Cobaia | #125 | 2013

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Cobaia

JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI Itajaí, outubro de 2013 Edição 126 Distribuição gratuita

Defesa do patrimônio

Itapema discute projeto de lei que busca defender praias da especulação imobiliária 09

Campus

Esporte

Cultura

Aula prática

Sonho olímpico

Ritmo frenético

Alunos do curso de Construção Naval produzem pranchas de stand up paddle

Atleta de Itajaí participa do Pan Americano de Judô e pode chegar às Olimpíadas

Brusque reúne bandas na praça em festival de rock marcado para 23 de novembro Divulgação

Um tabuleiro de xadrez traz lembranças da infância

Luciana Zonta

Coletivo Zoom Lumina

Crônica

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Editorial

Extra

Prova de obstáculos

Paulo Alves

Amigo de ouvido

Jane Cardozo da Silveira*

Nesta edição, o Cobaia apresenta reportagens e fotos produzidas pelos acadêmicos do quarto período nas disciplinas de Edição e de Fotojornalismo, sob a responsabilidade dos professores Laura Seligman e Eduardo Gomes, respectivamente. É um trabalho interdisciplinar, que começou com a seleção das pautas, passou pela apuração e checagem das informações, requisitou a produção de imagens e, finalmente, chegou à nossa redação, onde foi revisado e diagramado. Dito assim, parece até que a trajetória da matéria, da pauta à publicação, é rápida. Que nada! Quem se dispõe a encará-la, percorre um caminho tortuoso, comparável a uma prova de obstáculos: ora é o enfoque da pauta que precisa de ajustes para fugir ao lugar comum, ou o entrevistado que desmarca na última hora, ou ainda a pesquisa de fontes que exige mais tempo do que o previsto. Sem falar numa série de outros contratempos que vão aparecendo e confrontando-se com nosso repórter-aprendiz, como a testar a capacidade que detém para superar as contrariedades , respondendo a

elas com mais empenho, mais trabalho e mais informação. Só pode ser assim o dia a dia de um repórter, porque uma informação leva à

uma reportagem

nunca está pronta.

Como representação da realidade que é, está sempre em curso, em tal medida que não deveria terminar num ponto final, mas em reticências.

outra e à outra e à outra, numa cadeia que pode se mostrar interminável. Até que só resta dar-se por vencido pelo dead-line, aquele prazo fatal em que ou se conclui a matéria ou ela fica fora da edição. Em resumo: uma reportagem nunca está pronta. Como representação da realidade que é, está sempre em

curso, em tal medida que não deveria terminar num ponto final, mas em reticências. Assim, em meio a essa ‘incompletude’, a esse “por fazer”, seguimos em frente. Cientes de que precisamos melhorar ; seguros de que só o faremos com experimentos como este que levamos todo mês até você, como sempre, composto por uma gama muito diversa de assuntos. A questão ambiental surge como um dos destaques nas próximas páginas,lado a lado com a música, o esporte e a educação. ‘Catalogado’ na editoria de Ecologia, um projeto de lei inspirado na fragilidade do ecossistema costeiro - e que mobiliza a população da vizinha cidade de Itapema - despertou a atenção de nossos acadêmicos e rendeu a reportagem da página 9. Outro projeto de lei este envolvendo as Apaes - serviu como ponto de partida para a materia da página 8, em que se discutem os rumos da política pública para a educação especial no país. Boa leitura! Jane Cardozo da Silveira *Editora - Reg. Prof. SC 00187/JP

Ele foi chegando de mansinho. Com o tempo trouxe fama e dinheiro. Nem sempre foi assim. Quando só era possível acompanhar ao vivo ou no papel, foi ele quem fez as estratégias aparecerem na nossa mente. Mesmo estando a quilômetros de distância, foi possível acompanhar em tempo real os acontecimentos com os que estavam presentes no espetáculo. O exagero mais do que exacerbado tomou conta. Todo lance virou jogada de perigo. Os homens no campo de batalha eram deuses no gramado. O ator principal ganhou vários apelidos. Não foi diferente dos três irmãos. Atenção, ninguém pode mexer na cozinha do arqueiro! Se conseguir passar por ali, recomeça na bolacha verde do gramado. Vai me dizer que você nunca ouviu que balançou o capim? Foi foi foi foi foi foi ele, o craaaque da camisa número nove. Pimba na gorduchinha, vamos empatar o jogo. Mas e se a redonda vai no pau? Aí, tira tinta da trave. Tem que dar o sangue pela equipe. Não pode ser canelinha de vidro nem pipoqueiro, senão a torcida pega no pé e aí já viu. Expressões que marcaram o reinado do companheiro de cada espetáculo. Era somente o som e a imaginação. Trocados por um sofá e uma gelada. O show perdeu em emoção e ficou lento. Onde já se viu um objeto quadrado, pesado e com vários chuviscos tomar o lugar do amigo de ouvido? Ainda bem que existem os fiéis. Sempre vejo, seja em cada espetáculo ou em casa mesmo. Não largam a imaginação e ficam ali, parados olhando para a parede do quarto e imaginando a bola branca ultrapassar a linha do gol. Emoção proporcionada apenas por ele, o tão querido radinho de pilhas.

Espaço do Leitor Tem algum assunto que você gostaria de ler nas próximas edições? Conte-nos! E-mail: cobaia@univali.br

Fica esperto! À frente no Enade

Em alta no Guia Abril

No clima francês

Os cursos de Jornalismo e de Publicidade da Univali obtiveram conceito 4 na prova do Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes). A nota da prova varia de 1 a 5 e além de medir o desempenho dos estudantes, tem o objetivo de avaliar o sistema da educação superior do País. Com o resultado, o curso de jornalismo alcançou o primeiro lugar entre os sete cursos dessa habilitação no sistema Acafe.

A Univali é a melhor universidade privada do estado e está em 12º lugar no país, segundo o Guia do Estudante Profissões Vestibular 2014, lançado no mês de outubro pela editora Abril. Neste ano, foram avaliados 27.038 cursos de 2.037 instituições de ensino superior de todo o Brasil. De acordo com a publicação, 34 cursos de graduação da Univali estão entre os melhores do Brasil.

As acadêmicas Karine Mendonça e Raquel Cruz, do curso de Jornalismo, estão em plena temporada francesa. As duas, premiadas no concurso Jacques Vabre pela produção de reportagem especial sobre a relação França - Brasil, ganharam estada em Le Havre, no litoral da França, onde acompanham os bastidores da organização da regata transatlântica Jacques Vabre.

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JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI IN - Agência Integrada de Comunicação Itajaí, outubro de 2013. Distribuição gratuita EDIÇÃO Jane Cardozo da Silveira Reg. Prof. SC 00187/JP PROJETO GRÁFICO Raquel Cruz DIAGRAMAÇÃO Estagiária Bárbara Porto Marcelino TIRAGEM 2 mil exemplares DISTRIBUIÇÃO Nacional

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Crônica

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u só fui ter computador em casa em 2005. Antes disso, gastava o tempo peralteando pelas ruas ou sossegada no meu refúgio predileto: a Biblioteca Pública Municipal e Escolar Norberto Cândido da Silveira Júnior. Saía da escola, na Vila Operária, perto do meio-dia e voltava caminhando para casa, no São João. No meio do trajeto passava pelo grande prédio amarelo, com janelas verdes, onde funcionara uma fábrica de tecidos na década de 1920 e fora desativada muitos anos antes, tornando-se um santuário mal assombrado até ser tombado pelo governo municipal, em 1999. No ano seguinte, o imóvel foi restaurado e passou a abrigar a Biblioteca Pública de Itajaí. Em junho, na inauguração, lá estava eu, acompanhada de minha inesquecível professora da terceira série, Letícia Freitas, fazendo o meu cadastro. A parada no grande prédio amarelo, que tem até hoje na fachada a célebre frase de Lobato “Um país se faz com homens e livros”, tornou-se obrigatória na volta pra casa. Primeiramente, ia ao banheiro. Depois, debruçava-me sobre a mesa redonda do setor de periódicos e, sem entender muita coisa, folheava o Jornal de Santa Catarina por puro encanto. Só então retomava minha maratona e seguia pro meu bairro, já desvairada de fome. Precisava repor as energias para o campeonato vespertino. Pode soar estranho, mas era durante a tarde que a Biblioteca Silveira Júnior tornava-se um campo de concentração de esportivas. Se minhas pernas não davam conta de chegar antes das 15 horas, pedalava a magrela vermelha de minha irmã mais velha. Largava a mochila no guarda-volumes e adentrava o portal que separava o saguão principal das áreas de estudo e da ala de competição. À esquerda, logo no início do corredor, a gibiteca para as crianças. Do outro lado, enciclopédias e livros históricos de capa dura, que sempre consultava para os trabalhos de história e geografia, caprichosamente escritos em folhas de papel almaço. No entanto, todo o conteúdo das obras, categoricamente distribuídas em mais de vinte prateleiras, tinha o

