Jornal Cobaia. Edição 113

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Jornal

Cobaia

JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI Itajaí, maio de 2012 Edição 113 Distribuição Gratuita

Nando Reis:

30 anos de sucesso

No palco da Vila da Regata, a plateia cantou, pulou e dançou ao som do eterno titã, acompanhado pela banda Os Infernais

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Gabriela Piske

Aventura

Literatura

Olhares Múltiplos

O olhar de Luís Nachbin

A escrita de Fernando Morais

Caco Barcellos na Univali de Itajaí

Com uma câmera na mão e olhos atentos ao cotidiano das pessoas, ele viaja pelo mundo e conta as histórias que encontra pelo caminho

Biógrafo mineiro conversa com estudantes e fãs sobre a necessidade de se investir em educação e leitura na Feira do Livro de Joinville

O jornalista da Rede Globo, coordenador do programa Profissão Repórter, fala sobre os desafios do jovem no novo jornalismo

Ombudsman

Carlos Praxedes

Adriano Corrêa

Divulgação

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04 e 05

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Metamorfose ambulante

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Ombudsman

Editorial

Abril marca a história de Itajaí e região

Jane Cardozo da Silveira*

Metamorfose ambulante

Vera Sommer*

A

bril foi um mês marcante, especialmente, para a comunidade de Itajaí. Não bastasse a Volvo Ocean Race, movimentando a economia e o turismo, da região do Vale do Itajaí, ao longo de 19 dias consecutivos, tivemos o Festival de Música concentrado em parte desse período da realização de uma das etapas da maior regata do mundo. Foram dias e noites de intensa programação, tanto para jovens e adultos quanto para crianças. Atrações as mais variadas, com shows gratuitos na Vila da Regata, como os do Paralamas do Sucesso, no dia 12, e de Nando Reis e Os Infernais, na sexta-feira 13, retratados na página central do Cobaia. Esta edição traz ainda uma breve retrospectiva desses eventos de grande relevância e repercussão nacional e internacional, com matérias e fotos produzidas pelos acadêmicos da disciplina

de Jornalismo de Revista. Além disso, apresenta uma reportagem especial com o documentarista Luís Nachbin, presença prestigiada pelos alunos do Curso de Jornalismo da Univali,

Fica esperto!

Foram dias e noites de intensa programação, tanto para jovens e adultos quanto para crianças

Homenageados do Jornalismo

e uma entrevista com o biógrafo Fernando Morais, que proferiu palestra na 9ª Feira do Livro de Joinville. É preciso registrar, e com ênfase, a participação de alunos de outros períodos de Jornalismo, Relações Públicas e Publicidade e Propaganda, cursos da Comunicação Social, bem como de Fisioterapia. Que cada vez mais estudantes da Univali façam parte do conteúdo deste jornal laboratório. Para a próxima edição, o Cobaia prepara uma cobertura especial do Olhares Múltiplos 2012, evento que oferece mais de 100 atividades diferentes e simultâneas, nos campi de Itajaí, Balneário Camboriú e Florianópolis – Unidade Ilha. Boa leitura!

*Editora Reg. Prof. 5054 MTb/RS

Rafaella Brunetti

Os formandos de Jornalismo agitaram os corredores do bloco 12, no dia 4 de maio, para revelar os homenageados na cerimônia de formatura deste semestre. Após o estouro de balões e a exposição de um cartaz exclusivo, a professora Valquíria Michela John foi surpreendida com o convite para ser paraninfa da turma. Em seguida, os alunos se dirigiram para o laboratório de áudio, onde o professor Carlos Praxedes foi recebido com aplausos e um vídeo sobre sua trajetória com os formandos. “Você aceita ser o nosso nome de turma?”, convida a formanda Júlia Paniz. Para a alegria dos futuros jornalistas, mais um sim! Agora os dias estão contados para a grande festa. Gabriela Piske

Convidadas especiais em RP

Formandos de Relações Públicas fizeram, no último dia 15, o convite formal às professoras Cristiane Maria Riffel, para Paraninfa, e Ediene do Amaral Ferreira, como Nome de turma. A Patronesse é a ex-professora do curso, Eni Maria Ranzan. Convidada via telefone, ela demonstrou grande emoção com o convite, já que se afastou da universidade em 2010. A turma fez o convite de maneira diferente. Os formandos criaram as frases em folhas rosa com uma palavra em cada. E as professoras foram surpreendidas durante a aula com balões e alto astral dos formandos. Algumas alunas entraram, ficaram de costas e viravam-se uma a uma, formando a pergunta. As duas homenageadas ficaram emocionadas e aceitaram o convite com muita alegria.

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O

Cobaia vive assim, em constante processo de transformação. Afinal, para isso serve um jornal laboratório. Há quem critique essa postura, defendendo a ideia de que, para se firmar, ele deveria fixar um projeto editorial e gráfico que contribuísse para dar-lhe identidade. Mas, não residiria justamente aí a identidade do jornal? Nessa capacidade de se recriar e se renovar junto com as turmas de acadêmicos que o elaboram? Em sua nova fase, o Cobaia volta suas atenções para o cenário local e regional, algo que o inspirou inicialmente e é retomado em boa hora. Veja-se a reportagem de capa – “Disputa pelo bem do mar” – que registra um evento tradicional em Bombinhas, mas pouco conhecido fora da comunidade: a corrida das canoas de um pau só. A ressalva quanto a essa matéria fica por conta da chamada de capa, que promete um enfoque mais amplo do que o texto adota: “Tradição, cultura e sustentabilidade marcam a história de Bombinhas, antiga vila de pescadores no litoral catarinense” remete a aspectos que vão além da interessante corrida de barcos estampada na contracapa. A salvo desse problema estão as páginas 10 e 11, onde se revela como Itaipava preserva as memórias do século passado. Nas páginas 06 e 07, sobre o perfil da mulher catarinense, a linha de apoio poderia ser: A maioria é branca, urbana e assalariada, em vez de “Ela é branca, ....”, o que livraria o discurso do tom excludente e afastaria o risco do reducionismo a que as estatísticas às vezes nos condenam. No mais, há alguns probleminhas ortográficos, de pontuação, ... Como sempre, eles se escondem na fase de edição e depois reaparecem quando o texto é publicado, para desespero do revisor. Cito alguns, até por serem recorrentes: vírgula entre o sujeito e o verbo; flexão do verbo haver no plural quando usado no sentido de existir; cacófato; “com” tomando o lugar do “como”. Em termos gráficos, precisamos tomar cuidado com as “linhas viúvas” (o entretítulo “Pequena Veloz” na página 05 é um exemplo) e com a visibilidade dos caracteres, que em alguns pontos se misturam ao fundo.

*Jane Cardozo da Silveira é jornalista. Formada há 28 anos, está no Curso de Jornalismo da Univali desde 1994.

Espaço do Leitor Patrono e Nome de Turma de PP A noite do dia 8 de maio foi uma data importante para os alunos formandos de Publicidade e Propaganda 2012/1 e os professores Robson Freire e Cleiton Marcos. Eles foram escolhidos, respectivamente, como Patrono e Nome de Turma da formatura. Os mestres foram homenageados pelos alunos com um convite surpresa nos estúdios da TV UNIVALI e presenteados com faixas que lembravam as de concurso de beleza. Eles ficaram muito felizes e, honrados, aceitaram o convite. A formatura de Publicidade e Propaganda, junto com os cursos de Relações Públicas e Jornalismo, ocorrerá no dia 28 de julho. A solenidade de colação de grau será às 17h e o baile às 23h30.

Tem algum assunto que você gostaria de ler nas próximas edições? Conte-nos! E-mail: cobaia@univali.br

Expediente JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI

Daniele Heinig

IN - Agência Integrada de Comunicação Itajaí, maio de 2012. Distribuição gratuita EDIÇÃO Vera Sommer Reg. Prof. 5054 MTb/RS FOTO PRINCIPAL DE CAPA Gabriela Piske PROJETO GRÁFICO Raquel da Cruz DIAGRAMAÇÃO Raquel da Cruz GRÁFICA Grafinorte TIRAGEM 2 mil exemplares DISTRIBUIÇÃO Nacional

JORNAL COBAIA

Itajaí, maio de 2012


Diversifique-se

Olhares voltados para eles Divulgação

Comunicação serve como estratégia para empresas Crystopher Kinder e Gerusa Prudêncio*

P Especialistas reconhecidos nacionalmente vêm a Univali conversar com estudantes, professores e comunidade Raquel da Cruz*

C

aco Barcellos, Martha Gabriel, João Paulo Cavalcanti, Christian Barbosa e Gil Giardeli são algumas das personalidades que o Centro de Ciências Sociais Aplicadas – Comunicação, Turismo e Lazer recebe nesta semana. Este encontro está marcado para os dias 29, 30 e 31 de maio, durante o Olhares Múltiplos 2012. O evento acontece, simultaneamente, pela segunda vez, em Itajaí, Balneário Camboriú e Florianópolis – Unidade Ilha, campi da Univali. Neste ano, as atividades estão divididas em arenas: social, criatividade, tendências, mercado e tecnologia. Para representar cada área, foram convidados cinco especialistas reconhecidos

nacionalmente. Em Itajaí, no dia 30, os olhares estarão voltados para a palestra do repórter da Rede Globo, Caco Barcellos. A confirmação de sua presença repercutiu na comunidade local, o que leva a crer que reunirá não só acadêmicos e profissionais da comunicação, mas também fãs e o público em geral. Na manhã do dia 31, Martha Gabriel falará sobre criatividade e inovação no campus da Univali, em Balneário Camboriú. Para quem não puder participar neste dia, a professora de Marketing dará nova palestra à noite, na Unidade Ilha, em Florianópolis. Ainda na capital, o especialista em cultura digital, Gil Giardeli, dará a palestra intitulada

“Colaboração Humana, Inovação Coletiva e Social Good”, no dia 29. Giardeli falará sobre tendências e o comportamento do consumidor no mercado atual. O publicitário João Paulo Cavalcanti apresentará, em Balneário Camboriú, estudo feito pela agência BOX1824 “Sonho Brasileiro”, sobre a geração atual e o momento brasileiro no cenário mundial. E para fechar o evento, na noite do dia 31, Christian Barbosa estará, em Itajaí, com a palestra “Jovens de resultado” (Gestão de tempo).

