Revista AE 18

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Editorial

Realizando desejos Como identificar um desejo? Nada a ver com exercício de adivinhação... É mais um trabalho de observar e ouvir, de saber identificar o que são as prioridades do outro. O arquiteto e professor da Universidade Federal de Alagoas, Leonardo Bittencourt, o entrevistado desta edição, diz que o desejo é inconsciente, mas no caso da arquitetura, se o profissional ouvir com mais atenção as solicitações do seu cliente, terá mais chance de realizar o projeto de seus sonhos. A Artestudio também é um sonho antigo de seus idealizadores e tem se tornado o de muitos leitores. Temos recebido inúmeros pedidos de assinatura da revista, além de incentivos e elogios, e isto tem nos deixado cada vez mais orgulhosas. Será que estamos conseguindo identificar o desejo de nossos leitores? Temos trabalhado para isso. Nesta edição, para deleite de nossos leitores, trazemos belos projetos realizados em João Pessoa. Nossa capa é uma edificação que chama a atenção. O projeto para o Fórum Cível de João Pessoa foi elaborado por um grupo criterioso de arquitetos, formado por Sandra Moura, Marco Suassuna, Leopoldo Teixeira, Fernanda Figueiredo e Katiana Guimarães. Belo projeto e belas fotos. Mostramos ainda uma variedade de projetos, como uma loja de sapatos femininos, projetada por Valéria von Büildring e Monique Barros; uma loja de roupas, projetada pelo pernambucano Anchieta Cunha; e a UTI de um hospital, reformada por Alda-Fran Camboim e Rosanie Garcia. Na seção Antes e Depois, um apartamento com projeto de Rosane Oliveira. Uma mostra de que a arquitetura bem elaborada está presente em todos os setores. Nossas matérias também abordam assuntos variados: a relação da ficcção científica com a arquitetura; a polêmica arquitetura eclética, bastante presente em João Pessoa; a instalação do Museu da Cidade, na casa onde residiu o ex-presidente João Pessoa; a diversidade de uso de um material em PVC, o formplast; o prédio giratório de Curitiba (PR); e o Salão do Móvel de Milão (Itália). Criamos ainda uma nova seção, a Viagem de Arquiteto, na qual a professora e arquiteta, Jovanka Baracuhy escreve sobre um passeio à Espanha. Sempre traremos um relato de um profissional, sobre a arquitetura e suas impressões do lugar que visitou. A cada edição esperamos lhe surpreender. Mostrar assuntos novos, variados e de seu interesse. Isto é, estamos tentando realizar o desejo de nossos leitores. Como? Ouvindo, observando e trabalhando. Esperamos que os seus desejos quanto à uma publicação dirigida para a área de arquitetura estejam sendo realizados. Nosso sonho como profissionais já vem sendo construído há várias edições...

Expediente

D i r e t o r a E x e c u t i v aa_Márcia Barreiros • E d i t o r aa_Luciana Oliveira (DRT/DF 1.849/97) • R e d a ç ã oo_Kaylle Vieira_Luciana Oliveira_Henrique França_Renato Félix • Fotógrafos desta edição edição_Diego Carneiro_Stanley Talião_Márcia Visani • E d i ç ã oo_Formato Assessoria de Comunicação (formatoassessoria@yahoo.com.br) • Diretora Comercial_ Comercial_Márcia Barreiros (arquimarciabarreiros@yahoo.com.br) • Diagramação Diagramação_Charles Wesley • Web Designer Designer_Clayton Castro • Impressão Impressão_Gráfica JB A revista Artestudio é uma publicação trimestral, com tiragem de 7 mil exemplares, de distribuição dirigida e gratuita. A reprodução de seus artigos, fotografias e ilustrações requer autorização prévia e só pode ser feita citando a sua fonte de origem. As colaborações e artigos publicados são de responsabilidade exclusiva de seus autores, não comprometendo a revista, nem seus editores.



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Capa Sandra Moura, Marco Suassuna, Leopoldo Teixera, Fernanda Figueiredo e Katiana Guimarães projetam Fórum Cível de JP, usando referências antigas e contemporâneas

12 Entrevista Arquiteto e professor da Universidade Federal de Alagoas, Leonardo Bittencourt alerta aos profissionais a necessidade de se conhecer o desejo do cliente, antes de iniciar um projeto.

16 Internacional Salão Internacional do Móvel, realizado em Milão (Itália), em abril deste ano, apresentou a tendência do design internacional, com quase dois mil expositores de 30 países.

42 Acervo Museu da Cidade João Pessoa-Parahyba vai resgatar os períodos históricos do Império e da República. O projeto já está em andamento e será localizado na mansão onde residiu o ex-presidente João Pessoa.

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Com inovação, tecnologia e ousadia, é construído em Curitiba (PR) o primeiro prédio giratório do mundo. Cada um dos apartamentos pode fazer uma rotaçaõ de 360º de maneira independente.

48 Reportagem

A estética dualista, de respeito ao passado e de busca pelo novo marcou o início do ecletismo. João Pessoa possui exemplares importantes e imponentes desse estilo arquitetônico.

52 Especial Como viveremos no futuro é uma das maiores fantasias da ficção cientifica. Filmes e livros, ao ambientar tramas do futuro, acabam ousando em idéias arquitetônicas.

58 Materiais Formplast, material fabricado a partir do PVC, além de ser usado como revestimento de móveis de madeira, pode também substituir o vidro e o acrílico.

e mais os profissionais Valéria von Büildring e Monique Barros

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Anchieta Cunha

Alda Fran e Rosanie Garcia

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Rosane Oliveira

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www.artestudiorevista.com.br

Sumário





Entrevista

O arquiteto tem dificuldade de reconhecer o desejo do cliente

Divulgação

Leonardo Bittencourt arquiteto

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Identificar o desejo de alguém e ainda ter que realizá-lo. Tarefa árdua e muitas vezes, praticamente, impossível. Mais ainda quando esse alguém não tem consciência de seu próprio desejo. Será que é possível o profissional da arquitetura ajudar seu cliente nesse sentido? Para o arquiteto e professor da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Leonardo Bittencourt, o arquiteto não se encontra preparado para identificar o desejo do cliente, a não ser aqueles que passaram por um processo psicanalítico. “Do ponto de vista da psicanálise, o desejo é inconsciente”, diz. Mas essa limitação pode ser compensada em parte com a advertência de que os arquitetos procurem ouvir, com mais atenção, as solicitações de seus clientes, principalmente as de cunho simbólico. No início do mês de maio deste ano, Leonardo esteve em João Pessoa para proferir palestra aos estudantes do Unipê sobre “O processo de criação no projeto de arquitetura”. Segundo ele, essa questão da identificação do desejo do cliente tem sido pouco abordada nas faculdades de Arquitetura e Urbanismo do país, restando ao profissional ter bom senso e atenção nas solicitações do cliente. Atualmente, Leonardo Bittencourt é professor do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFAL e dos programas de pós-graduação em Dinâmicas do Espaço Habitado – DEHA, e em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA. É consultor ad hoc da CAPES e do CNPq, arquiteto responsável por diversas obras e já publicou três livros e dezenas de artigos em eventos nacionais e internacionais. Didático, calmo e com um humor discreto, Leonardo, após a palestra, concedeu a entrevista a seguir à jornalista Luciana Oliveira.

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AE: Durante o processo de elaboração de um projeto arquitetônico, três agentes exercem pressão: o usuário, o arquiteto e o mercado imobiliário. Como o arquiteto deve se portar diante dessas pressões? Qual dos agentes deve prevalecer? Leonardo: A influência de cada um dos agentes envolvidos no projeto arquitetônico parece estar sempre presente. No entanto, penso que as demandas e desejos dos usuários devem ter maior peso do que se verifica atualmente. No projeto de residências unifamiliares, o arquiteto precisa estar consciente de que seu papel profissional é o de projetar os espaços que serão usufruídos pelos usuários, e não os espaços que ele (arquiteto) gostaria de ter para si mesmo. No caso de projetos destinados ao mercado imobiliário, onde se desconhece o perfil dos futuros usuários, as demandas dos futuros moradores vêm sendo guiadas pelo próprio mercado e pelo marketing imobiliário, que cria justificativas para a redução da área construída das unidades, sob o argumento de “praticidade”, ou sugere necessidades artificiais como saunas e salas de ginástica, que são raramente utilizadas pelos usuários. AE: Como identificar os desejos do cliente? Muitas vezes, o próprio cliente não conhece seus desejos. Como ajudá-lo a identificá-los? Leonardo: A identificação de seus próprios desejos e dos desejos de seus clientes é tarefa para a qual o arquiteto não se encontra preparado; à exceção daqueles que se submeteram a um processo psicanalítico. Com a atual grade curricular, restam ao arquiteto o bom senso (o que não é pouco) e a atenção focada nas solicitações dos clientes, separando-se de suas próprias demandas. AE: As faculdades de arquitetura têm inserido na educação de seus alunos a questão da identificação do desejo do cliente? Essa “sensibilidade” (saber identificar o que o cliente quer) é primordial para um arquiteto? Leonardo: Esse tópico tem sido pouco abordado nos cursos de Arquitetura e Urbanismo do país. Como já citado anteriormente, a capacidade de reconhecer os desejos é própria dos indivíduos que se submeteram a uma psicanálise. Pelo simples fato de que o desejo, do ponto de vista psicanalítico, é essencialmente inconsciente. Essa limitação pode, em parte, ser compensada com a advertência de que os arquitetos procurem ouvir, com mais atenção, as solicitações de seus clientes. Não apenas aquelas relativas aos aspectos programáticos, mas, sobretudo, as relacionadas ao significado que aquele edifício representa para os usuários; as solicitações de cunho simbólico. AE: O processo de projetar é bastante complexo, já que envolve vários condicionantes (características do terreno, fatores climáticos, caráter plástico, dentre outros). Qual desses elementos deve se sobressair mais? Como eleger as prioridades? Leonardo: O processo de projetar é bastante complexo devido ao amplo leque de questões que precisam ser atendidas, as quais, muitas vezes, apresentam solicitações conflitantes entre si.

