Revista AE 09

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Ano II Nº 9

Mar/Abr/Maio 2005 www.artestudiorevista.com.br

Traços simples e linhas marcantes Jogo compositivo de marquises e aberturas valorizam projeto arquitetônico de clínica

Místico e Harmônico

História Ameaçada

Interiores e exteriores ganham equilíbrio e harmonia com as técnicas do Feng Shui adaptadas aos projetos arquitetônicos

Ministério Ministério Público Público compra compra a a briga briga contra contra abandono abandono do do Centro Centro Histórico. Histórico. É Éa a luta luta pela pela preservação preservação da da memória memória da da cidade. cidade.

Márcia Barreiros foge do convencional e dá tom moderno ao espaço do quarto Adriana Prado e Ângela Cunha alertam para a democratização dos espaços urbanos Patrícia Totaro cria ambiente agradável e estimulante para academia de ginástica




sumário

editorial

O tempo voa.... O tempo está voando. Tudo parece correr na velocidade da luz, sem intenção de dar tréguas para a ociosidade. Parece que foi ontem que comemoramos o dia do Arquiteto e o aniversário da revista Artestudio, mas já se vão três meses e temos em mãos uma edição novinha em que trazemos a cobertura fotográfica da festa em mais de três páginas. Pois é, preparamos um Painel especial para que não fique de fora nenhum detalhe do evento que contou com a presença de arquitetos, proprietários de lojas, jornalistas, políticos e da sociedade em geral. Na capa deste número, trazemos um projeto bonito de uma clínica especializada em dermatologia e tratamento de lesões esportivas de autoria dos arquitetos Antônio Cláudio Massa e Ernani Henrique Júnior. Utilizando linhas marcantes e elementos simples, eles traduziram na edificação o conceito do ambiente destinado aos cuidados com o corpo. Simplicidade, também vamos encontrar no projeto da academia, que, apesar de instalada dentro do maior shopping center de João Pessoa, não apresenta ostentação desnecessária, ao contrário, praticidade e bem estar são as palavras de ordem. Falando nisso, uma das matérias especiais dessa edição é sobre Feng Shui, essa técnica milenar chinesa que até hoje impressiona pela capacidade de harmonizar ambientes tornando-os gostosos de conviver. A outra especial é um grito de alerta à degradação do nosso Centro Histórico. O problema é tão grave que o Ministério Público Federal resolveu levantar a bandeira e “forçar” um ajustamento de conduta para salvar as casas que estão sendo destruídas pela falta de ação dos proprietários. Por fim, o material da vez é o vidro, essa vedete dos projetos modernos que serve de curinga para muitos problemas, além de dar beleza às edificações. Muita coisa boa espera você na sua nova Artestudio. Então, não perca tempo, aproveite cada informação e tire o máximo proveito. Até a próxima!

capa Traços simples e marcantes embelezam o projeto da clínica de dermatologia e tratamento de lesões esportivas

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A editoria

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entrevista As arquitetas Adriana Prado e Ângela Cunha vêm defendendo a idéia de democratizar os espaços, através da acessibilidade

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internacional O artista Harris Kodosphyris apresenta sua produção atual, com instalações denominadas Think Tank ou Adorno in Love,

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interiores O projeto da academia Prodígio proporcionou um ambiente agradável, como um ponto de encontro de amigos

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reportagem Proprietários de imóveis localizados no Centro Histórico de João Pessoa terão que cuidar das suas edificações

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Os segredos da arte milenar chinesa do Feng Shui para harmonizar os ambientes internos e externos

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O vidro é elemento fundamental em projetos de arquitetura e decoração, principalmente por ser multifuncional

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especial

materiais



entrevista

“Os espaços urbanos têm que ser democráticos” Adriana Prado e Ângela Cunha Arquitetas Em um momento em que a palavra de ordem é a inclusão social, vem se disseminando também a idéia do desenho universal como forma de eliminar as barreiras arquitetônicas e de acessibilidade. Buracos, desníveis, raízes de árvores, carros estacionados, camelôs, orelhões e caixas de correio colocadas irregularmente, além de projetos de arquitetura mal estruturados, são verdadeiros obstáculos para o passeio público na maioria das cidades. Para as pessoas portadoras de deficiência física ou visual e para os idosos, isso é ainda mais desgastante. “O arquiteto tem a responsabilidade de conhecer as normas de acessibilidade e entender o espaço que irá projetar. Levar em conta a acessibilidade nada mais é do que fazer com os espaços urbanos se tornem democráticos”, 06

ressalta a arquiteta e urbanista paulista, Adriana Almeida Prado, especialista em projetos de acessibilidade, coordenadora da Comissão da Revisão da NBR 9050 do Comitê Brasileiro de Acessibilidade, consultora da Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência e Membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Adriana esteve em João Pessoa no início do mês de março para ministrar um curso sobre Acessibilidade, para arquitetos e estudantes. Na ocasião, juntamente com a arquiteta Ângela Carneiro da Cunha, coordenadora da Campanha Fácil Acesso Para Todos, de Pernambuco e do Programa de Acessibilidade do Crea/PE, concedeu a entrevista a seguir para a revista Artestudio.


