Revista AE-46

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Ano X II - nº 46

www.artestudiorevista.com.br

arquitetura & estilo de vida

IMPRESSORAS 3D

UMA NOVA MORADA

Como os novos equipamentos podem mudar a arquitetura

Os livros são destaque na residência no interior do Nordeste

GRAMADOS

QUASE NA IRLANDA

DO BRASIL

Arquitetura e interiores criaram o clima de um pub em João Pessoa

PRITZKER

Conheça a arquitetura social de Shigeru Ban, vencedor do prêmio

A Copa acabou, mas os estádios ficam: um livro desvenda as 12 novas arenas

APARTAMENTO INTIMISTA

Apartamento para recém-casados

OPÇÕES CRIATIVAS As soluções para a decoração de interiores do apartamento de um jovem casal

+ como é morar no centro de uma cidade, a nova tabela de honorários de arquitetura do CAU-BR


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Ano XII

SUMÁRIO

Edição 46

62

DICAS & IDEIAS 78 AMBIENTAÇÃO Os desafios das novas salas de espera

62 ACÚSTICA A arquitetura trabalhando pela eficiência energética

CONHEÇA 13 LIVRO Fórum Jovens Arquitetos Latino-Americanos é sobre o evento que aconteceu em Fortaleza

58 GRANDES ARQUITETOS Shigeru Ban ganhou o Pritzker por sua arquitetura social

ARTIGOS VISÃO PANORÂMICA 16 Antônio Francisco de Oliveira fala sobre formação profissional URBANISMO 18 Rossana Honorato conta a história do IAB

66 ACERVO A Igreja da Misericórdia é uma das mais antigas ainda de pé em João Pessoa

68 ARQUITETURA E CINEMA Três Solteirões e um Bebê e um apartamento-cenário

74 ARQUITETURA E MODA A versatilidade insuspeita da cor branca

VIDA PROFISSIONAL 20 Quatro chaves para um pensamento estratégico VÃO LIVRE 22 As dificuldades práticas da mobilidade urbana

ENTREVISTAS ENTREVISTA 24 Odilo Almeida Filho explica as novas Tabelas de Honorários de Serviços

SOCIEDADE REPORTAGEM 72 As impressoras 3D podem fazer maquetes – e até prédios ESPECIAL 52 Após a Copa, um livro dá uma olhada nos 12 novos estádios do Brasil

28



40

PROJETOS REFORMA PESSOAL 28 Projeto teve como base a própria história da proprietária A CONSTRUÇÃO DE UM LAR 32

Ambiente intimista é aposta de projeto para casal recém-casados

CLIMA EUROPEU 36 Uma antiga residência agora é um badalado pub em João Pessoa NOSSA CAPA 44 A decoração de interiores do apartamento de um jovem casal

Nossa capa: Foto: Diego Carneiro Projeto: Valdete Duarte


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arquitetura & estilo de vida ANO XII - Edição 46

EXPEDIENTE Diretora/ Editora geral - Márcia Barreiros Editor responsável - Renato Félix, DRT/PB 1317 Redatores - Alex Lacerda, Débora Cristina,

Lidiane Gonçalves, Renato Félix

Diretora comercial - Márcia Barreiros Arte e diagramação - Welington Costa Fotógrafos desta edição - Diego Carneiro / MB Impressão - Gráfica JB

QUEM SOMOS AE é uma publicação trimestral, com foco em arquitetura, decoração, design, arte e estilo de vida, com tiragem de 8 mil exemplares de distribuição gratuita e dirigida. A reprodução de seus artigos, fotografias e ilustrações requer autorização prévia e só poderá ser feita citando a sua fonte de origem. As colaborações e artigos publicados e fotos de divulgação são de responsabilidade exclusiva de seus autores, não comprometendo a revista, nem seus editores.

ONDE NOS ENCONTRAR Contato: +55 (83) 3021.8308

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www. artestudiorevista. com. br As matérias da versão impressa podem ser lidas, também, no nosso site: www.artestudiorevista.com.br com acesso a mais textos, mais fotos e alguns desenhos de projetos


LIVRO

A VISÃO DA JUVENTUDE O livro Fórum Jovens Arquitetos LatinoAmericanos reúne debates do evento que aconteceu em Fortaleza

americanos, uma vez que não se encontra tanto material sobre esses arquitetos e suas obras. O fórum foi uma iniciativa do escritório cearense Rede Arquitetos, composto pelos arquitetos Bruno Braga, Bruno Perdigão e Igor Ribeiro, também autores do livro. Para o evento, a equipe contou ainda com os arquitetos Epifanio Almeida, Marcelo Bacelar, Lara Lima, Davi Ramalho e o administrador João Victor Pitombeira. O evento teve, em sua primeira edição, um público aproximado de 500 pessoas. Em sua segunda edição, realizada também em Fortaleza em 2013, contou com aproximadamente 750 pessoas. Uma terceira edição, prevista para 2015, já está sendo preparada pela equipe.

Texto: Alex Lacerda | Fotos: Divulgação

Quem tiver interesse em descobrir quais são as visões e o que está sendo estudado e discutido pelos novos arquitetos da América Latina vai encontrar um painel dessa produção no livro Fórum Jovens Arquitetos Fórum Jovens Arquitetos Latino-americanos Inserções Latino-americanos. Fruto de um fórum do mesmo numa Realidade Periférica nome, organizado pelo escritório Rede Arquitetos em De Bruno Melo Braga, Igor Lima 2011, na cidade de Fortaleza, a publicação retrata a Ribeiro e Lara Silva Lima (org.) ideia do evento, que é promover o conhecimento e Expressão Gráfica e Editora, debate acerca da nova produção arquitetônica latino176 páginas. americana, aproximando arquitetos e estudantes de países que, embora estejam tão próximos, nem sempre compartilham experiências como deveriam. O livro é composto de duas partes, que estão disponíveis em versões em português e em espanhol. A primeira conta com artigos sobre o tema da arquitetura latino-americana escritos por Bianca Antunes, Fernando Lara e Roberto Castelo, além de um texto da própria comissão organizadora. A segunda parte contém os textos escritos pelos arquitetos que participaram da primeira edição, mostrando seus trabalhos e suas visões sobre arquitetura, com destaque para os textos de Álvaro Puntoni e o Grupo Sp, Al Borde, MAAM e o Studio Paralelo, Yuri Vital, 7s34w, Rua Arquitetos, Plan:B, Arquitetos Associados e Sebastián Irarrázaval. O livro, assim como o fórum, se destina principalmente a arquitetos, professores e estudantes de arquitetura, bem como a interessados pelo tema da nova arquitetura latino-americana. Em seu livro, os autores ressaltam que a ideia de fazer uma publicação surgiu da necessidade de registrar a primeira edição do FJAL, dando continuidade às várias discussões e questões levantadas durante os três dias do evento. O livro transcendeu o evento e possibilitou a ampliação do debate sobre o tema, tornando-se um excelente Bruno Melo Braga e Igor Lima Ribeiro referencial sobre a nova geração de arquitetos latinoAutores



EDITORIAL

O FUTURO É LOGO ALI Seja sincero: há alguns anos você diria que com certeza veria uma impressora capaz de imprimir não papéis, mas objetos? Objetos palpáveis, em três dimensões, que você pode pegar e usar? Nesta edição, nós mostramos o maravilhoso mundo das impressoras 3D, que podem tornar os projetos de arquitetura baseados em plantas desenhadas coisas do passado. Arquitetos já podem usá-las para imprimir maquetes. É o futuro, logo ali. E pensar o que virá é uma atitude inerente aos arquitetos – como diz o personagem de Tom Selleck, no filme Três Solteirões e um Bebê, de 1987, nosso assunto da seção Arquitetura e Arte: “Sou um arquiteto, projeto cidades do futuro”. Mas para ele e seus dois companheiros de apartamento, o futuro é Mary, a bebezinha que deixam em sua porta. O que nos interessa, no entanto, é o uso do apartamento no filme. Mas a AE não mira só o futuro, mas também o passado que fez de nós o que somos hoje. Nossa seção Acervo é focada nisso e a Igreja da Misericórdia, a mais antiga ainda de pé em João Pessoa, é nosso tema nesta edição. Entre o passado e o futuro, está o presente. E ele está representado pelos novos estádios que acabaram de ser usados na Copa do Mundo. Um livro disseca os 12 projetos e mostra que usos alguns dessas arenas terão. O presente também está nos projetos dos nossos arquitetos convidados que, como sempre, a AE mostra em detalhes. Boa leitura!

MÁRCIA BARREIROS

editora geral e diretora executiva Colaboradores desta edição:

ARTESTUDIO

WELLINGTON COSTA prod. e diagramador

RENATO FÉLIX editor de jornalismo

DIEGO CARNEIRO fotógrafo

ANTÔNIO FRANCISCO DE OLIVEIRA arquiteto e urbanista

ROSSANA HONORATO MARCOS MORITA jornalista arquiteta

JEAN FECHINE arquiteto

GERMANA GONÇALVES designer interiores

DÉBORA CRISTINA jornalista

LIDIANE GONÇALVES jornalista

ALEX LACERDA jornalista

NEIDE DONATO jornalista


VISÃO PANORÂMICA

FORMAÇÃO, EXERCÍCIO

E COMPROMISSO SOCIAL Fotos: Divulgação

A

arquitetura e urbanismo é, sem sombra de dúvida, uma das profissões cujo exercício mais amiúde e mais intensamente impacta a vida de cada um dos indivíduos de uma sociedade. Eis que as pessoas não somente moram em casas e edifícios criados pelos arquitetos e urbanistas, mas também estudam, trabalham e realizam a maioria de suas demais atividades diárias em espaços criados por esses profissionais, além de viverem em cidades que, em maior ou menor medida, são por eles planejadas. Principalmente em razão do acima exposto, e sendo a arquitetura e urbanismo, no Brasil, uma profissão regulamentada, ela tem seu exercício neste país submetido aos condicionantes que a regulamentação estabelece, dos quais se destacam os relacionados à formação profissional. Como ocorre na maioria das profissões regulamentadas, na arquitetura e urbanismo o ensino acadêmico constitui a base para a formação profissional, além de ser condição sine qua non para o acesso ao exercício da profissão. Assim sendo, impõe-se que tal formação seja não somente adequadamente qualificada, mas também socialmente comprometida. Essa exigência se justifica na medida em que – e é fundamental que se compreenda a priori – ao regulamentar uma profissão o Estado brasileiro, ao mesmo tempo, concede um “privilégio” aos profissionais autorizados a exercê-la, e atribui a estes mesmos profissionais uma “enorme responsabilidade”. Por um lado, o “privilégio” concedido pelo Estado reside no fato de que, regulamentada uma profissão, somente àqueles indivíduos que atenderem às condições da regulamentação – considerados habilitados – permitese exercer essa profissão. Não há como negar, portanto, que neste cenário configura-se uma “reserva de mercado” que beneficia tais indivíduos. De outra parte, a “enorme responsabilidade” que é atribuída aos que exercem uma profissão regulamentada se traduz na necessidade de que estes, através de seu trabalho, demonstrem que o “privilégio” dessa regulamentação – ou “reserva de mercado” – tem efetivamente razão de ser, ou seja, que é relevante. Tal demonstração deve fundamentarse, principalmente, na comprovação de que somente estes (e não outros profissionais) reúnem as condições de habilitação necessárias ao exercício da profissão aqui considerada. Destaque-se que para justificar a regulamentação profissional não basta que a profissão seja tida pelos que a exercem como importante para a sociedade. Ao contrário, é necessário que, pela sociedade, a profissão seja assim percebida. Ou seja, é fundamental que a sociedade se sinta beneficiária da regulamentação,

pois, de outra forma esta seria entendida como mera defesa de interesses corporativos. Donde é forçoso concluir que, sendo a regulamentação de uma profissão uma delegação do Estado para que uma determinada classe profissional (e quase sempre somente esta) exerça essa profissão, tal regulamentação deve visar, principalmente, o atendimento das necessidades da sociedade (a quem o Estado representa) e não a defesa dos interesses da classe profissional aqui considerada. Não atendidas estas condições, não haveria como justificar a regulamentação do exercício profissional. No Brasil, desde que foi instituída a regulamentação do exercício da arquitetura – inicialmente pelo Decreto 23.569, de 1933, depois pela Lei n°5.194, de 1966, e atualmente pela Lei nº 12.378, de 2010 –, a atuação nesta profissão se tornou restrita ao portador de diploma de arquiteto, concedido por instituição de ensino devidamente credenciada. Desta forma, teve fim a era durante a qual o exercício da profissão era permitido, não somente aos diplomados, mas também àqueles que dispunham apenas de um aprendizado empírico, posto que este, até então em igualdade de condições com o ensino acadêmico, era considerado suficiente para o exercício da profissão. A partir desta época, o ensino acadêmico passou a ser não somente a base da formação profissional, mas também a única forma de acesso à profissão de arquiteto. Essa mudança de cenário que resultou da regulamentação profissional não se traduz numa questão irrelevante, tampouco deixa de significar um grande aumento de responsabilidade tanto para os profissionais diplomados, agora beneficiários de uma “reserva de mercado”, como para as instituições de ensino, que lhes outorgam os citados diplomas. Se a regulamentação torna o exercício profissional uma exclusividade de quem é portador de um diploma de arquiteto, o qual somente pode ser obtido através do ensino acadêmico – e se este, por seu turno, constitui o esteio da formação profissional – uma conclusão se torna inevitável: é fundamental estabelecer-se uma estreitíssima relação entre o ensino acadêmico e a prática profissional. Noutras palavras: tem que haver correspondência entre os currículos escolares – isto é, o que se ensina nas academias, assim como nas atividades práticas complementares – e as atribuições profissionais dos arquitetos e urbanistas. Do mesmo modo que na maioria das demais profissões regulamentadas, na arquitetura e urbanismo as atribuições profissionais são definidas na lei regulamentadora. Deve-se ter claro, também em relação a isto, que ao definir esta questão a lei objetiva, acima de


