BOLETIM DER HUT: Cultura Teuto-Brasileira na Cabeça - mês de junho de 2017

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BOLETIM “DER HUT” - CULTURA TEUTO-BRASILEIRA NA CABEÇA, WWW.PORTAL25.COM- junho de 2017

Tradições, Música, Dança, Turismo, Idioma, Gastronomia e Sociedade Brasil, junho de 2017. Ano 1, nº 07. p.01.

Verão na Alemanha

Uma estação de sol e longos dias para aproveitar ao ar livre Por Elisangela Leitzke

No verão as pessoas se tornam mais expansivas e alegres. Se no Brasil isso M é tão visível, na Alemanha, onde as não estações do ano são bem definidas e o inverno é rigososo, isso é evidente. Nos meses mais quentes, com média de 22º, o clima é muito agradável, sendo passível usar vestimentas elegantes sem suar bicas d’ água, tendo ainda um maior aproveitamento do tempo. Enquanto no inverno amanhece depois das 08h e anoitece antes das 17h, no dia 21 de junho começa a estação mais quente, no dia mais longo do ano. Neste período o amanhecer na Alemanha ocorre por volta das 04h da manhã e o anoitecer em torno de 21:00h. Dependendo da posição geográfica em questão: a Alemanha não é nem de longe tão grande quanto o Brasil, porém, existem algumas centenas de quilômetros entre Munique - bem ao sul - e Hamburgo - bem ao norte -, que fazem uma diferença sensível no nascer e no pôr-do-sol. A estação do calor traz alto astral, pessoas alegres, dias ensolarados e noites festivas. É quando todos vão para as ruas se divertir. Os amigos se encontram para se exercitar nos parques ou praticar o FKK (este eu explico num artigo futuro), fazer um passeio ou uma viagem de bicicleta ou de moto (esta última impossível no inverno, já que do contrário haveria muitos acidentes sobre duas rodas por causa de gelo na pista, por exemplo). Os colegas se encontram depois do trabalho para tomar uma cerveja no Biergarten favorito levando seu piquenique ou não. As amigas vão

fazer um assado à beira do rio (um churrasco diferente do que os brasileiros entendem sob esta denominação), nadar na água fria dos rios e lagos e fazer longos passeios nas montanhas. Os casais vão tomar um sorvete com a família e aproveitar os dias lindos com os filhos que brincam à luz solar. Não importa ser esportista nato ou simplesmente querer se divertir ao ar livre. Importa abastecer o organismo de sol isso mesmo Sonne tanken - e alegria para os dias mais cinzentos que virão depois. Quem viajou para a Alemanha e conheceu pessoas mais acanhadas no inverno se surpreende ao chegar num verão de - raros, no entanto, existentes 40 graus. Verdade que com essa temperatura os alemães estão quase desfalecendo - porque derreter não basta. Entretanto, como o clima em sua maioria é seco e a umidade do ar bem menor que o normal brasileiro - excetuando talvez Brasília - os dias são deliciosos, mesmo que estejam bastante quentes. De todo jeito, nunca esqueça de levar um casaquinho se ficar noite adentro. As madrugadas costumam ser bastante frescas. Se sair de Dirndl ou Lederhose para um evento, jamais deixe de carregar o seu Janker para cobrir-se um tempo depois do sol se pôr. Se você morar ou estiver de passagem pe-

Aproveitando o sol à beira do Rio Spree, no verão de Berlim. Foto: Denis Simões.

la Baviera, estar trajado é sempre in: no verão costuma ser uma ótima pedida. Deixe-se contaminar por essa gostosa alegria de viver dos alemães no verão. É quase um fenômeno da natureza, já que este povo dá um valor crucial aos dias quentes e ensolarados porque são muito mais raros aqui do que em terras tupiniquins.

Frauenchiemsee, uma ilha na Baviera. Foto: Denis Simões. Apoio:

Foto do topo: Foto: Claudia Santana


Brasil, junho de 2017. Ano 1, nº 07. Pág. 02

Editorial Rápidas

Por que realizar um encontro de danças?

