Revista AE 68

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Ano XVIII nº 68 | revistaae.com.br

arquitetura & estilo de vida arquitetura & estilo de vida

EM CASA

Como a ergonomia ajuda o home office

QUADRINHOS

João Pessoa vira cenário para a Mulher-Maravilha

TUDO NO LUGAR

O ‘personal organizer’ dá uma força para os bagunceiros

IRRECUPERÁVEL

Painel de azulejos em projeto de Acácio Borsoi na UFPB é destruído

VOLUMES E MINIMALISMO

Elementos marcam o projeto de uma casa de 300m2 em condomínio fechado

+ Uma forma de cobrar por projeto de arquitetura, a história da despensa e o crescimento das mesas postas




SUMÁRIO

Ano XVIII Edição 68

CONHEÇA 29 LIVRO

Publicação orienta como cobrar por seus serviços

30 GRANDES ARQUITETOS

Francis Kéré e a preocupação social na arquitetura

32 ACERVO

UFPB destrói um painel modernista em obra de Acácio Gil Borsoi

36 REPORTAGEM

A ergonomia nos novos tempos profissionais

38 A HISTÓRIA DE

Do uso do sal à sofisticação dos espaços, a despensa virou importante anexo à cozinha

64 ESPECIAL

Mulher-Maravilha passeia por João Pessoa em novo gibi

38 30

ARTIGOS VIDA PROFISSIONAL 12

Maurício Guimarães conta uma metáfora para ajudar na mudança de comportamento

VISÃO LATERAL 14

Helio Costa Lima comenta o projeto arquitetônico para a estação brasileira na Antártida

VISÃO PANORÂMICA 16

Amélia Panet discute a relação do local de origem com a identidade

VÃO LIVRE18

Arthur Brasileiro reflete sobre o paisagismo moderno e sustentável

URBANISMO 20

Carolina Junqueira reflete sobre o urbanismo e a arquiteutra na cidade pós-pandemia

PONTO FINAL 72

A importância da vida por Oscar Niemeyer

6



ENTREVISTA ENTREVISTA 24

Ricardo Botelho fala do método que criou para ajudar os arquitetos e designers em suas vendas

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60 DICAS REPORTAGEM

60

O personal organizer é uma ajuda para colocar o lar em ordem

PROJETOS ANTES E DEPOIS 40

Reforma de cozinha por Pati Cillo transformou cômodo em protagonista

INTERIORES 42

Projeto de Roberta Giglio conecta ambientes e dá vida nova a apartamento

CAPA 48

Jogo inusitado de volumes em projeto de Renan Vila Flor

INTERIORES

56

Apartamento de 32m2 ganha versatilidade em projeto de Celso Rayol e Fernando Costa 8

NOSSA CAPA nº 68 Projeto: Renan Vila Flor Foto: Christian Woa



arquitetura & estilo de vida ANO XVIII- Edição 68

EXPEDIENTE Diretora | Editora geral : Márcia Barreiros Editor responsável : Renato Félix, DRT/PB 1317 Redatores : Alex Lacerda,Débora Cristina, Lidiane Gonçalves e Renato Félix

Diretora comercial : Márcia Barreiros Projeto gráfico : George Diniz Prod. e diagramação : MB Fotógrafos desta edição : Diego Carneiro, Vilmar Costa e indicados

QUEM SOMOS

MÁRCIA BARREIROS editora geral e diretora executiva Colaboradores desta edição:

AE é uma publicação trimestral nesse ano de 2020 e totalmente digital, com foco em arquitetura, decoração, design, arte e estilo de vida. A reprodução de seus artigos, fotografias e ilustrações requer autorização prévia e só poderá ser feita citando a sua fonte de origem. As colaborações e artigos publicados e fotos de divulgação são de responsabilidade exclusiva de seus autores, não comprometendo a revista, nem seus editores.

ONDE NOS ENCONTRAR Contato : +55 (83) 9 9857.1617

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RENATO FÉLIX editor de jornalismo

artestudiobr @AERevista Revista AE Artestudio As matérias podem ser lidas, também, no nosso site com acesso a mais textos, mais fotos e alguns desenhos de projetos.

www.revistaae.com.br www. artestudiorevista. com. br

GEORGE DINIZ designer gráfico


EDITORIAL

O DESAFIO

CONTINUA AMÉLIA PANET arquiteta e urbanista

ALEX LACERDA jornalista

HÉLIO COSTA LIMA arquiteto e urbanista

DÉBORA CRISTINA jornalista

MAURÍCIO GUIMARÃES coach e consultor

LIDIANE GONÇALVES jornalista

O mundo ainda vive o desafio de vencer a pandemia da covid-19. O Brasil, principalmente. Ao contrário de outros países, o nosso não conseguiu nem reduzir para valer os índices diários de infecções e mortes – muito por nossa irresponsabilidade de quem deveria fazer de tudo para esses índices não serem tão altos e por tanto tempo. A Europa já começa a viver a ascensão de uma segunda onda ainda nem saímos completamente da primeira. Por isso, a arquitetura também precisa lidar com essa questão. A vida das pessoas está mudando: dentro de casa, nas ruas, no trabalho. As relações interpessoais terão mudanças permanentes? Como será o convívio póspandemia, tendo em vista que não sabemos quando virá essa “pós-pandemia”? E como será a circulação de dinheiro? A AE abordou o assunto na edição passada em várias frentes, a partir da área que é nosso assunto primordial. Nesta, mais uma vez vamos falar dessa adaptação do home office, ou trabalho remoto, agora abordando a importância da ergonomia para quem vai trabalhar de casa. Mas como sempre o cardápio da AE é variado. Entre outros temas, abordamos a destruição de um painel de azulejos que compunha o projeto arquitetônico da reitoria da Universidade Federal da Paraíba. Um atentado à história do lugar que escandalizou os especialistas em artes plásticas e arquitetura. E, claro, os projetos dos nossos parceiros, que nunca podem faltar. Boa leitura!

ARTESTUDIO

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VIDA PROFISSIONAL

O DIA EM QUE

O ÚNICO NAVIO ZARPOU Numa situação-limite, só a mudança de postura e comportamento e metas objetivas podem salvar a pele

E

screvi na coluna anterior sobre os dez motivos para você não desistir do seu negócio e me veio uma ideia para ajudar ainda mais nesse momento de mudanças tão repentinas e desafiadoras que o mundo vive. Vou contar uma história de um país chamado Tuvalu. Uma nação remota, insular, composta de nove ilhas, localizada no Pacífico, entre o Havaí e a Austrália. Um país que recebe uma das menores quantidades de visitantes por ano, cerca de 2 mil. Ameaçado pela elevação dos oceanos, diz-se que vale à pena visitá-lo antes que ele suma do mapa, pois é um paraíso tropical intocado. Certa vez, o governo do país se deparou com um grande desafio: uma ameaça de tsunami que devastaria o lugar. Resolveu tomar uma atitude inusitada: criar regras para que seus moradores mais preparados pudessem partir no único navio que dispunha para salvar parte da população. Ele criou a seguintes ações: mostrar o perigo; definir cinco tipos de comportamentos inadequados e buscar melhorá-los, evidenciando com testemunhos de outras pessoas; estimular a população a ser mais solidária e parceira; e criar um plano para recomeçar a vida. O governo já havia feito um acordo com a Austrália, que é um país estável e que não vê recessão há pelo menos 29 anos. O acordo seria a Austrália ceder uma parte de seu território para os 200 habitantes (capacidade do navio) que, após serem selecionados, sobreviveriam ao adentrar no navio que zarparia do país. Começou então um alvoroço no pequeno lugar. Foi aquela correria para entender melhor as regras impostas pelo governo. Muitos não acreditaram no tsunami, outros se desesperaram

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e alguns decidiram encarar o desafio por dois motivos: sobreviver e ter a oportunidade de ir para um lugar promissor, com possibilidades de ascensão na vida. O prazo exíguo se esgotou e chegou o grande dia da partida. O navio, precário, mas abastecido de comida e combustível suficientes para chegar ao seu destino, aportou no único píer daquele lugar. Formou-se uma grande fila de interessados, mas nem todos tinham sequer as evidências na mão sobre o cumprimento das regras. Numa grande mesa branca, com 12 cadeiras, estava a comissão julgadora. A primeira pergunta era: por que você deve ser salvo? Muita gente não conseguiu sequer responder e já ia ficando para trás. Os que passavam de etapa tinham que evidenciar as mudanças de comportamento, o que fez para ser mais solidário e parceiro e o seu plano futuro. Os moradores que conseguiam passar por todas as etapas recebiam uma pulseirinha verde e podiam adentrar o navio, onde eram recebidos com festa pelos tripulantes. O navio zarpou. Ficaram para trás quase 12.000 moradores que desistiram, não acreditaram ou não conseguiram mudar seus comportamentos. Não precisa dizer que ficaram atônitos, pois sua única chance seria aquela e tiveram que aguardar o cataclismo que viria pela frente. Você observa alguma semelhança entre essa metáfora e a nossa realidade atual? Se não, farei agora a analogia para ajudar. Primeiramente, gostaria de esclarecer que Tuvalu existe e todas as informações geográficas e de governo são reais. Tuvalu faz parte da comunidade britânica e tem a monarca inglesa Elizabeth II como chefe de estado. O tsunami foi


criado para podermos nos apoiar numa situação de ruptura comportamental semelhante ao que estamos passando diante da pandemia. Convivemos com um grande desafio: sair dessa pandemia mais fortes, enquanto profissionais empreendedores. Vamos então, à analogia: Regra 1: por que ser salvo? Querer ter resultados melhores implica em entender os motivos para tal. Você precisa ter definido esse objetivo com clareza. Se ainda não tem, descreva numa folha de papel em branco. Volte a ler no dia seguinte para ter certeza que é isso mesmo que quer. Regra 2: definir cinco tipos de comportamentos inadequados e buscar melhorálos. Em suas reflexões no isolamento, certamente você identificou alguns comportamentos empresariais ou até pessoais que não o levarão a outros patamares. Essa é a hora de também escrevêlos e passar a se esforçar mais se adequando aos novos tempos. Regra 3: ser mais solidário. Aqui vou explorar duas coisas: a solidariedade no sentido pleno, onde temos que ser pessoas que servem aos outros e, olhando para o lado profissional, a pessoa que não tem o receio de apoiar/ ajudar, sendo parceiro e desprendido de orgulho frente ao seu conhecimento. Como você está neste quesito hoje? Regra 4: criar um plano para recomeçar a vida. Provavelmente você não precisa necessariamente recomeçar, mas precisa ter um plano claro, diferenciado, para iniciar um novo ano com desafios. Precisa ser algo real, com metas claras. Busque os recursos se não os tiver, acredite e corra.

Ademais, entenda esse navio da metáfora de Tuvalu como sendo a oportunidade que tem de se fortalecer e criar um ambiente favorável para tal. Por fim, desejo sucesso, porque sorte está ligada ao acaso e o sucesso, ao seu esforço.