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Xeque-mate digital Karine Rosane Mendonça

seu valor esquecido por algumas horas. Ao fim do corredor toda a minha atenção se voltava toda para os enxadristas. Lembro-me de ser a única menina entre guris de até 13 anos que, enquanto aguardavam uma hora e meia para acessar a internet por trinta minutos, nos novíssimos computadores da Biblioteca Pública, jogavam xadrez. O xadrez não era simplesmente um passatempo. Era arte, ciência, esporte. Dentre os que aguardavam para navegar na internet, formava-se uma fila paralela com os interessados em participar do campeonato de tabuleiro e queimar os miolos para frustrar a estratégia de jogo do adversário. Quatro mesas e um tabuleiro quadriculado com sessenta e quatro casas em cada. Num clima de suspense, absurdamente silencioso, o jogador que se julgava mais forte apanhava as peças brancas para iniciar a partida. As regras estavam muito longe das definidas pelo Comitê Olímpico Internacional, quando na virada deste século reconheceu o xadrez como modalidade esportiva. Certamente teríamos os jogos suspensos caso a Confederação Brasileira de Xadrez designasse um árbitro para acompanhar as nossas competições. O cálculo empírico para saltar com o cavalo superava qualquer diretriz formal. A ambição de todo jogador era surrar o oponente em quatro toques certeiros. Mas

o fervor dos nervos quando o jogo se arrastava também enaltecia o ego dos competidores, afinal, resistiram até o último lance. A essa altura, já tínhamos esquecido a razão de estarmos ali. “Karine Mendonça”, fez questão de lembrar o supervisor dos computadores, ao anunciar, bem no meio da partida, que era a minha vez de acessar a máquina. “Ah, não! Será que alguém pode passar na minha frente só para eu terminar essa jogada infalível?”, pensei em dizer, mas o próximo jogador já me enxotava da cadeira. Aborrecida, sentei em frente ao computador e descobri que nada tinha para fazer. Então, sabe-se lá como, fui parar na página do Yahoo! e descobri um jogo de xadrez online. “Pronto, estou salva!”, comemorei mentalmente. Mas a euforia não resistiu ao olhar de reprovação do supervisor, que apontou com o dedo para o cartaz pendurado na parede. “Proibido jogos online”. Segui entediada até esgotar os monótonos trinta minutos de navegação. Não me via em outra condição, a não ser a de retornar no dia seguinte, e no outro e no outro, inclusive aos sábados, para arrematar a partida interrompida. Até que a inclusão digital alcançou a minha casa. As paradas no grande prédio amarelo tornaram-se esporádicas. Forcei um xeque-mate nas competições para alavancar aquilo que outrora me chateava.

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Educaçã

Vestibular em segundo plano Após concluir o Ensino Médio, o normal é ingressar no Ensino Superior, mas nem todos seguem a regra Aline Pukall e Pricila Baade

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o terminar o Ensino Médio, a maioria dos jovens ainda está em dúvida sobre que profissão seguir. A pressão e o nervosismo para o vestibular aumentam, mas nem todos os estudantes que concluem esta etapa estão tensos com a prova. Alguns deles nem tentarão entrar em uma universidade. Os motivos são os mais diversos: alguns acreditam que ainda não é o momento certo, outros estão indecisos ou querem trabalhar. Douglas Creuz irá concluir o Ensino Médio no fim deste ano e decidiu não prestar vestibular. O estudante está em dúvida sobre qual faculdade irá cursar e ainda não se sente preparado para o vestibular. Já a estudante Yanne Padilha focaliza a estabilidade financeira, por isso, pretende primeiro trabalhar e juntar dinheiro, para só depois iniciar a faculdade. Ela acredita que o tempo em que não estiver estudando pode prejudicá-la quando for prestar o vestibular futuramente, mas mesmo assim prefere arriscar para alcançar seu objetivo. A decisão de não começar uma faculdade logo após o Ensino Médio pode ser um passo muito difícil para o adolescente. Além da pressão da escola e dos professores, ainda há a influência dos pais e dos amigos. Jean Carlos da Conceição terminou o Ensino Médio há dois anos, mas afirma que a decisão não foi fácil, ainda mais por não ter o apoio dos pais, que não entendem a escolha do filho. O psicólogo Rodolfo Ambiel explica que há uma grande dificuldade da sociedade em aceitar que alguns adolescentes precisam de um tempo para decidir o que fazer. “Existem pressões sociais vindas principal-

Coletivo Zoomlumina

Segundo o Mec, o Brasil tem aproximadamente 7 milhões de estudantes matriculados em cursos de graduação

Coletivo Zoomlumina

De acordo com o pesquisador Oscar Hipólito, 900 mil estudantes no Brasil abandonam a faculdade antes de se formar

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mente das famílias e das escolas para que o adolescente ‘não perca tempo’. Essa ideia é ilusória, pois certamente a ‘perda’ de tempo e de dinheiro será maior se, pressionado, o jovem escolher um curso do qual não gosta de fato”. O psicólogo diz que por mais difícil que seja a família deve esperar o tempo de o jovem decidir. Filip Vargas conta que seus pais entenderam sua decisão de não iniciar o curso de Engenharia Elétrica. O estudante escolheu fazer o Técnico de Eletrônica para ter certeza de sua escolha. Ademar Martendal Júnior também optou por fazer primeiro um curso técnico para ter um retorno financeiro mais rápido e só depois iniciar uma faculdade. Quando terminou o Ensino Médio, pretendia cursar Comércio Exterior, mas decidiu primeiro fazer um Técnico em Logística para se especializar na área. O que não sabia é que esse tempo todo serviria também para pensar e decidir o que realmente queria fazer. Ademar se inscreveu no vestibular de verão 2014 para entrar no curso de Engenharia Civil. Assim como Filip e Ademar, muitos estudantes optam por fazer um curso profissionalizante. João Victor Chrostowski conta que a decisão de não iniciar uma faculdade foi planejada durante muito tempo. O jovem formou-se no curso para piloto de avião. Acredita que em três anos conseguirá licença de piloto comercial, com formação suficiente para enfrentar uma linha aérea sem cursar uma faculdade. Segundo o psicólogo Rodolfo Ambiel, a melhor opção para aqueles que decidem esperar para iniciar a faculdade é ter contato com o mercado de trabalho. “Em muitos casos, a dificuldade de se decidir em relação a um curso está no fato de que o jovem só sabe do trabalho teoricamente. Então, fazer cursos ou trabalhar pode ajudar muito”.

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Geral

Sair de casa pode não ser uma tarefa fácil Gastos com moradia, alimentação e lazer devem ser colocados na ponta do lápis no hora de ir embora Danúbia Kossatz e Kely Cristina Brito

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ses quartos é de R$475,00. Amanda Boeira, proprietária de alguns quartos de aluguel, explica que os cômodos variam de preço pelo seu tamanho e conforto - “Temos quartos com 15 m² que se tornam um pouco mais caros, mas damos opção de mais baratos para eles”. Moradia e alimentação são os dois elementos básicos para sobrevivência. Ir ao supermercado para fazer as compras do mês pode ser um desafio para quem nunca precisou se preocupar com isso, e com a inflação, como saber se o dinheiro realmente vai dar? Luana Pessoa, estudante de Administração na Faculdade Avantis, em Balneário Camboriú, veio de Restinga Seca, no Rio Grande do Sul e mora em Itapema. Em um apartamento alugado, gasta R$750,00 de aluguel sem contar com a luz. A gaúcha deixa no mercado em torno de R$300,00 com produtos de higiene pessoal e comidas congeladas, práticas para quem mora sozinho ou não tem muita experiência na cozinha.

Coletivo Frame4fun

difícil decisão de morar sozinho para estudar é uma realidade de muitos brasileiros, principalmente para aqueles em que a cidade de origem não oferece universidade. Além da preocupação dos pais com o bem estar de seus filhos na hora de ficar longe, também vem a preocupação de quanto isso vai custar. Aluguel, comida, roupa, livros e grana para sair com amigos são gastos necessários para quem quer arriscar e ir morar sozinho. Colocar tudo isso na ponta do lápis é uma tarefa um tanto quanto difícil e dispendiosa. Itajaí, por exemplo, oferece uma universidade que atrai muitos jovens a residirem na cidade pelo simples fato de ser mais cômodo ficar perto do local de estudo. Os gastos principais são com aluguel. Uma opção bastante procurada pelos estudantes é a famosa república. Em Itajaí, os quartos de aluguel para estudantes se tornam mais baratos do que alugar um apartamento, pois o valor médio de aluguel des-

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Além de trabalhar e estudar quem mora sozinho também tem uma atividade extra: as tarefas domésticas

Luana confessa que come mais em restaurantes e lanchonetes, o que acaba sendo um costume de muitos universitários. Comer na “rua” significa desembolsar um pouco mais, em média um lanche e um suco custa de 8 a 10 reais. Já uma refeição em um restaurante custa em média de 10 a 15 reais o prato, o preço difere conforme o valor do quilo. Outro aventureiro é o jornalista Emerson de Oliveira, de 27 anos, que saiu de Itapema para estudar em Maringá, no Paraná. “Eu tinha entrado na faculdade, mas por condições financeiras acabei tendo que trancar. Então como consegui bolsa de estudo e emprego em Maringá acabei optando por ir”, conta Emerson. A oferta de trabalho e melhores oportunidades são motivadores para a troca de cidade. Desafio, essa é a palavra que Emerson usa para definir como foi ir morar sozinho, “Não chamaria de dificuldade, mas de desafio, chegar em um lugar que ninguém me conhecia e fazer novos amigos , estabelecer novas relações de emprego. Hoje sou outra pessoa depois de vivenciar essa experiência”, diz o jornalista. Aqueles que não querem morar em república procuram apartamentos para dividir com outros aventureiros ou até mesmo para morar sozinho, como é o caso de Ricardo Cobaia

Heleno Campos, que saiu de casa em 2010 para estudar. Deixou casa, comida e roupa lavada em Itapema para cursar Engenharia Mecânica em Joinville - “Eu morei com meus pais até ter quase 19 anos, foi quando decidi sair de casa para estudar em Joinville, na UDESC. Apesar de ser tudo tão diferente, eu não me vejo mais morando com meus pais que mesmo estando longe ainda me bancam”. Ricardo, que está no 6° período de Engenharia Mecânica, diz ainda que os gastos mensais dele são R$600,00 de aluguel, uns R$200,00 entre água, luz e internet, além de mais R$250,00, aproximadamente de comida, passagem e outras coisas básicas.