*Jornalismo, 3º período.

romover a excelência em comunicação institucional, planejar e implementar estratégias de comunicação, além de vender ideias, são algumas das tarefas da Quorum Agência de Comunicação, criada no início dos anos 90. O trabalho da comunicação institucional exige o desenvolvimento e a implantação de alguns planos e estratégias para uma melhor gestão de relacionamentos, formação de uma boa imagem e a construção da credibilidade com seus públicos, sejam eles internos ou externos. Gastão Cassel, jornalista formado pela Universidade de Santa Maria, pode ser compreendido como um empreendedor de sucesso no ramo da comunicação institucional. Ele ressalta a importância da presença de canais acessíveis e demarcados aos seus públicos, já que a melhor maneira de se lidar com crises é a prevenção. Por isso, ele salienta a necessidade de se estabelecer uma comunicação permanente, a fim de evitar eventuais desentendimentos e complicações dentro e fora da instituição. Num bate papo bastante informal realizado no início de abril com os acadêmicos dos 1º e 5º períodos do curso de Relações Públicas da Univali, o jornalista de Florianópolis conta um pouco de suas histórias e experiências reais dentro do mercado com sua agência Quorum Comunicação. A empresa está na ativa há 17 anos, e iniciou suas atividades prestando assessoria para sindicatos. Depois de ´bater com a cara na porta`, devido a algumas dificuldades em relação ao foco da empresa, Cassel partiu para o ramo mais promissor: o da comunicação institucional. Hoje trabalha arduamente com sua agência para proporcionar, aos seus clientes, um trabalho de excelência, processo que envolve muita dedicação e profissionalismo. O nicho principal para a criação do negócio foi o Fundo de Pensão e Aposentadoria que, segundo o jornalista, na época em que a agência começou, apresentava uma deficiência no mercado principalmente devido à falta de confiança e má comunicação nas instituições. Entre as instituições, que trabalham junto à Quorum, destacam-se sindicatos, empresas privadas, os Fundos de Pensão e campanhas políticas. A agência atende hoje, principalmente, as instituições que não visam lucro.

*Relações Públicas, 1º período. Bruna Zuquete

João Paulo Cavalcanti 29/05 Publicitário e sócio-fundador da BOX1824, uma das principais empresas de pesquisa de mercado e tendências de comportamento e consumo na América Latina. Tema: O Sonho Brasileiro Local: Campus Balneário Camboriú Horário: 19h

Gil Giardelli 29/05 Especialista em cultura digital, professor de pós-graduação e MBA na ESPM e CEO da Gaia Creative, empresa que implementa inteligência de mídias sociais, economia colaborativa e gestão do conhecimento. Tema: Colaboração Humana, Inovação Coletiva e Social Good Local: Florianópolis - Unidade Ilha Horário: 19h

Caco Barcellos 30/05 Um dos repórteres mais famosos da TV brasileira está, atualmente, no programa Profissão Repórter. É especialista em jornalismo investiga-

Itajaí, maio de 2012

tivo, documentários e reportagens sobre injustiça social e violência. Tema: O desafio dos jovens no novo jornalismo Local: Campus Itajaí Horário: 19h30

Martha Gabriel 31/05 Diretora de tecnologia da New Media Developers, coordenadora e professora de MBA em Marketing da HSM Educação, palestrante internacional e autora de quatro livros, inclusive do bestseller “Marketing na Era Digital”. Tema: Criatividade e Inovação Local/horário: Campus Balneário Camboriú - 10h Florianópolis Unidade - Ilha - 19h

Christian Barbosa 31/05 Especialista em produtividade e gerenciamento de tempo e sócio-diretor da Triad Consulting e Blue Agle. É articulista de revistas e sites no Brasil e exterior e autor de quatro livros, entre eles, “A Evolução da Produtividade Pessoal”. Tema: Jovens de Resultado (Gestão de Tempo) Local: Campus Itajaí Horário: 19h30

JORNAL COBAIA

Jornalista Gastão Cassel fala com alunos de Relações Públicas

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Literatura

Fernando Morais e suas histórias de vida

Jornalista mineiro, famoso por suas biografias, conversa com plateia na 9ª Feira do Livro de Joinville

Ana Paula Keller*

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a biblioteca modesta de seu pai, com cerca de quatro mil exemplares, nasceu o gosto pela leitura e, consequentemente, pela escrita. Foi alfabetizado antes da escola. Dos livros que mudaram sua vida, revela Sete Histórias, de Graciliano Ramos, um dos primeiros lidos por ele, e Metamorfose, de Franz Kafka. Nascido em 1946, na cidade de Mariana (MG), começa a escrever aos 13 anos, para um jornal de Belo Horizonte. Assim, Fernando Gomes de Morais inicia a carreira de jornalista. O pai não era nenhum ativista político. Era bancário e tinha mais oito filhos. Desde 1961, é jornalista. Em 1965, muda-se para São Paulo. Nos tempos de juventude, partilha da amizade de Ricardo Ramos, filho do escritor Graciliano Ramos. Acumula três prêmios Esso, quatro Abril de Jornalismo e um Jabuti. Trabalha nas redações dos periódicos: Jornal da Tarde, Gazeta, Estadão, Folha de São Paulo e TV Cultura. Também passa por partais de internet, como o IG. É apreciador de charutos, mas somente os cubanos. De música, ele gosta de ouvir a clássica e, ouvindo muito, aprende a cantar uma ou outra Ária. Por onde viaja, a trabalho ou para

[Chateaubriand] Foi um visionário, mas também um picareta e vigarista. Chantageava as pessoas para conseguir as coisas, sob o risco de terem seus nomes publicados nas capas dos seus jornais

lazer, leva um ipad que revela o gosto pela tecnologia e salienta a necessidade profissional. Nele, carrega a imagem da neta, a qual está entre suas paixões e para quem dedica muito das horas de folga. Também adora motocicletas. É casado há 30 anos com uma historiadora. Em São Paulo, onde mora, vizinha com personalidades como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Simples, vestindo camisa polo, Fernando Morais senta-se na poltrona e pede para que a palestra seja um espaço de diálogo com a plateia, em vez de dar

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dicas de como praticar narrativas, investigação e interpretação dos documentos que recebe para compor suas obras. Na 9ª Feira do Livro de Joinville, esteve como convidado. “Apesar de ser conhecido como biógrafo, escrevi apenas quatro”, revela ao fazer referência aos personagens Olga (1984), Chatô (1994), Montenegro (2006) e O Mago (2008). Outros dez livros escritos são fragmentos da história. É o caso de Os Últimos Soldados da Guerra Fria, lançado em 2011. Viajou a Cuba, e, com intervenção de Raul Castro, conseguiu passar dois dias numa prisão, conversando com um sobrevivente da batalha. Precisou partilhar da alimentação e das demais condições de vida em uma cela para obter dados daquele personagem. “O que move a escrever sobre algumas pessoas e não outras é o fato delas terem algo diferente das normais. Escrevo sobre personagens que me permitem contar histórias que não nos foram contatadas nos bancos de escola”, diz o jornalista. Com o dedo indicador apontado, enquanto fala, expõe a personalidade determinada. Um ar de autoridade mistura-se à simplicidade. Na palestra “A escrita da vida”, promovida na Feira do

Livro, ele dedica parte do tempo de sua fala a destacar detalhes dos quatro personagens das biografias. O escritor diz que a escolha por escrever o livro Olga, lançado em 1984, deve-se ao fato de estar inserido no contexto da Ditadura Militar, início do Estado Novo, e por apresentar a ambiguidade do governo Getúlio Vargas. Há revelações de como o Brasil entrou na Segunda Guerra Mundial e a relação com o nazismo de Hitler. “Olga é deportada do país para viver na Alemanha até ser executada numa câmara de gás. Um personagem nuclear

Adriano Corrêa

Na conversa com fãs e estudantes, o jornalista e biógrafo falou sobre suas obras mais populares da nossa história”, explica o escritor. Para Morais, o livro conta um pouco do que foi a tragédia nazista. Em 1994, ele lança Chatô. Um personagem inovador em todos os sentidos. Assis Chateaubriand instalou a televisão no Brasil em 1950, na cidade de São Paulo. À época, só havia TV em outros três países: Estados Unidos e Cuba – televisão privada e comercial – e na Alemanha, a TV pública. “Somos o quarto país do mundo a ter televisão. Além disso, nos anos 30, ele já havia instalado inúmeras estações de rádio nas principais capitais. Chatô permite que se conte o que era o Brasil, a política e o jornalismo na metade do século passado”, destaca. Além disso, Chateaubriand instalou cinco mil aeroclubes desde a Amazônia, Rio Grande do Sul, Mato Grosso - onde treinou os primeiros pilotos brasileiros. Houve um momento no Brasil que o país tinha mais aviões que a Inglaterra, inclusive, aviões de guerra. Ele também construiu o Museu de Arte de São Paulo. “Foi um visionário, mas também um picareta e vigarista. Chantageava as pessoas para conseguir as coisas, sob o risco de terem seus nomes publicados nas capas dos seus jornais”. E complementa: “Ele era uma contradição, um personagem polêmico, mas que deu muitas contribuições para o país. Com o Chatô dá para contar mais de uma história do Brasil”, fala Morais, exaltando orgulho dessa biografia. No ano de 2006, ele escreve a história do marechal Casemiro Montenegro Filho. “Era um homem bonito, namorador”. Piloto de avião, deixou o estado do

JORNAL COBAIA

Ceará para ir ao Rio de Janeiro, onde participou da Revolução de 30 e fez carreira na aeronáutica. O Marechal conheceu o Massachusetts Institute of Technology (MIT), e, fascinado, decidiu criar no Brasil um local similar para a produção científica. Ele fundou o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), com intenção de

[Montenegro] Ele fundou o Instituto Tecnológico da

Aeronáutica (ITA), com a intenção de torná-lo um espaço de produção para a sociedade

torná-lo um espaço de produção para a sociedade. “Naquela época, nosso país importava pinico e arame farpado, e ele queria um Brasil potência”, ironiza o jornalista. Hoje, os três maiores produtores de aviões no mundo são a Boeing, Airbus e a brasileira Embraer, criada por Montenegro. “Não há motivo de construir uma história se o personagem não for sedutor. Montenegro era”.

