O Ginasiano 2

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O GINASIANO Informativo dedicado aos veteranos do “Amaral Wagner”

On Line Ano I Nº 2

MORISA E VIRGÍNIA: COLEGUISMO SEXAGENÁRIO.

ENTREVISTAS - HUMOR - FOTOS - EDITORIAL


Conversa com o Editor

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audações ginasianas! É com muita alegria que publico o 2º número de “O Ginasiano”, nosso informativo formato tabloide. E neste momento, passados 62 anos da primeira turma iniciar suas aulas no saudoso Ginásio Estadual “Amaral Wagner”, depois de criar o grupo no extinto Orkut e tentar realizar um encontro dos 50 anos do “Amaral”; depois de criar o grupo no Facebook e de promover (com a colaboração do Odair Gea) cinco eventos de confraternização e agora o da publicação do tabloide, sinto que meus dois sonhos foram finalmente realizados: O de reencontrar depois de mais de meio século velhos colegas de sala de aula e o de fazer um jornalzinho 2

com maior circulação. Sei que é muita pretensão de minha parte chamar “O Ginasiano” de periódico, pois há muito que se aprender e desenvolver nessa empreitada, mas... Para quem o fazia a lápis, em papel almaço, apenas um exemplar, que circulava às escondidas durante a aula, já é uma grande inovação tecnológica, não acham? Neste número, entrevistamos duas inseparáveis colegas ginasianas, representantes da 1ª Turma que se formou em nosso ginásio, que apesar da distância física: (cerca de 3000 km), se comunicam diariamente em uma amizade que ultrapassa os 60 anos! Estou me referindo à Morisa e Virgínia (matéria de capa). Temos também a colaboração da Sônia Ba

tista, com uma excelente crônica em alusão ao dia da língua portuguesa; nossa galeria de fotos e o cantinho descontração. Leiam esta edição e opinem, enviem sugestões e críticas construtivas, colaborem com artigos interessantes para os ginasianos veteranos. Abraços a todos. E até a próxima. Dilson de Oliveira Nunes

(Editor Responsável por “O Ginasiano”).

NUNCA MAIS ESTAREMOS DISPERSOS

O Ginasiano


5 DE MAIO: DIA DA LÍNGUA garçom; quando acendemos quê sair pra night de bike, se o abajur pra tomar um cham- dava tranquilamente pra sair PORTUGUESA Professor Eduardo Affonso. panhe reclinados no divã ou pra noite de bicicleta?

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olta e meia alguém olha meio atravessado quando escrevo “leiaute”, “becape” ou “apigreide” – possivelmente uma pessoa que não se avexa de escrever “futebol”, “nocaute” e “sanduíche”. Deve se achar um craque no idioma, me esnobando sem saber que “craque” se escrevia “crack” no tempo em que “gol” era “goal”, “beque” era “back” e “pênalti” era “penalty”. E possivelmente ignorando que esnobar venha de “snob”. Quem é contra a invasão das palavras estrangeiras (ou do seu aportuguesamento) parece desconsiderar que todas as línguas do mundo se tocam, como se falar fosse um enorme beijo planetário. As palavras saltam de uma língua para outra, gotículas de saliva circulando em beijos mais ou menos ardentes, dependendo da afinidade entre os falantes. E o português é uma língua que beija bem. Quando falamos “azul”, estamos falando árabe. E quando folheamos um almanaque, procuramos um alfaiate, subimos uma alvenaria, colocamos um fio de azeite, espetamos um alfinete na almofada, anotamos um algarismo. Falamos francês quando vamos ao balé, usamos casaco marrom, fazemos uma maquete com vidro fumê, quando comemos um croquete ou pedimos uma omelete ao O Ginasiano