Mas para ele a maior dificuldade de morar longe é a falta dos amigos, família e namorada que moram em Itapema. Por esse motivo, Ricardo visita a cidade de origem todos os fins de semana, o que mostra que não é um gasto apenas material, e sim um investimento sentimental, pois as pessoas do seu círculo fazem falta. Mas se for colocar todas as despesas na ponta do lápis, o valor mensal é alto e se elevaria ainda mais se a faculdade fosse particular, com mensalidades variando de R$1.400,00 a R$1.900,00. Esses jovens constataram que morar sozinho não define liberdade absoluta, e sim muita responsabilidade para dar conta de tudo. Coletivo Frame4fun

As boas ofertas de trabalho contribuem na decisão de mudar de cidade

Coletivo Frame4fun

Um dos principais gastos para quem mora sozinho é o aluguel

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Cultura Saúde

Rins mecânicos para gente de carne e osso Otimismo e vontade de viver ajudam pacientes a enfrentar a dura experiência da hemodiálise Paulo Alves

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uatro horas de angústia. Três vezes na semana. Doze dias no mês. O corredor branco é o caminho para a cadeira reclinável. A certeza de que, em poucos minutos, a agulha vai procurar a veia fina do corpo e furar a pele mais uma vez. As várias marcas roxas no braço denunciam a dificuldade que é passar por uma hemodiálise. A bebida em excesso fez o rim de muitos por aqui parar. – Comigo, não, querido. O médico viu o problema no rim, mas achou que não era nada. Com apenas 30% de visão, Dona Selita está ali há dois anos, por conta desse diagnóstico equivocado. Outros vão chegando à sala de 20 lugares. Ela não percebe, nem desvia o olhar, fica focada em quem conversa com ela. Sempre ajeitando o cabelo curto, passando a mão direita da testa até a nuca, arrumando o topete. O próximo movimento é mexer nos óculos. Não para de sorrir enquanto fala e não está nem aí para a rotina. - Olá Dona Selita, o que você trouxe hoje

para nós? – A senhora de 75 anos sempre leva bolacha e bombons para agradar as enfermeiras. – Ela é uma das mais alegres daqui, sempre conta piadas. É uma vóvozona. Ao lado dela, senta seu Arlindo. Senhor de 62 anos, de estrutura franzina e com cabelos que já perderam a cor. O sorriso que não sai do rosto denuncia: é o namoradinho de Dona Selita. Essa senhorinha de cabelos pintados já namorou bastante. Com 20 anos, casou. Oito meses depois, ficou grávida e viúva. Casou então com um homem 20 anos mais velho e teve mais três filhos. Sofreu muito. Trocou uma válvula no coração, fez cirurgia de catarata. Teve duas mães. Esnobada pela biológica, nasceu em Florianópolis na casa de uma prima. Desde pequena trabalhou duro. – Não tem por que reclamar da vida, meu filho. Temos é que levar na brincadeira. Antes de eu sentar aqui, subi na balança e estava com 67kg. Sairei daqui dois quilos mais magra. Pra que melhor?

A Associação Renal de Itajaí, na Praia Brava, recebe mais de 50 pessoas por dia. Selita vai às terças, quintas e sábados. Porém, se cuida diariamente. Não pode ingerir muito líquido, e a comida tem que ser sem sal. – É chato porque não posso mais tomar aquela Coca-Cola e sentir bem o gosto da comida, mas não tem problema, aos domigos eu dou uma escapadinha. - Selita mora sozinha em Balneário Camboriú. Os filhos e netos levam e buscam a senhorinha. A enfermeira chega e pede licença. Dona Selita levanta a manga esquerda da camisa e mostra o braço fino, tomado por manchas roxas. – A dica é passar um creme especial, assim eu não sinto dor na hora da picada. – Na quarta tentativa, a primeira veia é acertada. A moça de branco coloca um pequeno tubinho que faz com que o sangue vá para a máquina. Na quinta tentativa, outro furo e outro tubinho é colocado no braço da senhorinha. Ele faz com que o sangue filtrado volte para

o corpo. A máquina enorme faz o trabalho de um pequeno órgão, hoje, inválido no corpo da senhora de 75 anos. O corpo fica debilitado, e Dona Selita sente frio. Hora de recorrer ao cobertor dado pelos netos. Quatro horas depois, a enfermeira chama. Dona Selita, sem os óculos, segura com a mão direita o braço esquerdo, onde tem um curativo. – Uma pequena pressão, para não continuar sangrando. – Ajudada com as malas, ela se ajei-

ta, coloca os óculos, mexe no cabelo mais uma vez e se despede. Todos retribuem e parecem realmente gostar dela. Sai e sobe na balança. Exatos 65 kg. Eu não disse? Isso aqui faz milagres. – Aproveita, faz mais uma piada com as enfermeiras e vai embora. A passos lentos, deixa o corredor branco segurando o braço do filho. Os dois somem na escuridão da rua, com a certeza de que na próxima terça-feira ela estará aqui com o mesmo sorriso e vontade de viver.

Submeter-se ao procedimento é penoso, mas é preciso enfrentar

Brusque centraliza atendimento à saúde Camila Eduarda Teixeira e Guilherme Mafra

O

Centro de Serviços em Saúde de Brusque passou a operar em novo endereço e com serviços diversificados desde o início de setembro. O prédio dedicado à Saúde na nova Praça da Cidadania teve um investimento de R$ 8 milhões e abriga a Policlínica Central, as Farmácias Básica e de Medicamentos Controlados, o Centro de Especialidades Odontológicas, Clínica da Mulher, Sala de Vacinas e a Secretaria de Saúde. Além desse prédio, agora os cidadãos contam com a Praça da Cidadania, que teve o início de suas atividades em 2 de setembro e também abriga Samae, Procon e Fundação Cultural de Brusque. A ideia da praça, segundo a Prefeitura, é centralizar os principais serviços da cidade em um único ponto e aliá-los ao lazer da população brusquense. Para os moradores, a mudança ainda causa um pouco de confusão. Segundo Maria Ester Paoli, 42, quando ela foi buscar seus medicamentos controlados, encontrou o local com muitos mendigos que informaram que o Centro de Saúde havia mudado. Mesmo com o desencontro, ela acha que o novo endereço ficou melhor, mais organizado e bonito. A população aprova a criação da Praça da Cidadania, pois acredita que o local centraliza alguns serviços essenciais e lazer, além de aproveitar um terreno que estava abandonado, localizado na região central da cidade, em frente ao Terminal Urbano.

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Política Cultura Cidades

Falta acessibilidade em Balneário Camboriú A carência de rampas e asfaltamentos nas ruas da cidade dificulta a circulação dos cadeirantes Dayane Canha e Tassiana Campos

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azalete dos Santos é professora, uma mulher ativa, independente, e que, devido a um acidente de carro, quebrou o joelho e está temporariamente em uma cadeira de rodas. Diante do fato, sua liberdade de ir e vir se limitou, e por três meses tornou-se dependente dos outros. “Uma das minhas maiores dificuldades é não poder sair de casa sozinha, para ir até a praia ou ao supermercado”. São essas pequenas rotinas do cotidiano que para os dependentes de uma cadeira de rodas tornam-se inacessíveis. A funcionária pública mora na Rua 3122, apenas a cinco minutos da praia, e reclama. “Como minha rua não é asfaltada e as calçadas são cheias de buracos, o caminho fica mais complicado”. Luiz Alberto Iglesias ficou dependente da cadeira de rodas há 20 anos, após um acidente de moto. Hoje, a cadeira motorizada é quem facilita sua vida. Por ser morador da Avenida Atlântica, essa rua se tornou seu lugar mais fre-

mais importância à principal Avenida da cidade, tem que estar bom para

os turistas, mas

as paralelas e as outras avenidas estão precárias

quentado. Iglesias conta que para ele o calçamento é bom, pois é tudo plano. “Por ser a principal Avenida da cidade, a Prefeitura dá mais importância, tem que estar bom para os turistas, mas as paralelas e as outras avenidas estão precárias”. No entanto, o cadeirante ressalta que ainda tem muito a ser melhorado, como as rampas, por exemplo: algumas são muito elevadas, o que dificulta na sua locomoção. “No comércio em geral, lojas, restaurantes, muitos não possuem rampas, o que dificulta a entrada dessas pessoas. Faltam fiscais da Prefeitura para fazerem vistorias nesses locais, pois todos têm o diItajaí, outubro de 2013