Biografia de Paulo Coelho

Quando encerra o trabalho do

Marechal, começa a pesquisar a vida de Paulo Coelho. Em 2008, lança O Mago, biografia do escritor brasileiro com maior tiragem de livros vendidos no mundo. “Esse salto de personagens tão distintos um do outro é porque, no fundo, me interesso muito mais por pessoas do que por coisas”, explica Morais. Paulo Coelho nasceu numa família de classe média alta no Rio de Janeiro, foi educado no colégio jesuíta Santo Inácio. Saiu dali ainda adolescente e se meteu com satanismo, missa negra, execução de animais. Conflitos como sexualidade, religião e família levaram-no às drogas. “Tudo, tudo, tudo o que existia no mundo de entorpecente, ele experimentou”, afirma. Paulo Coelho foi empresário da indústria fonográfica, roqueiro - época em que ganhou muito dinheiro. “As melhores músicas do Raul Seixas foram escritas com ele”, relata o escritor. “O Paulo era uma pessoa da minha geração, temos a mesma idade, que não lutava contra a Ditadura Militar”. Começou a ganhar dinheiro com rock aos 20 anos. “Ele dizia que tinha medo do Comunismo vir para o Brasil e levar a grana dele”. Para Morais, a história do Mago é de uma profunda dramaticidade e uma sucessão de tragédias. “Inacreditável que uma pessoa, com aquela vida, escreva uma obra tão suave. Apesar disso, não me cabe fazer qualquer avaliação da obra de Paulo Coelho. O sonho dele era ser escritor líder em todo mundo, e ele conseguiu. Eu li isso escrito nos diários dele, aos quais tive acesso”.

Itajaí, maio de 2012


Literatura “Perdemos a qualidade com a instantaneidade da internet”

F

ernando Morais não consegue relatar qual sua metodologia de trabalho por causa da diversidade de seus personagens. Diz que, às vezes, o comparam com Ruy Castro. “Mas, diferente do Ruy Castro, que só escreve com quem ele tem simpatia, eu escrevo sobre personagens sedutores”. O jornalista tenta fugir do relato de suas práticas narrativas, de investigação, de documentação e interpretação dos documentos. No entanto, afirma que seus livros são baseados em documentos históricos e pessoais, como os diários. Pega tudo o que puder. Por alguns instantes, o biógrafo deixa de comentar temas históricos para opinar sobre jornalismo. Diz ainda que a internet prejudica muito a profissão. “A minha avaliação do jornalismo é que virou uma porcaria. Perdemos a qualidade com a instantaneidade da internet”, apesar de a internet ser sua aliada para escrever as obras. Ele grava depoimentos e coleta informações com viúvas, esposas, amigos e com os próprios biografados. Salva as conversas em arquivos digitais e os remete para sua secretária particular, em São Paulo. Ela transcreve os áudios para o Word e os envia por e-mail. “Aí, então, começo a esboçar o livro, seja onde estiver”. Mas a metodologia de trabalho muda porque cada livro e personagem têm uma história diferente. O jornalista já tem material reunido para outros dois livros. “Estou esperando ele descansar um pouco mais”, brinca, ao fazer referência à futura biografia de Antônio Carlos Magalhães. “A história do Brasil também foi escrita por ele porque, do Jusce-

Adriano Corrêa

Para eu escrever sobre alguém, a

pessoa precisa ser um grande personagem e, num segundo

momento, um grande ser humano, porque as pessoas não são aquilo que, à primeira vista, apresentam

lino ao Lula, ele sempre esteve no poder”, justifica. Apesar de, no período do governo de Itamar Franco, ACM ter ficado no ostracismo, para o escritor foi testemunha ocular do centro do poder. Ele também se prepara para escrever sobre Luis Inácio Lula da Silva. “Meu livro inicia quando ele sai da cadeia, em 1980, até entregar o poder para a presidente Dilma Rousseff. Talvez eu avance mais na história, até o dia em que ele descobre o câncer”. Explica que estava escrevendo o livro sobre José Dirceu, mas precisou interromper. Enquanto não sair o julgamento

do Mensalão, não pode dar continuidade à obra. Sobre a questão de seus livros virarem filmes, Morais conta que não há como satisfazer o autor. “Fidelidade somente se filmarem as páginas”. O escritor exige adaptações rigorosas de suas obras, no que diz respeito ao aspecto histórico, tanto que roteiristas e diretores submetem os textos a sua leitura antes das filmagens. “Digo o que não pode mudar, do ponto de vista histórico, mas há uma liberdade dramatúrgica no cinema”. Apesar de Olga ter sido massacrada pela crítica, ele admite gostar

do filme. Em breve, será rodado o filme Corações Sujos, com base em seu livro. “Será mais sofisticado”. Morais esclarece que, na obra, não tem nenhuma mulher e todos os personagens são homens. “Mas o roteirista, dentro de sua liberdade dramatúrgica, colocou uma mulher para relembrar e contar a história desses homens”. A propósito, o biógrafo mineiro usa uma frase de Jorge Amado: “Livro é livro, filme é filme”. De qualquer forma, para Morais, a história do personagem precisa ser boa. “Para eu

Adriano Corrêa

“ A solução é a

educação, sobretudo, no primeiro e segundo graus. Pagar bem os professores. [...] O Brasil não será civilizado se não resolver a educação

escrever sobre alguém, a pessoa precisa ser um grande personagem e, num segundo momento, um grande ser humano, porque as pessoas não são aquilo que, à primeira vista, apresentam”. Ele complementa: “Não acredito que viverei tempo suficiente para escrever todos os livros que gostaria”. Na cidade onde nasceu, em Mariana, está montando um museu. Parte da biblioteca, que herdou do pai, vai compor o acervo do local.

Leitura e educação Apesar das editoras estrangeiras estarem de olho no Brasil, o jornalista entende que isso não significa crescimento da leitura. Há um horizonte promissor no Brasil, pois já são 15% dos adultos lendo regularmente. Isso significa 30 milhões de pessoas, três Chile e seis Dinamarca. “Mas é a quantidade da população que está determinando a vinda das editoras e não o potencial de leitores”, afirma. “Lê-se muito pouco no Brasil”. O jornalista também atuou na política. Foi deputado estadual e secretário de Cultura e de Educação, em São Paulo. Dos anos 70 até 1993, agregou a experiência e, desde então, acredita que o Brasil só possa melhorar com investimentos maciços no setor. “A solução é a educação, sobretudo, no primeiro e segundo graus. Pagar bem os professores”, opina Morais. Ele também acredita num sistema de ensino de escola integral. “O Brasil não será civilizado se não resolver a educação”.

*Jornalismo, 1º período.

Itajaí, maio de 2012

JORNAL COBAIA

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Vila da Regata

Ajudando, explicando e observando... O trabalho dos recepcionistas foi além de dar boas vindas aos visitantes. Foi essencial para o sucesso do evento Lucas Coppi, Naiara Candido e Patrícia Schmitz*

A

cidade de Itajaí esteve de cara nova, com uma grande novidade: A Volvo Ocean Race. Quem chegava à Vila da Regata, muitas vezes, não sabia exatamente o que encontraria. Um pavilhão com portas de vidro abria caminho para o evento, maior regata de volta ao mundo. Na recepção, plantas naturais deixavam o local cheio de vida. Sofás e cadeiras se mostravam o lugar perfeito para os visitantes descansarem, enquanto sensores nas portas faziam a contagem do público. Bânneres de fotos em alto mar deixavam os visitantes no clima do evento. As sete mil pessoas que visitaram o local diariamente não tiveram muito trabalho para encontrar os profissionais responsáveis por receber os visitantes. Eles eram muitos e bem identificados. “A maioria prefere descobrir por si mesmo, andar e encontrar, mas alguns param e perguntam onde está cada coisa”, disse a recepcionista Marlene Menezes. “É legal andar e descobrir tudo o que tem aqui, mas é bom saber que, se precisar, tem quem ajude”, afir-

mou Luiz Filipi Testoni, visitante da Vila. Por sua localização na Vila, os recepcionistas tiveram a chance de acompanhar o que a maioria das pessoas que visita o evento não vê: a reação do público. E, na maioria das vezes, puderam perceber a expressão de satisfação das pessoas que foram até a estrutura montada na Beira Rio. “É engraçado escutar o que o pessoal sai falando. A maioria fala muito bem, diz que se surpreendeu com os barcos e todas as atrações”, lembrou Marlene. Mas também houve quem deixasse a Vila com algumas críticas. “Esses dias alguém saiu daqui reclamando do preço de um pastel de Belém. Eram cinco reais e a pessoa disse ‘por esse preço deveria vir a caixa’”, contou a recepcionista. “Outro saiu falando que era muito bonito, mas que não tinha muita coisa para fazer”, lembrou ela. Luiz Filipi concordou em parte. “Também achei a comida um pouco cara, mas a Vila tem muita coisa para olhar. Para as crianças também tem bastante atrativos”.

Patrícia Schmitz

Muitos visitantes não precisaram da ajuda dos recepcionistas, mas perceberam a importância de seus serviços No entanto, o balanço geral pode ser considerado positivo. A maioria dos visitantes deixou a Vila da Regata satisfeito. Raquel da Costa, de 30 anos, natural de

Itajaí, disse que toda a estrutura foi bem utilizada pelo público. “A segurança no local esteve reforçada e organizada, e pode-se presenciar o evento com tranquilida-

de, trazendo toda a família para um dia diferente”.

*Jornalismo, 4º e 7º períodos.

