Revista ae48

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Ano XII - nº 48

www.artestudiorevista.com.br

arquitetura & estilo de vida

AO SEU DISPOR

Ambientação de empório no litoral paulista preza pelo conforto do cliente

ESQUINA DE COR

Cores fortes marcam casa em condomínio fechado

CONFORTO TRADUZIDO

Escola de idiomas e um ambiente ideal para aprender

ARQUITETURA DA MENTE O filme “A Origem” imagina como construímos nossos sonhos

O PODER DA LUZ

Uma excelente opção para quem quer surpreender

VISÃO SURPREENDENTE

Projeto de clínica oftalmológica investe em visual diferenciado

+Como é morar no centro, a história da fazenda Boi Só e uma entrevista com o presidente do CAU-BR


M A D R E P É R O L A

A semijoia que já faz sucesso em painéis de iates, jatos particulares, automóveis de luxo e acessórios da alta costura chega agora aos móveis Florense. A madrepérola é uma matéria-prima natural semipreciosa encontrada na

parte

interna

de

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conchas

marinhas.

Fiel

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da

sustentabilidade, a Florense adota − com exclusividade nas Américas − a madrepérola Superlativa®, marca de excelência que é referência mundial do luxo, oferecendo um produto raro, durável, impossível de imitar e derivado de uma cadeia de produção sustentável com certificação eco-friendly Ecocrest©.

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Ano XII

SUMÁRIO

Edição 48

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DICAS & IDEIAS 60 ILUMINAÇÃO O poder da luz: iluminação de efeito torna os espaços mais leves e elegantes. 32 AMBIENTAÇÃO O recurso dos painéis deixa os espaços mais limpos visualmente

CONHEÇA 28 GRANDES ARQUITETOS A sutileza e a poesia do português Eduardo Souto de Moura 70 ACERVO

A casa grande, capela e casa de farinha da Fazenda Boi Só ainda estão lá, mesmo após sua transformação em condomínio fechado

72 ARQUITETURA E CINEMA A arquitetura dos sonhos é explorada no ótimo e complexo filme A Origem

ARTIGOS VISÃO PANORÂMICA 16 A casa de referência da infância

76 ARQUITETURA E MODA Cores, estampas e texturas para 2015

URBANISMO 18 10 sugestões para melhorar os espaços públicos VIDA PROFISSIONAL 20 O segredo da contabilidade: levar os impostos em conta VÃO LIVRE 22 Inovação e sustentabilidade na construção civil

ENTREVISTA ENTREVISTA 24 O presidente do CAU-BR faz um balanço sobre a primeira gestão do Conselho de Arquitetura e Urbanismo

SOCIEDADE REPORTAGEM 64 A vida de quem ainda opta por morar no centro de João Pessoa, área há décadas dominada por lojas ESPECIAL 68 Uma reflexão sobre a casa popular no Brasil e sua integração social

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SUMÁRIO

Ano XII Edição 48

PROJETOS

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A CASA DA PORTA AMARELA 34

Projeto de casa em condomínio fechado marca pela ousadia nas cores

PENSANDO NO CLIENTE 40 Projeto de ambientação de um empório no litoral paulista apostou na sofisticação

TRADUZINDO CONFORTO 46 Um espaço dedicado ao aprendizado

NOSSA CAPA 52 Projeto de clínica de oftalmologia em João Pessoa buscou impacto visual

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Nossa capa: Projeto: Leonardo Maia Foto: Vilmar Costa



arquitetura & estilo de vida ANO XII - Edição 47

EXPEDIENTE Diretora/ Editora geral - Márcia Barreiros Editor responsável - Renato Félix, DRT/PB 1317 Redatores - Alex Lacerda, Débora Cristina,

Lidiane Gonçalves, Renato Félix, Neide Donato

Diretora comercial - Márcia Barreiros Arte e diagramação - Welington Costa Projeto gráfico - George Diniz Fotógrafos desta edição - Vilmar Costa / MB Impressão - Gráfica JB

QUEM SOMOS AE é uma publicação trimestral, com foco em arquitetura, decoração, design, arte e estilo de vida, com tiragem de 8 mil exemplares de distribuição gratuita e dirigida. A reprodução de seus artigos, fotografias e ilustrações requer autorização prévia e só poderá ser feita citando a sua fonte de origem. As colaborações e artigos publicados e fotos de divulgação são de responsabilidade exclusiva de seus autores, não comprometendo a revista, nem seus editores.

ONDE NOS ENCONTRAR Contato: +55 (83) 3021. 8308

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c o n t a t o @ a r t e s t u d i o r ev i s t a . c o m . b r d i r e t o r i a @ a r t e s t u d i o r ev i s t a . c o m . b r R. Tertuliano de Brito, 348 - Bairro dos Estados, João Pessoa / PB , CEP 58.030-044 revistaae @revARTESTUDIO Artestudio Marcia Barreiros

www. artestudiorevista. com. br As matérias da versão impressa podem ser lidas, também, no nosso site: www.artestudiorevista.com.br com acesso a mais textos, mais fotos e alguns desenhos de projetos 14


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EDITORIAL

PASSADO E FUTURO A obra de Eduardo de Souto de Moura, arquiteto português premiado com o Pritzker em 2011, é marcado pela combinação de dois elementos: passado e futuro. Seus projetos unem o respeito pela história e a inspiração nas tradições da arquitetura, sem deixar de lado a modernidade. No momento em que mais um ano vai começando, essa combinação é importante: o respeito a memória de vida de cada um e antenas ligadas no que vem pela frente. Souto de Moura é o tema da seção “Grandes arquitetos” desta AE 48. Mas é exatamente pela memória que Amélia Panet passeia em seu artigo na seção “Visão panorâmica”: uma antiga casa no centro de João Pessoa que traz lembranças de um modo praticamente proustiano. Outra de nossa seções fixas está de volta nesta edição: “Arquitetura e arte”, desta vez enfocando o filme “A Origem”, de Christopher Nolan. Ser arquiteto é, de certa forma, sonhar sempre com os projetos a serem construídos (ou até com os que não serão construídos), mas o filme vai além: se passa realmente no mundo dos sonhos, onde uma estudante de arquitetura é designada a criar o ambiente com sua mente. Nossa seção “Ambientação” também está de volta e vai mostrar que os painéis podem ajudar muito no controle da poluição visual em um ambiente – às vezes, esconder é a palavra-chave. E, claro, os projetos apresentados nesta edição mostram de maneira variada esse encontro entre tradições, futuros e sonhos. Um feliz ano novo e boa leitura!

MÁRCIA BARREIROS editora geral e diretora executiva

Colaboradores desta edição:

ARTESTUDIO

WELLINGTON COSTA prod. e diagramador

RENATO FÉLIX editor de jornalismo

AMÉLIA PANET arquiteta 16

GERMANA GONÇALVES designer interiores

VILMAR COSTA fotógrafo

CÁCIO MURILO fotográfo

DÉBORA CRISTINA jornalista

ALEX LACERDA jornalista

NEIDE DONATO jornalista

LIDIANE GONÇALVES jornalista


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VISÃO PANORÂMICA

Lagoa - João Pessoa - PB

O

A CASA DE ESQUINA DA DIOGO VELHO

que me faz lembrar dessa casa? Para mim, a casa mais bonita da minha infância, aonde desfrutava da minha pequena liberdade, típica de uma criança que vivia ‘presa’ num pequeno apartamento de poucos cômodos. Era para lá que saía correndo quando mamãe dizia: vamos visitar o vovô? Não precisava dizer duas vezes, lá estava eu pronta defronte à porta para descer a estreita escada que nos levava à calçada. Para minha alegria, há poucos metros estava o meu paraíso. Quando ganhei meu velocípede, esse percurso era feito sobre rodas, numa alegria imensa, carregando minha irmã mais nova no bagageiro. Logo o pequeno ranger do portão de ferro anunciava o inicio das minhas aventuras. Hoje sei que a casa não era tão grande, mas naquele tempo era uma imensidão diante do meu pequeno mundo.

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Como éramos de casa, entrávamos pelo portão mais simples, da Professora Alice Azevedo, uma simpática rua ladeada de Carolinas, árvore saga que soltava sementes vermelhas de suas vargens, também conhecida por olho de pavão. Uma pequena escada dava acesso ao terraço lateral, e a porta se abria direto para a copa: uma saleta aonde fazíamos as refeições. Essa pequena saleta era o coração da casa, de onde se distribuíam as ‘alas’ principais. À esquerda, a cozinha e o quarto da funcionária da casa; defronte, um pequeno banheiro; à direita, após um aro de madeira escura, tínhamos acesso aos quartos, sala de estar, gabinete do vovô, saleta, e um terraço em “L” todo revestido de azulejos estilo ‘português’. As visitas entravam pelo portão da Diogo Velho, subiam uma escada mais rebuscada, lustrada por um piso de granilite e tinham acesso ao terraço de azulejos.


O jardim rodeava a casa margeando as duas ruas com canteiros retangulares ornados de papoulas, espinheiras e rosas. Alguns bancos de cimento estavam posicionados em pontos estratégicos para que pudéssemos admirar a vegetação. Logo na lateral, o jardim emendava-se ao beco e se ligava ao quintal. Assim, rodeávamos toda a casa, correndo ou brincando de esconde-esconde. O quintal era o lugar mais frequentado, um detalhe o fazia muito especial, o grande jambeiro, que de tão grande ocupava o jardim e parte do quintal, sombreando toda a lateral. Era o elemento que representava o limiar entre os dois, pois em casas de esquina esses espaços costumam conviver em harmonia. Tal árvore era a dona dos jambos mais deliciosos que já comi em toda a minha vida, suculentos, roxos e de um design perfeito. Mas, nada se comparava ao chão cor de rosa deixado pela chuva de flores mais delicadas que meus pequenos dedos já tocara. Eram pinceis de um rosa tão esplêndido, para mim, a cor mais bonita do mundo. Essa casa não era só especial pelas suas qualidades espaciais, era a casa do homem de terno branco e chapéu de Panamá, que me pegava pela mão e me levava para passear. E foi com ele que comecei a conhecer a cidade, passo a passo, no compasso do meu pequeno passo, ele me mostrava os detalhes da sua cidade. Assim, seguíamos para o Mercado Central, logo ali ao lado, e para a Lagoa, logo ali embaixo. Era o homem mais importante que conhecia. Todos o cumprimentavam e ele retribuía tirando o seu chapéu e curvando-se levemente na direção da pessoa. Às vezes andávamos até a Praça dos Três Poderes, para mim, na época, a praça mais importante. Nós colocávamos ao centro e ele apontava cada prédio que existia ao seu redor, nomeando-os com certa imponência, o que já era suficiente para que eu entendesse que deveriam ser monumentos muito importantes. Depois seguíamos para o Pavilhão do Chá, na Praça Venâncio Neiva, onde tomávamos sorvete em taças de inox. Era o grande prêmio do dia, e nada se comparava ao sorvete de graviola. Depois voltávamos pelas Trincheiras e entrávamos na Professora Alice Azevedo, retornando à casa de esquina da Diogo Velho. O passeio estava completo. Ele me dava um beijo na cabeça e seguia com o seu jornal para a poltrona da sala, onde terminava a manhã folheando página por página.

Pavilhãodo Chá - João Pessoa - PB

O meu dia continuava com as minhas investigações pela casa. Quantos tacos de madeira existiam no corredor? Quais os defeitos dos azulejos do terraço? Entre outras descobertas que só a mim interessavam. Eram detalhes que tornavam a casa ainda mais especial. Nem todos os adultos imaginam o quanto um ambiente, um passeio, uma conversa pode ser responsável pelas escolhas na vida de uma criança. Aquela casa, aqueles passeios pelo centro da cidade foram as primeiras faíscas do nascimento de uma arquiteta.

