Revista AE 64

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Ano XVII nº 64 | revistaae.com.br Ano XVI - nº 62

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ESPAÇO PARA A FAMÍLIA

Apartamento ganha projeto para abrigar até os filhos já casados

A AVENTURA DO EMPREENDIMENTO

Roberto Moita fala das qualidades dos arquitetos para investir no próprio negócio

ARQUITETURA INTEGRAÇÃO ESPACIAL PESSOAL

DO JAPÃO PARA O MUNDO

A visão globalizada de Arata Isozaki, prêmio Pritzker 2019

Ambientação em um apartamento de 77m 2 aposta no minimalismo Projeto de loja aproveitou liberdade para vincular ideias à história dos proprietários

+ Casa Cor PB , a arquitetura em Divertida Mente e a história dos interruptores + A importância do isolamento acústico nos condomínios; a eloquente arquitetura de ‘Roma’ e a arquitetura no México de 1970.






SUMÁRIO

Ano XVII Edição 64

CONHEÇA

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25 LIVRO

O fenômeno Marie Kondo vai dos livros para a TV

26 GRANDES ARQUITETOS

A versatilidade e visão de mundo de Arata Isozaki

28 A HISTÓRIA DE

Como as pias se tornaram indispensáveis para ajudar na preservação da nossa saúde

30 ESTILO DE VIDA

O jeito de ser e pensar do arquiteto Alain Moszkowicz

32 REPORTAGEM

Isolamento acústico, um elemento fundamental para a qualidade de vida

54 ACERVO

A memória cafeeira da arquitetura preservada de Bananeiras

PROJETOS

INTERIORES 36

Projeto de Débora Pires e Juliana Xavier aproveita ao máximo uma vista privilegiada

INTERIORES 42

Eduardo Nóbrega e Marianna Silveira realizaram um projeto que evidencia vantagens de ser solteiro e morar bem

CAPA

ARTIGOS VIDA PROFISSIONAL 10

Maurício Guimarães e os dois tipos de armadura na nossa vida

VISÃO LATERAL 12

Hélio Costa Lima comenta o terminal rodoviário de João Pessoa

VISÃO PANORÂMICA 14

O centenário de Ségio Bernardes

VÃO LIVRE16

Luciano Salamandra aborda a busca pela excelência

URBANISMO 18

Os princípios e diretrizes para a cidade inteligente

PONTO FINAL 64

Seres humanos levemente melhores

ENTREVISTA ENTREVISTA 20

8

46

Projeto de Sandra Moura para uma loja busca evocar a história pessoal dos proprietários

Roberto Moita fala dos desafios do empreendimento para os arquitetos

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SUMÁRIO

26 arquitetura & estilo de vida ANO XVII- Edição 64

EXPEDIENTE Diretora | Editora geral : Márcia Barreiros Editor responsável : Renato Félix, DRT/PB 1317 Redatores : Alex Lacerda,Débora Cristina, Lidiane Gonçalves e Renato Félix

Diretora comercial : Márcia Barreiros Projeto gráfico : George Diniz Prod. e diagramação : MB Fotógrafos desta edição : Diego Carneiro, Vilmar Costa e indicados Impressão : Gráfica JB

QUEM SOMOS AE é uma publicação quadrimestral, com foco em arquitetura, decoração, design, arte e estilo de vida, com tiragem de 5 mil exemplares de distribuição gratuita e dirigida. A reprodução de seus artigos, fotografias e ilustrações requer autorização prévia e só poderá ser feita citando a sua fonte de origem. As colaborações e artigos publicados e fotos de divulgação são de responsabilidade exclusiva de seus autores, não comprometendo a revista, nem seus editores.

DICAS 56 ARQUITETURA E CINEMA

A arquitetura eloquente para evocar memórias em ‘Roma’

58 VIAGEM DE ARQUITETO

A história e as cores da cidade do México

60 SALA DE AULA

O levantamento de obra e a importância do lápis e do papel

ONDE NOS ENCONTRAR Contato : +55 (83) 3021.8308

/ 9 9857.1617

c o n t a t o @ a r t e s t u d i o r ev i s t a . c o m . b r d i r e t o r i a @ a r t e s t u d i o r ev i s t a . c o m . b r R. Tertuliano de Brito, 348 - Bairro dos Estados, João Pessoa / PB , CEP 58.030-044 revistaae @revARTESTUDIO Artestudio Marcia Barreiros As matérias da versão impressa podem ser lidas, também, no nosso site com acesso a mais textos, mais fotos e alguns desenhos de projetos.

www.revistaae.com.br www. artestudiorevista. com. br NOSSA CAPA nº 64 Projeto: Sandra Moura Foto: Vilmar Costa

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EDITORIAL

QUE VIVA MEXICO!

MÁRCIA BARREIROS editora geral e diretora executiva

Colaboradores desta edição:

RENATO FÉLIX editor de jornalismo

Parece de propósito, mas juramos que não. A AE está numa onda mexicana da qual só nos demos conta com a edição que você tem em mãos já na fase de edição. Primeiro, na edição anterior, a seção Arquitetura e Cinema, inaugurando seu novo modelo em que a revista promove uma sessão do filme escolhido, seguido por um debate com arquitetos, tratou de Viva - A Vida É uma Festa, animação da Pixar de 2017 que se passa entre uma vila mexicana e um mundo dos mortos do ponto de vista da visão mexicana do assunto. E eis que, por conta da repercussão que vinha tendo e por tratar com tanta importância questões da arquitetura, optamos por nesta edição interromper nossa série sobre a Disney e abordar Roma, de Alfonso Cuarón. Um filme que se passa... num bairro mexicano de classe média em 1970. E, como se não bastasse, a seção Viagem de Arquiteto nesta edição tem como destino... a Cidade do México. Mas a invasão azteca para por aí. É um japonês, por exemplo, o perfilado da seção Grandes Arquitetos: Arata Isozaki, vencedor do Pritzker 2019. E não é o único japonês da edição: ele tem a companhia de Marie Kondo, autora do livro A Mágica da Arrumação, que também abordamos aqui. Mas o Brasil e a Paraíba se fazem presentes, claro, nas outras seções da revista e, principalmente, nos projetos que mostramos e que falam muito da nossa terra e da nossa gente. Boa leitura! ARTESTUDIO

GEORGE DINIZ

designer gráfico

ALEX LACERDA jornalista

DÉBORA CRISTINA jornalista

LIDIANE GONÇALVES jornalista

AMÉLIA PANET arquiteta e urbanista

HÉLIO COSTA LIMA arquiteto e urbanista

MAURÍCIO GUIMARÃES coach e consultor

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VIDA PROFISSIONAL

QUE ARMADURA VOCÊ USA? Ela pode proteger, mas também impedir de avançar

Fotos e imagens: Divulgação

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ocê sabia que existem algumas armaduras quase indestrutíveis dentro de nós? Ela é responsável por nos proteger de diversas formas de ataques. No livro O Cavaleiro Preso na Armadura, de Robert Ficher, o tema não é tratado apenas como uma fábula, tratase de uma forma de mostrar o que se sucede na vida de diversas pessoas. O autor conta a história de um cavaleiro audacioso que está sempre pronto para batalhas, levando-nos a refletir sobre as dificuldades de mostrar como nós somos. Este cavaleiro permanece dentro dessa armadura e não consegue sair dela, partindo então para encontrar a melhor formar de se livrar. A caminhada deste cavaleiro ao longo da trilha da verdade, passa por autoconhecimento, onde ele reencontra sentimentos e abandona o medo. Sabemos que existem dois tipos de armaduras internas: a que nos defende de situações perigosas e ameaçadoras, frente aos desafios profissionais e pessoais que desejamos enfrentar, e a armadura que nos impede de avançar, fazendonos procrastinar, se sabotar e encontrar motivos para não se arriscar mais. E então, qual a armadura que você está utilizando? Na primeira armadura, para que a deixemos bem forte, é preciso entendermos o que de fato queremos enfrentar, ou seja, quais os nossos sonhos e objetivos e como poderemos utilizar os pontos fortes para alavancarmos nossos resultados. Posso te ajudar a fortalecê-la, bastando que você responda a 3 perguntas? 1 - O que te faz feliz enquanto profissional? 2 - De 0 a 10, o quanto você tem empreendido esforço e tempo para tornar-se realizado? 3 - Quais as suas maiores virtudes?

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Responda a essas perguntas e dê uma nota geral para as três, de acordo com o nível de satisfação que você sentiu sobre suas próprias respostas. Se a nota for abaixo de 7, se pergunte o porquê de não ter sido um 10 e busque fortalecer-se extraindo o que você tem de melhor e reconhecendo suas potencialidades. Faça esse exercício olhando num espelho e conversando consigo. A segunda armadura é preciso que você a destrua. Isso mesmo, ela não te serve, e na verdade, não te protege de coisa nenhuma! Essa armadura te sabota e livra você do caminho para o sucesso e glória, que nada mais são, que conquistas frente aos seus esforços.

Para destruir essa segunda armadura, se é que você tem e deseja, te convido a refletir (Também frente ao espelho, conversando mesmo, sabe?) sobre essas questões: 1 - O que te leva a pensar que precisa dessa armadura? 2 - O que você já perdeu por utilizá-la? 3 - O que você ganhou com ela? Faça essas análises e decida qual a armadura que deseja utilizar para vencer seus próprios obstáculos e lhe proteger. Por fim, te desejo sucesso, porque sorte está ligada ao acaso e o sucesso, ao seu esforço.

MAURÍCIO GUIMARÃES

Master Coach e Consultor em gestão empresarial.

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VISÃO LATERAL

ESPÍRITO PÚBLICO CONECTADO AO NORDESTE As ideias arquitetônicas do terminal rodoviário de João Pessoa Fotos: Roberto Coura

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o número anterior, vimos um caso exemplar de arquitetura de edifícios públicos. Dando continuidade a essa reflexão tão oportuna sobre a importância do trabalho dos arquitetos neste campo, apresentamos o Terminal Rodoviário de João Pessoa, obra do arquiteto Glauco Campelo, Mais um exemplo de produção bem-sucedida de equipamento público, tanto pelos aspectos técnicos do projeto, como pelo processo de escolha deste através de concurso público nacional de arquitetura, realizado pelo DER-PB em 1974. Este concurso de projetos, que ficou nos anais da história da arquitetura brasileira como

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um dos mais profícuos e acertados já acontecidos, permitiu ao poder público estadual, através de um júri especializado, escolher a melhor proposta entre dezenas de anteprojetos de alta qualidade arquitetônica vindos de todos os pontos do país. Seguindo passo a passo os princípios projetuais preconizados pelo arquiteto Armando Holanda em seu Roteiro para Construir no Nordeste, para uma arquitetura adequada aos trópicos úmidos, Glauco criou uma grande sombra a partir da repetição linear de grandes pórticos em concreto armado, com audaciosas marquises que abrigam e organizam as diferentes funções do terminal rodoviário: embarque, desembarque,


venda de passagens, etc. Mais do que um edifício propriamente, ele criou uma grande praça coberta que qualifica e orgulha a capital paraibana. Esta sombra, proporcionada por uma estrutura aberta desprovida de paredes periféricas, que permite a ventilação natural cruzada garantindo um ambiente ameno ao longo de todo o ano, abriga em vários boxes diferentes funções administrativas e de serviços ao usuário, e generosos espaços abertos de espera e restauração perfeitamente confortáveis, sem recurso ao uso intensivo de ar-condicionado, apesar dos rigores do clima quente e úmido local. Sua implantação impecável, de fácil acesso e circulação, aproveita a declividade natural do terreno para criar espaços em três níveis articulados por rampas, que hierarquizam as diferentes funções. No plano de entrada, uma grande marquise recepciona os que embarcam, e outra, separada da primeira, despacha os que desembarcam. No plano abaixo, os espaços de espera e de restauração, além da administração e o amplo cais de embarque e desembarque. No plano acima, um grande mezanino aberto, lojinhas de conveniência oferecem os mais diversos serviços e apoio aos viajantes e ao público em geral. O baixo consumo de energia do edifício, a utilização de materiais resistentes e de fácil manutenção, a fluidez dos espaços, que facilita a mobilidade e a acessibilidade do grande número de usuários descomplicando os seus diferentes e intrincados fluxos, e, sobretudo, o elevado nível de conforto e qualidade arquitetônica oferecido ao cidadão, é que fazem desta obra um exemplo de equipamento público acertado, eficiente e sustentável. Com mais de quarenta anos de funcionamento ininterrupto, e em que pese ter sido vítima de algumas infelizes intervenções posteriores, o terminal resiste ao tempo e às

intempéries, mantendo a força e a personalidade arquitetônicas originais, e se confirmando silenciosamente como um dos edifícios públicos mais conviviais e democráticos do Brasil.