O redescobrimento europeu do Brasil Estrangeiros chegaram a Itajaí com uma visão estereotipada do país, mas se surpreenderam Luciano da Silva Neto, Luís Costa e Thayse Gioppo* Luciano da Silva Neto

A comitiva sueca foi preparada pela Embaixada do Brasil em Estocolmo

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É

como se, por um momento, os visitantes da Vila da Regata de Itajaí estivessem fora do Brasil, mas sem se ausentar da cidade. Quem circulou pelas instalações da Volvo Ocean Race, a maior Regata de Volta ao Mundo de Vela, corriqueiramente se pegou tentando entender o que as pessoas a volta falavam, sem êxito. E não podia ser diferente: espalhados pelo Centreventos e pela área ao ar livre da Vila, estrangeiros de variadas nacionalidades e idiomas causaram nos brasileiros a sensação de estar no exterior sem ter viajado para fora do território nacional. E não era difícil identificá-los. Geralmente altos, louros, olhos azuis, vestindo camisetas com a logo da Regata estampada na frente e a palavra “staff” (funcionário em inglês) nas costas. Os estrangeiros, das comitivas que acompanham a Regata em cada parada pelo mundo, circulavam pelo espaço do evento falando

JORNAL COBAIA

os idiomas nativos entre si ou auxiliando os visitantes com um português atrapalhado ou inglês simplificado. O choque de culturas ficou perceptível no local. A florianopolitana Helga Zimmerman, intérprete de seis idiomas da Santur (órgão oficial de promoção do turismo em Santa Catarina), contou que os europeus se sentem embaraçados com beijos e abraços calorosos típicos dos brasileiros. Entretanto, a intérprete garantiu que todos os estrangeiros, que recebeu, ficaram encantados com a receptividade e o jeito amigável dos locais, e que planejam voltar ao Brasil de férias. Incluam-se aí sul-americanos, neozelandeses, estadunidenses, europeus, entre outros. A comitiva sueca, a maior por ser do país de origem da Volvo, foi preparada pela Embaixada do Brasil em Estocolmo para lidar com os perigos que poderiam passar por aqui. “Os suecos contam

que esperavam encontrar muita pobreza, trânsito caótico, violência e hostilidade no país. Depois de fazerem um tour pela nossa região, eles se disseram maravilhados com o que viram e que Santa Catarina lhes parece um pedaço da Europa no sul do Brasil”, relatou Helga Zimmerman. Afirmação reforçada pelo sueco Jonas Eriksson, 28, gerente de projetos da Volvo, confirmando o encantamento dele e de seus conterrâneos com a região. Ele acrescentou que a infraestrutura do local, a boa preparação técnica e o engajamento dos voluntários foram as grandes surpresas ao chegarem a Itajaí. Já o escocês Blair Provan, 25, vendedor da Puma, revelou que a ideia, que tinha do Brasil, era muito diferente do que viu por aqui. Ele adoraria voltar ao país para conhecer as outras regiões.

*Jornalismo, 7º período.

Itajaí, maio de 2012


Vila da Regata

Público supera expectativas Voluntariado em feira multissetorial

transforma sonho em realidade

Principais segmentos da economia local presentes no evento Iara da Cunha, Lucas Pavin e Paulo Mueller*

Camila Aragão, Raquel Reschke e Daira Gomes* Patrícia Schmitz

Centreventos permitiu que empresas fechassem importantes negócios com vários países

O

s barcos atraíram milhares de pessoas curiosas para conhecer a estrutura da maior regata de volta ao mundo. Além de shows e exposições, o público aproveitou, nas dependências do Centreventos, outros atrativos que movimentaram a economia do município. A Náutica Show, por exemplo, superou as expectativas de público. A feira multissetorial recebeu mais de 200 mil visitantes nos 68 estandes com aproximadamente 60 empresas expositoras. Os principais segmentos econômicos da cidade estavam representados na feira. “A gente não quis fazer meramente uma feira expositiva, mas gerar, de uma forma bem clara, com metodologias e uma programação consistente, a possibilidade das empresas fecharem negócios com outros países”, explicou o diretor comercial da Pathros, empresa organizadorada feira, Jean Gern. Um dos estandes mais visitados foi o Aroma Sabor & Arte Catarina, do Serviço de Apoio as Micro e Pequenas Empresas de Santa Catarina – Sebrae. “O diferencial que temos é o contato do produtor com o consumidor final”, destacou o consultor de

Itajaí, maio de 2012

agronegócios Alan Claumann. Ali foram expostos produtos artesanais e agroindustriais de empreendedores de Santa Catarina. A organizadora do espaço, chamado de “Mais que produtos... talento e tradição”, Scheila Gadotti, aposta em eventos

A Náutica Show recebeu mais de 200 mil visitantes nos 68 estandes de 60 empresas expositoras

como este para disseminar a arte e cultura catarinense. “Vejo nossos produtos serem cada vez mais vendidos e divulgados no nosso país. Aqui vendemos mais na área do agronegócio, mas com forte venda também nos

artesanatos”, comemorou ela. A culinária trazida à Itajaí pelos imigrantes açorianos também esteve presente no Centreventos. A tradição criada por volta de 1835 nos conventos de Portugal, ajudou a doceira Jandira Muller a incrementar a renda familiar. Ela garante que: a receita dos doces é simples! “Castanhas, nozes, amêndoas, avelã e gema de ovo. Mistura uma e outra especiaria, e pronto. Agora basta saborear um dos 12 tipos diferentes de doces portugueses vendidos no estande de uma empresa vinda de São Paulo. Cada um foi vendido a cinco reais. A gaúcha Elisangela Silva de Souza mora em Itajaí há 10 anos. Quando viu os docinhos, logo parou para saborear um dos preferidos dela, o Pastel de Belém. Assim como ela, outros visitantes aproveitaram a gastronomia e os atrativos da regata, considerada um dos maiores eventos recebidos pela cidade portuária. Por sinal, o município marcou a história da competição com a segunda maior marca de pessoas a receber as embarcações.

A

s grandes realizações nascem do ímpeto dos sonhos. Assim fizeram alguns dos desbravadores da história, como Vasco da Gama, que descobriu o caminho das Índias e Cristóvão Colombo as Américas: navegando. Os filmes de histórias de piratas mexem com as almas de espírito aventureiro. Herman Melville, autor americano do romance Moby Dick, escreve em seu livro: “Por que quase todos os rapazes robustos e saudáveis, dotados de almas robustas e saudáveis, decidem, em determinado momento, que seu destino é o mar? Por que, naquela primeira viagem como passageiro, você sente tamanha vibração mística, quando é informado, pela primeira vez, de que você e seu navio já não podem avistar a terra?”. Porque a sensação de dar a volta ao mundo, sentindo o vento, o sol e a brisa do mar no rosto, é indescritível para os velejadores da maior regata volta ao mundo, a Volvo Ocean Race. Para que as etapas se realizem, é necessário uma boa equipe de trabalho, principalmente de voluntários. Contudo Mickael Dominik Lazzaris, 15 anos, que trabalhou no evento, comenta que, das 600 inscrições de voluntariado, apenas 200 compareceram. Os voluntários não perdem tempo. Andam para lá e para cá para deixar o público bem à vontade. Para Mayckon Borgonovo, 20 anos, trabalhar em evento como este é uma oportunidade única. O amante do esporte náutico de aventura teve o primeiro contato na época do ensino fundamental, quando sua escola participou de atividades oferecidas pela ONG Associação Náutica de Itajaí, e, desde então, nunca mais deixou de praticar. Mayckon também se inscreveu para participar como voluntário na Volvo Ocean Race Academy, um programa de incentivo à vela para crianças. Essa atividade paralela à regata de volta ao mundo acontece em todas as etapas do evento. Em Itajaí, ocorreu no Saco da Fazenda. Durante o evento, Mayckon trabalhou das 14h às 17h como monitor no veleiro de modelo francês Ludic, com capacidade para oito pessoas. O Ludic é um dos três veleiros trazidos pela organização, como barcos escola, à disposição dos interessados em experimentar o iatismo.

Cinema 3D

Sorriso nos lábios, alegria no olhar, tempo de espera, pessoas de todos os tipos aguardavam na fila do cinema 3D na Volvo Ocean Race, a atração que mais contou com voluntários. A estrutura da sala com 90 cadeiras, óculos 3D e gratuita, chamou atenção dos visitantes. Lucas Krammel Motta, volúntario dessa atração, comenta que algumas pessoas chegavam a aplaudir o documentário ao final da exibição.

*Jornalismo, 4º e 7ºperíodos. Anelise Margraf

Funcionárias não pouparam esforços para manter limpo o local *Jornalismo, 7º período.

JORNAL COBAIA


Festival de Música Gabriela Piske

Nando Reis traz

30deanos sucessos a Itajaí

Sexta 13 com chuva e troca de energia com o eterno titã Gabriela Piske*

A

s primeiras gotas d’água vieram assim que soaram os acordes do violão acústico, vindos do palco principal da Vila da Regata, em Itajaí. Como se fosse combinado, a intensidade da chuva aumentava junto com a energia daquele cara magrelo, ruivo, de calça marrom, camisa xadrez e boina. Nando Reis e os Infernais foram a atração mais esperada da noite de sexta-feira 13 na Volvo Ocean Race, maior evento náutico do mundo. Ainda na passagem de som, começaram a chegar os primeiros fãs do eterno titã, eles aproveitaram para ficar na grade, localizada bem em frente ao palco, para curtir o show quase “particular”. Nando estava à vontade. De pés descalços e sem camisa, ele coordenava os últimos detalhes antes do show começar. Enquanto a banda se dirigia ao camarim, o espaço destinado ao público, que possibilitava ampla circulação, foi sendo preenchido por casais, famílias, crianças e jovens de 16 a 60 anos. Câmeras e celulares disparavam flashs por todos os lados. Enquanto o show não começava o jeito era se distrair de alguma forma. A voz grossa e inconfundível do apresentador anunciava que o show iria começar. A chuva caía suavemente quando Nando Reis e os Infernais começam a tocar a primeira música. Alguns procuraram por um lugar coberto, outros, mais prevenidos, abriram seus guarda-chuvas em meio a multidão. E assim seguiu o show de diversidades, graças ao jeito eclético e único de Nando, que não poupou voz ao cantar melodias que marcaram época na sua trajetória e de outros artistas renomados do Brasil. Wando, Tim Maia e Roupa Nova foram lembrados com as músicas “Fogo e Paixão”, “Gostava tanto de você” e “Whisky a go go”. Nando também cantou com-

posições suas eternizadas por Cássia Eller e Jota Quest, e ainda do tempo de Titãs. O show continuou debaixo de chuva e parecia que ninguém estava se molhando. Um grupo de amigos se abraçava e dançava perto da fila do caixa, e um casal se beijava ao som da música “Sou Dela”. O Bailão do Ruivão foi elogiado por quem passou pelo Centreventos. “O show do Nando Reis não tem o que falar! Foi muito bom”, opinou o publicitário Eduardo Francisco, 30 anos, que veio de Penha para curtir com amigos.

Um grupo de amigos se abraçava e dançava perto da fila do caixa, e um casal se beijava ao som da música “Sou Dela”

O trabalho de Nando Reis foi tão amplo que, após cantar tantas músicas importantes da carreira e finalizar de maneira incrível – que fez o público vibrar – com “Marvin”, sua música voltaria à cidade no dia seguinte. Uma canção composta pelo artista seria ainda ouvida no Festival, através da banda Cidade Negra: “Onde você mora?” foi mais uma lembrança que Nando deixou para Itajaí.