AE: E os profissionais paraibanos, como têm se mostrado diante desta questão? Ângela: No ano passado, foi lançada essa campanha para a criação do Programa de Acessibilidade, em João Pessoa. Mas não foi adiante. Esse ano o tema voltou a ser discutido na universidade, e muitos professores já têm se mostrado atentos à questão. Já há muitos trabalhos desenvolvidos, mas ainda falta vontade política e a implantação da Comissão de Acessibilidade dos municípios.

AE: Garantir essa acessibilidade onera muito a obra? Adriana: Quase nada para um benefício tão grande. Esse custo varia entre 0,5% a 1% do valor da obra. Temos que lembrar que nossa população está envelhecendo e que se as cidades não se adaptarem a essa realidade, inúmeras pessoas vão ficar de fora desses espaços. Nós arquitetos temos que preparar os espaços para que essas pessoas não fiquem presas dentro de casa. A acessibilidade não é direcionada a apenas quem tem deficiência física ou visual, mas também ao idoso e as pessoas em geral. Por isso, temos que fazer com que os espaços urbanos se tornem democráticos. AE: Mesmo quem não tem deficiência física ou visual, e não é idoso, muitas vezes tem dificuldade em caminhar pela cidade, não é mesmo? Adriana: Hoje em dia, as cidades são feitas para os carros. As vias de pedestre não têm a menor importância. Agora qual a porcentagem de moradores de João Pessoa que possui carro? O acesso para os transportes coletivos também é muito falho. Por isso, o arquiteto e o engenheiro precisam entender o espaço para poder trabalhar nele. Ângela: A idéia principal da acessibilidade seria, portanto, respeitar as diferenças e aceitá-las.

Divulgação

AE: O que observamos é que nem em projetos particulares, como condomínios residenciais, tem se levado em conta a acessibilidade. Essa iniciativa tem que partir de onde? Adriana: O cliente não tem a obrigação de saber o conceito de acessibilidade. Mas o arquiteto tem a obrigação de se informar. Ele tem a responsabilidade de conhecer as normas. Se o cliente bater o pé e disser que não quer seguir as normas, o arquiteto tem que pedir que ele faça isso por escrito, senão o profissional pode ser responsabilizado. Ângela: Estamos buscando sensibilizar os CREAs sobre essa questão. O conselho não tem a função de fazer, mas sim de apoiar os técnicos dos municípios. Temos que garantir também que os projetos sejam aprovados pela Prefeitura e que esta esteja ciente das normas.

“Hoje em dia as cidades são feitas para os carros. O pedestre não tem a menor importância” Adriana Divulgação

AE: Os arquitetos estão informados sobre as normas de acessibilidade e preparados para desenvolver esses projetos? Adriana: Esses conceitos ainda são muito novos. Mas, em geral, as universidades não formam arquitetos com essa visão. São Paulo começou a abrir as portas para essa questão, na década de 90, Pernambuco tem tido um grande avanço e tenho notado que o Nordeste tem se mostrado mais preocupado com a acessibilidade. Nos últimos anos houve um boom de discussões sobre esse tema, mas ainda há muito a ser feito. Infelizmente, a escola ainda não ensina o arquiteto a fazer projetos que considerem a acessibilidade. Ângela: Os profissionais de Recife e Olinda, par ticularmente, estão bastante preocupados com esse problema. Temos acirrado o trabalho com as prefeituras e conscientizado a população que ela tem direito a esse espaço democrático. Esse trabalho social, de conscientização, é, inclusive, uma das funções do CREA (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura). Ou seja, mostrar o que é a acessibilidade e garantir o direito de ir e vir do cidadão. Estamos sensibilizando também os profissionais e os estudantes de arquitetura. Nosso trabalho começou no ano 2000 e sempre contamos com a consultoria da Adriana Prado, uma das arquitetas pioneiras nesse tema. Em Recife, já temos, por exemplo, uma legislação específica para as calçadas.

“A acessibilidade é uma forma de garantir o direito de ir e vir do cidadão” Ângela

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internacional

Adorno

in Love

Harris Kondosphyris é conhecido do público brasileiro por sua participação na última Bienal de São Paulo com a instalação “Atenas/Pequing”. Esta obra interdisciplinar acompanhada de um poema, som e odor tratava dos movimentos de migração e conseqüentemente das alterações culturais ocorridas pelo intercâmbio cultural. Estamos em um processo constante de mutação causado por mudanças voluntárias ou involuntárias, desta forma as fronteiras se tornam flexíveis. Restamnos interrogações sobre a identidade cultural do mundo contemporâneo. Estes e outros preceitos do gênero serviram como ponto de partida para esta obra, a qual obteve muito sucesso diante ao público e imprensa brasileira por coincidir com a realidade de nosso país. A obra possuia um grande apelo visual através do desdobramento espacial de um objeto arquitetônico acompanhado de uma parede metálica composta de silhuetas de migrantes, estes esculpidos sobre o metal como cicatrizes que marcam o corpo humano. Os espectadores passam a fazer parte deste mosaico através de sua projeção nesta superfície. “Think Tank ou Adorno in Love” é a produção atual de Harris Kondosphyris apresentada na Galerie 3 em Atenas até o dia 15 de março. Esta obra é uma instalação de duas partes composta de impressão e pintura sobre espelho. Assim como em “Atenas/Pequing” esta obra tem um caráter interativo pela projeção da imagem do visitante em sua superfície, aqui porém não se trata da representação de um movimento de massa, mas