O Encontro de Grupos em Poço das Antas, em 2016, trouxe inovações. Foto: Denis Simões

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esde a década de 1980 se intensificou no sul do Brasil a realização dos Encontros de Grupos de Danças Alemãs. Na prática se trata de uma reunião de dançarinos amadores de melodias populares alemãs que, em um baile festivo em um sábado à noite, dançam usando reproduções de trajes típicos das áreas de língua alemã da Europa e confraternizam com comes e bebes. Esse tipo de evento não nasceu em terras brasileiras e sim vem da Alemanha e Áustria; contudo, com o passar das décadas, foi se ajustando um modelo brasileiro dessa proposta: inicia com a recepção aos presentes, ocorre o jantar colonial - com pratos regionais -, os grupos dançam coreografias tradicionais, a entidade anfitriã faz uma apresentação especial e uma banda ao vivo passa a animar um baile típico. Essa sinopse traz em vários momentos elementos que se destacam como centrais nesses eventos: danças, cultura alemã e reunião de pessoas. Todavia, na atualidade, chegando a quase quatro décadas desses encontros sendo realizados no Brasil, eles ainda seguem seu propósito original? Qual motivo de serem realizados? O Prof. Benno Heumann já disse em várias oportunidades que essa proposta de evento está em crise e perdendo seu foco, como ocorreu com os Bailes de Corais - que seguem formato similar, só que voltados ao canto coral. O que pareceria lógico é que as pessoas seguem a um encontro de Grupos de Danças Alemãs para dançar Volkstänze e se reunirem como amigos, mas não é o que realmente se vê. Os Encontros de Grupos, em seu formato tradicional, parecem estar descolad-

BOLETIM “DER HUT” CULTURA TEUTO-BRASILEIRA NA CABEÇA, EM “FRENTE E VERSO” Coordenação: Denis Gerson Simões; Conselho Editorial: Claudia Santana, Denis Simões, Elisangela Leitzke, Felix Mugwyler; Textos: Denis Simões, Elisangela

Junho abre a estação do calor na Europa. Mas não pense em calor à brasileira. Por isso, se fores para a Alemanha leve seu casaquinho, principalmente para o turno da noite. ?

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os das novas gerações de dançarinos. São reproduzidos cada vez mais de forma mecânica, tendo como justificativa de que "sempre foi assim", seguindo um roteiro que pouco é valorizado pelos presentes, perdendo seu foco: as danças populares. É mais importante o baile, que cada vez mais perde as músicas típicas, do que todo a parte anterior. Vê-se, assim, que o desvio do foco fragiliza esse tipo de festa, que sofre da diminuição em número de participantes e cada vez mais se assemelha a um baile convencional, a baixos custos e com músicas da moda. Perde-se aos poucos o caráter tradicional, folclórico, e prevalece o objetivo da sustentabilidade financeira do promotor da atividade - o que não deixa de ser legítimo. Desta forma volta-se ao questionamento: qual o motivo de realizar um encontro de grupos de danças? Não se tem uma resposta simples. O que se sabe é que se faz necessário ajustar essa proposta de festa para novamente atingir seu objetivo sóciocultural, mesmo que por outra estrutura, mais atrativa aos seus participantes e servindo de manutenção ao fomento das danças populares. Caso se optar pela proposta de enxugar os momentos de coreografias de integração entre grupos, como aconteceu com a quase extinta Polonaise, há de se aceitar cada vez mais a proposição de que melhor pouco do que nada. De toda forma, ainda há esperança de que a criatividade brasileira dê a volta por cima. Nada contra o modelo tradicional, o problema é que ele praticamente não existe mais, na realidade. Pensemos no coletivo dos grupos de danças alemãs e na sua sobrevivência como unidade.

Destacamos a bela Maifest realizada pelo Centro Cultural 25 de Julho de Porto Alegre no dia 20/05. Que o festejo siga pelos próximos anos. ?

Estrela-RS mais uma vez se destacou com sua Festa do Chucrute. Ela ocorreu nos dias 20 à 28/05. Parabéns à Comunidade Evangélica de Estrela que realiza este evento faz 52 anos. ?

Queremos parabenizar também a dançarina Emanuelle Pies que foi escolhida Rainha do Festival do Chucrute. Ela irá, junto com as princesas, divulgar a edição de 2018 do evento. ?

No dia 27/05 ocorreu o Encontro de Grupos de Danças Folclóricas Alemãs em São Vendelino, promovido pelo GDFA Sankt Wendel. Parabéns pelo trabalho realizado! ?

Aguardem a edição do mês de julho, com muitos conteúdos voltados às imigrações. Vale a pena! ?

Leitzke, Lucas Voigt, Claudia Santana; Revisão: Elisangela Leitzke; Apoio pesquisa: Luiz Timm dos Reis;

mês, para publicações no mês seguinte. Textos inéditos de no máximo 2000 caracteres.

Contatos: derhut@portal25.com Períodicidade: mensal; Distribuição: online.

Centro Cultural 25 de Julho de Porto Alegre. Rua Germano Petersen Júnior, 250, B. Auxiliadora. Porto Alegre-RS. CEP 90540-140. Fone: (51) 33428733 www.25brasil.com.br

Contribuições: até dia 10 de cada


Brasil, junho de 2017. Ano 1, nº 07. Pág. 03

Vamos às compras?

