Revista AE 67

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Ano XVIII nº 67 | revistaae.com.br

arquitetura & estilo de vida

REFORMA

Projeto de Karla Barros transformou dois apartamentos em um

INTEGRAÇÃO

Ampliação de espaços em cobertura, em projeto de Anabel Alvarez

DE CASA

Em projeto para a própria família, Carmen Raquel equilibra integração e privacidade

RELAX

Unir a família foi prioridade em apartamento de veraneio, projeto de Sandra Moura

EM TEMPOS DE PANDEMIA Como a arquitetura começa a lidar com o isolamento social e o “novo normal” As adaptações necessárias para o home office Técnica e velocidade na construção dos hospitais de campanha O ensino virtual nos cursos de arquitetura O aeroporto que já está preparado para os novos tempos

+

Conheça as vencedoras do Pritzker 2020; ‘La Casa de Papel’ e suas lições para os negócios; saiba mais sobre a neuroarquitetura e a alma de uma cidade enlouquecida no filme ‘Coringa’



Arquitetura & Estilo de Vida


SUMÁRIO

Ano XVIII Edição 67

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CONHEÇA 26 GRANDES ARQUITETOS

A vitória feminina irlandesa no Pritzker

28 A HISTÓRIA DE

A garagem, da inexistência a elemento indispensável

30 REPORTAGEM

Hospitais de campanha erguem-se na guerra contra a covid-19

56 ESPECIAL

Uso da psicologia do design de interiores para entender o que faz de uma casa um lar

40 ARTIGOS VIDA PROFISSIONAL 10

Maurício Guimarães conta dez motivos para não desistir do negócio

VISÃO LATERAL 12

Helio Costa Lima comenta o novo aeroporto de Florianópolis

VISÃO PANORÂMICA 14

Amélia Panet discute o conceito de plágio ou inspiração

URBANISMO 16

Raquel Pinho fala sobre os bairros do futuro

VÃO LIVRE 18

Paulo Bichucher avalia a mudança de cenário para o futuro

PONTO FINAL 66

A importância do espaço interno para Bruno Zevi

6


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ENTREVISTA ENTREVISTA 20

Lorí Crízel fala sobre a neuroarquitetura e como ela reforça as sensações e comportamentos em um projeto

44

36 DICAS 25 LIVRO

Obra leva ‘La Casa de Papel’ para mundo dos negócios

58 AMBIENTAÇÃO

A nova realidade do home office

66 SALA DE AULA

As aulas virtuais ganham espaço na arquitetura

PROJETOS INTERIORES

36

INTERIORES

40

INTERIORES

44

INTERIORES

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Amplitude, mesmo nos locais de privacidade em projeto de Anabela Alvarez

Integração com privacidade, em projeto de Carmen Raquel

Diferencial da cozinha no centro, nesse projeto de Karla Barros

Integrar para relaxar em apartamento de veraneio, por Sandra Moura 8

NOSSA CAPA nº 67

Arte|montagem: George Diniz



arquitetura & estilo de vida ANO XVIII- Edição 67

EXPEDIENTE Diretora | Editora geral : Márcia Barreiros Editor responsável : Renato Félix, DRT/PB 1317 Redatores : Alex Lacerda,Débora Cristina, Lidiane Gonçalves e Renato Félix

Diretora comercial : Márcia Barreiros Projeto gráfico : George Diniz Prod. e diagramação : MB Fotógrafos desta edição : Diego Carneiro, Vilmar Costa e indicados Versão digital no nosso site, no Issuu e pdf enviado via whatsApp

QUEM SOMOS

MÁRCIA BARREIROS editora geral e diretora executiva Colaboradores desta edição:

AE é uma publicação quadrimestral nesse ano de 2020 e totalmente digital, com foco em arquitetura, decoração, design, arte e estilo de vida. A reprodução de seus artigos, fotografias e ilustrações requer autorização prévia e só poderá ser feita citando a sua fonte de origem. As colaborações e artigos publicados e fotos de divulgação são de responsabilidade exclusiva de seus autores, não comprometendo a revista, nem seus editores.

ONDE NOS ENCONTRAR Contato : +55 (83) 3021.8308

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c o n t a t o @ a r t e s t u d i o r ev i s t a . c o m . b r d i r e t o r i a @ a r t e s t u d i o r ev i s t a . c o m . b r R. Tertuliano de Brito, 348 - Bairro dos Estados, João Pessoa / PB , CEP 58.030-044

revistaae

RENATO FÉLIX editor de jornalismo

artestudiobr @revARTESTUDIO

Artestudio Marcia Barreiros Artestudio Arquitetura & Estilo de Vida

www.revistaae.com.br www. artestudiorevista. com. br

GEORGE DINIZ designer gráfico


EDITORIAL

UM NOVO TEMPO

AMÉLIA PANET arquiteta e urbanista

ALEX LACERDA jornalista

HÉLIO COSTA LIMA arquiteto e urbanista

DÉBORA CRISTINA jornalista

MAURÍCIO GUIMARÃES coach e consultor

LIDIANE GONÇALVES jornalista

“Apesar dos castigos, estamos crescidos, estamos atentos, estamos mais vivos”. Ivan Lins cantou isso muitas vezes em discos e shows. Ele falava originalmente de outra coisa (a canção é de 1980, e o tema é a infame ditadura militar que oprimiu o Brasil de 1964 a 1985), mas a letra pode, em boa parte, ser relacionada ao que vivemos hoje: o mundo assolado pela pandemia do novo coronavírus, com mais de meio milhão de mortos no mundo (em números do final de junho). Viveremos um novo tempo. Mas que tempo será esse? A AE procura observar um pouco do que estamos vivendo agora, em um tempo ainda de muita incerteza. No fechamento desta edição, a pandemia ainda está em alta no Brasil, embora já tenha reduzido a marcha na Ásia e na Europa, locais que começam a experimentar o “novo normal”. Aqui, medidas de relaxamento do isolamento não após a queda de casos e mortes, mas enquanto eles continuam em alta tornam o futuro imprevisivel. Um olhar sobre um aeroporto preparado para esse novo tempo e a nova realidade de aulas online nos cursos de arquitetura são temas desta edição. Mas o assunto certamente voltará às nossas páginas. “Páginas”, aliás, é um conceito que pode ser discutido. Nesse novo tempo, a AE tem, pela primeira vez, uma edição exclusivamente virtual. Mas o conteúdo é aquele mesmo que você se acostumou a ler e gostar. Desde uma entrevista sobre o novo conceito de neuroarquitetura até a força da arquitetura no premiado filme Coringa, em uma sessão com arquitetos convidados, realizada antes da pandemia. Boa leitura e fique com a gente! ARTESTUDIO

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VIDA PROFISSIONAL

10 MOTIVOS PARA NÃO DESISTIR DO SEU NEGÓCIO É preciso melhorar o presente pensando no futuro

“S

erá que é o fim do meu negócio?”. Esta pergunta talvez seja a mais temerosa de ser respondida nesse cenário atual. Eu tive que encontrar diversas respostas para essa pergunta sobre o meu negócio. Tive que pensar e repensar sobre muitas coisas: como produto, posicionamento de mercado, públicoalvo, comunicação, redes de relacionamento, entre outras. Mas tudo só começou a ter muito sentido quando deixei claro para mim mesmo os motivos para continuar firme e provocar as mudanças necessárias. Vou dividir com vocês um pouco de minha experiência e quais foram os dez motivos mais relevantes que encontrei para permanecer firme e forte, como nunca. 1 – A dor da desistência é maior do que dor de ter chegado até aqui. Empreender não é simples, nem traz resultados rápidos. Isso todos sabem. Muitos percalços, prejuízos, ingratidão de parceiros, fornecedores, clientes e até familiares permeiam a caminhada de quem se lança no mercado. Muito suor, noites mal dormidas, jornadas de trabalho longas... Tudo isso gera resultados, mas a duras penas, não é? Agora, pensar em deixar tudo para trás dá uma dor danada. Persistir em algo que dá prejuízo, pois o mercado não absorve mais, é uma coisa. Outra coisa é você saber que há muitas oportunidades e não conseguir levar a frente seu sonho. Portanto, escolha a dor que quer sentir. Eu escolhi a primeira. 2 – Valorize os seus resultados até aqui. Olhe para trás e veja onde você chegou, o que aprendeu com seus erros e acertos. O retorno

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que seus clientes bem atendidos deram, os resultados financeiros, mesmo que estejam abaixo de suas expectativas mais otimistas. Valorize mais suas conquistas, por menores que tenham sido. 3 – Pense a longo prazo. Nada no empreendedorismo dá resultado imediato. Tudo tem sua maturação. Algumas ideias dão resultados mais rápidos, frutos de outros aprendizados adquiridos. Sonhe alto, defina propósitos de médio e longo prazo, pois eles ajudarão a reforçar sua motivação. 4 – Tenha clareza dos motivos pelos quais precisa continuar. Escreva de forma precisa – baseando-se na família, amigos, parceiros e mercado – por que você precisa continuar. Seja otimista e só escreva coisas boas que irão levantar sua moral. 5 – Porque é fácil encontrar um motivo para desistir. O ser humano adora se acostar às coisas negativas do passado quando está em dificuldades. Desta forma somam-se, e tornam-se “claros”, os motivos para desistir. Pura sabotagem! Pare de somatizar essas coisas e foque só no que precisa fazer para se posicionar melhor e solucionar seus problemas. Vai por mim! 6 – Quando você desiste muitas pessoas veem apenas seu fracasso. A pior coisa que existe é ver as pessoas caçoando de você, fazendo maus comentários quando algo deu errado no seu negócio. Não é que você vai se importar com esse tipo de opinião, redirecionando a todo momento seu posicionamento – a questão está na sensação ruim que causa. Portanto, evite isso e siga firme.


7 – Você nunca saberá o que tem no fim do arco-íris. No fim do arco-íris existe um caldeirão de moedas, diz a lenda. Essa metáfora ajuda você a entender que a bonança só será possível se tiver tempestade. Queira ver e tocar em suas moedas no caldeirão. Persista e os resultados virão. 8 – Quanto mais difícil for, melhor a recompensa. Como citei no motivo anterior, a sensação de passar por uma tempestade fortalecido é uma maravilha. Saber que as coisas estão melhores graças à sua força de vontade e persistência é um grande prazer. Queira sentir esse prazer. 9 – Você muda muito quando se propõe a crescer e continuar. Na trajetória durante a tempestade você precisa aprimorar alguns comportamentos, pensamentos, habilidades e competências. Isso é enriquecedor e tornará você bem mais forte e capaz de empreender com mais segurança.

Fotos e imagens: Divulgação

10 – Você pode estar mais perto do que imagina. Lembra daquela história de dois garimpeiros, um cavando e chegando bem perto do ouro, mas desistindo, e o outro persistindo só mais um pouco e conseguindo chegar lá? Pois é, talvez só falte alguns detalhes para você acertar na mosca. Certamente, devem existir outros motivos para você não desistir de empreender. Escrevaos e siga em frente. Por fim, te desejo sucesso – porque sorte está ligada ao acaso e o sucesso ao seu esforço.

MAURÍCIO GUIMARÃES

Master coach e consultor em gestão empresarial. Palestras, treinamentos e workshops para empresas. www.seivaconsultoria.com.br @seivaconsultoria10

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VISÃO LATERAL

PREPARADO PARA O

‘NOVO NORMAL’

A premonição arquitetônica do novo aeroporto de Florianópolis

O

aspecto mais valorizado e aplaudido da arquitetura é, por razões óbvias, a estética. O encantamento que nos causa o “jogo magnífico” das formas, das cores e das texturas sob a luz, explica a proeminência da dimensão artística na nossa percepção da obra arquitetônica. Entretanto, a prevenção de doenças e o controle de epidemias e pandemias são aspectos também relevantes para os quais a arquitetura e os arquitetos contribuem. A própria arquitetura moderna tem raízes na busca da superação das graves crises sanitárias que assolaram a Europa e o novo mundo, nos séculos XVIII e XIX, com o crescimento vertiginoso da população urbana provocado pela Primeira Revolução Industrial, em cidades com estruturas urbanas ainda medievais – ruas estreitas e pouco ensolaradas, ausência de esgotamento sanitário, edifícios colados uns aos outros, ambientes internos escuros e pouco ventilados... Assim, edifícios recuados das vias, afastados uns dos outros e sobre pilotis, amplas aberturas para deixar penetrar a luz e a ventilação naturais, e terraços a céu aberto para banhos de sol, passaram a ser princípios da “nova estética” fundada pela arquitetura moderna nas primeiras décadas do século XX, indo de par com o reconhecimento, pela medicina de então, da importância da renovação do ar dos ambientes e do potencial terapêutico da luz solar como coadjuvantes no tratamento e controle da disseminação de enfermidades altamente contagiosas, como a gripe, a tuberculose e a varíola, por exemplo. Em tempos de ultra concentração populacional em megalópoles interligadas em escala global pela intensificação do tráfego aéreo, e em escalas metropolitana e urbana pelo transporte público de massa, se faz ainda mais necessária a contribuição dos arquitetos e urbanistas, em busca de ambientes mais

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Fotos: HCL

salubres e que favoreçam a prevenção e o controle de epidemias e pandemias, como a que ora enfrentamos. Como exemplo deste potencial de contribuição, se faz digno de nota o novo aeroporto de Florianópolis - obra recente (de 2018) da moderna arquitetura contemporânea brasileira, da lavra do escritório Biselli Katchborian Arquitetos, especialmente porque os aeroportos estão no epicentro da pandemia da covid-19, uma vez que o coronavírus por eles entrou em diferentes países. Nesta obra, numa quase premonição arquitetônica, já que foi concebida antes da pandemia, os arquitetos propõem amplos espaços abertos de estar e espera, que favorecem ao distanciamento social e asseguram um ambiente salubre para a permanência de grande quantidade de pessoas, inovando em relação ao modelo dominante de aeroportos que confinam funcionários e usuários lado a lado por longas horas, em áreas fechadas, com ar-condicionado e iluminação artificial. Entre a grande marquise de entrada ao nível do solo e o corpo propriamente dito (fechado) do aeroporto, abre-se uma grande praça coberta, envolvida por amplas circulações, verdadeiros passeios ao longo dos quais estão lojas, bares, restaurantes e lanchonetes, na qual se concentram as pessoas, viajantes ou não, em espera, atraídas pela luminosidade, pelo ar puro e pela amplitude do espaço, permeado de jardins e equipado com mobiliário diversificado, tudo favorecendo a uma permanência agradável, segura, saudável, e emancipadora das ansiedade que permeiam as longas esperas em terra das viagens aéreas. Esta grande praça, que atrai e concentra grande parte dos usuários do aeroporto, cumpre também a função de descarregar os ambientes internos da parte fechada do edifício, estes mesmos fartamente permeados de jardins e


luz natural, trazendo benefícios até para aquelas funções e serviços que só podem acontecer em ambientes confinados, que ficam restritos apenas à presença de usuários e funcionários a eles diretamente ligados. Esta obra deve se tornar referência não apenas para a renovação dos conceitos arquitetônicos pós pandemia de aeroportos, mas também de outros equipamentos urbanos e edifícios de alta concentração e circulação de pessoas, como shopping centers e mercados públicos, estações de metrô e de trens, terminais rodoviários, escolas e hospitais, entre outros, e ainda porque demonstra, claramente, o potencial de contribuição da arquitetura e dos arquitetos para a construção do “novo normal”.