tudo, assegurar o melhor atendimento às necessidades sociais, particularmente no que tange aos quesitos de segurança, saúde e bem-estar, tanto das pessoas como de suas propriedades, sem descuidar da preservação do patrimônio cultural e do meio ambiente. Por um lado, isto significa que a lei regulamentadora, ao conferir ao arquiteto e urbanista determinadas atribuições, reconhece, em razão da formação que ele recebe, que a este profissional – melhor do que a outros – compete exercê-las. Mas também significa, de outra parte, que tal reconhecimento somente tem consistência quando os interesses coletivos se sobrepõem aos corporativos, isto é, quando prevalece o que é melhor para a sociedade. Portanto, não deve restar qualquer dúvida quanto ao fato de que as atribuições profissionais dos arquitetos e urbanistas são aquelas, e tão-somente aquelas, para o exercício das quais eles, em razão de sua formação, estão mais bem preparados para servir à sociedade. Esta é, em suma, a única justificativa relevante para a regulamentação! Mas, no que respeita às questões acima expostas é efetivamente esta a realidade brasileira atual no que respeita ao ensino e formação e ao exercício profissional da arquitetura e urbanismo? O que se pode dizer atualmente do ensino acadêmico vis-à-vis a prática profissional? Como um tem evoluído em relação à outra nos últimos tempos? Esse ensino efetivamente habilita os arquitetos e urbanistas a exercerem em plenitude e com a necessária qualificação as atribuições profissionais que legalmente lhes foram concedidas? Ou, dito de outra forma: em que medida as atividades técnicas que constituem o campo profissional do arquiteto e urbanista encontram amparo na formação que estes recebem? O fato é que muito tem sido dito em termos de críticas à qualidade do ensino e formação em arquitetura e urbanismo no Brasil, e isto não é de hoje. Parece haver, contudo, um sentimento amplamente majoritário de que o cenário muito se agravou nas duas últimas décadas, principalmente a partir da multiplicação do número de escolas e de cursos, ainda que sejam escassos os elementos de prova de que o primeiro seja consequência direta da segunda. Muitas são as questões apontadas em relação à qualidade de tal ensino, seja da parte dos egressos das escolas e cursos, seja das autoridades acadêmicas ou dos tomadores dos serviços desses profissionais. Das críticas apontadas, talvez a mais recorrente seja aquela de que na maioria das escolas – senão em todas – o ensino teria sido em grande parte descolado da prática profissional, o que leva os que têm este ponto de vista a sugerir que os diplomados nessas escolas e cursos não estariam aptos ao pleno exercício da profissão. Especula-se, ainda, que a desconexão entre ensino e prática profissional se agrava pelo fato de que, em muitas escolas e cursos, haveria uma clara preferência por um corpo docente de perfil exclusivamente acadêmico, em detrimento do professor que detém formação mais baseada na prática profissional. Em tais condições, como poderia o arquiteto e urbanista,

por excelência profissional da proposição e da intervenção, desempenhar adequadamente seu mister? Também se apontam problemas relacionados a uma possível assimetria entre os currículos acadêmicos – ou melhor, entre as diretrizes curriculares nacionais – e o que de fato se ensina nas escolas e cursos de arquitetura e urbanismo. E, o que é ainda mais grave, há relatos de que, em certos casos, a carga horária efetivamente ministrada nesses curso é (ou seria) inferior aos padrões mínimos estabelecidos, com gravíssimos prejuízos para a formação profissional. Como, na lei regulamentadora, as atribuições profissionais dos arquitetos e urbanistas são definidas a partir das diretrizes curriculares nacionais – isto é, dos currículos acadêmicos -, e estes parecem não ser cumpridos plenamente por muitas das escolas e cursos, como fica a situação de seus egressos? Estes estariam efetivamente aptos a exercer em plenitude tais atribuições? O que o CAU pode (ou deve) fazer também em relação a este seríssimo problema? Há ainda a preocupação, recorrente em muitos círculos profissionais, quanto à ideia de que o arquiteto e urbanista carrega (ou carregaria) o estigma de ser “profissional de luxo”, “projetista de madame” ou algo do gênero, que a nada se atém senão ao estreito leque de atividades de que se ocupa cotidianamente. E mais, mesmo que atualmente não se disponha de dados que comprovem ou refutem tal hipótese, há relatos, aparentemente consistentes, de que, ao menos em algumas escolas e cursos, muitos estudantes parecem já não se interessar por outros assuntos além daqueles que se relacionam aos seus mais imediatos interesses de prestígio e reconhecimento pessoal, estes baseados no sucesso material que possam alcançar na profissão. Esses estudantes, ainda segundo tais relatos, não aparentam nutrir qualquer interesse por temas relacionados a estudos ou projetos de rebatimento sobre o coletivo, tampouco parecem ter a mínima consciência do compromisso social da profissão. Em tais circunstâncias, como avaliar na arquitetura e urbanismo a tripla relação formação acadêmica versus atribuições profissionais versus interesse social? É possível considerar que estão os arquitetos e urbanistas suficientemente conscientes de sua responsabilidade perante a sociedade e a profissão? Estão eles cônscios de sua responsabilidade ética diante do exercício profissional? Todas essas questões aqui expostas precisam ser urgentemente respondidas. Ao CAU não resta alternativa senão a de exercer seu papel legal e institucional neste processo, no qual lhe cabe ocupar um lugar de proa. Quanto à presente Conferência, esta, sem sombra de dúvida, não apenas em muito poderá contribuir para que se avance no trato dessas questões, mas de fato representa uma oportunidade ímpar para que se apontem novos caminhos, tanto para a ação do CAU como para os profissionais e para a profissão. Texto divulgado na I Conferência Nacional de Arquitetura e Urbanismo, fortaleza (ce)

Antônio Francisco de Oliveira 1°Vice-Presidente do CAU/BR Arquiteto e urbanista Professor da UFPB


Porto do Varadouro (Porto do Capim), 2008.

URBANISMO

O DESENVOLVIMENTO URBANO NO BRASIL

E A CONTRIBUIÇÃO DO INSTITUTO DE ARQUITETOS DO BRASIL UMA MEMÓRIA FRACTAL

U

m debate acalorado na rede social tomou conta de parte de colegas arquitetos paraibanos sobre o papel da mais antiga instituição representativa da categoria no Brasil: o Instituto de Arquitetos do Brasil - IAB. E tem sido muito saudável refletir a função social da entidade face ao processo sucessório em dezembro de 2013, em sua Seção Estadual. Sobretudo, pela presença animadora de novas gerações desperta para a potencial contribuição da arquitetura e do urbanismo para a qualidade da vida social no que diz respeito à especificidade da cidade e do edifício. A organização de livre associação, sem fins lucrativos e de finalidade cultural, nasceu em 1921 na cidade do Rio de Janeiro e daquela data aos nossos dias se manteve em permanente atividade. Teve entre seus principais feitos uma luta que se estendeu por quase todo o século XX e hoje é realidade consumada com a criação do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil, o CAU-BR, em 2010: um conselho próprio autorizado pela Federação para fiscalizar o exercício da profissão e apto a proteger a sociedade brasileira dos serviços prestados em livre interação com o Conselho Federal de Engenharia, a que esteve o exercício da arquitetura e do urbanismo submetido desde o ano de 1933 através da Lei 5.194. A problemática das cidades e o papel a ser desempenhado profissionalmente sempre constituiu o farol das lutas dos arquitetos brasileiros em defesa da qualidade de vida população, da habitação social, dos espaços públicos, da paisagem, do patrimônio cultural e da qualidade funcional e formal das edificações, em busca de colaborar para o encontro de soluções para os graves problemas de exclusão social do direito à cidade que aflige de longa data a cidadania brasileira. Na trajetória de sua história, o Instituto de Arquitetos do Brasil esteve presente de maneira marcante quando da instalação do regime militar, afastando-se determinadamente de sua especificidade e colocando-se como um dos portavozes da sociedade brasileira em defesa da normalização institucional do país e da construção da democracia. Junto a entidades como a Associação Brasileira de Imprensa, a Ordem dos Advogados do Brasil, a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil e os Clubes de Engenharia do país,

Fotos: Divulgação

constituiu um espaço disponível para a ação popular em substituição aos próprios partidos políticos de oposição reféns da repressão ditatorial. No período da reabertura política, acompanhou ativamente os processos de anistia aos presos políticos e a conquista das eleições diretas na campanha de 1984 que fundou as bases institucionais para o regime democrático em curso. Com a redemocratização e o surgimento dos sindicatos ativos, O IAB pode voltar-se à sua especificidade, recuperando a sua condição politico-cultural voltada à defesa da qualidade de vida nas cidades brasileiras e a imprescindível e consentânea valorização do exercício responsável e responsivo da profissão. Na década de 1980, quando da instalação da Assembleia Nacional Constituinte, o IAB participou do processo de revisão constitucional empenhando-se na defesa da inserção da pauta da política urbana e habitacional e do meio ambiente na Carta Magna publicada em 1988. Como subsídio, dispunha todo o inventário de toda a produção do IAB, então com 75 anos de fundação, e o pensamento dos arquitetos frente à necessidade de reforçar a flagrante carência brasileira de políticas públicas voltadas para a reforma urbana, até então considerada como pauta pertinente ao debate sobre a política da reforma agrária, mediante um reconhecimento hegemônico que tomava o problema do “inchaço urbano” como consequência da carência de políticas públicas voltadas à zona rural. Empenhou-se igualmente nas pautas sobre a proteção do patrimônio cultural brasileiro e da conservação e defesa de nossas florestas diante dos riscos emergentes nas fronteiras da Amazônia Brasileira. Uma integração que levou o IAB ao debate sobre a formação do Mercado Comum Sul-Americano, em busca de constituir as bases de proteção dos serviços profissionais brasileiros mediante a expansão da mundialização da economia. Passando então a ocupar o espaço relativo ao debate sobre o ensino e a formação profissional compondo a Comissão de Ensino do Ministério da Educação e Deporto e apoiando a obrigatoriedade da reestruturação curricular dos Cursos de Arquitetura e Urbanismo no Brasil. Um Grupo de Trabalho levava contribuições ao Comitê Nacional para o Habitat. O IAB, conquistada a sua


inscrição, inseria-se na Secretaria Geral do Habitat para a elaboração de uma proposta de política habitacional e urbana na Conferência Nacional da Política Urbana e Habitacional. Voltando à sua fundação na Paraíba, em 1978, passou a organizar gradativamente a sua estrutura funcional de maneira a oferecer e a consolidar uma política de colaboração e prestação de serviço à sociedade paraibana, acompanhando atentamente as políticas públicas municipais que envolvem as pautas da arquitetura e do urbanismo de nossas cidades. Em um instante de fragilização institucional e inatividade, uma revisão no Plano Diretor da Cidade de João Pessoa se fazia institucionalmente. Profissionais arquitetos e urbanistas, dentre os quais os viriam a constituir a Diretoria do IAB-PB no ano seguinte, atentos ao papel a desempenhar frente às questões do desenvolvimento municipal, participavam das sucessivas plenárias abertas, então proporcionadas pelas gestões municipais dos prefeitos Carlos Mangueira e Francisco Monteiro da Franca, para apreciação do novo Plano. Consolidada a Lei Complementar Nº 03/1992, a nova gestão do IAB-PB passava a integrar o processo de concepção e formação do Conselho de Desenvolvimento Urbano, instrumento criado pela nova lei, e que culminou em participação formalizada na gestão pioneira do CDU em atenção ao chamamento da Câmara de Vereadores do Município de João Pessoa. Por força de sua função cultural e de sua finalidade não lucrativa, o IAB-PB e focado na priorização do pleno reestabelecimento de sua sede na capital do estado, se via limitado quanto à necessária expansão de suas ações aos municípios paraibanos. Ora, ventos renovadores avançam no sentido de reconstituir a densidade de sua base institucional de maneira a estender sua atenção a todas as cidades da Paraíba. Nesse sentido, profissionais de arquitetura e urbanismo se organizam para colocar-se à disposição da sociedade paraibana, disseminando a função social da profissão e o potencial de colaboração para o desenvolvimento urbano. O processo atual de renovação eleitoral tem o potencial de reconstrução da referência pública do IABPB para o desenvolvimento estadual, de disseminar o reconhecimento social sobre a função da arquitetura e do urbanismo para o desenvolvimento, de demonstrar que a solidez de sua história o coloca sob a responsabilidade de desenvolver ações que convirjam para o interesse social, sobretudo através da qualidade técnica da prestação dos serviços profissionais em correspondência a esse poderoso instrumento de emancipação da sociedade que foi a criação do Código de Defesa do Consumidor, mais uma conquista da “Constituição Cidadã”, de efetiva repercussão sobre o mercado de serviços e comércio no país, fomentando a conscientização dos profissionais acerca da qualidade e da destreza técnica, propugnando pelo exercício profissional

Praia do Cabo Branco, João Pessoa/PB

ético e digno. É seu papel assim, o empenho na promoção de oportunidades de reflexão e de capacitação profissional continuada de maneira a oferecer a oportunidade salutar de revisão e atualização de seus conhecimentos técnicos. Oportunidade que se repete para a defesa do concurso público para obras públicas, cuja modalidade de licitação pública já é prevista em legislação específica para a construção civil e que se encontra incidente também sobre o conjunto da legislação estadual e municipal. O concurso público de obras de arquitetura e urbanismo é a melhor maneira, a mais democrática, de contribuir para o enriquecimento da qualidade paisagística das cidades, conferindo oportunidades de discussão contextual da existência da proposta e permitindo o ingresso de novos profissionais no mercado de trabalho e abrindo-se à participação popular no processo decisório. A defesa e a promoção de concursos públicos para obras públicas estão indissociavelmente ligadas à fundação em 1921 do Instituto de Arquitetos do Brasil em sua atuação há quase um século. A qualidade e a diversidade das propostas produzidas em centenas de concursos já realizados no país constituem uma expressiva amostragem do pensamento e da produção de seguidas gerações de arquitetos brasileiros e parte importante de nosso patrimônio de bens e valores culturais. As tentativas da categoria de conquistar o reconhecimento das instituições públicas esbarram em interesses que não são da maioria da sociedade, que paga impostos compulsórios e devem ter o direito à qualidade da paisagem, de espaços públicos e de edificações urbanas e obras bem construídas e orçamentadas corretamente. Constitui parte significativa da história do IAB na Paraíba a atenção rigorosa a planejadores, legisladores e executivos paraibanos e é desse lugar e com essa função que deve prezar o seu ideário. Empenhado em colaborar para garantir cidades de viver e gestões públicas democráticas, abertas, participativas e que zelem pela poupança urbana coletiva estabelecida concretamente na paisagem natural ou nos sistemas de infraestrutura instalada ou no patrimônio edificado e na asseguração da expansão urbana por meios de controle efetivo do adensamento urbano, buscando mitigar os impactos ambientais e de vizinhança causados pelos polos potencialmente geradores em vista do desenvolvimento urbano equilibrado com o meio ambiente.