Por Claudia Santana

Em Munique é possível tanto encontrar trajes típicos bávaros quanto moda folclórica. Todo integrante de grupo folclórico no Brasil quando vem à Baviera fica tentado a comprar uma peça de traje, um acessório ou um chapeuzinho. Contudo, quando se depara com a etiqueta do preço, começam a surgir as dúvidas. Nas ruas do centro de Munique você não terá qualquer dificuldade em encontrar lojas de trajes. Bem, vamos chamar de roupa típica. A partir de 30 Euros já é possível levar um Dirndl pra casa, mas a pergunta que se deve fazer antes de sair às compras é: o que eu quero comprar? Quero uma roupa para brincar na Oktoberfest ou realmente um traje? Belos vestidos e Lederhosen podem ser encontrados em praticamente todas as lojas de departamento como C&A, Kaufhof e Karstadt. Compensa dar uma vasculhada nas lojas de rua também. Você pode encontrar coisas lindas e outras... bem, confie no seu julgamento. Por outro lado, se sua intenção for investir em peças originais, não crie a expectativa de encontrar uma loja cheia de opções, onde você entra, prova e compra. Trajes são tradicionalmente costurados sob medida e os

As peças podem ser vendidas a pronta entrega. Fotos: Paloma Spengler.

estabelecimentos especializados vendem apenas o material necessário para a sua confecção. De qualquer forma, não deixe de visitar essas lojas. Sugiro, entretanto, que você faça uma boa pesquisa prévia do que deseja comprar, onde encontrar e programar uma tarde da sua viagem para isso, pois as lojas dedicadas aos Trachtler não ficam no centro de Munique. Caso você esteja sem carro e precise ir de ônibus fazer compras, minha dica é a Trachten Pöllmann no bairro de Obermenzing. Consulte o site do transporte público da cidade (MVV) para checar como chegar. Lá você vai encontrar tecidos, botões, sapatos, bolsas, mas praticamente nada pronto. Visite o site e em caso de dúvidas escreva um email. A família Menzing, responsável pela loja, vende também para grupos do Brasil e Estados Unidos, enviam encomendas pelo correio e emitem inclusive nota Tax Free.

Minha dica de Lederhose fica um pouco mais longe: A loja do Senhor Franz Stangassinger, bem no centro de Berchtesgaden. É muito fácil chegar lá sem carro e, além do mais, você não vai se arrepender de visitar a cidadezinha, suas lojas e as redondezas. Sim, a Lederhose ideal deve ser feita sob medida, com o bordado do seu grupo e suas iniciais. Contudo, nessa loja há uma grande variedade de calças de couro, de diferentes tamanhos e bordados, todos de excelente qualidade e, com certeza, alguma coisa há de te servir! Com um pouco de sorte e muita paciência você pode encontrar verdadeiras relíquias por preços irrisórios em um Flohmarkt (mercado de pulgas), em uma das inúmeras lojas de segunda mão ou até no Ebay. O garimpo vale a pena!

Frente a isso, a ACG em Assembléia realizada no mês de abril trabalhou para adequar o seu estatuto às exigências da contemporaneidade. Os associados presentes puderam colaborar com sugestões de atualização das normas da Casa e abertura de oportunidades para diálogos com o mercado. Dessa forma a Casa da Juventude deu novos passos para qualificar-se e, ao mesmo tempo, manter-se fiel aos seus princípios de entidade cultural, com a promoção de cursos e a hospedagem de grupos artísticos. Novos passos ainda serão dados.

A direção agradece a colaboração dos presentes.

Espaço da

Casa da Juventude Adequações ao presente Gramado há muitas décadas é o foco de milhares de turistas, sendo considerada pelas pesquisas como o 5º destino turístico mais frequentado do país. Isso mostra as potencialidades da Serra Gaúcha e a necessidade do comércio local de adequar-se às demandas dos visitantes, mantendo bom padrão de qualidade e oferta de preços adequados a cada público.

Assembléia da ACG ocorrida em 21/04. Foto: André Klunk.


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Brasil, junho de 2017. Ano 1, nº 07. Pág. 04.