*Jornalismo, 7º período.

Um show de diversidades, graças ao jeito eclético de Nando Reis e Os Infernais Gabriela Piske

O público, que veio ao show, não se importou com a água da chuva, curtindo as músicas mais importantes do cantor e compositor

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JORNAL COBAIA

Itajaí, maio de 2012


Paralamas celebra as alegrias mais populares A 15ª edição do Festival de Música de Itajaí abre com show de um dos maiores mitos do rock brasileiro Júlia Dourado

Bianca Escrich*

U

ma hora antes do show começar, a coletiva de imprensa com Os Paralamas do Sucesso já estava para acontecer. Câmeras, microfones e gravadores ligados, os jornalistas aguardavam ansiosos para entrar no camarim e conversar de perto com essas feras do rock nacional. Hebert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone dispunham de apenas cinco minutos para conversar com a imprensa ávida por entrevistas exclusivas. O guitarrista e vocalista Hebert Vianna parecia mais acostumado com os microfones e respondeu à quase todas as perguntas de forma sutil e poética. Sobre o evento, ele não teve dúvidas e disparou: “Isso é maravilhoso. O fato de que uma atividade social, esportiva e econômica, de alguma maneira, crie um canal pra que exista uma respiração cultural da população, uma celebração das alegrias mais populares, que merece pontos de exclamação e letras maiúsculas.” Após 30 anos de sucesso, a banda, que integra o chamado “Quarteto sagrado do rock brasileiro”, agitou o público da Vila da Regata, em Itajaí, com seus incansáveis hits como “Óculos”, “Vital e sua moto”, “Selvagem” e tantos outros. Ainda durante

a coletiva à imprensa, o baixista Bi Ribeiro comentou que a banda se conheceu durante um festival de música. Hebert Vianna, por sua vez, relembrou a importância de manter esse tipo de manifestação cultural. “A música é um dos aspectos da cultura de cada país mais presentes no dia a dia e na vida prática. Quanto mais nós pudermos investir, não só dinheiro, mas, esforços na construção dessa máquina cultural da sociedade, isso tudo vale muito a pena”.

*Jornalismo, 7º período. Bianca Escrich

Os espectadores aguardaram pacientemente o início do espetáculo para cantar os hits com Hebert Vianna

Florianópolis estremece com presença de Sir McCartney Crystopher Kinder*

O

b-la-di, Ob-la-da, life goes on, braaaa, lalalala – how the life goes on! E a vida continua mesmo. Algumas semanas não foram suficientes para dispersar a energia acumulada durante aquela noite chuvosa do dia 25 de abril, quando Florianópolis estremeceu com a presença de Sir Paul McCartney. Sim, ele mesmo, o cara que fumou um baseado no palácio de Buckingham, junto de seus companheiros de banda, antes de ser agraciado pela rainha da Inglaterra com a medalha da Ordem do Império Britânico. O cara que, supostamente, havia morrido em 1966, responsável por algumas das canções mais populares da história do Rock, como Yesterday e Hey Jude. Lá estava ele, o ex-Beatle com seus quase 70 anos que merecem um capítulo especial na história da música, pronto para presentear

Itajaí, maio de 2012

Florianópolis e seus 30 mil fãs com uma noite inesquecível. O maior evento musical que Santa Catarina já recebeu não poderia ter começado de maneira diferente. Alguns fãs, obcecados pela ideia de conquistar um lugar privilegiado no gramado, montaram acampamento nas portas do estádio da Ressacada dias antes do evento. No entanto, quem chegou à Ressacada por volta das duas da tarde, com um pouco de sorte, ainda conseguiu uma boa visão do palco. Ao contrário do que todos esperavam, Paul McCartney chegou ao estádio de carro, no meio de todo mundo, com os vidros abertos, arriscando até mesmo sair do veículo e cumprimentar alguns fãs sortudos. Pura simpatia. Pontualidade britânica confirmada, às 21h30min, Paul McCartney deu início às três

horas de show, começando de maneira espetacular com Magical Mystery Tour, seguida de mais 42 músicas. Dentre elas, sucessos dos Beatles como A Day in The Life, Let it Be, Eleanor Rigby, além de suas famosas composições com sua banda Wings e carreira solo, como Jet, Band On The Run, Maybe I’m Amazed e, seu mais recente sucesso, My Valentine. No último show da turnê On The Run, na América do Sul, Paul esbanjou vitalidade, pulou, berrou, dançou, fez piada, riu e se divertiu com o público manezinho. Este recebeu-o da maneira tradicional brasileira, calorosamente cantando as músicas na íntegra, com todas as forças. Até a próxima, Paul.

*Relações Públicas, 1º período.

JORNAL COBAIA

Marina Taques Panazollo

Mais de 30 mil fãs viveram uma noite inesquecível na Ressacada


Vila da Regata

Segurança reforçada na terra, no céu e no mar Mais de 800 profissionais foram mobilizados ao longo dos 19 dias de realização do evento Douglas Marcio, Fernando Moraes, Jessica Oliveira, Ricardo de Oliveira, Antônio Sabará e Waltermiriam dos Santos*

D

urante 19 dias, a organização do evento não registrou nenhuma ocorrência grave, apenas o furto de uma motocicleta. “Isso é quase nada se levarmos em consideração o tamanho da estrutura” – afirmou o coordenador da Codetran, Ewerson Luiz Gama. O policiamento foi reforçado na terra, no céu e no mar. A operação conjunta contou com pelo menos 800 profissionais. Destes, 250 eram seguranças particulares, contratados pela prefeitura de Itajaí, através de uma empresa terceirizada. Só neste setor, os investimentos chegaram a 170 mil. Para ser escolhido como um dos 10 destinos da Volvo Ocean Race no mundo, não foi fácil. A organização da Stopover precisou do apoio de outros municípios da região para mostrar que era capaz de garantir a segurança de milhares de visitantes durante a passagem dos veleiros. Silvia de Matos, 25, por exemplo, é de Balneário Camboriú. Ela trabalhou como segurança no local, e se surpreendeu com tudo. “Não gosto de barco, nem de

água, mas a chegada dos veleiros foi muito bonita”. Além do policiamento interno e externo, 12 câmeras de monitoramento também foram instaladas em pontos estratégicos da Vila da Regata. Amilcar Gazaniga, presidente do Comitê Central Organizador (CCO), diz que a equipe de segurança não mediu esforços para evitar contratempos comuns em grandes eventos. Dentro do parque, o policiamento foi feito a pé, diferente da área externa, onde a segurança contou com a ajuda de motos, viaturas e da cavalaria. A Polícia Militar de Santa Catarina convocou 120 policiais. Em dias de show, o batalhão de choque foi acionado. Além de 20 agentes, a Polícia Civil estacionou duas delegacias móveis bem em frente ao Centreventos. Os veículos eram utilizados em operações policiais e contavam com acesso a internet. Dois delegados fizeram plantões diários. No mar, a Polícia Federal, a Guarda Portuária e a Marinha do Brasil atuaram em rondas marítimas. A intenção era identificar embarcações, e realizar

Fernando Moraes

Além de cuidar da segurança, a Polícia Militar ajudou a orientar os visitantes dentro da Vila da Regata salvamentos. Lanchas, um navio patrulha e uma fragata ficaram a disposição das instituições. A lém disso, a Polícia Rodoviária Federal fez patrulhas nas BRs

101, 470 e 282. O empresário Silvio Rocha,42, vai sentir saudades, não só das emoções, mas também da segurança. “Acredito que a cidade nunca esteve tão segura.

É realmente lamentável que, junto com os velejadores, os policiais também vão embora”, alfineta o morador de Itajaí.

*Jornalismo, 4º e 7º períodos.

Falta de área para estacionar carro e bicicleta Multidão não se intimidou para pagar os flanelinhas espalhados nas ruas próximas do Centreventos Paula da Silva e Talita Wodzinsky*

A

poluição não teve vez na Volvo Ocean Race. O pouquinho ar puro de Itajaí era o clima ideal para quem quisesse prestigiar o evento, mas com o carro estacionado em qualquer outro lugar da rua que não fosse dentro do Centreventos. Por um lado, a iniciativa foi incrível, por outro o sincronismo das sinaleiras é o que determinava quem iria conseguir primeiro uma vaga para o seu carro na avenida que ia de encontro com o evento. Na tentativa de estacionar o automóvel em algum lugar publico sem precisar pagar, havia quem insistisse em dar várias voltas pela mesma quadra até encontrar a melhor vaga. O que chamou a atenção foi o contrário disso. A multidão não se intimidou e pagou flanelinhas que estavam por toda a parte, próximos ao evento, e por um preço bem salgado. Digamos, tabelado, de R$10. Em geral, para o bolso vale a pena, já que os flanelinhas pro-

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metem segurança e praticidade. A flanelinha Rosangela, de 48 anos, já estava com os braços doloridos de tanto indicar a direção aos motoristas do terreno, onde os carros deveriam estacionar. Ela lida com a situação exatos há vinte e cinco anos, sempre presentes em todos os eventos que acontecem em Itajaí. Ela não poderia perder a Stopover também. O terreno utilizado pertence a um senhor de 70 anos, que mora em Balneário Camboriú. Por noite, mais de cinquenta carros circularam pelo estacionamento, que tem vaga apenas para vinte e oito veículos. O faturamento foi de aproximadamente R$550 por dia. Esse valor foi dividido com outro flanelinha, que ajudava a manobrar os carros no terreno. A concorrência foi acirrada, mas, todos levaram na esportiva. O estacionamento mais cobiçado foi o da Marejada, que funcionou noite e dia e contava com uma

Talita Wodzinsky

Terrenos, nos arredores do Centreventos, estiveram lotados durante todos os dias da Volvo Ocean Race comodidade extra para os clientes: lavação. Ou seja, o cliente que deixasse seu carro estacionado o dia inteiro no espaço tinha a sorte de voltar e encontrar o veículo limpo.

JORNAL COBAIA

A iniciativa do evento foi importante, entretanto, esqueceuse das bicicletas. A organização da regata não reservou nenhum espaço para guardá-las. Ficando impossível deixá-las acorrenta-

das em qualquer lugar, causando um transtorno para a comunidade acostumada com as “zicas”.