Fotos e imagens: Divulgação

MAURÍCIO GUIMARÃES

Master Coach e Mentor de empreendedores www.seivaconsultoria.com.br

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VISÃO LATERAL

ACOMODANDO A

CIÊNCIA NO FRIO

Projeto para a Estação Antártica Comandante Ferraz, na Antártida, é marco da competência brasileira em arquitetura

U

m dos maiores eventos de cooperação internacional em pesquisa científica com fins pacíficos, o Tratado da Antártica foi assinado em dezembro de 1959 e passou a vigorar a partir de junho de 1961. O Brasil, embora tenha composto o Comitê Especial para Pesquisas Antárticas (SCAR), que deu origem ao tratado, só aderiu efetivamente a ele em 1975. No início da década de 1980 – apesar das dificuldades impostas pelos escassos recursos financeiros que o Estado brasileiro historicamente destina à pesquisa científica – começa a ser construída, na Península Keller, uma base científica que passa a operar em fevereiro de 1984 com o nome de Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF). E que se torna motivo de orgulho dos brasileiros por assegurar a nossa participação nesse esforço de cooperação científica internacional de alta relevância. Em fevereiro de 2012, o Brasil amarga a notícia de um incêndio que destruiu parte da EACF, e que poderia comprometer a continuidade das pesquisas científicas brasileiras na Antártica e a própria permanência do país no tratado internacional de exploração científica do continente gelado. Imediatamente, numa ação inusitada pela rapidez e pela concertação de diversas entidades públicas e privadas, o governo brasileiro, através do Ministério da Ciência e Tecnologia, do Ministério do Meio Ambiente, da Marinha do Brasil, de instituições de ensino e pesquisa, e com o suporte da Frente Parlamentar do Proantar (Programa Antártico Brasileiro), iniciou um Plano de Reconstrução da EACF. Já em 22 de janeiro de 2013, o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB),

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Fotos: Divulgação

que se engajou nesse esforço, lançou o Concurso Internacional de Projetos de Arquitetura para a Nova Estação Antártica Comandante Ferraz. Esse concurso ficará para a história da arquitetura brasileira como uma das experiências mais bem sucedidas de confirmação da competência técnica dos nossos arquitetos. Não só por ter sido conquistado por uma equipe de jovens profissionais que demonstraram, em uma competição internacional, sua capacidade de realizar um projeto de arquitetura de alta complexidade técnica e para condições climáticas ultra rigorosas, mas também por ter demonstrado que os concursos públicos de arquitetura são a modalidade de licitação mais eficaz e transparente para contratação de projetos de edifícios e equipamentos urbanos públicos. Entre o lançamento do concurso, em janeiro de 2013, e a inauguração do complexo, em janeiro de 2020, transcorreram-se 7 anos. Prazo que pode ser considerado hábil, frente à complexidade da metodologia de projetos e da logística de construção, imposta pelos rigores do clima antártico e pela alta exigência técnica da obra. Desde a concepção da sua forma aerodinâmica e de um sistema estrutural para enfrentar ventos com velocidade superior a 200 km/h, o projeto arquitetônico é em tudo impecável. Passa pelo desenvolvimento de um sistema modular que permitisse a montagem no local de partes de um conjunto pré-fabricado fora, e com dimensões condicionadas aos limites de espaço de navios e balsas de transporte capazes de operar naquela região – já que obras no local só podem ser executadas em metade do ano, no verão antártico, e que as


operações de atracação e descarga são de alto risco – até o desenvolvimento de estratégias de isolamento térmico para garantir habitabilidade com reduzido consumo de energia. E design de ambientes capazes de assegurar o bem estar físico e psicológico das equipes de pesquisa, que ficam praticamente confinadas ao longo de meses numa região inóspita, sob uma temperatura externa em torno de zero graus Celsius no verão na zona costeira. Além de rigorosos cuidados para redução do impacto ambiental da obra e do conjunto edificado ao longo de sua vida útil e posterior desmonte e retirada, dada a sensibilidade do ecossistema local.

Com esse projeto, e com a obra de qualidade que dele resultou, o Estúdio 41, liderado pelos arquitetos Emerson Vidigal, Eron Costin, Fabio Henrique Faria e João Gabriel Moura Rosa Cordeiro, resgatou o orgulho do brasileiro em sua capacidade tecnológica. Orgulho que, no passado, a nossa arquitetura moderna dos anos 1930-60 representou, como a verdadeira proclamação da independência e da criatividade do Brasil frente as amarras impostas por nações estrangeiras ao seu desenvolvimento tecnológico nos períodos colonial e pós-colonial. Que nos sirva de exemplo doravante.

HÉLIO COSTA LIMA Arquiteto e urbanista

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VISÃO PANORÂMICA

QUAL É O SEU

E

A relação e reflexão do local de origem com a nossa identidade por pensadores da arquitetura

m O Campo Ampliado da Arquitetura, Anthony Vidler, historiador e crítico de arquitetura, reflete sobre a preservação e integridade individual de cada arte – uma vez que, na prática, parece não mais existir divisão entre as várias expressões artísticas – e assume a ampliação do campo disciplinar da arquitetura e a reconstrução dos seus fundamentos de maneira plural. Essa questão não é de hoje, assim como tais distinções, pois desde o Iluminismo as reflexões vão além da relação entre forma e função, como afirma Vidler. O autor nos lembra das obras de Richard Serra, Robert Irwin e Dan Graham onde a relação do corpo no espaço é fundamental para a vivência com as obras. Não precisamos ir tão longe quando temos a brasilidade de Helio Oiticica com suas obras penetráveis descortinando outros parâmetros de participação do público nas décadas de 1960 e 1970. Quem pode dizer que tais expressões são apenas devaneios da estética? Ou, que não existe uma “função social” ao possibilitar a experiência metafísica margeada por limites insólitos da arte? Em 2005, Vidler afirmava que a arquitetura, na ampliação do seu campo, havia encontrado inspiração “num conjunto de disciplinas e tecnologias que vão do paisagismo à animação digital”, conferindo multiplicidade e pluralidade às expressões. Com essas bases não mais singulares, como outrora, a arquitetura ainda hoje procura reconstruir os fundamentos da disciplina, procurando superar os dualismos ainda tão presentes em nossas aulas de arquitetura como, “forma e função”, “historicismo e abstração”, “utopia e realidade”, entre outros. Dentre essas bases que colaboraram para a reconstrução dos fundamentos da arquitetura está a relação “lugar e tecnologia”, que, para Steven Moore, poderia retomar o regionalismo por uma perspectiva contemporânea ao ressignificar o conceito de moderno, ou não moderno, lugar e sua relação com a tecnologia. No seu manifesto não moderno, Moore sugere alguns pontos a favor do “regionalismo regenerador” aquele que, entre outros, seria capaz de construir ambientes sociais

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LUGAR? generosos para serem vivenciados de modos diferentes. Moore também se refere a Agnew, autor de Place and Politics , para argumentar que “tornarse moderno”, na virada do século XIX e primeira metade do século XX, promovia um rompimento dos laços com o lugar de origem para adotar uma personalidade “voltada para o desempenho” com posturas universais e cosmopolitas. Essa postura que ocasionava a negação do lugar de origem para cogitar-se moderno tinha suas bases na ideia equivocada de que “o comportamento social pudesse ser de algum modo determinado pelo contexto do lugar” como aborda Moore em “Tecnologia, lugar e regionalismo não moderno”. Embora essas questões tenham assento no século passado, como estão vivas em contextos brasileiros, onde ainda prevalecem relações assimétricas e certa soberania entre pessoas do Sul e Sudeste, em relação ao resto do país, ou mesmo, entre nascidos em capitais “desenvolvidas” em relação às pessoas do “interior”. E como alguns brasileiros valorizam as pessoas, tecnologias, objetos e costumes “estrangeiros” em relação aos nossos. Aí estão alguns aspectos que alimentam os preconceitos, entre eles, o racismo, a superioridade branca e masculina. Paradigmas como esses, sem conhecimento de suas bases de surgimento, colaboram para a reprodução de posturas vazias e descontextualizadas que dificultam a compreensão e ressignificação de valores que poderiam reconstruir fundamentos essenciais para a renovação disciplinar. Na arquitetura, a compreensão do fenômeno do lugar é essencial para a valorização de aspectos próprios e peculiares de cada cultura, ambiente, espaço e tempo. O geógrafo John Agnew, citado por Steven Moore, apresenta a existência de um “sentimento de lugar”, uma visão sensorial da complexidade poética do lugar, abordagem bem afinada com a fenomenologia que procura revelar os predicados de um lugar e as relações sociais constituíveis. O importante para os dois autores citados é compreender “o conceito de lugar como um


processo dinâmico que liga humanos e não humanos no espaço, em uma variedade de escalas” e, com isso, ultrapassar a dicotomia daqueles que veem o lugar como estruturas objetivas e aqueles que o percebem “como um conjunto de mitos românticos ligados a e xperiências subjetivas”. Por sua vez, a tecnologia também é definidora de “lugares” no mundo social e, sem dúvida, objeto de poder e dominação. Ao falar de acesso à tecnologias nos damos conta dos abismos que existem na sociedade. Nesse contexto de pandemia e isolamento social foi possível ver em que “lugar” se encontra cada um de nós na sociedade, com relação ao acesso às tecnologias de comunicação remotas, por exemplo. Citando Norberg-Schulz, em O Fenômeno do Lugar, “é evidente que o lugar faz parte da existência”, e é muito mais que uma localização geográfica, possui relação com a nossa identidade, definida por um “sistema de pensamentos desenvolvidos” ao longo da nossa vida. Que palavra rica é “lugar”, lugares de pessoas, de coisas e mundos. Qual o “lugar” da arquitetura nesse contexto de isolamento? Qual o seu “lugar” na arquitetura? Qual o seu lugar” de fala?

Obra Richard Serra

Obra Robert Irwin

Obra Helio Oiticica

Obra Dan Graham

AMÉLIA PANET

Arquiteta e urbanista Mestre em Arquitetura e Urbanismo Doutora em arquitetura e urbanismo pela UFRN Professora do curso de arquitetura e urbanismo pela UFPB

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VÃO LIVRE

ARQUITETURA DA PAISAGEM

SUSTENTÁVEL

P

Qualidade de vida e respeito à natureza são valores para o fundamentais paisagismo moderno

ensar na arquitetura de uma construção é de igual importância a pensar a arquitetura de fora, a arquitetura da paisagem. E é aí onde entram em cena os paisagistas dispostos a deixar os jardins, áreas de lazer e espaços públicos, mais bonitos, funcionais e prazerosos para todos os usuários destes espaços. Paisagismo sustentável é trabalhar com critério e responsabilidade a natureza e a paisagem a serviço das pessoas, nas diversas escalas, sob princípios da sustentabilidade. É ciência e arte, unidas como ferramenta de interação a serviço das pessoas, das cidades e da natureza. O paisagismo deve ter equilíbrio e respeitar elementos como vocação, biodiversidade, educação, economia racional e integração à natureza e seus ciclos. As políticas de áreas públicas como parques e praças nas cidades e a ética do paisagismo privativo, sejam residenciais ou corporativos, têm de cumprir tais funções, cada qual à sua maneira. O paisagismo sustentável gera mais qualidade de vida e vai bem além de cenários bonitos, pois respeita a natureza. Os projetos sustentáveis proporcionam estabilidade térmica para as construções e tornam o ambiente ameno e confortável, o que vai muito além de estética. Eliminar substâncias tóxicas do espaço, evitar o consumo de água, proporcionar a conservação do solo e utilizar plantas nativas e específicas para cada clima, preservando a natureza e conservando os ecossistemas. Além disso, o paisagismo oferece melhorias ecológicas, clima agradável e alta qualidade do ar, benefícios sociais em relação ao lazer com a família e os amigos e também a melhora psicológica: as pessoas ficam em contato com elementos naturais que proporcionam relaxamento e alívio do estresse cotidiano.

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Tecnologia em benefício da sustentabilidade O profissional deve projetar utilizando tecnologias que venham a contribuir para que a paisagem se torne sustentável. É aí onde o paisagismo, a arquitetura e engenharia se integram. São telhados verdes, que captam as águas pluviais e reutilizam na irrigação da vegetação inserida nesta cobertura, além de proporcionar um maior conforto termo acústico para a edificação. As paredes verdes realizam a mesma função termo acústica nas fachadas, além de serem ideais para espaços pequenos para a implantação de jardins. A captação das águas pluviais, tanto pela coberta das edificações como do próprio solo, também é importante para o processo sustentável. No caso da coleta das águas pluviais pelo próprio solo, em alguns casos, quando o solo é pouco permeável por ser pedregoso, utiliza-se mantas coletoras abaixo do substrato, para coletar a água e canalizar para cisternas. A coleta das águas cinzas, que são provenientes das pias do edifício, e até as águas negras, desde que sejam tratadas em uma estação de tratamento no local do projeto; sendo essas águas direcionadas para a irrigação dos jardins. Como também, a coleta das águas provenientes dos sistemas de ar condicionados que normalmente são desperdiçadas, mas que podem contribuir com a irrigação das plantas. A utilização de elementos construídos como materiais de revestimentos, pisos e decks, alvenarias, pedras, etc, devem ser bem pensada nos projetos. Pedras encontradas em jazidas próximas da região, não utilizar produtos com COV


(Compostos Orgânicos Voláteis), como colas, tintas e vernizes que emitam químicas prejudiciais ao meio ambiente. A reutilização de produtos descartados é muito bem-vinda! Reutilizar pneus velhos para criar canteiros e jardineiras, garrafas de vidro para jarros. Também existe a possibilidade de garrafas pets descartadas ser utilizadas como jarros, ou serem trituradas e destinadas para diversas utilidades, como a criação de tijolos, telhas e como preenchimento termo acústico para telhas sanduíches. A especificação das plantas também influencia e muito um projeto paisagístico eficaz quando se trata de sustentabilidade. Utilizar espécies nativas e adaptadas ao clima do local onde será implantada influenciará em várias questões, pois estas espécies exigem pouca manutenção, são mais difíceis de adoecer e precisam de menos água para sobreviver. Ter cuidado com gramíneas também é muito importante, principalmente com as que exigem um grande volume de água e gastos com manutenção. Espécies nativas tolerantes a períodos de seca, composições arbustivas, coberturas vegetais e espécies perenes podem ser boas opções de substituição. Utilizar cactáceas e suculentas são excelentes opções para um paisagismo sustentável, onde estas plantas têm exigência mínima de água. Mas um projeto paisagístico não deve ficar restrito a essas espécies de plantas.