Nova instalação de Harris Kondosphyris - participação oficial da Grécia na 26º Bienal de São Paulo Divulgação

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Divulgação

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sim de uma cena íntima e introspectiva. Uma das imagens é o auto-retrato do filósofo Adorno, um exemplo de alienação pessoal. Esta cena é complementada por uma segunda na qual se vê um casal em sua intimidade, após terem relação sexual. As duas imagens se sobrepõem sobre a superfície de espelho. Esta extensão de situações distintas é compatível com a realidade urbana em Atenas. As ruas estreitas aproximam as moradias – os prédios passam a ser uma extensão frontal das prédios vizinhos, a vida privada se torna comunitária. A instalação é acompanhada por uma composição sonora de Manos Kornelakis, o qual apresenta uma sinfonia urbana repleta de experiências acústicas contemporâneas. Em “Adorno in Love” Adorno é deparado inusitadamente com o casal, como um voyeur ele contempla a cena íntima, não há interação das imagens, elas permanecem autônomas. O confronto poderia ser expressado por: “Não pense. Observe!”. A cultura visual é repleta de símbolos subjetivos oriundos do cotidiano. Atos privados, pensamentos e atitudes se tornam públicos. Muitas vezes até a própria vida do artista com seus fundamentos culturais passa a ser exposta. Este é o caso de “Adorno in Love” - não somente um auto-retrato de Adorno, mas também do próprio artista Harris Kondosphyris se tornam públicos.

Tereza de Arruda Jornalista e Curadora de Arte



interiores

Culto à

boa forma Além de querer manter a forma física e a saúde, quem freqüenta uma academia deseja também ter mais um ponto de encontro com os amigos. Assim, este tem que ser um ambiente agradável, além de tecnicamente bem resolvido e adequado. Um projeto de arquitetura de interiores bem pensado é um primeiro passo para alcançar esses objetivos. Foi pensando nessas questões que a segunda unidade da Prodígio Academia em João Pessoa foi projetada pela arquiteta paulista Patrícia Totaro, uma especialista em projetos voltados às academias de ginástica no Brasil. Patrícia está há dez anos no mercado e reúne em seu currículo mais de 40 projetos desenvolvidos para academias de ginástica no país e na América Latina. “Uma academia tem que ser um espaço funcional e bonito, com fluxo fácil, com ambiente agradável e estimulante”, disse Patrícia à revista Artestudio, quando esteve em João Pessoa para a inauguração da academia. O projeto da Prodígio valorizou uma praça, no centro da academia, para qual todos os ambientes estão voltados. “A praça é justamente o local para se fazer amigos, descansar, sentar e assistir TV”, completa a arquiteta. É um espaço de convivência, onde há também dois cybers cafés e uma lanchonete com orientação nutricional. O uso intenso de vidro também reforça essa sensação de integração e amplitude. Alguns vidros chegam a ter um pé direito de 3,20 metros. Na entrada da academia, um belo jardim para humanizar o projeto, e um grande espaço disponível para a chegada de novos alunos, negociações de planos e informações sobre o local. Foi inserido

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também no projeto um espaço reservado para as crianças filhos dos alunos - poderem se distrair, o chamado “baby care”, enquanto os pais delas malham. A área de ergometria também foi bastante valorizada, podendo abrigar até 50 aparelhos cardiovasculares. Foram projetadas duas salas de ginásticas, separadas por jogos de luzes e salade bike, com elevação e som hi-tec. Os vestiários são amplos, confortáveis e climatizados, reunindo em torno de 18 chuveiros. Além disso, todos os serviços da academia são informatizados, do acesso à programação das atividades fisicas. Cores For tes Nas paredes, móveis e objetos, o uso das cores fortes e estimulantes, como o azul, o vermelho e o verde limão, que, segundo Patrícia, é a cor da moda, além de ser luminosa. Essa questão da luminosidade é, inclusive, outro item importante para uma academia. “Usamos luzes especiais, que economizam energia e deixam o ambiente clean”, diz. O ar condicionado também é programado para economizar energia e é renovado várias vezes durante o dia, para garantir um ar puro. Além das cores, outro recurso utilizado no projeto para estimular os exercícios são fotografias de atletas pelas paredes da academia, grandes figuras geométricas circulares e um

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Espaço tem que surpreender Antenada no constante crescimento da indústria fitness, que, segundo a Associação Brasileira de Academias, cresceu em torno de 30% em 2004, Patrícia Totaro passou a direcionar sua carreira para esse tipo de estabelecimento, usando a máxima de “além de bonito, tudo tem que ser funcional”. Segundo ela, o espaço tem que estar adequado à realidade do local, porém deve surpreender. Na Prodígio, por exemplo, a arquiteta tinha que projetar um ambiente com 1.350 m², que seria utilizado por cerca de 1.500 alunos, classe A. A criatividade é, por tanto, a ferramenta principal da arquiteta. Com ela, Patrícia e sua equipe procuraram minimizar os custos e obter o impacto esperado na criação de novos conceitos visuais de uma marca já existente.