Histórias não (ou mal) contadas da Segunda Guerra Mundial Em seu livro o historiador Rodrigo Trespach traz apontamentos sobre esse grande conflito global do século XX. Tem assuntos que parecem tabus, que ninguém fala ou evita comentar. Na Alemanha um tema que aos poucos volta aos debates é a Segunda Guerra Mundial, trazendo antigas feridas à tona, contudo, importantes de serem debatidas e refletidas. No Brasil, dentro de outra realidade, esse assunto também retorna aos debates, mas com um olhar leve e mais crítico que o alemão, através do livro Histórias não (ou mal) contadas, do historiador gaúcho Rodrigo Trespach. Sobre essa obra lançada em abril o autor gentilmente respondeu questões ao nosso Boletim Der Hut. Der Hut: Como é escrever um livro sobre a Segunda Guerra Mundial? Rodrigo Trespach: Foi um desafio! Primeiro, por ser brasileiro. É notório que pesquisadores norte-americanos e europeus têm ampla vantagem ao escrever sobre o tema, pelo fácil acesso às fontes e aos lugares. Segundo, por ser descendente de alemães. Há certa carga de desconfiança. Não deveria, mas creio que seja inevitável. De toda forma, os desafios foram superados, fiquei muito contente com o resultado, o livro cumpriu o que me propus a fazer. Der Hut: Qual é o diferencial do livro Histórias não (ou mal) contadas? Rodrigo Trespach: Creio que a linguagem é um diferencial. Não é acadêmica, é mais jornalística, mais direta, atinge todo tipo de público. Mas o principal é a ideia que o próprio título traz: um contraponto a certas “ lendas urbanas” sobre guerra. Procurei ressaltar fatos que são colocados em segundo plano quando dispostos ao longo do grande e complexo acontecimento que foi a Segunda Guerra. Der Hut: Quais foram as fontes escolhidas? Quais as dificuldades de transitar por um conteúdo que está em diferentes línguas? Rodrigo Trespach: Uma das minhas

preocupações foi informar o leitor sobre determinado fato e ao mesmo tempo direcioná-lo para fontes confiáveis e acessíveis. Por isso, ainda que eu tenha consultado diversos arquivos, procurei mencionar fontes bibiográficas, em sua maioria, em português. Claro que em alguns casos não foi possível; há pouca coisa no Brasil sobre o movimento de resistência alemão contra o nazismo, o Rosa Branca, e também sobre as atrocidades japonesas na China. Mas a ideia sempre foi encontrar essas informações escondidas e trazê-las para o palco. Há trabalhos de pesquisa muito bons, por exemplo, sobre a participação de brasileiros no Exército Alemão ou sobre a perseguição aos ciganos e homossexuais e que são desconhecidos do grande público. Histórias não (ou mal) contadas quer ressaltar essas histórias. Der Hut: Filmes como A Queda (2004) e o livro/filme Ele está de volta / Er ist wieder da mostram que os próprios alemães estão revisitando este tema. Como você observa essas atuais abordagens? No que elas se diferenciam das do século XX? Rodrigo Trespach: Acho importantíssimo que o tema seja abordado de várias formas e pelos próprios alemães. Revisitar o próprio passado também faz parte do processo de amadurecimento e sempre colabora com reflexões. Enquanto A Queda segue uma linha mais cinema clássico, de narrativa histórica, algo distante, do passado, Ele está de volta é mais dinâmico, inteligente, crítico, serve para mostrar o quanto o nazismo ainda pode seduzir e o quanto o tema ainda é atual e não pode ser descuidado pela sociedade. Creio que o nazismo estava adormecido na Europa

até o final do século XX e era tratado como algo impossível de se repetir; a realidade de hoje mostra que antigos fantasmas rondam o Velho Mundo. E só há uma forma de combater velhos problemas, falar sobre eles, mesmo que sejam extremamente delicados e espinhosos, como no caso do nazismo. Der Hut: Como você sente o reflexo dos acontecimentos da Segunda Guerra Mundial entre os teuto-brasileiros? Como você vê as diferentes abordagens do tema entre teuto-brasileiros e alemães? Rodrigo Trespach: Creio que ainda exista muita desinformação e preconceito. Os descendentes de alemães viveram forte repressão e marginalização étnica, linguística e religiosa durante a Segunda Guerra. A maioria das pessoas nas colônias e mesmo nos grandes centros urbanos não tinha ligação alguma com o nazismo e sofreu muito com a política de nacionalização do governo Vargas. Um aspecto cultural forte entre os descendentes de imigrantes era a língua e essa ligada ao culto religioso. A guerra cortou, sem preparos, abruptamente essa prática. Ainda há ressentimentos. Mas aqui o tema tem mais abertura, se cometem equívocos infelizmente, mas se pode falar livremente. Mais recentemente, há livros e documentários que tratam do tema. Na Alemanha a ferida é maior. Foram os alemães o instrumento de horror da máquina nazista; foram agentes ativos do Holocausto. O tema é um tabu, é doloroso. Mas precisa ser discutido, é fundamental que haja debates e que não se esqueçam dos erros cometidos. Livro Histórias não (ou mal) contadas? Segunda Guerra Mundial 1939 - 1945. Editora Harper Collins, 2017.