O papel dos profissionais está em prevenir a erosão e sedimentação do solo; restaurar a vegetação e demais itens ecológicos, criando um habitat apropriado à fauna local; maximizar espaços abertos; e executar a manutenção com métodos eficientes para garantir saúde, limpeza e segurança.

Arq. Ezequiel Farca

Certificações para projetos paisagísticos As certificações ambientais que estão bem em evidência nos tempos de hoje, não são específicas para projetos paisagísticos, mas sim, de construções sustentáveis. Porém, todas elas afirmam que para uma construção ser sustentável, elas devem estar 100% ligadas aos projetos paisagísticos.

Arq. Ezequiel Farca

ARTHUR BRASILEIRO

Arquiteto Paisagista

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URBANISMO

INCERTEZAS

O futuro do urbanismo e da arquitetura na cidade da pós-pandemia

R

oma não foi construída em um dia nem as cidades foram moldadas na primeira pandemia. Dos espaços públicos aos ambientes domésticos, políticas higienistas para combater a proliferação de doenças foram e continuam sendo grandes influências no urbanismo e na arquitetura dos nossos centros urbanos. Exemplos não faltam para confirmar a teoria. Foi durante a cólera, no séc. XIX, que os esforços para garantir água limpa fizeram o desenho de quadras e ruas em Londres se tornar mais retilíneo para acomodar os longos canais subterrâneos embaixo da terra. Já no início dos anos 1900, a proliferação da tuberculose e da gripe espanhola moldou o que viria a ser o banheiro domiciliar moderno nos Estados Unidos, trazendo o cômodo para dentro de casa e substituindo as banheiras e vasos sanitários de madeira por materiais mais fáceis para a limpeza, como metais e esmaltados. Enquanto isso, no Rio de Janeiro, uma reforma urbana a cargo do prefeito Pereira Passos se espelhava nos moldes europeus para destruir cortiços e instalar grandes avenidas para carros na capital. Alguns anos mais tarde, na década de 1930, a questão da densidade e o combate aos “germes mórbidos” também marcariam presença no modernismo de Le Corbusier, reforçando a predileção por espaços abertos, iluminação natural e largas vias conectoras. O movimento arquitetônico, que criou raízes fortes no Brasil, culminaria na construção da capital Brasília. Com tamanha influência das epidemias no traçado das cidades, resta agora saber o que o coronavírus deixará de legado. Epidemiologistas preveem que, sem uma vacina, o vírus continuará presente nos próximos meses ou anos, restringindo e transformando muitos dos espaços urbanos aos quais estamos tão habituados. O que podemos esperar daqui para frente?

Espaço nas ruas

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Mudanças nos espaços públicos já são discutidas por urbanistas, a começar pelas calçadas. Em Nova York, o mapa interativo Sidewalk Width NY foi criado para informar aos usuários a largura dos passeios pela cidade e demonstrar se as dimensões possibilitam ou não o recomendado distanciamento social. Com a maioria dos bairros iluminados em vermelho e laranja, indicando a insuficiência desses espaços, a metrópole americana tem um grande desafio à frente. Não por acaso, durante o pico da pandemia, o prefeito Bill de Blasio chegou a fechar mais de 64km de vias para carros como forma de ceder seu uso para os pedestres. Em São Paulo, um levantamento realizado pelo jornal Folha de S. Paulo em 2019 mostrou 41% das calçadas paulistanas não possuíam a largura mínima de 1,90 metro prevista pela atual legislação. Embora muito tenha sido discutido sobre os modais de transporte na cidade durante a pandemia, com novas medidas de rodízio sendo aplicadas para reduzir drasticamente o uso de veículos, os riscos para os pedestres seguem ainda sem solução.

Áreas verdes Com o mundo vivendo em isolamento social, poder sair e aproveitar o ar fresco nunca foi tão importante – e tão ferozmente contestado. Isso porque, com a falta de oferta ou o mau dimensionamento de parques e praças para atender a população, o risco de aglomeração pelas pessoas logo culminou no fechamento desses espaços. Com o fim do lockdown em algumas cidades da Europa e da Ásia, prefeituras tentam adaptar locais que antes viviam cheios. Na China, onde o vírus surgiu no final do ano passado, a abertura de áreas públicas e turísticas veio seguida de algumas restrições, como o uso de máscaras, limitação de visitantes e obrigatoriedade de distanciamento social.


Parc dela Distance_Precht

Já são muitos os escritórios de arquitetura especulando como será a vida ao ar livre no mundo pós-coronavírus. O estúdio austríaco Precht ousou ao projetar um parque público labiríntico, dividido por vegetações altas que permitiriam às pessoas aproveitar o ar livre sem desrespeitar o distanciamento social. Na Itália, o escritório SBGA Blengini Ghirardelli desenvolveu o C’entro, uma estrutura modular feita de fibra de vidro colorida que se encaixa delimitando um círculo no chão para até duas pessoas se sentarem dentro. Na pequena Vicchio, perto de Florença, os arquitetos do Caret Studio criaram uma intervenção visual em uma das praças históricas da cidade para destacar as novas dinâmicas sociais esperadas daqui pra frente. Com um grid de 1,8m de distância, valor sugerido para o distanciamento social, a instalação já está sendo desenvolvida também para cinemas, igrejas e academias.

Novas arquiteturas Em meio a tantos questionamentos sobre os impactos da pandemia nas cidades, é inevitável não pensar também no papel e na resiliência da arquitetura. Com estádios se transformando em hospitais de campanha, a adaptabilidade dos espaços construídos e a escolha por estruturas rápidas e flexíveis prometem influenciar as construções futuras. Na primeira edição do Podcast Cidades 21, discutimos sobre as alternativas

construtivas usadas por muitas cidades para enfrentar a pandemia. Com muitas das doenças, incluindo o coronavírus, sendo transmitidas especialmente pelo contato com superfícies contaminadas, a tecnologia poderá ser outro fator decisivo para conceber os novos edifícios. É o caso do projeto assinado pelo escritório de Zaha Hadid para a empresa de resíduos Bee’ah, nos Emirados Árabes. Desenvolvido para ter “caminhos sem contato”, tudo foi pensado para que os funcionários evitassem o toque por meio de elevadores controlados pelo smartphone e portas que se abrem via reconhecimento facial. Os complexos corporativos também estão na mira de mudanças. Se até hoje tínhamos amplos planos abertos de escritórios e uma grande densidade de mesas próximas umas das outras, arquitetos apostam que daqui pra frente empresas se organizarão em ilhas de funcionários, corredores mais largos e ambientes com janelas mais generosas para ventilação. Nos Estados Unidos, a empresa de serviços imobiliários Cushman & Wakefield está testando um novo conceito de design chamado Six Feet Office para adaptar o retorno dos funcionários aos postos de trabalho. Entre os critérios estabelecidos, o modelo sugere que escritórios contem com rotas visuais para cada equipe nos pisos e paredes, de forma a manter as pessoas a um metro e meio de distância.

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Dentro de casa Há ainda quem acredite que os edifícios de escritórios estão com os dias contados devido aos novos hábitos da quarentena dentro de casa. Como home office ou academia improvisada, a flexibilidade e multifuncionalidade dos ambientes serão algumas das apostas da arquitetura nos próximos anos, colocando em xeque o tradicional modelo de microapartamento. Além de metragens mais generosas para atender as novas atividades dentro de casa, a importância de espaços privados ao ar livre para a saúde e o bem-estar dos moradores é outra questão a ser analisada. Além de serem opções de lazer, áreas condominiais como hortas comunitárias e pátios internos podem ser de grande ajuda para fortalecer o sentimento de comunidade e vizinhança, tão caro em períodos de isolamento. Em países como o Brasil, porém, onde mais de 3 milhões de casas contam com 3 ou mais moradores dividindo um cômodo, a discussão dos espaços comuns dá lugar aos esforços de urbanistas e gestores públicos para atender o grande déficit por moradia digna. São nas favelas e nas periferias, onde a densidade e a precariedade das construções se tornam um risco para a contaminação do coronavírus, que o número de óbitos pela doença tem disparado.

para apoiar iniciativas solidárias em todo o país. Em Milão, a prefeitura tem convidado profissionais para criar dispositivos de distanciamento social em bares, lojas e espaços públicos. A ideia vem logo depois de uma chamada feita pela ONU e a Organização Mundial da Saúde (OMS), pedindo que profissionais da indústria criativa façam cartazes e campanhas visuais para divulgar conselhos de saúde durante a pandemia. Construções emergenciais de saúde, módulos de atendimento móvel e protocolos para transformar espaços em postos de atendimento são alguns dos outros projetos desenvolvidos por arquitetos para colaborar no combate ao coronavírus. Com toda ajuda sendo bem-vinda, o que não faltam são oportunidades para contribuir.

Fotos: Divulgação

Tempos de mobilização Agentes fundamentais para a transformação das cidades, arquitetos e urbanistas têm muito a contribuir para o debate. O renomado escritório britânico Foster + Partners descobriu um jeito de entreter crianças em meio à quarentena, e vem propondo uma série de desafios arquitetônicos para os pequenos. Chamada de #architecturefromhome, a iniciativa propõe atividades que incluem a construção de edifícios ou cidades de papel. No Brasil, a campanha Juntos Somos + Arq tem unido arquitetos e designers de interiores

CAROLINA JUNQUEIRA

Formada em Arquitetura e Urbanismo, escreve sobre cidades, arquitetura, design e artes visuais. https://www.cidades21.com.br/o-futuro-do-urbanismo-e-da-arquitetura-na-cidade-da-pos-pandemia/

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A Paraíba oferece a melhor infraestrutura para proporcionar uma despedida digna e respeitosa (além de ecologicamente correta) para o seu MELHOR AMIGO: O ETERNO ECO PET CREMATÓRIO. As cinzas são colocadas cuidadosamente em urnas biodegradáveis junto com uma semente e a partir daí, a própria natureza se encarregará de retornar a vida através de uma planta. Boas lembranças da vida merecem ser guardadas em LUGARES ESPECIAIS.

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ENTREVISTA

RICARDO BOTELHO VALORIZAR VALORIZAR

O PROCESSO O PROCESSO

O consultor conta como está ajudando profissionais de arquitetura e design de interiores a vencerem o desafio de vender bem seus serviços Entrevista e texto : Renato Félix | Fotos: Divulgação

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icardo J. Botelho tem origem universitária no jornalismo. É formado em Comunicação Social, mas enveredou pelo marketing. Fez carreira como executivo da área na Basf, onde trabalhou de 1979 a 1992. Em 1993, fundou a Ricardo Botelho Marketing, com o Brasil se recuperando da era Collor, e foi amealhando clientes importantes entre empresas de diversas áreas. Mas também começou a trabalhar para lojas de decoração, entrando no universo de arquitetura e design de interiores. De lá para cá, essa ligação se intensificou e há cinco anos ele lançou um método para ajudar profissionais da área a gerir melhor seus negócios. Nesta entrevista para a AE, ele conta como começou e dá dicas preciosas.