HÉLIO COSTA LIMA Arquiteto e urbanista @helioclima_arquiteto

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VISÃO PANORÂMICA

DA

INSPIRAÇÃO E DO PLÁGIO

Linhas tênues dividem uma inspiração, um plágio ou falsificação Fotos: Divulgação

P

lágio, cópia, inspiração, imitação, falsificação, referência... Linhas tênues dividem esses atos de investigação e esse pequeno texto está longe de envolver todas as voltas desse novelo. Até que ponto podemos ir com tais alusões sem ser considerado um plágio ou falsificação de parte ou de toda a obra de um autor? Assunto muito complexo e polêmico de se tratar por envolver nuances e direitos autorais de autores considerados originais do fato/objeto ou obra em questão. Para iniciar esse assunto volto à década de 1960 com os aportes teóricos de Cesare Brandi, em Teoria da Restauração, especificamente o seu primeiro “apêndice” sobre “falsificação”. Para Brandi (1963) “a falsidade se funda no juízo”, portanto, ”(...)um juízo problemático com o qual se faz referência às determinações essenciais que o sujeito deveria possuir e não possui, mas que, ao contrário, se pretenderia que possuísse”, e continua,”(...) donde no juízo de falsidade se estabelece a não congruência do sujeito ao seu conceito e o próprio objeto é declarado falso”. O que o autor apura com muita propriedade é a premissa de que a falsidade está no juízo do ato de produzir tal objeto, e não no objeto em si. Ou seja: cabe averiguar a intencionalidade com o qual foi produzido tal objeto e/ou posto em circulação. Portanto, para o autor, na base

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Imagens de divulgação cedidas por Sérgio Matos, autor da cadeira original Ipê.

conceitual que diferencia cópia, imitação e/ou falsificação “não está uma diversidade específica nos modos de produção”, mas está a natureza dessa “intencionalidade diversa”. Para exemplificar tal premissa, Brandi cita três casos fundamentais. O primeiro deles, diz respeito a produção similar de um objeto, exatamente igual ao original, apenas com o objetivo de “ser uma documentação do objeto ou pelo prazer que dele se quer extrair”. Alguns museus, por exemplo, fazem reproduções de suas peças e guardam com zelo o original para perpetuá-los às futuras gerações, deixando claro que o objeto exposto é uma réplica do original. Não há, portanto, a intenção de confundir a reprodução com o seu original. Da mesma maneira, podemos reproduzir uma peça de um designer para compreender o seu processo, apreender a sua técnica, ou mesmo para o nosso deleite sem que, com isso, tenhamos a intenção de confundila com o original ou, mesmo, comercializá-la. Em várias profissões a mimese faz parte dos processos de aprendizado e são praticadas num contexto de formação profissional. O segundo caso abordado por Brandi diz respeito à produção de um objeto, igual ou semelhante ao original, “mas com o intento específico de levar outros ao engano a respeito da época, da consistência material ou do autor”. O terceiro caso, também trata-se da produção similar


de um objeto/obra com “a imissão no comércio ou, de qualquer modo, difusão do objeto, mesmo que não tenha sido feito com a intenção de levar ao engano, como uma obra autêntica, de época, ou de matéria, ou de fabricação, ou de autores diversos daqueles que dizem respeito ao objeto em si.” Nesses dois últimos casos, para Brandi, tratam-se de duas “acepções fundamentais do falso”. Nos três casos, no entanto, a execução de uma cópia, ou de uma reprodução similar ao original, jamais alcançará a “obra na sua total fenomenologia”. Ainda existem dois pontos importantes abordados por Brandi no trato dessas questões: “a dificuldade em provar o dolo, que é essencial para o juízo de falso”; e “a impossibilidade de excluir, mesmo nos períodos mais remotos da civilização, uma intencional produção de falsos, dado que civilização é também sinônimo de comércio e, portanto, de uma escala de valores, por mais rudimentar que seja, sobre os quais se exercita de imediato a malícia humana”. Para além dos vários aspectos discutidos por Brandi, que nos ajuda a compreender e julgar os atos falhos das reproduções falsárias, o animus da comercialização da reprodução parece ser algo definidor do juízo de falso, gerando prejuízos morais e econômicos consideráveis aos autores originais. Tal assunto veio à tona, recentemente, no mercado das peças de arte, arquitetura e design com o caso do reconhecido designer paraibano Sérgio Matos, que teve suas peças “supostamente” reproduzidas por uma loja brasileira. Cito especialmente o “Balanço Ipê” comercializado legalmente pela Artefacto. Diante dos aspectos apresentados por Brandi tirem suas próprias conclusões. Assim como no design de peças e obras de arte, as obras arquitetônicas também são objetos de “inspiração”. E, por serem mais complexas, o juízo de falso, plágio ou inspiração, também passa por rigorosa avaliação. No Brasil, a Resolução n° 67 do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), de 5 de dezembro de 2013, dispõe sobre os direitos autorais na arquitetura e urbanismo e estabelece normas e condições para o registro de obras intelectuais.

Nessa resolução, o artigo 21 considera “plágio em arquitetura e urbanismo a reprodução de pelo menos dois dos seguintes atributos do projeto ou obra dele resultante: I – partido topológico e estrutural; II – distribuição funcional; III – forma volumétrica ou espacial, interna ou externa”. O parágrafo único desse mesmo artigo reforça que “o plágio estará configurado, mesmo quando os materiais, detalhes, texturas e cores forem diversos do original”. Nas palavras do arquiteto Paulo Ormindo de Azevedo, da Bahia, procuramos reforçar tais questões, pois, no caso de plágio, “devemos discutir a natureza da arquitetura”. Para o arquiteto, a “chave para a caracterização do plágio está na famosa tríade vitruviana: firmitas entendida como o partido estrutural/ topológico; utilitas, como a distribuição das funções e circulações no edifício, e venustas como a forma dos espaços internos e sua volumetria”. A tríade vitruviana foi, portanto, base para o Artigo 21 da Resolução 67/2013. Assim, para considerar o plágio na arquitetura a obra em investigação deve manter coincidências em pelo menos dois dos atributos mencionados pela resolução, mesmo que, a olhos vistos, a “inspiração” tenha sido evidente. Naturalmente, seria o terceiro item, inspirado na venustas, aquele que, de imediato, causaria o maior constrangimento ao autor original e, por onde, se poderia provar a intencionalidade do falsário. No entanto, na arquitetura parece que tudo se torna mais complexo e, talvez, só a célebre frase do cientista francês Antoine Laurent Lavoisier, na ocasião mencionada para exemplificar o princípio da conservação das massas, possa esclarecer. Pois, assim como na arquitetura, “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Finalizo, assim, fazendo uma analogia com a linguística onde, considerando a sintaxe e a semântica, poderemos até utilizar as mesmas palavras numa poesia, mas o seu significado e sentido podem ser totalmente diferentes. O verdadeiro sentido da poesia não está apenas nas palavras utilizadas, mas no arranjo que delas fazemos. Enquanto poesia em “concreto” a arquitetura plagiada jamais alcançará o verdadeiro sentido de sua concepção original.

AMÉLIA PANET

Arquiteta e urbanista Mestre em Arquitetura e urbanismo Doutora em arquitetura e urbanismo pela UFRN Professora do curso de arquitetura e urbanismo pela UFPB @ameliapanet

Imagens de casos na justiça, cedidas por Sérgio Matos, autor da cadeira original Ipê.

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URBANISMO

COMUNIDADE GANHA PROTAGONISMO A VIDA EM

Depois da pandemia do novo coronavirus, a convivência social vai ganha um outro olhar

“O

mundo é cíclico, e a comunidade do futuro é a comunidade do passado atualizada”. Essa frase do Caio Esteves em seu livro sobre place branding, assunto que é especialista. O isolamento social deve acentuar nas pessoas o senso de pertencimento. Bairros pensados com essa finalidade serão considerados as moradias do futuro. Nos últimos meses, diante de um cenário de pandemia, parte da população mundial se viu obrigada ao confinamento. Cenas comoventes de pessoas em suas sacadas promovendo interação social à distância com o vizinho povoaram os telejornais e evidenciou o quanto o ser humano, em sua essência, é relacional e precisa da conexão com o outro e do convívio em comunidade. Isso explica que a necessidade de pertencer a uma comunidade deverá se fortalecer depois da experiência do confinamento. O senso de pertencimento está relacionado à necessidade do ser humano em estar conectado ao lugar onde vive. É o que nos faz gostar mais de um lugar que de outro. São características distintivas e claras que atraem pessoas do mundo todo: visitantes, moradores, talentos e investidores. O movimento vem na direção contrária do crescimento dos grandes centros. Na medida em que eles foram ocupados e verticalizados, os relacionamentos comunitários acabaram sendo negligenciados, tanto em razão da vida agitada da vida moderna quanto da distribuição espacial dos moradores das cidades. Com a vida em andares, mal se encontra o vizinho no elevador. Os encontros na porta de casa foram acabando já que cada qual sai no seu veículo. A abordagem chamada place branding ainda é um conceito pouco disseminado no Brasil,

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Fotos: Divulgação

mas deve ganhar força com esse novo momento mundial. Ele se integra ao movimento do Novo Urbanismo, nascido nos anos 1980 nos Estados Unidos, para resgatar a qualidade de vida e melhorar o relacionamento entre o homem e a cidade. Na prática, projetos do Novo Urbanismo buscam mecanismos urbanos para se incentivar a mobilidade, o caminhar, o trabalho perto de casa e os espaços de convivência. ”É um lugar onde se pode viver, aprender, estudar, trabalhar em uma rede que cria uma relação entre seus moradores”, diz Caio. Numa centralidade, você conhece o empresário, padeiro e o dono do mercadinho, porque eles também são seus vizinhos e amigos. A tecnologia, que foi mais impulsionada nos dias de pandemia, também continuará influenciando a movimentação diária das pessoas. Um aprendizado do isolamento social, está justamente no entendimento de que não é preciso sair às ruas. A tecnologia está à disposição e tudo pode ser entregue em casa. Isso torna o ato de sair de casa mais extraordinário. O espaço público deixa de ser o caminho para ser o destino.

Exemplos Embora ainda esteja começando no Brasil, já existem quem coleciona experiências bem sucedidas de comunidades desenvolvidas com o estímulo do senso de pertencimento. Um exemplo é o bairro Pedra Branca, localizado em Palhoça, na Grande Florianópolis, Santa Catarina, Ancorado na Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), foi criado no final da década de 1990 com a meta de ser um bairro que oferecesse moradias, comércio, serviços, lazer, trabalho e educação, a distâncias confortáveis para serem percorridas a pé ou de


Imagens: Lidiane Gonçalves

bicicleta. O bairro-cidade, em cerca de 250 hectares para abrigar para 40 mil moradores. Em Goiânia, também está sendo desenvolvida uma solução dentro deste mesmo conceito, o Plateou d’Or, que está sendo construído em área de 1.600.000 m2, às margens da GO-20. O empreendimento será um condomínio horizontal com um hub humano que contemplará uma rede de serviços e lazer que vai atender toda a região, concentra cerca de 230 mil pessoas, principalmente em condomínios horizontais. Projetado pelo premiado escritório inglês de arquitetura Broadway Malyan, traz conceitos urbanístico de walkability, que busca estimular a caminhada agradável em espaços especialmente planejados para isso, e o placemaking, e propõe um processo de planejamento, criação e gestão de espaço totalmente voltado para as pessoas, visando uma maior interação entre elas e o próprio meio, e transformando pontos de encontro de uma comunidade (parques, praças, ruas e calçadas) em lugares mais agradáveis e atrativos. São conceitos que atendem a cinco pilares importantes para a qualidade de vida: saúde, serviços, comércio, cultura e educação. Será possível uma criança sair de dentro de sua casa, no condomínio, e chegar à escola a pé, sem atravessar uma rua. Esse tipo de proposta quer tirar as pessoas de dentro dos seus muros e oferecer a elas a oportunidade de viver e conviver no mesmo lugar, a poucos passos de casa, e atender a um anseio da sociedade, que busca uma atmosfera que oferece o clima de comunidade, como não se vê mais nos grandes centros, onde as pessoas ficam reclusas ao ambiente de suas residências. É como retornar ao interior nos tempos em que se passeava pelo bairro e se dedicava um tempo às conversas com os vizinhos. Para Caio Esteves, projetos assim relembram cidades antigas como Londres e ainda cidades de países como Itália e França, onde se tem prazer em andar pelas ruas largas e contemplar a paisagem. “É para essa realidade que as comunidades do futuro devem ‘voltar’”, explica.