Rossana Honorato

Arquiteta e urbanista Mestre em Ciências Socias Professora do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFPB


VIDA PROFISSIONAL Tropa de Elite II

AS QUATRO CHAVES

DO PENSAMENTO ESTRATÉGICO Fotos: Divulgação

V

ocê sabe o que significa estratégia? Sua origem provém do grego stratègos, onde stratos = exército e ago = comando. Uma utilização peculiar pode ser vista no filme Tropa de Elite (2007), no qual Wagner Moura repete o conceito em várias línguas para um grupo de recrutas sonolentos. O termo migrou para o mundo corporativo por meio de livros como a Arte da Guerra e hoje em dia em concorridas palestras de ex-policiais do Bope. É presença constante em reuniões corporativas, onde concorrente é chamado de inimigo, ponto de venda é conhecido como campo de batalha e conquista de território é sinônimo de participação de mercado. Engana-se, porém, quem imagina que estratégia está restrita ao mundo bélico ou corporativo. Você, eu, assim como qualquer outra pessoa pode se beneficiar do pensamento estratégico em qualquer papel que esteja inserido: colaborador, executivo, empreendedor, voluntário, esposa, marido, pai, companheiro. Para ajudá-lo a pensar de maneira estratégica criei um guia com quatro chaves, cada qual com um nome sugestivo, em geral uma alegoria aos conceitos apresentados.

Você poderá utilizá-las em qualquer sequência, assim como três, duas ou apenas uma, porém seu poder e eficiência serão tanto maiores quanto mais chaves utilizar. Vejamos. Alice no País das Maravilhas: a primeira chave versa sobre a definição de objetivos de curto, médio e longo prazo, alinhados ao acrônimo Smart. Para definilo utilizarei de alguns tipos que cruzam nossa vida. Qual Alice no País das Maravilhas


com as novidades do seu mercado. Para ambos, uma lição a ser aprendida: olhe sempre para fora da caixa. Bombeiro: atire a primeira pedra quem nunca se sentiu como um bombeiro, apagando incêndios. Prazos apertados, cumprimento de metas, reclamações de clientes, entrega de relatórios, pedidos do chefe, reuniões intermináveis. Tudo isso faz parte do dia-a-dia das organizações, as quais em busca de maiores lucros acabam por reduzir seus quadros, sobrecarregando os que ali permaneceram. O problema é quando isto se torna rotina, refletindo-se em longas jornadas, cansaço, estresse e retrabalho, interferindo em sua vida pessoal. O consultor e escritor Stephen Covey em seu livro Os Sete Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes, já mencionava a importância em separar o importante do não importante e o urgente do não urgente, ensinando as pessoas a trabalharem no quadrante mágico do planejamento, invariavelmente esquecido e atropelado pelas urgências. Planejar, delegar, treinar, fixar grandes objetivos, controlar, monitorar e antever eventuais problemas antes que se tornem urgentes, são atitudes que podem ajudá-lo a retomar o controle do relógio. Tente reservar uma hora por dia para trabalhar nas atividades listadas. Você verá que os resultados são impressionantes. Grandes Ovos: conheço diversos executivos e empresários solitários e arrependidos, cujos filhos e esposas preferiram seguir seu próprio caminho enquanto seus pais e mães ausentes viajavam ou trabalhavam horas a fio. Infelizmente para nós que já temos cabelos brancos, muitas vezes é necessário um acontecimento ou evento inesperado: doença, separação ou morte para que a ficha caia. Mergulhados em nossas atividades, esquecemo-nos de perguntar o que é realmente importante em nossas vidas. Tal qual o poema do escritor colombiano Gabriel Garcia Márquez, Carta de Despedida, repensamos o que poderíamos ter feito, caso pudéssemos voltar as horas. Pare enquanto ainda há tempo e liste suas verdadeiras prioridades: esposa, marido, filhos, pais, amigos, tempo livre, estudos, desenvolvimento espiritual, trabalhos comunitários, cultivar um hobby, escrever um livro, construir uma casa, viajar, velejar. Uma vez definidos, estabeleça objetivos Smart para atingi-los, aproveitando o tempo livre que sobrará após livrar-se da síndrome do bombeiro. Viu só? Sem querer você já está usufruindo dos benefícios de pensar estrategicamente.

Marcos Morita

Mestre em Administração de Empresas, professor da Universidade Mackenzie e professor tutor da FGV-RJ. Especialista em estratégias empresariais, é colunista, palestrante e consultor de negócios. Há mais de quinze anos atua como executivo em empresas multinacionais

Foto: Divulgação

a semelhança entre o fumante e o obeso no primeiro dia do ano, o amigo sonhador que a cada hora aparece com uma nova ideia e o político em véspera de eleição? Todos têm sonhos e promessas, as quais na maioria das vezes não se concretizam por não serem específicas, mensuráveis, atingíveis, realizáveis e com um tempo definido, ou seja, não são Smart, traduzindo as palavras para o inglês: Specific, Measurable, Attainable,Relevant, Time-bound, e utilizando suas primeiras letras. Agora, por que Alice? Para quem não se recorda do livro ou o filme, há uma cena na qual a garota perdida na floresta entabula uma conversa com o gato. Alice em frente a uma bifurcação pergunta para onde vão aquelas estradas. O gato em cima de uma árvore responde: “Depende, para onde você quer ir?”. Alice diz que não sabe que caminho seguir. E então o gato, genialmente, responde que para quem não sabe onde ir, qualquer caminho serve. Enfim, saber definir objetivos, monitorá-los e cumpri-los é uma arte que poucos dominam, por exemplo, os projetos em sua empresa, a reforma da sua casa, os puxadinhos nos aeroportos, as obras públicas do PAC e os quilinhos extras que insistem em persegui-lo. Avestruz: neste mundo globalizado, interconectado e instantâneo, empresas lançam produtos e serviços com velocidade cada vez mais espantosa, reduzindo os ciclos de vida de seus produtos, muitas vezes canibalizando-os antes que a concorrência o faça. Creio que se lembra da casa de sua avó com o fogão antigo e o pinguim em cima da geladeira, relíquias de um casamento remoto. Não obstante reclamamos que tudo hoje é descartável, mas não aguentaríamos tanto tempo utilizando os mesmos eletrodomésticos. Vamos testar? Pare e olhe o seu smartphone, televisor de LED, tablet ou ultrabook. Aposto que o anterior ainda estava em perfeitas condições de uso. Apesar destas óbvias constatações, muitas vezes nos comportamos como avestruzes, enfiando a cabeça na terra ao invés de olharmos o mundo exterior, as ameaças e oportunidades que nos cercam. Quem já foi despedido alguma vez sabe o quão difícil é retomar os contatos perdidos, esquecidos enquanto estávamos compenetrados no dia a dia da empresa. Empresários também se enquadram toda vez que são surpreendidos pelos lançamentos e promoções da concorrência. Faltou ao empregado a disciplina em cultivar seu networking e ao empreendedor manter-se atualizado


VÃO LIVRE

AS UNIVERSIDADES E SEU PAPEL TRANSFORMADOR NA CIDADE

para as associações de bairros, se juntando com os movimentos sociais e entidades, enfim, participando dessa luta pela construção de uma cidade melhor. Não há nada mais frustrante, mais até do que a derrota humilhante dos 7x1 para a Alemanha, do que ver sendo anunciadas pela imprensa obras equivocadas com dinheiro público e saber que há inúmeras outras possibilidades de projetos melhores e mais viáveis, mas, de certo modo, com a conivência de uma classe intelectual passiva e pouco combativa aos desmandos dos seus governantes, não se manifestar nem numa nota de esclarecimento sobre quais equívocos técnicos tais obras apresentam não é a solução. Se estiver cometendo alguma injustiça, que se apresentem os argumentos e as provas que peço desculpas naturalmente, mas não vejo nada nesse sentido da participação por parte de setores relevantes das universidades nos rumos dos acontecimentos ora exposto na cidade de João Pessoa. Nesse quadro, achar que a transformação deve começar pela mudança de conduta dos políticos e dos gestores é uma visão até compreensível, mas comodista e apática. A verdadeira transformação cidadã perpassa inevitavelmente pela participação ativa da sociedade, independente de classe social, condição econômica ou cultural, do mais humilde gari até os “letrados”, as manifestações de junho de 2013 demostraram isso, mais recentemente o “ocupe Estelita” em Recife-PE também. Se engajar, participar e opinar contra os projetos centralizadores anunciados devem fazer parte do consciente processo de mudança e as universidades não podem ser excluídas dessa luta dada a sua importância institucional para desenvolvimento humano e na cidade. Dessa forma, com engajamento social, articulação e base técnica, teremos força para acionar os Ministérios Públicos Municipal e Estadual para que sejam cumpridas as demandas de uma gestão verdadeiramente democrática, sobretudo para que os projetos em áreas de importância sócioespacial, físicoambiental citadas acima sejam debatidos com a sociedade civil como um todo. Essa é esperança de muitos pessoenses e paraibanos.

Parque Solon de Lucena

Foto: Reginaldo Marinho

E

stá claro que há um descontentamento por parte da sociedade civil com a falta de transparência e debate sobre as obras importantes anunciadas e conduzidas pelas gestões públicas municipal e estadual. Parque Solon de Lucena, requalificação do Porto do Capim e do Bairro São José, Avenida Beira Rio, Trevo de Mangabeira, reforma do Estádio Almeidão, para citar algumas. O que podemos fazer para externar a nossa indignação? Essa pergunta deve perpassar primeiro pelos cidadãos que se preocupam com sua cidade. Depois pelas entidades e instituições que representam a coletividade. Os movimentos sociais tem importante papel para externar esse descontentamento, mas, sobretudo, pessoas que ocupam cargos importantes nas universidades, entidades e instituições podem também assumir uma postura de liderança no sentido do engajamento e do envolvimento nas causas públicas e coletivas que afetam as vidas de todos, indistintamente. Deixar os acontecimentos passarem como se não tivesse nada a fazer porque estamos diante de um sistema político-partidário avassalador, nutrido por um modelo capitalista que retroalimenta as práticas clientelistas e de favorecimento para a perpetuação do poder (o que é um fato, mas não infindável), é negar o nosso dever de uma luta histórica pela conquista da democracia plena e pelo fortalecimento da cidadania. Penso que nossa cidade não é de um grupo político da situação ou oposição, a cidade de João Pessoa é de quem vive nela, e os gestores, eleitos para representarem as vontades da maioria, e com base nos parâmetros legais (Estatuto da Cidade, Plano Diretor, Plano de mobilidade urbana, Código Municipal do Meio Ambiente, entre outros) devem simplesmente cumprir as leis, fato que não estão fazendo na medida em que não dialogam e nem apresentam os projetos para a população de forma adequada. Gestão democrática não é a vontade de uns poucos ativistas “xiitas” que são contra político “a” ou “b”. Gestão democrática está prevista em lei, no Estatuto da Cidade. Apesar das boas intenções do prefeito e do governador, a forma de conduzir as ações no espaço urbano é inadequada. Dito isto, para fazer frente ao pragmatismo e ausência de planejamento que perdura a muito tempo nos governos, está mais do que na hora das instituições de ensino superior públicas e privadas, com seu vasto acervo de pesquisas e alternativas viáveis para a serem aplicadas na cidade, se apresentarem como agentes ativos desse processo de transformação. Pesquisadores, docentes, coordenadores dos cursos superiores e de pós-graduação tem muito a contribuir para o salutar debate. Como? Se mostrando disponível para a gestão através de convênios, indo para a mídia,

Texto: Marcos Suassuna



ENTREVISTA

ODILO ALMEIDA FILHO SEGUINDO A TABELA O relator das novas Tabelas de Honorários de Serviços de Arquitetura e Urbanismo do Brasil lançada pelo CAU-BR fala sobre o que muda para profissionais e clientes Texto: Lidiane Gonçalves | Fotos: Divulgação e MB

O

dilo Almeida Filho é graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Ceará, com especialização em Estudos de Viabilidade de Negócios Imobiliários e em Planejamento e Gestão Ambiental. Nas décadas de 1980 a 1990 trabalhou nas equipes de planejamento, gestão e execução de projetos em grandes empresas. Desde 1994 ele dirige o escritório Métrica Arquitetura e Urbanismo. Em 2009, foi escolhido pelo Conselho Superior do IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil) para a função de coordenador e relator das Tabelas de Honorários de Serviços de Arquitetura e Urbanismo do Brasil. Atualmente exerce o mandato de vicepresidente da Direção Nacional do IAB para a Região Nordeste e de Conselheiro do CAU-CE. É diretor do IAB- CE, órgão que já foi presidente. Com toda essa experiência, Odilo fala à AE sobre as novas tabelas de honorários, sua importância e sua funcionalidade para o profissional.


AE – O que são as Tabelas de Honorários de Serviços de Arquitetura e Urbanismo do Brasil? ODILO ALMEIDA – As Tabelas de Honorários de Serviços de Arquitetura e Urbanismo do Brasil são publicações resultantes do trabalho de pesquisa, sistematização e debates entre os arquitetos e urbanistas brasileiros, realizado entre os anos de 2009 a 2014, sob a minha coordenação e relatoria. Baseados, inicialmente, nas experiências históricas do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), os conteúdos foram ampliados com as contribuições do Colegiado Permanente de Entidades de Arquitetura e Urbanismo (CEAU) e, finalmente, homologadas pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR), autarquia federal com poder normativo. As tabelas constituem-se, portanto, em normas federais contendo parâmetros oficiais com definições, valores, etapas e escopo dos serviços de arquitetura e urbanismo. AE – Qual a importância das novas tabelas? OA - A definição de uma metodologia adequada para a formação de preços de serviços de arquitetura e urbanismo sempre foi um desafio para os profissionais e entidades representativas do setor. As diferenças regionais, variedade de serviços e as particularidades de cada escritório contribuem para ampliar esse desafio. AE – Qual o objetivo desta tabela? OA - As condições de contratação e remuneração estabelecidas nas tabelas são uma referência segura para negociações, visando estabelecer um acordo justo e equilibrado entre as partes. Objetivam, sobretudo, coibir a concorrência desleal de preços e assegurar um padrão de qualidade para os serviços prestados. As tabelas vinculam os valores à documentação mínima (ou escopo) que deve ser fornecida por cada etapa de trabalho. AE – Ter uma tabela como esta era uma necessidade dos profissionais de arquitetura? OA - O conjunto de atividades e atribuições que a legislação brasileira atribui aos arquitetos e urbanistas impõe a necessidade de se estabelecer métodos e referências para a formação de preços que garantam, ao mesmo tempo, uma adequada remuneração aos profissionais e a prestação de serviços de qualidade à sociedade. AE- Como o profissional pode ter acesso a esta tabela? OA - São 211 tipos de projetos. Um programa de computador auxilia nos cálculos, formulação de propostas e contratos, que estão disponíveis no sítio do CAU/BR na internet (www.caubr.gov.br) e podem ser vistos em três módulos: “Remuneração do projeto

arquitetônico de edificações”, “Remuneração de projetos e serviços diversos” e “Remuneração de execução de obras e outras atividades”. AE – Como lidar com as particularidades das regiões? OA - As diferenças de preço praticadas entre os estados brasileiros e os diferentes tipos de escritórios estão contempladas pela adoção de variáveis estaduais. Com base nelas, o valor do projeto ou serviço poderá variar em função do metro quadrado de área construída de cada estado brasileiro, ou ainda, de acordo com os Benefícios e Despesas Indiretas (BDI) específicos de cada escritório. A equipe de manutenção do CAU/BR atualiza mensalmente os valores de construção de cada estado e de cada tipo de edificação.