Falar alemão é abrir portas para o Mundo! Aulas presenciais em Munique ou online em todo o planeta. lise_leitzke@yahoo.com.br WhatsApp: +49 1511 0279078

Elisangela Leitzke é professora e tradutora desde 2013, com mais de 2500 horas/aula. Tem qualificação para fazer as provas orais telc - The European Language Certificates, reconhecidas em toda a Europa - em escolas licenciadas

Um Fórum para tratar de Danças Étnicas e Ensino Destacando a lei 13.278/2016, que incluiu a dança nos currículos dos diversos níveis da educação básica, esse encontro tem por fim trabalhar as coreografias dentro de processos interdisciplinares. Por Denis Gerson Simões

As danças estão presentes nas culturas populares há milênios, apresentando em movimentos ideias e conceitos. Por isso, ao conhecer a lógica e o contexto de uma coreografia é possível se ter pistas sobre a identidade de sua comunidade. Ter noções de seus festejos, crenças e modos de vida são algumas informações que se podem encontrar. Com base nisso que está sendo promovido o Fórum de Danças Étnicas e Ensino nos dias 23 e 24/06 em Porto Alegre. O evento é promovido pelo Centro Cultural 25 de Julho de POA. Tem o apoio da Secretaria de Dança da Prefeitura Municipal e do Kirinus e Nunes Centro de Danças. O evento propõe oficinas e discussões sobre o ensino da dança nas escolas, trazendo tanto experimentações coreográficas quanto reflexões sobre as etnias. Um dos temas que será especialmente abordado é a lei 13.278/2016, que acabou por incluir a dança, assim como artes visuais, a música e o teatro, nos currículos dos diversos níveis da educação básica. Essa medida foi tomada em função da necessidade de valorizar as múltiplas manifestações artísticas dentro da Escola. O Fórum, assim, auxilia as instituições de ensino a se prepararem para esse novo contexto de pluralidade, dando tempo hábil de aproveitar esse conhecimento nos festejos de agosto e setembro. Inscrições: eventos@25brasil.com; Investimento: até 19/06 - R$ 85,00.

PROGRAMAÇÃO 23/06 - Sexta-feira 18:00 - Credenciamento. 18:30 - Receptivo: Danças Integrativas e Grupo Arallec'h. ? 19:00 - Movimento, Identidade e Ensino com Leonardo Rocha; ? 19:30 - Tango com Edson Nunes; ? 20:45 - Danças Gaúchas com Marco Aurélio Ávila; ? 22:00 – Término do primeiro dia; ? ?

24/06 - Sábado 08:30 - Chá Receptivo; 09:00 - Danças Celtas com Gisele Campos; 09:00 – Flamenco com Daniele Zill; 10:15 - Danças Açorianas com Régis Gomes; ? 10:15 – Danças Polonesas com Eliane Kondak; ? 11:30 - Intervalo Almoço; ? 13:00 - Colóquio da Tarde: Escola como espaço de diversidade e valores; ? 13:45 – Sapateado Americano com Leonardo Dias; ? 15:00 - Jazz com Helena Paz; ? 15:00 – Danças Alemãs com Helder John; ? 16:15 - Intervalo Cultural: Cia. Del Puerto e Grupo Arallec'h. ? 16:45 - Samba de Gafieira com Edson Nunes; ? 18:00 - Apresentação de Trabalhos, entrega de certificado e fechamento. Palestra Imediatismos, vontades e tradições: preservar e se atualizar (inscrições abertas para trabalhos teóricos e práticos - pequenas apresentações). ? 20:00 - Término das Atividades; ? ? ? ? ?

Em agosto de 2016 ocorreu o Workshop Coletivo de Danças Étnicas, seguindo uma série de eventos similares em anos anteriores, o que impulsionou a criação do Fórum de Danças Étnicas e Ensino.

Em setembro de 2016 ocorreu o Workshop de Danças Celtas. Foto: Denis Simões.

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Brasil, junho de 2017. Ano 1, nº 07. Pág. 05.


Brasil, junho de 2017. Ano 1, nº 07. Pág. 06.

O canto coletivo e a cultura alemã (III):

“O du Lieber Augustin” e a Peste Por Lucas Voigt*

* Sociólogo, mestrando em Sociologia Política (UFSC) e estudioso do fenômeno do germanismo no Brasil.

No intuito de salientar o papel do canto coletivo e da canção popular na cultura germânica, destacam-se as relações da canção popular com fenômenos da ordem da política. Não obstante, a questão do canto não se restringe apenas a fenômenos desta esfera. Neste sentido, gostaria de apresentar as relações da canção popular com um fenômeno histórico de outra natureza e da maior importância para a formação de experiências, da memória e do imaginário em relação à Europa: a peste. Para tanto, reproduzo a seguir uma das mais famosas - se não a mais famosa canções populares germânicas: O du lieber Augustin.* O, du lieber Augustin, Augustin, Augustin, O, du lieber Augustin, alles ist hin! Geld ist weg, Mädl ist weg, Alles weg, Augustin. O, du lieber Augustin, Alles ist hin! Rock ist weg, Stock ist weg, Augustin liegt im Dreck, O, du lieber Augustin, Alles ist hin! Und selbst das reiche Wien, Hin ist's wie Augustin; Weint mit mir im gleichen Sinn, Alles ist hin! Jeder Tag war ein Fest, Und was jetzt? Pest, die Pest! Nur ein groß' Leichenfest, Das ist der Rest. Augustin, Augustin, Leg' nur ins Grab dich hin! O, du lieber Augustin, Alles ist hin!