RAQUEL PINHO

Comunicação sem Fronteiras

@comunicacaosemfronteiras

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URBANISMO

O IMPACTO DO

TRABALHO REMOTO Como estar em casa vai impactar o nosso futuro

Fotos: Divulgação

A

covid-19 desferiu o que alguns consideram o golpe final para os proprietários de imóveis comerciais ao acelerar a transição para o e-commerce. Agora, os escritórios estão no centro das atenções. Será que essa pandemia vai acelerar a velocidade com que as pessoas estão trocando o escritório pelo trabalho remoto, eliminando a necessidade de manter um espaço físico? Temos sido bombardeados com notícias de empresas que consideram mudar de vez para o trabalho à distância. Mark Zuckerberg fez uma transmissão ao vivo de 45 minutos sobre o que o trabalho remoto significaria para o Facebook. Algumas empresas, como Nubank, Twitter, Google e XP Investimentos, adotaram o home office em larga escala durante a quarentena (para não dizer pra sempre). Será que essa mudança alteraria não apenas onde trabalhamos, mas também onde e como vivemos?

Trabalhar em casa não é para todo mundo O home office pode aumentar a produtividade, sem dúvida. No entanto, nem todas as tarefas precisam ser feitas de maneira eficiente e nem todo trabalho tem que ser produtivo. Pesquisas mostraram que o trabalho em casa aumentou a produtividade e a felicidade de funcionários cuja produção pode ser facilmente mensurada, como representantes de call center, vendas e desenvolvedores. Também aumentaram para gerentes seniores, que tendem a ter estilos de vida mais estabelecidos (ou seja, casados, com filhos etc.) e são guiados pela automotivação (embora muitos pais gostem de manter uma distância razoável entre suas vidas profissional e pessoal).

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Quem trabalha com criatividade, pesquisa e conhecimento tende a resistir ao home office, assim como a geração mais jovem. Estar perto dos outros e ouvir suas ideias permite que a criatividade flua. Já se sabe que a interação do dia a dia tende a ser a melhor maneira para resolver problemas difíceis e desenvolver uma cultura de equipe. E os jovens trabalhadores? Bem, esses dão muito valor à interação social e ainda precisam de supervisão em seus primeiros anos no mercado. Mesmo na live de Mark Zuckerberg, em que ele compartilhou a pesquisa realizada com funcionários do Facebook sobre o trabalho remoto, os funcionários mais jovens não estavam entusiasmados com a perspectiva de fazer home office em tempo integral. Ele concordou, considerando que os recém-graduados ainda são necessários no escritório. A mesma pesquisa mostrou que 40% dos funcionários estavam muito ou parcialmente interessados em permanecer totalmente remotos. Mas nem todo mundo poderia ou estaria disposto a fazer isso, por circunstâncias que vão além da covid.


O que os profissionais realmente querem é flexibilidade (como tudo mais na economia compartilhada), e não políticas definitivas.

espaço extra, recuperando margens valiosas a longo prazo.

Horários

O trabalho remoto como estratégia de contratação e retenção (e como redução de custos trabalhistas). Todo mundo sabe como é competitivo recrutar e manter talentos em tecnologia no mundo das startups, especialmente na América Latina. O Facebook, que segundo Mark Zuckerberg não tem problemas na hora de contratar, diz que agora está abrindo escritórios menores em centros urbanos alternativos para estar mais perto dos talentos locais. Dessa forma, pode reunir trabalhadores de diversas regiões, sem realocá-los para Nova York ou São Francisco, enquanto paga salários compatíveis com a média desses hubs menores. Podemos esperar que o salário médio do desenvolvedor cresça mais lentamente, pois a falta de mão-de-obra não será um problema. Essa política também ajudará a reter talentos, atraindo engenheiros que desejam se estabelecer ou que desejam uma vida interiorana. Uma enorme preservação dos custos de treinamento, conhecimento e cultura da empresa.

A flexibilização de horários se tornará uma tendência, reduzindo as futuras demandas por espaços de trabalho. A pandemia forçou a maioria dos gestores a usar o trabalho remoto pela primeira vez, mesmo que antes eles estivessem céticos quanto à produtividade de suas equipes. No entanto, após reunir vivências e evidências reais sobre como o trabalho remoto pode ser benéfico - e quando não é -, os gerentes devem criar novas políticas para permitir que grupos de funcionários adaptem sua presença no escritório de acordo com seus próprios cronogramas. Ter menos pessoas na sede significa que há menos espaço sendo ocupado, mas a confiança ainda precisará ser validada quando o distanciamento social for relaxado. Atualmente, muitas empresas maduras estão renegociando a locação de seus escritórios vazios para economizar dinheiro, mas dificilmente estão reduzindo os contratos. Os CFOs estão planejando o ganho de escala sem adicionar

Trabalho remoto

Imagens de divulgação da sede do Facebook

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Assim, ao melhorar a retenção, reduzir os custos de contratação e atraindo funcionários por um salário mais baixo, as empresas que trabalham remotamente reduzirão suas futuras despesas com talentos. (É justo dizer que apoio a afirmação de Mark, de que o trabalho remoto ajuda a distribuir a riqueza para além das grandes cidades. Uma grande vitória para regiões que muitas vezes são deixadas de lado).

O home office já mudou a forma como viajamos

As exurbs, ou cidades-satélite, ganharão mais espaço como destinos de viagem, como afirmou Brian Chesky, do Airbnb, fazendo com que os turistas escolham visitar lugares acessíveis e mais perto de casa. Portanto, adeus à caça ao tesouro por descontos em passagens aéreas para o exterior. Os viajantes vão procurar chalés agradáveis na serra ou casas à beira-mar para passar um tempo com amigos e familiares. Esse tipo de passeio provavelmente ocorrerá com muito mais frequência do que a viagem ao exterior duas vezes por ano, para a qual muitos millennials costumavam juntar economias. As viagens de negócios (quase) acabaram completamente durante esta crise. Conferências e reuniões passaram rapidamente para o formato online. Não sei ao certo quanto disso voltará ao modo offline. A interação virtual provou ser um formato altamente eficaz para uma série de palestras e encontros de pessoas com interesses em comum. O mesmo não pode ser dito sobre grandes congressos e feiras. Quanto ao futuro do escritório, as equipes continuarão usando esse espaço para criar redes 22

de relacionamento e aproveitar o conhecimento coletivo para a solução criativa de problemas. Os escritórios serão projetados para estimular a criatividade e a socialização, como o do Nubank, em vez de serem criados para simular o experimento de Foucault sobre poder e controle. Os espaços de co-working mostraram o caminho. Eles foram construídos inicialmente para atender os primeiros profissionais independentes que tinham horários de trabalho flexíveis. Mesmo assim, esses profissionais buscaram um espaço de trabalho, procurando infraestrutura e um grupo de pessoas que pensasse de forma parecida. A XP Investimentos já está repensando sua sede, transformando-a em um centro de treinamento, comunidade e recepção de clientes.

O trabalho remoto mudará a forma como vivemos O estudo recente do Grupo Zap sobre o impacto da covid nas tendências imobiliárias contém insights excelentes sobre as preferências de moradia dos consumidores. Mesmo que o mercado esteja paralisado por enquanto, comprometendo os dados e as ideias que gera. No geral, os compradores estão adiando aquisições em mais de 10 meses e os locatários estão adiando mudanças em quatro meses. O mais interessante é a mudança nas preferências de moradia após o covid. Para os locatários, a proximidade entre sua casa e o trabalho é o principal desejo após a crise. Na combinação demográfica (compradores e locatários), a proximidade da nova casa ao comércio e aos serviços ganha importância. Um dos motivos pode ser a percepção de que um melhor equilíbrio entre vida profissional e familiar é possível quando o deslocamento diário diminui.


O co-living, curiosamente, já tinha a proximidade do trabalho, do comércio e dos serviços como sua principal proposta de valor. Na Yuca, uma startup de co-living, 55% dos inquilinos optaram por esse modelo de moradia devido à proximidade do trabalho. Ainda assim, a vida na cidade vai além de estar perto do trabalho. Os inquilinos de colivings em geral escolheram passar o isolamento com parentes. Um terço dos que ficaram relatou ter feito isso porque se sentiriam sozinhos. Dos que partiram, 25% retornaram porque estavam se sentindo sozinhos. A moradia compartilhada atende a outras necessidades além do abrigo. Dá a seus moradores a oportunidade de construir conexões significativas em um mundo atormentado pela solidão. Com as medidas de distanciamento social diminuindo, as pessoas buscarão mais conexões fora do trabalho.

Países diferentes, mentalidades diferentes Há uma correlação positiva entre os níveis de urbanização e desenvolvimento econômico. A concentração da produção e da habitação em áreas específicas geram economia em infraestrutura, no varejo (mesmo para e-commerce) e em serviços. Isso permite que os talentos se concentrem em um só lugar, criando economias de aglomeração. Os Estados Unidos têm vários centros urbanos com concentração de riqueza para alcançar tais economias de escala. Mas esse não é o caso da América Latina. Uma grande parte da população urbana de nossos países está concentrada em sua maior cidade: 7% nos EUA, comparados a 12% no Brasil, 21% no México, 36% na Argentina, e assim por diante. Essa lógica deixa as cidades menores com um conjunto menor de talentos, serviços e infraestrutura para sustentar uma estratégia de trabalho remoto por todo o país.

Isso, claro, vai mudar. No entanto, mudanças monumentais como essa levam muitos anos (senão décadas) para acontecer. As economias em desenvolvimento farão a adoção tardia, contando com o aumento da urbanização por algum tempo antes de mudarem para uma economia mais distribuída. As tendências de urbanização não levarão mais vinte anos para passar por grandes mudanças, mas também não mudarão nos próximos cinco.

Não se esqueça da lei de Amara Ao ler a atual avalanche de previsões online, lembro rapidamente da famosa lei cunhada pelo futurista Roy Amara, de Stanford: tendemos a superestimar o efeito da tecnologia no curto prazo e subestimar seu efeito no longo prazo. Estou longe de ser um economista, planejador urbano ou futurista. No entanto, tenho certeza de que a covid-19 não é para sempre. Portanto, qualquer mudança decorrente do distanciamento social perderá força assim que as medidas de isolamento forem relaxadas. Essa pandemia é o melhor momento para impulsionar a adoção remota do trabalho, mas está longe do cenário real do mundo pós-vírus. O que começou como pandemia e tomou forma de crise econômica, finalmente criará uma onda de novas tecnologias e políticas. Tudo isso impulsiona mudanças significativas na forma como trabalhamos e como vivemos, primeiro de forma gradual e, em um segundo momento, de repente. No entanto, nos próximos anos, ainda existirão escritórios e residências nas grandes cidades. Ainda existem grandes obstáculos e comportamentos fundamentais que levarão algum tempo para serem superados, dando aos empreendedores tempo suficiente para entender para onde irá a próxima geração de “consumidores” imobiliários.

PAULO BICHUCHER

Paulo Bichucher, co-fundador da Yuca @yuca.live

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ENTREVISTA

LORÍ CRÍZEL

PROJETANDO EMOÇÕES

Entrevista: Márcia Barreiros | Texto : Renato Félix | Fotos: Divulgação

Como a neuroarquitetura ajuda a fazer com que os projetos toquem os clientes de maneira especial

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A

que o arquiteto e urbanista Lorí Crízel se tornou especialista. Idealizador do selo Neuroarch (sobre neuroarquitetura, neurodesign e neurolighting), ele ministra workshops, é professor de pósgraduação e já participou de atividades de imersão em alguns dos maiores escritórios de arquitetura do mundo. E conversa com Márcia Barreiros para a AE, falando sobre como a neurociência pode ajudar nos projetos arquitetônicos.

AE – O que é neuroarquitetura e como ela começou a ter mais destaque no mercado? LC – A neurociência aplicada a qualquer área – à arquitetura, ao marketing, ao business – é quando começa a entender como é o nosso cérebro, como um elemento que faz parte do nosso corpo e que tem um funcionamento de uma forma muito específica, como nós aproveitamos o conhecimento sobre esse mecanismo para nos utilizar dele da melhor forma. Nós usamos a neurociência de uma forma empírica ou observatória há muito tempo, como o espelhamento ou recompensa. Quando a gente tem um conhecimento mais técnico, mais embasado e científico sobre isso, pode trabalhar com elementos de estímulos, mentais, sensoriais, comportamentais, que induzem pessoas a fazer essa leitura.

são os mecanismos de comportamento social de um grupo como um padrão – o que, na arquitetura comercial, a gente chamaria de “público-alvo” – a gente consegue traçar como funcionam esses mecanismos. A neurociência como base, como área da medicina, sempre se dedicou a isso. Houve um grande interesse por parte da psicologia e se percebeu que conhecendo o mecanismo físico do cérebro, se podia ajudar e muito uma pessoa em tratamento psíquico.

Imagem: arquitetura BIG

mente humana é um elemento surpreendente, e que nos prega peças o tempo todo. Entender seu funcionamento pode ajudar a compreender melhor o mundo com que temos contato. E também a atingir melhor nossos objetivos, se eles dependem de tocar as pessoas, como é o caso da arquitetura. A neurociência aplicada à área vira a neuroarquitetura, área em

AE – Mas pessoas de diferentes regiões podem ter comportamente diferentes a respeito de estímulos iguais, não é? LC – Sim, as características regionais, geográficas, culturais e sócio-econômicas sofrem influência. A partir do momento que você entende como é que

AE – E daí para a arquitetura? LC – Em paralelo algumas áreas atentaram a isso e começaram a usar de uma forma ainda saudável, mas pensando em outro tipo de resultado. Por exemplo, o marketing começa a trabalhar com o neuromarketing. Como é que uma propaganda televisiva me impulsiona alguma coisa? O que é importante eu ouvir ou visualizar para ter determinado estímulo? Coisa simples: estamos em um café e, de repente, eu peço uma fatia de torta. Você vê a minha fatia e diz: ‘Acho que também vou pedir uma’. Pedir essa fatia estimulou você a isso.