HÉLIO COSTA LIMA Arquiteto e urbanista

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VISÃO PANORÂMICA Imagens: Divulgação

SERGIO BERNARDES

E A ‘NÃO ARQUITETURA’

E

sse ano Sérgio Wladimir Bernardes (19192002) estaria completando seu centenário de nascimento. Arquiteto formado em 1948 pela Faculdade Nacional de Arquitetura (FNA), hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro, possui um acervo de obras e projetos de grande expressividade arquitetônica. Ainda estudante, teve o seu projeto para o Country Club de Petrópolis publicado na revista L´Architecture d´Aujourd´Hui de 1947. Logo cedo conquistou a burguesia carioca elaborando dezenas de residências de grande porte, entre elas a do cirurgião Ivo Pitanguy e a residência de Hélio Cabral. Na Segunda Bienal de São Paulo recebeu o prêmio especial para jovens arquitetos concedido por um júri internacional presidido por Walter Gropius com a Residência de Lotta de Macedo Soares (1953), localizada em Petrópolis. Entre tantas obras expressivas, destacam-se o Pavilhão de Bruxelas (1958), o Pavilhão de São Cristovão (1960) e o Planetário de Brasília (1974). Nesse contexto, João Pessoa possui três exemplares de sua autoria: o Hotel Tambaú, o Espaço Cultural e uma residência particular localizada no bairro de Cabo Branco. Em especial, o Hotel Tambaú, recebeu efusivos elogios de Juscelino Kubitschek por ocasião de sua estadia na capital paraibana no início da década de 1970. Em carta pessoal dirigida ao arquiteto Sérgio Bernardes, Juscelino o considerou um dos melhores arquitetos do mundo, destacando sua genialidade.

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No centenário de nascimento do arquiteto, o Brasil ainda deve a ele o devido reconhecimento Discorrendo sobre sua experiência como andarilho das rotas turísticas internacionais, Juscelino destaca o Hotel Tambaú como um dos melhores hotéis já frequentados por ele. “Já andei muito, conheço demais as rotas do turismo internacional e nunca me abriguei num hotel que cativasse tanto pelo sóbrio, elegante e simpático arranjo de todas as suas peças.” E continua: “Os meus parabéns são realmente calorosos, porque você pode estar certo de que, em assunto de hotéis de turismo, ninguém produziu um melhor do que o seu”. Na capital paraibana o Hotel Tambaú surge entre controvérsias sobre a sua localização e pertinência, uma vez que se encontra em terras de proteção da Marinha do Brasil. Sendo inicialmente uma obra pública estadual, seu objetivo principal buscou a promoção do turismo e o desenvolvimento econômico, num contexto nacional de progresso e representatividade. Pelas suas qualidades espaciais e tectônicas tornou-se uma referência valorosa do nosso patrimônio moderno. Situado em um avanço de terra cuja localização foi sugerida pelo próprio arquiteto, suas linhas harmoniosas fazem a justa congruência entre a terra e o mar, e entre o verde do talude e o cinza do concreto armado, quase desaparecendo na paisagem, apesar de sua extensão. Como disse o próprio Bernardes em trecho do filme Bernardes (2014): “A primeira função da arquitetura é a não presença. Sem pretensão ela assimila o lugar e se junta a ele mimeticamente”. E foi assim, com esse conceito de “arquitetura sem


presença”, ou a “não arquitetura”que ele fez o Hotel Tambaú. Um grande anel com pouco mais de 150 metros, margeado internamente por pátios arborizados que contornam uma espécie de “calota” central onde estão reunidos os serviços marcando a sua implantação com uma esbelta torre ao centro. A adjacência do edifício com o mar facilita o seu encontro com as águas permitindo um efeito sonoro nomeado adequadamente pelo mestre arquiteto de “bochecho”, um som causado pelo movimento das águas com o entablamento sobre o qual está implantado o edifício. Nesse centenário de nascimento do arquiteto, talvez essa obra consiga representar os vários aspectos que permearam a vida e a obra dessa grande figura da arquitetura moderna brasileira. Mindlin (1956) em seu livro Arquitetura Moderna no Brasil avulta especificidades essenciais da lógica de concepção projetual de Sergio Bernardes: “Um senso de composição abstrata, muito característico deste arquiteto, disciplina o uso dos mais variados materiais, empregados não apenas para efeitos estéticos, mas também para um objetivo específico, relacionado à orientação de cada parte da construção.” Esse aspecto investigativo experimental agregou valores de “graça” e técnica ao repertório da arquitetura moderna nacional com relação ao propagado “estilo internacional” difundido na Europa do entre guerras. O emprego variado de materiais “brutos” em sua essência acabou por legitimar o caráter autêntico e didático de suas obras, aliado ao cuidado com os detalhes construtivos. A imensa capacidade projetual do arquiteto levou seu escritório a trabalhar com dezenas de projetos, cada um diferente do outro, cada um, uma nova pesquisa, novas experiências projetuais. O reconhecimento dos limites tecnológicos e culturais dos variados contextos

que fizeram parte de suas obras fez com que o arquiteto experimentasse “inovações” surgidas de novas formas de olhar os materiais disponíveis. Um exemplo disso foi a telha “capa” e “canal” com 4 metros de extensão arrumada a partir do corte longitudinal de tubos de secção circular de 10 e 20 centímetros. As “calhas” de 20 centímetros foram usadas como “canal” e aquelas de 10 centímetros usadas como “capa”, unindo as duas telhas “canais”. Essa experiência bem-sucedida foi utilizada em sua própria residência localizada na Avenida Niemeyer, no Rio de Janeiro. Sobre tais qualidades técnicas, Roberto Conduru (2004) em texto intitulado “Tectônica Tropical” afirma que: “(...)o que distinguiu o trabalho de Bernardes foi sua abordagem tecnológica (...)”, onde o arquiteto concebeu “sistemas portantes arrojados e formas simples”. Apesar da qualidade evidente de suas obras e do caráter inovador de suas soluções, o arquiteto Sergio Bernardes foi mantido à margem da historiografia da arquitetura brasileira do século XX. O “porquê” dessa posição injusta foi objeto de investigação de seu neto Thiago Bernardes que argumentou o filme documentário Bernardes (2014), com roteiro de direção de Gustavo Gama Rodrigues e Paulo de Barros. Por meio de narrativa não linear o filme apresenta a vida profissional e familiar do arquiteto e lança suposições possíveis para responder essa questão. O documentário possui entrevistas com figuras representativas da arquitetura, apresenta alguns de seus projetos, inclusive com especial atenção ao Hotel Tambaú e o Espaço Cultural mostrando o quão vasto é o acervo projetual do arquiteto, ainda pouco explorado no ensino da arquitetura e nas pesquisas acadêmicas. A arquitetura brasileira ainda está em débito com o mestre Bernardes.

AMÉLIA PANET

Arquiteta e urbanista Mestre em Arquitetura e urbanismo Doutora em arquitetura e urbanismo pela UFRN Professora do curso de arquitetura e urbanismo pela UFPB

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VÃO LIVRE

A BUSCA PELA

EXCELÊNCIA

Estabeleça seu próprio padrão e outras nove regras para alcançá-la

P

or que algumas pessoas se destacam dentro de uma empresa? Porque são incansáveis na entrega pelo melhor! Às vezes, esse profissional recebe nome de chato em outras de perfeccionista, mas essas pessoas na verdade estão em busca da excelência. Excelência é uma palavra que vem do latim excellentiae Ex significa fora ou sobre e cellentiae significa subir, estar no alto. No dicionário “excelência “ tem muitos significados: erguer, ser superior, ter grandeza, grau máximo de perfeição, grandeza, elevação, qualidade muito superior, sinônimos sempre associados ao local supremo de estar algo ou alguém. Podemos também interpretar a excelência em uma escala evolutiva onde “bom” pode ter um posto a mais a ser alcançado e “ótimo” é o estado máximo de desempenho. E o excelente? Excelente é psicologicamente, um posto muito alto, inalcançável, onde imaginamos que poucas pessoas possam estar. Mas, é possível alcançar o Olimpo das entregas perfeitas? Sim, e para isso indico 10 regras para atingir a excelência. 1 - Estabeleça seu próprio padrão de excelência. Quando você determina quais foram as entregas que você desempenhou de maneira excelente, você terá algo a se apoiar, em que se espelhar. Um histórico todo seu como uma espécie de régua de avaliação. Algumas pessoas elegem níveis muito baixos e outras elegem patamares inalcançáveis, gerando acomodação ou frustração. Por isso, eleja sua própria régua. 2 - Na dúvida, eleja um nível mais baixo de excelência para alcançar. Neurocientificamente, se você estabelece um alvo e o atinge, automaticamente sente-se cofiante para elevar o grau de dificuldade. Se estabelecer um nível alto demais e não conseguir, a frustração pode ser decisiva para diminuir a confiança em si mesmo. O fracasso pode ficar no seu

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histórico negativo, em suas más experiências e, por consequência, pode impedir que tente de novo. A sua régua de excelência se ajustará conforme a escalada na carreira. Por outro lado, quando você atinge a meta de excelência, mesmo que baixa, um neurotransmissor chamado dopamina manda estímulo para o cérebro com a sensação de recompensa. A mensagem será “sim, eu posso” e a alegria e o prazer impulsionam pra tentar mais vezes, uma espécie de propulsor para novos desafios. 3 - Mire no horizonte e siga. Para que serve a linha do horizonte? Serve pra ser um guia, um objetivo, um norte, uma referência. A linha divisória. A excelência é seu horizonte, ou seja, uma busca eterna. Esteja sempre em busca da superação. A busca pela excelência está conectada à evolução pessoal e profissional. 4 - Venda o seu conceito de excelência. Deixe as pessoas trabalharem por conceito e não por regra. Conceito justifica o porquê de uma conduta, enquanto a regra determina apenas como se deve fazer. Venda os princípios do seu grau máximo de qualidade. Assim você não engessa os padrões de ninguém em busca da própria excelência. 5 - Não julgue as pessoas a sua volta pelo nível de excelência que elas elegeram. Cada um sabe até onde pode alcançar. Saber das suas limitações, seus temores e até onde arriscar é fundamental. Agir com soberba pode anular e prejudicar o esforço de cada um pela busca da excelência individual. 6 – Flexibilize a excelência conforme sua escalada na empresa. Aprenda a declinar de seu padrão de excelência para que os outros desenvolvam seus próprios padrões. Não tente manipular as pessoas à luz do que você chama de excelência. Claro, que colegas e subordinados têm de estar alinhados aos conceitos que você utiliza na sua excelência, mas lembre-se: o grande gestor não é o que engessa as


pessoas mas, sim, aquele que inspira a evoluírem em busca do melhor resultado. 7- A excelência não é o que você oferece, mas o que o outro percebe. Muitas vezes, um profissional pode estar orgulhoso de ter atingido um alto padrão na entrega de um produto ou serviço, mas esse padrão pode não ser reconhecido pelo cliente como de valor. Excelência tem que gerar valor ou resultado para quem recebe e não apenas para quem elabora ou entrega. Você só saberá o valor do que entrega se conhecer a escala do outro. Conhecer, o receptor da entrega, o cliente é fundamental. 8 – Corrija o percurso. Se perceber algo errado no caminho que você traçou até o topo, pare e reveja. Os gargalos impedem o alcance da excelência. È que a busca da excelência parte sempre de um objetivo a ser atingido e, muitas vezes, as condições do ambiente impedem que isso seja alcançado. Logo, um profissional deve agir sempre com flexibilidade em sua busca pela excelência 9 – Nunca perca o padrão de excelência para agradar o cliente, isso é perder a personalidade profissional. Como resolver isso ? Faça três perguntas: Você está violando os seus valores? Se sim, terá que se

questionar. Será que essa pessoa/cliente é importante para mim? Lembre-se que um profissional somente consegue entregar o seu melhor quando a tarefa está alinhada com seus valores pessoais. Em alguns casos, é preciso abrir mão do cliente para manter seus princípios. A terceira pergunta é: você sabe qual é o melhor resultado para o seu cliente? Se sim, deixe-o seguro que seu nível de excelência vai elevar o dele e trazer bons resultados. Não sucumba! Isso porque o seu padrão de qualidade pode ainda não ser do conhecimento do cliente e, portanto, não consegue vislumbrar tudo o que você pode entregar. 10 - Prepare-se para atingir os resultados que planejou. Por incrível que pareça algumas pessoas sentem-se motivadas para a busca da excelência e acabam não se preparando para reconhecer quando o padrão foi atingido. É importante manter o equilíbrio entre o que ofertou e o que está entregando. Passar do ponto também é um erro a ser evitado. Depois de todos esses conselhos, um alerta: não importa o que você faça, trabalhe sempre pelo melhor. Porque a busca da excelência é eterna.