AE – O arquiteto fica, a partir de agora, obrigado a usar a tabela? OA - O inciso XIV, do artigo 28, da Lei nº 12.378, de 31 de dezembro de 2010, determina que compete ao CAU/BR “aprovar e divulgar tabelas indicativas de honorários dos arquitetos e urbanistas”. As tabelas são, na forma da lei, “indicativas” dos valores, podendo cada arquiteto flexibilizá-las de acordo com a sua realidade específica. AE – O cliente poderá ter acesso à tabela? OA - Por tratar-se de norma federal, todos os cidadãos e entidades podem acessar livremente o software no sítio do CAU/BR e calcular o valor do projeto ou serviço que deseja contratar. Também

poderá saber qual o conteúdo mínimo que deve ser fornecido pelo arquiteto a ser contratado em cada etapa de trabalho. AE – A tabela poderá sofrer mudanças? OA - O software de cálculo possui uma ferramenta interativa através da qual os usuários poderão sugerir melhorias. A sua aplicação e uso continuado deverão proporcionar o aprimoramento das relações de produção entre arquitetos e urbanistas e os setores público e privado, fortalecendo o papel da arquitetura e urbanismo como arte e técnica a serviço da sociedade na construção de cidades e infraestruturas mais eficientes.



AMBIENTAÇÃO

VALORIZANDO A HISTÓRIA Reforma dá uma nova cara e mais espaços a uma residência, inspirando-se na trajetória da proprietária Texto: Lidiane Gonçalves | Fotos: Cybele Soares Menção honrosa no concurso Revista AE, categoria interiores residencial

A

sofisticação do moderno e o aconchego do rústico fizeram com que o projeto do arquiteto Alexandre Suassuna ganhasse menção honrosa no 7º Concurso de Arquitetura, promovido pela ARTESTUDIO, que premia anualmente profissionais de arquitetura, decoração e design. O projeto de uma residência no bairro Bancários valorizou a história da dona da casa, unindo novos objetos e peças antigas, que remetem aos momentos vividos, como os inúmeros livros da professora universitária. Alexandre conta que a dona da casa tinha o desejo de ter uma nova morada, sem ter que se mudar do lugar. “Tudo que trazia desconforto emocional e visual foi se configurando em pedidos de reforma e renovação, a começar pelos livros. Em grande quantidade, já não se acomodavam mais de forma organizada, necessitando assim, de espaço adequado para eles. Depois vieram os pedidos de novo posicionamento da garagem, invadindo o terraço, criação e separação de acessos para pedestres e carros, e organização geral dos espaços internos e repaginação da fachada, dando nova cara à residência”, explicou. Para atender a todos os desejos da cliente, a primeira fase da obra foi de conversa e investigação, para saber “casar” os desejos, as necessidades e as peculiaridades do projeto, que transformaria a mesma casa em um novo lar. Do resultado disto, o arquiteto destaca o vestíbulo, com seu piso diferenciado, pendente e estante de livros que se estende até o oratório. “Antes inexistente, este ambiente de chegada nos convida a entrar na casa, ainda mais pela visualização geral das salas desde já”, comentou Alexandre. As salas integradas geram amplitude espacial, sociabiliza os habitantes e visitantes, sem barreiras visuais físicas, tendo ambientes demarcados apenas pelo mobiliário. “São ambientes do setor social da casa, por isso, a importância de se integrar cada vez mais”, refletiu. A personalidade ativa e alegre da dona da casa inspirou o arquiteto a usar cores marcantes, mas de forma equilibrada. “A partir de cores neutras e materiais naturais, surgiram as pinceladas de cores vibrantes em certos objetos de mobiliário e elementos de decoração, podendo haver a renovação e troca de algumas peças sem comprometer a ambientação do conjunto. Para manter a memória do local e identidade própria, foram mantidos alguns objetos da antiga casa, como o quadro de São José, com bela moldura talhada em madeira, e os tantos livros que fizeram parte da trajetória acadêmica e pessoal da proprietária – livros carregados de histórias e boas lembranças”. O projeto traz a sofisticação do moderno e o aconchego do rústico, contrapondo elementos naturais e manufaturados com elementos industrializados, num conjunto onde cada um tem seu lugar, e convive harmonicamente. Os livros foram o ponto de partida para a ambientação. Alexandre comenta que, de fato, eles sempre foram os protagonistas e tiveram lugar de destaque com a inserção em estantes iluminadas, à mostra em todos os ambientes, desde o vestíbulo até o oratório, passando pelas


salas. “Esse é um projeto de arquitetura e ambientação, tendo início com a reforma da casa, eliminando e criando ambientes, adequando-se da melhor forma ao clima do local, e organizando os espaços. Após isso, ou juntamente, vieram as ideias para ambientar e decorar, com a busca pela identidade, conforto e economia do conjunto elaborado. Meu trabalho tem esta característica de incorporar nos projetos elementos que remetam aos seus clientes, de maneira respeitosa e responsável, numa comunhão próxima desde o início, sendo nossa missão conseguir traduzir o que se deseja e realizar os sonhos de cada cliente. Podemos, no entanto, trazer novas experiências, técnicas e visões

que só os profissionais conhecem, sendo o acordo e não a imposição, primordial para o êxito do projeto”, explicou. O projeto trouxe ainda a natureza para o interior da casa, através de um jardim pergolado, que conecta-se com o jardim exterior, trazendo iluminação natural filtrada pelas pérgolas e plantas. Essa ideia ajuda ainda a circulação do vento, vindos através do reposicionamento e redimensionamento de janelas generosas a sudeste. Sobre o concurso, ele diz que a iniciativa faz com que as atividades profissionais sejam avaliadas e reconhecidas de alguma forma. “A escolha de um


projeto para concorrer requer identidade e importância para o escritório. Tal projeto vem se realizando aos poucos, mas, com muito cuidado e amor, assim estamos aqui. Acho esse concurso uma ótima iniciativa de divulgar de forma justa os profissionais locais e suas atividades pelas cidades, deixando a ideia de que cada vez mais a contratação de profissionais de arquitetura e design é de grande importância, seja na cidade ou fora dela, seja nas ruas ou dentro de casa ou no trabalho”, disse.

Arquiteto: Alexandre Suassuna Projeto: Interiores de residência Esquadrias: Oficina da Madeira • Piso: Obra Prima - Elizabeth / Vivento Revestimentos • Móveis e decoração: Oppa / Casatudo Premium / Leforme / Artcasa / Ponto dos Móveis (marcenaria) / Tok Stok • Iluminação: B&M Iluminação + imagens do projeto no site: www.artestudiorevista.com.br


Refletir o futuro em cada projeto

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INTERIORES

A CONSTRUÇÃO DO LAR

Ambiente intimista é aposta de projeto de apartamento para recém-casados Texto: Areta Alonso | Fotos: Divulgação


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m dos momentos mais esperados por recémcasados é a construção de seu lar, mas nem sempre é fácil construir esse ambiente, unindo as expectativas e necessidades de ambos, sem deixar de lado o conforto e o design. Para cumprir esse papel, ter a ajuda de bons profissionais pode ser primordial. Foi o caso de um casal de Santos (SP), formado por um médico e uma engenheira têxtil, que confiaram à arquiteta Cristiani Fernandes a missão de preparar o apartamento para recebê-los após a lua de mel. Entre opções de mobiliário, papel de parede e cores, uma das principais preocupações do projeto foi com a iluminação, com consultoria especializada. Como os clientes solicitaram um ambiente intimista, com poucos móveis, a arquiteta projetou o Living com um ar bastante despojado, sendo a opção perfeita para receber os amigos. Na Sala de Jantar, o projeto aproveitou o vão aberto na parede junto ao Living para criar uma bancada de apoio, levando praticidade ao espaço. Na parede, chama atenção um mosaico de ônix assim como o belo conjunto de mesa laqueada e cadeiras com tecidos especiais, que encantou a proprietária, mistura que transitou de forma harmoniosa entre os estilos rústico e contemporâneo. Para a divisão da sala com o Living, um rasgo de luz é um ponto a ser apreciado. O destaque ficou por contato do pendente, da italiana Diesel. Moderno, a peça foi escolhida graças ao seu conceito, que remete a uma rocha


vulcânica que, quando se quebra, revela uma rara joia em seu interior. No banheiro, um desafio: projetá-lo com cara de lavabo. O ambiente ganhou piso com pastilhas de vidro e uma porta de vidro espelhada, logo à frente do chuveiro. O truque o transformou em uma espécie de parede, que esconde o box dos visitantes. As arandelas contribuíram com efeitos de luz bem marcados, criando um cenário cênico. Para a pia, uma bancada com marmoglass branco, criando um efeito de bastante brilho. No espelho, o LED linear, com iluminação indireta, dá o toque final criando harmonia e beleza para um novo lar em formação.

Arquiteta: Cristiani Fernandes Projeto: Interiores de apartamento Iluminação: Guido Iluminação e Design Revestimento especial: Tecnocimento + imagens do projeto no site: www.artestudiorevista.com.br



INTERIORES

CLIMA EUROPEU Residência que se tornou um restaurante agora é um badalado pub em João Pessoa ao estilo irlandês Texto: Débora Cristina | Fotos: Roberto Marcelo



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m lugar jovem, mas com ar pesado e marcante e também muito aconchegante. Assim é o Republik Pub, que passou a funcionar no bairro do Bessa, na capital paraibana. O projeto de arquitetura é de Samia Raquel e o de interiores é do escritório de Leila Azzouz. Com um layout bem resolvido, o local já é um dos mais badalados de João Pessoa. Por isso as arquitetas tentaram deixar o local o mais amplo possível, para um melhor aproveitamento do ambiente, sem intervenção alguma da estrutura. “O Republik Pub foi projetado em uma edificação que originalmente era uma residência familiar, que posteriormente transformou-se em um restaurante, até que surgiu a possibilidade de transformá-lo em um pub. Então, por já ter passado por uma reforma ficamos limitados a grandes reformas devido à estrutura original da casa. Mas, mesmo assim, conseguimos fazer alterações que ficaram bastante interessantes no resultado final”, ressaltou Samia. O primeiro deles é a fachada com o terraço externo. Por uma questão de controle de entrada e saída do público e também pensando na questão de acústica, a arquiteta achou melhor não utilizá-lo, pois seria difícil fazer esse controle no dia-a-dia. A fachada que antes era aberta foi fechada o máximo possível para que tivesse uma maior privacidade da parte interna, como também fosse uma maneira de instigar as pessoas a entrarem. “Com isso, reutilizamos o revestimento que tínhamos no muro para a fachada, criando um ambiente intimista e aconchegante com material sóbrio e uma iluminação pontual. Como era necessária uma saída de emergência foi criada uma grande porta em madeira maciça que dá acesso da área de maior


movimento para a área externa do pub como também é uma opção de entrada e saída para deficientes, por exemplo”, explicou ela. Na lateral do terreno, Samia Raquel criou o acesso para o pub, onde uma laje já existente foi aproveitada para criar a recepção de entrada e saída dos clientes. No balcão da recepção utilizamos como base tijolos aparentes. Como acabamento final da parte superior do balcão, a arquiteta aproveitou o material marmoglass que já existia do restaurante anterior e jogou uma luz indireta em fita de LED, iluminando assim o tijolo aparente. Saindo da recepção, os visitantes chegam à área do pub propriamente dita. Essa área foi dividida em camarotes VIP, área VIP, palco, área das mesas, bar e banheiros. Um elemento importante nessa área é a questão do revestimento em tijolo aparente. Esse revestimento foi escolhido a partir dos projetos correlatos que eram os pubs irlandeses que sempre utilizavam do tijolo e da madeira maciça. O camarote VIP fica na frente do palco com o piso um pouco elevado, de maneira que os clientes podem ter uma visão privilegiada do palco. O local conta ainda com bancos em alvenaria e estofado, tudo muito confortável. Já a área VIP é um espaço totalmente separado da área das mesas. Ele fica um pouco mais baixo do que o nível do palco, mas com visão diferenciada do


mesmo. “Os clientes sentiam a necessidade desse espaço, pois seria um local que as pessoas poderiam reservar com antecedência e até mesmo fechar para festas particulares”, explicou. O palco ficou num espaço um pouco mais elevado do que o nível das mesas, mas devido à capacidade do local não tinha a necessidade de ser muito grande. Um tamanho ideal para as bandas que tocam nesses locais. Na parte de serviço, Samia contou que na cozinha foi mantido o que já existia no restaurante anteriormente, modificando apenas a entrada, pois foi necessário criar um corredor para que tivesse acesso a uma área externa para os fumantes. Nos banheiros foi necessário fazer uma reforma, já que era um restaurante não tinha necessidade de abrigar ao mesmo tempo mais de uma pessoa, o que é diferente de um bar, por isso a arquiteta criou mais uma cabine no feminino. Além disso, foi criado um banheiro para o portador de necessidades especiais e o masculino foi feito de maneira que pudesse atender vários homens ao mesmo tempo. “O resultado, juntamente com o projeto da arquiteta Leila Azzouz, que fez o projeto de interiores, acredito que ficou muito bonito e diferente de tudo que temos em João Pessoa. Um ambiente agradável e gostoso de ficar”, concluiu.