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Arquiteta

Patrícia Totaro Projeto: Academia Prodígio Local: Manaíra Shopping João Pessoa - PB


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reportagem

Conservação do

Centro Histórico

O Ministério Público Federal na Paraíba está investigando a situação de imóveis tombados no Centro Histórico de João Pessoa, que se encontram em estado de conser vação precário. Alguns dos imóveis em pior estado, correndo risco de desabamento, encontramse na rua João Suassuna, no Bairro do Varadouro. No último dia 10 de março, o Procurador Duciran Farena realizou reunião com os proprietários, esclarecendo-os sobre a sua responsabilidade pela manutenção dos prédios, integrantes do conjunto histórico da Capital Paraibana. Segundo levantamento fornecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (Iphaep), no qual foram avaliados 51 prédios tombados no Centro Histórico, 13 imóveis estão em situação regular, sete em estado ruim e 1 em ruína. A

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Rua João Suassuna foi selecionada pela Procuradoria da República para uma atuação prioritária por concentrar o maior número de prédios em situação crítica. O Procurador da República Duciran Farena considera que a situação do Centro Histórico de João Pessoa é uma das mais graves do Brasil, pela ausência de políticas públicas específicas voltadas para a preservação, nas três esferas de poder. As discussões continuam e a Procuradoria da República irá tentar celebrar um termo de compromisso de ajustamento de conduta, visando a reforma dos imóveis. Estão na discussão o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Iphaep, Prefeitura de João Pessoa e Caixa Econômica Federal, já que esta última possui uma linha de crédito para recuperação do patrimônio histórico.


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Odnaldo Costa

Odnaldo Costa

Visualmente poluído A discussão é antiga. De um lado estão os comerciantes e suas placas de publicidade imensas, coloridas e fora dos padrões. Do outro, a prefeitura, Comissão do Centro Histórico, Ministério Público, IPHAEP e demais entidades interessadas em preservar o patrimônio de João Pessoa. Já foram fixados prazos, feitas ameaças de multas, realizadas fiscalizações... mas, o problema da poluição visual nas ruas do Centro Histórico continua. De acordo com o último levantamento feito pela prefeitura no ano passado, 20% das publicidades da área estavam fora dos padrões de tamanho, cor, letreiro e localização, fixados pela Lei Complementar nº 7, que dispõe sobre a normatização desse tipo de equipamento em ambientes tombados pelo patrimônio histórico.Foi fixado um prazo, alguns cumpriram e outros não, sempre sob a alegação de falta de recursos. O processo de regularização das placas de publicidade no Centro Histórico foi iniciado no ano de 2001, a partir de uma solicitação do Iphaep e da Comissão Permanente do Centro Histórico à prefeitura de João Pessoa de empreender fiscalização sobre a disposição das publicidades. As primeiras atividades nesse sentido foram realizadas em virtude da revitalização da área que começou com a recuperação da Praça Antenor Navarro e da Igreja São Frei Pedro Gonçalves. Na época foi elaborado um Termo de Ajustamento de Conduta, no qual foi firmado o compromisso de mudança das placas obedecendo ao Código de Posturas do Município.

Odnaldo Costa

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Prancheta

Jovem moderno e confortável

Antes

Depois

Antes Depois

Para dar mais personalidade e modernidade ao quarto de uma jovem, a arquiteta Márcia Barreiros teve que fugir do convencional. O ambiente precisava traduzir o estilo de vida da cliente e ter mais espaço para circulação. Como o quarto já era um local onde se recebiam os hóspedes da casa, o desafio da arquiteta foi transformar esse lugar em um ambiente planejado especificamente para a jovem vaidosa, que precisava ter no quarto muito espaço para guarda-roupa e um local para estudo. A cliente pediu ainda uma decoração contemporânea pautada em cores claras, que tivesse um forte apelo visual e com uma leve pitada de cor. A primeira medida foi girar o sentido da cama, mantendo a TV, o som e DVD no mesmo sentido. Assim, o quarto ficou mais espaçoso e a exigência de mais um armário pôde ser atendida e, com isso, foi criado um closet. “A dificuldade principal estava na cama de casal que ocupava todo o quarto e eu não podia eliminá-la, por isso a idéia de mudá-la de sentido”, ressalta Márcia. Para não ter um efeito de fundo de móvel, as costas do guarda-roupa menor foi utilizado com a foto em preto e branco da cliente, adesivada em grande formato, que fica voltada para a área livre do quarto, onde terá um tapete na cor laranja, que se destaca no ambiente branco, dando o toque de cor pedido. Complementando a ambientação, foi utilizado o vidro, para dar uma maior leveza ao ambiente, junto com o aço inox. O resultado será um ambiente totalmente diferente do que existia, com mais personalidade, mas simples e moderno.

