeiros

MOBILIDADE TRAZ ELEVADO CUSTO TECNOLÓGICO Seguiu-se um painel de debate sobre o ciclo de produto e inovação na mobilidade elétrica, onde estiveram presentes algumas das principais marcas automóveis, que foram unânimes em afirmar que estão a cumprir com a sua parte na transição energética para atingir emissões zero na próxima década. Mas todas afirmam que isso implica um elevado custo associado à tecnologia (uma realidade que também se verifica no Aftermarket), de forma a pôr em

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prática em tão pouco tempo esta transição de motorizações. E é ressalvado o impacto desse investimento, levando a que o custo final dos veículos elétricos seja pouco atrativos para o consumidor. Assim, torna-se necessário mais incentivos, ou seja, novas e atrativas políticas públicas para os tornar mais competitivos. João Neves, Secretário de Estado Adjunto e da Economia, deixou uma nota final aos participantes, revelando que "os próximos 15 anos vão ser muito desafiantes para a indústria automóvel", relativamente ao processo de transição energética e digital que enfrenta a sociedade e às políticas públicas de urbanismo e a reorganização deste setor face às metas ambientais definidas. Segundo o membro do Governo, "as novas soluções que o País tenha para oferecer nos mercados externos têm de acontecer neste período de tempo”. No que diz respeito às políticas públicas, garante que "será feito um esforço sério para facilitar este período de ajustamento à indústria com uma atenção particular às atividades de maior valor acrescentado". Sem avançar com nenhuma proposta concreta ou novidades para os próximos tempos, João Neves disse ser necessário desenvolver novas soluções de armazenamento no que diz respeito à mobilidade elétrica, acreditando que possa surgir "uma nova geração de baterias". Finalizou a sua intervenção, referindo que "a indústria vai ter de criar a capacidade de gerar novos produtos, ao mesmo tempo que destrói outras áreas e se refunda".



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MFORCE

EXPANSÃO DA REDE SEGUE A BOM RITMO! No cumprimento do seu plano de expansão nacional, a MForce abriu as portas da sua 83.a oficina, que introduz um novo conceito de “Oficina Hospital”. Para 2022 o objetivo é continuar a crescer, marcando presença em novas zonas geográficas do país

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Texto David Espanca

oi inaugurada no dia 17 de dezembro a 83.a oficina da rede MForce em Portugal, localizada na Avenida Marechal Gomes da Costa. Este espaço na zona oriental de Lisboa era anteriormente ocupado por um stand de uma marca automóvel, mas Madalena Bustorff, Diretora de Operações da MForce, explica que "foi convertido em oficina para aumentar a nossa rede". A cerimónia de inauguração da oficina contou também com a presença de Pedro Cunha, CEO da Mforce, que aproveitou o evento para deixar algumas palavras de agradecimento aos presentes, salientando o "trabalho extraordinário" feito pela sua equipa ao longo deste processo.

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Madalena Bustorff assinalou que em Lisboa a rede de oficinas tem já “uma presença bastante forte, mas que fica ainda mais reforçada”, revelando ainda que esta inauguração traz novidades para a MForce. Integrado no novo conceito para a rede, lançado em outubro de 2020, foi agora apresentada "a primeira Oficina Hospital, a MForce Lab", destaca a Diretora de Operações. O ‘hospital’ vem completar o que se pode apelidar de sistema integrado de cuidados de saúde auto, nomeadamente "toda a parte da manutenção preventiva que exista das viaturas, sendo tudo feito aqui". Neste novo espaço, os serviços prestados são idênticos a todas as outras oficinas da rede. Ou seja, tudo o que é mecânica preventiva, onde 28


O novo conceito de 'Oficina Hospital' tem como foco as intervenções de manutenção preventiva das viaturas "o cliente encontrará todas as respostas para a manutenção do seu carro de forma rápida, conectada e integrada". A propósito do lançamento da marca Mforce, em outubro de 2020, Madalena Bustorff relembra que existia já uma experiência acumulada de 20 anos em território nacional, "o que implica muita aprendizagem, um conhecimento profundo dos clientes e das necessidades do mercado". Com este cenário, a empresa considerou que fazia sentido lançar uma rede com um nome próprio e este novo conceito, "que no fundo tem três grandes pilares: o contacto telefónico (Saúde Auto), as clínicas (rede e a capilaridade existente de Norte a Sul do País) e as oficinas de mecânica profunda". A interlocutora afirma que "o nosso objetivo é que o cliente tenha o seu assunto resolvido, sem preocupações, que nós tratamos de tudo". E relembra que "as nossas equipas são as mesmas de sempre, somos é uma rede com uma imagem diferente e uma nova forma de comunicação com os clientes". NOVAS ABERTURAS EM PERSPETIVA A Diretora de Operações da MForce faz um balanço extremamente positivo da atividade ao longo do ano de 2021, com Madalena Bustorff a destacar a satisfação dos clientes, pois "passámos por uma pandemia e estamos com números que nos mantêm orgulhosos. Só para ter uma ideia, o nível de satisfação no Google passou de 4,3 para 4,5 estrelas, num total de 5 estrelas, o que demonstra que os clientes estão agradados com esta nossa estratégia e que aderiram a este novo conceito". Com um novo ano já no horizonte, está previsto o alargamento da rede de oficinas clínicas de mecânica preventiva, mas também o das oficinas de mecânica profunda. Com aberturas já certas em Lisboa e Porto, a responsável pela gestão dos 83 espaços da rede explica que "a nossa estratégia é tradicionalmente de expansão e isso não mudou". Levantando um pouco o véu sobre os planos da empresa, Madalena Bustorff considera que há algumas áreas geográficas onde a MForce ainda não está presente, mas "temos estado a desenvolver esforços para nos conseguirmos implementar nessas regiões". Nesse projeto de

A MForce tem apostado numa estratégia de expansão e promete continuar a crescer em 2022

Para se diferenciar, a rede de oficinas aposta numa "imagem diferente e uma nova forma de comunicação com os clientes"

expansão, adiciona ainda, a aposta vai para a utilização e reformulação de espaços já existentes. A rede revela-se também atenta às novas tendências do mercado, onde híbridos e elétricos ganham cada vez maior importância, mas refere que isso envolve um esforço muito grande. Neste momento, Madalena Bustorff confima que "a nossa rede está a ser preparada nesse sentido e "todas as oficinas têm pelo menos uma pessoa especializada para receber esse tipo de veículos. Toda a dinâmica a este nível tem sido um desafio que temos agarrado muito bem e no futuro não tenho a menor das dúvidas que vamos pertencer ao grupo que está na vanguarda". A MForce é uma marca 100% portuguesa, com mais de 80 oficinas que cobrem todo o território português e emprega mais de 500 colaboradores. Além dos planos para continuar a crescer em território nacional, outro destaque vai para a aposta na internacionalização da marca, com a rede de oficinas também já presente em Angola, onde conta com cinco oficinas. 29

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CLEPA

ELETRIFICAÇÃO COLOCA 500.000 EMPREGOS EM RISCO A CLEPA apresentou os resultados de um estudo ao impacto da eletrificação no mercado de trabalho europeu, alertando que meio milhão de postos de trabalho podem desaparecer se as autoridades optarem por uma eliminação demasiado rápida dos motores de combustão interna Texto Nuno Fatela

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nquanto representante de mais de 3000 empresas a nível continental, a Associação Europeia dos Fornecedores da Indústria Automóvel (CLEPA) acompanha de perto a transformação do sector, na qual a eletrificação promete ter um impacto disruptivo. Esta entidade encomendou agora um estudo para conhecer os efeitos para os trabalhadores da transição energética preconizada no Pacto Ecológico Europeu, também designado por Green Deal. Este plano, criado para alcançar as metas de descarbonização do Acordo de Paris, prevê a proibição da venda de veículos com motores de combustão interna em 2035, algo que terá impacto na atividade dos fornecedores da indústria automóvel. Para saber que hipóteses surgem no horizonte das empresas, o estudo da Clepa e PWC Strategy& colocou sobre a mesa três cenários políticos relativos ao impacto do Green Deal no emprego e no valor acrescentado entre os fornecedores do continente europeu para o período entre 2020 e 2040. Na primeira hipótese, mais conservadora, os elétricos vão representar 50% das vendas de automóveis no final desta década. E este parece ser o cenário que mais agrada à associação, pois considera que “ao complementar a eletrificação com uma abordagem de tecnologia mista, que permita o uso de combustíveis renováveis, poderia atingir-se uma 31

redução de 50% em CO2 até 2030, mantendo empregos e criando valor acrescentado”. No entanto, a CLEPA levou em consideração outras hipóteses, contemplando o cumprimento dos objetivos do pacote “Fit for 55”, com os elétricos a atingirem uma quota de mercado próxima dos 80% no final da década, e um cenário ainda mais extremo, com os motores de combustão interna eliminados do mercado em 2030. ELETRIFICAÇÃO EXTREMA AUMENTA RISCOS O estudo da ‘PWC Strategy&’ para a Associação Europeia dos Fornecedores da Indústria Automóvel revela que, se os motores de combustão interna forem descontinuados até ao final desta década, a consequência será o desaparecimento de meio milhão de postos de trabalho no nosso continente. E 350.000 desses empregos, 70% do total, serão perdidos nos cinco anos seguintes a total eliminação dos motores a gasolina e Diesel. O estudo divulgado pela CLEPA ressalva ainda , que a possibilidade de retirar dividendos das oportunidades criadas eletrificação “depende do estabelecimento de uma ampla cadeia de abastecimento de baterias na União Europeia, cujo momento e probabilidade ainda são incertos”. No entanto, os dados recolhidos indicam que Portugal está na região europeia mais habilitada para abraçar a transição de motorizações, já que considera que a Eu-

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ropa Ocidental está mais preparada para se tornar um centro de produção de motores elétricos. Pelo contrário, nas regiões do leste e centro europeu irá manter-se um mercado de trabalho altamente dependente dos motores de combustão interna.

A introdução de motores elétricos vai gerar cerca de 225.000 empregos na Europa, minimizando o impacto da extinção de postos de trabalho nos motores de combustão TURBO OFICINA DEZEMBRO 2021/JANEIRO 2022

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NOVOS POSTOS DE TRABALHO CRIADOS MITIGAM AS CONSEQUÊNCIAS Este estudo da PWC Strategy& afirma, no entanto, que a perda líquida de postos de trabalho poderá ser inferior a meio milhão, algo que é justificado pelos 226.000 novos empregos que a introdução dos motores elétricos vai exigir. Ainda assim, caso o ritmo de introdução de veículos elétricos seja excessivamente rápido, 275.000 postos de trabalho vão desaparecer a nível continental até 2035. Com esta transição de motorizações a gerar novas oportunidades, é no sector das baterias que o potencial é mais elevado. Nos dados divulgados pela CLEPA e pela PWC Strategy &, o processamento das matérias-primas, à produção de células e de módulos e à montagem de sistemas de baterias vão representar um valor de 70 mil milhões de euros. Ainda assim, mesmo com este impulso, a associação europeia de fornecedores prevê que as mudanças “são improváveis d ​​ e fornecer oportunidades para a maioria dos fornecedores da indústria automóvel orientados para os motores de combustão interna e, especialmente, para pequenas e médias empresas que empregam cerca de 20% das pessoas que trabalham na indústria de componentes automóveis”.


Por esse motivo, o estudo evidencia também que o cenário colocado aos fabricantes, que podem realocar recursos ou reduzir investimentos, é distinto dos fornecedores, que estão vinculados a contratos de longo-prazo, o que reduz as possibilidades de antecipar modificações na sua atividade. Além disso, a associação recorda as centenas de pequenas empresas e PME que, ao contrário dos grandes players, têm maior dificuldade de acesso a capital para transformarem o seu negócio.

AFIA EXIGE PROTEÇÃO AOS EMPREGOS Na divulgação nacional deste estudo, a Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel (AFIA) recordou o papel ativo que teve na elaboração do documento apresentado pela CLEPA. E o presidente da entidade, José Couto, comentou ainda o perigo que a transição para os veículos elétricos acarretaconsiderando que as entidades europeias devem criar mecanismos que protejam os trabalhadores nesta área. Por isso, a AFIA considera essencial que “a União Europeia crie instrumentos que possibilitem enfrentar as tendências impostas pela transição energética e a transformação digital, de forma a proteger os empregos e empresas”.

PRIORIDADE AOS FORNECEDORES Nas conclusões deste estudo, a Secretária-Geral da CLEPA, Sigrid de Vries, recorda que “os fornecedores de componentes para automóveis são responsáveis p ​​ ela maioria dos empregos na indústria automóvel" e, por esse motivo, "é crucial colocar os empregos da indústria de componentes para o automóvel em primeiro plano na gestão do impacto social e económico da transformação”. A responsável alerta ainda para os riscos de optar por uma abordagem focada apenas nos veículos elétricos, para “a subsistência de [centenas de milhares de] pessoas que trabalham afincadamente para fornecer soluções tecnológicas para uma mobilidade sustentável”. E, assinalando esse perfil inovador das empresas fornecedoras, foi enfatizado o seu contributo para queos preços dos veículos elétricos sejam cada vez mais acessíveis. Sigrid de Vries termina com um apelo às autoridades europeias, para que seja introduzido um “contexto regulatório aberto a todas as soluções disponíveis". E, na visão da CLEPA, essa abordagem tranversal com recurso às "tecnologias híbridas, hidrogénio verde e combustíveis renováveis ​​sustentáveis permitirá a inovação, à medida que redefiniremos a mobilidade nas próximas décadas”. 33

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GALA EUROPREMIUM TOPCAR

RESILIÊNCIA DAS OFICINAS NACIONAIS PREMIADA Decorreu mais uma edição da Gala Europremium, que premeia anualmente as oficinas da Península Ibérica das redes associadas ao Groupauto: a Topcar, em Portugal, e a EuroTaller, em Espanha. Este ano os vencedores nacionais foram as oficinas Topcar Albino & Filhos, HouseCar e Prior Velho Texto David Espanca

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ecorreu em Madrid a 18ª Gala Europremium, com o objetivo de premiar as melhores oficinas das redes do Groupauto, onde está integrada a Topcar. Para a atribuição deste galardão, que este ano distinguiu as oficinas Topcar Albino & Filhos, HouseCar e Prior Velho, a organização teve em conta parâmetros como a imagem, a performance e as ações de marketing das oficinas, mas

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também o seu envolvimento com toda a rede e o trabalho com os gestores de frotas. Vanessa Barros, gestora da Topcar, assinala que a escolha foi "rigorosa e difícil", destacando que as oficinas vencedoras “têm em comum a resiliência", explicando que, "apesar do contexto que vivíamos (ou vivemos), todas reuniram forças e investiram nos seus negócios". Assim, a responsável lembra que aquelas unidades "reforçaram as suas insta-

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Os responsáveis da rede Topcar e das oficinas distinguidas marcaram presença no evento que decorreu em Madrid


lações, equipamentos, formaram equipas, fizeram novas parcerias, ações de marketing, comunicaram a marca Topcar e fizeram o que podiam para contrariar toda a instabilidade”, parâmetros esses que são os pilares da rede. TRABALHO RECONHECIDO Fazendo uma grande aposta na digitalização, e procurando sempre tirar partido dos novos meios disponibilizados pela rede, a Topcar Prior Velho recebe pela primeira vez esta distinção, algo que "obviamente significa um reconhecimento pelo trabalho desenvolvido e traz-nos o dever de sermos melhores e de continuarmos a fazer bem o nosso ofício", avança o gestor Miguel Sousa. Segundo o responsável, a atribuição do prémio, "deve-se ao facto de termos adquirido a empresa em março passado e, desde esse momento, conseguirmos de uma forma rápida que a oficina obtivesse crescimento de vendas e aumento da notoriedade junto dos clientes". Uma outra estreante nestes galardões é a Topcar Albino & Filhos, localizada em Santo Tirso, premiada pelo crescimento alcançado, ainda na pandemia, sobressaindo pela abertura de uma nova unidade "completamente alinhada à imagem da rede". Henrique Almeida, um dos sócios gerentes da empresa, revela que em tempos de pandemia, "tomámos a decisão de arriscar, o que nos levou a fazer um forte investimento na remodelação e capacitação das nossas instalações na área de mecânica". E explica que a oficina tem prestado "um serviço de excelência, alicerçado numa equipa qualificada e motivada, e que aposta na inovação". Este prémio, avança, "veio reconhecer esta coragem, esta audácia de dar um passo em frente contra as adversidades e em direção ao desconhecido, de termos conseguido evidenciar-nos num período tão difícil", constituindo ainda "o reconhecimento de todo o trabalho e dedicação dos nossos colaboradores".