quando um sutiã provoca um frisson. Falamos tupi ao pedir um açaí, um suco de abacaxi ou de pitanga; quando vemos um urubu ou um sabiá, ficamos de tocaia, votamos no Tiririca, botamos o braço na tipoia, armamos um sururu, comemos mandioca (ou aipim), regamos uma samambaia, deixamos a peteca cair. Quando comemos moqueca capixaba, tocamos cuíca, cantamos a Garota de Ipanema. Dá pra imaginar a Bahia sem a capoeira, o acarajé, o dendê, o vatapá, o axé, o afoxé, os orixás, o agogô, os atabaques, os abadás, os babalorixás, as mandingas, os balangandãs? Tudo isso veio no coração dos infames “navios negreiros”. As palavras estrangeiras sempre entraram sem pedir licença, feito uma tsunami. E muitas vezes nos pegando de surpresa, como numa blitz. Posso estar falando grego, e estou mesmo. Sou ateu, apoio a eutanásia, gosto de metáforas, adoro bibliotecas, detesto conversar ao telefone, já passei por várias cirurgias. E não consigo imaginar quais palavras usaríamos para a pizza, a lasanha, o risoto, se a máfia da língua italiana não tivesse contrabandeado esse vocabulário junto com a sua culinária. Há, claro, os exageros. Ninguém precisa de um “delivery” se pode fazer uma “entrega”, ou anunciar uma “sale” se se trata de uma “liquidação”. Pra

Mas a língua portuguesa também se insinua dentro das bocas falantes de outros idiomas. Os japoneses chamam capitão de “kapitan”, copo de “koppu”, pão de “pan”, sabão de “shabon”. Tudo culpa nossa. Como o café, que deixou de ser apenas o grão e a bebida, para ser também o lugar onde é bebido. E a banana, tão fácil de pronunciar quanto de descascar, e que por isso foi incorporada tal e qual a um sem-fim de idiomas. E o caju, que virou “cashew” em inglês (eles nunca iam acertar a pronúncia mesmo). “Fetish” vem do nosso fetiche, e não o contrário. “Mandarim”, seja o idioma, seja o funcionário que manda, vem do portuguesíssimo verbo “mandar”. O americano chama melaço de “molasses”, mosquito de “mosquito” e piranha, de “pirana” – não chega a ser a conquista da América, mas é um começo. Tudo isso é a propósito do 5 de maio, Dia da Língua Portuguesa, cada vez mais inculta e nem por isso menos bela. Uma língua viva, vibrante, maleável, promíscua – vai de boca em boca, bebendo de todas as fontes, lambendo o que vê pela frente. Mais de oitocentos anos, e com um tesão* de vinte e poucos” . *O Word corrige a palavra “tesão” para “excitação” (Nota do Editor). Colaboração da ginasiana Sônia Batista.

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Entrevista Com nossa colega ginasiana Morisa Del Pichia. A Morisa Del Pichia é, (assim como a Virgínia Almeida), representante da 1ª turma que se formou no “Amaral”, razão pela qual decidimos fazer uma entrevista com ambas (em separado, pois uma está na Praia Grande SP e a outra está em Natal, RN). Como curiosidade,

constatamos

(para quem não sabe) que o famoso poeta Menotti Del Pichia, autor de obras consagradas, como: “Juca Mulato” e “Moisés”, foi seu primo em terceiro grau. Saiba também que sua mãe fundou a primeira escola de datilografia de Utinga, próxima ao Cine Irajá.

Morisa, quais são as tuas lembranças do ginásio, teus anseios, teus medos e tuas alegrias? Como minha mãe (infelizmente) foi educada erroneamente, achava