Detalhes marcantes Depois de concluída a parte estrutural, foi a vez da arquiteta Leila Azzouz trabalhar na decoração de interiores. Para ela, o pórtico da fachada de entrada já mostra que o local tem muito estilo: “Como era

uma casa com madeira, deixamos essa característica de forma predominante. Não descaracterizamos do existente”, explicou ela. “Optamos por réguas de madeira ipê, por já existirem réguas irregulares na fachada, queríamos continuar com o mesmo material. Encobrimos a casa por um preto fosco, onde esconderíamos a característica de residência”. Ao entrar no pub, os visitantes já podem apreciar uma singela homenagem aos artistas paraibanos. Logo no salão estão dois lounges com as paredes em tijolo artesanal, já existentes no local, por isso a opção em fechar o ambiente com duas tonalidades: a preta e verde militar. “Como o projeto era uma casa onde funcionava um restaurante, aproveitamos o layout e alguns materiais. Pesquisamos em projetos correlatos, mas deixamos uma identidade no local. A iluminação do bar é toda dimerizada, para criar várias cenas no local, e bem marcada por esses pendentes personalizados”, disse. A questão acústica também recebeu atenção especial. Uma empresa especializada foi ao local fazer o projeto e as placas foram colocadas em locais específicos e na mesma cor do pub, que é preta, de forma a se tornar ainda mais imperceptível esse cuidado tão importante com a segurança do espaço. Já o mobiliário é simples e rústico. “Aproveitamos do restaurante existente e desenhamos alguns, outros são baús”, afirmou ela. Na recepção, a opção de Leila Azzouz foi fazer um local bem marcante, com um pórtico em madeira, desenhado no escritório, com desníveis de profundidade e diferentes tamanhos, movimentando o local. A opção do tijolo bruto na bancada remete aos pubs ingleses. Por ser uma área de pouca permanência, essa pôde ser mais ousada.


Já no salão, o maior desafio foi deixar o ambiente o mais amplo possível, mas ao mesmo tempo, com um estilo diferenciado de tudo que o escritório de Leila Azzouz já havia projetado e visto. “A grande sacada do local é o bar, onde foram criados uns pendentes em vidros de azeites, comprados em supermercados e feitos artesanalmente pelo eletricista. O nicho todo em espelho cristal e a bancada em madeira de demolição”, contou ela. A decoração foi toda trazida pelo proprietário em viagens pessoais. Foi criada uma Área dos Artistas: uma homenagem dos donos a esportistas locais, colocada na entrada, onde todos possam contemplar. Na área

Arquiteta: Samia Raquel Projeto: Arquitetura

do salão, há um palco pequeno, para apresentações de banda e DJ, um bar (local de destaque do pub), onde a arquiteta procurou fazer uma iluminação personalizada, com garrafas de azeite (encontradas no supermercado). Para receber ainda melhor os visitantes, também há uma área de lounge, com sofás feitos em alvenaria simples. “No local tinha um desnível, aproveitamos e deixamos uma área VIP, destinada a um dos patrocinadores”, explicou Leila. No final, clientes e profissionais felizes com o resultado e, principalmente, por terem acertado em todas as escolhas feitas para deixar o ambiente único.

Arquiteta: Leila Azzouz Projeto: Interiores

Revestimentos: Oca e Portobello Shop + imagens do projeto no site: www.artestudiorevista.com.br




CAPA


CONFORTO EM PRIMEIRO LUGAR Interiores da residência de um jovem casal buscou opções criativas em vários cômodos Texto: Débora Cristina | Fotos: Diego Carneiro


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bairro do Altiplano, em João Pessoa, foi o local escolhido por um jovem casal com filhos para morar bem e com conforto. Pensando nisso, Valdete Duarte, que trabalha com interiores, fez um trabalho primoroso, durante cerca de cinco meses, para deixar os cerca de 350 m² com a cara dos donos, utilizando o conceito central entre o clássico e o contemporâneo. “O programa é composto de salas, cozinha, lavabo, escritório e três suítes com vista para o mar. Todas com closet”, explicou Valdete. Ela destaca a suíte do casal, que ganhou opções criativas de design interno, como as janelas ocultas atrás de painéis de madeira escamoteáveis que, quando ocultas, proporcionam total privacidade e harmonia ao ambiente. Na sala, o posicionamento planejado da TV com painel em LED permite sua visualização, tanto da varanda como da sala, o que aliado ao sistema de som embutido no forro completa o total aproveitamento desta central de entretenimento. Além disso, Valdete decorou a sala com peças em murano, cristais e abajures, nos quais usou tomadas de piso.


Outro destaque da decoração dos ambientes foi um painel com TV e um lindo quadro com folhagens, abajures e poltronas estofadas usados na varanda, que deixou o ambiente bem mais confortável. “Cada detalhe foi feito com muito carinho, mas o destaque maior que achei foi o quadro: os proprietários não queriam ter trabalho em cuidar de plantas, então optei em fazer um quadro com folhagens. Adorei o resultado”. Já no lavabo, a opção foi usar o marmoglass, com destaque para as paredes todas revestidas em madrepérola. “Os donos do apartamento me deixaram super à vontade para fazer o meu trabalho, mas eu sempre costumo trocar ideias de como eles gostariam que ficasse e por isso o resultado é sempre um sucesso”, disse Valdete. O quarto da filha recebeu uma atenção especial. “Nele, optei pelos tons neutros aveludados, o que ficou bem jovial e moderno”, contou ela.

Iluminação Na parte de iluminação, Valdete escolheu usar o máximo possível de luz indireta. Além disso, a posição leste do imóvel


privilegia a luz natural que é captada, até o final das tardes, pelas amplas janelas envidraçadas. “Usamos a tecnologia de iluminação LED, que são frias, e duradouras”, afirmou ela. Ela ainda revelou outra preferência: “Adoro compor ambientes com abajures, acho que fica mais aconchegante. Gosto muito de tons neutros, pois posso trabalhar com mais liberdade”. A escolha dos móveis, tapetes e objetos foi cuidadosamente feita para atender a família. Tudo em harmonia com o bege e muitas cores claras. “Na minha opinião, o grande diferencial desse projeto é a área social, composta de salas e varanda completamente integradas e planejadas para potencializar o convívio entre as pessoas. Este espaço viabilizou a existência de ambientes distintos, mas completamente interligados e sem barreiras visuais”, disse.



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Na sala, destaque para a parede com gravuras junto ao espelho, uma ótima ideia do cliente que Valdete acatou de imediato – e eles adoraram o resultado. “Não sou muito adepta a conceitos e definições. Apenas interajo com o mundo e procuro referências. Costumo dizer que minha carreira nasceu comigo, sempre tive aptidão para a buscar a harmonia entre tudo que faço”.

Profissional: Valdete Duarte Projeto: Interiores de apartamento Tapetes: Adroaldo Tapetes do Mundo Mobiliário: Loja Conceito e Saccaro Modulados: Florense - Molduras: FastFrame Iluminação: Stiluz e B&M - Objetos: Poliana Presentes + imagens do projeto no site: www.artestudiorevista.com.br

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ESPECIAL

Arena Pantanal - Nelson Kon

OS NOVOS PALCOS Na Copa do Mundo, o Brasil conheceu seus 12 novos e modernos estádios, cujos projetos estão no livro Arenas do Brasil

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Copa do Mundo deixou, de maneira mais vistosa, os doze novos estádios (ou, como dizem agora, arenas) erguidos para a competição. Os renovados Maracanã, no Rio; Mineirão, em Belo Horizonte; Beira-Rio, em Porto Alegre; Castelão, em Fortaleza; e Arena da Baixada, em Curitiba. Os reconstruídos Arena Fonte Nova, em Salvador; e Mané Garrincha, em Brasília. E os totalmente novos Arena Corinthians (chamada também de Itaquerão), em São Paulo; Arena da Amazônia, em Manaus; Arena Pantanal, em Cuiabá; Arena das Dunas,

Texto: Renato Félix | Imagens: Divulgação

em Natal; e Arena Pernambuco, em São Lourenço da Mata. A história dos projetos, da modernização e da construção desses estádios foi reunida em um livro: Arenas do Brasil -- Arquitetura e Engenharia nos Estádios Brasileiros para a Copa de 2014. O livro, de 292 páginas, é um lançamento da Editora Mandarim, com a organização do jornalista Marcos de Sousa. Tudo começou com o Portal 2014 (http://www.portal2014.org.br/), produzido em parceria com o Sindicato da Arquitetura e da Engenharia (Sinaenco). Independente da Fifa, o site


Arena da Baixada - Lauro Rocha

discutia os preparativos para a copa no Brasil. “O portal acompanhou de perto o processo e o desenvolvimento das arenas”, conta Sousa. “Resolvemos deixar documentado em papel essa etapa”. O livro também volta no tempo para uma olhada nos estádios emblemáticos da história das Copas do Mundo - começando pelo Estádio Centenário, de Montevidéu, o único construído para a primeira copa, a de 1930. “O trabalho de hoje reflete as experiências que vêm desde 1930”, conta o jornalista. “E o livro mostra o que mudou no esporte e nas exigências da Fifa”. Com prazos, por exemplo. O Centenário foi aprontado às vésperas da Copa de 1930 e com a ajuda de voluntários entre os moradores de Montevidéu. O Maracanã, construído para a Copa de 1950, foi inaugurado sem estar pronto, pouco antes do Mundial. “Há fotos com o público embaixo dos andaimes”, lembra Marcos de Souza. “Havia muita improvisação. Uma barreira de tijolos empilhados separava o público dos jogadores”. Hoje a Fifa possui um caderno de encargos com exigências tendo em vista desde o conforto do público até o visual do espetáculo para as transmissões pela TV. “Houve uma exigência maior em relação à iluminação”, diz o jornalista, comparando a nossa copa com a da África do Sul, em 2010, e lembrando que a tecnologia de televisão mudou muito de quatro anos para cá, com TVs full HD e até em 3D. “Houve um acréscimo porque a TV também se sofisticou. Então houve uma preocupação em melhorar a imagem que seria transmitida”. No gramado, a preocupação foi evitar que fossem arrancados os torrões de grama vistos na África do Sul durante as partidas e os sistemas de drenagem. Alguns usam um sistema com água refrigerada, justamente para a refrigeração da grama. Alguns estádios precisaram de uma adaptação com relação à curva de visibilidade da aquibancada. “Dois anos depois que começaram os trabalhos, a Fifa aumentou o tamanho das placas de propaganda”, explica o jornalista. “Foi preciso alterar o posicionamento das arquibancadas”.

Mineirão - Leonardo Finotti


COORDENADORES DOS PROJETOS Mineirão:

Projeto básico: Gustavo Penna Arquiteto Associados, com a empresa alemã GMP Projeto executivo: BCMF Arquitetos

&

Mané Garrincha:

Projeto básico e executivo: Castro Mello Arquitetos - Eduardo de Castro Mello e Vicente de Castro Mello (autores)

Arena Pantanal:

GCP Arquitetos - Sérgio Coelho (autor), Adriana Oliveira e Maurício Reverendo (coautores); Alessandra Araújo (coordenação geral e sustentabilidade); Grupo Stadia - Danilo Carvalho (co-autor/ arquitetura esportiva)

Arena da Baixada:

Carlos Arcos Arquitetura - Carlos Arcos Ettin (autor)

Arena Castelão:

Vigliecca & Associados - Hector Vigliecca, Luciene Quel, Ronald Werne (autores)

Arena da Amazônia:

Von Gerkan, Marg und Partners (GMP) - Volkwin Marg, Hubert Nienhoff e Martin Glass (autores); Martin Glass (gerente de projeto), Ralf Amann e Florian Schwarthoff (GMP Brasil)

Arena das Dunas

Projeto básico: Populous Architects Projeto executivo: Grupo Stádia – Danilo Carvalho (autor)

Beira-Rio:

Arquitetura (projeto básico e executivo): Hype Studio, de Porto Alegre-RS (Fernando Balve­di, Gabriel Garcia e Maurício San­tos)

Arena Pernambuco:

Fernandes Arquitetos Associados - arquitetos Daniel Hopf Fernandes, Luis Henrique de Lima, e Paulo Eduardo Jr.

Maracanã:

Projeto básico: Emop - arq. Catia Cristina de Oliveira Castro (autoria), eng. José Carlos Pinto dos Santos (coordenação) Projeto executivo: Fernandes Arquitetos Associados - arquitetos Daniel Hopf Fernandes e Luis Henrique de Lima

Fonte Nova:

Tetra Arquitetura (Marc Duwe) Architekten (Class Schulitz)

Arena Corinthians:

CDCA Arquitetos (Anibal Coutinho)

e Schulitz

Uma característica marcante dessas arenas é que elas foram pré-fabricadas. “A Arena da Amazônia é um projeto alemão e parte da estrutura é portuguesa, veio de navio. Assim, foi possível entregar as arenas, na maior parte dos casos, com folga”. No quesito estético, algumas arenas têm suas particularidades. O Mané Garrincha, por exemplo, teve a estrutura ampliada e ganhou aquela estrutura independente em volta, chamada de “floresta de pilares”. Ela sustenta o sistema de tenda esticada da cobertura da arena. A reforma do Maracanã alterou dramaticamente o interior do estádio, o que causou muita reclamação em quem viveu grande emoções lá dentro. “Uma parte da arquibancada era coberta e a ideia era aumentá-la”, conta o organizador do livro. “Mas viu-se que havia problemas estruturais e ela foi substituída pela nova, de tecido”. A visão do alto mudou, mas o Maracanã é tombado em dois níveis, estadual e federal, e a fachada foi mantida muito parecida com o original. No Mineirão, também tombado, a mesma coisa: “Só está novinho”. No caso da Fonte Nova, a reconstrução procurou respeitar a volumetria original do antigo estádio, que teve que ser demolido. “Lá, no momento da demolição, sozinha ao primeiro contato com a britadeira, a estrutura caía sozinha”, conta o jornalista. Para ele, no entanto, a Arena Pantanal é a que guarda maior particularidade – para começar, porque não há clubes de Cuiabá na primeira divisão nacional. “Procuraram fazer um equipamento que fosse o mais versatile possível, para uso em shows e outros eventos”, diz. “O calor em Cuiabá é impressionante. Ela é uma arena aberta, planejada para ter um bosque, jardins nos corners. As arquibancadas atrás dos gols serão retiradas, abrindo um caminho para a passagem do vento”. Já no caso da Arena Corinthians, que também teve sua cota de polêmicas, o projeto original não era para a Copa. Foi necessária a construção de arquibancadas temporárias, que serão retiradas. “Provavelmente só saberemos como é mesmo a arena após a Copa”.