OS VENCEDORES... TOPCAR PRIOR VELHO A Topcar Prior Velho é uma oficina que tem as valências de mecânica e pintura, apostando essencialmente no negócio "corporate" e de empresas de "renting". Para já, "o grande objetivo é aumentar as vendas e a rendibilidade, tornando-a numa empresa rentável, o que já não acontece desde 2018", explica Miguel Sousa. TOPCAR HOUSECAR A empresa está a completar 10 anos e tem um total de nove colaboradores e 800 m2 de área total. Apostando num leque alargado de serviços, tanto na vertente da mecânica como de colisão, "operamos em todas as áreas de igual forma, contudo estamos mais vocacionados para o cliente particular devido à proximidade e à localização", afirma Daniel Magalhães, que adianta ainda que o principal objetivo neste momento a concluir a certificação nas áreas de mecânica e colisão. TOPCAR ALBINO & FILHOS A Top Car Santo Tirso – Albino & Filhos é uma oficina de origem familiar, que pretende "prestar um serviço 'endto-end' diferenciador, da receção à entrega e, sobretudo, deixar os nossos clientes satisfeitos". Além disso, esta oficina continua a apostar na inovação e na "utilização de produtos de alta eficiência", refere o sócio Henrique Almeida. A oficina tem nos seus planos "desenvolver ainda mais a nossa consciência ambiental, privilegiando as energias renováveis, a eficiência energética e a redução do impacto ambiental da nossa atividade. Pretendemos igualmente manter uma correta manutenção das nossas instalações, continuar a apostar na formação da nossa equipa e melhorar em particular o serviço de colisão, nos mesmos moldes em que investimos em 2020 no serviço de mecânica", remata este responsável.

todos", como foram estes últimos tempos em pandemia. O interlocutor explica ainda que "é sempre bom vermos o nosso esforço reconhecido, para nós significa que temos percorrido o caminho certo e que as responsabilidades serão as mesmas, pois a nossa exigência para connosco é máxima todos os dias em prol do cliente". A terminar o comentário à 18ª Gala Europremium Topcar, a gestora da Topcar, Vanessa Barros, fez a antevisão aos projetos para o futuro desta rede de oficinas. A promessa da marca é continuar a investir, com foco em "formação otimizada e adaptada à necessidade de cada oficina; ferramentas de diagnóstico que permitam às oficinas multimarca manterem-se sempre atualizadas e preparadas; criação de soluções e processos para a melhoria e evolução de cada espaço; além de uma comunicação transparente, clara e honesta para a manutenção da relação de confiança com todos os 'stakeholders'".

SERVIÇO DE QUALIDADE O responsável da Albino & Filhos adianta que o prémio de Oficina do Ano da TopCar "é um orgulho, pois sentimo-nos reconhecidos pelo nosso constante empenho e pela qualidade do serviço que prestamos. Faz-nos sentir ainda mais esta responsabilidade em manter os níveis de qualidade a que já habituámos os nossos clientes e que pretendemos sempre melhorar". Henrique Almeida conclui, que "temos orgulho em termos chegado até aqui e isso permite-nos olhar para o futuro com otimismo". A terceira premiada foi a Topcar HouseCar, em Penafiel, que coloca ênfase na importância de pertencer à rede por trazer “outras valências em termos de formação, marketing, imagem, etc.”. Como explica Daniel Magalhães, sócio gerente da empresa, os motivos que terão levado a esta distinção foram "a resiliência e a vontade de continuar a crescer e a melhorar, demonstrada numa altura tão difícil para 37

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COMISSÃO ESPECIALIZADA DE SERVIÇOS DE MOBILIDADE

OFICINA DE CONFIANÇA É A PRINCIPAL APOSTA Após desempenhar um papel de grande relevância no apoio às oficinas durante a pandemia, a grande aposta da Comissão Especializada de Serviços de Mobilidade para 2022 é promover a adesão ao selo Oficina de Confiança ACAP. Texto Nuno Fatela

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Comissão Especializada de Serviços de Mobilidade da DPAI-ACAP representa 11 redes e mais de 700 oficinas em Portugal, e desempenha um papel fulcral na representação dos serviços de manutenção e reparação automóvel. A Turbo Oficina teve oportunidade de falar com dois dos seus membros, Raquel Marinho e António Costa, que abordaram os principais desafios do presente e futuro neste sector e desvendaram como esta comissão pretende apoiar as empresas e os profissionais a melhorarem as suas capacidades, a aumentarem a qualidade do serviço prestado nas oficinas e a acompanharem a transformação do sector. Raquel Marinho e António Costa fizeram o balanço do trabalho que tem vindo a ser desenvolvido e assinalaram o relevo do apoio concedido às oficinas durante a pandemia. E, já a preparar o futuro, foi dado ênfase ao programa Oficina de Confiança ACAP, que consideram essencial para dar reconhecimento e ajudar a promover as oficinas que prestam um serviço de qualidade, reforçando que este projeto pode ter um papel fulcral para elevar os standards de qualidade em todo o sector da manutenção e reparação automóvel.

quase de um dia para o outro, porque fomos todos apanhados de surpresa”. António Costa explica que o primeiro passo da Comissão passou por criar “um plano de contingência, trabalhámos nele de forma exaustiva para que todas as oficinas em Portugal tivessem um guia orientador de como proceder perante o desconhecido”. Considerando que esse documento tinha grande relevância para todo o sector, António Costa explica que “decidimos que era importante passar a informação e dizer que estávamos presentes para todas as oficinas do país, propondo um plano de contingência a que todos pudessem ter acesso para manter as oficinas abertas”. Raquel Marinho detalha que “a produção e divulgação de documentos tais como o “COVID-19, PREVENIR, ESCLARECER E APOIAR” e o “MOBILIDADE PARA QUEM PRECISA”, revelaram-se iniciativas de grande valor e utilidade para o setor. O primeiro veio, num momento crucial e ainda antes de o governo ter decretado o primeiro estado de emergência nacional, trazer orientações e recomendações claras de como uma oficina deveria reorganizar os seus processos de trabalho e de relação com o cliente, para manter a sua operação em segurança num contexto de pandemia. Este documento, aliás, foi a base do protocolo sanitário aprovado pelo governo para o setor automóvel em parceria com as principais associações do sector, que surgiu posteriormente. O segundo, teve como objetivo tranquilizar a população em geral quanto à manutenção da atividade das oficinas enquanto essenciais para uma mobilidade segura, priorizando, naquela altura mais crítica, o atendimento aos profissionais de saúde, forças de segurança e meios de transporte das cadeias de abastecimento de bens essenciais.” António Costa acrescenta ainda que“criámos o selo “ESTABELECIMENTO SEGURO”, que também veio a

APOIO NOS MOMENTOS MAIS CRUCIAIS A Comissão Especializada de Serviços de Mobilidade representa e apoia as oficinas de rede e oficinas independentes, e o seu papel ganhou ainda maior relevo nos últimos anos de pandemia. Um dos motivos para isso foi a necessidade de partilhar com as empresas os conhecimentos e normas corretas para se adaptarem às transformações que a Covid-19 forçou. Raquel Marinho recorda que “de repente todos tivemos de nos adaptar a uma nova realidade. Foi preciso muito rapidamente ajustar a operação, 39

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ser adotado de forma transversal por todo o setor automóvel, assim como criámos e disponibilizámos para as oficinas diversas outras peças de comunicação para utilização online e offline no sentido de informar os clientes sobre a nova forma de se relacionarem com a oficina de acordo com o protocolo preventivo da transmissão do vírus. A comissão também dinamizou e participou em sessões de esclarecimento dirigidas a oficinas: “REAÇÃO DAS OFICINAS À COVID-19” e “A IMPORTÂNCIA DOS R.H. BEM FORMADOS TECNICAMENTE”.” OFICINA DE CONFIANÇA PARA REFORÇAR A QUALIDADE Raquel Marinho reforça que o programa Oficina de Confiança é a principal prioridade desta divisão da DPAI. “Este ano concretizámos mais uma meta importante e que já estava há muito na mira da DPAI/ACAP que foi o lançamento do Programa de Qualificação - Oficina de Confiança ACAP. Este programa vem claramente contribuir para um aftermarket mais transparente e credível, promovendo a equidade entre concorrentes. Numa primeira fase, o objetivo deste programa de qualificação de oficinas é exatamente tornar a oferta

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Os documentos que a Comissão lançou para apoiar as oficinas tiveram forte influência na criação do Protocolo Sanitário para o Sector Automóvel

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e a procura dos serviços de manutenção e reparação mais orientada, mais esclarecida e consciente. Questionada acerca de como se propõem fazê-lo, Raquel Marinho responde que isso será efetuado “apoiando as oficinas a cumprir com critérios decisivos e distinguindo, aos olhos do público, com um selo distintivo, as oficinas que comprovadamente cumprem esses critérios”. A responsável destaca ainda que “a atividade de manutenção e reparação automóvel no nosso país carece de regulamentação especifica que salvaguarde convenientemente os interesses, das próprias oficinas e dos consumidores, contrariamente ao que se verifica noutros setores de atividade. Hoje, qualquer pessoa sem competências adequadas para tal pode abrir uma oficina ao público, com impactos na segurança e ambiente muito sérios. Isto é algo que deve preocupar-nos a todos, pois não faz qualquer sentido. Por outro lado, a falta de regulamentação adequada leva a um agravamento inaceitável da concorrência desleal de que tantas vezes falamos e acaba por afetar, muitas vezes injustamente, a credibilidade e a confiança de todo um setor, causando danos ambientais e promovendo a fuga fiscal. Estas são questões que, globalmente, nos afetam


"Queremos valorizar as oficinas com um perfil e conduta adequados" a todos. São diversos os impactos que se geram à volta desta realidade que progressivamente queremos mudar". A coordenadora da comissão indica também que “o programa Oficina de Confiança ACAP consiste numa ferramenta de apoio às empresas numa conjuntura difícil de recuperação da crise covid, de grandes desafios da mobilidade e complexidade tecnológica no pós-venda". Destacando o relevo desta validação da qualidade, a responsável da Comissão explica que a existencia deste perfil de oficina de referência vai seguramente contribuir para facilitar o acesso das oficinas a informação útil, fidedigna, sistematizada e atualizada. Isso vai permitir implementar mais fácil e rapidamente as boas práticas e promover o cumprimento da legislação, nomeadamente da ambiental, fiscal, laboral e de consumidor, cujo impacto social e económico é relevante. É nossa ambição que a Oficina de Confiança ACAP venha a orientar a uma nova regulamentação nacional de acesso e manutenção da atividade. Qualificar o sector da reparação e manutenção automóvel é fundamental para que se favoreça a transparência e a confiança. Queremos valorizar as oficinas que cumprem com um perfil e conduta adequados, através da atribuição deste selo renovável de Oficina de Confiança ACAP e de campanhas, com projeção aos olhos do público. A própria DECO, um dos importantes parceiros estratégicos da ACAP no âmbito do programa vai expor e dar visibilidade na sua página web às oficinas que cumprem com os requisitos da “oficina de confiança ACAP”. Por todos estes motivos, Raquel Marinho afirma que de momento “o foco é mesmo trazer oficinas” para o programa de qualificação, já que ele “beneficia todo este sector, por elevar a qualidade e aumentar a credibilidade”.

OFICINA DE CONFIANÇA: “O PROCESSO É SIMPLES, A OFICINA SÓ TEM DE CUMPRIR OS REQUISITOS” A Auto Furtado serviu de ‘teste-piloto’ para a implementação do programa Oficina de Confiança, e o gestor deste centro de manutenção e reparação automóvel explicou como foi todo o processo de obtenção destes selos de qualidade. António Costa considera que “acaba por ser relativamente simples, a partir do momento em que a empresa cumpra com todos os requisitos obrigatórios”, embora reconheça que “há sempre qualquer coisa a ser corrigida”. O gestor da oficina localizada na Póvoa de Varzim revela que, após a demonstração de interesse em ser uma Oficina de Confiança, tudo começou “com o pedido por parte da DEKRA de alguns documentos que são obrigatórios por lei para aceder à atividade, nomeadamente, cópias das licenças, declarações, contratos e outros documentos que podem ser validados remotamente” Após a análise da informação seguiu-se a auditoria ao espaço, para validar “todos os requisitos previstos no programa, com maior ênfase nos equipamentos”. No final da auditoria foram conhecidas as não-conformidades, e 48 horas depois foi enviado um plano de ação. E “num curto espaço de tempo foram corrigidas e acabamos por ter o selo”. António Costa explica que “existem quatro selos e nós candidatámo-nos a todos eles, na área da Colisão, da Manutenção, da Reparação e dos Pneus”. E considera que, além dos benefícios ao nível da imagem junto dos clientes, outro aspeto que se destaca é “a redução do litígio. Há situações em que ele até é evitado, porque o cliente reconhece a importância da oficina estar avaliada por uma entidade externa independentemente e sente-se mais confiante”, recordando que um dos parceiros é o Centro de Arbitragem do Sector Automóvel. Reforçando as vantagens do programa, António Costa considera que “não importa se é uma oficina de marca, de rede ou independente”, pois todos os espaços beneficiam ao serem reconhecidos como uma Oficina de Confiança. António Costa conclui afirmando que “o que interessa no final do dia é que o cliente tenha um serviço de excelência por parte da oficina, para ficar com uma imagem positiva do nosso sector”, considerando que o selo Oficina de Confiança contribui para isso ao estabelecer os parâmetros de qualidade que todas as oficinas devem cumprir.