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Arquiteta

Márcia Barreiros

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Projeto: Quarto de Jovem Local: João Pessoa - PB Maq. eletr.: Clayton Castro


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projeto da capa

Arquitetura

marcante

A utilização de elementos arquitetônicos simples, mas com linhas marcantes, teve como resultado um espaço de extrema beleza, organização e aproveitamento, inclusive dos pontos negativos do terreno, como um grande desnível. Para projetar uma clínica especializada em serviços de dermatologia e no tratamento de lesões esportivas, os arquitetos Antônio Cláudio Massa e Ernani Henrique Júnior, adotaram uma arquitetura marcante, que valorizou o espaço e destacou um jogo compositivo de marquises, aberturas e variação de pé direito. Antes de iniciar o projeto, os arquitetos tiveram que fazer um estudo de viabilidade do terreno, pois o desnível chegava a um pavimento e não era interessante para a clínica ter mais

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de um andar, já que se trata também de um centro de apoio ao atleta. “A solução encontrada foi fazer um meio subsolo, no qual na parte de baixo foi abrigado um estacionamento e, em cima, os consultórios e salas comerciais”, explicou Antônio Cláudio. Os 640 m² de área construída foram organizados em três setores (recepção/público, consultórios e ser viços), interligados internamente por uma galeria central e, externamente, por uma rampa curva, que envolve o jardim e dá acesso ao estacionamento. Essa rampa também dá proteção a quem estaciona no meio subsolo. Por se tratar de um centro de tratamento da saúde, o projeto arquitetônico tinha que levar em consideração a iluminação e a climatação


natural, apesar de haver ar condicionado nos consul-tórios. “A iluminação é impor-tantíssima nesse tipo de edificação, por isso, proje-tamos a galeria central, onde há toda a circulação interna, com ventilação e luz naturais”, acrescenta Antônio Cláudio. “No entanto, estamos em uma cidade com luz excessiva, o que também não é interessante. Com isso, fizemos um jogo de abertura e proteções, utilizando marquizes e alturas diferentes”, completou o arquiteto. A fachada da clínica é um dos elementos que mais chama a atenção de quem passa pela avenida Rui Carneiro. “A primeira idéia era fazer a fachada em bloco único, mas o jogo de alturas, devido ao desnível do terreno, dinamizou a obra”, afirma Antônio Cláudio. O belo jardim, concebido também em mais de um nível, contribui para que os olhos se voltem para a clínica. Os materiais empregados agregaram ainda mais valor à edificação. Além da estrutura de concreto e a alvenaria branca, foi utilizado em todo o piso o porce-lanto e mármore Boticino, e es-quadrias de alumínio e vidro. Arquitetos

Antonio Cláudio Massa Ernani Henrique Júnior Projeto: Clínica Médica Local: João Pessoa - PB

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divulgação

especial

Toda intuição do

Feng Shui O princípio básico é melhorar sua espiritualidade, prosperidade, relacionamentos, sucesso, criatividade, trabalho, amor, amizades, energia, família: equilibrar sua vida Não tem palavra que melhor traduza o sentido desta filosofia milenar chinesa que harmonia. Na tradução do chinês, Feng significa vento ou ar; Shui significa água: o vento representa a energia invisível que pode ser sentida, mas não detida; a água é a energia visível que se pode direcionar. Tomando esses dois elementos como base, o principal objetivo do Feng Shui é promover a boa circulação de energia através da utilização de todos os elementos da natureza. Totalmente intuitiva essa filosofia é perfeitamente aplicável aos projetos arquitetônicos, até porque, hoje em dia, o Feng Shui é um estudo multi-disciplinar que engloba além de arquitetura, planejamento urbano, geografia, astrologia, eletromagnetismo, design paisagístico, psicologia ambiental e muitos outros aspectos da vida.

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Detalhes fora da casa Os profissionais recomendam que antes de fazer uma análise de Feng Shui, sejam observados os espaços externos e internos. Assim, é importante ver a localização da casa ou apartamento, a forma da construção, cores, porta de entrada, vizinhança... Algumas recomendações são elementares como por exemplo: não é recomendável que a construção esteja no final de uma rua, principalmente se ela for sem saída ou no final de uma junção em T. Isso empata a circulação da energia e pode provocar desequilíbrio. Com relação à vizinhança, o ideal é que existam construções dos dois lados, de preferência de altura próxima a de nossa casa ou apartamento. Isso significa proteção. Também muito importante é o caminho que nos leva à porta de entrada principal. Esta deve ser fácil de encontrar, assim como o número da residência. Árvores ao redor da casa são bem-vindas, pois é um sinal de vida e equilíbrio. Na hora de escolher a cor para a fachada, são recomendadas as vibrantes e quentes para construções em locais escondidos ou menos privilegiados. No caso de construções expostas, o ideal é optar por cores mais discretas.


