Jornal Cobaia 115

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Jornal

Cobaia

JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI Itajaí, agosto de 2012 Edição 115 Distribuição Gratuita

Cosplay: uma nova mania?

Criaturas mágicas, coloridas e poderosas viram personagens reais em jovens apaixonados por animês

03 Andanças Literárias

Saúde

Renata Chiarella

Economia

Fitoterapia no tratamento da dor

Encontro do Proler traz Mario Prata

Baixa safra de tainha preocupa

Um novo rémedio para artrite é desenvolvido pela Univali com a nogueira-da-índia

Escritor e jornalista diverte plateia e critica o sistema de vestibulares brasileiro

Pouca quantidade do pescado nas redes frustra comunidades do litoral de Santa Catarilna

Raquel Cruz

Aline Amaral

Christiane Meder

Ombudsman

05 Para escrever bem é preciso reler e lapidar

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Ombudsman

Editorial

Leitura em debate especial no Cobaia Vera Sommer*

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segundo semestre começa com uma série de atividades interessantes para acadêmicos e professores da Univali. Em destaque, a presença do escritor e jornalista Mário Prata, que prestigiou o 1º Encontro Proler, em Itajaí. Alunos de jornalismo, a maioria do sexto período, realizaram uma cobertura especial e fizeram uma série de matérias a respeito da palestra sobre leitura sob a tutela da jornalista e professora Janete Jane Cardoso da Silveira. Nas centrais coloridas do jornal, uma reportagem especial sobre a maratona K2, realizada na bela Bombinhas. O cenário não podia ser mais inspirador para os atletas que vieram testar, em solo catarinense, os 42 quilômetros de trilha com muita aventura, emoção e superação. Acompanhe também depoimentos dos participantes que, ao todo, chegaram a 900 atletas, de várias idades. E o novo filme sobre Batman? De acordo com nosso colunista

de cinema, o homem-morcego de Christian Bale convence, assim como a mulher-gato interpretada por Anne Hathaway. Vale conferir os argumentos para você, leitor, também se posicionar quanto a mais uma produção bilionária da indústria cinematográfica. Matéria da contracapa, e em cores. Confira ainda a matéria produzida por um publicitário sobre mais um evento de animes em Sampa. Ele conta como jovens,

Em destaque, a presença do escitor Mário Prata, que prestigiou o 1º Encontro Proler Itajaí

adolescentes e adultos, de diferentes idades, aficionados por desenhos animados, se divertem enquanto se vestem e agem de acordo com personagens mágicos e poderosos. Aliás, tem outros encontros marcados aqui no estado. Basta verificar na página 3 o material sobre cosplay, manchete desta edição. Outra novidade deste Cobaia diz respeito à planta nogueira-da-índia, que vai virar medicamento, pelas mãos de pesquisadores da Univali, para o tratamento alternativo de artrite. Imagine a importância desta descoberta científica para as pessoas que sofrem dessa doença... Portanto, caro leitor, dá uma espiada nessa e em outras reportagens e opiniões de agosto. E, se puder, produz também alguma para a próxima edição, que já está a caminho. Boa Leitura!

*Editora - Reg. Prof. 5054 MTb/RS

Fica esperto! 8º Festival Cultural da Univali

Exposição no Hall da Biblioteca

Entre os dias 17 e 21 de setembro acontece o 8º Festival Cultural da Univali - Campus Itajaí. O evento reúne todos os tipos de manifestações culturais promovidas pela comunidade acadêmica. Além de desenvolver o lado artístico, ainda desenvolve o intercâmbio e a livre expressão cultural entre artistas amadores e profissionais. Junto ao Festival, acontece o 3º Concurso de Talentos Musicais, com premiações em dinheiro para os três primeiros colocados. E o 2º FENUDI (Festival Nacional Universitário de Dança de Itajaí) que promove o aprofundamento técnico entre bailarinos universitários de todo Brasil. O diferencial desse ano é o apoio do Ministério da Cultura que através da Lei Rouanet, que incentiva eventos de relevância sociocultural. O evento celebra os 48 anos da Univali. As atividades acontecem gratuitamente no Teatro Adelaide Konder e em palcos alternativos espalhados pelo campi.

Segue aberta a exposição “Olhares Múltiplos”, no Hall da Biblioteca Central da Univali - Campus Itajaí. A mostra é um compilado de obras de artistas catarinenses. Celebra a pintura revelando as expressões em imagens, novas experimentações e revisitações da tradição. A artista Susete Zukoski e seus convidados utilizam a arte para diversificar o olhar sobre as manifestação culturais. Esta mostra traz uma oportunidade de o público formar novas opiniões e impressões sobre a arte catarinense. A exposição permanece aberta à visitação até o dia 28 de setembro. Arquivo Setor de Arte e Cultura

Bonito é fazer sentido e ser adequado ao contexto Nesta edição, em que me afasto da seção Ombudsman para assumir a responsabilidade pela edição do Cobaia enquanto a profª Vera Sommer faz seu doutorado, gostaria de fazer uma reflexão não exatamente sobre o número anterior do jornal, mas em torno dos problemas estruturais que se verificam nos textos – quaisquer textos - de maneira cada vez mais frequente. Não me refiro a deslizes ortográficos isolados - troca de s por z, x por ch e afins. Embora essas incorreções devam ser consideradas quando empregamos o nível culto na língua escrita, preocupa-me algo que está além. Trata-se da dificuldade de transpor para o papel (ou para a tela) a ideia que se quer transmitir. Surgem aí textos a que costumo chamar de “truncados”, difíceis de compreender. Os motivos são os mais diversos: ordem dos termos trocada, preposição imprópria, conjunção inadequada, crase sobrando. Seja o que for, deve-se em geral à falta de leitura e a tentativas de rebuscar a linguagem – o tal do escrever bonito -, quando o que interessa é comunicar-se bem. Como ensina o gramático Evanildo Bechara, “A língua é um complexo que abarca todas as regiões, não só geográficas, mas sociais e culturais, então o que se deve fazer não é enfatizar essa ou aquela maneira de dizer ou de escrever, mas sim que a língua põe à disposição uma série de expressões que se pode escolher e usar adequadamente”. A palavra-chave nessa afirmação é “adequadamente”. O texto deve ser adequado ao público, ao ambiente, ao contexto. Ou seja, ele precisa fazer sentido, ser compreendido. Então, para ser adequado, tem de ser claro, de fácil entendimento. Em dúvida quanto à redação, use ordem direta, empregue termos que façam parte do seu vocabulário, seja você mesmo. E leia. Leia muito. De acordo com o Instituto Nacional do Livro, considerando-se somente os títulos não indicados pela escola, cada brasileiro lê em média somente 1,3 livros por ano. Ajude o Brasil a melhorar esse índice e observe como escrever vai ficar mais fácil. Um abraço!

*Jane Cardozo da Silveira é jornalista. Formada há 28 anos, está no Curso de Jornalismo da Univali desde 1994.

Espaço do Leitor

Tem algum assunto que você gostaria de ler nas próximas edições? Conte-nos! E-mail: cobaia@univali.br

15 anos do curso de Relações Públicas

Expediente

O curso de Relações Públicas da Univali comemora 15 anos nesse segundo semestre de 2012. Desde 1997, o curso forma profissionais habilitados e capacitados para cuidarem da reputação das organizações e exercer uma comunicação e relacionamento estratégico com os públicos ligados à elas. Fique ligado na programação da comemoração que se estenderá durante todo o semestre.

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Jane Cardozo da Silveira*

JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI IN - Agência Integrada de Comunicação Itajaí, agosto de 2012. Distribuição gratuita EDIÇÃO Vera Sommer Reg. Prof. 5054 MTb/RS FOTO PRINCIPAL DE CAPA Renata Chiarella PROJETO GRÁFICO Raquel da Cruz DIAGRAMAÇÃO Gabriela Florêncio GRÁFICA Grafinorte TIRAGEM 2 mil exemplares DISTRIBUIÇÃO Nacional

JORNAL COBAIA

Itajaí, agosto de 2012


Entretenimento

O mundo mágico e colorido Música dos Cosplay Personagens de desenhos animados ganham vida em eventos como o Anime Friends, em sua 10ª edição em São Paulo Paulo Henrique Testoni*

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ocê com certeza já deve ter ouvido falar de Pokémon, Digimon, Dragon Ball e Naruto. Estas séries, que são de grande sucesso no mundo, são exemplos de anime e mangá. A palavra “anime” vem do termo em inglês “animation” (animação), que no Japão é utilizada para designar qualquer tipo de desenho animado. No ocidente, o termo refere-se a trabalhos de animação vindos da terra do sol nascente. Mangá é o tipo de histórias em quadrinhos em estilo japonês, o qual origina muitas séries de anime. E de cosplay, você já ouvir falar? O termo provém da expressão costume play (que significa “atuar com fantasias” numa tradução livre), que como o próprio nome diz é o hobby de quem se veste como seus personagens favoritos. Maurício Somenzari, bicampeão mundial do cosplay diz que a primeira vez que viu as pessoas fantasiadas de personagens achou que tinham sido contratados para uma divulgação. Quando descobriu que as pessoas usavam aquilo como passatempo, foi amor à primeira vista. O evento Anime Friends, neste ano em sua décima edição, trata exatamente disso. Fãs de anime, mangá, cosplay, jogos eletrônicos, quadrinhos e outras “nerdices” são o público alvo da convenção, que traz diversas atrações a respeito. Em minha terceira visita ao evento, pude conferir de perto muitas delas (afinal, o ambiente é enorme!). Logo ao entrar, é possível avistar inúmeros cosplayers (o nome que se dá a quem faz cosplay) vestidos de personagens dos mais diferentes filmes, séries, jogos e mangás. Provavelmente você

Renata Chiarella

Ricardo de Oliveira*

Tulipa Ruiz: um novo destaque nacional

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Os cosplayers competem e se divertem em várias provas acharia um de seus personagens favoritos por lá! Eram super-heróis, criaturas mágicas, lutadores com poderes, todo tipo de interpretação. O evento contou com diversos estandes de produtos do gênero, salas temáticas, apresentações e muito mais. Nos eventos do segmento, os cosplayers competem em provas que avaliam a fidelidade das roupas e da atuação em apresentações. Isso mesmo, além de se vestirem, os fãs de cosplay interpretam seus personagens. O World Cosplay Summit é um evento anual sediado todos os anos no Japão que avalia os melhores cosplayers. Há eliminatórias em todo o mundo para participarem uma dupla de cada país, inclusive o Brasil, que já ganhou a competição três vezes. Renata Chiarella

Para Mauricio, nosso campeão mundial, o evento abriu várias portas. - Fui convidado para eventos pelo país todo, além de conhecer países como México, França, Alemanha e o Reino Unido. Eu jamais esperava que o cosplay pudesse me trazer tudo isso! Fico orgulhoso de poder ter contribuído para a difusão do hobby, e imensamente feliz de ter feito tantos amigos em tantos lugares diferentes! Ele até incitou a irmã a participar. Convenções como Anime Friends acontecem diversas vezes por ano em todo o Brasil, inclusive em Santa Catarina. Dentre os eventos mais consolidados do estado, encontra-se o AniVenture, que acontece anualmente em Itajaí, no mês de outubro.