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AE – E como é que a neuroarquitetura começa a trabalhar? LC – Se a gente pensar que é regido por três grandes campos: o comportamental, que é como eu me relaciono como o mundo ao meu redor; o sensorial, o que observo e como eu sinto nesse espaço; e nosso próprio campo cognitivo, o que conheço de mundo. O campo cognitivo traduz, tem a ver com a nossa aprendizagem: aquilo que eu me apropriei de conhecimento, da minha experiência com o mundo que me cerca. Esses três campos se relacionam de uma forma muito objetiva. Se a gente vir um recorte da arquitetura, a gente percebe que a aplicação nos ambientes consegue fazer essa sequência: de um campo sensorial que aciona o meu campo cognitivo e me leva a um determinado comportamento. AE – Para um arquiteto que queira fazer neuroarquitetura – ou mesmo que não queira fazer um curso, mas quer aplicar essas técnicas –qual é o universo que ele vai ter que pesquisar, que ele vai ter que estudar para aplicar a parte técnica que ele já tem como arquiteto? LC – Primeiro, ele vai ter que entender um pouco de neurociência como base. A partir desse momento, é muito importante passar a entender tudo aquilo que for comportamental do ser humano. A gente tem muitas linhas de psicologia comportamental, até de arquitetura comportamental. É muito importante conhecer essas neurotécnicas a partir de algumas ferramentas que trabalham com sentidos humanos. As neurotécnicas vão além de uma boa arquitetura. Como queremos que as pessoas se apropriem desse espaço? Precisamos atingir a parte sensorial, é ela que vai me trazer o cognitivo, que vai chegar ao comportamental, e estimulamos com o design, a iluminação, etc., a parte sensorial física: através da visão, da audição, do tato... É o que se fala hoje de “experiências”. Para vivenciar uma experiência, tem que começar pelo campo sensorial. AE – Tem um número para essas neurotécnicas? Como a neurotécnica está se compartimentando? LC – Na verdade, depende do trabalho que você vai fazer. Mas basicamente se trabalha com as técnicas de comunicação visual, na exposição do ambiente. E essa técnica nos traz dois campos muito importantes: que é o emocional e o comportamental. E também a teoria de Einfühlung, da empatia e das linhas construtivas. 26

AE – Você diz que a gente usa a neuroarquitetura antes de começar a projetar, mas também usa no final, para arrematar toda essa percepção. Desde o início, projetual, mas também de finalização e uso do espaço. LC – A neurotécnica faz parte do processo como qualquer outro elemento do projeto. A diferença pra nós, agora, é que, quando você tem esse conhecimento de neuroarquitetura e percebe a importância disso, você pára de projetar espaços. Você começa a projetar emoções. Ela é feita para pessoas. Eu primeiro preciso entender de pessoas. AE – As pessoas gostam de fórmulas prontas e encontrar o caminho mais fácil. Qual a importância das pessoas entenderem esses conceitos e não pegar só atalhos? Qual seria o caminho mais correto para não entrar nessas furadas de uma “fórmula mágica”? LC – O bom do mundo é que existem algumas pessoas que percorrem primeiro os caminhos. E com esses caminhos percorridos, obviamente fica mais fácil. Então nós temos grandes autores que trabalham nessa linha e, se a gente quiser algum atalho, talvez seja ler esses autores, que tratam da parte comportamental, de conhecimento de neurociência... Temos grandes nomes aqui no Brasil que são destaques nessas áreas. Temos uma grande neurocientista brasileira chamada Carla Tieppo, que ministra muitos cursos em São Paulo, mas disponibiliza cursos online, foi uma desbravadora. Não fique na superfície. AE – Você vai lançar um livro. O que as pessoas podem esperar dele? LC – O livro traz o selo Neuroarch e vem com a proposta, justamente, dos atalhos de que nós falávamos. Eu trabalho com a chamada arquitetura cognitiva há 20 anos, antes do termo “neuro” ser aplicado à arquitetura. O livro pretende trazer para o público, até ao leigo, um conhecimento sobre isso. Então tem uma estrutura bem metodológica, falando em paralelo sobre neuroarquitetura, neurodesign e neurolighting. Tem muitas entrevistas: eu não queria que o livro fosse algo “que o Lorí pensa”, “o que o Loríi fez”. É um grande apanhado de uma pesquisa, mas não se limita a falar do tema: ele ensina a usar as técnicas.

Fotos: Divulgação

Outras áreas percebem que podem também trabalhar bem com isso. Na boa arquitetura, o diálogo é bem anterior a isso, muito antigo. Muito antes de se falar em “neuro”, como se fala hoje, já se trabalhava com a arquitetura cognitiva: através de cores e composições espaciais, atingir campos cognitivos das pessoas. Podemos estimular como queremos que as pessoas se comportem.


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LIVRO

AÇÃO SOB PRESSÃO ‘7 Lições de Negócios de La Casa de Papel ’ adapta para o mundo corporativo as estratégias e erros dos protagonistas da série Texto: Alex Lacerda | Fotos: Divulgação

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série La Casa de Papel é um fenômeno global e se tornou o título em língua não inglesa mais visto no planeta da Netflix, com cerca de 65 milhões de espectadores. Fábio Bandeira de Mello, consultor, professor e palestrante na área de empreendedorismo e marketing, enxergou na série um excelente pano de fundo para tratar de temas ligados ao marketing e lançou o livro 7 Lições de Negócios de La Casa de Papel (Editora Universo dos Livros, 160 páginas). A escrita do livro é bem solta e fluida, estabelecendo um diálogo informal. Como se o autor estivesse falando ao vivo com o leitor, mostrando várias lições, dicas e formatos que se pode botar em prática no dia-a-dia. Ao mesmo tempo, a obra é um livro de negócios em que o autor aponta assuntos que são muito importantes nesse meio. Desde soft skills que são necessárias – como liderança, negociação, comunicação – até assuntos de grande impacto na área – como estratégias, vendas, marketing, inovação. O livro mergulha no universo da série com muitas referências a personagens e cenas que estão na produção, além de citar grandes autores como Daniel Goleman, Robert Cialdini, Felipe Kotler e outros para dar sustentabilidade à argumentação que envolvem estes elementos. Segundo Fábio Mello, o livro não é destinado apenas ao fãs da série, mas a todos os profissionais que querem ampliar suas capacidades. “É para quem quer crescer profissionalmente e ter uma vivência maior com a liderança e a estratégia”, assegura. Naturalmente, se o leitor é familiarizado com a série, a leitura, que já é leve e bem rápida, vai ficar ainda mais envolvente. “Não precisa assistir a série, é um livro de negócios. Mas, naturalmente, quando a pessoa assiste a série e tem essa sede

de aprender mais, sem sombra de dúvida o livro acaba contribuindo bastante”, complementa. O autor destaca personagens e cenas mostrando as suas relações com a área de negócio. Ele mostra como podemos olhar a atitude de um personagem dentro do que ele faz na série e como os leitores podem implementar no dia a dia. Ao mesmo tempo, ele acrescenta referências de outras pessoas que não estão na série, mas que também fazem parte do ideário da cultura midiática atual, para reforçar esses posicionamentos. O autor destaca que a inteligência emocional é um dos elementos de grande importância no livro. “Na série há um ambiente de muita pressão, as pessoas estão muito tensas e precisam de um controle emocional muito grande e acabam não tendo. E essa inteligência emocional acaba sendo importantíssima para que todo esse desenrolar e atividades, estratégias e plano seja bem executado”, explica o autor. La Casa de Papel está atualmente na quarta temporada.

Editora: Universo dos Livros 160 páginas Formato: 15,5 x 23 cm.

Autor:

Fábio Bandeira de Mello

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GRANDES ARQUITETOS

FEMININA

FORÇA DA IRLANDA

Yvonne Farrell e Shelley McNamara quebram um tabu de 16 anos no Prêmio Pritzker

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Texto: Renato Félix | Fotos: Divulgação

azia três anos que uma mulher havia ganhado o Pritzker, mas a espanhola Carme Pigem dividiu a vitória com seus sócios homens do RCR Arquitectes. Para encontrar um prêmio exclusivamente feminino, a data é 2004, com Zaha Hadid. Pior: esta havia sido a única vez em que o prêmio foi exclusivamente para o sexo feminino. O tabu foi quebrado este ano, com a láurea sendo concedida às irlandesas Yvonne Farrell e Shelley McNamara. Farrell e McNamara comandam o o escritório Grafton Architects em Dublin. A dupla não estava exatamente sob os holofotes do mundo da arquitetura nos últimos anos, mas isso mudou após o projeto da Universidade de Engenharia e Tecnologia em Lima, no Peru. Volumes de diferentes dimensões e formatos, um aparente estilo do excesso. O exagero nos espaços de interação e convivência também se fez presente no conceito da Bienal de Veneza que o escritório comandou, há dois anos, e que foi chamada “Freespace”. Outro destaque da dupla é a Universidade de Luigi Bocconi, em Milão, que marca pela relação do foyer do auditório e a calçada da rua, remetendo a uma gruta. Os projetos para universidades acabaram se tornando muito presentes para Yvonne Farrell e Shelley McNamara: há planos para faculdades em Dublin e Limerick (ambas na Irlanda), Toulouse (na França) e a Escola de Economia de Londres. Este ano, foi inaugurada a Town House da Universidade de Kingston, em Londres, outra busca pelo freespace: o prédio mistura atividades de biblioteca e praça pública sem divisórias no interior do edifício. As duas arquitetas se conheceram na University College Dublin. Se formaram em 1976 e já emendaram com os cargos de professoras na mesma faculdade, onde lecionaram até 2006. O Grafton Architects foi fundado em 1978, com mais três parceiros – só Farrell e McNamara permanceram no escritório, com o passar dos anos. “Seus prédios são ‘bons vizinhos’ que buscam contribuir além dos limites do prédio e fazer com que a cidade funcione melhor”, diz um trecho da justificativa do Centro de Ensino da Kingston University- Reino Unido

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júri do Pritzker. “Sua abordagem à arquitetura é sempre honesta, revelando uma compreensão dos processos de projeto e construção, desde estruturas de grande escala até os mínimos detalhes. É freqüentemente nesses detalhes, especialmente em edifícios com orçamentos modestos, que um grande impacto pode ser sentido”. Embora os exageros visuais desafiem a criatividade da dupla, seus prédios procuram manter uma escala humana e preocupações ambientais. “A arquitetura é uma estrutura para a vida humana”, diz McNamara. “Ela nos ancora e nos conecta ao mundo de uma maneira que possivelmente nenhuma outra disciplina de construção de espaço possa fazer”. “No centro de nossa prática, há uma crença real de que a arquitetura é importante. É um fenômeno espacial cultural que as pessoas inventam”, completa Farrell.

Universidade Luigi Bocconi- Milão Itália

Univ. Eng Tecnologia - UTEC Nova Sede-Lima Peru

Escola de Medicina da Universidade de Limerick-Irlanda

Arquitetas:

Centro de Ensino da Kingston University- Reino Unido

Yvonne Farrell e Shelley McNamara

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A HISTÓRIA DE

UM CÔMODO PARA O

AUTOMÓVEL A garagem surgiu como uma necessidade derivada do aumento da frota de veículos nas cidades

C

om pouco mais do que um século de existência, a garagem é hoje uma estrutura indispensável para qualquer construção, seja ela residencial ou comercial. Concebidas a partir do fim do século XIX, as garagens mudaram completamente a arquitetura das residências e o desenvolvimento das cidades para acomodar os veículos. No início do século XX, as garagens não existiam como as conhecemos hoje. Apenas a elite das sociedades possuía espaço para os automóveis. Os estábulos passaram a servir de estacionamento para os carros, tendo em vista que nem as casas nem os edifícios tinham sido construídos para guardar as “carruagens sem cavalos”. Empreendedores e donos de estábulos passaram a alugar o espaço, o que passou a ser uma grande oportunidade de negócio.

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Texto: Alex Lacerda | Fotos e imagens: Divulgação

Apesar dessa dinâmica ter funcionado por um tempo, o fato de muitos destes estábulos ainda dividirem seu espaço entre veículos e animais, aliado ao crescimento da demanda de vagas, fez com que surgisse a necessidade de uma solução definitiva para o problema de onde guardar os carros. E assim nasceu a garagem, um termo derivado do francês, “garer”, com significado de guardar. Donos de residências passaram a construir galpões fora de casa para guardar os veículos. Essas estruturas funcionavam bem como local de armazenamento, mas não os protegiam bem das alterações climáticas, fator importante em países com estações do ano bem definidas, o que dificultava na manutenção do carro. Em 1908 eram vendidas nos EUA garagens portáteis, mas a explosão da utilização dessa nova


tecnologia fez com que surgisse a necessidade de construir estruturas para abrigar os carros de forma mais definitiva e trouxe avanços como, na década de 1920, as portas corrediças. Em 1926, o americano C. G. Johnson inventou o primeiro abridor de porta de garagem elétrico, destinado a ajudar aqueles que tivessem problemas para levantar portas das garagens. Nos países em que o uso dos automóveis se popularizou mais rapidamente, como nos EUA, Alemanha, Inglaterra e França, no início dos anos 1940, arquitetos e designs de interiores passaram a incorporar as garagens nos projetos de residências. Os estilos mais comuns eram o mediterrâneo, inglês antigo, colonial e francês. No Brasil, até o fim dos anos 1960, era comum a existência de edifícios sem garagem, ou com quantidades muito menores que o número de apartamentos. Boa parte de seus moradores ainda não dependia de automóveis para a rotina diária. Em menos de meio século, a garagem passou de espaço inexistente para atingir até 45% do espaço de toda a área ocupada pela casa. O enorme fluxo de trânsito de veículos atual demandou soluções da arquitetura e na estrutura das cidades. As garagens passaram até a ser, em muitos casos, a estrutura em si, com a criação dos edifícios-garagens. Hoje, a grande maioria das residências e prédios comerciais incluem a garagem como um fator diferencial, com a quantidade de vagas influenciando diretamente no valor do imóvel. Além de guardar veículos, os espaços das garagens passaram a servir para uma variedade de objetivos em todo mundo. Desde a guardar itens de uso doméstico a espaço para desenvolver projetos: muitas bandas musicais nasceram em razão da existência desse espaço, e a expressão “banda de garagem” ainda é usada. Da mesma forma, grandes companhias mundiais tiveram seus primeiros espaços nas garagens de seus fundadores, como é o caso da Apple. As garagens, hoje, vão além dos automóveis a que foram originalmente destinadas.

