Revista ae 49

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Ano XIII - nº 49

www.artestudiorevista.com.br

arquitetura & estilo de vida

LUZ PARA MALHAR A iluminação usada para atender os diferentes públicos de uma academia

ESPAÇO FEMININO Loja de calçados usa a renda como visual de identidade

EM BUSCA DA SIMPLICIDADE

A premiada arquitetura da japonesa Kazuyo Sejima, uma expoente do espaço contínuo

A NATUREZA LOGO ALI

Integração com o meio ambiente é um dos pontos chaves no projeto desta residência

+ A história da fotografia na decoração, o fim anunciado das lâmpadas incandescentes, a força da cor cinza


M A D R E P É R O L A

A semijoia que já faz sucesso em painéis de iates, jatos particulares, automóveis de luxo e acessórios da alta costura chega agora aos móveis Florense. A madrepérola é uma matéria-prima natural semipreciosa encontrada na

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Ano XIII

SUMÁRIO

Edição 49

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DICAS & IDEIAS 66 ILUMINAÇÃO A criação da luz na reforma de uma academia de ginástica

CONHEÇA 20 LIVRO A Política do Artificial, de Victor Margolin, chega ao Brasil 24 A HISTÓRIA DE Das pinturas na caverna às fotos na decoração 30 GRANDES ARQUITETOS A falsa simplicidade de Kazuyo Sejima 78 ARQUITETURA E MODA Entre o preto e o branco, o cinza vem ganhando força

ARTIGOS VISÃO PANORÂMICA 12 Amélia Panet questiona o uso da arquitetura URBANISMO 15 Rossana Honorato fala das cores na cidade VIDA PROFISSIONAL 16 Ênio Padilha diagrama as possibilidades profissionais para arquitetos VÃO LIVRE 18 O mercado de LED precisa de uma higienização PONTO FINAL 86 Há quanto tempo você não olha aquele álbum de fotografias?

ENTREVISTA ENTREVISTA 22 A arquitetura diferente do escritório equatoriano Al Borde

SOCIEDADE REPORTAGEM 70 O fim com data marcada das lâmpadas incandescentes LUMINOTECNIA 72 A NBR 15575 aplicada na iluminação artificial 8

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PROJETOS

54 INTEGRAÇÃO 34 A combinação entre cores e materiais no projeto de interiores de uma residência

VIDA NOVA 40 Projeto de interiores preparou apartamento para clientes recém-casados

FEMININO 46 A renda é visual de identidade na ambientação de uma loja de calçados

NOSSA CAPA 50 A integração com a natureza no projeto de uma casa

40

Nossa capa: Projeto: Sandra Moura Foto: Cacio Murilo

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arquitetura & estilo de vida ANO XII - Edição 47

EXPEDIENTE Diretora/ Editora geral - Márcia Barreiros Editor responsável - Renato Félix, DRT/PB 1317 Redatores - Alex Lacerda, Débora Cristina,

Lidiane Gonçalves, Renato Félix, Neide Donato

Diretora comercial - Márcia Barreiros Arte e diagramação - Welington Costa Fotógrafos desta edição - Vilmar Costa / MB Impressão - Gráfica JB

QUEM SOMOS AE é uma publicação trimestral, com foco em arquitetura, decoração, design, arte e estilo de vida, com tiragem de 8 mil exemplares de distribuição gratuita e dirigida. A reprodução de seus artigos, fotografias e ilustrações requer autorização prévia e só poderá ser feita citando a sua fonte de origem. As colaborações e artigos publicados e fotos de divulgação são de responsabilidade exclusiva de seus autores, não comprometendo a revista, nem seus editores.

ONDE NOS ENCONTRAR Contato: +55 (83) 3021.8308

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www. artestudiorevista. com. br As matérias da versão impressa podem ser lidas, também, no nosso site: www.artestudiorevista.com.br com acesso a mais textos, mais fotos e alguns desenhos de projetos 12


EDITORIAL

ALÉM DA BELEZA O arquiteto trabalha para o cliente, mas não é raro que esse cliente seja toda uma comunidade. Nossa entrevista desta edição da AE mostra o trabalho de um escritório equatoriano que se dedica a realizar projetos que utilizam os recursos disponíveis de cada comunidade. Um exemplo que lembra o quanto a profissão pode ir além da mera questão estética. Mas o estudo da estética também é importante, como mostra o livro A Política do Artificial, reunindo pela primeira vez no Brasil textos de um dos nomes mais importantes da área no mundo: o americano Victor Margolin. A nossa seção Livro comenta o lançamento. A beleza, ás vezes, está aliada também a nossos sentimentos mais pessoais, como demonstra nossa matéria sobre o uso da fotografia como decoração. E, claro, há um pouco de tudo isso nos projetos que selecionamos para apresentar nesta edição. Os arquitetos que colaboram com esta edição combinam a beleza, a importância dos sentimentos pessoais dos clientes, a preocupação com a comunidade através da sustentabilidade.

MÁRCIA BARREIROS editora geral e diretora executiva

Colaboradores desta edição:

Boa leitura!

ARTESTUDIO

RENATO FÉLIX editor de jornalismo

AMÉLIA PANET arquiteta

ROSSANA HONORATO arquiteta

WELLINGTON COSTA prod. e diagramador

CÁCIO MURILO fotográfo

DÉBORA CRISTINA jornalista

ALEX LACERDA jornalista

GERMANA GONÇALVES designer interiores

JEAN FECHINE arquiteto

NEIDE DONATO jornalista

LIDIANE GONÇALVES jornalista 13


VISÃO PANORÂMICA

A QUE SERÁ QUE SE DESTINA A ARQUITETURA

N

o contexto contemporâneo não podemos afirmar que o uso da arquitetura está diretamente relacionado à sua função primordial, aquela para a qual ela foi concebida. Se houvesse essa relação direta e finita não haveria reformas, re-usos, adaptações, crescimentos e outras tantas transformações relacionadas à própria dinâmica da vida e dos espaços. Esse primeiro referencial de uso e função nasce tão somente, à primeira intenção de ocupação de um espaço em processo de concepção, sabendo-se que, por vezes, antes mesmo de seu término, tudo já se transformou. De todo modo, devemos iniciar com a ideia de que seja a arquitetura um suporte para as práticas sociais, mesmo que essas práticas reconstruam esse espaço, deem um novo sentido, ou mesmo, os abandone. Como ocorre com a percepção, existe uma diferença entre a realidade de uso – as práticas sociais que ocorrem de fato no espaço, e a representação que os usuários fazem desse espaço, não correspondendo às práticas reais. O uso também está relacionado com os fenômenos sociais de apropriação do espaço, podendo haver uma assimilação e ocupação coerente com a concepção do espaço ou a ocorrência de deformações, transformações e transgressões, fenômenos estudados pela sociologia de usos, pós-ocupação e sintaxe espacial. Esses estudos de pós-ocupação colocam em evidência casos de desqualificação do espaço com relação ao objetivo proposto. Seria, pois, o uso desses espaços pelos usuários o acontecimento que atribui sentido ao lugar, estruturando-o pela apropriação. Quando isso não ocorre, podemos supor que algo no processo de concepção desse lugar foi equivocado como: diagnóstico limitado, percepção inadequada, exclusão da participação dos usuários no processo de concepção, dinâmica e complexidade não avaliada corretamente, desconhecimento do perfil dos usuários, materiais inadequados, conceito da proposta imprópria, ideias fora do lugar, entre outros. O destino dos espaços é de ordem cultural, local e variável ao longo do tempo e da história. Assim, uma estrutura flexível espacialmente e que possa acompanhar as transformações, torna-se mais durável, pois possibilita variações de arranjos espaciais que favorecem as mudanças de usos. Para alguns autores, nas complexas cidades contemporâneas, a apreensão dos usos espaciais não se registra apenas por meio da fenomenologia, pela percepção, memória, sensações e sentimentos, mas se efetua pelos estudos de sintaxe, pelo acompanhamento das dinâmicas, das

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relações e fluxos entre os sistemas e contingências. Outros autores indicam que o espaço contemporâneo não deve possuir um uso rígido, mas possibilitar as transformações inerentes às atividades humanas, absorver a dinâmica e a democracia de seus usos. O tempo é diligente dos movimentos, os espaços são híbridos e efêmeros. O abandono dos espaços urbanos é outro fenômeno contemporâneo e tem resultado em cenários desoladores e em resíduos destruidores. Rem Koolhaas, arquiteto contemporâneo, compara o entulho descartado produzido pelo homem em suas cidades, espaços abandonados, eletrônicos, móveis jogados às ruas e toda espécie de resíduo provocado pela sociedade consumista, com o lixo espacial [spacejunk] que “emporcalha o universo”. O junkspace [espaço-lixo] é o “resíduo que a humanidade deixa sobre o planeta. O produto construído da modernização [...], mais precisamente, o que se coagula enquanto a modernização ocorre, seu efeito colateral.” Em ‘Junkspace’, além de avaliar negativamente o passado recente da nossa arquitetura, comparando-a apenas a uma mínima nota de rodapé no grande livro da história da humanidade, Koolhaas levanta a reflexão em torno da valorização da ética na arquitetura, e todos os aspectos inerentes à sua prática na concepção projetual. O uso da arquitetura ou pela arquitetura estaria relacionado a uma concepção ética dessa arquitetura, e o surgimento, portanto, de uma arquitetura autêntica. Ética, no trato do ‘bem comum’, como se refere Pérez-Gómez, não deve ser um adendo na arquitetura, mas a sua própria razão de ser. Na abertura do livro “Architecture, éthique et tecnologie”, Pérez-Gómez faz uma explanação lúcida e conciliadora dos atributos inerentes à arquitetura, vistos sabiamente pelo autor, por meio de um olhar capaz de distanciar-se do objeto pesquisado e analisá-lo numa perspectiva histórica, sincrônica e diacrônica, ao mesmo tempo e, sobretudo, animadora. Para Pérez-Gómez “se a dimensão ética não se percebe facilmente, é porque ela é inerente a essa práxis e não um acréscimo exterior – a qualquer atividade puramente técnica ou formal”. Para o autor, o pensamento e a ação humana, em suas diversas representações ao longo do tempo e em diversos lugares, são movidos por questões que são “essencialmente as mesmas”. Para Pérez-Gómez, a arquitetura sempre se esforçou para situar a ação humana num quadro apropriado, representando um papel conciliador, apesar da propensão humana pelo controle e dominação dos seus semelhantes e do ambiente. Ele acredita que a ética na arquitetura foi


incorporada aos valores tecnológicos paradigmáticos de eficiência e de economia. Por isso, se o arquiteto contemporâneo pretende representar um papel nesse mundo complexo, consciente das imposições ambientais e das diferenças culturais, um mundo onde a tecnologia continuará avançando na escala do planeta, esse profissional deve refletir sobre as estratégias próprias para que possa revelar a capacidade que a disciplina ‘arquitetura’ tem para concretizar uma intencionalidade ética. Pérez-Gómez estimula os arquitetos a encerrarem suas lástimas existenciais e celebrar os ‘trunfos’ da ambiguidade inerente à arquitetura concebida como um universo poético, permeada por discursos endereçados diretamente à concepção perceptiva e imaginativa da humanidade, como se isso fosse o limite. Para o autor, os arquitetos podem ultrapassar esse relativismo puramente formal, estilístico e o profissionalismo pragmático, tirando proveito dos elementos positivos de cada momento para redefinir o seu papel na sociedade, hoje representada por interesses culturais mais vastos e pela universalização tecnológica e espacial. Nossa arquitetura precisa ser inteligente, capaz de adaptar-se e transformar-se sem perder a essência da sua gênese. Pensemos para além das nossas telas de computadores, pois a escassez de recursos naturais e as crescentes demandas sociais batem a nossa porta.