Amélia Panet

Arquiteta e urbanista Mestre em arquitetura e urbanismo Doutora em arquitetura e urbanismo pela UFRN Professora do curso de arquitetura e urbanismo pela UFPB

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URBANISMO

Rua das Flores - Curitiba PR

PARA MELHORAR OS ESPAÇOS PÚBLICOS

C

ada dia os cidadãos de diferentes partes do mundo manifestam suas preocupações pelo futuro de suas cidades. Os espaços públicos, como ruas, parques e praças tornaram-se essenciais para que uma cidade seja bem sucedida, já que neles são geradas diversas possibilidades de desenvolvimento econômico e social e, cada vez são mais valorizados pelos cidadãos. Entretanto, a construção e manutenção dos espaços públicos por parte dos governos locais ainda não é um tema que se aborda de forma correta em muitas cidades, nas quais não existem numerosos espaços públicos bem projetados e com participação cidadã durante o processo de desenho. Tomando estas deficiências como desafios, a organização Project for Public Spaces (PPS) lançou há um tempo atrás o “Placemaking and the Future of Cities”, o rascunho de uma próxima publicação. Através de dez conselhos muito úteis, busca melhorar certos aspectos econômicos, sociais e ambientais das cidades mediante uma reabilitação dos espaços públicos já existentes. Neste sentido, a publicação servirá como um guia para os governos locais que decidam buscar o êxito urbano através de um enriquecimento dos espaços públicos. A seguir, as 10 dicas da PPS para melhorar os espaços públicos das cidades:

1. Converter as ruas em calçadões. Quando falamos de espaços públicos, o primeiro lugar que associamos a esta categoria são as ruas. Nelas, as relações entre automóveis, ciclistas e pedestres nem sempre são boas, por falta de espaço suficiente. Por isto, PPS postula que não só as principais ruas dos núcleos urbanos mais transitados devem ser convertidas em calçadões, mas devem-se habilitar as vias circundantes para alcançar um equilíbrio no deslocamento, já que atualmente os calçadões conectam-se ou terminam em ruas com automóveis. Se mais ruas se convertessem em calçadões, os habitantes se relacionariam entre si e com as atividades cotidianas da cidade, melhorando a coesão social.

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2. Criar parques e praças públicas como destinos com múltiplas funções. As área verdes das cidades são espaços atrativos quando nelas são desenvolvidas atividades orientadas a diferentes tipos de pessoas. Para configurar uma agenda de atividades, PPS argumenta que o seu desenvolvimento deva ser feito de forma coletiva, para tornar cada visita aos parques e praças em uma “experiência pública compartilhada “.

3. Construir economias locais através de mercados urbanos. Se considerarmos que muitas cidades originaram-se em torno de seus mercados, os mesmos devem ser entendidos como pontos de encontro e intercâmbios de bens, sendo impossível imaginar uma cidade que não conte com eles. Na América do Norte, a presença e a criação de mercados públicos foi muito diminuída pela alta quantidade de supermercados. Os mercados urbanos têm renascido principalmente na Europa, pois se apresentam como alternativas viáveis que ajudam a preservar as terras de cultivo, estimulam a economia local e revitalizam os bairros vizinhos. Além disso, em seus corredores, relacionam-se pessoas de todas as classes sociais, uma vez que servem como uma oportunidade econômica e de trabalho para as pessoas com menores rendas.

4. Projetar edifícios que sirvam como redes de conexões entre distintos bairros. A urbanização desenvolveu-se nos últimos anos em uma escala sem precedentes, que deu novas conotações para o papel que os edifícios desempenham na definição da esfera pública. Se levarmos em conta que esta área inclui edifícios de visibilidade e interação que exercem no nível da rua, o ideal é que os edifícios sejam construídos relacionados à escala onde serão implantados. Se isso for cumprido,


podem-se gerir novos bairros em torno de edifícios, criando inúmeras atividades orientadas na vida cívica e para regenerar essas áreas que muitas vezes não são utilizadas, já que não contam com um bom acesso ou pontos de trânsito.

5. Vincular a agenda de saúde pública com os programas de espaços públicos. Segundo PPS, os espaços públicos deveriam ser reconhecidos por suas contribuições à saúde, já que os mercados públicos oferecem alimentos frescos e saudáveis; as ruas permitem que os cidadãos percorram a cidade a pé ou em bicicletas e os parques reduzem o estresse. Se levarmos em conta estas contribuições gratuitas, não é ilógico pensar que neles poderiam ser instalados centros de saúde que atuem como centros comunitários e que ofereçam serviços de saúde e educação.

6. Reinventar as organizações comunitárias. No momento de projetar certos setores das cidades, é vital levar em conta as aspirações de quem fará parte dela – os moradores locais. Por isto é necessário capacitar os membros das organizações civis ensinando-lhes a importância histórica dos lugares que habitam, as funções que deveriam cumprir para satisfazer certas necessidades e como reconhecer quando um lugar é atrativo para as pessoas. Com isto, gerar-se-ia um sentido de pertencimento nos membros das organizações, que se beneficiariam de novas motivações para apresentar suas propostas para as instituições governamentais envolvidas, como atores sociais relevantes. Cabe mencionar que os espaços públicos devem ter a capacidade de evoluir com o tempo, tendo em mente as aspirações da comunidade, para que se torne um grande destino.

7. O poder dos “10”. Este princípio considera que se um espaço público reúne 10 características que conseguem atrair um grande número de visitantes, este pode converter-

se em um “grande lugar”. Logo, para fazer que um bairro se torne interessante, deve-se contar com 10 lugares atrativos. Por último, para que uma grande cidade seja considerada como tal, deve-se ter 10 bairros excelentes. Se todos os espaços públicos podem ser construídos ou regenerados, as pessoas poderiam contar com um “grande lugar” a pouca distância de suas casas.

8. Criar um programa integral para espaços públicos. Um programa focado no desenvolvimento de espaços públicos deve incluir uma avaliação preliminar que identifica os melhores e piores aspectos de desempenho segundo os visitantes. Posteriormente, os encarregados locais devem criar estratégias para reforçar as áreas bem avaliadas e melhorar as deficientes, com o objetivo de alcançar uma gestão otimizada dos recursos dos espaços públicos e destes lugares. O programa deve estar vinculado a novos projetos de desenvolvimento para conservar e melhorar os entornos públicos, considerando aspectos cívicos que neles podem ser desenvolvidos e que se integrem integralmente ao parque.

9. “Mais leve, mais barato, mais rápido”. Começar pequeno e experimentar. Um pequeno café, assentos, trilhas e eventos da comunidade são exemplos de implementações simples que geram ampla aceitação no curto prazo, com visitantes de parques públicos. Para criar novas ideias como essas, algumas cidades implantaram projetos urbanos denominados “Mais leve, mais barato, mais rápido”, o que permite que a comunidade envie propostas às autoridades locais para dar novos usos e funções para as áreas verdes. Para evitar perdas econômicas, cada ideia é promovida no lugar onde iria ser localizada, para detectar o interesse que gera nas pessoas.

10. Reestruturar o governo para ajudar os espaços públicos. Como os governos locais possuem distintos escritórios administrativos que são responsáveis por áreas tão variadas como trânsito, parques e praças, e organizações sociais; PPS descobriu que não há uma área especializada na gestão de áreas entre os espaços públicos mencionados. Assim, as propostas dos cidadãos que refletem os valores, costumes e as necessidades de uma comunidade não são considerados pelas autoridades, pois não há um escritório para gerenciar tais projetos. Além disso, considerando que na maioria dos casos, o privilégio é do privado, as ações do Estado acabam relegadas para segundo plano. Para evitar que isso aconteça, PPS recomenda reestruturar os governos locais para eliminar a burocracia e trabalhar em torno de propostas de cidadãos que podem ser financiadas pelos atores estatais e privados, mas não unicamente por este setor. Esta poderia ser uma mudança efetiva a curto prazo, e em cada local, pode-se agregar um valor e um potencial para o futuro.

Mercado Publico- São Paulo, SP

Fernanda Brito e Eduardo Souza

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VIDA PROFISSIONAL

CONTABILIDADE: O CAMINHO É AJUSTAR RECEITAS

E GASTOS À REALIDADE Fotos: Divulgação

A

regra é clara: no mesmo momento que realiza uma venda, a empresa contrai uma dívida tributária porque parte do valor cobrado são impostos embutidos que devem ser recolhidos aos cofres

públicos. Apesar de conhecê-la, muitas empresas têm dificuldade de colocá-la em prática e registra o dinheiro dos impostos no fluxo de caixa como receita de vendas. Uma das dificuldades é que quando deixa de fazer a segregação e trata a parte do Governo como propriedade da empresa, acaba por se

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comprometer com gastos cujo valor supera aquele que de fato pertence a ela, o que distorce a realidade e causa vários problemas. O descuido com o assunto é grande e ganha proporções que mesmo bons negócios acabam por fracassar por esse motivo. A visão distorcida da realidade leva a adoção de práticas que fazem com que a solução para os problemas fique cada vez mais difícil de ser implementada. Muitas empresas, ao tentar fazer a segregação, constatam que o nível das receitas não são suficientes para cobrir o valor dos impostos, das despesas operacionais, dos custos de produção e remunerar o proprietário - e que devido à natureza não será fácil cortar os gastos em excesso. Uma das práticas é escolher os produtos que vende e definir os preços com base na concorrência obtendo uma margem de lucro que acaba ficando muito aquém da necessária, o que leva à falta de dinheiro no caixa da empresa. A falta da segregação patrimonial entre pessoa jurídica e física é outra prática ruim, pois provoca a saída de recursos que pertencem à empresa para cobrir gastos pessoais do sócio. Trata-se de dois exemplos de procedimentos que a administração coloca em prática por ter uma visão distorcida do caixa da empresa e também dos gastos que de fato são intrinsecamente


Foto: Divulgação

ligados à atividade. Mudar esse tipo de pratica é bem difícil, exige muito esforço do proprietário e por isso muitos não conseguem mudar. Mudar procedimentos como esses exigem nova postura e adoção de novas práticas. No caso do preço de vendas e escolha dos produtos para venda, algumas das alternativas são: o estudo do mercado procurando saber se está ou não saturado e por quanto tempo mais consumirá o produto naquele preço; saber qual volume de vendas a empresa precisa atingir e se tem estrutura e processos eficientes para superar o ponto de equilíbrio e gerar lucro; conhecer e calcular corretamente a carga tributária que incide sobre o preço de vendas. Em relação à formação de preço, a prática usual é aplicar multiplicadores que entre outras coisas consideram a margem bruta de lucro e a carga tributária que devem ser praticadas sobre o custo do produto. Cortar gastos é sempre difícil mais possível de se fazer. Normalmente são identificados custos fixos, aqueles que são recorrentes mas não guardam relação direta com os produtos vendidos pela empresa. A título de exemplo, instalações caras, mas subutilizadas ou inadequadas para o tipo de negócio da empresa. Desperdício de energia elétrica e mão de obra. Encontrar o custo do produto correto não é tarefa fácil, porém ao defini-lo é possível cortar os custos em excesso, que são justamente aqueles que não são absorvidos pelos itens vendidos pela empresa.

Além dos custos fixos, existem despesas decorrentes da falta de segregação patrimonial. É o gasto que o empresário tem mais dificuldades para cortar, pois significa alterar o padrão de vida da família. São gastos que não são previstos no orçamento, o que agrava ainda mais a situação, já que o fato de existir dinheiro em caixa não significa a existência das condições ideais para se incorrer em gastos que não estão relacionados com o negócio da empresa. Eliminar as despesas pessoais do dono passa pela definição de um valor fixo de retirada mensal que deve ser suficiente para atender suas necessidades pessoais. Regra essa que deve ser seguida fielmente pelo proprietário. Diante desses problemas de difícil solução, o empresário que se propõe a enfrentá-los tem que estar disposto a agir de maneira diferente e também passar a fazer uso de ferramentas que não vinha utilizando. A contabilidade é uma das ferramentas que pode ser bastante útil para auxiliá-lo visto que seus registros possibilitam a elaboração dos relatórios que vão apresentar a ele muitas dessas informações. Bem utilizadas elas servirão para análise do que veio acontecendo na empresa e servirão para todo o planejamento dos próximos passos a serem seguidos.

Vagner Miranda

Administrador de empresas e sócio da VSW Soluções Empresariais.