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REPORTAGEM

PRONTOS PARA A

GUERRA

Técnicas e conhecimento de materiais ajudam a instalar os hospitais de campanha, erguidos para o combate à covid-19

Fotos e imagens: Divulgação, cedidas pela secretaria

O

enfrentamento à covid-19 está exigindo esforço, criatividade e desenvoltura não só dos profissionais de saúde, mas de todos que de alguma forma possam contribuir sendo soldados nesta guerra travada contra o novo coronavírus. Os desafios são grandes, inclusive para a arquitetura e a construção civil. Para o futuro, há que se repensar as formas como os espaços são vistos e vividos hoje. Mas, para o presente, uma grande contribuição já está sendo dada: a construção de hospitais de campanha, um instrumento que costuma ser usado justamente em guerras. Neste caso, o grande desafio é: como construir, em um curto período de tempo um hospital com todo o conforto e, principalmente, segurança para os profissionais e pacientes? Várias cidades do país já montaram ou estão montando seus hospitais temporários. Na Paraíba, o desafio foi vencido na cidade de Santa Rita, região metropolitana de João Pessoa. O que antes era um estacionamento a céu aberto, em 17 dias se transformou em um hospital com 132 leitos distribuídos em 27 enfermarias e capacidade para serem instalados mais 70 e

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Texto: Lidiane Gonçalves | Fotos: Divulgação

todos os equipamentos necessários instalados. No entanto, mais que chão, paredes e tetos, o projeto de construção do Hospital Solidário, como foi batizado pelo Governo da Paraíba, é um projeto para levar esperança de tratamento, já que a covid-19 é uma doença de grande contágio e que tem uma recuperação lenta, fazendo com que o paciente fique vários dias em tratamento, inclusive internado.

A construção O hospital de campanha instalado no estacionamento de um hospital “comum” tem 2.490 m². Todo o material utilizado no chão, teto e paredes foi pensando para ser seguro, já que os materiais normalmente utilizados para a construção de um hospital, como tijolos e cimentos não eram opção a ser pensada por causa do tempo curto destinado à construção. O material usado nas instalações para a coberta e pilares em alumínio. A cobertura com a estrutura tipo grid com lona (anti-chama, anti-mofo, anti-uva/uvb) na cor branca, piso em


metalom e compensado naval com chapa 18 mm. Nas paredes, painel estrutural revestido com laminado de alta resistência e placas em PVC foi a principal solução para essa construção efêmera. A solução encontrada para alimentação elétrica foi puxar uma rede da unidade já existente (a do Hospital Metropolitano). “Isso foi feito pois a subestação elétrica do Hospital Metropolitano apresentava folga, o que suportaria a instalação do hospital de campanha. E com essa rede, já aproveitamos o backup dos geradores da unidade”, explicou Natália Marques de Sousa Lacerda, engenheira civil, que ocupa o cargo de subgerente de engenharia da Secretaria Estadual de Saúde, órgão responsável por gerir o hospital. Ela explicou ainda que a solução para as instalações hidráulicas segue a mesma ideia usada para as instalações elétricas. Para o oxigênio, a equipe optou pela instalação de um tanque de oxigênio e ar medicinal independe da unidade existente, tendo em vista que os da unidade não atendiam a demanda prevista para o hospital de campanha.

equipe de engenharia e arquitetura da secretaria, “assim conseguimos elaborar em tempo recorde em menos de uma semana.” É o trabalho de uma construção absolutamente necessária, mas que ninguém deseja que se precise dela por muito tempo.

Desafios Segundo a sub-gerente responsável pelo projeto geral, o maior desafio, além da concepção de uma estrutura nunca antes desenvolvida no estado e um prazo extremamente apertado, foi a dificuldade de aquisição de insumos diante da crise enfrentada em todo o mundo. “Neste momento de pandemia, algumas categorias profissionais têm se destacado como essenciais. Além dos profissionais da saúde, os arquitetos e urbanistas veem a demanda pelo seu trabalho aumentada, seja para consultorias, seja na própria linha de frente no combate à covid-19, quando especialistas em arquitetura hospitalar têm silenciosamente cumprido um importante papel no planejamento de hospitais de campanha e na adaptação de instalações preexistentes na rede hospitalar. Mais uma vez, a arquitetura mostrase uma profissão essencial para a sociedade.”, diz Ricardo Vidal, presidente do CAU-PB. Segundo Allan Kardec do Nascimento, arquiteto responsável pelo layout do hospital, ” o principal desafio para a elaboração do hospital de campanha, foi o prazo para entrega, definição de material a ser utilizado e a quantidade de leitos a serem enquadrado no espaço escolhido. Ele conta que o projeto foi realizado em conjunto com a

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INTERIORES

INTEGRAÇÃO É A CHAVE

Apartamento de cobertura buscou ampliar os espaços nas áreas comuns e também nas de privacidade Texto: Lidiane Gonçalves | Fotos: Vilmar Costa

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U

ma cobertura de 280m 2 , na região central de Campina Grande, uma das cidades mais importantes da Paraíba, foi minuciosamente planejada para dar conforto aos moradores e receber os amigos. O destaque do projeto é a maravilhosa integração entre as áreas comuns, mas dormitórios e especialmente o escritório também receberam uma atenção especial no projeto. Os clientes, um casal ainda sem filhos, tinham em mente, ao pedir o projeto à arquiteta Anabel Alvarez, um apartamento com espaços amplos e que pudesse receber, futuramente, a família que estão formando. Além disso, havia a necessidade de um escritório bem estruturado, pois o casal costuma trabalhar em home office. O resultado foi uma cobertura com espaços aconchegantes amplos e procura caprichar no design. “Posso dizer que o resultado foi um projeto com estilo contemporâneo”, comentou Anabel. O conforto de cada ambiente foi um ponto importante como base de todo o projeto. Cada um dos espaços, de acordo com a arquiteta, foi pensado para atender a tudo

aquilo que os clientes estavam pedindo, mas também de forma a surpreendê-los. “Os clientes têm muito bom gosto e foram abertos a uma ambientação diferenciada e atemporal”, disse. Os tons de azul nos detalhes da sala foram escolhidos por essa ser uma cor versátil, que remete a tranquilidade e serenidade. “Além disso, os clientes gostam de ambientes atemporais e o azul é uma boa escolha, neste caso”, explicou.

Amplitude A integração entre os ambientes dá maior funcionalidade e amplitude ao imóvel, além de ser uma tendência atual. No projeto desta cobertura, estão integrados a sala, a área gourmet, sala de jantar e área de lazer. Na sala de estar, um estofado com revestimento em couro natural, durável e aconchegante. Para descontrair o ambiente, um tapete com formas geométricas e tons de azul, harmonizando com as mesas de apoio ao lado do sofá. Em todo o ambiente o clássico e o moderno convivendo em harmonia.

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As cortinas cobrindo todas as “paredes de vidro” das salas são uma necessidade para dar privacidade aos ambientes. No entanto, em um projeto elegante, que mescla o clássico e o moderno, elas também dão leveza e aconchego ao ambiente. A integração entre a cozinha e a sala de jantar ficam evidentes não só pela ausência de paredes, mas também por ambas possuírem revestimento madeirado. Na cozinha, a mesa em contato com o fogão para momentos gourmet com a família é um dos destaques para a integração com a família e os amigos. As paredes de vidro, que estão fazendo a ligação de toda área comum, foram pensadas para dar amplitude visual e reduzir o uso de energia elétrica. Em todas as paredes foi feito um trabalho acústico para dar ainda mais conforto aos clientes.

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Linhas retas Mesas, cadeiras, estofados, móveis do escritório e do quarto têm linhas retas e clássicas, mas, ao mesmo tempo, usando elementos modernos, que remetem ao conforto físico e visual. No escritório, além da mesa de trabalho ampla, que pode ser utilizada ao mesmo tempo pelo casal, há uma mesa circular para pequenas reuniões. Afinal, ambos fazem trabalho em home office . No banheiro do casal há uma banheira e um closet integrado. A ideia é a mesma que norteia todo o projeto: conforto e sensação de amplitude, mesmo nos locais de privacidade da casa.

Área externa A área externa privativa é um espetáculo à parte no projeto. Nela há uma piscina, com jatos de hidromassagem, plantas e o uso de revestimento madeirado, inclusive no deck da piscina. Esse espaço é integrado ainda a uma área gourmet, com moveis com as portas mais clássicas, contrastando com o uso de metalon. Essa área externa é descoberta e parcialmente integrada à cozinha da casa, possui uma área gourmet exclusiva. “A integração visual com a área externa a a utilização de plantas naturais são os elementos que eu destaco neste projeto”, comentou Anabel. Quanto à luz, o pedido dos clientes era de uma iluminação branca. Com o pedido atendido, a iluminação amarela ficou reservada para os detalhes decorativos.

Projeto:

Arquitetura de interiores Arquiteta:

Anabel Alvarez

Parceiros:

Revestimento de piso e parede: Central da Construção Forro de gesso: Jair Gesso Mobiliário Projetados,móveis e tapetes: Líder interiores Eletroeletrônicos: Climatização | Sistema de automação: Flaviano Esquadrias, ferragens, vidros e espelhos: Qualividros Elétrica : Construtora Fronteira Engenharia Iluminação (projeto e peças): Via Luz Acessórios e objetos decorativos: Espaço Blanc Obras de arte quadros: Imara Queiroz 39


INTERIORES

PROJETANDO EM

‘CAUSA PRÓPRIA’ Apartamento equilibra área integrada com privacidade, em projeto ocupado pela própria família da arquiteta

U

m apartamento de mais de 400m2, em uma área nobre da cidade de João Pessoa. As possibilidades para que o projeto ficasse deslumbrante, aconchegante e digno das capas de revista de arquitetura eram muitas. Mas toda grande obra tem um grande desafio. E o da arquiteta Carmen Raquel foi duplo: o primeiro foi projetar um apartamento que fosse a realização dos desejos de dois jovens, mas também dos pais deles, com gosto mais clássico. O segundo?

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Texto: Lidiane Gonçalves | Fotos: Luís Gomes

Projetar em causa própria, afinal, a família que moraria no apartamento, era a sua. Desafio vencido. O apartamento é lindo, funcional, agrada a todos da família e é surpreendente para quem o visita. Com uma área comum completamente integrada, a arquiteta ainda conseguiu deixar o local com a possibilidade de privacidade em alguns dos ambientes, caso a ocasião exija. “O contraste entre o contemporâneo e o clássico foi aplicado em todos os ambientes do apartamento”, diz ela.


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Área gourmet A mudança da morada antiga para a nova foi motivada pelo desejo do filho mais novo, na época com 18 anos, de receber os amigos em casa. Como os pais também gostam de receber os amigos, a busca por um novo apartamento começou. O imóvel que receberia a família foi escolhido e as preferências de todos foram levadas em consideração para colocar o projeto para frente. O desejo do filho – ter uma área com churrasqueira na varanda – foi um pouco modificado. É que a experiência da arquiteta mostrava que integrar as salas de estar e jantar, a cozinha e a varanda, poderia não dar certo com uma churrasqueira no primeiro local pensado. A solução foi conciliadora. O filho teria sua varanda para receber os amigos, a família teria todas as áreas integradas, mas a churrasqueira mudaria de cômodo. A varanda ganhou balcão de apoio e um bar. As salas de jantar e estar perderam as paredes que as dividiam, assim como a cozinha. A cozinha sim, ganhou a churrasqueira, junto com todos os outros utensílios necessários para o ambiente. E os cômodos ganham esquadrias, que permitem que os ambientes foquem completamente aberto, com os convidados podendo se ver e circular entre eles. Ou, que fique fechado, delimitando o espaço, dependendo da ocasião.

Sala de jantar

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vendo a mesa ser posta ou o jantar ser feito, por exemplo”. A iluminação automatizada traz mais conforto, comodidade e charme a todo o projeto do apartamento, além disso, permite a redução de custo e dá praticidade e segurança para todos os ambientes.

Cozinha

Para a arquiteta, a cozinha sempre é um dos ambientes mais utilizados em uma casa, particularmente quando ela também é ambiente de refeições no dia a dia da família. Por isso a importância que ela seja agradável, bonita e funcional.

A sala de jantar é um espetáculo a parte. É que ela abriga um lustre que está a família há mais de 20 anos. Os buffes pretos também têm duas décadas e foram desenhados por Carmen. “A única mudança nas peças, é que elas agora são revestidas por laminado preto. Ter peças decorativas e móveis que foram escolhidos pelos donos do imóvel ou que estão há muito tempo com a família, imprime personalidade ao projeto”, comentou. Para ocasiões mais formais, a família deixa as esquadrias da cozinha e da sala de jantar fechadas. A recepção aos amigos é feita nas outras áreas comuns. Isso permite que os convidados se surpreendam na hora do jantar. “Além disso, os convidados não precisam ficar


“Nesse projeto, a cozinha não é só integrada com a sala de jantar, mas também com todo o ambiente social do apartamento, bastando apenas a abertura das esquadrias que os separam, podendo ser parcial ou completa, a depender do grau de interação que se queira entre quem cozinha e os convidados”, disse. Ela explicou ainda que isso evita os inconvenientes de uma varanda gourmet, como odores, fumaça, sujeiras, preservando assim a área social.

Morar no projeto Carmem disse que é um desafio maior quando a arquiteta vai morar em um apartamento projetado por ela mesmo. Mas um grande desafio também foi integrar áreas comuns de um apartamento que já era muito amplo. “Em um apartamento pequeno, você tem que dar um jeito, colocar tudo no seu devido lugar. Sendo mais amplo, há uma dificuldade maior de integrar”. A obra foi finalizada há dois anos e ainda atende perfeitamente todas as necessidades da família, dando privacidade quando preciso e proporcionando a interação que todos gostam.

