Revista AMI EDIÇÃO 19

Page 1

AS MULHERES QUE QUE AMAM A ARTE!

ami | 1


2 | ami


ami | 3


4 | ami

x


x ADRIANO BRAGA CEO

+55 21 984764386 adriano@asxconsultlog.com.br

ami | 5


e

ÍNDICE 10| A Maravilhosa SOFONISBA ANGUISSOLA 18| ANNA BELLA GEIGER - A Arte que nos Situa 28| ADRIANA VAREJÃO 36| Editorial LÚDICO 46| ROMILDA PASTEZ 56| Editorial YOU YOUR BIKE AND A TRIP AROUND THE WORLD 66| A Colorida Arte de DIRCE BRAGA

6 | ami


e

FICHA TÉCNICA ANA VITORINO - Editora Chefe e Cultural THAIS FILGUEIRA - Editora de Moda e Fotografia JACY JUNIOR - Colunista Haute Couture JESSYCA AMENO - Repórter Cultural e Fotógrafa em MG ANA GRANDÉS - Diagramadora WILLIAN BRAGA - Tradutor e Revisor Inglês

AMI PORTUGAL MÁRCIA BARROS - Núcleo cultural RUY MORAES - Fotógrafo de moda ANNA DE CASTRO - TEXTO E CRÔNICA CAPA: Foto THAIS FILGUEIRA Modelo: MANUELA FATICA

Agradecimentos: Albina Pompermayer, Brenda Pignaton, Cris Aguiar, Dirce Braga, Jacy Junior, Luiz Fernando Moreira, Manuela Fatica, Romilda Patez.

edição19° Revista Ami contatorevistaami@gmail.com www.issuu.com/revistaami

ami | 7


Dirce Braga 8 | ami


Ao elaborar e criar esta edição pensei em fazê-la somente com mulheres. Uma grande homenagem as mulheres que amam a arte! Por isso, esta edição e totalmente produzida por mãos fortes e delicadas. Mãos de várias mulheres, que com o passar do tempo deixaram a marca feminina eternizada nas artes de uma nação. Dando o start a maravilhosa Sofonisba Anguissola, a italiana que foi uma pioneira da pintura que alcançou reconhecimento e notoriedade entre seus contemporâneos. Foi uma das primeiras mulheres artistas a estabelecer uma reputação internacional com um substancial corpo de trabalho existente. Já o trabalho da brasileira Anna Bella Geiger passeia com muita facilidade e leveza pela pintura, desenho, gravura, fotografia, vídeo e publicações, a pluralidade de procedimentos e materiais é uma das principais características do trabalho de Anna. A Carioca Adriana Varejão é uma artista plástica contemporânea, seus trabalhos refletem desde o colonialismo europeu no Brasil, como também os diversos temas como sensualidade e violência em suas peças. Ela também é um forte nome nos trabalhos com referências aos estilos arquitetônicos. Romilda Patez que mora em Vitoria no Espirito Santo, busca na natureza a fonte de inspiração, nem tanto as paisagens, mas os elementos. É como se o olhar selecionasse detalhes, dando um zoom e tomando aquele elemento mais de uma forma subjetiva do que mimética. Por fim, mas tão importante quanto, uma pequena homenagem a minha querida mãe, de onde aprendi a capacidade de enxergar o além da beleza e da cor. Minha mãe, Dirce Braga, artista intuitiva e de criatividade sem igual. Para ela pintar é um dom divino. Em suas palavras “A Arte serve para aprimorar e nos manter sadios, nossa mente precisa desse exercício. A arte é a musculação para o cérebro. Principalmente para mim, é um momento muito especial do dia quando estou exercitando o meu cérebro, exercitando a minha criatividade e a minha imaginação. As cores, elas extravasam realmente o que tenho dentro de mim, alegria, vontade de viver, poder passar a todas as pessoas muita vida, muita energia, muito calor, muito desejo realmente de ser feliz”. Feliz Natal e Abençoado e produtivo ano de 2021

Ana Vitorino

ami | 9


A Maravilhosa

Sofonisba

Anguissola 10 | ami


ami | 11


Sofonisba Anguissola Foi uma pioneira da pintura que alcançou reconhecimento e notoriedade entre seus contemporâneos. Foi uma das primeiras mulheres artistas a estabelecer uma reputação internacional com um substancial corpo de trabalho existente.