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VÃO LIVRE

INOVAÇÕES NA CONSTRUÇÃO CIVIL

GARANTEM SUSTENTABILIDADE

O

crescimento acelerado da população e a migração cada vez maior para os centros urbanos geram, entre outras consequências, maior demanda de energia, transporte, alimentação e infraestrutura. Calcula-se que, até 2050, a população mundial deva chegar a nove bilhões de pessoas e dois terços estarão vivendo nas grandes cidades. Esse movimento deve causar um forte impacto na maneira como a indústria da construção civil se posiciona. Uma das principais questões a serem repensadas no setor é que, diferente de outras indústrias, a construção não incorporou inovações ao seu processo e continua utilizando as mesmas técnicas há décadas. O método construtivo atual consome mais de 40% da energia produzida globalmente e contribui em 30% com a emissão de gases de efeito estufa, tornando-se o setor que mais consome recursos naturais e utiliza energia de forma intensiva. Por isso é preciso pensar e agir diferente no mercado da construção. É necessário aproveitar as tecnologias e materiais que reduzam o consumo de energia, de recursos naturais e que diminuam o impacto no meio ambiente. É indispensável avaliar o ciclo de vida dos materiais e seus reais efeitos na cadeia. Sabe-se, por exemplo, que o concreto é o segundo material mais utilizado em uma obra tradicional, depois da água. O cimento é responsável por 5% da emissão global de CO2 durante sua fabricação. Para compensar esse impacto, já existem aditivos químicos que garantem um concreto mais adequado a diferentes aplicações e que diminuem em 40% o uso de água em sua preparação. Além disso, ainda é baixa a dedicação às fases de projeto e planejamento. O uso de equipamentos mais eficientes, processos construtivos e tecnologias que promovam a redução de consumo de energia durante a utilização do edifício não são foco. Não se estabeleceu como rotina fazer o projeto pensando em eficiência energética. Em muitos casos não há aproveitamento da iluminação natural ou

Casa eficiente da Basf-SP

Imagem: Divulação

Texto: Alberto Gomes Ruiz

dos ventos para conforto térmico, nem há utilização de novas tecnologias para proteger o ambiente do calor. Ao contrário, os projetos contam sempre com ar condicionado nos ambientes. O pigmento frio é um exemplo de inovação para proteção térmica que é promissor, porque reduz a necessidade do uso do ar condicionado e pode ser aplicado, inclusive, em reformas e em projetos já iniciados. Adicionado à tinta, ele reflete a radiação solar, mantendo a superfície fria mesmo nas cores escuras. Esse tipo de pigmento foi aplicado e está sendo testado na CasaE, Casa de Eficiência da Basf, em São Paulo. Talvez seja cultural, mas há certa insegurança nos brasileiros em relação às novas tecnologias. Temos, além disso, um gargalo de qualificação de mão de obra que dificulta ainda mais a entrada de inovações no setor. Com a nova Norma de Desempenho NBR 15.575, que estabelece padrões mínimos de isolamento acústico, conforto térmico, durabilidade dos materiais e segurança, o mercado da construção civil no Brasil vai passar por fortes transformações. E essa mudança passa pelas inovações químicas, tecnológicas, novos sistemas construtivos e de eficiência energética. Para isso, é preciso quebrar alguns paradigmas, investir mais no planejamento e ter uma visão de longo prazo. Como será esse mercado no futuro? Como prever essas mudanças? O tempo para descobrir essas respostas está cada vez mais curto.

Alberto Gomes Ruiz

Engenheiro civil, formado pela Universidade estadual de Maringá, com MBA pela USP e atua na divisão de Químicos para Construção da Basf.

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ENTREVISTA

HAROLDO PINHEIRO PRIMEIROS PASSOS O presidente do CAU-BR faz um balanço sobre a primeira gestão do conselho Texto: Lidiane Gonçalves | Fotos: Divulgação

F

oram décadas de uma difícil desvinculação para que o Conselho de Arquitetura e Urbanismo pudesse existir. O CAU passou a existir a partir de uma lei promulgada em 2010 e teve seu primeiro presidente eleito em 2011. Às vésperas da eleição que elegerá presidentes do CAU/BR e do CAU em cada um dos estados, o primeiro presidente do conselho, Haroldo Pinheiro, faz para a AE um balanço dos três anos de existência da entidade e aponta as melhorias conquistadas para a categoria. Haroldo é arquiteto 26

e urbanista, formado pelo Instituto de Artes e Arquitetura da Universidade de Brasília (IAA/UnB) em 1980. “Minha formação foi complementada no trabalho constante em parceria com o arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, com quem atuei em inúmeros projetos e obras desde 1974 e até 2014 – com especial aplicação a projetos para construção pré-fabricada ou industrializada e à arquitetura de sistemas de saúde. Mantenho escritório de projetos e consultoria desde 1980”, se descreve o arquiteto.


ARTESTUDIO – Como foi a luta para a construção do CAU? Foi difícil se desatrelar do Crea? HAROLDO PINHEIRO – No Brasil, consideramos como marco inicial dessa causa o ano de 1958, quando Ary Garcia Rosa, então presidente nacional do IAB, levou ao presidente JK a proposta para criação de um conselho profissional autônomo para a arquitetura brasileira. Naquela década e na seguinte, em diversos países, movimentos similares foram realizados com sucesso. Pelo tempo decorrido (desde 1958 até a promulgação da Lei 12.378 em 31 de dezembro de 2010), pode se imaginar as dificuldades enfrentadas pelas nossas lideranças profissionais. AE – Como é ser o primeiro presidente do CAU? HP- Tem sido honroso, para mim, trabalhar com os colegas conselheiros federais do CAU/BR e com os presidentes e conselheiros dos CAU dos estados e do DF nesta gestão fundadora. Desde a posse como presidente do CAU/BR, em 15 de dezembro de 2011, nos aplicamos com dedicação à fundação de um conselho profissional efetivamente novo para a arquitetura e urbanismo do Brasil. Para todos nós, a responsabilidade foi imensa e enfrentamos pesadas dificuldades em muitos estados, pela ausência de uma transição normal e civilizada do antigo para o novo conselho. Mas os riscos foram superados, hoje o CAU é uma realidade e vai se aperfeiçoando diaa-dia. AE – Como está o CAU no país? Todos os estados já possuem CAU? HP – O CAU está funcionando regularmente em todas as unidades da federação e temos registros das atividades dos arquitetos nos 5.570 municípios brasileiros. Criamos um fundo de apoio que garante a todos os CAU estaduais os recursos financeiros necessários e suficientes para prestarem um bom serviço à sociedade e aos colegas arquitetos e urbanistas. Desenvolvemos modernos sistemas de tecnologia de informação e de inteligência geográfica compartilhados igualmente por todos os CAU/UF, também garantindo que os estados disponham das mesmas condições tecnológicas, independentemente de sua maior ou menor capacidade de investimento. Construímos um conselho nacional, inovador e com enorme capacidade de evolução equilibrada e sustentável. AE – E a situação do CAU na Paraíba, como o senhor classifica? HP – O CAU/PB tem sido o exemplo de gestão para os demais conselhos estaduais. A presidente Cristina Evelise e os conselheiros estaduais responsáveis pela fundação do Conselho na Paraíba atuaram com coragem, bom senso e responsabilidade. Aplicaram-se com afinco à instalação do Conselho no estado, sem deixar de participar com destaque na linha de frente das discussões e decisões

nacionais. Na época de sua instalação, em 2012, o CAU/PB necessitava e obteve o aporte financeiro complementar do fundo de apoio – mas, graças à sua boa administração, em pouco tempo superou essa necessidade e hoje é autossuficiente. AE – Qual o balanço dos primeiros três anos de existência do CAU? HP – Pela comparação com conselhos de arquitetura de outros países ou com conselhos de outras profissões no Brasil, é inegável que em apenas três anos o CAU vem se firmando como boa referência de gestão moderna e em todas as suas áreas de atuação. Sabemos, é claro, que ainda há muito o que fazer para recuperar o prestígio da arquitetura diante da sociedade, mas já estamos bem posicionados e vamos superar esse passivo. O CAU está se tornando uma instituição forte, está reestruturando a profissão e nos situando melhor para enfrentar os desafios arquitetônicos e urbanísticos nacionais, assim como para tratar com a necessária soberania os assuntos internacionais que interferem em nosso cotidiano profissional. AE – O que de mais importante foi feito? O código de ética pode ser citado aí? O que ele significa para a categoria? HP – O conselho está implantado em todo o país e com plenas condições de funcionamento, como já comentei antes – isso era o fundamental para a gestão fundadora que estamos concluindo. O CAU/ BR, como instância normativa do nosso sistema profissional, aprovou as normas necessárias para atualizar a regulamentação do exercício profissional e dar condição de funcionamento dos CAU nos estados e no DF. O Código de Ética e Disciplina é, sim, uma das conquistas da categoria – está sendo amplamente divulgado para a sociedade e os profissionais, objetivando que todos fiquem esclarecidos de sua importância para a elevação do respeito à nossa profissão, e deve ser aplicado com rigor equivalente. Realizamos um censo, com a participação de mais de 80.000 arquitetos, que nos proporcionou conhecer melhor os anseios e as dificuldades dos colegas, para que possamos desenvolver políticas profissionais consequentes e construir o primeiro planejamento estratégico para a profissão no Brasil. Aprovamos também, por exemplo: as tabelas de honorários, de caráter indicativo como determina a Lei 12.378/2010; as regras para a fiscalização do cumprimento da Lei Nº 4950-A, que trata do salário mínimo profissional; as novas normas sobre Direito Autoral em Arquitetura e Urbanismo; as atribuições privativas dos arquitetos e urbanistas, marcando com firmeza a posição que estamos defendendo na Justiça. Também abrimos diálogo com os conselhos e ordens de arquitetos de diversos países do mundo, objetivando controlar o trânsito de profissionais e garantir adequada reciprocidade nestes tempos de 27


AE – Qual a importância do arquiteto? HP – Nós, arquitetos e urbanistas, construímos cidades. Mesmo ao projetar e construir edifícios individuais ou isolados, realizamos os espaços públicos deles decorrentes – e assim devemos pensar nossa profissão: nossa responsabilidade vai além do interesse individual, é essencialmente voltada para o interesse público.

internacionalização de serviços. Os CAU estaduais, como instâncias de fiscalização profissional e de atendimento aos arquitetos, também estão se organizando rapidamente e se adequando às novas regras que regem a profissão. AE – Quais os grandes desafios do CAU? HP – São muitos, no objetivo de recuperar o prestígio da arquitetura e urbanismo no país. Para exemplificar a amplitude das ações, destaco o trabalho que temos realizado para estabelecer uma verdadeira política de Estado no Brasil para a arquitetura e urbanismo, que trate com eficácia e constância necessárias a ocupação do território e a construção das cidades – e, para tanto, temos atuado com determinação junto aos poderes Legislativo e Executivo. Por outro lado, continuar construindo um conselho eficiente, que cumpra sua obrigação de defender a sociedade contra a prática ilegal, a má prática e os desvios éticos e disciplinares, que contribua para facilitar a boa prática arquitetônica, enfim; mas evitando criar excessos cartoriais ou taxas abusivas e sem se tornar um peso burocrático para os arquitetos e urbanistas brasileiros. AE – Quais as metas para 2015? E metas mais longas, quais são? HP – Em novembro de 2014 tivemos eleições gerais para os CAU/UF e CAU/BR. Nessa etapa, os arquitetos brasileiros puderam discutir os rumos e as prioridades para o CAU e escolheram seus representantes para o triênio 2015/2017. Como o sistema político do CAU é parlamentarista, foi uma espécie de primeiro turno para as eleições de janeiro de 2015, quando os novos plenários do CAU/BR e dos CAU/UF elegerão seus presidentes, naturalmente comprometidos com as prioridades definidas nas eleições gerais. O plano de trabalho para a segunda gestão do CAU resultará, portanto, do que foi decidido nas eleições gerais; acredito que prosseguiremos no rumo traçado até aqui, aperfeiçoando-o constantemente. 28

AE – Qual a função do CAU? HP – Nos exatos termos da Lei Nº 12.378/2010, “o CAU/BR e os CAU tem como função orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício da profissão de arquitetura e urbanismo no Brasil, zelar pela fiel observância dos princípios de ética e disciplina da classe em todo o território nacional, bem como pugnar pelo aperfeiçoamento do exercício da arquitetura e urbanismo”. Entre outras competências, está obrigado também a “zelar pela dignidade, independência, prerrogativas e valorização da arquitetura e urbanismo”. É grande a responsabilidade que a sociedade brasileira entregou aos arquitetos brasileiros, por intermédio do Congresso Nacional, e devemos responder à altura. AE – “O CAU defende a profissão e não o arquiteto”, o senhor disse em algumas de suas entrevistas. Mas, se a profissão é beneficiada, o arquiteto também é, certo? HP – Sim. O CAU defende a sociedade e a profissão. Aos sindicatos compete a defesa dos interesses corporativos dos arquitetos e urbanistas, assim como as associações de classe. Todavia, se (no CAU) valorizarmos a boa prática profissional e reduzirmos a má prática e a prática ilegal da arquitetura, estaremos valorizando os profissionais que atuam com responsabilidade e zelo, com todas as vantagens daí decorrentes. AE – O setor habitacional no Brasil está em uma crescente. Seja em edificações de classe média, apartamentos luxuosos ou imóveis do Minha Casa, Minha Vida. Como o senhor avalia isso? E como o senhor vê o arquiteto neste contexto? HP – Nos últimos anos, muitos recursos foram direcionados para as cidades. Tanto os dirigidos aos megaeventos em diversas capitais, quanto os voltados para Programa Minha Casa, Minha Vida, para habitação, saneamento, mobilidade, planos urbanos. Os ministérios das Cidades, da Integração e outros, como a Caixa Econômica Federal, têm dedicado recursos preciosos e inéditos que, se melhor articulados, poderiam estar contribuindo decisivamente para a evolução da qualidade urbana das cidades brasileiras. Os arquitetos, por intermédio de suas entidades representativas e de seu conselho, devem contribuir e pressionar para sermos ouvidos nesses assuntos de nossa área de conhecimento – não por interesses meramente corporativistas, mas para cumprirmos nossa missão de levar a melhor arquitetura e urbanismo para todos.