Projeto: Arquitetura de interiores Arquitetos:

Carmen Raquel Parceiros: Tapetes e carpetes: Inácio Tapetes ( RJ) Iluminação (projeto e peças): LightDesign + Exporlux

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INTERIORES

PEGADA

INDUSTRIAL

Reforma transformou dois apartamentos em um, evitando o luxo e apostando na integração Texto: Lidiane Gonçalves | Fotos: Vilmar Costa

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J

á pensou em transformar dois apartamentos em apenas um, deixar a cozinha no centro do projeto, ter duas portas de entrada e uma ambientação com o preto predominando? E se tudo isso tiver deixado o imóvel moderno, aconchegante, confortável e visualmente muito agradável?

Foi com toda essa ousadia e criatividade que a arquiteta Karla Barros deu vida e exclusividade a um apartamento térreo no bairro do Bessa, em João Pessoa, com um estilo contemporâneo industrial. A família, que recebe muitas visitas, ficou com cinco quartos e uma área comum capaz de abrigar a todos de maneira confortável.

O grande desafio de todo o projeto? O cliente disse não gostar de luxo. “Tentei extrair o que seria luxo e partir para uma pegada industrial, apenas um toque, fugindo de cores claras demais e acabamentos que remetem ao estilo clássico, pois percebi que que ele gostava de coisas mais ‘descoladas’. Então, o partido foi o uso de materiais como o cimento queimado em contraste com o preto para não remeter ao ‘luxo’ que eles não queriam”, conta a arquiteta.

Convergindo para a cozinha A cozinha foi transformada no centro da integração do apartamento. Mas, todo o apartamento foi um desafio, assim como aproveitar da melhor forma cada metro quadrado de todos os ambientes. “A ideia de

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deixar a cozinha entre a sala de estar e TV e a sala de jantar foi acatada pelos clientes. Na verdade, eles amaram a ideia”. “Mantivemos as duas portas de entrada, uma pelo estar e outra pelo jantar, a pedido deles”, continua. “Outra necessidade eram assentos para refeições e com isso criei uma mesa ao redor da ilha, integrando à mesa de jantar, ficando doze lugares confortáveis. Como temos uma área externa, por se tratar de um apartamento térreo, temos mais uma mesa onde mais seis pessoas podem se acomodar”, explicou.

cheio de personalidade e charme. As cores claras e ambientes muito clean, naturalmente remete ao luxo e acertei precisamente na escolha da predominância escura para eles”, disse. Karla comentou ainda que pincelou o amarelo, que vai muito bem com cinza e preto e ajuda a quebrar qualquer formalidade que ainda tenha existido no uso de materiais sofisticados. A madeira esteve presente para aconchegar, arrematar e harmonizar, trazendo essa textura de natureza que faz tão bem ao ser humano.

As cores

Quebrando a frieza

Para este projeto, Karla buscou, então, uma paleta de cores que não remetesse ao luxo. “Entendi que o cinza do cimento queimado, o preto e nenhum elemento clássico me ajudariam a passar a informação de ambiente descontraído e ao mesmo tempo

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A bancada da da cozinha foi feita de granito preto. A geladeira também foi preta, integrando os objetos da paleta de cores que haviam sido definidas. “E o toque de madeira sempre ajuda a quebrar a frieza e aconchega muito qualquer ambiente. Usei


na torre arrematando por cima da geladeira e compondo acima da pia com armários de espelho fumê”, descreveu. O cimento queimado foi escolhido para cobrir todas as paredes das salas e a parte que não tem área molhada na cozinha também. “A escolha foi por ter tudo a ver com o estilo industrial que queria pincelar e tem esse ar de ambiente descolado, almejado pelos clientes”. Nessa cozinha até a coifa foi escolhida de modo diferenciado. “Queria uma coifa leve, já que a cozinha integrada não tem aquela cara tradicional e esse modelo trouxe esse desejo. Ela não pesa em nada”. O revestimento para as paredes da cozinha também é preto. Ele traz a paginação de tijolo, mas tem brilho, pincelando a sofisticação de maneira discreta. A sala de jantar tem uma mesa em madeira ebanizada com sobreposição de um vidro preto. Ao lado, uma estante de ferro preto, que tem tudo a ver com o toque industrial. Ela foge de qualquer tradição de aparador e buffet normalmente usados. Segundo Karla, a estante é uma escultura em forma de móvel, totalmente assimétrica e decora com personalidade. “A estante metálica é, para mim, a peça mais linda desse projeto”.

Cantinho compacto O destaque da sala de estar é o estilo minimalista, com iluminação indireta opcional

atrás do sofá́, para assistir TV de forma mais confortável. O charme da poltrona de design em madeira, arremata esse cantinho compacto. Mas cheio de aconchego. Na maior parte dos estofados o tecido usado foi o linho, por ser moderno, despojado e ter um caimento bacana com praticamente tudo. Uma dica, é que quando ele é misturado ao poliéster, se torna menos flexível e não cede tanto com o tempo. Karla disse que gosta muito de projetar ambientes integrados, pois facilita a otimização dos espaços, tornando-os mais amplos. “Hoje, cada vez mais temos clientes ‘chefs’, que que adoram receber cozinhando e a cozinha virou um ambiente social para a maioria. Mas ainda existem os conservadores que temem a louça que pode ficar na pia por algumas horas e podem tirar o brilho do ambiente da sala. Por isso é uma alegria quando o cliente topou projetar com ambientes integrados. A iluminação foi bem geral, com pontos focais pontualmente usados e com algumas peças que agregaram bastante. Um dos exemplos é a arandela atrás do sofá. Outro é o jogo de pendentes tipo cabo, que trazem mais um toque industrial e modernidade, além da descontração taco desejada pelos clientes. “A circulação correta, ergonomia e iluminação adequadas fazem parte das preocupações de um bom projeto, para trazer o conforto tão almejado para os que usufruem”, afirma Karla, assegurando que o conforto é primordial sempre.

Projeto: Arquitetura de interiores Arquiteta:

Karla Barros

Parceiros: Parede, cimento queimado: Ibratin Revestimento cozinha:Espaço Revestt 47


INTERIORES

DESPOJAMENTO

PRAIEIRO

Apartamento para veraneio foi desenhado para unir ao máximo a família em momentos de relaxamento

Texto: Lidiane Gonçalves | Fotos: Vilmar Costa

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praia de Camboinha, na cidade de Cabedelo, no litoral paraibano, tem uma linda calmaria no mar. Lugar ideal para um apartamento de veraneio, pensando para reunir a família em momentos de descontração. A beleza do mar emoldurado na janela faz a junção perfeita com as peças de decoração “garimpadas” durante as viagens feitas pelos donos do imóvel ao redor do mundo e o projeto da arquiteta Sandra Moura.

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O apartamento de 180 m2 é a segunda residência de um casal que tem filhos já casados. Foram 10 meses de uma obra realizada enquanto o apartamento ainda estava na planta. De toda a área do imóvel, as áreas comuns – sala e cozinha – ficaram com 80m2.

Verão A ideia inicial para o projeto era ter o conceito mais despojado das casas de praia. No imóvel são cinco suítes, então a intenção sempre foi a de reunir toda a família no verão, partilhando momentos e trocando experiências de vida. A cor escolhida para o mobiliário foi o offwhite, contrastando com o piso em concreto com cortes especiais e colocados em réguas de 12x84 centímetros de maneira desencontradas. As paredes da sala de jantar receberam o revestimento em madeira cumaru, para aquecer o ambiente e contrastar com a característica fria do piso. “Estas duas paredes abraçam literalmente o espaço da mesa de jantar em quartzito Mont Blanc. A mesa, na forma redonda, tem diâmetro de dois metros, com 10 cadeiras”, explicou Sandra.

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A arquiteta disse ainda que nas paredes de madeira foram colocadas quatro estantes, onde todo material de uso diário se encontra expostos nas prateleiras, facilitando as atividades diárias da casa.

Integração A varanda foi integrada com a sala. No espaço foi criado um banco em madeira de cumaru em toda extensão da sala, surgindo dois espaços de varanda, com vista direta para a Ilha de Areia Vermelha. A cozinha é totalmente integrada com a bancada em super nano branco, com o revestimento do mesmo material do piso. No ambiente tem armários superiores na cor grafite com detalhes metálicos grafite. Os armários inferiores acompanham a cor da bancada em super nano. A sala de estar foi totalmente integrada com a cozinha, a sala de jantar e a varanda. A parede foi revestida com o tijolo e pintado na cor branco neve. “O sofá com um conceito mais despojado sem braços laterais, facilita o uso e a utilização do espaço”, explicou. Sandra explicou ainda que os quartos do apartamento são pequenos e seguiram o revestimento da sala de jantar com o ripado em cumaru. Os armários acompanharam o mesmo ripado sendo em portas de correr. “Todas as bancadas dos banheiros ficaram estrategicamente colocadas dentro do quarto para aumentar a área de banho e do vaso sanitário”, argumentou.

Lembranças e criatividade O apartamento foi pensado como um lugar de memórias e imaginação onde o ato de habitar é o modo básico de alguém se relacionar com o mundo. “A vivência deste espaço para família é altamente transformadora na vida da família, pois tentamos aguçar os cinco sentidos através da percepção dos materiais naturais colocados e do conceito poético de como foram inseridos no espaço”. Já o projeto luminotecnico foi realizado com pontos direcionados e rasgos de iluminação geral na cor âmbar, remetendo sensações de conforto visual e mental. A linha escolhida oferece o design das peças super contemporâneas e os focos de luz inseridos nos lugares que precisam ser destacados. Enfim, do lado de fora da janela, a beleza do mar; do lado de dentro, o conforto.

Projeto: Arquitetura de Interiores Arquitetos:

Sandra Moura

Parceiros: Iluminação: Stiluz Tijolos aparentes cozinha: OBI

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MATERIAIS

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Informe Publicitário

Cobogó projetar com vida.

O cobogó é o elemento arquitetônico brasileiro em essência. Pensado na eficiência bioclimática, foi concebido para melhorar a circulação de ar e aproveitamento de luz em um imóvel na cidade do Recife. Na década de aniversário de seus 100 anos, o elemento é ressignificado pelo momento em que vivemos. Com a pandemia do vírus Sars-Cov-2, é preciso pensar em espaços mais abertos, com maior circulação de ar, sem perder de vista a privacidade de cada ambiente. O cobogó é uma excelente solução para os próximos tempos de readaptação e construção de um novo conceito de normalidade, mais saudável, limpo, ventilado e em contato com a natureza. Para além de sua funcionalidade, cobogós trazem diferentes efeitos visuais a depender do material, padronagem e composição do ambiente. Sua aplicabilidade segue em constante transformação, sempre comprovando que este é o elemento onde mais percebemos a união perfeita entre forma e função. A Obi tem sua própria linha, feita do mesmo barro que constitui nossos demais revestimentos. Orgânico, artesanal e com um diferencial a mais: o design exclusivo de Guilherme Luigi, artista pernambucano premiado por seus trabalhos. Inspirados nas paisagens nordestinas, os cobogós trazem ainda mais natureza, vida e estilo para os espaços. É o estilo com alma que você buscava para o seu projeto.

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ESPECIAL

MENTE E

EVOLUÇÃO

A psicologia no design de interiores mostra o que faz de uma casa um lar

P

rimeiramente, podemos pensar na moradia como parte de duas de nossas necessidades básicas: proteção e segurança. De um lar, contudo, espera-se mais do que a função de simples abrigo. Nós temos a expectativa, consciente ou inconsciente, de que a casa que habitamos nos ofereça conforto, paz, estabilidade e, principalmente, nos ajude a ter mais felicidade. Mas como transformar cimento, tijolos, telhas, tinta, etc., num espaço que possa nutrir nossos corpos, corações e mentes? A sociedade de consumo viabiliza a existência de vários profissionais dispostos a nos ajudar a ter uma casa que expresse nossos anseios de habitar: arquitetos, decoradores, designers, e por aí vai. Na prática, porém, poucos profissionais da área saberiam explicar o que pode transformar uma casa num lar. Quando oferecem soluções para a organização, decoração, montagem e construção de uma casa, os experts em moradia tendem, na média, a seguir as tendências do mercado. Via de regra, as tendências em questão são fruto de pesquisas das indústrias de construção civil, têxtil, iluminação, etc. Melhor dizendo, as tendências surgem, quase sempre, para justificar os gastos da indústria com pesquisas que levam a novos materiais e técnicas. Muitas vezes essas inovações podem ser ótimas para o consumidor final, muitas vezes não! O amianto, só para citar um exemplo recente, foi usado largamente nas construções do mundo até que se descobrisse uma correlação entre esse material e a incidência de tumores malignos. Outras vezes, as inovações teconológicas criam tendências que melhoram a vida doméstica de forma geral, favorecendo nossas busca por bem-estar e qualidade de vida. É o caso, por exemplo, dos materiais renováveis, do uso da energia solar, dos vidros temperados, e muitas outras. Ainda assim, de que forma os “profissionais da casa” podem nos ajudar a erigir um lar? Se pensarmos que a idéia de lar implica, em boa parte, a expressão da nossa individualidade, o desejo de afirmarmos

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Texto: Angelita Scardua | Fotos: Julia Herman

nossa condição social e cultural e a representação dos nossos valores pessoais; o mínimo de conhecimento psicológico, tanto ao nível da espécie – o ser humano – quanto ao nível do indivíduo – o sujeito que demanda a casa – deveria ser parte essencial da formação daqueles que constroem casas. Quem sabe, num futuro próximo se estabeleça uma abertura conceitual de ambos os lados para a existência de um trabalho interdisciplinar? Ou, pelo menos, o interesse numa produção teóricoprática que busque efetivamente o diálogo entre áreas como arquitetura, design, decoração, engenharia civil, psicologia, antropologia, sociologia, história, etc. No campo da psicologia, do qual me sinto confortável para falar, há estudos sobre os efeitos do ambiente na vida das pessoas, e vice-versa. Esses estudos abarcam desde aspectos genéticos, ligados a neurociência da percepção, até fatores subjetivos como as características de personalidade subsidiadas por formações inconscientes. Uma vertente interessante, e a princípio mais palatável para não psicólogos, são os estudos no campo da psicologia ambiental, que se baseiam nos mecanismos evolutivos que favoreceram a constituição da espécie humana. Sabe-se hoje, por exemplo, que a sensação de conforto e felicidade no que diz respeito ao habitar vincula-se aos instintos primários que nos leva(ra)m à luta pela sobrevivência. Como assim? Para entender isso melhor, seguem alguns exemplos:

A busca de refúgio A sobrevivência de nossos antepassados dependia da capacidade de encontrar lugares seguros, que fornecessem abrigo dos elementos naturais e proteção contra os predadores. Assim, tendemos a preferir lugares acolhedores, que dão a sensação de conter, abrigar, acolher-como ocorre com telhados de muitas águas e variações na altura, com moradias de espaços compartimentados e privativos. Tanto é que a


Projeto: Isabella Nalon | Foto: Julia Herman

tendência dos lofts, por exemplo, por mais que tenha sido enaltecida pela mídia especializada, não logrou tornar-se uma regra de moradia, nem mesmo para uma minoria significativa. Alguns arquitetos, como Frank Lloyd Wright, são mestres em criar habitações cheias de espaços com essa característica de “refúgio”. Muitos profissionais, atualmente, seguem esses princípios optando por uma disposição dos móveis e por uma escolha de materiais – como madeira, pedra e outros – que promovem a sensação de conforto e segurança.