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que a mulher não precisava estudar porque iria casar; (esse é um detalhe para vocês entenderem melhor a narrativa). Eu terminei o primário com 9 anos e meio mas só aos 16 anos foi que adentrei ao ginásio “Amaral Wagner”, depois da família inteira brigar com ela! Portanto, eu era bem mais madura do que a minha turma de classe e por consequência eu sempre era a primeira em todas as matérias, a melhor nota era sempre a minha! Porque é evidente que eu me dedicava ao extremo nos estudos porque tinha sido muito difícil a mamãe me deixar estudar, meus anseios me levou a ser perfeccionista e muito autocrítica! Meus medos? Nunca tive medo de nada! Minhas alegrias se resumiam em dar risadas com as colegas e às vezes

gargalhar quando o motivo era muito engraçado. Adorávamos os bailinhos que fazíamos no salão da Escola de Datilografia da mamãe! Eu atraia muitos rapazes, porém eu era muito tímida e envergonhada! A minha amiga Virginia que me cutucava dizendo “aquele ali não tira os olhos de você... Olha boba!” Mas quem disse que eu olhava! (risos) Ficava sim vermelha, sentindo um calor abrasador no rosto (risos). Não posso deixar aqui, de agradecer à família Galucci da qual tinha grande amizade pela Elvira, éramos como irmãs. E foram suas irmãs, a “Beleza” (Dona Carolina, mãe da Encarnação e da Vicentina) e a que era madrinha da Elvira: Dona Constância, que custearam meus estudos! Compraram-me CONTINUA NA PÁGINA 6 O Ginasiano


62 anos de amizade

Entrevista com nossa colega ginasiana Virgínia Almeida, pedagoga* e representante (junto com a Morisa) da 1ª turma de formandos do “Amaral”.

Virgínia, quais são as tuas lembranças do ginásio, teus anseios, teus medos e tuas alegrias? Tenho as mais doces lembranças daqueles dias em que nada nos impedia de ser feliz, dos recreios alegres em que brincávamos de “Telefone sem Fio” brincadeira que permitia ao garoto aproveitar para chegar mais perto da garota que estivesse enamorado porque o diretor, Sr. Luiz e a servente, Dona Julia, ficavam vigiando e mandando um para cada lado... Dos professores, uns severos outros mais descontraídos, mas todos nos cobravam disciplina e atenção durante as aulas. Em qual instituição de ensino você continuou seus estudos? Magistério no Instituto O Ginasiano

de Ensino José Bonifácio em Santos. Artes Práticas na Faculdade de Educação E Ciências Humanas em Santos. Pedagogia na Faculdade de Ciências e Letras de Ribeirão Pires. Vários Cursos de Atualização na Área de Educação, Orientação Educacional, Administração Escolar e Supervisão Escolar... O que a fez abraçar essa sua profissão? Realizar o sonho de poder alfabetizar crianças tornando-as seres pensantes e participativos com um método em que se sentissem feliz no processo... Por qual motivo está residindo no litoral? Depois de morar no interior de São Paulo por mais de doze anos resolvi mudar para uma cidade que não tivesse tantos obstáculos para caminhar e usufruir do sol e da paisagem... Aqui me sinto livre como um pássaro... Qual sua opinião sobre os Encontros do Amaral? Um ótimo momento para trocarmos ideias,

relembrar os dias felizes da adolescência e poder dar e receber abraços de carinho sincero. Fale-me de sua amizade com a colega ginasiana Morisa. O que ela significa para você? Nossa amizade será eterna e me faz sentir que terei sempre alguém para contar, nas horas boas e não tão boas, porque mesmo sem notícias uma da outra por um longo tempo, quando nos reencontramos nas páginas do Facebook, o contato tornou-se frequente.

MOMENTO DESCONTRAÇÃO: O idioma inglês é mesmo às avessas... Pra empurrar é PUSH, para puxar é PULL. QUE-BROU em Inglês é: BRO-KE.