REPRESENTANTE OFICIAL

Pendentes QUADRILHA e abajur SARARÁ.

Design de interiores Angela Borsoi e Sonia Lacombe, fotografia Edgard Cesar.

Av. Geraldo Costa 601, Manaíra – João Pessoa (83) 3226 2622 Encontre outros showrooms através do www.lightdesign.com.br 29


Estádio Municipal - Braga

GRANDES ARQUITETOS

MENOS É MAIS

A sutileza e a combinação entre história e modernidade são as marcas da arquitetura do português Eduardo Souto de Moura Texto: Renato Félix | Fotos: Divulgação

O Casa de Cinema

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arquiteto português Eduardo Souto de Moura, hoje com 62 anos, venceu o Prêmio Pritzker em 2011. Sua escolha premiou uma arquitetura que consegue combinar elementos da modernidade com “ecos de tradições arquitetônicas”, como diz o parecer do júri do prêmio. Um senso de História aliado a uma expressão contemporânea, “disfarçado” em formas aparentemente simples.


Museu Paula Rêgo Souto Moura

Souto de Moura tem mais de 30 anos de carreira. Começou nos anos 1980 e, já ali, mostrava que não se deixava levar por modismos. Construiu uma carreira na arquitetura meio à margem, com edificações que evitavam os exageros do pós-modernismo e casas mesmo, para famílias, mas que se tornaram exemplares de suas ideias arquitetônicas. Recém-formado, venceu um concurso para desenhar o Centro Cultural da Secretaria de Estado da Cultura, na cidade do Porto, onde combinou elementos de cobre, pedra, concreto e madeira. Em 1987, veio o convite para o projeto de um hotel na histórica Salzburgo, na Áustria.

A partir daí, os projetos foram ficando maiores e culminando no Estádio Municipal de Braga, em 2000, criado para a Eurocopa de 2004. O estádio é monumental, mas bem inserido no contexto local. Até lá, outros de seus projetos relevantes, sempre aliando a beleza, uma certa autoconsciência histórica e o diálogo com a paisagem, são a Casa do Cinema Manoel de Oliveira, no Porto, projetada em 1998 e concluída em 2003. Entre 1989 e 1997, Souto de Moura transformou o interior do convento medieval Santa Maria do Bouro, na cidade de Amares, em um hotel. A reinterpretação

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Torre do Burgo: Eduardo Souto | Escultura: Angelo de Sousa

do convento levou em conta sua história, sem deixar de ter uma concepção moderna. A Torre Burgo, também no Porto, foi concebida ainda nos anos 1990, mas só erguida em 2007. Na verdade, são dois edifícios: um vertical, que se destaca muito na paisagem, e um horizontal, em escala bastante menor. Mas surpreendente mesmo é o museu Casa das Histórias Paula Rêgo, inaugurado em 2009, que é constituído de dois volumes piramidais, dialogando com as árvores em volta. Souto de Moura nasceu no Porto, estudou Belas-Artes na cidade, mas concluiu a licenciatura em Arquitetura. Além de arquiteto, ele continua como professor na Universidade de Porto. Sua sensibilidade, sutileza e até poesia nos projetos são marcas que devem mesmo ser passadas aos seus alunos.

Arquiteto: Eduardo Souto de Moura + imagens no site: www.artestudiorevista.com.br

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AMBIENTAÇÃO

ESCONDE-ESCONDE NO DÉCOR Além de funcional, os espaços precisam ser bonitos e com menor poluição visual possível. Por isso, a marcenaria surge como parceira. Por meio dela dá para camuflar fios, objetos e até ambientes Texto: Ana Paula Horta | Fotos: Henrique Queiroga e Osvaldo Castro

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m dos grandes desafios dos profissionais de arquitetura de interiores na hora de executar um projeto é camuflar a bagunça de cabos eletrônicos e outros itens que os clientes desejam esconder. Para conseguir êxito nessa empreitada, a marcenaria é uma grande aliada. Como alternativa para ocultar a poluição visual nos projetos, surgiram os painéis que, já a algum tempo, são um hit absoluto dos projetos de interiores. As necessidades de cada cliente, no entanto, são únicas e exclusivas. E, muitas vezes, o que se pretende esconder vai muito além de cabeamentos. Um exemplo disso, é a situação narrada pela a arquiteta Ana Lívia Werdine. A profissional lembra que em um de seus projetos se viu diante de um dilema que foi resolvido por meio da marcenaria. “Os clientes, um casal, discordavam quanto ao local

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da TV na casa. O marido queria o aparelho na sala, já a esposa não. A solução, para atender a ambos, foi deixar a TV nesse ambiente mesmo, porém, escondida atrás de um painel”, conta. Neste caso, Ana Lívia optou por desenhar um painel móvel, que pode ser deslocado para atender às diferentes necessidades expostas pelo casal. Já a arquiteta Ivana Seabra precisava camuflar não um eletrônico, mas sim dois ambientes de um projeto residencial. Ela também recorreu à marcenaria para deixar escondidos o escritório e a cozinha. “Utilizei painéis, como portas de correr, para esconder esses dois espaços. Com essa solução, o cliente ganhou ainda a opção de integrar, quando lhe for conveniente, a cozinha e o escritório à área social da casa e quando não quiser a interação basta puxar os painéis”, salienta. A solução utilizada é muito trabalhada em projetos contemporâneos, onde o desejo por limpeza visual propõe o ocultamento de portas e a integração dos espaços quando necessário. Os projetos comerciais também são beneficiados por esses truques de camuflagem. É o que afirma Michele Salvador, proprietária de loja especializada em móveis planejados. Como exemplo, Michele cita em um de seus trabalhos corporativos, para o qual planejou um painel de correr para camuflar uma cozinha da área comercial da empresa. “Painéis são itens que não podem faltar na maioria dos projetos que executamos, e vêm demonstrando uma tendência em crescimento. São uma ótima opção para manter a privacidade, sem eliminar a integração”, pondera Michele, reforçando que, para utilizar este tipo de recurso é fundamental o desenvolvimento de um projeto planejado e exclusivo. Para quem pensa em lançar mão dos painéis de correr como recurso para camuflagem de cabos, portas eletrônicos ou outros, as profissionais fazem algumas ponderações. “Antes de usar esse recurso, a pessoa tem que saber exatamente o que gostaria de esconder de maneira esporádica no espaço. A partir dessa definição, um designer deverá ser contratado para que possa criar algo sob medida para atender determinada solicitação”, ensina Ivana. Já Ana Lívia ressalta que é importante estar atento ao o material mais adequado para a marcenaria de painéis de camuflagem. “Como a intenção é passar despercebido, o material deve ser condizente com o restante da decoração. Se estamos utilizando painéis de madeira, por exemplo, o melhor é seguir a mesma linha nestes ‘esconderijos’ também”, destaca a profissional, reforçando que sutileza deve ser palavra de ordem.

Michele, finaliza lembrando que esse tipo de tendência é um reflexo da busca cada vez maior pelo alinhamento entre a estética e a funcionalidade. “No passado, o cliente recebia seu imóvel e simplesmente dispunha ali seus móveis, mas hoje ele está mais preocupado com o bem estar dentro de casa. O mesmo acontece nos ambientes corporativos, em que a preocupação é tornar o ambiente o mais agradável possível”, arremata.

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ARQUITETURA

ENTRADA COLORIDA A porta amarela é só um detalhe de cor marcante no projeto desta casa em condomínio fechado Texto: Lidiane Gonçalves | Fotos: Vilmar Costa

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ma casa é muito mais do que um local para morar, é um aconchego que carrega muito da personalidade de seus donos. Para transformar a casa em um lar, é preciso que quem vá morar se sinta bem, confortável, vendo em cada detalhe seus gostos e preferências. Assim é a casa de porta amarela e linhas retas que ocupa 594m² em um condomínio de João Pessoa, projeto das arquitetas Fernanda Barros e Renata Aquino.

A começar pela porta de entrada, fabulosamente amarela, o projeto é moderno e funcional, como os donos precisavam. Ela é composta de térreo e primeiro pavimento, com um total de 594m² de área, em um condomínio de João Pessoa. Como inspiração do projeto, as arquitetas se espelharam nos próprios clientes. “Eles são bem modernos e queriam uma casa moderna e diferente. Procuramos utilizar linhas retas e aproveitar o formato do terreno, que já era bem

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irregular. A casa é de esquina e pudemos estudar e explorar mais a volumetria, já que ela tem duas frentes. Porém nesse caso específico um lado fica todo para oeste, assim tivemos de proteger este lado da incidência solar”, explicou a arquiteta Fernanda Barros. Outra peculiaridade da casa são portas e janelas de vidro, paredes inteiras feitas de vidro, como desejava o cliente, para ter uma casa bastante aberta. “Todas as esquadrias de vidro são no sistema Reiki, que podem ser totalmente abertas, integrando completamente sala com terraço. As esquadrias dos quartos também abrem completamente se for desejado. Tendo apenas um peitoril de vidro fixo para proteção. Como a casa é dentro de um condomínio fechado, ficou mais fácil utilizar o vidro, visto que os moradores já estão mais seguros dentro do condomínio. E em relação a privacidade toda a casa é dotada de cortinas e tem arcondicionado central, assim fica fácil fechar as cortinas quando for necessário”, disse. As esquadrias, que podem ser totalmente abertas, fazem com que a sala interaja com o terraço gourmet e a piscina, ampliando o espaço para receber os amigos, inclusive em festas com muitas pessoas. Na piscina, foi incorporada uma hidromassagem e a cozinha gourmet completa o cenário perfeito para a diversão, já que os clientes das arquitetas gostam de cozinhar para os amigos que recebem em casa. A porta amarela chama a atenção nos contrastes com o preto e as linhas retas que compõem a casa – fortes e delimitando o contorno do imóvel – dão personalidade e força ao projeto. Seguindo o desejo dos clientes de terem uma casa moderna e diferente, as arquitetas usaram o preto para a fachada e o branco para as partes internas, assim destacando os detalhes em cores exuberantes. Como ponto forte do projeto, Fernanda destaca o apelo visual diferente. “O uso das cores pretas na fachada e branca no interior, o uso de iluminação zenital na área da escada e o uso das cores fortes e primárias, como amarelo e azul”, relata. O paisagismo foi realizado por Julio Anjos e pensado juntamente com o escritório das arquitetas para valorizar mais ainda a edificação. “Foram criadas jardineiras altas em concreto ao lado da piscina para encobrir mais o muro lateral. E toda e entrada da edificação foi valorizada por plantas baixas, que não encobrissem a fachada, mas também desse uma certa privacidade para a piscina”, explicou. “Em toda área externa, entrada e em volta da piscina, foi utilizado um revestimento cimentício que não esquenta fornecendo um conforto térmico nesta área externa. Na área interna foi todo em porcelanato branco. Já a fachada foi pintada com uma tinta especial na cor preta. Foi criada uma edícula, anexa à piscina, com alumínio pintado de branco e teto de vidro com proteção solar, piso em tábua de madeira, para colocação futura de espreguiçadeiras”, detalhou Fernanda. Neste projeto as arquitetas mesclaram muito o seu talento com o gosto e os pedidos do cliente, mas para que isso dê certo, é preciso que a arquitetura

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concretize em volumes e formas o sonho do cliente. “Esta casa foi projetada por mim e pela arquiteta Renata Aquino, em parceria. Tivemos diversas reuniões com os clientes e fizemos diversas propostas, até chegar a esta proposta final que foi executada. É muito bom quando aparecem clientes que gostam e não tem medo de ousar, que querem sair da mesmice e fazer algo realmente diferente. Assim, com o aval deles, podemos pensar na casa de uma forma mais livre e com menos tabus geométricos, utilizando ao máximo as linhas retas e ângulos”, comemorou.