Fotos: Divulgação

Amélia Panet

Arquiteta e urbanista Mestre em arquitetura e urbanismo Doutora em arquitetura e urbanismo pela UFRN Professora do curso de arquitetura e urbanismo pela UFPB

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URBANISMO

DA COR DA VIDA À COR DA CIDADE “A MÃO SABE A COR DA COR” “A Mão”, Carlos Drummond de Andrade

A

cor está presente na vida da gente de maneira essencial. Desde que se deu a luz... Do branco da cor da escova de dentes, ao acordar, ao azul do lençol da cama, ao deitar, se adentrando no sono por vezes aquelas reproduzidas inconscientemente. Da cor do café com leite da manhã ao bege do cadarço do tênis a amarrar no início da rotina diária... Tudo é cor... Dos verdes das árvores, que cada vez menos sorriem nas cidades, ao irrequieto movimento cromático dos veículos em trânsito no passado à monotonia do repassar de pretos, brancos e pratas de carros nas ruas do presente por que passamos. O tom chumbo que retém a vibração do calor flamejante ao rés do asfalto à desarmônica do tubo de descida d’água daquele edifício que o esqueceu à vista... à lembrança da pele cor de chocolate do bebê que toma sol no pilotis à do branquinho encardido em pseudo-cartase com a sua lata de cola na Lagoa... Deste tom de grafite da mosca impertinente que pousa no meu nariz à cor imprecisa da política desses dias do país. Por todos os lados, por todos os recantos, por todos esses anos, por todas as nuances do recanto ortogonal da parede aqui defronte, essa cor quase limpa, quase suja desse branco tingido com um só pigmento preto e esse tom amortecido pelo tempo... Ambientes chamam o olhar... Os edifícios pelos quais se passa... das fotos de revistas de arquitetura que repassam sob o olhar e comunicam significados que escorrem das cores empregadas; noutras, até um tanto encabuladas, talvez rendidas em não ousar... Ou estudadas com a forma... Ou com a disponibilidade no mercado? Partilhando o gosto com a clientela, quem sabe? Ou adaptada aos tropeços pelo poder de compra de materiais?

Fotos: Divulgação

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É desafiadora a aplicação de cores na arquitetura do edifício e da paisagem construída. Do processo conceptivo de arquitetura à concretude da obra, demarcam-se percursos metodológicos e/ou pragmáticos da definição de revestimentos, conforme as variações formais e volumétricas. Projete a concepção arquitetônica algum efeito sobre os sentidos de usuários ou observadores ou apenas um colorido acanhado, um tom primário para encher de graça (de graça) uma fachada. Uma diversidade de pequenos desafios nas etapas sucessivas do ambiente formulado, que, se bem ultrapassados, derivam em soluções de grandeza pondo em prova um recurso tão antigo quanto a própria arquitetura. De circunstâncias que parecem levantar questões acerca de estudos aplicados à prática por vezes amedrontada diante dos riscos de desacerto, a cidade de João Pessoa parece vir acolhendo a comodidade da neutralidade dos tons pastéis de um colorido uniforme a repetir-se no processo criativo. Se pensada de dentro para fora, a cidade parece confundir salas com outras salas da garoa. Da demarcação de uma referência visual à exploração de um ousado e harmônico jogo cromático entre tons frios e quentes a enriquecer a comunicação com quem contempla a forma construída, ou do intuito de “pregar uma peça”, uma boa surpresa ao olho espectador, um jogo ótico a uma aplicação ilusionista ou à utilização curativa sobre uma percepção pessoal a exigir de profissionais soluções criativas, substanciosas para ambientes de dentro, essenciais para ambientes de fora. A consciência do uso da cor na arquitetura afirma princípios conceituais do ambiente projetado, replicando incentivos à repercussão de sua forma e de seus materiais no jogo volumétrico que oculta ou elucida suas funções. Da cor, a arquitetura não pode fugir. O espaço é pleno de cor. Aplicações surpreendentes denotam uma autonomia experiencial em concepções personalizadas, bem como atitudes pedagógicas, no processo de formação da opinião de usuários de ambientes construídos, que a arquitetura do edifício e a arquitetura da cidade podem oferecer; sobretudo, para projetos que visem acolher atividades para cientes indiretos. Estabelecer diálogos ambientais, culturais e com a paisagem local pode resultar e certamente resulta em sensações indescritíveis ao usufruto diante


de conexões com a riqueza cromática que os reinos naturais ofertam: da diversidade da flora à geografia de lugares e suas paisagens singulares. Da concepção volumétrica à especulação de materiais que falem dessa identidade com a cultura de uma região reunindo à cor com um ativismo intrínseco ao processo criativo desde seu princípio explorando jogos cromáticos que se furtem do lugar comum das cores neutras. Enveredando pela análise do uso potencial de combinações inexploradas, pela recriação, pela citação de cenários referenciais de cores da natureza que abrigue uma arquitetura regional e culturalmente autofalante, remetendo a identidades com o meio, com o clima, com o tempo, com a história... com a vida. Rebuscando nas raízes de pertença simbolismos que se traduzam em cores, alçando voos tangentes à repetição de padrões. Uma diversificação que até se reflete nos ambientes destinados ao uso infantil – internos ou externos – como se às crianças apenas esteja reservada a alegria que a distinção de cores proporciona sobre usuários de um espaço específico. Haverá um certo melindre quanto a vínculos de certas cores a certas coisas na costura de efeitos cromáticos que se reverenciem na psicologia ambiental no que se refere à clareza, ao aconchego, a festividades... ou à austeridade, ou ao suporte ao conforto térmico, ao acolhimento em usos terapêuticos... Pelo uso da cor, sugerem-se funções e ainda a acentuar-lhe a forma, a evocar-lhe o peso ou a leveza, a grandeza ou a discrição, a proximidade ou a distância, a frieza ou o calor em sua inserção em um lugar, ao olhar que olha, ao transeunte que por ela passa... Não há regras definitivas, contudo desde o desenho do partido arquitetônico a cor pode e deve integrar-se, senão conduzir o próprio ato criativo aos primeiros lampejos de inspiração que se sucedem. Poderoso meio de expressão da arquitetura, tem o que dizer sobre composições do jogo volumétrico à companhia da luz do dia, da luz da noite, refletindo no edifício o seu diálogo com a cidade, com a paisagem natural, como um instrumento valioso de comunicação... Desde a tríade expressa na natureza, das quais se derivam centenas, senão milhares de tonalidades possíveis até àquelas... inexistentes, ou além da cor como se referiu o mestre Israel Pedrosa em seu livro Da Cor a Cor Inexistente (1980), do qual a arquitetura pode fartar-se. O arquiteto Carlos Lemos diz em seu livro aparentemente modesto porque introdutório

no universo da formação profissional O Que É Arquitetura (Coleção Primeiros Passos, Brasiliense), que, ao contrário de outras artes, das quais o público se serve por vontade própria, a arquitetura impõe-se publicamente à revelia de quem em torno dela circule. Nessa experiência, sentir-se extasiar ou incomodar diante de impactos visuais não dimensionados plenamente pela arquitetura em sua relação com o todo urbano, é uma consequência da qual não se foge e direito inalienável para quem se vê integrante do coletivo que constitui uma sociedade urbana. Para finalizar essa provocação preliminar, procede retomar noções destacadas por Lemos no livro citado, quando realça o ofício da arquitetura: “Bem mais do que planejar uma construção ou dividir espaços para sua melhor ocupação, a arquitetura fascina, intriga e, muitas vezes, revolta as pessoas envolvidas pelas paredes. Isso porque ela não é apenas uma habilidade prática para solucionar os espaços habitáveis, mas encarna valores. A arquitetura desenha a realidade urbana que acomoda os seres humanos no presente. É o pensamento transformado em pedra, mas também a criação do pensamento. Do seu, inclusive.”

Rossana Honorato

Arquiteta e urbanista Professora de Arquitetura e Urbanismo da UFPB doutoranda do IPPUR-UFRJ.

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VIDA PROFISSIONAL

POSSIBILIDADES NA CARREIRA PARA ARQUITETOS Fotos: Divulgação

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esde 2009 tenho apresentado um curso de 16 horas sobre gestão de carreira e marca pessoal (para arquitetos e engenheiros), que também é uma aula em curso de pós graduação (que já foi ministrada para mais de 60 turmas). Um dos tópicos abordados nesta aula discorre sobre as alternativas de exercício profissional que se apresentam aos arquitetos, assim que eles terminam a faculdade. Sempre percebo uma certa surpresa (principalmente dos mais jovens). Eles não imaginam que tem tanto mundo e tantas oportunidades pela frente. Eu divido a coisa em duas abordagens: o “modelo de negócio” e a especialidade ou área de atuação.

• ter um bom marketing pessoal (gestão da imagem pública); • ter um bom domínio dos conhecimentos técnicos; • ter conhecimentos e habilidades pessoais diferenciadas

(3) ABRIR, SOZINHO, UM ESCRITÓRIO DE ARQUITETURA

O MODELO DE NEGÓCIO Por “modelo de negócio” vamos entender a maneira como o profissional se aplicará no exercício profissional, não importando, aqui, em que especialidade ele estará atuando. O profissional, uma vez formado, poderá

(1) FAZER UM CONCURSO PARA O SERVIÇO PÚBLICO,

nas muitas vagas que existem para arquitetos e urbanistas nas prefeituras, nos governos estaduais e nas instituições do governo federal. Para isso ele deverá • ter uma boa formação universitária; • ter uma boa cultura geral; • estudar muito para obter uma boa nota no concurso; • ter as características necessárias para o exercício profissional no serviço público;

Outras possibilidades são (2) TRABALHAR EM ALGUMA EMPRESA PRIVADA,

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escritórios de arquitetura ou de engenharia, construtoras ou qualquer outra empresa comercial ou industrial que empregue arquitetos ou urbanistas. Para isso ele deverá • ter uma boa formação universitária; • ter uma boa cultura geral; • ter uma boa rede de relacionamentos

Para isso ele deverá • ter uma boa formação universitária; • ter uma boa cultura geral; • ter uma boa rede de relacionamentos • ter um bom marketing pessoal (gestão da imagem pública); • ter um bom domínio dos conhecimentos técnicos; • ter conhecimentos e habilidades pessoais diferenciadas; • ter conhecimentos de administração e de gestão • ter algumas características de empreendedor • ter diferenciais competitivos profissionais

(4) ABRIR UM ESCRITÓRIO DE ARQUITETURA EM SOCIEDADE COM COLEGAS

Para isso ele deverá • ter uma boa formação universitária; • ter uma boa cultura geral; • ter uma boa rede de relacionamentos • ter um bom marketing pessoal (gestão da imagem pública); • ter um bom domínio dos conhecimentos técnicos; • ter conhecimentos e habilidades pessoais diferenciadas; • ter conhecimentos de administração e de gestão • ter algumas características de empreendedor • ter diferenciais competitivos profissionais • ter habilidades para se relacionar com pessoas

(5) ABRIR UMA EMPRESA DE CONSTRUÇÕES Para isso ele deverá • ter uma boa cultura geral; • ter uma boa rede de relacionamentos • ter um bom domínio dos conhecimentos técnicos; • ter conhecimentos de administração e de gestão • ter algumas características de empreendedor • ter diferenciais competitivos para a área de construção civil • ter habilidades para se relacionar com pessoas


(6) ABRIR UMA FÁBRICA (de móveis, lustres ou qualquer outra coisa)

Para isso ele deverá • ter uma boa cultura geral; • ter uma boa rede de relacionamentos • ter um bom domínio dos conhecimentos técnicos; • ter conhecimentos de administração e de gestão • ter algumas características de empreendedor • ter diferenciais competitivos para a área de construção civil • ter habilidades para se relacionar com pessoas