Oh, amado Augustin, Augustin, Augustin, Oh, amado Augustin, Tudo está perdido! O dinheiro se foi, a namorada se foi, Tudo se foi, Augustin, Oh, amado Augustin, Tudo está perdido! O casaco se foi, a bengala se foi, Augustin jaz na sujeira, Oh, amado Augustin, Tudo está perdido! E até mesmo a rica Viena, Está perdida como Augustin, Chora comigo no mesmo espírito, Tudo está perdido! Todo dia era uma festa, E agora? Peste, a peste! Apenas uma grande festa de cadáveres, Isso é o que restou. Augustin, Augustin, Deita-se em sua cova, Oh, amado Augustin, Tudo está perdido!

O du lieber Augustin é uma canção popular (Volkslied) vienense, cujos primeiros registros escritos datam do fim do século XVIII**. De acordo com a lenda popular, no entanto, a música foi supostamente composta em 1679 pelo famoso menestrel austríaco Marx Augustin, durante um surto de Peste Negra em Viena. Segundo a história popular, Augustin era um músico muito querido em Viena, que vagava pelas ruas tocando nas tabernas da capital austríaca. Após uma noite bebendo e tocando, Augustin estava alcoolizado e acabou caindo na rua, adormecendo. Perdeu também a sua carteira e o seu casaco. O querido Augustin foi confundido com um dos muitos cadáveres prostrados pelas ruas de Viena, vitimados pela peste. Assim, seu corpo e sua gaita de fole foram despejados na cova com os demais cadáveres. Quando retoma a consciência, Augustin acorda embaixo de uma pilha de cadáveres, sem conseguir se mover. Melancólico, resolve tocar sua gaita, visando despedir-se de sua amada cidade e também da vida. A reviravolta da história se dá quando transeuntes ouvem a música de Augustin, que acaba sendo salvo pelo som da sua gaita de fole! Assim, a canção O du lieber Augustin, com um peculiar humor negro característico das obras oriundas da cultura popular, retrata e imortaliza as desventuras do músico Augustin na Viena seiscentista assolada pela Peste Negra, e se configura como um símbolo de esperança dos vienenses em relação à tragédia da peste. *A letra da canção reproduzida a seguir se baseia principalmente na seguinte fonte: <http://www.volksliedsammlung.de/oduliebe.html>. Acesso em: 09 Dez. 2016. Esta versão foi cotejada com outras versões da música divulgadas na internet, e sofreu ligeiras modificações. Deve-se levar em conta, além disso, que existem variações e versões diferentes da música, como é característico das obras oriundas da cultura popular. Assim, certas versões inserem ou omitem trechos da música reproduzida aqui. A tradução livre da letra foi realizada por este autor. ** As informações mencionadas a seguir se baseiam em: FULD, James J. The Book of World-Famous Music: Classical, Popular, and Folk. 5.ed. New York: Dover Publications, Inc., 2000. p.400.

JUNHO * 03/06 - 6. Deutscher Abend Frühlingstanzgruppe - Tupandi-RS; Com Glaci Dickel: (51) 99995-0798 * 03 e 04/06 - Concordia Tanzboden Curitiba-PR. Sede Concórdia. concordiatanzboden@gmail.com * 03 e 04/06 - 68. Sudetendeutscher Tag 2017 - Augsburgo - Alemanha; www.sudeten-bw.de * 10/06 - 33º. SauerKraut Spielfest Lagoa dos Três Cantos-RS. (54) 981435768 com a Christiane * 17/06 - 33º. Tanzabend für Paare Volkstanzgruppe Tannenwald - Nova Petrópolis-RS. (54) 3298-5090 ou mariazknorst@terra.com.br * 23 e 24/06 - Fórum de Danças Étnicas e Ensino - Centro Cultural 25 de Julho de Po r t o A l e g r e . ( 5 1 ) 3 3 4 2 8 7 3 3 . eventos@25brasil.com.br JULHO * 15/07 - Aniversário Volkstanzgruppe G r ü n e s Ta l d e B l u m e n a u grunestal.blogspot.com.br * 26 a 30/07 - 54th Europeade - Turku Finlandia; www.europeade2017.fi AGOSTO * 12/08 - Olimpíadas Folclóricas 2017 Blumenau/SC - fb.com/afg.tanz / fb.com/t.eintracht * 26 e 27/08 - 1º Encontro de Grupos de Danças Étnicas - Capanema - PR SETEMBRO *09/09 - X Festival de Danças Folclóricas Alemãs. Santa Cruz do Sul RS. luiza_schus@hotmail.com * 16/09 - Acampamento Sternenglanz Braço do Trombudo-SC. Com Ingrid / Chica: (47) 99903 6459 * 16/09 - Blumentanzfest - Colinas-RS. centroculturalmorgenstern@gmail.com