Arquiteta: Fernanda Barros Co-autora: Renata Aquino Projeto: Arquitetura de residência unifamiliar Revestimentos: Oca Revestimentos + imagens do projeto no site: www.artestudiorevista.com.br

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INTERIORES

PARA MELHOR ATENDER Projeto contemporâneo e funcional pensou no conforto do cliente de um empório, em Praia Grande (SP)

Texto: Débora Cristina | Fotos: Divulgação

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m espaço comercial deve ter produtos de qualidade, variedade e bom atendimento para ser referência. Mas não são só essas características que influenciam no gosto do consumidor. O ambiente e as sensações proporcionadas pelo projeto de interiores e pela iluminação também são muito importantes. Um empório no litoral de São Paulo recebeu dos arquitetos Fabricio Novaes e Gabriela Teixeira, em parceria com a Guido Iluminação, um projeto de estilo contemporâneo e pensado detalhadamente no conforto do cliente. Com 750m², o lugar conta com dois andares, cafeteria, padaria, mercearia e uma adega.

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Gabriela conta que o cliente os procurou e pediu um projeto sofisticado e moderno, algo que a cidade de Praia Grande nunca teve, explicando que o público alvo sempre comprava nos empórios de São Paulo e, por isso, os arquitetos precisavam trazer algo com o mesmo padrão e sofisticação. Já Fabricio destaca que um dos grandes diferenciais desse projeto é na parte dos detalhes revelados, há um fundo que chama atenção com o morro e vegetação, envolvendo o projeto no contexto natural onde a obra está inserida. “O empório dá fundos para um morro, com uma pedra e muitas plantas. Tentamos mostrar o máximo dessa vista maravilhosa


com um vidro com pé direito alto deixando a área para todos apreciarem”, revelou. A fachada do empório foi toda feita em gesso acartonado e placas cimentícias. É importante frisar que o detalhe igual ao ladrilho utilizado deu mais vida à fachada. Todos os banheiros foram revestidos com pastilhas na cor azul, bancada em quartzo branco (material que imita granito, mas que é uma resina), o forro revestido com madeira, um espelho de ponta a ponta. Os dois banheiros são acessíveis a pessoas portadoras de necessidades especiais. No hall dos banheiros, as paredes são revestidas com a mesma madeira, com a logo adesivada do empório. Destaque para a cuba azul que na verdade é uma fruteira em acrílico, do designer Mario Bellini. Já o salão ganhou piso todo em porcelanato cinza imitando

um concreto, com paredes pintadas, mobiliário em marcenaria em MDF revestido com laminados. Na cafeteria, o contraste entre o azul e branco se destacam com as mesas e cadeiras com linhas modernas. A iluminação indireta proporciona um efeito sofisticado e intimista ao ambiente. O balcão também recebeu um detalhe especial em LED azul, aprimorando o efeito visual. A mercearia recebeu luminárias com lâmpadas especiais, próprias para o destaque dos vários segmentos e produtos comercializados. Em uma mesa central, quatro grandes luminárias brancas dão grandiosidade ao ambiente e também ênfase aos produtos. Já para a padaria, iluminação direcionada para o balcão de pães e frios e também para as mesas distribuídas pelo salão. Na adega a preocupação foi

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para a escolha de lâmpadas de alta eficiência para o destaque dos rótulos dos vinhos, mantendo o clima agradável e aconchegante. “A iluminação do empório foi pensada para dar uma sensação de conforto ao cliente. Não tínhamos a intenção de parecer um

supermercado, queríamos algo mais aconchegante e depois, com o projeto pronto, percebemos que tudo ficou do jeito que imaginamos e isso é muito gratificante para nós e também para o cliente, que confiou em nosso trabalho”, disse Gabriela.

Arquitetos: Fabricio Novaes e Gabriela Teixeira Projeto: ambientação de interiores comercial Revestimento: Portobello • Cuba azul: Italiana Kartell • Iluminação: Guido Iluminação + imagens do projeto no site: www.artestudiorevista.com.br

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INTERIORES

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FALANDO OUTRA LÍNGUA Projeto de interiores de escola de idiomas prima pela funcionalidade

Texto: Neide Donato | Fotos: Divulgação

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m ambiente propício ao aprendizado, sem interferências, prático, funcional e ao mesmo tempo bonito. Foi com essa visão que a designer Adriana Mantovani projetou a ambientação de uma das maiores escolas de idiomas do país. Em parceria com a Guido Iluminação e Design, Adriana preferiu trabalhar com linhas retas e cores escuras, evidenciando o preto. Com essa feliz escolha, a designer conseguiu impor um clima intimista aconchegante, ideal inclusive para a recepção de clientes e da diretoria da escola. Para o sucesso do projeto, a iluminação foi um dos pontos chaves. Os detalhes ressaltados pela utilização dos recursos tecnológicos valorizaram cada item e contribuiu para imprimir o conceito do projeto.

A proposta de união do preto fosco das portas, rodapés e guarnições formaram uma linha contínua no ambiente, proporcionando o contraste direto com o piso que ganhou a cobertura de porcelanato branco. Para quebrar a luz externa e compor os ambientes, persianas pretas foram usadas. Na recepção, o trabalho feito nas paredes dá as boas vindas aos visitantes. Em uma delas, o revestimento amadeirado que é destacado pela iluminação pontual já na outra, uma reprodução de Nova York dá identidade ao local em um suntuoso papel de parede. O uso de espelhos nas paredes restantes, aliados ao mobiliário em preto fosco, poltronas de veludo e tapete em seda passa a sensação de ambiente familiar para alunos e funcionários.

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Na sala de reuniões, o espaço foi utilizado ao máximo. Uma mesa oval com um pendente destacando-a cria o ambiente ideal para tratar de assuntos importantes. Para a sala do financeiro, todo mobiliário foi feito em preto fosco com iluminação projetada para a área de trabalho, otimizando a produtividade. O ambiente projetado para a direção mescla a descontração com a seriedade que o cargo exige. Dividida em três ambientes, a sala conta com área de estar, espaço para reuniões e uma área destinada a mesa do diretor e atendimento. Um papel de parede com uma pintura de Romero Britto recebe os clientes de forma despojada e alegre. Ao adentrar, a mesa em laca preta em sintonia com o pendente que alia alta eficiência luminosa ao design, que conta com um detalhe customizado em vermelho, pensado especialmente para o projeto.

A mesa de reunião, também em laca preta, sai da parede revestida com papel amadeirado, que se une ao teto suspenso e espelhos em bronze ladeiam o fim da mesa duplicando-a. Dessa forma, um espaço integrado e harmonioso é produzido. Para a sala de estar, sofá de suede sobre tapete de seda. Nichos com iluminação de LED saem das paredes, dando a opção de adaptar o ambiente de acordo com o humor ou tipo de atendimento. Os banheiros foram trabalhados no intimismo, recebendo papeis de parede na cor preta, um com detalhes em dourado (banheiro da recepção) e outro em prata (para o diretor). Pias em preto absoluto com cubas cavadas, espelhos até o teto e iluminação de destaque finalizam o projeto que promove um ambiente mais confortável para o aprendizado de outro idioma.

Arquiteta: Adriana Mantovani Projeto: Ambientação de interiores coorporativo Iluminação: Guido Iluminação e Design + imagens do projeto no site: www.artestudiorevista.com.br

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VISÃO CONTEMPORÂNEA Projeto de clínica de oftalmologia em João Pessoa buscou impacto visual

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Texto: Débora Cristina | Fotos: Vilmar Costa

m projeto arrojado, com uma arquitetura contemporânea e surpreendente. Esse foi o resultado do trabalho do arquiteto Leonardo Maia ao fazer o Instituto Hospitalar de Tratamento da Visão, localizado no bairro de Tambauzinho, em João Pessoa, na Paraíba. O grande diferencial dele são os elementos metálicos com os vidros multifacetados da fachada do prédio, onde foi utilizada uma tecnologia apenas encontrada em grandes metrópoles. “Queríamos propor uma arquitetura que surpreendesse. Em nossas habituais viagens, verificamos que, em centros urbanos desenvolvidos, a arquitetura paramétrica e o uso inusitado dos materiais, com diversas nuances de aplicabilidade, são uma constante e uma metodologia que realmente veio parta ficar. A partir de então, imaginamos como trazer algo ligado ao universo da oftalmologia à nossa proposta de arquitetura. Fomos a fundo em pesquisas, chegando ao mecanismo da fisiologia do olho humano. Chegamos ao molde tridimensional de uma malha metálica, que é adornada por vidros refletentes recortados de forma multifacetada”, explicou Leonardo. E isso só foi possível, segundo ele, depois de vários testes em softwares até chegar a formatação da malha. A apresentação ao cliente realmente surpreendeu e ele acreditou na ideia, aprovando a novidade do arquiteto. Depois disso, a proposta arquitetônica foi entregue ao engenheiro Sandro Cabral, profissional que sempre calcula os

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estruturais dos projetos feitos por Leonardo Maia, para finalmente chegarem à execução. Como todo centro de saúde, um projeto de arquitetura ligado a esse segmento é passível de uma série de normas e aplicabilidades que devem ser observadas no processo de idealização e execução. Para isso, depois de longos estudos pautados por quesitos técnicos, o arquiteto pode submeter o projeto a análise de todos os órgãos competentes, tais como: Agevisa, Corpo de Bombeiros, Semob e Seplan. Para que o projeto pudesse ser apreciado e viabilizado, essas instituições observam quesitos ligados a acessibilidade, materiais especificados, normas construtivas e outras especificidades. Por isso, é preciso conhecimento técnico e habilitação profissional para assumir um projeto dessa natureza. O fluxograma foi pensado para funcionar da forma mais eficiente possível, onde setores de atendimento, administrativo, técnicos, logísticos fossem utilizados sem cruzamento. O prédio possui cinco pavimentos: subsolo, térreo, primeiro, segundo e

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um rooftop, que é um pavimento de cobertura onde existe um jardim ao ar livre, uma área de lazer moderna, revisitando um conceito também das grandes metrópoles de aproveitar melhor esses espaços. Leonardo Maia contou que o partido arquitetônico foi pautado no seguinte sistema: o elemento escultórico estaria enquadrado em um volume retangular que receberia um pano de fundo cinza. Dessa forma, bandejas superior e inferior abraçam os elementos, que ocultam as janelas, sem obstruir iluminação e ventilação do prédio, uma vez que eles estão descolados do edifício. Logo abaixo, o arquiteto colocou um bloco revestido em madeira para servir de ‘base’ para esse volume superior. O rooftop deveria então emergir de forma neutra e discreta no plano superior. De tão diferente e interessante, a fachada mantém um dialogo do edifício com o entorno. E não é pra menos... Ao cruzarmos a Epitácio Pessoa, avenida de maior fluxo da cidade, na via perpendicular de acesso ao prédio, nos surpreendemos com a implantação de um volume que causa impacto ao espectador.


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Mobiliário e iluminação em destaque A escolha de Leonardo Maia para o projeto do hospital de oftalmologia foi de um mobiliário em tons neutros, atemporais e aconchegantes, uma vez que espaços de saúde possuem o estigma de serem frios e impessoais. Assim, materiais como marcenaria fendi, balcão em romano bruto e mobiliários com cores perenes foram incorporados ao projeto. Já a iluminação também mereceu atenção especial. Os setores técnicos ganharam luz fria e regulável, uma vez que cada médico oftalmologista prefere regular a intensidade de luz que pretende trabalhar. “Pontuamos focos de efeito em detalhes que procuramos valorizar, realizando um casamento entre iluminação funcional e decorativa em todo o prédio”, contou o arquiteto.

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O oftalmologista Luiz Antônio Nóbrega, proprietário do Instituto Hospitalar de Tratamento da Visão, relatou que sabia que o projeto ficaria bem moderno, mas que realmente o resultado o surpreendeu e superou todas as expectativas. “Achei o projeto excelente, inovador, moderno. Gostei muito da relação que Leonardo Maia fez com a minha especialidade e assim que vi o desenho me apaixonei pelo projeto”, contou o médico. Ele disse ainda que todo mundo que chega à clínica de oftalmologia se impressiona e sempre comenta o quanto ele ficou bonito e arrojado. Luiz Antônio comentou ainda que além de toda a beleza estética, os elogios também são destinados ao conforto e a praticidade de todos os ambientes. “O projeto foi todo feito pensando no conforto dos pacientes e das pessoas que trabalham aqui. Além disso, todos os espaços foram muito bem aproveitados. Essa nova clínica é o meu sonho sendo realizado e cada vez mais entendo que o grande sonho só se constrói com muito trabalho e dedicação”, disse Luiz Antônio. Por tudo isso, Leonardo se orgulha muito do resultado desse projeto. “Acreditamos que fomos pioneiros nesse tipo de aplicabilidade em nossa região. Por esta razão, devido a esse desafio, foi um grande prazer elaborar, e mais ainda, ver concluído o projeto do Instituto Hospitalar de Tratamento da Visão”, finalizou o arquiteto.