Imagens: Divulgação

Luciano Salamacha

Doutor em Administração e mestre em Engenharia de Produção. Preside e integra conselhos de administração de empresas brasileiras e de multinacionais, atuando como consultor e palestrante internacional.

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URBANISMO

O QUE TORNA UMA

CIDADE INTELIGENTE?

“N

ão é o mais forte das espécies que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o mais propenso a mudar”, disse Charles Darwin. A internet das coisas (IoT) está ajudando a conectar nossos mundos físico e digital como nunca antes. A tecnologia gera novas oportunidades para inovar e tornar seu negócio ou organização, mais inteligente, mais segura e

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Imagens: Divulgação

Quais as ações para usar plenamente a tecnologia e a transformação digital

mais eficiente. Parece ótimo, mas por onde e como você deve começar? As cidades são compostas de entidades como agências governamentais e policiais, empresas, sistemas de saúde, aeroportos e transporte, para serviços públicos, escolas, universidades e muito mais. Cada uma dessas organizações possui desafios e oportunidades, mas todas compartilham necessidades comuns:


A IDC também lista as principais ações para o investimento em cidades inteligentes - Concentrar-se na gestão do crescimento; - Mais RFPs relacionados ao planejamento estratégico e benchmark; - Conscientização política para uma cidade mais educada e envolvida em ser smart; - Testar novos modelos de negócios; - Estruturas ágeis para incentivar a inovação e também gerenciar riscos. É por isso que é fundamental estabelecer princípios e diretrizes de governança claros que assegurem acesso a dados, permitindo a experimentação. Este é um dos melhores caminhos para uma cidade tornar-se inteligente. Vale ressaltar também que é necessário considerar que a transformação digital gera engajamento e uma sociedade cada vez mais disposta a compreender e a entender a inovação. Só assim ela estará pronta para cobrar posturas do poder público para que adote práticas tecnológicas, mas, sobretudo, sustentáveis.

Imagens: Divulgação

devem aumentar a eficiência operacional e a economia de custos, melhorar a experiência das pessoas que eles servem e manter pessoas e bens seguros. É por isso que a transformação digital de um sistema urbano precisa atender resultados ambientais, financeiros e sociais. As cidades inteligentes utilizam a tecnologia para fornecer soluções para problemas com a iluminação pública, coleta de lixo, trânsito, construções de grandes edifícios, e o desperdício de água. Recentemente, tive contato com uma pesquisa da IDC, que apontou que os gastos de cidades inteligentes atingirão US$ 158 bilhões em 2022. Algumas formas de conseguir investimentos e resultados para construir as cidades inteligentes, são por meio de parceiros confiáveis, que permitirão a experimentação e inovação. Aqui no Brasil, temos, por exemplo um caso da CPFL, que gerou maior agilidade no processamento de dados resultou em uma melhor prestação de serviço para o consumidor final e segurança para os eletricistas da empresa.

Claudio Tancredi

Country Manager da Hitachi Vantara Brasil e possui mais de 20 anos de experiência em vendas e gerenciamento. É graduado em engenharia mecânica, tem MBA pela FIA-USP e extensões em Vanderbilt e Cambridge.

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ENTREVISTA

ROBERTO

MOITA

Texto : Renato Félix | Fotos: Divulgação

Arquiteto em Manaus fala como o empreendimento é um risco - como a vida

C

earense de nascimento, Roberto Moita começou a estudar arquitetura na Universidade Federal da Paraíba. Com três anos de curso, em 1984, se transferiu para seu estado natal e concluiu o curso na Federal do Ceará, mas mantém amigos na Paraíba. Assim, esteve em João Pessoa em dezembro e se reuniu com um grupo de arquitetos para estimular a criação da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (Asbea), do qual é o atual presidente até dezembro deste ano. Ele vive em Manaus há 32 anos. Se mudou para a capital amazonense logo após ter se formado. E lá demostrou talento não só para a arquitetura, mas também para o empreendedorismo. Construiu o próprio escritório com muito planejamento para atingir o objetivo de fazê-lo exatamente como tinha pensado: comprar um terreno, construí-lo do zero. “Comecei a construir com sete anos de formado. E queria que fosse um paradigma do que a

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gente poderia oferecer para a sociedade, um lugar que fosse estimulante para a permanência das pessoas. Não só para os clientes, mas também para a equipe”, conta o arquiteto à AE. A partir daí, outros terrenos foram comprados e outros empreendimentos iniciados. Como o Container Mall, um shopping de containers para negócios inovadores de Manaus, como um hostel, uma hamburgueria, sorveteria artesanal. Entre outros, há também um condomínio inteiro em desenvolvimento, para o qual convidou sete escritórios de arquitetura para criarem em conjunto um condomínio de alta qualidade. Sobre a aventura do empreendimento e como lidar com os riscos, ele conversou com a AE. “Quando você escreve seu roteiro de vida, cria um plano de ação e começa a atuar sobre ele, um passo atrás do outro, o universo conspira a teu favor. O universo jamais vai oferecer aquilo que você não se organizou ou trabalhou para que acontecesse”.


AE — Por que motivo você foi trilhar sua trajetória profissional em Manaus? ROBERTO MOITA — Meu pai morava em Manaus na época. E eu morei aqui na primeira infância. Vinha aqui nas férias encontrar meu pai. Então eu sempre tive conexão com Manaus. Quando me formei, vim fazer uma viagem exploratória de uns quinze dias. Terminei ficando só cinco dias e fui “pegar os livros”, como eu falo. Porque eu vi que tinha bastante oportunidade. Àquela altura eu já tinha experiência tanto em escritórios de arquitetura quanto no patrimônio histórico, que foi umas das escolas da minha formação. Trabalhei no Instituto do Patrimônio Histórico Nacional como estagiário e isso me deu uma aproximação muito grande com outras leituras da arquitetura, sobretudo a questão da formação histórica das cidades, das camadas que são a cidade: um conjunto de camadas se formando com o tempo. E Manaus tinha muito campo, também, para a questão do patrimônio histórico. Manaus é uma cidade construída em cima de uma aldeia indígena, depois se converteu numa metrópole ainda no século XIX, depois teve um segundo ciclo de desenvolvimento, que foi o ciclo industrial nos anos 1960... Nesse contexto, a cidade me instigava muito. AE — Uma mudança dessa implica em correr riscos. Como é que você avalia essa realidade de quem quer montar um escritório, que tem que se arriscar para fazer as coisas acontecerem? RM — Tem uma frase que eu gosto muito: “Quem não se sentir apto a correr riscos vai trabalhar para alguém que corre riscos”. Na verdade, a vida é um grande risco. Abrir uma empresa tem riscos. Criar vagas para funcionários e estagiários tem riscos. Criar alianças e parcerias e sociedades para alavancar um escritório de arquitetura já é um primeiro gesto de ousadia, sobretudo num país tão difícil quanto o Brasil. Eu sempre estive muito aberto, desapegado à ideia de estabilidade, segurança, a âncoras. Sempre fui muito ousado em experimentação, em me alavancar e me bancar em situações poucos ortodoxas, do ponto de vista do desafio da vida em geral. Essa aventura de vir pra Amazônia me soava naquele momento – eu muito jovem, com vinte e poucos anos – um grande barato. E todas as possibilidades que eu imaginava em termos de engajamento profissional e possibilidade de realizar experiências as mais diversas aconteceram. Foi como se eu estivesse lançando uma luz sobre um futuro possível e auspicioso e depois a vida me ofertou tudo isso. Porque de alguma maneira eu também estava preparado para isso: pra entender esse contexto, pra atuar sobre ele de uma forma virtuosa, de uma forma cinérgica, para oferecer soluções para o problema dessa comunidade que eu abraçava naquele momento.

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nesse particular os arquitetos são mestres. Uma parte da experiência é a própria construção do lugar, a atmosfera que o lugar oferece: a luz, o aconchego, a disposição desse lugar, a integração com paisagem – tudo isso são elementos que criam esse encantamento.

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Fotos: Divulgação

AE – O arquiteto, na sua formação, não aprende a gerir um negócio, não é? RM – Eu sempre digo que o arquiteto tem uma série de habilidades que são próprias ao empreendedorismo. Mas, como qualquer profissão, ele não é completo. Um administrador conhece muito bem da gestão de um negócio, mas ele não conhece como criar produtos, por exemplo. A arquitetura nos oferece uma série de habilidades e ferramentas que são muito próprias ao empreendedorismo. Na escala da cidade, por exemplo. Os arquitetos têm uma leitura urbanística – e ao mesmo tempo econômica, social, antropológica até – da dinâmica das cidades que faz com que a gente consiga ter, por exemplo, a capacidade de entender as melhores localizações para negócios. Ou entender as vocações latentes que a cidade tem para determinados negócios. A compreensão das necessidades da cidade e ao mesmo tempo das oportunidades que ela tem. O jogo dos desafios e das travas. Por outro lado, a gente desenvolve nas atividades de projeto a habilidade de tornar os lugares encantadores. E hoje num mundo em que as pessoas estão ávidas por novas experiências,

AE – Que conselho você daria para um arquiteto que deseja empreender, mas que tem certas dificuldades porque o lado artístico é muito dominante? RM – O empreendedorismo exige que a gente desenvolva outras habilidades além daquelas que são natas da nossa profissão. Uma delas é a disciplina financeira. Sem um controle de custos e receitas, os negócios podem se transformar em um grande problema. É preciso ter noção da escala do investimento para poder dar conta das eventualidades e inclusive da possibilidade de não ter pleno sucesso – porque a gente não acerta em tudo na vida. Eu tenho experiências de ter perdido dinheiro, de ter quebrado com um negócio ou de ter resolvido fechar um negócio porque ele não ia bem. Mas a gente também aprende. Eu sempre digo que todo negócio que dá errado é uma pós-graduação que você pagou por ela. Você tem que saber tirar lições dos seus próprios erros, senão você desperdiçou a oportunidade. Depois, vem a questão de você ter noção de que o mercado te recebe. E o mercado tem regras próprias. Não são regras flexibilizáveis. Ele tem um jeito de receber as coisas. E quem é o mercado? O mercado são as pessoas, são as escolhas que as pessoas fazem no dia a dia. É o olhar médio do cidadão. E dentro do famoso “mercado maior” tem muitos mercados, tem nichos. E muitas vezes o negócio vai buscar o nicho que não é explorado, que o mercado conservador não acha razoável arriscar. Muitas vezes está exatamente nesse pensamento fora da caixa – ou seja, nessa relação com o mercado, sinérgica, realista, mas ao mesmo tempo inovadora e instigante – que a gente vai encontrando os nichos e as oportunidades inexploradas. Aí, essa formação do artista, que você falou, que olha a cidade com mais indagação, com mais liberdade, muitas vezes faz a grande diferença.


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Há 16 anos publicando cada vez mais conteúdo e inspirações. Apresentando o que está acontecento na arquitetura, design e nos vários estilos de vida. Tudo isso para estar cada vez mais, perto de você, que faz parte da nossa história!