Dependendo do projeto, alguns condicionantes se apresentam com maior peso que outros. De uma maneira geral, entretanto, penso que entre todas as condicionantes que determinam um projeto arquitetônico, o caráter plástico e espacial deveria merecer atenção especial. É ele o que define a identidade volumétrica e espacial da obra. Identidade essa que deveria expressar sensações compatíveis com o uso do edifício. Por exemplo, um clube recreativo talvez devesse ser convidativo e exprimir alegria e extroversão, enquanto um cemitério católico deveria transmitir sensações de pesar e introversão. E nunca o contrário... AE: Como não se tornar um arquiteto “autoritário”? Leonardo: Controlando a dose de narcisismo que todo artista carrega e que também está presente nos arquitetos. O impulso para ‘aparecer’ e ser ‘reconhecido’ enquanto profissional pode levar o arquiteto a impor seus desejos em detrimento das demandas e desejos dos seus clientes. AE: A arquitetura é uma arte que deve emocionar e exprimir a cultura de um lugar? Ou apenas uma obra encomendada? Como definir arquitetura? Leonardo: A arquitetura parece ser uma arte utilitária. Destinase a projetar os espaços que abrigarão as necessidades funcionais relativas a uma determinada atividade a ser desenvolvida no interior de um edifício e deve se identificar com o meio ambiente físico e cultural no qual se encontra inserida. Além disso, o edifício deverá afetar os indivíduos do ponto de vista artístico, provocando emoções sintonizadas com a natureza das funções abrigadas pelo edifício, de forma análoga à trilha sonora de uma cena cinematográfica, quando a musicalidade pretende reforçar as sensações que essa cena almeja provocar nos expectadores.

“O impulso para ‘aparecer’ e ser ‘reconhecido’ enquanto profissional pode levar o arquiteto a impor seus desejos em detrimento das demandas e desejos dos seus clientes.”

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Internacional

A virtine do mundo Salão Internacional do Móvel de Milão apresenta tendência do design internacional

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Se o planeta Terra fosse uma grande loja de móveis, luminárias e artigos de arquitetura e decoração, a cidade italiana de Milão seria uma espécie de vitrine global. Em especial durante a realização do Salão Internacional do Móvel, que este ano comemorou sua 46ª edição, entre os dias 18 e 23 de abril, na comuna de Rho, na Lombardia, norte do País. Durante esses seis dias, uma área superior a 205 mil metros quadrados abrigou 1.948 expositores de 30 países, que levaram à cidade internacional da moda e do design as tendências da arquitetura, do design, da decoração e do bom gosto em ambientes, móveis, cores e formas. Superando a marca dos 223 mil visitantes, o evento – consagrado como o mais antigo e diversificado no setor – foi dividido em cinco pavilhões: Euroluce e mais quatro do Salão do Móvel (Clássico, Moderno Design e Salão Satélite). Em cada ambiente, peças do estilo clássico ao moderno, desenhadas por profissionais de várias partes do mundo. Este ano, a mostra foi voltada especialmente – mas não unicamente – ao Salão do Móvel e às tendências em luminárias, a Euroluce. No próximo ano, os destaques serão para ambientes como banheiros e cozinhas. Milão é considerada a cidade mais rica ao sul europeu, e lá estão instaladas as melhores escolas de design do mundo. Nada mais justo, então, que não apenas o espaço do Salão mas toda a cidade estivesse envolvida no evento deste ano. Assim, em espaços chamados pelos organizadores do evento de “Fuori Salone”, foram realizados mais de 400 eventos paralelos só no Centro Histórico de Milano, como grafado em italiano. Além dos profissionais de renome mostrando tendências pela Feira, outra atração que chamou a atenção dos visitantes foi a mostra “That’s Design”, onde os melhores designers entre os estudantes de 22 universidades internacionais puderam expor toda ousadia dos jovens profissionais. Sofisticação, novas tendências, possibilidades. O 46º Salão Internacional do Móvel de Milão deixou para 2007 suas marcas de cores e formas, para o mundo. Na próxima edição do evento, agendada para acontecer de 16 a 21 de abril de 2008, a cidade de Milano volta a ser a vitrine do Mundo.

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Texto_Henrique França Fotos_Márcia Visani



Interiores

Universo feminino E

Externar o universo feminino, através da sensualidade e da elegância. Foi com essa proposta que as arquitetas Valéria von Büildring e Monique Barros idealizaram o projeto de arquitetura de interiores da loja de calçados femininos Apogée, localizada na avenida Edson Ramalho, que é atualmente uma das mais belas vitrines comerciais de João Pessoa. As profissionais se utilizaram de diversos detalhes para criar o ambiente desejado. O projeto se desenvolve numa mistura dos estilos clássico e contemporâneo. Para isso, usaram elementos de muito bom gosto, com releituras dos detalhes rebuscados de marcenaria, aliados aos tons claros dos móveis modernos e cadeiras de linhas clássicas com forrações exóticas. A sensualidade e o fetiche foram explorados com o uso de espelhos e estofados com estampas reproduzindo peles de zebra e de onça. O puff em captonê preto sob a luz do lustre de cristais

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swarowisk chama atenção para o centro da loja, núcleo de cores e estampas fortes, ainda mais valorizado pelo tapete zebrado. “Como já existe a loja Apogée de calçados masculinos, os proprietários pensaram em diferenciar totalmente a loja feminina da masculina, daí surgiu a idéia de explorar o lado sensual do mundo feminino”, ressaltou Valéria von Büildring. A nova loja que tem cerca de 32m² recebeu piso em laminado de madeira da Eucafloor, na cor Haya Cristal de tonalidade clara, para que não interferisse na harmonia do espaço. “O ambiente é praticamente todo branco, neutro e versátil. Se os proprietários optarem, a qualquer momento, podem mudar o clima e se quiserem dar um ar floral, mais romântico ou aplicar uma cor à sua loja, será necessário apenas mudar as forrações e o tapete, pois o restante da composição pode se adequar às mudanças mais inusitadas” explica Monique Barros.


Iluminação ressalta detalhes A iluminação da Apogée é um dos carros-chefe do projeto de arquitetura de interiores. Ela é utilizada para valorizar os móveis e os produtos expostos. No teto foram utilizados diversos recursos de iluminação direta e indireta, com destaque para a sanca central que emoldura um belo e clássico lustre de cristais. Os móveis expositores de linhas clássicas receberam iluminação individual. A iluminação da vitrine também é um charme à parte, composta de três mesinhas soltas, que dão movimento ao conjunto. Elas podem ter posições variadas, com iluminação interna, além da luz direta que vem do forro para valorizar o calçado por cima, como uma jóia. Um grande espelho rebate a imagem da loja para o exterior, criando um efeito de brilho intenso, pensado para chamar a atenção daqueles que passam pela avenida.

Foto: Cácio Murilo

Arquitetas:

Monique Barros Valéria von Büildring Projeto_Apogée - sapatos femininos Aço, Vidros e Espelhos_Vip Vidros Iluminação_Emporium da Luz Marcenaria e Piso_Cleumy Design Texto_Luciana Oliveira Fotos_Stanley Talião

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Reforma

Elegância e sobriedade

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A sofisticação é a característica mais marcante da Tereza Ribeiro Maison. As peças expostas, o atendimento e, logicamente, a arquitetura da loja, destacam-se principalmente pela elegância e qualidade. A loja de vestuário feminino, localizada na avenida Édson Ramalho, em João Pessoa, sofreu uma intervenção e ampliação, recentemente, com projeto do arquiteto Anchieta Cunha. O ponto de partida do projeto foi reorganizar um novo layout, definindo o acesso e percurso pela loja, induzindo facilmente a um passeio por todos os setores. Além dessa intervenção, o arquiteto modificou a fachada e ampliou a loja, anexando o espaço vizinho. Com isso, a Maison ficou maior e com três pisos, estruturados da seguinte forma: no primeiro piso ficaram as roupas mais casuais, no mezanino as roupas formais e, no terceiro, um terraço descoberto. No primeiro piso, logo à entrada, tem-se o expositor de vestuário e acessórios casuais, vindo em seguida a vitrine, provadores, o caixa, banheiro e copa. O segundo, um mezanino, foi concebido a partir do pé direito duplo existente, com piso em madeira e destinado a roupas e acessórios para festas formais, onde dois confortáveis provadores foram instalados. Nesse mesmo piso, separados por porta de correr, tem-se o estoque e o escritório. O terceiro e último piso é resultante do aproveitamento da cobertura e foi transformado em um agradável terraço descoberto


A ambientação da Maison seguiu um padrão neutro: paredes beges, teto branco, além de madeiras em tons variados. No piso, um porcelanato rústico. A sobriedade do projeto foi completada com o uso de materias nobres (aço inox, mármore Travertino, vidros e espelhos)

(com jardim, copa e banheiro de apoio), próprio para a realização de eventos. Esses três pisos são unidos por uma parede revestida de madeira. Por trás dessa parede há uma bela escada em concreto, com degraus em balanço, engastados nas laterais, a qual dá acesso ao mezanino e ao terraço.