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AE – Como surgiu seu interesse por arquitetura, design de interiores e engenharia? RICARDO BOTELHO – Eu tenho uma carreira na área de marketing e comunicação social. Trabalhei durante 15 anos numa grande multinacional, onde era um executivo nessa área. Em 1992, decidi, então, montar meu escritório. E por vários motivos, que a gente nem sempre consegue explicar, eu fui por caminhos de prospectar clientes e acabei conhecendo um grupo de lojas então muito incipiente aqui em São Paulo, numa rua bem conhecida de decoração – que é a Gabriel Monteiro da Silva. Isso era pós Plano Collor – você lembra, em 1990, o Plano Collor confiscou a poupança de todo mundo, estava todo mundo meio sem dinheiro. E essas lojas – eram três ou quatro – estavam juntas tentando saídas para essa situação em que o mercado todo se encontrava: pessoas com alto poder aquisitivo que, naquele momento, também ficaram sem dinheiro. Então o desafio que me foi colocado foi ajudar essas empresas para buscar novos clientes. E foi aí que eu tomei conhecimento dessa área de decoração. AE – Sua entrada coincidiu com o crescimento do mercado? RB – E foi muito interessante. Aos poucos fui conhecendo com mais profundidade esse mercado, fui evoluindo e percebi que tinha tocado em algo de extremo valor. Muito embora não fosse percebido, porque naquela época o mercado era muito incipiente. Não havia muitos players. O Brasil já tinha aberto as importações. E, já mais para 1994, começamos a ter também importações de móveis e isso abriu um mercado bastante grande para essas lojas. Esse foi o ponto que me colocou nesse mercado. Comecei a estudar esse mercado, levantar dados, não existia nada disso. E essas lojas eram do Núcleo Paulista de Decoração, então esses grupos todos de loja nasceram daí. Eu praticamente fui pioneiro na organização desse grupo e depois a gente foi espalhando isso pelo Brasil. E hoje existem vários grupos de lojas com o mesmo objetivo: reunirse em torno de ações com arquitetos e designers de interiores, que são um público importante para essas empresas. AE – E quando você começou a se interessar e a se enveredar pelas áreas específicas de marketing e gestão? RB – Sempre. Nesses anos todos em que trabalhei numa empresa multinacional, sempre trabalhei com marketing e gestão. Recebi muito treinamento,

muito preparo, fiz vários cursos no Brasil e fora do Brasil. E isso me deu um background muito grande nessa área. E coloquei esse conhecimento no trabalho que fizemos com essas lojas, e depois também com a Associação Brasileira de Designers de Interiores, depois com a Asbea (Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura). Então foi sempre um trabalho muito voltado para contribuir, primeiro, para o dimensionamento do mercado. Não só no exercício da profissão de arquitetura e designer de interiores, mas também sobre o varejo da decoração. Nós fomos pioneiros e também continuamos trabalhando bastante nessa área. AE – Como é o método PDG e como você o criou? RB – O PDG nasceu dessa preocupação que eu sempre tive com a gestão dos escritórios da arquitetura. Há cinco anos eu decidi criar um método para ajudar os arquitetos a gerenciar o seu negócio. Depois de um tempo a gente foi começando a ter um perfil de clientes um pouco diferente, então nasceu a ideia de ter um método para ajudar arquitetos, designers de interiores, engenheiros, paisagistas, a gerenciar os seus negócios, uma vez que, como todos sabemos, esses profissionais têm muita dificuldade nisso. Com a finalidade de mergulhar com bastante profundidade no dia a dia do escritório e estabelecer parâmetros para que a gestão possa acontecer não mais de maneira orgânica, mas de forma planejada. AE – A questão de como cobrar por seu trabalho – se valorizando, mas sem afastar o cliente – é um dilema sempre presente para os profissionais autônomos. Por que é tão difícil cobrar justamente pelo próprio trabalho? RB – Isso para os arquitetos e para os designers de interiores é muito complicado. Hoje mesmo eu fiz um Programa de Desenvolvimento de Gestão (PDG) com quatro arquitetos e a discussão era plataforma de serviços. Na verdade, é fundamental que os arquitetos e designer repensem a oferta. O grande problema, o que está errado, é a oferta. A oferta é que precisa ser mudada e isso a gente está fazendo: criar um novo conceito de oferta, na qual cada serviço é valorizado individualmente de forma que eles possam efetivamente cobrar pelos serviços. Essa é sem dúvida nenhuma uma dificuldade muito grande. Mas o problema – o pecado original, digamos assim – é a oferta inadequada. Eu ajudo a organizar essa oferta. Fatiando os serviços, criando vários serviços individuais, independentes, de modo que o cliente começa a ver valor. E cada serviço tem por trás, também, vários procedimentos para

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AE – E como superar esse dilema? Suas palestras sobre o assunto focam em que temas? RB – As minhas palestras sempre focaram o tema da gestão. É isso que a gente vem trabalhando também. Coincidentemente vou fazer uma live sobre o tema “arquitetos não sabem vender?”. Arquitetos e designers de interiores têm dificuldade de vender. E a venda começa com a oferta adequada. E depois vamos trabalhar em cima de alguns valores. De um lado características ou personalidade, mas também muitas habilidades que o arquiteto precisa dominar e são habilidades possíveis de serem aprendidas. A gente procura investir para que os arquitetos tenham essa alavancagem na área de vendas. Não só com a oferta, mas com um portfólio adequado para venda. E isso quer dizer não só mostrar o projeto pronto, não o que já fez, mas como faz. Mostrando processo, procedimento. A venda também é resultado dessa argumentação que é desenvolvida. Além de outras características, como ter uma visão mais amarrada de todo o processo. É preciso ter autoconfiança para ter uma ação forte de determinação, e lidar com rejeição, que é muito complicado. E ter também muita resiliência: muitas vezes você toma uma porrada no processo da venda e precisa se recompor, ter paciência, para lidar também com as inseguranças do cliente. Então é preciso também ter controle emocional, e isso nem sempre é fácil. Também é importantíssimo produzir empatia, a capacidade de se colocar no lugar do outro. E carisma. Carisma também é fundamental. E carisma é resultado de criatividade, de pensamento positivo, de ser otimista, e também da capacidade de a gente correr riscos. Também é importante eles dominarem comunicação não verbal. A gente sabe que muito do resultado da venda é decorrência dessa habilidade de lidar com o corpo e a voz, que é muita mais importante que as próprias palavras. E fundamental é o repertório. E repertório é também o resultado da sua expertise, de você dominar conhecimento de determinado mercados. Além disso são muito mais importantes as conexões sociais, para que possa fazer uma prospecção ativa. A venda começa com esse interesse pela prospecção, o que é muito raro. Sair buscando negócios, e não ficar esperando que o cliente ligue.

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AE – Qual sua percepção sobre como a pandemia afetou o mercado da arquitetura? RB – Alterou? Alterou. Mas eu diria que não houve e nem vai ter uma alteração profunda. É claro que alguns comportamentos que a gente já vinha observando vão se tornar mais agudas com certeza, como o home office, que vai ser algo mais relevante. O que não vai atingir os arquitetos porque 60%, 70% dos arquitetos já trabalhavam home office. Isso não vai mudar muito. Vai mudar que alguns clientes dos arquitetos passaram a trabalhar em casa. Isso já era um fenômeno que vinha ocorrendo e se acelerou com a pandemia. Acho que existe também num primeiro momento uma demanda que passou a ser mais forte por mexer na casa, melhorar alguns aspectos da casa. A gente passou quatro, cinco meses dentro de casa, então naturalmente você observa coisas que não observava porque passava pouco tempo dentro de casa. Isso gerou um aquecimento de alguns negócios, mas isso também é passageiro e a gente vai voltar à normalidade. AE – E agora, que as atividades começam a retornar (mas, ao mesmo tempo, uma segunda onda começa a ser erguer na Europa): que ajustes arquitetos e designers de interiores precisam fazer para se manter fortes nesse mercado alterado? RB – Eu penso que a gente não vai viver tranquilamente enquanto não houver uma vacina – mas a gente parece muito perto de ter. Acho que, de maneira geral, os arquitetos e os designers de interiores já se acomodaram e já estão atuando de uma forma protegida, com os prestadores de serviço também se protegendo, então a gente não vai ter grandes tumultos. E espero também que o Brasil, vendo o que está acontecendo na Europa, se proteja e volte a ter aí um cuidado para que essa desgraça não nos ataque de uma maneira ainda mais dolorosa. Porque infelizmente estamos sofrendo muito com essa realidade.

Fotos: Divulgação

que a gente possa tangibilizar valor a partir de uma percepção de método para produzir e entregar qualidade. Então essa coisa muito intangível que é o projeto e a execução a gente tangibiliza através dessa metodologia.


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LIVRO

O VALOR DO TRABALHO ‘Como Cobrar Seu Projeto de Arquitetura’ orienta o arquiteto a dimensionar os preços de seus projetos

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ma das principais dificuldades com a qual o arquiteto iniciante se depara no início de sua carreira é saber o quanto cobrar por seu trabalho. “Até que ponto posso valorizar meu trabalho sem perder um cliente potencial?”. Essa é a principal pergunta que o livro Como Cobrar Seu Projeto de Arquitetura Corretamente, do arquiteto, paisagista e professor Tiago Bezerra, pretende responder. O livro tem o objetivo de explicar, de forma prática, uma metodologia que pode ser aplicada por arquitetos, decoradores e profissionais da área. Segundo o autor, a ideia de escrever o livro surgiu após receber muitos questionamentos em sua comunidade de alunos sobre precificação de projetos, que, é, de acordo com Tiago, “uma questão tão básica, mas que é simplesmente negligenciada nas faculdades de arquitetura”. O livro oferece respostas práticas para o profissional na área de arquitetura e estabelece uma linha de ação para o arquiteto começar a dimensionar o valor de seus projetos. “Antes de falarmos sobre precificação, falamos sobre estratégias de posicionamento, acreditando ser pontapé inicial para compor o preço dos serviços”. No livro são abordados temas com intuito de estabelecer uma ponte entre o preço do serviço a ser ofertado e situações que vão justificar o posicionamento de cada profissional. “Trazemos dados de pesquisas realizadas com arquitetos do Brasil para comprovar as dificuldades dos profissionais na hora de apresentar uma proposta comercial aos potenciais clientes”, aponta o autor. No livro, Bezerra procura explicar suas próprias estratégias de estabelecer valores. “Acredito que ensinar uma forma que vem dando

Texto: Alex Lacerda | Fotos: Divulgação

certo pra mim pode ajudar muitos colegas”, ressalta o autor. No texto o autor assinala que, ao fazer uma analogia do preço do serviço com investimento a ser realizado para construir a edificação, o cliente conseguirá ter um parâmetro para entender o valor do serviço, do projeto de arquitetura, urbanismo ou design de interiores. O livro é focado nas estratégias do autor, mas este apresenta que existem outros elementos que são melhor abordados em obras suas, o que pode dar uma sensação de complementação por parte do leitor. “Durante o texto são citadas estratégias que fazem parte de um contexto maior. Não discorro sobre alguns temas para não fugir do foco precificação. Indico nossos conteúdos através dos link para outros livros e treinamentos dos temas citados. Quem tiver interesse em entender mais todos os temas citados, já saberá o caminho”, orienta o escritor, que também escreveu outros quatro livros, além de três treinamentos para profissionais.

E-book 116páginas

Formato: digital.

Autor:

Tiago Bezerra

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GRANDES ARQUITETOS

A ALDEIA E O

MUNDO

Nascido em uma pequena comunidade africana, Diébédo Francis Kéré se tornou um arquiteto internacional, mas nunca esqueceu suas origens

Texto: Renato Félix | Fotos: Divulgação

Escola primária

N

ascido em Burkina Faso, país localizado no noroeste da África, Diébédo Francis Kéré rompeu uma fronteira cheia de preconceitos e injustiças econômicas ao se tornar um arquiteto que ultrapassou os limites da África. Nascido há 55 anos em uma aldeia numa região onde não havia nenhuma escola, ele lecionou nas universidades de Harvard e Yale, nos EUA, e é conhecido por projetos que levam em consideração a pobreza de comunidades e as mudanças climáticas. “A arquitetura consome imensos recursos, por isso é importante pensar na sustentabilidade. A arquitetura tem que mudar e para isso é importante juntar esforços”, disse ao site português Observador, em 2019. “A arquitetura precisa levar em consideração todas as mudanças que estamos passando. Mudanças climáticas, mas também de limitação de recursos, para que não traga problemas ambientais”. Ele nasceu na aldeia de Gando, com apenas 2.500 moradores, e foi o primeiro do local mandado para uma escola. A ideia era que ele aprendesse a ler para ajudar com as cartas de seu pai, o chefe da

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aldeia. Para isso, foi enviado aos sete anos para morar com os tios em uma cidade maior, onde havia escola. Depois de um período trabalhando com carpinteiro, ganhou uma bolsa para estudar na Alemanha. Se formou na Universidade Técnica de Berlim, em 2004. É na capital alemã que ele vive até hoje e abriu seu escritório, o Kéré Architecture (http:// www.kere-architecture.com). Antes mesmo de se formar, ele já havia criado uma associação, Schulbausteine für Gando, para levantar fundos e construir a primeira escola de Gando. Kéré já mostrava seu interesse pela arquitetura solidária e também em retribuir à sua comunidade ajudando em seu desenvolvimento. A construção dessa escola rendeu a ele seu primeiro prêmio internacional: o Prêmio Aga Khan de Arquitetura, em 2004, quando ainda era estudante. A escola primária de Gando foi feita com materiais e mão de obra local, tecnologia simples e artesanal. O telhado de zinco suspenso protege os alunos das altas temporadas. Também em 2004, foi construída habitações para professores, com telhados em abóbadas e piso de argila. Depois,


veio a biblioteca, com um teto com panelas de barro construídas pelas mulheres da vila, que geram a iluminação e a ventilação naturais. Fora de Burkina Faso, Kéré tem projetos também no Mali (um parque nacional), no Quênia, em Uganda e no Iêmen, que são países da África, além de Alemanha, China (pavilhão para a Bienal de Arquitetura, em Pequim), Estados Unidos e Inglaterra (Serpentine Pavilion, em Londres). “Sempre que tenho um projeto tento que seja único, mas que sirva o propósito daquilo que é pensado para o local”, disse o arquiteto ao Observador. “É importante saber que o que estou fazendo vai ser útil para alguém ou alguma comunidade”. E, assim, entre os grandes projetos internacionais, ele mantém projetos para pequenas comunidades, sempre com uma forte parceria com a população desses locais, e com preocupações sociais, econômicas, ambientais. “Minha experiência de crescer em uma aldeia remota do deserto incutiu uma forte consciência das implicações sociais, sustentáveis e culturais do design. Acredito que a arquitetura tem o poder de surpreender, unir e inspirar, ao mesmo tempo em que intermedeia aspectos importantes como a comunidade, a ecologia e a economia”, disse em matéria da Casa Vogue, destacada no site VivaDecora.