MERCADO PERMANECE ESTÁVEL Analisando a evolução da atividade das oficinas em Portugal, António Costa explicou que tem havido maior estabilidade relativamente ao início da pandemia, mas assinala que “pelo número de entradas, constatamos que as pessoas vão muito menos à oficina”, e Raquel Marinho manifestou preocupação face aos efeitos nefastos que um eventual agravamento da retração na procura da manutenção preventiva por parte de particulares, provoca. O gestor e responsável financeiro da Auto Furtado evidenciou que “cada vez mais 41

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Os responsáveis da DPAI afirmam que "pelo número de entradas, constatamos que as pessoas vão muito menos à oficina”

entram carros na oficina sem a inspeção obrigatória válida. E, e em algumas situações, constatamos que não é uma questão de esquecimento", conclui, alertando para as consequências desta questão na segurança rodoviária. Além dos clientes, também as empresas sentiram as dificuldades económicas, e Raquel Marinho concorda que este período “veio expor as oficinas que estavam mais frágeis”. Reconhecendo que algumas acabaram mesmo por encerrar, assinala que isto não ocorreu apenas devido à Covid-19, mas porque “já antes estavam numa situação de significativa fragilidade e aqueles meses em que tiveram uma quebra acentuada da atividade, acabaram por ser fatais”. Por sua vez, António Costa assinala que, com a retoma, estão a surgir “sinais preocupantes de outro fenómeno, que é a abertura de oficinas que não estão legalmente constituídas”. E este membro da Comissão alerta para os efeitos negativos da situação, considerando que estes negócios paralelos “não vão trazer nada de bom para o mercado”. Questionado sobre o que tem feito a Comissão Especializada de Serviços de Mobilidade para combater este fenómeno, o António Costa da Auto Furtado revela que o programa Oficina de Confiança” ACAP pode ser a solução. E que um dos méritos do programa é precisamente

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“a forma como conseguimos transformar essas oficinas, para terem os requisitos mínimos que o mercado exige”. CONCENTRAÇÃO É TENDÊNCIA DE FUTURO Ao representar mais de 700 oficinas, a Comissão Especializada de Serviços de Mobilidade tem uma visão abrangente do futuro deste negócio. E os seus representantes concordam que a concentração de empresas poderá ganhar peso. Uma das principais tendências neste campo é a adesão às redes de oficinas, por oferecerem maior suporte e mais ferramentas para as empresas se modernizarem. Raquel Marinho considera que, integradas em redes, as oficinas contam com uma estrutura de suporte mais robusta, “todos os investimentos inerentes à manutenção da competitividade do negócio podem ser diluídos tornando-se acessíveis às oficinas. Outro contributo para a expansão das redes vem da evolução da tecnologia e eletrificação dos automóveis, e António Costa antevê que para uma oficina independente “chegará uma altura em que será mais difícil ter recursos humanos e físicos disponíveis para trabalhar nessas viaturas, nessa altura haverá uma tendência crescente para a integração em redes de oficinas que dispõem de outro tipo de estrutura e recursos”.


TECNOLOGIA E DIGITALIZAÇÃO SÃO DESAFIOS Num olhar ao futuro das oficinas, os membros da Comissão consideram que existem desafios imediatos e outros num horizonte mais distante. António Costa refere que “a muito curto-prazo um dos desafios é a incerteza económica, e já partilhámos essa preocupação. A nível do consumidor final começam a notar-se menos idas às oficinas, e também maior dificuldade em efetuar as reparações”. Relativamente à evolução dos veículos, o gestor e responsável financeiro na Auto Furtado prevê que “a maioria as viaturas a entrar nas oficinas nos próximos anos ainda vão ser de combustão”. No entanto, reconhece o aumento das viaturas eletrificadas, algo que “implica uma crescente preocupação das oficinas em estarem formadas para intervir nessas viaturas”. Raquel Marinho destaca também os clientes mais digitais como outra mudança que as oficinas precisam reconhecer, devendo estar preparadas para integrar “o cliente mais digital, que tem outra expetativa menos tradicional. Se calhar prefere, no conforto da sua casa, e mesmo num horário em que as oficinas estão fechadas, entrar numa aplicação, obter um orçamento online imediato e fazer a marcação automática de forma totalmente digital, em vez de ter de encontrar tempo para se deslocar pessoalmente a uma oficina ou mesmo ter de falar com alguém ao telefone”. Questionada sobre como tem a Comissão procurado apoiar esta transformação digital, Raquel Marinho considera que ela tem vindo sempre a sensibilizar as oficinas para a formação contínua, que para quem gere uma oficina, não pode limitar-se à formação técnica. A gestão de uma oficina requer competências em um número alargado de variáveis e por isso requer uma formação abrangente que permita perceber as necessidades do cliente hoje. Se todos nós como consumidores e clientes

somos cada vez mais digitais, as oficinas também devem ajustar-se a esta realidade. Raquel Marinho assinala igualmente que hoje em dia “o primeiro contacto de um potencial cliente é feito à distância, através da internet”, pelo que a oficina deve ter a procuração de “garantir que vai ter visibilidade” através de uma presença efetiva no mundo digital”. E estar presente, também não é suficiente, é preciso estar presente e ser atrativo, a presença online deve ser cuidada e ser capaz de cativar um potencial cliente. Mas continua, claro a ter igual importância “o momento presencial, ao qual se chama 'o momento da verdade', em que o cliente tem um contacto presencial com a oficina, à qual chega já com expetativas criadas no âmbito digital e que espera ver correspondidas”. E conclui que um eventual desvio entre a expectativa e a perceção do cliente vão determinar o sucesso ou falhanço na conquista e fidelização do cliente. Sobre a forma como as oficinas se podem preparar para abraçar estas mudanças, António Costa recordou que “na DPAI, tem havido um trabalho interessante com os programas de formação lançados” dando como exemplo o curso desenvolvido pela DPAI-ACAP em parceria com o ISCTE, mas também as formações de curta duração em parceria com a ACM de Dário Afonso. E Raquel Marinho concluiu enfatizando “outro aspeto muito interessante” da digitalização, que é o facto de nenhuma oficina poder fugir dela. “Se um cliente quiser tecer uma opinião online pode fazê-lo sem pedir permissão à oficina, e essa oficina passa a estar exposta na internet, quer queira ou não queira. A única decisão que está ao alcance da oficina é decidir se vai querer lá estar para monitorizar o que lá se refere sobre si. Estar na internet já não é uma opção. É uma inevitabilidade. Interessante é que as empresas podem tirar muito bom partido destas ferramentas, com os recursos adequados".

A eletrificação, pelos elevados investimentos que exige, será uma das tendências tecnológicas a impulsionar a adesão das oficinas às redes

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REPORTAGEM

FÓRUM ANUAL DPAI | ACAP

UNIÃO PARA ENFRENTAR UM ANO DESAFIANTE No seu encontro anual, a DAPI | ACAP fez um balanço do ano e colocou em destaque os principais projetos revelados pelas várias comissões ao longo do ano. Esta reunião do Aftermarket abordou também os principais desafios que se apresentam ao sector, antevendo um ano de 2022 repleto de desafios Texto Nuno Fatela

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ecorreu em formato digital no dia 17 de dezembro o Fórum Anual DPAI | ACAP, evento que reuniu cerca de uma centena de representantes dos diversos sectores do Aftermarket numa videoconferência para abordar o momento atual, com o balanço de 2021, e também antever os próximos projetos e desafios no mundo automóvel. E, antevendo alterações como o novo MVBER, uma das mensagens mais sublinhadas pelos oradores foi a necessidade de unir esforços, já que esse corporativismo no sector é considerado essencial para recuperar dos efeitos da pandemia e conseguir preparar-se e tirar o melhor partido das oportunidades que vão surgir. A intervenção inicial esteve a cargo do presidente da Divisão do Pós-venda Automóvel Independente, Joaquim Candeias, que começou precisamente por referir a importância de trabalhar em conjunto, afirmando que ““eu luto

muito pelo associativismo, para as pessoas estarem juntas e os resultados serem bons para todos, para que o nosso setor se torne cada vez mais apetecível, profissional e rentável”. CINCO MUDANÇAS DE RELEVO Como membro da Figiefa, o responsável máximo da DPAI trouxe ao debate os cinco pontos que, na visão da

"É importante estarmos juntos a defender os nossos interesses, para que a continuidade do nosso negócio seja uma realidade" 45

federação europeia, vão ter maior impacto no Aftermarket independente. O primeiro elemento disruptivo passa pelo acesso à informação dos veículos, “um tema que está em grande discussão”. Joaquim Candeias revela que atualmente já existe alguma abertura neste campo da parte dos fabricantes, mas reconhece que “há muito trabalho a fazer do nosso lado para que possamos ter acesso aos dados dos veículos e intervencioná-los no futuro”. Outras mudanças de relevo derivam do acesso aos dados do veículo, “para que se possam comercializar no Aftermarket Independente estas peças que estão sujeitas a copyright”, e a designada Repairs Clause, materializada num “código QR que só pode ser emitido por fabricantes homologados ou certificados. Isso significa que podemos vender uma peça mas se o carro não conseguir ler o código QR, não reconhece a peça. É como se não fosse instalada”, explica o Presidente da DPAI, alertando que

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REPORTAGEM

Além do impacto no mercado automóvel, a crise dos semicondutores veio também evidenciar a dependência externa da Europa ao nível das matérias-primas e componentes

"O ano de 2022 irá ser, certamente, extremamente desafiante, possivelmente até mais que 2021" isto “vai trazer um impacto tremendo em toda a cadeia de distribuição”. Também sob os holofotes tem estado o MVBER (Motor Vehicle Block Exemption Regulation), com a Divisão do Pós-venda Automóvel Independente a explicar que este regulamento que permite reparar o veículo desde o quilómetro 0 sem perder a garantia “vai ser renovado em maio de 2023, e espera-se que traga algumas possibilidades acrescentadas”. Por fim, Joaquim Candeias abordou o tema da Cibersegurança, já que “os fabricantes têm vindo a fazer uma força imensa para que mais ninguém possa instalar peças no veículo, garantindo alguma segurança nesta área”. O responsável máximo da DPAI conclui que estes “são temas extremamente quentes, que no dia-a-dia não nos apercebemos que andam ai, mas que vão influenciar fortemente” o sector,

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deixando ainda a receita para o após-venda sair mais forte destas mudanças. E, recordando a sua mensagem inicial, Joaquim Candeias considera que “é importante que todos possamos estar juntos a defender os nossos interesses, para que a continuidade do nosso negócio seja uma realidade”. COLOCAR AS PESSOAS NO CENTRO DA MUDANÇA A segunda intervenção do Fórum Anual DPAI | ACAP pertenceu ao convidado Dário Afonso, que colocou foco em temas como a digitalização e a formação. Para o orador, “as transformações chave para o nosso sector estão divididas entre as áreas da digitalização, dos novos modelos de negócio, a nova indústria da mobilidade, os novos players, a eletrificação, o novo regulamento MVBER e, o ponto principal na minha visão, as pessoas”. Durante a sua intervenção, Dária Afonso colocou ênfase na questão da digitalização, considerando que “criada uma buzz word com significados completamente diferentes para as pessoas. Há quem a entenda como data analytics e inteligência artificial e outros como a redução de papel”. Mas, na sua visão, este é ““um chavão que podemos dividir em três grandes áreas. Uma é a eficiência operacional, que promove redução de custos e a experiência de cliente, outra a business in46

telligence, com conhecimento da empresa, a gestão e o conhecimento do cliente que promove o aumento dos resultados, e a comunicação, que é o relacionamento com os clientes, a sua satisfação e o aumento nas vendas” Durante a sua apresentação, este convidado ofereceu depois exemplos de como a digitalização está a impactar a atividade do Aftermarket, mas abordou ainda outras questões como os benefícios da economia circular e eletrificação, para evidenciar que os fabricantes estão “a criar automóveis por decreto, com medo das multas de CO2 no final do ano”. Ainda no campo da redução das emissões, Dário Afonso deixa um alerta importante, ao recordar que “a sustentabilidade ambiental vai passar a ser um dos desígnios das empresas”, pelo que será necessário desenvolver “princípios contabilísticos de natureza ambiental, e integrar critérios de sustentabilidade e da própria tributação ambiental nas estratégias das empresas”. Dário Afonso considerou ainda fundamental destacar que “podemos ter a visão, a estratégia, os recursos físicos e financeiros, mas sem as pessoas nada acontece”. Como tal, explica que entre os “principais desafios apresentados pelos empresários do nosso sector está a dificuldade em encontrar pessoas para trabalhar, competentes, responsáveis e com a atitude certa”,


considerando mesmo que “é muito difícil desenvolver talento nas empresas e ainda mais difícil reter esse talento”. Para resolver esta situação considera que os empresários devem focar-se mais na gestão, pois “em muitas empresas ainda se considera que a cenoura e o chicote são a forma de gerir as pessoas”. Pelo contrário, “o gestor deve encarar as pessoas como um fator crítico no desenvolvimento do seu negócio. Muitas das vezes a gestão as pessoas é deixada para segundo plano e esse é um erro fatal no momento que estamos a viver”. Além da gestão, há também que reforçar a aposta das empresas na capacitação dos funcionários, com recurso à formação, outra solução evidenciada por Dário Afonso. MARGEM PARA OS MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA Numa análise ao mercado, Hélder Pedro, Secretário-Geral da ACAP, considerou que “ainda estamos longe de recuperar os valores anteriores à crise”. Em trazendo a debate os motivos desta quebra, foi evidenciado que, além da própria pandemia, também a ausência de estímulos económicos em vários países (Portugal incluído) e a escassez de semicondutores tiveram impacto no mercado. E, neste ponto, alertou para o problema da dependência externa da indústria automóvel europeia. Hélder Pedro deixou depois críticas ao que considera ser uma abordagem errada da Europa à descarbonização. Este responsável começa por recordar que “este sector reduziu as emissões de CO2 em 23% desde 2010, não há muitos que tenham uma redução tão significativa”, para depois criticar a postura adotada pelas autoridades europeias para alcançar a meta de reduzir 37,5% as emissões de carbono até 2030. Segundo o Secretário-Geral da ACAP, existe uma “visão restritiva da indústria, ignorando soluções como hidrogénio e descarbonização dos combustíveis fósseis”, enquanto a postura deveria ser de neutralidade tecnológica. Para este orador, as autoridades deviam “deixar aos vários players a decisão. Na União Europeia há uma clara tendência de empurrar a indústria para uma solução, a da eletrificação” com veículos a bateria. Na apresentação seguinte, o Departamento Estatísticos da ACAP demonstrou, pela voz de António Cavaco e Ma-

A ACAP demonstra que, mesmo com a eliminação imediata dos motores de combustão, esta tecnologia irá continuar a ser dominante no parque automóvel

ria Neffe, que ainda há muita margem de manobra para os motores de combustão. Para tal, foi apresentado um estudo que colocou o cenário extremo em que os motores de combustão seriam eliminados do mercado já em 2022. Mesmo nesse caso, “só 47% dos veículos no ano de 2035 seriam de emissões 0. Mesmo neste cenário extremo, ainda teríamos 31% de veículos a gasóleo e 20% a gasolina, e mais de metade do parque ainda seria constituído por motores de combustão”, incluindo os híbridos e os Plug-In. Como tal, pode-se concluir que “esta alteração é um processo muito lento, a eletrificação do automóvel não vai mudar tudo de um dia para o outro”. UNIR FORÇAS PARA UM ANO DESAFIANTE Foram depois vários os representantes das comissões da DPAI que deram a voz aos projetos realizados durante 2021 e os planos para 2022. A Comissão Especializada de Serviços de 47

Mobilidade, por exemplo, reforçou a aposta no projeto Oficina de Confiança, enquanto a Comissão de Distribuidores de Pneus colocou relevo nas iniciativas de promoção efetuadas, anunciado ainda para 2022 a campanha “Os pneus não caducam”. Com as várias secções que integram a DPAI a prometer fazer de 2022 um ano repleto de atividades, coube novamente ao Presidente desta divisão da fazer o encerramento do Fórum Anual DPAI | ACAP. E, nos votos de um bom ano para todos os associados, Joaquim Candeias reforçou a ideia de que apenas em conjunto o Aftermarket terá capacidades para triunfar face aos desafios que lhe são colocados. Considerando que “o ano de 2022 irá ser, certamente, extremamente desafiante, possivelmente até mais que 2021”, o Presidente da DPAI revela-se confiante de que "se estivermos unidos teremos uma capacidade diferente para ultrapassar os obstáculos e desafios”.