Arquiteto: Leonardo Maia Co- autora: Wanessa Pereira

Projeto: Arquitetura de clínica

Revestimentos: OCA e Portobello Shop • Vidros: República Vidros

+ imagens do projeto no site: www.artestudiorevista.com.br

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Home Theater - Studio Arch- Mariana Aguiar e Renata Vieira - foto: Jomar Bragança

ILUMINAÇÃO

O PODER DA LUZ Iluminação de efeito torna os espaços mais leves e elegantes. Esse recurso é uma boa opção para quem quer surpreender com composições diferentes e irresistivelmente belas

Texto: Divulgação | Fotos: Divulgação

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á um recurso muito interessante na decoração que está pregando uma peça em muita gente! Trata-se da iluminação de efeito. A técnica cria uma ilusão de que móveis e objetos estão deslocados da superfície, criando a sensação de que os mesmos estão flutuando. Profissionais da arquitetura e decoração desvendam todo o mistério por trás dessa solução pra lá de criativa.

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“Este recurso funciona projetando um recuo na base do mobiliário para que seja embutida uma iluminação e é essa luz que cria o efeito visual de que os objetos estão suspensos, flutuando”, explica Nathália Otoni, arquitetas do escritório Óbvio Arquitetura, junto com Luciana Araújo. Esse efeito pode ser criado por meio de lâmpadas fluorescentes ou com fita de LED. A arquiteta Ivana Seabra gosta de usá-las em seus


Apartamento conceito da arquiteta Renata Mueller

projetos: “Além de durar mais tempo, as fitas de LED são mais finas e se camuflam bem nos mais variados objetos como cama, arandela, armário e outras, proporcionando um lindo efeito”, defende. Já outros profissionais, para criar esse inusitado efeito, são adeptos da lâmpada fluorescente. “A lâmpada fluorescente tubular tem uma iluminação mais intensa e isso faz com que esse efeito fique em maior evidência. Ao projetar o móvel, eu já insiro braçadeiras que vão segurar essas lâmpadas para escondê-las no móvel”, salienta a designer de interiores Iara Santos. Mas todo mundo concorda que essa solução é charmosa e muito especial: “Sem dúvidas, o móvel iluminado é uma peça que chama muita atenção na decoração. Além de dar importância ao objeto, a iluminação faz parte da ambientação do cômodo e compõe com a arquitetura o lugar”, enfatiza Luciana Araújo. Para quem curtiu essa ideia moderna e criativa, a notícia boa é que esse recurso pode ser utilizado em qualquer espaço da casa, tanto em móveis e objetos – que tem como base o piso - quanto naqueles fixados nas paredes. A iluminação de efeito traz muita leveza e um toque elegante aos ambientes. “Esse recurso proporciona mais sofisticação, leveza aos ambientes e proporcionam aos objetos maior destaque”, reforça Iara. Mas antes de lançar mão da iluminação de efeito é preciso ter alguns cuidados. “Não é legal abusar demais desse recurso, pois aquilo que seria algo de destaque fica banalizado na decoração. Outro detalhe importante é em relação à escolha do tom da luz. Jamais misture cores diferentes de luz para criar essa sensação. O ideal é apenas um tom, que pode ser mais frio ou mais quente, dependendo do projeto”, finaliza Ivana.

Apartamento conceito da arquiteta Renata Mueller

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REPORTAGEM

CERCADOS PELO COMÉRCIO A vida de quem ainda opta por morar no centro de João Pessoa, área há décadas dominada por lojas Texto: Lidiane Gonçalves | Fotos: Divulgação

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o início do século XX, quando foram realizadas em João Pessoa a urbanização das avenidas Epitácio Pessoa e Ministro José Américo de Almeida (conhecida como Beira-Rio), a população de João Pessoa começou a migrar em direção à praia e à Zona Sul. As residências, antes compridas e coladas, começaram a dar espaço a prédios mais largos, com jardins. Na década de 1920, a Avenida João Machado se tornava um concorrido boulevard para os ricos usineiros e para os comerciantes, que começavam a deixar a parte de cima dos sobrados do Centro, tornando aqueles prédios totalmente comerciais. No entanto, mesmo depois de passado um século do começo da saída das moradias dos comerciantes do Centro, algumas pessoas ainda resistem em morar no coração do centro comercial da capital paraibana. Algumas dessas residências, quase escondidas entre uma loja e outra, podem passar despercebidas. Por décadas dona Verônica Oliveira morou nos arredores do Parque Sólon de Lucena, em uma casa quase escondida pela fachada de uma livraria evangélica. Ela não revela a idade, mas diz que já passou dos 70 anos. “Vim para João Pessoa fazer o vestibular e naquela época me hospedei em uma casa na Lagoa. Depois disso fui me mudando, mas sempre pela Lagoa. Não consigo sair dessa Lagoa”, disse. Dona Verônica contou que viu o Edifício Manoel Pires ser construído. “Acho que foi na década de 1970, eu morava onde hoje é uma sapataria e vi cada tijolo ser colocado. Minha filha queria sair da casa onde moramos, perto do Sesc, e eu escolhi o Manoel Pires para morar. Assim, não saio da Lagoa e continuo perto de supermercado, de igreja, do comércio e posso fazer minhas aulas de pintura, hidroginástica, hidroterapia, sem depender de outras pessoas para me levar”, disse. A senhora mora com a filha de 26 anos, que, para dar mais conforto para a mãe, tinha o desejo de mudar da casa antiga onde moraram. A mudança aconteceu, mas a jovem filha não conseguiu sair do centro da cidade: mudou apenas de rua, não de bairro. Assim, dona Verônica continua com sua comodidade nostálgica no centro da cidade.

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Entre uma sapataria e uma ótica está a casa de dona Lysette Maria de Souza, a mais nova entre dez irmãos hoje tem 86 anos. “Nasci nessa casa. Ela não era assim, não tinha terraço. Da calçada ia direto para dentro de casa. Nasci aqui e daqui só saio para o cemitério”, disse em tom de brincadeira. Os motivos para não sair do Centro são os mesmos de dona Verônica: a comodidade e a não dependência. “Se eu for para um bairro, dependerei dos sobrinhos para me levar para o comércio, para o supermercado, para a igreja. Morando aqui, posso ir sozinha. Já até me acostumei com o barulho da rua. Aqui é o meu lugar, vi cada uma das casas ao meu redor se tornarem comércio, mas não vendo a minha. Já recebi proposta para vender por R$ 1,8 milhão, mas eu não saio daqui. Morar aqui é minha independência”, disse com um sorriso no rosto.


As desvantagens existem, mas são superadas pelas vantagens. “Já fui assaltada indo para a igreja no domingo, porque fica muito esquisito. Mas já dei um jeito, não uso mais nada de valor quando vou a igrejas aqui no Centro. Outra coisa que incomoda é o barulho desses carros de som: têm alguns tão potentes que incomodam, mas aí eu fecho as portas e fico na parte de trás da casa”, disse. “Mas isso não é nada quando penso na comodidade de não depender dos parentes para resolver minhas coisas”.

Edifícios Em meio aos grandes prédios comerciais que abrigam lojas conhecidas nacionalmente e também pequenos comércios existem pelo menos quatro grandes edifícios residenciais, construídos logo depois da abertura e urbanização dos principais corredores viários da cidade. O Edifício Santa Rita, na Avenida Getúlio Vargas, convocava para a sua primeira reunião de condomínio em 1968: era tão moderno, que ocupava uma página inteira de jornal para chamar seus moradores para impor às primeiras regras. Ainda hoje sua ocupação é total e a compra e locação de um apartamento são concorridas. O Edifício Caricé, que fica de frente para o Edifício Santa Rita, era anunciado como “nova era de progresso”. O prédio de apartamentos foi entregue em 1967 e hoje passa por uma reforma. Um pouco mais antigo, o edifício Presidente Epitácio Pessoa foi entregue aos moradores em 1958, hoje, apesar de não ter garagem para nenhum dos apartamentos, sua ocupação ainda é bastante concorrida. Localizado na Av. General Osório, esquina com a Rua da Areia, é popularmente conhecido como “18 Andares” e tem atualmente, em seus três primeiros andares, o Centro de Especialidades Odontológicas e uma Unidade de Saúde da Família. Há ainda o edifício Manoel Pires, conhecido por ser o prédio que abrigou, no térreo, as dependências

da antiga Mesbla (atualmente é outra loja que ocupa o local). No Parque Solón de Lucena, esquina com a Rua Barão do Abiaí, em uma das esquinas mais movimentadas da cidade, os moradores enfrentam sérios problemas com a poluição sonora. Marco Suassuna, arquiteto, urbanista e professor universitário, explica o porquê das pessoas ainda escolherem viverem no centro de uma cidade como João Pessoa, que abriga também o centro comercial da cidade. “Facilidade ao acesso de transporte, do comércio, oferta de serviços. As pessoas podem ir a pé pagar contas. No entanto, há também o vínculo com o lugar histórico, o vínculo cultural, a memória do lugar”, comentou. O arquiteto disse ainda que o negativo disso é a noite ociosa, a sensação de insegurança e de abandono do espaço público nos finais de semana e depois que o comércio fecha as portas. “O uso habitacional do Centro pode fazer com que esse lado negativo desapareça. Com moradias no centro da cidade, pode haver a atração de equipamentos comerciais que funcionem também no período da noite”, disse. Marco explicou que o modelo de cidade que trabalha em um local e mora nas periferias está caótico. Morar perto do trabalho seria a solução para evitar congestionamentos, muito tempo no trânsito e até para diminuir a poluição causada pelos carros. “O urbanista defende, para cidades sustentáveis, o conceito de cidades compactas, onde as pessoas morem perto do trabalho, ao invés de se deslocarem grandes distâncias”. Morando em um clássico edifício construído no meio do século XX ou em residências cercadas de comércio, morar no centro da cidade pode ser uma questão de comodidade – para algumas até questão de costume e tradição. E assim, o Centro continua com vida, mesmo aos finais de semana.

* A AE dedica esta matéria à dona Verônica Oliveira, que faleceu enquanto esta matéria estava sendo editada. Decidimos publicá-la em respeito a sua memória”

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Orla de João Pessoa

ESPECIAL

QUANTIDADE E QUALIDADE Uma reflexão sobre a casa popular brasileira, integração social e desenvolvimento urbano

Texto: Roberto Ghione | Foto: Zé Marques

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uitas casas não fazem cidade. Quantidade e qualidade são conceitos que nem sempre caminham de mãos dadas. O primeiro implica racionalização, economia, massificação, repetição; o segundo, exclusividade, personalidade, privacidade, identidade. Integrar conceitos tão díspares representa um desafio que deve ser enfrentado com inteligência, dedicação e sensibilidade. No campo da arquitetura e do urbanismo, esta dialética esteve sempre presente, particularmente desde a modernidade nas primeiras décadas do século XX. A intenção de socializar a arquitetura, de estimular processos produtivos racionalizados e sistematizados para atingir o grande número de pessoas que a sociedade industrial vislumbrava, de prever o desenvolvimento das cidades em condições higiênicas, funcionais e igualitárias, de assumir a estética da máquina como modelo de contemporaneidade, provocou a maior revolução na historia do urbanismo, com resultados questionados durante as últimas décadas do século passado. A negação das estruturas históricas das cidades, a mudança nos hábitos de convivência social e a massificação dos projetos resultantes foram o calcanhar de Aquiles dessas propostas. A escritora e ativista política Jane Jacobs (1916– 2006) desvendou estas questões no célebre livro intitulado Morte e Vida das Grandes Cidades Americanas (1), editado em 1961, ferindo de morte os conceitos que vinham até então construindo-destruindo as cidades com operações urbanas assentadas nas idéias de tábua rasa e projetos de arquitetura que tinham se tornado burocráticos e carentes de humanidade. Novos conceitos surgiram a partir dos anos 1960 (2), todos eles reivindicando as características sociais e espaciais das cidades históricas e a consideração das suas estruturas urbanas nos projetos contemporâneos, na tentativa de preservar e integrar as qualidades habitacionais consagradas socialmente com as demandas quantitativas do avassalante crescimento demográfico.