*Jornalismo, 7º período.

Itajaí, maio de 2012


Vila da Regata

Restaurantes quase vazios Garçons receberam treinamento especial para melhor atender os estrangeiros, que, praticamente, não apareceram Aline Hodecker, Roberto Dávila, Maria Cecília Largura, Ediane Souza e Karine Nunes* Maria Cecília da Silva Largura

Comerciantes ansiavam por clientes, após as 22h, horário de fechamento da Vila da Regata

O

s estabelecimentos gastronômicos, localizados na parte externa do Centreventos de Itajaí, ficaram lotados na noite da sexta-feira (13), macabra para alguns, mas que estava fluindo bem em todo o evento. De acordo com cálculos da Polícia Militar, mais de oito mil pessoas passaram pela vila da regata somente neste dia. Do outro lado do pavilhão, quiosques, bares, lanchonetes e restaurantes ficaram lotados durante toda a noite. A praça de alimentação se distribuiu por toda a área do evento, tendo sido locado cada espaço por preços variados. Quiosques com venda de pipoca, churros, bebida especial como caipirinha, cerveja, lanches rápidos, pizzas e cachorro quente. Além das lanchonetes menores, um restaurante tradicional da cidade montou uma estrutura diferenciada

na extensão construída sobre o rio Itajaí-Açu. Neste local, os preços não eram tão atraentes como o ambiente. “A cerveja longneck custou oito reais. Normalmente eu pago três reais em outros lugares”, conta Valdenir de Melo, 42 anos. Do lado de fora, na via gastronômica, cardápios foram traduzidos, equipes reforçadas, e os garçons treinados para bem atender os turistas. Essas foram algumas das medidas tomadas por proprietários de restaurantes da Beira Rio. O Sebrae e o Sindicato de Bares e Restaurantes de Itajaí ofereceram aulas básicas de inglês para os garçons, que teriam contato com os estrangeiros envolvidos no evento. Eles estudaram, foram treinados, mas não puderam exercitar o que aprenderam. Orlando Torres, 45 anos, garçom há 25, afirma que se preparou para o evento,

mas acha que não foi tudo aquilo que divulgaram. “Nós fizemos curso três vezes por semana. Aprendemos como atender os turistas que, são bem exigentes. Mas nós atendemos poucas pessoas de fora”. De acordo com Murilo Chervinski, 23 anos, proprietário de uma pizzaria localizada na Beira Rio, os investimentos foram superiores ao retorno pretendido. “Para gente não melhorou em nada. Ao contrário, o movimento piorou bastante”, afirma. Murilo comentou ainda sobre a melhora disfarçada na segurança da cidade. Segundo ele, vários restaurantes da Beira Rio já sofreram assaltos. Com o evento, houve constante policiamento no local. “Acho que isso é só maquiagem durante o evento. Depois tudo será como antes”, finalizou.

Sucesso da pipoca Cristiéle Borgonovo, Grazieli Till, Julia Dourado e Neuseli Bastos*

O

lha a pipoca, tem doce e salgada! Crianças e adultos escolhem os sabores e vão para a fila de espera do cinema e dos brinquedos. A pipoca da Rô faz sucesso por onde passa, declara Rosangela Rocha Santos de 39 anos, proprietária dos carrinhos de pipoca “Pipoca da Rô”. Ela trabalha nesse ramo há 22 anos. Além do movimento em cada canto exterior da vila da regata que abriga parte da estrutura da Volvo Ocean Race acontece outras atrações. Na tenda da Nestlé, quem vê Maria Aparecida Ramos chamar atenção do publico para comprar sorvetes e picolés, nem imagina que ela que já deu a volta ao mundo. Cida, como gosta de ser chamada, trabalha embarcada para uma agência. Nas folgas, faz trabalhos extras para complementar o orçamento familiar. Natural de Londrina, Paraná, veio para Santa Catarina aos 11 anos para ser babá. Cida fala inglês fluentemente, idioma que aprendeu quando foi, clandestinamente, para os Estados Unidos, onde trabalhou em um restaurante lavando pratos, e fazendo faxinas. A vida em um show começa bem antes dos artistas tocarem seus primeiros acordes. As luzes do palco já estavam acesas e eram acompanhadas de musicas de diversos estilos. Vendedores ambulantes passeavam pela multidão, que ficava maior a cada minuto. Gabriela Máximo, 16 anos, e suas amigas comentavam entre elas as experiências adquiridas durante o evento. Indicadas por um professor, as meninas de Itajaí conseguiram um trabalho na área de recreação de crianças. Para Aurea dos Santos, 50 anos, professora e moradora de Itajaí, a água de seu Agenor foi muito preciosa. Seu Agenor e sua esposa trabalharam todos os dias do evento vendendo água mineral e guloseimas. Em eventos como esse ele consegue faturar em média R$ 300,00 por dia. Grazieli Till

*Jornalismo, 4º e 7º períodos.

*Jornalismo, 4º e7º períodos.

Falta de alternativa na praça de alimentação Pitter Hurmann e Miriany Farias*

O

nde fica a praça de alimentação? Essa foi a maior indagação de quem entrava no Centreventos em Itajaí. Apenas duas opções foram colocadas dentro do espaço e em lugares diferentes. A Au-Au Lanches, que ficou nos fundos do piso térreo, e o restaurante Trattoria, no segundo andar. Alguns esperavam encontrar uma praça de alimentação com mais variedade e reunidos em um só lugar. “Faltou opções de comida”, diz a hoteleira de Bombinhas, Simone Labis, 31 anos, enquanto observa o cardápio da lanchonete. Sua amiga Ali-

Itajaí, maio de 2012

ce Taufer, 33, comenta que, como esse era um evento internacional, deveria oferecer outros pratos. O Restaurante Trattoria levou seu cardápio padrão de carnes e massas e agregou comidas típicas brasileiras para atrair os estrangeiros. De acordo com o proprietário Adirley Nonino, 52, levaram boa parte da estrutura existente no centro da cidade e, com isso, transformou o lugar num verdadeiro restaurante. Segundo ele, todas as expectativas com o evento foram alcançadas e o chope foi o carro chefe da casa. O itajaiense Cleonir Haroldo Por-

tes, 50 anos, diretor de marketing elogiou o atendimento e principalmente os preços práticos que estavam dentro de um padrão, Portes relatou que, em outros eventos, é comum cobrar mais caro do que o normal. A iniciativa de oferecer cachorro quente aos visitantes partiu dos organizadores do evento segundo o coordenador da AuAu, Renato Augusto Didomenico, 26. A franquia, que oferece vários tipos de hot-dog, tem ainda saladas, doces e outros itens no cardápio. Didomenico comenta que o movimento é muito gran-

JORNAL COBAIA

de, inclusive pelos estrangeiros. Afinal, cachorro-quente é um lanche praticamente universal. Outro aspecto positivo é que ele mesmo fala fluentemente inglês e espanhol, o que facilitou o atendimento aos clientes. A lanchonete já é conhecida pelos visitantes da região, como a advogada Morgana Faria Philippi, 45, de Balneário Camboriu. Ela diz ser cliente assídua da filial na sua cidade e logo que descobriu que havia AuAu na Volvo, foi direto para lá. Apesar da falta de outros lugares, os clientes se mostraram satisfeitos, como a professora

aposentada Suly Conceição, 56. Quase todas as noites, esteve degustando os pratos ou bebendo uma cerveja com os amigos. Suly ainda aponta como as pessoas, principalmente moradores de Itajaí, estavam felizes com a realização da Volvo Ocean Race na cidade. Por isso, valorizaram tudo que acontecia dentro da Vila da Regata. Conceição finaliza dizendo que, nem sempre tudo é perfeito. Provavelmente, a próxima edição será ainda melhor e mais organizada.

*Jornalismo, 7º período.


Descaso

Abandono de animais vira problema de saúde A sociedade de Blumenau deve discutir uma solução para reduzir a média mensal de 15 cachorros recolhidos nas ruas Felipe Adam*

O

telefone toca. É mais um ouvinte que participa do programa matinal de uma radio blumenauense. O assunto do dia se baseia num tema central, em que os participantes denunciam, agradecem ou reivindicam soluções para problemas nos bairros da cidade. Dessa vez, o morador não perdoa. Dona Roseli atira para todos os lados, como se fosse procurar um culpado pelos transtornos da rua. - Aqui na rua Vereador Romário da Conceição Badia, tem um monte de cachorros grandes. Eles vivem incomodando, latindo e não deixam ninguém dormir. Ficam atacando as pessoas que vão ao trabalho. O pior é que se a gente mata um bicho desse, se incomoda”. Dona Leonilde também liga, mas para denunciar a morte de cachorros em sua rua: - É uma barbaridade, sabe? É o quarto cachorro que enterro. São inúmeros animais abandonados durante o ano. Em especial no período de férias. De acordo com levantamento da Vigilância Ambiental e Zoonoses de Blumenau, não há local específico para o abandono. Porém, há lugares mais propícios como a região da Estrada do Rio Bonito, no bairro Vila Itoupava, e nas proximidades da Toca da Onça, na Nova Esperança. “São ruas não asfaltadas, íngremes e com poucas residências. Mas tem aquelas pessoas que também abandonam em áreas urbanas”, explica Valdecir José Argenton, coordenador.

Dados da coordenação comprovam que são recolhidos de três a quatro cachorros por semana, uma média de 15 por mês. Argenton cita os critérios para recolher algum animal na rua. “Debilitado ou doente; segundo, atropelado e machucado ou, ainda, um animal que contenha alguma doença transmissível a outros animais ou ao próprio ser humano”. Em relação aos maus tratos, são de duas a cinco denúncias por mês. Mas o que complica mesmo é que as pessoas denunciam, mas não querem se responsabilizar pelas informações prestadas. Por enquanto, o prédio, onde ficaria o Centro de Zoonoses de Blumenau, não está concluído. Apesar de ter saído do papel, apresenta algumas irregularidades no projeto. Enquanto isso, cachorros perambulam pelas ruas sem eira nem beira. Mesmo diante das dificuldades, Argenton esclarece que seu trabalho é duro pela frieza dos casos: - Quando ajudo e consigo reverter a situação do animal, a sensação é de gratidão e de alívio enorme.

