Revista AE 62

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revista

Ano XVI - nº 62

revistaae.com.br

A VEZ DO PÓS-LUXO

Adriano Tadeu Barbosa fala do mercado do luxo e o que vem depois

A HORA H DA COMPRA

Como escolher o imóvel que você pretende adquirir

TRANSFORMAÇÃO TOTAL

de apartamento de praia à morada oficial

DESCENDO DOS PEDESTAIS

As estátuas em João Pessoa estão ficando mais informais

INTEGRAÇÃO ESPACIAL Ambientação em um apartamento de 77m 2 aposta no minimalismo

+ Casa Cor PB , a arquitetura em Divertida Mente e a história dos interruptores




A Evviva está iniciando uma era de mudanças e novas experiências na sua história. O redesenho do seu logotipo e a nova campanha são apenas o início de um movimento que retrata a tradição e os valores da família Bertolini passados de geração para geração. Estamos escrevendo um novo capítulo, permeado pelo saber fazer, pelos detalhes, respeito ao produto, às pessoas e aos novos tempos.

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PELA TRADIÇÃO DO NOVO


Ano XVI Edição 62

SUMÁRIO

CONHEÇA 29 LIVRO

A herança renascentista nas fachadas de igrejas brasileiras

30 GRANDES ARQUITETOS

A simplicidade na obra do australiano Glenn Murcutt

32 A HISTÓRIA DE

Os interruptores surgiram por uma necessidade médica

36 ACERVO

A rota dos bustos de João Pessoa, do centro à praia

38 OUTRAS ÁREAS

Lubyanka Baltar misturou línguas e culturas no Master Chef

40 VIAGEM DE ARQUITETO

A beleza de Bilbao, no País Basco

PROJETOS INTERIORES 44

Márcia Barreiros assina apartamento de veraneio transformada em residência titular

INTERIORES 52

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NOSSA CAPA

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Projeto de ambientação de Diego Revollo busca integração de ambiente com base no conceito minimalista

ARTIGOS VIDA PROFISSIONAL 12

Maurício Guimarães fala sobre os desafios de ser empreendedor

VISÃO LATERAL 14

Hélio Costa Lima comenta a brasilidade de uma casa amazônica

VISÃO PANORÂMICA 16

Amélia Panet comenta exposição sobre livros-objetos

VÃO LIVRE18

Cláudia Campos comenta: dez anos depois, o BIM não pegou no Brasil

URBANISMO 20

Rem Koolhaas reflete sobre as cidades inteligentes

PONTO FINAL 82

Nós somos a nossa casa

ENTREVISTA ENTREVISTA 24

8

Em apartamento para casal de idosos Andréa Bugarib e Betina Barcellos investem na descontração

O especialista Adriano Tadeu Barbosa fala sobre marketing pessoal, o mercado de luxo e o pós-luxo

40


Show Room - Av.MaranhĂŁo, 500 | (83) 3214.7706 | www.hifihometheater.com.br


SUMÁRIO

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DICAS 66 ESPECIAL

Como evitar problemas em reformas e construções

70 REPORTAGEM

Os cuidados na hora de comprar um imóvel

72 ARQUITETURA E CINEMA

A tradução visual das emoções e personalidades em Divertida Mente

74 AMBIENTAÇÃO

CasaCor Paraíba 2018

NOSSA CAPA nº 62 Projeto: Diego Revollo Foto: Alain Brugier

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arquitetura & estilo de vida ANO XV I- Edição 62

EXPEDIENTE Diretora | Editora geral : Márcia Barreiros Editor responsável : Renato Félix, DRT/PB 1317 Redatores : Alex Lacerda,Débora Cristina, Lidiane Gonçalves e Renato Félix

Diretora comercial : Márcia Barreiros Projeto gráfico : George Diniz Prod. e diagramação : MB Fotógrafos desta edição : Diego Carneiro, Vilmar Costa e indicados Impressão : Gráfica JB

QUEM SOMOS AE é uma publicação trimestral, com foco em arquitetura, decoração, design, arte e estilo de vida, com tiragem de 5 mil exemplares de distribuição gratuita e dirigida. A reprodução de seus artigos, fotografias e ilustrações requer autorização prévia e só poderá ser feita citando a sua fonte de origem. As colaborações e artigos publicados e fotos de divulgação são de responsabilidade exclusiva de seus autores, não comprometendo a revista, nem seus editores.

ONDE NOS ENCONTRAR Contato : +55 (83) 3021.8308

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c o n t a t o @ a r t e s t u d i o r ev i s t a . c o m . b r d i r e t o r i a @ a r t e s t u d i o r ev i s t a . c o m . b r R. Tertuliano de Brito, 348 - Bairro dos Estados, João Pessoa / PB , CEP 58.030-044 revistaae @revARTESTUDIO Artestudio Marcia Barreiros As matérias da versão impressa podem ser lidas, também, no nosso site com acesso a mais textos, mais fotos e alguns desenhos de projetos.

www. artestudiorevista. com. br www.revistaae.com.br


EDITORIAL

ENTRE HISTÓRIA E ATUALIDADES

MÁRCIA BARREIROS editora geral e diretora executiva

Colaboradores desta edição:

Além de estampar em suas páginas, a cada edição, projetos dos profissionais, a AE tem outro caminho para o reconhecimento na arquitetura e na arquitetura de interiores: é o concurso que elege as capas da revista. Esta edição mostra o projeto vencedor de Diego Revollo, de São Paulo: os interiores de um apartamento de 77m2 na capital paulista. Um projeto que convenceu pela inspiração no minimalismo e no preto-e-branco. Minimalismo é que você não vai ver no filme de que trata a seção Arquitetura e Cinema nesta edição. Dando sequência à nossa série sobre o uso da arquitetura nas animações da Disney, desta vez falamos sobre Divertida Mente, da Pixar. A arquitetura em questão está toda dentro da mente de uma garotinha de 13 anos: o filme “humaniza” as emoções dentro dela e, para isso, imagina toda uma ambientação com sala de controle, ilhas de personalidade e outros cenários. Outra matéria interessante é que mostra as estátuas na cidade de João Pessoa. É curioso o contraste entre as mais solenes, de políticos, colocadas em pedestais, acima da população, e as mais informais, de artistas, no chão, em poses que interagem com o habitante. Enquanto o barão do Rio Branco olha todo mundo de cima, perto dali Jackson toca pandeiro com quem vai chegando à mesma praça. Uma mudança de paradigma. Ou seja, entre história e atualidades, o cardápio cheio e variado que preparamos para você a cada edição. Boa leitura!

RENATO FÉLIX editor de jornalismo

GEORGE DINIZ

designer gráfico

AMÉLIA PANET arquiteta e urbanista

HÉLIO COSTA LIMA arquiteto e urbanista

ALEX LACERDA jornalista

ARTESTUDIO

DÉBORA CRISTINA jornalista

LIDIANE GONÇALVES jornalista

MAURÍCIO GUIMARÃES master coach

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VIDA PROFISSIONAL

AGORA SIM,

EMPREENDEDOR

Imagem: Divulgação

Conheça os pontos fundamentais para alavancar um negócio

N

a edição passada falei de um tema bastante relevante para os profissionais que desejam ter sucesso em suas empreitadas. Eles se atormentam muitas vezes por não conseguirem entender o porquê de seus clientes não aparecerem, mesmo tendo pleno conhecimento e experiência no que se propõem a comercializar. Para me embasar e validar minha percepção, realizei uma enquete em maio no Instagram da Seiva Consultoria e Coaching sobre o interesse das pessoas em empreender. Veja o resultado: 100% respondeu que precisa de ajuda após sua formatura, abertura de sua empresa e para saber porque abriu a empresa e não está lucrando como planejou.

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80% respondeu que quando você sai da faculdade não se sente preparado para ser empreendedor. 90% respondeu que gostaria de saber mais sobre empreendedorismo para profissionais liberais. 80% respondeu que já pensou em sair do emprego e ser empresário. Isto demonstra que uma mentoria bem direcionada poderá alavancar um negócio existente ou dar diretrizes para abrir um. E o que faz um mentor profissional? Compartilha experiências e conhecimentos técnicos para outro profissional, dando-lhe conselhos práticos focados no objetivo do mentorado (cliente). Sendo assim, resolvi elencar os pontos relevantes que visualizei como fundamentais para alavancar negócios onde o foco é a prestação de serviços, seja


para profissional liberal, MEI, micro empresário, tendo já aberto ou não seu empreendimento.

interessado leia com atenção e não vá direto para o final com o intuito de ver só o preço.

PLANEJAMENTO Foco no planejamento de um novo negócio ou reestruturação de um já existente. Nesta fase é fundamental que seja visualizado o negócio como um todo para dar um norte para as futuras ações. Normalmente, alguns empreendedores param aqui acreditando que isso é suficiente. Digo que, o plano de negócio não ensina a negociar, montar propostas e fechar vendas. Alguns nem montam seu plano e criam uma conta no Instagram ou ficam passando mensagens por Whatsapp acreditando que atrairão clientes. Ledo engano!

NEGOCIAÇÃO Como negociar bem com foco no ganhaganha. Ser um bom negociador exige flexibilidade e ter mecanismos de persuasão suficientes para estabelecer uma relação de confiança com o cliente Aqui vemos um grande gap nos empreendedores. Já ouvi frases assim: “Se não quiser comprar, não compre”; “Meu serviço é esse e não tem como mudar a forma de fazer”. Cuidado! Você pode estar perdendo negócio! Digo sempre: o importante é colocar o “pé” dentro do cliente, abrindo possibilidade de agregar mais serviços.

PROSPECÇÃO Formas de se conectar em diversas redes de negócio e atrair clientes. Após criado o plano será necessário prospectar seus clientes e gerir o relacionamento com os interessados. Esse gerenciamento é fundamental, pois nem sempre na primeira abordagem se fecha um negócio.

FECHAMENTO Como detectar sinais de compra e fechar negócios de forma eficiente. Tem-se um trabalho enorme e longo de preparação, prospecção, apresentação de proposta, negociação e quando menos se espera, “Eita, nem vendí!”. Sabe por quê? Não identificou os sinais de compra do comprador. É muito importante ter domínio desse momento, pois nessa fase é que se fecha negócios.

APRESENTAÇÃO Como se apresentar bem pessoalmente e profissionalmente. Aqui vemos um grande problema: dificilmente os empreendedores sabem bem os benefícios de seu serviço e ficam batendo na tecla de apresentar apenas as características. Digo que características sozinhas não vendem e sim o que elas proporcionam ao cliente. Outro fato relevante aqui é que, se for necessário montar uma proposta de trabalho que exija uma formalização através de um orçamento escrito, existe uma sequência lógica para apresentar de modo que o cliente

FIDELIZAÇÃO Pontos importantes a se observar durante a prestação do serviço e após sua finalização. Após a venda vem um trabalho de entregar com qualidade o que foi proposto. Desta forma você pode aumentar o ticket médio com o mesmo cliente ou mesmo ser indicado para outros interessados em seu serviço. Portanto, cuide bem de sua ideia empreendedora para que seja uma fonte de recursos valorosa para você e seu cliente. E lembrese: “O feito é melhor que o perfeito”. Comece já!

MAURÍCIO GUIMARÃES

Master coach e consultor em gestão empresarial, palestras, treinamentos e workshops para empresas

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VISÃO LATERAL

IDENTIDADE

NACIONAL A casa do Sítio Passarim procura entregar uma experiência sensorial amazônica

À

Fotos: HCL

s margens do Igarapé Tarumã-Açu, nos arredores de Manaus, a casa do Sítio Passarim, do escritório Roberto Moita Arquitetos, busca realizar o anseio de gerações de arquitetos brasileiros que, há quase um século, aspiram a uma arquitetura genuinamente nossa. A ideia de uma arquitetura de expressão puramente brasileira, em que elementos da cultura, do clima e do ecossistema locais compareçam entre seus principais determinantes, integra a pauta pela qual se batem intelectuais e artistas brasileiros desde os primórdios do Modernismo no Brasil, nos anos 1920: libertar a nossa produção cultural do modismo europeu, buscar uma linguagem nacional e promover a conexão entre o homem brasileiro e sua terra. Em simbiose com a mata ciliar do igarapé, da qual apenas duas pequenas árvores foram suprimidas para a construção, essa casa em que Macunaíma poderia muito bem hospedar sua preguiça e sua filosofia, conduz a uma experiência sensorial verdadeiramente amazônica. Em diferentes combinações e intensidades, nossos sentidos, que não são apenas cinco, são ativados a cada um dos espaços internos e externos, abertos e fechados, “abríveis” e fecháveis, que se sucedem desde a marquise de entrada, no plano intermediário. No plano abaixo, que desliza pelo suave declive natural do terreno em direção à prainha às margens do igarapé, diversos espaços de sociabilidade e lazer – em torno da cozinha ou da mesa, nos banhos de piscina ou de igarapé, faça chuva ou faça sol. Diferentes cenários, para mediar o nosso convívio com os rompantes da poderosa e temperamental natureza amazônica. No plano acima, sobre pilotis de troncos de madeira, a casa da árvore. Essa fantasia da criança que, desde criança, habita em nós. Uma

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gaiola que se pode proteger com painéis de telas mosquiteiros deslizantes, e combinar intimidade e calor, frescor e proteção, e diferentes formas de aproximação e relacionamento com a floresta circundante. Um estar no ninho, ou nos galhos, numa equação hedonista onde fauna e flora também contam. Com generosos beirais, em que braçosgalhos de madeira vão buscar seus balanços e incrementam a mimetização da casa com a floresta, a cobertura frondosa de telhas metálicas abriga uma narrativa de contrastes entre o natural e o industrial. Materiais nativos dialogam com o aço, o vidro, o concreto e o gesso acartonado, especificados em função de sua adequação às

circunstâncias de uso, mas também, como afirma Roberto Moita, para estabelecer “um exercício de linguagem arquitetônica associada à particular condição de Manaus, uma cidade industrial e florestal”. Neste sentido, a casa do Sítio Passarim não é uma invenção folclórica do Brasil, para a qual muitas vezes tendem as arquiteturas que dizem buscar nossas raízes, mas uma narrativa pragmática, sem deixar de ser poética, da nossa condição de país em busca de identidade e do papel da arquitetura como mediadora da relação entre natureza e cultura nesse contexto.