Tons neutros e decoração personalizada O projeto de arquitetura de interiores seguiu em tons neutros. As cores escolhidas foram o beje para as paredes e branco para o teto. Foram aplicados madeiras de tons variados, porcelanato rústico para o piso e padrão madeira nas paredes do terraço. Materiais nobres como aço inox, mármore Travertino, vidros e espelhos completaram a elegância e sobriedade do projeto. O mobiliário usado foi escolhido criteriosamente. Há duas poltronas anos 50, que pertenceram à avó da proprietária da loja. “Naquela época, eram de vanguarda. Hoje são super atuais e personalizam o ambiente”, ressalta Anchieta Cunha. Outro elemento que chama a atenção é uma escultura de parede, colocada no patamar da escada: um vestido de fio de alumínio. Para complementar o conforto do local, o arquiteto também usou outras poltronas e sofás contemporâneos. Há ainda um belo vaso com arranjo seco, dando charme e elegância ao ambiente.

Modernidade: sistema de som e iluminação A Maison conta com um moderno e providencial sistema de vídeo/TV/som. A idéia é aproximar as clientes das tendências da moda, mostrando desfiles no Brasil e no exterior, assim como os eventos em João Pessoa, onde houve participação da loja. O som

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ajuda a criar o clima desejado: calmo, agitado, nostálgico... “Procuramos agitar o cenário fashion, criando uma loja que deve ser agradável ponto de encontro e de compras”, completa Anchieta. A iluminação da Maison seguiu o mesmo conceito da arquitetura de interiores: criar um ambiente em que as clientes se sintam à vontade. Para isso, foram usadas lâmpadas de tons quentes, que causam um efeito agradável. Nessa iluminação interna foi bastante valorizada a qualidade da luz, ou seja, foram usadas lâmpadas com elevado IRC (Índice de Reprodução de Cor), para realçar as cores dos produtos expostos. Para iluminar a fachada, foram colocadas peças de solo, com efeito uplight (iluminando de baixo para cima), criando um belo efeito sem se saber exatamente de onde vem a luminosidade. Na vitrine, que tem um pé direito duplo, usou-se lâmpadas de longo alcance, para valorizar ainda mais as peças expostas.

Arquiteto:

Anchieta Cunha Projeto_Reforma e Arquitetura de Interiores da Maison Tereza Ribeiro Construção_Petrônio Faraco Engenheiro_Gérson Nunes Escultura em Alumínio_Nóbrega Design Iluminação_Emporium da Luz Madeira(parede e Piso do Mezanino)_Indusparquet Objetos de Decoração_Bazaart Poltronas_Marelli e Novoprojeto Poltronas Anos 50_Forma Porcelanato Rústico_Elizabeth Porcelanato TV/Som_Dicinema Sofá_Socil Texto_Luciana Oliveira Fotos_Diego Carneiro



123 123 123 123 123Informe PPublicitário ublicitário

A praticidade dos modulados A crescente procura por móveis modulados não é à toa. Como são préfabricados e projetados de acordo com o espaço do cliente, suas vantagens são inúmeras e o resultado final, satisfatório. Essa tendência é visível tanto em residências, quanto em ambientes corporativos. Seguindo essa demanda, a Todeschini tem se destacado como uma das fábricas de modulados que vem projetando tanto casas e apartamentos, quanto clínicas, hotéis, flats, escritórios e agências de publicidade. Em João Pessoa, a Todeschini foi a responsável pelo belo projeto de interiores da agência de publicidade Ponto D. Todos os setores da agência, entrada, recepção, cozinha, diretorias, criação, produção, financeiro foram projetos pela Todeschini. “Os móveis modulados são muito práticos e de fácil manutenção. Por isso essa grande procura”, ressalta o franqueado da Todeschini em João Pessoa, Eduardo Cabral.


O projeto da Ponto D seguiu um layout limpo, de acordo com as necessidades da agência. Ou seja, um ambiente bonito, moderno, claro e amplo. Um local ideal para o bom funcionamento da agência, além de ser uma bela apresentação para os seus clientes. “Eles precisavam de muito espaço para circulação, além de conforto. Com isso, tivemos o cuidado de não deixar nenhum ambiente apertado”, explica Eduardo Cabral. Na sala de criação, por exemplo, usouse grandes pranchas, para que os publicitários tivessem espaço de sobra para a criatividade. Nas duas salas da diretoria, além do escritório, foram projetados home-theatres, que dão o conforto e a facilidade para os diretores exporem a seus clientes os VTs produzidos. As cores usadas na agência foram neutras. Nas portas dos armários, optou-se pelo color glass (vidro colorido) em tons chocolate e gelo. Nas salas da diretoria, foram usadas chapas de revestimento málaga com branco, causando um belo contraste de cores. Já a cozinha foi projetada toda branca. E nas demais salas foram usados o branco com a cor mel. “A Todeschini é uma empresa sólida, com qualidade, e que atende o mais variado público. Estamos preparados para projetar os mais diversos ambientes”, completa Eduardo Cabral.

Fotos: Cácio Murilo


Interiores

Mais humanização e funcionalidade

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Os leitos foram divididos por cortinas hospitalares, confeccionadas em vinil com tela superior, com características antimofo, antifungo e bactericida, extremamente duráveis e resistentes. Junto a cada leito foram criados painéis de madeira com revestimento melamínico, para acomodar pontos de gases, tomadas e chamadas de emergência

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A arquitetura hospitalar é um segmento do mercado arquitetônico que vem se destacando, mostrando a importância que este setor tem dentro da área de saúde. Afinal, sem uma construção adequada, não há hospital ou clínica que apresente uma funcionalidade eficiente. Dentro dessa tendência, o hospital Memorial São Francisco, em João Pessoa, iniciou um processo de reforma que surgiu da necessidade de fazer uma intervenção com o objetivo de concluir a idéia inicial do projeto, solucionando problemas de funcionamento, fluxos e manutenção já existentes. Neste primeiro momento, foi reformada a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), ampliando sua capacidade de leitos, além de oferecer melhorias no atendimento aos pacientes, modernizando suas instalações. A unidade possui 400m² distribuídos em: área coletiva de tratamento com 14 leitos individuais e dois leitos de isolamento; área de apoio ao paciente, com posto de enfermagem e serviços, área de prescrição médica, rouparia, sanitário e farmácia; área de uso de funcionários com depósito de material de limpeza, expurgo, vestiários, sanitários, copa e quarto de plantão; e área para visitantes, com sala de recepção e espera. Cada leito conta com assistência individual, onde o paciente é monitorado à distância pela equipe médica e de enfermagem, através de equipamentos acomodados em um móvel com rodízios projetado para esta finalidade. Também foram criados junto aos leitos, painéis em madeira com revestimento melamínico – réguas medicinais –, que acomodam pontos de gases, tomadas, chamada de emergência, além de facilitar a manutenção das instalações. Todos os leitos foram divididos por cortinas hospitalares, confeccionadas em vinil com tela superior, que possibilita ao paciente ter a privacidade no momento certo, além de facilitar a sua higienização e desinfecção. São cortinas especiais que possuem características antimofo, antifungo e bactericida, antiaderente e autodesodorizante, extremamente duráveis e resistentes. Os leitos de isolamento foram projetados com antecâmara e banheiro exclusivo de forma a impedir a entrada de bactérias no ambiente, permitindo a internação de pacientes em estado grave ou em situações delicadas ou portadores de infecções, evitando que os demais internos sejam contaminados. Em pontos estratégicos da UTI foram colocados lavatórios em granito, exclusivos para a equipe de saúde e visitantes, possibilitando a higienização de mãos no manuseio dos pacientes, qualificando o seu atendimento.


Na área central da UTI foram localizadas bancadas em granito e madeira para o posto de enfermagem e prescrição médica, de onde a equipe tem ampla visão e controle dos leitos. Ao seu redor, foram dispostos armários de apoio executados em madeira e laminado na cor branca e alumínio. No piso foi usado o revestimento vinílico Pavifloor, da Fademac, apropriado para área hospitalar, com resistência a fungos e bactérias e acabamento que facilita a conservação e manutenção do mesmo.

Humanização “Quando se trata de ampliar instalações em áreas hospitalares, além de levar em conta a organização do espaço, é importante ter como foco principal a humanização, ou seja, trazer o projeto para a função mais próxima da vida e das suas relações de afetividade”, ressalta Alda-Fran. “Nesses casos, a ambientação precisa ser feita de maneira mais agradável, transformando a frieza do edifício hospitalar em um espaço atraente, com mais relação à saúde e menos referência à doença”, completa Rosanie. Dentro dessa concepção, foram usadas cores na UTI, como o verde em algumas paredes, através da tinta acrílica, o azul nas cortinas divisórias e o verde/azul no piso, com detalhes que marcam os principais acessos. “O novo conceito de humanização transcende a terapia de cores e, justamente por isso, escolhemos as que causam sensações de tranqüilidade, paz e relaxamento, amenizando as condições de estresse e tensão que são constantes nestes espaços”, disse Alda. Com a intenção de que o paciente não perca a noção de tempo - dia e noite - foram colocadas janelas de vidros em toda a área de leitos, para que a iluminação natural aumente o bem estar dos internos. “Como arquitetas atuantes nesta área, não podemos esquecer o principal objetivo: projetar ambientes respeitando a integridade humana, de forma holística: mente, corpo e alma”, completou Rosanie.

Na área central da UTI foram usadas bancadas em granito e madeira. Ao seu redor, armários de apoio de madeira e laminado na cor branca e alumínio. Acima e à direitoa, os lavatórios em granito, exclusivos para a equipe de saúde e visitantes

Arquitetas:

Alda-Fran Camboim e Rosanie Garcia

Normas específicas Para projetar clínicas e hospitais, é indispensável uma arquitetura bem planejada, atendendo as necessidades desses ambientes, dentro das exigências e normas da Agência Estadual de Vigilância Sanitária (Agevisa), órgão vinculado ao Ministério da Saúde e responsável pela aprovação dos projetos de estabelecimentos assistenciais de saúde. “A produção de edifícios hospitalares vem passando por significativas mudanças, seja com reformas ou expansões, criando adequações em virtude da dinâmica das inovações tecnológicas e exigências legais”, finaliza Alda-Fran.