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LUBRIFICANTES

CHAMPION APRESENTA TRÊS NOVIDADES PARA A SUA GAMA Foram reveladas três novidades para a gama da Champion, com foco nas soluções destinadas aos propulsores da Ford. Já disponíveis para os clientes, o trio de lançamentos da especialista em lubrificantes é composto pelos óleos OEM SPECIFIC 0W20 C6 F, OEM SPECIFIC 0W30 SP e NEW ENERGY 5W30 GAS Texto Nuno Fatela

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Champion continua a expandir o seu portefólio de óleos para motor, e terminou 2021 com mais novidades. A marca destaca o cariz tecnológico destes três novos produtos, já que eles incorporam as mais recentes inovações desenvolvidas pela especialista em lubrificantes, oferecendo um conjunto de benefícios ao nível da otimização da performance, maior eficiência de consumos e redução das emissões poluentes. Com estas novidades, a Champion pretende alargar o leque de soluções para os seus clientes, e neste trio agora apresentado destacam-se o reforço da oferta para os propulsores de vários fabricantes automóveis. Os dois novos produtos da gama “OEM Specific” são destinados aos veículos de marcas como a Ford, com o novo óleo 0W20 C6 F homologado para os motores Diesel Ecoblue, enquanto o novo lubrificante sintético 0W30 SP pode ser utilizado tanto nos motores a gasolina como a gasóleo de diversos fabricantes. Outra estreia no mercado é o 5W30 GAS, que foi pensado para propulsores bi-fuel a GPL ou GNL. A marca assinala ainda que, através destas novidades, os seus distribuidores e oficinas vão conseguir aumentar a sua cobertura do mercado. CHAMPION OEM SPECIFIC 0W20 C6 F Reconhecendo que “à medida que a tecnologia automóvel avança é preciso desenvolver novos lubrificantes que trabalhem em harmonia com os motores mais recentes”, a especialista relevou agora o novo OEM SPECIFIC 0W20 C6 F. E destaca que, além da otimização das performances, no exigente projeto de desenvolvimento destes novos lubrificantes a redução de consumos os consumos e emissões poluentes. A Champion destaca que este novo óleo é um dos primeiros lançados no mercado a cumprir com as especificações Ford WSS-M2C952-A1 e ACEA C6. E, dessa forma, o novo lubrificante pode ser utilizado nos mais recentes motores Diesel da Ford, os Ecoblue, que equipam modelos como o Focus, Puma, Ecosport ou Transit Connect. CHAMPION OEM SPECIFIC 0W30 SP Considerado “uma demonstração do compromisso” da Champion com a inovação, entre as características de última geração do óleo sintético OEM SPECIFIC 0W30 SP são destacadas as capacidades de proteção do motor, obtidas através da mais elevada especificação API (API SP). A marca explica que, pela “baixa viscosidade e impressionante fluidez”, este óleo reduz o desgaste dos componentes, conseguindo também oferecer uma redução dos consumos e das emissões de CO2. Este novo lubrificante da Champion conta ainda com um pacote de aditivos otimizados, algo que reduz os depósitos e ajuda a manter o motor limpo. Com selo de aprovação MB 229.61, que é obrigatória para os mais recentes motores a gasolina e Die-

Além da otimização da performance, também a redução de emissões e consumos surgem em destaque nos novos lubrificantes Champion sel de marcas como a Ford e da BMW, o novo OEM SPECIFIC 0W30 SP apresenta-se como solução para os motores de várias marcas. E, complementa ainda a Champion, o novo óleo cumpre as especificações LONGLIFE-12 FE e WSS-M2C950-A. CHAMPION NEW ENERGY 5W30 GAS A última novidade lançada pela Champion tem aplicação nos motores bifuel, com o lubrificante NEW ENERGY 5W30 GAS a destinar-se a veículos movidos a GPL e GNL. A marca assinada que este produto, como acontece em toda a gama GAS, surge como resposta ao crescimento no mercado destes veículos, que atualmente representam 3,2% das vendas de ligeiros de passageiros e 1,5% das vendas de comerciais ligeiros. Entre os atributos-chave destes produtos, é destacada a proteção conferida aos motores bi-fuel, bem como o auxílio na neutralização dos compostos ácidos nocivos que são produzidos. A Champion destaca que “num mundo dominado por um número crescente de especificações e de opções, escolher o lubrificante correto para o automóvel assume a maior importância”. E, para terminar a revelação destes novos produtos, recorda que desenvolveu uma plataforma específica para garantir que as oficinas encontram o óleo correto para cada viatura, indicando que essa ferramenta pode ser encontrada tanto no site oficial da Champion como através da sua App para smartphone. 49

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BALANÇO DE 2021 E PERSPETIVAS PARA 2022

OFICINAS RECUPERAM MERCADO, MAS HÁ NOVOS DESAFIOS O ano de 2021 foi positivo para o setor da reparação automóvel e “aftermarket”, mas no que se refere ao comércio automóvel as coisas já não são assim tão lineares. E nos principais desafios do setor para 2022 surgem prioridades como assegurar o total acesso aos dados do veículo, a aposta contínua em formação e na digitalização de processos, e manter-se a par com as tendências de eletrificação e conectividade dos veículos Texto David Espanca

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mais com o crescimento das novas variantes), mas com a adição da incerteza ao nível do poder legistativo, o cenário é ainda mais desafiante.

Para a ANECRA, o acesso aos dados das viaturas foi um dos temas que marcou 2021

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um ano fustigado pela pandemia do Covid-19, a retoma da atividade económica no nosso país em 2021 tem ocorrido de forma gradual. E se, por um lado, a reparação automóvel esteve sempre operacional e agora é uma atividade em crescimento, do lado dos fabricantes e do comércio automóvel há problemas ao nível da oferta que impactaram a performance ao longo dos últimos doze meses. Para agravar ainda mais a atual situação, a queda do atual Governo deixou o país em suspenso, sem decisões políticas. E, obviamente, esta não era uma situação desejada, já que a ausência de poder executivo paralisa a resolução de uma panóplia de questões que afetam o setor. Mesmo com eleições marcadas para janeiro, só lá para meados do próximo ano é que poderá haver algumas decisões importantes. Afinal, ainda antes de ter um esboço do Orçamento do Estado que terá de ser aprovado pelos deputados, será preciso passar por todo o processo de tomada de posse da Assembleia da República e da indigitação e formação do governo. Ou seja, 2022 começa sob a incerteza da evolução da pandemia (ainda para 51

SETOR OFICINAL CRESCE 9,7% Fazendo um balanço de 2021, Rodrigo Ferreira da Silva, Presidente da ARAN (Associação Nacional do Ramo Automóvel), explica que para as oficinas independentes este “foi um ano muito bom, já que tiveram sempre a trabalhar e conseguiram recuperar”. Aliás, este responsável está mesmo convencido que as empresas representadas pela associação “vão acabar 2021 com uma ligeira subida face ao ano transato”. E assinala que, “por arrasto, também as empresas de 'aftermarket' estão a ter um bom desempenho”. Opinião idêntica tem a ANECRA (Associação Nacional das Empresas do Comércio e da Reparação Automóvel), que “não obstante ter observado quebras em 2020, não foi tão penalizado como outros segmentos. E este ano foi positivo e com claros sinais de recuperação”., confirma Roberto Gaspar. O Secretário-Geral desta entidade avança ainda que “os nossos dados, que estão em linha com as previsões publicadas pela Gipa, e apontam para um crescimento de +9,7%, face a 2020. A ANECRA recorda, no entanto, que ainda se verifica uma quebra de 5,3% em relação a 2019”. Mas nem tudo acabou por correr tão bem em 2021, pois o ano vai ficar marcado por “um fenómeno absolutamente inusitado: a da falta de carros por via da famigerada crise dos semicondutores”, sublinha ainda Roberto Gaspar. E adianta que além das implicações no retalho, os efeitos foram igualmente sentidos “no próprio setor do comércio dos usados, de forma mais tardia, por via da quebra na cadeia de abastecimento que lhe permite renovar o stock”. “Os concessionários estão a sentir muitas dificuldades pela falta de produto, sobretudo neste segundo trimestre”, complementa Rodrigo Ferreira da Silva. Já os usados, prossegue, “não conseguem ter carros por via dos canais normais, uma vez que as 'rent-a-car' e as gestoras de frotas estão a prolongar a vida útil dos seus veículos nas suas ativi-

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DOSSIÊ dades. E, por outro lado, como não há carros novos, não há entrega de usados”. O impacto desta escassez no mercado já se faz sentir nos preços, com registos de aumentos “na ordem dos 20% no valor dos usados”. Mas, se 2021 foi um ano muito difícil para os concessionários, avizinha-se uma dificuldade acrescida no horizonte, que é a mudança do modelo de negócio. Outra questão de peso é a nova lei de defesa dos consumidores (e as novas garantias nos veículos usados), que vem mudar radicalmente a atividade dos operadores. Além do aumento de dois para três anos no prazo de garantia, o período de proteção do cliente para devolução do veículo passa para 30 dias. Adicionalmente, por cada entrada em oficina durante o prazo da garantia, há uma garantia adicional de mais seis meses, até um máximo de quatro entradas. Para Joaquim Candeias, presidente da Divisão do Pós-venda Automóvel Independente da ACAP (DPAI/ACAP), 2021 “foi um ano muitíssimo dedicado ao apoio à retoma da atividade das empresas e ao ajustamento das medidas lançadas pelo Governo às necessidades efetivas das empresas associadas”. Também o Presidente da AFIA (Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel), José Couto, assinala o cenário desafiante em que vivemos. Este responsável refere que “em 2021, numa conjuntura adversa, que resulta da crise pandémica, sabemos que os 'drivers' das mudanças serão os mesmos, mas o Covid-19 acelerou todo o processo

Num mundo cada vez mais interligado, as consequências da crise de semicondutores sentem-se nos mais diversos sectores do aftermarket

Todas as Associações colocam a qualificação dos profissionais como uma das prioridades nas suas estratégias

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e condicionou a procura de veículos automóveis, ao que temos de acrescentar a rutura de abastecimentos e acréscimo de preços no mercado das matérias-primas e a falta de fiabilidade dos processos de logística”. Agora, continua o interlocutor, “junta-se-lhe uma inusitada subida de preços da energia e dos combustíveis, sem uma reação ajustada e assertiva do Governo ou da UE”. Isto implica que “as empresas de componentes para a indústria automóvel perdem margem, têm de encolher a capacidade de produção, desfazer-se de recursos humanos, procurar financiamento para honrar compromissos, adiar e priorizar investimentos… no fundo, têm de gerir uma crise que lhe é imposta, e que as fragilizará”, finaliza o responsável da AFIA. DADOS DAS VIATURAS GANHAM NOTORIEDADE Em 2021 um dos temas que esteve na ordem do dia foi a questão das viaturas conectadas e do acesso aos dados das viaturas circulantes por parte dos fabricantes. O Secretário-Geral da ANECRA lembra que “para isto muito contribui a perceção generalizada dos diferentes operadores do mercado sobre as potenciais consequências graves caso o atual modelo se mantenha e o acesso aos dados das viaturas não seja disponibilizado de forma equitativa a todos os diferentes atores do mercado”. Há que assinalar que este é um dos principais temas em cima da mesa nas muitas conversações que têm existido entre as diferentes associações


do setor e a Comissão Europeia. Isso explica-se, indica Roberto Gaspar, pelo “potencial absolutamente disruptivo para toda a cadeia envolvida no segmento do pós-venda, desde as oficinas independentes, passando pelos fabricantes de peças 'aftermarket', não esquecendo o próprio consumidor final”, conclui. A nível associativo, no que concerne à ANECRA, este ano “foi seguramente, e à semelhança do que já havia sido em 2020, de uma enorme exigência, pessoal e coletiva”, mas foi também “um ano de grande afirmação da Associação, com um papel importante no apoio (aos mais diferentes níveis) aos seus mais de 3.500 associados e ao mercado automóvel de uma forma geral”. Também a ARAN faz um balanço positivo da sua atividade. “Continuamos a crescer a dois dígitos, conseguimos comunicar que uma entidade como a nossa acrescenta valor às empresas, aos serviços prestados, pela defesa que fazemos em relação ao setor automóvel como um todo, sem perder o nosso foco, que é o de uma organização sem fins lucrativos, de utilidade pública”, afirma Rodrigo da Silva. Por seu turno, Joaquim Candeias destaca a melhoria realizada no Observatório do após-venda e de pneus da DPAI/ACAP. E avança ainda que “o apoio à qualificação das empresas é um projeto no qual estamos a apostar e a evoluir com enorme empenho, quer através de parcerias com universidades de prestígio, quer através de ofertas formativas adequadas. Só assim as empresas serão mais competitivas face aos desafios que se avizinham”. A campanha Comunicar, lançada há alguns anos com o apoio de várias empresas das Comissões que integram a DPAI/ACAP, através da qual se lançou o “website” e redes sociais dedicados ao após-venda, “tem permitido dar maior visibilidade ao IAM em Portugal, para que os consumidores o considerem como uma opção fiável e qualificada para a manutenção e reparação dos seus veículos”, conclui o interlocutor. DESAFIOS NO FUTURO E A CRISE POLÍTICA No que concerne às oficinas independentes, a ARAN considera que os principais desafios passam pelo total acesso à informação e garantir que no mercado de trabalho existem técnicos capazes de responder às novas exigências do produto que vai ser lançado. A promessa é que a associação vai lutar “para que as oficinas tenham acesso à informação técnica, informação dos produtos e formação, para que possam trabalhar no mercado de uma forma cada vez mais competitiva”, esclarece o Presidente desta entidade. A ANECRA, por sua vez, coloca foco na necessidade de mais e melhores meios tecnológicos (caso dos sistema ADAS ou dos sistemas de diagnóstico e reparação, entre outros), mas também ressalva a importância de assegurar que existem equipas de profissionais altamente especializados, com uma aposta continua na formação. Na era da digitalização, “é preciso dotar as empresas de meios e

Tanto o mercado de veículos novos como o dos usados foram fortemente afetados pela crise pandémica

know-how ajustado aos tempos que vivemos”, explica Roberto Gaspar, referindo a necessidade de “preparar, gradualmente, as empresas para novos desafios como as viaturas eletrificadas e conectadas, a concentração do mercado em grandes operadores de mobilidade, etc”. Para a DPAI/ACAP, os principais temas que irão ditar o futuro do pós-venda independente serão “a codificação de peças, cybersegurança, acesso aos dados do veículo e MVBER”. Além disso, há que ter em conta “a crise do abastecimento de peças e o aumento do preço de matérias-primas, que pode ter impacto na atividade das empresas”, afirma Joaquim Candeias. Em comparação com 2020, pode-se dizer que 2021 foi mais positivo para o Aftermarket nacional, embora a crise dos semicondutores, escassez de matérias-primas e aumentos de custos tenham tornado ainda mais desafiante um cenário já de si complicado. Mas, como fica patente nas palavras dos responsáveis da DPAI, ARAN, ANECRA e AFIA, o momento é de olhar para os desafios e começar a preparar o futuro. O novo ano pode trazer novidades de relevo e dar a conhecer decisões com grande impacto em áreas como o acesso aos dados e na distribuição das verbas referentes ao Plano de Recuperação e Resiliência. A promessa das associações é que vão continuar a acompanhar e apoiar as empresas e garantir que elas estão preparadas tecnologicamente e contam com pessoal capacitado, de forma a garantir que elas são capazes de responder às profundas alterações que estão a acontecer no sector automóvel. 53

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PLANOS DAS ASSOCIAÇÕES DO SECTOR PARA 2022 Quais os projetos da associação que lidera que destaca para 2022? Joaquim Candeias, DPAI/ACAP - Reforçar a visibilidade do pós-venda independente, divulgar a qualidade dos seus serviços e produtos, demonstrar o seu posicionamento de credibilidade e qualificação através das redes sociais e dos nossos canais de comunicação. Para a concretização destes objetivos, apostamos no lançamento ao público do Programa Oficina Confiança [tema em destaque na entrevista da Turbo Oficina à Comissão Especializada de Serviços de Mobilidade]. Contamos ampliar a nossa oferta formativa e, assim, apoiar ativamente os associados na construção de um pós-venda independente mais forte e competitivo. Vamos realizar várias sessões informativas e fóruns de debate para divulgar toda a informação necessária à análise preditiva do negócio.

Rodrigo Ferreira da Silva, ARAN

na formação não técnica vamos apresentando competências e cursos em determinadas áreas, sobretudo no relacionamento com o cliente, presencial ou digital, gestão geral das empresas e gestão do após-venda ou gestão oficinal. Temos um plano de formação muito rico para o ano que vem, tentando aí atrair novos talentos para o setor, que tem sido muito difícil em áreas como a colisão, bate-chapas e pintura.

Roberto Gaspar, ANECRA - 2022 será seguramente determinante para o processo do acesso aos dados das viaturas comunicantes. Depois temos um grande desafio para os operadores do “aftermarket” e em particular para as oficinas multimarca – serem capazes de se dotar dos meios e dos recursos necessários para enfrentar um setor em mudança acelerada e, portanto, com meios tecnológicos e recursos humanos com capacidade de adaptação. Temos um conjunto de projetos/ processos em mãos: reforçar a nossa capacidade de consultoria especializada em várias vertentes (na área digital, no apoio ao negócio e à gestão, etc.); consolidação do nosso projeto da “Oficina+ ANECRA”, que é um processo de certificação em estreita parceria com a SGS; e lançar de forma massiva um serviço de crédito à reparação/solução de pagamentos faseados. Talvez a maior aposta seja continuarmos o trabalho que temos vindo a fazer desde há dois anos, que é reforçar fortemente a nossa oferta formativa no âmbito do nosso Gabinete de Formação. Rodrigo Ferreira da Silva, ARAN - O nosso desafio é cada vez mais ter um conjunto de serviços transversais a todo o setor, mas depois desenhar o mais próximo possível de cada uma das atividades dos nossos sócios. E isto é um processo que já teve início, mas que queremos continuar a fazer já que pensamos estar a dar os seus frutos. Nesse sentido, vamos ter eventos, formações, webinars, festas e convívios, viagens a salões profissionais, entre outras iniciativas. A área da formação técnica é muito importante e o nosso foco principal será sempre o CEPRA, enquanto

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QUE MEDIDAS CONSIDERADAS QUE DEVEM SER PRIORIZADAS PELO NOVO GOVERNO? Joaquim Candeias, DPAI/ACAP - O País precisa de estabilidade para gerir os fundos comunitários de apoio à nossa economia, para que tenham efetivamente impacto numa maior capacidade competitiva das empresas, sufocadas pela carga fiscal e legislação laboral inflexível. Concorrem com estes fatores negativos, a crise do abastecimento de peças e o aumento do preço de matérias-primas, o que pode ter impacto na atividade das empresas caso o Governo não tome medidas adequadas. Além disso, há necessidade da manutenção de medidas de apoio

Joaquim Candeias, DPAI/ACAP 54


e “layoff” simplificado e combate a práticas de concorrência desleal.

registo profissional do revendedor deste tipo de veículos, para salvaguardar quem vai adquirir o veículo e evitar problemas que mais tarde possam surgir.

Roberto Gaspar, ANECRA - Acreditamos ser da mais elementar justiça a isenção do pagamento do IUC (Imposto Único de Circulação) pelas viaturas em “stock”, que é suposto incidir apenas nas viaturas em circulação, assim como a reintrodução da medida de incentivo ao abate de viaturas usadas. Também seria muito importante que o Plano de Recuperação e Resiliência (que tem uma vertente importante nos processos de digitalização das empresas) pudesse incluir o processo de modernização e de digitalização dos nossos operadores de pós-venda. Por último, um dos pontos que temos vindo desde há muito a alertar as entidades competentes tem a ver com a necessidade de acelerar o processo de combate à economia paralela. Rodrigo Ferreira da Silva, ARAN - Continuamos a achar que deve haver uma revisão da fiscalidade automóvel, nomeadamente taxar os carros pela cilindrada, já que se estão a dar benefícios fiscais a viaturas de alta cavalagem só porque são elétricos, enquanto um pronto-socorro paga IUC. Essa fiscalidade deve ter duas bases, uma de componente ambiental e outra sobre o valor do automóvel. Quanto mais caro for um bem, mais imposto deve pagar, e deixar de favorecer também os veículos mais antigos, que acabam por ter um IUC mais baixo e que poluem mais o ambiente. Quanto aos usados, existe nesta área um conjunto de pessoas que se disfarça de particulares, mas que no fundo são comerciantes, e que o fazem para não ter de dar as garantias devidas e não ter de pagar os impostos devidos, provocando uma concorrência desleal no mercado. Propomos um

José Couto, AFIA - Solicitamos ao Governo que possa apoiar no imediato o tecido empresarial, que passa pelas dificuldades enunciadas, ainda consequência da pandemia Covid-19. E em especial os fabricantes de componentes para a indústria automóvel, através de meios que possibilitem manter as equipas de colaboradores e que compensem as dificuldades de liquidez momentânea; que crie instrumentos que possibilite enfrentar as tendências impostas pela transição energética e a transformação digital. É necessário privilegiar o apoio às empresas, sem demoras e sofismas e não podemos deixar de referir a incapacidade de pormos o Banco de Fomento a funcionar e, por essa via, fazer chegar meios financeiros às empresas, como capital próprio ou quase capital, e não como endividamento para afetar negativamente o passivo, o que possibilitará viabilizar planos de investimento que incrementem a competitividade.

José Couto, AFIA 55

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BOSCH CAR MULTIMEDIA

OBJETIVO É CRIAR CADA VEZ MAIS INOVAÇÃO Em 2020 a Bosch Car Multimédia foi o quarto maior exportador nacional e, mesmo a crise dos semicondutores, os seus resultados devem continuar a crescer em 2021. Segundo os responsáveis da divisão localizada em Braga, o objetivo é criar cada vez mais inovação em Portugal, para também assegurar a continuidade da produção no nosso país Texto Nuno Fatela

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BoschCar Multimedia em Braga é atualmente uma das unidades de referência no desenvolvimento de produtos dentro da casa germânica, tornando o nosso país num polo de inovação para áreas como a condução autónoma. A Turbo Oficina teve oportunidade de entrevistar vários dos responsáveis por esta divisão nacional da Bosch, que nos revelaram os planos para o futuro, considerando que as tecnologias desenvolvidas em Braga vão ter impacto também para quem trabalha no sector do aftermarket . Como tem sido o percurso da Bosch Car Multimedia desde que surgiu, em 2009, e qual a relevância atual dentro da Bosch a nível mundial? O percurso da Bosch Car Multimedia tem sido de sucesso, a prova disso são os resultados alcançados e o investimento realizado nos projetos de inovação e na expansão da parte de produção e da área de investigação e desenvolvimento. Esta unidade, conta com cerca de 3.800 colaboradores e tem um peso muito relevante para os resultados registados pela Bosch em Portugal, com 99% dos produtos a terem como destino a exportação. Além disso, atualmente mais de 450 engenheiros desenvolvem soluções que contribuem para uma mobilidade mais segura e confortável a partir de Braga para o mundo. Em 30 anos, a Bosch passou dos autorrádios para as pistas da condução autónoma. Hoje, há produtos criados em Braga que não existem em mais nenhuma parte do mundo. Isto é algo que deixa evidente o papel da Bosch Car Multimedia na estratégia do Grupo. Foram em 2020 o 4º maior exportador nacional. Qual a relevância de ocupar esta posição? É sinal de competência e de confiança nos produtos que são produzidos pela Bosch em Portugal. Todos as nossas localizações têm evoluído positivamente e contribuído para a consolidação dos nossos negócios. E são esses resultados consolidados e sustentados que nos permitem continuar a ser um dos maiores empregadores do país. Qual a força laboral atual e em que áreas de especialização têm procurado contratar? A Bosch em Braga tem um total de cerca de 3.800 colaboradores. À área de produção estão afetos cerca de 2.300 colaboradores, e atualmente temos cerca de 450 engenheiros dedicados à Investigação e Desenvolvimento. Estrategicamente, somos cada vez mais uma software company para mobilidade, o que resulta numa necessidade de atrair talentos especializados, nomeadamente a título de exemplo, nas áreas de data science, deep learning, machine learning, AI, robótica, computer vision, entre outros. 57

Sentem dificuldade em encontrar profissionais especializados? Sim, temos sentido alguma dificuldade em contratar para determinadas áreas mais específicas, algo que é uma realidade transversal a várias empresas. No nosso caso, os perfis altamente qualificados são neste momento, aqueles com a maior escassez. Ou seja, perfis seniores nas áreas de desenvolvimento como, por exemplo, nas áreas de Software e Hardware. Quais os benefícios da parceria que têm desde 2012 com a Universidade do Minho? A parceria tem sido muito importante e contribuído para a investigação e desenvolvimento de projetos cruciais para a Bosch. Com esta parceria, e outras que temos com mais universidades, conseguimos promover a partilha de conhecimento entre empresa e academia, e isso é uma mais-valia para ambos. Esta parceria tem-se traduzido em resultados muito positivos ao nível do emprego científico e do emprego qualificado gerado, dos processos de inovação induzidos e dos impactos económicos resultantes. A parceria com a UMinho tem sido decisiva para o crescimento da empresa em Portugal. Hoje, a Bosch em Braga é vista como um polo de inovação e muito deste reconhecimento deve-se à forte cooperação com os investigadores dedicados aos projetos de inovação na universidade. Qual o valor total das exportações e que perspetivas para os resultados de 2021? A Bosch em Braga exporta 99% do que produz. Apesar do condicionamentos causados pela escassez dos componentes eletrónicos, para 2021 a nossa perspetiva é de crescimento face ao registado este ano. Como analisa a crise dos semicondutores e que impacto tem na atividade da Bosch Braga? A Bosch Car Multimedia, como é do conhecimento público, tem sido fortemente afetada pela escassez mundial de fornecimento de componentes eletrónicos, que desde o início de 2021 provocou várias paragens de produção e levou a empresa a recorrer ao layoff durante um determinado período. Atualmente a Bosch tem verificado uma ligeira melhoria em alguns dos seus fornecedores mais críticos e, apesar de ainda estar a receber

“O nosso esforço é ser cada vez mais invented em Portugal” DEZEMBRO 2021/JANEIRO 2022 TURBO OFICINA


ATUALIDADE

volumes abaixo das suas necessidades, decidiu terminar o layoff. Apesar destas paragens, sempre reafirmámos que os projetos já conquistados junto das principais marcas automóvel a nível mundial asseguram a sustentabilidade futura.

“UM MARCO IMPORTANTE” O ano de 2021 marcou o centenário da rede de oficinas Bosch Car Service e, enquanto parceiros dentro do Grupo Bosch, questionámos os responsáveis da divisão de Braga sobre o significado desta celebração. Considerando que este efeméride “é sinal de estabilidade e de capacidade de fazer face aos desafios que vão surgindo no mercado”, afirmando por isso que este é “sem dúvida um marco importante”. A Bosch Car Multimédia ressalvou que atingir uma data histórica como esta “só é possível apostando numa inovação constante e na qualidade dos produtos e serviços”, considerando que esse é um ponto de união que tem com a rede de oficinas da Bosch. Os nossos interlocutores na divisão de Braga reforçam que essa aposta na inovação e qualidade “é transversal à Bosch, independente da área de negócio”, considerando que “no caso concreto da Bosch Car Multimedia e da Bosch Car Service, entre outros aspetos, une-nos o propósito de oferecer o melhor serviço com a tecnologia mais avançada e continuar a impulsionar a inovação para construir o futuro do setor automóvel.”

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INVENTAR PARA GARANTIR CONTINUIDADE Os projetos "nascem” em Braga ou apenas seguem diretrizes que vêm da Alemanha? Pertencemos a um Grupo e há uma estratégia conjunta e diretrizes que vêm da nossa casa mãe na Alemanha. Mas no nosso centro de desenvolvimento e tecnologia nascem muito projetos e soluções. O nosso esforço é ser cada vez mais invented em Portugal, mas continuando a ser made in Portugal. Quanto mais formos invented in Portugal, mais iremos garantir a continuidade do made in Portugal, é essa a nossa filosofia de trabalho. Em que áreas e projetos estão mais focados atualmente? Neste momento, podemos dizer que as nossas equipas estão muito focadas nas tecnologias para a condução autónoma. Por exemplo, no desenvolvimento de tecnologia para que o veículo seja capaz de detetar o ambiente circundante e tomar decisões com base em inteligência artificial e sensores, como o sensor LiDAR e de sensores de condição de piso para a capacidade de perceção a 360º; o sensor “Automotive Precise Positioning” para a capacidade de localização; e, para a capacidade de atuação, o desenvolvimento do sensor de ângulo de direção e de sensores para controlo de motores DC de sistemas de direção. 58


A partir de Braga, a equipa de especialistas da Bosch tem tido um papel central e de impacto direto em todo o espectro de desenvolvimento do LiDAR, desde as camadas de abstração mais baixas (criação do Hardware e Ótica) até às camadas mais altas da Perceção (Compreensão do ambiente à nossa volta). A Bosch em Braga está ainda focada no desenvolvimento de sensores inteligentes críticos como resposta às capacidades exigidas ao automóvel no contexto da condução autónoma: sensores de interior do veículo em contexto de veículos autónomos e veículos autónomos partilhados (SAV), comunicações V2X, aplicações para a conectividade dos veículos de duas rodas (2-wheelers) e o desenvolvimento do cockpit inteligente. Estão envolvidos na investigação sobre a transmissão de informação para as marcas relativamente a problemas ou necessidades de intervenção em automóveis? A Bosch Car Multimédia dispõe de várias soluções de conectividade híbrida que permitem não só a comunicação entre veículos, mas também a comunicação com a infraestrutura. Um dos melhores exemplos é a unidade de conectividade multi-tecnologia. Este dispositivo combina as mais interessantes tecnologias de comunicação, tais como WIFI, Bluetooth, LTE, 5G e V2X, e atua como um interface tecnológico capaz de recolher a informação presente nos sensores internos do carro e partilhar as mesmas com um serviço localizado na cloud. Para complementar este ecossistema, a Bosch Car Multimédia apresenta também soluções

“Há produtos criados em Braga que não existem em mais nenhuma parte do mundo” de serviços cloud que tomam partido da grande quantidade de dados gerados pelos dispositivos de conectividade - também designado por Big Data. Exemplo deste tipo de serviços será a informação relativa a problemas ou a necessidade de intervenção em automóveis As inovações nesta área podem ter impacto na atividade do Aftermarket? Como devem as oficinas preparar-se para abraçar as novas tecnologias? Estamos a falar do setor automóvel. Por isso, é inevitável que as inovações tenham impacto no Aftermarkett, não só porque existirão cada vez mais veículos eletrificados, e também mais tecnologias alternativas, como também os automóveis estarão cada vez mais ligados ao condutor, mas também a outros carros, às infraestruturas e às oficinas. Isso vai exigir às oficinas que fortaleçam o seu portefólio enquanto prestadoras de serviços, que apostem em ferramentas de gestão de dados, porque o foco estará cada vez mais no cliente e não na reparação em si. Tem de existir essa evolução por parte das oficinas, uma aposta cada vez maior na digitalização e conectividade para que possam dar resposta às novas formas de mobilidade. 59

A Bosch Braga tem 3800 funcionários, incluindo 450 engenheiros de Investigação e Desenvolvimento

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REPORTAGEM

ESTUDO COVID-19

O IMPACTO DA PANDEMIA E O AFTERMARKET PÓS-COVID Na Automechanika Dubai foi apresentado um estudo que aborda, de forma transversal, o impacto da Covid-19 no Aftermarket e em toda a indústria do automóvel, identificando também o ritmo de recuperação que se pode esperar nos vários sectores de atividade

A

Automechanika Dubai, que se realizou entre 16 e 18 de dezembro de 2021, terminou sem o brilho de grandes novidades, mas o evento teve na divulgação do estudo da analista de mercado Frost & Sullivan relativo ao impacto da pandemia no Aftermarket um dos seus pontos de

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Texto Nuno Fatela

interesse. Esta análise ofereceu também uma previsão às transformações que esta crise sanitária vai provocar, com o estudo a apresentar dados de grande relevo e que oferecem uma visão transversal aos efeitos da pandemia, desde a produção de veículos até ao comportamento dos clientes finais, os consumidores. 60

A analista norte-americana começa por destacar que o sector automóvel, como todas as indústrias, sofreu alterações na sua performance ao longo destes dois anos. E, afirmando que se verificou uma queda na procura, a Frost & Sullivan especifica se ela deveu a motivos como a contração na base de clientes e a menor quilome-


A pressão colocada sobre os funcionários, devido ao lay-off das empresas, foi um dos efeitos da crise que causou mais impacto no Aftermarket

tragem percorrida pelas pessoas em viagens devido aos confinamentos e restrições, enquanto no lado da oferta os problemas estiveram centrados em questões como as paragens na produção (por lay-off ou encerramento de fábricas), constrangimentos na cadeia de abastecimento e as quebras nas vendas de veículos novos. Outra consequência assinalada foi a descentralização das cadeias de abastecimento, uma opção que os fabricantes automóveis tomaram para se protegerem de falhas no fornecimento de produtos, mas que causou um aumento marginal do custo desses mesmos materiais e componentes. EUROPA E ESTADOS UNIDOS FORAM MAIS AFETADOS Este estudo indica que os fabricantes que têm maior volume de produção e vendas nos mercados europeu e norte-americano foram os que sofreram mais. E especifica que a Ford, PSA e FCA (entretanto congregadas na Stellantis) foram as principais afetadas tanto no fabrico como ao nível

do comércio, pela concentração das suas atividades no que é designado como “Red Zone”, uma zona vermelha de maior impacto da Covid que inclui França, Itália, Espanha e Estados Unidos. É ainda referido que no caso da Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi as consequências foram mais evidentes no mercado de veículos novos que na produção, pelo peso que as regiões referidas têm nas vendas do grupo.

O aumento da procura por veículos usados e aumento da idade dos contratos de leasing podem trazer consequências positivas para as oficinas 61

Os grupos automóveis menos afetados foram a Toyota e a Hyundai, algo que a Frost & Sullivan justifica pela maior dispersão mundial nas vendas das marcas que pertencem a estes fabricantes. Já no caso do Grupo Volkswagen e da General Motors foi a forte implantação na China que permitiu suavizar os efeitos da pandemia, contrapondo o impacto sentido em outras zonas do globo. MUDANÇAS NOS HÁBITOS O quadro que surge neste artigo revela algumas modificações importantes no comportamento dos clientes e do próprio mercado. Um dos dados mais evidentes é a redução das idas aos concessionários automóveis, de dez para apenas duas visitas, algo que indica um maior peso do online mas também espelha a quebra nas vendas de veículos novos. Para o Aftermarket há mais dois dados estatísticos que merecem relevo. Por um lado, a quebra nos gastos médios em cada reparação automóvel é um efeito negativo da crise, mas o aumento da idade média dos contratos de leasing para quatro anos repre-

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REPORTAGEM

A redução do investimento em Pesquisa e Desenvolvimento foi uma das consequências pandemia no Aftermarket

senta uma oportunidade adicional de negócio para as oficinas que têm contratos com as empresas deste ramo. Nesta investigação foram também inseridas as principais preocupações e as medidas que as empresas adotaram para reagir ao cenário da Covid-19. Num curto-prazo foi destacada a necessidade de garantir a segu-

rança dos trabalhadores, criar equipas de resposta rápida e preparar estratégias de suporte financeiro e obter a extensão das linhas de crédito. Mas foram igualmente dados passos para melhorias a médio-termo, que passaram pela disponibilização de uma experiência 100% digital, criação de campanhas para captar mais negócio e olhar

ATIVIDADE

ANTES DA COVID

DURANTE A COVID

VISITAS A CONCESSIONÁRIOS

10

2

VENDAS MENSAIS DE VEÍCULOS NOVOS (AM. NORTE)

1.800.000

1.100.000

PROCURA VEÍCULOS COMERCIAIS USADOS (REINO UNIDO)

1X

20X

QUILÓMETROS PERCORRIDOS ANUALMENTE (AM. NORTE)

18.500KM

15.200KM

GASTOS MÉDIO POR REPARAÇÃO AUTOMÓVEL (AM. NORTE)

1.150€

890 €

PENETRAÇÃO E-COMMERCE VENDAS VEÍCULOS NOVOS (REINO UNIDO)

2,7%

5,6%

PENETRAÇÃO E-COMMERCE COMPONENTES REPARAÇÃO (REINO UNIDO)

7%

9%

IDADE MÉDIA DOS CONTRATOS DE LEASING (EUROPA)

3,8 ANOS

4,3 ANOS

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com maior atenção para modelos de negócio low-cost e para o mercado de usados. Num horizonte mais distante surgem ainda iniciativas com vista à implementação de soluções HHW (Hardware Wall), a diversificação da cadeia de fornecimento e ainda garantir a preparação de planos de contingência para lidar com crises no futuro. IMPACTO E RECUPERAÇÃO A RITMO MÉDIO NO AFTERMARKET O estudo apresentado na Automechanika Dubai focou o impacto da crise pandémica em seis áreas de negócio do sector automóvel: mobilidade partilhada, eletrificação, conetividade, Aftermarket e reparação, leasing e comércio digital. Estes dois últimos foram os menos afetados pela crise, algo que caso do comércio digital se explica facilmente pelo obrigatório distanciamento entre pessoas e recurso a soluções online, enquanto no caso do leasing acabou por ser o aumento da procura por veículos comerciais que suavizou os efeitos da Covid-19. As consequências da pandemia foram analisadas ao dinâmicas ao nível do fornecimento, da procura e do próprio comportamento do mercado em cada uma das seis áreas referidas. No caso do Aftermarket e da reparação automóvel, cujos efeitos foram agrupados na mesma categoria, verificou-se um forte impacto negativo na cadeia de


O estudo indica que a cadeia de fornecimento foi onde se sentiram mais os efeitos da Covid-19 no Aftermarket automóvel fornecimento, afetado pelas disrupções no fornecimento, quebra no investimento em Pesquisa & Desenvolvimento e ainda na pressão colocada sobre a força laboral (por exemplo, devido ao lay-off). Este impacto negativo foi, no entanto, contraposto por uma reação positiva na parte da procura. Isso deriva da obtenção de uma base de clientes mais alargada e com maior disponibilidade económica (duas situações que podem estar associadas à descida nas vendas de veículos novos), bem como à primazia dada pelas pessoas ao automóvel particular nas suas deslocações, por se sentirem mais seguras e protegidas nas suas viaturas que nos transportes públicos e outras soluções de mobilidade. Como tal, a Frost & Sullivan concluiu que o impacto da pandemia no Aftermarket e reparação se situou num nível mediano, verificando-se também uma velocidade média na recuperação pelas empresas dos efeitos económicos da pandemia. E, entre as oportunidades de negócio que ganharam peso neste período, a procura de soluções de higienização da viatura e o aumento das vendas por canais online são tendências para as empresas aproveitarem. PANDEMIA PROVOCA MUDANÇAS NO SECTOR Bem sabemos que nada será igual após a pandemia, mas este estudo revela algumas das principais tendências que ganharam maior impeto com o coronavírus. A primeira passa pela diversificação da cadeia de fornecimento pelos OEM, que assim se vão tentar proteger de quebras de fornecimento causadas

A pandemia gerou um aumento da procura por soluções de higienização do veículo

por crises regionais (como durante a Primavera de 2020 e o Inverno de 2021 na Europa, em que a pandemia praticamente paralisou a região) e contornar a falta de matérias-primas. Do lado da procura, a digitalização vai ganhar ainda mais peso, e os agregadores de serviços devem ganhar notoriedade por oferecem soluções mais transparentes e baratas. E os serviços “door2-door”, onde se incluem a receção e entrega do veículo em casa, vão também tornar-se mais relevantes. Outra alteração que merece destaque é a procura de componentes e outros produtos e serviços com preços mais reduzidos. Isso decorre, explica a responsável pelo estudo, da maior sensibilidade dos clientes aos preços dos bens que adquirem. Outra situação que poderá gerar ganhos em alguns sectores do Aftermarket é o aumento das vendas de usados, que traz proveitos pelo aumento dos serviços de reparação anteriores à transação da viatura. 63

Para ajudar as empresas a recuperar no pós-pandemia, a Frost & Sullivan divulgou também a sua visão do Pipeline (funil) de crescimento para as empresas, num ciclo que contempla cinco passos. A analista considera que o ponto de partida deve ser um olhar geral para o mercado, no qual se identificam as oportunidades de negócio e se priorizam aquelas que podem trazer mais ganhos. Segue-se depois a criação de uma estratégia ‘go-to-market’, posteriormente materializada no planeamento e no lançamento dessas soluções. O passo final passará pela monitorização e otimização de resultados, para maximizar os ganhos destas apostas. É ainda indicado que, depois de um plano de sucesso, as empresas devem voltar ao passo inicial e olhar novamente para o mercado em busca de novas oportunidades, num processo contínuo que lhes permita recuperar mais rapidamente da crise e continuar a crescer.

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TÉCNICA

CARROÇARIA

RECUPERAR OS LOGÓTIPOS A recuperação do logótipo é uma solução mais sustentável e rentável que a substituição deste símbolo que identifica a marca. E há soluções muito simples e para restaurar os logótipos que qualquer oficina pode oferecer aos seus clientes Texto Federico Carrera Salvador

O

s logótipos são desenhos tipográficos que representam a identidade de uma marca. Nos automóveis, ajuda a identificá-los nas ruas e nas estradas e a sua colocação em determinadas partes da carroçaria atribui-lhes uma personalidade própria, e uma certa estética, com fins comerciais ou de marketing. Apresentam a imagem corporativa e identidade visual da marca. Todos os fabricantes de automóveis têm o seu logótipo personalizado com símbolos representativos - animais, escudos, bandeiras, letras, etc. - de diferentes dimensões, formas e cores. É bastante curioso conhecer o logo de cada marca, já que engloba não só a sua história, mas também possibilita, através das suas sucessivas adaptações, perceber como se desenvolveu o desenho gráfico ao longo das décadas ou em diferentes países. Pegamos, por exemplo, no logótipo da Toyota: ele é formado por três elipses, com as duas centrais em forma de um caligrama [uma espécide de "poema gráfico”] que, ao ser decifrado, contem o nome completo da marca. Nos seus inícios, os logótipos, de madeira ou metálicos, eram colocados em zonas frontais, capot, para-lamas, etc., formando arestas que se tornavam agressivas para os peões, em caso de atrope-

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lamento. As normas foram-se adaptando e foram proibidas arestas salientes nos veículos - afetando os logótipos. E até o material foi alterado: atualmente, são de plástico cromado e adaptam-se à geometria da carroçaria, unidos à superfície por grampos, parafusos ou adesivos. Se bem que o logótipo do fabricante é genérico para todos os veículos da marca, existem outros emblemas que identificam cada modelo concreto ou caraterísticas especiais: normalmente, números e letras que podem encontrar-se unidos entre si ou separados. O método de união mais utilizado é o adesivo ou a fita de dupla face, com um material acolchoado ou espumoso. RECUPERAÇÃO E REUTILIZAÇÃO DE LOGÓTIPOS Nas diversas tarefas realiazdas nas oficinas de reparação, muitas vezes é necessário retirar os logótipos para reparação de choques, substituição de peças e processos de pintura em zonas onde estes estejam localizados. Vale a pena a recuperação ou reutilização destes símbolos? Do ponto de vista da sustentabilidade, sem dúvida. Ao não ter de fabricar outros novos, é possível reduzir os gastos em matérias-primas, as emissões de CO2 e os resíduos correspondentes. Outra opção que existe a troca de um usado, muito mais barata que a compra de um logótipo novo... 64

O design e os materiais de fabrico dos logótipos têm evoluído ao longo dos tempos


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TÉCNICA

A poupança com a recuperação de um logótipo é de 71% em comparação ao custo da sua substituição Existem diferentes formas de recuperação dos logótipos. Caso estejam unidos com parafusos ou grampos não oferecem grande dificuldade, trocam-se e já está. Se estiverem fixos com adesivos, elimina-se a fita de dupla face original, deixando a superfície limpa, e coloca-se uma fita nova. O grande inconveniente desta operação é que envolve muito tempo na eliminação da fita velha e na colocação da nova, superando na maioria dos casos o preço de troca; por esta razão, opta-se pela substituição. MATERIAIS E EQUIPAMENTOS Existem materiais e equipamentos específicos para realizar este tipo de trabalho de forma rápida e económica: 3M: Este fabricante oferece fitas de recuperação de logótipos e emblemas. Incorporam um adesivo transparente que se transfere diretamente por pressão na zona de contato. É um método limpo e fácil e evita a eliminação da fita original. Desta forma, o emblema ajusta-se ao nível da superfície da peça do veículo, aderindo num curto período de tempo. Fast Mirror Copy: trata-se de um estojo que traz todo o equipamento necessário para a recuperação de logótipos. Exclusivamente desenvolvido com este objetivo, ele é composto por um conjunto de equipamentos e produtos que facilitam o trabalho. PROCESSO O processo de recuperação começa fotografando-se a localização exata do logótipo no veículo. Isso irá servir de guia para a posterior montagem. Coloca-se a régua de tal forma que se observe claramente as distâncias entre os números ou letras que o compõem, assim como as referências da sua localização no veículo, sendo esta uma