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LIVRO

A REVOLUÇÃO DA

ORGANIZAÇÃO

Um best seller em todo mundo, livro de Marie Kondo vai além de dicas de arrumação e inspira nova filosofia de vida

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arie Kondo é um fenômeno mundial. Seu livro A Mágica da Arrumação explica seu método de organização para arrumar residências e revela o poder da forma oriental de pensar. KonMari, como também é conhecida a autora, apresenta em seu livro que deveríamos nos cercar apenas de coisas que nos fazem felizes e nos livrar de tudo que não nos desperta essa energia positiva. Desta forma, o livro faz o leitor repensar as relações com as coisas ao seu redor. O método incentiva quem pratica a repensar como se vê tudo que lhe cerca, não apenas arrumar e doar o que não vai usar mais. Desta forma, o leitor que aceita encarar o desafio apontado pelo livro se prepara, à medida que lê o texto, para tomar decisões dolorosas, mas necessárias, de desprendimento. Decisões que muitos estendem para vários outros espectros do cotidiano. As redes sociais estão cheias de relatos de pessoas que leram uma das milhões de cópias vendidas em mais de 40 países e empregaram o método Marie Kondo para organizar a própria vida. Kondo escreveu quatro livros sobre organização e, juntos, superam sete milhões de exemplares vendidos. A revista Time a incluiu na lista de cem pessoas mais influentes do planeta. A Mágica da Arrumação e Isso Me Traz Alegria são os seus dois livros mais conhecidos e foram lançados no Brasil. A leitura do livro é muito fluida e, com suas 160 páginas, chega rapidamente no seu ponto central, explicando suas várias técnicas e, em última instância, que a falta de organização não afeta apenas nossas coisas, ela influencia nossa mente e nossa vida. O método, também conhecido como Método KonMari, consiste em juntar todos os pertences de uma pessoa, de uma determinada categoria por vez, como roupas, livros e objetos diversos, e manter apenas os que lhe trazem alegria. Os itens mantidos devem ganhar um local

Texto: Alex Lacerda | Fotos: Divulgação

adequado e de acordo com o estilo de vida que a pessoa pretende seguir. O fenômeno chegou ao audiovisual com a série Ordem na Casa com Marie Kondo (Tidying up with Marie Kondo), que a Netflix lançou este ano. Kondo e uma intérprete visitam cinco famílias nos Estados Unidos ensinando as dicas dadas em seus livros. São oito episódios e o sucesso tem feito ainda mais pessoas dividirem essa paixão insuspeita por organização da casa e da vida.

Editora Sextante 116 páginas

Autora: Marie Kondo

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GRANDES ARQUITETOS

UMA VISÃO

GLOBALIZADA

Vencedor do Pritzker 2019, o japonês Arato Isozaki tem reconhecida sua trajetória de versatilidade e influência internacional

Texto: Renato Félix | Fotos: Divulgação Nara Centennial Hall- photo courtesy of Hisao Suzuki

A

rata Isozaki era um adolescente quando o Japão foi bombardeado pelos Estados Unidos ao fim da II Guerra Mundial. Ele tinha 14 anos em 1945, quando sua cidade foi incendiada e a vizinha Hiroshima foi vítima de uma bomba atômica que a dizimou. O que restou foi ruínas: não existia mais uma arquitetura, profissão que Isozaki seguiu nos anos seguintes e pela qual este ano, aos 87, ganhou o prêmio Pritzker. Um Japão a ser reconstruído o motivou a participar. E, mais do que isso, a procurar entender o

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mundo. “Quando eu comecei a ter idade para entender o mundo, minha cidade foi incendiada”, disse ele, em um texto divulgado no site da premiação. E sobre Hiroshima: “Não havia arquitetura, não havia prédios e nem mesmo uma cidade. Só quartéis e abrigos me cercavam. Então, minha primeira experiência arquitetônica foi o vazio da arquitetura, e comecei a pensar em como as pessoas poderiam reconstruir seus lares e suas cidades”. Essa disposição em entender o mundo o levou a tentar conexões com as arquiteturas de outros lugares. Aluno de Kenzo Tange, Pritzker em 1987 (no total, oito


japoneses receberam o prêmio; Tange foi o primeiro), ele adiantou-se ao mestre ao trabalhar no Ocidente e, mais do que isso, com o Ocidente. Esse troca de experiência através de intercâmbios o levaram a ser definido como um “arquiteto verdadeiramente internacional” pelo júri do Pritzker. “Isozaki tornou-se o primeiro arquiteto japonês a forjar uma relação profunda e duradoura entre o Oriente e o Ocidente. Possuindo um profundo conhecimento da história e teoria arquitetônica, e abraçando a vanguarda, ele nunca apenas reproduziu o status quo, mas o desafiou”, diz o texto do júri. “E, em sua busca por uma arquitetura significativa, ele criou edifícios de grande qualidade que até hoje desafiam categorizações, refletem sua constante evolução e estão sempre atualizados em sua abordagem”. Ele não apenas trabalhou fora do Japão, mas convidou arquitetos estrangeiros a integrarem projetos em seu país natal. É o caso do condomínio Nexus de Fukuoka, nos anos 1980, ou um programa da prefeitura da cidade de Toyama chamado Machi-no-Kao (ou “o rosto da cidade”), de 1991 a 1999. Nos anos 1960, Isozaki começou a se destacar com uma biblioteca considerada uma obra-prima do brutalismo japonês em sua cidade natal, Oita, em 1966. Mas a versatilidade é outra de suas marcas, e projetos como a biblioteca central de Kitakyushu e o Museu de Arte Moderna da cidade de Gunma, ambos de 1974, já mostram uma abordagem mais pessoal. Às vezes, sua obra evoca elementos tradicionais, como a técnica tradicional dos telhados japoneses no Palácio do Centenário de Nara, complexo multiuso da cidade japonesa, de 1999; ou modernos, como os pilares arbóreos de metal do Centro de Convenções de Doha, no Catar, inaugurado em 2015. O Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles (MoCa), de 1986, e o edifício Team Disney, de 1991, estão entre suas obras mais conhecidas nos Estados Unidos — e marcam de sua trajetória internacional. “A primeira é um estudo da abóbada ou o que ele chama de ‘retórica do cilindro’ e a segunda é evidenciada por um uso mais lúdico de formas com um toque pós-moderno”, explica o texto do júri do Pritzker. Para as Olimpíadas de Barcelona, em 1992, ele concebeu o estádio Palau San Jordí. Na China, há dois centros culturais com sua assinatura: o Centro Cultural de Shenzhen, de 2007, e o Museu de Arte da Academia de Belas Artes, em Pequim, de 2008. Seguiu trabalhando em anos recentes com projetos, por exemplo, para as áreas atingidas por um tsunami no Japão em 2011. “Queria ver o mundo com meus olhos, então cruzei o globo ao menos dez vezes antes dos 30 anos”, recorda Isozaki, em texto divulgado pelo Pritzker. “Perseguia as oportunidades de fazer isso e, assim, continuava me perguntando ‘o que é arquitetura?’”. A partir da reconstrução do Japão, onde mudar para encontrar soluções era uma constante, “paradoxalmente, a mudança se tornaria meu estilo”, completa.

Museu Domus- La Coruna-Galicia

Nara Centennial Hall

Arquiteto:

Arata Isozaki

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A HISTÓRIA DE

UM CONFORTO QUE SALVA VIDAS As pias melhoraram a qualidade de vida e ajudaram a combater problemas de saúde na história humana

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m item indispensável em todas as construções atuais, a pia foi, e ainda é, responsável pela melhora na qualidade da vida de grande parte da humanidade desde os tempos em que não existiam antibióticos potentes para combater as infecções. Na antiguidade, homens e mulheres já banhavam suas mãos e rostos em uma bacia de água fixa, chamada “louterion”, como a retratada em jarros datados de 450 a 425 a.C. na Beócia, região que faz parte do que hoje é a Grécia. Com o tempo, essa prática saiu dos jardins e foi levada para dentro de casa, até chegar na pia como a conhecemos hoje. A saúde das pessoas sempre foi um elemento ligado às pias. Antes dos anos 1830-1840, quando as pias começaram a surgir nas residências de classe média, a maioria da população obtinha a água de locais externos à residência, como rios, lagos e poços. Jarros, potes e baldes eram utilizados para transportar a água que abastecia as casas para consumo. No século XIV, em Paris, eram utilizadas as bacias e tinas para lavar as mãos, mas esses móveis eram portáteis e apenas residências muito ricas ou mosteiros possuíam um ambiente exclusivo para banho e higiene. Quando as pias surgiram, eram apenas bacias feitas de cobre ou zinco em cima de mesas de madeira e sem nenhuma torneira ou sistema para evacuação da água utilizada. Com o tempo, a praticidade das pias na hora de lavar alimentos e contribuir para a higiene das pessoas influenciou a evolução da cozinha em si. Passaram a ser construídas cisternas, que abasteciam as casas por calhas que coletavam água por intermédio das chuvas, e bombas d’água, evoluindo para a ligação das pias a um sistema de drenagem em algumas cidades, nas décadas 1920 e 1930. A pia passou a ganhar mais importância e a se integrar a outros móveis, passando pelos móveis modulados e chegando às fabricadas industrialmente.

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Texto: Alex Lacerda | Fotos e imagens: Divulgação


Tipos e materiais de pias A pia, com o passar dos tempos, assumiu diversas formas, passando de formatos maiores para menores. Seu uso é, em geral, para a lavagem de mãos e utensílios. A pia retangular era mais usada na cozinha, a oval encontrada comumente no banheiro, já a redonda e as retangulares, por terem um tamanho maior devem ser utilizada em ambientes amplos. A pia dupla é utilizada quando existe material acumulado para ser lavado. O ferro fundido é o material do qual foram feitas as pias por volta do século XVIII. Antes desse período, na época do Império Romano, o cobre ou o latão eram muito usados pelos nobres. Nos materiais, o alumínio é fácil de ser limpo. No entanto, o aço inoxidável é o material mais

utilizado para confeccionar as pias mais modernas e ainda o mais fácil de limpar. Os laminados servem de substitutos para pedra natural ou acrílico. O mármore, o granito, o quartzo, resinas e mais recentemente os porcelanatos são outros materiais bastante utilizados nas pias por sua durabilidade, consistência, beleza e moldagem especial. A cerâmica é o material mais usado e preferido de quem quer conferir um estilo mais romântico ou prático ao ambiente, além de ser bastante resistente. A madeira também é utilizada nas pias, principalmente mesclada com outros materiais, como o inox, nos pontos de contato com a água. Seja com que material for, as pias conquistaram seu espaço e permanecem indispensáveis como companheiras na preservação da nossa saúde.

Fotos: StudioGT - Guilherme Torres

Fotos: Jomar Bragança e divulgação Fotos: Jomar Bragança e divulgação

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ESTILO DE VIDA

ALAIN MOSZKOWICZ

Entrevista: Márcia Barreiros | Texto : Renato Félix | Fotos: MB

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O JOVEM VETERANO

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Com 40 anos de experiência como decorador, Alain Moscowitz acaba de se formar em Arquitetura

om 40 anos de experiência em decoração, Alain Moszkowicz agora é também um jovem arquiteto. Ele recentemente concluiu o curso de Arquitetura e agora assume também este lado no mercado que ele conhece tão intimamente. “Eu sempre pensei em ser arquiteto”, conta ele. “Mas com a roda da vida de trabalho, nem sempre você tem a disponibilidade de tempo pra segurar uma faculdade. Mas eu sempre pensei: ‘No dia em que abrir uma faculdade de Arquitetura à noite, eu vou fazer”. E cumpriu. Quando descobriu que havia um curso de Arquitetura no período noturno em João Pessoa, se inscreveu no vestibular, que já era na mesma semana. Passou e cursou. Mas acabou estudando mesmo de manhã, começando a trabalhar mais tarde no escritório e abrindo mão do almoço pelos estudos. Aos 60 anos, Moszkowicz, de mãe francesa e pai polaco, é o novo jovem arquiteto no mercado. “Tô muito feliz agora”, revela. “Ansioso pelas obras e pelas placas para realmente me mostrar e dizer ‘eu posso, eu sei’”. Porém, esta não é sua primeira passagem por uma faculdade. Alain é formado em Medicina, o que pode ser surpreendente para alguém tão identificado com o mundo da decoração. A mudança de rumo começou a surgir ainda no curso. “Foi a partir do quarto ano de Medicina, por causa de uma dor de dente”, conta. Para resolver o problema da dor, Alain foi a um consultório. E detestou o lugar. “O consultório era horrível, fiquei extremamente constrangido”, lembra. Não deixou de dizer o que achava ao dentista que o atendeu, e que tinha herdado do pai o lugar. Suas críticas e sugestões agradaram e renderam um convite para decorar o novo consultório do odontólogo. E Alain, sem qualquer experiência no assunto, aceitou! “Não sabia nada, mas gosto de um desafio. Saí de lá super feliz, comprei papel milimetrado, esquadro, lapiseira, uma trena... E lá fui no dia seguinte pra medir a sala toda”, recorda. “E fui com um mestre dele que me fez a seguinte pergunta: ‘Qual o pé-direito que o senhor vai querer na sala?’”. Naquele momento, Moszkowicz não tinha a menor ideia do que se tratava. Mas tratou de aprender. Enquanto estagiava como médico em uma faculdade, fez amizade com professores de Arquitetura. “Eu chamava meus amigos e eles me davam aula particular de planta baixa, perspectiva...”, lembra.