As más condições de vias públicas prejudicam o deslocamento de deficientes físicos

reito de frequentar esses ambientes”, frisa. No seu ponto de vista quem deveria resolver as questões de acessibilidade aos deficientes físicos é a Prefeitura. “Pois são eles os responsáveis pela cidade”, finaliza. A falta de acessibilidade para os cadeirantes em Balneário Camboriú é um tema muito discutido, porém, não resolvido. De acordo com Valdeci Matias, diretor administrativo da Associação de Apoio as Famílias de Deficientes Físicos de Balneário Camboriú – Afadefi, uma das maiores dificuldades para os cadeirantes da cidade é a falta de acessibilidade nas calçadas sem guias rebaixadas. A Afadefi tem 720 associados, em torno de 70% são usuários de cadeiras de rodas. Outro problema que atinge essas pessoas é a falta de acesso aos meios de transporte público. “Temos uma situação difícil quanto ao transporte público, hoje temos ônibus adaptados, mas falta treinamento aos profissionais quanto ao atendimento para as pessoas com deficiência. Às vezes, a plataforma nem está quebrada, mas o motorista está de má vontade e simplesmente fala que não está funcionando”, destaca Matias. O diretor diz que, na maioria das vezes em que solicitam apoio aos responsáveis pelas ruas, são atendidos. “Porém, ainda falta conscientização dos órgãos públicos e da população em geral fazendo

cada um seu papel quanto à acessibilidade urbana”, ressalta.

Em resposta à população De acordo com Evandro Luis Ern, diretor da Expressul, a frota que opera em Balneário Camboriú tem cerca de 80% dos veículos adaptados para o acesso dos cadeirantes. O procedimento correto de embarque e desembarque

deve ser feito pelo motorista, quando ocorre a falta do cobrador. Segundo Ern, o condutor do veículo deve pará-lo, acionar a rampa de acessibilidade e acomodar o cadeirante em seu lugar reservado, com o cinto de segurança afivelado. Para desembarque segue o mesmo procedimento. “Convém informar que quando ocorre esse procedimento, tanto para embarque quanto para desembarque, o veículo

fica travado enquanto a plataforma de acessibilidade está em operação e só destrava para seguir viagem após o processo estar encerrado”, explica o diretor. Ern destaca que todas as plataformas existentes nos veículos da Expressul estão homologadas pelo Inmetro e licenciadas para o uso. E frisa que a orientação da empresa aos motoristas é que eles devem parar e proceder com o embarque dentro dos critérios de segurança. O espaço destinado ao cadeirante já estar ocupado, a providência é que o motorista pare e informe ao deficiente que o local encontra-se ocupado. O diretor pontua ainda que dentro de um plano de acessibilidade que os governantes oferecem, pouco têm sido feito para este fim, ou seja, as empresas de transporte coletivo tem todo o equipamento para a acessibilidade, porém as ruas, calçadas, pontos de ônibus não têm as mesmas condições, o que dificulta muitas vezes o acesso dos ônibus aos deficientes. “Portanto, acredito que um conjunto de ações por parte dos nossos governantes faria com que realmente os cadeirantes pudessem deslocar-se nas cidades com maior segurança”, informa. Até o fechamento desta matéria, não foi possível contato com o responsável pelo setor na Secretaria de Obras, Elvis Zermiani. Banco de Imagens

... a Prefeitura dá

Dourados News

Segundo o Censo de 2010, somente 4,7% das vias urbanas do País contam com rampas para cadeirantes Cobaia

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Política

Projeto de lei pode acabar com as APAES A proposta é uma das 20 metas do Plano Nacional da Educação previsto para o ano de 2016 Rafaela Dalago e Sharlon Schmidt Renzi

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m projeto de lei que tramita no Congresso Nacional pode extinguir as Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAES) em todo o Brasil. A proposta é uma das 20 metas do Plano Nacional da Educação (PNE), que prevê cortes nos repasses do governo federal às entidades. Com a redução de recursos, prevista para o ano de 2016, as APAES seriam obrigadas a fechar suas portas. A nova medida, de acordo com o governo federal, pretende estimular a inclusão dos estudantes com deficiência no ensino regular. Segundo especialistas, o processo de inclusão não pode ser radical. “A Educação Especial é imprescindível para alunos especiais”, reforça a estudante de psicologia Sabrina Beppler. Professora da APAE de Brusque, Sabrina acredita que com a aprovação deste projeto de lei a inclusão poderá se tornar exclusão, já que essas instituições oferecem serviços diferenciados, como, por exemplo, aulas individuais, inclusão no mercado de trabalho, tratamento especializado, atendimento com psicólogos,

Quem pensa

no fechamento

das APAES, não conhece o que

realmente a escola especial faz

Divulgação APAE BC

Professoras da estimulação essencial praticam terapia em forma de arte

fisioterapeutas, entre outros profissionais da área da saúde. Mesmo contra os especialistas e diante de protestos por todo o Brasil, o Ministério da Educação (Mec) se posiciona a favor da inclusão de crianças entre quatro e 17 anos no ensino regular, independente do grau de deficiência. O Mec alega que isso proporcionaria ao aluno experiências e convívio com os demais estudantes. Sabrina contra-argumenta: “Ao ver seu próprio trabalho diante daquilo que foi realizado pelos

A APAE de BC tem atualmente 184 matriculados

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Rafaela Dalago

demais alunos, o aluno com deficiência só reconhecerá sua deficiência, nunca a sua potencialidade. A inclusão torna-se, então, perversa”. Maria das Graças Oliveira Lima é aposentada e mãe de um aluno da APAE de Balneário Camboriú. Ela diz ser “loucura” pensar em acabar com a Educação Especial. Seu filho, Fabrício Oliveira Lima, recebe o acompanhamento diário desde criança, e hoje, aos 36 anos, sofre apenas uma deficiência mental leve, sendo totalmente independente nas suas necessidades físicas. De acordo com Maria, o trabalho realizado na escola especial foi fundamental para o filho se tornar independente e sadio. “Sem a APAE não saberia o que fazer, a inclusão radical é um verdadeiro absurdo. Quem pensa no fechamento das APAES, não conhece o que realmente a escola especial faz”, ressalta Maria. A APAE de Balneário Camboriú tem atualmente 184 alunos matriculados nos períodos matutino e vespertino, além de crianças que frequentam a instituição periodicamente para atendimento médico especializado. Segundo a diretora, Sandra Mara Luchtenberg, uma alternativa para angariar recursos seria a inclusão das instituições em financiamentos da área da Cobaia

educação, podendo proporcionar o ensino regular de maneira diferenciada e adequada aos alunos com deficiência. Um ponto questionado pela diretoria da APAE é a capacitação dos profissionais de escolas regulares para receberem em sua turma alunos com alto grau de deficiência física e mental. “Sou a favor de que todos tenham direito à escola regular. A vivência é bem diferenciada para este aluno com dificuldades, mas não se pode ignorar o fato de que nossas escolas ainda não são apropriadas para este passo”, adverte. Ela ressalta que as APAES realizam ainda o trabalho de assistência social, proporcionando aos alunos sem condições financeiras, remédios, fraldas, alimentação, entre outros. Além disso, as escolas especiais não atendem apenas crianças em idade de ensino regular, como prevê o projeto do PNE. Atualmente, o número de pessoas em idade avançada é expressivo. Com a aprovação do projeto, as famílias com idosos deficientes perdem o acompanhamento de especialistas e tratamento para o seu desenvolvimento. Divulgação APAE BC

Alunos desenvolvendo trabalho de artesanato com argila

Itajaí, outubro de 2013


Ecologia

Itapema discute preservação ambiental Praia Grossa e Ponta do Cabeço são alvos de projeto de lei que as protege da especulação imobiliária Carolina Heinig Pamplona e Eduardo Polesell

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Coletivo Frame4fun

A mobilização começou após especulações sobre empreendimentos imobiliários envolvendo as praias

que envolveriam esses locais, no canto norte de Itapema. No ano de 2007 e 2008, houve as primeiras audiências públicas sobre o assunto, quando foram apresentados projetos imobiliários de duas empresas paranaenses. Desde então, voluntários da cidade que defendem a preservação da Praia Grossa e da Ponta do Cabeço arrecadaram 2.232 assinaturas contrárias aos investimentos.

Os projetos Fontes da Fundação Ambiental Área Costeira de Itapema (Faaci) esclarecem que o primeiro projeto foi apresentado pelo Grupo LN de Curitiba e prevê a construção de cinco

torres, 11 casas e 12 bangalôs que ocupariam 42% do canto norte da Praia Grossa. O presidente da Fundação, Leonardo Ticiano Schimitt Nunes, afirma que o projeto possui licenças ambientais, mas ainda espera a Licença Ambiental de Instalação (LAI). Porém, segundo Leonardo, a aprovação da LAI não significa início imediato da obra. O segundo projeto é do grupo JMalucelli, também de Curitiba, conforme o Centro de Apoio Operacional de Informações Técnicas e Pesquisas (CIP) do Ministério Público de Santa Catarina. Consiste na criação de um empreendimento turístico hoteleiro, dois clubes, 14 condomínios residenciais multi-

familiares, 150 lotes unifamiliares e uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). Esse empreendimento ocuparia 168.000m² acima do permitido pelo município para condomínios fechados, além de ter diversas irregularidades na matrícula dos terrenos. A bióloga da Faaci, Aline Feltrin, afirma que o projeto está parado e nenhuma licença ambiental foi aprovada para construção. Hoje, o Movimento Ambientalista Popular de Itapema aguarda que o projeto de lei para a transformação das praias em área de preservação permanente seja aprovado pelos vereadores. Nessa condição, pode ser encaminhado para a sanção do Executivo.