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Hoje, o Brasil vive um processo que reaviva o debate entre quantidade e qualidade. Em propagandas oficiais e nas periferias das cidades brasileiras podem verificar-se os resultados de algumas operações urbanas dos programas do Governo Federal denominados Minha Casa Minha Vida e de Aceleração do Crescimento, inspirados numa louvável iniciativa de superação das carências habitacionais e de integração urbana e social, assim como outras intervenções de governos estaduais ou de prefeituras. Em muitos deles, aqueles conceitos esclarecedores de Jane Jacobs e de numerosos críticos e urbanistas que lhe sucederam parecem ter virado pó. Projetos burocráticos, repetitivos, sem misturas de usos nem espaços estimulantes do convívio social dominam as soluções. Blocos coloridos (para ficar bem nas fotos da obra recém acabada) tentam dissimular uma persistente falta de imaginação nas soluções plásticas e urbanas resultantes. O pretexto das quantidades solicitadas por uma demanda social que não dá trégua parece ter anestesiado a capacidade criativa de arquitetos e urbanistas. Ou talvez o persistente interesse “prático” e lucrativo das construtoras ou o interesse político de nossos administradores em fazer rápido e vistoso antes das eleições, cortam qualquer iniciativa que fuja das soluções burocráticas e sem riscos.

A casa popular brasileira: produto ou processo? O problema da casa popular brasileira resulta complexo pela diversidade de atores e interesses envolvidos, situação que define modelos operativos diferenciados. Numa aproximação genérica à produção de casas populares, podemos definir um sistema que a considera um produto comercial que se compra como mais um objeto de consumo, dentro das leis de oferta e demanda do mercado imobiliário, ou como um processo de integração social de comunidades carentes, onde a


casa e o ambiente urbano constituem uma etapa dele. Para grupos sociais em ascensão (a nova classe média categorizada como “classe C”, definida pelo Programa Minha Casa Minha Vida como aquela com renda entre três e seis salários mínimos), cujas expectativas são as de integrar-se aos padrões de consumo das classes definidas como A e B, o conceito da casa como produto talvez resulte o mais adequado. As experiências realizadas comprovam, nestes conjuntos, o predomínio de critérios quantitativos acima dos qualitativos, especialmente os da relação custo-benefício, visando sempre o lucro das construtoras acima de qualquer interesse de integração urbana e qualificação habitacional. O pragmatismo destes empreendimentos leva a soluções repetitivas, com tipos padronizados, sem consideração dos aspectos culturais, climáticos e sociais, e com a transferência das pautas de exclusão social dos condomínios das classes A e B, como os muros de fechamento e as guaritas que impedem a integração social e urbana. As soluções normalmente passam pelo interesse comercial do empreendedor deixando escassa margem de manobra para a ação do arquiteto, que acaba refém de imposições que pouco contribuem para aperfeiçoar as unidades habitacionais e o ambiente urbano. A carência de legislação adequada para estas intervenções nos municípios contribui para a proliferação de casos deficitários em qualificação e integração urbana. Para os grupos sociais de menor poder aquisitivo, que constituem a grande maioria de pessoas sem casa própria, o caminho é mais complexo que uma simples operação de compra-venda de um bem imóvel. A necessidade de integração social num contexto estimulante e participativo torna-se prioridade e a qualificação urbana e habitacional uma conseqüência de um processo onde o arquiteto intervém num trabalho multidisciplinar. Nestes casos, a casa e o ambiente urbano que promovem a solidariedade e a convivência resultam no símbolo de uma conquista social, muito mais importante que um objeto que se compra como se fosse um automóvel ou um eletrodoméstico. Aplicar as leis de oferta-demanda do mercado imobiliário a este tipo de operações só resulta em unidades repetitivas, sem qualificação habitacional nem considerações sociais ou culturais, em terrenos baratos, normalmente afastados e desintegrados de contextos urbanos medianamente consolidados, situação que resulta no aprofundamento da segregação e exclusão social, cujas conseqüências repercutem em toda a sociedade. Um caminho percorrido com certo sucesso é a qualificação dos próprios assentamentos legalmente irregulares, onde os grupos consolidam a relação de pertencia a um território físico que os identifica e a preservação de vínculos sociais que reforçam a participação comunitária. Estes processos são de longo prazo, preferencialmente com participação ativa de governos e ONGs, e os resultados normalmente ficam fora dos procedimentos convencionais da prática projetual arquitetônica e urbanística. As explorações da autoconstrução e de processos racionalizados e apropriados constituem fontes de pesquisa técnica e aplicação pelos próprios moradores na construção de suas casas. A organização social e comunitária nos trabalhos de construção do próprio habitat acrescenta o valor de conquista do espaço, nestes casos muito mais integrador e eficiente que a operação de compra-venda imobiliária. O aprendizado do oficio de construir, assim como outras atividades recreativas e didáticas, melhora a condição social das pessoas e as torna aptas para entrar no mercado de trabalho. A construção das casas

e do ambiente urbano constitui parte de um processo de integração e promoção social que tende a melhorar a cultura e a convivência entre todos os habitantes da cidade. Por tanto, não é um problema que atinge só as pessoas necessitadas, mas ao conjunto da sociedade na procura de cidades urbanisticamente integradas e socialmente civilizadas. A casa como produto ou a casa como processo são caminhos alternativos para a solução do déficit habitacional brasileiro dirigidos a parcelas de população com diferentes pautas econômicas e sociais que precisam, da iniciativa privada e dos governos, ações coordenadas sob o mesmo desafio: resolver quantitativa e qualitativamente a crescente demanda de habitação popular.

Desafios e conclusões Na relação entre quantidade e qualidade, como conciliar aspetos aparentemente contraditórios? Uma adequada planificação urbana e de promoção social integrada, com horizontes de médio e longo prazo, imune às mudanças das administrações políticas, assumida e gerenciada por equipes técnicas competentes e persistentes aparece como um primeiro passo para transformar a realidade de amplos setores da sociedade. Uma consciência profissional orientada a dignificar e qualificar as condições de habitabilidade, com tipos arquitetônicos adaptados às variáveis culturais, sociais, geográficas e climáticas, que evite as soluções burocráticas e repetitivas, aparece como ingrediente substancial para a transformação do mapa urbano e social das nossas cidades. O estímulo para o desenvolvimento de tecnologias apropriadas ao desafio de construir muito e bom, com sistemas altamente racionalizados, adaptados aos diferentes sistemas de produção (da auto-ajuda de pequena escala ao empresarial de grandes empreendimentos) constitui o suporte técnico imprescindível para a qualificação das moradias populares brasileiras. A implementação de mecanismos de financiamento ágeis e desburocratizados contribuirá com o sucesso financeiro de empreendedores e o acesso à casa própria das classes menos favorecidas. O estímulo aos processos de urbanização formalizados com adequados sistemas de acessibilidade, saneamento, equipamentos sociais, sustentabilidade e novas centralidades permitirá obter uma cidade social e urbanisticamente integrada. O apoio de políticas participativas, o respeito às necessidades e desejos das famílias beneficiadas, a democracia como sistema de decisão, a imaginação e a criatividade como métodos de ação constituem mecanismos de efetividade comprovada para iniciar processos de profundas transformações urbanas e sociais. Fazer arquitetura significa fazer cidade e melhorar as condições sociais, mais ainda nos programas comentados, que oferecem uma oportunidade impar de integração social e de desenvolvimento urbano. Significa também mudar certos paradigmas, entre eles o da qualidade e dignidade dos projetos para as classes sociais menos favorecidas. Ao contrário do que muita gente pensa, pobre tem direito, mais que ninguém, a arquitetura de qualidade, que estimula a integração da cidade e a promoção social dos seus habitantes. Vale à pena refletir numa perspectiva de longo prazo para evitar construir bombas relógios de conseqüências sociais irreversíveis, que serão sofridas por toda a sociedade.


ACERVO

SENTINELAS DO PASSADO A casa grande, capela e casa de farinha da Fazenda Boi Só ainda estão lá, mesmo após sua transformação em condomínio fechado Texto: Renato Félix | Fotos: Divulgação

Alphaville - Fazenda Boi Só

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uando a minissérie O Auto da Compadecida precisou filmar as cenas na fazenda do major Antônio Morais (vivido por Paulo Gracindo) em 1998, a equipe, que estava em João Pessoa, nem precisou sair da cidade. Bastou ir ao Bairro dos Estados: em pleno bairro residencial quase totalmente urbano ainda existia a Fazenda Boi Só. Hoje, o local é um condomínio fechado, mas a casa grande e uma capela ainda estão lá, inclusive abertas à visitação pública (mesmo que restrita). O nome já é curioso. “Boi Só” vem, na verdade, de Boisson, a família francesa que era proprietária da fazenda. Pela dificuldade dos funcionários de falarem o nome da família, “Boisson” virou “Boi Só”, como dizem que os bailes “for all” da época da base militar americana em Natal, viraram “forró”.

A casa grande, de 750m2, a casa de farinha, de 93m2, e a Capela de Santa Luzia, de 69m2, são tombadas pelo Iphaep. A fazenda é de 1850, sendo que a casa de farinha foi construída no começo do século XX. O processo de restauro foi iniciado em 2008. A fazenda dos anos 1990 já era, claro, uma versão muito menor do que ela já tinha sido. As terras da Fazenda Boi Só deram origem não só ao Bairro dos Estados, mas a outros bairros da capital paraibana, como Manaíra e Mandacaru. Os habitantes do Bairro dos Estados que eram acostumados a conviver com a imagem bastante rural de uma fazenda em uma de suas principais vias, cercada por casas, bares e cada vez mais edifícios, há alguns anos vem tendo que se acostumar com a outra imagem: a de um moderno condomínio fechado que ocupou seu lugar. Felizmente, a casa grande e a capela ainda estão lá, como sentinelas do passado, representando aquilo que o Bairro dos Estados um dia foi.

Capela Fazenda Boi Só

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ARQUITETURA E CINEMA

DENTRO DA MENTE

A arquitetura dos sonhos é explorada no ótimo e complexo filme A Origem Texto: Renato Félix | Foto: Divulgação Arquiteta convidada: Andreína Fernandes

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omo funcionam os sonhos? A teoria que está no filme A Origem (2011), de Christopher Nolan, é que nós “construímos” a arquitetura dos nossos sonhos, e os povoamos, através do nosso subconsciente. O filme de Nolan vai mais à frente na sua trama de ficção científica: uma equipe é especialista em invadir sonhos e extrair informações. Até que recebe a missão de, ao contrário, plantar uma ideia específica no subconsciente de uma pessoa específica. Para isso, é preciso que a equipe crie os cenários apropriados. É complicado, mas o importante é saber que uma pessoa é designada para criar os cenários e essa pessoa é chamada de “arquiteta”. Para a história do filme, inclusive, o time comandado por Leonardo DiCaprio recruta para a função uma estudante de arquitetura vivida por Ellen Page. E além disso, há sonhos dentro de sonhos, cada um com um cenário diferente. “A arquitetura tem papel crucial no desenrolar da trama do filme. Ela atua como um personagem a mais que contribui com informações, provoca sensações, conta histórias, de acordo com os interesses e necessidades em cada situação-sonho do filme”, explica a arquiteta Andreína Fernandes. “Neste aspecto, observamos a formação de variados cenários, que mudam para se adequar à situação que se deseja criar. No filme, o cenário se molda para se tornar aprazível, excitante, confortável, angustiante, etc, para induzir o comportamento e influenciar a mente de quem o irá