Serpentine Pavilion

Surgical clinic in Léo Biblioteca

Arquiteto:

Diébédo Francis Kéré

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ACERVO

MODERNISMO EM

CACOS

Painel de azulejos em obra de Acácio Gil Borsoi é destruído em reforma na Universidade Federal da Paraíba

Texto: Renato Félix | Fotos: Divulgação

A

destruição de um painel de azulejos em uma obra do arquiteto Acácio Gil Borsoi na Universidade Federal da Paraíba causou repercussão muito negativa entre profissionais da arquitetura e das artes visuais. Um painel de azulejos revestia um anexo do prédio da reitoria e foi danificado em uma reforma no local. Além de críticas públicas nas redes sociais, entidades emitiram notas enquanto as justificativas da universidade na imprensa deixaram a desejar. O painel datava desde os anos 1970, instalado na obra de um dos principais nomes do modernismo na arquitetura brasileira. Carioca, Borsoi morou e fez carreira em Recife dos anos 1950 até sua morte, em 2009. Ele também deixou obras em João Pessoa. O prédio anexo da reitoria da UFPB é um exemplo. Sobre o painel de azulejos, não há certeza, mas pode ser obra do artista plástico também carioca Athos Bulcão, que marcou época com obras desse tipo. Pode ser também do próprio Borsoi. “Esse estilo replica o padrão numa cerâmica, remetendo à Escola Bauhaus”, explica o

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artista plástico Flávio Tavares. A Bauhaus tinha, em uma de suas diretrizes, a ideia de que a arte deveria ser capaz de ser produzida em larga escala e alcançar o maior número de pessoas. Esses painéis em cerâmica atendiam a essa ideia: as formas poderiam ser montadas de novo em outros locais, se necessário. O painel em azulejos é parte integrante do projeto de arquitetura, ressalta Marcelo Coutinho, professor de Artes da UFPB. “É um elemento muito brasileiro”, comenta. “Não são muitas arquiteturas no mundo que recuperaram a azulejaria, que vem dos mouros. Arquiteto e designer passam a trabalhar juntos para construir algo”. Tavares recebeu pela internet fotos de uma amiga que passava pelo local e estranhou a destruição dos azulejos, que ela já notou serem possivelmente modernistas. Paralelamente, Coutinho também ficou a par do caso e publicou o fato nas redes sociais, no dia 23 de setembro. “Ser ou não ser de autoria de Athos Bulcão pouco importa”, escreveu o professor. “O painel da reitoria da Universidade Federal da Paraíba era parte integrante de um projeto de inequívoca


importância para a história da arquitetura brasileira. (...) E se o engenheiro responsável não sabe, se ignora tratar-se de um edifício moderno e que o modernismo é patrimônio histórico já há décadas, ele deveria ter uma assessoria e se não a tem deveria ter”. Ele entrou em contato com o Museu Athos Bulcão, mas não há registro ali do padrão destruído. O professor, que é de Recife e está na UFPB há apenas dois anos, resolveu se manifestar porque as images já vinham circulando em grupos de whatsapp, mas ninguém tomava uma atitude. “O que eu acho perigoso e assustador é a facilidade com que as pessoas destróem uma coisa que não conhecem”, lamenta, em entrevista à AE. “A qualidade da gestão pública brasileira, de forma geral, caiu. A ponto de não se consultarem técnicos para saber se aquilo tem valor histórico. É uma política de estado o apagamento da memória do povo brasileiro e o desmanche da cultura”. Para o portal G1 Paraíba, a superintendência de Infraestrutura da UFPB deu sua versão. A obra de manutenção seria necessária para resolver problemas estruturais. Mas a justificativa de que os azulejos estariam velhos, com má qualidade e que isso estava provocando infiltrações na parte elétrica do prédio não caíram bem. Que arquitetos e engenheiros foram ouvidos e que não haveria irregularidade “porque existem outras obras do mesmo arquiteto na UFPB”. “Imagina se a gente fosse rasgar uma tela de Di Cavalcanti apenas porque existem outras? Não faz o menor sentido um argumento desses”,

criticou, também ao G1, o arquiteto Fabiano Melo, vice-presidente nacional do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) e conselheiro superior do IAB na Paraíba. “Borsoi é um monstro sagrado dentro do que se chama modernidade. Merece respeito”, conta Flavio Tavares à AE. “Se a obra estava maltratada ou não, que houvesse o restauro. Existe restauração desde a Babilônia!”. O argumento da “velhice” também é contestado. “45 anos não é velho. Essa palavra ‘velho’ não se usa para a arte”, diz Tavares. “A gente tem que preservar o mais antigo e também o moderno, o contemporâneo. Voce não pode abstrair a memória de uma cidade”. Para ele, o descaso é reflexo de um problema muito maior do Brasil atual. “A falta de cultura geral e o descaso com o bem público. É uma questão de humanidade”.

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Uma nota conjunta de repúdio foi divulgada pelo Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFPB, o Programa de Pósgraduação em Arquitetura e Urbanismo também da UFPB, o departamento da Paraíba do Instituto de Arquitetos do Brasil e o Conselho de Arquitetura e Urbanismo da Paraíba. “Nosso patrimônio arquitetônico moderno vem sendo destruído de forma recorrente na Cidade Universitária. Atualmente a Seinfra, após aplicar sucessivas camadas de tinta verde no prédio da Diretoria do Centro de Tecnologia – principal

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edifício do primeiro conjunto arquitetônico da UFPB – assenta cerâmica sobre o concreto aparente, elemento marcante de nossa arquitetura moderna”, diz um trecho da nota. Pelas características dos paineis em azulejos e da filosofia da Bauhaus, a obra poderia ser, ao menos, reconstruída. O grafismo do painel poderia ser replicado. Mas a obra original naturalmente tem uma aura em si mesma. “A história do tempo concretizado naquele mural não é mais”, opina Flavio Tavares. “Fragmentaram em pedaços”.


NOTA CONJUNTA: O Departamento de Arquitetura e Urbanismo (DAU/UFPB), o Programa de Pósgraduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU/UFPB), juntamente com o Instituto de Arquitetos do Brasil - Departamento da Paraíba (IAB/PB) e o Conselho de Arquitetura e Urbanismo da Paraíba (CAU/PB) , vêm a público repudiar, veementemente, os fatos desastrosos ocorridos no Campus I da Universidade Federal da Paraíba. Nas últimas semanas, a Superintendência de Infraestrutura (Seinfra/UFPB), responsável pelo planejamento e execução das obras na Cidade Universitária, destruiu um valioso mural de azulejos no prédio da Reitoria. Trata-se da destruição de um elemento que é parte indissociável da concepção do edifício, projetado originalmente para abrigar a Biblioteca da UFPB, em 1968, pelo arquiteto e urbanista Acácio Gil Borsoi, expoente nacional do Movimento Moderno na arquitetura brasileira. Os procedimentos adotados pela Superintendência de Infraestrutura (Seinfra/ UFPB), ignoram o zelo e o rigor com que o patrimônio construído, e todas as atividade relacionadas com a concepção, projeto e produção em arquitetura e urbanismo, são tratadas no âmbito do ensino e pesquisa da própria instituição. Esta destruição revela, em um gesto que tem sido recorrente, a ignorância e incapacidade de domínio dos aspectos básicos e conceituais que devem nortear uma intervenção arquitetônica; ignora a história, a tecnologia, a racionalidade e a própria

prática deontológica; trata-se de uma atuação vandálica contra a primeira geração de edifícios da História da UFPB. Nosso patrimônio arquitetônico moderno vem sendo destruído de forma recorrente na Cidade Universitária. Atualmente a Seinfra, após aplicar sucessivas camadas de tinta verde no prédio da Diretoria do Centro de Tecnologia – principal edifício do primeiro conjunto arquitetônico da UFPB – assenta cerâmica sobre o concreto aparente, elemento marcante de nossa arquitetura moderna. Trata-se de uma prova da falta de domínio e conhecimento, por parte da Superintendência de Infraestrutura (Seinfra/UFPB), nas áreas da Engenharia e Arquitetura. Demonstra a dissociação, esquizofrênica, entre a competência da instituição no ensino e pesquisa e a incompetência dos setores de gestão, da própria instituição, em praticarem estes ensinamentos. Sendo a Universidade o lugar do saber e da formação da sociedade, plena de intelectuais e pensadores, reduto de guardiões da memória, esses acontecimentos geram um sentimento de imensa frustração; afinal, a destruição é promovida por um órgão desta mesma Universidade. No contexto mais amplo, o gesto de destruição do painel de azulejos da Reitoria, reflete a situação lamentável por que passa a Cultura em nosso país. O Patrimônio Cultural é memória de um povo e a essência do nosso ser; destruindo esse Patrimônio, as bases da nossa existência são corrompidas. Esses fatos voltam a evidenciar a necessidade urgente de que a UFPB construa um Plano Diretor e que o mesmo, como resultado de sua forma de pensar, constitua as diretrizes de sua forma de fazer.

João Pessoa, setembro de 2020 Departamento de Arquitetura e Urbanismo (DAU/UFPB) Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU/UFPB) Instituto de Arquitetos do Brasil - Departamento da Paraíba (IAB/PB) Conselho de Arquitetura e Urbanismo da Paraíba (CAU/PB)

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REPORTAGEM

ERGONOMIA

EM TEMPOS DE PANDEMIA Fundamental para a vida pessoal e profissional, ela ganha mais importância na nova realidade do home office

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e uma hora para outra a pandemia mudou a vida de muita gente. O trabalho em home office se tornou uma realidade até para quem nunca havia pensando nesta possibilidade. Mesas e cadeiras de jantar se tornaram o “escritório” improvisado de muitos. Mas e a ergonomia? Ah, essa algumas vezes ficou de lado. Mas porque ela seria tão importante? Apenas no local de trabalho a ergonomia é necessária? Ou será que ela deve estar aplicada em todos os espaços de residências, escritórios, lojas...? Acontece que a ergonomia tem o papel de adequar o ambiente (e seus recursos) à necessidade das pessoas. Para isso, considera fatores físicos, cognitivos, sociais e qualquer outro que possa se caracterizar como um risco para a saúde física e mental das pessoas. Por isso, ela deve estar presente, sim, em todos os ambientes: mesas de escritórios, prateleiras de uma loja ou mesmo nos armários de uma cozinha. Luiza Beltramini, arquiteta e designer de interiores, explica que a ergonomia é um estudo das interações entre homem e máquina, visando uma desempenho eficiente e seguro. “É uma otimização das condições de trabalho humano por meio do projeto, tanto na escala do objeto, de software, arquitetônico, dentre outros. A casa, se pegarmos a citação de Le Corbusier, é uma máquina de morar. Então a ergonomia tem que

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Texto: Lidiane Gonçalves | Fotos: Vilmar Costa

estar presente para que ela seja segura e eficiente para seus moradores e visitantes”, argumentou.

A importância – na prática A arquiteta aponta como importância prática da ergonomia fazer com que usufruir a casa ou o local de trabalho, seja algo seguro, dinâmico e eficaz. “A casa tem que atender as necessidades dos usuários – incluindo aí até às necessidades não vocalizadas, mas que nós, arquitetos, temos que prever e levar em conta”. Ela exemplifica que o cliente não precisa vocalizar o tamanho do espelho do degrau da escada ou a altura da bancada pois os arquitetos, como profissionais, têm que reconhecer e saber medidas padrões. “Em caso extremos – pessoas muito altas ou muito baixas, por exemplo – a consulta específica é sempre bem-vinda para que a casa atenda ergonomicamente o usuário”.

A ergonomia é universal A ergonomia está em casas, móveis, carros, painéis, programas de computadores, jogos, dentre tantos outros lugares. “A ergonomia é de suma importância para utilizar seja lá o que for de forma segura, prática e intuitiva. Maçanetas, alturas de cama, tamanhos de copo, fechaduras, potes, malas, tudo que é utilizado pelo ser humano tem algum tipo de estudo ergonômico para melhor atender as necessidades do usuário˜, disse.