*Publicidade e Prop., 4º período

Agende-se Santa Catarina já está no calendário dos eventos de Cosplay, que tal conhecer esse hobby? - Anime Gakuen – 13 e 14 de Outubro (Florianópolis) - AniQuest – 21 de Outubro (Itajaí) - HQ Con – 27 de Outubro (Florianópolis) - Hanamachi – 17 de Novembro(Joinville) - Wasabi Show – data a definir (Florianópolis)

A presença massiva de jovens na 10ª edição do Anime Friends em SP

Itajaí, agosto de 2012

As comparações com a cantora Gal Costa ficam mais evidentes, já que as duas se utilizam de agudos fenomenais, e ao mesmo tempo tem uma leveza ímpar

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ulipa Ruiz, que já teve o título de melhor CD nacional, dado pela Folha de São Paulo no ano de 2010, com seu álbum de estreia Êfemera, pode facilmente repetir esse título com seu lançamento de 2012, intitulado Tudo Tanto. O CD vem com um total de 11 faixas, produzidas pelo irmão e guitarrista Gustavo Ruiz, e conta também com parcerias que merecem destaque. Na faixa “Dois Cafés”, Lulu Santos participa como guitarrista e com seu vocal inconfundível, além de assinar a composição da bela música junto com a cantora. Em “Víbora”, Tulipa canta sobre o homem que engana em um relacionamento. Tem, além da participação de seu pai e também guitarrista Luiz Chagas, a colaboração do rapper Criolo, na letra, nas risadas e nas respirações presentes na música. Quem espera por algo idêntico ao primeiro disco, está totalmente enganado. Enquanto no primeiro cd, vemos algo mais doce, mais “pop florestal”, como ela mesmo se denomina. No seu atual disco, Tulipa está brincando de fazer música e passeando pelas mais diversas sonoridades presentes na nossa música brasileira. Na primeira faixa chamada “é”, Tulipa dança com a sua voz, fazendo algo mais despojado, lembrando as grandes cantoras de Jazz de antigamente. A música deu também origem ao ótimo clipe de divulgação do CD. As comparações com a cantora Gal Costa ficam mais evidentes, já que as duas se utilizam de agudos fenomenais, e, ao mesmo tempo, de uma leveza ímpar para interpretar as suas canções. Essa comparação entre Ruiz e Gal começou a ser feita em 2010, quando a primeira fez participação no cd do cantor Dan Nakagawa, na faixa “O sol do meio-dia”. A artista se solta um pouco da voz cansada e arrastada de grande parte dos cantores da nova geração da MPB. Os críticos de música, até o lançamento de Efêmera, davam a Música Popular Brasileira como refém do sertanejo universitário, de Luan Santana e Michel Teló, que já estouravam com as suas músicas fracas. Claro que a nova MPB tem vários artistas dignos de aplauso, como Móveis Coloniais, de Acajú, que mistura o rock, a bossa e o reggae em uma coisa só, fazendo uma sonoridade incrível, além de Tiê, a menina doce do pop/MPB que, junto com Tulipa Ruiz, são as novas namoradinhas do Brasil. Sobre disponibilizar os álbuns para download, Tulipa se diz extremamente a favor, pois, quando ela não colocava seus CDs para download, as pessoas baixavam de forma ilegal e esse arquivo vinha em baixa qualidade. Então bem melhor dar algo para as pessoas com boa qualidade. Então, essa é Tulipa Ruiz, doce, mas, ao mesmo tempo, moleca. Aguardem e leiam o que eu digo, já é, e com certeza, será difícil de tirar o título de melhor CD nacional do ano desta artista.

*Jornalismo, 4º período

Você escreve e quer participar deste espaço? Entre em contato com a gente! E-mail: cobaia@univali.br

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Esporte

Em busca de qualidade física e técnica O atleta profissional e amador luta por aperfeiçoamento e rendimento do corpo sem risco de lesões Diogo Serrão e Rafael N. Nunes de Medeiros*

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elocidade, força, explosão e resistência são algumas das qualidades exigidas pelo futebol. Características como estas estão cada vez mais vistas no esporte mais popular do mundo. Olheiros, agentes, empresários e treinadores procuram por atletas com biotipos preparados para enfrentar uma maratona intensa de jogos e treinos. Quanta criança brasileira já sonhou em ser jogador de futebol? Carlos Henrique Fonseca, 19, atacante do Esporte Clube Biguaçu e Ruan Carlos, 24, lateral esquerdo do Garantinguetá Futebol Clube, realizaram este sonho. Ambos vivem uma rotina que exige o máximo do corpo humano, e reconhecem que o bom preparo físico é fundamental na prática do esporte. “Essencial. Não adianta ter muita qualidade técnica e não ter um bom preparo físico, pois não vai render. O futebol hoje em dia exige muita força física”, comenta Carlos Henrique. Os times que são melhores preparados fisicamente levam uma enorme vantagem, ressalta o atacante do Biguaçu. Ruan afirma que atualmente o futebol está dividido em 70% na parte física e os outros 30% estão entre técnica, qualidade e vontade. Não basta ter um bom rendimento físico, atualmente atletas estão cada vez mais dependentes de profissionais que possam orientá-los na preparação fisiológica. O preparador físico do Camboriú Futebol Clube, Lorran Gasparoni, 26, explica que a pré-temporada dos clubes é o momento que exige a maior atenção dos profissionais que acompanham os jogadores. “Eles chegam de férias e fora do seu melhor condicionamento. Nosso trabalho é realizar um processo de adaptação para que o desgaste seja o menor possível. Depois que está adaptado, começamos

a colocar uma carga maior”, diz Lorran. Um fator contrário ao treinamento de alto rendimento é a intensidade de exigência física, ou seja, quando o jogador realiza esforço demasiado, podendo ser seis vezes por semana, oito horas por dia de trabalho intenso, sem o alongamento adequado e quando não é dado o devido tempo de descanso para o alívio da musculatura. Segundo o Fisioterapeuta e Mestre em Ciências do Movimento Humano – UDESC, Dr. Altair Pereira Júnior, a maioria das lesões são causadas pela síndrome de excesso de treinamentos, chamadas de overtraining. Alerta ainda que o atleta de ponta precisa respeitar o limite do seu corpo, para que não entre nesse quadro. “Muitos fatores podem contribuir para um bom desenvolvimento, como por exemplo, um acompanhamento nutricional, tendo uma boa alimentação e um período de descanso após as atividades físicas”, ressalta o Dr. Altair. Carlos Henrique conta que alonga pelo menos 10 minutos, antes, durante e depois de cada atividade realizada, evitando dores e o acumulo de cansaço no dia seguinte. “Além de alongar, faço também o tratamento com gelo e anti-inflamatório, principalmente gelo, pelo menos 20 minutos no local da dor”, diz. Carlos e Ruan realizaram o sonho de se tornarem jogadores profissionais de futebol, mas existem os apaixonados pela bola que não alcançaram o mesmo feito e mesmo assim nunca deixaram de praticar o esporte, que são os famosos “peladeiros”. Segundo especialistas, algumas atividades dependem de habilidades específicas, Para conseguir realizar exercícios mais exigentes, a pessoa deve seguir um programa de condicionamento gradual, começando com atividades mais leves. O Dr. Altair explica que, como

a maioria dos peladeiros prática esporte semanalmente, o organismo deles não está acostumado com uma carga intensa de avaliações físicas e, sendo assim, corre um risco maior de sofrer lesões. O atleta de final de semana, Leandro Mello, 25, é apaixonado por futebol e as peladas com os amigos estão sempre presentes. Leandro não tem um biotipo de um jogador profissional, e já sofreu duas lesões no joelho com a carga de avaliações em que o futebol exige. “Eu amo futebol. Sei que não tenho o mesmo rendimento de um atleta, mas sempre exijo o máximo do meu corpo, e depois de cada jogo eu saio de campo todo dolorido”, afirma Leandro. As lesões no joelho não são problemas só dos peladeiros. Profissionais também sofrem. Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo analisaram 20 ex-jogadores que tiveram o joelho mapeado em exames de imagem. Os atletas analisados têm entre 34 e 53 anos e atuaram ao menos 17 anos como profissionais. O resultado foi que 55% se aposentaram com dores no joelho, 50% já fizeram cirurgia e 70% tomaram infiltração nessa região. Fatores fundamentais como acompanhamento profissional, descanso, respeito com o próprio corpo e boa alimentação ajudam o atleta, tanto profissional, quanto peladeiro, a ficar bem condicionado, sendo capaz de manter um bom desempenho, uma boa performance para execução nos treinos e consequentemente, bons resultados nas competições.

Banco de imagens

*Jornalismo, 4º período

Um Brasil sedentário No Brasil, o sedentarismo é um problema que vem assumindo grande importância. As pesquisas mostram que a população atual gasta bem menos calorias por dia, do que gastava há 100 anos. Isso explica porque o sedentarismo afetaria aproximadamente 70% da população brasileira, mais do que a obesidade, a hipertensão, o tabagismo, o diabetes e o colesterol alto. O estilo de vida atual pode ser responsabilizado por 54% do risco de morte por infarto e por 50% do risco de morte por derrame cerebral, as principais causas de morte em nosso país. Assim, vemos como a atividade física é assunto de saúde pública. “O indivíduo que é sedentário, pode ter sequelas com uma maior frequência pela falta de preparo físico com execução da atividade. No futebol as lesões acontecem mais no joelho e tornozelo”, afirma Dr. Altair.