(51) 99122-9728 – com Evanilson OUTUBRO * 28/10 - 6ª Heimatfest - 15° Encontro de Grupos Folclóricos - Linha Nova-RS NOVEMBRO * 11/11 - Tanzfest Porto Alegre. Baile temático - Danças Alemãs; www.25brasil.com.br


Brasil, junho de 2017. Ano 1, nº 07. Pág. 07.

Chegou junho, aquele mês que ninguém sabe bem pra que que serve. Aos aniversariantes desse período

desejo um chope e muita coragem. Pelo menos não é o mês do desgosto, como em agosto. Mas pra dar uma vidinha pra junho vou trazer umas notícias quentinhas do meu forno de casa. Se preparem pras denúncias graves que vou trazer! Tô que é uma Lava-Jato, só esperando os carros.

Liechtenstein abre embaixada em Porto Alegre Novidade para quem quer visto para residir na Europa: o Principado de Liechtenstein anunciou a abertura de uma embaixada no Brasil e um projeto de intercâmbios. A surpresa não está em ter na América do Sul a representação diplomática de um dos menores países do mundo, mas sim pela sede ser em Porto Alegre. Segundo o embaixador nomeado para a função, Florian von Löwen, este trabalho busca uma integração tecnológica nas áreas da viticultura e bancária, com exemplos de sucesso do Vale dos Vinhedos e dos cartões próprios do

Banrisul. A capital gaúcha está em festa, ao som da Liechtensteiner Polka. E as relações de amizade entre as nações já iniciaram. Queremos como presente à cidade dar uma réplica em minuatura do Castelo de Vanduz, o que exigirá parceiros, destacou Löwen. A abertura da embaixada está prevista para 15 de agosto de 2017. Castelo de Vanduz.

Bretzel adulterado gera operação policial Um acontecimento marcou o cenário policial no mês de maio: o escândalo dos Bretzel adulterados. Após as operações Leite Compensado, sobre a inclusão de amônia no leite dos brasileiros, e Carne Fraca, que denunciou a fraude no processo de abate de animais, agora o Ministério Público deflagrou a Operação Bretzel Queimado. Segundo as investigações, além do uso de farinha de trigo de baixa qualidade, es-

tavam utilizando óleo vegetal ao invés de manteiga e excesso de Bicarbonato de Sódio. Em casos extremos houve a descoberta de Bretzels feitos de madeira. A polícia recebeu mandado para apreender mais de 1000 unidades de Bretzels congelados ditos Original da Alemanha, mesmo sendo feitos no Brasil. As receitas não seguiram as normas originais segundo as descrições bávaras, disse Gilson de Souza Prestes e Aragão, delegado responsável pelo caso. Agora a discussão está em como é a escrita do tal pãozinho: Bretzel, Brezel ou Pretzel. Aragão tem medo de atrasar os mandados de busca e apreensão se a escrita do nome estiver errada: são os problemas da importação de culturas, retrucou ele.

Em Munique Festa Junina substitui rapadura por linguiça

A soma das culinárias foi a solução para o impasse de paladares. Foto: Denis Simões.

No Brasil um dos cenários mais populares do mês de junho é a Festa Junina, que geralmente traz os costumes caipiras para dentro das escolas e salões paroquiais. Um grupo de brasileiros buscou levar essa folclórica festa para a Alemanha e teve algumas surpresas. João Pedro Costa, nascido em São Paulo, organizador da I Festa Junina Renovada de Munique, conta: como precisamos de amigos bávaros para auxiliar na organização da festividade trouxemos nossos doces para eles provarem. O que nós não contávamos é que eles achassem nossos quitutes, como rapadura e passoquinha, um tanto doces demais. A solução foi acrescer salsichas locais no cardápio. Se para os brasileiros parece algo estranho, para os alemães a proposta de acrescentar embutidos é um tanto conhecida, sendo uma comida simples e fácil para o verão. Já o quentão em pleno calor não fez muito sentido aos muniquenses, pois é uma bebida que costumam tomar em dias frios. Costa destaca que as diferenças ajudam a dar um brilho exótico ao evento: no exemplo do quentão eles gostaram igual, pois é parecido com o Glüwein que eles costumam tomar no inverno. Os preparativos seguem em clima de festa. O local e data do evento ainda estão indefinidos, entretanto já há interessados.