HÉLIO COSTA LIMA

Arquiteto e urbanista, Professor de projeto arquitetônico e conselheiro federal do CAU/BR pela Paraíba

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VISÃO PANORÂMICA

A GENTE QUER

LIVRO,

Imagem: Divulgação

DIVERSÃO E ARTE

Exposição de livros - objetos mostra a importância do livro como objeto

C

om a aproximação do Dia Nacional do Livro, que no Brasil é comemorado em 29 de outubro, voltamos a discutir a importância do livro e da leitura para a formação de pessoas capazes de refletir sobre os seus destinos. Nesse contexto, vamos tratar de outras formas de livros, que são nomeadas de livro-objeto, livro do artista, livropoema, livro-arte, entre outros. São nomes relacionados às produções situadas no campo de intersecção das artes plásticas, visuais e literárias. Sua produção quase sempre singular, de um único exemplar ou composição, se afasta da produção em massa das obras literárias e, nesse viés, se aproxima das obras artísticas. Uma mostra desses livros encontraremos no mês de outubro no Celeiro Espaço Criativo, no Altiplano.

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O livro-objeto, como chamaremos esses objetos de arte, rompe com o formato convencional do livro, extrapolando suas fronteiras em busca de expressões e representações livres e artísticas que possam despertar a percepção humana de diversas formas, não apenas por meio da leitura, embora seus exemplares ainda possam ser “lidos” por meio de palavras soltas, frases curtas, mensagens subliminares ou por associação de ideias. Ao contrário do que se possa pensar, o livro-objeto não tem a intenção de competir com a versão convencional do livro criada pela produção em massa de Johannes Gutenberg, por volta de 1439. O livro-objeto procura despertar diversas outras emoções, estimuladas pelos enredos visuais que são capazes de expressar devido à liberdade de expressão e técnicas


possíveis de serem trabalhadas em um único exemplar. Apesar de registros remotos como os cadernos desenhados por Leonardo da Vinci, no século XV, ou as expressões artísticas de Marcel Duchamp, na década de 1930, no caso brasileiro, essa produção artística tomou fôlego a partir das experiências conceituais no final dos anos 1950 e começo dos anos 1960. O encontro de poetas e artistas visuais desse período, movidos pelo concretismo e neoconcretismo foram fundamentais para destacar os aspectos formais da nossa escrita, descolando, ressignificando, inventando e reinventando sentidos, trabalhando a semântica e a sintaxe em busca da poéticavisual para o novo “texto”. Tais movimentos permitiram a assimilação das inovações da linguagem visual desenvolvidos na vanguarda europeia como o cubismo, o De Stijl de Mondrian; o suprematismo de Malevich e pelas influências da Bauhaus alemã, para citar alguns exemplos. De acordo com Schenberg (1977), “a assimilação da experiência internacional pelos artistas brasileiros de tendência construtiva foi um processo altamente criativo que levou às contribuições de grande originalidade para a arte cinética, a pop art e a arte ambiental – além da que foi dada à pintura e à escultura concreta.” Para Schenberg (1977), “nesse processo a nossa literatura se distinguiu pela criação da poesia concreta e neoconcreta.” O desenvolvimento da poesia concreta foi fundamental para o jogo semântico e sintático explorados nos livros-objeto. Como desdobramento das ideias e experiências desse período surgiram as produções de Augusto de Campos e Julio Plaza, por exemplo. Objetos poemas tridimensionais que podiam ser manipulados como o “Poemóbiles”, (1985) de Julio Plaza e Augusto de Campos. O livro-objeto, portanto, transcende os limites conhecidos dos livros tradicionais, baseados na linguagem escrita, tendo como forma uma encadernação com sequências de

folhas. Tais expressões questionam a forma convencional de expressar as ideias, trabalham com a metalinguagem e os múltiplos sentidos através da arte visual e podem assumir infinitas formas. Alguns não possuem texto algum, mas a mensagem está registrada como arte, imagem, forma. A narrativa textual dar lugar ao enredo visual. O livro-objeto pode ser considerado um híbrido entre a literatura e as artes visuais, transita sem preconceitos pelos diversos campos do saber e, especialmente, desenvolve-se com grande acolhimento no universo infantil, lúdico e aberto às experiências. Artistas contemporâneos se destacam na área como Waltercio Caldas, Brígida Baltar, Nuno Ramos, Odires Mlászho, Julio Plaza, Augusto de Campos, Artur Barrio, Rosangela Rennó, Alex Flemming, Guto Lacaz, Marilá Dardot, Sebastião Pedrosa e Paulo Bruscky. Nesse caminho, a mostra “Livro Objeto” instalada no Celeiro Espaço Criativo, vem conectar uma das primeiras exposições brasileiras desse gênero, Livre Como Arte ocorrida também em João Pessoa, em 1979, no Núcleo de Arte Contemporânea da UFPB. A nova mostra Livro Objeto conta com trabalhos de Maria dos Mares, Ricardo Lucena, Amélia Panet e alguns professores e alunos da rede municipal de ensino sob a curadoria de Raul Córdula. O projeto tem a finalidade de promover e estimular as práticas artísticas e a leitura de crianças, adolescentes, adultos e idosos através da investigação de diversos meios de suporte como caminho para a expressão de ideias e mensagens. A experimentação lúdica é explorada por meio da narrativa poética expressa em livros com formas inusitadas, ou objetos que “falam” como livros, a ideia da metalinguagem como forma de expressão como já exposto. Em tempos de tantas dúvidas e visões polarizadas, a diversidade de meios de comunicação é essencial para garantir a liberdade de expressão.

AMÉLIA PANET

Arquiteta e urbanista Mestre em Arquitetura e urbanismo Doutora em arquitetura e urbanismo pela UFRN Professora do curso de arquitetura e urbanismo pela UFPB

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VÃO LIVRE

BIM NO BRASIL

Dez anos se passaram e o mercado ainda não adotou a tecnologia

A

tecnologia BIM (Building Information Modeling) chegou ao Brasil há pouco mais de dez anos. Posto isso, já podemos considerar o primeiro motivo para adotá-la, porém vemos que o mercado, apesar de contar com inúmeras fontes de informação, ainda está mostrando um desconhecimento do assunto ou talvez seja aquela velha ideia de “sabemos o que é, mas achamos que

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não está na hora de mudar e vamos esperar que a mudança ocorra primeiro por parte dos outros”. Para os que ainda não tiveram nenhum contato com a sigla que esta dominando o setor da construção no mundo, o BIM ou “Modelagem da Informação da Construção” é uma tecnologia voltada à construção civil que permite a criação de um modelo virtual do edifício antes de construílo, considerando todas as suas disciplinas:


arquitetura, estrutura, instalações e análises. Não estamos falando somente de uma maquete eletrônica, mas sim de um modelo inteligente e paramétrico, que associa informações dos elementos da construção e podem ser extraídas a qualquer momento ou utilizadas para fins de operação/manutenção do edifício. O edifício virtual, por ser um modelo fiel ao da construção, permite que se faça a compatibilização dos projetos evitando erros e desperdícios na construção e facilitando até mesmo a operação do canteiro. Por fim, o modelo do edifício ao final da obra passa a ser o “as-built”, com grande valor para o operador, ou seja, trata-se de uma tecnologia eficiente para aumentar a produtividade do setor da construção. Temos ouvido hoje, após dez anos de a tecnologia ter desembarcado no Brasil, várias desculpas por parte de empresas do setor da construção do tipo: “Quanto vai custar? O BIM é muito caro!” “Nós não precisamos disso”, “Ainda não me pediram nada em BIM, vou esperar um pouco”, etc. Muito já se debateu em congressos e seminários sobre o desafio da implantação do BIM no Brasil, mas está na hora de encarar o desafio e partir para a capacitação e trabalho para começarmos a colher os frutos antes que se fique para traz. No inicio, víamos desculpas referentes ao custo da tecnologia, qualificação da mão de obra, falta de bibliotecas e de padrões adequados à nossa realidade, além das dificuldades com a interoperabilidade entre as ferramentas. Hoje, o mercado já se articulou e teve um grande avanço em termos de qualificação de mão de obra, principalmente por parte dos jovens. Algumas indústrias fornecedoras da construção já criaram suas bibliotecas,

providência que confirma a importância delas e impulsiona as demais companhias a seguir a mesma cadeia. O custo da tecnologia, por sua vez, deve ser visto como um investimento que trará mais produtividade, desde que utilizado corretamente. Quanto aos padrões brasileiros já há movimentos importantes por parte do governo e entidades de classe, tais como ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), ASBEA (Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura), Exército Brasileiro, entre outros que estão desenvolvendo normas para atender o nosso padrão de BIM. Alguns órgãos do governo já se arriscaram a solicitar projetos em BIM demandando uma readequação dos projetistas. Então, por que ainda temos desculpas para não implantar o BIM por parte de alguns setores? No final dos anos 1980, ocorreu a transição dos projetos feitos em prancheta com todas as ferramentas de desenho que a acompanhavam para a tecnologia CAD (Computer Aided Design). E isso não foi fácil na época. Houve muita resistência e as mesmas desculpas de hoje, quase 30 anos depois: investimento alto, falta de mão de obra e falta de padrões de desenho brasileiros. No meio de tantas desculpas, entretanto, há muitos motivos para adotar a tecnologia BIM pelos benefícios que ela traz para o negócio e não só pela situação de pressão de mudar somente pela demanda, sem estar consciente dos benefícios. Toda a cadeia da construção se beneficia da tecnologia, o que resulta em alcance de novos negócios, aprimoramento do processo de projeto e construção, eficiência na coordenação e compatibilização, diminuição do desperdício na obra e ROI positivo. Não há mais desculpa, pois quem não se adaptar não vai sobreviver neste mercado tão competitivo.

CLÁUDIA CAMPOS

arquiteta especialista na tecnologia BIM e sócia diretora do ConstruBIM, empresa especializada na consultoria de projetos em BIM do Grupo Construtivo

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URBANISMO

AS CIDADES

INTELIGENTES

ESTÃO CONDENADAS À ESTUPIDEZ?

Imagem: Divulgação

O conceito de “cidade inteligente” está ligado àquelas altamente “habitáveis” como Vancouver, substituindo outras mais reconhecíveis em nossa consciência coletiva

E

u tive uma sensação de vazio enquanto ouvia as palestras dessas proeminentes figuras do campo das cidades inteligentes porque a cidade costumava ser o campo do arquiteto, e agora, francamente, eles fizeram dela seu domínio. Essa transferência de autoridade foi alcançada de um modo esperto ao chamá-las de cidades inteligentes - e ao chamá-las de inteligentes, nossas cidades estão condenadas a serem estúpidas. Aqui estão algumas reflexões sobre a cidade inteligente, algumas das quais são críticas; mas, ao cabo, está claro que aqueles na esfera digital e os arquitetos terão que trabalhar juntos. Regime ¥€$ A arquitetura costumava tratar da criação de comunidades, e fazer o máximo de esforço para simbolizar aquelas comunidades.

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Desde o triunfo do mercado econômico no final da década de 1970, a arquitetura deixou de expressar os valores públicos e, ao invés disso, passou a expressar os valores do setor privado. Isso é de fato um regime - o regime ¥€$ - e ele invadiu todos os domínios, queiramos ou não. Esse regime teve um grande impacto nas cidades e no modo como compreendemos as cidades. Com segurança e proteção como argumentos de venda, a cidade se tornou muito menos aventureira e mais previsível. Para completar a situação, quando o mercado econômico ganhou força no final dos anos 1970, os arquitetos pararam de escrever manifestos. Paramos de pensar sobre a cidade no mesmo exato momento da explosão da substância urbana do mundo em desenvolvimento. A cidade triunfou no preciso momento que a reflexão sobre a cidade cessou. A cidade “inteligente” aproveitou esse vácuo. Mas sendo corporações comerciais, seu trabalho está


mudando as noções da própria cidade. Talvez não seja coincidência que cidades “habitáveis” planas - como Vancouver, Melbourne e mesmo Perth estejam substituindo as tradicionais metrópoles em nosso imaginário. Paramos de pensar sobre a cidade no exato momento da explosão da substância urbana do mundo em desenvolvimento. Isso pode ser visto no movimento Novo Urbanismo, que a partir do início dos anos 1980 tentou restituir princípios tradicionais de projeto urbano. Retórica apocalíptica O movimento cidade inteligente é hoje um campo muito cheio, e, portanto, seus protagonistas estão identificando uma diversidade de desastres que podem ser evitados. Os efeitos da mudança climática, o envelhecimento da população e da infraestrutura, as previsões de água e energia são todos apresentados como problemas para os quais as cidades inteligentes têm a solução. Cenários apocalípticos são geridos e mitigados por soluções baseadas em sensores. A retórica das cidades inteligentes se baseia em slogans - “arrume encanamentos com vazamento, salve milhões”. Tudo salva milhões, não importa o quão insignificante seja o problema, simplesmente por causa da escala do sistema que será monitorado. A motivação comercial corrompe a própria entidade que

ela deveria servir... Para salvar a cidade, talvez tenhamos que destruí-la... Quando olhamos a linguagem visual através da qual a cidade inteligente é representada, é geralmente através de cantos arredondados infantis e cores vibrantes. Os cidadãos que a cidade inteligente diz servir são tratados como crianças. Somos alimentados com ícones bonitinhos de vida urbana e dispositivos inofensivos, unidos por agradáveis diagramas nos quais cidadãos e negócios são cercados por cada vez mais círculos de serviços que criam bolhas de controle. Por que as cidades inteligentes oferecem apenas aperfeiçoamentos? Cadê a possibilidade de transgressão? E, em vez de descartar a inteligência urbana acumulada ao longo de séculos, devemos explorar aquilo que é hoje considerado “inteligente” com eras precedentes de conhecimento. Se prefeitos governassem o mundo O movimento cidade inteligente está focando no fato recente de que mais de 50% da população mundial vive nas cidades. Portanto, os prefeitos têm sido apontados como os clientes ou iniciadores das cidades inteligentes. Prefeitos são particularmente suscetíveis à retórica da cidade inteligente: é muito atraente ser um prefeito inteligente. O livro If Mayors Rules the World propõe um parlamento global de prefeitos.