Arena Corinthians - Lauro Rocha


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GRANDES ARQUITETOS

TUDO PELO SOCIAL Shigeru Ban venceu o Pritzker deste ano não por causa de uma arquitetura monumental, mas pelo trabalho com quem mais precisa dele Texto: Renato Félix | Fotos: Divulgação

S

higeru Ban, 56 anos, é o mais novo vencedor do Pritzker, o Oscar da arquitetura. O arquiteto japonês, nascido em Tóquio, foi o escolhido pelo júri, coroando uma carreira inovadora que tem, entre seus pontos altos, o uso do papel ou papelão para construção de casas eficientes e

rápidas para vítimas de desastres. Esse lado humanista de sua arquitetura certamente pesou na escolha para o júri que citou a “simplicidade elegante” do trabalho do japonês e por “responder com criatividade e design de alta qualidade a situações extremas causadas por desastres naturais devastadores”. “Os seus


Centre Pompidou Metz

edifícios providenciam abrigo, centros comunitários e locais espirituais àqueles que sofreram perdas tremendas e destruição. Quando a tragédia se abate, ele está muitas vezes lá desde o início”, diz a justificativa do prêmio. Ban é o terceiro arquiteto japonês a receber o Pritzker nos últimos cinco anos. A dupla Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa dividiu o prêmio em 2010 e Toyo Ito ganhou no ano passado. Ele nasceu em Tóquio, em 1957, estudou na Califórnia e em Nova York e a riu seu escritório na capital japonesa em 1985. Seu trabalho humanitário teve início em 1994, quando teve contato com campos de refugiados de Ruanda. Ele já havia trabalhado com cartão e desenhou protótipos de tendas para com esse material.

Pavilhão Japones da Expo 2000, Hannover, Alemanha

Haesley Nine Bridges Golf Club House


Metal Shutter House


Casa de cobertura dupla

Quando Kobe, no Japão, foi atingida por um terremoto, ele desenhou habitações de emergência: os alicerces eram construídos grades de cerveja e as paredes com tubos de papel. Embora as obras do arquiteto tenham, muitas delas, caráter temporário, a comunidade de Kobe decidiu manter o centro comunitário construído por Shigeru Ban. E essa atitude se repetiu para ajudar populações atingidas por catástrofes naturais ou humanas em países como Índia, China, Turquia e até a Nova Zelândia. No país da Oceania, Ban construiu uma igrejaem substituição a outra destruída por um terremoto. A igreja foi construída com tubos de papel reciclado, impermeabilizados quimicamente. Criou residências temporárias também para abrigar as vítimas do tsunami que atingiu o Japão em 2011 e estruturas permanentes para pessoas realocadas. Mas o portfólio de Ban não está só ligado a essa arquitetura de emergência. É dele o Centro Pompidou, em Metz, na França, e o Museu de Arte de Aspen, no Colorado, nos Estados Unidos. Ele também desenhou condomínios em Nova York. No entanto, o trabalho humanitário e a simplicade do arquiteto japonês combina com os tempos de dificuldade econômica após a crise financeira recente no Ocidente. “Os arquitetos estão muito ocupados trabalhando para os privilegiados. As pessoas

privilegiadas têm dinheiro e poder, que são invisíveis, portanto nos contratam para tornar o seu poder e dinheiro visíveis através de arquitetura monumental. O importante para mim é o equilíbrio, trabalhar em edifícios normais e também em zonas devastadas”, comentou, sobre o prêmio, ao Los Angeles Times. “O prêmio foi um incentivo para continuar o trabalho social que faço, ao mesmo tempo que desenvolvo projetos como museus e outros trabalhos”.

Arquiteto: Shigeru Ban + imagens no site: www.artestudiorevista.com.br


ACÚSTICA

EM BUSCA DA

EFICIÊNCIA

ENERGÉTICA O desafio da arquitetura pelo baixo custo de energia Texto: Jean Fechine | Fotos: Divulgação

O

conceito de eficiência é amplo e aplicável sempre que se pretende medir o desempenho de algo ou alguém em questão. Para que ocorra esta aferição é necessária a presença de índices comparativos, ou seja, só é possível medir a eficiência de algo em questão quando se compara este com algum parâmetro previamente estabelecido, sendo possível portanto atestar o seu desempenho frente ao quesito avaliado. Um automóvel “a” é mais eficiente que outro “b” em relação a autonomia quando consegue percorrer mais consumindo menos combustível por exemplo. É da natureza do ser humano a busca pelo “melhor”, pelo mais eficiente. Esta realidade também se aplica aos serviços de arquitetura e urbanismo. Pesa sobre os ombros dos arquitetos e urbanistas a missão de projetar espaços eficientes, sejam eles relacionados ao edifício, para qualquer finalidade (residencial, comercial, espaços corporativos, esportivos, entre outros), bem como aos espaços urbanos e seu vários níveis de complexidade. Esta tarefa é extremamente complexa uma vez que são incontáveis os aspectos colocados em questão frente aos seus desempenhos, posteriormente traduzidos em eficiência. É possível avaliar, por exemplo, a eficiência da estrutura de um edifício, dos materiais especificados, assim como avaliar um desenho urbano e sua relação com transportes, segurança, qualidade do ar, dentre outras possibilidades.


Como se percebe são inúmeros quesitos em jogo quando se trata de eficiência, e, será observado aqui um em especial, e não menos complexo, que considera a obtenção de um serviço com um baixo consumo de energia, que, em outras palavras, significa Eficiência Energética. Um edifício é mais eficiente do que outro quando promove as mesmas condições de conforto consumindo menos energia. Isto significa portanto eficiência energética na arquitetura. O desafio é monumental uma vez que uma das maiores demandas por energia no planeta está ligada às edificações. Segundo dados da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) este setor consome em torno de 42% de toda energia gerada no pais. Destes 23% são consumidos pelo uso residencial, 11% pelo o setor comercial e os 8% restantes ficam a cargo dos setores públicos. Cabe aqui a seguinte reflexão: como tem sido a produção arquitetônica no que se refere a eficiência energética? Um alerta de como se ia mal neste quesito apareceu no final do século passado quando o Brasil enfrentou problemas referentes ao racionamento de energia elétrica, resultado, por um lado, da crise energética pouco combatida em diversas gestões

e, por outro, da negligência por parte de alguns projetistas que, valendo-se de tecnologias disponíveis esqueceram da relação íntima entre a arquitetura e o clima do lugar, não havendo em muitos casos o uso eficiente da luz e da ventilação natural o que aumentava significativamente a demanda de energia elétrica. Edificações que contavam quase que totalmente com recursos artificiais para garantir as condições mínimas de habitabilidade, e tais tipologias repetidas País a fora, nos mais variados setores, contribuíram significativamente para o agravamento da crise energética no Brasil. Neste rumo, logo o nosso principal sistema gerador de energia, formado em sua maioria pela impactante hidroelétrica chegou a beira do colapso cujo contexto agravava-se com longos períodos de estiagem minimizando o volume de água das mesmas. Frente a este cenário, ações por parte de alguns arquitetos e urbanistas resgataram a relação da arquitetura com o clima do lugar traduzidos pela chamada arquitetura bioclimática. Este pensamento então evolui e volta ao patamar de onde a arquitetura e o urbanismo nunca deveriam ter saído, o da sustentabilidade.


Este desafio não é algo tão fácil de se conseguir, hoje no Brasil, apesar de alguns esforços no âmbito das pesquisas, tanto na academia, quanto na iniciativa privada, ainda é pequeno o número de edificações que são projetadas com excelência frente a tais exigências. Por exemplo, com o selo de sustentabilidade do LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), uma certificação americana para construções sustentáveis, ao final de 2012, segundo dados do GBC Brasil - Conselho de Construção Sustentável do Brasil - eram 76 empreendimentos certificados, a exemplo do Edifício Eldorado Business Tower em São Paulo, com autoria de Aflalo & Gasperini. A boa notícia é que neste mesmo período foram 640 empreendimentos registrados em busca da certificação. Porém, fica o alerta: nenhum na Paraíba. Existem outros órgãos certificadores a exemplo do Processo Aqua de Gestão Total do Projeto para obter a alta qualidade ambiental de um empreendimento de construção, concedido pela Fundação Vanzolini, e do programa Procel Edifica que dar suporte, com a aplicação de seu Regulamento Técnico da Qualidade (RTQ) relativo ao Nível de Eficiência Energética de Edificações, a aplicação da lei 10.295/01 que regulamenta a eficiência energética das edificações brasileiras. No entanto, esta realidade só ganhará força a medida em que aumente a consciência da sociedade frente a estas questões e esta venha a exigir dos gestores públicos e profissionais ligados a arquitetura e ao urbanismo projetos e futuros empreendimentos mais eficientes. Neste sentido é de extrema importância a participação das academias, conselhos, institutos, sindicatos relacionados ao setor da construção civil, entre outros veículos de informação no sentido de contribuir com a transmissão de tais conhecimentos à sociedade para que esta, uma vez informada, possa exercer, de forma consciente, os seus direitos na busca pela qualidade de vida.



ACERVO

A HISTÓRIA ERGUIDA A Igreja da Misericórdia, no centro de João Pessoa, é uma das mais antigas ainda de pé na cidade Texto: Renato Félix | Fotos: Divulgação

J

oão Pessoa possui muitas igrejas históricas, mas uma das mais antigas entre todas é a Igreja Nossa Senhora da Misericórdia, encravada no centro comercial da cidade, em uma das pontas do calçadão da Rua Duque de Caxias. A Duque de Caxias é, hoje, uma rua só, que vai do Centro Cultural São Francisco até o que atualmente é a Praça

João Pessoa. Mas antigamente eram três ruas que se ligavam: a Rua Direita, a Rua Baixa e a Rua São Gonçalo, esta margeando o Largo de São Gonçalo (na altura do que hoje é a praça). A Igreja da Misericórdia fica exatamente onde era a divisão entre a Rua Direita e a Rua Baixa, chamada assim porque ali havia um declive por causa de um


córrego. Não era a única igreja naquela rua – a Igreja Rosário dos Pretos ficava mais adiante e foi demolida para dar lugar ao largo que hoje é o Ponto de Cem Reis, e ainda havia mais uma no Largo de São Gonçalo. A Misericórdia foi a única que sobreviveu à mudança dos tempos. Construída no início do Século XVII, substituindo uma pequena capela erguida no local no Século XVI, a igreja é maneirista, um estilo que havia florescido no século anterior na Europa e que acabaria se fundindo com o barroco. Um dado curioso – e precioso – é que entre as igrejas históricas de João Pessoa esta é a única que conserva sua fachada original, inclusive marcada pela simplicidade, sem a ostentação visual que viria na fase barroca. A simplicidade da fachada original da Igreja da Misericórdia se reflete bastante também no interior: a nave é ampla, mas não possui adornos como os azulejos que muitas vezes marca a influência portuguesa. Apenas uma pintura no teto de Nossa Senhora da Misericórdia. Duas colunas de pedra sustentam o coro. Ela foi tombada já em 1938 pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan), criado em 1937, e antecessor do atual instituto (Iphan). A designação da igreja já mostra que ela nasceu ligada à Ordem da Misericórdia, criada em Portugal com o apoio da rainha Leonor de Avis, chamada de “Perfeita Perfeitíssima” por causa exatamente pela prática da misericórdia. Ela foi rainha – e considerada uma das mais importantes de Portugal até hoje – de 1481 a 1495. A Santa Casa chegou ao Brasil em Santos, em 1542, como a primeira instituição hospitalar do país. A Santa Casa de Misericórdia de João Pessoa foi fundada em 1602 e foi a sétima do país. A instituição cuidava de pobres, doentes e até de bebês deixados em suas portas. Muitas vezes controlava, além de uma igreja, um hospital e um cemitério. O hospital era localizado atrás da igreja, na Rua Visconde de Pelotas, até ser demolido em 1924. O cemitério adjunto foi retirado na reurbanização do centro da cidade. Mas ainda há jazigos na igreja – inclusive o do senhor de engenho Duarte Gomes da Silveira (15551644), que acredita-se ter custeado quase toda a construção, só que seu jazigo está na capela do Salvador do Mundo, dentro da igreja. Num local tão histórico, o trabalho de arqueologia dentro da Igreja da Misericórdia, que vão descobrindo mudanças pelas quais ela passou, como a sucessão de pisos e elementos da construção anterior. Certamente há muito o que se descobrir ainda sobre a história da igreja – e a nossa história.


ARQUITETURA E CINEMA

UMA NOVA HÓSPEDE

Em ‘Três Solteirões e um Bebê’, o apartamento é a cara de seus moradores – até que chega a nova dona da casa Texto: Renato Félix | Fotos: Divulgação | Arquiteto convidado: Giovani Andrade

P

elo título, já se sabe do que se trata Três Solteirões e um Bebê (1987): de três solteirões que, de repente, se veem às voltas com um bebê deixado em suas portas. O trio, que divide um espaçoso apartamento em Manhattan, é formado por um desenhista (Michael, vivido por Steve Guttenberg), um ator (Jack, papel de Ted Danson) e um... arquiteto (Peter, interpretado por Tom Selleck). O filme não é, claro, sobre arquitetura, mas a profissão do personagem de Selleck acaba influindo no filme. Essa influência salta aos olhos no apartamento do trio. “Tratase da convivência harmoniosa de pessoas com personalidades e profissões distintas em um mesmo ambiente, sem que percam sua individualidade. Isso tem tudo a ver com arquitetura”, explica o arquiteto Giovani Andrade. “No filme, o apartamento, com endereço no Central Park, foi projetado por um dos personagens para refletir o estilo de vida de três solteiros de meia idade dos anos 1980, com profissões diferentes mas, interligada pela arte e a criatividade”.