(7) ABRIR UM ESCRITÓRIO DE ASSESSORIA OU CONSULTORIA TÉCNICA

Para isso ele deverá • ter uma boa formação universitária; • ter cursos de especialização, mestrado e doutorado; • ter uma boa cultura geral; • ter uma boa rede de relacionamentos • ter um bom marketing pessoal (gestão da imagem pública); • ter um bom domínio dos conhecimentos técnicos; • ter conhecimentos e habilidades pessoais diferenciadas; • ter conhecimentos de administração e de gestão • ter algumas características de empreendedor • ter diferenciais competitivos profissionais • ter habilidades para se relacionar com pessoas

ESPECIALIDADE OU ÁREA DE ATUAÇÃO Com relação à especialidade ou área de atuação as possibilidade são muitas e variadas. O profissional, uma vez formado, poderá atuar numa das seguintes áreas URBANISMO • Elaboração de planos diretores • Projetos de revitalização • Estudos de impacto urbanístico • Estudos de impacto ambiental • Projetos de loteamentos • Projetos de paisagismo • Avaliação e perícias CONSTRUÇÃO CIVIL • Projetos residenciais • Projetos de edifícios residenciais • Projetos de edifícios comerciais • Projetos de reforma que incluem exteriores • Avaliação e perícias • Administração de obra

ARQUITETURA EFÊMERA • Vitrines • Decoração de shoppings centers • Palcos para shows musicais • Cenários para teatro • Parques de diversão (itinerantes) INTERIORES • Projetos de lojas • Projetos de interiores res. • Projetos de interiores com. • Projetos mobiliários • Projeto de iluminação • Aeronaves, navios, motor home • Administração de obra ILUMINAÇÃO • Iluminação comercial • Iluminação cênica • Iluminação de arquitetura • Iluminação residencial • Iluminação industrial • Iluminação de igrejas • Iluminação de museus • Iluminação de plantas • Iluminação pública • Iluminação esportiva ÁREAS ESPECÍFICAS • Projetos para a área da saúde (hospitais, clínicas, consultórios, ambulatórios, farmácias, postos de saúde...) • Projetos para a área de educação e cultura (escolas, teatros, centros culturais, museus...) • Restauração • Magistério • Pesquisa e desenvolvimento • Empreendedorismo • Segurança no trabalho • Avaliação e perícias Portanto, se você é um jovem arquiteto recémformado, em busca de algum destino para a sua formação, ponha “fé em Deus e pé na tábua...” O que não falta é possibilidades. E é claro que existem ainda outras alternativas que não foram listadas acima. Se você já trabalhou ou trabalha em algo diferente de tudo o que foi descrito ou se conhece alguém que faz alguma coisa que não está na lista deste artigo, por favor, nos escreva contando. No futuro essas informações serão incorporadas ao artigo original.

Ênio Padilha

Engenheiro Eletricista (UFSC) e Mestre em Administração(UNIVALI).

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VÃO LIVRE

Imagem: Divulação

NORMATIZAÇÃO PARA O LED Um assunto importante para o consumidor ganha o mercado de iluminação neste começo de 2015

A

s lâmpadas de LED são a grande sensação do momento. Vislumbra-se, entre os mais otimistas, que elas podem substituir os mais de 550 milhões de lâmpadas existentes no Brasil. Trata-se realmente de uma revolução tecnológica, com o LED “devorando” incandescentes, fluorescentes, halógenas, metálicas, sódio, mercúrio, enfim, todas essas fontes de luz tradicionais e, vê-se agora, ultrapassadas do ponto de vista da sustentabilidade ambiental. Este leque de oportunidade de ganho rápido e fácil tem triplicado o mercado com novas “empresas de iluminação”. Desde fabricantes de chuveiros e ferramentas aos importadores de caneta de camelô e de bijuteria, todos veem nos LEDs uma forma de diversificar seus negócios ou aferir grandes lucros. Excetuandose as organizações tradicionais de iluminação, já reconhecidas por sua seriedade e dedicadas ao ofício da luz nestes últimos 15 anos, no mínimo, esses novos aventureiros importam o que conseguem, com a qualidade que podem pagar e com total menosprezo aos direitos do consumidor ou às leis. O mercado brasileiro sempre foi vulnerável ao comércio de produtos de baixa qualidade. Preço bem baixo, fora da precificação normal, e de marca desconhecida é certeza absoluta de que o critério de qualidade está passando longe. É o descartável, aquilo que se compra já estimando a data do fim da sua vida útil, não a validade impressa no produto – esta também uma fraude. Há a consciência de que o barato sairá caro, mas a tentação da pechincha é ainda mais forte. Esse é o alimentador que sustenta um mercado quase marginalizado, à beira da lei e distante, muito distante, das normas e especificações técnicas.

Higienização do mercado Diante desse cenário, regulamentar o mercado e exigir a certificação das lâmpadas de LED é uma opção desejada por associações da iluminação e por empresários que há décadas trabalham com lâmpadas. Há anos o assunto vem sendo debatido no Inmetro e desde 4 de novembro de 2014, encerrada a consulta pública, o governo vinha trabalhando no texto final do documento sobre a regulamentação do LED. Sabe-se que a nova certificação sobre LED publicada agora em 2015 – outras certificações já existiam e eram restritas às incandescentes, compactas fluorescentes e vapor de sódio – higienizará o mercado, tirará de circulação os LEDs de baixa qualidade e dará ao consumidor a segurança de comprar produtos de qualidade. Lembrando que hoje, no Brasil, não existem fabricantes de lâmpadas de LED e, sim, montadoras que importam separadamente os componentes eletrônicos da Ásia, compondo-os e embalando-os em território nacional.

Gilberto Grosso

Lighting professional com ampla experiência na área de iluminação e CEO da Avant, referência nacional em soluções para iluminação

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LIVRO

MERGULHO NO DESIGN A Política do Artificial é o primeiro livro de Victor Margolin lançado no Brasil Texto: Alex Lacerda | Fotos: Divulgação

V

ictor Margolin é um dos autores norteamericanos mais reconhecidos mundialmente no campo do design. Ele utiliza a história para mostrar o desenvolvimento do design e suas inter-relações com a filosofia, política, educação e o meio ambiente. E é justamente todo esse apanhado que é desenvolvido no livro A Política do Artificial – Ensaios e Estudos sobre Design, publicado pela Civilização Brasileira, o primeiro livro do autor a ser editado no Brasil. O livro coleta 13 ensaios de Magolin, mostrando sua visão a cerca de temas como “do artificial à sustentabilidade”, “das utopias da década de 1960 ao mundo virtual” e “da experiência dos produtos ao ensino do design”. No entanto, é sobre a sustentabilidade que o autor se debruça por mais tempo. Com dois artigos no livro, o autor aborda o tema que considera, em suas próprias palavras, “central à questão do desenvolvimento humano”. Desde 1990, o autor passou a abordar o tema na ótica do design e “Expansão ou sustentabilidade: dois modelos desenvolvimento”, um dos artigos principais deste livro, ressalta essa preocupação. Todos os artigos, além de escritos com uma riqueza de conteúdos e referências, contam com ilustrações que reforçam a opinião do autor. O livro é uma excelente fonte de pesquisa para o design. Ao mesmo tempo, dá seguimento à inquietude de Margolin, abordado em obras anteriores, como Design Discourse e Discovering Design, de tentar entender o mudo por meio do design. “Aqui emprego muito amplamente o termo design em uma acepção polêmica para reforçar a ideia de que estamos pensando como designers tanto ao considerar uma alteração genética para produzir um determinado resultado biológico como ao imaginar a forma de um novo brinquedo para crianças”, enfatiza o autor sobre o livro.

A Politica do Artificial – Ensaios e Estudos sobre Design De Victor Margolin Tradução: Cid Knipel Moreira 336 páginas Formato: 17 x 22 cm Preço: R$ 80

Victor Margolin Autor

“Particulamente na academia, mas também nas profissões, as questões e os problemas tendem a ser equacionados em termos de comunidades de discurso isolados, grupos que desenvolvem seus próprios termos, qualidade, referência, quadros de referência, estratégicas retóricas e questões e falam principalmente entre si”

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ENTREVISTA

AL BORDE

Pascual Gangotena, Marialuisa Borja, Esteban Benavides e David Barragan

ARQUITETURA DO DISPONÍVEL O quarteto que comanda o escritório equatoriano Al Borde fala sobre seu jeito diferente de fazer arquitetura Texto: Lidiane Gonçalves | Fotos: Divulgação

Maqueta 007, escuela Nova Esperanza

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M

esmo sem pretensões de formar um escritório de arquitetura, a parceria para um projeto em 2007 fez surgir algum tempo depois o Al Borde, que é um estúdio colaborativo e experimental. A ideia não é fazer uma arquitetura diferente ou nova, mas deixar fluir projetos que atendam a necessidade de uso e se unam ao que já existe. São levados em conta os recursos financeiros existentes, material a ser usado, os recursos sociais e físicos disponíveis, sem preconceitos, sempre com o que se tem à mão. Os arquitetos equatorianos que formam o Al Borde trabalham com uma perspectiva holística. Nesta entrevista para a AE, os sócios do escritório, os arquitetos Pascual Gangotena, Marialuisa Borja, Esteban Benavides e David Barragan falam um pouco mais do que é e como funciona o Al Borde. Todos são formados pela Facultad de Arquitectura Diseño y Artes de la Pontificia Universidad Católica del Ecuador. Barragan esteve em João Pessoa este ano apresentando uma palestra no Instituto dos Arquitetos do Brasil, Secção Paraíba.


Escuela Nova Esperanza

AE – Como o estúdio foi formado? PASCUAL GANGOTENA – Tudo começou sem pretensão alguma, sem o afã de ter um escritório. No começo convidei David para fazer um projeto em 2007 chamando “Casa entre Muros”. Achamos que tudo terminaria ali, mas não. Vimos que poderíamos trabalhar juntos e isso fez com que nos interessássemos por outros projetos. Quando se passou um tempo, já não havia mais sentido trabalhar em conjunto e criamos o escritório que se chamaria Al Borde. MARIALUISA BORJA – Não havia planejamento, mas as coisas foram acontecendo. O escritório foi se consolidando, muitas pessoas passaram por aqui, mas poucos permaneceram. Esteban e eu desde 2010 nos tornamos parte da equipe e depois nos tornamos sócios. O Al Borde foi se transformando de uma dupla para um quarteto. Seria impossível pensar o Al Borde sem os quatro. AE- Qual a ideia que levou à formação do estúdio? ESTEBAN BENAVIDES – Nenhuma. A formação do escritório foi uma consequência. Ninguém pensava em ter um escritório. Na época apenas começávamos e não queríamos ataduras. A isso se soma que somos parte da geração que se formou durante a crise, então nos formamos sem esperança. DAVID BARRAGAN – Somos a geração que se formou quando o país tinha os índices mais altos de migrações, pois a crise econômica era muito forte, nesta conjuntura, ninguém sonha em formar um escritório. O acaso nos uniu ao longo do caminho e vamos construindo nossos ideais e filosofia de trabalho. AE – Por que o pensamento de vocês é usar a arquitetura de forma prática para resolver as necessidades reais das pessoas? PASCUAL GANGOTENA – Porque não temos outra

Escuela Nova Esperanza

opção. Trabalhamos projetos que têm poucos recursos, onde a praticidade é inevitável, não há margem para caprichos ou banalidades. AE – Por que partir de bases disponíveis? MARIALUISA BORJA – Porque não temos mais opções, porque quando você está em lugares onde a escassez está no dia a dia, não tem mais opções a não ser trabalhar com o que se tem à mão. ESTEBAN BENAVIDES – Não tem mais opções a não ser encontrar o que está disponível em volta e com isso dar respostas à equação de trabalho. É muito simples: ou você trabalha com o que tem, ou não há projeto. AE – O trabalho de vocês tem ligação com a sustentabilidade? DAVID BARRAGAN – Sim, desde o sustentável ligado ao sentido comum. É inevitável que seja sustentável algo no que se está trabalhando com os recursos do lugar. É inegável que é sustentável algo no que se está trabalhando com os saberes locais.