Sempre cabe mais um De jeito simples, com uma bermuda surrada, pés descalços e fala rápida. Rogério da Silva é um dos 60 mil moradores de Gaspar, uma cidade com costumes italianos, entre os municípios de Blumenau, Brusque e Ilhota. Ex-frentista, Rogério ganha algum dinheiro em consertos de Felipe Adam

Felipe Adam

No rancho de Rogério da Silva, devoto de São Francisco de Assis, convivem 101 cachorros de várias espécies máquinas e serviços de jardinagem, mas durante anos, lutou na boleia do seu caminhão Mercedes – Benz MB 1318. Nascido e criado no bairro Gaspar Grande, esse senhor de 46 anos cuida de amigos e colegas que não falam a mesma língua. Piticooooo! Rambooo! Scooby, onde você tava, meu filho? Morcego, seu fujão! Vem cá com o pai! O carinho para com os seus 101 cachorros se baseia num sentimento que vai além de beijos e abraços. Para ele, não existe distinção entre raça e tamanho: “A gente quando gosta, a ideia não surge, isso vem espontâneo”. No terreno, o Pastor Alemão guarda a porteira, guapecas brigam por um chamego do dono, Basset’s correm e rolam pelo capim, Chihuahuas ficam atentos para a próxima traquinagem e os filhotes fazem a festa com o cadarço dos calçados dos visitantes. Entre uma fala e outra, Rogério sente falta de Alemão. Fica angustiado e começa a andar para um lado e para outro. O assobio alto e seco tenta chamar a

atenção do “menino”. Nenhuma resposta. Mesmo assim, o dono enumera os principais casos de abandono, tentando assim disfarçar a preocupação. - E é isso que vês aqui. São tudo cachorros apedrejados, que quebraram a perna e a costela. Enforcados com fio elétrico, amarrados dentro de saco e jogados no ribeirão. Durante a conversa, sabese do nascimento de mais três filhotes. “São mais três bocas para alimentar”, deve ter pensado. Para manter essa alcateia, Rogério cozinha 16 quilos de arroz e prepara 10 quilos de ração por dia. E o banquete é servido três vezes ao dia. Segundo a tradição da Igreja Católica, São Francisco de Assis é o padroeiro dos animais. Assim sendo, Rogério acredita que toda a ajuda expressada aos animais vem da devoção para com o santo. E isso tudo pode ser visto no rosto cansado do samaritano. Cansado, mas feliz, por saber que a sua atitude já ajudou muitos animais. - A pessoa me pega um ca-

Para alimentar os 101 cães, Rogério cozinha, diariamente,

chorro e aí pensa: “Pequeno é bonitinho e, depois, quando cresce, vai incomodar”. Não, o ser humano é quem incomoda. O ser humano acha que pegou, adotou, ah, não quero mais, e depois descarta como um pano velho, um papel. A tarde cai e os animais, dignos amigos e filhotes por adoção, começam a silenciar no rancho a eles reservado. São quase 17h, e os cachorros se preparam para mais uma refeição. E é só ouvir o estalar dos grãos de ração tocando fundo o prato de alumínio, que Alemão se desperta em meio às cestas. Rogério o abraça emocionado, como se tivesse reencontrado o filho pródigo, um amigo que não via há anos. Até elogia o meninão na frente dos outros. - Se eu fosse uma menina, namorava com você. Olha só! Como ele é bonito, gente. Pelo carinho e pela fidelidade, não resta dúvida da gratidão e do comprometimento que os dois têm um para o outro.

*Jornalismo, 5º período.

Quer ajudar? Rogério da Silva Estrada Geral do Garuba Bairro Gaspar Grande Gaspar - SC Fone: (47) 3332-4733

16 quilos de arroz e prepara 10 quilos de ração. E o banquete é servido três vezes ao dia

JORNAL COBAIA

Itajaí, maio de 2012


Aventura Eliza Doré

Eliza Doré

Um olhar sobre o outro Luís Nachbin viaja para os quatro cantos do planeta e conta as histórias que encontra pelo caminho Camila Maurer*

O

menino curioso, que corria ao atlas para ver onde ficavam os países para os quais o pai viajava, cresceu. E apareceu. Mas de um jeito bastante peculiar: por trás da câmera, e não em frente a ela. Viajando sozinho para os quatro cantos do planeta, o jornalista Luís Nachbin produz documentários nos quais conta as histórias que encontra pelo caminho. Com um detalhe importante: Nachbin produz os vídeos sem equipe, apenas com uma câmera na mão e os olhos atentos ao cotidiano das pessoas. O trabalho de “repórter-abelha” - como são chamados os jornalistas que adotam essa dinâmica - rendeu a Nachbin as séries de documentários Passagem para... e Entre fronteiras, ambas veiculadas pelo Canal Futura. Em Itajaí, por ocasião do ciclo de palestras sobre sustentabilidade, integrado à programação da Volvo Ocean Race, Nachbin fez “escala” na Rádio Univali, na quinta-feira, 12, para uma entrevista ao programa Viva Voz. Carregando uma mala, um caderno e mil e uma histórias, o jornalista esbanjou simpatia, típica de quem é feliz com o que faz, durante os 30 minutos em que esteve sob o foco das câmeras da TV Univali. Não é difícil entender os motivos que levam Nachbin a ser um viajante nato. Luís veio ao mundo em meio a uma viagem dos pais. Durante a infância, frequentemente via o pai partir em viagem - sozinho - para países distantes, os quais, curioso, procurava no mapa. Adulto, cursou comunicação para atuar como repórter esportivo de rádio, meio que até hoje o fascina. Acabou por trabalhar como repórter da TV Globo e, quando o cansaço chegou, decidiu apostar num trabalho independente. Preferências pessoais o levaram, inicialmente, à Índia, país com o qual ainda mantém estreita relação. Para Nachbin, o gosto por viajar sozinho se justifica pelo grau

Itajaí, maio de 2012

Raquel da Cruz

Nachbin respondeu às perguntas do público e contou sobre suas experiências com a produções do Passagem para... e Entre fronteiras

Raquel da Cruz

Muitas pessoas permaneceram no auditório, ao final da palestra, para conversar com Nachbin, pedir autógrafos e bater fotografias

JORNAL COBAIA

de interferência mínimo que um viajante solitário representa no cenário que busca conhecer, garantindo a espontaneidade das relações desenvolvidas nesse contexto. Sua experiência ensina, ainda, que o fato de estar sozinho em um país estranho gera no morador local uma espécie de compaixão. Sentimento que facilita a aproximação e a captação de histórias, proporcionando a “química” necessária para que os personagens nasçam. Ao dizer que é brasileiro, então... A receptividade é imediata e o papo inevitavelmente “descamba” para futebol. Dificuldades também existem e são diversas. A impossibilidade de apurar a informação e captar imagens ao mesmo tempo é um dos fatores que tornam árduo o trabalho de Nachbin. A sobrecarga, gerada pela soma dos trabalhos físico e criativo, aliada à solidão, que, vez ou outra, bate à porta, também estão entre as pedras que esse viajante encontra pelo caminho. Adotando um modelo de trabalho, nem sempre aceito pelo mercado do audiovisual, Nachbin considera razoável a receptividade do público em relação aos documentários que produz, tendo em vista o “editismo”, isto é, a linguagem rápida e cheia de cortes, ao qual o brasileiro está habituado. Os vídeos apresentam narrativas mais lentas e intimistas, que buscam proporcionar ao telespectador um tempo maior para absorção e digestão do conteúdo. Para Nachbin, o maior diferencial do trabalho que produz é o que fica no telespectador depois que ele desliga a TV: “No fim das contas, acho que alguma reflexão, algum conteúdo fica na cabeça, no peito de quem tiver prestado o mínimo de atenção”. O jornalista, que acabou de voltar da Tanzânia, agora se prepara para ir à Nigéria, onde deve produzir mais um episódio da série Entre fronteiras. A diversidade que encontra por onde passa é a motivação para arrumar as

malas, uma vez mais. “Me sinto muito motivado a cada país porque sei que vai ser uma realidade bem diferente da anterior que conheci”, conta. Uma das lições que o exercício de lançar um olhar sobre o outro ensina.

Janela para o mundo

“Até agora eu não entendi por que eu fui convidado para participar de um fórum sobre sustentabilidade”, confessou o jornalista Luís Nachbin ao abrir a palestra da noite de quintafeira, 17, no Ciclo de Palestras Stopover Univali da Volvo Ocean Race. Equilibrando-se na borda do palco – dando a impressão de que cairia a qualquer momento – Nachbin dividiu com os presentes algumas de suas experiências de anos de andanças pelo mundo em busca de algo que o fizesse feliz. Entre vídeos e relatos, Luís mostrou ali o que sabe fazer de melhor: contar histórias. Do alto dos 47 anos que não aparenta, o jornalista narrou a própria vida, misturando experiências pessoais e profissionais pelos quatro cantos do globo. Enquanto, do lado de fora, a energia da música do Paralamas do Sucesso agitava a multidão, ali dentro, no auditório acarpetado, Nachbin e suas histórias abriam uma janela com vista para o mundo. Os olhos vidrados da plateia e o bombardeio de perguntas, que se seguiu, evidenciam seu talento para construir narrativas cativantes. A indagação de Nachbin ao abrir a palestra talvez encontre resposta nas palavras do anfitrião da noite, professor João Luiz Baptista de Carvalho: “Para que se tenha sustentabilidade, é preciso que se viva em uma sociedade mais generosa”. Generosidade é tirar os olhos de si e lançar um olhar para o outro. E nisso, Nachbin é mestre.

*Jornalismo, 7º período.