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Essa confluência de retóricas - a “cidade inteligente”, a “classe criativa”, e “inovação” - está criando um argumento de consolidação cada vez mais forte. Se você ver a sala de controle de uma cidade inteligente, como aquela da IBM no Rio de Janeiro, você começa a se perguntar sobre a extensão do que está realmente sendo controlado. Conforto, segurança, sustentabilidade Por ser apolítica em suas declarações, também temos que questionar as políticas por trás das melhorias que a cidade inteligente oferece. Uma nova trindade está em jogo: os tradicionais valores europeus de liberdade, igualdade e fraternidade foram substituídos no século XXI por conforto, segurança e sustentabilidade. Eles são agora os valores dominantes de nossa cultura, uma revolução que mal foi registrada. Sala de julgamento O carro é um elemento essencial na cidade inteligente. Ele está sendo equipado com complexos dispositivos de monitoramento. Por um lado, os dispositivos melhoram o comportamento dos motoristas, mas por outro, criam um alto grau de vigilância. Não estou convencido de que o público receberá bem esse grau de monitoramento. Prefiro que o carro não seja uma sala de julgamento.

Se a cidade é cada vez mais um sistema de vigilância integrado, a casa está se tornando uma célula automatizada responsiva, repleta de dispositivos como janelas automáticas que você pode abrir apenas em determinadas horas do dia; assoalhos com sensores que registram a mudança de posição das pessoas; espaços que não são aquecidos completamente, mas, em vez disso, rastreiam seus moradores e os envolvem em bolhas de calor. Em breve uma gaiola elétrica será um componente necessário em qualquer casa - um lugar seguro para fugir dos sinais digitais. Políticas A retórica das cidades inteligentes seria mais persuasiva se o ambiente que as companhias de tecnologia criam fosse realmente convincente, oferecendo modelos daquilo que a cidade pode ser. Mas se você olha o Vale do Silício, você vê que as maiores inovações no campo digital criaram ambientes suburbanos sem graça que estão se tornando cada vez mais exclusivos, suas bolhas tecnológicas isoladas da esfera pública. É uma surpresa que o movimento digital esteja encontrando oposição à sua própria porta. Cidades inteligentes e política divergiram e cresceram em mundos separados. É absolutamente crítico que as duas convirjam novamente.

Gaiola elétrica Nos dois últimos anos nós, juntamente com a Harvard Graduate School of Design, buscamos elementos arquitetônicos - como a parede, o piso, a porta, o forro, a escada - e vimos como eles estão evoluindo atualmente.

REM KOOLHAAS

Originalmente publicado pela Comissão Europeia como parte da série “Digital Minds for a New Europe”, no encontro High Level Group sobre cidades inteligentes [Smart Cities] em Bruxelas no dia 24 de setembro de 2014, traduzido por Romullo Baratto

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ENTREVISTA

ADRIANO TADEU BARBOSA

‘É LUXO SÓ

Especialista em marketing pessoal e mercado de luxo explica as mudanças nesse cenário e o conceito do pós-luxo

Texto : Renato Félix | Fotos: Divulgação

“E

ssa mulata quando dança é luxo só”, já dizia o samba de Ary Barroso e Luiz Peixoto, de 1957, mostrando que, desde aquela época, luxo era um conceito que ia muito além do dinheiro. No Brasil, essa área se consolida como um mercado próprio, que pede estratégias particulares para quem trabalha com ele. E Adriano Tadeu Barbosa é um especialista nesse cenário, tanto em marketing pessoal quanto no mercado de luxo em si. Atuando desde 2006, sua carreira envolve consultorias, aulas, supervisão de cursos e criação de conteúdos, com experiência internacional: supervisionou o curso de mercado de luxo pelo ISAE/FGV em Paris. Hoje, também gerenciona a Ponto Pessoal (http://pontopessoal.com.br), que engloba um portal, revista digital e escola de marketing pessoal, a primeira do Brasil e de Portugal. É também embaixador da marca de relógios alemã Exaixo e apresenta o programa Backstage junto à Revista Topview (https://topview.com.br), na região Sul. Nesta entrevista, ele divide com os leitores da AE um pouco do seu conhecimento e conta que agora já existe uma categoria além do luxo: o pós-luxo. AE – Marketing pessoal e mercado de luxo são conceitos independentes, mas o primeiro é fundamental para ter sucesso no segundo? ADRIANO TADEU BARBOSA – Com certeza o marketing pessoal traz estratégias e formas de se posicionar que lhe destacarão de forma sutil no mercado de luxo. Exemplos: a hora certa de falar de você, a forma de

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contar a sua história de modo que a pessoa realmente se interesse, os conceitos que definem sua imagem e fazem com que ela desperte o desejo e influencie a pessoa ou empresa na qual você está se relacionando, e, talvez o principal, como você se relaciona em busca de melhores resultados. Tudo isso liga um conceito ao outro.


AE – O marketing pessoal é um conceito relativamente novo. Antes dele surgir como uma estratégia estruturada, como as pessoas trabalhavam sua imagem para divulgação de seus trabalhos? ATB – Não vejo o marketing pessoal como um conceito novo, porque é pautado nos fundamentos do marketing e voltado às pessoas. Para se fazer marketing pessoal você tem que entender dos seus pontos fortes e conhecer o comportamento do mercado onde você está, despertando assim a comunicação apropriada entre um e outro. Antes, entendo que as pessoas faziam se conhecer por intuição, talvez falando muito mais delas do que deixando que as pessoas o fizessem. Hoje, estruturar assuntos para que as pessoas possam falar de você é a melhor estratégia para que o seu marketing pessoal aconteça e seja lembrado, posicione você como marca. Tudo isso é possível porque as redes sociais possibilitam essa interação e com a chegada delas é que as pessoas estão mais se antenando às possibilidades do marketing pessoal. AE – Onde conceitos e estratégias de marketing pessoal e de branding se encontram? ATB – Branding é você trazer pra consciência do mercado as características da sua marca/identidade. Como somos absolutamente complexos e únicos, essas características são muitas e podem e devem ser potencializadas ao longo da vida, por isso, uma gestão forte, entre todos os resultados conseguidos, é que vai garantir a lembrança dessa marca, na sua totalidade. Porém, para lembrar e se fazer conhecer são necessários movimentos que somente o marketing pode trazer, sendo aqui exatamente onde os conceitos se encontram. O branding define as características e faz a gestão dos resultados que evoluem ao longo da jornada, e o marketing traz o movimento necessário para que essas características sejam vistas e lembradas pelo mercado em que essa marca está.

AE – O que chamamos de mercado de luxo lida exatamente com o quê, hoje, no Brasil? Ele tem mudado durante os anos? ATB – Essa mudança é no mundo como um todo devido a consciência dos consumidores e a exigência deles em relação aos produtos e consumo. Luxo, na sua essência, traz o que é único, exclusivo, que faz pertencer a um grupo, ao mesmo tempo que é subjetivo e que pertence a poucos. O Brasil é rico em variedade natural de muitas matérias-primas de que o luxo se apropria, como pedras preciosas exportadas pelo mundo e até mesmo a seda puríssima produzida pelos bichosda-seda no interior do Paraná e exportadas para a fabricação dos lenços extremamente elegantes da marca centenária francesa Hermès. A mudança vem com o conceito do pós-luxo. AE – E o que é o pós-luxo? ATB – Uma leitura atual do que se traz como luxo, mas voltando à unicidade nas experiências, emoções, conforto, segurança e memórias, que não necessariamente estão longe do local. Hoje, o conceito “glocal” é difundido como conhecer globalmente os movimentos, devido à tecnologia, mas agir localmente e de forma simples diante das características de cada região, que chega a se concentrar, em alguns casos, em empreendimentos, em bairros ou até mesmo nas cidades. Dá para se usar como exemplo alguns bairros ressurgindo em algumas cidades com novos conceitos e que fazem com que os estabelecimentos comerciais, produtos e serviços se concentrem em um conceito

Fresh Live Market em Curitiba

AE – O Brasil passa por uma crise econômica há alguns anos. Isso tem afetado o mercado de luxo?

ATB – Sim, mas não ao ponto de fazer o país andar para trás. Apenas não houve crescimento. Mas a crise faz com que o consumidor repense muitas oportunidades, pois ele sofistica seu consumo, pensando mais antes de agir e buscando mais experiências ao invés de somente produtos. E, nestes itens, o mercado de luxo se importa, seguindo à frente de outros segmentos e levando consigo o crescimento de 5 a 7 % previsto por estudos de mercado.

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único a todos e que revivam nas pessoas memórias que geram conexões. Assim temos o Fresh Live Market em Curitiba, o Design District em Miami e até mesmo a cidade do Porto, em Portugal, todos com características locais com destaque entre seus frequentadores. AE – Nas suas palestras e cursos, o que você tem sentido como maiores dificuldades para quem almeja um bom marketing pessoal? ATB – Duas grandes dificuldades: a gestão das redes sociais, pois como elas mudam quase que semanalmente, não conseguimos respostas técnicas de como melhor nos colocar em cada uma delas; e a real consciência de que, para ser reconhecido pelo mercado, são necessárias ações diárias, semanais, mensais e anuais. São também necessárias parcerias, construção de conteúdos e o despertar de um estilo de vida que conecte as pessoas. A consciência da segunda dificuldade responde à primeira, pois com ela as pessoas conseguem povoar seus posts e alimentar as histórias reais em suas redes sociais, engajando e interagindo uns com os outros. Da mesma forma que o mercado de luxo tem feito para se inovar e nos interagir.

Design District em Miami

AE – Como você avalia a importância hoje do marketing pessoal para a vida de um profissional? ATB – Fundamental para o sucesso que se espera, pois não conseguimos mais separar o pessoal do profissional e estar fora do ambiente online. Não mais sozinhos fazemos as pessoas se interessarem por nós somente por alguma propaganda ou publicidade colocada nem mesmo no maior veículo de circulação ou visualização. As pessoas que consomem buscam a verdade acima de tudo e nós, enquanto marcas, precisamos contar nossas histórias reais, que giram em torno de nossas vidas, de uma forma estruturada que o marketing pessoal nos ensina, pois conecta o nosso melhor ao mercado em que fazemos parte, criando reconhecimento e lembrança, gerando novos resultados.

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Casa Cor PB | Foto: Vilmar Costa | Ambiente: Loft Leo Maia

Avenida Nego, 768 . Tambaú. João Pessoa, PB | 3512-3430 29


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LIVRO

A RENASCENÇA NA FRENTE DAS IGREJAS A Progênie Brasileira de uma Fachada da Renascença aborda o estilo em 100 edificações brasileiras dos séculos XVI e XVII

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A Progênie Brasileira de uma Fachada da Renascença Editora: Mídia Gráfica 180 páginas

Autor:

Alberto José de Sousa

Texto: Renato Félix | Fotos: Divulgação

studar uma fórmula arquitetônica e sua descendência é algo muito incomum, principalmente quando é ampliado o escopo de avaliação, como foi feito na obra do professor Alberto Sousa, A Progênie Brasileira de uma Fachada da Renascença, que se debruçou de forma sistemática numa fórmula arquitetônica portuguesa do século XVI e sua aplicação no Brasil por um período de 300 anos. Esse tipo de frontaria foi introduzida a partir de uma edificação renascentista portuguesa: a capela de Nossa Senhora da Conceição, em Tomar. O livro fala de edifícios mineiros, baianos, sejam eles seiscentistas, setecentistas, classicistas, jesuítas e franciscanos, além de várias outras naturezas, o que possibilita realizar comparações entre elas. O que não ocorre em outras publicações, que abordam cada elemento de forma isolada. Alberto comenta sobre 42 fachadas retratadas em imagem, das cerca de 200 que chegou catalogar, apresentando sempre suas impressões. Em seguida, o autor identifica outras 58 fachadas e tece mais considerações a respeito delas, apontando suas características básicas e formulando considerações sobre elas, totalizando 100 frontarias abordadas. No livro o autor contesta um renomado estudioso da arquitetura religiosa, Germain Bazin, apresentando duas explicações que contrastam com o que é dito pelo famoso escritor, apresentando as argumentações no decorrer do livro. Na parte gráfica, algumas das 49 figuras que ilustram o livro são compostas pelo próprio autor para suprir algumas imagens que ele não tinha para poder utilizar no texto. “A feitura delas foi trabalhosa, mesmo sendo eu um arquiteto, e mostrou-me como as formas barrocas são difíceis de desenhar e, portanto, de se executar”, destacou o autor em seu prefácio. O livro é editado pela Mídia Gráfica, com 184 páginas. A edição tem uma impressão bilíngue, com a versão principal em português e uma em inglês, ao final do livro. O livro é apropriado tanto para estudantes de Arquitetura, como para profissionais interessados em saber um pouco mais sobre o processo histórico de formação da fachada da renascença. Dois capítulos do livro podem ser lidos na internet (http://infohabitar. blogspot.com/2018/01/a-progenie-brasileira-de-umafachada-da.html). Alberto José de Sousa é natural de João Pessoa, na Paraíba. Com mestrado na universidade de Edimburgo, doutorado na Universidade de Paris e pós-doutorado na universidade de Nova Lisboa. Escreveu outros oito livros na área de arquitetura e foi professor do Departamento de Arquitetura da UFPB, entre 1983 a 2013.