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Entremuros

PASCUAL GANGOTENA – Não entendemos o sustentável como um exercício de usar artefatos tecnológicos caros, que poucos podem ter. Entendemos a sustentabilidade como um sentido comum nas estratégias de desenho e construção. MARIALUISA BORJA – Sabemos que a construção gera alto impacto no planeta. Não pretendemos dizer que não contaminamos, simplesmente geramos o menor impacto possível. AE – Como é trabalhar recombinando formas préexistentes? Por que trabalhar assim? ESTEBAN BENAVIDES – Quando se olha o projeto, se dá conta de que é recombinar o pré-existente. Isto não é só discurso, mas a nossa prática. É mais evidente quando trabalhamos com tecnologias vernáculas, onde o saber local é trabalhado com lógica de desenho contemporâneo. DAVID BARRAGAN – Há uma mistura de conhecimento, saberes e técnicas pré-existentes que se unem a visões e ideais contemporâneos e trabalhamos assim por puro sentido comum. Se existe algo que funciona e que está bem, para que negá-lo? Nós vamos usar se houver necessidade. PASCUAL GANGOTENA – Para que querer inventar tudo? No caso das tecnologias vernáculas, inclusive, é por respeito que trabalhamos assim. Nada nos parece pior que chegar em um lugar e tentar impor um conhecimento alheio. Nos desagrada esta postura. Entremuros

AE – O que primeiro é visto quando vocês pegam um projeto? Como começar a desenvolvê-lo? MARIALUISA BORJA – Não fazemos uma estratégia até ter claro o que buscamos. Para isso, evitamos todos os juízos antecipados e preconceitos sobre o projeto. ESTEBAN BENAVIDES – Para isso fazemos uma investigação sobre as viabilidades objetivas e subjetivas do projeto, o mais profundo que podemos. Só com essas informações claras podemos começar a fazer as perguntas que o projeto tem que resolver. AE – O que significa dizer que o grupo trabalha em uma perspectiva holística? DAVID BARRAGAN – Que nos interessa entender o todo: os projetos e nossa própria vida a partir de uma perspectiva global. AE – Como é o trabalho desenvolvido de forma interdisciplinar com músicos, artistas, atores, designer, editores...? PASCUAL GANGOTENA – Não foi algo que buscamos, mas algo que aconteceu. Nossa metodologia de trabalho, nosso interesse pelas variáveis óbvias do projeto, a busca por entender tudo relacionado ao projeto. Isto fez com que diferentes tipos de pessoas se interessassem em trabalhar conosco e muitas vezes realizarem projetos colaborativos. MARIALUISA BORJA – É complexo explicar. Talvez aconteça porque a última coisa que queremos é arquitetura e vemos a arquitetura como o mais importante, talvez, que faz com que os caminhos se entrelacem com outras áreas de forma fácil. E de uma maneira ou de outra procuramos colaborar. AE – O trabalho de vocês é uma forma diferente de arquitetura? ESTEBAN BENAVIDES – Se é ou não uma forma diferente de arquitetura não somos nós que decidimos. Quem o vê dessa maneira é quem pode responder a esta pergunta. DAVID BARRAGAN – Para nós, o que fazemos é arquitetura. Pelo menos acreditamos que fazemos arquitetura (risos). Não buscamos fazer as coisas de forma diferente. Só buscamos nosso próprio caminho. + imagens no site: www.artestudiorevista.com.br

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A HISTÓRIA DE

MOMENTOS PARA

SEREM MOSTRADOS A fotografia como decoração remete às pinturas nas cavernas, mas ganhou força renovada a partir dos anos 1990 Texto: Alex Lacerda | Fotos: Divulgação

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utilização de ilustrações para decorar um ambiente remonta à época das cavernas, em que o homem utilizava as pinturas rupestres para se comunicar, contar histórias e marcar sua presença. No entanto, foi apenas com o surgimento da fotografia que foi possível dar um toque pessoal à decoração e, muitas vezes, fazê-la assumir o papel de uma obra de arte. O surgimento da fotografia revolucionou o mundo. A simples possibilidade de reproduzir a realidade fez com que a diversidade do uso desse novo recurso pudesse se expandir para praticamente todas as áreas do conhecimento e entretenimento humano. Graças à primeira fotografia, feita em 1826, foi possível criar o cinema, ampliar o universo do jornalismo e aprofundar vários estudos na ciência.

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Praticamente desde o seu surgimento, a fotografia tem sido utilizada como forma de decoração. Os porta-retratos foram a primeira expressão da fotografia como recurso de decoração. “A fotografia de decoração iniciou com o retrato de paisagem e de família, que se colocava na parede ou expondo em um lugar de destaque da casa, mas essa decoração é algo de caráter simbólico. Isso no final do século XIX e início do século XX ”, explica Paulo Rossi, fotógrafo profissional e mestre em sociologia pela USP.

Foi um hábito que se seguiu ao que era praticado, antes, com as pinturas. Na Roma antiga, havia o costume de pintar retratos de pessoas queridas em alguns cômodos. E, nos séculos seguintes, muitos artistas importantes foram financiados por retratos que faziam sob encomenda para a nobreza. A “Mona Lisa”, provavelmente, foi um desses retratos encomendados. Com a invenção da fotografia, a pintura, um processo bem mais demorado, foi sendo trocada pelos retratos fotográficos como ítens de decoração

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Projeto: Josemar da Costa Júnior e Andre Azevedo

representando a própria família ou outros entes queridos. Haviam profissionais especializados em retratar familias e aqueles que viajavam pelas cidades oferecendo o serviço. E as molduras na parede não demoraram a compartilhar espaço com os porta-retratos, muito mais práticos, permitindo alterar a decoração do ambiente sem intervenções em paredes. Mas a fotografia como decoração ganhou força a partir da década de 1990. Da mesma forma que o advento da revolução industrial popularizou vários elementos para decoração, o advento da fotografia digital permitiu que um número maior de possibilidades na decoração pudesse ser criado a partir do uso das fotografias, seja através de montagens ou de ampliações. “Acredito que a fotografia ganhou espaço na decoração no meio da década de 1990 e começou a tomar corpo nos anos 2000, tanto no mundo quanto aqui no Brasil”, assinalou Paulo. Hoje as fotos decorativas vão muito além das fixadas nos porta retratos. As fotorafias ganharam lugar na maioria dos ambientes. Composições de fotos emolduradas, estampadas em caixas, relógios, quadro de avisos, painéis, murais e uma infinidade de opções, sejam elas em impressões, adesivos ou em laminados, apontam para a nova tendência do uso da fotografia: assim como uma obra de arte, as fotos usadas na decoração precisam mexer com os nossos sentidos, falando um pouco sobre a personalidade das pessoas que ocupam os ambientes.

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GRANDES ARQUITETOS

Museu de Arte Contemporânea, NY

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Louvre Lens, França


UMA FALSA SIMPLICIDADE Kazuyo Sejima, junto com seu parceiro Ryue Nishizawa, aposta no espaço contínuo e democrático em seus projetos Texto: Renato Félix | Fotos: Divulgação

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m 2010, o Prêmio Pritzker foi dividido entre dois arquitetos japoneses: Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa. Eles haviam fundado em 1995 o escritório Sanaa, que é responsável por inovadores edifícios tanto no país do sol nascente quanto em outros países do mundo.

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21st Century Museum of Contemporary Art - Kanazawa

Kazuyo estudou na Universidade de Mulheres do Japão nos anos 1980 e ingressou no escritório de Toyo Ito (Pritzker em 2013), onde trabalhou até 1987 e fundar seu próprio escritório. Nishizawa foi seu empregado. A parceria é intensa, e praticamente impossível distinguir qual a contribuição de cada um em seus projetos: suas obras representam sempre a união de duas mentes. E essa colaboração surge em uma arquitetura enganosamente simples, que procura definir um espaço contínuo e sem divisões. Entre as principais obras da dupla estão o O-Museum, na cidade japonesa de Nagano, e o 21st Century Museum of Contemporary Art, erguido em Kanazawa, também no Japão. Também incluem-se aí o Glass Pavilion, no Toledo Museum, no estado americano de Ohio, O teatro e centro cultural De Kunstline em Almere, na Holanda, o novo Museu de Arte Contemporânea de Nova York e o Rolex Learning Center, na cidade de Lausanne, Suíça. Sempre com ênfase na simplicidade e na harmonia com o contexto à volta dessas edificações. As obras de Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa são citadas na justificativa do Priztker como constituindo “um fundo sensual para as pessoas, objetos, atividades e paisagens. Eles (os arquitetos) exploram como poucos as propriedades fenomenais do espaço contínuo, leveza, transparência e materialidade para criar uma síntese sutil”.

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Dior - Omotesando


2009 - Serpentine Gallery SANAA

É uma simplicidade enganosa porque ela pode se confundir com o simples eliminar de elementos, mas na verdade exige muita pesquisa e trabalho duro. É um processo de refinamento constante, como o Prtizker também definiu. Seus materiais atendem a essa perspectiva. Ao lado de Nishizawa, Kazuyo Sejima costuma usar materiais cotidianos, de todo dia. O resultado muitas vezes são espaços não-hierárquicos, democráticos, despretensiosos. É o caso do centro cultural holandês: salas de aula e de oficinas simples, com ótimas visões do mar O reconhecimento do trabalho de Kazuyo Sejima não se deu apenas no Pritzker. Também em 2010 ela foi escolhida como diretora da Bienal de Arquitetura de Veneza. Foi mais um tributo ao talento e visão persistente e forte da arquiteta japonesa.

Arquiteta: Kazujo Sejima + imagens no site: www.artestudiorevista.com.br

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INTERIORES INTERIORES

INTEGRAÇÃO MODERNA

Cor e materiais combinam em uma tendência bastante atual no projeto de uma residência Texto: Neide Donato | Fotos: Marcelo Stammer

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projeto da residência com cerca de 200 metros quadrados em Curitiba (PR) tem como ponto forte a integração entre os ambientes. A tendência que vem se consolidando entre os arquitetos foi usada com maestria pela arquiteta Renata Mueller, que se utilizou de cores e materiais que conversam entre si. Logo ao entrar na residência do casal que tem uma filha pequena, o estofado na cor berinjela dá o tom da decoração que prima pelo bom gosto, sem deixar de ser descontraída. O equilíbrio entre as cores e a funcionalidade estão presentes em cada centímetro do projeto pedido pelos clientes que desejavam uma casa funcional e com personalidade. No ambiente claro e trabalhado em LED, a cor berinjela entrou para esquentar o ambiente com conceito contemporâneo. Na sala de jantar, para não pesar no ambiente, a mesa de jantar foi projetada em tampo de vidro e o pé trabalhado

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com design exclusivo e também em berinjela promovendo a integração entre as duas salas. A opção pelas cadeiras translúcidas deu a sensação de flutuação e um ar moderno ao conjunto. O espaço da cozinha foi todo trabalhado em porcelanato ondulado com relevo e detalhes em berinjela, que, junto com os rasgos de luz no teto, integram os ambientes da cozinha, sala de estar e jantar. No quarto infantil, o branco e o rosa compuseram o quarto da menina, onde foi mantido o espaço para brincadeiras embaixo da cama, protegida

pelo painel vazado, possibilitando a entrada de luz e circulação de ar, mas mantendo a segurança. A penteadeira serve também como escrivaninha e seus espelhos em círculos trazem o lúdico ao ambiente. O corrimão da escada foi todo fechado com marcenaria e os degraus iluminados com LED principalmente para a segurança da criança que mora na residência. A parte de fora da escada levou acabamento em espelho e na parede intermediária foram trabalhados o papel de parede e a iluminação para quebrar o branco dos outros materiais.