O interesse pelo mundo da arquitetura só aumentou. Depois de formado, ele passou dez meses em Recife — trabalhando em uma loja de decoração. Veio para João Pessoa convidado para gerenciar uma loja do ramo. O passo seguinte foi abrir o próprio escritório. “Eu fazia muita coisa pra muita gente”, conta, sobre aqueles dias iniciais. “O mercado não era tão inchado, com tanto bons profissionais quanto hoje. A época estava muito mais para arquitetura pura do que para ambientação”. O escritório passou a oferecer, em parceria, projetos tanto de interiores quanto de arquitetura. Ele se aliou a ex-estagiários que iam se formando, como Roberta Xavier e Carmen Melo. E não ficava limitado à área de interiores. “Eu posso dizer que realmente participava dos projetos de arquitetura”, conta. “Porque me agradava e eu me sentia capaz de criar situações para que pudessem ser absorvidas nos projetos”. Com 40 anos de experiência no mercado, de repente, no curso, ele se viu no meio de uma garotada. E foi uma convivência difícil. “O pessoal novo tem uma visão muito rígida das pessoas mais velhas. Se pudessem, teriam me descartado rapidamente”, confessa. “Mas, mais do que tudo, você tem que querer alcançar o seu sonho. E que as pessoas não atrapalhem seu percurso”. Ele também não se furtou a dizer o que pensava em sala de aula. “Eu sou uma pessoa muito ‘chatinha’”, diz. “Falo o que devo falar e às vezes de uma forma muito direta. Embora eu seja uma pessoa educada e gentil, quando vejo um devaneio digo que não está certo. Mas geralmente gosto de fazer críticas construtivas. Não gosto de colocar nenhum profissional de nenhuma área pra baixo. Gosto de colocar para cima, para caminharmos juntos”. O jovem arquiteto já tem muito o que ensinar, por sua experiência na área. “É preciso saber que você é um veículo”, aconselha. “Que seu cliente é a peça mais importante e que as aspirações dele são sempre de extrema relevância. E para cada peça indicada tem sempre um substitutivo”. Agora, seu nome também estará em projetos de arquitetura. Ele até brinca com a quantidade de vezes em que seu sobrenome é escrito de maneira errada. “Errado ou certo, todo mundo sabe que sou eu”.

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REPORTAGEM

PAREDES SEM OUVIDOS

O isolamento acústico é um elemento fundamental para a qualidade de vida no mundo urbano Texto: Lidiane Gonçalves | Fotos: Divulgação

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orar bem requer um conjunto de coisas: boa iluminação, decoração, conforto dos móveis, localização... Mas nada disso trará a paz esperada com muito barulho perturbando. Chegar em casa após um longo dia de trabalho ou acordar em uma manhã de domingo e curtir um merecido silêncio: o nosso lar deve ser o melhor lugar para estar. Por isso, o isolamento acústico é primordial para manter a sua paz e a boa convivência com os vizinhos. Kellington Dantas de Sousa, arquiteto e pesquisador nas áreas de conforto ambiental, acústica e eficiência energética, explica que o isolamento acústico de uma edificação deve proporcionar conforto a seus usuários através da redução ou eliminação do desconforto causado pelos mais diversos níveis e tipos de ruídos sonoros, entre o meio externo e o interno, ou entre ambientes. “Essa solução construtiva funcional se torna importante na forma de contemplar espaços com um bom desempenho de habitabilidade — ou seja, conforto na forma como o usuário percebe e propaga o som no meio”, diz. Ele pondera ainda que o isolamento acústico é importante para todos os tipos de edificação, espaço ou ambiente. O que pode se diferenciar entre as tipologias, por exemplo, é que a intervenção em apartamentos deverá ser maior devido as exigências normativas quanto ao desempenho acústico. O engenheiro Júlio Cesar Silva ressalta que o isolamento acústico pode ser nos dois lados, e exemplifica. “Em um apartamento num prédio em frente a uma via pública de muito movimento, fazemos um tratamento no isolamento das esquadrias. Entre apartamentos, as paredes comuns recebem um tratamento especial, espessura maiores do que as demais, paredes duplas com revestimento interno, etc.”

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Problemas entre vizinhos Viver em condomínio requer mudança de hábitos e ser peça de discórdia é muito desagradável. Imagine o tempo todo ser incomodado com o barulho do salto alto da vizinha de cima, ou de móveis sendo arrastados ou mesmo ter que escutar todos os ruídos do salão de festas quando você sequer foi convidado. Quando o prédio é projetado e executado já com o cuidado do tratamento do isolamento acústico, evita consideravelmente incômodos devido à ruídos e ecos principalmente nas horas em que o silêncio deve ser obedecido. “Quando existe o problema é preciso buscar soluções técnicas para resolver essas questões acústicas. No entanto fases devem ser seguidas, diagnósticos encontrados, a busca da solução adequada e a execução propriamente dita”, diz o engenheiro. O arquiteto Jean Carlo Fechine, mestre em desenvolvimento e meio ambiente, lembra que em relação à acústica, é importante observar dois aspectos, defesa contra ruído (isolamento acústico) e controle de som no recinto (tratamento acústico), o cliente deve observar as características técnicas das vedações. Explica também que no caso do vizinho de cima, este tipo de ruído de salto alto ou de brinquedos caindo no chão é classificado como ruído de impacto e é de difícil controle. “Para mitigá-lo de forma eficiente, é necessário minimizar o impacto, com a colocação, por exemplo, dos pisos emborrachados. No entanto, em um apartamento não seria usual este tipo de piso. Recomenda-se a colocação de manta específica para piso, instalada logo acima da laje zero. Em seguida, em alguns casos, utiliza-se uma tela de proteção mecânica, o contrapiso e por fim o piso acabado”, diz.


No aspecto do conforto, de acordo com o arquiteto Kellington Dantas, as exigências mínimas quanto ao desempenho acústico, apesar de apresentarem índices bem inferiores às das normas europeias, acabou afetando diretamente as edificações de condomínios. Por exemplo, a exigência de um desempenho mínimo de 45dB entre as paredes de geminação, e de 25dB nas fachadas. “Isso afetou diretamente os tipos de acabamento, a qualidade das esquadrias e dos fechamentos, espessura e desempenho de paredes internas e externas. E com isso, houve uma redução nos conflitos entre moradores, causados em grande parte pelos ruídos gerados dentro, fora e entre as edificações e seus respectivos ambientes”, explica.

Quando paredes e janelas têm ouvidos “As paredes têm ouvidos” significa que existe vazamento sonoro. Logo, o que se deve fazer é aumentar a resistência delas. “Em relação às paredes, forra-se a superfície com manta, hoje disponível em lã de vidro, lã de rocha e lã de pet — esta última proveniente da reciclagem de garrafas plásticas. E faz-se

o fechamento de tais mantas com chapas de gesso acartonado que receberá o acabamento”, ressalta Fechine. “Em relação às esquadrias, o vidro simples não oferece resistência à passagem do som. Neste caso recomenda-se a substituição por vidros laminados ou duplo insulados. Vale lembrar que as características técnicas tanto das mantas quanto dos vidros dependem das particularidades de cada projeto”. Ele explicou ainda que em um salão de festas de condomínio, se os condôminos escutam o barulho da festa, o problema também é de vazamento sonoro. Deve-se, portanto verificar e melhorar a resistência das vedações. Já se a inteligibilidade no interior do salão não é boa, o problema refere-se ao tempo de reverberação inadequado: que só será resolvido mediante um projeto de tratamento acústico para o salão.

No projeto e na reforma Tudo é relativo. E na arquitetura, as boas práticas ajudam a deixar os custos menos elevados. Então, o mesmo tipo de isolamento pode custar mais ou menos em uma obra, dependendo do planejamento realizado e

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da necessidade de quem vai utilizar aquele imóvel. Julio César lembra que todo custo aumenta quando não foi planejado: “Por isso a necessidade de planejamento desde a fase de concepção do projeto com arquitetos e engenheiros devidamente capacitados e habilitados, a inovação tecnológica no tocante às novas práticas, materiais específicos para tais finalidades”. Mas Kellington explica que é possível melhorar a acústica de obras já construídas, tanto no aspecto do isolamento quanto do condicionamento acústico. “Mesmo que a forma mais eficiente e econômica de tratar acusticamente um edifício seja articular as soluções funcionais, formais e estéticas às soluções de tratamento acústico, as edificações já existentes podem sofrer intervenções como em qualquer outra reforma, desde que adequadamente previstas em projeto”. Ele completa afirmando que, quanto ao isolamento e condicionamento acústico, essas intervenções podem buscar adequação de elementos como fachadas, coberturas, pisos, entrepisos, sistemas de divisórias, esquadrias, vedações, forro, mobiliário e até itens de decoração.

Qualidade de vida A boa arquitetura, deve prezar pela valorização da eficiência funcional, percebendo o usuário em seu habitat, e buscar apresentar soluções que proporcionem conforto térmico, acústico e sensorial. “Nesse aspecto, mesmo se fizermos um isolamento adequado, mas não atentarmos para a qualidade do som nos ambientes internos e externos, estaremos fadados a realizar altos investimentos e não atingir um nível satisfatório de conforto”, afirma Julio. Ou seja, investir nesses aspectos do projeto e em sua execução, é mais uma forma de proporcionar melhorias na qualidade de vida.

Tratamentos particulares O isolamento acústico é função de vários fatores: o ambiente para que se propõe, a origem do som, os materiais a serem utilizados, a técnica de aplicação desses materiais. Então, dependendo de quais áreas estão sendo tratadas, existem diferenças em unidades individuais. “Imaginemos duas áreas comuns em condomínio: sala de cinema e um salão de festa. Com certeza teremos aplicações distintas. Perceba que, para cada ambiente, o tratamento no isolamento acústico deve ser separado, evitando assim distorções do som”, disse Júlio. Em se tratando de uma construção multifamiliar, o item “detalhes” é essencial, pois mostra numa escala ampliada a verdadeira intenção do arquiteto no seu projeto. As paredes comuns dos apartamentos devem ter um tratamento específico no projeto. E controle, juntamente com monitoramento, no momento da execução. As lajes merecem atenção, como também os revestimentos de piso, parede, forro, definição das esquadrias internas e externas.

NORMAS DE DESEMPENHO ACÚSTICO QUE DEVEM SER SEGUIDAS A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) apresenta as seguintes Normas que tratam da Acústica Arquitetônica, são elas: NBR 10151: Avaliação do Ruído em Áreas Habitadas; NBR 10152: Níveis de Ruído para Conforto Acústico e NBR 12179 Tratamento Acústico em Recintos Fechados. No entanto, em relação ao quesito desempenho acústico em edifícios residenciais, recomenda-se a aplicação da NBR – 15575: Desempenho de Edificações Habitacionais. Na seção 10 (dez) estão contidos os critérios para o Índice de Redução Sonora Ponderada (RW) de componentes construtivos, garantindo um desempenho adequado para as vedações – piso, paredes, teto e esquadrias. *fonte: Jean Carlo Fechine Tavares

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AMBIENTAÇÃO

ESCONDE-ESCONDE NO DÉCOR

Além de funcional, os espaços precisam ser bonitos e com menor poluição visual possível Texto: Ana Paula Horta| Fotos: Henrique Queiroga e Osvaldo Castro

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Projeto Ivana Seabra: Com apenas um toque, os painéis de correr se fecham, trazendo mais privacidade. A sala e o escritório podem ser camuflados ou ficarem integrados à sala.