S

praticando repetidamente com o próprio rosto e o de sua família.

Sofonisba e Elena estudaram com Bernardino Campi, um artista de retrato. Quando ele se mudou da cidade, Sofonisba passou a ter aulas com Bernardino Gatti. Este treinamento a preparou para ensinar três de suas irmãs mais novas — Lúcia, Elena e Anna Maria. Isto também abriu um Suas circunstâncias são incomuns importante precedente, encorajanconsiderando que seu pai não era do outros pintores italianos a aceitaum artista, mas um nobre da cidade rem estudantes mulheres. de Cremona no norte da Itália. Ela sabia como quebrar os estereótipos Amilcare Anguissola continuou a ensociais atribuídos às mulheres em recorajar sua filha mais velha em sua lação à prática artística, nos quais arte e até mesmo enviou uma carta havia um ceticismo profundamente a Michelangelo falando sobre ela. enraizado sobre suas habilidades. Em resposta Michelangelo enviou alguns de seus desenhos a Sofonisba, Sofonisba pertencia a uma grande os quais ela copiou em óleo, retorfamília de origem nobre, cujo pai, nando a ele para que fossem criticaAmilcare Anguissola, promoveu e dos. colheu a formação artística de suas filhas como parte da educação huSeu treinamento completo é demanística considerada adequada monstrado em seus numerosos autorpara as mulheres jovens. Proveu uma retratos (até então, nenhuma mulher educação de qualidade às suas fihavia produzido tantos), nos quais relhas — Sofonisba, Elena, Lúcia, Eurofletia os ideais femininos do momenpa, Anna Maria e Minerva — que tito: discrição, pudor, modéstia ou pruveram a oportunidade de aprender dência. Ela fez pequenas obras de latim, música e pintura. A família tambusto ou meia figura que serviram bém incluía um filho, Asdrúbal, nascipara espalhar sua imagem e suas vádo mais tarde e o único dos filhos que rias virtudes. não se tornou pintor. Sofonisba Anguissola iniciou sua educação artística entre 11 a 13 anos, seguindo as recomendações formativas das classes aristocráticas. Ela recebeu quatro aulas de música, dança, literatura, desenho e pintura; Destacou-se como cartunista e, principalmente, como retratista,

12 | ami

Graças ao destacamento diplomático de seu pai, esses autorretratos se tornaram cartas de apresentação e raras peças de colecionador que forjaram sua fama inicial como pintora.


S

ami | 13


Por volta de seus vinte anos, Sofonisba já era suficientemente bem conhecida para ser convidada a juntar-se à corte de Filipe II em Madrid. Lá chegou em 1560 e ficou pelo menos dez anos. Em 1570, casou-se com um lorde siciliano, Fabrizzio de Moncada, em uma cerimônia elaborada pelos monarcas espanhóis que também forneceram um generoso dote. Mas, apenas quatro anos depois, Fabrizzio morreu e Anguissola foi chamada de volta à Espanha. No caminho da Sicília para Madrid, ela decidiu visitar sua família e, durante a viagem, apaixonou-se pelo capitão do navio, Orazio Lomellino, com quem casou-se logo após desembarcarem. Foram viver em Palermo onde Sofonisba foi visitada por um jovem pintor, Anthony Dyck. Anos depois, foi encontrado um desenho no portfólio do pintor que mostrava uma mulher mais velha, cega, mas ainda ativa, juntamente com anotações dos conselhos profissionais de Anguissola. Antes de chegar à Espanha, Sofonisba Anguissola fez alguns retratos de personagens ilustres de sua época que atestam sua fama e seus dotes para um gênero em que a importância das escolas venezianas e lombardas é apreciada. Sofonisba praticou, acima de tudo, o retrato e alcançou uma fama que, graças às suas origens aristocráticas e à sua auréola de mulher virtuosa, levou à sua chegada à corte espanhola, onde era dama da rainha Elizabeth de Valois, além de retratar quase todos os membros da família real.