Atenção aos pontos de equilíbrio colocar sofás, cadeiras e outros locais de descanso ou trabalho nesta direção. No caso das luminárias e lustres, o ideal é usar os spots embutidos ou os lustres arredondados e não pendentes no teto. Uma “má’ iluminação divulgação

Dentro do ambiente, devem ser observados o que chamamos pontos de desequilíbrio de energia. Estes podem ser entendidos como “setas” ou “flechas” de linhas de energia negativa. Algumas dicas são essenciais a serem seguidas: é necessário evitar casas que formem com o muro ou paredes da casa vizinha, uma quina que aponta para a própria casa. A dica vale também para postes de luz ou árvores em frente à residência. Os cantos das paredes internas deveriam formar apenas quinas “para dentro” e não “para fora”. Isso é, quando as paredes da casa formam uma quina em forma de V, na verdade, está sendo formada uma “flecha”. Segundo os especialistas, é bom observar para onde esta linha ou seta esta apontando, e evitar

pode ser a causa de “flechas” superiores, o que não é bom para os que circulam embaixo. O mesmo vale na hora de dormir. A recomendação é que acima da cabeça de quem está deitado na cama não deve haver nada para haver um correto e melhor fluxo de energia.

Dicas Coloque em sua casa, a representação de cada um dos cinco elementos usados no Feng Shui, que são: Fogo, Terra, Metal, Água e Madeira. Faça com que sua casa esteja sempre em boas condições de pintura, sem goteiras nem lâmpadas queimadas. Mantenha as janelas limpas e as vidraças inteiras. A primeira coisa que se faz quando se quer adaptar a casa ao estilo Feng Shui, é desfazer-se do que não tem utilidade na sua casa, ou que você não precisa. Retire tudo que impeça a visão da entrada da sua casa, como por exemplo, árvores ou plantas muito grandes que ficam na frente da sua porta. Retire os móveis em excesso da sala de jantar. Deixe que haja liberdade de movimento para quem circula ou para quem está à mesa. Use várias cores na sua casa. Se você tiver o chão, as paredes e o teto da mesma cor, torna-se um ambiente frio. Nos lugares onde se senta para conversar, use objetos de cores vibrantes, como o vermelho, amarelo ou roxo. 21


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materiais O vidro é, atualmente, parte integrante e fundamental de um projeto arquitetônico. Faz parte da estética e tem forte influência no conforto, na economia e na segurança de qualquer edifício

Vidro elemento multifuncional Para satisfazer as exigências do mercado, o vidro ganhou novas funções e se tornou peça fundamental para projetos de arquitetura e decoração. É um material nobre por excelência e a atração que exerce sobre as pessoas se dá tanto pelas funções naturais, como pela sua beleza, que o levou a fazer parte tanto da arquitetura, quanto da arte. Símbolo de modernidade arquitetônica desde o século XIX, o vidro é igualmente um material tecnologicamente avançado, funcional e refinado, podendo tirar par tido das suas qualidades de transparência de forma discreta ou plena. “A indústria do vidro utiliza uma tecnologia de ponta. Nos últimos anos houve uma evolução muito grande desse material, dando inúmeras possibilidades aos arquitetos”, ressalta a arquiteta Sandra Moura. Com sua imagem de aparente fragilidade, o vidro foi durante muito

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tempo um mero coadjuvante na tarefa de proteger os ambientes e permitir a visibilidade para o exterior. Mas nas últimas décadas, houve um grande desenvolvimento das aplicações do vidro para segurança, controle solar, isolamento acústico, arquitetura e decoração, inclusive como elemento estrutural, com aplicações inovadoras em pilares, vigas e pisos de vidro. Uma das grandes tendências da arquitetura é a utilização do vidro em diversos ambientes, possibilitando uma visão privilegiada do exterior. O vidro, enquanto supor te de transparência, pode ser utilizado também para fins decorativos e estruturais. Além dessas funções, há ainda as inovações tecnológicas, como os vidros cursos, duplos, com cristal líquido, dentre outros. Os arquitetos dedicam-se à exploração desta característica para produzir envolventes fachadas de vidro, explorando suas tonalidades e efeitos, no uso dos vidros de tipo: impresso, ou translúcido, serigrafado, de cristal líquido, entre outros.


Opções específicas para cada uso Impresso É um vidro translúcido que recebe em uma ou ambas as faces, a impressão de um desenho (padrão ou estampa). É um produto muito versátil, podendo ser utilizado monolítico, temperado, curvado, espelhado e laminado. Podem ser utilizados na construção civil em janelas, portas e coberturas; na decoração de interiores em divisórias, pisos, degraus de escadas. Refletivo São vidros que recebem óxidos metálicos, com a finalidade de refletir os raios solares, reduzindo a entrada de calor, proporcionando ambientes mais confortáveis e economia de energia com aparelhos de ar condicionado. A privacidade dos vidros refletivos está diretamente ligada à quantidade de luz do ambiente. Estando em um ambiente mais iluminado, é possível ver a reflexão da imagem, como se fosse um espelho. Temperado São vidros que são submetidos a um processo de aquecimento e resfriamento rápido, tornandoo bem mais resistente à quebra por impacto. Apresenta uma resistência cerca de 4 vezes maior que o vidro comum.

Laminado É constituído por duas chapas de vidro intercaladas por um plástico chamado Polivinil Butiral (PVB). A principal característica desse vidro, é que em caso de quebra, os cacos ficam presos ao PVB, reduzindo o risco de ferimento às pessoas e também o atravessamento de objetos. Aramado É composto por uma tela metálica que oferece maior resistência a perfuração e proteção, pois, em caso de quebra, os cacos ficam presos na tela diminuindo o risco de ferimentos. É translúcido, proporcionando privacidade e estética ao seu projeto, ampliando o conceito de iluminação com segurança e requinte. Recomendado para múltiplo uso em coberturas, portas, sacadas, pergolados. Duplo com cristal líquido É um vidro laminado, composto por duas chapas de vidro, incolor ou colorido, entre os quais é colocado um filme de cristais líquidos em um campo elétrico. Quando este campo é ativado, os cristais líquidos se alinham, tornando o vidro transparente.

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painel A Empório da Luz realizou no final do ano passado ano, no Versailles Recepções, uma big festa em comemoração ao dia do arquiteto. A arquiteta pernambucana Cláudia Torres abrilhantou o evento com uma palestra sobre iluminação. A festa teve ainda sorteios e entrega dos prêmios aos ganhadores da campanha Parceria Premiada 2004. O 1° lugar foi para Katiana Guimarães, o 2° lugar para Dayse Cunha e o 3° lugar para Ana Sybelle, além da menção honrosa para Jonas Lourenço e Adriana Leal.

01 01. Palestrante Cláudia Torres. 02. Katiana Guimarães e Daniel Muniz. 03. Daniel Muniz e Adriana Leal. 04. Alain Moszkowicz. 05. Ana Sybelle, Dayse Cunha e Expedito Arruda. 06. Carmem Lúcia e Silvana Chaves. 07. Flávio Melo, Maria Raquel e Percival Brito. 08. José Mário e Valéria Bringel. 09. Henrique Santiago, Jonas Lourenço, Jô Cortez, Valéria Von Boldring e Andréa Araújo. 10. Gilma Fernandes, Mariana Fernandes, Márcia Barreiros e Paulo Peregrino. 11. Sérgio Lins e Gianna Barreto. 12. Daniel Muniz e Germana Leal.

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10 13. Débora Pires e Tereza Queiroga. 14. Rosanie Oliveira e Janine Holmes. 15. Carmem Raquel, Fábio Galiza, Débora Julinda, Daniel Muniz, Roberto Honorato e Lisiane Claudino. 16. Larissa Vinagre e Daniel Muniz.

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painel A Revista Ar testudio comemorou mais um ano de publicação, no último dia 10 de dezembro. Para engrandecer a comemoração, convidou arquitetos e parceiros para um coquetel na Elegance Recepções. Na ocasião, foi lançado o site da revista, comemorado o Dia do Arquiteto e feita a premiação anual do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB/PB) para os melhores projetos de 2004. Foram reunidos mais de 160 arquitetos, empresários e jornalistas.

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01. Luciana Oliveira, Socorro e Silva e Márcia Barreiros 02. Viviane Marques e Oliveira Jr 03. Giselane Vieira e Valder Sousa 04. Aglaé Fernandes e Ricardo Coutinho 05. Cristina Evelise, Antonio Cláudio e Amélia Massa 06. Marta Lins e Débora Julinda 07. Douglas Monteiro 08. Germana Rocha e Hélio Costa Lima 09. Fábio Galiza e Márcia Galiza 10. Tibério Andrade e Dayse Lucwü 11. Cristiane Mourato e Gilma Fernandes 12. Daniel Muniz e Manoel Farias

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13. Dayse Cunha e Expedito Arruda 14. Márcia Barreiros e Henrique Santiago 15. Alda Fran Camboin e Rosanie Garcia 16. Carmem Raquel e George Paredes 17. Jô Cortez e Jonas Lourenço 18. Vaughran Cornélio, Luiz Cláudio e Percival Brito 19. Severino Bastos, Vânia Maria, Alisson Vitalino e Cristiane Araújo 20. Alain Moszkowicz, Lana Débora, Helena Almeida e Adjalmir Rocha 21. Marluce Costa 22. Valdelice Campeiro e Sílvia Menezes 23. Fabiana Garro e Fabianna Rodrigues

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PREMIAÇÃO ANUAL DO IAB - PB 2004

1º Lugar - Ricardo Vidal (Arquitetura Institucional) 1º Lugar - Marcos Suassuna (Arquit. Comercial e Serviços) 1º Lugar - Marlon Miná (Categoria Estudante) Menção Honrosa - José Maciel (Categoria Institucional) Menção Honrosa - Sandra Moura (Arquit. Com. e Serviços) Menção Honrosa - Marcus Vinicius (Categoria Estudante) 29


24. Grace Galvão, Carmem Mello, Márcia Barreiros e Sérgio Figueiredo 25. Ana Rolime Hildon Júnior

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26. Rosineide Souza, Sirlene Carvalho e Isabela Fonseca 27. Kiko Cornélio e Janine Rolim 28. Jussara Chianca e Karina Arruda 29. Carlos Viana e Liliane Leão 30. Liana Campelo e Rosanie Oliveira 31. Márcia Barreiros, Renato Félix e Luciana Oliveira. 32. Ricardo Cabral, Lêda Mendonça