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JORNAL COBAIA

Itajaí, agosto de 2012


Saúde

Fitoterapia: uma solução para a dor

Roney Rodrigues

Medicamento desenvolvido a partir da nogueira-da-índia pode ser alternativa no tratamento da artrite Henrique Flores e Raquel da Cruz*

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s dedos retorcidos, uns por cima dos outros, impedem-na de usar sapatos há 20 anos. A blumenauense, Eunice Imme passou por vários médicos até que, aos 40 anos, recebeu o diagnóstico de artrite. Diz se lembrar das primeiras dores causadas pelas inflamações: “eram fortes e localizadas, as mãos ficaram inchadas, não sabia o que era”. Ela é a terceira geração de mulheres a desenvolver a doença na família. Hoje, com 69 anos, além de artrite, tem artrose, osteoporose e três vértebras achatadas. O acúmulo de problemas fez com que deixasse de trabalhar. Passa a maior parte do tempo deitada na cama, senta-se apenas para comer. “Caminhar é o que eu mais sofro, não tenho forças”, conta. De acordo com o Ministério da Saúde, as doenças reumáti-

cas afetam cerca de 12 milhões de brasileiros. E só a artrite, uma das mais comuns, ocasionou a internação de quase 34 mil pessoas no país, entre 2010 e 2011. Já a osteoartrite, combinação de artrite e osteoporose, como é o caso de Eunice, atinge, mundialmente, 70% das mulheres com mais de 65 anos, conforme a Organização Mundial da Saúde. Um estudo pioneiro no país, feito pelo laboratório de Farmácia da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), em parceria com uma empresa de São Paulo, resultou na criação de um medicamento fitoterápico para o tratamento da doença. Isto é, um produto feito a partir de uma planta que pretende diminuir o efeito dos sintomas. A matéria-prima foi extraída da Aleurites moluccana, conhecida popularmente como nogueira-da-índia, nogueira-brasileira, nogueira-

Acervo da Família Imme

Nogueira-da-índia, matéria-prima do remédio fitoterápico produzido por pesquisadores da Univali -de-iguape e nogueira-de-bancul. A bioquímica e uma das pesquisadoras do projeto, Tânia Bresolin, conta que o medicamento tem três funções, é um antiinflamatório, ameniza a dor e auxilia no tratamento da artrite. Ela explica que a principal vantagem, com relação aos comprimidos já existentes no mercado, é que quase não tem efeitos colaterais. “Os antiinflamatórios, principalmente os não esterioidais, – que são a Aspirina e o Paracetamol – provocam complicações gastrointestinais”. Por isso, assim como Eunice, quem sofre de artrite crônica e precisa tomar remédio todos os dias tem mais facilidade de desenvolver esse tipo de problema. O medicamento, feito à base da nogueira-da-índia não apresentou efeitos prejudiciais nos testes feitos em animais. Em humanos, esse vai ser um dos indicadores analisados na última fase dos testes clínicos.

Da “índia” ao comprimido

A primeira pesquisa feita na universidade, com a nogueira-da-índia, começou de uma curiosidade acadêmica. A professora Tânia conta que isso aconteceu há 15 anos, na implantação do curso de Farmácia. À medida que os resultados eram obtidos, teve a possibilidade de parceria com uma empresa paulista e as expe-

Processo de produção

riências começaram. Nos testes com animais, para atender a exigência da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) de se fazer a experiência com duas espécies, eles utilizaram ratos e um raça de porcos conhecida como “mini pigs”. Nessa fase, foi feito um comparativo entre três grupos. O grupo A usava medicamentos já consagrados no mercado, o grupo B, o remédio à base da nogueira-da-índia e o grupo C era de animais sadios. Nesses três nichos, foi comparada a função analgésica das duas substâncias e, se houve disfunções em relação ao grupo C. O resultado, segundo a professora, foi que o grupo B, que utilizou o produto testado reagiu melhor do que o grupo A em muitos casos. “Ele foi bastante eficaz, mais até que os remédios existentes no mercado”. A partir daí, uma empresa farmacêutica paulista, iniciou os estudos clínicos em seres humanos. Para essa observação, dividiu os estudos em três fases. A primeira, já realizada, exigiu um hospital para o acompanhamento das pessoas, do que elas se alimentavam e como reagiam. Ainda não iniciada, a segunda fase consiste em tratar um grupo de 100 pacientes que extraíram o dente do siso. O antiinflamatório é aplicado em doses desiguais entre elas, para se observar qual a quantidade ideal a ser usada

e quais são os efeitos obtidos. A empresa responsável pelos testes aguarda a liberação da Anvisa para dar continuidade à pesquisa, que deve sair nos próximos quatro meses. A terceira fase será feita com um número maior de pacientes, para confirmar a eficiência do produto. A previsão é de que até 2014, no máximo, todos os testes já tenham sido feitos. A partir daí, a Anvisa deve aprovar os resultados, o medicamento ganha um registro e poderá ser comercializado. A única plantação de nogueira-da-índia existente em Santa Catarina é também a fonte de coleta dos pesquisadores da Univali. Situada em Tijucas, a fazenda tem mais de quatro mil pés. Entretanto, a pesquisadora alerta que os laboratórios irão precisar de mais matéria-prima, e a oferta será baixa, caso a comercialização seja aprovada. “A planta precisa de, no mínimo, dois anos para produzir todas as substâncias necessárias”. O medicamento está sendo desenvolvido também nas formas de xarope, creme e spray. A professora Ruth Lucinda, uma das responsáveis pelo projeto, explica que essas variações foram pensadas ao entender que idosos e crianças podem ter dificuldade para a ingestão de comprimido.

*Jornalismo, 4º período

Raquel da Cruz

As mãos, que bordavam durante a juventude, hoje têm dificuldade para segurar pequenos objetos e fazer força em atividades rotineiras

Itajaí, agosto de 2012

JORNAL COBAIA

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Meio ambiente

Da casa para o rio, sem pensar na natureza A falta de saneamento nas cidades do Vale do Itajaí causa severos impactos ambientais Lucas Rozentalski do Paraizo e Stefânia Enderle*

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água vem da estação de tratamento, passa pelo reservatório e é utilizada na sua casa; assim ela se torna o que chamamos de esgoto sanitário. Ao sair da sua residência, ela é coletada em redes de esgoto adequadas, que não interferem nas redes de captação da água da chuva. Passa por processos de “gradeamento”, sedimentação, decantação e outras fases do tratamento de esgoto, para então ser redirecionada ao rio de onde veio em uma condição aceitável, sem poluição. Um ótimo cenário onde a água é reutilizada e não leva consigo milhares de resíduos que geram impacto ao meio-ambiente. Mas não é assim que acontece em mais de 90% dos municípios catarinenses, onde somente 11,8% da população é atendida com coleta de esgoto. Um estado que é o sexto em geração de riqueza no Brasil, porém é o 20º quando o assunto é saneamento. A lei federal 12.305 estabeleceu em 2010 que todos os municípios deveriam apresentar um plano de saneamento, mas na prática são poucas as cidades que realmente passaram a investir no tratamento de esgoto. No Vale do Itajaí a situação não é diferente. Em Blumenau, cidade que é responsável por 25% da poluição da Bacia do Rio Itajaí-Açú, e que no início de 2012 possuía apenas 5% de todo seu esgoto tratado, o plano de saneamento existe desde 2009, mas foi em 2010 – que ao contratar a empresa Foz do Brasil -, as obras de maior impacto iniciaram. Nestes dois anos, a cidade passou de 4% para 7% de esgoto tratado, mas a empresa responsável pelas obras espera que até o fim de 2012 este número chegue a 40%. São cerca de 40 milhões de litros de esgoto jogados todos os dias diretamente nos rios e ribeirões da cidade, e que pelo curso do rio não afetam somente o município de Blumenau, mas todos os seguintes por onde o Rio Itajaí-Açu passa, como Gaspar, Ilhota, Indaial, Itajaí e Navegantes. O professor, ecólogo e ambientalista Lauro Eduardo Bacca, conta que as obras de esgoto são realmente uma boa notícia, “Finalmente nossas cidades estão começando a enfrentá-lo; antes tarde do que nunca!”, afirma. Para Lauro Bacca, o desafio ainda é enorme, pois há muito a ser feito para que os investimentos resultem numa real otimização do tratamento, “Há que se investir pesadamente em educação ambiental nessa área. Recolhimento de óleo de cozinha

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em separado, o que pode ou não ser jogado em pias e privadas, etc.”. O ecólogo conta que existem diversos hábitos diários das pessoas que podem influenciar a qualidade do tratamento, independente dos investimentos. “Vi certa vez no banheiro de uma rodoviária o responsável pela limpeza despejar praticamente os dois litros inteiros do desinfetante pastoso e azulado na calha do mictório! E depois observei situações semelhantes em outros lugares. Quantas donas de casa não fazem algo parecido, com o objetivo de garantir a melhor limpeza?”. Os danos ambientais e suas consequências podem ser percebidos não só por especialistas, mas também pela população que convive diariamente com o rio. Para os atletas de remo do Clube Náutico de Blumenau – sediado às margens do rio Itajaí-Açú - as ações humanas podem se tornar mortais para a flora e a fauna. Henrique Passold, 1º secretário do Clube Náutico e praticante de remo, conta que os atletas nunca tiveram graves prejuízos devido à poluição que atinge o rio, mas que aguardam as melhorias ambientais que as obras de saneamento proporcionarão. “Acreditamos que se houver um tratamento de esgoto ∂ eficiente, como o ente público está se propondo a fazer, teremos uma consequente melhora na qualidade da água desde a sua coloração até o desaparecimento do mau cheiro, que certamente resultará em benefícios para a nossa saúde”, comentou Henrique. Segundo ele, até o momento os atletas do remo não perceberam alterações na qualidade da água do Rio Itajaí-Açú. Na cidade de Itajaí, a situação é tão precária quanto a Blumenau. Nesta parte do rio, toda sujeira das cidades que são margeadas pelo mesmo, já está na água. Limitar a entrada do esgoto é uma alternativa para ajudar na melhora da qualidade da água, porém não pode se considerar que esta é a única forma de poluição existente. A cidade de Itajaí descarta indevidamente no rio Itajaí-Açú produtos industriais e pescados, além de todo esgoto não tratado. Morador do bairro da Murta, em Itajaí, Paulo Henrique Teixeira reclama do cheiro que vem do rio e comenta que “mesmo construindo a casa mais alta para não alagar com tanta frequência, quando entra água, é uma situação bem complicada. Não só pelos móveis que a gente perde, mas também pela água suja do rio”. Para o ecólogo Lauro Bacca, é preciso “investir

pesadamente” contra a poluição física: “De que adianta um rio de águas recuperadas e limpas, se ele foi todo retificado, margens cimentadas e etc, assim eliminando todos os habitats da vida fluvial?”, completa. De acordo com o professor responsável pelo Programa de Monitoramento Ambiental da Área de Abrangência do Porto de Itajaí, Jurandir Pereira Filho, as estimativas de melhora só poderão ser apresentadas quando a estação de tratamento de esgoto de Blumenau estiver em funcionamento. “Claro que não depende só de Blumenau. Precisamos da colaboração de todas as cidades por onde o rio Itajaí-Açú passa”, complementa. O professor Jurandir Pereira

ainda garante que – ao menos em Itajaí e Navegantes - “não existe nenhum dano ambiental que não possa ser resolvido. Talvez não completamente, mas podemos reverter grande parte”. Porém são processos lentos e que são influenciados negativamente por diversos fatores, como o desmatamento da mata ciliar, e o excesso de material de erosão, que ao invadirem os cursos da água, transformam cada chuva não mais em um curso de água, mas um curso de lama e sujeira. Assim, mostrando que o tratamento de esgoto é um processo muito importante para a recuperação dos rios, mas que ainda há muito a ser feito para que danos de décadas sejam recuperados.

Rio Itajaí-Açu em Blumenau

O destino do esgoto doméstico dos mais de 310 mil habitantes da cidade. Jogar o esgoto não tratado diretamente nos rios não é apenas uma questão de saúde para a população, mas também de saúde para o meio ambiente. Para que um rio seja completamente despoluído, leva-se cerca de 30 anos, às vezes, muito mais que isso. Rios famosos como Tâmisa (Inglaterra) e o Sena (França) já passaram por processos bem sucedidos de despoluição. Aqui no Brasil, estão em andamento os projetos para a despoluição do rio Tietê (São Paulo) e da Baía de Guanabara (Rio de Janeiro).