14 | ami

S


S

ami | 15


Nenhum dos retratos feitos na Espanha é assinado. Sua posição oficial no tribunal não era a de uma pintora e, de fato, suas pinturas eram recompensadas com ricos tecidos ou joias. Nas cópias atualmente reconhecidas por sua mão, nota-se sua adaptação aos modos de retrato da corte espanhol. A pintora produziu um grande número de autorretratos. Uma razão citada para o fato é que, sendo a primeira mulher pintora amplamente reconhecida em sua época, ela tornou-se uma celebridade e sua imagem estava em alta. Ela variava o tamanho e o formato de suas pinturas, retratando a si própria tocando um instrumento musical, segurando um livro, pintando um tema religioso e até mesmo sendo retratada por Campi, seu professor. É difícil avaliar a obra da pintora como um todo, pois a maioria de suas pinturas no período espanhol foram destruídas em um incêndio no século XVII. Mesmo assim, está claro que ela era uma inovadora retratista do final do período Renascentista, cuja exposição internacional inspirou muitas jovens mulheres a tornarem-se pintoras profissionais. Relativamente pouco se sabe sobre as cinco irmãs artistas de Sofonisba. Elena, a segunda irmã mais velha, parou de pintar quando ficou enclausurada em um convento.

16 | ami

S

Minerva morreu cedo. Europa e Anna Maria casaram-se, e ambas pintavam temas religiosos e também retratos. Lúcia, a terceira irmã, viveu apenas até meados dos vinte anos, mas sua habilidade artística é considerada equivalente à de Sofonisba. Uma prova da notável fama de Sofonisba foi a visita que ela recebeu alguns meses antes de morrer do jovem Antonio van Dyck, em Palermo. Uma página do diário de viagem desse pintor e seu retrato da dama anciã lembram o emotivo encontro entre os dois artistas.


S

ami | 17


A N N A B E L L A GEIGER

18 | ami


A ARTE QUE NOS SITUA

Por Ana Vitorino

ami | 19


A obra de Anna Bella Geiger tem a influência do seu casamento de 60 anos com o geógrafo brasileiro Pedro Geiger. No final dos anos 1970, ela se dedicou à geografia, cartografia e mapas e suas questões sociais, políticas e ideológicas. A ideia em realizar obras com estes signos foi se amadurecendo por mais de 20 anos até se concretizar nas grandes obras cartográficas. A cartografia é a ciência que trata da concepção, produção, difusão, utilização e estudo dos mapas. Inventando um mundo e seus lugares, interpretando à sua maneira o espaço, há casos em que ela é aplicada como método de acompanhamento para traçar percursos poéticos, sendo aquilo que força a pensar e ver o todo do processo do artista pesquisador, dando-se como possibilidade de caminho a ser traçado no trabalho, como uma atenção voltada ao processo em curso. Entendendo que o método cartográfico convoca a um exercício cognitivo peculiar do pesquisador, uma vez que, estando voltado para o traçado de um campo problemático, requer uma cognição muito mais capaz de inventar o mundo do que reconhecê-lo. A cartografia recebe a atribuição de método em Gilles Deleuze e Félix Guattari, este que visa acompanhar um processo, e não representar um objeto. A cartografia atribuída como método, cria seus próprios movimentos, seus próprios desvios. É um projeto que pede passagem, que fala, que incorpora sentimentos, que

20 | ami

emociona. É um mapa do presente que demarca um conjunto de fragmentos, em eterno movimento de produção. Para a Arte, a cartografia é a experimentação do pensamento ancorado no real, é a experiência entendida como um saber-fazer, isto é, um saber que emerge do fazer , com base na construção do conhecimento e da atenção que configura o campo perceptivo do processo em curso. O sentido da cartografia poética é de acompanhamento de percursos, aplicação em processos de produção, conexões de rede ou rizomas. O método cartográfico não tem regras a seguir, é um movimento concentrado na experiência, na localização de pistas e de signos do processo em curso. Durante o regime militar o que se lia nos escritos de Anna Bella Geiger era uma total falta de perspectiva e grandes limitações pois a arte contava apenas com um golpe de sorte. Em uma outra reflexão sobre o sistema cultural e artístico Anna Bella envolve o uso de mapas. Em “Sobre a arte”, de 1976, por exemplo, sobre o mapa-múndi, ela escreveu a frase “correntes culturais dependentes”.


Orbis-Descriptio-série-Fronteiriços-1995

ami | 21


Também em “O Novo Atlas e O Novo Atlas II”, ambos de 1977, a artista utilizou mapas, demonstrando os espaços que representavam a política hegemônica e dominante do Primeiro Mundo. Anna relacionou espaços geográficos aos artísticos, sobrepôs textos e mapas, exagerou as proporções e demonstrou que a cartografia também é uma representação ideológica. Os mapas tornaram-se imagens comuns na mídia no período devido as reconfigurações políticas. Inúmeros artistas a partir da década de 1960 começaram a usar os mapas, mais por uma opção política até mesmo do que uma opção como arte. Cildo Meirelles4, em Arte física: cordões/30km de linha estendidos, de 1969, procura sugestões que tem relação com os mapas: escalas, proporção, distância, delimitações de áreas e de limites, estes muitas vezes imaginários. Peter Wollen pesquisou o uso de mapas nas obras de artistas que retratavam a situação política e social de um pais e artistas conceituais e concluiu que “mapas podem servir não apenas como instrumentos políticos, mas também como estimulantes para a imaginação; ligados entre si, podem delinear uma forma de visão utópica compartilhada igualmente pela visão de ambos artistas, visão que nos oferece novas formas de pensar sobre o mundo em que vivemos e, em consequência, novas formas de pensar sobre a sua transformação.

22 | ami

É exatamente nos anos de 1970 que Anna estabelece uma ruptura importante em sua trajetória, a partir da superação do conceito de arte como expressão do seu eu mais profundo, ela assume uma postura crítica em relação à arte, a sua natureza e as suas conexões com o momento sociopolítico brasileiro e internacional. Nesse período, porém, em que a artista passa a operar a ruptura de uma linha conceitual, percebe-se que, ao pensar a arte como sistema inserido no âmbito do capitalismo internacional, ela não deixa de refletir sobre si mesma e sobre a sua circunstância, agora dentro de uma linha crítica que leva em conta a sua situação de brasileira de primeira geração, vivendo em um país repleto de contradições políticas e sociais, sob um regime de exceção. O trabalho de Anna Bella Geiger passeia com muita facilidade e leveza pela pintura, desenho, gravura, fotografia, vídeo e publicações, a pluralidade de procedimentos e materiais é uma das principais características do trabalho de Anna, enquanto faz uma crítica a ideia de brasilidade ou identidade nacional, ela utiliza a cartografia como recurso para problematizar a correlação entre fronteiras geográficas e territórios culturais, como foi apresentado na 8ª Bienal do Mercosul realizada em Porto Alegre em 2011.


Geiger, Anna Bella · Variáveis -1978 Serigrafia e bordado à máquina sobre linho - 80 x 80 cm.

ami | 23


No livro "Novo Atlas 1", Anna primeiramente apresenta cinco intervenções em imagens do mapa-múndi, inserindo nelas textos datilografados, sempre de caráter crítico, relativos à dominação cultural. Na sexta página do livro, ela reproduz quatro imagens de mapa-múndi. A primeira segue os padrões de proporções convencionais entre os continentes e sob a imagem, a artista coloca a legenda "O Mundo". Nas demais, ela segue a estratégia de repetir a imagem convencional. Mas, ela dá uma conotação diferenciada daquelas convencionais da carta geográfica, alterando a proporção dos continentes, a partir de pressupostos de dominação econômica (legenda: "Do petróleo"), política (legenda: "Desenvolvimento e Subdesenvolvimento) e cultural (Do Domínio Cultural Ocidental) que regem as relações de poder entre os países e os continentes. Nessas relações e suposições, refletem representações do mundo e concepções de arte que, assim como os mapas, também produzem uma realidade, na medida em que o representam. Anna Bella Geiger reúne em linhas datilografadas diversos topoi sobre arte, às vezes legíveis, outras vezes encobertos pelas formas de continentes ou obscurecidos por superposições parciais de letras e grupos de palavras. Esses topois determinam os até onde é possível alcançar a percepção, na medida em que funcionam como asserções paradigmáticas sobre a relação entre as supostas orientações dominadas

24 | ami

e marginais, estilos internacionais e nacionais ou sobre a distinção entre centros e periferias, províncias e metrópoles, recepções, heranças, tradições, influências e esferas de validade, dependências e espaços livres. O falso sentido de objetivo da cartografia, que em sua representação estabelece critérios, é desmascarada nos quatro mapas-múndi subsequentes. A imagem do mundo aparece determinada por diferentes indicadores: na trama do quadriculado regular do espaço, como divisão das reservas de petróleo, na relação entre regiões desenvolvidas e subdesenvolvidas e na dependência da primazia cultural da Cultura Ocidental. O confronto de diversos sistemas de orientação deixa claro que orientação, como a própria língua denuncia, tem sempre uma direção determinada, que estabelece a imagem da realidade, na medida em que se torna a perspectiva da percepção. No mapa a realidade aparece como relação ou atitude e, deste modo, relativa às diversas relações que se estabelecem. Assim como a suposta neutralidade do mapa é pura ficção, sua representação espacial não passa de uma projeção. A realidade deixa de aparecer como ilusão, passando a ser uma falsa simulação. As outras sequências do “Novo Atlas I e II” e outras obras-padrão, seguem o modelo do abecedário, em que o cruzamento de textos, mapas, quadros, imagens são construídas e reunidas sob o título comum de “Iniciações Primárias”.


O processo de criação de realidades imaginárias baseia-se em processos de seleção e identificação em que se transmite e desenvolvem identidades. As leis desta criação são analisadas pela artista desde o começo dos anos 60, em sua discussão com o abstracionismo geométrico e informal, sobretudo no trabalho que realizou no Atelier do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, de que é um dos representantes que mais se sobressai. A passagem da mancha amorfa e anônima para o contorno novamente reconhecível de um determinado continente, como mostra a estampa borrada do “Novo Atlas I”, é um jogo com os esquemas de percepção, que desdobra seu potencial no âmbito de um determinado contexto, através da transformação, metamorfose e alteração. Na última página do livro, a artista apresenta dois mapas da América Latina, sobrepondo textos também de caráter crítico às imagens. Neles, os limites atuais entre o Brasil e os países vizinhos são alterados ou realçados, quer pela alusão gráfica ao Tratado de Tordesilhas, quer pelo realce e consequente exclusão da imagem do Brasil dentro do contexto da América Latina. Esses dois mapas, como será visto, são importantes para as transformações da poética da artista, pelo fato de apontarem, pela primeira vez, para a preocupação de Anna Bella Geiger com a arbitrariedade das linhas de fronteira, questão gráfica/formal que ressurgirá em suas pinturas dos anos 1980.