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Comportamento

Um adeus sem Deus

Morgana Bressiani

Sem preces, figuras religiosas, ou esperança de outra vida. Uma despedida transformada em uma festa

Morgana Bressiani*

A

casa de dona Rosa Fernandes sempre viveu cheia de amigos do filho Ricardo. Na infância, eram as festinhas de aniversário, uma noite em que ele juntava a turma para assistir a um filme, e até mesmo para fazer os trabalhos de escola. Na adolescência, a casa era referencial de encontro. E, depois mais velho, era lá, na casa da mãe, que Ricardo promovia os “esquentas” antes de ir para festas, ou o famoso churrasco de domingo. Estava sempre arrumando algum motivo para reunir todos de quem gostava. A última reunião dos amigos de Ricardo na casa de dona Rosa parecia qualquer outra. Gente animada rindo alto pelos corredores e em torno da piscina. Músicas de bom gosto escolhidas pelo próprio anfitrião, além de comida e bebida. Mais uma festa, sim, só que, desta vez, Ricardo não estava lá rindo, servindo os

amigos ou importunando as irmãs mais novas para usarem roupas maiores. Também não estava ali implorando para a mãe sair da cozinha e se juntar aos demais convidados. Na verdade, Ricardo estava lá, no centro da sala, em sua última festa. Era um adeus à família e aos amigos, num velório planejado por ele mesmo. Aos 29 anos, Ricardo descobriu um tumor no cérebro. Os médicos explicaram sobre os riscos e as complicações que a cirurgia traria, e, mesmo assim, ele resolveu arriscar. A cirurgia correu bem, entretanto houve complicações no pós-operatório. Enquanto a mãe, católica fervorosa, inconsolável, rezava por um milagre, Ricardo, ateu declarado desde os 11 anos, resolveu aceitar o destino. O último pedido feito para dona Rosa foi planejar a sua festa de despedida. À Dona Rosa coube acatar o último desejo do filho. “Ele me

disse que velórios são apenas para os vivos. Quem se vai não se importa se vai haver flores, ou quem vai chorar. É uma reunião social, ele dizia”, explica a mãe. Sem flores, figuras religiosas ou roupas pretas. Na mesa de centro da sala, a urna escolhida por Ricardo. Trata-se da mais alegre que encontrou, e está ao lado um porta retrato com sua foto preferida. Não houve discursos tristes. Como um adeus, os amigos contavam suas melhores histórias com Ricardo: uma festa, uma viagem, um aniversário. Lembranças para confortar quem ficou entre lágrimas e saudades. “Ricardo era o tipo de pessoa que diria: ´Me defenda, caso falem de mim como um monstro. Mas também não deixem pensar que fui um anjo´”, lembrou a melhor amiga, que, apesar das lágrimas, manteve o sorriso que prometeu à ele. Dona Rosa não mudou sua opinião. Tem certe-

Ateu convicto, Ricardo não aceitou a realização de cerimonial religioso za de que o filho está com Deus, mas respeita a decisão do filho. Para ela, ele transformou o momento mais triste, no que fazia a vida toda, uma festa para todos. “É uma última homenagem que lhe prestamos. Nada mais justo

do que realizar seus desejos. Ele permanece envolto em nosso carinho. Sempre lembraremos do bem, da ajuda, da amizade que tivemos dele”.

*Jornalismo, 7º período.

Uma reflexão sobre as mídias do futuro

Gabriel Soares Miranda*

A

necessidade de se comunicar sempre existiu na natureza do ser humano, seja para simplesmente indicar um ponto geográfico por onde já tenha passado ou para situações como expressão de sua raiva, frustração, medo e desejos. Quando começou a experimentar a convivência em grupos maiores, o ser humano, provando de sua natureza evolutiva, precisava garantir a sua sobrevivência e dos demais membros do seu grupo, o que lhe obrigava a se comunicar com os outros integrantes. Nunca saberemos ao certo o que levou o homem, durante sua longa evolução, a viver em grupos. Porém, sabemos que este é o ponto crucial para a criação de sistemas de comunicação. Antes de abordarmos a evolução das mídias e suas ferramentas, faz-se necessário a definição desta. De forma simples, “mídia” é um canal ou uma ferramenta utilizada para a transmissão de informações. O homem procurava a comunicação por meio de palavras - mesmo sendo capaz de emitir apenas sons ou grunhidos -, gestos e, posteriormente, procurou se expressar através de símbolos. Se relevarmos o conceito

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de mídia de hoje e a entendermos como o simples canal de transmissão de mensagem, neste caso, a pedra deste exemplo seria uma mídia. Embora os conceitos mais modernos da palavra talvez digam respeito a tecnologias e meios de comunicação, a raiz é a mesma. Em termos práticos e exemplificando nosso conceito, a televisão é uma mídia, assim como um outdoor na estrada e o panfleto que você recebeu quando estava indo à padaria pegar pão. O jornal do alemão Gutenberg é a mídia impressa antiga mais utilizada nos tempos modernos, principalmente em tempos acelerados, quando não paramos para – ou não queremos – ler um jornal ou revista – assumindo, neste caso, que seja uma revista de cunho cultural e não de fofocas (embora esta também seja uma mídia). Em dias em que tempo é algo tão veloz e cada vez mais escasso, as mídias foram forçadas à adaptação. Daí o surgimento das mídias online (mídias da internet), dos canais por assinatura, do marketing de guerrilha que utiliza mídias alternativas em suas ações, e de outras tantas que nos circundam nas avenidas congestionadas, calçadas, shop-

O jornal do alemão

Gutenberg é a mídia impressa antiga mais utilizada nos tempos modernos

pings, mercados e até os meios públicos de transporte. Se considerarmos que a raça humana cresce de forma assustadoramente veloz e que possivelmente seu sobrinho de 8 anos entende mais de iPhone do que você, pensar na mídia do amanhã é uma tarefa difícil e preocupante, além de exigir doses de criatividade e horas de conversa com crianças sobre Max Steel, Os Jetsons, Futurama e alguns filmes futuristas. Hoje, você, ao se inscrever em um site, já tem opções de assinar informativos com assuntos que lhe interessam. O conteúdo, assim como a mídia, também é impactado por esta aceleração

JORNAL COBAIA

do mundo moderno. Aventuremos-nos, agora, em um exemplo fictício de uma nova mídia. Você acorda e a primeira coisa que faz é abrir a janela do seu quarto. Você não aperta em nada, simplesmente comanda: “vamos ver como está o dia”. As cortinas se abrem e uma voz delicada começa a lhe informar da previsão do tempo. Baseada em suas preferências já gravadas anteriormente – possivelmente quando comprou o programa – e no histórico de suas compras, a voz lhe sugere: “temos algumas ofertas de bolsas, sapatos e restaurantes hoje, Joana, você as quer ouvir?”. Enquanto você está indo ao armário escolher sua roupa, a voz anuncia uma oferta de bolsa que lhe interessa e você replica: “quero ver esta bolsa”. Instantaneamente, seu espelho mostra a bolsa, bem como as possíveis variações do modelo para que você, em tempo real, na privacidade de seu quarto, possa escolher o modelo e cor que mais combinam com seu vestido comprado semana passada. Essa mídia poderia ser batizada de “porta a porta 2.0 realtime”, versão moderna – e de nome sugestivamente complicado para que você se atrapalhe com sua

terminologia – do porta a porta de hoje, em que o vendedor vai até sua casa para lhe oferecer um produto. Mídias como esta estão mais perto da realidade do que se possa imaginar. Hoje, já existem tecnologias que permitem a projeção de imagens em superfícies como vidros e programas de automação residencial que agem por comandos de voz que podem, inclusive, ser programados através de telefones celulares. O surgimento dessas novas mídias é excitante e pensar em suas aplicações e possibilidades é mais ainda. Empolgante, sim, preocupante também. Os problemas que novas mídias podem gerar, questões éticas como invasão de privacidade e outras tão importantes quanto, como problemas sociais, de recursos naturais, de saúde e saúde psicológica. Imaginar é fácil, criar com responsabilidade é uma tarefa que, até onde vemos, não conseguimos por completo. Se poderemos nos proteger do futuro ou se saberemos usar as ferramentas com prudência e inteligência, só o amanhã saberá.

*Publicidade e Propaganda, 4º período.

Itajaí, maio de 2012


Passarelas Saúde

Novo formato para a moda catarinense Os desfiles do Balneário Fashion Show aproximam público leigo das cores e tendências para a próxima estação do ano Gerusa Florêncio*

O

principal evento de moda da região do Vale do Itajaí pôde ser apreciado pelo público em seu novo formato, inspirado nas semanas internacionais de moda. Realizado nos dias 17, 18 e 19 de maio, o evento teve a estrutura montada no hall central do Balneário Camboriú Shopping, com desfiles de 40 em 40 minutos. Lojistas, convidados especiais e o público em geral puderam acompanhar o que estará em alta nas vitrines do próximo outono/inverno. A novidade da comunicação do evento foi o convite, que, em homenagem à sétima arte, lembrava os bilhetes de entrada dos cinemas e outros elementos cenográficos. Já marcas conceituadas, como Puramania, Angel, Renner, Exco, Dudalina Double, Planet Girls, Beagle e também as Infantis Lilica & Tigor e Ticket, deram uma prévia das principais tendências para a estação mais fria do ano. Mix de texturas, brilhos e couro colorido deixaram a passarela mais divertida. Entre as principais tendências apresentadas, destaque para o chapéu, um acessório muito em uso na Europa. E promete agora fazer as cabeças em Santa Catarina. Além das roupas, houve também um desfile exclusivo de joias, da

Para os que trabalham sentados, o importante é manter as curvas da coluna, apoiar os pés totalmente no chão, e posicionar, de um jeito confortável, o instrumento

Gerusa Florêncio

Lauro Correa Junior e Caroline Zarske*

No ritmo da Fisioterapia

A

Marcas famosas de Santa Catarina estiveram presentes no evento realizado no hall central do Balneário Camboriú Shopping

designer Bárbara Santana, onde grandes pedrarias em tons que variam do preto ao verde e azul, deram um brilho todo especial à passarela. Para Alexandre Padilha, diretor artístico do evento, a moda está cada vez mais democrática e

essa evolução precisa ser acompanhada. Pensando neste conceito, o Balneário Fashion Show aconteceu de forma brilhante e aproximou muito mais o público da moda e das tendências.

*Relações Públicas, 1º período. Gerusa Florêncio

Fisioterapia há tempos, vem buscando modos de prevenção quanto à postura adequada nos vários setores de trabalho humano. A música é uma das áreas pouco comentadas quanto à postura durante o trabalho, porém uma postura correta aumenta a qualidade das apresentações. Um músico sabe que a voz muda de acordo com as situações boas e ruins que passa. Qualquer desarmonia pode diminuir o rendimento do profissional, por isso, o mais difícil na profissão é tentar harmonizar as emoções e ansiedades com os distúrbios corporais dolorosos. As alunas do curso de Música da Univali, Rafaela e Marcela, participaram do programa de reeducação postural estabelecido entre o curso de Música e de Fisioterapia da Univali, desde o 2° