Revista AE 54

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Ano XIV - nº 54

www.artestudiorevista.com.br

arquitetura & estilo de vida

HUMANIZAÇÃO

BRILHO

A virada na ambientação dos hospitais

VISUAL

Layout faz diferença em loja de roupas femininas

MAIS ESPAÇO

Joalheria na Austrália se inspira nas pérolas

ROBERT VENTURI

O arquiteto que renegou o modernismo

PAISAGISMO

Bernardo Abbud fala da relação homem-natureza

Um jovem casal buscou amplitude no projeto de uma casa em condomínio fechado + livro entrevista criativos; ambientação de corredores; o encontro entre SPFW e Casa Cor




I

Imagem meramente ilustrativa.


Inspirada no círculo de fogo do Pacífico, a linha INDONESIA reproduz as pedras vulcânicas em diversos formatos e tonalidades, com a praticidade que só o porcelanato oferece. Venha conhecer essa e todas as pedras do mundo na Portobello Shop. Você vai se surpreender.

JOÃO PESSOA

(83) 3244.2610 • Av. Pres. Epitácio Pessoa, 2.302 • Tambauzinho


Ano XIV

SUMÁRIO

Edição 54

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CONHEÇA 20 LIVRO

‘Grandes Criativos’ reúne profissionais em debate sobre a criatividade

28 GRANDES ARQUITETOS

Robert Venturi, o ícone pós-moderno da arquitetura

32 A HISTÓRIA DE

O poder de atração das vitrines

34 AMBIENTAÇÃO

Uma nova vida para o corredor

52 ESPECIAL

A humanização do ambiente hospitalar ajuda aos pacientes e profissionais

72 ACERVO

A Praça da Independência renascida para o pessoense

74 INTERIORES E MODA

A São Paulo Fashion Week homenageou a Casa Cor

76 MATERIAIS

O uso versátil dos móveis de fibra – natural ou sintética

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ARTIGOS VISÃO PANORÂMICA 12

Amélia Panet escreve sobre a importância do verde nas cidades

URBANISMO 14

Raquel Rolnik discute a desvalorização dos velhos centros

VIDA PROFISSIONAL 16

Tom Coelho alerta para a importância de trabalhar dentro da legalidade

VÃO LIVRE 18

Yara Santucci aborda o conceito de “projeto”

PONTO FINAL 80

Um poema de Viviane Mosé

ENTREVISTA ENTREVISTA 22

Benedito Abbud fala sobre paisagismo e a relação do homem com a natureza



68

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PROJETOS LOJA DE ROUPAS 38

Layout da designer Germana Gonçalves diferencia loja em posto de combustíveis

BRILHO 42

Projeto de Erick Carlson para uma joalheria na Austrália busca refletir o brilho das pérolas

ILUMINAÇÃO 56

A luz valorizando os objetos de uma loja pelo lighting designer Daniel Muniz

NOSSA CAPA

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A amplitude de uma casa para um jovem casal em projeto assinado pela arquiteta Leila Azzouz

SOCIEDADE PAINEL 78

A inauguração da Mitri Esquadrias de PVC

Nossa capa Projeto: Leila Azzouz Foto: Vilmar Costa

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arquitetura & estilo de vida ANO XIV- Edição 54

EXPEDIENTE Diretora/ Editora geral - Márcia Barreiros Editor responsável - Renato Félix, DRT/PB 1317 Redatores - Alex lacerda,Débora Cristina, Lidiane Gonçalves e Renato Félix,

Diretora comercial - Márcia Barreiros Projeto gráfico - George Diniz Prod. e diagramação - Welington Costa Fotógrafos desta edição - Diego Carneiro, Vilmar Costa e MB Impressão - Gráfica JB

QUEM SOMOS AE é uma publicação trimestral, com foco em arquitetura, decoração, design, arte e estilo de vida, com tiragem de 8 mil exemplares de distribuição gratuita e dirigida. A reprodução de seus artigos, fotografias e ilustrações requer autorização prévia e só poderá ser feita citando a sua fonte de origem. As colaborações e artigos publicados e fotos de divulgação são de responsabilidade exclusiva de seus autores, não comprometendo a revista, nem seus editores.

ONDE NOS ENCONTRAR Contato : +55 (83) 3021.8308

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www. artestudiorevista. com. br As matérias da versão impressa podem ser lidas, também, no nosso site: www.artestudiorevista.com.br com acesso a mais textos, mais fotos e alguns desenhos de projetos


EDITORIAL

MUDANÇAS As coisas mudam, a maneira que pensamos sobre elas também. Durante muito tempo, a idéia geral de como os hospitais deveriam ser era clara. Mais do que clara: um branco total, radiante. Passava uma sensação de limpeza e inspirava calma, para uma recuperação tranquila do paciente. Começa a não ser bem assim. Com o passar dos anos, essa brancura passou a significar simplesmente “hospital”, um lugar onde ninguém que não trabalhe lá quer permanecer por muito tempo. Assim, os hospitais começaram a buscar um visual novo para deixar seus usuários mais confortáveis: cores e, se possível, uma “cara” de casa. Esse tema é abordado em uma reportagem desta edição da AE: como acontece a humanização da ambientação hospitalar – tanto na rede privada quanto na pública. Tornar-se mais receptiva à população é um processo pelo qual também passou a Praça da Independência, em João Pessoa. Reformada e com nova jardinagem, a protagonista da nossa seção Acervo é um atual local de lazer para o habitante da cidade. Para muita gente, lazer também é simplesmente olhar as vitrines das lojas. E nós abordamos a trajetória desse elemento hoje fundamental para qualquer comerciante na seção A História de. Como você, leitor, certamente tem prazer em olhar as fotos dos projetos que trazemos todo mês.

MÁRCIA BARREIROS editora geral e diretora executiva

Colaboradores desta edição:

Boa leitura! ARTESTUDIO

RENATO FÉLIX editor de jornalismo

WELLINGTON COSTA prod. e diagramador

AMÉLIA PANET arquiteta

GERMANA GONÇALVES designer de interiores

ALEX LACERDA jornalista

DÉBORA CRISTINA jornalista

LIDIANE GONÇALVES jornalista


VISÃO PANORÂMICA

O SENTIDO DO VERDE NAS CIDADES

Fotos: Divulgação

Em teu seio formoso retratas Este céu de puríssimo azul, A verdura sem par destas matas, E o esplendor do Cruzeiro do Sul. ( Hino à Bandeira. Letra de Olavo Bilac)

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ecorrentes do dinâmico e crescente processo de urbanização, as cidades são consideradas pelos urbanistas como estruturas mutáveis. Esse processo de urbanização, representado por necessidades sociais, econômicas e políticas, vem transformando a paisagem dos grandes centros e tornado os espaços livres - reservas de ecossistemas primários, áreas de preservação em bordas de rios e falésias ou vazios a serem arborizados - em espaços cada vez mais escassos. É necessário lamentar esse fato e construir instrumentos urbanísticos eficientes e eficazes, que possam assegurar a existência, crescimento e perpetuação dessas áreas para as futuras gerações. São trágicas as consequências da extinção das

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áreas verdes no contexto urbano. A cada chuva, desmoronamentos e enchentes dão os indícios do esgotamento ambiental por que passam as nossas cidades e João Pessoa não foge desse destino. Para acentuar esse problema, de forma irresponsável, se mudam parâmetros urbanísticos privilegiando empreendimentos imobiliários camuflados de objetivos sociais. Como exemplo, recentemente foi aprovada a Resolução nº 11 do Conselho de Desenvolvimento Urbano da PMJP alterando os usos urbanos, previsto no zoneamento municipal da cidade, em seu Plano Diretor - Lei Complementar nº 054 de 23/12/2008, para permitir a construção verticalizada, de uso R6, de dois condomínios multifamiliares com onze pavimentos e quase mil unidades habitacionais em área ambientalmente frágil, às margens do Rio Jaguaribe, na Av. Ministro José Américo de Almeida, altura do Bairro Tambauzinho. O CAU/PB entrou com denuncia junto ao Ministério Público para inibir essa ação que, ao permitir a utilização dos parâmetros Urbanísticos da Zona Axial Epitácio Pessoa – ZA1, para o Setor de Amenização Ambiental – SAA e para a Zona Especial de Preservação – ZEP 2, acaba por ferir os princípios do artigo 39 do Plano Diretor da cidade de João Pessoa. Existe um sentido na preservação dessa área, ela faz parte da bacia do Rio Jaguaribe e deve ser livre e permeável para absorver o movimento dinâmico do rio. Como ressalta a arquitetura Sônia Matos, o rio Jaguaribe é um rio intra-urbano cujo percurso atravessa diversos bairros da cidade e tem importância fundamental para o aspecto climático, para a paisagem e para drenagem natural da maioria dos bairros lindeiros. Frequentemente, as áreas de preservação são alvos de múltiplos interesses conflitantes, ao mesmo tempo em que, enquanto ecossistemas preservados ou recriados, podem conferir qualidade às áreas urbanas, diminuindo as temperaturas, promovendo o equilíbrio ambiental e o tão almejado desenvolvimento sustentável. Entre tantos benefícios, os espaços verdes bem geridos podem trazer dividendos econômicos e sociais para as cidades que os possuem e oferecer condições de vida mais saudáveis aos citadinos. Para isso, torna-se imprescindível que essas áreas façam parte de ações integradas do desenvolvimento urbano. No entanto, a quantidade e qualidade desses espaços dependem da visão política de seus gestores,

e do grau de conhecimento da população local com relação, principalmente, aos benefícios ambientais e sociais que esses espaços conferem à vida urbana. Uma população conhecedora desses benefícios pode salvaguardar seus espaços verdes e garantir qualidade urbana às gerações futuras. Exigir espaços de qualidade é um trabalho coletivo a serviço do interesse comum, faz parte do direito à cidade, um exercício de cidadania para garantir “o interesse social e o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental”, como estabelece o Estatuto da Cidade.

Amélia Panet

Arquiteta e urbanista Mestre em arquitetura e urbanismo Doutora em arquitetura e urbanismo pela UFRN Professora do curso de arquitetura e urbanismo pela UFPB

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URBANISMO

POR UM NOVO LUGAR PARA OS VELHOS CENTROS Fotos: Divulgação

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difícios antigos – alguns testemunhos do esplendor de outros tempos – em ruínas; armazéns, lojas, prédios de escritórios ou de apartamentos vazios ou semi-habitados; praças e calçadas maltratadas: esta paisagem se repete em quase todas as grandes cidades brasileiras. Desvalorizados pela lógica do mercado e imaginário de nossa cultura urbana estruturados em torno da identificação da noção de desenvolvimento com a abertura e expansão de fronteiras, estes espaços semi abandonados abrigam hoje o que “sobrou” de sua centralidade anterior – quem não teve renda para acompanhar os novos lugares ‘em voga”, quem sobrevive da própria condição de abandono. Desta forma, antigos centros das classes abastadas, que em algum momento já foram “o” centro da cidade, são hoje territórios populares numa condição física

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precária, tanto dos imóveis privados como dos espaços públicos. Excepcionalmente localizados em tecidos urbanos aonde a urbanidade é uma mercadoria de luxo, estes territórios ocupam em geral áreas dotadas de infra-estrutura básica (redes de água / esgoto / drenagem, sistema viário implantado com ruas, calçadas, bibliotecas públicas, praças e equipamentos como escolas, bibliotecas, etc) e, em geral, com ampla acessibilidade por transporte coletivo. Daí decorre um enorme paradoxo que marca nossas cidades – ao mesmo tempo em que temos uma vasta porção da cidade constituída por assentamentos precários que demandam urbanização e regularização e os números do déficit habitacional nos assombram (segundo os estudos da Fundação João Pinheiro a partir do censo IBGE são 15 milhões de domicílios a urbanizar e 7


milhões é o déficit de novas moradias), existem hoje quase 5 milhões de domicílios e apartamentos vagos. Em Recife e no Rio de Janeiro os imóveis vagos chegam a 18% do total de domicílios da área urbana. Só na cidade de São Paulo são 400 mil domicílios urbanos vagos, a maioria situada em áreas consolidadas e centrais. O déficit habitacional é formado principalmente por famílias de renda inferior a cinco salários mínimos. Ao promover a reforma de parte desses imóveis centrais destinando-os a esta demanda, a política pública cuida de incluir esta parcela da população na cidade formal, levando-a a habitar uma região consolidada provida de toda infraestrutura e mais próxima de locais de trabalho. Além disto diminui a pressão pela expansão das fronteiras urbanas, a expansão da não–cidade. Para as famílias que vão morar nessas áreas, essa mudança também é fundamental. Afinal, essas famílias economizarão recursos no transporte, terão maior acesso às oportunidades econômicas, culturais e de desenvolvimento econômico e humano que a cidade oferece. A reabilitação dos centros tem, portanto, um sentido para a política urbana no Brasil totalmente diferente do sentido e da agenda que os processos de revitalização de frentes portuárias e áreas centrais tiveram em cidades de países do norte, aonde um grau básico de urbanidade já havia sido conquistado nas cidades. A reconquista destes centros para a ampliação de espaços públicos de qualidade; a implantação de projetos turísticos através do trinômio: equipamentos culturais / entretenimento / gastronomia; a atração de escritórios inteligentes oferecendo mais uma localidade para a gestão de negócios globalizados – são programas que foram implementados em várias cidades do mundo, na tentativa destas de se reposicionar no ranking da competição global entre cidades, buscando um lugar na era pós industrial. Os atributos históricos de antigos centros foram assim mobilizados para construir uma nova imagem da cidade (no limite até em situações em que estes atributos foram literalmente inventados) capaz de alavancar uma estratégia de marketing para atrair investidores e, em grande parte dos casos, turistas. O efeito imediato – enobrecimento destas áreas, superou através de processos de valorização imobiliária, os investimentos no mais das vezes

públicos, que requalificaram estes antigos centros. Entretanto em nosso caso a agenda é bem mais complexa do que esta. Em primeiro lugar, se examinarmos o próprio movimento que esvaziou os centros da presença de classes mais abastadas, podemos perceber que o diminuto mercado de classe média em nosso país a cada vez que abre uma nova frente de expansão, esvazia a anterior. Isto significa que a produção de uma nova centralidade enobrecida será o decreto de morte de sua antecessora. Em segundo lugar, a expulsão das atividades e territórios populares que ocupam estes lugares – decorrência direta e imediata de seu enobrecimento – pressiona ainda mais a precarização da cidade. Cada porção do centro “enobrecida” é mais uma favela ou pedaço de periferia precária que se forma.

Raquel Rolnik

Urbanista e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo

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VIDA PROFISSIONAL

CUIDE DE SUA

VIDA

“A maioria de nós prefere olhar para fora e não para dentro de si mesmo.” (Albert Einstein) Fotos: Divulgação

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Observe a chegada da prova de 100 metros no Mundial de Atletismo de Pequim, na qual o jamaicano Usain Bolt venceu o norte-americano Justin Gatlin por apenas 1 centésimo de segundo. Enquanto Bolt projeta a cabeça para frente, na linha de chegada, Gatlin a inclina para a esquerda, possivelmente tentando observar com visão periférica o desempenho de seu adversário. É evidente que a ínfima diferença de tempo que determinou campeão e vice decorreu de aspectos diversos, desde a largada, com o tempo de reação na saída dos blocos, passando pelo desempenho durante a fase de aceleração até a chegada. Porém, é possível que o americano ganhasse aquele único centésimo se tivesse focado exclusivamente em si, em vez de se preocupar com o concorrente... Isso remete a uma lição válida para todos nós, seja na vida pessoal ou profissional: olhe menos para os lados e procure cuidar de sua própria vida para alcançar o almejado sucesso. No mundo corporativo, é muito comum vermos a inveja preconizar quando alguém recebe um elogio ou uma promoção. O que poderia funcionar como inspiração, oferecendo lições a serem compartilhadas para o autodesenvolvimento de todos, alimenta um

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comportamento egoísta, provocando reflexões como “Por que não fui eu a pessoa contemplada?”, ou ainda pior, “Esta pessoa não merecia tal reconhecimento!”. Por isso, lembre-se do seguinte. Aprenda a olhar para frente, vislumbrando seu futuro, pois é lá que você passará o resto de sua vida. Imagine-se um, cinco, dez, vinte e cinco anos adiante e responda a si mesmo o que estará fazendo, quem estará ao seu lado, quais serão suas conquistas e, fundamentalmente, qual o legado que estará construindo. É válido também olhar eventualmente para os lados desde que para aprender com seus pares e, desta forma, impulsionar sua trajetória. Porém, jamais se esqueça de olhar para trás, não com o intuito de contemplar de forma melancólica o passado (diz um provérbio russo que “ter saudades do que já passou é correr atrás do vento”) mas sim de observar o quanto do caminho já percorreu, enaltecendo suas vitórias, saboreando os frutos de sua evolução, aprendendo a deixar para trás tudo o que não precisa carregar consigo, como mágoas, ressentimentos e frustrações. Ouça sua intuição e siga as batidas de seu coração! e essas contrariam os interesses dos empregados. Por mais “de confiança” que eles sejam, sempre poderá haver quem os instigue a


uma ação trabalhista. E uma única ação trabalhista pode comprometer (às vezes irremediavelmente) a viabilidade da empresa. Empresas que não estão legalizadas não podem se expor. Ficam impedidas de utilizar os mecanismos de promoção das suas marcas e produtos. E, o mais grave: ficam impedidas de ter acesso aos melhores mercados. Os melhores clientes, aqueles que fazem os negócios mais vultosos, geralmente são aqueles que não negociam com quem não fornece nota fiscal. O rosário de dificuldades e armadilhas da informalidade levou meus alunos a concluirem, praticamente por unanimidade, que a a informalidade é uma falsa solução para um problema que, geralmente, os novos empresários não estão preparados para avaliar tecnicamente de forma completa. A enganosa noção de lucro que o empresário tem no início do processo sempre apresentará uma

conta salgada mais adiante. Esta conta, geralmente virá sob a forma de um problema legal derivado de uma fiscalização de algum órgão do governo ou então de uma ação trabalhista. Esses problemas legais sempre estarão acompanhados de um correspondente financeiro que, não raro, inviabiliza a continuidade da empresa, engrossando as estatísticas da mortalidade empresarial. Atuar de acordo com a legalidade e pagar todos os impostos é, portanto, necessário e útil. Conformar-se com a carga tributária e com a maneira como os governos desperdiçam os impostos cobrados é inadmissível. Profissionais de engenharia e de arquitetura que servem ao país mantendo abertas suas empresas, gerando empregos e impostos, precisam se unir para exigir racionalidade na carga tributária e responsabilidade no uso dos recursos arrecadados. Ou morrer de inanição empresarial.

Tom Coelho

Empresário, diretor do Núcleo de Jovens Empreendedores do Ciesp e membro do Conselho Superior de Responsabilidade Social da Fiesp. Autor de 8 livros e 25 anos de experiência empresarial

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VÃO LIVRE

O QUE ESPERAR DE UM...

PROJETO? Fotos: Divulgação

O que a cultura da colcha de retalhos e puxadinhos tem a ver com a queda da ciclovia Tim Maia e o Regime Diferenciado de Contratação (RDC)?

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conivência com o imediatismo. Do imediatismo inocente da família que vai crescer, ao imediatismo nada inocente dos interesses escusos entre incorporadoras e autoridades em obras públicas, há sempre uma concordância entre as partes em prol da aceleração. Talvez seja uma resposta amarga, mas genuína. Devemos olhar de frente para elas se quisermos a ordem e progresso para o nosso Brasil. Já que nós, sociedade brasileira, temos o hábito incorporado de “resolver” por conta própria e “rapidinho” nossas necessidades nada planejadas, mesmo que isso signifique correr vários riscos, tornase sempre mais fácil para as autoridades tomarem medidas igualmente inconsequentes e burlarem procedimentos já normatizados com emendas tendenciosas, o que comparativamente é severamente mais grave por tratar-se de patrimônio e risco públicos. Onde o risco deveria ser mínimo ou nulo, ele se amplia exponencialmente. A saber: a lei 12.462 de 4 de agosto de 2011 institui o Regime Diferenciado de Contratação (o nome não diz nada, o que já diz tudo, mas vamos em frente) que abrevia o processo licitatório por simplesmente dispensar o projeto executivo (em que os arquitetos e engenheiros detalham em maior escala cada parte do que será construído, especificam todos os materiais, aplicam normas ponto-a-ponto, fazem a compatibilização de todos os projetos técnicos complementares entre si e com os de estrutura e arquitetura evitando prejuízos em obra, dentre outras tantas responsabilidades técnicas intransferíveis a que respondem), para apenas aprovar um orçamento “detalhado” que tem num mero “projeto básico” sua base e seguir para a execução da obra. Nada mais precário. Projeto básico nada mais é do que um estudo, uma etapa inicial, um rascunho passado a limpo, aquele que o profissional apresenta ao cliente para protocolar a aprovação da ideia conceitual

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e comprovar a capacitação da mesma para atender ao plano de necessidades solicitado, para então seguir para o projeto em si, o executivo. Seguindo o raciocínio do “rapidinho”, faria todo o sentido tocar toda uma obra com inúmeras interfaces e logísticas munido de um simples rascunho passado a limpo. Não é mesmo? Então vem a manchete nacional: “Duas pessoas morrem e uma está desaparecida após desabamento de ciclovia no Rio”. A sociedade e autoridades lamentam. Mas se fez tarde. É sempre tempo de recomeçar. Então vamos analisar do começo, propriamente dito: O termo “projeto” comumente usado pelas pessoas que querem fazer qualquer tipo de obra aparece em frases cotidianas como “vou pedir um projeto para ampliar o salão de festas do prédio”, “a portaria nova ainda está sem projeto”, “quero um projeto para resolver os problemas do meu restaurante”, “vamos fazer um projeto para dividir esse setor da empresa em quatro”, “estou pensando num projeto de reforma para meu apartamento”. O problema não está na palavra projeto, como sua origem comprova: A palavra projeto vem da palavra latina projectum do verbo em latim proicere, “antes de uma ação”, que por sua vez vem de pró-, que denota precedência, algo que vem antes de qualquer outra coisa no tempo, e iacere, “fazer”. Portanto, a palavra “projeto”, na verdade, significava originalmente “antes de uma ação”. Ótimo! Constata-se que para qualquer intenção o ponto de partida é um projeto! Até aqui todos estamos de acordo. O problema está na prática: do grego praktikos, “capaz de executar uma ação”. Já temos como fechar esse teorema - fica didaticamente confirmado que; para uma ação ser executada é preciso antes de mais nada um projeto, e também... capacitação!


Ciclovia no Rio de Janeiro

Como ter capacitação se não há detalhamento? Responda após refletir. Tente novamente. Não há simplesmente como garantir a boa execução de uma obra sem que seu projeto seja completo e muito bem detalhado, especificado, gerenciado, compatibilizado, orçado. Há uma frase já célebre que diz que enquanto na Europa um projeto leva anos para ser executado em meses, no Brasil ocorre o contrário, o projeto leva meses para ser executado em anos. Em qual dos dois sujeitos está o fator inteligência? Ora, conclui-se daí que sem projeto e sem capacitação viabilizada não teremos a ação. Vira inação, portanto, no sentido de engano, de inverso. E finalmente verificando: se a ação é progressista e ganho, a inação no sentido mencionado é retrocesso e prejuízo. Para quem não sabe, o RDC foi instituído pela tal lei com fins de acelerar obras especificamente da Copa do Mundo, Olimpíadas e Paraolimpíadas. Entretanto, no ano seguinte, foram feitas emendas para passar a abranger também obras do PAC, SUS e de segurança pública, como presídios. Parece mentira, mas é

verdade. Patrimônio de infraestrutura pública sendo construído por todo território nacional com baixíssima qualidade, acelerando contratações mi e bilionárias de empreiteiras e lixiviando dinheiro, mas também educação, saúde, segurança e a imagem da sociedade brasileira no cenário mundial. A palavra projeto quando usada genericamente pelas pessoas torna-se um perigo, porque não informa o que, de fato, é um projeto arquitetônico. Urge esclarecer a sociedade brasileira a respeito do verdadeiro sentido incutido nessa palavra, e demonstrar as consequências verdadeiramente progressistas e benéficas ao patrimônio público a partir dela. A prática profissional, tampouco este artigo, não visa esse didatismo, que na verdade cabe às representações da classe, a quem nós profissionais creditamos nossa confiança e esperança. Nós, profissionais capacitados, teremos sempre imensa satisfação em sermos escolhidos por uma sociedade esclarecida e responsável para projetar com propriedade e executar com competência a portaria, o restaurante, a reforma do apartamento, a empresa, o salão de festas ou obras públicas.