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operação importantíssima para o colocar corretamente. Retiramos o logótipo com uma espátula ou um fio de nylon, com movimentos em forma de serra. Assim, os restos do adesivo, tornam-se uniformes, facilitando a montagem posterior. Depois do veículo ser reparado ou pintado, procede-se à montagem. Graças às fotografias, marcamos a localização do logótipo no veículo e realizamos a sua montagem guiando-nos pelas medidas entre as letras. Uma vez montado, colocamos o vinil transparente que as mantem fixas. Após preparar e limpar as superfícies, aplicamos o adesivo em pequenas gotas sobre os componentes do anagrama, com uma quantidade mínima para não transbordar. Colocamos o anagrama, guiando-nos pelas referências e pressionando as letras, assegurando-se que permaneçam firmemente unidas. Passado um minuto, removemos o vinil. Voilà! O logótipo fica fortemente unido. Caso estejam instalados na traseira, em determinados veículos estes símbolos protegem o radar que gere a travagem de emergência, o que multiplica o seu preço. Estes logótipos formam-se por dois plásticos diferentes, o suporte interior pode ser de >ABS<, >ASA< ou >AEPDS< e neles encontra-se em relevo o logótipo serigrafado com pintura especial. O exterior é de >PC<, policarbonato transparente. Estão unidos através de grampos ou parafusos e podem ser afetados após um impacto ou toques entre dois veículos, em manobras de estacionamento ou, inclusive, no uso diário, adquirindo pequenos riscos nos tuneis de lavagem, etc. Os logótipos que apresentem riscos pouco profundos, afetando apenas a capa de verniz protetora, podem ser recuperados, restaurando o seu estado original, sem necessidade de os substituir. É necessário lixar de forma progressiva - P320, P1500 -, para eliminar os riscos, finalizando com uma aplicação de polímero vaporizado. Esta é a mesma técnica que se utiliza na restauração de faróis que tenham perdido a transparência, e está ao alcance de qualquer oficina. A CESVIMAP realizou diferentes testes de recuperação de logótipos e emblemas e chegou à conclusão que: • É possível recuperar logótipos e emblemas de forma simples e rápida,

A CESVIMAP realizou testes com os símbolos de várias marcas e descobriu que a resistência final dos logótipos recuperados é excelente

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TÉCNICA

A medição e captação de fotos, para saber o posicionamento exato do logotipo, são etapas fulcrais e que asseguram a montagem correta após a recuperação

Recuperar os logótipo reduz o uso de matérias-primas, de emissões de CO2 e contribui para a sustentabilidade TURBO OFICINA DEZEMBRO 2021/JANEIRO 2022

para todo o tipo de veículos, ligeiros, ciclomotores e veículos industriais. Assim contribuímos para a sustentabilidade e proteção do meio ambiente. • Nos processos utilizados não é necessário eliminar a fita de dupla face original, reduzindo os tempos de trabalho. • O corte inicial da fita de dupla face que une o anagrama à carroçaria é crucial. É importante deixar uma superfície plana homogénea. 68

• A resistência final dos logótipos recuperados é excelente. Permanecem estáveis mesmo nos testes com lavagem a alta pressão. • Na CESVIMAP utilizamos como referência vários modelos de diferentes marcas e tipos de veículos, encontrando assim diferentes ligeiros de diferentes segmentos, veículos elétricos, camiões e furgões no estudo. • A CESVIMAP realizou numerosos trabalhos de recuperação e restauro de logótipos, analisando o preço da troca por um novo e contemplando o tempo necessário para realizar a tarefa de subsituição. E no estudo comparamos o custo dessa substituição com o custo de recuperação. Para esta opção, tivemos em conta os materiais e tempos necessários para a montagem e desmontagem dos logótipos. Somando, obtivemos uma poupança média de 71,49% na recuperação de um logótipo em relação ao custo da substituição.

PARA SABER MAIS: https://www.3m.com.es/3M/es_ES/ collision-repair-es/ www.fastmirrorcopy.com https://www.youtube.com/ watch?v=dTrJNEvd7nU



TÉCNICA

GESTÃO DA OFICINA

A PEGADA DE CARBONO NA OFICINA DE REPARAÇÃO DE VEÍCULOS O selo da pegada de carbono é uma forma de dar a conhecer aos clientes o compromisso da empresa com o meio ambiente. Neste artigo, mostramos com um exemplo simples como pode calcular a pegada de carbono Texto: Miguel A. Castillo

E

stamos todos a testemunhar uma mudança climática que, ano após ano, dá origem a temperaturas extremas e secas intermináveis. Esta variação é atribuída aos gases com efeito de estufa (GEE) que se acumulam na estratosfera, situada a 50 km acima das nossas cabeças, formando uma camada que impede que a radiação térmica emitida pela terra saia para o espaço exterior. Isto implica que durante o dia a terra se torne mais quente e durante a noite se torne menos fria.

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Os gases que produzem o efeito de estufa são principalmente o vapor de água, o óxido nitroso (N2O), o metano (CH4) e o dióxido de carbono (C0 2). Os quatro não representam nem 1% da composição da atmosfera, mas os seus efeitos adversos são os mais importantes. Parte destes gases são próprios da natureza e têm origem nos processos bioquímicos que nela se desenvolvem, mas outra parte muito importante é fruto da atividade humana, e é nesta parcela que podemos ter mais influência. 70


sa que a utiliza para imprimir recibos ou faturas. A pegada de carbono da empresa deve simplesmente contemplar a energia elétrica que possa consumir essa impressora. Tendo em conta a origem das emissões, o Protocolo de Gases com Efeito de Estufa desenvolvido pelo Conselho Empresarial Mundial para Desenvolvimento Sustentável (WBCSD) classifica as emissões de gases em duas categorias: • Emissões diretas: aquelas provenientes de fontes controladas pelo interessado. Por exemplo, o queimador de gasóleo da estufa de pintura. • Emissões indiretas: as provenientes de fontes controladas por terceiros e sobre as quais não temos qualquer controlo. Por exemplo, as emissões de qualquer central térmica que nos fornece a energia elétrica.

O QUE É A PEGADA DE CARBONO? A pegada de carbono, medida em massa de CO2 equivalente, é uma ferramenta útil para quantificar as emissões de gases com efeito de estufa que libertamos na atmosfera através das nossas atividades e processos diários. Uma vez conhecida a pegada de carbono das nossas atividades, podemos criar o nosso compromisso ambiental, tomando medidas com o objetivo de reduzir esse impacto. Para que a determinação da pegada de carbono seja factual, coerente e comparável, segmentou-se pelo tipo de autor, pela origem e pelo alcance. Esta segmentação facilita a identificação das fontes de gases com efeito de estufa com maior peso e evita a consideração de outras mais ambíguas. Desde um ponto de vista prático, são determinados dois tipos de pegada de carbono:

Por fim, são definidos três alcances. • Alcance 1: compreende as emissões da combustão de combustíveis fósseis e de processos químicos, assim como o transporte de mercadores e pessoas com veículos da empresa. • Alcance 2: incluí as emissões indiretas provenientes do consumo de energia elétrica. • Alcance 3: relacionado com outras emissões indiretas, geralmente de terceiros (fornecedores de matérias-primas ou serviços).

Eletricidade adquirida para uso próprio

Combustão fóssil

Atividades adquiridas, resíduos, viagens de negócios, etc.

Figura 1 Esquema da origem e alcance das emissões (Fonte PGEI - WBCSD)

CÁLCULO DA PEGADA DE CARBONO Para efeitos do nosso interesse, centramo-nos na determinação sistemática da pegada de carbono de uma empresa, com emissões diretas e indiretas e dentro dos alcances 1 e 2. O cálculo da pegada de carbono em cada um dos alcances é determinado por:

• Pegada de carbono de uma empresa: são considerados os gases com efeito de estufa derivados da atividade da empresa. • Pegada de carbono de um produto: é tido em conta os gases com efeito de estufa emitidos durante o ciclo de vida do produto ou serviço. Naturalmente, não há atividade empresarial que não dependa de produtos ou serviços, mas esta classificação separa-os de forma clara, evitando assim uma cadeia interminável de emissões inumeráveis. Por exemplo, uma impressora tem a sua própria pegada de carbono devido ao seu fabrico. Isto seria a pegada de carbono de um produto. No entanto, esta pegada não deve ser contabilizada na pegada de carbono da empre-

Nesta equação os “Dados de atividade” são os parâmetros que medem a quantidade da fonte “i” geradora de emissões e o “Fator de emissão” é o equivalente em gases com efeito de estufa que são gerados por cada unidade de “Dados de atividade” dessa mesma fonte. O resultado é a pegada de carbono, medida em massa de CO2 equivalente (CO2eq). 71

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TÉCNICA A quantificação da pegada de carbono da nossa empresa permite-nos estabelecer um plano de redução das emissões que se irá traduzir, em primeiro lugar, numa redução dos custos energéticos e, em segundo lugar, e o mais importante, numa redução das emissões de gases com efeito de estufa ao atuar sobre as variáveis mais determinantes. O cálculo das emissões é definido por um perío-

do de tempo, geralmente o último ano, e também pode ser definido em qua áreas da empresa se aplica. Na página do Ministério para a Transição Ecológica e o Desafio Demográfico de Espanha, por exemplo, está disponível uma calculadora da pegada de carbono muito fácil de utilizar para uma empresa conseguir calcular todas as fontes de emissões de carbono na sua atividade.

FIGURA 1. MATRIZ DE COMPETÊNCIAS COGNITIVAS ANO 2020

FONTE EMISSORA

ENERGIA

DADOS DE ATIVIDADE

FATOR DE EMISSÃO

EMISSÕES PARCIAIS (KGCO2)

% SOBRE O TOTAL

ALCANCE 1

COMBUSTÍVEL DE REBOQUE

GASÓLEO

750 L

2,456 KGCO2/L

1842,00

5,54%

COMBUSTÍVEL DE CARROS DA EMPRESA (VEÍCULOS

GASÓLEO

420 L

2,456 KGCO2/L

1031,52

3,10%

DE SUBSTITUIÇÃO E DOS FUNCIONÁRIOS EXCLUÍDOS) COMBUSTÍVEL DE QUEIMADOR DE ESTUFA DE PINTURA

GASÓLEO C 5.700 L

2,868 KGCO2/L

16347,60

49,16%

COMBUSTÍVEL DE SISTEMA DE AQUECIMENTO

GASÓLEO C 1.500 L

2,868 KGCO2/L

4302,00

12,94%

RECARGA DE GASES REFRIGERANTE FLUORADOS

R404A

3.922 KGCO2/KG

1176,60

3,54%

0.3 KG

NO SISTEMA DE CLIMATIZAÇÃO, CASO EXISTAM

ALCANCE 2 CONSUMO DE ILUMINAÇÃO DE ESCRITÓRIOS (ENERGIA

EMPRESA A 2.500 KWH

0.2 KGCO2/KWH

500,00

1,50%

ELÉTRICA)

CONSUMO DE ILUMINAÇÃO DE OFICINA

EMPRESA A 9.000 KWH

0.2 KGCO2/KWH

1800,00

5,41%

CONSUMO DE COMPRESSORES

EMPRESA A 5.280 KWH

0.2 KGCO2/KWH

1056,00

3,18%

CONSUMO DE ESTUFA DE PINTURA

EMPRESA A 15.840 KWH

0.2 KGCO2/KWH

3168,00

9,53%

CONSUMO DE ZONA DE PREPARAÇÃO DE PINTURA

EMPRESA A 10.150 KWH

0.2 KGCO2/KWH

2030,00

6,10%

33 253,72

100%

TOTAL DE PEGADA DE CARBONO 1+2

O recurso a energias verde, proveniente de fontes renováveis, permite cortar nas emissões indiretas de CO2

TURBO OFICINA DEZEMBRO 2021/JANEIRO 2022

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Numa oficina de reparação de veículos as fontes de emissões são relativamente limitadas. Por exemplo, no caso apresentado no quadro, as emissões dos gases com efeito de estufa derivados das atividades diárias têm uma repercussão anual de 33 Toneladas de CO2 equivalente. MEDIDAS DE MELHORAMENTO Conhecida a pegada de carbono da nossa atividade, podemos aplicar opções de melhoria para a reduzir. No exemplo anterior podemos comprovar que a maior parte das emissões, aproximadamente metade, correspondem ao queimador da estufa de pintura. Substituindo o queimador de gasóleo por um de GPL (melhor se for de Gás Natural) podemos reduzir a pegada de carbono em cerca de 3 toneladas de CO2eq. No entanto, reparando de forma definitiva ou substituindo o equipamento de ar condicionado que todos os anos necessita de uma recarga de gás, a pegada de carbono pode ser reduzida em 1t de CO2eq. Em relação ao consumo de energia elétrica, se contratar uma fornecedora que recorra apenas a energias renováveis, as 8,5t de CO2eq devidas ao consumo elétrico seriam reduzidas para zero. O exemplo anterior mostra como, com ações relativamente pequenas, podemos reduzir a pegada de carbono em 30%. Contudo, podemos sempre tomar outras medidas para reduzir a pegada de carbono, que em bastantes ocasiões estarão ligadas à disponibilidade de recursos. De qualquer forma, é sempre bom ter um plano de redução.

Intervir em atividades que emitem mais CO2 deve ser uma prioridade na estratégia ambiental da empresa

As medidas são numerosas. Podemos enumerar os seguintes exemplos: 1. Substituição dos queimadores por outros de gás natural ou combustíveis menos contaminantes. 2. Substituição de veículos por outros mais eficientes. 3. Manutenção adequada de veículos (pressão de pneus, filtros, ...). 4. Substituição da iluminação por lâmpadas LED. 5. Utilização de termostatos inteligentes. 6. Isolamento de telhados. 7. Instalação de inversores em motores elétricos. 8. Instalação de portas corta-vento em fábricas e escritórios. 9. Instalação de detetores de movimento para iluminação. 10. Instalação de painéis solares para a água de lavatórios e banhos. Para otimizar a performance ambiental da empresa, o primeiro passo é saber a situação atual, usando a equação que aqui lhe mostrámos para criar um quadro que identifique as atividades com maior impacto na sua oficina. E só depois, com base nesta informação, deve traçar uma estratégia. De preferência, esse plano deve incidir sobre as maiores fontes de emissões e analisar o prazo de implementação das mudanças e o seu custo-benefício, para reduzir de forma mais eficaz a pegada de carbono da sua empresa.

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PNEUS

BRIDGESTONE E MICHELIN

UNIÃO DE ESFORÇOS PELA SUSTENTABILIDADE Com o objetivo comum de reduzir a sua pegada ambiental, a Michelin e a Bridgestone anunciaram que vão unir esforços num novo projeto Texto Nuno Fatela

A

Michelin e a Bridgestone ocupam os primeiros lugares de vendas mundiais de pneus e, por esse motivo, são também responsáveis por uma parte considerável na produção dos mesmos. Além dos lugares no pódio de vendas, as duas companhias partilham também ambiciosos objetivos de melhoria ambiental, nos quais a sustentabilidade da produção tem lugar de destaque. Isso levou agora estas empresas a juntar esforços para potenciar a recuperação e reutilização de um material que representa 22% da composição dos pneus, o fumo de negro (em inglês, Carbon Black). Logo atrás dos 47% de borracha, é precisamente o fumo de negro o segundo material mais utilizado na composição dos pneumáticos, à frente dos 17% de metais e dos 6% de têxteis. É este material, aliás, um dos principais responsáveis pela cor preta que os pneus apresentam. Tendo em conta que só a Bridgestone, a nível mundial, produziu 1,84 milhões de toneladas de pneus em 2020, estamos a falar de cerca de 400.000 toneladas de negro de fumo. Como apenas 1% deste material tem origem no fumo de negro recuperado, obtido através da reciclagem de pneus, a fabricante nipónica e a sua congénere francesa decidiram intervir para mudar este cenário. O resultado desta união de esforços foi o anúncio conjunto em finais de novembro, na conferência Smithers Recovered Carbon Black, de que a Michelin e a Bridgestone vão delinear uma estratégia conjunta. O objetivo é potenciar a recuperação do fumo de negro para usar de materiais reciclados no fabrico de pneus, substituindo o recurso a esta matéria-prima.