*Jornalismo, 4º período Blumenews

Blumenews

Um rio demora cerca de 30 anos para ser despoluído, segundo especialistas

JORNAL COBAIA

Itajaí, agosto de 2012


Comportamento

Poliglotas podem ser mais objetivos e racionais Pensar em outras línguas pode auxiliar nas escolhas do dia-a-dia e até promover mudança de personalidade Maria Carolina Cândido*

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ode parecer loucura, mas algumas descobertas podem fazer sentido no nosso cotidiano. Pesquisadores da Universidade Chigago, nos EUA concluíram através de estudos que pessoas que tem falam mais de um idioma, tem tendência a serem mais racionais quando pensam em alguma língua que não seja a sua original. Esse estudo, publicado na revista Psychological Sciense (Ciência Psicológica), mostra vários experimentos que comprovavam essa teoria. Um deles foi pedir a 121 voluntários americanos que tinham aprendido japonês para escolher entre a cura de uma doença que poderia ser curada definitivamente um terço das vítimas de uma praga, contra uma cura que tinha um terço de chance de salvar todas as vítimas. Quase 80% das pessoas escolheram a opção segura, quando ela foi apresentada em inglês. Apenas 47 % responderam de forma mais rápida quando a pergunta foi formulada em japonês, usando expressões como perda de vida ao invés de salvamento de vida. E 40% responderam as questões independentes da maneira como foi formulada. A pesquisa no primeiro momento pode não fazer sentido. Acreditar que, quando pensamos sobre nossas decisões em outro idioma, somos mais racionais, porém os cientistas chegaram a essa conclusão. Para eles, quando as pessoas pensam em uma língua na qual precisam de mais esforço, elas tendem a ser mais analíticas e menos emocionais em frente a uma escolha. Guilherme Doin, 21 anos, fala fluentemente inglês, francês e espanhol. Ele concorda que o domínio de outras línguas deixa a pessoa mais racional. Diz se interessar por livros de literatura e muita poesia, e percebe que escreveria um texto aqui no Brasil, apenas em algumas linhas podem ser escritas em inglês ou francês. Guilherme relata, que ao observar os seus amigos, que falam em alemão e outras línguas anglo saxônicas acredita que eles parecem ser muito mais objetivos. Juliana Doin, 27, irmã de Guilherme, conta que o motivo das discussões entre os dois é porque ela diz que seu irmão não tem sentimentos. Tudo é resolvido de uma maneira muito lógica, talvez pelo fato dele já ter viajado muito e conviver com diversas culturas. A professora de inglês, Yasmin Torarski acredita que, ao pensar em um outro idioma, sem ser a linguagem materna, pode

Itajaí, agosto de 2012

ajudar a estimular frases prontas. Pois, ao pronunciarmos uma frase, encaixamos as palavras que queremos. Não mudam só as palavras, mas o jeito de pronunciar também. Talvez não saia de uma forma tão natural, como estamos conversando com uma pessoa que fale a nossa língua, e para o ouvinte pode não passar o mesmo sentimento ao ouvir coisas mais emocionais em um idioma estrangeiro, explica a professora.

Pouco mais sobre palavras

dade”. No francês você diz que sente falta de alguma coisa, mas parece que essa palavra é tão boa de ouvir, que não transmite o mesmo sentimento quando se diz que sente falta de algo. Segundo ela, as crianças possuem mais facilidade de aprender outras línguas, pois a plastificação delas é maior, ou seja, a memória está mais fresca. O que, às vezes, pode fazer com que ela misture com a sua linguagem materna. Não existe uma idade certa para

aprender, isso é muito relativo. É claro que quanto maior for a idade, maior a dificuldade, porque na idade adulta possuímos mais preocupações, é mais fácil de esquecer o vocabulário do outro idioma, pelo qual estamos tentando memorizar, mais isso é muito pessoal. Qualquer um pode aprender. Para por em prática esse estudo, que tal tentar pensar sobre nossos problemas e atitudes em inglês, francês ou qualquer outro

idioma para ver se somos mais analíticos e racionais em frente as nossas decisões? Será que ao ouvir uma música, ou uma declaração de amor em outra língua, transmite o mesmo sentimento? Comece a reparar nesses pequenos detalhes no seu dia-a-dia e note se, ao pensar sobre suas escolhas em outra linguagem, fará a diferença.

*Jornalismo, 4º período

Neusa Amorim Fleury Machado - graduada em Pedagogia e Fonoaudiologia, mestre em Distúrbios da Comunicação, acredita que as pessoas que dominam mais de um tipo de linguagem não mudam de personalidade, mas que possuem um

Maria Carolina Cândido

As crianças têm mais facilidade em aprender

outras línguas,

porque estão com a memória mais fresca

pensamento mais rápido. Ela fala francês e seus dois filhos falam espanhol e inglês fluentemente e percebe que mesmo traduzindo em pensamento para o português algumas palavras, eles têm esse pensamento mais rápido. Explica que a nossa voz é uma identidade única, jamais muda. O que muda é o sotaque, independente de já ter saído do país de origem ou não, o contato com a linguagem, a cultura do local é o que dá essa diferença. A articulação das palavras também varia muito. Alguns idiomas possuem mais como o francês, outros menos como o hebraico, por não possuir muitas vogais e nem acentuação nas palavras. Uma coisa que chama a sua atenção, é que nós somos o único país que usa a expressão “sau-

Pessoas, que dominam mais de um idioma, pensam mais rápido por exercitarem a memória

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Maratona

Bombinhas vive momentos marcantes na K42 Determinação, disciplina e resistência fazem da corrida um espetáculo de superação humana Márcia Cristina Ferreira*

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da ou, pelo menos, domada por uma Vivian que ria e chorava ao mesmo tempo, pelo tamanho da conquista. São muitos os vencedores que não conquistaram as primeiras colocações, mas suas conquistas, cada uma de forma diferente, são tão grandes ou maiores que as dos atletas de elite. A K42 é uma corrida de aventura, tem percurso acidentado envolvendo montanhas, trilhas, pedras, areia e encostas. É a primeira maratona de trail run do Brasil e faz parte da K42 Séries que acontece também na França, Chile, Espanha, Costa Rica, Peru, Portugal, Marrocos e Argentina. Bombinhas representa o Brasil na série, em sua quarta edição. Abrange as categorias, tanto no masculino quanto no feminino, 42 quilômetros individual, 12 quilômetros, revezamento 21x21. Nesta categoria, além do masculino e feminino, os atletas tem a opção de fazer duplas mistas. E ainda, no domingo, tem a K42 Kids, aberta a molecada de Bombinhas e filhos dos atletas que participaram da prova. Muitos dos participantes são atletas de elite. Ultramaratonistas, maratonistas de prova curta e de provas longas. Mas boa parte é composta por atletas que

Márcia Cristina Ferreira

altando cinquenta metros para cruzar a linha de chegada, Arnaldo Laporte Júnior encontra os filhos, pega um em cada mão, e atravessa a faixa da vitória. Vitória da vida. Emocionado, conta chorando que a família é tudo e lamenta que o terceiro filho não estivesse presente. Olha para a esposa e os dois filhos, e diz que valeu a pena cada passada, cada suor. Não sabia em qual colocação chegara e que, na realidade, não importava. Naquele instante apenas uma coisa interessava: a chegada. Arnaldo é maratonista experiente, mas, mesmo com toda a sua experiência, fala que a K42 é uma prova dura, de alta resistência, mesmo para atletas acostumados até com ultramaratonas. O atleta é de Campo Novo, Rondônia, e chegou em vigésimo primeiro lugar, com o tempo de quatro horas e onze minutos. Duas horas antes da chegada de Arnaldo, Vivian Meister chega cambaleando, sem conseguir falar, praticamente se arrastando passa pela linha de chegada e desaba na área de apoio aos atletas. Vivian é também mais uma vencedora, foi a penúltima da categoria 12 quilômetros feminino que tinha 83 participantes. Levou duas horas e vinte e sete minutos para fazer o percurso. Ela sofre de fibromialgia, correu o tempo todo com dor. Chegou a pensar em parar. “Mas sou de Bombinhas, tinha que ir até o final”, conta em lágrimas. A dor é sua companheira de uma vida inteira e passo a passo foi dribla-

Márcia Cristina Ferreira

Arnaldo Laporte Júnior e os filhos vibram juntos a chegada na corrida jamais chegarão no grupo dos dez melhores e estão correndo contra seu próprio tempo. Cada qual em sua busca pessoal, querendo como prêmio a superação. Álvaro Reis, do Rio de Janeiro, é mais um destes corredores. Fala que o importante é se divertir e correr. Acostumado a maratonas de asfalto, a K42 é a terceira de trilha que participa. “Eu não me arisquei muito, para não me machucar. Foi

O tetracampeão Giliard Altair Pinheiro, o Gili, logo após uma das etapas

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basicamente para conhecer o percurso e as praias”. Disse que, desde a primeira edição, pensa em participar e também queria muito conhecer Bombinhas. A oportunidade veio agora com a maratona ao unir a duas coisas. Ao todo, 900 atletas participam dessa edição que iniciou às 8 horas da manhã e encerrou às 17 horas e 10 segundos, quando os últimos colocados conseguiram cruzar a linha de chegada.

Superando os limites

Após nove horas e dez segundos de prova, os amigos Paulo Roberto Estante, de 55 anos, e Rodolfo Hesse, de 60 anos, passaram juntos pela faixa de chegada, ambos de Curitiba. Foram os últimos, com o cronômetro quase zerado. Paulo estava inteiro. Disse que o prazer de complementar uma prova é o mais importante, independente se for o primeiro ou o último. “Pra mim, chegar é o objetivo. Eu não corro por tempo”. Alguns anos atrás, ele fez uma cirurgia bariátrica (para reduzir o tamanho do estômago), perdeu um pouco de peso e começou a correr. “Hoje já tenho 10 maratonas. 2 ultras e 21 meia maratonas”. Rodolfo, sem fôlego e muito cansado, se apoiava para conse-

guir falar. Disse que foi uma prova muito difícil. Quando a pessoa pensa que está chegando, vem mais montanha e montanha pela frente. Mas a paisagem maravilhosa valia o esforço. “Paramos em uma das trilhas para socorrer um cachorro. Ele comeu três carbogéis (suprimento alimentar), ao ver que o animalzinho ficou bem, continuamos.” Rodolfo era sedentário e tem cinco pontes de safena. “Sou vascularizado. Virada de mesa na minha vida. Valeu cada minuto, lindo. Ano que vem, estamos aqui de novo.”