Yara Santucci

Arquiteta urbanista e paisagista em São Carlos SP pela FAU Mackenzie SP. Especialista e consultora ANAB - IBN em arquitetura sustentável e bioecológica. Diretora da CEDRO Execuções e Sustentabilidade, se dedica a projetos arquitetônicos sustentáveis e a análises de ecoeficiência e conforto. Cita: Yara Santucci. “O que esperar de um… Projeto? / Yara Santucci” 05 Jul 2016. ArchDaily Brasil. Acessado 8 Jul 2016. <http://www.archdaily.com.br/br/790775/o-que-esperar-de-um-projeto-yara-santucci>

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LIVRO

CRIATIVIDADE EM DEBATE ‘Grandes Criativos’ reúne profissionais de sucesso em várias áreas em entrevistas sobre o processo criativo Texto: Alex Lacerda | Fotos: Divulgação

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que profissionais de gastronomia, teatro, artes plásticas, design, música, jornalismo e literatura teriam em comum? A busca pela criatividade e descoberta de soluções eficientes são algumas das constantes em todas as profissões. Entender um pouco mais desse processo pode ser um forma de ressaltar o lado criativo em cada um. E é este, justamente, o grande mérito do livro Grandes Criativos, em que o publicitário Celso Loducca reúne grandes nomes de diversas profissões para debater sobre criatividade. A obra reproduz, na íntegra, uma série de entrevistas realizadas com profissionais de sucesso em áreas variadas, discutindo sobre a criatividade e avaliando o processo criativo de cada um. Anteriormente, o autor já havia trabalhado em um projeto semelhante exclusivamente com os principais publicitários brasileiros. “Achei interessante continuar no assunto criatividade, mas do ponto de vista de outros ofícios, compreender o processo e a motivação criativa dos grandes em cada área e tentar tatear o que era criatividade na opinião de cada um deles”, destaca Celso Loducca. No livro organizado pelo publicitário Celso Loducca, também mediador das entrevistas, mentes criativas como Eduardo Srur, Alex Atala, Paulo Lima, Marcelo Rosenbaum, Alexandre Machado, Marçal Aquino, Ronaldo Bastos e Rodolfo García Vázquez destacam suas inspirações e trajetórias profissionais. Grandes Criativos, como ressalta o próprio autor, não se apresenta como um roteiro para criatividade, mas destaca elementos criativos que pode estimular o lado criativo do leito. “O livro não é um guia prático de criatividade, nem acredito nisso. Mas acho que pode fazer mais: um leitor atento e interessado pode sim ser tocado pelo sentimento profundo desses criativos e ser instigado a procurar o seu próprio caminho. Já que criatividade é algo individual e cada um deve descobrir, cultivar e exercitar a sua” afirmou Loducca. O texto da obra segue um ritmo de conversa entre amigos, mas com participação de perguntas do

“Hoje virou quase uma obrigação ser ‘criativo’ , existe uma pressão social e empresarial para que cada um desenvolva ou revele sua habilidade ou, como querem alguns, competência em inovar.”.

público que estava presente durante as entrevistas. “Como digo na introdução do livro, as áreas são diversas, os métodos e rotinas particulares e individuais, mas me parece que a tentativa de se explicar, a tentativa de fazer sentido ou dar sentido à sua vida, a angústia de enfrentar o que Camus chamava de ‘O Absurdo’, o nada, o sem sentido, faz com que cada um precise achar um caminho próprio para sobreviver em um mundo onde ele sente não se encaixar bem. A busca desse caminho de sobrevivência cria um subproduto espetacular: a criatividade”.

“Grandes Criativos” Organização: Celso Loducca Editora: Papirus – Selo 7 Mares Páginas: 320

Celso Loducca

Curador

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ENTREVISTA

BENEDITO ABBUD

CRIADOR DE PARAÍSOS Um dos maiores paisagistas do país fala sobre seu ofício e arte e da importância de reconectar o homem à natureza

Texto e Fotos: Lidiane Gonçalves e MB

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enedito Abbud é formado em arquitetura pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), onde também cursou sua pós-graduação e mestrado. Entre 1977 e 1985 foi professor universitário. Por duas vezes foi presidente da Brasileira de Arquitetos Paisagistas (Abap), é autor do livro Criando Paisagens: Guia de Trabalho em Arquitetura Paisagística, publicado em 2006 pela editora Senac São Paulo, e acredita que das dificuldades nascem as grandes idéias. Um dos maiores profissionais de paisagismo no Brasil, ele defende que o cliente pode ser o bebê da família, o adolescente ou até mesmo o cachorro. Para ele, o “papel em branco” não existe para o paisagista, pois antes de começar um trabalho, o profissional sabe as referências do lote, por ou nascer do sol, de onde vem a brisa... Apaixonado pelo que faz, ele diz que plantas podem ser esculturas e que as ideias e gostos dos clientes sempre têm que ser levados em conta, para o sucesso do projeto. Ele diz que o arquiteto tem que ter empatia e usar da harmonia para agradar ao cliente. Sobre tudo isso e mais um pouco ele falou – de forma fluente e dominando perfeitamente o assunto – para a AE. ARTESTÚDIO – O Senhor costumava dizer que o paisagismo era a profissão do futuro. E o hoje? Benedito Abbud – Hoje eu continuo achando, principalmente neste momento de crise. Eu acho que cada vez mais as pessoas vão morar em espaços mais reduzidos e vão ter como quintal da casa o seu condomínio e a sua cidade. Então é fundamental que a cidade tenha um tratamento de qualidade para que as pessoas tenham qualidade de vida. E, se você tem uma moradia com o custo de construção do metro quadrado muito alto, vai ter o quintal próximo ou do seu lado. Ou, se você mora em apartamento, o pavimento

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térreo. Esse quintal próximo é fundamental para que as pessoas tenham elementos de lazer. E quando eu falo em família, estou falando desde o cachorrinho até a vovó e o vovô. Passando pelos adolescentes e adultos, todas as faixas etárias que passaremos durante a vida. É muito importante que tenhamos equipamentos para todo mundo. E quando a gente fala em quintal mais amplo, falamos da cidade, que tem, sim, que ter locais, equipamentos, para as pessoas ficarem, verem. AE - Quando fala nos quintais, que o interesse tem que ir desde o cachorro até a vovó, o senhor fala que


o paisagismo melhora, sim, a qualidade de vida das pessoas? BA - Sem dúvida. Hoje é fundamental as pessoas usarem os espaços externos para também viverem. As pessoas não vivem só dentro da casa, na sala, no quarto, na cozinha. As pessoas hoje querem correr, respirar ar livre, passear com o cachorro. Querem levar seu filho para correr e tirar a pessoa de frente do vídeo game ou televisão; isso tem seu lado bom, mas é fundamental a criança se sociabilizar, correr , subir, brincar... Brincando é que as crianças aprendem a enfrentar a vida. É muito importante ter espaços para crianças fazerem isso. AE - Existe um projeto arquitetônico 100% pronto sem o projeto paisagístico? BA - Eu acho que não, porque o paisagismo trata essas áreas externas. O homem é um animal. Racional, mas é um animal, ele veio da natureza, então para ele a natureza é fundamental. Já existem pesquisas que mostram que doentes que ficam muito tempo em um quarto e os que saem do quarto e vão tomar sol, passear no jardim, ver as arvores, os frutos, os pássaros, esse que saem, que interagem com a natureza, têm uma melhora muito significativa em relação ao doente que só fica no quarto. É fundamental tomarmos sol, fazer a vitamina D. hoje já está provado que o homem tem necessidade de estar junto a natureza. AE - Há condições de levar essa natureza para dentro dos apartamentos? BA - Cada vez mais os apartamentos estão menores. A tendência é que no apartamento as pessoas fiquem com as áreas mais privadas, como quarto, cozinha e uma

pequena sala. Assim, na área térrea há os espaços para socializar com os outros condôminos, como salão de festas, jardim, onde aconteça o lazer externo para você ter o sol, a brisa... AE - Como você vê a questão de usar hortas no paisagismo? BA- Eu acho muito importante porque hoje é uma tendência as pessoas cozinharem em casa. Até porque a vida anda muito corrida, muita gente come fora o tempo inteiro. Então se tem aquele espaço para você poder, no final de semana, usar o tempero que está próximo ao fogão e sempre as ervas frescas, que te dão um sabor muito mais agradável... Esse frescor passa para a comida. Claro que depende de cliente para cliente, mas hoje sempre coloco nas casas uma horta e sempre tem os temperos que a família gosta mais de usar, mas também os chás como erva cidreira, boldo, erva doce... Depende da pessoa. AE - O paisagismo é só visual ou ele tem outra utilidade? BA - Ele é muito importante e uma das funções importantíssimas do paisagismo é trazer beleza. Beleza é uma função básica. A gente gosta de beleza e a beleza traz uma coisa fundamental que é a dignidade do cidadão. Se o cidadão mora em lugares feios, caídos, maltratados, a tendência dele é ser mais violento, menos sensível ao outro, menos interatividade social. A beleza é fundamental para você ser um cidadão equilibrado. AE - O verde melhora esse visual? BA - O verde melhora tanto a qualidade de vida, quanto a qualidade do meio ambiente e isso é muito importante.

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João Pessoa tem áreas verdes grandes, elas são bolsões, pulmões verdes. Isso é muito importante porque, perto delas, a temperatura é mais amena do que no centro da cidade e isso é muito bom. Quando a temperatura é mais amena, ela é menos variável, tem menos pico de variação. Quando ela tem muito pico de variação, você tem mais problemas com doenças respiratórias. Ter brisa já é bom e o verde traz essa brisa, ele melhora a qualidade da vida, melhora a poluição por partículas, melhora a qualidade visual. O verde é fundamental para as cidades. AE - Qual o papel do paisagismo e do paisagista nesta melhora? BA - O paisagismo, muita gente acha que está ligado mais à vegetação, mas ele também está ligado ao lazer, ao encontro. E o paisagista é o profissional que trabalha com a paisagem. AE - E o que é paisagem?

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BA - Acho que a definição mais concisa e mais completa é “paisagem é tudo aquilo que se vê”. Mas geralmente a gente fala em paisagem quando está trabalhando em área externa, quando tem grandes horizontes. Quando você esta dentro de um cômodo, a paisagem fica muito restrita às quatro paredes. Então, é função do arquiteto paisagista: trabalhar com a paisagem em função do homem, dos outros animais e também da flora. AE - Qual o papel do paisagismo e do paisagista nesta melhora? BA - O paisagismo, muita gente acha que está ligado mais à vegetação, mas ele também está ligado ao lazer, ao encontro. E o paisagista é o profissional que trabalha com a paisagem. AE - O clima influencia para o paisagismo? Aqui no Nordeste temos que pensar coisas diferentes para fazer o projeto?


BA - O clima influencia de duas maneiras: primeiro, na escolha das espécies. Eu não posso colocar plantas que não se adaptam àquela região. A gente sempre se baseia na natureza. Por exemplo, se eu tenho uma área de sombra, vou procurar aquelas plantas que nascem na parte inferior da mata atlântica. Se eu tenho uma área de sol, vou procurar aquelas plantas que nascem bem em lugares muito ensolarados. Se está próximo à maresia, vou procurar plantas que nascem próximo à restinga. Então sempre uso as referências naturais para me inspirar nas plantas. Você veja que falei sempre em macro unidades da paisagem brasileira, biomas nacionais, claro que a gente usa também as espécies não nativas, as espécies exóticas, mas aí a gente precisa ter muito cuidado para ver se elas estão realmente adaptadas àquela situação e àquela condição. A outra forma é o que a gente quer da espécie com aquele clima. João Pessoa é uma cidade bastante quente, então é muito importante que haja sombreamento. É muito importante usar espécies que vão dar essa sombra e ao mesmo tempo criar essa brisa. Então, são essas referências que a gente usa. Na região norte é mais quente que aqui. Já em Curitiba, normalmente não uso tanta árvore, uso mais arbustos, que é para se ter o calor. Então em cada região você tem uma cultura, tem um bioma e tem aquilo que necessita das espécies. AE - O paisagismo integra as edificações á natureza? BA - Totalmente. O paisagismo faz a transição entre a paisagem antrópica (aquela construída pelo homem) e aquela paisagem natural. A gente sempre procura fazer uma harmonia entre esses dois tipos de paisagem, para que você tenha realmente uma agradabilidade. O homem é um animal racional e precisamos pegar o lado animal bom do homem.

AE - Por isso há frustração quando o projeto não sai do papel? BA - É muito frustrante, pois são projetos muito discutidos, elaborados, batalhados. São noites e noites para criar coisas fantásticas, que a gente acreditava e de repente você vê seu sonho ir por água a baixo. Não é só triste em termos de dinheiro, mas é muito triste em termos realização mesmo. E triste ver que o país não tá suportando esse tipo de coisa. A gente começa a sentir que o país empobreceu. AE - Qual o profissional da sua área que você mais admira? BA - Eu admiro Roberto Burle Marx. Na verdade tenho duas referencias: dois Robertos. O primeiro é o Roberto Coelho Cardoso, que foi um grande professor, uma pessoa que eu conheci como paisagista e que me ensinou muita coisa. Me ensinou vários processos e eu sou muito grato a ele. E o outro Roberto é o Burle Marx, o grande pai do paisagismo brasileiro, com quem eu tive condições de fazer algumas viagens de pesquisa. Viajamos para o Pantanal, foi uma viagem longa. Eu tive condições de conviver. Ele era uma pessoa especial, que exalava amor pelo que fazia e ele me ensinou muito amor pela natureza e pelo “refazimento” da natureza através de uma coisa humana que é a arte. Então você recria a natureza. Você não copia, você se inspira, entende e para isso precisa ir nos lugares naturais para aprender e aí reinterpretar isso através da sua condição humana. Paisagismo é uma das poucas artes que você pode usar os cinco sentidos, talvez a única... visão, audição, olfato, paladar e o tato. Não podemos desperdiçar esse potencial e em todos os meus projetos, procuro fazer com que as pessoas sintam isso que a vegetação nos propicia.

AE - Todo projeto paisagístico é ou precisa ser sustentável? BA - Em geral sim, pois procuramos usar uma vegetação que não tenha tanta necessidade de água, esse tipo de coisa. E a vegetação, como ela é da natureza, sempre traz essa questão da sustentabilidade. Quando fiz a cidade na Bahia, onde estamos plantando os corredores verdes, que são os parques lineares, eu estava trazendo uma melhora de temperatura, uma condição muito mais humana das pessoas se relacionarem, estou trazendo sombra. Então, realmente é tudo de bom. AE - Como você define o seu trabalho? BA - Eu gosto muito da referência de que o paraíso é um jardim protegido, onde as pessoas vivem bem. Então eu acho que eu sou um criador de paraísos. AE - Qual o seu trabalho que você mais gosta? BA - É o último, sempre o último, pois por ele a gente ainda tá apaixonado. Trabalho para mim é como um filho. Aquele que tá nascendo é sempre o mais esperado. Você tem a expectativa, depois que ele é entregue, começa a crescer. É um filho maior que começa a andar com as próprias pernas e aí você fica mais apaixonado pelo filho que vai nascer.

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PORQUE ACEITAR LIMITES SE VOCÊ PODE TER O IMPOSSÍVEL?

Bontempo João Pessoa • Rua Professora Severina Sousa Souto, 207 (83) 3244.7075 • João Pessoa/PB

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GRANDES ARQUITETOS

ABAIXO A SIMPLICIDADE Robert Venturi mudou a história da arquitetura quando se rebelou contra o “menos é mais” do modernismo Texto: Renato Félix | Fotos: Divulgação

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rquitetura também é arte e, como toda arte, navega no mar da subjetividade. O que pode ser certo para um artista pode ser errado para outro. Enquanto o modernismo é o estilo preferido de alguns profissionais, foi criticado pelo estadunidense Robert Venturi, arquiteto vencedor do Prêmio Pritzker em 1991. Nascido em 1925, em Filadélfia, ele assumiu uma postura crítica em relação à ideia do “menos é mais” da arquitetura moderna (ele satirizou o termo original “less is more”, usada por Mies van der Rohe, como “less is a bore”, ou “menos é muito chato”). Lançou em 1966 um manifesto chamado “Complexidade e contradição na arquitetura”, onde defendeu que esses elementos já estavam incorporados pela cultura da sociedade contemporânea. Com isso, ele inaugurou a arquitetura pós-moderna. “A extensão da influência que este tratado teve em qualquer um que pratica ou ensina arquitetura, é impossível de se medir, mas facilmente percebida”, diz a justificativa do júri do Pritzker. “Neste livro marcante, Venturi travou com outros olhos o campo da arquitetura na América e descreveu a honestidade inerente e a beleza dos edifícios comuns. A partir de sua simples

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observação, ele teceu um manifesto que desafiou o pensamento prevalecente no assunto da arquitetura funcionalista norte-americana, e o minimalismo das escolas internacionais”. Seu distanciamento do modernismo foi a busca pelo rebuscamento da forma, que ele acreditava ter a missão também de comunicar com seus elementos decorativos – não apenas ser uma figuração tediosa. É desse período e com essa ideia o projeto da Casa Vanna Venturi: com uma entrada bem mais larga que o usual, com um arco em alto relevo sobre ela; a fachada formando um triângulo cortado em duas partes por um vazio vertical; uma escada, no interior, em uma curva artificial. É localizada em Chestnut Hill, Pensilvânia, e é um projeto de 1962 de Venturi e Rauch, construída para a mãe de Robert. Venturi e Rauch foram sócios em um escritório, onde também entrou a esposa de Venturi, Denise Scott Brown, em 1967. Rauch deixou a firma em 1989 e o escritório passou a se chamar Venturi, Scott Brown & Associates – Robert trabalhou ali até se aposentar. Venturi, em colaboração com a esposa através dos anos, desenhou muitos edifícios, mas sua obra prática compete com a obra teórica (que pode ser acessada em http://venturiscottbrown.org, em inglês). Com esta última, ele infuenciou uma mudança significativa na arquitetura dos últimos 50 anos: deu liberdade a profissionais e clientes de abraçarem até as inconsistências de seus projetos, se eles assim quiserem.

Arquiteto: Robert Venturi

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AMBIENTAÇÃO Projeto da arquiteta Fernanda Barros

NO MEIO DO CAMINHO Concebidos como meras áreas de passagem de um cômodo a outro, os corredores vão se tornando lugares charmosos dentro de uma residência ou ambiente de trabalho Texto: Lidiane Gonçalves e Débora Cristina | Fotos: Divulgação

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oi-se o tempo em que os corredores dos imóveis eram áreas “mortas” ou meros “ambientes de passagem”. Com estilo e bom gosto, os corredores podem receber uma bela ambientação e se tornar mais um cômodo da casa ou do ambiente de trabalho. Quem sabe uma minibiblioteca, um local de leitura, um excelente lugar para apreciar as fotos de família... é só olhar pra um deles já com uma decoração diferenciada que percebemos o quanto é Importante aproveitarmos melhor esse espaço de passagem que pode se tornar bem mais interessante. Afinal, é muito chato perceber,

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em meio a salas e quartos decorados, uma via escura e sem graça. A arquiteta Valéria Simões lembra que há alguns anos as pessoas viam um corredor como uma área sem utilidade, sem detalhes ou preocupação em deixá-lo bonito. “Seu resumo: ser limpo e com portas de acesso! Era um caminho apenas às outras áreas ou ambientes, tanto que se fazia com larguras mínimas de noventa centímetros. Muitos eram abafados e sem iluminação”, disse. Hoje a conversa é outra. O corredor é trabalhado como um espaço útil e agradável, valorizado no


contexto da edificação, mesmo que ele seja estreito pode ter uma função no mínimo decorativa.

Transformando Com uma boa orientação de um profissional em arquitetura, o corredor deixa de ser apenas um espaço de passagem, e pode ser até um dos locais mais interessantes da casa ou escritório.

O primeiro passo é medir o espaço. Dependendo da largura, o corredor pode ir além de ser decorativo e ter funcionalidade. “Hoje existem várias possibilidades, basta ter criatividade e bom gosto. Pode transformar o corredor em um local de estudos para as crianças; criar um armário roupeiro centralizando roupas de cama e banho; distribuir nele uma estante de livros, quase uma biblioteca!”, opinou. A arquiteta ainda deu mais ideias, como colocar uma bela e confortável poltrona se as dimensões Projeto da arquiteta Carol Gurgel

Projeto da arquiteta Carol Gurgel

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DICAS forem generosas e, caso não tenha iluminação natural, acrescentada a uma linda luminária. “Tapetes são grandes aliados! O corredor de repente se torna uma galeria de fotos da família, é só dispor de vários tamanhos e formas de molduras e cores. A iluminação é um ponto forte, seu efeito muda totalmente o espaço. Luminárias ou calhas embutidas, pontos de LED direcionando objetos ou telas dão o efeito ao corredor criando um clima de aconchego”, disse.

Alerta É preciso apenas ter cuidado quanto ao espaço restrito, que deve ser aproveitado com cautela para não atrapalhar a circulação. Ter cuidado para não causar um conflito visual também é importante. O corredor por fazer parte integrante deve acompanhar os demais ambientes em estilo. Procure usar os materiais com coerência e harmonia!

Projeto da arquiteta Marina Dubal- do escritorio DAD

Separamos algumas ideias que podem inspirar o investimento num pequeno projeto para o corredor do seu imóvel. ILUMINAÇÃO: Pra começar, que tal dar personalidade a essa área mexendo na iluminação? Essa pode ser uma boa maneira de tornar os corredores mais charmosos. Sancas no forro são ótimas pra dar essa incrementada, podendo ser usadas lâmpadas de LED, que são mais econômicas e duradouras. Para multiplicar os efeitos de luz, outra dica importante é usar cores claras nas paredes. O ideal é sempre valorizar a iluminação natural, mas como isso não é possível, capriche nas artificiais, sempre optando pelos pontos de luz virados para a parede, dando aquela ótima sensação de amplitude. Se houver quadros, os spots com dicróicas são a melhor pedida para realçá-los com sua luz brilhante. Uma parede texturizada, ou painel pode ganhar importância com luz vinda de cima e realçar os relevos – ou ainda criar uma sanca com efeito wall washing (lavando a parede, em tradução livre). Os balizadores projetam luzes suaves e demarcam o caminho de forma bem interessante nos corredores. Rasgos no forro, com fluorescentes T5 ou fitas de LED, para as áreas de passagem que ficam acesas bastante tempo também são uma boa pedida. MOBILIÁRIO E TAPETES: Geralmente estreito, quase sempre não comporta grandes peças de mobiliário, às vezes nenhuma, mas toques de charme podem, ainda assim, valorizar esse espaço. Já os corredores com mais espaço podem ganhar móveis em contraste com as cores da parede. Um aparador colorido em um corredor grande, por exemplo, dará um efeito incrível. O segredo é usar a criatividade e o bom senso sempre juntos. Colocar uma base, ou mini- prateleira na parede, para apoiar porta-retratos fica legal. Ela pode também receber livros, vasos e outros itens que contribuem para a decoração. Telas e quadros, fotografias e nichos estreitos também criam efeitos excelentes. Dependendo de sua dimensão, o corredor pode abrigar um pequeno home office ou uma estante para livros, ou ainda um armário para enxovais…Uma dica: no caso de corredores muito longos e estreitos, procure usar tapetes ou instalar a paginação do piso contrária ao sentido do corredor, isso “quebra” a sensação de prolongamento. Mas atenção: se o corredor ficar perto de uma escada, é bom evitar a colocação de tapetes, sem adesivos fixadores, para evitar acidentes. QUADROS E ESPELHOS: As molduras sem foto estão na moda. Sejam coloridas ou de uma única cor, elas criam um efeito interessante de profundidade que ajuda a aumentar a largura do corredor quando ele é muito pequeno. Em corredores pequenos ou muito estreitos, você pode utilizar um espelho para aumentar o ambiente. Os espelhos dão uma sensação de espaço maior. Por isso, você pode usar um espelho na lateral, por exemplo, pra duplicar a largura do corredor.

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INTERIORES

O DIFERENCIAL ESTÁ NO LAYOUT

A setorização e destaque nos revestimentos e iluminação complementam o visual da loja de roupas femininas

Texto: G. Gonçalves | Fotos: Joka Chaves

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legância e atemporalidade. Estes foram os conceitos que deram o norte para a elaboração deste projeto de interiores de uma loja de roupas femininas. A ambientação possui a junção do estilo provençal mais clássico e feminino, aliado a materiais e cores modernas. A loja está localizada dentro de um posto de combustíveis, portanto já existia por parte da cliente proprietária do estabelecimento, o receio de que o local não fosse convidativo o suficiente para o público alvo. Portanto primeiro se pensou em elaborar uma fachada moderna e feminina, mas que não destoasse tanto do local. O ponto de partida para isso foi o uso do efeito cimento queimado, que aparece em duas versões: em técnica de textura e pintura na parede da fachada, e em MDF que imita o efeito, nos painéis da vitrine e em alguns detalhes no interior da loja. A cor cimentícia, aliada ao piso laminado e aos móveis planejados brancos, deram um ar moderno, aconchegante e elegante a loja.

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Outra preocupação por parte da cliente era o fato de serem duas lojas, uma ao lado da outra, que deveriam se tornar algo único. A solução veio através do detalhe de gesso, que foi rebaixado até a altura da viga que dividia as duas salas, e iluminado através de um rasgo em toda a extensão do ambiente, o que deu um ar de amplitude e uniu completamente os dois espaços. “Detalhamento de gesso e iluminação, são fundamentais para o destaque e valorização de qualquer projeto”, complementa Germana. O layout da loja foi pensado para setorizar e direcionar os clientes aos locais certos. Logo na entrada, o mini estar, com mesinha e poltronas em estilo provençal e a mini copa, próximos ao balcão de atendimento e caixa, recebem e se despedem muito bem da clientela. Ao centro, uma mesa grande também em estilo provençal, decora e serve de apoio para as roupas, que estão dispostas em araras ao redor, facilitando o manuseio dos produtos; Ao fundo, os

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provadores, isolados para dar privacidade. “O layout nos projetos comerciais, deve ser bem pensado, para direcionar e facilitar a exposição e venda dos produtos” diz Germana. Alguns detalhes diferenciados deram um charme especial ao projeto um deles, foi o uso de um revestimento 3D assentado sobre o MDF na vitrine e no balcão de atendimento. Aliados a uma iluminação de destaque através de fitas LED, trouxeram movimento e vida à ambientação. Outros detalhes como uso de espelhos emoldurados e a inserção do verde para humanizar, arremataram a composição. A elaboração de projetos comerciais possui diferenciais específicos e resultados imediatos. Ver o estabelecimento funcionando bem, de maneira satisfatória e convidativa é a maior satisfação para quem o elabora com tanto cuidado, aliando técnica e criatividade.


Projeto:

Interiores

Designer de Interiores:

Germana Gonçalves

Móveis Planejados: Nobrellar móveis planejados• Revestimentos: Espaço Vinílico Pisos e revestimentos + imagens no site: www.artestudiorevista.com.br

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INTERIORES

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REFLETINDO O

BRILHO

Projeto de interiores de uma joalheria na Austrália tem iluminação que se inspira nas pérolas

Texto: Débora Cristina | Fotos: Stefan Jannides e F Marioli

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ma das mais famosas joalherias do mundo é a Paspaley. Ela é reconhecida pelo alto luxo e também pela venda de pérolas raras do mar sul. Sua loja, em Brisbane, na Austrália, fez o convite irrecusável para que o escritório Carbondale desenvolvesse um novo conceito para ela, aplicado inicialmente na butique de 85m². Fundado em Paris em 2004 e desde 2011 com sede no Brasil, o escritório topou o desafio. Eric Carlson, arquiteto fundador da Carbondale, priorizou todo o design e luz para exibição das pérolas, que são consideradas as mais belas do mundo, e projetou o interior da butique com uma abordagem de iluminação que revela a natureza reflexiva e brilhante dessas joias preciosas. Foram escolhidos acabamentos em tons dourados, cremosos e suaves de mármore, couro, tecido e madeira de eucalipto para revestir as

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paredes. Tudo, claro, minuciosamente selecionado devido ao efeito que esses materiais proporcionam na superfície esférica das pérolas. Para ele, o ponto de partida é a luz, que é a essência da pérola. “Mesmo em uma sala escura, um colar ou um brinco de pérolas brilha magicamente e ilumina o rosto de uma mulher”, explica Eric Carlson, responsável pelo projeto. Assim, com este conceito, em vez de simplesmente aplicar pedra e metal, a fachada da butique foi projetada como se a luz das pérolas iluminasse toda a vitrine. Depois de fazer uma extensa pesquisa e testes com tecnologia LED, uma composição de lâmpadas foi disposta verticalmente por trás de uma fachada de vidro gravado com um efeito brilhante que abstratamente recria lendários colares de pérola em uma escala arquitetônica urbana.


+ imagens no site: www.artestudiorevista.com.br

Eric explicou ainda que as linhas de luzes variam em tamanho, intensidade e tons frios e quentes para combinar com as variações inerentes de dentro da pérola na natureza. “Para intensificar esta característica mágica, programamos individualmente mais luzes de LED para dar um movimento cintilante e brilhante às incríveis peças delicadas”, contou ele.

Projeto:

Interiores

Arquiteto:

Eric Carlson

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A HISTORIA DE

ATRAÇÃO À

PRIMEIRA VISTA

Com a ideia de expor os produtos para conquistar o consumidor: nasceu a vitrine Texto: Alex lacerda e Marcia Barreiros | Fotos: Divulgação

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eja para criar uma intimidade com o cliente ou cortejar o visitante para a venda, as vitrines são a forma mais eficiente de expor e vender o produto de uma loja. Evoluindo com o tempo, as vitrines associam, cada vez mais, a criatividade e estratégias de vendas à enfatização da marca. Há quase dois mil anos, os romanos já davam um vislumbre do conceito de vitrines, com a construção do Mercado de Trajano, aglomerando mais de 150 lojas em apenas um local. Mas, a Idade Média descontinuou essa evolução por um tempo, fazendo com que os produtos fossem vendidos em mercados nas ruas, a céu aberto ou nas próprias casas, quando os artesãos expunham seus produtos em janelas que se abriam em duas partes. A janela inferior ficava fechada e a superior abria e formavam um grande tabuleiro onde eram expostos os produtos. Com o desenvolvimento do comércio, estas janelas se transformaram em câmaras de vidro chamando a atenção dos passantes na rua com seus produtos com preços bem expostos. A origem da palavra vitrina vem do francês “vitre”, que significa justamente vidraça, cuja origem vem do latim

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“vitrum”(vidro), inclusive, o nome vitrine é francês (existe uma versão em português: vitrina) Durante o Mercantilismo, as lojas ressurgiram, mas apenas no século XIX, com a Revolução Industrial, surgiram as vitrines como as conhecemos. Artesãos e joalheiros passaram a utilizar a frente da loja para mostrar seus produtos, inclusive com o uso de manequins e decorações para chamar a atenção dos passantes nas ruas. Os manequins, então, eram feitos de cera, couro e porcelana, figuras que simulavam o corpo humano As lojas de departamento surgiram em Paris, a partir de 1852. Nasceu o flanêur, ato das pessoas saírem às ruas para apreciar as vitrines. Durante a Revolução Industrial, a vitrine assumiu o papel preponderante nas vendas que possui até hoje. As pessoas passaram a ter mais opções de produtos e a exposição nas vitrines tornou-se a ser a melhor forma de apresentá-los aos compradores. Atualmente, ela é a principal ligação entre os vendedores e os consumidores é a vitrine. O uso da tecnologia para chamar a atenção e a intensa elaboração visual, tudo associado à marca da loja, têm dado, muitas vezes, o status de obra de arte a algumas vitrines. As tendências do mercado, as novidades e as mais recentes tecnologias, além das ofertas, estão lá, ao alcance dos olhos de todos. Uma vitrine bem montada possibilita a oportunidade de nos atrair para dentro e dar vazão à nossa curiosidade de conhecer o produto e o restante da loja. As vitrines passaram a ser o instrumento que desperta a atenção dos olhos das pessoas e estimula o encantamento com produtos e serviços à mostra. O elemento mais importante é o produto e como ele é apresentado ao seu consumidor. Ela concretiza a sensação de que aquela determinada loja tem algo de que necessitamos. E “olhar as vitrines” se tornou até uma opção de passeio. Segundo Cintia Lie, professora de Visual Merchandising do IED-SP, “vitrine de rua é sempre mais problemática. Um dos fatores difíceis de serem resolvidos é vencer a luz natural que anula a iluminação dos produtos pelas lâmpadas internas. Quando a vitrine tem fundo escuro a luz do sol transforma o vidro da vitrine em espelho, impossibilitando totalmente a visibilidade dos produtos e cenografia. Outro fator problemático da vitrine de rua é que os carros estacionados na frente da loja ou aglomeração de pedestres acabam gerando um ‘muro visual’. As vitrines de shopping ficam em ambiente controlado, não concorrem com a iluminação natural, facilitando a valorização da iluminação especifica dos produtos e cenários”. Em certos shoppings as vitrinas também passam por mais controles estéticos, devendo sempre ter um projeto para aprovação antes de ser instalada.

Hoje em dia As vitrines sempre foram o principal convite da loja para seu consumidor, portanto, sempre buscou-se um trabalho bem elaborado. De acordo com Lie, “as vitrinas nada mais são que um reflexo do desenvolvimento do comércio e das marcas. É se pensar em todo um contexto para este espaço que vai além de apenas expor um produto e seu preço”. Hoje para montar uma vitrine, é necessário se pensar numa narrativa visual que fale a linguagem de seu consumidor, que comunique a mensagem da marca, que fale se é um lançamento, uma liquidação, uma campanha especifica e não só colocar um produto novo porque acabou de chegar na loja. Vitrina é tudo aquilo que está na loja e expõe produtos ao cliente, podendo ser um painel interativo com mais opções do produto, que o consumidor pode acessar no proprio ponto de venda ou pelo aplicativo no celular ou computador.

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O ideal é sempre entender o espaço que ela oferece para a exposição do produto. Se a vitrine for muito grande ou muito pequena, se for de canto ou num formato irregular, é importante estudar como se apropriar de suas condições físicas para tirar melhor proveito quando for pensar em montar a cenografia e os produtos. Para evitar cometer erros é sempre bom checar pelo lado de fora antes de finalizar de fato e tentar ver com os olhos do consumidor. Pensar no número de manequins ou num expositor especial que vá destacar o produto, pensar se é necessário repetir para compor um visual equilibrado e afirmar uma mensagem expressiva na sua composição pode ser crucial.

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Iluminação A iluminação é fundamental, pois ela vai dar o tom emocional à exposição. A iluminação pode ser focada, homogênea, colorida, ela pode gerar um clima romântico ou até dramático, tudo dependendo da cenografia, dos produtos e do segmento em que ela vai atuar. Para produtos alimentícios e frescos, por exemplo, o ideal é que a iluminação reproduza muito bem as cores e seja fria para realçar as qualidades naturais. Em alguns casos o tipo de lâmpada evita que as folhagens entrem em fotossíntese e amadureçam mais rápido.


Projeto da arquiteta Katiana GuimarĂŁes

Temos sempre que pensar que o produto sempre ĂŠ o item mais importante numa vitrina e o consumidor, o foco para quem a mensagem serĂĄ direcionada. Mas nada impede que em algum momento a marca decida montar uma cenografia comemorativa mais conceitual do que comercial. O bom senso vai equilibrar o exagero de uma cenografia em detrimento de um produto.

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ESPECIAL

MENOS ‘CARA DE HOSPITAL’ A humanização do ambiente hospitalar ajuda para que o paciente “se sinta em casa” e pode ser bom também para os profissionais

Texto: Lidiane Gonçalves | Fotos: Vilmar Costa, Gilberto Firmino e Alessandro Potter

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lguns estudos comprovam que projetos arquitetônicos humanizados ajudam no bem-estar dos pacientes. A qualidade da luz, da cor, da acústica, a aplicação de materiais fáceis de limpar e bonitos ajudam na diminuição do estresse nos ambientes de saúde. Por conta dos resultados benéficos provenientes da arquitetura para a recuperação dos pacientes e da melhoria da qualidade do trabalho dos profissionais da saúde, muitos hospitais estão investindo nisto. O arquiteto tem um grande desafio quando pensa na humanização dos espaços das unidades hospitalares, pois, para cada ambiente, é necessário atender as condições distintas, pensando no benefício tanto dos profissionais da saúde como dos pacientes atendidos. Assim, como na necessidade de alguns equipamentos usados nos tratamentos. A arquitetura pode ser um instrumento terapêutico, à medida que contribui para o bemestar físico do paciente, com a criação de espaços que comportem os avanços tecnológicos necessários para o tratamento, mas que possam ser aprazíveis para um convívio humano. Os arquitetos Giovani Andrade e Andreína Fernandes lembram que ao se desenvolver um projeto de arquitetura, seja qual for o uso que será dado ao espaço, é necessário fazer um levantamento de todas as necessidades, atentando-se à funcionalidade e

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estética do ambiente. “Contudo, quando se trata de um ambiente hospitalar, algumas peculiaridades se fazem presentes devido ao uso bem específico, desde a manipulação de medicamentos pelo corpo médico, até o usufruto e estadia dos pacientes”, disse Giovani. Andreína lembra que espaços destinados à saúde requerem preocupações técnicas bem rígidas e específicas, como os cuidados com a assepsia, por exemplo. “Áreas de possível contaminação, como as bancadas de manipulação de medicamentos, devem ser projetadas com materiais antibacterianos e de fácil limpeza. De uma maneira geral, todos os materiais agregados ao projeto precisam ser analisados em relação à sua resistência, higienização e manutenção, devido ao grande fluxo de pessoas que o utilizarão. Os estofados das poltronas em couro sintético, as cortinas em tecido sintético lavável, o piso em laminado vinílico, tudo deve ser determinado em função do uso e das especificações da vigilância sanitária”, disse.

Ambiência em saúde A arquiteta Thabata Paiva, fez o curso de Formação de Apoiadores Temáticos em Ambiência na Saúde, proposto pela Política Nacional de Humanização (PNH), do Ministério da Saúde. “O objetivo do curso foi discutir ambiência, para instrumentalizar


os profissionais a análise e elaboração de projetos arquitetônicos e para orientação das intervenções nos espaços físicos de edificações hospitalares”, disse. Ela explicou ainda que foi usado o termo “ambiência” porque “humanização na saúde” é visualizada de forma mais ampla. “Humanização se trata de fatores ético-estéticos e políticos, que envolve atitudes de usuários, gestores e profissionais da saúde, com o intuito de promover saúde e não apenas tratar a doença”, explicou. Thabata citou o autor Oscar Corbella, quando ele afirma que uma pessoa está confortável em um ambiente quando se sente em neutralidade em relação a ele. “No caso dos edifícios hospitalares, a arquitetura pode ser um instrumento terapêutico se contribuir para o bem-estar físico do paciente com a criação de espaços que, além de acompanharem os avanços da tecnologia, desenvolvam condições de convívio mais humanas”, disse. Ela disse ainda que a humanização na arquitetura hospitalar faz parte do processo de produção da saúde. “Um ambiente deve inspirar confiança ao paciente proporcionando melhores condições de recuperação, além de propor aos funcionários uma situação mais confortável, que resulte em produtividade e satisfação”, lembrou.

O início De forma tímida e não conceituada, há registros antigos de muitas arquiteturas humanizadas no ambiente hospitalar. Mas esse assunto foi destacado de forma mais direta nos Programas no Campo da Saúde Pública. “Em 2003, foi lançada a Política Nacional de Humanização. Porém anos antes o Ministério da Saúde já havia lançado alguns programas voltados a esse conceito de ‘humanizar’. Por exemplo, o Programa Nacional de Avaliação dos

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UPA

Serviços Hospitalares (PNASH), em 1999, e o Programa Centros Colaboradores para a Qualidade e Assistência Hospitalar, em 2000. Programas que já utilizavam o conceito de humanização da edificação como um fator de produção da saúde”, explicou Thabata.

Oncologia Para construir um conceito do projeto, era importante ver um local humano, que contribuísse para a diminuição das tensões e sofrimentos do paciente. “Foi assim que começamos a construir o conceito deste espaço de modo que o mesmo causasse uma repercussão positiva sobre o usuário, trazendo sensações de bem-estar que comprovadamente auxiliam na aceitação do tratamento médico e influenciam diretamente nos seus resultados. Sabemos que há uma tendência atual de se buscar a humanização do ambiente hospitalar para gerar essas sensações de conforto. Essas sensações liberam substâncias no cérebro que ajudam na recuperação, baixando a tensão e elevando o ânimo dos pacientes”, afirmou Giovani. A intenção é fazer com que o paciente, ao frequentar o setor de Oncologia, por mais que esteja numa situação de tratamento, possa “sentir-se em casa”, sentir-se acolhido no local que se propõe a trazer a sua cura, não mais sofrimento. “Arquitetura tem uma característica muito peculiar que é a capacidade de transformar espaços, influenciando nas sensações das pessoas. Recursos de cenário como iluminação, painéis com imagens, aliados a determinados materiais que vão evoluindo com a tecnologia, são capazes de modificar o ambiente hospitalar tornando-o mais acolhedor ou até mesmo divertido, dependendo da proposta”, lembrou Giovani.

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Fugindo das cores de um hospital Para elaborar um projeto, busca-se sair do ambiente verde/branco/azul, comum aos espaços de saúde. “Sabe-se que tais cores remetem à limpeza e têm a intenção de ‘acalmar’ o paciente. Mas, ao mesmo tempo tornam o ambiente frio, impessoal, às vezes até aterrorizador, por já ter se firmado na mente das pessoas como local de sofrimento. Sempre buscamos passar a imagem de que as pessoas envolvidas, médicos, enfermeiros, etc, estão ali para cuidar do paciente, que o ambiente preparado estará acolhendo com o mesmo cuidado que o paciente estaria recebendo em sua própria casa”, lembrou Andreína.

Busca pelo belo Giovani disse que é natural que o ser humano busque pelo belo. “As pessoas se sentem mais à vontade em locais que admiram, que sentem prazer em frequentar. O desafio neste caso, foi criar um espaço que fosse bonito, mas ao mesmo tempo acessível. Que não fosse apenas uma beleza platônica, um universo do qual o paciente não se sente parte, apenas observa. A ideia é que o paciente não somente admire o espaço, mas participe dele, utilizando-o em toda sua plenitude”, afirmou. A recepção pode ter sofás e poltronas confortáveis remetendo a uma sala de estar. Textura de madeira deve ser aplicada em muitos locais para aumentar a sensação de acolhimento. “É importante ressaltar sempre a necessidade de uma fácil manutenção e limpeza, como painéis em MDF com revestimento melamínico simulando a madeira”, explicou. Na Ala Adulta, deve ser criado uma atmosfera de tranquilidade, com elementos que remetam a


um spa, local de relaxamento. “É importante que o paciente vá fazer o tratamento sem o peso de estar indo para um local de sofrimento, mas para um local que vai lhe trazer melhoria de vida. O jardim vertical, as texturas com referência a elementos rústicos em tom de concreto e madeira, a possibilidade de criar um ambiente de penumbra em cada cabine através de um projeto luminotécnico versátil, a escolha das cortinas, tudo converge para essa atmosfera acolhedora.

UTI em hospital público Um dos projetos realizados por Thabata foi a Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica do Hospital Municipal do Valentina, realizado em 2014. “O projeto procurou diminuir o impacto de um local que é muitas vezes traumatizante para o usuário, sem abrir mão da funcionalidade, procurando o belo e humanizado, tornando de fato um espaço que gere sorrisos, principalmente por se tratar de um ambiente pediátrico e de longa estadia”, disse. Os destaques que tornam um projeto humanizado é prever um espaço do “acompanhante” ao lado do leito do paciente, trabalhar cor e desenho nos revestimentos do piso, proporcionar iluminação natural, cores diferenciadas das cortinas, portas e batemacas, a amplidão do espaço, porém com espaços individualizados preconizando a privacidade, e um pé direito baixo, trazendo aconchego. “Outro fator que tento implantar em todos meus projetos é ter um espaço artístico de um profissional da região. Este, eu obtive ajuda do meu irmão, o quadrinista e desenhista Igor Tadeu, que em dois dias trabalhou toda a bancada de Enfermagem com desenhos infantis na própria alvenaria”, explicou.

mais produtivo. Permite aos usuários aliviar a tensão de estar em um ambiente hospitalar, tornando o ambiente aconchegante e familiar”, disse.

Funcionalidade, modernidade e beleza Em parceria com a sócia, a arquiteta Raquel Lins, Thabata realizou outro projeto na área de saúde, desta vez na rede privada. Ela fizeram o projeto do Núcleo de Atenção à Saúde – Sul (NAS), que fica no bairro dos Bancários, em João Pessoa. Ela disse ainda que foram realizados estudos de organização e disposição dos ambientes através de encontros com os diferentes profissionais responsáveis pelo espaço. “A humanização existe nessa integralidade de atuação dos gestores e dos diferentes profissionais, tornando-os protagonistas na ação de implantação de um projeto. Foram diversas conversas sobre funcionalidade, modernidade, beleza e principalmente a proximidade do paciente com o profissional atendente”, disse. “O acolhimento inicial com ventilação e iluminação natural e artificial, um pé direito duplo que permite uma amplidão ao espaço, uma bancada de atendimento com altura baixa, que não intimida a relação profissional e usuário, são outros fatores que agregam ambiência ao projeto”, disse. Da fachada ao quarto, trabalhar o ambiente hospitalar faz diferença para pacientes e profissionais.

Unidade de Pronto Atendimento A partir da observação do que havia sido feito em uma Unidade de Ponto Atendimento (UPA) no bairro de Manaíra, também em João Pessoa, fazendo visitas como se fosse usuária do local, Thabata desenvolveu um projeto para outra UPA, desta vez no bairro do Valentina. “Realizei visitas, conversas com usuários, gestores e funcionários, observando as práticas de atendimento e principalmente de acolhimento, e desenvolvendo um método de avaliação pessoal que eu denominei ‘sendo o usuário’, onde me submeti ser atendida sem aviso prévio como usuária do atendimento”, explicou. Desta forma, a arquiteta analisou diversos fatores humanos deste tipo de edificação e pode traçar planos de trabalho para o projeto da nova UPA. “A nova UPA se destaca pela sua área de descompressão. Trata-se de um jardim interno, com ventilação e iluminação natural, ambiente onde os gestores e profissionais podem passar um tempo e ‘relaxar’, voltando aos trabalhos mais revigorados e tornando-o

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ILUMINAÇÃO

UMR E A L C E

NOS OBJETOS O projeto de uma loja valoriza os eletros sofisticados em exposição para os clientes Texto: Lidiane Gonçalves e Renato Félix | Fotos: Edson Matos e Vilmar Costa

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iferente dos projetos de iluminação para residências – que enfatizam o lado emocional do convívio familiar – a iluminação comercial é mais racional. O investidor pode usá-la como o melhor vendedor da loja. Mas ela tem que ser energeticamente eficiente e com baixo custo de manutenção. O lighting designer Daniel Muniz, da Light Design + Exporlux, usou este conceito no projeto de iluminação da Performato, uma loja de eletros sofisticados. Ele desenvolveu um projeto especifico para a loja, com instalações elétricas aparentes em um conceito marcante de galpão industrial a pedido do arquiteto Leonardo Maia, responsável pelo projeto de arquitetura e pela

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diretoria técnica da empresa que conta com arquitetos e designers. “O conceito do projeto é valorizar os produtos da loja e sua diversidade de cores e acabamentos, evitando o ofuscamento aos clientes e usuários de forma eficiente energeticamente”, explica o lighting designer. “Além de ser um sistema flexível, permitindo vários posicionamentos dos equipamentos ajustados com a layout atual da loja”. Num projeto como esse – em que os produtos são utensílios domésticos, uma coisa aparentemente banal –, uma iluminação que destaque cada peça como única, tratando-as como pequenas joias, é extremamente importante para as vendas e agregar valor a cada uma das peças.

O projeto de iluminação, à sugestão do arquiteto e da diretoria da empresa, seguiu uma proposta em que todas as luminárias são aparentes e na cor preta, utilizadas em eletrocalhas e trilhos eletrificados. “As luminárias foram projetadas para se integrar ao projeto de arquitetura, que tem instalações aparentes em cores escuras, e dando ao sistema de iluminação flexibilidade suficiente para ajustes de layout e redirecionamento dos focos”, conta Muniz. “Além da cor escura servir para ‘esconder’ as luminárias, de forma a ficarem mais discretas, e deixar o efeito apenas para o foco de luz”. Daniel explicou que o controle do ofuscamento foi ponto de preocupação dos projetistas. “Foi utilizado o máximo possível as luminárias ‘de costas’ para os usuários, com aquelas que tecnicamente utilizam o controle de ofuscamento e a eficiência do foco como principal função”, diz. Todos os equipamentos de iluminação preservaram a eficiência energética e a reprodução de cor, tendo em vista a variedade cromática dos eletros ofertados pela empresa. É importante que não haja deturpação das cores do que está sendo exposto para uma iluminação eficiente. “As cores dos eletros da loja são fundamentais para venda do produto”, explica ele. “O sistema de iluminação não pode provocar nenhuma distorção, mas deve exaltar a cor, o brilho e os contrastes das peças expostas. Neste caso foram utilizados lâmpadas com IRC > 90 e com alto brilho exatamente para valorizar este detalhes”. Os LEDs utilizados tem vida útil de 30 mil horas.

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Na área do caixa, foram usadas peças assinadas pela designer paulista Cristiana Bertolucci, com cores verde-lona. “Para quebrar a sensação monótona de caixas de pagamento, e deixar o cliente mais acolhido no momento delicado da venda, que é o pagamento”, conta o light designer. “As cores das peças, lona verde, faz parte também da composição harmônica com o projeto de ambientação do arquiteto Leonardo Maia”. Na área do home cinema, a iluminação usada foi indireta através de réguas de LED utilizadas no mobiliário e arandelas de iluminação perimetral e indireta também na cor preta atrelado a sistema simples de controle de intensidade de luz (automação). “Ambientes de home teather requerem iluminação mais aconchegante e com menos brilho”, diz Daniel Muniz. “Foram utilizadas arandelas e efeitos com perfis de LED de luz indireta deixando o ambiente mais aconhegante com efeitos de luz downlight”. Tudo sempre com o objetivo de ressaltar as peças à venda e cuidando do conforto do cliente.

Lighting designer:

Daniel Muniz

Projeto de iluminação: Lightdesign + Exporlux Projeto de arquitetura e interiores: Leonardo Maia

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CAPA

MAIS

ESPAÇO Projeto de casa para um jovem casal usou poucas paredes e pé-direito alto para uma sensação de amplitude Texto: Débora Cristina | Fotos: Vilmar Costa

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sonho de todo jovem casal é começar a vida a dois num ambiente confortável e com a cara deles. Foi justamente isso que aconteceu com os clientes da arquiteta Leila Azzouz, que fez o projeto desta casa que fica num condomínio fechado no bairro Altiplano, na capital paraibana. Com uma área total de 516 m2, o imóvel se distribui em dois pavimentos e 13 ambientes no total, não esquecendo do destaque de ter um pédireito alto com 3,10 metros e um vazio com pé-direito duplo, onde a escada vira destaque no ambiente. Para a arquiteta, uma residência deve sempre ser aconchegante, prática e gostosa de morar. A opção de utilizar poucas paredes internas, segundo ela, trouxe uma leitura única à casa, o que se reflete também no design escolhido para os ambientes, fazendo com que vários setores e usos coexistam em um único espaço. “O objetivo era construir uma casa ampla, com todos esses ambientes integrados reforçando a amplitude dos espaços, que atendesse as necessidades dos clientes, ao mesmo tempo trazendo um ar rústico e contemporâneo ao local”, explicou Leila. Uma base neutra foi escolhida para que os elementos naturais, como a madeira e a pedra, se destacassem no projeto com suas características únicas de texturas e formas. Os móveis escolhidos são modernos e os tecidos em tons neutros e terrosos complementam a paleta de cores escolhidas especialmente para cada ambiente ser único.

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Já a iluminação se tornou a alma do projeto. “Neste quesito foi valorizado tanto a iluminação natural quanto a iluminação artificial. Destacamos os materiais e revestimentos utilizados, ao mesmo tempo procurando o menor custo e atingindo a

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melhor eficiência energética. No fim, conseguimos dar personalidade a todos os ambientes”, revelou a arquiteta. Pensando no meio ambiente, o projeto possui reaproveitamento de água pluvial, irrigação


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automatizada e aberturas cruzadas para aproveitamento de ventilação natural. Quanto à iluminação, o pé-direito possibilita o bom emprego da luminosidade solar que destaca todos os ambientes, economizando a luz artificial em grande parte do dia. Para a arquiteta, o detalhe mais marcante da obra é o estar íntimo da sala que integra vários ambientes. “Ele foi um pedido especial dos clientes, que queriam que fosse construído abaixo do nível da casa, para dar um ar mais aconchegante, com banco acolchoado, adegas e iluminação indireta. Ficou um luxo!”, disse Leila.

Vinda do Uruguai Uma peculiaridade no detalhamento dessa casa foi a vinda de uma pedra chilena bruta, escolhida por um desejo da cliente que teve pela inspiração no Hotel Fasano Las Piedras, em Punta del Este, no Uruguai. A pedra como elemento de revestimento ele traz um ar mais rústico à casa, deixando um contraste marcante com a casa mais sofisticada e de estilo contemporâneo, sendo aplicada com elegância e estampando qualidade ao projeto. “Ela foi transportada bruta e teve de ser toda quebrada, tratada e montada na obra. Isso levou bastante tempo, mas no fim deu um resultado final bastante satisfatório e se harmonizou muito bem com a escada”, contou a arquiteta.

Área externa A fachada de linhas simples e marcantes já anuncia os elementos que iremos encontrar no interior: o brilho e reflexos em contraste com a rusticidade da madeira e do tijolo aparente. De configuração em “L” e ocupando os recuos laterais e de fundos, a piscina serve de moldura e abraça a edificação. Onde há um espaço reservado para um bar molhado e área de deck de porcelanato com padrão de madeira de demolição. Pedido do casal que recebe muitos amigos em casa. Além disso, os tons escuros dão um ar acolhedor e envolvente a este ambiente. Outro pedido do jovem casal foi um cantinho para horta. “Os clientes que gostam de cozinhar, queriam ter acesso a produtos frescos e de boa qualidade. Nada melhor que cultivar os próprios alimentos ali mesmo, pertinho da cozinha”, contou a arquiteta. Quando o projeto já estava quase pronto, um elemento surpresa. “A surpresa mais alegre de todas foi o casal ter engravidado no final da obra. Tanto que o quarto do bebê foi o último a ser projetado e montado”, comemorou Leila.

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+ imagens no site: www.artestudiorevista.com.br

Reflexo de uma obra onde os detalhes não têm hierarquia e existe um acompanhamento, onde o tempo da obra é o tempo da vida, onde o profissional interfere e participa desses momentos e que se reflete num trabalho onde arquiteto e cliente só têm uma opção: um trabalho bem realizado.

Projeto: Arquitetura e interiores Arquiteta:

Leila Azzouz

Colaboradores: Aline Feliciano (arquitetura) e Anna Raquel Serrano (Interiores)

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VIAGEM DE ARQUITETO

SANTIAGO Em busca de tranquilidade, da gastronomia e de bons passeios

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ecidi conhecer a cidade de Santiago por ser considerada a mais moderna da América Latina com em média 6,5milhões de habitantes que possui tranquilidade, belos passeios, vinhos únicos, temperatura amena e a possibilidade de ver a neve. Capital do Chile, umas das grandes potências do Mercosul, Santiago verdadeiramente superou as minhas expectativas em relação à gastronomia, organização, bem-estar e arquitetura. Por possuir um relevo bem acidentado, ela está localizada no “vale central”, que se encontra entre a cordilheira dos Andes no leste, que é um detalhe de beleza permanente, a Angostura de Paine, no sul e, a Cordilheira da Costa, no oeste. Esse vale tem a extensão de 80 km na direção norte-sul e de 35 km na direção leste-oeste, aproximadamente. E, por essa inserção, a cidade sofre com a poluição atmosférica, o ar seco e úmido que me incomodou um pouco. Santiago tem o local e temperatura propícia para conhecer a famosa cultura do vinho através das diversas vinícolas, essas bem conhecidas mundialmente, onde se destacam a Concha y Toro, Santa Rita e Undurraga. É possível conhecer todo o processo: a plantação, industrialização e por fim a degustação. Como também, os consumir acompanhado de carnes e massas ou nos restaurantes distribuídos pela cidade. Visitei duas vinícolas: a Concha y Toro que é a mais antiga e comercial. Mas a Undurraga se diferencia por ter em média de 1h30 de tour, as outras apenas 35minutos. A área de entrada da Vinicola CyT é muito linda. Misturada aos barris de vinho, uma imagem quase que impossível de vermos por aqui no Nordeste do Brasil, pela delicadeza das folhas (devido a temperatura do local) e principalmente por causa da armazenagem do vinho, em média de 6 meses a 2 anos dependendo do tipo de uvas nos barris. Os principais pontos turísticos da cidade se encontram no Centro. O misto de prédios históricos e uma arquitetura moderna recém-implantada confirmam a capacidade e a forma de respeitar o ontem e viver a modernidade de forma plena e real. Os destaques são: Palácio de la Moneda, sede do governo do Chile, a catedral metropolitana; o Museu Nacional de Belas Artes, um antigo palácio que possui o acervo mais rico do país; o Mercado Central, com bons restaurantes, grande parte deles de comida típica chilena e pescados.

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Essas edificações contrapõem-se aos inúmeros e impressionantes edifícios envidraçados comerciais e empresariais ao lado da cidade, e principalmente o novo Costanera Center, inaugurado em 2012 – o edifício corporativo com o complexo de shopping, empresas e hotelaria, o mais alto da América Latina, com 66 andares e vista de 360°de toda a cidade. Um espetáculo da arquitetura. Em direção ao norte da cidade, se encontra a antiga residência de Pablo Neruda, La Chascona. Sua morada hoje é um museu, com arquitetura, acervo e mobiliários intactos. Possui visita guiada diariamente, explicando o significado e o porquê de cada parte da edificação e o uso dos seus pertences da época que ele viveu. Ele - grande poeta, escritor e marco para a história do país - faleceu em setembro de 1973. No urbanismo, é bem nítida a “divisão” da cidade em glebas. Ao se distanciar do centro, área onde as ruas são largas, bem sinalizadas e arborizadas a periferia vai surgindo lentamente com pouca vegetação, ruas estreitas e acessos reduzidos. Diferentemente de uma cidade onde o metrô funciona, a distribuição de taxis é favorável, os ônibus são conservados e a diversidade de automóveis é imensa em virtude da relação de compra e venda já que as taxas de impostos que são inexistentes por lá. Recomendo, andar pelas ruas sem pressa e apreciar a movimentação da cidade. Ver a arborização do outono e suas construções contemporâneas em contrastes com as antigas. Como também subir ao morro da Imaculada Conceição – onde possui a capela e uma área em declive para celebração de missas ao ar livre, e onde principalmente se vê a cidade do alto também. E lógico, degustar um vinho em um dos milhares de restaurantes que existem na cidade. Não deixe de ir ao Valle Nevado, área destinada a pratica de esqui ou simplesmente para quem deseja conhecer a neve – mas se certifique da época, pois no outono a neve ainda estava baixa, em torno de 30cm e a pratica de esqui não estava ainda liberada.

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Na parte mais histórica, O Palácio do Governo é o berço da constituição de lá, muito bem conservado, fiscalizado e possui um centro cultural no subsolo com exposições permanentes. O museu é lindo e enorme, gratuito e muito bem conservado. Com uma arquitetura bem contextualizada e preservada, com adaptações para a modernidade, como rampas e outros tipos de acessibilidade. Um dos artistas que estava expondo no segundo piso do museu estava pintando ao vivo. Foi uma experiência única. A cidade é limpa, segura, com um povo culto, solícito e educado. Uma ótima opção para amantes da arquitetura e do urbanismo.

Texto e fotos: Anna Guedes

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ACERVO

NO CORAÇÃO DA

CIDADE

A Praça da Independência, no limite da região central de João Pessoa, foi revitalizada e redescoberta pelos habitantes

Texto: Lidiane Gonçalves | Fotos: Divulgação

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Praça da Independência é um dos símbolos da urbanização da Cidade da Parahyba, que só viria a se chamar João Pessoa em 1930. Planejada no início do século XX, foi em 7 de setembro de 1922 que ela foi inaugurada, em homenagem ao centenário da Independência do Brasil, por isso tem este nome. Ela é uma das extremidades da avenida mais importante da cidade, a Epitácio Pessoa, que liga o centro à praia. Além disso, está rodeada de edificações históricas, como o casario que abrigou João Pessoa, a Casa do Artista Popular, o Hospital Santa Isabel e a Escola Pio X. O desenho da praça representa o traçado radial da bandeira do Reino Unido na disposição de seus jardins e passarelas, um traçado típico das praças francesas. No centro dela há um obelisco de pedra granítica, que faz referência à “luta da independência” do país. O coreto que existe em um das laterais é em estilo neoclássico e há muitos anos abriga uma floricultura. Há ainda o

busto de Otacílio de Albuquerque, prefeito da cidade entre 1908 e 1911. O projeto paisagístico destaca a diversidade de plantas da flora nativa da Paraíba, como o pau-brasil, ipê e acácia. No entanto, há ainda as exóticas com a exuberante abricó-de-macaco (nativa da Amazônia) e palmeiras, que chamam a atenção por suas flores intensamente rosadas e seus grandes frutos.

Encontros e lazer Durante muito tempo a praça foi local de passeio para as famílias. Foi também o local para a realização da Feira dos Municípios, quando representantes de várias cidades do estado traziam suas barracas para mostrar o que suas cidades tinham de melhor e a população viajava para a capital para conhecer, em uma única oportunidade, vários produtos.


Sua área extensa (mais de 37 mil m²) era, e ainda é, convidativa para caminhadas e exercícios físicos, mesmo quando a Praça da Independência precisava de reformas. No entanto, depois que ela foi revitalizada, em 2015, o local passou a ser de encontro de famílias para lanches da tarde, brincadeiras e até seções de fotos.

O projeto da Praça é do arquiteto Hermenegildo Di Lascio e foi um pedido do então prefeito Guedes Pereira.

Revitalização A revitalização da Praça da Independência foi entregue em 11 de setembro de 2015. Foram revitalizados os monumentos do obelisco central e o busto de Otacílio de Albuquerque. O coreto, além de pintura, ganhou escadas novas e um elevador, para pessoas com mobilidade reduzida. Calçadas e iluminação também foram substituídas, assim como os bancos. O sistema de irrigação da praça foi todo modificado, houve nivelamento de solo e trabalho de paisagismo, respeitando o traçado original da praça. Depois disso, o pessoense reencontrou a praça que fica no coração da cidade.

LINHA DO TEMPO 7 de setembro de 1922 – Inauguração 20 de agosto de 1980 – Tombamento 11 de setembro de 2015 - Revitalização

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INTERIORES E MODA

CASA COR NA

SPFW

As novidades dos principais nomes da moda e da arquitetura no país

Texto: Germana Gonçalves | Fotos: Divulgação

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nquanto tendências do mundo da arquitetura e decoração são lançadas todos os anos na Casa Cor, em suas diversas edições espalhadas pelo país e até pelo mundo, as tendências do mundo da moda e da arte são lançadas na SPFW (São Paulo Fashion Week). Sem dúvida, considerados os dois eventos mais relevantes em seus seguimentos, ditando as mais variadas e importantes novidades dos principais nomes da moda e da arquitetura no país. Este ano, a edição 41 da SPFW ocorreu entre os dias 25 e 29 de abril, no pavilhão da fundação da Bienal, e teve como diferencial. Uma justa e louvável junção desses dois mundo, moda e arquitetura, em um super espaço projetado denominado Casa SPFW. Os arquitetos parceiros da Casa Cor, Antônio Ferreira Junior e Mario Celso Bernardes, do escritório AMC Arquitetura, tiveram em suas mãos o desafio de transformar uma área de 400m² em um ambiente de casa, baseado no aconchego e no conforto. O projeto teve como objetivo celebrar os 30 anos da Casa Cor. Segundo Mario Celso Bernardes, um dos sócios da AMC, o ponto de partida do projeto foi produzir algo aconchegante e convidativo para um público diferente da Casa Cor, algo que chamasse a atenção de pessoas ligadas ao mundo da moda, mas que ao mesmo tempo os fizesse parar e relaxar um pouco, se desvinculando da correria dos desfiles. Para isso, foram dispostos cinco livings com poltronas confortáveis, iluminação cênica, painéis revestidos de madeira escura, assim como piso e parede, para traduzir um ar mais intimista, além de objetos que remetem à moda, como por exemplo, alguns tapetes com estampas de tecidos. Para humanizar, foram utilizados plantas e jardins verticais, e diversos modelos de luminárias pendentes. Além disso, a composição dos ambientes foi complementada com uma parede repleta de obras de arte urbanas, dispostas em composições em toda extensão da grande sala. O ambiente foi destinado a receber convidados e para realização de coquetéis e entrevistas. Trazer o público SPFW para Casa Cor e vice versa, com certeza engrandecerá os dois eventos e trará ainda mais notoriedade aos seguimentos. Certamente os convidados da SPFW se sentiram em casa, e desfrutaram de um ambiente super aconchegante, onde mais uma vez, o resultado da junção entre moda e arquitetura foi um sucesso.

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Foto: Iodice-spfw-verao2016/17

Foto: Lolitta-spfw-verao2016-17


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MATERIAIS Projeto: arquiteta Márcia Barreiros

MONTANDO PEÇAS O uso de containers na construção aumenta: eles tornam a obra mais rápida e são menos poluentes Texto: Débora Cristina | Fotos: Divulgação

VALE NATURAL E SINTÉTICA Os dois tipos de fibra podem ser usados em móveis – e não só para a praia ou campo

Texto: Germana Gonçalves | Fotos: Diego Carneiro e Divulgação

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á se foi o tempo em que os móveis de fibras eram usados basicamente na praia ou no campo. Atualmente é bem comum encontrar peças lindas na decoração de casas e apartamentos urbanos. São cadeiras, mesas, sofás, espreguiçadeiras, etc. Além dos móveis, é possível ver a fibra em tapetes, cortinas, aparadores, lustres, objetos e utensílios confeccionados com esse tipo de matéria prima. A boa aceitação se justifica pela beleza dos itens, que fazem o diferencial em qualquer tipo de ambiente, além de, claro, ter uma durabilidade surpreendente.

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A chave da longevidade são limpeza e manutenção com produtos e equipamentos mais simples do que se imagina: pano, água e aspirador de pó, uma tríade que conserva como se deve qualquer objeto fabricado com fibra natural – da delicada bananeira ao resistente bambu. É, mas diante de toda a demanda que vem surgindo nesse tipo de mercado, uma das saídas é utilizar as fibras sintéticas, que fazem o mesmo efeito estético e são ainda mais resistentes que as naturais, além de mais “amigas” do meio ambiente.


Informe publicitário

A manutenção dos móveis de fibra sintética é ainda simples: pano úmido ou com algum produto neutro e não abrasivo. O empresário Marco Aurélio, da loja Cabanna, garante que houve uma evolução natural do design e da qualidade dos materiais, o plástico da fibra sintética e o alumínio trouxeram a durabilidade e resistência que as áreas externas necessitam. “Hoje temos muitas variedades de fibras à disposição dos clientes, tanto em cores quanto formato e texturização. Nosso carro chefe são as fibras texturizadas. Algumas que desenvolvemos se assemelham muito à fibra natural, mesmo as de cores básicas como branco, preto e azul, nós diferenciamos e temos nossas próprias cores: Aspen, New York e azul dark. Todas elas têm algum detalhe que deixa os móveis com um ar ainda mais único e personalizado”. Marco Aurélio é um bom exemplo dos empresários que perceberam o crescimento nesse nicho de mercado e decidiu investir. “Foi ainda em 2008 quando pensei em empreender no Nordeste, fui atrás de algo que tivesse mão de obra intensiva. No início, nossa empresa começou importando produtos do Vietnã, tanto móveis de fibra sintética quanto natural, aí depois fizemos o processo de engenharia reversa que consiste em pegar um produto pronto e desmontá-lo para conhecer o procedimento. A nossa fábrica no Vietnã produzia para o mundo todo, o know-how deles é padrão de 1º mundo e trouxemos esse padrão para nossa fábrica aqui em Cabedelo, procuramos as melhores matérias primas, tanto a fibra quanto o alumínio de nossos produtos, para estarmos habilitados para concorrer no mercado externo, que será nosso próximo passo: a exportação para as Américas, África e Europa”, revelou Marco.

podendo fazer ambientes incríveis. “Costumo dizer que cada peça é praticamente uma obra de arte, quando associada a um ambiente todo decorado ela se transforma na peça chave do projeto!”, concluiu o empresário.

Diferenças Os móveis de fibra natural produzidos pela Cabanna são feitos com madeira acácia e a fibra vem de uma planta aquática, o jacinto d’água. O curioso é que antes ele era colhido e tratado como uma praga, mas hoje gera emprego para muitas famílias e embeleza os melhores ambientes do nosso Brasil. E é aí onde entra um incrível trabalho artesanal, desde a coleta nos lagos e canais, passando pela secagem e preparação das fibras, trançando em cordas, para somente depois disso irem para a montagem do móvel. Usualmente os móveis de fibra natural ocupam espaços internos, como móveis de madeira ou estofados, sua resistência é alta e o tratamento que é dado à fibra e a madeira evita que proliferem qualquer tipo de praga. Já a fibra sintética tem a praticidade e resistência aos ambientes externos e internos. Os dois produtos, fibra natural e sintética, têm o apelo artesanal, sendo o natural mais voltado para ambientes internos e conservadores e a fibra sintética mais flexível e com poder maior de personalização. A variedade de cores e texturas da fibra sintética também proporciona aos designers e arquitetos um rol de possibilidades na hora de usar a criatividade,

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PAINEL

MITRI

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Esquadrias de PVC

o último dia 27 de abril na BR 230, foi inaugurada pelo Grupo Fecimal, a Mitri esquadrias de PVC, uma empresa reconhecida pela excelência na qualidade de perfis de janelas e portas em PVC com tecnologias de alta precisão e equipamentos de última geração. O evento aconteceu em dois momentos: um café da manhã reunindo arquitetos, decoradores e designers de interiores e um brunch à tarde com construtores, engenheiros e formadores de opinião. A franquia que tem a base da Kömmerling, tradicional fabricante alemão de sistemas de perfis de PVC e marca líder mundial também na distribuição desses produtos. Fotos : Juarez Carneiro

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CARTA DO LEITOR

Nós queremos ouvir você

ENDEREÇOS PROFISSIONAIS DESSA EDIÇÃO:

É com prazer que aceitamos a sua opinião, críticas, sugestões e elogios. Entre em contato conosco:

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LEILA AZZOUZ Avenida Ruy Carneiro, nº300, sl 210 Bairro: Miramar, João Pessoa - PB (83) 3031 5301 | 99118 3748 contato@leilaazzouz.com www.leilaazzouz.com

DANIEL MUNIZ Av. Geraldo Costa, 601, Manaíra João Pessoa/PB (83) 3226.2622 || 99660.6699 www.lightdesign.com.br

ERIC CARLSON Alameda Lorena, 1257 - Casa 06 01424-005- São Paulo/SP Telefone: (11) 2528-7254 www.carbondale.fr

www.artestudiorevista.com.br revistaae revArtestudio Artestudio Marcia Barreiros

ERRATA

Na edição anterior, número 53, erramos a grafia do nome da loja Cabanna na matéria da arquiteta Márcia Barreiros, página 49.

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GERMANA GONÇALVES Av. Monteiro da Franca, 541- sl 03 Manaíra, João Pessoa/PB (83) 98737.3831 | 99850.6776 germanainteriores@gmail.com


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PONTO FINAL

DESATO É preciso fritar o arroz bastante antes de jogar água fervendo. E não pode mexer jamais depois de a água ser posta. O alho deve fritar no óleo junto com o arroz. Coisas que eu sei e que não. Eu sei muitas coisas. Faxina por exemplo. Sei limpar uma casa de tal modo Que não sobra um canto que não tenha sido tocado Por minhas mãos. Depois vou sujando. Com muito gosto. Deixo peças na sala e louças sujas na pia. Não na mesma hora mas um pouco Bastante depois volto limpando. Assim me faço. Nos objetos que me acompanham. Gosto de andar nas ruas e comprar coisas Que vão se arrumando em torno de mim. Tenho muitas coisas, quero dizer, tenho muitas camadas. Uma camada de livros outra de sapatos. Tem a camada de plantas. E toalhas de rosto. Tenho camadas de cosméticos e de adereços. Uma camada de nomes e de coisas que vejo. Tudo ordenado ao meu redor. Em forma de corpo. Um corpo que me sustenta quando o meu próprio me falta. Cadeiras são meus ossos. Sapatos são meus braços. Torneiras em meus poros. Paredes como roupas de inverno. (Quando toca música em minha casa sai do umbigo) Descanso recostada nas paredes da casa Que me guardam como um abraço. Me abraço quando me derramo na sala. E na cozinha. Em geral adormeço no quarto. Tudo em minha casa tem existência. Todas as coisas significo. Com os olhos. Ou com as mãos. Minha casa tem silêncios Que ás vezes ouço. Em meu corpo Tem silêncios maiores ainda. Que às vezes ouço. E faço poemas. Faço poemas dos silêncios que ouço.

VIVIANE MOSÉ filósofa

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