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FECHAR O CICLO O fumo de negro é um material com longo historial de utilização nos pneus. Segundo dados disponíveis online, foi no ano de 1912 que George Oenslager, químico da Goodrich, utilizou pela primeira vez este material como enchimento de reforço para os pneus, pela sua capacidade de dissipar o calor que permitira aumentar a vida útil do pneu. Além do menor desgaste, este material com aspeto de um pó preto oferece melhorias em outras áreas, como na resistência à tração.

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É evitado o envio de 3 toneladas de CO2 para a atmosfera por cada tonelada de fumo de negro recuperado que é usada na produção de pneus


O problema da utilização deste ‘Carbon Black’ está na sua origem, já que ele é um material produzido pela combustão incompleta de produtos derivados do petróleo como alcatrão de hulha ou etileno. Além da possibilidade de recurso a outros materiais, como a sílica ou o giz, uma das opções para minimizar a utilização deste material passa pela sua recuperação nos pneus em fim de vida. Optando por esta última via, a Michelin e Bridgestone procuram otimizar o ciclo de vida dos seus produtos aumentando a incorporação de fumo de negro recuperado (RCB – Recovered Black Carbon) na produção de pneus. POTENCIAL PARA REDUZIR EMISSÕES A Bridgstone já vinha a investigar soluções desta natureza há algum tempo, e em 2019 anunciou a primeira utilização em larga de escala de fumo de negro recuperado nas suas linhas de produção. Nessa altura foi quantificada o impacto nas emissões de CO2 pela substituição desta matéria-prima, com uma melhoria de 81% neste campo. Na Conferência Smithers Recovered Carbon Black também esteve presente uma empresa portuguesa, a BB&G, que tem disponíveis dados similares. Segundo esta companhia, cada tonelada de RCB significa menos três toneladas de dióxido de carbono enviadas para a atmosfera. Também a em-

Apenas 1% do fumo de negro tem origem em materiais reutilizados

presa sedeada em Fátima assinala os benefícios na economia circular, afirmando que o recurso ao fumo de negro recuperado permite “fechar o ciclo do destino dos pneus em fim de vida, algo que nunca foi possível antes e trará novas possibilidades para as novas gerações de pneus verdes”. 75

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PNEUS

JUNTAR PARCEIROS E DELINEAR ESTRATÉGIA No anúncio deste projeto para o uso do negro de fumo recuperado foram oferecidos os primeiros detalhes sobre os planos dos dois fabricantes de pneus. A primeira fase passa por consciencializar todos os intervenientes no ciclo de vida deste produto, pois as especialistas em pneumáticos consideram “necessária a colaboração com as partes interessadas em todos os aspetos da cadeia de valor da indústria dos pneus e da borracha para atingir este objetivo”. Da parte da Michelin, o vice-presidente do negócio de reciclagem de produtos de borracha em fim de vida, Sander Vermeulen, recordou que “há anos que se discutem as diferentes restrições e obstáculos que impediam a indústria da borracha de adotar matérias-primas recicladas e/ou recuperadas em quantidades significativas”. E afirmou que a empresa, agora, considerou ser “o momento de parar de discutir e contribuir ativamente para encontrar soluções. Estou encantado por termos encontrado um parceiro na Bridgestone que partilha a nossa visão, e juntos convidamos as partes interessadas através da cadeia de valor dos pneus e da borracha a participar na viagem em direção à circularidade do material"”. Também a Brigdestone mostrou grande confiança neste projeto, e Jake Rønsholt, vice-presidente de estratégia e transformação EMEA, afirma que "juntamente com a Michelin e outros intervenien-

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O objetivo da Bridgestone e da Michelin é trazer mais empresas para este projeto tes, podemos gerar um impulso crítico nesta importante iniciativa e fazer avançar os nossos esforços”. E, indicando as áreas onde os benefícios serão mais sentidos, destaca a possibilidade de “reduzir as emissões de CO2 e fabricar produtos a partir de materiais totalmente renováveis e sustentáveis". Pela necessidade dessa visão abrange, o objetivo das duas empresas passa por estabelecer uma “coligação de um grupo diversificado de partes interessadas, incluindo fabricantes de pneus, fornecedores de negro de fumo, parceiros de pirólise e empresas emergentes de tecnologia para acelerar o progresso e aumentar a oferta de negro de fumo recuperado”. Ao leme deste esforço, a Michelin e a Bridgestone prometem lançar em 2022, um documento informativo para delinear os requisitos técnicos, características e soluções propostas para aumentar a utilização de negro de fumo recuperado em pneus novos”, uma solução que no futuro ajudará as duas marcas a atingir as suas metas de redução de emissões e de sustentabilidade. 76



NOTÍCIAS

PNE U S

Nex duplica armazenagem em Portugal A Nex Tyres inaugurou a 15 de dezembro a sua nova plataforma a sul do Tejo, no Pinhal Novo, que está dedicada às suas gamas de pneus pesados, agrícolas e industriais. Este novo espaço tem uma área de 7000 m2, permitindo à empresa duplicar a capacidade de armazenagem em Portugal, e o investimento está inserido na estratégia da Nex Tyres para apostar cada vez mais “num serviço de proximidade e disponibilidade que satisfaça as necessidades do mercado”.

Pneus All Season Hankook distinguidos A publlicação britânica Auto Bild premiou a Hankook como melhor fabricante do ano de 2021 de pneumáticos All Season. Assinalando a distinção, a marca afirmou que “a gama dos modelos Hankook Kinergy 4S para todas as estações ocupou o pódio em todas as provas de produto mais relevantes realizadas pelo meio de comunicação”. Nesta eleição da revista germânica, os pneus Kinergy 4S 2 X foram os melhores classificados entre todos os pneus para SUV, enquanto os Hankook Kinergy 4S 2 foram terceiros classificados nas provas para compactos.

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19.º E NCONTR O VA LO R P NEU

Inovação no centro do debate

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ecorreu em novembro o 19º Encontro Valorpneu, que teve como tema principal “O Futuro Conduzido pela Inovação” Decorreu no final de novembro a 19º edição do Encontro Valorpneu, evento que reúne anualmente os intervenientes no Sistema Integrado de Gestão de Pneus Usados para analisar os números alcançados e debater o futuro. Este ano os desafios a enfrentar estiveram em foco no evento, já que o tema foi precisamente “O Futuro Conduzido pela Inovação”. E logo na sessão de abertura essa questão foi abordada pela Secretária de Estado do Ambiente, Inês Costa Santos, que recordou o facto da 78

Valorpneu ter sido a primeira Entidade Gestora a apostar em Inovação. O Encontro Valorpneu foi ainda palco para o balanço anual desta entidade, com a revelação que durante 2021 devem ser recolhidas 84.800 toneladas de pneus. Isso significa um resultado superior em 13.100 toneladas ao que era esperado, e uma importante ajuda na redução de 127.000 toneladas de CO2 obtida este ano através da recuperação dos pneus. Relativamente ao destino dos materiais, 78,2% vai para a valorização energética, 17% para a recauchutagem e o remanescente 1% para outras formas de valorização. Neste campo, a Valorcar aproveitou também para dar


MIC HELIN

Revelados os cinco desafios para os pneus 100% sustentáveis

ênfase aos resultados do projeto Next Lap, que se focou na procura de novas formas de valorização para os materiais recuperados dos pneus usados. O evento contou também com um debate sobre “A Inovação no Sector”, com presença de membros da DGAE, APA, Comissão Especializada de Pneus da DPAI, Beta-i, e da Valorpneu, representada pela Diretora-Geral Climénia Silva. No 19º Encontro Valorpneu foi ainda entregue o Prémio de Desempenho de Centro de Receção de Pneus Usados, que galardoou o Centro de Receção Paulo Jorge Mesquita Lda., e ainda para revelar que a terceira licença da entidade, cuja validade de três anos expirava em 2021, foi estendida até final do próximo ano. No final foi ainda anunciado o mote para a 20º edição deste evento, que em 2022 vai procurar “encontrar soluções que contribuam para um melhor ambiente e para uma sociedade mais justa, mais resiliente, descarbonizada e que preserva o valor dos seus materiais”.

Num evento realizado no seu centro mundial de Investigação e Desenvolvimento, o grupo Michelin expôs os principais desafios que existem para a produção de pneus 100% sustentáveis. A firma francesa assinala que pretende criar pneus sem impacto ambiental, mas que para isso há que ultrapassar desafios na conceção, produção, logística, utilização e reciclagem dos pneumáticos. Para responder a estes desafios, a Michelin afirma que “recorre à sua capacidade de inovar e de desenvolver novas tecnologias, além de intervir em cada etapa do ciclo de vida do pneu”. O primeiro desafio de sustentabilidade está na conceção dos pneumáticos, para garantir que até 2030 existem 40% de matérias primas recicladas ou de origem natural nos seus produtos,

As estimativas para 2021 prevêem a recuperação de 84.800 toneladas de pneus em Portugal, um registo acima do que era esperado pela Valorpneu

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e 100% até 2050. Seguese a neutralidade na produção, garantida pela utilização de eletricidade de fontes renováveis, enquanto na logística é a otimização na expedição das mercadorias e o recurso a veículos alternativos que a fazerem diferença.Na otimização do ciclo de vida dos pneus também está contemplada a otimização da utilização do pneu, onde a Michelin se compromete a trabalhar para alcançar melhorias em parâmetros como “rolamento, performance duradoura, redução das partículas de desgaste e pneus conectados”. Por fim, a empresa quer ter papel ativo no processo dos pneus em fim de vida e na reciclagem, de forma a “converter os resíduos atuais em recursos de futuro, não só para os pneus”, recordando ainda o projeto com a Bridgestone, em que as empresas apelam "à reestruturação do sector”.

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PNE U S

PIRELLI

evo destaca performances do PIRELLI P Zero

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os testes de verão da revista britânica evo, o Pirelli P Zero foi eleito o melhor pneumático de altas prestações, superando oito rivais de marcas diferentes. Neste comparativo, levado a cabo com o Audi S3 equipado com pneus de medidas 225/40 R18, é referido que a gama da marca transalpina demonstra que “é possível ter (quase) tudo”. A revista automóvel considera ainda que este foi o único pneu a “permitir chegar ao apex da curva com máxima aderência – tudo o que é preciso fazer é continuar a virar. A sensação de aderência constante e de neutralidade foi igualada pelo feeling direto com a direção do carro que transmite confiança”. Também a resposta sob piso molhado do Pirelli P Zero é elogiada pela evo, que afirma que o vencedor do seu teste para pneus de alta performance permite “rapidamente ganhar confiança e tirar máximo partido” do carro.

Falken mantém garantia de 5 anos Após ter alargado no Verão de 2020 a garantia dos seus pneus, tanto no Aftermarket como em equipamento original, a Falken anunciou agora que este prazo de proteção de cinco anos para os clientes irá manter-se em 2022. Para assegurar um serviço ainda mais simples e completo para quem escolhe os seus produtos, a marca revelou ainda que será introduzido durante o primeiro semestre de 2022 uma nova plataforma digital para a apresentação de reclamações.

AUDI ESCOLHE BRIDGESTONE PARA O Q4 E-TRON A Audi escolheu a Bridgestone como fornecedora de pneus oficial para o seu novo SUV elétrico, o Q4 e-Tron. Uma das razões apontadas para esta escolha foi a utilização nos pneus da marca britânica da tecnologia

ENLITEN, que “reduz a resistência ao rolamento dos pneus em até 30% e o peso em até 20% para alargar a gama de condução VE e reduzir o impacto ambiental graças a uma maior produtividade dos recursos”.

Para este novo SUV compacto de emissões 0 da marca dos quatro anéis, a escolha recai sobre as gamas Bridgestone Turanza ECO, de pneus de verão, e Blizzak LM005, para pneumáticos de Inverno.

YOKOHAMA REVELA OS NOVOS ADVAN SPORT V107 A nipónica Yokohama anunciou o lançamento de várias novas referências para uma das suas principais gamas de pneus para desportivos de altas performances, os Advan Sport V107. O objetivo da marca é apresentar até ao fim da primavera de 2022 um total de 30 novas referências para esta gama, com medidas

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isso permitirá reforçar a sua oferta para um total de 43 produtos, prevendo depois continuar a expansão até às 80 propostas no fim do próximo ano. É explicado ainda que os novos ADVAN Sport V107 vão substituir progressivamente os anteriores V105, mas manter a orientação

entre 305/35R23 111Y XL e 225/40ZR18 92Y XL. A Yokohama destaca que 80

para combinar um comportamento dinâmico superior com conforto e segurança. Com várias inovações no design, compostos de borracha utilizados e estrutura da carcaça do pneu, é referido que estas melhorias permitem obter mais estabilidade em curva e conforto a velocidades mais elevadas.



NOTÍCIAS

PNE U S

Continental reforça parceria com a John Deere

GO ODYE A R

Aposta na sustentabilidade das frotas F oram revelados os dados do Inquérito de Realidade Sustentável da Goodyear a 985 frotas automóveis na Europa, que mostra que a consciencialização para o problema das emissões é transversal ao sector, com 75% das empresas a reconhecer a importância de focar atenções na redução da pegada carbónica. Os incentivos financeiros "são motivadores determinantes para 72% das frotas, e um terço vêm a sustentabilidade como uma forma de reduzir os custos operacionais”. Entre as medidas de sustentabilidade adotadas pelas frotas, 68% optam por veículos mais eficientes e

60% recorre a pneus mais eficientes ao nível dos consumos de combustíveis, uma área onde a Goodyear destaca as vantagens dos novos FUELMAX ENDURANCE pela "baixa resistência ao rolamento e atributos de durabilidade”. Outra opção em crescimento é o recurso a pneus recauchutados. A Goodyear assinala, no entanto, que 60% das companhias considera os custos de descarbonização demasiado altos, e 80% das grandes frotas, com mais de 500 veículos, afirma que estabeleceria metas de descarbonização mais ambiciosas “se existissem incentivos financeiros disponíveis”.

A Continental chegou a acordo com John Deere para disponibilizar os TractorMaster e VF TractorMaster para os modelos 6M e 6R desta marca de tratores, anunciando que a sua reforçada gama de pneus agrícolas para a John Deere contempla produtos com larguras até 800mm e diâmetros de jante até 46’’. A Continental destaca ainda a utilização no fabrico dos TractorMaster e VF TractorMaster de materiais como o nylon extensível, que garante maior resistência a impactos, e de outroa materiais flexíveis, para um comportamento melhorado em superfícies desniveladas.

GOODYEAR EQUIPA KAMAZ E IVECO NO DAKAR Duas das principais candidatas à vitória final na categoria de camiões do Dakar, a KAMAZ-master e a PETRONAS Team De Rooy IVECO, anunciaram que vão para a mítica prova nos desertos da Arábia Saudita com os pneus pneus de série OFFROAD ORD da Goodyear. No caso da equipa russa, serão quatro camiões equipados com os pneus da marca, enquanto o Team deRooy, com quem a Goodyear já estabeleceu uma parceria até 2024, leva três novos IVECO Powerstar Torpedo para as areias com os OFFROAD ORD. No comentário a esta escolha, Maciej Szymanski, Diretor de Marketing para

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Michelin no Farming Simulator 2022

Commercial Business na Europa da Goodyear afirmou que os OFFROAD ORD são a "companhia perfeita para conquistar a desafiante rota do Dakar, repleta de eventos inesperados. É uma honra sermos selecionados como parceiro exclusivo de pneus por das equipas lendárias". 82

A Michelin associou-se ao lançamento do jogo Farming Simulator, e revelou que na edição de 2022 do simulador será possível escolher os seus pneumáticos para “desfrutar das vantagens que oferecem em termos de produtividade e proteção do meio ambiente”.




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