Os Bretzels de Frankfurt estão livres da investigação. Foto: Denis Simões.

As informações contidas nesta coluna são sátiras. Não devem ser consideradas verdadeiras. Trata-se, assim, de uma ficção, uma piada.


Brasil, junho de 2017. Ano 1, nº 07. Pág. 08.

Cinco dicas para viajar com gastos controlados

Sternpolka Há muitas danças descritas e apresentadas pelo mundo; contudo, inegavelmente a germânica mais conhecida no Brasil se chama Sternpolka. Mais do que uma coreografia popular entre grupos de danças, se tornou praticamente um hino entre eles: entoar o jodel holahi holaho la ho. A sua origem é atribuída aos Sudetos, na atual República Tcheca, com o nome de Doudlebská Polka. Há versões de seu histórico que destacam influências norte-americanas do pós-guerra. Hoje encontra-se como dança tradicional de vários países. Geralmente ela tem três partes: 1) Polca na roda; 2) Passeio que forma a estrela; 3) Círculo dos homens com palmas. Todavia, isso também não é regra. Na Baviera, por exemplo, há grupos que fazem Schuhplattler com as mulheres girando. No Brasil as moças, na terceira parte da dança, fazem um Wechselschritt único no mundo. Uma curiosidade é em tcheco existe uma letra para essa música. Ela conta o diálogo de uma filha com sua mãe, mais ou menos assim: mamãe, mamãe, pode vender esses bois para me comprar um chapéu com fitas? Não, não, minha filha, não é elegante vender esses boizinhos. A canção segue pedindo para vender gansos e bezerros para comprar sapatos e vestidos. Esse texto não teria nada a ver com uma Polca da Estrela, segundo o nome em alemão, e sim com as tradicionais rimas espontâneas feitas pela população.

Sternpolka. no 6. Bundestreffen der Egerländer Jugend. Foto: Denis Simões.

Transportes coletivos ajudam a reduzir custos de viagem. Foto: Denis Simões.

Viajar é um processo que começa antes mesmo de embarcar para onde se quer ir: necessita de planejamento e um olhar racional sobre os destinos. Se isso for feito é possível aproveitar bem cada passo que se dá, principalmente quando se está com pouco dinheiro. Para ajudar quem foca no destino Alemanha, vão aí cinco dicas. Primeira: escolha para onde irá considerando as distâncias. Se você quer ir à Alemanha e já tem um tempo de viagem delimitado, busque aproveitar ao máximo os locais próximos do teu ponto de chegada e de partida. Os principais aeroportos alemães são de Frankfurt e Munique. Evite táxis, pois há transporte público mais em conta na maior parte dos casos. Segunda: procure boas tarifas. Há uma tendência que as passagens dos diversos transportes tenham preços melhores na baixa temporada; contudo, um bom garimpeiro da Internet encontra preciosidades mesmo em julho, pleno verão alemão. Em muitos casos viajar no meio da semana pode baratear tarifas, se for um destino de passeios, o que também vale para trens e ônibus, que mudam os preços a partir dos horários. Pode valer a pena ter um agente de viagens de confiança procurando diariamente as promoções para você. Terceira: leve pouca bagagem. Dentro da Europa algumas companhias aéreas ou rodoviárias cobram

por mala embarcada ou delimitam a poucos volumes. Se optar por um período quente terá menos roupas para carregar e ainda espaço para alguns souvenirs. Não esqueça de identificar tudo por dentro e por fora. Se tiver pouca coisa pra carregar é mais fácil se locomover. Quarta: a alimentação. Tem um ditado famoso, e bem batido, que diz quem converte não se diverte. Realmente a cotação do Euro não é a mais atrativa, mas se pode amenizar os efeitos da moeda na parte das refeições. Procure comprar alimentos nos supermercados, principalmente os populares, que o custo pode sair mais barato do que as compras no Brasil por incrível que pareça. Carregue lanches feitos por você e água. Deixe os restaurantes locais para momentos especiais, pois esses tem preços de mercado. Quinta: hospede-se com amigos. Se você participa de algum grupo - de danças, corais, escoteiros, etc... - é normal encontrar parceiros na Alemanha. Com antecedência, procure os contatos e busque trocar visitas. Há famílias que gostam de receber estrangeiros que tenham gostos afins e que possam, depois, abrir suas casas no Brasil. Leve uma lembrança brasileira e esteja aberto à diversidade. Também há os hosteis. Se planeje com antecipação, com 6 meses no mínimo, pois na Alemanha isso faz toda a diferença, e tenha uma boa viagem!


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