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GRANDES ARQUITETOS

UM LEVE TOQUE A arquitetura voltada para o local e abraçada ao ambiente do australiano Glenn Murcutt

Texto: Renato Félix | Fotos: Divulgação

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enos é mais, uma frase muito usada e que ainda faz muito sentido. Por exemplo, quando se observa a obra do inglês de nascimento (de pais australianos) Glenn Murcutt, marcada pela simplicidade e pela atenção às questões ambientais. Ele foi premiado com o Pritzker em 2002. Nascido em Londres, em 1936, mas logo passou cinco anos vivendo com a família na Papua Nova Guiné, arquipélago da Oceania, onde tomou contato e começou a admirar a arquitetura simples e primitiva do local. Isso viria a influenciar sua arquitetura mais na frente, assim como as orientações de seu pai, que o apresentou aos trabalhos do alemão Ludwig Mies van der Rohe, um dos maiores profissionais da arquitetura no século XX. O pai também o apresentou a obra do filósofo americano Henry David Thoreau, que viveu no século XIX e foi autor de A Desobediência Civil,

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entre outros ensaios. Thoreau também influenciou a arquitetura de Murcutt. Em 1941, ele passou a viver em Sydney, metrópole australiana. Se formou em arquitetura 20 anos depois, viajou por dois anos e começou a trabalhar na área em 1964, de volta à cidade. Abriu seu escritório em 1970. “Sua obra pequena, mas exemplar, é bem conhecida por seus designs ambientalmente sensíveis, com um particular caráter australiano”, diz a biografia do arquiteto no Pritzker. “Sua arquitetura permaneceu consistente ao longo do tempo. Seus edifícios, principalmente residenciais, são uma mistura harmoniosa de sensibilidade modernista, artesanato local, estruturas indígenas e respeito pela natureza”. “Meus edifícios abrem e fecham –como um instrumento. Sou consciente quando estou projetando em incluir perspectiva, refúgio, observação, e recepção”, disse o arquiteto, em entrevista publicada


no site ArchDaily. “Projetam-se edifícios para perceber os cambiantes níveis de luz, temperaturas, padrões de vento, e posições do sol; para perceber todas essas coisas que então o edifício atua como um instrumento dos ciclos do dia e do ano”. “Glenn Murcutt é um modernista, naturalista, ambientalista, humanista, economista e ecologista, englobando todas essas qualidades distintas em sua prática como arquiteto dedicado, que trabalha sozinho desde a concepção até a realização de seus projetos em sua Austrália natal”, diz a justificativa do júri do Pritzker de 2002. Além de trabalhar sozinho, ele optou por não fazer trabalhos fora da Austrália. “Conhecer seu próprio lugar é conhecer como construir; como trabalhar com a cultura. Através da observação eu aprendi muito ao examinar o terreno da Austrália, sua flora e fauna”, disse sobre o tema na entrevista publicada na ArchDaily. Temperatura, direção do vento, movimento da água e uso da luz natural recebem tanta atenção quanto os materiais que costuma usar: madeira, vidro, aço, concreto. Suas obras muitas vezes são residências e obras institucionais como o Australian Islamic Center (2016), o Bowali Visitor Information Centre (1994, em colocaboração com a Troppo Architects) ou o Museum of Local History and Tourist Office (1988). “Eles tocam a terra levemente”, diz Murcutt sobre o povo aborígene australiano. É uma frase que o arquiteto carrega com ele e usa na sua prática profissional.

Arquiteto:

Glenn Murcutt

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A HISTÓRIA DE

DISCRETO E FUNDAMENTAL Geralmente um botãozinho que não recebe muita atenção no dia-a-dia, o interruptor é um grande facilitador do cotidiano

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oldanas, chaves de circuito, alavancas, todo esse conjunto de elementos se condensou em um botão, que conhecemos como interruptor. Praticamente invisível na arquitetura de um imóvel, os interruptores são o símbolo da praticidade e o avanço da tecnologia voltada para o conforto humano. Os interruptores como conhecemos hoje têm como função ligar ou desligar uma corrente elétrica que aciona um equipamento ou uma iluminação. No entanto, ele nasceu da necessidade do médico Golding Bird, que viveu de 1814 a 1854, para aplicar eletrochoques nos pacientes a partir de uma célula voltaica por uma bobina de indução sem que precisasse ocupar as mãos em outras atividades no processo. O médico contava com uma roda dentada para fazer o processo e necessitava de um auxiliar para fazer a rotação manual da roda e acompanhálo. O dispositivo liberava as mãos do médicos e foi de um grande auxílio na época, mas seu uso se ampliou e popularizou-se, fazendo com que se tornasse elemento imprescindível nas casas e empresas.

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Texto: Alex Lacerda | Fotos: Divulgação

Interruptor é um componente elétrico que pode estabelecer ou parar um circuito elétrico, interrompendo a corrente ou desviando-a de um condutor para outro. O interruptor “quick-break” foi inventado pelo americano John Henry Holmes em 1884 e superou o problema dos contatos dos interruptores antigos, que desenvolviam o arco elétrico sempre que o circuito era aberto ou fechado. Já o interruptor de luz de alavanca, próximo aos que conhecemos hoje, foi inventado em 1917 por William J. Newton As dimensões, desenhos mecânicos e até a aparência geral dos interruptores de luz mudaram lentamente ao longo do tempo. Eles geralmente permanecem em funcionamento por muitas décadas, sendo freqüentemente alterados apenas quando uma parte de uma casa é religada ou por uma condição estética. Hoje em dia, no entanto, com a tendência da automação residencial para os edifícios mais requintados, os interruptores de luz devem passar a se integrar com os demais aparelhos automatizados e compartilhar espaço com os controles remotos.


Os tipos O interruptor de balancim é ligado por meio de uma alavanca oculta, que precisa ser encaminhada a uma ou mais posições, fazendo alterações no estado de contato. Já o interruptor com botão de pressão funciona produzindo alterações de contato. O interruptor rotativo produz alterações de contato através da rotação de um eixo para uma ou mais posições. Interruptores automáticos se conectam sem necessitar serem tocados, executados na base de relés indutivos, dispositivos eletrônicos que são capazes de reagir à proximidade de objetos metálicos. Os interruptor simples são os mais comumente utilizados nas construções em geral: são baratos e práticos de usar. Na grande maioria das vezes, eles são apenas um botãozinho discreto nas paredes das casas e apartamentos. Mas são também um elemento fundamental da nossa vida urbana, um facilitador sem o qual nosso cotidiano seria muito mais difícil.

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ACERVO

SOLENES OU INFORMAIS

Em João Pessoa, as estátuas se concentram no centro da cidade; algumas se distanciam do povo, mas outras se integram à população

Texto: Renato Félix | Fotos: Divulgação

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ão muitos os bustos de personalidades históricas (e mesmo pouco conhecidas) em João Pessoa, como mostramos na AE 61. Estátuas, no entanto, já não são tão comuns. Elas estão concentradas sobretudo no centro da capital paraibana e as mais recentes perdem bastante a aura solene destes monumentos, sendo integradas à paisagem. O contraste é evidente, por exemplo, entre duas estátuas muito próximas uma à outra, na Praça Rio Branco. A do próprio Barão do Rio Branco, erguida da coxa para cima, sobre um pedestal, retrata o político e diplomata que negociou fronteiras do Brasil

no começo do século XX e ajudou a ampliar nosso território. Homem sóbrio, de bigode, lá no alto. A poucos metros dali, na estrada da praça, está a de Jackson do Pandeiro. O intérprete de sucessos como “Chiclete com banana” e “Sebastiana”, tem sua homenagem instalada há muito menos anos, e – por isso e pela figura em si – é muito mais informal. O rei do ritmo está no chão, junto dos habitantes da cidade, com o pé apoiado em um banco e tocando seu pandeiro. Perto dali, sentado em seu banco, chapéu do lado, está Livardo Alves. O compositor da famosa “Marcha da cueca” está no time da estátuas recentes e “informais”. Sua postura é de quem está observando o

Estátua de Augusto dos Anjos, na Academia Paraibana de Letras

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Estátua de Álvaro Machado

Ponto de Cem Réis, local do centro de João Pessoa que ele frequentou por tantos anos. Pena que sua visão é prejudicada: seus óculos são constantemente vítimas de roubo. O poeta Augusto dos Anjos, além de dois bustos (um na entrada da galeria que leva seu nome e outro no Parque da Lagoa), tem também duas estátuas em João Pessoa. Uma está na Praça Pedro Américo, sentado e escrevendo. A outra, num formato bem mais tradicional, está na entrada da Academia Paraibana de Letras. A estátua dedicada a Manoel Caixa d’Água, na Praça Aristides Lobo, rende essa homenagem não apenas por ele ter sido um poeta, mas também por ter sido uma grande figura representativa, folclórica, do centro da cidade. A mala que Caixa d’Água sempre carregava consigo e que a estátua também tinha foi vítima do vandalismo e não está mais lá – Mané aguarda por outra. A estátua mais distante do centro é de outra figura da cultura: Ariano Suassuna, que recebe as plateias que passam pelo hall do Teatro Pedra do Reino, no Centro de Convenções. O teatro é batizado com o nome de um dos principais livros de Ariano. De volta ao Centro, uma estátua de João Pessoa compõe o pomposo monumento dedicado ao ex-governador (na época se dizia presidente) que foi assassinado em 1930, em Recife, fato que foi o estopim para a Revolução de 1930. O monumento está na Praça João Pessoa, conhecida como a “praça dos três poderes”, por ser cercada pelo Palácio da Redenção (sede do executivo estadual), a Assembleia Legislativa (sede do legislativo) e o Tribunal de Justiça (sede do judiciário). João Pessoa brilha sozinho em um dos lados do monumento – anjos e guerreiros estão dos outros. A mais solene das estátuas pessoenses é a de Álvaro Machado, que foi governador da Paraíba duas vezes, nos primeiros anos da República: entre 1892 e 1896 e entre 1904 e 1905. Foi também duas vezes senador: entre 1897 e 1904 e de 1906 a 1912, quando morreu. Com atuação há mais de cem anos, poucos hoje conhecem o personagem que está sobre um pedestal altíssimo. Distante do povo no tempo e no espaço.

Estátua de Jackson do Pandeiro

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OUTRAS ÁREAS

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MUNDOS NA COZINHA Nascida em João Pessoa e com 20 anos de Estados Unidos, a chef Lubyanka Baltar se destacou no Master Chef Profissionais Texto: Renato Félix | Fotos: Divulgação

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que é Lubyanka? É o nome do prédio da KGB, o serviço secreto soviético, em Moscou. Para muitos brasileiros, a resposta mais provável é “aquela participante do Master Chef que misturava inglês com português”. Participante do reality show culinário da Band em 2017, na versão para profissionais, Lubyanka Baltar nasceu em João Pessoa. Com mãe americana (e pai paraibano), passou 20 anos nos Estados Unidos até voltar ao país, há sete anos. Ela chegou a comandar um restaurante na capital paraibana, a partir de 2010 e por quatro anos: parou quando engravidou da filha. Antes, foi modelo e decidiu se especializar na gastronomia como nova opção profissional. Estudou na Le Cordon Bleu e trabalhou em restaurantes de Miami. O Master Chef foi encarado como a possibilidade de voltar ao mercado. Ela não chegou à final, mas repercussão teve muita. Sua mistura de duas línguas, refletindo suas culturas (o português tem um inegável sotaque), rendeu memes na internet, comentários no twitter, e caiu nas graças do público. Mas ela também mostrou, naturalmente, sua perícia na cozinha. Em uma das provas de eliminação, com punição que a deixou com menos tempo para preparar seu prato, Lubyanka acabou tendo o melhor desempenho da prova. “Os desafios têm me ensinado que parece que eu trabalho melhor com menos tempo e menos ingredientes”, disse ela, na ocasião, ao portal da Band. “Se estou com muito tempo, a minha cabeça viaja muito na maionese, não consigo buscar inspiração. Quando eu estou em situação adversa, eu foco mais, filtro e penso melhor”. Ostentando o nome do edifício do serviço secreto soviético, Lubyanka não é mais um segredo para o Brasil. Em João Pessoa, no comando do Blue, ela já não era.

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VIAGEM DE ARQUITETO

BILBAO, O INÍCIO DE UMA AVENTURA

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pós uma pesquisa para decidir qual seria meu destino de férias na Europa, optei em fazer um roteiro de arquitetura na Espanha, por esse país guardar cidades com grandes intervenções urbanas e importantes obras de arquitetos contemporâneos, como Norman Foster, Zaha Hadid, Frank Gehry, o espanhol Santiago Calatrava, entre outros. Não esquecendo o ícone do modernismo catalão Antoni Gaudí. Uma das cidades escolhidas foi Bilbao, da comunidade autônoma do País Basco, no norte da Espanha, com fama turística devido ao Museu Guggenheim, mas descobrimos que esse era apenas um começo... A 606 km de distância de Barcelona, o deslocamento de trem se tornaria inviável para nosso roteiro de um dia na cidade, por isso escolhi por fazer o translado de avião e consegui achar um voo direto no início da manhã e outro, também direto, de retorno no início da noite, o que para mim foi perfeito. Chegando à cidade pelo aeroporto Sondica, apelidado de La Paloma “a pomba”, projetado por Santiago Calatrava em 1999, todo em estrutura metálica branca e com utilização de iluminação natural. A partir daí, o roteiro iniciou pela região de Abandoibarra, antiga área degradada com estaleiros de navais e pátios de ferrovias, que passou por uma transformação urbana e paisagística, e onde encontro no percurso exemplares de obras de arquitetos renomados, e me surpreendí com o tratamento da paisagem urbana e o esmero na paginação de piso dos passeios públicos, nos jardins e nas áreas de contemplação e recreação do parque linear. Já nos primeiros passos em Abandoibarra, me deparei com quatro obras relevantes: Ponte Euskalduna (Javier Manterola), Palácio Euskalduna (Federico Soriano e Dolores Palacios), Shopping Center Zubiarte (Robert Stern) e o Hotel Meliã (Ricardo Legorreta). Após alguns minutos de caminhada em um agradável passeio arborizado, me deparo com o edifício da Universidad Del País Vasco, projetado por Álvaro Siza e Iñaki Azkuna, ladeado pela Biblioteca de la Universidad de Bilbao, do arquiteto espanhol Rafael Moneo. E ali passamos alguns minutos aproveitando para desfrutar de um belo parque, de uma obra de Siza e outra de Moneo, em um convidativo banco de madeira. Mas o ápice da caminhada no parque aconteceu quando visualizei um dos ícones da arquitetura contemporânea mundial, Museu Guggenheim de Bilbao – projetado pelo arquiteto Frank Gehry, e não seria fácil descrever a emoção que

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senti ao me aproximar dessa singular obra em aço com curvas e volumes interpostos. A obra nos surpreende mais ainda internamente, pelos espaços criados, pela captação de luz natural e pela dinâmica de percurso que o edifício proporciona. Duas famosas e gigantescas obras de arte compõem o espaço externo do Museu, a escultura “Maman” - a aranha de bronze produzida pela artista franco-americana Louise Bourgeois, e o “Puppy” – o cachorro coberto por folhas e flores naturais produzido pelo americano Jeff Koons. Continuando a caminhada pelas ruas da cidade de Bilbao, que se revelou ser um vasto acervo de bons projetos arquitetônicos: entradas das estações do metrô (Foster & Partners), Sede del Departamento de Sanidad (Coll-Barreu Arquitectos), Edifício Plaza Bizkaia (Federico Soriano), a biblioteca foral (IMB Arquitectos) e a Alhondiga (Philippe Stark). E nessa obra, o arquiteto e designer francês Philippe Starck famoso por reinventar os objetos, tratou as colunas do edifício Alhondiga de forma excêntrica apresentando-as com leituras variadas e de formas inusitadas. Terminei o dia encantada por esta cidade que no ano de 2010 recebeu o prêmio Lee Kuan Yew World City Prize (Prêmio Mundial das Cidades), concedido pelo estado de Singapura, e que também apresenteou projetos de quatro arquitetos agraciados pelo Prêmio Pritzker.

Texto e fotos: Leila D’Angela

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INTERIORES

O VERANEIO VIROU PERMANENTE

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Projeto de apartamento para temporada mudou e virou a residência oficial da família

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m apartamento com vista para o mar, que antes foi pensado para ser apenas para veraneio da família, mas que acabou se transformando em projeto para morada oficial num futuro próximo, depois que todos viram o resultado da reforma projetada pela arquiteta Márcia Barreiros. O imóvel está localizado no bairro de Intermares, em Cabedelo, e ficou pronto em janeiro deste ano. “O projeto inicial é de 2014, a cliente comprou o apartamento ainda em planta, então conseguimos fazer todas essas mudanças sem maiores custos adicionais. Durante o processo, a cliente foi se encantando e cada vez mais se apaixonando pelo apartamento após reformado,

Texto: Débora Cristina | Fotos: Diego Carneiro

pela vista e pela tranquilidade de vida que acabou pedindo para mudar o layout e as referências anteriores”, revelou Márcia. Então, dentro do possível, já que a obra estava bastante adiantada, a arquiteta fez outra reforma para acrescentar uma suíte para a filha e mudando também o conceito aberto da cozinha, para um estilo de morar mais tradicional característico da cliente, adotando referências contemporâneas com algumas pinceladas de peças clássicas. Para Márcia, o grande diferencial e dificuldade deste projeto foi justamente fazer esta mudança de rota durante a execução da obra. “Quando eu dou início a um projeto, tenho

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bem definidos os usos, a rotina da família que vai ocupar, o conceito e as referências de estilo para que eu tente acertar logo no primeiro esboço os anseios do cliente e neste projeto tivemos que mudar absolutamente tudo no meio do caminho. Num apartamento de 90m 2 , criar uma suíte e não deixar os outros espaços muito pequenos, dar essa amplitude e ainda não atrasar o andamento da obra da construtora, foi com certeza o meu maior desafio”, explicou. Como a cliente resolveu que queria morar no apartamento e gosta de conceitos de vida bem tradicionais, sem integrações de espaço, a arquiteta contou que priorizou, na nova reforma,

a sala de estar e jantar, com três quartos, sendo duas suítes, um banheiro social/lavabo, cozinha, serviço, dependência e varanda. Para ela, o que mais se destaca são as peças de memória afetiva que foram inseridas em todos os ambientes. Justamente por isso, no local, toda a iluminação foi pensada para destacar as peças de família e das lembranças de viagem dela, as lâmpadas em LED favorecem ao não aquecimento do ambiente e maior permanência delas acesas. “Na decoração, usamos as peças de valor sentimental como elementos focais. A cliente se identifica de muitos elementos clássicos, tanto nas peças de decoração, quanto no seu estilo de vida.

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Como ela tinha um marceneiro que a acompanha há muitos anos, tudo precisou ser maxidetalhado para a execução da marcenaria ser fiel ao projeto. O restante foram peças soltas de loja que escolhi para complementar a ambientação”. Para a cliente, o resultado não poderia ter sido melhor. “Márcia me ajudou a resgatar minhas raízes no projeto deste apartamento. Um belo exemplo disso foi ela ter usado a foto dos meus pais, que são uns guerreiros para mim, e o que tenho no quarto e nas peças de herança de família que ela deixou em destaque”, afirmou a empresária Conceição Arruda, feliz com o resultado final. Sintonia é essencial Conhecer a personalidade de cada cliente é fundamental para que o resultado seja o mais aproximado possível do sonhado pela família.Para a cliente, o “menos é chato”. Por isso, este projeto deu tão certo, houve muito respeito. Afinal, este foi o quarto projeto que a arquiteta Márcia Barreiros fez para esta mesma família. “A casa no bairro do Altiplano, a casa de praia e a joalheria, todos foram projetos executados que deixaram a

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cliente e a família muito satisfeitas. Mas confesso que esse foi o mais difícil de fazer pelas muitas mudanças, principalmente a de conceito de projeto. O estilo despojado de um apartamento de praia é muito diferente de um apartamento de moradia clássica e para um uso futuro ainda sem data. Precisei me focar muito para conseguir um bom resultado final”, revelou. E na opinião da cliente, o projeto ficou com a cara da família, proporcionando momentos únicos. “Tomar meu café olhando o mar é uma das minhas coisas preferidas aqui. Gosto de muita cor e meus biscuits e a rusticidade das peças e do artesanato. Meu apartamento tem a mistura de tudo isso. Todas as minhas lembranças, minhas memórias, dos lugares por onde viajei e dos bons momentos que vivi estão aqui e tudo em um lugar especial. Por exemplo, essa tela do sabiá encontrei numa galeria em Orlando, EUA, e me apaixonei, pois os pássaros me acordavam na fazenda do meu pai, são memórias da minha infância que esse projeto conseguiu resgatar”, contou Conceição. “Meu conceito de trabalho é: eu melhoro a vida das pessoas através da criação dos espaços que elas convivem, e este projeto é justamente o reflexo disso!”, finalizou Márcia. Por isso, a arquiteta comemora o resultado final e a alegria de concretizar num projeto, mesmo de dimensões reduzidas, um conceito tão importante, o de que a arquitetura pode transformar os ambientes, definir e acompanhar um estilo de vida, construindo lugares melhores de se viver.

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Projeto: Interiores Arquiteta: Márcia Barreiros Tapete: Adroaldo Tapetes do Mundo Revestimentos: Portobello Shop e OCA revestimentos Mármores e Nanoglass: Gazebo Cubas, metais e louças: Oca Bagno Vidros e espelhos: República Vidros Iluminação: B & M Iluminação Mobiliário: Sierra Móveis, Espaço A e Tidelli Marcenaria: Reginaldo Soares Papeis de Parede: Orlando e Miami Colchas: Essencialli Enxovais Decoração: A Sempre Viva, Baza’art, Chico Ferreira, peças de família e lembranças de viagens

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INTERIORES

LEVE E DESCONTRAÍDO

Projeto de apartamento de um casal de meia idade aposta na integração Texto: Karina Monteiro| Fotos: Divulgação

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apartamento de 180 m 2 , projeto de Andréa Bugarib e Betina Barcellos, do escritório In House Designers, é um ambiente com espaços leves e descontraídos, em que mora um casal de meia idade. O imóvel foi comprado na planta, porém sofreu diversas modificações. Houve a integração entre a sala, varanda e cozinha

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gourmet para ganhar amplitude e receber amigos e família. A churrasqueira original do projeto foi mantida e houve a criação de uma ilha com ligação entre cooktop e mesa de jantar. Porém, além da cozinha integrada, há também uma cozinha tradicional e completa, que se esconde atrás de uma porta de correr.


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Entre os pontos principais do projeto estão o jardim vertical, peças de design assinados e a bela vista do bairro de Perdizes a partir da varanda fechada com vidro, e os tons de azul,

verde e cinza predominantes na decoração. O piso de limestone dá unidade ao living. A suíte do casal foi transformada em uma suíte master na reforma, com direito a dois closets e dois banheiros.

Projeto: Interiores Designers de Interiores: Andréa Bugarib e Betina Barcellos

Mobiliário: Arthur Casas | Micasa | Artefacto| Empório Beraldin | Danish Design | Dpot, Jader Almeida | Dpot | Clami Design | Danish Design | Casapronta Iluminação: Lumini | La Lampe Modulados: Bontempo Revestimentos: Parede de tijolos - Palimanan

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CAPA

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MENOS É MAIS Integração dos ambientes e aposta do preto-e-branco orientaram a ambientação de um apartamento de 77m2 em São Paulo Texto: Renato Félix | Fotos: Alain Brugier

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o projeto de interiores de um apartamento de 77m2, no bairro das Vila Olímpia, em São Paulo, o arquiteto Diego Revollo seguiu a tendência crescente do décor clean: uma decoração minimalista para o dono de uma agência de publicidade, solteiro e de 30 anos. O projeto foi o vencedor da edição 2018 do concurso que elege as capas da AE. Revollo partiu do zero: o edifício é novíssimo e o apartamento estava conforme foi entregue pelos construtores. “As áreas sociais e íntimas tinham sido entregues sem o piso, bem como as áreas molhadas, banheiro, cozinha e lavanderia, todos eles com seus forros originais”, conta o arquiteto. “Eu acredito muito na primeira visita e costumo levá-la em conta muito mais do que os pedidos iniciais do cliente. Eu costumo dizer que o pré-existente nos dá pistas para as melhores idéias. Como se tivéssemos que avaliar e absorver as características únicas no primeiro momento, e até mesmo os diferenciais, antes de ter qualquer ideia”. No caso deste apartamento, o que chamou a atenção de Revollo foi a varanda. “Ainda era original, mas uma grande área vitrificada, sem edifícios na frente ou qualquer obstáculo de luz. Todo o espaço era inundado com luz natural proveniente desta abertura principal e esta foi uma das coisas que me guiou na concepção de todo o projeto”, lembra. A esta ideia, estava aliado o pedido do cliente de que o apartamento estivesse de acordo com sua rotina de receber os amigos. “Ele vive sozinho, mas recebe visita de amigos frequentemente e isto foi

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reforçado sempre por ele ao expor seus pontos para o nosso escritório”, diz o arquiteto. “O apartamento deveria, então, ser pensado e planejado neste sentido, para receber amigos, principalmente na varanda com praticidade e conforto”. Outro pedido foi relativo à necessidade de partir de um desenho que amarrasse todos os espaços do apartamento, sem cantos esquecidos ou inutilizados. Era preciso integrar e valorizar cada metro quadrado. “A primeira pergunta foi, sem dúvida, o tamanho do apartamento. Estamos falando de um apartamento de 77 m2, o que nos faz enfrentar uma área muito restrita para começar”, aponta Revollo. “Embora o escritório tivesse já feito alguns apartamentos com áreas semelhantes, há sempre o medo de que o cliente possa não entender que, na verdade, devemos restringir não só o número de quartos, mas também simplificar as funções e ser razoável usando o espaço”.