Os mapas também podem ser pensados como objetos estéticos, abertos por diferentes métodos, conectáveis e modificáveis, que se prestam a interpretações poéticas, incorporam valores culturais e crenças políticas ao figurarem e reconfigurarem o espaço, como definem Deleuze e Guatarri. Os anos 1990 são marcados por séries como a “série Fronteiriços”, em que novos materiais foram usados. As formas cartográficas reaparecem vazadas em metal dentro de caixas de ferro ou gavetas de mapotecas preenchidas por encáustica. No limite entre gravura, pintura e objeto, essas obras são o emblema perfeito de toda sua produção na medida em que atualizam as séries anteriores. Esse universo dividido, visível nos mapas e nas pinturas, permanecerá como questão crucial nas peças de metal e cera que Geiger produzirá a partir dos anos 1990. Situando-se, como bem lembrou Cocchiarale no texto citado, “entre os territórios consagrados do objeto, da gravura, da pintura, ao mesmo tempo em que continuam a representar aquela cisão, essas peças são a encarnação desse limite, onde se constituiu e se constitui a obra de Geiger”.

ami | 25


Nessa peça, e em todas as outras da série, Geiger opõe à lógica das arbitrariedades geopolíticas a dimensão do afeto e da memória que insistem em resinificar os dispositivos do poder a partir de um olhar singular, marcado pela História coletiva e individual.

26 | ami


Na exposição individual “Em Gavetas de Memórias”, a artista explora os sentidos e significados do mapa-múndi em suas representações e construções. A exposição é formada por um documentário com todas as etapas de produção de 12 gavetas, durante um período de 25 anos, e seis gravuras com mapas. A Gavetas de Memórias foi inspirada nas lembranças de quando o pai da artista usava latas de aveia para fazer objetos e formas de biscoito. Após ver uma gaveta de arquivo velho à venda em uma loja de antiguidades, Anna Bella Geiger idealizou o suporte para seus mapas. Marcas que eternizam as suas obras e valorizam ainda mais a sua personalidade forte e inquieta.

ami | 27


Adriana

28 | ami


VarejĂŁo

ami | 29


ADRIANA VAREJÃO

Stedelijk Museum, Amsterdam, Netherlands; Fundação Calouste GulÉ uma artista plástica brasileira con- benkian, Lisboa, Portugal. temporânea. Ficou conhecida pelos seus traba- Através da releitura de elemenlhos que refletem o colonialismo tos visuais incorporados à cultura europeu no Brasil, e também por brasileira pela colonização, como trabalhar diversos temas como sen- a pintura de azulejos portugueses, sualidade e violência em suas pe- ou a referência à crueza e agresças. sividade da matéria nos trabalhos com “carne”, a artista discute reEla também é um forte nome nos lações paradoxais entre sensualitrabalhos com referências aos esti- dade e dor (fetiches), violência e los arquitetônicos. exuberância. Seus trabalhos trazem referências voltadas para a arquiAdriana nasceu no Rio de Janeiro tetura, inspirada em espaços como em 1964, mas passou parte da in- açougues, botequins, saunas, piscifância em Brasília. É um dos nomes nas etc, e abordam questões tradiem projeção na cena artística bra- cionais da pintura, como cor, textusileira e internacional, participando ra e perspectiva. de várias exposições dentro das mais respeitadas instituições na Eu- Ganhou vários prêmios e títulos ropa. como, por exemplo, o Prêmio Mario Pedrosa (artista de linguagem Em 1981, ingressou no curso de en- contemporânea), da Associagenharia da Pontifícia Universidade ção Brasileira de Críticos de Arte Católica do Rio de Janeiro, aban- (ABCA), em 2013. Em 2012, ganhou donando-o no ano seguinte. o Grande Prêmio da Crítica, cateA partir de 1983, estudou nos cur- goria Artes Visuais, da Associação sos livres da Escola de Artes Visu- Paulista de Críticos de Arte (APCA), ais do Parque Lage, Rio de Janei- pela exposição “Histórias às marro, e alugou um ateliê no bairro do gens”. Em 2011 foi premiada com o Horto com outros estudantes. Em título da Ordem do Mérito Cultural 1985, viajou para Nova York e teve pelo Ministério da Cultura do Brasil contato com a pintura do alemão e em 2008 ganhou uma Medalha Anselm Kiefer e do americano Phi- de Chevalier des Arts et Lettres do lip Guston. Em 1986, recebeu o Prê- governo francês. mio Aquisição do 9º Salão Nacional de Artes Plásticas, promovido pela Fundação Nacional de Artes. Realizou sua primeira exposição individual em 1989, na U-ABC,