A importância da visibilidade Para os nossos antepassados, sobreviver numa savana africana implicava capacidade de antever as ameaças circundantes. Para fazer esses tipo de “previsão”, os humanos sempre dependeram da visão do que ocorria nas redondezas. Não é à toa que ao longo da história humana, os lugares altos semprem foram uma escolha para a construção de castelos, fortalezas e todo tipo de espaço para a defesa. Ou seja: ao mesmo tempo que precisamos nos recolher/refugiar, precisamos saber o que nos ronda a fim de que possamos nos defender. Assim, mesmo hoje, entre nós, há uma certa predileção por espaços amplos, tetos altos, luminosidade, etc. O mesmo vale pelo encantamento que ainda sentimos com casas

erigidas em colinas, montanhas e, até mesmo, pelo fascínio susictado pelos arranha-céus das grandes metrópoles no imaginário moderno.

A atração pelo desconhecido Experimentos psicológicos sugerem que os humanos possuem uma forte atração pelo mistério. O que parece fazer sentido, já que descobrir, desvendar, conhecer, etc., são interesses inerentes à própria evolução da espécie. Sem tais interesses estaríamos todos, neste exato momento, habitando cavernas e vestindo a pele de animais mortos (alguns ainda o fazem, sei lá porquê!). Nossa sobrevivência como espécie está diretamente associada ao nosso interesse pelo que é desconhecido, misterioso. É a vontade de conhecer que nos impulsiona a realizar coisas, seja cruzar os oceanos ou fiar o algodão. Talvez, por isso, tendamos a nos sentir atraídos por corredores, escadas, nichos-espaços que “prometem” a revelação de algo mais que nos escapa à primeira vista. Halls de entrada, sólidas portas; caminhos de acesso à entrada da casa com curvas, esquinas, cantos; cortinas que não ocultam totalmente os ambientes mas velam seus conteúdos...Enfim, casas com pequenos “segredos” parecem nos atrair e encantar.

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A conexão com a natureza No âmbito da investigação científica há sólidos indícios de que imagens de paisagens naturais podem melhorar o humor e, consequentemente, causar impacto positivo na saúde dos seres humanos. Um estudo clássico nessa área revelou que pacientes em recuperação cirúrgica, quando instalados em quartos com vista para a natureza, sentiam menos dor e se recuperavam mais rápido do que aqueles acomodados em quartos comuns. É claro que nem todo mundo pode habitar uma casa com vista privilegiada mas, certamente, isso é algo que a maioria de nós gostaria de fazer. Cultivar plantas em casa, morar próximo à agua – seja mar, cachoeira, rio, lago, etc., – ornar paredes com fotografias e pinturas de paisagem, criar um animal de estimação-são maneiras de nos mantermos em contato com a natureza e, ao mesmo tempo, de alegrar o nosso cotidiano. No passado remoto, para os nossos ancestrais, lugares cercados de vegetação e água era a garantia segura de fonte de alimentos, ou seja, de sobrevivência. No mais, o que seria da nossa história como espécie sem a companhia de nossos alegres companheiros de caçada, os cães.

A preferência pela simetria Uma das ideias dominantes atualmente nas neurociências é que o nosso cérebro se sente recompensado com padrões. Essa parece ser uma herança do nosso profundo vínculo original com a natureza. Do ponto de vista biológico, o equilíbrio das proporções, a regularidade e a ordem parecem sinalizar boas condições para a perpetuação da espécie. Tanto no âmbito da atração por um parceiro sexual quanto pela escolha de um lugar adequado para se viver, a existência de formas ordenadas e padronizadas parecem sinalizar confiabilidade. Pense bem: habitar um local no qual as estações seguem um fluxo regular possibilita um melhor planejamento das temporadas de caça, semeadura, colheita, recolhimento, etc. Similarmente, pesquisas recentes sobre a atração sexual têm demonstrado que o nosso cérebro tende a interpretar um corpo simétrico e bem proporcionado com genes mais saudáveis. Logo, simetria, ordem, equilíbrio e proporção parecem estar, do ponto de vista evolutivo, intimamente associados a tudo aquilo que no longo prazo possa ser confiável, produtivo e seguro.

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Não é à toa que ambientes com arrumação simétrica tendem a nos parecer mais aprazíveis. Paredes, tapetes, móveis, luminárias, janelas, portas, quadros: qualquer elemento de decoração que segue um padrão, seja de cor, textura, forma, tamanho, etc., parece agradar aos nossos olhos.

À procura do centro

Nossos ancestrais caçadores e coletores – posteriormente agricultores e pastores – não teriam nos legado seus genes, e garantido nossa passagem por aqui, se em algum momento da dura rotina cotidiana eles não tivessem podido parar e repousar. O descanso é parte essencial da nossa sobrevivência, é o momento no qual nos permitimos ser mais do que animais. O repouso, o descanso, o ócio, são momentos em que podemos refletir, vagar-mergulhar no campo imaginário das nossas especulações, sonhos, desejos e delírios. O espaço que favorece essa “humanização” diária é o que podemos chamar de “centro”, o lugar de recolhimento, de auto-conexão. Casas que oferecem espaços preservados, ou seja, distantes de entradas, corredores e locais de passagem, nos parecem mais relaxantes. Não precisa necessariamente ser um cômodo, pode ser apenas uma poltrona num canto da sala, um banco num jardim, uma cama adequadamente posicionada. Às vezes, a simples mudança da iluminação de um ambiente pode proporcionar esse oásis imaginativo. Um dado interessante sobre o efeito da disposição dos móveis numa casa é que alguns experimentos psicológicos demonstraram que nossas escolhas fora de casa – dos locais por onde queremos andar, em quais preferimos parar e o que buscamos olhar – são afetadas pela organização dos espaços em nossos lares. Simbolicamente falando, nossa motivação para explorar o mundo tem a intensidade e a dimensão dos sonhos que a nossa casa nos permite abrigar.

Projeto: Isabella Nalon | Foto: Julia Herman


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AMBIENTAÇÃO

TRABALHANDO

EM CASA

O home office ficou muito mais comum por causa da pandemia e a adaptação é necessária

Texto: Alex Lacerda | Fotos: Divulgação Projeto: Anabel Alvarez | Foto: Vilmar Costa

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á muito tempo o home office vem rondando o cotidiano das pessoas. Muitas empresas já utilizavam da prática e promoviam o trabalho à distância, mesmo que realizando reuniões presenciais quando necessário. Mas 2020 trouxe para o mundo uma realidade inédita. Trabalhar em casa passou a ser obrigatório para uma grande parte dos profissionais no mundo inteiro por causa da pandemia do novo coronavírus. Forçar essa rotina tem sido um grande desafio para muitos. Existem centenas de tutoriais nas redes sociais, cursos e dicas de como começar a trabalhar em sistema de home office. Mas nenhum deles aborda ainda a auto imposição do home office e a ausência de planejamento para iniciar o processo. Estes são os dois principais problemas encontrados pela fisioterapeuta Elouise Lopes.

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proprietária de um estúdio de pilates onde dava cerca de sete aulas por dia, ela afirma que mudar sua dinâmica de trabalho de uma hora para a outra tem sido uma tarefa difícil. “Adaptar o meu tipo de prestação de serviço é bem desafiador. Eu nunca trabalhei home office, pois na minha área os atendimentos geralmente são realizados de forma presencial”. O espaço para as aulas, de acordo com ela, foi o primeiro obstáculo. Boa parte da decoração da casa cedeu lugar a equipamentos para o trabalho. “Para realizar as minhas aulas on line eu precisava de espaço, então tive que afastar todos os móveis da sala, pois o meu apartamento é bem pequeno. Precisei comprar acessórios de iluminação, já que a existente era insuficiente para realizar teleatendimento e gravações de vídeos”, explica a fisioterapeuta.


“As principais dificuldades que estou enfrentando são a inadequação do ambiente para realizar as aulas por morar em um apartamento pequeno, o barulho e a interferência dos filhos e animais de estimação. De vez em quando um aparece nas minhas aulas”, brinca Elouise. Já Bruno Azevedo, que trabalha no desenvolvimento de softwares, passou por obstáculos diferentes. Para ter ajuda com a filha de dois anos, mudou temporariamente para a casa dos sogros. Os ajustes no ambiente de trabalho também tiveram de ser contornados com soluções criativas. “O escritório não possui parede e porta para o resto da casa, então quem passa no corredor, passa do meu lado. Com isso, para algumas reuniões onde há a necessidade de maior concentração, eu me tranco no quarto e faço a videoconferência em uma rede. Após o término das reuniões eu volto para a estação de trabalho”, explica. Compartilhar o espaço de trabalho com filhos também é uma dificuldade para quem está em home office. “Tenho uma filha de um ano e 10 meses. É complicado dividir o mesmo espaço, pois, como ela ainda é um bebê, não entende que, apesar da mãe estar em casa, ela está trabalhando. Então a solução que encontramos foi ela ficar com o pai em outro cômodo”, lamenta Elouise. Bruno também tem dificuldades com a filha, de 2 anos. Segundo ele, ter de adaptar o horário para preparar o café da manhã dela e estar pronto para o horário de trabalho é bem difícil.

“Uma vez estava em reunião com a diretoria da empresa e todos os gerentes, por videoconferência. Minha filha passou correndo para subir em uma cadeira e ficar olhando a janela e minha esposa levou minha filha balançando as pernas e gritando sem querer sair. Nesta mesma reunião ela subiu no meu colo antes de iniciar e deu tchau para todo mundo da reunião”, complementa Bruno. Mas o home office também trouxe outros benefícios a quem teve que adotar essa nova rotina, além de não perder tempo com o trânsito e economias com refeições fora de casa. A professora Tatiana Garcia afirma que desenvolver novas habilidades é uma delas. “Essa experiência tem sido enriquecedora em ambos sentidos: pessoal e profissional. Tenho descoberto habilidades profissionais em como transmitir um conhecimento e fazer com que isso seja frutífero para os alunos em termos de aprendizado e prática, mas também vou desenvolvendo novas aptidões, como a de cozinhar diariamente, coisa que não fazia anteriormente”, enfatiza Mais importante que pensar em como se adaptar a curto prazo, a principal mudança na relação com o home office é que este se mostrou uma opção viável para diversos setores. Este período pode ser a sinalização de uma mudança de comportamento que afetará o mercado de trabalho de forma ampla – não apenas nos setores onde trabalhar de casa já era uma realidade.

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DICAS 1 - Crie um local de trabalho Deixe bem claro a todos que moram com você qual o espaço do seu escritório. Demarque seu território. Estabeleça um local da casa como o seu trabalho. Coloque lá tudo o que você precisa para realizar o trabalho apropriadamente. É importante que não seja um local que você fique montando e desmontando, isso pode causar estresse desnecessário. Verifique sua conexão com a internet, se puder aumente a qualidade e capacidade, veja se tudo está

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à mão, um laptop ou computador, verifique a ergonomia, como a altura da tela, uma boa e confortável cadeira, fone de ouvido, bloco de notas, um bom calendário impresso, pois em quarentena é normal perder a noção do tempo. 2 - Evite distrações Resolver problemas pessoais durante o horário de trabalho também está fora de questão. Você e as pessoas têm de entender que você está em casa, mas está trabalhando, caso contrário sua produtividade vai cair muito. Informar às pessoas que não deseja ser interrompido. Não suponha que as


pessoas irão automaticamente respeitar o fato de que você está trabalhando de casa. Elas não irão. Então ajude-as a entender. Coloque uma “placa” avisando seu horário de trabalho. Tire também as notificações do celular. É ilusório achar que se pode ficar longe do smartphone enquanto trabalha. Mas você pode, ao menos, impedir que muitas distrações apareçam por meio dele. 3 - Tenha uma lista de tarefas Essa é uma boa forma de manter-se produtivo e disciplinado, mesmo no conforto do lar, e de não deixar que seu home office acabe se transformando em um fardo. 4 - Comunique-se Estabeleça interações com seu chefe, colegas, clientes ou fornecedores. Se possível, priorizar as vídeo-chamadas e vídeo-conferências para reuniões. Sem ver a expressão dos outros, muitos podem confundir a intenção das falas, o que gera ruídos na comunicação e desentendimentos. 5 - Faça pausas No escritório, estamos sempre em movimento, de vez em quando você levantava para ir ao banheiro, beber uma água, pegar um café. Adote esse hábito, também, quando estiver em casa. Divida o dia em blocos de uma hora e meia a duas horas, descansando em seguida por 10 a 15 minutos e pelo menos alongue-se. 6 - Organização Assim como no escritório convencional, um local de trabalho minimamente organizado facilita sua vida, aumenta sua produtividade e diminui o estresse. Mantenha seu local de trabalho organizado. 7 - Não se isole Trabalhar em casa pode, muitas vezes, ser solitário. Evite o isolamento, faça algumas chamadas de vídeo, busque o contato humano.

8 - Estabeleça uma jornada de trabalho Inicie pelo autoconhecimento: saiba qual é seu pico de produtividade e qual é a melhor dinâmica de trabalho para você. Algumas pessoas são mais produtivas de manhã ou à tarde quando interagem com colegas. Outros preferem a noite, ouvindo música e sem falar com ninguém. Se você sente que produz mais à noite, e seu negócio permite que trabalhe nesse período, por que não? Afinal, esta é uma das vantagens de trabalhar em casa, mas estabeleça os limites. O importante é achar uma rotina que se encaixe ao seu modo de trabalhar e gere bons resultados. 9 - Saia do trabalho no fim do expediente Sua jornada de trabalho chegou ao fim? Ótimo. Levante-se e vá embora do escritório, mesmo que ele fique na sua casa. Organize o que vai fazer no outro dia, desligue tudo e saia! 10 – Não é para todo mundo Não se sinta mal por não conseguir. Você precisa ter um ambiente favorável em casa, uma família disposta a colaborar e um local minimamente adequado. Além disso, trabalhe o seu emocional. Muitos trabalhadores remotos acabam se estressando com a sobrecarga de tarefas e a dificuldade em “desligar” do expediente. Se você acha incrível a ideia de trabalhar de pijama e pantufa na frente do computador, é porque nunca colocou em prática. Pode ser divertido em um primeiro momento, mas as roupas têm grande influência sobre o nosso comportamento e disciplina, mesmo que de forma inconsciente. Qualquer processo de mudança exige um tempo para adaptação e terá desafios inesperados. No caso atual, preocupações com a saúde e o cenário incerto prejudicam a todos. Assim, é importante manter um canal aberto para comunicar e sanar dúvidas sobre medidas que passem segurança a todos os envolvidos sobre a evolução da pandemia, o modelo de trabalho remoto, as expectativas de produtividade, eventuais conflitos e mudanças para o futuro. 61


ARQUITETURA E CINEMA

CIDADE QUE ENLOUQUECE UMA

Em Coringa, a arquitetura e os interiores são importantes para ressaltar o drama psicológico do protagonista

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encedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza e indicado ao Oscar de melhor filme, Coringa é o filme baseado em quadrinhos de superheróis que conseguiu as maiores distinções em termos de prêmios. Joaquin Phoenix foi uma unanimidade para os prêmios de melhor ator: ganhou o Oscar, o Globo de Ouro, o Bafta (da Academia Britânica) e o Screen Actor’s Guild Awards (SAG), concedido pelo sindicato dos atores de Hollywood. E é um filme onde a arquitetura e os interiores falam muito, ajudando-o a ser ainda mais impressionante. Começa já pela ambientação do filme dirigido por Todd Phillips. Coringa não se passa nos dias de hoje, mas em 1981. E a fictícia cidade de Gotham City é retratada como a Nova York daquela época, sobretudo a mostrada em Taxi Driver, de Martin Scorsese. É uma cidade violenta, pichada e suja. Até uma greve de lixeiros está acontecendo, para ressaltar esse aspecto. “O filme se passa na área menos favorecida, que não é exatamente a área nobre”, acrescenta o arquiteto

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Texto: Renato Félix | Fotos: Divulgação e MB

Giovani Alencar, que assistiu e comentou o filme para a AE, junto com os também arquitetos Renan Vila Flor, Cristiano Rolim, Giovani Alencar, Márcia Barreiros e Davi Lucena, em sessão realizada antes da pandemia. “Fica evidente a segregação do espaço quando você observa a casa do Thomas Wayne. Protegida, segura, com aquelas grades, tudo muito limpo, tudo muito ordenado. E a cidade de verdade está fora desses muros. Quando você o lixo na rua, os prédios um pouco abandonados, degradados. A gente observa um pouco no personagem do reflexo do ambiente em que ele vive. Aquela história de ser fruto do meio”. O filme conta a história de Arthur Fleck, um palhaço de festas pé-rapado e com problemas mentais, e sua espiral de loucura até se tornar o Coringa. Em determinado momento, ele vai parar na frente da Mansão Wayne, que fica afastada da cidade. Thomas, para quem não sabe, é o milionário pai do menino Bruce que, no futuro, será o Batman. Para chegar lá, Fleck pega um trem elevado e impecável que contrasta com o metrô


sujo, que transporta as pessoas por baixo – e no trajeto, a cidade vai ficando cada vez mais distante. Para Márcia Barreiros, a iluminação das cenas ajuda no contraste entre os cenários. “A gente percebe que a mansão é bem iluminada. O próprio lugar em que a criança está brincando tem mais luz. Enquanto na cidade as luzes são muito pontuais, com aquele sombreamento em que meio que tudo é permitido entre um poste e outro. Isso reflete muito o urbanismo”, analisa. A força da ambientação se mostra desde o começo. “Antes de apresentar o personagem, o filme faz um prólogozinho”, lembra Cristiano Rolim. “Fleck está se maquiando, enquanto uma voz vai falando sobre a situação da cidade, no rádio. Então, o primeiro personagem que ele apresenta pra mim é a cidade. É a cidade onde todos esses personagens vão se desenvolver como produto desse meio. A cidade vai desenvolvendo essas pessoas que vivem no submundo, que estão nos metrôs sujos, nesse underground, que explode de formas variadas e até de maneira violenta. É uma cidade que os esmaga”.

Quando Fleck é demitido, é por uma escada que ele desce para ir embora. Quando rouba os arquivos sobre a mãe, no hospital, é na escada que ele para para descobrir a verdade sobre ela e sobre sua origem. Quando vai como Coringa ao talk show, surge a cena já icônica da dança na escada. Para Davi Lucena, essa última cena comunica muito. “Ele desce para o pior estado que ele vai atingir: mas ele faz isso dançando”, diz. “Faz isso como se fosse abraçando aquilo que ele se tornou”. Há mais elementos simbólicos de passagem: passagem. Há cenas com túneis e Rolim chama a atenção para a presença das placas de saída, como se fosse um caminho que ele procura. “Até para entrar no hospital, ele tenta entrar pela saída”, nota Márcia. Dentro da cidade, há os ambientes específicos do filme. O apartamento de Fleck, o ambiente do trabalho, o hospital, a sala de atendimento no começo do filme, o clube de comédia. “O prédio é horrível”, diz Renan Vila Flores. “Tem que apertar muitas vezes o botão para o elevador

“É como a frase de Winston Churchill: Damos forma aos nossos edifícios. Depois, eles nos formam, lembra Márcia. Além do trem, o abismo entre as classes sociais aparecem em outros elementos contrastantes, como os banheiros do metrô e o do teatro elegante. E nas escadas, que surgem pelo filme. Escadas são essencialmente locais de passagem e estão sempre presentes nessa grande passagem psicológica de Arthur Fleck para Coringa, que é o próprio filme.

se movimentar... As portas são sujas, manchadas... O próprio apartamento é escuro, as cortinas só são abertas no momento da transformação dele. Reflete a loucura das pessoas ali”. Rolim lembra que o estado do apartamento também reflete uma condição psicológica específica da mãe de Fleck, que está sempre à espera de que Thomas Wayne venha em socorro dela e do filho. “E tem um detalhe a mais: um quê de decadência. A cortina, mesmo fechada, está rasgada. O papel de parede está desgastado,

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os móveis me parecem velhos. Mas que, de qualquer forma, tentava resgatar ainda um lar. A TV, um abajur, o papel de parede de florzinha... Mas um lar que ficou preso em um passado de que eles não se libertaram”. Para Lucena, as cortinas fechadas também refletem o isolamento da mãe, fechada em seu próprio mundo. Ele e Márcia também apontam a diferença para o apartamento da vizinha, no qual Fleck entra em determinado momento do filme. “Quando ele entra no apartamento da vizinha, você olha rapidamente e não percebe que ele está num apartamento que não é o dele”, acrescenta Márcia. É proposital: o filme quer mesmo confundir o espectador nesse momento. “Aí, o filme começa a mostra detalhes: uma almofadas, uma guitarrinha...”. “O apartamento da vizinha tem alguns ítens afetivos”, complementa Lucena. “Desenhos na parede, a mochilinha da escola da menina... No apartamento dele é tudo muito desordenado”. Se o apartamento de cortinas fechadas é tão representativo da mãe, abrir as cortinas é se libertar dela. É o que Fleck faz depois que ela morre. “Sempre que ele conversa com a mãe, é à noite”, lembra Vila Flores. “A luz da casa é a luz da TV”. “Quando ele abre as cortinas, é como se ele trouxesse a cidade caótica para dentro de casa”, completa Lucena. “Eu sou isso aqui e, já que a cidade está caótica também, agora estamos conversando”.

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“Não deixa de ser um nascimento, né?”, diz Rolim. “Acho que o Coringa nasce ali”. “Em vários momentos, a luz conta essa história”, afirma Márcia. “A gente está sempre no escuro, à noite. Quando ele mata a mãe, a primeira cena depois é a luz da janela. É a primeira libertação. E todas as outras cenas subsequentes tem as aberturas para a luz entrar dentro dos ambientes. Então isso é muito importante: toda essa libertação se dá pela luz entrando nos ambientes”.


FOTOS: Divulgação e MB

O ambiente da assistente social é mais um representativo do abismo social nesta versão de Gotham City. O importante serviço municipal é tratado com total descaso pelo poder público – que se arrependerá disso mais tarde. “Você olha e parece que a assistente social está dentro de um depósito”, aponta Márcia. “A única coisa um pouco mais pessoal ali é uma plantinha na janela. Assim como o ser humano é tratado como ítem de um depósito”. “Ele diz: ‘Você não está nem aí pra mim, eu não sou importante’”, lembra Vila Flores. “E ela responde: ‘Eu também não sou, ninguém está aí pra mim também’”. Ela diz isso efetivamente quando as verbas do serviço são suspensas. “Nessa cena, a plantinha não está mais”, lembra Márcia. Pequenos detalhes eloquentes para sublinhar os significados dessa espiral da loucura.

Arquitetos convidados:

Renan Vila Flor, Márcia Barreiros, Cristiano Rolim, Davi Lucena e Giovani Alencar

Local HIFI

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SALA DE AULA

TÃO LONGE, TÃO PERTO

As aulas de arquitetura também precisaram se adaptar à nova realidade da pandemia Texto: Renato Félix | Fotos: Divulgação

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pandemia mudou muitos conceitos e obrigou a humanidade a se adaptar. O ensino à distância, que tinha seu lugar, mas nunca com o mesmo status das aulas presenciais, acabou entrando à força na pauta educacional. O ensino da arquitetura nas universidades não foi diferente. Muitas procuraram driblar o distanciamento social promovendo o encontro entre professores e alunos através das videoconferências. É o caso de Jean Fechine, professor na Unifacisa, em João Pessoa. “Estamos com aulas

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online desde 19 de março, apoiados na portaria 343 do MEC”, confirma. “No dia 17 foi publicada a portaria, que traz as recomendações para o ensino remoto, online – o que é diferente de EAD”. A partir daí, a faculdade planejou as ações. “Os professores receberam capacitação nas ferramentas digitais que seriam utilizadas”, explica. “Ficou decidido que as atividades devem ocorrer nos mesmos moldes e horários das aulas presenciais. As aulas ocorrem em salas virtuais com professores e alunos presentes”. É a diferença para o EAD, que acontece a partir de aulas gravadas, que


o estudante assiste no momento em que quiser, com assessoria de tutores de plantão. O novo modelo obrigou a mudanças no sistema de avaliação. “As avaliações foram ajustadas para a modalidade contínua, não havendo provas nos modelos padrões de antes da quarentena”, conta. Mas com os estágios, não teve jeito: tiveram que ser suspensos. “Todo o curso segue normalmente o cronograma com exceção do estágio, onde se tem a prática profissional, uma vez que as atividades práticas ficam suspensas pela portaria e serão retomadas após o retorno à normalidade”. O professor conta que o novo modelo não compromete a participação dos alunos. “Como demanda sempre as defesas deles do que foi produzido para que o professor siga orientando e ministrando o conteúdo, a participação tem sido significativa”, afirma. As ferramentas digitais de que a arquitetura já dispunha ajudam no processo. “Sem dúvida! Os estudantes de arquitetura de certa forma já vinham dominando essas ferramentas para as apresentações de suas propostas”, diz. O “novo normal” que vem a seguir não deve dispensar esse apoio virtual. “Esta nova realidade tem nos ensinado muito”, afirma o professor. “E creio que após o retorno presencial a utilizaremos muito como reforço na busca por melhores resultados. Creio que as escolas que não acompanharam este momento devem urgente repensar as suas estratégias de ensino para o futuro”. Mas entre o modelo presencial e virtual ainda há diferenças que são intransponíveis. “A principal delas é a falta do calor humano”, conta o professor. “O olho no olho, um sorriso, isso faz

muita falta no processo de ensino-aprendizagem. Outra é a dependência da tecnologia, que nem sempre está ao acesso de todos. O acesso de todos a internet de qualidade é algo que também vai precisar melhorar. Vejo hoje a necessidade de internet pública de qualidade em programas que possibilite um acesso mais amplo, principalmente daqueles que ainda não tem condições de contratar um serviço desta natureza.”. Mas uma preocupação particular diz respeito ao traço de cada estudante. O lápis no papel. “Sinto falta da personalidade do traço de cada um, uma vez que em meios digitais os processos de desenho são outros”, afirma. “Este último não deve influenciar no processo criativo onde a expressão do traço é muito importante. Por isso sempre abrimos as câmeras para que haja uma interação facial e buscamos ferramentas para que se use o traço no desenho. Mesmo em tempos de tecnologia Bim, não devemos nos desligar da origem, do comando que conecta nossas ideias à realidade, que é o traço utilizado no processo criativo / técnico de um arquiteto e urbanista”.

Professor Jean Fechine e seus alunos

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PONTO FINAL

“Não importando sua beleza,

a

fachada e as

paredes de uma casa, igreja ou palácio são

apenas o recipiente, a caixa que as

o conteúdo é o espaço interno.” paredes formam;

BRUNO ZEVI

Arquiteto e escritor

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