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Já o lavabo social foi trabalhado no mesmo revestimento da sala e a pedra é a igual à da cozinha. O friso de espelho na parede e a cortina de linho levam aconchego ao lavado. No quarto, a arquiteta explorou o branco e a mescla do creme e verde musgo. O trabalho em marcenaria, o papel de parede, que destaca a cabeceira de cama, a colcha e a cortina deram um ar mais clean e aconchegante ao ambiente. A iluminação

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ficou por conta do pendente branco sob a cama e o LED no tablado que valoriza as linhas do mobiliário. O banheiro suíte ganhou a cor marrom nas paredes e no teto, fugindo do ambiente claro e frio. O tom conversa com a cortina e a colcha do quarto mantendo o conceito de integração também nesse espaço. A moldura do espelho em madeira, as frentes das gavetas espelhadas, o mármore e o pendente de cristal dão o acabamento sofisticado ao espaço.


Arquiteta e designer de interiores: Renata Mueller + imagens no site: www.artestudiorevista.com.br

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NOSSO LIMITE É A SUA IMAGINAÇÃO.

bontempo.com.br 40

/moveisbontempo


ESPAÇOS únicos, POSSIBILIDADES infinitas.

Bontempo João Pessoa • Rua Professora Severina Souza Souto, 207 • (83) 3244.7075 • João Pessoa/PB 41


INTERIORES

O PRIMEIRO LAR

Projeto de interiores para um apartamento organizou os espaços para receber os clientes recém-casados Texto: Lidiane Gonçalves | Fotos: Divulgação

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ensar no projeto para o lar é sempre emocionante e as ideias para que tudo seja perfeito ficam fervilhando na cabeça. Pensar os detalhes do primeiro lar, para onde o casal vai se mudar depois do casamento é uma experiência extraordinária. E para tornar esse momento especial em um projeto perfeito, um casal recém-casado contou com a ajuda da arquiteta Carina Fontes e da Guido Iluminação e Design, que pensaram em tudo para dar conforto e modernidade, sem esquecer as preferências dos “donos da casa”.

O apartamento é o perfeito modelo de um ambiente moderno, confortável, prático e belo. Com uma iluminação que fez o diferencial em todos os ambientes. Carina disse que a iluminação influenciou de várias formas. “A iluminação proporcionou sensações de aconchego aos espaços, destacou obras de arte e objetos de decoração. Os painéis também foram influenciados, sem contar no mobiliário, que ganhou mais leveza através dos recursos de LED, descolando-os da parede. No teto, o LED também foi o destaque”, disse.

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Carina disse ainda que a iluminação de LED tem duas importantes funções: iluminar e decorar. “No banheiro, o LED linear atrás dos espelhos é um bom exemplo disso. Ele dá um belíssimo efeito e também é funcional, eliminando as sombras”, explicou. Todo o apartamento foi pensado com elementos naturais, como o mármore travertino romano bruto, seguindo o estilo do casal, que já tinha algumas peças do mobiliário. “Com algumas peças já estabelecidas, fizemos o projeto e incluindo os complementos. Eles já davam indícios que tinham uma queda pelos moveis mais clássicos, a sugestão foi usar materiais nobres e atemporais como o mármore e a laca, mas que dessem uma base neutra e uma mistura interessante”, disse. A sala de estar é composta por uma parede espelhada, dando sensação de amplitude ao ambiente, e por elementos de madeira. Nichos com iluminação LED destacam as esculturas, localizada acima do sofá e dão uma sofisticação ao espaço, que está interligado com a sala de jantar. A iluminação indireta do ambiente fica por conta das sancas lineares. A mesa de jantar é de madeira na cor mogno e vidro na parte superior, as cadeiras são acolchoadas e criam um design elegante. O painel e o mobiliário da sala de TV foram compostos com madeira laca com brilho, proporcionando um contraste rústico da pedra com a superfície espelhada do lacatto. A iluminação em LED linear deixa o painel mais leve e com a sensação de estar descolado da parede.

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O sofá na cor bege e uma poltrona de couro preta completam o espaço com charme e conforto. A iluminação é pontual e de destaque o que caracteriza o ambiente muito aconchegante e com conforto visual. “Laca é um material com que adoro trabalhar porque permite compor muito bem com outros: ele é liso, não tem textura. A madeira também é um material clássico. A laca traz sofisticação e nobreza à demolição, que por sua vez traz o toque rústico. A combinação fica elegante”, definiu Carina. Para o trabalho e diversão do casal, o apartamento possui uma sala multifuncional, com home theater e home office. Uma escrivaninha em formato “L”, trabalhada em madeira de demolição, proporciona comodidade para trabalhar e, para assistir filmes, um amplo sofá-cama e um rack também em madeira de demolição. “Para este ambiente, foram criados vários cenários de iluminação para atender a diversidade da sala. As luminárias permitem dois tipos de lâmpadas, difusa e pontual, funcionais para áreas de trabalho e indireta para iluminação geral”, disse. O espaço gourmet com estilo rústico tem mobiliário feito em madeira lascada e detalhes em vidro espelhado preto, dando um toque sofisticado ao ambiente de lazer. A arquiteta explica que interligar ambientes é fundamental para o melhor uso de todos os espaços. “Acredito nos espaços integrados porque melhoram a convivência da família. Antigamente a varanda ficava em segundo plano, hoje ela faz parte da sala, é um mesmo ambiente”, opinou.


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O banheiro do casal é clean e moderno. A pia, em mármore branco, com as torneiras posicionadas na lateral, forma um design ousado e funcional. Assim como nos outros ambientes da casa, a madeira de demolição completa os detalhes de decoração. A cozinha precisava ser prática, alegre e convidativa. Como a cor traz vida, ela foi usada em detalhes, mas a base neutra foi necessária para que servisse de fundo para a cor, sem que ficasse cansativo. Por isso, a cozinha apresenta um aspecto minimalista. “Os móveis são revestidos de fórmica branca e preta e o detalhe de cor do espaço fica por conta de uma faixa alaranjada na parede e dos bancos amarelos. Alguns móveis têm um toque de vidro espelhado, que aliados aos dois tipos de iluminação proporcionados pelas luminárias, criam um ambiente funcional e de destaque”, afirmou. O projeto, segundo Carina, teve como base o conforto, pois ela acredita que o conforto tem que ser a base de tudo. “Trabalhamos o projeto em cima do sonho, das necessidades e da maneira como as pessoas se relacionam e usam a casa”, concluiu.

Arquiteta : Carina Fontes Móveis: Dcasa Móveis • Tapetes: Kyowa Armários: Bontempo • Mármores: Orlando Espelhos e vidro: Vidraçaria Senador Gesso: Lopes Gesso + imagens no site: www.artestudiorevista.com.br 46


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INTERIORES

ESBANJANDO FEMINILIDADE Loja de calçados em João Pessoa usa a renda como visual de identidade Texto: Débora Cristina | Fotos: Fátima Dantas

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odo mundo conhece a paixão das brasileiras por sapatos, por isso a concorrência entre as lojas que vendem esse tipo de produto é cada vez maior. Então, para conquistar as paraibanas, a marca Vilalara tem investido cada vez mais em lojas bem funcionais, com projetos arquitetônico e de decoração bem arrojados e esbanjando feminilidade. Em um mercado tão

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competitivo como esse, a Vilalara surge como um diferencial para satisfazer a exigência das clientes que não abrem mão da qualidade, novidade e também de muito conforto. Foi pensando nisso tudo que o arquiteto Fernando Júnior fez o projeto de mais uma loja Vilalara em João Pessoa, aberta recentemente num dos mais recentes points da cidade: o Mangabeira Shopping. E


para conquistar cada vez mais clientes, o ponto central é a relação da mulher com o calçado, que precisa ser fiel, manter o brilho e a luminosidade. E, como toda relação que dá certo, precisa ser única! Nesse conceito, a arquitetura da loja precisa ser marcante, elegante e ser lembrada como um ícone. Foi isso que fez Fernando Júnior pensar e planejar cada detalhe desse projeto tão diferenciado. Na fachada, ele colocou a granilha branca, a charmosa renda de madeira com iluminação de cor alaranjada e vitrine em madeira, o que emoldura e valoriza os calçados com iluminação suficiente e diferenciada para realçar os

detalhes, materiais e produtos. “Isso tudo reflete num visual limpo e contemporâneo, de fácil identificação dos produtos”, afirmou. Ao entrar na loja, a mesa principal em laca branca e aço escovado apresenta os principais produtos em diversas alturas. “O revestimento das paredes em textura cor ‘doce de leite’ faz fundo para as prateleiras iluminadas e a marcante renda em madeira na cor mel. Os confortáveis assentos estão em vários pontos da loja, permitindo que as clientes tenham liberdade para se locomover e escolher produtos”, explicou o arquiteto.

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E para atrair ainda mais a atenção das clientes, o ponto focal da loja é o móvel espelhado, com grandes nichos iluminados criando uma área valorizada para sapatos e bolsas ficarem ainda mais atraentes. Todos esses detalhes completam o aconchegante ambiente da loja Vilalara, onde a renda é o visual de identidade que une as lojas do segmento.

Projeto de interiores: Fernando Júnior

Móveis: Ximenes Dantas Ambientes

+ imagens no site: www.artestudiorevista.com.br

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INTIMIDADE COM A NATUREZA Projeto de uma casa foi influenciado pelo verde ao redor e pela busca da sustentabilidade Texto: Renato Félix | Fotos: Divulgação

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construção de uma casa em João Pessoa para uma família com dois filhos pré-adolescentes combinou a proximidade da natureza e amplo espaço. O projeto da arquiteta Sandra Moura tem 650m², pé-direito de 7,5m e dois pavimentos – e, além do projeto arquitetônico, ela também trabalhou a ambientação de interiores. “O espaço era de três terrenos e o desnível chegava a 4,5m de diferença. E o espaço externo tinha que ser dotado de ares de convivência”, comenta Sandra. A obra durou dois anos e foi concluída em junho do ano passado. “As linhas gerais são contemporâneas: o pé direito da área de entrada duplo, os peitoris em vidro, vigas em balanço, escada externa escultural e em balanço, piscina com borda infinita e uma visão esplendorosa para a mata”, explica a arquiteta.

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Mas ela destaca um elemento do projeto. “A borda infinita com extensão 12 metros, com o visual voltado para a exuberante natureza existente à frente”, conta. “Com isto não só os residentes se utilizam deste privilégio, como também todos que desfrutam do espaço aquático”. O projeto buscou integração total entre interior e exterior e primou pelo amplo espaço em cada ambiente. “Sim, desde a implantação da casa em ‘L’ com a utilização das esquadrias envidraçadas da área social para a piscina e espaço gourmet”, conta Sandra. No exterior, o verde chama a atenção. “O verde foi tratado como elemento principal do projeto pois escolhemos material de transparência como vedação onde as áreas de convivência da casa interagem com o paisagismo externo”, explica.

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Luz e sustentabilidade O verde também influiu nas cores do revestimento. “Cores neutras foram utilizadas como base”, conta ela. “Dando destaque ao verde do paisagismo e ao revestimento azul da piscina”. Os móveis escolhidos são de uma linha mais clássica da empresa Sierra e Saccaro. “Procuramos utilizar cores também neutras para dar harmonia com o conceito da residência”, diz Sandra. O projeto também incluiu sistema de câmeras, lâmpadas de LED, iluminação indireta das áreas externas e som ambiente.