As praias A placa recomenda: “Tire apenas fotos, deixe apenas suas pegadas, leve para casa apenas suas lembranças.” As trilhas em meio a uma vasta área de Mata Atlântica guiam por um quilômetro o visitante, até chegar à areia grossa – uma parte dominada pela restinga. A água limpa encanta. O cenário, pontuado pelos poucos moradores nativos que mantêm suas casas suspensas em cima das pedras, desperta inveja nos turistas. O Núcleo de Educação Ambiental (NEamb) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) fez um estudo da área, catalogando a existência de plantas nativas ameaçadas de extinção e espécies de peixe desconhecidas. O resultado concluiu que “a Mata Atlântica nas praias apresenta uma riqueza florística elevada e tipologias vegetacionais únicas”. Exemplo disso foi a grande quantidade da palmeira Jussara que a pesquisa encontrou. Essa espécie, ameaçada de extinção, é considerada uma rica fonte de alimento. No mar, a pesquisa cita “uma população de peixes raros, endêmicos daquela microbacia”, onde foi encontrado o denominado “Lambari da Praia Grossa” – o mais novo achado da ciência. O estudo ressalta a necessidade da preservação da riqueza florística, geológica e geomorfológica do município de modo a “garantir no futuro os recursos básicos para a manutenção da riqueza e diversidade da fauna de Itapema, mantendo um ambiente equilibrado”, recomenda. Coletivo Frame4fun

Coletivo Frame4fun

Movimento Ambientalista Popular de Itapema (Mapi), formado entre segmentos da população da cidade, está lutando para preservar a Praia Grossa e a Ponta do Cabeço, transformando-as em um monumento natural para proteção integral da Mata Atlântica lá existente. O projeto foi apresentado em audiência pública na Câmara de Vereadores de Itapema. O advogado voluntário do movimento popular, Rafael Baumgartner, foi quem defendeu a ideia, em um discurso incisivo: “Nós realmente queremos acreditar que esta Casa de Leis vai representar o povo”, afirmou, destacando direitos dos cidadãos e esclarecendo objetivos do projeto, que estabelece medidas de preservação máxima da área em questão, não admitindo uso sustentável daquele espaço. O envolvimento da população no projeto, expressando sua vontade, é muito importante e esta “sempre se manifestou para preservar aquela área”, frisa o advogado voluntário do grupo. Isso se mostra claramente nas redes sociais e nas diversas atividades públicas promovidas pelo Movimento. “É importante para os vereadores e vereadoras que partam [para a análise do projeto] com o posicionamento da rua, o que a rua está exigindo, o que o povo está querendo”, aconselha o professor Willian Meister, membro do Mapi e da Associação de Moradores de Itapema Centro (Amic). A mobilização em prol da Praia Grossa e da Ponta do Cabeço se iniciou quando surgiram especulações sobre empreendimentos imobiliários

Um dos projetos apresentados prevê criação de cinco torres, 11 casas e 12 bangalôs

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O segundo projeto ocuparia 168.000m² e está parado sem licença ambiental

Cobaia

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Campus

Curso de Construção Naval produz pranchas Acadêmicos fazem e vendem equipamento de stand up paddle durante um semestre de aulas Bárbara Werner e Mayara Wergenes

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construindo pela primeira vez uma prancha de stand up. Segundo ele, as pranchas servem para ensinar os alunos como construir um barco, e é uma experiência nova, que facilita o processo de execução para os estudantes. Diego Ambrósio foi um dos ganhadores da última prancha disputada entre os alunos. Ele e mais três colegas a construíram no período de um semestre letivo. De acordo com ele, primeiro se aprende a fazer a prancha em sala de aula, e depois, uma vez por semana, ela vai sendo trabalhada. Uma das etapas finais da execução é a marchetaria, que é o desenho da prancha. Cada grupo escolhe que desenho quer fazer. A madeira utilizada na prancha de Stand Up Paddle é o cedro, e o objeto é tratado como uma “embarcação pequena”, algo fácil de fazer, mas que tem procedimentos bem parecidos com um barco. Diego diz que a prancha que ele e o grupo ganharam na competição está à venda, e que tudo foi levado em consideração, desde a participação na construção, até as notas. As outras pranchas construí-

Coletivo Zoom Lumina

s alunos do Curso de Tecnologia em Construção Naval da Universidade do Vale do Itajaí construíram cinco pranchas de stand up paddle. A ideia surgiu juntamente com a nova matéria de Construção Naval com Compósitos de Madeira. Nesta disciplina, era preciso construir uma embarcação que fosse possível de ser iniciada e finalizada em apenas um semestre. O professor Arthur Augusto de Andrade Ennes projetou as pranchas e percebeu que haveria a possibilidade de testá-las em alto mar. Segundo o coordenador do curso, Roberto Barddal, para estimular os alunos foi elaborada uma competição. A melhor prancha eleita pela avaliação do coordenador, do professor e da turma, ficaria com o grupo que a construiu. No último fim de semana do semestre as pranchas foram levadas para a Barra Sul em Balneário Camboriú. As embarcações foram disponibilizadas para quem quisesse testá-las no mar e todos os presentes tiveram a oportunidade de se aventurar no esporte. José Felipe no 2º período de Construção Naval, está

Coletivo Zoom Lumina

Pranchas prontas para serem comercializadas depois de passarem pelo crivo de professores e alunos

das pelos alunos estão à venda pelo valor de R$2500,00. O dinheiro arrecadado será revertido em equipamentos para o laboratório. Roberto Barddal conta que o objetivo é comprar uma máquina de corte a laser para a produção de maquetes, já que não é possível construir uma embarcação em tamanho real de aço ou outro material sintético.

O mar não está pra onda Flat. Essa é a expressão utilizada pelos surfistas quando o

mar está sem ondas. Diferente do surf, no stand up paddle a onda não é quesito fundamental para a prática do esporte. A modalidade surgiu na década de 1960, segundo a Associação Brasileira de Stand Up Paddle (Absup), nas Ilhas Havaianas, onde os nativos utilizavam as pranchas juntamente com um remo de canoa para poder tirar fotos dos turistas que estavam aprendendo a surfar. Em 2000, professores de surf começaram a reutilizar o equipamento para poder se aproximar dos seus alu-

nos em alto mar e desde então o esporte foi ganhando mais adeptos e hoje é considerado uma febre nas praias brasileiras. Entre os recentes amantes do esporte está Paula Almeida Calderon, de 27 anos. Moradora de Navegantes, ela sempre quis surfar, mas o medo das ondas a impedia. Em uma viagem à Ilha do Mel, no Paraná, encontrou algumas pranchas de stand up disponíveis para alugar e quando se deparou com um mar sem ondas, descobriu que este era um esporte perfeito para ela.

Coletivo Zoom Lumina

Paula Calderon, de Navegantes, praticando a modalidade

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Processo de fabricação das pranchas de stand up paddle exige técnica, precisão e paciência Cobaia

Itajaí, outubro de 2013

Coletivo Zoom Lumina

José Felipe, Diego e Elson no processo de criação


Esporte

Itajaiense vai representar Brasil no Pan de Judô Aos 12 anos, Beatriz Laus classificou-se para torneio em El Salvador e sonha com vaga nas Olimpíadas Francielle Cecília e Thalita Constantinov

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tizantes da arte sabem que o judô representa, acima de tudo, a escolha de um “caminho”. Caminho esse que Beatriz Laus, itajaiense de 12 anos, tem percorrido como atleta da Apajudan-SKD Judô (Associação de Pais e Amigos do Judô e da Dança-san jan dojo ou escola da doutrina consciente). Apaixonada pela luta, Bia, como é conhecida, tem mostrado seu talento no meio catarinense e nacional dentro dos tatames. Ela conquistou

Coletivo F/1.0

judô tem conquistado seu espaço cada dia mais. Nessa arte marcial japonesa, o atleta tem a influência de valores como integridade e respeito ao próximo. É uma luta bastante filosófica, mas falar em filosofia ou em origem pode parecer impreciso, num momento em que as luzes da mídia focam apenas em competição de alto rendimento. Tudo gira em torno de medalhas e resultados, mas atletas, professores e simpa-