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Integração espacial, então, fez parte da solução da questão. “O escritório faz com maestria projetos de lofts pequenos, mas quando o apartamento tem uma divisão tradicional dos espaços, e a área é pequena, esta idéia tem que ser sugerida e discutida com o cliente. Para este apartamento nossa primeira preocupação foi precisamente aumentar a conexão entre todos os espaços, eliminando as paredes ao máximo e também fazer o melhor uso da luz natural”. Com essa filosofia, o segundo quarto foi anexado à sala, tomando a forma de uma sala de TV separada por esquadrias corrediças. A volumetria da sala de estar também aglutinou todo o espaço do terraço para si, tornando-se o ponto central do apartamento pela sua amplitude e interação entre a varanda e o home-theater. O banheiros foram fechados e privados, mas a cozinha é aberta e a varanda está incorporada à sala de estar. “Removemos a moldura da


porta e executamos um fechamento de vidro próximo do parapeito pré existente na fachada”, conta. A varanda foi inteiramente revestida por ripas maciças de Tauarí alvejado, num mood escandinavo. “Ela se coloca como um ótimo ponto de relaxamento”, aponta o arquiteto. “Além de aconchegante, o espaço é sempre o ponto de partida de toda e qualquer festa, garante o dono. Não é difícil de entender o porquê: ao invés de aparatos gourmet, foram selecionados todos os utensílios necessários à fabricação de drinques, como manda o figurino”. Outro ponto que ajuda na estética minimalista é a escolha pelo preto-e-branco nas cores. “A abundância de luz determinou a escolha de acabamentos claros para maximizar esta qualidade inerente à propriedade, bem como o estilo de vida do proprietário”, aponta. “O cliente é jovem, que tem uma vida essencialmente prática. Para ele, e para a maioria das pessoas que vivem

em grandes cidades, cada vez mais é necessário adotar um estilo de vida simplificado e bastante funcional”. As cortes também foram pensadas para ajudar na integração entre os ambientes e evitar “ruídos visuais” entre um e outro. “Nosso cuidado,e preocupação, era de fazermos todas estas transições de uma maneira delicada, com tons similares e neutros que deixassem o conjunto harmonioso”, diz. “O impactante preto na cozinha foi proposital e é, da mesma forma, uma cor neutra, trabalhando como um excelente fundo para o apartamento. A cozinha, em sua cor preta, está na outra extremidade do apartamento e faz o contraste perfeito com toda a luminosidade que atravessa o apartamento desde a varanda”. A cor preta da marcenaria se destaca em relação ao cimento queimado branco utilizado no apartamento. O preto delimita espaço e o branco emoldura toda a composição. Assim, a cozinha é enquadrada pelo branco

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das paredes, pisos e teto. O branco também ajuda a criar uma atmosfera clara e iluminada, eliminando a necessidade de acender qualquer lâmpada durante o dia. Na sala de estar, Revollo contrariou a ideia de que espaços pequenos pedem sempre mobília pequena. Um grande sofá ocupa quase a totalidade do comprimento da parede principal. Em frente ao sofá, uma peça criada com folhas de metal preto, com uma pequena parte em madeira laqueada em preto, segue o mesmo curso, aumentando a altura e a profundidade à medida que se aproxima da varanda. “A ideia da mobília longa que está na linha com o sofá reforça as linhas horizontais do apartamento e faz o espaço mais fluido. A cozinha total black recebeu um piso de cimento preto, ao contrário do resto do apartamento, que tem pisos de cimento branco, e os armários, bem como os eletrodomésticos, foram escolhidos na cor preta para reforçar o contraste”. Para o arquiteto, essa unificação dos acabamentos reflete decisivamente no ambiente do apartamento. “É responsável por uma maior unidade no apartamento e para trazer uma sensação de leveza e tranquilidade para o meio ambiente”, afirma. “Este ponto ganha ainda maior importância se pensarmos na natureza caótica de São Paulo e se nos concentrarmos

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no bairro em que o apartamento está localizado-uma verdadeira selva de edifícios comerciais. Desta forma, o apartamento torna-se o que mais e mais pessoas estão procurando, a fim de equilibrar e refazer suas energias”. Toda a ambientação foi pensada para reforçar uma ideia: é possível ter um estilo de vida prático e agradável em um espaço reduzido.

“Apenas alguns metros podem, contrariamente à crença popular, proporcionar uma qualidade de vida que é maior do que a fornecida por grandes espaços, eventualmente desatualizados e em desacordo com o nosso cotidiano e idade”, opina Revollo. Menos é mais – e esta nem é uma expressão tão nova assim.

Projeto: interiores Arquiteto:

Diego Revollo

Mobiliário: Designer Willy Guhl, Loja Teo | Casual Interiores | MiCasa | Marche Art de Vie | Ovo | Scandinavia Designs | Loja Firma Casa | Loja Teo Iluminação: Allure | Ligne Roset | Archi | La Lampe |Seletti | Loja Marche Art de Vie Tapete : Santa Mônica Tapetes • Modulados: Cozinha Kitchens Decoração: Marche Art de Vie | Dpot Objeto | ArtShot Galeria | Moldura Minuto | Tânia Bulhões | Codex Home | Letreiro– Neon Arco Iris | Loja Collectania | Foto Gravura Damien Hirst | Loja Collectania • Equipamentos, acessórios, louças e metais: Tramontina | Deca | Docol | PortoAlpha Bancadas: Dekton Sirius | M.S.A | Marmoraria Santo Antonio • Marcenaria: Marcenaria Inovart Revestimentos: Mr Cryl Carbono | Bricolagem Brasil | Protecnica Manufatti Revestimentos | Loja Ibiza acabamentos | Protecnica Audio e Video: Hex Solution Cortinas e persianas: Uniflex Brooklin • Vidros e espelhos: Vidroart

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ESPECIAL

MÃOS À OBRA Quais são os 10 maiores problemas para quem vai construir ou reformar e como evitá-los

Texto: Giovani Andrade | Fotos: Divulgação

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onstruções e reformas são sinônimos de problema.” Quem nunca escutou essa frase? De fato, os testemunhos das pessoas que passaram pela experiência de construir ou reformar um imóvel apontam uma lista interminável de fatos ocorridos durante o processo que, realmente, o transformaram em um verdadeiro martírio. Na realidade, existem diversos relatos de como minimizar esses problemas. Contudo, muito pouco se fala da razão pela qual esses problemas são desencadeados. Talvez estejamos combatendo o inimigo errado. Acontece que o grande vilão dessa história, a fonte de todos os possíveis problemas de uma obra, diferentemente do que a maioria das pessoas está acostumada a ouvir e a pensar, não é um fato ocorrido e, sim, um conceito, uma ideia. Mas como uma ideia pode ser a raiz dos seus problemas? Afinal, você fez tudo certo e até contratou um arquiteto para desenvolver seu projeto!

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Essa ideia, quando se instala, é um monstro voraz que se alimenta de uma sensação maravilhosa e incontrolável de saciedade momentânea, gerada pelo sentimento de vitória que surge ao se fechar aquele “ótimo” negócio. Levar vantagem numa compra, contratar abaixo do valor de mercado são os alimentos perfeitos para que a fera cresça e, à medida que cresce, consome toda a capacidade do indivíduo infectado de avaliar racionalmente uma relação comercial. Todos sabemos que uma negociação justa termina com benefícios para ambas as partes; o contratante consegue pagar um valor compatível com os benefícios que obterá com a aquisição do serviço, enquanto o contratado recebe o suficiente para cobrir seus custos de maneira adequada a entregar ao cliente tudo o que foi prometido na venda e ainda obter lucro. Mas, quando tomado pelo vício, o indivíduo perde esse senso crítico e passa a tomar uma série de decisões pouco racionais, baseadas apenas na busca daquela


sensação de prazer capaz de saciar a ferocidade do vírus da esperteza. Uma coisa é certa: Quanto mais “esperteza”, maiores serão os problemas. Agora, que já conhecemos o nosso real inimigo, é hora de identificar as 10 situações mais propícias a se contrair o vírus. Dessa forma, conhecendo suas próprias fraquezas, você pode se preparar para essa possibilidade e se defender mais energicamente para não ceder à tentação de abrir caminho para o desastre. 1.Falta de transparência Toda relação humana, seja ela pessoal ou profissional, deve ter como princípio básico a confiança. Quando escolhemos um médico, por exemplo, o fazemos porque temos total confiança de que ele tem a capacidade técnica para resolver nosso problema e de que tudo o que for proposto por ele será para garantir o bom resultado do tratamento. Esse sentimento de segurança, quase uma ligação emocional, se dá porque temos plena certeza de que essa pessoa não nos fará mal e, mesmo quando as notícias não forem boas, ele sempre será honesto e transparente. Escolhemos por confiança, por transparência e porque sabemos que estamos no mesmo time. Mas ora, se temos critérios tão seguros e bem definidos para embasar a escolha de um médico, porque não os utilizamos na escolha do arquiteto que, além de elaborar o projeto, será a peça central da equipe durante um longo e cansativo campeonato: o da construção? Suspeite de quem só concorda com você e só fala o que você quer ouvir. Pessoas assim, geralmente, têm algo a esconder, seja a falta de capacitação técnica para discordar ou mesmo o medo de perder o contrato, caso o faça. Profissionais sérios, de qualquer área, colocam o interesse e o bem-estar do cliente em primeiro plano, mesmo que, para isso, seja necessário um confronto para dar um choque de realidade. No universo da arquitetura e da construção civil é muito comum que os clientes cheguem aos escritórios com expectativas elevadíssimas com relação à realização dos seus desejos, mas sem a menor noção dos custos para torná-los realidade e, é nesse momento que se deve iniciar o combate contra a autoilusão de que é possível “dar um jeitinho”. É obrigação do arquiteto mostrar ao cliente que é impossível construir um palácio pelo preço de uma cabana e que, com isso, está, na verdade, prestando-lhe um grande serviço ao tornar suas expectativas mais coerentes com a realidade e, com isso, evitando frustrações futuras. 2.Falta de projetos “Pra que fazer um monte de projeto? Vou contratar apenas o da prefeitura e o mestre desenrola o resto!”. Se esse pensamento já passou pela sua cabeça, sinto muito, mas é bom se preparar para o pior. Projetos, como o próprio termo diz, são projeções de uma situação futura: sua função é

prever o que ainda não existe, identificar possíveis dificuldades e determinar a forma mais viável e econômica de torná-la real. Se abrimos mão dessa vantagem, ficamos dependentes da própria sorte (ou de alguma vidente ou cartomante, sei lá!) Não conheço ninguém que tenha obtido sucesso ao abrir um negócio sem fazer uma boa pesquisa de mercado, sem identificar quem são seus concorrentes ou fazer uma projeção financeira. Isso porque tais informações são essenciais para se conhecer o cenário comercial onde se pretende atuar. Então, por que não na construção? Se essa conduta é tão natural no ramo dos negócios, por que ainda insistimos em deixar a espinha dorsal do nosso edifício - os projetos - nas mãos dos videntes (mestres de obra)? Tá certo, tudo bem... Mas pra que eu preciso de sondagem do terreno se é só uma casa? A resposta é simples. Para economizar! Imagine que, sem as informações referentes à composição e à resistência do terreno, o engenheiro calculista está às escuras e, para garantir a estabilidade da estrutura e diminuir o risco de algum contratempo futuro, vai optar sempre por aumentar suas margens de segurança, tornando o conjunto mais reforçado, robusto e, consequente, mais caro. Não tenha dúvida, aço e concreto são dois dos itens mais impactantes no custo final de uma obra. 3.Incompatibilidade entre os projetos Ok. Agora que você já fez as contas e percebeu que é mais vantagem contratar todos os estudos e projetos do que arriscar a sorte, é preciso atentar para um item quase sempre esquecido: a compatibilização. É muito comum que os profissionais contratados para desenvolver os projetos de engenharia não se comuniquem entre si ou mesmo com o escritório responsável pela arquitetura do imóvel, assim como, frequentemente, os projetos arquitetônicos falham em prever soluções estéticas para suprir as necessidades dos complementares de engenharia. Dessa forma, cada um no seu quadrado, os profissionais se empenham e desenvolvem a melhor solução técnica “pra eles”. Acontece que isso nem sempre é a melhor solução para o projeto. Por isso, é tão importante a compatibilização de todos os projetos sob o olhar do arquiteto para que, mesmo com as melhores intenções, uma especialidade não acabe por prejudicar o trabalho de outra ou, o que é ainda pior, o resultado do empreendimento. E não se engane: sem alinhar os projetos, o conserto do cano de esgoto, que está descendo no meio de uma janela, será o menor dos seus problemas. 4.Falta de planejamento financeiro A menos que o seu cartão de crédito seja um daqueles sem limites e que o pagamento

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da fatura nunca seja um problema, tenho a mais absoluta certeza de que você não acorda num domingo de manhã e decide, do nada, passar vinte dias na Europa, apenas inspirado pelo belo dia de sol. Não apenas pelos custos da viagem, mas por toda a programação financeira durante o período da ausência, afinal, as contas não param de chegar. Então, se para uma viagem de 20 dias temos a preocupação de nos preparar com antecedência para evitar qualquer imprevisto, o que dizer de uma viagem que durará meses? Saiba que uma das razões mais frequentes para o atraso ou suspensão de obras, se não a mais frequente, é a interrupção ou escassez de recursos durante o processo. Isso se dá pelo fato de ceder ao impulso de iniciar a obra sem uma estimativa mínima de quanto se precisará investir para concluí-la ou, ainda, com uma estimativa rudimentar de custo por metro quadrado fornecido pelo sindicato da construção civil ou mesmo por apostar na liberação de recursos provenientes de fontes externas. Nesse caso, a ansiedade de terminar o empreendimento o mais rápido possível poderá ir de encontro às especificidades do terreno, às soluções técnicas para viabilizar o projeto, à burocracia dos financiamentos, até mesmo à infinidade de materiais de acabamento existentes no mercado que pode impactar diretamente no custo final da obra. Tabelas trazem informações genéricas, portanto, visitas prévias para pesquisas informais em lojas de material de acabamento são sempre bem-vindas para se ter uma noção da realidade do mercado e, assim, poder estimar de forma mais personalizada e realista todos os itens que farão parte do seu empreendimento. Na sua situação, “se eu tivesse apenas uma hora para cortar uma árvore, eu usaria os primeiros quarenta e cinco minutos afiando meu machado” (Abraham Lincoln). 5.Qualificação da mão de obra É verdade. A tentação de contratar sempre o serviço mais barato é quase irresistível, a cabeça chega a ferver pensando na “economia” que se vai fazer. Acontece que só existem duas justificativas possíveis para mão de obra barata: a primeira é um profissional talentoso, iniciando na profissão e ainda sem experiência, que trabalha com preços mínimos, pois não tem estrutura física nem custos fixos e precisa de portfólio para se posicionar. Como ocorre com os novos restaurantes, que inauguram com preços acessíveis para conquistar os clientes. Mas, em pouco tempo, tudo se ajusta à realidade e, se esse for o caso, parabéns, você deu sorte; a segunda razão que, infelizmente, é mais frequente no nosso dia a dia, é a mais pura desqualificação. É bem comum, ainda mais em tempos de crise, pessoas assumirem qualquer serviço para não perderem oportunidades, mesmo aqueles para os quais não estão capacitadas: são ajudantes se