Assim, há um cuidado por parte do filme dirigido por Leonard Nimoy (o Sr. Spock da série Jornada nas Estrelas) em representar tanto os espaços de cada um quanto as áreas comuns. “O espaço é projetado para que as individualidades de cada um, vastamente exploradas nos ambientes de privacidade – quartos integrados ao local de trabalho –, deixe espaço para os pontos comuns a todos nas áreas de convivência do apartamento”, diz Andrade. Giovani Andrade aponta as particularidades dos ambientes particulares dos três protagonistas: “Como uma expressão da personalidade e da profissão de cada um deles, o ambiente do arquiteto é mais sério, centrado e futurista. Você pode não acreditar, mas, em 1987, fitas de vídeo cassete e TVs de tubo dentro de caixas, eram o auge da tecnologia”, aponta. “O cartunista, mais expansivo, abusa do despojamento e das cores fortes, em seu ambiente cheio de pufes e almofadas coloridas. Já o ator, meio canastrão e egocêntrico, mostra um pouco do seu estilo boêmio e do seu ‘amor próprio’ em um ambiente romântico, com iluminação cenográfica e uma decoração repleta de peças de sets de filmagens e posters de suas próprias atuações”. A história mostra a boa vida do trio até que surge a filhinha de Jack – que ele, viajando, nem sabia existir. O design do apartamento é feito sob medida para os moradores e suas conquistas amorosas, mas não para a pequena nova hóspede. “Os grandes destaques do apartamento são a sala de jogos pela solução criativa na utilização de refletores de teatro na iluminação da mesa de sinuca, e a cozinha”, explica Andrade, falando sobre as áreas comuns do apartamento. “A cozinha por ser o grande ponto de convivência dos personagens e, principalmente, por ser a pia o palco da solução improvisada dos banhos da pequena visitante, já que a arquitetura do local, apesar de atender perfeitamente ao que se propunha, não previa a chegada nem as necessidades de um novo usuário”. O apartamento chama a atenção logo na entrada: a saída do elevador já mostra a porta personalizada, com uma caricatura de Peter, Michael e Jack em smoking e cartola. “Na verdade, não apenas a porta, mas todo o hall do apartamento funciona como uma espécie de cartão de visita”, adiciona Andrade. “A personalização do espaço mostra claramente o que esperar dos moradores, e, se analisarmos com cuidado, vemos isso o tempo todo nos halls dos apartamentos contemporâneos. Seja com um grande mural pintado a mão ou com peças sofisticadas de decoração, antecipar aos visitantes o que encontrarão no interior é sempre viável”.

A chegada de Mary, o bebê, acaba levando a adaptações na rotina profissional e pessoal dos três personagens. “A chegada da bebê remete a toda situação nova para a qual não se está preparado. Como tudo que é desconhecido, a adaptação a novas realidades é assustadora, porém, necessária”, diz Giovani Andrade. No caso de Peter, passa pela instalação de um telefone no box do banheiro, por causa do susto que toma quando Jack não atende o telefone por estar tomando banho. “E a adaptação à nova rotina de trabalho, após vencer a exaustão, falta de sono e novos compromissos, mostra-se no capacete rosa que a bebê usa ao acompanhá-lo às obras”. Um dos melhores diálogos se dá no momento da troca de fraldas e Peter, desafiado, diz: “Sou um arquiteto, pelo amor de Deus. Eu construo arranhacéus de 50 andares, eu construo cidades dp futuro. Eu certamente posso trocar uma maldita fralda”. “Além de uma boa piada, é uma reflexão de que, por mais cultos ou tecnicamente preparados nós possamos ser, haverá sempre situações na vida para as quais não estaremos prontos”, reflete Andrade. “E que só nos resta manter vivo o espírito de busca pelo aprendizado continuo para sermos bem sucedidos”. O final do filme, para Giovani Andrade, também tem o que dizer sobre a profissão. “A arquitetura é, e deve ser, um reflexo dos hábitos, desejos e personalidades de seus usuários, sendo assim, mutável, tal qual quem a utiliza”, explica. “No filme, os personagens passam por uma mudança drástica de valores com a chegada de Mary e toda a experiência vivida com ela. É da natureza humana exaltar as vitória e experiências vividas, seja com troféus de caça, lembranças de viagem, ou monumentos arquitetônicos. Dessa maneira, a mudança dos personagens passa a fazer parte, com destaque monumental, do mural na entrada do apartamento”. Curiosidade: o filme é a refilmagem de uma comédia francesa de 1985, lançada no Brasil como “3 Homens e um Bebê”. No entanto, saindo em VHS primeiro, o filme francês adotou o título brasileiro da refilmagem de grande sucesso: “Três Solteirões e um Bebê”. Assim, quando o americano saiu em vídeo, foi lançado com o título que havia sido da versão francesa: “Três Homens e um Bebê”, que foi mantido no DVD.

Três Solteirões e um Bebê (Three Men and a Baby). Estados Unidos, 1987, de Leonard Nimoy. Elenco: Tom Selleck, Steve Guttenberg, Ted Danson, Nancy Travis. Distribuição: Walt Disney




REPORTAGEM

COMO NA FICÇÃO Impressora 3D vai se tornando ferramenta importante para arquitetos na produção de maquetes Texto: Neide Donato | Imagens: Divulgação

E

las chegaram e vieram para ficar. As impressoras 3D permitem que se imprima praticamente qualquer coisa em algumas horas. Para os arquitetos, o novo equipamento que já se encontra no mercado a preços, mais ou menos acessíveis, elas são um verdadeiro achado, já que tornam possível a construção de uma maquete física que pode ser visualizada pelo cliente dando mais segurança na hora de se decidir pelo projeto. O arquiteto e urbanista, Fabiano Melo é um dos que apontam o equipamento como um enorme avanço na forma como será encarada a produção e consumo de arquitetura daqui para frente. “Por mais que a computação e, junto a ela, os métodos de representação gráfica tenham evoluído no último século, nenhuma imagem ou desenho consegue superar a didática e a clareza de uma maquete”, argumenta.

A opinião é compartilhada pela arquiteta e mestre em Urbanismo Janine Holmes que também elenca outras áreas onde o equipamento pode ser utilizado. “A impressora 3D é uma excelente ferramenta que vem auxiliar na concepção projetual de qualquer área, seja na arquitetura, no design de interiores e em outras como na mecânica e na medicina”. No que se refere a arquitetura especificamente, Janine Holmes comenta que a impressora 3D executa, com fidelidade e precisão, um protótipo, a partir de um projeto idealizado com riqueza de detalhes que, muitas vezes, seriam impossíveis de se reproduzir em uma maquete física tradicional. “Essa nova ferramenta que vem sendo introduzida inclusive no meio acadêmico, ainda possui custo relativamente alto, com preços que chegam a se equiparar a um carro popular. Porém, não deixa de ser extremamente cobiçada pelos profissionais e escritórios devido ao que pode proporcionar no desenvolvimento e na apresentação projetual”, ressalta. Segundo Fabiano Melo, que também é mestre em Engenharia Urbana e professor da Facisa, não precisa ser especialista para entender as miniaturas. “Qualquer leigo consegue se imaginar dentro de uma maquete, mesmo em escala reduzida. As impressoras 3D lançadas recentemente são, em minha opinião, um enorme avanço na forma como iremos encarar a produção e o consumo de Arquitetura daqui para frente”, ressalta. Para ele, embora não seja ainda acessível a todas as empresas de projeto, a tecnologia logo será popularizada, auxiliando no processo de projeto ampliando a capacidade de especulação dos projetistas e melhorando a comunicação destes com seus clientes.


O equipamento, cujo uso não se resume à arquitetura, traz ganhos para profissionais e clientes. “Para os profissionais, acredito no benefício durante o processo de projeto. Eles poderão simular e avaliar os resultados a partir de ‘impressões teste 3D’ e avaliar melhor os caminhos escolhidos no processo de criação. Já os clientes, poderão entender melhor e se comunicar melhor com o projetista. Assim, poderá sugerir modificações e ter mais segurança sobre o que aprovou. Ampliar e melhorar a comunicação com seu arquiteto é, certamente, aumentar as chances de satisfação e de realização com a obra”, comenta Fabiano Melo.

Coordenada 1 Em tamanho real O que parece ficção cientifica já é realidade: construir uma casa em menos de 24 horas. Pelo menos em testes feitos na Califórnia utilizando o invento do professor americano Behrokh Khoshnevis, da University of Southern Califórnia. A impressora 3D é capaz de “imprimir” uma residência de 230m² sem a utilização de nenhuma das ferramentas até então usadas na construção de moradias. Além de não precisar de colher de pedreiro, e muito menos do pedreiro, a tecnologia inova o conceito de construir abrindo possibilidades e criando um campo totalmente novo a ser explorado. O sistema funciona da seguinte forma: um robô de dimensões gigantes se move entre trilhos montados nas laterais da futura residência, criando camadas de concreto vazias que posteriormente são preenchidas também com concreto, dispensando todo o trabalho braçal de assentar tijolos e cimento. O processo é o mesmo utilizado em impressoras 3D de dimensões reduzidas. O que o criador da máquina fez, foi ampliar o conceito e destiná-lo a construção de residências. A impressora também é capaz de pintar, colocar telhado, piso, encanamento e fiação elétrica. A parte que cabe aos humanos fica restrita a instalação de janelas e portas, após o término da construção. Criados por computador, os projetos permitem modelagens diferentes para as casas. A expectativa é que a impressora 3D crie bairros inteiros com um custo e tempo extraordinariamente menores.

Mercado promissor O mercado para essa nova tecnologia vai desde a construção de casas de emergência, em casos de desastres naturais, por exemplo, moradias de baixo custo para reduzir o déficit habitacional até prédios convencionais. Apesar de não haver previsão para a máquina chegar ao mercado consumidor terrestre, a Nasa já sonha com o uso da tecnologia fora da terra, por isso, é uma das investidoras da pesquisa. A impressão do “Contour Craftin”, denominação dada à impressora 3D, é apontada como o futuro da construção civil. De acordo com os pesquisadores, as estruturas criadas pela máquina são mais resistentes do que as construídas no modelo atual. Nos testes, as paredes ‘impressas’ resistiram 10 mil libras por polegada quadrada, superando a média para uma parede normal, que é de 3 mil libras por polegada quadrada. Empolgados com a tecnologia, os inventores da máquina já têm uma resposta pronta para quem se preocupa com o futuro dos profissionais da

construção civil. De acordo com entrevista publicada em um site, Behrokh Khoshnevis, responsável pelo robô, cita que no início de 1900 62% dos americanos trabalhavam em fazendas e hoje menos de 1,5% estão nesse ramo. “Construção é um trabalho perigoso, mais do que mineração e agricultura. Isso mata 10 mil pessoas por ano”, lembra ele, apontando que as pessoas deveriam realizar trabalhos que ofereçam menos riscos às suas vidas.

Quadro: Outros usos A impressora 3 D é tão versátil que seu uso já está sendo testado em outras áreas, além da arquitetura. * Saúde – O equipamento já foi utilizado para imprimir um implante 75% do crânio em um paciente norte-americano. A cirurgia foi feita em março deste ano e o modelo foi feito com base imagens da cabeça do paciente obtidas por um scanner 3D. Outro feito inédito que foi possível com o equipamento foi a impressão de uma orelha biônica por cientistas da Universidade de Princeton. * Casa – Desde a impressão de vasos decorativos a produtos de utilidade como cadeiras com design exclusivo. Essa é uma mais uma das possibilidades que a impressora 3D poderá ser utilizada. Além da exclusividade, o custo de alguns produtos seria inclusive mais barato. Pesquisadores da Universidade de Tecnologia de Michigan fizeram uma pesquisa com 20 itens comuns de uso doméstico e descobriram que enquanto a compra dos produtos custaria entre US$ 312 até US$ 1.944, a impressão ficaria em torno de US$ 18 e poderia ser feita em apenas um final de semana. * Moda – Já é possível produzir roupas e acessórios com materiais mais ‘usáveis’, a partir da impressora 3D. Entre as vantagens, estão o custo e o tempo de produção das peças reduzidos. * Engenharia – Construção de protótipos para testar a funcionalidade dos equipamentos. * Alimentação – Criação de esculturas de chocolate ou doces comestíveis até comidas prontas. Itens como macarrão, bolos, biscoitos e até mesmo hambúrgueres, já está sendo testados. * Educação – reprodução de regiões topográficas, mapas, animais, galáxias para auxiliar na aquisição do conhecimento por parte dos alunos.


ARQUITETURA E MODA

A VERSATILIDADE DO BRANCO Há muito mais do que se imagina na chamada “ausência de cor” Texto: Germana Gonçalves | Fotos: Divulgação

C

onhecida como cor da luz, ou ausência de cor, o branco é a junção de todas as cores do espectro e reflete todos os raios luminosos sem absorvê-los, aparecendo sempre com clareza máxima. Na nossa cultura ocidental, é considerada a cor mais pura de todas remetendo à paz e ao conforto. Ajuda a acalmar e aclarar as emoções, os pensamentos e o espírito, sugere libertação e reestabelece o equilíbrio interior, simboliza a virtude e o amor de Deus. Ao contrário do que se pensa na cultura oriental, onde o branco está associado ao luto e à tristeza.


SPFW - Verão 2013 - Samuel Cirnansck

A cor vem se destacando no cenário da moda e aparece forte a várias coleções, de inverno a verão. Ao contrário do “pretinho básico”, imprime na produção “branco total”, muita sofisticação aliada à versatilidade de poder harmonizá-la com cores vibrantes e diversos acessórios. Sobreposições de renda e tecidos finos, como a seda, por exemplo, dão um ar romântico e fresco aos looks onde a mistura de texturas é a peça chave e afasta de vez à sensação de fardamento para trabalho. As peças brancas devem ser utilizadas soltas no corpo, nada apertado para não marcar demais. Além de todas às vantagens da moda “branco total”, é importante ressaltar que em época de crise mundial, a ideia é fácil de vender e comprar, além de ultraclássica e muito fácil de combinar. Foi com essa versatilidade e facilidade de combinação que a cor conquistou o mundo da arquitetura e decoração, onde entrou para nunca mais sair! O branco é “clean”, e deixa qualquer lugar com cara de novo, além de ampliá-lo. Piso, paredes e teto brancos potencializam a entrada de luz natural nos

ambientes tornando-os claros e agradáveis; Ao optar por uma ambientação com base branca, podemos destacá-la com diversos pontos de cor e brincar com a decoração. É preciso ter cuidado para que o ambiente não crie um ar de frieza e impessoalidade, e para que isso não ocorra, uma boa dica é apostar na iluminação de temperaturas de cor mais quentes e direcionar luz extra para onde se deseja destacar. Uma ótima combinação para o branco em projetos de interior é o uso de madeiras claras, de preferência menos amareladas e mais acinzentadas. Não tem erro, a combinação é linda e produz sensação de aconchego, além de não atrapalhar na neutralidade do ambiente. Para potencializar a harmonia entre a madeira e os móveis brancos, a pintura em laca ou resina com efeito brilhante torna a combinação perfeita. Use e abuse do branco e depois me conta o sucesso que fez...