Foto: divulgação

Projeto_Reforma UTI do Hospital Memorial São Francisco Cortinas_Cosimocataldo - Recife/PE Espelhos_Dell Martini Mármores e Granitos_Pedra Polida Marcenaria_N Móveis e Dell Martini Vidros_R Vidros Texto_Luciana Oliveira Fotos_Hélder Fernandes

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Viagem de arquiteto

Visão geral da cidade de Valência e ,ao centro, parque sobre leito do rio Túria. Acima e à direita, Torres do Serrano, antiga porta de entrada das muralhas de Valencia

Uma viagem à cidade de Valencia e à arquitetura de Santiago Calatrava

V

Valência é uma cidade de porte médio como João Pessoa e possui cerca de 700 mil habitantes. Foi uma rica experiência urbanística visitá-la e conhecê-la a partir das ruas estreitas praças e becos antigos até as largas avenidas e, em especial, a obra de Santiago Calatrava. Estes são alguns dos pontos positivos desta experiência cada vez mais intensa de globalização, embora pudéssemos falar também de tantos outros pontos negativos deste fenômeno na atualidade. Concentro-me neste relato em fazer um breve e pessoal registro das minhas impressões sobre a obra de um dos arquitetos mais talentosos da atualidade – o valenciano Santiago Calatrava. Deter-meei na cidade de Valência, embora tenha visitado a cosmopolita Madri em pleno período de férias européias e outras capitais, bem como cidades menores centrais da Europa e tenha registrado outras obras também importantes de Calatrava. Valência é uma cidade litorânea, possui belas praias, mas também é uma cidade histórica, fundada há dois mil anos. Às vezes, eu ficava

comparando com a cidade de João Pessoa ou talvez com a João Pessoa que eu gostaria que se desenvolvesse em termos urbanísticos, de investimentos públicos nas campanhas por revitalização do seu centro histórico, dos projetos de requalificação de seu patrimônio arquitetônico residencial com incentivos aos jovens e às “famílias pequenas” para retornarem ao centro antigo, habitarem neste espaço da cidade que lá em Valência também havia sido abandonado no processo de expansão e modernização do espaço urbano a exemplo do que aconteceu com outros centros urbanos em centenas de cidades do mundo. Neste texto vou destacar apenas dois elementos que mais chamaram minha atenção como arquiteta e urbanista, e professora universitária: a urbanização realizada nas margens do Rio Turia e a Cidade das Artes e da Ciência de Santiago Calatrava.. Trata-se do rio Turia. Este rio largo e longo cujas margens e leito foram totalmente urbanizados corta toda a cidade de Valência ao meio. Sobre o leito do rio Turia foi projetado um imenso parque, com um paisagismo coerente,

Ao fundo, Hemisférico e à direita, passarela do Museu das Ciências Príncipe Felipe

Parte do entorno da cidade medieval de Toledo


adequado ao clima, ao solo e à prática das atividades diversas bem como à implantação dos respectivos equipamentos voltados para atividades lúdicas, artísticas, culturais, esportivas, lazer para todo tipo de idade e gosto. Há, por exemplo, a possibilidade de circulação em toda sua extensão por meio de caminhos específicos para bicicletas, para caminhadas ou para passeios em carruagens que podem ser alugadas lá mesmo. Fiquei pensando por que desviar o curso de um rio? Que absurdo apesar de extremamente agradável! E como ficava a questão ambiental, a preservação da natureza? Fui me informar e fiquei sabendo que este rio havia provocado enchentes desastrosas no passado, levando a Generalitat Valenciana a desenvolver o projeto em 1957, primeiro promovendo o desvio do curso natural do rio Turia - hoje irrigando plantações e compondo uma paisagem rural na periferia da cidade. Em seguida foi construído um grande parque encantador. Passear por toda a cidade a pé, de bicicleta, sem trânsito, sem poluição, sem barulho cercado de uma vegetação bem cuidada em termos paisagísticos, arrematada pela arquitetura que atravessa margeando monumentos e sítios históricos como a Torres dos Serranos - porta de entrada da cidade de Valência na antiguidade quando esta possuía muros em todo seu entorno – e segue pela Cidade das Artes e da Ciência até cruzar toda a cidade. É possível conhecer Valência quase por completo seguindo por este parque projetado sobre o antigo curso do rio Turia, para além da Cidade das Artes e das Ciências, passando por outras dezenas de edificações cuja arquitetura guarda parte da história, da arte e da cultura valenciana.

O segundo elemento que destaco nestas breves impressões de viagem: a Cidade das Artes e das Ciências, projetada por Santiago Calatrava, reúne quatro dos melhores projetos do arquiteto e é hoje um dos principais pontos turísticos da Espanha, fazendo conjugar em Valência modernidade e tradição. Ao contrário da frase que diz que “ninguém é profeta em sua terra”, Calatrava realizou diversos projetos de destaque em Valência, a exemplo da Ponte da Alameda (1991-95) um belíssimo arco metálico inclinado sobre o antigo rio Turia. A inclinação do arco protege o passeio dos pedestres, as proteções laterais para automóveis seguem um desenho unitário reproduzindo em escala menor a estrutura maior da ponte. Arquitetura branca e metálica, usufruindo do potencial estrutural do aço. A Estação de metrô de Alameda (1991-95) é outro exemplar valenciano de Santiago Calatrava assim como também a Cidade das Artes e das Ciências com 350.000 m2 distribuídos nos prédios do Palácio das Artes Reina Sofia, Umbral, Museu das Ciências Príncipe Felipe, Hemisférico e Oceanário que compõem grandes áreas temáticas: Arte, Ciência e Natureza. A impressão inicial é de uma imensa obra faraônica, erguida branca e deslumbrante, radiante como uma autêntica cidade futurista. Os edifícios estão organizados em um eixo principal sobre o antigo curso do rio Turia, em paralelo a uma nova avenida residencial e comercial. Texto e Fotos_Jovanka Baracuhy Scocuglia

Ponte de Alameda, projetada por Santiago Calatrava Parque do rio Túria

Entrada do Oceanário

Palácio das Artes Reina Sofia, projetado por Santiago Calatrava




Projeto Capa

Monumento à Justiça

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Responsável pela construção da cidadania justa e eqüitativa, a Justiça deve ser dotada de um valor ético-moral austero. A arquitetura das edificações que a representam devem seguir, portanto, essa mesma linha. A concepção arquitetônica do Fórum Cível de João Pessoa seguiu exatamente essa descrição, com austeridade, simbolismo e contemporaneidade. O projeto foi elaborado por um grupo de arquitetos, vencedores de um processo licitatório. Os profissionais responsáveis pelo projeto são Sandra Moura, Marco Suassuna, Leopoldo Teixeira, Fernanda Figueiredo e Katiana Guimarães. “A temática da Justiça exige essa austeridade. E a representação volumétrica busca incorporar uma identidade formal que possibilite formar uma imagem consistente no imaginário dos cidadãos e sua conseqüente presença marcante na passagem urbana”, ressalta Sandra Moura. A busca por essa arquitetura austera é uma forma de fomentar um símbolo tutelar dos direitos cíveis. Para a concepção do projeto foram estudadas referências da História Antiga e da Contemporânea. As colunas rígidas, retilíneas, com pé direito alto e simétricas do bloco de entrada do Fórum são uma referência ao clássico romano. “Desde a época de


À esquerda vê-se a grande praça que dá acesso ao Fórum. Acima, percebe-se a grande edificação como um todo, mais alta, mas recuada, respeitando a escala urbana

Pompéia que há o uso dessas colunas em prédios que representam a Justiça”, explica Sandra Moura. Em um contraponto à essa referência clássica, o enorme auditório em forma de elipse, que quebra a rigidez do prédio e a seqüência ritmada das colunas. Esse auditório é um elemento interessante e é a referência mais marcante de contemporaneidade.

Respeito à escala urbana O Fórum Cível de João Pessoa foi construído em um dos bairros mais antigos da capital paraibana, em um local onde existem muitos casarões. Por isso, a preocupação de a edificação não agredir a escala urbana e manter o respeito aos usuários (tanto os moradores do local, como os passantes). Desta forma, o prédio tem um recuo, que oferece uma magnífica praça, que apresenta o Fórum Cível, em uma espacialidade digna de um “Fórum Romano”. O acesso ao Fórum é feito através de uma generosa escada em suaves degraus, ladeada de duas robustas paredes de granito. O respeito à escala humana ainda é marcado pela singela, mas providencial, “pracinha”,com banco do mesmo granito, protegidos por árvores de porte médio, atenuando assim a aridez e formando uma área sombreada de descanso e contemplação. “Essa praça que dá acesso ao Fórum tem uma conceituação cívica. É o espaço percorrido por quem vai chegar ao local onde irá buscar seus direitos”, explica Sandra Moura. “Tivemos a preocupação de respeitar o usuário e a avenida que é repleta de casarões antigos, muitos deles tombados pelo Patrimônio Histórico”, completa. Após a grande praça, há o prédio de entrada e o auditório, que têm um pé direito triplo, e são da altura dos casarões da avenida. Mais atrás que surge a edificação como um todo, mais alta, mas recuada.