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dizendo pedreiros, pedreiros se dizendo eletricistas, decoradores fazendo reforma e assim por diante. Se a segunda situação for o seu caso, que Deus o ajude porque, certamente, o barato vai sair bem caro. Excelência só se adquire com experiência, e experiência não sai de graça. O mais importante nesse momento de contratação é entender que buscar uma equipe de profissionais qualificados para cada função não é um custo a mais e sim um investimento em segurança, produtividade e economia a longo prazo, já que, dessa forma, diminui-se consideravelmente a possibilidade de erros e acidentes frutos da falta de capacitação para a função e de retrabalho para corrigir as falhas de execução. Ao final, a conta é simples: (valor investido a mais em qualificação) menor que (2 meses de folha de pagamento e encargos, em função do atraso + custos com retrabalho). 6.Pressa x atrasos Nós crescemos ouvindo que “a fé move montanhas” mas aprendemos ao longo da vida, muitas vezes a duras penas, que essa verdade se aplica a tudo, menos à construção civil. Por mais fervorosa que seja a fé no coração de quem inicia uma obra, não dá para atropelar as etapas do processo. Exemplificando de maneira simplória: “não se pode colocar o carro na frente dos bois”. Se retirarmos a parte intelectual e artística da concepção de um projeto, uma edificação, por mais simples que ela seja, é o resultado da combinação de processos mecânicos, físicos e químicos que até podem ser acelerados, mas não podem ser ignorados e, jamais, desafiados. O concreto, por exemplo, precisa de tempo para obter a resistência desejada, e cada uma das etapas da construção necessita de uma anterior para preparála: a estrutura precisa da fundação, o revestimento precisa do reboco e assim por diante, e não é preciso lembrar que cada uma dessas etapas leva tempo. E já que estamos falando de ditados populares, isso nos leva ao que define a construção civil: “A pressa é inimiga da perfeição”: esse é o motivo da ruína de qualquer cronograma de obra. Mas como pode ser isso? Se faço mais rápido, termino antes e economizo na folha de pagamento, não?! Não. Quando apressamos uma etapa além do limite, principalmente as relacionadas ao acabamento, maior é a probabilidade de aparecerem falhas e imperfeições no serviço. Daí, se sua intenção é garantir o mínimo de qualidade ao imóvel, essas falhas terão que ser corrigidas, e isso custa caro e leva muito mais tempo do que o “ganho” ao apressar a etapa. 7.Relacionamento com a equipe de obra Não é muito difícil surgirem divergências dentro de uma obra. Seja por erros de interpretação dos projetos ou por quaisquer outros possíveis ou


mais improváveis motivos, essas situações são fontes geradoras de stress. O fato é que, se forem mal conduzidas, cada uma dessas situações podem gerar gastos extras ou até grandes prejuízos para o contratante. É nessa hora que se faz ainda mais necessário que o contratante aja com a postura de líder e não do chefe ditador. Ter um posicionamento de liderança e fazer com que a equipe compre a ideia da obra e se sinta corresponsável pelo resultado do empreendimento, tem um efeito direto no comprometimento dos funcionários e melhora significativamente o desempenho de todos. Lance desafios possíveis, estipule metas viáveis, bonifique as conquistas, agradeça o empenho de todos no cumprimento das tarefas, valorize as boas condutas e seja justo nas punições, quando forem necessárias, porque uma equipe motivada gera resultados incríveis, já uma equipe humilhada pode gerar prejuízos incalculáveis. Melhor focar nos resultados, não?! 8.Bagunça e desorganização Muitas pessoas podem até pensar que reservar um horário para organizar o canteiro de obras é “perda de tempo” e que poderia estar produzindo para “adiantar o serviço” nesse intervalo. Acontece que, em um ambiente organizado e bem setorizado, com trajetos bem definidos e circulações livres de obstáculos, todos os deslocamentos se dão com maior fluidez e, consequentemente, os processos da obra, tais como preparação e transporte de argamassa (para citar apenas dois deles, que são repetidos incontáveis vezes ao longo da construção) são executados de maneira mais rápida e com menor emprego de energia por não ter a necessidade de transpor ou de adaptar-se a obstáculos. Essa economia de esforço diário se reflete em menos fadiga ou lesões dos funcionários e, por sua vez, menos faltas e licenças médicas ao longo da obra. Se pensarmos na construção como uma linha de produção na qual cada etapa depende da anterior para ser executada, fica fácil entender que o resultado do trabalho está relacionado diretamente ao “gargalo” da produção. As consequências de um único trabalhador com rendimento abaixo da média são sentidas por toda a equipe e, principalmente, pelo empregador no cálculo da folha de pagamento, caso tenha que manter uma equipe maior por mais tempo, em virtude de um serviço que não foi concluído no prazo previsto.

procurar um arquiteto, se faça um exercício de planejar o que se pretende atingir com aquele projeto, principalmente nos casos de projetos residenciais, em que esse diálogo prévio para equilibrar os desejos é fundamental; até porque, não custa lembrar que você procurou um escritório de arquitetura e não de psicologia. Não precisa chegar com um monte de fotos dizendo: “Quero meu projeto igual a esse”, pois isso, certamente, não será acatado, pelo menos se seu arquiteto for um profissional sério. Até porque copiar projetos não é lá muito louvável, não é mesmo? Aliás, fica a dica, caso uma situação assim aconteça na contratação do projeto, é bom começar a se preocupar. 10.Decisões unilaterais É muito comum em um canteiro de obras que, diante de um impasse decorrente de algum imprevisto, decisões sejam tomadas de forma unilateral pelos contratantes. Essas decisões, quase sempre orientadas pelos vários anos de experiência prática dos mestres de obra, em sua grande maioria, não passam pelo crivo do responsável pelo projeto, com a desculpa de ganhar tempo e não atrasar o andamento dos serviços. É justamente aí que o problema aparece. Por mais experiente que seja, o mestre de obra está focado em resolver um problema de cada vez, sem se preocupar com as consequências de uma ação pontual nas demais partes (ou serviços) que englobam o projeto. É de responsabilidade do arquiteto avaliar se uma ação pontual, por mais aparentemente simples que seja, não interferirá de maneira negativa no resultado global do projeto, seja financeiramente, em função dos gastos extras com o retrabalho para desfazer a decisão, ou, ainda mais importante, no aspecto estético do projeto, fazendo com que o resultado do produto construído seja diferente do que foi contratado. Agora que você já conhece os perigos e as formas de se proteger do vírus da esperteza, é hora de lembrar que nenhum projeto de vida deve ser deixado para trás por medo de enfrentar o desconhecido e, com planejamento, um bom time para lhe apoiar e muito entusiasmo, é possível concretizar qualquer sonho. Portanto, siga em frente, não deixe que a vida passe. Construa.

9.Falta de acordo sobre o programa de necessidades Quando falamos de construção civil, principalmente após o início das obras, não há espaço para dúvidas ou indecisões. Indecisões geram atrasos, atrasos geram despesas que, por sua vez, geram discussões e mais indecisões. É de extrema importância que, antes mesmo de

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REPORTAGEM

PARA ENTRAR PELA

PORTA CERTA

Os cuidados necessários para pesquisa e informação na hora de um passo importante: comprar um imóvel

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omprar um imóvel pode ser a realização do sonho de uma vida inteira ou pode ser uma forma de investimento. Ou pode virar uma dor de cabeça. Seja a tão sonhada casa própria ou mesmo uma sala comercial, o importante é que cuidados sejam tomados antes de concretizar o negócio. Valor, tamanho, localização, acabamento e documentação têm que ser checadas antes de decidir investir o dinheiro no imóvel. Por isso, Fábio Queiroz, que é arquiteto e corretor de imóveis, alerta para os principais cuidados a serem tomados. Para Fábio, o primeiro passo a ser tomado é definir em qual área da cidade a pessoa deseja comprar o imóvel. E, para isso, alguns fatores têm que ser levados em consideração. Um dos mais importantes deles é a questão da mobilidade. Será que este imóvel dará uma boa mobilidade para os ocupantes dele? Será que haverá dificuldade para chegar no trabalho

Texto: LIdiane Gonçalves | Fotos: Divulgação

ou deixar as crianças na escola? “Temos que pensar na nossa qualidade de vida”, argumenta, explicando que com uma mobilidade ruim as pessoas poderão perder um tempo valioso no trânsito. Condições do imóvel Ao escolher um imóvel para morar, a pessoa não pode esquecer que está adquirindo um bem para usufruir por muito tempo, por isso, precisa verificar a ventilação, a iluminação e a vizinhança. “Se existirem outros imóveis sendo vendidos nas redondezas, é interessante fazer a visita também a eles, ver o custobenefício... Isso pode até ajudar a barganhar preço”, disse. Morar no melhor imóvel, com a melhor vizinhança é o projeto de quase todo mundo, mas


não esqueça que você terá que pagar por ele, por isso, não esqueça desse item importante: sua condição financeira. Se o imóvel é comercial, além de todas as dicas usadas para um imóvel residencial, é preciso observar ainda se o local tem movimentação suficiente para o tipo de comércio que se pretende abrir, se tem bom acesso e estacionamento amplo. Já pensou em ter uma loja cheia de mercadorias de primeira qualidade, projetada para atrair clientes, mas o trânsito para chegar até lá é complicado? Ou, quando o cliente chegar, não ter como estacionar? Como confiar na construtora? E, se este imóvel ainda estiver na planta ou for recém construído, como saber se dá para confiar na construtora? A sugestão é visitar obras já prontas para verificar o acabamento, conversar com pessoas que já são clientes, verificar se os imóveis foram entregues conforme o prometido, se os prazos foram cumpridos, se há assistência depois da entrega. Pesquise na internet sobre a construtora. Se tem um corretor de confiança, ele pode ser consultado. Evitar dor de cabeça na compra de um imóvel é fundamental, por isso é fundamental verificar a documentação. São licenças junto à prefeitura, licenças ambientais, documentos de compra e venda. E, para seguir corretamente esses passos, um bom corretor de imóveis também pode ajudar. O importante é se cercar de cuidados para dar esse passo tão importante e não acabar entrando pela porta errada.

DICAS -Pense no seu projeto de vida antes de adquirir o imóvel; -Escolha um local próximo ao seu trabalho ou da escola; -Pense se tem realmente condições de adquirir e fazer as manutenções; -Observe toda a documentação, contrate um advogado se puder; -Pesquise sobre a construtora -Observe acabamento, ventilação, iluminação, se puder, pague uma consultoria com um arquiteto; -Escolha uma boa vizinhança, converse com os porteiros, ou outras pessoas que possam dar informações sobre o dia a dia do condomínio.

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ARQUITETURA E CINEMA

A ARQUITETURA DA MENTE Divertida Mente faz uma tradução visual de como funciona a cabeça de uma garotinha em crise

Texto: Renato Félix | Arquiteta convidada: Andreína Fernandes | Fotos: Divulgação

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omo funcionam as emoções de uma criança? Esse é o ponto de partida para Divertida Mente (2016), uma obra-prima da animação produzida pela Disney/ Pixar. O filme conta a história de uma garota, Riley, que passa por uma fase difícil e confusa quando se muda com seus pais para outra cidade. Mais do que isso, o filme de Pete Docter mostra o que acontece dentro da cabeça de Riley, colocando suas emoções (humanizadas) como protagonistas e dando a elas um mundo reconhecível, e que pede uma arquitetura que o represente. Essa arquitetura inventada é um dos aspectos mais criativos e ricos de Divertida Mente. Mas, mesmo inventada, os cenários são inspirados no mundo real – de modo que sejam reconhecíveis pelos espectadores. As emoções – Alegria, Raiva, Medo, Nojinho e Tristeza – comandam Riley a partir de uma sala de controle que tem relações com o mundo real no que diz respeito à estética e funcionamento. “Essa relação é percebida logo no início do filme”, conta a arquiteta Andreína Fernandes. “Todas as funções precisam estar muito bem divididas e determinadas. Dentro desta sala, o centro de comando se concentra na mesa onde funciona o painel de controle principal, de onde partem todos os processos, que neste caso, controlam a mente e as emoções de Riley”. Na sala de controle, a arquiteta chama ainda atenção para a metodologia do armazenamento de informações. “São utilizadas estantes onde são catalogadas as memórias, que por sua vez são divididas em cores para facilitar a identificação de sua tipologia”, avalia. “À medida que vão caindo em desuso, há um sistema de descarte das memórias obsoletas, para que sobre mais espaço para a chegada das novas memórias”. Ela também faz relações entre a dinâmica hierárquica das emoções dentro de Riley e o mundo real. “Perceptivelmente o líder é a Alegria, ela é quem comanda todas as tarefas. Mas é possível observar claramente uma divisão de funções entre os demais integrantes, que assumem o controle em determinados momentos, à medida em que se faz necessária sua intervenção”, explica. “É possível compararmos esse sistema de controle com a complexidade do sistema urbano em que vivemos. Os processos econômicos, sociais e políticos que ocorrem no espaço urbano coexistem em contínua dinamicidade, renovando e transformando esse espaço através da ação de agentes que irão atuar na produção da cidade e do urbano. Para autores como Henri Lefebvre e Milton Santos, o espaço é a expressão da sociedade que o produz”.