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e Emilia Carneiro. 33. Fábio Queiroz e Ricardo Iquine. 34. José Carlos Júnior, Eduardo Cabral e Rachelle Cabral 35. Marcela Falcão, Carlos Virgulino e Valéria Albuquerque 36. Igor Moreira e Rebeka Queiroz 37. Marcela Paiva e Clayton Castro

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38. Leopoldo Teixeira

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39. Lúcia Maria e Samuel Medeiros 40. Nolo Oliveira e Luciana Oliveira 41. João Medrado, Maísa Barreto e Paulo Macedo 42. Débora Pires e Rui Duarte 43. Agnaldo Rodrigues e Fabíola Rodrigues

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Agradecimento especial a Alice Fernandes, responsável pela decoração da festa, e à jornalista Carla Visani, mestre de cerimônia do evento.

44. Socorro e Silva e André Cananea 45. Alessandra Ferro e Paulo Ferro Costa 46. Patrícia Sales e Márcia Barreiros 47. Izabella Carvalho e Eduardo Dantas 48. Walter Dantas e Ana Carolina Siqueira 49. Sandra Tavares, Márcio Leal e Josane Amaral

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vão livre

Assentamentos Espontâneos Marcos Suassuna * Espaço aberto para você, é a nossa proposta com esta coluna. As cartas e e-mails para essa seção devem ser encaminhadas com o nome completo, profissão, endereço e telefone do remetente para o endereço revistaar testudio@yahoo.com.br.

Ao longo dos anos, o número de favelas em João Pessoa vem aumentando. Estima-se que dos 60 bairros da capital, mais de 38 tem favelas. Segundo dados da prefeitura, 101 áreas com características de assentamentos espontâneos abrigam uma população de 121,8 mil pessoas. O crescimento da cidade “informal”, como chamam os especialistas, além de ser ilegal, necessitando de uma reforma fundiária urbana, é alarmantemente impactante ao meio ambiente. Esses assentamentos, cujos moradores não possuem conhecimento técnico e muito mesmo ambiental, são responsáveis ainda pela contaminação dos recursos hídricos devido ao lançamento de lixo e esgotos nos rios, que, por sua vez, contribuem para se alastrarem os casos de doenças vinculadas à água poluída, pelo agravamento de assoreamento dos cursos d’água, decorrentes de desmata-mentos das matas ciliares, e por desmoronamentos com mortes pela implantação dos barracos nas encostas em áreas de risco. Além do Plano Diretor da Cidade não ser cumprido, outro aspecto bastante criticado por professores universitários, movimento Promoradia, arquitetos, urbanistas, geógrafos, entre outros setores da sociedade que pensam sobre a questão urbana, é que o recurso legal da Outorga Onerosa, previsto em Lei (Estatuto da Cidade Lei nº 10257, Art. 28) não é praticado pela prefeitura municipal de João Pessoa, o que se acontecesse, as contrapartidas advindas do setor imobiliário poderiam ser direcionadas para financiar obras de urbanização em áreas carentes da cidade, como as favelas, por exemplo. O bairro São José, com mais de 13 mil habitantes, é hoje o assentamento espontâneo mais populoso da

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cidade. Situado numa região nobre, entre os bairros Manaíra e João Agripino, e às margens do rio Jaguaribe, o bairro possui um dos piores indicadores sócioambientais e urbanos da cidade de João Pessoa e do mundo. O Índice de qualidade de Vida Urbana (IQVU) do bairro é de 0,37. O IQVU de Manaíra, seu vizinho, é de 0,798 (o índice máximo é 1) e o Índice de Salubridade Ambiental (ISA) do bairro São José é de 39,19 (apenas acima de 50 é considerado satisfatório). Por trás deste contraste se esconde uma segregação sócio-espacial seguido de problemas de violência urbana, insegurança, desemprego, agressão ambiental e outros males que evidenciam a baixa qualidade de vida não só para os moradores do bairro pobre, como também para toda população circunvizinha. Um estudo realizado pela UFPB/ Prodema, indica caminhos que podem melhorar a qualidade de vida dos moradores do bairro São José e a inevitável melhora do entorno imediato. Foi realizado um plano urbanístico que aponta alernativas projetuais como inclusão social e sustentabilidade ambiental. Neste plano foram definidas três áreas estratégicas, chamadas de áreas catalisadoras das mudanças. Remoção das famílias em áreas de risco, educação ambiental, criação de praças e espaços públicos, centros profissionalizantes, são algumas das medidas contempladas no plano urbanístico, que visa ainda o redesenho e reorganização do território do bairro com participação direta da comunidade. O bairro São José tem o mesmo direito de ser atendido com infraestrutura básica e serviços urbanos decentes que os bairros vizinhos possuem. * Marcos Suassuna é arquiteto e urbanista, defensor da Dissertação de Mestrado “Morfologia Urbana, Qualidade de Vida e Ambiental em Assentamentos Espontâneos: o caso do bairro São José de João Pessoa-PB”


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