Luiza explica que objetos e empreendimentos que não fazem uso da ergonomia provavelmente não terão sucesso, pois não agradarão o usuário, não serão seguros de usar, práticos e, em certos casos, podem até machucar ou fazer mal.

Ergonomia e produtividade Ter ergonomia no ambiente de trabalho ajuda na produtividade. Estar bem consigo, com o ambiente de trabalho, sentar numa cadeira confortável, em um ambiente agradável, faz com que sejamos mais produtivos e mais saudáveis. “Considerando que passamos um terço dos nossos dias no local de trabalho, é importante se sentir bem e trabalhar sem desconfortos e incômodos”.

As residências Para a arquiteta, o item mais impactante da ergonomia numa residência são os degraus, não importa se é uma escada ou se é apenas um batente de degrau único. “Se as medidas ergonômicas não foram levadas em conta, a passada sempre será ruim, ou com esforço excessivo. Mesmo um desnível pequeno atrapalha a passada”, disse. Mas ela acrescenta que outras coisas são importantes de serem observadas. “Um armário no banheiro que bate no joelho ao sentar no vaso, um interruptor mal alocado provocando um movimento não intuitivo...”. É importante lembrar, segundo a arquiteta, que além da ergonomia é sempre bom ter em mente os aspectos do design universal, para que o ambiente atenda uma gama maior de usuários de forma segura e confortável. Lembrar desses aspectos durante todo o processo de projeto é essencial para que não seja necessário fazer remendos ou reformas posteriores.

Muita gente mudou recentemente seu local profissional para a própria casa, que revela ser um local inadequado e muitas vezes não pensado para tanto tempo de trabalho. Será que há possibilidade de esses locais serem adequados? Como verificar a ergonomia? Luiza pontua que, como passamos a ficar muito tempo sentados, o principal impacto percebido deve ser em relação ao assento que a pessoa usa. “Caso ela não tenha uma cadeira tipo de escritório, tem que prestar atenção em alguns pontos”.

Confira as dicas: • Quando estiver sentado, verifique se a sola dos pés tocam o chão completamente. Se não, coloque um apoio para os pés. Pode ser feito com livros, uma caixa ou até mesmo as plataformas de apoio específicas para isso. • Verifique se a cadeira oferece um apoio para as costas. Quanto maior o encosto, mais a coluna estará apoiada. Pode ser necessário o uso de uma almofada para auxiliar o apoio. • Verifique se a cadeira está na altura correta: de forma que os braços façam um ângulo de 90º com a mesa. Caso contrário, poderá aparecer um desconforto ou dor nos ombros. • Caso esteja trabalhando em um laptop ou notebook, é importante que a tela esteja ao nível dos olhos da pessoa para que a cervical não seja forçada. Pode ser necessário usar uns livros na base do dispositivo e a conexão de um teclado avulso ou comprar um em loja especializada. • É importante também observar a iluminação de apoio para que seja apropriada e não direta nos olhos da pessoa. e causar ofuscamento e consequentemente provocar um cansaço físico

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A HISTÓRIA DE

EXTENSÃO DA COZINHA Do chão batido aos mais sofisticados espaços, a evolução das despensas reflete a mudança no consumo de alimentos

Texto: Alex Lacerda | Fotos e imagens: Divulgação

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capacidade de armazenamento de alimentos foi um dos elementos essenciais para a humanidade na formação da sociedade moderna. Apenas ao conseguir produzir e guardar o alimento por um tempo prolongado, as pessoas tiveram a oportunidade de se estabelecer em um local e não mais depender da migração para novos locais de caça. Assim foram concebidas as primeiras versões do que conhecemos hoje como despensas. Durante muito tempo, até pouco depois de começar a era da industrialização, os métodos de conservação de alimentos permaneceram os mesmos. Eram usadas várias técnicas, como a de

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defumar, salgar ou secar ao sol alguns alimentos. Assim, em épocas de frio, seca ou escassez de alimentos, as pessoas teriam um estoque de comida. Locais cobertos na parte externa da casa ou abrigo eram utilizados após a salga e exposição ao sol e, no Egito antigo e em vários períodos da idade média, era comuns as cozinhas terem suas despensas em jarros enterrados no chão com a boca na superfície para armazenar cereais, legumes, especiarias e condimentos. Tanto na idade antiga quando na idade média, os celeiros eram os principais locais de armazenamento de grãos. Em castelos e grandes casas com porões ou adegas, uma sala subterrânea


poderia ser usada para manter os alimentos embalados em gelo do inverno para a primavera e verão. As comidas tinham de ser armazenadas em barris, potes de vidro, jarros, caixas, demandando um grande espaço para serem guardadas. O que estimulava o consumo de comida fresca e dificultava a armazenagem nas despensas, que eram improvisadas na cozinha. Apenas com a chegada da revolução industrial, que estabeleceu um maior acesso aos bens de consumo e a novas tecnologias, na segunda metade do século XIX, a cozinha e – por conseguinte, a despensa – começa a ser pensada como uma linha de produção, com uma aplicação da lógica à cozinha para, a partir da década de 20 do século passado, implementar conceitos otimizadores do espaço. Em 1927, na Alemanha, o arquiteto Adolf Gustav Schneck procurou dimensionar a cozinha planejada às mercadorias de estoque, considerando a combinação de aparelhos de cozinha para pequenos domicílios, o que serviu como ponto de partida para os móveis planejados nestes ambientes. Com o passar do tempo, o acondicionamento dos alimentos passou a ter uma maior durabilidade com o uso de enlatados e a profusão de potes de vidro. Os celeiros, que armazenava grãos, e os grandes recintos para guardar carnes e outros tipos de alimentos, não eram mais comuns nas cidades. Até a popularização da geladeira, a partir dos anos 50, conservar a comida em casa era um grande problema. O consumo de alimentos frescos era mais difícil e as refeições eram menos balanceadas e as pessoas costumavam comer tudo posto à mesa. Hoje em dia a despensa é um dos setores mais úteis numa cozinha, principalmente após o hábito de cozinhar em casa passar a ser visto como lazer e agregador familiar. Armários, prateleiras e móveis planejados passaram a ser ferramentas diretamente ligadas às despensas para aumentar a praticidade de seu uso na cozinha e ocupar da melhor forma os espaços.

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ANTES E DEPOIS

COZINHA PROTAGONISTA Reforma misturou ingredientes, deu ar de despojamento, e cômodo virou atração da casa Texto: Karina Fascina | Fotos: Luís Gomes

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s moradores desta casa, em São Paulo, sonhavam em ter um espaço aconchegante e convidativo para reunir a família e os amigos. Como o projeto da antiga cozinha era compartimentado e pouco atual, o que não se adequava as necessidades atuais do casal e seu filho, a arquiteta Pati Cillo, entrou em cena para dar início a uma transformação radical. “Começamos a reforma do imóvel pela cozinha, que não só animou a família como se tornou o principal ambiente de convivência”, revela a profissional. A cozinha de 21 m² foi renovada com móveis alegres, ilha central equipada e revestimentos para tornar o dia a dia prático e mobiliário que passasse a sensação de alto astral. A arquiteta tirou os revestimentos da parede e do piso, assim como

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a bancada de granito que fazia a divisão entre cozinha e área de almoço. Com isso, garantiu maior amplitude ao coração da casa. No piso, a aposta foi por um modelo de porcelanato que reproduz o visual do cimento queimado, garantindo a base neutra necessária para investir em móveis cheios de personalidade. Tapete criado com o uso de porcelanatos estampados e a ilha central com gavetões são alguns dos destaques da cozinha, que mistura tons amadeirados e o azul-royal. “Um dos destaques está no uso dos porcelanatos com estampa geométrica, que formam um tapete embaixo da mesa de jantar”, revela Pati. A escolha da base neutra em pisos e paredes permitiu investir em armários coloridos. “Me inspirei na cor do ano de 2020, que é tendência


mundial e eu considero o novo preto”, explica a arquiteta. Sob medida, o mobiliário fixo foi perfeito para trazer personalidade e funcionalidade ao ambiente. Pati mesclou a escolha arrojada com móveis de madeira, caso da cristaleira e da mesa da sala de almoço, elementos responsáveis pelo aconchego. “Em ambientes em que a sensação de acolhimento é primordial não pode faltar o toque e o calor da madeira”, defende a arquiteta Pati Cillo.

Projeto: Arquitetura de interiores Arquiteta:

Pati Cillo

Parceiros: Modulados: SCA Jardim Europa Revestimentos: Portobello

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INTERIORES

APARTAMENTO GANHA

VIDA NOVA

Projeto aposta no uso inteligente da marcenaria, em cores alegres e ambientes conectados Texto: : Diego RogĂŠrio | Fotos: Thiago Travesso

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mal aproveitamento das áreas sociais foi um dos grandes responsáveis por este cliente, um médico solteiro, procurar a arquiteta Roberta Iervolino Giglio, do escritório Figa Arquitetura, para reformar o antigo apartamento de 174 m². O proprietário que estava descontente com seu antigo apartamento, escuro e sem área social, resolveu reformar seu imóvel do zero. Localizado na zona oeste paulista, apresentava espaços compartimentados e nada conectados. Também não havia lugar para o seu cãozinho brincar e muito menos fazer um churrasco para os seus amigos, como ele sempre desejou. Outro problema que incomodava era a sala escura

com visual antigo. “Tudo isso pesava demais, por isso a nossa missão foi ampliar a sala, integrando-a com a varanda e os demais espaços. Além das mudanças de circulação e layout, ainda renovamos os acabamentos, pontuando com madeira, cores e um mobiliário moderno”, explica Roberta. Além da iluminação indireta, a arquiteta ampliou as janelas para a entrada de luz natural. O confortável jogo de sofás é utilizado para demarcar o home theater e o living, assim como os tapetes com estampadas diferentes em cada ambiente. Os móveis e os piso escuros deram lugar a elementos neutros e claros, o que fez com que o apartamento ficasse mais iluminado, jovem e parecesse maior. “Pontuamos alguns locais com

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cores vibrantes, como o fúcsia da marcenaria da churrasqueira e o verde das cadeiras de jantar. Isso deu um toque divertido, mas, ao mesmo tempo, harmonioso com o restante, que está mais neutro”, observa Roberta. Para dar a sensação de uma varanda de casa, um painel vertical de plantas participa da área social, assim como os diversos vasos espalhados pelos ambientes. Com um novo projeto, o apartamento ganhou três ambientes conectados e que funcionam muito bem isoladamente, se o dono preferir: o home theater, o living e o espaço gourmet. “Não sobrou nada do apartamento antigo! Tivemos carta branca para fazer um novo projeto, o que nos deu liberdade e empolgação para fazer uma transformação radical. Os espaços ficaram mais iluminados e alegres, e ainda temos a sensação de que o apartamento é maior”, comemora a autora da reforma. O verde das cadeiras de jantar e a marcenaria da churrasqueira dão um toque ousado à área social. Nas paredes, os painéis de carvalho americano cuidam de trazer a sensação de aconchego aos ambientes Dando leveza ao living, o painel vertical de plantas naturais e ao lado mesinhas. As

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texturas de madeira lisa e ripada se misturam em todo o projeto| Antes, com espaços mal aproveitados e decoração que não condizia com o perfil do morador, ao longo de 5 meses o imóvel sofreu muitas mudanças. Recebeu alterações de alvenaria para a ampliação da varanda e troca de todos os revestimentos. Entre os destaques do projeto estão os painéis de carvalho americano, capazes de trazer a sensação de acolhimento. A iluminação indireta também vem como uma surpresa aos olhos e valoriza os detalhes da marcenaria. “Na marcenaria, brincamos com as texturas mesclando a folha de madeira lisa e ripada”, explica. Outro ambiente que foi completamente repaginado foi a cozinha, que recebeu novos revestimentos e marcenaria, capazes de deixar tudo mais moderno e claro. Além disso, a nova porta em madeira serviu como camuflagem, deixando a passagem mais discreta. Por se tratar de um médico, o dono do imóvel é daquelas pessoas que trabalha muito. Por isso, pediu que a sua suíte fosse a mais confortável possível. Atendendo às suas necessidades, Roberta optou por texturas variadas e cores sóbrias, valorizando o toque gostoso e o aconchego.


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“Temos muitos clientes médicos. Podemos dizer que eles são muito práticos e objetivos! Para este ambiente, nossa intenção foi criar uma atmosfera bem acolhedora, trabalhando com cores neutras, materiais como tecido e madeira, criando pontos de iluminação intimista”, detalha a profissional. Como nos demais espaços, a marcenaria é o protagonista no quarto do proprietário. Neste ambiente, ela ganha ainda mais leveza com as cores cinza na cortina e cabeceira, e branco do espelho. As luzes suaves e de cor quente ajudam a relaxar após um longo dia de trabalho.