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habitar. O cenário deve contextualizar o fato”. O plano é implantar na mente do personagem Fischer (Cillian Murphy) a ideia de desestruturar a empresa do pai. “Durante a articulação do plano, a arquiteta Ariadne comenta que imaginou a concretização do 3º nível de sonhos dentro de um hospital. Este seria um ambiente familiar e ao mesmo tempo simbólico para a vítima. O momento da despedida no leito de morte do pai seria ideal para a catarse almejada, a implantação da ideia quando Fischer estaria mais sensível”, comenta a arquiteta. Embora dirigida para “atender as necessidades do cliente”, a arquitetura nos sonhos de A Origem acabam revelando um pouco do sonhador. “Se o arquiteto é o ‘criador’ do sonho, tudo o que se encontra presente ali é fruto da sua imaginação, consequentemente, das impressões que ele tem sobre a própria realidade”, diz Andreína. “O arquiteto tem o papel de mediador, o intérprete que vai fazer o link entre o que se deseja e a concretização. Observamos no início do filme, quando Cobb (DiCaprio) e Arthur (Joseph Gordon-Levitt) estão tentando extrair informações da mente de Saito (Ken Watanabe) no segundo plano de sonhos, a projeção da Mal (Marion Cotillard) aparece para sabotar a operação, e decide atacar Arthur ao perceber que ele era o arquiteto do sonho: ‘A julgar pela decoração, esse sonho é seu, Arthur’. Toda produção artística, seja na música, literatura, arquitetura, tudo aquilo que implica criatividade, certamente trará consigo uma carga de


informações pessoais, das preferências e referências de seu autor”. Isso contraria uma das regras dos “arquitetos”: a arquitetura do sonho deveria ser construída a partir do zero, sem usar nada da própria memória. “No filme, Cobb alerta Ariadne sobre o risco de criar lugares inteiros a partir de memórias reais, para que o subconsciente da vítima não venha a tirar proveito do conhecimento prévio do espaço criado. Desde o primeiro teste, Ariadne é impelida a abandonar velhos conceitos para que possa imergir completamente na proposta de trabalho apresentada pela equipe de Cobb”, conta Andreína. “Ao ser requisitada para desenhar um labirinto, todas as tentativas comuns que a personagem apresentava eram rejeitadas imediatamente. Somente a partir do momento em que ela conseguiu ‘sair da caixa’, ou seja, abandonar as referências tradicionais encravadas em sua mente, foi que sua proposta foi aprovada com o labirinto circular”. Esse espírito tem relação com a história da arquitetura. “Destacamos alguns momentos de rompimento com o passado. O início do século XX traz consigo o surgimento da Bauhaus, escola alemã que integrava a arquitetura, o design e as artes plásticas, liderada por Walter Gropius. Dentre os preceitos desta escola, estava a abolição das disciplinas de história nos primeiros anos de faculdade, com o objetivo de proporcionar aos alunos a possibilidade de criação a partir de princípios racionais, sem intervenção ou influência de padrões antepassados”, explica a arquiteta. “Assim como foi ensinado a Ariadne no decorrer do filme, a ideia na Bauhaus era que os alunos se desprendessem de conceitos pré-determinados, produzindo uma arquitetura livre dos rígidos padrões estéticos aplicados anteriormente”. Mas é uma busca inglória. “Sabemos, contudo, que qualquer tipo de criação, mesmo que não se prenda

a conceitos e modelos históricos, carrega consigo as experiências vividas pelo seu criador, sua personalidade e suas preferências”, lembra a arquiteta. “Toda produção artística possui a identidade de quem a criou”. Embora a arquitetura do sonho precise ser verossímil, há elementos fora do normal em cada um desses sonhos - paradoxos e imagens estranhas, mais

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ou menos sutis. “Ariadne, em seu treinamento, aprende a brincar com os paradoxos arquitetônicos que suas capacidades enquanto arquiteta do sonho podem proporcionar. A parede de espelhos confrontados que promove visão infinita e possibilita a travessia do rio, o mundo sendo dobrado quebrando as leis físicas, e as escadarias de Penrose que criam a sensação de infinitude e labirinto são exemplos claros que ocorreram enquanto a personagem estava sendo treinada”, enumera. “Assistimos a uma sutil aplicação destes conceitos quando, na perseguição final no hotel, a câmera mostra uma grande escadaria vista de cima, e no entanto, ao mudar o ângulo da filmagem, a ilusão de ótica se revela. Os degraus são interrompidos logo após o patamar, e Arthur engana a projeção que o persegue, derrubando-a da escada”. O clímax do filme está em um nível ainda mais profundo de sonho, do qual talvez não seja possível voltar, onde Cobb encontra sua esposa morta, Mal. O “limbo”. “No limbo encontra-se representado o cenário construído por Cobb e Mal durante aproximadamente 50 anos. Nesse tempo todo, o casal moldou o mundo à sua maneira, sem nenhum tipo de limitação. À medida que iam idealizando em sua mente, as edificações iam surgindo num processo simultâneo de autodescobertas. Este tipo de liberdade criativa é o sonho de todo arquiteto”, analisa Andreína. “Observamos que o casal inicia sua jornada construindo a cidade ideal, que em sua concepção era repleta de arranha-céus e blocos habitacionais modernistas”, continua ela. “Uma vez criada a cidade utópica, funcional, coorporativa, percebemos que acontece uma mudança de valores dos personagens, que passam a resgatar memórias de seu passado, de sua vida real. Aos poucos é construído um bairro de lembranças, moradias que se desdobram ao longo de 76

uma passarela central, cuja leitura de cada uma das edificações certamente trará a leitura da própria história de vida do casal”. O perigo da criação da arquitetura de sonhos baseada em memórias pessoais – porque começa a ficar difícil distinguir sonho e realidade, chega ao máximo no “limbo”. “Em qualquer produção arquitetônica, por mais que se tente criar algo inteiramente inusitado, original, é impossível desvincular-se dos conhecimentos adquiridos ao longo do tempo, de tudo o que vivemos”, diz a arquiteta. “É a partir das experiências que nos tornamos o que somos. E é aquilo que somos que determina o que deixamos de herança para a humanidade”. Por fim, Andreína Fernandes faz uma conclusão. “De uma maneira geral, o filme pode ser compreendido como uma alusão à maneira imposta com que algumas ideias são colocadas em nossas vidas”, afirma. “Nos sonhos ou na vida real, o arquiteto tem o poder da sugestão, da argumentação e da manipulação do cenário, podendo induzir a percepções positivas ou negativas”.

A Origem (Inception, EUA, 2011). De Christopher Nolan Em DVD e blu-ray (Warner)


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ARQUITETURA E MODA

Projeto dos designers de interiores: Mauricio Christen e Claudio Schramm

CORES, ESTAMPAS E TEXTURAS PARA O NOVO ANO Texto: Germana Gonçalves | Fotos: Divulgação

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á quem diga que 2014 passou depressa, e concordo plenamente. A realidade é que 2015 está aí, e porque não ficar por dentro das principais tendências de cores, texturas e estampas para o novo ano? Então aí vai... O Brasil está em alta no mundo, e como não poderia ser diferente, sua tropicalidade de cores diversas e vibrantes continua forte nesta estação, porem esses tons são em sua maioria, como o verde, azul e rosa, explorados nas suas versões “candy colors”, clarinhas e suaves. A tendência ficou meio esquecida por um tempo, mas volta com força total, compondo looks divertidos e meigos. Já os tons de amarelo e

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laranja aparecem bem vibrantes e cítricos, dando às peças alegria e frescor. Tecidos com textura natural, como o linho, por exemplo, são coringas e é tendência básica, assim como os tecidos fluidos, transparentes e esvoaçantes, que em cortes amplos que valorizam o caimento, e estampas diversas ficam românticos e ideais para a estação mais quente do ano. E, por falar em estampas, as flores e listras são a pedida do momento, sendo o floral em sua versão média a grande, podendo ser mesclados diversos tamanhos em uma composição só, e as listras em uma versão mais colorida que nunca. Essas continuam clássicas e atemporais.


Estampas tropicais

Candy colors- Tufiduek-desfile-SPFW-verão 2015

Utilizar espaços subutilizados, pensar no meio ambiente... Tudo isso já é parte da mentalidade do mundo atual, e é assim que começo falando sobre as cores e texturas para 2015 na arquitetura e decoração. Texturas naturais e brutas, como pedras, fibras e madeira reaproveitada são forte tendência para a composição de ambientes e até vitrines, pois o termo sustentabilidade deixa de ser preferência e passa a ser requisito. Cores improváveis em ambientes que antes eram escondidos propositalmente, agora aparecem integradas com o todo, como nas cozinhas que surgem em tons de rosa pink, azul, amarelo, laranja e violeta. Outra forte tendência é a sobreposição de cores neutras, formando uma cartela sóbria e neutra, onde os tons de cinza substituem o bege e torna-se base de paletas, além das cores metálicas, que são super contemporâneas. O cobre alaranjado rouba de vez a cena dos tons metálicos, e surge como a cor do ano, em detalhes de luminárias, acessórios e peças decorativas. Por fim, cores suaves em tons rosa, pêssego e coral, se misturam com cores brutas como cinza escuro e até concreto, fazendo uma inter-relação com a igualdade de gênero, onde acaba de vez a convenção “lugar masculino” e “lugar feminino”. Para 2015, o estado de espírito primordial é o que ao mesmo tempo procura e acha aquele algo a mais que faz a diferença em nossas vidas! Feliz ano novo!!

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CARTA DO LEITOR

A AE quer ouvir você É com prazer que aceitamos a sua opinião, críticas, sugestões e elogios. Entre em contato conosco:

contato@artestudiorevista.com.br Os emails devem ser encaminhados, de preferência, com nome e cidade do remetente. A ARTESTUDIO reserva-se o direito de selecioná-las e resumi-las para publicação.

Gostaria de dar os parabéns a toda a equipe, a revista se destaca pela qualidade e dedicação aos assuntos abordados. Parabéns. Ana Lucia João Pessoa ___________________________________________ Fiquei encantada pelo último texto da revista 47 sobre “Gente que cobra favores”. Nunca imaginei que iria me identificar tanto, pois esse negócio de networking sempre me pareceu uma cadernetinha de cobrança de favores. Parabéns pela publicação. Niara Gomes Cabedelo ___________________________________________ Gostei muito do último texto no final da revista mais recente, muito bem escrito e uma verdade que sempre permeia o nosso cotidiano. Abraços! Carlos Lima João Pessoa ___________________________________________ Senti falta da matéria sobre arquitetura e cinema. Vão deixar de publicar? Gostaria que voltasse. Gosto de ver os filmes sobre outro ângulo. Abraço a toda equipe. Silvia Duarti

Silvia, a seção voltou já nesta edição ___________________________________________ Linda capa com o projeto da arquiteta Georgia Suassuna. Parabéns pela escolha!

ENDEREÇOS PROFISSIONAIS DESSA EDIÇÃO:

ADRIANA MANTOVANI Rua Azevedo Sodré, 156 - conj. 41- Gonzaga CEP 11055-051, Santos - SP +55 (13) 3384-1822 | 99788-3885 contato@adrianamantovani.com.br

FERNANDA BARROS Av. Senador Rui Carneiro, 300, Edf. Trade Office Center sala 810, Miramar - João Pessoa, PB CEP: 58032-100 +55 (83) 3031-0518 / 9951-0474 / 8894-0474 contato@fernandabarrosarq.com.br

FABRÍCIO NOVAES E GABRIELA TEIXEIRA Rua Azevedo Sodré, 156, conjunto 41 Santos – SP. CEP – 11055-051. +55 (013) 99115-9999 +55 (013) 99722-0130

LEONARDO MAIA Av. Senador Rui Carneiro, 300, Edf. Trade Office Center sala 09, Miramar, João Pessoa / PB CEP: 58032-100 +55 (83) 8898.2100 | 3021.1818 contato@leonardomaiaarquitetos.com

Carla Dias ___________________________________________ Belíssima capa da edição 47. Muita elegância, brilho e glamour. Parabéns a revista. Simone Oliveira ___________________________________________ Parabéns a revista AE, sempre com muito conteúdo, mas gostaria de ver mais assuntos falando sobre as nossas cidades paraibanas e seus desafios para o crescimento urbano. Abraço. Carlos Henrique Fonseca Cabedelo

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A REVISTA AE é uma publicação trimestral, com tiragem de 8 mil exemplares de distribuição gratuita e dirigida. A reprodução de seus artigos, fotografias e ilustrações requer autorização prévia e só poderá ser feita citando a sua fonte de origem. As colaborações e artigos publicados e fotos de divulgação são de responsabilidade exclusiva de seus autores, não comprometendo a revista, nem seus editores. Contato : +55 (83) 3021.8308 / 9857.1617 R. Dep.Tertuliano de Brito, 348 - Bairro dos Estados, João Pessoa / PB , CEP 58.030-044

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PONTO FINAL

CASA ARRUMADA

C

asa arrumada é assim: um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma boa entrada de luz. Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um cenário de novela. Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os móveis, afofando as almofadas... Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo: aqui tem vida... Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras e os enfeites brincam de trocar de lugar. Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha. Sofá sem mancha? Tapete sem fio puxado? Mesa sem marca de copo? Tá na cara que é casa sem festa. E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança. Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde. Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante, passaporte e vela de aniversário, tudo junto... Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda. A que está sempre pronta pros amigos, filhos... Netos, pros vizinhos... E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca ou namora a qualquer hora do dia. Casa com vida é aquela que a gente arruma pra ficar com a cara da gente. Arrume a sua casa todos os dias... Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela... E reconhecer nela o seu lugar.

“A VIDA é uma pedra de amolar; desgasta-nos ou afia-nos, conforme o metal de que somos feitos.” (George Bernard Shaw) 1856-1950

LENA GINO

http://mundoparalelog.blogspot.com.br/

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