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m dos grandes desafios dos profissionais de arquitetura e decoração na hora de executar um projeto é camuflar a bagunça de cabos eletrônicos e outros itens que os clientes desejam esconder. Para conseguir êxito nessa empreitada, a marcenaria é uma grande aliada. Como alternativa para ocultar a poluição visual nos projetos, surgiram os painéis que, já a algum tempo, são um hit absoluto dos projetos de interiores. As necessidades de cada cliente, no entanto, são únicas e exclusivas. E, muitas vezes, o que se pretende esconder vai muito além de cabeamentos. Um exemplo disso, é a situação narrada pela a arquiteta Ana Lívia Werdine. A profissional lembra que em um de seus projetos se viu diante de um dilema que foi resolvido por meio da marcenaria. “Os clientes, um casal, discordavam quanto ao local da TV na casa. O marido queria o aparelho na sala, já a esposa não. A solução, para atender a ambos, foi deixar a TV nesse ambiente mesmo, porém, escondida atrás de um painel”, conta. Neste caso, Ana Lívia optou por desenhar um painel móvel, que pode ser deslocado para atender às diferentes necessidades expostas pelo casal. Já a arquiteta Ivana Seabra precisava camuflar não um eletrônico, mas sim dois ambientes de um projeto residencial. Ela também recorreu à marcenaria para deixar escondidos o escritório e a cozinha. “Utilizei painéis, como portas de correr, para esconder esses dois espaços. Com essa solução, o cliente ganhou ainda a opção de integrar, quando lhe for conveniente, a cozinha e o escritório à área social da casa e quando não quiser a interação basta puxar os painéis”, salienta. A solução utilizada por Ivana é muito trabalhada em projetos contemporâneos, onde o desejo por limpeza visual propõe o ocultamento de portas e a integração dos espaços quando necessário. Os projetos comerciais também são beneficiados por esses truques de camuflagem. É o que afirma Michele Salvador, proprietária


dE loja, especializada em móveis planejados. Como exemplo, Michele cita em um de seus trabalhos corporativos, para o qual planejou um painel de correr para camuflar uma cozinha da área comercial da empresa. “Painéis são itens que não podem faltar na maioria dos projetos que executamos, e vêm demonstrando uma tendência em crescimento. São uma ótima opção para manter a privacidade, sem eliminar a integração”, pondera Michele, reforçando que, para utilizar este tipo de recurso é fundamental o desenvolvimento de um projeto planejado e exclusivo. Para quem pensa em lançar mão dos painéis de correr como recurso para camuflagem de cabos, portas eletrônicos ou outros, as profissionais fazem algumas ponderações. “Antes de usar esse recurso, a pessoa tem que saber exatamente o que gostaria de esconder de maneira esporádica no espaço. A partir dessa definição, um designer deverá ser contratado para que possa criar algo sob medida para atender determinada solicitação”, ensina Ivana. Já Ana Lívia ressalta que é importante estar atento ao o material mais adequado para a marcenaria de painéis de camuflagem. “Como a intenção é passar despercebido, o material deve ser condizente com o restante da decoração. Se estamos utilizando painéis de madeira, por exemplo, o melhor é seguir a mesma linha nestes ‘esconderijos’ também”, destaca a profissional, reforçando que sutileza deve ser palavra de ordem.

“No passado, o cliente recebia seu imóvel e simplesmente dispunha ali seus móveis, mas hoje ele está mais preocupado com o bem estar dentro de casa. O mesmo acontece nos ambientes corporativos, em que a preocupação é tornar o ambiente o mais agradável possível”. Michele finaliza lembrando que esse tipo de tendência é um reflexo da busca cada vez maior pelo alinhamento entre a estética e a funcionalidade.

Projeto Ana Lívia: Basta arrastar o painel branco ao lado, para que a TV seja camuflada. Uma forma de esconder objetos sem perder o bom gosto.

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INTERIORES

CONFORTO

À VISTA

Espaço amplo e uma privilegiada vista da cidade se unem no projeto de um apartamento para toda a família

Texto: Lidiane Gonçalves | Fotos: Vilmar Costa

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armonia e equilíbrio podem ser as palavras que definem o belo projeto das arquitetas Débora Pires e Juliana Xavier, da Arquitetura, Urbanismo e Interiores. O apartamento de 406 m², em bairro de área privilegiada de João Pessoa, tem uma vista espetacular de boa parte da cidade, pois fica no 44º andar. Os donos da casa têm dois filhos adultos, inclusive um deles casado. No entanto, o projeto incluiu toda a família, para que, mesmo durante um período de visitas, o filho que não mora mais com eles se sinta em casa. Por gostar muito de receber amigos e familiares, o projeto exigiu conforto para todos, além de uma área de de lazer com espaço para churrasco e piscina aquecida, ideais para que eles desfrutem do

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hobby do casal: degustar vinho e apreciar a vista privilegiada. E essa vista foi parte fundamental do projeto. Todos os ângulos e aberturas têm uma bela vista. “Na concepção do projeto procuramos priorizar os cenários naturais e fazer com que os elementos internos estivessem em harmonia. Ter uma visão da natureza, mesmo que seja através da janela tem o poder de tranquilizar e harmonizar o casal. Eles adoram contemplar a paisagem”, explicou a arquiteta Débora Pires. “Nesse projeto não tivemos problema com espaço, tínhamos uma grande área com uma vista espetacular e o nosso ponto de partida projetual foi a integração e harmonia entre os ambientes. Exploramos os ângulos, os cenários e a composição entre interior e exterior e o resultado foi maravilhoso”, garantiu.


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Requisitos A principal preocupação dos clientes era com os quartos de hóspedes, que não eram tão grandes comparados aos demais. “Com uma pequena alteração na forma e localização das portas dos banheiros conseguimos aumentar a área útil do quarto e aproveitar bem os espaços”, disse Débora. A área da piscina também foi um ambiente que teve maior atenção no projeto. “Tnhamos muito espaço para trabalhar e utilizamos a madeira como o elemento-chave. Criamos uma esquadria vazada de correr para separar a área de lazer da piscina dos ambientes de serviço — chuveiro, sauna, e lavabo — e uma pérgula para quebrar um pouco a altura das alvenarias laterais e criar um espaço mais aconchegante. Outra diretriz do projeto foi aumentar a cozinha e, para isso, foram necessárias alterações de reforma na cozinha e área de serviço. Com pequenas alterações foi possível ampliar a cozinha e satisfazer a necessidade dos clientes”, explicou Juliana Xavier. Cada ambiente foi pensado individualmente e focando principalmente na funcionalidade. Nas salas de estar, no jantar, cozinha e quartos há a predominância de um estilo moderno, já na área gourmet e piscina, procurou-se associar o estilo

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moderno ao rústico para trazer o sentimento de aconchego ao local. Outro pedido dos clientes foi a praticidade, pensando sempre na manutenção dos produtos utilizados. “Nesse sentido concebemos um projeto atemporal, com cores neutras e sóbrias, inspirados e integrados com a natureza. O uso do azul e verde na decoração remetendo água do mar e que completa o cenário interior, além dos tons de marrom, bege, preto, branco e cinza como base nos revestimentos e móveis no geral”, disse Juliana.

Materiais Para a escolha dos materiais, o principal ponto de partida era a utilização de uma base de cor sóbria para criar uma atmosfera atemporal e o uso de cores apenas na decoração. Para os banheiros foram selecionadas diferentes opções de revestimentos 3D. O mix de texturas, a utilização do supernanoglass e a suavidade dos contrastes favoreceram para que os banheiros tivesse um estilo clean e leve. O revestimento de piso geral do apartamento foi utilizado um marmorizado bege.

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Os ambientes íntimos procuraram atender todas as especificações, estilo de vida e personalidade de cada indivíduo. “Cada elemento que compõe o espaço tem sua inspiração e encanto com soluções criativas, a partir das cores do mobiliário, iluminação e objetos de decoração. A partir de um estilo moderno e contemporâneo se estabeleceu um conceito de uniformidade na residência; nos quartos dos filhos toda preferência por cama de casal foi um requisito da família para receber os filhos, mesmo depois de casados”, explicou Débora. Os móveis projetados da sala de estar, jantar e área gourmet integram perfeitamente com o mobiliário de design diferenciado, presentes no sofá para TV, mesa de jantar, cadeiras, poltronas

e mesa de centro. “Os ambientes integrados apresentam na sua composição, elementos com cores neutras e disposição do mobiliário seguindo equilíbrio simétrico, linhas retas e sentido horizontal, materiais com acabamentos nobres e textura clássica como a madeira no mobiliário e granito na bancada gourmet que garantem praticidade e rigidez”, comentou Juliana. A escolha de cabeceiras estofadas em tecidos laváveis, com tonalidades neutras, embelezam o quarto e tem utilidades práticas, pois elas protegem o morador de bater a cabeça na parede. Foram utilizadas na suíte do casal e na suíte da filha. Nas salas de TV, estar e jantar foram trabalhados tecidos e as cores de forma a proporcionar sofisticação ao espaço.

Projeto: Interiores Arquitetas:: Débora Pires e Juliana Xavier Móveis: Saccaro | Móveis Planejados: Marel Revestimento: Vivant | Granito: Oficina do Granito Serraria: Oficina da Madeira

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INTERIORES

SOLTEIRO TAMBÉM MORA BEM

Morar sozinho tem suas vantagens, como poder levar em consideração apenas o seu gosto para escolher o estilo de projeto

F

oi-se o tempo que morar sozinho significava que você era um estudante ou um profissional em início de carreira. Passou-se também a época em que, por morar sozinho, o apartamento ou casa fossem improvisados ou projetados de qualquer forma, onde não faz diferença se a cortina combina

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Texto: Lidiane Gonçalves | Fotos: Vilmar Costa

com o tom das paredes, se o porcelanato da pia é prático ou se o tapete destacou a mesinha da sala. Os tempos mudaram e os solteiros estão cada vez mais exigentes quanto ao espaço que vão morar. Por isso os arquitetos estão aí para ajudar o solteiro a morar com conforto e estilo, sempre imprimindo a personalidade do morador a todos


os ambientes. E, com uma vantagem: não haverá aquela indecisão do estilo de qual morador levar em conta na hora da concepção do projeto. Em um apartamento de 150m², em João Pessoa, os arquitetos Eduardo Nóbrega e Marianna Silveira realizaram um projeto com um ar moderno e atual, para um médico – que também é professor universitário – morar com conforto e receber amigos e familiares. E, por essa característica de gostar de receber, o apartamento ficou funcional, aconchegante e atraente.

Peça de estimação Uma cristaleira deu o toque clássico ao estilo contemporâneo do apartamento. “É que o proprietário queria esta cristaleira para guardar peças que foram herança de família e outras que ele foi adquirindo ao longo dos anos, em viagens. Então, usamos a peça de uma forma atual no projeto”, disse Eduardo.

Quartos Apesar de ter três quartos, nem todos eles foram projetados para serem dormitórios, afinal, o morador não tem filhos ou é casado. O quarto principal foi integrado a um closet. O segundo, transformado em quarto de visitas. Já o terceiro, foi adaptado para um home-theater , visto que o morador não queria que na sala do apartamento tivesse esse aparelho eletrônico.

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Cores e decoração Todo o projeto foi norteado por cores mais escuras e sóbrias. “O cliente tem muito bom gosto e adora uma iluminação mais aconchegante, então procuramos criar um clima intimista em todo o apartamento. Usamos os tons beges nas paredes para favorecer e fazer um contraponto aos toques escuros que usamos nos mobiliários. Para quebrar um pouco a sobriedade e ousar, sem destoar da composição, saindo um pouco do tradicional, optamos por colocar um tapete azul marinho na sala de estar˜, comentou Marianna. “Para os móveis, escolhemos as peças de design, pois elas favorecem o ar contemporâneo que buscamos atingir. Além disso, usamos veludo na decoração. O projeto teve um destaque maior para a pedra – feita sobe medida - que colocamos na parede da sala de jantar, que é o slimstone na pedra Carrara, que é o grande diferencial desse projeto. Então, toda a iluminação foi pensada tendo essa peça como ponto de partida”, esclareceu Eduardo. Marianna disse, que no resultado final, o que mais se gostou foi a contraposição dos projetados com a mobília solta, dando flexibilidade ao espaço”. Finalizado, o apartamento se foca no que é primordial para um projeto de interiores, o conforto.