Ao todo, 900 atletas participam dessa edição que iniciou às 8 horas da manhã e encerrou às 17 h e 10s

Itajaí, agosto de 2012


Márcia Cristina Ferreira

Histórias de atletas que desafiam limites Cléber Itamar Rodrigues mora em Florianópolis e tem uma lavanderia no Campeche. Há vinte dias, foi o vencedor da prova de 52 quilômetros em Urubici. Maratonista acostumado a provas mais longas, conta que precisaria de pelo menos mais vinte e cinco quilômetros para brigar pelas cinco primeiras colocações. Mas saiu satisfeito, pois o nível dos competidores é alto. “Fui regular. Fiz a prova com mais dois atletas de categorias diferentes e um incentivava o outro. Cada um utilizando sua técnica quando necessário. Fizemos um bom ritmo.” Cléber foi o nono colocado e vem pela segunda vez na K42. Neste ano, chegou atrás do amigo Daniel Meyer. Em Urubici, foi a vez de Daniel chegar atrás. Cada corrida tem sua particularidade, seu ritmo e seus próprios desafios. “Corrida é a minha cachaça”, conclui Cléber. Daniel é outro atleta acostumado a triathlon e ultramaratonas. Ele é de Bombinhas e, apesar da oitava colocação, conseguiu melhorar o tempo do ano anterior. O que prova que, que a cada ano a maratona fica mais difícil devido ao nível elevado dos participantes. No feminino, a campeã foi a cordobesa Adriana Vargas, com a paulista Cilene Sophya dos Santos, chegando em segundo lugar. Débora Simas, parceira da equipe de Cléber, de Florianópolis, que no ano anterior chegou na terceira colocação, pulou para a sexta. Mas o impressionante, é que mais uma vez, confirma a tendência: a cada ano fica mais competitiva a prova. O tempo teve uma alteração de apenas três segundos para baixo. “É minha recompensa por tudo o que deixei de fazer. Baladas, visitas a familiares. É de fato uma sensação muito boa”.

Fenômeno de Bombinhas

O tetracampeão Giliard Altair Pinheiro, o Gili, bateu seu próprio recorde ao chegar em 3 horas e nove minutos e quarenta e dois segundos. Passou pela faixa da vitória com a multidão extasiada, pelo fato do atleta ser bombinense, e desabou na areia. Saiu arrastado pelo irmão Danilo e pelo companheiro de corrida Jack Gomes Rodrigues. Ao tirar o tênis, deu para entender o porquê do estado em que chegou. A palmilha andou dentro do tênis e o atleta não quis parar para colocá-la no lugar. O resultado foram 8 dos 10 dedos roxos, com bolhas de sangue e duas unhas totalmente estragadas. “Cansaço sim, mas os meus pés estavam me matando.” Sem contar que no KM 8 passou a perna em um “ca-

Itajaí, agosto de 2012

pim raspalim” (típico da região, cheio de pontas cortantes) e fez um corte feio logo acima do joelho, na parte inferior da coxa. E na terça-feira anterior à prova, torceu o pé, e milagrosamente, o ortopedista Rodrigo Gomes, o Mimoso, deixou-o apto para competir. Gili é corredor de provas curtas. A questão é que o grau de dificuldade dos 41 quilômetros e 600 metros da K42 faz a prova ser comparada a uma ultramaratona. Nascido em Bombinhas e neto de pioneiros no município, o atleta conhece cada pedra, cada trilha, cada grão de areia das praias. Trabalha como pintor e pescador e ainda encontra tempo para fazer um treino puxado de 160 a 180 quilômetros semanais. A corrida é a grande paixão de sua vida, que tem um custo alto e o maior prêmio é a satisfação pessoal e a superação. Gili tem 32 anos, é casado e tem quatro filhos. Começou a correr em 1996 nos Jogos Escolares Bombinhas, Itapema e Porto Belo – JEBIP, quando fez pela primeira vez a rústica e venceu. Como jogava futebol e nunca havia passado de um quarto lugar, ficou faceiro (como ele mesmo diz) e foi o incentivo que faltava para continuar correndo. No mesmo ano, foi para o colégio agrícola em Balneário Camboriú e ganhou, três anos seguidos, a prova nas olimpíadas municipais. Ali nasceu um campeão. Este ano teve um perseguidor de elite, o ultramaratonista brasiliense Alexandre Manzam, que chegou um minuto e quarenta segundos atrás. Isto significa cerca de 500 metros aproximadamente. Tranquilo e muito falante contou que a estratégia foi segurar um pouco no início para conseguir chegar bem. “É uma prova diferente das que estou acostumado, pois faço competição em diversas modalidades.” Conta que a prova, tendo trajetos diferentes, faz com que a musculatura trabalhe diferente de provas como o triathlon do XTerra e o Multisport. “Tem que trabalhar o psicológico”. Agora já conhece o trajeto e, no próximo ano, vem forte. Esta também é a opinião de Gili, que pensa ser difícil vencer Manzam em 2013. “É muito provável que ele vença a K42 do ano que vem. Terei que buscar uma superação ainda maior.” Gili agora se prepara para a maratona de Foz do Iguaçu/PR, no dia 30 de setembro, e para a etapa da K42, na Patagônia, realizada no dia 17 de novembro. Sua melhor colocação na Patagônia foi o segundo lugar em 2010. E quanto a 2013? Que venha o penta!

*Jornalismo, 4º período

Vivian Meister, atleta dos 12 quilômetros, chegou em penúltimo lugar, e superou seus próprios limites

Márcia Cristina Ferreira

O ultramaratonista Alexandre Manzam, perseguidor de elite da K42, ao cruzar a linha de chegada Márcia Cristina Ferreira

Daniel Daniel Meyer passou a linha de chegada da K42 e se entregou ao chão

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1º Encontro Proler-UNIVALI

Andanças Literárias movimentam comunidade Professores, acadêmicos e interessados em promover a cultura trocam ideias para incentivar a formação de leitores Amaro Paz, Analú Vignoli e Raquel Zubiaurre Reschke

“H

á cerca de um ano a Universidade do Vale do Itajaí trabalha para a realização de um evento que divulgue e valorize as ideias defendidas pelo Programa Nacional de Incentivo à Leiturao Proler. Em agosto, o 1º Encontro Regional “Andanças Literárias” concretizou a intenção do comitê Proler/Univali. De acordo com a coordenadora local, Cíntia Metzner de Souza, o encontro superou todas as expectativas. “Depois de ver a reação das pessoas, sentimos que vale a pena fazer outras vezes e ampliar o projeto. Queremos expandi-lo para Florianópolis, Piçarras, onde tiver Univali queremos levar o Proler”. A coordenadora afirma que a infraestrutura da universidade viabilizou e deu qualidade ao evento, porque o Programa Nacional de Incentivo à Leitura não prevê recursos financeiros para os comitês: “Se tivéssemos que pagar não teríamos como fazê-lo”, ressalta Cíntia Metzner. A Univali aderiu às políticas nacionais de incentivo à Cultura e tem contribuído para a formação de públicos sensíveis às manifestações artísticas. Atualmente, estão em andamento junto à Instituição sete projetos vinculados ao Proler. Entre eles

Aline Amaral

destacam-se o grupo de leitura dramática (teatro) e o grupo de artes plásticas, que desenvolvem o projeto Entreler. “Com os projetos tentamos atuar de diversas formas para diversificar, ao máximo, o desenvolvimento de atividades artísticas e culturais, facilitando o acesso da comunidade à leitura, às artes, enfim, a todas as formas de expressão cultural”, explica a professora Cíntia.

Mario Prata marca presença

Uma das participações mais comentadas do Encontro foi a do escritor, dramaturgo e jornalista Mario Prata. O veterano da literatura arrancou risadas e fez os presentes no auditório refletirem sobre os rumos da leitura no país. Com livros, crônicas e roteiros de novela no currículo, Prata se mostrou confortável com a sua atual posição no “cenário brasileiro do saber”. Mas admitiu se incomodar quando vê na Internet textos de outros autores atribuídos a ele. O ar tranquilo do escritor se altera quando o assunto são os métodos de ensino da escola brasileira. Mario critica o excesso de regras na prática da redação, que na opinião do escritor limita a criatividade dos estudantes e não estimula neles o gosto pela leitura.

O público interagiu com o escritor ao fim da palestra e expôs opiniões sobre literatura

Debate incentiva Itajaí a elaborar plano municipal de leitura Jessica Gamba* Aline Amaral

“U

m país se faz com homens e livros”. A frase de Monteiro Lobato poderia ser o lema do Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL), política adotada pelo Governo Federal para promover a formação de leitores em cada município do Brasil. A iniciativa motivou debates no 1º Encontro Regional do Proler, que funcionou para estimular Itajaí a aderir ao movimento e elaborar um plano municipal de incentivo à leitura.

Equipe na Univali

A coordenadora geral do Proler Univali, Carla Carvalho (em primeiro plano), conduziu um dos debates

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Embora o Proler não tenha relação direta com o PNLL, interessa a seus integrantes colaborar com a ideia para que cada município tenha um plano próprio. Em Itajaí, a Univali formou uma equipe que vem trabalhando para isso. O Encontro Regional “An-

danças Literárias” funcionou como alavanca para a elaboração do Plano Municipal do Livro e Leitura - PMLL, que busca incentivar as pessoas a lerem mais. Participaram a Coordenadora Geral do Proler Univali, Carla Carvalho, representantes da Secretaria de Educação de Itajaí, a Coordenadora do Proler Univille, Taiza Mara Rauem, professores, escritores, bibliotecários, acadêmicos e comunidade. Segundo Carla, a mobilização da sociedade é importante para incentivar e democratizar a leitura. A formulação de um plano municipal com esse objetivo deve reunir as três esferas de governo e contar com o apoio da opinião pública para garantir verbas e viabilizar o acesso da população a bibliotecas.