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O Salão dos Passos Perdidos, ou seja, a recepção, é um espaço vestíbulo de pé-direito triplo, que impões monumentalidade ao edifício. Acima, vê-se a elipse do auditório, que quebra a rigidez da edificação e a sequência ritmada das colunas

Blocos distintos e complementares

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Passando pela praça/esplanada, chega-se ao chamado Salão dos Passos Perdidos (expressão típica utilizada nos fóruns), ou seja, a recepção. Este é um espaçoso vestíbulo de pé-direito triplo, que impõe monumentalidade de um edifício judicial. Funcionalmente, um eixo longitudinal percorre toda extensão do edifício, servindo de articulação na resolução dos espaços internos e sua conseqüente organização das funções. Com isso, nota-se a clareza nos percursos e na facilidade dos acessos. A edificação foi construída em dois blocos distintos, porém, complementares entre si. Um menor e outro maior, ou seja, a torre com dez pavimentos, o Salão dos Passos Perdidos no bloco menor, além do auditório elíptico na diagonal. Um vazio central na torre percorre verticalmente todo edifício sendo arrematado por uma coberta translúcida que banha com luz natural o espaço interno. Quanto às vedações, foram observadas as aberturas quanto à insolação e iluminação naturais e a eficiência energética interna com artifícios de proteção climática.

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O edifício obedece à modulação 7,5m x 7,5m, que foi decisiva para racionalização construtiva, para definição da planta livre nos andares da torre, oferecendo a flexibilidade nos layouts internos para vencer maiores vãos e para a coerente adequação com os outros projetos complementares (ar condicionado, forro, iluminação). As lajes são do tipo nervurada, com faixas estendidas de acordo com o cálculo estrutural, que respondem pela rápida execução, leveza e baixo custo.

Acima, no grande auditório, em forma de elipse, foi usado gesso escalonado, para favorecer a acústica do ambiente. Um dos destaques do local, praticamente neutro, são as poltronas vermelhas. À esquerda, o vazio existente na área de circulação dos pavimentos.

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O acesso ao Fórum é feito através de uma generosa escada em suaves degraus, ladeada de duas robustas paredes de granito

Materiais nobres Os materiais e as cores usadas no Fórum Cível são nobres e sóbrias, que conceituam e caracterizam o prédio da Justiça. Nos dois blocos, o maior (torre) e o menor (hall de entrada – vestíbulo) , foi usado o granito, que se justifica pela nobreza e durabilidade do material. No auditório e na volumetria curva do último pavimento foram usadas pastilhas bronze. Os vidros usados foram os reflexivos verdes. A arquitetura de interiores seguiu o mesmo padrão de sobriedade. A planta é livre, com mobilidade de ampliação, dependendo da necessidade. Foram usadas divisórias, características dos edifícios inteligentes.

Abaixo, a bela vista do alto do último bloco da edificação

Arquitetos:

Sandra Moura Marco Suassuna Fernanda Figueiredo Katiana Guimarães Leopoldo Teixeira Projeto_Fórum Cível de João Pessoa Mobiliário interno_Marelli Cadeiras auditório_Giroflex Esquadrias_Esquadra (PE) Piso_Elizabeth Porcelanato Texto_Luciana Oliveira Fotos_Diego Carneiro



Acervo

Museu da Cidade resgata história da Paraíba

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A cidade de João Pessoa vai ganhar, em breve, o primeiro equipamento museológico de cunho educativo e cultural. Tratase do Museu da Cidade João Pessoa-Parahyba, que vai resgatar os períodos históricos do Império e República vividos na Paraíba. O projeto, que já está em andamento, prevê a instalação de duas unidades: uma localizada na mansão onde residiu o ex-presidente João Pessoa, na Praça da Independência; e a outra na sede antiga da Alfândega, próximo ao Porto do Capim, no Centro Histórico da capital. Atualmente, o trabalho está concentrado na restauração da edificação situada na Praça da Independência, já que o prédio apresenta um elevado grau de deterioração. De acordo com a coordenadora técnica do projeto, Regina Rocha, que é diretora executiva do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (IPHAEP), a casa foi construída em 1925 e tem influência Art Nouveau e Art Décor. “O prédio foi tombado pelo IPHAEP em 1980 e é considerado um exemplar da arquitetura civil da Paraíba da década de 20”, destacou Regina Rocha. Ela acrescenta que a grande motivação para implementação do Museu surgiu do fato de que, apesar de João Pessoa ser a terceira cidade mais antiga do Brasil (ocupação iniciada em 1585) e possuir elementos significativos para a memória estadual e nacional, graças ao seu rico acervo histórico, artístico, etnográfico e cultural e uma história marcada por relevantes acontecimentos, a cidade não abriga nenhum equipamento que resgate esse valioso patrimônio. Do ponto de vista arquitetônico, a “Casa de João Pessoa”, que foi projetada e construída pelo engenheiro italiano Soutto Barcello, apresenta características peculiares do Art Nouveau, elementos difíceis de serem encontrados em outras edificações da cidade, como a ausência de simetria, aberturas curvas presentes na fachada principal, aberturas estreitas e verticais quebrando a horizontalidade da construção, traçado das esquadrias caracterizado pela presença de malha geométrica, desenho dos pilares e ornamento naturalista (folhas) existente no listelo das fachadas, entre outros. Como o Museu da Cidade será composto de dois equipamentos, a primeira unidade, que está localizada na Praça da Independência, vai reunir os aspectos referentes ao período de Império e República, além de uma área dedicada para o acervo da família de João Pessoa. Já a segunda unidade vai abranger o Período Colonial.

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De acordo com Regina Rocha, o Museu da Cidade vai contar com um importante acervo, com documentos, esculturas, mobiliário, fotografias e pinturas, além dos bens arquitetônicos e paisagísticos. O equipamento ainda vai abrigar uma ala mais contemporânea, com materiais audiovisuais, que irão resgatar a memória oral da história da cidade. “A proposta do Museu é ser uma referência museológica para a informação histórico-políticosocial-econômico e cultural dos paraibanos, contribuindo para o conhecimento, reconstituição, preservação e (re)construção de identidades”, destacou a diretora do IPHAEP.


Ela ressaltou que o processo de formação do acervo foi inventariado pela Coordenação de Documentação do projeto e contou com a participação de estagiários de cursos da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), que realizaram pesquisas em várias instituições culturais da cidade para identificar e resgatar os bens culturais (manuscritos, fotografias, impressos, pinturas, esculturas, peças de mobiliário, objetos de uso, indumentária) e os bens culturais imóveis (forros dourado e policromado, gradis e etc). Através da pesquisa, será possível ainda resgatar os bens naturais, através das intervenções de conservação e restauração paisagística,, com o objetivo de recuperar o patrimônio ambiental, implementando o jardim temático relativo ao bioma Caatinga. O Museu da Cidade João Pessoa-Parahyba faz parte da Política Estadual de Preservação Museológica do IPHAEP, do eixo de implantação de novos equipamentos museísticos. O projeto é coordenado pela primeira-dama do Estado, Sílvia Cunha Lima, e conta com um corpo técnico formado por cerca de 20 profissionais de diversas áreas. De acordo com Regina Rocha, o projeto, orçado em R$ 12 milhões, conta ainda com as parcerias do Ministério do Turismo e do Governo da Espanha, através da Agência Espanhola de Cooperação Internacional (AECI).

Museu da Cidade João Pessoa - Parayba após a reforma

Texto_Kaylle Vieira Fotos_Márcia Visani

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Nacional

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Brasil tem primeira torre giratória do mundo

Quando a criatividade não tem limites é difícil prever até onde vai a imaginação dos profissionais da área de arquitetura e construção civil. E quando o jogo une inovação, tecnologia e ousadia, os brasileiros não deixam a desejar. E é no Brasil, especificamente em Curitiba (PR), que está localizado um dos mais importantes prédios da atualidade – o Suíte Vollard - primeira torre giratória do mundo. Localizado no bairro Ecoville, o edifício, composto de 11 apartamentos, tornou-se um dos mais visitados pontos turísticos da cidade. E não é para menos. O luxuoso prédio paranaense permite que cada uma das unidades residenciais, que tem uma área de 287 metros quadrados de área, faça uma movimentação de 360 graus de maneira independente. A edificação, em formato circular, não agrada apenas aqueles que desejam variar a paisagem da sua janela, mas também quem não abre mão de automação e tecnologia. Além da rotação, os apartamentos contam com inovações que permitem que os moradores acendam lâmpadas, liguem o ar condicionado e controlem a temperatura apenas fazendo um comando de voz ou acionando um botão do controle à distância. Para garantir uma vista nova para os moradores, a Construtora Moro, responsável pelo empreendimento, reuniu uma equipe bem capacitada e estudou detalhadamente, durante um ano, o planejamento do trabalho. O primeiro passo foi erguer em uma plataforma metálica de 89 m², estruturada lateralmente por montantes metálicos verticais fixados na sua base. Já a parte superior foi acoplada telescopicamente a uma guia curva fixada na laje, possibilitando o giro da vedação lateral em conjunto com a plataforma.

O edifício giratório está localizado em um dos bairros mais nobres de Curitiba (PR), o Ecoville

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Além da rotação, os apartamentos contam com inovações que permitem que os moradores acendam lâmpadas, liguem o ar condicionado e controlem a temperatura apenas fazendo um comando de voz ou acionando um botão do controle à distância.


O item mais importante do edifício – o movimento de rotação – só foi possível graças a um sistema de engrenagens dentadas e correntes de rolo. Cada apartamento tem sistema independente de motorização acionado por controle remoto ou interruptores. De acordo com informações da construtora, o giro completo de 360° em sentido horário ou anti-horário é feito em uma hora. O limite de carga para o bom desempenho da motorização é de 150 kgf/m2, totalizando 13 t. Projetado pelos arquitetos Bruno de Franco e Sérgio Silka, os apartamentos do Suíte Vollard são circundados por 30m² de varandas envidraçadas que dão acesso a todos os ambientes sociais e íntimos, através de portas de giro moduladas, instaladas a cada 90°. E graças ao uso de vidros com tonalidades diferentes a cada quadrante correspondente a um ponto cardeal, são criadas fachadas diferentes a cada momento. Na parte fixa do prédio, que não se move, estão localizados o banheiro e cozinha, além de toda a tubulação de água, esgoto e gás. Na parte lateral do prédio, em uma unidade fixa integrada à torre giratória, estão o hall de entrada, os elevadores, uma varanda com churrasqueira e toda área de serviço. Já na parte móvel, está a área social do apartamento – quartos, sala e escritório, que compreende também uma ampla suíte, cercada por vidros verdes, prata, azul e bronze que, segundo os construtores, criam um efeito visual único, enquanto as unidades estiveram girando. O luxuoso edifício da capital paranaense foi inaugurado em 2004 e, na época, o valor do apartamento era estimado em US$ 300 mil. A obra, avaliada em torno de R$10 milhões, demorou 10 anos para ser concluída.