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Além da sala de controle das emoções, a mente de Riley também possui as ilhas de personalidade: da honestidade, da bobeira, do hóquei (o esporte que Riley pratica)... “Chama a atenção o fato de que aquilo que enxergamos edificado em cada ilha é resultado da percepção de mundo que a própria Riley foi construindo ao longo do tempo”, analisa. “As ilhas são as representações daquilo que é importante na vida da personagem, são as ‘bases de sua personalidade’, e justamente por causa disso, o que vemos é resultado das experiências de vida dela”. “A Ilha da Honestidade, por exemplo, é constituída de edifícios que fazem referência à antiguidade clássica grega/romana, um martelo de juiz, duas colunas gigantes, e uma balança, alusões mentais de justiça e integridade para Riley”, continua a arquiteta. “Já a Ilha da Família, é formada por uma grande escultura de uma criança sendo abraçada por seus pais, somada a outras representações de atividades e momentos que a personagem costumava compartilhar com seus familiares, como um jogo de tabuleiro, uma árvore genealógica, a casa onde morava, e o carro da família”. Andreína também faz uma relação entre a definição de espaço das ilhas e o nosso mundo. “Podemos fazer uma referência aqui à forma como cada grupo social também é capaz de ‘moldar’ o ambiente, de agregar suas características ao espaço onde vive”, diz. “As ilhas do filme, com seus territórios tão bem definidos, tão separadas entre si através de abismos e com acessos tão restritos, nos lembram bastante a segregação urbana presente nos cenários urbanos atuais”. Na trama do filme, Alegria e Tristeza são arrancadas da sala de controle, tornando a mente de Riley uma confusão de sentimentos. As duas emoções perdidas, tentando achar o caminho de volta, fazem uma peregrinação por locais da mente de Riley que expressam questões psicológicas. “Percebemos que cada cenário que a Alegria e a Tristeza visitam é uma representação das imagens e referências que a Riley adquiriu no decorrer de sua vida”, explica Andreína. “O subconsciente, por exemplo, é um cenário de caverna, um lugar sombrio que guarda o ‘desconhecido’, os piores medos e as informações que o consciente dela rejeitou”. Durante a jornada, elas se deparam com a Muralha, uma barreira física que separa o território onde elas se encontravam e a Terra da Imaginação. “É um espaço onde não se tem controle nenhum, marcado pela imprevisibilidade”, diz a arquiteta. “Para atravessar a Muralha em tempo hábil, elas optam por utilizar um atalho, e é aí onde tudo ‘desanda’. Os personagens entram numa zona desconhecida, sem nenhum marco espacial, sem cores, sem objetos, representado simplesmente pelo ‘nada’. É lá que ocorre a fragmentação das ideias. Logo começam a observar a simplificação de suas formas, a desconstrução, até chegarem a seu formato mais simplista”. Esse mundo inventivo dentro da mente de Riley contrasta com a representação do mundo real, a cidade de San Francisco, para onde a família se muda. “Riley construiu uma série de memórias nos cenários

da cidade onde cresceu: a patinação no gelo, os jogos de hóquei, a própria casa onde morou. Quando teve que se mudar compulsoriamente, se viu num mundo completamente novo, com uma série de fatores intervindo sobre sua vida, de que ela não tinha mais o controle”, conta a arquiteta. Divertida Mente busca apresentar a ambientação com imagens familiares da arquitetura da cidade. “O filme mostra de maneira clara alguns marcos físicos da nova cidade”, diz. “A ponte Golden Gate logo se torna uma das referências mais impactantes, sendo apresentada quando a família ainda está viajando dentro do carro, e já sabemos que se trata de San Francisco antes mesmo de ser revelado o nome da cidade”. Em determinado momento, em sua montanha-russa emocional, Riley foge de casa. “Riley vive uma verdadeira experiência de imersão urbana. Ela passa a conhecer as sensações do morador que vive naquela grande cidade, experimentando a pressa, a ansiedade, o medo, o desconhecido, a necessidade de estar sempre atenta ao turbilhão de acontecimentos ao seu redor”, analisa. Nessa fase conturbada, algumas ilhas de personalidade vão sendo destruídas. Mas outra surge no final, com uma arquitetura diferente. “Acompanhamos o surgimento de uma nova ilha de personalidade, bem mais complexa, na qual não é possível identificar um tema específico, mas o somatório de vários temas e vivências da protagonista”, explica a arquiteta. “Esta nova ilha representa o amadurecimento de Riley, que passa a compreender melhor a rede de relações que envolve todo o cenário onde ela vive. Já não são mais compartimentos segregados, mas o complexo formado pela integração de todas essas vivências que formam a personalidade da garota”. E dessa ilha, San Francisco já faz parte. “Destaque para alguns elementos que fazem referência ao cenário urbano, como a Golden Gate Bridge, demonstrando a aceitação da garota com relação à nova cidade. Refletimos sobre como é marcante a intervenção do local onde vivemos sobre a construção de nossa personalidade”. Do começo ao fim, Divertida Mente faz da arquitetura uma aliada fundamental para sua “tradução visual” de como funciona nossa mente e nossas emoções.

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AMBIENTAÇÃO

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VIDA DENTRO DO LAR A Casa Viva é o tema da segunda edição da CasaCor na Paraíba

Texto: Divulgação | Fotos: Vilmar Costa

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CasaCor Paraíba 2018 iniciou no dia 19 de setembro e segue até o dia 04 de novembro, no Tambaú Hotel, um dos pontos mais icônicos da capital paraibana. O projeto foi concebido nos anos 1960 pelo arquiteto modernista Sérgio Bernardes e, até hoje, é uma das obras mais importantes da cidade. Responsáveis pela mostra paraibana, os franqueados Cesar Revorêdo e Ricardo Castro uniram profissionais, indústrias, lojistas e toda a cadeia do segmento, para impactar e trazer novas informações aos visitantes. A mostra reúne 60 profissionais, responsáveis pela criação de 32 ambientes. A edição deste ano tem como tema a “Casa Viva” e os profissionais ambientaram os espaços livremente, apenas com o compromisso de criar ambientes de bom gosto, alinhados com o que há de mais moderno e tecnológico no mercado. “A temática Casa Viva proporciona o diálogo entre arquitetura e natureza. A mostra deste ano traz um comprometimento ainda maior com o meio ambiente, com objetivo de disseminar produtos e ideias”, acrescenta Ricardo. Os visitantes da CasaCor Paraíba terão também diversas opções de entretenimento, espaços que se transformam em badalados pontos de encontro social e de negócios. Uma programação cultural e de eventos vai preencher a agenda da CasaCor, criando experiências de entretenimento, moda e gastronomia. Outra novidade desta edição da CasaCor Paraíba: toda a área de convivência do evento funcionará até as 2 horas da manhã. Dessa maneira, os participantes podem aproveitar os espaços para visitação e curtir a noite, ou optar por ingressos especiais, válidos somente para noite.

Ambiente: GRAND HALL, Karla Barros

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Ambiente: LIVING E ADEGA DA PRAIA – Bruna Sá

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Ambiente: URBAN SPA, Andréia Julinda e Camila Soares,

Ambiente: LAVABOS FUNCIONAIS, Camilla Bonifácio, Giovana Dias e Alessandra Lessa

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Ambiente: LIVING ÍNTIMO , Amanda Cruz e Lívia Assis

Ambiente: COZINHA DO CHEF , Sandra Moura

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Ambiente: IT CLUB , Dauanne Arruda e Luciano Almeida

Ambiente: RESTAURANTE, Samia Raquel, Andrea Miranda e Camila Fialho

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Ambiente: LOFT 750 , Leo Maia

Os espaços nesse ano são assinados pelos profissionais: GRAND HALL – Karla Barros, LIVING DE ENTRADA – Karine Mendes e Antonio Mendes, WONDER LIVING – Annelise Lacerda, ESTÚDIO OFFICINA – Larissa Vinagre, SALA DE JANTAR – Lana Débora e Raquel Claudino, LOUÇARIA – Ximenes Dantas e Melina Cavalcanti, ESTÚDIO DO RAPAZ – Sarah Cavalcanti, LIVING ÍNTIMO – Amanda Cruz e Lívia Assis, LOFT DE ALEXA - Henrique Santiago e André Pinheiro, REFÚGIO DO CASAL CONTEMPORÂNEO - Márcio Catão, QUARTO DOS GÊMEOS – Manu Vasconcelos e Gabriela Cruz, LIVING E ADEGA DA PRAIA – Bruna Sá, ESCURINHO DO CINEMA – Daniela Benicio e Juliana Benicio, LAVABOS FUNCIONAIS - Camilla Bonifácio, Giovana Dias e Alessandra Lessa, COZINHA DO CHEF – Sandra Moura, CONECTIVO IESP – Larissa Santos, Júlio Fernandes, Rebecca Rodrigues, Yane Diniz, Lucca Lobo, Lilian Torres, Heitor Azevedo, URBAN SPA – Andréia Julinda e Camila Soares, FUJI – Anabel Alvarez e Andressa Montenegro, IT CLUB – Dauanne Arruda e Luciano Almeida, LAVABOS IT - Adelle Mendes, Raphaela Vilar e Elba Araújo, ADEGA GOURMET EXPERT – Fernandes Neto, CELEIRO CRIATIVO – Leila Azzouz e Marianne Goés, DOCERIA – Germana Gonçalves e Thiago Henrique, MARRON CAFÉ – Simone Almeida, FORNERIA – Katiana Guimarães, Patrícia Lago e Perla Felinto, GO DRAFT GARDEN – Amanda Andrade, OCEAN LÍDER LOFT – Bethania Tejo, ZEN LOUNGE - Alain Moszckwic e Brenner Ribeiro, SEBRAE – Georgia Suassuna, Carlos Chaves, Marcos Valério, HOME & GRILL CONCEPT - Renato Teles e Michelle Peyroton, RESTAURANTE – Samia Raquel, Andrea Miranda e Camila Fialho, LOFT 750 – Leo Maia.

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CARTA DO LEITOR

Nós queremos ouvir você

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PONTO FINAL

SOMOS A PRÓPRIA CASA

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casa reproduz a nossa insatisfação. Nunca estamos plenamente felizes. Sempre existe algo por fazer, uma chance de colorir a planta original. Você pode ter amplos espaços, mas não contar com garagem. Ou você pode ter quartos gigantescos e um banheiro apertado. Existirá um limitador, um ponto fraco, um defeito que baixará o valor do imóvel. Há apartamentos majestosos sem paisagem nenhuma, por sua vez há quitinetes de envesgar o proprietário com belezas transbordando das janelas. Já vi apartamentos encravados em encantadoras áreas verdes, porém também ameaçados pelo deslizamento. Mesmo as mansões desfrutam de contrariedades, ou são muito longe ou excessivamente protegidas e afastadas do aeroporto. Algo dentro da casa não corresponderá as expectativas, só que termina compensada pelo resto. Assim como você deixa passar um traço falho em sua personalidade em nome do conjunto. A casa é um jeito de aceitar a imperfeição e de conviver com os defeitos. Ou você pode melhorar o apartamento para vender ou pode melhorar o apartamento para morar melhor - e isso já expõe a sua visão de mundo. Ou você pode ter um lugarzinho apenas para dormir ou pode cultivar a solidão com o capricho das estantes e plantas. Sou a minha casa, de algum jeito. Faz sentido. A cozinha é pequena e colada na área de serviço, traduz a minha inabilidade com as panelas. Queria desfrutar de uma estrutura de

chef e um mundaréu de panelas nas paredes, mas me resignei a um espaço absolutamente funcional. Por incrível que pareça, os amigos farejam o meu ponto fraco e preferem ocupar a estreita cozinha durante as festas. Nem reclamo, nem mais mando o povo sair. Já a sala, em nítida oposição, é um estaleiro. Revela a minha intensa sociabilidade e a alegria de anfitrião. Evidente que gosto do enfrentamento e dos longos debates, simbolizado pelos sofás laterais, um de frente ao outro. As visitas são obrigadas a se encarar. O lar é a minha cara, extravasa o meu temperamento. Bate o sol de tarde clareando as mesas e cadeiras e abro os janelões para receber ventos engarrafados de esquina. É um apartamento de frente e vejo quem chegou mais espiando pelas cortinas do que atendendo o interfone. Moro numa biblioteca, mas não abro mão da nostalgia do campo. A churrasqueira está no centro do escritório - não na varanda como é o costume. Diz muito sobre o meu orgulho das tradições gaúchas. Enfeito as prateleiras com brinquedos de madeira e jogos antigos como pião e cinco marias, o que evidencia que não deixei completamente a infância. Os quartos são do mesmo tamanho - não consigo tirar vantagem sobre as crianças. Não abdico de um longo corredor entre as portas, toda residência que se preza possui uma galeria de fotos e quadros para os seus fantasmas. Quando entro em uma casa estou conhecendo a alma de alguém e já vou preparado para não tirar nada do lugar. FABRICIO CARPINEJAR Escritor e poeta

Publicado no Jornal Zero Hora

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