Coletivo F/1.0

Os objetivos desse esporte são fortalecer o físico, a mente e o espírito

Coletivo F/1.0

Esse esporte foi criado no Japão, em 1882, pelo professor Jigoro Kano

O judô utiliza a força e o equilíbrio do oponente contra ele próprio

Itajaí, outubro de 2013

medalha de ouro no Campeonato Brasileiro de Judô sub 13 no início de agosto em João Pessoa – PB, representando o estado de Santa Catarina na categoria até 31 Kg. Essa vitória a classificou para o Pan Americano de Judô que se realiza em El Salvador de 14 a16 de novembro. A atleta, que almeja graduação de Designer de Moda, conta que não pretende sair dos tatames, e mesmo com pouca idade sabe os benefícios que o judô pode oferecer. Quando questionada sobre a medalha que pode trazer do Pan, ela não hesita: “Quero ganhar o Pan em El Salvador e conquistar a vaga para as Olimpíadas”. Seu técnico, Guilherme Souza, acadêmico de Educação Física e faixa preta de judô, tem se dedicado intensamente a preparar a pequena Bia para a competição. Mesmo nas férias escolares, quando os atletas podem ser liberados, Guilherme e Bia fizeram um intensivo de preparação em busca de resistência e técnica. Atleta de judô há 12 anos, Guilherme diz que ser professor o faz sentir vivo, se sente capaz de transformar a vida de uma criança, jovem ou adulto, dar a cada pessoa a chance de poder vencer, seja dentro do tatame ou fora. “Acredito na Beatriz e desejo toda a sorte do mundo no Pan, porque competência e judô ela tem! Então, independente do resultado, ela já é minha campeã!”. O sensei (mestre em japonês) é essencial não apenas para ensinar as técnicas da luta, mas também para passar conforto e tranquilidade para seu aluno. Depois de um treino pesado para uma competição, não conseguir o resultado almejado desanima o judoca, mas quando o professor o conforta, a vontade de não desistir dos seus sonhos aumenta. Contudo, muitas vezes o sensei deve saber ser rígido com seu aluno e fazer com que o atleta veja que é capaz de chegar mais longe. Para Guilherme e Bia, independente das dificuldades que o esporte de qualquer modalidade enfrente, não há experiência que pague o prazer de poder representar sua cidade, estado ou país. Lutar contra seus próprios limites todos os dias, alcançar novos objetivos, conquistar uma vitória e realizar o sonho de poder mostrar a beleza e a paixão do esporte que pratica. Cobaia

Coletivo F/1.0

Beatriz Laus coleciona medalhas e quer uma vaga nas Olimpíadas

Os benefícios do judô O judô trabalha bastante a percepção do esportista e durante o treino ele consegue imaginar diversos jeitos para aprimorar seu golpe, evitando falhas e machucados, além de outras melhorias que o esporte proporciona ao judoca. Esses benefícios ficam evidentes principalmente para os pais de uma criança que pratica esse esporte. Liane Godin Laux, mãe de Bia, conta que sua filha ficou mais atenta e dedicada a tudo depois que entrou para o judô, com 9 anos. No começo, a mãe não deu tanto apoio à filha, mas após ver sua primeira competição, acabou incentivando-a e, um ano e meio atrás, decidiu começar a lutar judô também e assim incentivar ainda mais a filha a continuar nesse esporte. O judô traz benefícios a todos, e para a mãe de Bia, ele a ajudou a ter mais paciência e equilíbrio emocional. “Como mãe, sou muito orgulhosa, e com certeza quero que ela continue e que tenha sucesso no judô.”

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Comportamento Educação

As calçadas inspiram a arte das passarelas Descubra como funcionam os bastidores da indústria da moda, que começa e termina nas ruas e reflete a sociedade Emily Prado e Gerusa Florêncio

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Coletivo FCinco

A moda atual consegue atingir públicos variados, tornando-se cada vez mais democrática a cada estação

profissional é pesquisar minuciosamente comportamentos e estilos de vida. A partir dessas análises, ele indica o que pode ser uma tendência e influenciar a moda, mas elas também são ditadas por pessoas influentes em seu grupo social. “Qualquer um pode lançar tendência, desde que se destaque na multidão ou desperte o interesse dos demais”, diz a estudante. Existem dois tipos de tendência, segundo a professora Monica Krinke. As Trends, que são as de longa duração – também chamadas de macro tendências – e influenciam os comportamentos e o consumo por um longo período de tempo, e também as Fads, que são passageiras, com um ciclo de vida muito curto, que geralmente são massificadas pela moda.

Moda é para todos As grandes grifes são as primeiras a explorar tendências e algumas são as próprias geradoras. Mas ao contrário do que você deve estar pensando, a moda é, sim, democrática no

quesito tempo, pois ela não demora mais para chegar ao consumidor popular. Como hoje a informação circula rapidamente, as marcas populares inspiram-se nas grifes, criando suas coleções quase ao mesmo tempo que elas. A professora Mônica Krinke explica que é a partir dos desfiles de alta costura e dos prêt-à-porter que muitas referências de estilo chegam às marcas populares. Um exemplo de tendência que caiu no gosto do povo, ao mesmo tempo das grandes grifes, foi o listrado preto e branco. Isto acontece porque as grandes grifes, as marcas conceituadas e

também as não conceituadas no mercado, encontram esses materiais à disposição para criar suas coleções, diz a professora Graziela. Muitas peças que hoje são tendência explorada por grandes grifes, também são encontradas em lojas não conceituadas, como a estampa de porcelana, por exemplo. Existem marcas que não têm conhecimento para explorar tendências, neste caso elas ficam mais “atrasadas”. A professora Graziela caracteriza o comportamento delas: - Quando a marca não tem estilo próprio ou é indefinida; - pequenas empresas não têm pessoas treinadas para administrar as informações e filtrar o que pode se tornar moda; - algumas empresas esperam que a informação chegue até elas, e assim ficam atrasadas no mercado; - geralmente quando a moda chega em produtos massificados, eles estão no fim do seu ciclo, quase em desuso, pois as grandes grifes que foram os primeiros a usar já não usam mais, esta é uma característica de muitas marcas não conceituadas. Apesar disso, ou até por conta disso, hoje a moda é para todos. A diferença é que algumas marcas não conseguem acompanhar a velocidade do mercado. Outro problema relacionado ao “atraso” pode ser orçamento, e qualidade dos produtos de marcas não conceituadas, geralmente inferiores aos das grifes, mesmo que elas sejam comercializadas ao mesmo tempo.

Prêt-à-porter Termo que vem do francês prêt (pronto) e à-porter (para levar). Na moda chama-se pronto para vestir. Esse termo foi criado pelo estilista francês J. C Weil em 1949 e revolucionou a produção industrial no pós-guerra. O prêt-à-porter é a industrialização da roupa, ou seja, não é feita sob medida, o que a torna diferente da Alta Costura

Tecidos de renda, tendência que virou moda

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Coletivo FCinco

Coletivo FCinco

“É importante definir que tendência não é moda”, diz a professora Graziela Morelli. Ela explica que a tendência é sempre uma perspectiva. Quando é aceita e usada pelas pessoas, então passa a ser moda. Somente algumas delas caem no gosto do público, seja pela forma como foi divulgada na mídia ou pela celebridade que a usou e provocou o desejo nas pessoas. As tendências são lançadas por escritórios de pesquisas também chamados de bureaux de tendências, que têm por base o comportamento da sociedade, uma vez que são sinais emitidos por suas diversas esferas. Essas pesquisas envolvem profissionais de várias áreas como sociólogos, filósofos, psicólogos, designers, entre outros, explica a professora Mônica Krinke, especialista em Moda e Criação pela Udesc. Fora dos escritórios, a busca geralmente acontece nas grandes cidades. Ela nasce dos movimentos sociais, pequenos adereços e gestos isolados. O profissional que faz essa busca é o CoolHunter – caçador de tendências. Juliana explica que o papel desse

Coletivo FCinco

uas e vitrines são dominadas pela moda, o público hoje adere à ela com mais rapidez e facilidade do que em outros tempos. As tendências chegam através de desfiles e editoriais e geralmente conquistam pessoas de todos os estilos, que passam a usar peças que estão em alta. Moda é comportamento, é uma forma de se expressar e cada vez mais faz a cabeça das pessoas. Movimenta uma engrenagem complexa e passa por muitos processos até chegar a nós. Este caminho tem certo tempo para ser concluído. A moda é um ciclo. Tudo começa pela produção, quando as grandes empresas de fibras e corantes fazem uma feira para apresentar seus produtos para as confecções. As grandes confecções, por sua vez, utilizam a matéria-prima disponível para a criação de seus produtos. Durante este processo, as tendências são pesquisadas e escolhidas a partir do comportamento social, das atitudes e dos novos movimentos que podem se tornar um novo gosto, é o que explica a professora de Design de Moda da Univali, Graziela Morelli, formada em Moda pela Udesc e mestre em Ciências da Linguagem pela Unisul. As primeiras a explorar as tendências escolhidas são as grandes grifes de roupas. Elas possuem uma equipe de criação que analisa quais delas serão usadas em suas coleções, pois devem “servir” para o seu público alvo. “As tendências escolhidas variam de acordo com a linha que a empresa trabalha”, explica Juliana Rúbia Costa Succo, estudante de Moda da Univali. Algumas grifes são as próprias lançadoras de tendências no mercado, pois elas possuem uma visão ampla de mundo e conseguem perceber os diferentes movimentos na sociedade que podem virar moda. O ciclo entre pesquisa, produção e comercialização é de em média 36 meses até chegar ao consumidor final. As duas coisas estão ligadas, mas não podem ser confundidas.