Texto_Kaylle Vieira Fotos_Divulgação


Reportagem

Atual sede da Prefeitura de João Pessoa

Um olhar eclético sobre a Cidade Casarão dos Azulejos

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Ainda sob a poeira da revolução industrial, em meados do século XIX, o mundo, a sociedade e a arte chamados contemporâneos viviam o paradoxo entre manter suas tradições ou romper com um modo de vida, conduta e estética quase dogmáticos. A inquietação do período, seja no interior das famílias burguesas ou nas galerias das cidades cada vez mais povoadas, revelou na arquitetura da época uma estética dualista, entre o respeito ao passado e a busca pelo novo. Era o início do chamado ecletismo. Considerada por muitos como a mais decadente e formalista entre todos os estilos, a arquitetura eclética traz na mistura de materiais e na satisfação de necessidades da burguesia algumas de suas características. Isso porque, além de uma tendência nacionalista, a partir de meados do século XIX os edifícios e a disposição das cidades em geral passaram a ser fortemente influenciadas pela higiene e pelo sanitarismo. Das cores das paredes à instalação de janelas para passagem do vento ou entrada de luz, os edifícios erguidos sob a égide do ecletismo bebiam em várias fontes estéticas para compor a própria forma, mas também tinham o dever de ser funcionais.


Por isso os recuos em todos os lados, em caso de residências, e um bom número de janelas e jardins são algumas das características físicas desse período, que no Brasil estendeuse até aproximadamente a década de 30 do século XX. Segundo Maria Helena Azevedo, professora de Arquitetura do Unipê e coordenadora da pesquisa Imagem, memória e cidade: o Acervo Fotográfico Humberto Nóbrega, outras característica do ecletismo devem ser ressaltadas. “Na arquitetura residencial podemos citar o uso de mureta com gradil e portão de ferro, jardins nas áreas resultantes dos afastamentos, entrada principal muitas vezes situada na lateral da edificação, abrindo-se para um terraço coberto, uso de colunas em ferro fundido para sustentar a coberta das varandas, fachada trabalhada com ornamentação, uso de elementos como arcos ogivais, arcos góticos ou colunas coríntias. Nos edifícios comerciais é comum encontrarmos cúpulas – como a da Academia do Comercio Epitácio Pessoa”. A cidade de João Pessoa, aliás, possui exemplares importantes – e imponentes para o cenário arquitetônico da cidade – do ecletismo. Além da Academia do Comércio, foram erguidos

Tribunal de Justiça da Paraíba

como fruto dessa inquietação a Associação Comercial do Estado, o Casarão de Azulejos, a Loja Maçônica Branca Dias, o Tribunal de Justiça da Paraíba, o Hotel Globo, o Comando da Polícia Militar e a antiga Prefeitura - atual sede dos Correios, no Centro da Capital. Na arquitetura eclética residencial, Maria Helena Azevedo lista alguns dos principais imóveis construídos por aqui. “As ruas das Trincheiras e Tambiá possuem exemplares clássicos do ecletismo residencial em nossa cidade. Também é possível observá-lo no bairro de Jaguaribe, em residências na avenida Capitão José Pessoa, e nos castelinhos da Praça Bela Vista. Trincheiras e Tambiá representam a expansão urbana da nossa cidade no início do século XX. Era o momento em que as famílias de maior prestígio socioeconômico deixavam as casas geminadas das ruas da Cidade Alta e partiam para morar em edifícios soltos no lote”, explica. Para um período rico em misturas de técnicas e materiais, idéias e propostas, natural que algumas edificações erguessem em torno de si questões polêmicas. É o caso do Comando da PM e do Hotel Globo. O primeiro, para Maria Helena Azevedo, simplesmente recebeu uma camuflagem de ecletismo. “Aquele


era um edifício neoclássico que passou por uma reforma e foi maquiado de eclético. Aliás, o prédio do Comando da PM foi construído para ser o nosso primeiro teatro. No entanto, resolveram mudar a sua função, transferindo para lá o Tesouro Estadual e iniciando a construção do Santa Roza, posteriormente”. Para a professora Maria Berthilde Moura Filha, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFPB e especialista em Conservação e Restauração de Monumentos e Conjuntos Históricos, o atual Comando da Polícia Militar possui elementos marcantes da linguagem arquitetônica Neocolonial, estilo em voga no Brasil quando da vigência do ecletismo. Já o Hotel Globo “tem em cada um dos seus dois edifícios linguagens arquitetônicas distintas. São todos edifícios produzidos dentro da baliza cronológica da arquitetura eclética, mas é preciso não ser tão generalizante e procurar respeitar as diversas expressões que compõem esta produção eclética”, alerta. Chamada até bem pouco tempo de “anti-arquitetura”, o ecletismo produzido no Brasil e na Paraíba – mais especificamente João Pessoa – amargou a indiferença até mesmo de órgãos oficiais como o Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Dirigido pelo escritor Mário de Andrade, na década de 30, o SPHAN não escondia sua preferência pela arquitetura do período colonial, deixando de lado os edifícios ecléticos. E ainda hoje é assim. Apesar de contar com exemplares representativos desse período, João Pessoa não possui sequer um imóvel da arquitetura eclética tombado nacionalmente. “Essa preocupação em reconhecer e valorizar a produção desse período é relativamente recente. Até cerca de vinte ou vinte e cinco anos atrás havia um preconceito muito grande com relação a essa arquitetura”, revela Maria Helena Azevedo.

Hotel Globo - Foto: Rino Visani

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Comando da Polícia Militar da Paraíba

É preciso admitir que a produção arquitetônica desse período, na Capital, não se compara à de grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro e seu Teatro Municipal, por exemplo. “Mas isso não diminui o valor que nossa arquitetura eclética tem para João Pessoa, enquanto registro de um período histórico de transformações sociais e econômicas marcantes, mostrando que aqui também chegavam as idéias vigentes na época de modernidade e civilização”, ressalta a professora Maria Berthilde Moura Filha. Valorizar a diversidade incrustada nas paredes, janelas e cúpulas dos edifícios ecléticos da cidade faz-se extremamente necessário. Para que, em meio a agora fina poeira da revolução industrial, permaneçam firmes as colunas, jardins e gradis desse período. Às ruínas, o descaso e a indiferença de quem tenta ignorar a história construída em ferro, cimento, vidros, ousadia. Texto_Henrique França Fotos_Diego Carneiro



Especial

Blade Runner, o Caçador de Andróides (1982), de Ridley Scott

Arquitetura e ficção científica

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Não é à toa que qualquer Feira de Utilidades Domésticas tenta responder à pergunta: “Como será a casa do futuro?”. Como viveremos no futuro – ou como viverão nossos descendentes – é uma das maiores fantasias sobre a qual a ficção científica se debruça. Na maioria das vezes, a ênfase é dada nos avanços tecnológicos, nas máquinas que vão desdes robôs em geral até o teletransporte de Jornada nas Estrelas. Mas, ao ambientar

tramas no futuro, intencionalmente ou não, com maior ou menor preocupação com os detalhes, filmes e livros acabam pincelando idéias arquitetônicas a respeito. E, para qualquer referência a esse respeito, é preciso voltar ao fundamental Metrópolis, o clássico alemão mudo de Fritz Lang. Lançado em 1926, é curioso por trazer a idéia de futuro que se tinha naquela época. Entre os prédios altíssimos, aviões voavam já com um fluxo de trânsito – como os helicópteros fazem em São Paulo, hoje (embora a história se passe no século 25). Mas essa é apenas uma das ambientações do filme. Acima da terra é a cidade idílica, de belos jardins e os arranha-céus como sinônimos de desenvolvimento. Abaixo, é onde estão os trabalhadores . que fazem a cidade funcionar: aí, a arquitetura é No filme Star Wars - A Ameaça Fantasma (1999) só se pode ter uma vista panorâmica da República Galáctica acima das torres espartana, tal e qual o de seus edifícios gigantescos esforço sem descanso dos