30 | ami


ami | 31


Nas obras mais conhecidas da artista plástica, temos o perfil das suas criações, as influências dos azulejos, do momento histórico do colonialismo e os contrastes de cores e emoções sempre presentes em suas telas. Marca das pinturas de Adriana Varejão, os azulejos tornaram-se signo de sua obra única e inovadora. A artista plástica é capaz de se inspirar com as coisas mais inusitadas possíveis como banheiros públicos, saunas no oriente médio e mercados de carne no Rio de Janeiro. O resultado é uma obra expressivamente viva e maravilhosa!

32 | ami


ami | 33


34 | ami


ami | 35


36 | ami


LĂşdico

ami | 37


38 | ami


ami | 39


40 | ami


ami | 41


42 | ami


ami | 43


Foto THAIS FILGUEIRA @thais_filgueira Direção de Arte e Produção ANA VITORINO @anavitorinoestilo Modelo MANUELA FATICA @manufatica Beleza CRIS MAKEUP @crisaguiarmakeup @crislaneaguiar Figurino TEATRO & FANTASIAS @teatrofantasias Acessórios TRISKLE @triskle_o_sagrado_feminino Acessórios cabeça ACERVO REVISTA AMI Assitente de Produção de Moda BRUNY MENDES @bruny_mendes

44 | ami


ami | 45


Romilda Romilda Patez Patez É de longa data minha paixão pela arte; sempre quis ser artista. Cursei artes na UFES, onde também fiz mestrado nessa mesma área. Vivo em Vitória onde tenho atelier a cerca de 16 anos, e é para lá que vou todos os dias de manhã, onde mergulho na pintura, que é o ofício que escolhi para minha vida. Posso dizer que a arte constitui uma das maiores motivações da minha existência, pode faltar muitas coisas, mas meus pincéis e minhas tintas sempre estarão a postos! Prontos e próximos.

Romilda Patez @ROMILDAPATEZ www.romildapatez.com.br

46 | ami


ami | 47


Sem querer afirmar, não me considero uma artista totalmente figurativa; no sentido de que minha figuração não busca ter um compromisso com a realidade, a proposta é que seja uma interpretação subjetiva da realidade. Conexões e parentescos podem ser identificados, às vezes muito até, mas os elementos de composição são posicionados como se gravitassem no espaço, sem obedecer uma lógica, sem estar assentados ou presos a um contexto reconhecível. São formas onde a cor tem um papel imperativo, e os elementos vão surgindo de acordo com a necessidade do equilíbrio tonal do espaço. A escolha das cores inicia, na maioria das vezes de forma intuitiva, mas existe um aprendizado antes para entender suas propriedades, que pressuponho; já automatizados, e que vai dando os aportes necessários quando solicitados. Na minha percepção a cor é o ponto focal do meu trabalho e ela sempre se inclina a uma paleta luminosa.

48 | ami


ami | 49


50 | ami


ami | 51


O que me inspira: A natureza é sempre uma fonte de inspiração para mim, nem tanto as paisagens, mas os elementos. É como se meu olhar selecionasse certos detalhes, dando um zoom e tomando aquele elemento mais de uma forma subjetiva do que mimética. Ao final de tudo, meu próprio trabalho me inspira, meus cadernos de estudos são uma fonte inesgotável de inspiração para outros trabalhos e às vezes uma pintura funciona como ponto de partida para outra pintura, como uma costura que vai alinhavando uma história na outra, e no final sempre guardam coisas em comum.