Projeto: Arquitetura de interiores Arquitetos:

Eduardo Nóbrega e Marianna Silveira Móveis Planejados: SCA | Móveis: Saccaro | Decoração: A Sempre Viva Iluminação: LigthDesign + Exporlux | Tapete: Espaço Vinílico

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CAPA

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PESSOAL E

INTRANSFERÍVEL

Projeto da loja Marel procura estimular os sentidos além da visão e evocar a história dos proprietários

Texto: Renato Félix | Fotos: Vilmar Costa

A

sede da Marel Móveis Planejados, em João Pessoa, ganhou um novo visual através de um projeto da arquiteta Sandra Moura. Mas não só isso. Com liberdade de criação cedida pelos clientes, a profissional se dedicou a buscar mais do que a estética pura e criar um vínculo entre o espaço e quem vai ocupá-lo. A única coisa solicitada foi que tivesse um sub-solo para dar conforto aos clientes. “Fora isso, o cliente não tinha ideia do que iria receber como proposta” inicia Sandra. “Muitas vezes o profissional privilegia só o sentido da visão, apenas a beleza do projeto, e esquece o principal que é o homem”, explica a arquiteta. “A arquitetura está profundamente ligada a questões da existência humana e promove abrigo para o homem trabalhar, estudar, se alimentar, se divertir, viver. E a gente está tentando fazer uma

arquitetura que esteja mais voltada para o ser humano e que consiga instigar nesse ser humano os cinco sentidos. É buscar não só a estética e a funcionalidade, mas a humanidade”. Para isso, Sandra recorreu à história de vida dos clientes. “A arquitetura tem o poder de posicionar o seu usuário no palco da memória”, afirma. “E tem que ser não de uma maneira óbvia, mas com um ideia tangível da beleza e história. A gente precisa ser resgatado exatamente na história de cada cliente que a gente pega. Nesse projeto da Marel, tive a oportunidade de me posicionar no sentido de buscar as memórias da história da vida deles e aí fazer uma arquitetura diferenciada. Que conta a história dentro do seu espaço”. O projeto requisitado pelos clientes era de um novo showroom da Marel, com subsolo, área de atendimento, área administrativo-financeira,

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diretoria, sala de reuniões, andar para uma construtora e área para vendas de complementos, como cortinas. Mas, a partir daí, a arquiteta teve liberdade. “ A proposta foi nossa, não teve interferência do cliente”, afirma. “Ele nos deixou livres para propor algo diferenciado”. Alguns ajustes, no entanto, foram conversados. De início, a fachada teria a implantação de vegetação de cactos naturais com um sistema de irrigação sob gotejamento. “Mas o cliente questionou a manutenção e pediu para incluirmos um subsolo”, conta Sandra Moura. “A parte de interiores foi modificado várias vezes, com sistemáticas reuniões com a equipe Marel, capitaneada por Hermann Santos, até conseguirmos chegar ao final do projeto”. A fachada continuou com os cactos, no entanto. Para Sandra, é um dos pontos de destaque do projeto. “A estrutura artística, desenhada na fachada, fala de uma verdade, tem um DNA dos proprietários com proporção, estética, história e equilíbrio”, conta. “A fachada tem uma representatividade muito marcante. O desenho realizado, o cacto xique-xique, é uma vegetação que conserva no seu interior água para os períodos secos, utilizado para alimentar o gado. Realizamos uma correlação com os proprietários, sua história de vida em relação a sentimentos como coragem, fé, perseverança e esperança”. Para ela, o trabalho se enquadra em um estilo contemporâneo. “Com um conceito universal, pois nós só conseguimos tornar um projeto universal — ou seja, fazer com que todos entendam os seus conceitos

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— quando temos referências locais inseridos dentro de uma arquitetura contemporânea”, explica. Uma casa que existia no terreno foi demolida para dar lugar à nova edificação, que surgiu com a ideia de utilizar muito de luz natural. “Procuramos utilizar o pé direito duplo com vidros nos recuos laterais e termos uma incidência de luz ideal para área interna, economizando a iluminação artificial”, diz a arquiteta. A garagem é multi-uso. “Implantamos uma cozinha para ser utilizada em eventos e para a alimentação diária dos funcionários”, explica. Também é iluminada com uma parede verde, que tem sistemas de automação por gotejamento para racionalização e otimização da água. Evitar o desperdício de água e energia é uma ideia presente de cima a baixo: da iluminação aos

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pisos. “Toda iluminação foi colocada em LED com um design exclusivo, desenhado com estruturas, colocadas estrategicamente nos ambientes de trabalho e showroom”, adiciona Sandra. “O piso em porcelanato com efeitos de concreto foi realizado com materiais reciclados com redução de consumo de água e energia, além da ausência de compostos orgânicos”. Mas esse trabalho com design e a busca dos materiais certos é norteado por uma filosofia muito clara de trabalho, para atingir um objetivo muito pessoal. “A gente tem a oportunidade de poder dar alma ao espaço”, opina a arquiteta. “De fazer com que naquele lugar habite muito mais do que uma arquitetura fria e que só sirva de abrigo. Ela está ali no sentido muito mais de provocar sentimentos e sentidos para a pessoa que vai ocupar o espaço”.


Arquiteta:

Sandra Moura

Foto: Diego Carneiro

Projeto: Arquitetura

Construção: Lavie Construtora | Iluminação: Lightdesign+ Exporlux | Granitos e mármores: Oficina do Granito Revestimentos: Portobello | Vidros: República Vidros | Estofados: Duarte Decor | Artista Plástico: Demétrios Estrutura Metálica: Steel Decor | Pintura: Ibratin | Energia Solar: Reinova | Automação: One Touch

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ACERVO

DOS TEMPOS DO

CAFÉ

A arquitetura preservada de Bananeiras é uma memória da época em que a cidade foi uma das mais ricas da Paraíba Texto: Renato Félix | Fotos: Divulgação

A

cidade de Bananeiras, na região do brejo paraibano, vem se tornando um destaque turístico entre as cidades paraibanas. Entre seus atrativos, está a arquitetura, que ainda conta um pouco da história do município, que tem origens no começo do século XVII e se tornou cidade em 1879. “Na cidade, por exemplo, é possível encontrar símbolos que contam sua história, mostrando um passado com domínio da aristocracia rural e forte

tradição religiosa”, escreve Margarida Maria de Castro Fernandes, em “A Imagem da Cidade de Bananeiras Construída a Partir de Sua História”, monografia para a Universidade Estadual da Paraíba. O surto turístico levou à restauração de algumas edificações que marcaram a história de Bananeiras, como a velha estação de trem. Concluída em 1922 e desativada em 1970, ela foi restaurada para receber um hotel e um restaurante.

Fotos: http://historiaferroviariaparaibana.blogspot.com | https://fazendocaeme.files.wordpress.com Fonte: http://www.cchsa.ufpb.br/heb/contents/arquivos/itens-de-pesquisa/margarida-maria-de-castro-fernandes.pdf

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O túnel sob a Serra da Viração, aberto para a passagem da estrada de ferro, hoje também é um ponto turístico da cidade. A estrada de ferro começou a ser construída para escoar a produção de café, mas acabou sendo interrompida. O patrimônio histórico da cidade também é herança desse período econômico. Por volta de 1850, Bananeiras tinha a maior produção cafeeira da Paraíba e a segunda maior do Nordeste, o que fez da cidade uma das mais ricas da região. São casarões e sobrados em torno da matriz da cidade, a Igreja de Nossa Senhora do Livramento, concluída em 1861. Antes, com palmeiras imperiais em frente, substituídas desde 1952 por uma estátua imponente de Nossa Senhora das Graças. Alguns dos casarões mantém elementos da época de sua construção com alterações modernas, sobretudo naqueles que ganharam função comercial, como hotéis e restaurantes. Mas há aqueles que, mesmo com função pública, mantém sua estrutura original. É o caso do prédio dos Correios, dos tempos do Império (de 1835), e o Colégio das Doroteias, do começo da República (de 1917), hoje uma escola municipal. Por toda a parte parece evidente o entendimento que a importância da própria história – e da preservação da arquitetura, para evidenciá-la – é visível em Bananeiras. Literalmente ao dobrar cada esquina.

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ARQUITETURA E CINEMA

VIAGEM NO TEMPO

O filme mexicano Roma usa a arquitetura para recriar um ambiente e época muito específicos do México, decalcado das memórias do diretor

R

oma, de Alfonso Cuarón, foi o filme da temporada de prêmios do começo de 2019. Em preto-e-branco, produzido no México e falado em espanhol e no dialeto mixteca, virou aquele filme que umas pessoas perguntam a outras: “Você já viu?”. A obra é uma obra muito pessoal de Cuarón, que assina como diretor, roteirista, diretor de fotografia, montador e produtor, e na qual revisita o ambiente de sua infância: o bairro de Colonia Roma, na Cidade do México, em 1970. Para isso, a arquitetura do filme é fundamental. Para não deixar dúvidas, Cuarón faz questão se sempre passear sem pressa com sua câmera pelo ambiente. Por exemplo, dentro da casa da família, que é quase uma personagem à parte. Há momentos em que a câmera dá uma volta de 360º enquanto Cleo, a empregada vivida por Yalitza Aparício, estreante que concorreu ao Oscar de melhor atriz, vai apagando as luzes à noite.

Texto: Renato Félix | Fotos: Divulgação e MB

As semelhanças com a realidade brasileira não passaram despercebidas por Nilton Paes Jr., Perla Luksys e Davi Lucena, arquitetos convidados pela AE para assistir Roma em uma sessão na HiFi e conversar em seguida com Márcia Barreiros sobre a presença da arquitetura no filme. “A arquitetura joga a gente dentro da época”, conta Perla. “É quase um documentário de uma época que a gente vivia. Eu nasci em 1976 e a arquitetura que a gente vivenciava quando criança era isso aí”. “Colonia Roma é um bairro que era abastado nos anos 1920 e começou a virar comercial”, conta Paes. Ele lembra que a casa onde se passa a maior parte da trama foi montada principalmente sobre as memórias de Cuarón. Mais do que isso, a mobília foi reunida pelo diretor de membros de sua própria família em várias partes do México. Ele dedica o filme a Libo, empregada de sua família na infância e que ainda faz parte da vida do


diretor. O filme reflete exatamente sobre essa relação de famílias de classe média e seus empregados, em questões hierárquicas e étnicas. A abertura, que mostra o chão da garagem sendo lavado por Cleo, já mostra também que o quarto onde dormem as duas empregadas e o banheiro que elas usam ficam separados da casa da família. “A casa tem uma fachada simples. Na sala, tudo é muito bem cuidado, mas na primeira cena que ele mostra lá em cima, no quarto dos filhos, a zona íntima, a coisa já é um pouco mais bagunçada”, analisa Perla. “É um reflexo até da relação social íntima deles: a fachada social bem cuidada, mas no interior, um pouco descuidada”. A chegada do pai é uma cena eloquente. Antes de o espectador ver o rosto do personagem, ele se apresenta através do carro: um Ford Galaxy 500, que mal cabe na garagem. “O carro para mostrar para a sociedade não é de acordo com arquitetura”, diz Paes. “O cômodo que acho que mais fala é a garagem”, diz Márcia Barreiros. “O marido entra e aquele espaço vazio onde as crianças brincam e o cachorro anda é interrompido. Chega um carro que é maior do que o próprio espaço. E o Galaxy tem uma coroa na frente: chegou o ‘rei’ da casa e ele ocupa todos os espaços. É muito simbólica essa entrada dele na garagem”. A questão da separação física é muito evidente no filme. Não só na casa, mas na sequência em uma fazenda, em que, durante uma festa, Cleo é levada para celebrar com outros empregados, em outro ambiente. E para chegar nele, é preciso descer uma escada que separa com eloquência uma classe da outra — uma escada sem corrimão, inclusive, denotando que aquele grupo não é merecedor de certos cuidados com que os mais abastados convivem. Outra sequência que fala muito é a que mostra Cleo lavando roupa numa laje. O ponto mais alto da casa reservado para lavar e estender as roupas e o momento onde as empregadas estão no “lugar mais alto”. Em mais uma das varreduras de sua câmera, Cuarón mostra, com profundidade de campo na imagem, que a cena é comum no bairro: várias empregadas estão lavando roupa naquele momento, nos tetos das casas onde trabalham. “Acho que mais característica arquitetônica da região”, opina Perla. “O lugar onde há maior captação do sol. E menos uma questão de simbologia social. Mas ele usa isso pra mostrar a realidade de todas, a repetição”. “Talvez se uma casa fosse construída naquele bairro hoje, não colocaria a lavanderia ali”, acredita Márcia. “A cobertura, que hoje é tão privilegiada, por não ser vista é usada como lavanderia”. “E acaba virando um lugar de refúgio das empregadas. Um lugar de trabalho que elas usam de forma informal pra manter as relações pessoais delas entre si”, acrescenta Lucena. A decoração de interiores também fala muito na casa. “Na hora em que ela volta, depois de assumir que está separada, ela mudou a casa. Não só pela retirada das estantes do marido, mas ela muda as coisas

de lugar. É uma ruptura”, diz Perla. A mudança chega ao ponto de que os moradores mudam de quartos no andar superior. Na rua, a câmera mostra os personagens caminhando pelas calçadas sempre com cuidado para mostrar as fachadas. O enquadramento é a partir da rua, com a câmera em movimento acompanhando os personagens, mostrando uma panorâmica da rua. “Quando ele está na rua, ele mostra o plano mais aberto possível. É como se fosse um arquiteto filmando”, diz Paes. “Quer mostrar o espaço. Quer que você entenda onde você está”. Entender onde você está. Esse poderia ser um resumo total de Roma, um filme que fala do passado para comentar o presente. Não por acaso, o filme foi premiado por onde passou: ganhou o Globo de Ouro de filme de língua não inglesa e direção. No Bafta, da Academia Britânica, levou melhor filme, filme de língua não inglesa e fotografia. No Festival de Veneza, melhor filme. No Oscar, três prêmios: filme de língua não inglesa, direção e fotografia. Perdeu melhor filme para ‘Green Book’. Uma injustiça que vai entrar para os anais do prêmio.