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operários. E o laboratório do cientista que cria um robô para enganar os operários é um primor de exteriorização da alma de um personagem para o ambiente que o cerca: não há cenário, só o fundo negro. O gigantismo de Metrópolis estava já no cartaz do filme e é matriz de inspiração para outros filmes do gênero. O caso mais notável é o de Blade Runner, o Caçador de Andróides (1982), de Ridley Scott. Em outro filme em contrapõe humanos e andróides, a antológica abertura mostra a Los Angeles futurista e carros voadores passando entre os prédios. Mas, desta vez, trata-se de uma cidade escura e os altos prédios são opressores, entristecem o ambiente. Filmes que falam de um futuro totalitário, como Brazil – O Filme (1985), usam da mesma tática. É o que acontece também na segunda trilogia da série Guerra nas Estrelas – embora não se trate exatamente do futuro, e nem do planeta Terra. Star Wars – A Ameaça Fantasma (1999) mostra a capital da República Galática: Coruscant, da qual só se pode ter uma vista panorâmica acima das torres de seus edifícios gigantescos. É a antítese do planeta Tatooine, de grandes desertos e edificações baixas e nada brilhantes. Às vezes, baixíssimas: o lar da família do herói Luke Skywalker é abaixo do nível do solo. Um aspecto muito interessante é quando se trata de um futuro razoavelmente próximo e pequenos lances arquitetônicos são inseridos em um cenário bastante parecido com o que temos hoje. Nisto Stanley Kubrick pautou todos os demais cineastas. Em 2001 – Uma Odisséia no Espaço, de 1968, ele imagina um futuro tão frio quanto asséptico. É o mesmo direcionamento que Steven Spielberg também escolheu para a primeira parte de Inteligência Artificial (2001), projeto que desenvolveu com Kubrick antes do amigo morrer. Já a segunda parte se assemelha mais ao pesadelo de Blade Runner inspirado em Metrópolis. A arquitetura de interiores também tem grande papel nessa história. O impacto visual do quarto branco, com alguns detalhes coloridos na mobília, na parte final de 2001, numa mistura intrigante de alucinação e filosofia, é um dos visuais mais impressionantes da arquitetura de interiores no cinema. Em Laranja Mecânica (1971), do mesmo Stanley Kubrick, nada supera o bar onde se serve leite e as mesas são representações de mulheres submissas e nuas. Barbarella (1968) merece um estudo todo dele. Nunca o kitsch esteve tão presente na ficção científica. Que tal a nave interestelar toda acarpetada por dentro – incluindo as paredes? Mas talvez a arquitetura futurista mais interessante esteja no filme francês Alphaville (1965), de Jean-Luc Godard. Para ambientar Paris décadas à frente no tempo, em mais um filme de futuro opressor e totalitário, ele filmou... a Paris daqueles dias. Ele encontrou na cidade o cenário que representaria o futuro que ele queria mostrar. Já estamos no futuro e não sabemos? Texto_Renato Felix Fotos_Divulgação

Em 2001 - Uma Odisséia no Espaço (1968), um futuro frio e asséptico

Brazil - O Filme (1985) fala de um futuro totalitário

Metrópolis (1926), de Fritz Lang, foi inspiração para diversos filmes do gênero


O que fazer?

Como conservar o mármore travertino? Gostaria que vocês me esclarecessem como posso conservar o travertino já que este compõe minhas salas de jantar, estar, TV e banheiros. Marlene Romani São Paulo/SP

A primeira dica é não usar nenhum material corrosivo ou abrasivo, como água sanitária, detergente ou soda cáustica. Esses materiais realmente estragam a pedra de travertino. Se o mármore estiver em uma área seca, ou seja, um tampo de mesa, um aparador, deve ser conservado com álcool e flanela. Se for em área molhada, uma pia por exemplo, deve-se usar sabão neutro e palha de aço. Muitas pessoas acham que a palha de aço arranha, mas isso não acontece. O principal, portanto, é evitar os produtos abrasivos. Ainda acrescento que no travertino não é necessário usar cera. Seu brilho é conservado com a limpeza com álcool. Essas e outras dicas podem ser encontradas no site de nossa empresa: www.oficinadogranito.com.br Douglas Monteiro Oficina do Granito

Quanto custa um projeto arquitetônico? Tenho três filhas de 12, 6 e 1 ano. Gostaria de saber se fica muito caro um projeto de quarto para elas. A área do quarto delas é bem pequena (3m x 3m.). Por isso tenho o desejo de fazer tudo planejado para ocupar melhor o pouco espaço disponível. Maria das Dores Alves de Lira Campina Grande/PB

Tenho uma área de 50 m² no meu quintal e queria saber quanto custa um projeto para uma piscina de 4,0m x 2,5m, churrasqueira e área coberta para uma mesinha. Hermes da Silva Sobrinho João Pessoa/PB

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A Paraíba não tem oficialmente uma tabela de honorários profissionais para projetos arquitetônicos. Então, procuramos o presidente do IAB/PB para esclarecer melhor essas questões. “O Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB/PB) vem trabalhando para desmistificar essa forma errônea de pensamento de que os serviços de um arquiteto só estão ao alcance de quem tem mais recursos financeiros. Um projeto de ambientação, reforma ou construção é bastante acessível e popular. Naturalmente, como em toda profissão, os serviços prestados exigem um custo, mas sempre se leva em consideração o cliente e quanto ele pode dispor. Para se ter a garantia de estar contratando um bom profissional, pode-se obter informações no IAB/PB (www.iabpb.org.br / iabparaiba@gmail.com)”. Fábio Galisa - presidente do IAB/PB



Antes e depois

Otimizando os espaços

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Transformar duas salas em três, tendo o mesmo espaço. Esse foi o desafio da arquiteta Rosane Oliveira, ao reorganizar uma sala em “L”. A cliente não queria grandes mudanças, mas desejava um novo layout, para otimizar o espaço. Para isso, foram utilizados os mesmos móveis e tapetes (apenas mudando de lugar), e inseridos novos elementos, como o home-theater, o espelho na parede da sala de jantar, que dá mais amplitude ao ambiente, e as peças de decoração, complementando a mudança. Também foram colocados novos pontos de luz, como os leds no teto da sala de jantar e do home. No local onde era a sala de jantar, foi colocada a de estar. Além disso, como era um ambiente escuro e abafado, foi feita uma abertura na parede para a colocação de elementos vazados de vidro, o que permitiu a iluminação natural e a circulação de ar. “Basicamente mudamos o layout da sala, aproveitando muita coisa que a cliente já possuía”, reforça Rosane. Apenas no novo ambiente, o home-theater, é que foi projetado o móvel da TV e equipamentos do home, o qual foi executado pela marcenaria com acabamentos em laca branca e grandes painéis de vidro coloridos, dando assim beleza e modernidade ao ambiente. O sofá já existia e ainda foi reaproveitado um puff (apenas com um novo tecido), que estava sem utilidade em um dos quartos.

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Antes Foto : divulgação

Arquitetas:

Rosane Oliveira Projeto_Estar, Jantar e HomeTheater Iluminação_Emporium da Luz Marcenaria_Spazio Mobile Objetos de decoração_Chinesinha Texto_Luciana Oliveira Foto_Stanley Talião



Painel Materiais Foto: Márcia Visani

O formplast translúcido, disponível em diversas cores, pode substituir o vidro e o acrílico

Diversidade com praticidade

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A arquitetura de interiores conta com uma novidade prática e bela. É o formplast, um material composto basicamente por poliéster, disponível em diversas cores, que pode ser usado como revestimento em móveis de madeira, além de poder substituir, em alguns casos, o vidro e o acrílico. São dois produtos diferentes, com usos diferentes, mas fabricados a partir do PVC. O formplast como revestimento de compensados e MDFs já é usado há bastante tempo. A grande novidade, que chegou no mercado nordestino há cerca de três meses, é o uso do formplast em substituição ao vidro. Dessa forma, o material é um laminado de alta pressão, com efeito de translucidez.

O formplast translúcido tem inúmeras vantagens e pode ser usado em diversos móveis. Pode substituir o vidro em detalhes de portas, por exemplo. E como já vem colorido, dispensa o uso de película. “Além disso, há menos risco de acidentes, se houver quebra, já que não corta”, acrescenta Jailson Silva, gerente de produção de uma marcenaria. Esse material tem sido usado em diversos ambientes, como cozinha, banheiro, quartos e home-theater. “Nos homes, usamos muito o fumê, em substituição ao vidro”, completa Jailson. De acordo com os fabricantes, o formplast é de fácil manuseio e é bastante resistente. Possui boa resistência ao impacto e baixa resistência a riscos e ao calor.


Arqdesign Revestindo madeira O formplast também pode ser usado como revestimento de móveis em compensado ou MDF. Confeccionados em poliéster, as chapas e laminados são uma boa opção para acabamentos e um revestimento de qualidade para o uso na indústria moveleira, com um ótimo acabamento nas bordas. Pode ser usado tanto interna, como externamente. Para esse uso, também está disponível em diversas cores e tem sido usado nos mais diversos ambientes. Além disso, o revestimento também é fabricado em tons de madeira, como o marfim e o tabaco, além de um padrão em aço escovado, muito usado em detalhes.

Limpeza e manutenção Os laminados formplast são de fácil limpeza e manutenção. Os fabricantes recomendam o uso de um pano de textura macia e um pouco de álcool, água-raz, água com sabão neutro ou água sanitária, sobre a superfície em movimentos circulares. Após ser efetuada a limpeza, pode ser passado um pano úmido com cera incolor ou da cor do laminado, caso haja marcas opacas. Depois, deve-se passar um pano seco para tirar o excesso de cera. Texto_Luciana Oliveira

Arquiteta: Katiana Guimarães Foto: Cácio Murilo

Confeccionado em poliéster, o formplast também pode ser usado como revestimento de móveis em compensado ou MDF



Fotos: Diego Carneiro



Arquiteta: Mรกrcia Barreiros

Fotos: Cรกcio Murilo


Endereços dos profissionais desta edição Alda-Fran e Rosanie Garcia

Valéria von Büildring e Monique Barros

Av Expedicionários, Center 100, loja05, Expedicionários - João Pessoa / PB (83) 3244-4243 / 9985-9909 projetoarea@ig.com.br

Av Expedicionários, 100 Center 100, sala 208 Expedicionários - João Pessoa / PB (83) 8858-3303 / 9305-8838 valeria@tetoa.com moniquebarros@tetoa.com

Anchieta Cunha Av. Gov. Agamenon Magalhães nº2615, sala 403, Boa Vista - Recife / PE (81) 32213890 / 81 99711581 janchietacunha@hotmail.com

Fernanda Figueiredo Av Corálio Soares de Oliveira, 433, Edifício Átrium, sala 603, Centro - João Pessoa / PB (83) 3221-7032

Leonardo Bittencourt Av Lourival Melo Mota, s/n, Campus A, C. Simões, BR 104 Norte, km 97, Tabuleiro do Martins - Maceió / AL (82) 3214-1262 / 9972-8727 lsb@ctec.ufal.br