*Jornalismo, 6º período

Itajaí, agosto de 2012


1º Encontro Proler-UNIVALI

Bate-papo temperado com limão e comédia Em conversa descontraída, o escritor Mario Prata fala sobre literatura no Brasil e critica o ensino tradicional Gabriela Florêncio e Monike Furtado*

Bianca Escrich

T

udo se modifica quando ele dá as caras. Mistura humor, irreverência e um tom azedo, com uma mocidade efervescente que esconde os 66 anos. Chegou para encerrar o evento Andanças Literárias do Proler - Univali camuflado de estudante, parecia um garotão de cabelos grisalhos: calça jeans largada, tênis e moletom. Já entrou no auditório do bloco da Saúde pedindo pra sair. “Eu tomei uma coca cola antes, tô louco pra ir ao banheiro. Se eu não sair agora, saio no meio”. E lá se foi o escritor multitarefa, para voltar logo em seguida com a feição mais aliviada. O tom da palestra que concedeu aos acadêmicos e professores foi assim: sem papas na língua e sem perder a piada. Mario já escreveu para jornal, teatro, literatura e televisão. O forte senso crítico permeia as ideias do cronista, que são enraizadas na sua bagagem. Ele é um visionário com um temperamento forte e vanguardista. Morando atualmente em Florianópolis, nasceu em Uberaba, no triângulo mineiro. A “Cidade do Zebu” foi seu berço durante a infância. A paixão por escrever é antiga, ele sempre a praticou em uma velha máquina do pai. Mas, quando se mudou para Lins, em São Paulo, teve, ao acaso, sua primeira relação com o mundo da escrita. “Sempre tive mais sorte que talento, muita sorte e certo talento, na verdade”. Morava em frente a uma redação de jornal. Ia lá de forma inocente pegar chumbinho do linotipo, colocar em uma caixinha de fósfo-

Itajaí, agosto de 2012

ro e fazer seu goleiro no futebol de botão. Acabou acostumado com o cheiro de chumbo, e aos 14 anos já tinha sua coluna social, que assinava com o pseudônimo de Franco Abbiazzi. “Um pouco mais tarde, e eu já fazia tudo no jornal, conhecia tudo.” Por isso, ter virado escritor pode ter sido uma questão de sorte. “ Eu imagino, e se fosse um açougue na frente da minha casa?”. Largou o jornal por questões financeiras, e mesmo que tenha contado com o destino para guiar o seu caminho, o talento de Mario é tão inegável quanto o toque cômico e ácido que marca seus livros e crônicas. Ele já transitou por vários meios, mas nunca escreveu poesia. Não que não queira, simplesmente não consegue. Eu odeio e admiro quem escreve. Mas sempre brinco que poeta é preguiçoso, porque não consegue chegar ao final da linha.

Literatura e internet

Essas brincadeiras, muitas vezes com fundo de verdade, trazem temas sérios e expõem aquilo que pensa. E mesmo sendo boa praça, não é muito difícil tirá-lo do eixo. Basta relacionar literatura e internet ou jornalismo e internet. Franze a testa, cerra um pouco o rosto pra responder esse tipo de questão. “Acho que uma coisa não tem nada a ver com a outra. A rede com o jornalismo impresso, a rede e os livros. Sempre que aparece uma coisa muito louca, as pessoas dizem ihh”. O escritor já teve sua experiência com meios online. Escreveu o livro Os Anjos de Badaró em

seu portal na internet, junto com os internautas, que acompanhavam e construíam o livro capítulo a capítulo. A ideia era pioneira e aconteceu quando a rede ainda estava se popularizando. “A internet era jovenzinha, menor de idade e consequentemente irresponsável”. Essa experiência o ajudou a se aproximar e familiarizar com a rede. Hoje diz ser

Sempre brinco que poeta é preguiçoso, porque não

consegue chegar ao final da linha

tarado por seus “brinquedinhos” eletrônicos. Tem um celular moderno, e navega em sites todos os dias. Mas, ele ressalva, a internet é uma faca de dois gumes. Olhando sério pra plateia, Mario pergunta se já ouviram falar da crônica chamada Então, cancela? A maioria responde: sim. Mario brinca: “Então, tem meu nome lá, mas não é minha. É de um ga-

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roto de Fortaleza”. Um dos maiores problemas que os escritores enfrentam com o advento da internet é esse. Há várias frases, textos e crônicas atribuídas a um autor, mas nem sempre são dele. O brincalhão defende que o futuro da literatura não está na internet e arrisca dizer que o e-book já nasceu morto. “Você já viu alguém com um e-book sentado na praça lendo? Isso é coisa de rico, tem que ter um tablet pra ler aquilo. Já não é uma coisa pro Brasil”. Ele acredita que novos escritores sairão da internet e não o contrário. Uma nova realidade literária vem sendo difundida através dos blogs. Mas, o sucesso só virá depois da primeira publicação no bom e velho formato de livro de papel. Quando Mario era garoto, a internet não existia. Com a difusão das redes sociais, agora os jovens leem e escrevem mais.

Padrão burro

Esse cenário só se observa na internet. Uma pesquisa encomendada pelo Instituto Pró-Livro indicou o número de publicações que o brasileiro leu no ano de 2011. Em relação à última pesquisa realizada, no ano de 2007: a média anterior de 4,7 por ano reduziu-se para 4 livros. Para Mario, a falta de interesse dos jovens pela leitura vem de uma imposição antiga. “Você pega uns livros chatos, e dá para garotos de 16 anos como obrigatoriedade, isso na escola. Nunca vi um garoto chegar numa livraria e pedir um livro de Newton, por exemplo. Foi imposto um padrão, e esse padrão é burro”.

Ele também critica a implantação dos vestibulares, na ditadura militar, desde 1967. Para a época, foi uma grande novidade. Mas, 40 anos depois, está ultrapassada. Os livros indicados para os vestibulares são inadequados para jovens que vivem na era da informação. Mario acredita que não há estimulo à leitura. As próprias regras para a redação dos vestibulares, que exigem no máximo 30 linhas, impedem os alunos de criar. “Talvez eu tenha virado escritor porque nunca escrevi as 30 linhas exigidas”.

Loucura criativa

Além de piadista, o escritor tem um forte espírito revolucionário. Intitula um monte de gente de louca: o primo, o vizinho, os amigos. Essa insanidade não é pejorativa. Mario gosta da loucura porque ela é um caminho para a inventividade. Mas, essas invenções não significam exatamente fantasias ou ficção. Com humor ácido, em tom azedo, diz ficar irritado com livros que estão na moda, aqueles de capa roxa ou vermelha. “Essa coisa meio vampiral. Primeiro, veio o Crepúsculo. Tem um cara querendo escrever o Opúsculo, eu queria escrever o Prepúcio, acho que faria sucesso, pena que eu não tenho tempo”. Mesmo com a correria, vem lançando livros ano após ano e há sete se dedica ao gênero do romance policial. Tem alguns contos inéditos na gaveta (gênero que nunca havia escrito) para serem publicados nos próximos meses.

*Jornalismo, 6º período


1º Encontro Proler-UNIVALI

Estilo techno

Baita escritor

Felipe Adam e Guilherme Furtado*

Camila Aragão e Dayane Bueno Canha*

C

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om a ironia que lhe é peculiar, marca registrada dos seus quase 90 trabalhos, Mario Prata conversou com o público que participou do 1º Encontro do Proler. O momento era destinado a conhecer um pouco da trajetória profissional do escritor, além de opiniões sobre o atual cenário da literatura no Brasil. Apesar de ter se tornado jornalista e escritor ainda no tempo da máquina de escrever, Prata aderiu a quase todo tipo de tecnologia que surgiu nos últimos anos. “Sou viciado em tablet, celular, tudo que surge”. Conta que quando um modelo novo sai, ele já compra, inutilizando os antigos. “Meus filhos estão sempre querendo pegar o último brinquedinho, o resto fica numa gaveta”. O gosto pela tecnologia é tão grande que, no início dos anos 2000, Mario chegou a escrever um livro pela internet. “Cerca de 15 mil pessoas me acompanhavam todos os dias”. Apesar de todo apego à rede mundial de informações, Prata critica os usuários da net. “Tem textos meus com o nome de outros escritores e vice-versa. Já tive muitos problemas por coisas que nem fiz”. Influenciado por cronistas de seu tempo, desde Nelson Rodrigues a Millôr Fernandes, ele possui bagagem para comentar o baixo nível de leitura do brasileiro. E reprova as leituras obrigatórias solicitadas em vestibulares “Um tempo atrás eu fui fazer uma prova que falava sobre um dos meus livros. Tinha oito questões e eu errei as oito”.

m profissional disciplinado. Isso mesmo, o irônico e aparentemente despreocupado Mario Prata se define assim. Mario é um escritor que caminha por vários campos como teatro, cinema, literatura, televisão. Escrever, ele afirma, é a sua profissão, por isso, faz com muita disciplina, seriedade e prazer. “É uma profissão como outra qualquer, também tenho minhas responsabilidades. Eu falo de escritor como profissão, porque não existe inspiração, existe um negócio chamado talento e isso você aperta e sai; claro que às vezes sai pior, às vezes sai melhor”. A carreira começou muito cedo, quando ele tinha 14 anos, no jornal de Lins, cidade do interior paulista. Mario era um jornalista nato, sabia todo o funcionamento da Gazeta de Lins, fazia e escrevia tudo na redação, menos o editorial que era produzido pelo dono do veículo. Aos 20 anos, foi gerenciar uma agência bancária em São Paulo e preparar-se para o futuro. Cursou Economia na Universidade de São Paulo (USP) e deixou a literatura um pouco de lado, mas logo sua paixão voltou a queimar e ele se reaproximou do texto. Em sua bagagem existem histórias hilárias, como a do SPA para onde ele foi como hóspede e lá acabou inspirado a escrever um livro de sucesso: ”Diário de um Magro. Atualmente Prata está trabalhando em romances policiais, estudando a fundo esse gênero que tanto o intriga quanto o fascina. Um autor que ele recomenda? Rubens Fonseca.

NASCI

*Jornalismo, 6º período

*Jornalismo, 6º período

Mario bebe coca-cola demais e não está nem aí para críticas Gabriela Godoy, Ana Maria Cordeiro, Marcia Peixe e Stéphanie Rocha*

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alera, eu preciso ir ao banheiro, se não vou fazer aqui no meio mesmo. Bebi coca demais! Foi com esse comentário seguido de risadas que Mario Prata começou uma conversa diferente. O público sacrificou o conforto, alguns até ficaram de pé. Cronista com inúmeros casos para contar, ele se diverte com suas lembranças e faz piadas para alegria da plateia. Mas, basta afirmar: “Não existe jornalismo no Brasil”, para a professora do curso de jornalismo, Valquíria John, olhar para aqueles ao seu lado com

uma cara de desgosto. Piadas, histórias e risos. Assim mesmo tem gente que não desgruda do celular. Mensagens e atualizações no Facebook roubam a atenção. Um colega de curso, após meia hora no evento, pergunta quem é o cara que está lá na frente falando, só para colocar em seu perfil na rede: Palestra com Mario Prata! Distraídos à parte, o encontro foi inspirador, como revela o texto das acadêmicas do 6º período de Jornalismo Ana Maria Cordeiro, Marcia Peixe e Stéphanie Rocha, a seguir.

Sem papas na língua Suas obras passam longe do português rebuscado exigido pela academia. Fala das coisas simples da vida, carregado de experiências, misturando ficção e uma dose de acidez. Usa argumentos fortes e não tem papas na língua, principalmente quando o assunto é educação. “A merda começa com o vestibular.” Na boca de Mario Prata essas palavras pesam mais. O escritor teve uma formação rígida: pai tradicional, mãe carola, desde cedo ele se mostrou avesso às

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imposições da família. Ao invés de economista, como era vontade do pai, virou jornalista. O jovem queria a agitação e a fumaça das redações. Na Gazeta de Lins, escrevia a coluna social com o pseudônimo de Franco Abbiazzi, aliás, pseudônimos fazem parte da sua carreira até hoje. De vez em quando, surgem secretários e empresários que ele mesmo inventa. Esse tom ficcional logo deu origem a um novo horizonte: ele investiu na literatura. Hoje, escreve crônicas e livros, e está se preparando para um desafio: os romances policiais. Não dá im-

portância às críticas, nem quando a academia estuda sua obra. Para ele, a universidade não consegue adequar a análise ao momento literário atual, continua exigindo textos rebuscados enquanto o público lê modismo. “Não se acha um meio termo,” lamenta. E a culpa é de quem? Da educação. Exemplo disso é a exigência de leituras clássicas num momento em que o leitor ainda está em formação, o que afasta o jovem da leitura logo no início. Exames como o vestibular, diz ele, engessam estilos e formas.

*Jornalismo, 6º período

Itajaí, agosto de 2012


1º Encontro Proler-UNIVALI

“Toda unanimidade é burra” Opinião Nelson Rodrigues tinha razão: uns amaram, outros odiaram Mario Prata

Estudante de Jornalismo? Sim! Atire a primeira pedra quem nunca deixou de ler as referências, intermináveis referências que nos passam a cada semestre

Gabriela Florêncio

Michela Zamin*

De passagem e sem manual de instrução

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Personalidade forte do cronista divide opiniões: ele fala o que pensa sem medo de criar polêmica

Bruna de Azevedo, Patrícia Cristina da Silva e Talita Wodzinsky

U

m público diversificado acompanhou com interesse a palestra do jornalista e escritor Mario Prata, que encerrou o 1º Encontro Regional do Proler Univali. Intitulada apenas de “Conversa com o escritor: Mario Prata”, a palestra durou quase três horas e dividiu opiniões. Aos 66 anos, Prata conseguiu mobilizar várias faixas etárias, desde estudantes até aposentados. É o caso de Laís Bozza formada em Letras e professora aposentada, ela veio incentivada pelo amigo, o advogado Fidel Oscar Kretz. Laís conhecia um pouco da obra de Mario a par-

tir da leitura de alguns textos do autor. Já Fidel acompanha o trabalho do cronista há muitos anos. Ele foi informado da palestra pelo jornal e logo fez sua inscrição na internet. A jovem professora Alessandra Thomaz soube do evento por meio de sua orientadora escolar. Alessandra conhecia apenas as crônicas do escritor. Com a palestra, afirma ter conseguido visualizar novos horizontes para escrever e ensinar redação. Mas, se é mesmo verdade a máxima de Nelson Rodrigues segundo a qual “toda unanimidade é burra”, o público do Proler Univali seria aprovado pelo velho

mestre, porque nem todo mundo gostou da fala do palestrante. A acadêmica de Jornalismo Sheila Gastardi está nesse grupo. Ela reprova a crítica que o escritor faz “a livros muito lidos mundialmente como “O Caçador de Pipas”. E fica indignada porque Prata enaltece Harry Potter, para ela, um livro de ficção sem maior interesse. Sheila considera “uma falta de boas maneiras” reprovar tão radicalmente obras admiradas por muita gente: “Eu não curto Harry Potter, mas respeito quem curte, os milhões de crianças, adolescentes, adultos e até idosos que gostam da Saga Harry Potter.”

Quem fez a cabeça dele

Principais obras de Mario

Ana Maykot e Paulo Alves

Gabriela Florêncio

A inspiração do cronista vem de vários nomes da Literatura, dentre eles Millôr Fernandes, Nelson Rodrigues, Fernando Sabino, Stanislau Ponte Preta, Rubem Braga, Julio Cortazar e Gabriel Garcia Marquez, (com Dostoievisk fora da lista). O senhor que fez suspense quanto à idade, parecia um adolescente ao falar de quem o influenciou. Com sotaque mastigado, a voz mansa e descontraída, ele usa gírias para se referir aos mestres - “Esses caras fizeram a minha cabeça”.

- Estúpido Cupido - 1976, novela - O homem que soltava pum - 1983, livro infanto juvenil - Vestibulando - 1990, livro infanto juvenil - Mas será o Benedito? - 1996, livro - O diário de um magro - 1997, livro - 100 crônicas - 1998, livro - Os anjos de Badaró - 2000, livro produzido online - Bésame mucho - 2000, livro - Bang bang - 2005, novela - Sete Paus - 2008, livro

Itajaí, agosto de 2012

JORNAL COBAIA

ta coisa ruim chegar atrasada! Mario Prata, por Deus, não revele seu segredo antes que chegue aí, é só mais uma rampinha que tenho de subir! Já são 20 horas, mas podia ser meia noite, hora de estar na cama, diazinho difícil este, mas vai acabar bem, espero! Após subir as duas rampas, lá se avista o dito auditório, na frente uma moça e um rapaz aproveitam para vender livros, um deles pela bagatela de 4.99, é infantil , e sempre se tem uma criança na família ou filhos de uma amiga, mas agora não dá tempo, na saída se compra... Ao entrar na sala, graças a Deus, todos estão tão concentrados na palestra, que ninguém se preocupa com a porta, o cara falou alguma coisa que chamou atenção e todos riem. Da porta já dá para avistar duas cadeiras livres. Ufa! Salvação! Senta... Tenta o máximo possível se fazer invisível e nem deixar que a pessoa ao lado ouça sua respiração do tipo: corredor de meia maratona fora de forma. Depois de tudo em ordem, hora de prestar atenção em Mario Prata. Confesso que já ouvira falar dele, mas não tinha lido nada a respeito. Estudante de Jornalismo? Sim! Atire a primeira pedra quem nunca deixou de ler as referências, intermináveis referências que nos passam a cada semestre. Não estou criticando não, professores, que fique bem claro! Sei que se não li um ou outro livro não vou arder no fogo do inferno por isso. Pena que com o atraso, perdi aquela parte sobre as experiências de vida e de profissão, me resta ouvir a rodada de perguntas, vamos lá, quem se aventura? É dada a largada... pelo que notei, todos querem desvendar o segredo daquele grisalho que nos fala. Em alguns pontos concordo com ele, um deles é o formato um tanto engessado por velhos padrões com que nos apresentam a literatura, afinal, ler tem que ser prazeroso e instigante , escrever e interpretar deve ser o mais livre possível. Adorei o que um aluno se aventurou a perguntar: Qual o livro que tu mais ‘gostou’ de fumar? Confesso que não teria essa coragem. Em outros pontos ainda irei avaliar: tipo, Saga Crepúsculo ser desnecessário na opinião de Mario Prata, não foi bem esta a palavra que ele usou, mas isso que deu a entender. Bem, não li ainda. Mas, valeu, meu caro, “quando crescer quero ser igual a você”, embora já esteja com 33 anos. O cara fala o que pensa, sem medo de ser feliz ou infeliz e acho que não sente nenhuma culpa por isso. Tá certo! Estamos aqui neste mundo de passagem e sem manual de instrução.

*Jornalismo, 6º período

Crônica escrita por aluna do 6º período, após palestra do escritor Mario Prata.

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1º Encontro Proler-UNIVALI

O Diário do Mario

Divulgação

Irreverente, o escritor conta histórias, se diverte, cria polêmica e faz pensar Bruna Osmari, Guilherme Altvater, Leonardo Costa e Rodrigo Ramos*

A

o vê-lo, é fácil perceber de onde vem a inspiração para suas obras. A vida é o que o inspira. Ele fala de tudo. Futebol, mulheres, roupas, papel higiênico, grampeadores, homens, muitos ismos e etc. Só para o jornal O Estado de S. Paulo já escreveu mais de 600 crônicas. A forma com que encara o cotidiano é de dar inveja aos outros escritores. Ele desdobra assuntos com facilidade, criticando quando lhe convém, não poupando o leitor de suas ironias. Mario Prata brinca com as palavras, sejam elas escritas ou faladas. Procura desequilibrar, desconstruindo o cinismo e atacando (ora sutil, ora não) o jornalismo como é feito hoje. É fã apaixonado das obras de Nelson Rodrigues: “O bom e velho jornalista, que mantinha o cigarro sempre no canto da boca e que deixava todos os paletós com furo das cinzas”. Mas a inspiração de Mario não vem somente das obras de Nelson. O cotidiano lhe dá temas inusitados, como o que motivou uma de suas obras de mais sucesso: “O Diário de um Magro”, resultado de sua primeira experiência em um spa. A obra, de 1997, parodia de modo um tanto sarcástico “O Diário de um Mago”, de Paulo Coelho. De tão irreverente, ele soa incomum. Não tem o discurso que se espera dos escritores. Mas o que há de ordinário em Mario? Com um jeitão de quem está abastecido com outros aditivos,

ele brinca e recomenda: “Fumem livros”. Confessa que já fumou uns bons Dostoiévski. Se humoristas de carteirinha não fazem o público rir, Prata mostra-se, voluntariamente ou não, craque na arte da risada. Mesmo quando faz severas restrições à academia e afirma não existir crítica literária no Brasil, ele mantém o tom irreverente e irônico. Contudo, suas opiniões, em geral polêmicas, são fundamentadas. Ele reprova o sistema de ensino – porque “emburrece” os alunos ao exigir deles textos sem vida e padronizados, “sem pé nem cabeça”. Prata avalia de forma negativa a escola brasileira e se diverte ao lembrar que errou numa prova todas as questões referentes às próprias obras. Em relação à literatura contemporânea, Mario, que se considera um tarado por tecnologia, comenta que muitos escritores ainda surgirão da internet. O escritor tem fé nas próximas gerações, e pensa que é dever dos professores despertar o interesse dos alunos pelos livros – afinal, nas palavras do cronista, um aluno de 20 anos não é obrigado a entender Dostoievski. Caso lhe seja permitido escolher as leituras, com o tempo o gosto amadurece. Críticas à parte, Mario Prata mantém o clima irreverente e deixa um recado sugestivo: “Quando quiser relaxar, não vá ao spa, vá a Paris!”.

*Jornalismo, 6º período

O escritor se diverte ao lembrar que errou numa prova todas as questões referentes às próprias obras

Leitura dramática de Nelson Rodrigues desperta sentidos Bárbara Caroline Bernardo, Manuella Perrone Marques e Tatiana Sandri*

F

eições de ironia, surpresa, espanto, sentimentos brotados do palco improvisado contaminaram a plateia tão logo os atores iniciaram a leitura dramática de textos do grande e – agora centenário – Nelson Rodrigues. Todos estavam imersos no fantástico mundo da literatura. E não poderia ser diferente, afinal, era o terceiro e último dia do Andanças Literárias. A leitura dramática, que precedeu a palestra de encerramento com Mario Prata, completou uma programação de

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oficinas e atividades em escolas de Itajaí e na Univali. Debates, bate-papos, troca de ideias e de técnicas incentivaram a aproximação dos cidadãos com a cultura e colaboraram para democratizar o acesso à leitura e às artes. Durante o evento, destaque para a participação dos cursos de Pedagogia, Letras e Música, um trio inspirado e inspirador. Acadêmicos e professores de Comunicação se juntaram ao grupo na palestra de encerramento, e um dos resultados da adesão está aqui, nestas páginas do Cobaia.

Aline Amaral

Atores em cena

JORNAL COBAIA

Para a coordenadora nacional do Proler, Carmem Pimentel, a Univali apresentou um modelo para as outras regiões, pois vinculou o trabalho do Comitê local aos cursos de graduação. “É importante que mais áreas de ensino estejam participando do projeto”, declarou, para completar referindo-se à presença de Mario Prata: “A palestra de hoje, com um grande jornalista, é um incentivo para que isso se desenvolva”.

Apenas o início

A programação do 1º Encon-

tro Regional do Proler Univali incluiu temas como a conservação de acervos bibliográficos e a relevância das manifestações culturais. Mostras de teatro e poesia, exposições de artes visuais e contação de histórias também fizeram parte da proposta. Para Carmem Pimentel, a boa participação do público garantiu o sucesso do evento. É uma sementinha plantada para reafirmar a importância da leitura, principalmente entre as crianças e os jovens itajaienses.

*Jornalismo, 6º período

Itajaí, agosto de 2012


Economia

Baixa safra da tainha frustra expectativas Pescadores, comerciantes e consumidores sentem as consequências tanto no bolso quanto na mesa Patrícia Dias*

“E

sta é a safra de tainha mais baixa dos últimos anos”, afirma com tristeza no olhar seu Severino Pedro Pereira, 68, pescador artesanal desde criança. O pescador e a família dependem exclusivamente da pesca para garantirem o sustento e segundo eles, tá cada dia mais difícil. “Eu recordo como era na época em que meu pai era pescador e eu apenas um aprendiz. As capturas, principalmente, a de tainha, eram fartas. Era uma verdadeira alegria”. O pai de seu Severino era “vigia”, como assim é chamado o pescador experiente de olhos bem treinados e com a missão de observar os cardumes de tainhas na imensidão do mar. Quand avistar, o vigia avisa os colegas que estão na praia: é a hora de colocar os barcos na água. Os vigias observam o mar nos pontos mais altos dos costões ou dentro de uma casinha de madeira bem pequena de uns 5 metros de altura instalada na praia. Estes geralmente acenam e apontam com um pano o local exato do cardume que se caracteriza por uma grande mancha vermelha. Hoje já existe os rádios que servem para facilitar este trabalho, mas há quem mantem a tradição antiga, até mesmo na crença da sorte . O pescador lembra da profissão do pai com saudade do velho companheiro e da época boa da pesca. “ Quando meu pai avisava da chegada das tainhas era uma correria, os barcos eram colocados na água, todos remando com força, rede lançada ao mar para cercar o cardume. A praia enchia de pescadores e turistas. Todos queriam ajudar a puxar a rede e meia hora depois uma captura

Christiane Meder

Sindicato dos Pescadores de SC admite ser a safra mais baixa dos últimos anos, fato que preocupa trabalhadores do setor perfeita, mais de 500 tainhas por lance. Isso era uma boa safra”, afirma o pescador emocionado. De acordo com o Sindicato dos Pescadores de Santa Catarina, está realmente foi a safra mais baixa dos últimos tempos, menos de um quarto da produção de 2011. Pior, só em 2006, quando a captura havia sido de 205 toneladas. Em 1957, o peixe não apareceu no litoral. Esse ano, eles deram o ar da graça, mas não suficiente para garantir a renda do inverno. O prejuízo é certo na pesca artesanal, garante Ivo da Silva, presidente da Federação dos Pescadores de Santa Catarina. A safra deste ano foi decepcionante, pois os indicadores naturais sugeriam que seria farta. A

escassez de chuva, que provoca maior concentração de sal na Lagoa dos Patos, um dos principais estuários da espécie, no Rio Grande do Sul, havia criado o clima ideal para a procriação do pescado. “Houve investimento em novas redes e embarcações. Gastos de R$ 2 mil a R$ 80 mil que resultam em prejuízo”, relata o presidente. A tainha representa de 20% a 40% da renda anual dos pescadores artesanais. Depois do termino, é hora de confiar na safra de anchova.

de cardumes foi o clima em maio e junho, no auge da migração da espécie. As tainhas viajam para o Norte, para águas mais quentes em relação ao Rio Grande do Sul. Com o calor, não precisam subir tanto para desovar. “ Houve registro de barcos que capturaram 35 toneladas em Torres, no Rio Grande do Sul, muito ao Sul para a época, quando o normal é encontrar os peixes na altura de Paranaguá, no Paraná. Isso indica que a migração foi pequena”, avalia Schwingel.

Calor inibe a migração

O impacto da escassez na captura da tainha é sentida não apenas pelos pescadores, mas também por quem espera o inverno para apreciar o sabor da espécie.

Segundo o coordenador do Grupo de Estudos Pesqueiros da (Univali), Paulo Ricardo Schwingel, a principal causa da escassez Christiane Meder

Redes praticamente vazias assustaram pescadores e moradores de Porto Belo

Itajaí, agosto de 2012

Decepção para pescadores

Dona Maria de Lourdes, 63, aposentada, afirma ter tido um susto ao ir comprar o pescado. “O preço variou muito, de 2 reais a 10 reais o quilo. Um absurdo”. O sentimento de dona Maria de Lourdes também afeta os proprietários de estabelecimentos que vendem a espécie. Para eles, o valor de compra também oscilou de forma agressiva. Nos restaurantes de Itajaí, de acordo com o Procon, o prato que normalmente era oferecido ao cliente por 39 reais, chegou ao valor de 63 reais. Um prato que era de preço “popular” começou a ser visto como caro pelo consumidor, o que consequentemente atinge o empresário.

*Jornalismo, 7º período

Christiane Meder

O trabalho de pescador desmotiva jovens e familiares pela baixa safra da tainha

JORNAL COBAIA

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Cinema

Batman volta triunfante às telonas O homem morcego traz esperança aos habitantes de Gotham City e também aos fãs do herói Rodrigo Ramos*

B

atman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge começa oito anos após os acontecimentos de O Cavaleiro das Trevas. A polícia da cidade caça Batman, dado como o assassino de Harvey Dent (Aaron Eckhart), sendo idolatrado como herói e utilizado como símbolo da luta contra a criminalidade de Gotham City. O advogado morto ganhou uma lei com seu nome para combater com força os bandidos e marginais de Gotham, tornando-a uma cidade mais segura e praticamente livre de criminalidade. Enquanto isso, o Comissário Gordon (Gary Oldman), vive uma briga interna ao carregar o fardo da mentira criada para proteger a cidade e condenar o homem-morcego. Paralelamente, Batman está fora das ruas, pois a população não precisa mais dele. Bruce Wayne (Christian Bale) encontra-se recluso na mansão Wayne, sem contato com o mundo exterior e sem intenção de voltar a vestir o uniforme. As coisas começam a mudar quando Bane (Tom Hardy), uma espécie de terrorista/anarquista mascarado, começa a mexer com as estruturas da cidade, implantando o caos pouco a pouco. É a partir daí que Bruce precisa rever se já fez ou não o suficiente pela cidade. Neste filme há a introdução de quatro personagens. O elo fraco destas adições é Miranda Tate (Marion Cotillard). A personagem tem uma exposição muito rápida e soa artificial, as-

sim como a atuação de Marion, uma das piores do ano. Enquanto isso, John Blake (Joseph Gordon-Levitt), Selina Kyle/Mulher-Gato (Anne Hathaway) e Bane possuem construções de personalidade muito mais amplas, ficando clara a função de cada um no jogo esquematizado pelo roteiro. Gordon-Levitt consolida-se de vez como um ótimo ator

Nolan prefere

colocar todas as peças do tabuleiro antes de qualquer movimento

de ação e drama. Hathaway está impecável e surpreende com muita elasticidade, sensualidade, sarcasmo e uma ambiguidade irresistível. Já Hardy mostra-se um oponente físico e mental à altura de Batman e, apesar de ser menos interessante do que Coringa, não é menos relevante. Diferente de seu antecessor, O Cavaleiro das Trevas Ressurge demora um pouco para emplacar. Entretanto, isso não é um

Divulgação

Embate entre o bem e o mal: momentos de tensão recer Christian Bale, melhor do que nunca, entregando-se de corpo e alma numa atuação que reflete a dor e raiva do personagem, mandando bem, especialmente ao lado de Alfred (Michael Caine). Caine deixa o espectador com nó na garganta em pelo menos dois momentos. A ação é satisfatória, com cenas espetaculares e lutas mano a mano entre Batman e Bane que deixam o espectador grudado na cadeira. Como uma cereja no topo do bolo, a trilha sonora de Hans Zimmer é o toque especial da película. Ele sabe onde colocar cada acorde e em determinados momentos o som está estourando, lá no último volume, e do nada ele consegue quebrar essa sequência, como num baque e transforma a trilha em algo sutil, transitando entre o caos e a calmaria.

Christian Bale entrega-se de corpo e alma ao herói que resiste ao tempo

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Divulgação

defeito. Nolan prefere colocar todas as peças do tabuleiro em seu devido lugar antes de fazer qualquer movimento. Ele utiliza a paciência – e nós, espectadores, contribuímos com a nossa. O anarquismo toma conta de Gotham City. A visão de uma cidade sem criminalidade acaba sendo a calmaria antes da tempestade. Se Coringa (Heath Ledger) no filme passado tentou instaurar o caos, tentando provar que todos são corruptíveis e essencialmente ruins, Bane prega a visão de que ninguém deve comandar ninguém e todos devem tomar suas próprias decisões, independente de governo ou lei alguma. É a desordem, misturada com o caos e o medo que tomam conta de Gotham. Para combater este mal, as pessoas precisam de inspiração, o que Bruce e Gordon presumiam ser Haver Dent, mas que acabou não dando certo. Por isso, Batman precisa retornar como o símbolo de esperança. Pois, como Nolan já reforçou na trilogia, um homem pode ser detido, ferido, liquidado, ao contrário de um símbolo. Batman se torna a representação daquilo que dá forças para que alguns se levantem, ascendam e lutem por algo. O protagonista em si, torna-se menos importante em relação ao todo. Este longa é sobre Gotham City. A trama gira em torno dela e ela é tratada com tanto apreço por Nolan que é como se ela falasse e respirasse como qualquer outro personagem. Mas não podemos desme-

JORNAL COBAIA

Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge traz consigo muitas surpresas e reviravoltas, sem contar com as referências aos quadrinhos. E então surge a questão: este supera O Cavaleiro das Trevas? Eles empatam tecnicamente. E a essa altura, é impossível separá-los como filmes individuais, pois os três se completam perfeitamente, encaixando peça por peça. O desfecho é satisfatório e digno. O Cavaleiro das Trevas Ressurge é uma lição de como tratar um super-herói nas telas com dignidade, algo que os produtores de O Espetacular Homem-Aranha deveriam levar como exemplo para suas sequências. Por fim, só me resta dizer o seguinte ao filme e à trilogia de Nolan: bravo!

*Jornalismo, 6º período

Itajaí, agosto de 2012


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