Projeto: Arquitetura de interiores Arquiteta:

Roberta Iervolino Giglio 47


CAPA

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JOGO DE

VOLUMES

Fluidez dos espaços e integração entre interior e exterior marcam projeto de casa em condomínio fechado

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pedido foi claro: a residência deveria ser funcional, despojada, com bastante espaço para convívio social, venlitação natural, fluidez, materiais duráveis, materiais que não precisassem ser caros para serem bonitos. Era a receita para transformar paredes em um lugar ideal para a construção de um lar. E o desafio foi aceito pelo arquiteto Renan Vila Flor. A residência tem 300m² e fica localizada no bairro de Intermares, região nobre do município de Cabedelo, litoral paraibano. O resultado é uma

Texto: Lidiane Gonçalves | Fotos: Christian Woa

residência linda, que se resguarda para o exterior, proporcionado a surpresa arquitetônica, e se abre para o seu interior mostrando quase que totalmente sua alma e essência. O projeto foi idealizado para um casal jovem e suas duas filhas adolescentes. “Alguns pontos foram preliminarmente estabelecidos e foram peça central desse jogo inusitado de volumes. A ideia de sala formal foi completamente desconstruída dando lugar ao imenso homegourmet com cerca de 70m² e ilha central”, explicou o arquiteto.

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A área de lazer Integrada à esse home-gourmet, está a piscina, com hidro e spa de formato em ‘L’, abraçando a lateral e fundos da casa. “Essa jogada serviu de ganho de espacial no quintal, ótimo para reuniões ao ar livre”, argumentou Renan. A piscina, que ora cumpre sua função elementar, ora se despoja como um grande espelho d’água contemplativo e convidativo, foi elemento chave na busca da integração entre interior e exterior: a lateral que a acompanha possui uma esquadria de piso a teto, que somada a de fundos, gera um plano de integração visual com 17 metros lineares.

Despojamento e afetividade A escada de ligação dos pavimentos e escadaria de acesso principal foram concebidas para que o concreto queimado em obra fosse mostrado quase que bruto, sem muitos retoques dando ideia despojamento. Dando continuidade a esta ideia, o piso e bancadas dos banheiros são feitos do mesmo material, um porcelanato com pegada cimentícia. Parte da afetividade que a família desejava ficou por conta do mobiliário, que foi usado na residência anterior e incorporado no novo projeto, dando ainda mais vida e trazendo boas lembranças.

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“Alguns precisaram de uma repaginada, com novas cores em tecidos e acabamentos”, comentou.

As suítes O pavimento superior possui três suítes mais um office, esse com pé direito diferenciado: são quatro metros. A função? Expor o grande acervo de livros da família. As suítes das filhas tem layout espelhado e seus banheiros tem uma claraboia linear voltada para norte que captam toda a trajetória da luz natural, gerando um efeito singular de luz e sombra propositalmente evidenciado pelo revestimento. A suíte master, ambiente de desejo do casal, foi exaustivamente debatida, para que além dos elementos que tradicionalmente a compõem (closet, banheiro e varanda), pudesse receber uma spa-banheira, de forma harmônica na composição e integração do espaço. “Para que isso acontecesse optamos pelo spa sobreposto, para que ficasse sem peso visual, além da criação de um átrio envidraçado com céu aberto, que é a fonte de luz natural para todo o conjunto, dando o ar despretensioso e aconchegante que buscávamos, quase que como um doce convite servido dentro de uma caixa de acrílico – que você saboreia com os olhos antes de provar”, poetizou Renan.


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O térreo também abriga: uma suíte de hospedes; um vão central com pé-direito duplo, uma cozinha funcional e uma completa parte de serviço.

Composição Vila Flor explicou que os dois blocos de prisma que se sobrepõem e dialogam, marcam a composição da residência. “A ideia minimalista foi o fiel da balança, onde menos é muito mais, impregnando toda a composição volumétrica, para o olhar ser rapidamente dividido entre os pavimentos”. Com esse ideal de composição formatado, toda a indicação de materiais e fornecedores foi feita a fim de sempre manter a limpeza visual do objeto arquitetônico. “Outro ponto positivo foi a busca da inserção de materiais naturais como marcação dos planos, dando a atemporalidade tanto desejada pelo casal de clientes”. Para alcançar esse objetivo, foi usada a madeira natural em formato ripado na fachada, pedra portuguesa caramelo, revestimento de alto desempenho composto com pó de granito, concreto aparente, vidro incolor e brises em alumínio bronze. As iluminações artificial e natural, para Renan, foram a cereja do bolo. “Conseguimos evidenciar cenas, criando sensações e trabalhando com opções de temperatura de cor e diluição da luz. O resultado final dessa obra foi super gratificante. Acredito que traduzimos uma grande lista de íntimos desejos em algo palpável e com significado de pertencimento. Onde a identidade familiar foi traduzida do abstrato para o concreto”.

Projeto: Arquitetura e Interiores Arquiteto:

Renan Vila Flor Parceiros: Execução: Lavie Construções Revestimentos: Espaço Revestt Portas e Painéis Ripados: Beta Marcenaria Iluminação: LightDesign PB + Exporlux Móveis Planejados: Bentec JP Esquadrias e brises: República Esquadrias

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INTERIORES

VERSATILIDADE PARA

O DIA A DIA

Marcenaria detalhada e mobiliários multifuncionais permitiram ao espaço variadas possibilidades de uso a apartamento de 32m2

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onvidativo, versátil e que atende as funções de casa e office no dia a dia. Esse é o projeto de um apartamento de 32m2 assinado pela Cité Arquitetura e idealizado para um cliente que buscava um “morar” mais funcional no Rio de Janeiro. O partido foi criar um lugar que abrigasse as funções básicas de moradia e, ao mesmo tempo, contasse com um espaço para receber pessoas e fazer reuniões de trabalho. Foram escolhidas, então,

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Texto: Leonardo Lotto | Fotos: A+R Fotografia

três peças principais (cama/sofá, mesa, poltrona) que se modificam e se adequam ao que o morador precisa. A proposta foi trabalhar a questão espacial de forma inesperada, com a escolha inteligente de um mobiliário multifuncional que pudesse reproduzir um espaço com variadas possibilidades de uso. A cama, um desenho em parceria com a LZ Studio, foi o ponto central do processo criativo. A ideia


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foi criar um mobiliário versátil, com encostos (soltos e modulados) distintos e móveis que permitissem a multiplicidade de usos, não se limitando à sua função tradicional e podendo ser usada como um espaço de trabalho mais confortável e inesperado. A posição da televisão em relação à mesa de jantar e à cama, por exemplo, permite que ela seja usada como espelhamento do computador para apresentações e, também, para assistir televisão da cama. Já o aparador, pode ser um complemento de assentos para mesa de jantar. Essa mesa de jantar pode ainda ser usada como mesa trabalho ou como bancada auxiliar da cozinha, por isso, foi feita em pedra quartzito para ser resistente às suas múltiplas utilidades. Além disso, uma das cadeiras da mesa de jantar é hibrida: além de poltrona de jantar funciona como cadeira de escritório. Destaque para a marcenaria multifuncional, o painel boiserie em laca verde e para as paredes revestidas em marcenaria detalhada até os últimos detalhes, como no caso dos puxadores. O teto foi desenhado e pintado à mão para se tornar mais real e dar uma sensação de perspectiva, revelando uma imagem de um papel milimetrado, algo que suscita o desenhar dos sonhos. Como a janela, de proporções ampliadas e que ocupa quase toda extensão do apartamento, garante ao espaço uma melhor iluminação, optouse por escolher móveis mais baixos, que não

impedissem a generosa entrada luz. Na iluminação, foi utilizado um trilho multifuncional. O caráter escultórico dessa peça garante um atributo a mais, sem perder a funcionalidade. A luminária da cama pode ser pendente e quando movimentada funciona como luz de leitura.

Projeto: Arquitetura de Interiores Arquitetos:

Celso Rayol e Fernando Costa Coordenador: André Caterina Equipe: Mateus Fragoso, Mariana Alonso e Leonardo Leal

Parceiros: Construção: Arq Solutions Construtora Mobiliários: LZ Studio Louças e metais: Deca | Tintas -Texturas: Ibratin Iluminação: Força Carioca | Painéis de mdf: Guararapes Rouparia e cortinaria: Ateliê Iole Mendonça Eletrodomésticos: Shoptime Pedras-bancadas: Harmony Stones Marcenaria e serralharia: Urias Serviços Pintura do teto: Celsius Leal

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REPORTAGEM

COLOCANDO

TUDO NO LUGAR A moda dos ‘personais’ chegou também à organização do próprio lar

Texto: Lidiane Gonçalves | Fotos: Divulgação

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m ambiente organizado reflete em bem-estar, em produtividade. Diz-se que o nosso exterior é reflexo de como estamos por dentro. Assim, também uma organização vai mexer com nosso interior. Você vai retirando tudo aquilo que é inútil na sua vida, que te atrasa, tira seu foco. Fica aquilo que te faz bem. É um processo de reeducação: ter uma vida organizada é um estilo de vida.

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Mas como ter essa vida organizada? A personal organizer Carol Adloff, arquiteta e especialista em Design e Arquitetura e de Espaços Efêmeros, fala sobre todo esse processo e diz como cada um pode organizar casa e trabalho, organizando objetos, mas também colocando sentimentos e pensamentos no lugar. Tudo de forma integrada, que só vai fazer bem.


Carol Adloff, especial para a AE

O papel da arquitetura Carol, que trabalha profissionalmente com organização desde 2016, depois de fazer um curso de formação, diz que sua formação em arquitetura e suas especializações na área, ajudam na atividade de organizar. “O espaço precisa ser pensado como um todo. O arquiteto desenvolve projetos baseado nos fluxos, conforto térmico, acústico, funcionalidade, materiais, cores, sensações. A organização de ambientes pensa nos objetos desse ambiente. Fazemos isso de forma mais detalhada”, disse. Por isso, ela acredita que a construção de um ambiente deve envolver arquitetura e organização. “Com meu olhar de arquiteta consigo visualizar melhores formas de organizar aquele ambiente, tendo conhecimento dos materiais e como conservá-los e consigo ter uma leitura mais rápida do uso dos armários, fluxos e espaços”, explicou. Ela diz que bom projeto de arquitetura é fundamental para uma boa organização. “É maravilhoso quando vemos espaços bem pensados para organizar os itens daquele lugar. Como organizer, sempre preciso de parceiros arquitetos para desenvolver o projeto dos espaços, quando não existem. Quando o espaço já existe, nos adaptamos, com nossas propostas e também podemos trabalhar em conjunto com o arquiteto para propor espaços melhor organizados”.

A função O profissional de organização avalia a rotina e ambiente de seus usuários, identifica os problemas e propõe soluções personalizadas e definitivas para otimizar os espaços e gerar mais bem-estar e produtividade.

Apesar de o serviço de organização de closet ser mais comum e procurado, existem muitas especialidades para o profissional de organização, ou personal organizer: residências, corporativa, documentos, fotografia, mudanças, bebê, digital, pessoas com deficiência (PCD), enlutados, pessoal e gestão do tempo. O personal organizer tem o desafio de organizar residências (armários, cozinhas, homeoffices, até mesmo a casa toda), mudanças, documentos, fotos, escritórios, rotinas domésticas, agendas pessoais. Para Carol, o closet também é o serviço mais procurado. Mas ela explica que não necessariamente ele tenha mais necessidade de organização. “É mais pela necessidade que a cliente enxerga em sua rotina. Acontece que muitas vezes esse ambiente reflete em outros, como por exemplo documentos, itens de higiene pessoal, recordações, entre outros. E aí nasce a necessidade de organizar outros ambientes. O ideal é que seja feita uma organização em todos os ambientes e um treinamento de empregados para que a organização seja mantida”.

A importância O primeiro passo é o mais importante: ter consciência de como você vive, das coisas que você tem, das coisas que você acumulou. “Precisa se conectar com você mesmo e aí com calma, respeitando seus limites, comece uma ‘faxina’ de tudo aquilo que não te faz mais feliz”. A dica é começar pelas categorias mais simples, de menor apego para que você não desanime. “Deixe recordações, fotos e cartas por último. Aos poucos com os desapegos, caminhamos para um estilo de vida chamado minimalismo, que é algo que amo e tenho como objetivo de vida”.

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Reflexo da pandemia Em tempos de pandemia, quando as pessoas começaram a ficar mais dentro de suas casas, cresceu a procura pela organização. Afinal, nunca as pessoas estiveram tanto dentro de suas casas! “O que era esquecido começou a incomodar, a rotina que não funcionava se tornou mais evidente, os acúmulos se tornaram um peso. As pessoas começaram a despertar para viver de uma forma mais simples. Muitas mulheres começaram a se questionar para que tantos sapatos, agora que estão precisando retirar os sapatos para entrar em casa. Voltamos para o ninho, o nosso lar, nossa família, a essência! Querem ter mais experiências que coisas! E isso é maravilhoso! Isso é minimalismo!”. Carol lembrou ainda a celebre frase com o arquiteto minimalista Miers Van der Rohe, “Menos é mais”. “Se na arquitetura pode ser assim, por que não nas coisas que temos dentro do ambiente criado?”, questionou, acrescentando que “menos é mais” quando temos menos coisas que nos entristece e mais coisas que nos fazem felizes. “’Menos é mais’ quando perdemos menos tempo

procurando coisas e temos mais produtividade e bem-estar!” A personal organizer lembra que o processo de desapego é como uma terapia focada em objetos. “O processo pode ser um pouco doloroso, mas lava a alma e a casa também. Nunca é uma imposição, obrigação, é um despertar. E isso super funciona. Quem faz esse processo tem um grande aprendizado. Porém, quem não está preparado para este momento e tem problemas de acumulação excessiva, deve buscar ajuda profissional”.

10 DICAS

1- Despertar a consciência de viver mais leve, entenda o minimalismo. 2- Desapegue. Aos poucos e sempre. Até que você só tenha aquilo que te faz bem. 3- Doe. Aquilo que não te faz mais feliz, pode fazer alguém feliz. 4- Organize por categorias. Um dia roupas, outro higiene pessoal, outro livros... 5- Use um cesto ao fim do dia para recolher as coisas que ficaram fora do lugar. 6- Tenha um planejamento de rotina das tarefas domésticas. 7- Distribua as responsabilidades de cada um para que a casa se mantenha limpa e organizada. Crianças também podem e devem participar. 8- Use um planner semanal para planejar suas tarefas. Tenha disciplina. 9- Compre com consciência. Após passar pelo desapego, você irá repensar sua forma de comprar. Você irá comprar com mais responsabilidade. 10- Contrate um personal organizer. Ele saberá conduzir todo esse trabalho de forma profissional, respeitando sua rotina e suas necessidades.


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ESPECIAL

VISITANTE ILUSTRE Desenhista paraibano usa João Pessoa como cenário para a Mulher-Maravilha em edição especial da personagem

Texto: Alex Lacerda| Imagens: Divulgação

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arquitetura marca tão fortemente algumas cidades, que são necessárias, em muitos casos, poucas imagens para identificar o local. E foi desta forma que o desenhista paraibano Jack Herbert decidiu homenagear a cidade de João Pessoa na edição anual da Mulher-Maravilha (Wonder Woman Annual #4), publicada em agosto deste ano nos EUA. Ele incorporou várias locações da capital paraibana na história da amazona e sedimentou a cidade como parte do cânone da personagem feminina mais importante dos quadrinhos da DC Comics. Com seus desenhos, Jack faz a MulherMaravilha passear por vários pontos de João Pessoa: a praia de Tambaú, a Avenida Epitácio Pessoa, o Liceu Paraibano e o centro da cidade. O desenhista aproveitou a oportunidade dos editores da revista planejarem a inclusão de uma cidade litorânea brasileira na história para usar a capital paraibana, fugindo do estereótipo em que se retrata o Brasil através de cidades como Rio de Janeiro e Salvador.

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“Os editores me escalaram para essa aventura pois sabiam que eu era brasileiro. Eles tinham um projeto para uma nova equipe de amazonas aqui no Brasil. A aventura se passou em uma cidade litorânea brasileira. Embora o nome da cidade nunca fosse mencionado, os editores queriam algo mais crível, e eles me enviaram várias imagens da Bahia, para direcionar o que eles tinham em mente. Então, de livre escolha, eu optei por retratar João Pessoa”, destaca Jack Herbert. Jack estabeleceu a chegada da Mulher Maravilha pela orla da cidade. Na revista os leitores podem ver, de forma evidente, o Hotel Tambaú, passando pelo mercado público. “Ela percorre a Epitácio Pessoa, passa por uma área histórica onde aparece, ao fundo, a Igreja de Nossa Senhora do Carmo, e a batalha com o vilão (Dark Fates) ocorre próximo à Lagoa do Parque Solon de Lucena, aparecendo ao fundo o edifício Caricé e o Liceu Paraibano, escola onde estudei”, detalha Herbert. Apesar de algumas áreas aparecerem de forma mais discreta, por acabarem sendo cobertas por balões


de fala, o leitor consegue ver, inclusive na última página do anual, o MAG Shopping. “Eu conhecia bem todas as áreas retratadas. Entretanto, como a edição foi feita durante a pandemia, entre abril e maio, o meio que eu escolhi para utilizar a referência do local sem precisar sair de casa foi o Google Maps. Ali eu poderia me movimentar pela cidade dentro da rota que estabeleci pra personagem”, afirma Jack. A experiência foi tão positiva aos olhos dos leitores brasileiros, que Herbert já afirmou que pode voltar a colocar João Pessoa e sua arquitetura no universo dos quadrinhos novamente.

As locações – Hotel Tambaú – Mercado Público de Tambaú – Ciclofaixa da Avenida Epitácio Pessoa – Escola Liceu Paraibano – Edifício Caricé – Igreja do Carmo

A revista Lançada em agosto de 2020 nos Estados Unidos e disponível para compra digital pela internet, a 44ª edição de Wonder Woman Annual foi escrita por Steve Orlando e ilustrada por Jack Herbert, que mora em João Pessoa há quase 30 anos. Jack Herbert desenha para a DC Comics desde 2014, onde também foi responsável por heróis como Batman e Superman, além da Mulher-Maravilha, mas atua profissionalmente desde 2005, quando obteve destaque através da série Kirby Genesis.

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DESTAQUES

CARINHO E TRADIÇÃO À

MESA

Mesa posta volta a ganhar popularidade e abre até um novo mercado

Texto: Lidiane Gonçalves | Imagens: Divulgação

Glauber Castro

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Glauber Castro

Glauber Castro


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mesa posta virou mania e hoje não está apenas nos almoços de negócios ou nos jantares comemorativos. Café da manhã, chá da tarde, almoço em família ou um jantarzinho a dois são ótimas oportunidades de colocar amor, afeto e dedicação junto com a comida. E, quem trabalha com isso ou simplesmente gosta de fazer para a família, tem o mesmo pensamento: tem que ter amor e dedicação em cada mesa. A roupa de mesa e louças podem ser as que já existem em casa. Mas, se há espaço para investir em taças, copos, talheres, pratos, sousplat... aí a imaginação não terá limites. Para o arquiteto Glauber Castro, que há 20 anos trabalha na preparação de eventos, encantando a todos bom beleza e sofisticação, mesa posta é mais que a reunião de lindos objetos. “Mesa posta é uma poesia diária que você tem que recitar para a família e para os amigos”, disse. Sobre a “febre” da mesa posta, ele disse que com o passar dos anos o que mudou, além das muitas propostas temáticas estéticas e de beleza, mudou o sentimento de reunir a família e os amigos. “Sobretudo, agora, o importante é uma apresentação com amor e dedicação, esmero e preocupação em receber da melhor forma”, disse.

Juntar quem se ama Para Glauber, a maior etiqueta da mesa posta não está no lugar correto de colocar os talheres ou as taças, mas em dar amor e acolhimento. “Não precisa estar com as regras de etiqueta todas perfeitas, mas se preocupar com isso é muito bom. Isso significa que você tem a preocupação. Quando você usa o seu melhor copo, sua melhor louça, um presente de casamento, a toalha que foi da sua avó, você conta uma história, conta a sua história ao sentar à mesa”, disse.

Fernanda Wanderley Xavier

Quando ele está planejando a mesa para um cliente, uma conversa sobre o evento é fundamental, mas saber um pouco da personalidade de quem estará no encontro também é. “Imprimir personalidade é fundamental. Extrair o melhor do que se pode, usar o coração, ser criativo...”. Para quem está querendo começar com a “arte da mesa posta”, a dica é dar prioridade a uma louça branca, lisa e simples. “Ela vai dar condições de personalizar sua mesa com outras coisas. Além disso, tem que colocar paixão no que está fazendo. É muito mais importante um conteúdo afetivo para a reunião do que um móvel assinado por arquiteto ou design famoso. Todo mundo tem que ter a oportunidade de sentar em uma mesa com dignidade.”

Mudança de ares Fernanda Wanderley Xavier é formada em direito e pós-graduada em Direito Trabalhista. Sempre gostou de receber pessoas em casa e todos sempre a elogiaram pelo seu bom gosto. Acontece, que a pandemia abriu, para ela, um novo mercado. Então, Fernanda passou de consumidora a fornecedora de artigos para que outras pessoas pudessem fazer mesa posta e receber tão bem e lindamente como ela sempre fez. Hoje ela é table decor. “Está sendo uma experiência ótima. Sempre gostei de receber, de arrumar a casa, a mesa. Isso se acentuou na quarentena e eu vi a oportunidade de transformar uma coisa que eu gostava de fazer em um negócio. Então comecei a empreender nessa área”, explicou. Ela explicou que apesar de continuar no mundo do Direito, hoje confecciona e vende roupas de mesa. “A mesa posta se tornou algo universal. Não se tornou algo só de algumas classes. Todo mundo gosta de estar arrumando a mesa para receber, não só em ocasiões

Fernanda Wanderley Xavier

Fernanda Wanderley Xavier

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especiais, mas as ocasiões especiais passaram a ser todo dia”, disse. A table decor disse que as refeições são momentos para reunir as famílias. “Nada melhor que roupas de mesa bonita para deixar esses mentos ainda mais prazerosos. Antes a mesa posta era feita em momentos especiais. Hoje, toda ocasião pode ser especial a partir do momento que você faz a mesa posta”. Para Fernanda, toda refeição é ocasião de mesa posta. Mas, quando é uma ocasião especial, pode ser o momento de caprichar um pouco mais. “Uma mesa posta dá um clima mais prazeroso e harmonioso na hora da refeição”. Além de todo o sentimento envolvido, o que não pode faltar para ela é a roupa de mesa. “Seja o jogo americano, o sousplat, um caminho de mesa ou mesmo a toalha... Hoje a gente não pratica a etiqueta tradicional, mas algumas coisas não podem faltar, como o posicionamento dos talheres, do copo, da taça...”, deu a dica. “A mesa posta é uma realidade para todas as classes, não precisa ter as melhores louças e melhores talheres, as melhores roupas de mesa. Só colocar uma coisa mais bonita, de alguma cosia que te faz bem, não precisa de todos os requintes, o importante é organizar a mesa. Isso é a essência da mesa posta: o prazer de reunir sua família”, disse.

uma mesa posta para demonstrar todo o meu carinho e amor por elas nesse dia especial. Desde aquele momento percebi que uma mesa posta contribuiria para um melhor clima entre toda a família”, disse. Na família de Caroline, o costume das mesas postas ficaram para os finais de semana. “Quando a família está toda reunida é um momento que tem para confraternizar, então, não deixa de ser uma ocasião especial”, pensa, Carol. Para ela não pode faltar a criatividade. “Quando eu comecei o hábito, eu só tinha um jogo de guardanapo, de uma única cor e consegui fazer várias propostas de mesa apenas usando diferentes dobraduras, e diferentes anéis. Acho muito importante e considero uma dica muito boa: investir em uma dobre diferente”, aconselhou. Carol incentiva a todos que arrumem suas mesas para refeições em família. A receita é usar muita criatividade, dedicação e amor.

As mesas para a família A estudante de arquitetura Caroline Baptista viu no Dia das Mães a oportunidade perfeita para começar com a mesa posta nas suas reuniões de família. “Resolvi fazer uma surpresa para minha avó e minha mãe. Como a única alternativa era ficar em casa, então resolvi fazer

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Patrícia Junqueira


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CARTA DO LEITOR

ENDEREÇOS

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FIGA ARQUITETURA (11) 2371-8135 www.figaarquitetura.com.br @figaarquitetura PATI CILLO www.paticillo.com.br @paticillo_arquitetura RENAN VILA FLOR R. João Vieira carneiro, 253. Sala 201 Plataforma, Turmalina Trade Center. Pedro Godim. João Pessoa, PB +55 (83) 99966.9341 artevilaflor@gmail.com | @vilaflorarquitetura


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PONTO FINAL

“Meu

tem

trabalho não

importância,

nem a arquitetura tem importância para mim. Para mim o

importante é

a

vida, a gente se abraçar, conhecer as pessoas, haver solidariedade, pensar num mundo melhor, o resto é conversa fiada.”

OSCAR NIEMEYER

Arquiteto

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Ar testudio Arquitetura & Estilo de Vida

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Ar testudio Arquitetura & Estilo de Vida

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