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“Em relação ao projeto luminotécnico, utilizamos muita sanca com T5 e fita de LED como luz geral e na área social pontuamos a mesa de jantar e o centro com lustres clássicos”, explica. “Nos quartos continuamos com as sancas e pontuamos algum elemento de destaque. Na área externa iluminamos a piscina de forma indireta e o jardim com luz difusa”. As lâmpadas de LED foram usadas em vários espaços para economizar energia elétrica. Finalmente, até a localização da casa foi levada em conta. “A forma de implantação da casa no lote facilita a entrada e saída dos ventos dominantes”, explica Sandra. Os ventos são elementos através dos quais o projeto buscou a sustentabilidade, mas não todos. “Nos banheiros, na cozinha e na área de serviço foram utilizados o aquecimento solar e nos banheiros os vasos com duplo acionamento”, finaliza a arquiteta.

O equilíbrio dos elementos naturais e o projeto que aproveita o melhor do verde, dos ventos e da luz solar são as peças de uma grande integração com a natureza.

Arquiteto: Sandra Moura Projeto: Arquitetura de residência Revestimento: Espaço Revest, Portobello • Tinta: O Mestre – Coral Linha Decor Mobiliário: Saccaro, Sierra • Climatização: LG, STR • Cortinas e persianas: Ambidecor Tapetes e carpetes: Adroaldo • Esquadrias: Leo Madeiras, Alcoa e Pado • Vidros e espelhos: Vitrium Iluminação: Stiluz • Acessórios e objetos decorativos: Bazzart • Obras de arte: Flávio Tavares + imagens do projeto no site: www.artestudiorevista.com.br 61


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ILUMINAÇÃO

MÚLTIPLAS ATIVIDADES

Reforma em academia de ginástica se utiliza da luz como elemento principal de cor Texto: Débora Cristina | Fotos: Daniel Muniz

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ma das mais conceituadas academias da Paraíba passou por uma grande reforma, que incluiu, além de novidades no desenvolvimento do seu espaço físico, um projeto arrojado de iluminação. A Corpore Academia, que fica no bairro Jardim Oceania, agora tem um dos mais modernos layouts para atender melhor os seus clientes. O projeto de arquitetura e interiores é do escritório Topo Arquitetura e Urbanismo, dos profissionais Antônio Neves e Karina Mendes. Já o projeto de iluminação é do light designer Daniel Muniz, proprietário da Lightdesign + Exporlux. O maior desafio nessa questão de iluminação foi justamente agradar o maior número de pessoas de perfis tão diferentes. “A criação deste partido da iluminação resultou em um projeto dinâmico e eficiente. Academia de ginástica é um espaço de múltiplas atividades e frequentado por pessoas de diversas características físicas, psíquicas e objetivos distintos. Portanto, o sistema de iluminação precisa atender a todos de forma satisfatória já que a percepção da luz é uma questão muito individualizada”, revelou Daniel. Ele destaca, ainda, que nos dias atuais a eficiência energética é importante em todas as tipologias de projeto. E um dos pontos que mais chamaram a atenção foi justamente o que fica próximo às esteiras. Esse espaço foi detalhado com um trabalho de gesso que se inicia na parede e vira no teto, criando uma sensação para os usuários de um túnel de luz podendo mudar de cor, com iluminação RGB, através de fitas de LED e uma central de comando a distância. Além desta fita de LED RGB, também há um ponto de luz com lâmpada LED para dar maior intensidade, já que estes equipamentos muitas vezes são utilizados por pessoas para ler revistas e jornais. Também nas esteiras e na sala de RPM (atividade nas bicicletas) foi utilizado sistema RGB de iluminação já que são espaços que utilizam muito som para as atividades e a sincronização da iluminação dinâmica com a música provoca estímulos aos alunos destas modalidades. Para iluminação geral da academia, foram utilizadas lâmpadas fluorescente T5 com tonalidade de cor 5000 K para obter 400 lux por metro quadrado e luminárias com aletas parabólicas para minimizar o ofuscamento.

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“Para aumentar o pé direito, todo gesso foi retirado e toda tubulação ficou visível, o que apenas favoreceu a nossa ideia projetual que era seguir a linha high tech dentre suas características, está a exposição dos sistemas técnicos”, explicou o arquiteto Antonio Neves. Na execução desse projeto, foi preciso criar através de eletrocalhas perfuradas num grande perfil para abrigar as fitas de LEDs e equipamentos, onde estas eletrocalhas funcionaram como a própria luminária, utilizando-se dela para dissipação do calor das fitas de LEDs e criação de efeitos reluzentes através de seus furos que brilham no teto escuro pintado de grafite. Outro detalhe importante é que o teto e o piso da academia foram revestidos com materiais escuros, ou seja, com absorção de luz de quase 80% onde foi preciso calcular em software de iluminação uma quantidade maior de luz considerando que haveria uma absorção considerável por estes materiais. “Hoje em dia, é preciso ter muito cuidado ao pensar na iluminação de uma empresa. Entre esses cuidados estão: consumo excessivo de energia elétrica, calor térmico para os usuários, durabilidade dos equipamentos e o excesso ou falta de luz adequada para cada tipo de espaço”, esclareceu Daniel Muniz.

Aceitação dos clientes A academia Corpore funciona no mesmo espaço há mais de dez anos. De início, seria feita apenas uma ampliação, mas foi proposta aos arquitetos Antonio Neves e Karina Mendes uma reforma geral. E para ter sucesso no resultado final, o primeiro passo foi fazer uma pesquisa com os alunos para descobrir as deficiências do espaço físico da academia, bem como as beneficências. Em seguida foi analisada a legislação para a academia de ginástica no zoneamento em que essa se encontra, e assim foi norteado todo o projeto.

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“O destaque fica para o interior predominantemente em tons de cinza, tanto no teto como no piso, e apenas as paredes brancas, chamando toda atenção para a iluminação, a luz geral ficou na cor branca e foram utilizadas fitas de LED com o sistema RGB. Nesse sistema a luz fica trocando de cor, e essas cores são formadas pela combinação do vermelho, do verde e do azul (red, green e blue, por isso RGB), e assim, a presença das cores fortes para o ambiente ficou por conta da luz” , explicou Antonio. Já a arquiteta Karina reforça a importância da atenção especial com o projeto de iluminação de um espaço tão importante quanto o de uma academia. “O projeto de iluminação se torna o ponto chave, pois o ambiente de academia tem que ser bastante claro, tanto por questão de segurança como também para estimular a mente para realizar as atividades. É fato que a iluminação valoriza o projeto arquitetônico como um todo, traz conforto visual para seus usuários, induz as atividades, evita acidentes, principalmente quando se trata de lugares que atendem a todos os tipos de faixas etárias e recebe uma diversidade de pessoas, como é o caso da academia de ginástica. Por isso, a iluminação

não é um elemento à parte do projeto, ela está inserida no conceito arquitetônico”, afirmou. E o resultado não poderia ter sido melhor. “O intuito, de início, era ampliar para atender a quantidade de alunos, pois atualmente, a Corpore é a academia que tem mais usuários na cidade, e acabou sendo mais que uma ampliação. O edifício todo passou por interferências, gerou inclusive mais empregos, além de mais alunos matriculados, com a inserção de outros comércios, como lojas de roupas, consultório de nutrição, lanchonete e várias outras atividades foram acrescentadas, gerando bons lucros e desenvolvimento para todos”, afirmou a arquiteta. Para os empresários Zeca Florentino e Aldo Frassinetti, donos da Corpore, o projeto realmente superou as expectativas. “Para tentar fugir ao modelo de iluminação tradicional usado nas academias, resolvemos apostar nesse projeto ousado e criar novos ambientes com o que há de mais moderno na iluminação de interiores para a nossa academia. Os alunos aceitaram de pronto a mudança e elogiaram bastante a iluminação high-tech por isso estamos muito felizes com os resultados”, concluíram os empresários.

Arquitetos: Karina Mendes e Antonio Neves

Lightdesigner: Daniel Muniz

Projeto: Arquitetura e interiores de academia

Projeto: Iluminação Iluminação: Lightdesign + Exporlux

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REPORTAGEM

NO APAGAR DAS LUZES Menos eficientes, as lâmpadas incandescentes já têm data para desaparecer de vez do mercado Texto: Lidiane Gonçalves | Fotos: Divulgação

Há algum tempo as lâmpadas fluorescentes não eram muito comuns, conhecíamos apenas aquelas compridas, que precisavam de uma parafernalha para serem instaladas. Com o tempo foram surgindo as de bocal e hoje as temos nos mais diversos tamanhos, estilos e cores – inclusive em um tom que “imita” a

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incandescente. O fato é que as fluorescentes são muito mais eficientes que as incandescentes e por isso até 2016 as incandescentes têm que sair do mercado. Uma portaria de 2010 fixa índices mínimos de eficiência luminosa para fabricação, importação e comercialização das lâmpadas no Brasil. As que não


atingirem, até 2016, a eficiência mínima definida serão banidas do mercado de acordo com um cronograma estabelecido. Essa decisão do Governo Federal aconteceu devido a necessidade de redução do consumo de energia no país. As incandescentes gastam quatro vezes mais energia e duram oito vezes menos que as fluorescentes, por isso o custo benefício compensa e a diferença pode ser vista na conta de energia. A consultora em iluminação Patrícia Coelho, disse que as lâmpadas incandescentes ainda são as mais usadas pelos brasileiros, mas há um bom tempo o mercado de iluminação já não trabalha pensando nessa tecnologia como solução para os projetos. “Os clientes que buscam as lojas especializadas para projetos de iluminação querem as lâmpadas fluorescentes ou de LED, que aliam tecnologia à eficiência energética e ajudam a reduzir a conta de eletricidade. Este tipo de lâmpada se adequa bem aos projetos e têm um ótimo custo-benefício, já que oferecem vantagens econômicas em longo prazo e são sustentáveis”, afirmou. Ela disse ainda que o mercado já tem lâmpadas fluorescentes que dão a impressão e reproduzem um certo charme das incandescentes. “Tanto as lâmpadas fluorescentes quanto as de LED têm conquistado cada vez mais mercado por proporcionar vantagens econômicas em longo prazo e serem sustentáveis. O uso de lâmpadas de luz branca, por exemplo, é ideal para áreas molhadas, como banheiros e cozinha, e a de luz amarela para áreas íntimas, como quartos e salas. A luz branca proporciona ao ambiente o aspecto de limpeza, e a amarela dá sensação de aconchego e reproduz em quase 100% as cores da decoração”, disse. Patrícia diz que apesar das fluorescentes terem um maior valor de mercado, para quem trabalha no ramo, o importante é oferecer ao consumidor opções e certificar-se de que o cliente está plenamente satisfeito com as escolhas feitas. “A iluminação dos ambientes é o toque final, o elemento que traz leveza, sofisticação e autenticidade, pois as luzes, as sombras e as cores resultantes desta combinação tornam o ambiente único e personalizado. Tão importante quanto o tipo de lâmpada a ser utilizada é o projeto de ambientação definido por um profissional especializado, para que a partir da organização dos móveis seja possível estabelecer o foco de iluminação correto para cada situação”, opinou. Ela disse também que acredita que o caminho do mercado são as lâmpadas de LED. “O cliente de iluminação residencial já tem aberto a mente para usar o LED nos seus imóveis, já que é uma iluminação mais sustentável e limpa, com mais durabilidade e qualidade garantida”, disse.

A lei As mudanças em relação à fabricação, importação e comercialização das lâmpadas incandescentes no Brasil são determinadas pela Portaria Interministerial 1.007 dos Ministérios de Minas e Energia (MME), da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), publicada em 31 de dezembro de 2010.