Katiana Guimarães Av Epitácio Pessoa, 2580, Shopping Moriah, sala 101, Tambauzinho João Pessoa / PB (83) 3042-1607 katianaguimaraes@yahoo.com.br

Rosane Oliveira Av. Gov. Flávio Ribeiro Coutinho , 205 Edifício Business Center Sl 603 Manaíra João Pessoa - Pb (83) 3245-9119 / 9983-9119 rosaneoliveira.arq@bol.com.br

Sandra Moura Av Corálio Soares de Oliveira, 433, Edifício Átrium, sala 603, Centro - João Pessoa / PB (83) 3221-7032 sandramouraarquiteta@hotmail.com

Marco Suassuna Av Corálio Soares de Oliveira, 433, Edifício Átrium, sala 603, Centro - João Pessoa / PB (83) 3221-7032

Leopoldo Teixeira Rua Professora Maria Jaci Pinto Costa, nº 180, Bessa João Pessoa / PB (83) 9342-6589


Cartas do leitor Vocês estão arrasando. A revista está cada vez mais bonita e cada vez mais com conteúdo que não interessa apenas a quem é da área. Além disso, vocês conseguem mostrar que, com muito esforço, é claro, é possível fazer um trabalho de comunicação diferenciado nesta cidade. Parabéns. Aline Oliveira Jornalista - João Pessoa/PB Sou arquiteta e trabalho na Abin (Agência Brasileira de Inteligência), em Brasília/DF. Achei a revista muito interessante, com ótimas matérias. Meu marido, que também é arquiteto, gostou muito da revista. Se houver a possibilidade de receber a revista na minha casa, agradeço. Claudia Regina Braga Arquiteta - Brasília/DF

Sou estudante de arquitetura e urbanismo e tive contato com a revista através do escritório que estou estagiando. Achei a revista bastante interessante por nos deixar informada das novidades que acontecem em nosso estado. Suzienne Martins Estudante - João Pessoa/PB

Sou estudante do penúltimo período do curso de Design de Interiores do Cefet-PB e gostaria de receber a revista Artestudio, porque gosto e admiro o trabalho da mesma, pois com ela, nós estudantes, conhecemos um pouco mais os profissionais paraibanos e as tendências do mercado. Fabianne Azevedo Estudante - João Pessoa/PB Gostei muito do projeto de Samia Raquel (publicado na edição 17 – mar/abr/mai 07), pois deu mais iluminação e vivacidade à sala, deixando um ambiente mais acolhedor com a mudança dos pontos de luz. Hermes da Silva Sobrinho João Pessoa/PB

Sou estudante de Arquitetura e Urbanismo e fiquei muito interessado na revista por ver que ela mostra trabalhos de arquitetos do nosso estado, valorizando assim nossos profissionais. Bruno Mozart Pessoa Diniz Estudante - Campina Grande/PB Registro, com muita alegria, recebimento da revista. Minha eterna gratidão!! Desejo mais e mais sucesso....Parabéns. Viviane Arnaud João Pessoa/PB Sou professora, nas aréas de nutrição, turismo, gastronomia e hotelaria. A revista Artestudio chegou em minhas mãos através de um aluno para que eu conhecesse a matéria da Pousada Aruanã. em que eles trabalhavam e que tinha como proprietários alunos meus. E eu li a matéria num mix de felicidade e deslumbramento. Mas a revista ainda me guardava uma grata surpresa, a matéria sobre Arquitetura Social. Vocês estão de parabéns pela divulgação deste trabalho brilhante da Patrícia Gigliola e orientação do professor Normando Perazzo, mas principalmente porque o trabalho respeitou a cultura, os modos de viver do homem.No momento em que se discute a questão ambiental e a relação do homem com o meio ambiente, vocês apresentaram um trabalho que respeitou a questão ambiental tendo como foco central o homem e monstrando este homem com participação efetiva nas decisões a seu respeito. Estão todos de parabéns como eu também por ter tido acesso a este material. Linda Susan de Almeida Araújo Professora - João Pessoa/PB

Ficamos felizes em vocês estarem tendo acesso à revista, além dela estar sendo uma boa fonte de leitura. A Artestudio é distribuída gratuitamente a arquitetos. O cadastro pode ser feito em nosso site www.artestudiorevista.com.br. A editoria

Contatos Entre em contato conosco e tenha em sua casa, loja ou escritório a nossa revista. .artestudiorevista.com.br ou no nosso endereço: RR.. TTertuliano ertuliano Acesse o site: www www.artestudiorevista.com.br de Brito, 338 B 13 de Maio • João Pessoa,PB • CEP 58.025-000

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Márcia Barreiros

(83) 9921.9231 Rogério Barros

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Vão Livre

A arquitetura como instrumento de inclusão social Sandra Perito Prof Dra Arquiteta e Urbanista Diretora-Presidente do Instituto Brasil Acessível

Os progressos da medicina têm permitido que cada vez mais pessoas tenham a vida prolongada, acarretando uma profunda mudança no perfil demográfico da sociedade brasileira: pessoas idosas representam, hoje, uma significativa parcela da população. Todavia, mesmo com todo o desenvolvimento tecnológico, dificilmente se poderá acabar com todas as disfunções orgânicas decorrentes do envelhecimento. Com o avançar da idade, o tempo de permanência e uso da habitação tornam-se cada vez mais intensos ao mesmo tempo, as pessoas mais velhas continuam tendo a necessidade de participar em convívio social a que estão habituadas. Seu isolamento, sob qualquer ótica, é pernicioso, sendo responsável, muitas vezes, por quadros de depressão, desesperança e dependência facilmente verificáveis em núcleos destinados a abrigar idosos. O desejo máximo do brasileiro está na aquisição da casa própria, bem maior que as pessoas almejam e, na grande parte dos casos, o de maior valor que adquirem ao longo da vida. Em vista disso, é o bem que requer mais tempo e esforço para ser adquirido e, portanto, a satisfação com esse “produto” deveria ser total. Porém, não é assim que acontece, na grande maioria das vezes essa aquisição é baseada no custo, ficando os aspectos de qualidade, durabilidade, adequabilidade e conforto relegados a segundo plano. É característica do brasileiro considerar a casa para a vida toda, principalmente entre os idosos, que têm pouca opção de mudança. A idade avançada traz consigo um vínculo muito forte com a moradia, principalmente quando não se tem perspectiva de aquisição de outro imóvel. No Brasil, país com sérios problemas de distribuição de renda, a maioria da população tem baixos rendimentos, o que gera uma violência urbana bastante acentuada. As classes sociais mais baixas são as maiores vítimas dessa violência que, muitas vezes, resulta em limitações físicas graves, principalmente nos adolescentes e jovens adultos. Também as classes menos favorecidas têm baixíssima mobilidade residencial e, após a conquista da casa própria, se ela ocorre, é nela que viverão o resto da vida, quaisquer que sejam as circunstâncias. As políticas nacionais de financiamento de moradia, geralmente de longos prazos e com contratos de difícil transferência, também influenciam na permanência prolongada na mesma habitação, fixando os indivíduos aos imóveis por muitos anos. A habitação, nos moldes tradicionais, não considera as alterações que podem ocorrer ao longo da vida do homem, o que pode

gerar um descompasso no seu uso. Projetos habitacionais geralmente não abordam, de forma sistemática, o uso futuro pelos moradores. A estrutura da sociedade é um fluxo em constante mudança. O que se espera de uma casa hoje é diferente do que se esperava há cinqüenta anos. Atualmente as pessoas buscam maior flexibilidade e capacidade do ambiente em adaptar-se às condições que se alteram, como uma mudança na estrutura familiar, uma deficiência temporária ou permanente, uma limitação do usuário do ambiente construído. O crescente déficit habitacional brasileiro é uma realidade indiscutível bem como o envelhecimento da população. É necessário que os órgãos competentes continuem fomentando e aprimorando soluções e leis habitacionais, mas é também indispensável que a classe técnica não se omita no sentido de propor soluções adequadas, dignas e economicamente viáveis para as moradias, considerando todo o ciclo de vida dos usuários. Os novos programas habitacionais devem se adequar a essa nova realidade. Uma arquitetura inclusiva garante ambientes apropriados, não só para idosos ou pessoas portadoras de deficiência, mas para todos. Quando se planeja um empreendimento, a questão do custo da construção é inevitável. Todavia, projetar incorporando características universais ou adaptáveis ao conceito de projeto, desde o início, normalmente gera pouco custo adicional à obra, por permitir que especificidades sejam adicionadas apenas quando necessárias. Além disso, todos os custos devem ser considerados: econômicos, estéticos, funcionais e humanos, além do custo social de se ignorar grande e importante parcela da população, os baixa renda e os idosos. Os projetos de habitação devem caminhar em direção a uma arquitetura universal, preocupada com o futuro e o bem-estar do usuário, e que se adapte às mudanças decorrentes do passar dos anos. Se aplicadas desde projeto, a acessibilidade e a adaptabilidade não serão escondidas e nem caras, e seus aspectos estarão fundidos no conceito arquitetônico do edifício. Projetos residenciais adaptáveis, que considerem as mudanças fisiológicas, físicas, sensoriais e psíquicas do homem, em todas as fases da vida, produzem boas soluções ambientais, livres de estereótipos e capazes de aumentar a autonomia e independência do usuário. E os arquitetos devem estar atentos à sua responsabilidade social, propondo edificações que considerem a diversidade humana e que garantam melhor qualidade de vida a todas as pessoas. Texto publicado no site Academia de Engenharia e Arquitetura (www.aeacursos.com.br) As cartas e e-mails para essa seção devem ser encaminhadas com o nome completo, profissão, endereço e telefone do remetente para o endereço j o r n a l i s m o @ a r t e s t u d i o r e v i s t a . c o m . b r




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