Quando olho para minhas pinturas quase sempre vejo um jardim, mas eu chamo de Jardim imaginário, trabalho em consonância com o júbilo da cor e suas combinações e se for necessário fazer associações com a imagética do mundo, está tudo bem.

52 | ami


ami | 53


Série : RETORNO AO MUNDO MARAVILHOSO Retorno ao mundo maravilhoso é o nome da série de pinturas que tenho trabalhado de maneira recorrente nos últimos dois anos, onde exploro elementos e cores que remetem a um certo jardim que chamo de “jardim interior”, porque não tem compromisso formal com a realidade, mas com um estado de espírito, um lugar que existe dentro de nós mesmos onde podemos acessar a paz e a tranquilidade; esse é o “Mundo Maravilhoso” a que me refiro... Em meio ao caos do mundo, ao tempo e ao entorno que nos cerca, diante do cansaço, de tudo que requisita nosso desempenho e atenção, compreendo que há um lugar, onde podemos retornar à nossa essência e descansar. É isso que sinto quando estou nessas pinturas, é isso que busco oferecer ao espectador. Torço para que minha pintura possa levar uma energia boa, de alegria, de conforto e descontração. Que possa ornar em sintonia com o ambiente onde as pessoas transitam, comem, convivem e celebram a vida.

54 | ami


ami | 55


You Your bike

56 | ami


ami | 57


58 | ami


LOOK @sejaoddisland ami | 59


LOOK @shoulder

60 | ami


ami | 61


LOOK @sejaoddisland

62 | ami


LOOK @shoulder ami | 63


LOOK @shoulder 64 | ami


Foto THAIS FILGUEIRA

Direção de Arte e Produção ANA VITORINO

Modelo BRENDA PIGNATON

Figurino ODD ISLAND ESTUDIO PINHEIRO - SHOULDER

Maquiagem CRIS MAKEUP

Agencia de Modelos NAV MODEL MANAGEMENT ami | 65


A Colorida arte de

Dirce Braga Por ANA VITORINO 66 | ami


ami | 67


Tudo me inspira, gostaria muito de saber desenhar o “realismo”. Desenhar uma rosa como ela é. Isso é um dom divino!

68 | ami


ami | 69


Eu descobri que gostava de desenhar com o meu pai, que quando ele viu o meu desenho, ainda pequena, ele observou, corrigiu e me fez desenhar novamente. Deste momento até hoje eu não parei de pintar, desenhar, fazer colagens. Tudo, que possa expressar os sentimentos e momentos. Sou autodidata, eu gosto muito de observar outros pintores, gosto de perceber as formas e cores, entender como é o traçado do artista e como a sua mão leva a pincelada ao papel. A Arte serve para aprimorar e nos manter sadios, nossa mente precisa desse exercício. A arte é a musculação para o cérebro. Principalmente para mim, é um momento muito especial do dia quando estou exercitando o meu cérebro, exercitando a minha criatividade a minha imaginação. Nunca me canso, eu gosto de fazer as mesmas imagens de outra maneira, sempre buscando o aperfeiçoamento o aprimoramento. E isso me dá um grande prazer, quando consigo ver um desenho com algo a mais. Quanto as cores, elas extravasam realmente o que tenho dentro de mim, alegria, vontade de viver, poder passar a todas as

70 | ami

pessoas muita vida, muita energia, muito calor, muito desejo realmente de ser feliz. Quanto mais colorido, mais me agrada, mais me deixa feliz. Tudo que é colorido me fascina, toda a fantasia me atrai, aliás gosto mais da fantasia do que da realidade, pois ela transmite encantamento, beleza e isso eu sinto no meu interior.


ami | 71


72 | ami


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.