Cronograma até que as lâmpadas deixem de ser produzidas e vendidas - Acima de 100W 30 de junho de 2012: fabricação e importação 30 de dezembro de 2012: comercialização (fabricante e importador) 30 de junho de 2013: comercialização (atacadista e varejo) - De 60W até 100W 30 de junho de 2013: fabricação e importação 30 de dezembro de 2013: comercialização (fabricante e importador) 30 de junho de 2014: (comercialização atacadista e varejo) - De 40W até 60W 30 de junho de 2014: fabricação e importação 30 de dezembro de 2014: comercialização (fabricante e importador) 30 de junho de 2015: comercialização (atacadista e varejo) - Até 40W 30 de junho de 2015: fabricação e importação 30 de dezembro de 2015: comercialização (fabricante e importador) 30 de junho de 2016: comercialização (atacadista e varejo)

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LUMINOTECNIA

CRITÉRIOS EM APLICAÇÃO Uma análise prática da NBR 15575, relacionada a iluminação artificial em edificações de baixo custo Texto: Jean Fechine | Fotos: Divulgação

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s números envolvendo habitações em um país com dimensões continentais como o Brasil e que, de acordo com projeções da Organização das Nações Unidas (2012), na metade deste século terá em torno de 93,6% da população habitando áreas urbanas, são de proporções consideráveis. Nesta escalada o país convive com um alto déficit habitacional, na ordem de aproximadamente seis milhões de moradias, anotadas em 2012 por algumas instituições, a exemplo do Ministério das Cidades. Como resultado desta realidade, o país tem se deparado com inúmeros e graves problemas urbanos e seus efeitos negativos, tais como, o surgimento de habitações subnormais em áreas irregulares trazendo a reboque grandes impactos ambientais e sociais, pois a crescente demanda por moradia não espera a lentidão, muitas vezes presentes nos estudos governamentais, para a minimização de tal problemática. Hoje tal realidade parece não ter mudado. No Nordeste, por exemplo, este número passa de dois milhões com 25% deste concentrado nos estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco. Olhando do ponto de vista da arquitetura e do urbanismo, o que se vê em termos de ações demonstra uma preocupação prioritária com os aspectos quantitativos ficando à margem as questões qualitativas, tanto referentes às unidades habitacionais quanto às questões urbanas e ambientais. Neste contexto, surgem conjuntos de habitações com dimensões mínimas, localizadas em áreas muitas vezes afastadas e sem infraestrutura

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adequada, contrariando recomendações legais e tendo como resultado espaços públicos e privados que não atendem, em sua maioria, tanto às necessidades primárias do ser humano quanto as questões relativas a eficiência energética. Visando minimizar tal problemática, e tratando-se apenas da edificação, e não da escala urbana, entrou em vigor, em julho de 2013, a pedido da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) à Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que realizou uma revisão de um importante conjunto normativo, a NBR-15575 “Edificações Habitacionais - Desempenho” considerada um marco para a modernização tecnológica da construção brasileira e melhoria da qualidade das habitações. Tal norma técnica recomenda uma série de critérios de desempenho a serem seguidos pelos projetistas das edificações, o que, por um lado, tem trazido a expectativa de construções habitacionais com mais qualidade, inclusive respeitando características regionais. Por outro, tem gerado preocupação por parte dos construtores uma vez que as exigências por especificações de produtos com certificação de qualidade gera a expectativa de acréscimo nos custos. Neste sentido surgiu a hipótese de se testar o impacto da aplicação da referida NBR nos custos das edificações habitacionais. Isto abrirá uma série de estudos a este respeito, uma vez que são muitas as variáveis em questão correlacionadas com características regionais de um país com proporções continentais. Logo, neste estudo foi tratado apenas um critério de desempenho relativo a iluminação artificial, buscando responder as seguintes questões:


a tipologia empregada nos programas de habitação de interesse social atende ao critério de desempenho lumínico artificial recomendado na NBR-15575? e caso não atenda, qual será o impacto de tal adequação a referida legislação no que se refere a quantidade e a qualidade da iluminação artficial no ambiente construído e a possível economia de energia elétrica? Diante desta realidade, a proposta aqui desenvolvida realizou, em um modelo de edificação para habitação de baixo custo (a chamada habitação do Programa Minha Casa, Minha Vida do atual Governo Federal) a verificação do atendimento do que prescreve a NBR-15575 acerca do desempenho da iluminação artificial. A casa em estudo apresenta um programa de necessidades e um dimensionamento dentro do padrões sugeridos pelos órgãos financiadores para habitação de baixo custo no Brasil conforme a planta baixa a seguir que apresenta onze cômodos totalizando 68,35 m2 de área útil.

Detalhe do sistema de iluminação utilizado na casa em estudo

Fonte: Acervo do Autor (2014)

Figura 01 – Planta baixa da casa em estudo

Fonte: Acervo do Autor (2014)

Tais lâmpadas deixaram de ser fabricadas e importadas segundo portaria no 1007 (2012) interministerial de Minas e Energia, Ciência e Tecnologia e Indústria e Comércio em junho de 2013, no entanto, curiosamente, ainda se encontra em abundância no comércio. Quanto aos critérios para a verificação da iluminância média, a NBR-15575 “Edificações Habitacionais - Desempenho” recorre à NBR-5382/1985 “Verificação da Iluminância de Interires”. Esta norma sugere que em ambientes com apenas um ponto de luz central a verificação seja feita em quatro pontos de onde se extrai uma média. Porém, esta norma foi substituída pela ISO CIE 8995-1 / 2013: Iluminação de Ambientes de Trabalho que recomenda as medições em pontos específicos em áreas pertinentes. Esquema dos pontos para verificação da iluminância

Os ambientes apresentam-se com bom acabamento, com predominância de cores claras nos tetos, paredes e pisos, o que contribui para a iluminação devido a boa refletância das superfícies internas. Apresenta apenas um ponto de luz instalado no centro do teto de cada ambiente, cujas luminárias não apresentam características que melhorem o desempenho do sistema. As lâmpadas utilizadas são as menos eficientes porém as de menor custo no mercado, ou seja, incandescentes comuns com uma potência de 100W. Fonte: Acervo do autor (2014)

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No gráfico 1 temos a comparação da iluminância média entre a situação existente, verificada in loco e o que recomenda a NBR-15575 “Edificações Habitacionais - Desempenho” para o nível mínimo de desempenho que é considerado obrigatório.

Gráfico 1 – Iluminâncias médias existentes x NBR-15575

Para obter a iluminação com o padrão mínimo de qualidade (200 lux para a cozinha e 100 lux para os demais ambientes) tem-se como resultado a necessidade de 18 lâmpadas fluorescentes compactas de 14W, o que representa uma acréscimo de sete lâmpadas o que representa um custo de aquisição na ordem de R$ 160,00, valor irrelevante frente ao custo total da obra.

Fonte: Pesquisa de campo do autor (2014)

Números da proposta Fonte: Pesquisa do autor (2014)

Percebe-se a falta de desempenho da edificação em estudo em relação ao critério estudado. Vale salientar também que o sistema encontrado é ineficiente do ponto de vista do consumo de energia, pois com lâmpadas incandescentes de 100W instaladas, o consumo total, quando todas as lâmpadas (dos onze ambientes) estiverem em operação, atingirá 1,1 KW, valor significativamente alto quando se trata do tema eficiência energética. Como proposta de melhoria deste item estudado, foi aplicado o método dos lumens, utilizando a luminária existente e sugerindo a utilização de lâmpada fluorescente compacta com potência de 14W, fluxo luminoso de 800 lumens, indice de reprodução de cores 80 e temperatura de cor 4000k, foram obtidos os seguintes resultados: Luminária e lâmpada propostas

Fonte: Acervo do Autor (2014)

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Em relação ao consumo, o benefício obtido com a substituição das lâmpadas alcança um patamar considerável, pois este é reduzido em torno de 800W por unidade habitacional. Este consumo ainda poderia ser menor se fossem utilizadas lâmpadas mais eficientes, a exemplo dos Leds. No entanto, estes ainda apresentam um custo de aquisição elevado. Mas são uma tendência para um futuro próximo. Ao se olhar os números obtidos para uma residência já se justificaria a adesão da proposta. E, projetando a economia de energia elétrica obtida em cada unidade para os milhões de habitações já construídas e os milhões que compõem o déficit habitacional do Brasil, comprova-se que ações, que visem apenas o custo de instalação e não o de operacionalização (pois este “seria de quem utilizará o imóvel” e não de quem o construiu), gera prejuízos significativos a nação. Fica aqui o alerta para os órgãos fiscalizadores, pois a correta aplicação da NBR-15575 nos projetos de habitação de baixo custos e no quesito aqui tratado, sem onerar o custo do m2 construído, gerará mais qualidade e significativa economia de energia para muitos brasileiros que utilizam a tipologia habitacional aqui estudada.


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OUTRAS AREAS

HUMOR DE PESO O comediane Piancó declara amor pelo rádio e pela Paraíba: “Quem é daqui é nacional, americano e mundial”

Texto: Renato Félix | Fotos: Divulgação

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azer rir é um dom que não é para todo mundo. E, com caras, bocas e piadas, Marcello Piancó há muitos anos mostra esse dom em shows, aparições na TV e comerciais. De uma safra de humoristas paraibanos que também gerou Cristovam Tadeu e Nairon Barreto, Piancó se tornou uma figura familiar para os espectadores paraibanos. Na verdade, ele tem em Cristovam Tadeu um humorista que o inspirou em seu começo profissional. “Considero minha primeira incursão humorística uma participação num show do grande humorista paraibano Cristovam Tadeu. Ele é o culpado por eu estar no humor”, diz. Além disso, Piancó já se arriscava na área em festivais estudantis de música, no começo dos anos 1980.

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Além de Cristovam, ele teve outras inspirações. “Chico Anysio, Sérgio Rabelo, Serginho Leite e José Vasconcelos, além dos regionalíssimos Cel. Ludogério e Barnabé”, enumera. “Estes profissionais, mas tinham tantas figuras da minha terra que me inspiraram, como Carão, meu pai, Nêgo Lula e outras feras do anonimato. E bota mato nisso”. O codinome vem, claro, de sua cidade de origem. Piancó fica a 395 quilômetros de João Pessoa, possui cerca de 16 mil habitantes e foi marcada em sua história por ser onde morreu o bandeirante Domingos Jorge Velho e por onde passou a Coluna Prestes. “Nasci em Piancó e tenho muito orgulho disso”, conta o humorista. “Sinceramente acho que não era engraçado na infância, mas era um pouco precoce nas conversas com adultos. Agora pensando, acho que quando era criança era bem mais maduro do que hoje. As pessoas sempre me diziam que eu tinha resposta para tudo, uma espécie de repentista em tiradas. Acho que este dom foi herdado do meu pai”. Embora tenha passagens pela TV e pelo palco, é no rádio que Piancó se sente mais à vontade. “Na televisão entrei por meio da publicidade, onde milito faz quase 30 anos, depois participei de alguns programas humorísticos locais e nacionais. No teatro eu sempre fiz apenas espetáculos meus, escritos por mim. Portanto não me acho uma artista de teatro, me considero apenas um artista que utiliza o teatro da maneira que pode. Mas minha grande paixão é o rádio”, confirma. “É onde posso mostrar o que penso que tenho de melhor no humor: o improviso”.