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C O N T I N U A Ç Ã O meu marido Marcus DA PÁGINA 4. sonhávamos em sair de São Paulo depois que os materiais e até o meu o meu filho Ricardo foi uniforme, pois minha ameaçado por um trommãe se negava a comprar badinha com um estilete qualquer coisa, para me ao voltar da escola, porapoiar nos estudos! Moque queria o tênis dele tivo pelo qual sou etere foi salvo por um jornanamente grata a elas. leiro que viu e enfrentou Em qual instituição de o meliante que acabou ensino você continuou fugindo! E desde aí não seus estudos? tínhamos mais sossêgo Cursei o Magistério, (Esem relação aos nossos cola Normal) no Instituto três filhos: Ricardo, Ferde Ensino Cel Bonifácio nando e Cláudia. O MarDe Carvalho em São Cacus fazendo uma visita etano do Sul. para o irmão engenheiro O que a fez abraçar essa que tinha sido transfesua atual profissão? rido de SP para Natal e Eu fiz a Escola Normal que estava com hepatiporque esse curso a te chegando a Natal, se mamãe permitiu. Então encantou com a cidade eu fiz sem aptidão nemuito limpa, tranquila e nhuma para lecionar e, bela! Aí quando voltou portanto não consegui a a SP nos disse que hacarreira de professora! via encontrado o local Na verdade, me tornei para onde nós iriamos Chef de Cuisine! nos mudar. Fizemos Por qual motivo está uma reunião em família, residindo no Nordeste? onde cada um elaborou Na década de 80 eu e

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uma lista dos prós e os contras e os prós... Venceram unanimemente! Fechamos nossa rotisserie e a cantina dentro do Banco do Brasil, agência Vila Mariana e viemos para Natal e aqui montamos o nosso restaurante italiano: a “Casa da Focaccia”, cujo slogan era: “O pastel que não é pastel... A pizza que não é pizza... É Focaccia”. E estamos vivendo aqui há 32 anos. Meu marido, infelizmente aos 57 anos faleceu. Foi em 2001. Qual sua opinião sobre os Eventos do Amaral? Graças a Internet a Virgínia me achou em Natal e ficamos felizes de nos encontrar depois de 54 anos sem nos vermos, Ficamos nos correspondendo e quando fui a SP em 2012, aproveitei para visitá-la na Praia Grande e foi um encontro maravilhoso...! Fiquei O Ginasiano


três dias na casa dela; e demos muitas gargalhadas; e foi quando o Dilson Nunes, ao entrar em contato com ela, se conectou comigo e me falou do grupo “Amaral Wagner” e fiquei encantada quando soube dos encontros que estavam sendo realizados! Participei em 2017 e achei

fantástico encontrar ex-colegas, depois de tantos anos e me emocionei muito! Dou os parabéns ao Dilson Nunes que organiza esses eventos com toda a competência, nos mínimos detalhes! Adorei esse encontro no qual participei! Conte-nos de sua amizade com a colega gina-

siana Virgínia. O que ela significa para você? No ginásio, minha melhor amiga era a Virginia de Almeida e após 56 anos, posso dizer que ela é uma pessoa adorável e continua sendo uma amiga maravilhosa, que eu amo de coração!

O Ginasiano

Dilson O. Nunes

Cantinho descontração

AO PÉ DA LETRA A palavra “pé” está presente em todas as atividades: O dançarino é pé-de-valsa, o verdureiro vende pé de alface, o andarilho anda à pé, o salão tem pé-direito, o jogador tem pé-de-atleta, o gripado pegou um pé-de-vento, o loro dá o pé, o afobado mete o pé na jaca, o atrapalhado mete os pés pelas mãos, o soldado está em pé-de-guerra, a água deu pé, a cerimônia é de lava-pés, caiu um pé d’água,o cabeleireiro faz o pé na nuca, o malandro diz que não dá pé, o rosto tem pé-de-galinha, o caipira quer um pé de prosa...

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Galeria de Fotos Três gerações de advogados. Doutores: Cássio Mello, Sérgio Ruas e Mauro Russo.

Duas Sônias: Batista e Moro Bueno 8

O Ginasiano


Galeria de Fotos Antigas Mário Guima (ao centro) e família - Década de 1950

Dilson - G.E. “Dr. Júlio Pignatari” - 1954 O Ginasiano

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PRÓXIMA EDIÇÃO:

OS GINASIANOS QUE ESTUDARAM E SE CONHECERAM NO “AMARAL” E SE CASARAM. 10

O Ginasiano


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