AMBIENTAÇÃO

PREPARADA PARA “O NOVO PACIENTE” Salas de espera de consultórios devem lidar com a tríade e-paciente, cliente e consumidor Texto: Márcia Wirth | Fotos: Divulgação

H

á muitos estudiosos tentando precisar a dimensão dos impactos da internet sobre as mais diversas áreas e atividades econômicas. Mas na área da saúde, em particular, essa missão é impossível, pois o universo digital vem alterando tão profundamente a caracterização daquele que habitualmente denominávamos “paciente”, que consequentemente, estes impactos só poderiam ser medidos se também estudássemos a nova relação médico-paciente, que se estabelece a partir da transformação do paciente. A transformação do paciente em uma tríade ou “novo paciente” - e-paciente, cliente e consumidor - é o fenômeno mais impactante e relevante para a medicina resultante da disseminação da internet. Philip Kotler observa que, nas últimas décadas, o

consumidor já estava moldando o ambiente ao seu gosto e ansiava por meios que permitissem participar da construção desse novo mundo. A internet, então, veio como uma resposta a essa necessidade e foi adotada em ampla escala, causando uma “nova revolução social”. Manuel Castells chama a atenção para esse fato já há algum tempo, quando defende que a galáxia da internet é o novo ambiente de comunicação. “Como a comunicação é a essência da atividade humana, todos os domínios da vida social estão sendo modificados pelos usos disseminados da Internet [...]”. Com a popularização da Internet, o consumidor passou a ditar as regras. É o que Kotler chama deempowerment do consumidor, que deixou de lado a passividade que imperou na década de 1980 e passou


a exercer um nível de participação na comunicação existente no mercado sem precedentes. O consumidor é a diretriz primordial, ele sabe disso e faz uso desse seu poder. Ele é exigente, “quer colaborar com a empresa”, dando sua opinião, sendo participativo. E nesse novo cenário, com a internet a seu favor e portador de sua própria conexão 3G e de seu smartphone e/ou tablet, o paciente aprendeu a gostar de ser o e-paciente. Ele marca o exame, pesquisa o histórico profissional do médico (Ele é especialista? Tem RQE? Estudou mesmo no The Johns Hopkins Hospital?), checa com o Dr. Google as orientações que recebeu durante a consulta e compra seu medicamento... Tudo com um clique ou dois... O paciente aprendeu que ser cliente é muito bom e anseia por ser respeitado, conquistado, “encantado”, fidelizado e bem atendido. Ele percebeu que como consumidor, reclamar funciona e que a internet é o canal dos sonhos para dar vazão às suas insatisfações. Diante de tantas e tão rápidas mudanças é urgente que os médicos busquem auxílio e consultoria apropriada para compreender essa evolução comportamental do paciente, que provoca mudanças dentro do consultório que impactam diretamente os negócios. Se o paciente mudou, não é mais possível atendê-lo da mesma maneira. O atendimento precisa mudar também. Gil Giardelli defende que não podemos

usar velhos mapas para descobrir novas terras. Nós defendemos que não podemos continuar “atendendo assim”, como sempre fizemos, porque simplesmente, “sempre fizemos isso”...

Sem tempo a perder Nesses novos tempos, um comportamento que precisa ser revisto para melhor atender o paciente é o tempo de espera para ser atendido em consultório e clínicas médicas. O que mais irrita um paciente, antes de ser atendido é o atraso na consulta e a falta de um feedback apropriado por parte da recepcionista/ secretária. Segundo uma pesquisa de 2010, o tempo médio de espera no consultório de um médico, nos Estados Unidos, para uma consulta clínica é de cerca de 20 minutos. E de acordo com outro estudo sobre o mesmo tema, publicado no Journal of General Internal Medicine, a maioria dos pacientes considera esse tempo de espera muito longo. O fato é que as pessoas odeiam esperar. Seja nos Correios ou no consultório de um médico (a exceção são as filas de lançamento dos produtos da Apple), quanto maior a espera, menor a chance de que o cliente, neste caso, “o novo paciente” saia satisfeito, e menor a probabilidade de que ele vá retornar ao


Lições de outros segmentos econômicos Tempo desocupado é percebido como tempo desperdiçado, mas o tempo ocupado é percebido como produtivo. “O pulo do gato” é fazer com que os pacientes se sintam produtivos enquanto esperam o atendimento. Com isso em mente, relacionamos algumas ideias sobre como melhorar a satisfação quando se trata de longas esperas:

Cabeleireiros: oferecem aos clientes uma bebida quente

Como o profissional leva vários minutos para atender o cliente, ele serve chá, infusão ou café fresco, que entre preparo e ingestão toma cerca de 10 ou 15 minutos. Se estivéssemos no consultório, no momento em que o paciente fosse chamado para a sala do médico, ele provavelmente não teria terminado sua bebida. Isto o deixaria com a percepção de que ele não teve tempo suficiente para tomar a bebida, que o atendimento foi rápido. Tudo isso agrega valor ao serviço prestado.

Painel de senhas: aguarde o seu número

De acordo com um artigo publicado na Harvard Business Review, as pessoas valorizam mais a transparência no atendimento do que um tempo de espera curto. Como num consultório médico, nem sempre é possível revelar os bastidores do atendimento para os clientes, devido ao sigilo médico-paciente, o painel com senhas eletrônicas cumpre o papel de deixar claro “as regras do jogo”.

Autosserviço: faça assinaturas de jornais e revistas

Parece tão óbvio. Afinal das contas, a maioria dos consultórios médicos já está tomada por revistas, mas poucos têm uma assinatura de um jornal diário. As pessoas valorizam a informação atual mais do que informações desatualizadas. No fim das contas, é melhor contar com uma variedade de jornais e revistas para todos os gostos. Também é bom manter as revistas correntes e remover as que estão rasgadas ou com mais de dois meses de publicação.

Restaurantes: desenhos para as crianças colorirem

Pediatras sabem como atender às crianças, mas outros médicos devem prestar atenção a este cliente também. O site da Crayola possui diversas páginas para colorir destinadas às crianças (incluindo vários desenhos que são educativos sobre o corpo humano). Além disso, é possível comprar giz de cera em qualquer papelaria e distribuí-los às crianças, como fazem diversos restaurantes. Esta é uma maneira barata e fácil de manter a criança entretida e tornar a espera menos frustrante.

Cafés: Wi-Fi gratuito

A conexão Wi-Fi confiável é um bônus agradável para os clientes que desejam checar um e-mail ou apenas navegar enquanto esperam o atendimento médico. E os pacientes estão acostumados com esse “pequeno luxo” em qualquer café da esquina. Como o seu consultório e/ou a sua clínica não oferece algo semelhante? Assim, além das opções em papel, lembre-se que muitos pacientes preferem ler na sua própria tela, em seu laptop, tablet ou smartphone. É essencial ofertar uma senha para uso exclusivo dos pacientes com uma ótima conexão a internet. Muitos consultórios e clínicas médicas ainda relutam em adotar essa prática, com medo de que seus funcionários se distraiam no trabalho e fiquem o dia todo navegando nas redes sociais... Uma preocupação completamente infundada, pois os funcionários já fazem isso, utilizando sua própria conexão 3G/4G de seus celulares particulares. Assim, não há mais motivos para não oferecer uma senha wi-fi aos pacientes.

Bares: coloco uma TV ou não?

Já existem algumas evidências de que a instalação de um aparelho de televisão na sala de espera pode realmente sair pela culatra. Um estudo holandês, em 1994, descobriu que as pessoas que assistiam televisão na sala de espera de um consultório médico perceberam que o tempo de espera não era curto. Isto pode ser porque estamos profundamente conscientes de quanto tempo dura um programa de TV, então quando os intervalos comerciais começavam a se somar, os pacientes começaram a sentir que o tempo foi desperdiçado. Ainda assim, existe uma pequena percentagem de pessoas que prefere assistir TV ao invés de ler ou navegar pela Internet, de modo que esse tópico pode ser considerado relevante por alguns profissionais. Particularmente, não apreciamos e não recomendamos TV na sala de espera (já bastam os celulares estridentes provocando tumulto nas clínicas), pois a consideramos um foco de tensão e ruído a mais num ambiente que necessariamente precisa ser calmo e tranquilo. Por fim, lembre-se que é a percepção da espera, não o próprio ato de esperar que faz a diferença. Dar ao “novo paciente” a sensação que ele está fazendo algo útil com seu tempo vai deixá-lo mais feliz. Este é um desafio, mas é uma meta possível de ser atingida!


consultório, se ele se deparar com outra opção, no caso, um médico que saiba organizar a sua agenda de marcação de consultas de maneira mais eficiente. Cientes dessa nova realidade e dessa nova exigência do consumidor, muitos médicos fazem o possível para aprimorar sua agenda diária, eliminando a espera prolongada e agilizando seu atendimento. Nesse sentido, capacitar a equipe para receber bem o paciente, enquanto ele espera, tem dado bons resultados. Uma equipe bem treinada torna-se mais sensível às necessidades do paciente na sala de espera, buscando oferecer conforto ao paciente que aguarda atendimento médico. Especialistas que estudam o fenômeno de espera nas filas defendem que a percepção sobre a espera é mais importante do que o tempo de espera real. De acordo com pesquisa realizada pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), os clientes consideram o tempo de espera uma oportunidade desperdiçada ou perdida. Portanto, para atingir níveis mais elevados de satisfação dos clientes, as empresas devem se concentrar em fazer com que os clientes sintam que não estão perdendo tanto tempo assim. Em outras palavras, a solução não é apenas reduzir o tempo de espera de 20 para 15 minutos, mas fazer um trabalho melhor para “distrair os pacientes” durante o tempo de espera.


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Venho requisitar exemplares da revista Artestudio para fazer parte do acervo da Biblioteca do IESP, visto que estamos com a primeira turma do Curso de Arquitetura e Urbanismo.

ALEXANDRE SUASSUNA Av. Senador Rui Carneiro, 636. SL 13, Manaíra, João Pessoa - PB. (83) 8827-2769 / 8737-1606 / 4141-4690 instagran: @alexandresuassuna alexandresuassuna@hotmail.com

CRISTIANI FERNANDES Rua Comendador Vicente Gagliano, n° 31- sl 95, Pitangueiras - Guarujá, CEP.: 11410-200 (13) 33843834 / 97188580 contato@crisfernandes.com.br www.crisfernandes.com.br

LEILA AZZOUZ Av. Rui Carneiro, 300 - sl 210 Miramar, João Pessoa-PB (83) 3031.5301 / 9924.9988 contato@leilaazzouz.com

SAMIA RAQUEL AV Expedicionários, Edificio Center 100 / Sl 207 Expedicionários , João Pessoa - PB. (83) 3243-8653 / 8886-8653 samiaarquiteta@gmail.com

Att, VALDETE DUARTE

Ana Flavia Borba Coutinho Coordenadora do Curso de AU IESP PB Ficamos muito contente com a sua solicitação Ana Flávia. Vamos enviar sim, e em breve a nossa diretora Márcia Barreiros entrará em contato diretamente com você. Abraço

Av Guarabira, 1200 - SL 202 Manaira , João Pessoa - PB. (83) 9444.0409 valdete.duarte@ig.com.br

A Editoria revistaae revArtestudio Artestudio Marcia Barreiros co n t a t o @ a r te s t u d i o r e v i s t a . co m . b r

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PONTO FINAL

IDENTIDADE

ESSENCIAL A identidade de uma empresa pode mudar?

J

á me perguntaram isso um montão de vezes e, já tendo pensado muito a respeito, tinha uma resposta que considerava convincente. Mas esses dias, lendo o excelente Convite à filosofia da Marilena Chaui, fez-se a luz para mim (é para isso mesmo que serve a filosofia, não é?). Pois então. A Marilena, citando os clássicos com uma elegância e simplicidade que poucos conseguem, explicou-me que todas as coisas têm atributos essenciais e acidentais. Os atributos essenciais são aqueles que, como o próprio nome diz, ajudam a definir a essência da coisa. Já os acidentais, apesar da nobre tarefa de ajudar a definir a coisa, não contribuem para definir a sua essência. Bingo! Como é que eu não pensei nisso antes? Na identidade corporativa, é a mesma coisa! Há os atributos essenciais e os acidentais. Como sempre, gosto de usar pessoas como analogia. O cabelo, o corpo e a roupa contribuem para definir a pessoa. Mas, ao longo dos anos, isso tudo muda muito. É só comparar você com uma foto sua de dez anos atrás. Era muito mais cabelo e muito menos quilos, e a roupa, que desastre... Mas você continua

sendo você, não é? Mesmo bem diferente, ainda dá para reconhecer a mesma pessoa. Você também era imaturo, inexperiente, volúvel. Agora, dois casamentos e três filhos depois, está muito mais assertivo. Mas, que paradoxo, continua sendo a mesma pessoa! Como é que se explica? São os tais atributos. Essa casca, essa parte que muda com o tempo, são os atributos acidentais. Ajudam, mas não são imprescindíveis na definição de quem é você. Já o seu senso de justiça, a sua honestidade, o seu amor pelos animais, a sua mãe mesmo já disse: você sempre foi assim. Mudou muito pouco. É que esses são os atributos essenciais. São o que tornam você especial. Pode ver, não é qualquer lipo ou silicone que mudam uma identidade! Em uma empresa também. O fato dela estar passando por dificuldades financeiras, a sua inexperiência, a expectativa com o lançamento de um novo produto, tudo isso é apenas acidental. No ano que vem já vai ser diferente. Mas se ela é essencialmente conservadora, não vai virar vanguarda nem em 50 anos. Se ela é realmente ética, não tem governo nem partido que mude isso. Se ela respeita mesmo o cliente, não tem plano econômico que consiga estragar a relação. Identidade é isso aí. Atributos essenciais que mudam quase nada, e atributos cidentais que vivem causando surpresas. Se a empresa se concentrar em traduzir os atributos essenciais em ações e dar menos importância aos acidentais, vai dar tudo certo, pode crer.

LÍGIA FASCIONI

Engenheira eletricista, mestre em automação e controle industrial, Pós-graduada em Marketing e Doutora em Gestão Integrada do Design. Autora do livro Quem sua empresa pensa que é?, é consultora empresarial na área de gestão da identidade corporativa.


SOFISTICAÇÃO NÃO É TER MUITO. É TER EXATAMENTE O QUE VOCÊ IMAGINOU.

ESPAÇOS únicos, POSSIBILIDADES infinitas.

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Bontempo João Pessoa • Rua Professora Severina Souza Souto, 207 • (83) 3244.7075 • João Pessoa/PB



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