A mesma estampa encontrada em lojas de conceitos diferentes Cobaia

Ambientes planejados também fazem parte desse mundo

Itajaí, outubro de 2013


Comportamento

Um adeus à infância A entrada precoce na vida adulta tem levado as crianças a abandonarem o universo lúdico antes do tempo Francielle Mianes e Rubens Angioletti

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adê o namorado? - Pergunta a tia! Ana Clara não hesita em responder: - Não vi ele hoje! A conversa que parece de adulto, na verdade não é. Ana, personagem desta história, tem apenas sete anos de idade e já é um tipo comum de criança. A cada dia a infância tem sido deixada de lado mais cedo. Crianças de oito a dez anos, mudam suas atitudes e hábitos e chamam a atenção dos pais, habituados com a inocência da infância. Professora de Educação Básica, Franciny Ramos conta que é na sala de aula onde mais percebe o reflexo desta morte da infância. Os alunos dela, do segundo ano, com idade entre sete e oito anos, já conversam sobre namoro. E a maioria sabe diferenciar o amor de mãe e o amor de um amiguinho pelo qual as meninas se sentem atraídas. Na sala de aula, as meninas se mostram vaidosas ao se importar com o modo como mexem com os cabelos e as roupas que usam. Diante dessa situação, uma criança em especial lhe chamou a atenção: Mariana, também com sete anos, demonstrou maior inocência. A professora conta que o amor que Mariana demonstra para com os amigos é o mesmo que sente pela professora e até pela mãe e pelo pai. Perplexa, perguntou aos pais da menina sobre a educação da criança e a resposta veio como ela já imaginava: uma educação diferenciada da comum nos dias de hoje. Televisão, só nos horários apropriados e num tempo específico. Maquiagem, nem pensar. Computador, só para acesso a jogos educativos, e nunca com acesso às redes sociais como Facebook, com que os amiguinhos de sua idade já estão habituados. Além disso, assumem que o conto de fadas ainda existe. Assim como Papai Noel e coelhinho da Páscoa. O que os pais de Mariana não querem é que ela perca tão cedo essa inocência. Uma atitude positiva, como analisa a psicóloga Micaela Silva. Eles devem sempre impor limites, deixando claro um horário específico para estudar, brincar, com quem vai ficar durante o dia, o que ela vai fazer e aonde vai. É preciso regras, rotina educa as crianças. “Quando a gente estabelece uma rotina, estabelece um comportamento”, Itajaí, outubro de 2013

Blend Images - KidStock

A erotização do corpo é algo que deve ser tratado com grande atenção por parte dos pais, é deles o dinheiro usado na compra desses produtos

afirma psicóloga. Sua preocupação é com o fato de que hoje há uma inversão de valores na sociedade, em que os professores fazem o papel de ensinar e educar, quando na verdade a educação deve partir de casa, é responsabilidade dos pais. Outro aspecto influente nesta morte da infância é a erotização do próprio corpo, algo que deve ser visto pelos pais com total atenção. É deles o dinheiro utilizado na compra desses produtos, argumenta a pedagoga Sandra Lee. Há 26 anos trabalhando na rede municipal de ensino de Itajaí, Sandra conta estar acostumada a ver crianças indo à escola sem o uniforme e com roupas minúsculas. “Blusas que mais parecem tops e shorts quase cintos. “As crianças devem se vestir como crianças, tendo em vista que essa escolha tem tamanha influência no comportamento delas”, afirma. Uma atenção que não deve ser voltada somente ao traje, mas também sobre aquilo que a criança está consumindo, sejam programas televisivos, rádio, revistas e até músicas. Tudo deve estar adequado à

idade, isso porque a maturidade é o que influencia no modo como a pessoa interpreta a vida, Um adulto terá sempre uma interpretação diferente da vida consumindo e interpretando as informações que recebe de acordo com sua maturidade. Por esse motivo, é importante que haja um envolvimento maior dos pais com os filhos. Na correria do dia-a-dia, isso até parece ser

impossível, mas num fimde semana, por exemplo, os pais devem se encarregar de auxiliá-los, mostrar que estão presentes. Seja num envolvimento com brincadeiras ou até num auxílio em tarefas da escola, é essa presença que vem sendo reduzida ao longo dos anos. As crianças estão iniciando a vida sexual com 10, 12 anos. Os pais precisam saber que devem falar de sexo Kryssia Campos

Crianças não possuem maturidade para consumir mídias sem orientação

Cobaia

com os filhos embora nunca acreditem que isso já esteja acontecendo. A hora ideal é quando começam as perguntas sobre o assunto. Uma orientação da psicóloga é fazer uma tabela para organizar as tarefas e com isso seguir essa organização. Temos que dividir o dia a dia em horas e essas horas em atividade e lazer. Facilita saber o que está acontecendo com os filhos. A pedagoga Sandra Lee finaliza falando que as crianças não podem ser deixadas à própria sorte. Elas não decidem se tomam ou não um remédio, cabe aos responsáveis por elas determinarem isso. Os pais precisam impor autoridade sem perder o respeito pelos filhos, isso é possível se houver tarefas a cumprir, com consequências bem definidas se elas não forem feitas. Se as famílias começarem a conversar pelo menos meia hora por dia com os filhos, perguntando como foi a aula e como o filho está se sentindo, isso vai fazer com que vire um hábito. É esse costume que vai fazer a diferença na formação do caráter da criança e do adolescente.

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Cinema

De Schenectady, com amor Como a televisão evoluiu de um passatempo para uma indústria Marcelo Shaw, Eliza Doré Milanezi

Divulgação

Bonanza é a quarta série mais longa da história dos EUA

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la ou seriado, para a televisão, mas a verdade é que o atraso na tecnologia acarretou um atraso de qualidade também. The Honeymooners, uma das séries mais famosas dos anos 50, contava as histórias de um casal, Ralph e Alice Kramden. Quando Alice irritava Ralph, ele cerrava os punhos e dizia “Para a lua, Alice”. Quando reclamações são feitas sobre a perda da inocência na televisão, isso devia ser lembrado. Com “Para a lua, Alice”, Ralph basicamente dizia: “Se você não calar a boca, eu vou te bater tão forte que você vai parar na lua”. Isso nunca seria aceito hoje, mas nem sequer precisaria ser aceito hoje. A televisão deu um enorme salto de qualidade em sua programação. O primeiro passo foi mais tarde, quase no fim da década de 50, com um show de faroeste chamado Bonanza. Como toda grande inovação, há certamente controvérsias. Não se pode afirmar com certeza que Bonanza foi o primeiro drama colorido na TV. Mas certamente foi o primeiro seriado no qual isso foi veicu-

Arquivo Pessoal

Phillip Gruneich se formou em Cinema pela UFSC em 2011

Bonanza”. O ponto de virada da televisão veio com a estreia de Os Sopranos, soturna série sobre os problemas cotidianos de um chefão da máfia. Estrelando, o recém falecido James Gandolfini, o grande diferencial era a qualidade dos roteiros. “Uma coisa que mudou na década de 1990 foram os diálogos, as formas como os personagens pensavam”, diz Gruneich, “isso começou com Seinfeld, mas realmente o auge foi no Sopranos”. Foi ali que a HBO se firmou como uma produtora forte de conteúdo televisivo, foi ali que a televisão alcançou um grau de maturidade real que fosse páreo para o cinema, foi ali que o “fazer arte” na televisão chegou em seu estágio

mais evoluído. Mas nenhuma evolução nasce no vácuo, se os diálogos de Os Sopranos conseguiram se equiparar aos melhores do cinema, certamente muito se deve aos dinossauros que abriram o caminho. Seja em Virginia City ou Schenectady, o pensar fora da caixa abriu espaço para que depois viesse gente que chutasse a caixa para longe. Nesse aniversário de 54 anos, Bonanza permanece como peça importante do crescimento da TV. Seus roteiros com comentários sociais contra preconceito racial, uma raridade na época, e suas cenas plásticas traziam o western mais colorido para a televisão, servindo como pedra fundamental na construção de uma nova arte. Divulgação

primeira novela que se tem confirmação de ter ido ao ar na televisão foi War Bride e tratava de um soldado voltando da Segunda Guerra Mundial e tendo dificuldades com sua esposa. Transmitida de Schenectady, Nova Iorque, o drama em 13 episódios foi ao ar no verão de 1946. Nesse mesmo ano, o filme Farrapo Humano ganhara o décimo oitavo Academy Awards, o famoso Oscar. Antes disso, O Mágico de Oz chocara ao ser o primeiro filme em grande escala feito inteiramente em cores; Cidadão Kane revolucionou a narrativa através de imagens, apresentando uma história não linear e diversos ângulos revolucionários de câmera; E o Vento Levou e suas quase 4 horas extrapolaram o escopo de uma história feita em filmes, com sua operística recontagem da guerra civil americana. Tudo isso foi feito no drama de cinema antes que os cavalheiros de Schenectady rumassem por estas sendas. Pode parecer que o cinema ajudou a facilitar a transição do drama periódico, seja nove-

lado como atração principal, no qual os episódios eram pensados com essa dimensão. Embora assistindo hoje os valores de produção possam parecer questionáveis, nós estamos falando de 1959. Mais especificamente 12 de setembro de 1959, foi nesse dia que Ben Cartwright, personagem vivido por Lorne Greene, começou a defender seu rancho por longos 430 episódios (Bonanza é a quarta série episódica mais longa da história dos Estados Unidos). “O complicado da televisão é que não há uma única forma de contar um drama”, é o que relata Phillip Gruneich, graduado em cinema pela UFSC “você tem os seriados que permitem uma linguagem mais madura; novelas, ou soap operas, com enredos conturbados e apelativos e uma menor importância na qualidade da produção; e até talk-shows podem contar histórias, pensa no Casos de Família”. Essa sempre foi a montanha que a programação de televisão precisou escalar, como agradar a públicos tão diversos? Segundo Gruneich, “a primeira coisa que não pode ser feita é querer comparar televisão com cinema. São coisas distintas. Com o nascimento da HBO, no entanto, os orçamentos começaram a não ficar tão distantes. Pense em séries como Mad Men, Band of Brothers ou Boardwalk Empire, o dinheiro investido é comparável a uma produção hollywoodiana. Hoje, cada vez mais, há um investimento feito nos seriados televisivos, mas isso não seria possível sem o pionerismo de All in the Family, Rawhide e, claro,