Seu humor extrapolou as divisas do estado. “Fazer humor não é fácil em nenhum lugar deste planeta”, afirma. “Acredito e penso que a Paraíba é responsável pelo meu humor. Como diria Gilberto Gil, foi ela que me deu régua e compasso com sua história, com a cultura que eu pude acumular aqui, com seus repentistas, poetas e loucos como Ariano Suassuna que era tudo num só. A questão de atuar fora do estado não tem muita diferença, pois o Brasil hoje conhece mais e respeita mais suas diferenças e, acho, que uma grande parte da graça está nesta diferença. Embora tenha feito vários trabalhos fora do estado eu nunca tive a pretensão de ser um artista nacional porque acho que quem é da Paraíba é nacional, americano e mundial”. Para ele, todos os shows são os “principais”. “Mas alguns a gente lembra mais por um fato ou outro, como fazer um show no maior São João do Mundo para cerca de 10 mil pessoas. É marcante, principalmente porque era um projeto que homenageava meu grande amigo e ídolo Shaolin”, recorda. “O primeiro e único show que fiz na minha terra natal também é bem vivo na minha memória, já que santo de casa não faz milagre – ainda bem que não sou santo. Também recordo do primeiro show em São Paulo onde o medo de saber se as pessoas iam aceitar o meu humor quase me faz desmaiar no palco. A grande dificuldade no palco ainda é a ansiedade e medo de errar, mas se você perde totalmente isso pode ser que perca a graça”. Piancó vinha fazendo uma parceria com Cristovam Tadeu no rádio. Ele continua fazendo comerciais, sem deixar de fazer participações na sua paixão, o rádio. As campanhas publicitárias podem chegar a outros países – Piancó recebeu as perguntas para este perfil quando estava em El Salvador, país da América Central. “Também estou preparando um projeto humorístico para o fim do ano onde farei um relato destas minhas viagens, no sentido menos puro possível”, promete.

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ARQUITETURA E MODA

Brunete Fraccaroli Mil Tons

Ambinte da arquiteta Brunete Fraccaroli

CINZA, O NOVO OFF-WHITE Texto: Germana Gonçalves | Fotos: Divulgação

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as passarelas de grandes grifes e nas mais belas composições arquitetônicas e decorações, sempre existem as cores “base”, aquelas que em sua neutralidade e versatilidade, dão o “norte” ao estilo final, em composições com tons complementares, vibrantes ou contrastantes. Nos anos 1990, os tons considerados neutros eram sempre de paleta amanteigada entre palha e marfim. Já nos anos 2000, foi evidenciado o cru, café-com-leite, camurça e areia e, apesar dessas cores estarem sempre em alta e serem atemporais, é em 2010 que o cinza chega pra ficar! Cinza no Brasil, cinzento ou grês para o português europeu, a cor intermediária entre o branco e o preto, remete à elegância, humildade, respeito, reverência e sutileza e entra em destaque na moda e na decoração. Como para a moda, o

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preto é básico, o cinza é considerado o novo preto e chega com força total nas passarelas de outono e inverno. A cor combina com tudo e permite brincar com o restante da roupa e dos acessórios. Em composição com preto, marinho e bourdeaux, forma looks com ar mais pesado, porém super modernos, e em contraste com cores vibrantes como vermelho, esmeralda, royal e até neon, formam os descolados color bloking. Para o inverno, a mistura dos tons acinzentados com couro, metal, estampas animal print, e militar estão presentes nas mais renomadas passarelas. O tom fica interessante para qualquer tipo de corpo, e utilizado corretamente em relação às tonalidades mais claras e escuras nas áreas a serem mais ou menos evidenciadas da silhueta, deixam qualquer composição moderna e super elegante.


SPFW Coleção 2015

SPFW Coleção 2015

Fernanda Yamamoto 2015

Como sempre enfatizo, moda, arquitetura e design andam lado a lado, e as pesquisas estéticas e criação de estampas influenciam as novas tendências sempre, portanto o tom queridinho do momento encontra-se também cada vez mais evidente nas mais modernas composições de ambientes e construções. É unânime, que o cinza é a cor da arquitetura contemporânea, por remeter à sobriedade e por ser sinônimo de elegância. A cor em fachadas evidencia as linhas arquitetônicas, destacando ainda mais as volumetrias cada vez mais bem elaboradas. Ellus 4

Versace

O novo off-white urbano, moderno e industrial ganha destaque em detalhes, como objetos de decoração e tapetes e em partes importantes, como piso, paredes, móveis e revestimentos. Por ter enumeras nuances é considerada uma cor versátil e democrática, super fácil de combinar. Proveniente do estilo neoclássico, que trouxe uma fase de parede gelo, os tons de cinza nas paredes, como base em contraste com teto, piso e rodapés brancos, dão uma sensação de ambiente decorado, acabado, e sem cansar, além de combinar super bem com as diversas cores de laca colorida, bastante atuais utilizadas em diversos ambientes. É preciso ter cuidado, para não utilizar apenas os tons fechados e frios do cinza, tendo o risco de criar atmosferas tenebrosas e tristes, até com sensação hospitalar, por isso, para ambientação é interessante que o tom seja misturado com preto, branco, madeira, diluído em tons que cheguem perto do fendi, que nada mais é que um cinza-verde-marrom, de maneira que possa também combinar com tons terrosos. Os “cinzas quentes” possuem o poder de deixar o ambiente moderno e contemporâneo sem deixar o aconchego de lado. A verdade é que na moda e na arquitetura as cores entram em evidência, mas nunca saem de moda, então o momento é de usar e abusar da evidência e elegância dos “mil tons de cinza”.

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PAINEL PORTOBELLO SHOP CG

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cidade de Campina Grande agora também tem acesso direto aos produtos da Portobello. A loja que já tem tradição em João Pessoa, onde foi instalada em 1999, chega para atender os moradores da Rainha da Borborema e cidades próximas, que passam a usufruir de toda a qualidade dos produtos dessa marca de renome internacional. A empresária Valdelice Campelo explica que durante a implantação na capital, ela enfrentou vários desafios, que foram vencidos com a colaboração de diversos profissionais, dentre eles as filhas Beatriz e Emília Campelo, que a ajudaram a alcançar o sucesso. Hoje as duas jovens empresárias administram seu próprio negócio, a Oca Revestimentos. Em 2015, o grupo decidiu investir nesse mercado cada vez mais promissor que é o da cidade de Campina Grande, já que muitos clientes iam a João Pessoa para adquirir os produtos da Portobello. A nova loja será gerenciada pelo experiente Maurício Montenegro. Essa preocupação em melhor atender os clientes é um diferencial de uma loja especializada, montada por uma empresa com multicanais, com foco na exportação, mercado corporativo e lojas de varejo multimarcas. A Portobello Shop possui um portfólio exclusivo que atende os diversos nichos de mercado. Por isso, tanto João Pessoa quanto Campina Grande têm a mesma padronização e produtos da rede nacional. Fotos: Nayane Queiroz

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PAINEL EDIÇÃO ESPECIAL AE A Artestudio lançou a AE - edição especial, dedicada ao portfólio de vários profissionais da Paraíba. Nesses mais de dez anos de publicação, a AE já mostrou projetos de arquitetura e ambientação de profissionais da Paraíba, do Brasil e até do exterior. Foram muitos, com os mais diferentes estilos e finalidades. Nesses anos, também mostrou diversos pontos da Paraíba que embelezam o estado e/ou merecem atenção e resgate. Locais assim são também ponto de interesse de muitos dos fotógrafos, que identificam ali questões estéticas, históricas e humanas. Para esta edição especial, foi pedido a alguns deles que selecionassem algumas das imagens que, para eles, simboliza o que é o acervo da Paraíba. Há também a matéria de capa, com a nova unidade do restaurante Nau, em Brasília, combinando a arquitetura da capital federal com referências do litoral de João Pessoa. Apresentada de forma direta e com muito visual: só um breve perfil de cada profissional e muitas fotos de seus trabalhos. O resultado é praticamente um catálogo da arquitetura, interiores e fotografias da Paraíba. Fotos: Diego Carneiro

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CARTA DO LEITOR

A Revista AE quer ouvir você É com prazer que aceitamos a sua opinião, críticas, sugestões e elogios. Entre em contato conosco:

contato@artestudiorevista.com.br Os emails devem ser encaminhados, de preferência, com nome e cidade do remetente. A ARTESTUDIO reserva-se o direito de selecioná-las e resumi-las para publicação.

Linda revista de dezembro, capa surpreendente. Parabéns pela ousadia. Carlos Vicente João Pessoa, PB

Excelente escolha da editoria. Projeto de capa maravilhoso, parabéns a Leonardo Maia e sua criatividade. Silvana Lima João Pessoa, PB

Continuo amando o último texto da revista , na última página. Os textos falam diretamente para a nossa alma. Parabéns pela publicação. Niara Gomes Cabedelo, PB

Casa maravilhosa da arquiteta Fernanda Barros. Chega de casas brancas, viva a ousadia! Ana Rita Gomes João Pessoa, PB

Uma porta amarela, um sonho. Parabéns a arquiteta Fernanda Barros, lindo projeto, coragem e ousadia das cores. Salete Fonseca João Pessoa, PB

ENDEREÇOS PROFISSIONAIS DESSA EDIÇÃO:

AL BORDE Los Ríos nº 11-206 y Briceño Quito - Ecuador Código postal: ec170412 +55 593 98463-6428 CARINA FONTES Revolução Comunicação e Marketing Rua Azevedo Sodré, 156 - conj. 41 Gonzaga, 11055-051 Santos - SP DANIEL MUNIZ Av. Geraldo Costa, 601 - Manaira João Pessoa / PB (83) 3226.2622 / 9660. 6699 KARINA MENDES E ANTONIO NEVES R. Mirian Barreto Rabêlo 831, Sala 204 Emp.Oceania Aeroclube, João Pessoa/PB, CEP 58.036-690 (83) 9342. 3222 / 8892. 4439 RENATA MUELLER Rua: Visconde do Rio Branco, 1717, sala 64 Centro, João Pessoa / PB. +55 (41) 3223-4380 | 8843-0006 contato@renatamueller.com.br www.renatamueller.com.br

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Não tinha assistido o filme Origem, a matéria me incentivou a assistir e amei. Parabéns pela escolha. Karla Leite São Paulo, SP

revistaae revArtestudio Artestudio Marcia Barreiros

Amo a revista ARTESTUDIO. Muito conteúdo, ótimos projetos e gostosa de ler. Parabéns a toda equipe. Gorete Maia João Pessoa, PB

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PONTO FINAL

FOTOGRAFIAS

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á quanto tempo você não vê um álbum de fotos de papel? É... fotos impressas, do tempo em que ainda não havia câmera digital?

Outro dia eu tava procurando um documento em casa e achei, sem querer, uma caixa cheia de fotos de papel. Estranho, né? Hoje a gente tem a chance de planejar a foto. Depois da câmera digital, todo mundo sai bem na foto. Saiu ruim? Apaga. Os olhos ficaram vermelhos? Faz outra. O beicinho ficou esquisito? Hummm, tira de novo? Aí eu fiquei pensando como era diferente quando a gente não podia decidir se ficava ou não ficava bem na foto. A gente levava o rolo pra revelar e aí... a surpresa! Tudo ficava mais divertido. Os flagrantes eram reais. A tecnologia embelezou as nossas lembranças. Retocou as nossas imperfeições. Não é mesmo? As fotos, hoje, são guardadas em arquivos virtuais... As caixas e os álbuns desapareceram. Doido isso, né? Aí eu peguei uma das fotos e me vi, na juventude, rindo com amigos. O cabelo tava despenteado, a roupa amassada, a meia furada... Mas o meu sorriso tava ali... Autêntico e intacto. Por alguns segundos imaginei se eu não deveria

ter dado uma ajeitada no cabelo, mudado de roupa, escolhido um fundo melhor para aquela foto... Depois eu pensei: Caramba! Se eu tivesse planejado qualquer pose pra aquele momento, eu teria perdido o melhor daquela lembrança: O meu riso, flagrado na hora da alegria, sem retoques, sem truques. Mas vocês não acham que a vida é meio parecida com foto de papel? Porque os momentos são únicos. Não têm volta. O que foi torto, ficou torto. O que foi ruim, ficou ruim... E o que foi bonito... Ficou bonito pra sempre. Tem coisa que não dá pra mudar, mesmo. Sendo assim, eu acho que é melhor a gente estar sempre de bem com a vida. Porque quando o riso sair na foto, com certeza, vai guardar pra sempre um momento bom... Sem arrependimentos... Sem nenhum remendo.

LENA GINO

http://mundoparalelog.blogspot.com.br/

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