Arquitetos convidados:

Nilton Paes,Perla Felinto, Davi Lucena, Karla Barros e Márcia Barreiros

Local HIFI

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VIAGEM DE ARQUITETO

CORES E

HISTÓRIA

A cidade do México guarda muitos elementos do seu passado azteca

E

ncantadoramente diversificada, a paisagem da cidade do México surpreende a cada esquina. Escolhemos a região da praça dos mariachis para hospedagem. Ali, era possível sentir a cidade que abriga mais de 123 milhões de habitantes. Seu dia-a-dia e a vivência com o patrimônio cultural espalhado pela cidade. Mas o México foi muito mais que isso! A história da colonização espanhola sobre as civilizações pré-colombianas está contada e demonstrada no centro da cidade, nas edificações de estilo eclético e nas igrejas erguidas em estilo barroco. O mais incrível é que ainda há resistência, porque ainda existem descendentes diretos dos povos aztecas que trabalham e residem na Cidade do México. É possível até ouvir dialetos. Em meio à grandiosidade das construções barrocas, neoclássicas e ecléticas, vê-se o ponto de origem da Cidade do México – Tenochtitlán, capital do império azteca – no Zócalo e Plaza Mayor, área central do roteiro histórico. A origem de Tenochtitlán é atribuída ao deus azteca Huitzilopochtli que dizia que a capital seria construída no local onde eles encontrassem uma águia comendo uma serpente. O símbolo da águia e da

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serpente continua importante até hoje e faz parte da bandeira do México. As ruínas deixadas pelos mexicas (aztecas) e iniciadas por outras civilizações (olmecas, toltecas, teotihuacanos, zapotecas e maias) que ergueram uma suntuosa cidade, hoje, está abaixo das ruas e ainda é possível se apreciar o processo de escavação para emergir o que foi sucumbido pela conquista espanhola. O embasamento das edificações, das igrejas por exemplo, são as bases das pirâmides que foram construídas por essas civilizações. A história dos povos pré-colombianas é muito importante. A herança arquitetônica das pirâmides pode ser apreciada em Teotihuacan, o centro urbano da mesoamérica pré-colombiana, a nordeste da atual Cidade do México, onde se vê pirâmides significativas, além de complexos residenciais multifamiliares e o desenho da urbanização delineada pela Avenida dos Mortos, seccionando a cidade pelas castas de forma social e econômica. Teotihuacan foi estabelecida por volta de 100 a.C. construída continuamente até aproximadamente 250 d. C. Percebe-se que a cidade foi desaparecendo e parte das construções estão sob o solo, depois de invasões, saques e guerras.


A mais famosa pirâmide é a do Sol (sendo a terceira maior do mundo em altura). Construída no séc. II d.C, situa-se no lado leste da Avenida dos Mortos, na metade norte da cidade, que é considerada o centro de Teotihuacan. Ela está voltada para o oeste de modo que no solstício de verão, o sol se põe exatamente na sua frente. Tem 225m de lado, 65m de altura. É possível subir ao topo por uma escadaria em pedras bastante íngreme. uma escadaria cerimonial que conduz ao cume onde existia um templo para realizar sacrifícios e oferendas aos deuses, infelizmente destruida juntamente com a parte mais alta da pirâmide. A Pirâmide da Lua tem uma altura de 45 m e está situada a norte, encabeçando a Avenida dos Mortos. O México tem muitos museus, e a visita ao Museu de Antropologia para entender a história das grandiosas civilizações que deram origem à Cidade do México para apreciar, entre as obras, artefatos pré-colombianos de uma riqueza imensurável é obrigatória. A arte de Diego Rivera, importante artista do país e bastante enaltecido, política e artisticamente está exposta em vários museus da cidade entre eles o Palácio das Artes e o Museu Nacional de Arte do México. As cores do México, expressas na profícua obra de Frida Kahlo, companheira de Diego Rivera, estão presentes em sua residência, La Casa Azul, localizada em Colonia del Carmen, em Coyoacán, na porção sul da cidade do México, numa área de vanguarda intelectual

da década de 1920. A casa, como a maioria das outras estruturas no bairro, é construída em torno de um pátio central com um jardim, uma tradição desde os tempos coloniais. Ao assistir o filme Frida, vi um passeio romântico que ela fizera com seu companheiro Diego Rivera e, assim, fomos conhecer Xochimilco, situada na parte central da capital Mexicana. O nome da cidade deriva dos vocábulos náuatles xōchi (flor), mīl (milpa, campo cultivado) e co (local), que combinados significam local de cultivo de flores ou milpa de flores. Xochimilco é popularmente conhecida pela sua extensa rede de canais que restou do antigo Lago Xochimilco e onde se pode passear nas coloridas trajineras identificadas com nomes femininos. Detalhe que, ao fazer o passeio, todas as mulheres ganham rosas. Surreal é a palavra que descreve esse passeio. E de romântico, passou a ser uma pitoresca navegação por um congestionado canal onde se via de tudo: famílias que vivem do comércio sobre a água, mariachis e suas lindas cantorias e vestimentas, restaurantes flutuantes com iguarias picantes e festas sobre os barcos (super recomendo!!). Descobrimos ainda mais cores na vida, na cultura, na culinária apimentada, e a tequila? Ficou para a próxima viagem!

Texto e fotos:

Aline Montenegro

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SALA DE AULA

A MATEMÁTICA

FUNDAMENTAL Apesar de empresas especializadas tratarem do assunto, o levantamento de obra continua um fundamento importante para o estudante de Arquitetura

Texto: Renato Félix | Fotos: Divulgação

A

arquitetura possui um lado de arte e um lado de matemática. E é no lado da matemática que entra o levantamento de obra, a apuração das dimensões, que, se não tem uma disciplina específica nos cursos de Arquitetura, é um tema que é abordado durante todo o curso. “Realmente em questões de arquitetura e design de interiores, como a gente trabalha com os dois campos, essa parte do levantamento é meio que segmentada da parte mais conceitual, que passa pelo subjetivo”, explica Yane Diniz, professora do Instituto de Educação Superior da Paraíba (Iesp). “E acontece que existem empresas especializadas para essa parte mais operacional. Na entrega de um projeto de arquitetura, isso acaba entrando como projetos complementares”. A existência desse nicho de mercado deixa o arquiteto mais livre para se dedicar ao seu

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potencial criativo. Mas, com isso, ainda é importante aprender a fazer o levantamento de obra? “É necessário porque essa técnica é que dá segurança à criação”, afirma a professora. “A partir do momento do que é possível fazer tecnicamente, você consegue extrapolar alguns limites, saindo de uma rigidez criativa que, às vezes, satura o mercado”. O levantamento de obras não é apenas uma questão de tirar medidas. “Tirar medidas é o básico do levantamento”, diz Yane. “O grande lance é compatibilizar essas medidas. Porque se a gente for fazer o levantamento de esquadrias, de pontos elétricos, e a partir do momento que a gente joga tudo isso num projeto só, vão haver incompatibilidades. Na verdade, só é possível desenvolver o projeto com essas compatibilidades”.


Tanto em arquitetura quanto em interiores, diversos ítens precisam ser medidos. “Elétrica, hidráulica, esquadrias, pontos de luz...”, diz a professora. “A gente deve considerar a estrutura que existe além da alvenaria, os pontos estruturais”. As questões matemáticas podem se tornar uma dificuldade para os alunos. “A gente começa a trabalhar com eles assim que eles chegam à faculdade”, explica Yane. “A partir das disciplinas de Desenho Arquitetônico. É muito novo pra eles, tem estudantes de arquitetura que ainda não sabem ler uma planta baixa”. Os exercícios começam pelo levantamento da própria sala de aula. “Esse exercício é muito interessante porque a gente passa de um desenho de observação – como é que ele enxerga a sala dele – e quando ele vai compatibilizar com as medidas reais, às vezes eles desenham um quadrado e a sala é retangular. E isso é um exercício constante. Com o tempo você já está observando o ambiente e fazendo um levantamento crítico desse ambiente com o olhar”. Entre os instrumentos usados no levantamento, um destaque é a trena eletrônica. “É uma mão na roda”, diz a professora. “Como os profissionais se formam e ainda não contam com estagiários, ela possibilita que a gente tenha autonomia nesse levantamento. Mas ainda são necessárias as fitas métricas comuns, que ainda são muito usadas”. Quanto aos aplicativos, Yane Diniz ainda não os considera confiáveis. “Ainda não existe uma precisão nesses aplicativos. Eu usei e fui conferir e as medidas não estavam batendo. Eu não confio, os aplicativos disponíveis sempre deixam a desejar”, opina.

Para ela, o olho humano ainda é insubstituível. “A gente prega que o estudante de arquitetura ainda deve saber pegar no lápis e no papel e deve saber utilizar uma trena comum”, diz a professora. “Esse resgate às técnicas manuais faz com que ele desenvolva o saber. Essas noções antropométricas eles só vão saber quando pegarem no papel. Então o projeto de arquitetura ainda nasce com o lápis na mão, o papel e essas medidas em escala. É quase uma filosofia de vida mesmo”.

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CARTA DO LEITOR

Nós queremos ouvir você É com prazer que aceitamos a sua opinião, críticas, sugestões e elogios. Entre em contato conosco:

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CARTAS: Prezados, Venho cumprimentar-lhes pela excelência na publicação da Revista AE, notadamente a de nº 63. De muito bom gosto e qualidade cujas matérias revelam o quão importante é a divulgação de temas, opiniões, entrevistas e atualidades e tendências, sem deixar de lado a responsabilidade editorial. Como construtor, é sempre muito salutar ver que em nossa cidade, há profissionais de ponta e antenados com o que há de mais moderno e funcional na gestão e pensamento de projetos. Nossos parabéns a todos. Reginaldo E. Chaves Diretor de Planejamento e Produção Cone Construtora Nordeste Ltda.

Obrigada, Reginaldo, é devido a leitores e formadores de opinião como você que continuamos nosso trabalho. _____________________________________________________ Muito conteúdo essa revista, vocês conseguem nos ajudar em qualquer fase de nossa vida. Seja com textos, ideias ou mesmo apresentando esses excelentes projetos. Um detalhe: fui conhecer o mercado Classe A por causa da revista, (risos). Obrigada a todos que fazem a AE. Mabel Couto, estudante João Pessoa - PB

Ficamos muito felizes em poder ajudar, Mabel. Continue nos acompanhando. Abraço!

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Amei a última edição e da forma que se diferenciaram na capa. Excelente escolha, muito boa . Abraço! Aline Fernandes Cabedelo-PB

Obrigada, Aline. Você é bem atenta aos detalhes, parabéns ! _____________________________________________________

Vocês não têm ideia do quanto eu gosto da AE,. Sou de São Paulo e curto muito ver os projetos do Nordeste. Sempre têm uma pegada que se diferencia de nós por aqui. Continuem com esse trabalho de divulgação que é maravilhoso. Leila Aragão São Paulo-SP

Obrigada Leila, ficamos felizes que goste tanto do nosso trabalho. Abraço! _____________________________________________________

contato@artestudiorevista.com.br @revistaae


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PONTO FINAL

Um processo de design profundo, eventualmente, torna o

cliente, o arquiteto e todos os visitantes ocasionais de um edifĂ­cio

seres humanos levemente melhores

JUHANI UOLEVI PALLASMAA

Arquiteto, professor da Universidade Aalto

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+55 (83)

3021.8308 / 9 9857.1617

c o n t a t o @ a r t e s t u d i o r ev i s t a . c o m . b r w w w. r ev i s t a a e . c o m . b r

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