Tony Soprano em cena de Os Sopranos, seriado exibido na HBO Cobaia

Itajaí, outubro de 2013


Projeto cultural integra expressões artísticas em movimento que valoriza criatividade e talentos locais Maria Isabel Francisco Schauffert e Talita Lenzi

Vitamina Coletiva

Saúde Cultura

Vitamina misturada com sol, arte e música

Vitamina Coletiva

e graffite, reunindo público de todas as idades. A receptividade do público anima os organizadores dessa ‘vitamina’ tanto a desenvolver outros projetos quanto a participar de eventos como esse. Segundo Vanessa Bornemann, integrante do “Vitamina Coletiva”, é visível um movimento de interessados em fomentar cultura na região, só é preciso dedicação. Ela comenta que o retorno de todos os participantes, desde expositores, grupos musicais, oficineiros e o próprio público, é essencial para que os projetos sejam mantidos. Alguns dos resultados positivos da divulgação do nossamistura#2 foram atrair mais de 300 pessoas que conhe-

e outras atividades culturais e criativas: “Acreditamos na união de pessoas diferentes que amam as mesmas coisas, acreditamos que é inspirador poder pensar junto, abrir a cabeça, transformar o que está em volta para melhor”. Além das duas edições do “Nossa Mistura”, o movimen-

to já realizou uma oficina de criação coletiva durante o festival de música Beach Wreckers. Assim como dois saraus, um de lançamento do livro Caelum, do artista Mauro Sérgio dos Santos, na Casa de Cultura Dide Brandão, e outro na Livraria e Sebo Casa Aberta, tudo em Itajaí. Vitamina Coletiva

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ovimentos culturais são a certeza de que há interessados em fazer evoluir as condições da produção artística. Em Itajaí, um desses movimentos atende pelo nome de “Vitamina Coletiva” e vem promovendo um projeto cultural de artes integradas, gratuito para o público e para o expositores. Intitulada “Nossa Mistura”, em setembro essa grande festa das artes se realizou num domingo ensolarado na Escola Estação da Música. A programação do dia contou com arte, música, teatro, exposições (fotográficas, artísticas e artesanais), feiras, oficinas e live paiting (pintura ao vivo - execução pública em que se improvisa arte) de caricaturas

ceram o trabalho feito pelo coletivo e a maior procura para se apresentar ou expor, devido ao sucesso do último ano. Neste ano, um portfólio com fotos e vídeos para mostrar o conceito e o formato do evento ajudou na busca de novos colaboradores e apoiadores. No entanto, a questão financeira foi novamente um empecilho, pois falta patrocínio para ajudar a cobrir gastos excedentes, tornar viável para o público o custo das oficinas e permitir que os expositores continuem isentos de cobrança, princípio adotado pelo “Vitamina Coletiva” para democratizar o acesso à feira e ao movimento. A equipe não quer deixar o processo acabar e continua buscando novos locais na região para realizar mais eventos como saraus ou oficinas paralelas. O ideal é que mais parceiros apoiem os projetos tanto financeiramente quanto com permutas. Assim se torna viável realizar mais eventos, inclusive a continuação do “Nossa Mistura”. Entre os expositores deste ano esteve o bazar itinerante 20age Car, novidade nesta edição, que trouxe peças customizadas entre o vintage e contemporâneo. A iniciativa é sustentável e reverte 10% de suas vendas para instituições carentes. Para Juliene Darin, criadora do 20age, este é um espaço diferenciado: “Rodando com o bazar entre tantos

... acreditamos

que é inspirador poder pensar junto, abrir a cabeça,

transformar o que está em volta para melhor

eventos, esta é a primeira vez que participamos de um evento cultural que proporciona atividades diferentes ao público, que muitas vezes faz sempre as mesmas coisas”.

Quem é o “Vitamina Coletiva”

Itajaí, outubro de 2013

Cobaia

Vitamina Coletiva

Um coletivo sem fins lucrativos, voltado a fomentar cultura na região. Junto com outros apoiadores e parceiros, organizam encontros, eventos, oficinas

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Cultura

“Etílicos e Sedentos” por rock A banda brusquense é um entre 16 grupos a se apresentar na 13ª edição do Rock na Praça, em Brusque Lana Martins e Phamela Hinhel

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música é o combustível essencial para manter a vida em equilíbrio. Os piores e melhores momentos da vida são marcados por uma trilha sonora, e ficam gravados para sempre. Para os cinco integrantes da banda brusquense Etílicos e Sedentos, rock é o que pulsa no coração e define a vida de todos eles. Apaixonados pelo ritmo, essa é a maneira que escolheram para se expressar. Unidos desde 2000 por um trabalho cover em outra banda chamada Bêrsadi, seis anos depois os cinco jovens decidiram dar passos largos na carreira. Agora, Cleber de Limas no vocal, guitarra e sopro, Saulo Tavares Junior (Juninho), na bateria e vocal, Moacir Visconti na guitarra, André Gomes no baixo e vocal e Luiz Maurici no teclado fazem o som próprio. Algumas músicas foram criadas antes mesmo da banda ter um nome. A denominação saiu de uma composição que conta a história de uma pessoa com problemas alcoólicos. “Etílico e Sedento vai sofrendo na seca, doença, auto demência...”. A sonoridade agradou os integrantes e assim ficou definido. Conhecidos pela originalidade nas composições, o grupo teve reconhecimento nacional com a música Cachorro de Rua. “Temos um reconhecimento estadual de crítica e público, além de fãs espalhados por todo o Brasil, mas não somos uma banda de sucesso popular”, ressalta Saulo referindo-se ao rock já não ser mais gênero de sucesso comer-

Divulgação

cial. O grupo deixa de lado os modismos sociais e visões obsoletas, direciona vontades e loucuras em performances verbais e não verbais, exaltando o amor à arte e a excitação de tocar. As canções são compostas por Juninho, Moacir e Cleber. Ao todo, já foram lançados dois CDs, quatro vídeo clips e um Extended play (EP), além de 150 apresentações nesses sete anos de carreira. A música é feita por hobby e paixão. Todos os cinco integrantes não sobrevivem dela. O cachê e lucro na venda dos CDs são totalmente revertidos para a própria banda.

Rock na Praça O grupo se apresenta em novembro na 13ª edição do Rock na Praça, em Brusque. O festival estava programado para o dia 21 de se- O evento será em 23 de novembro, data mais próxima ao dia da padroeira da música e dos músicos tembro, mas por causa da chuva foi transferido para Bêrsadi, compareceram seis ve- tação do público, com cerca de outro destaque é a volta da Feira 23 de novembro, um dia depois zes. Dos integrantes, Moacir já 2,5 mil pessoas a cada edição”, do Rock, onde serão comercializados produtos e expostas fodas comemorações em honra está na 12ª participação. Com relata. Neste ano, a Fundação Cul- tografias de edições anteriores a Santa Cecília, padroeira da um público fiel, o festival é muito música e dos músicos. O even- bem aceito pela banda, que está tural de Brusque irá produzir um do festival. No ano passado, o to vai reunir 16 bandas e será envolvida no projeto desde o iní- CD com as músicas das bandas público contou com dois palcos a sétima participação do grupo cio. “É sempre muito satisfatória autorais, como forma de divul- que permitiram a redução do incomo Etílicos e Sedentos. Como a participação, há grande acei- gação promocional. Além disso, tervalo entre as apresentações. Arquivo Pessoal

Discografia / Videografia Etílicos e Sedentos: - EP Etílicos e Sedentos - 2007 - Coletânea virtual Rock na Praça - 2008 - DVD Rock na Praça 2007 e 2008 - CD Etílicos e Sedentos - 2009 - Demo Clipe “Bem que minha mãe me disse” - 2010 - CD Homo Chamaleon Sapiens - 2011 - Vídeo Clipe “Nada pra Mim” - 2012 - Vídeo Clipe “Até Mais” - 2012 - Vídeo Clipe “Eles Vês” - 2013

A banda Etílicos e Sedentos está na estrada desde 2006 e já lançou dois CD’s

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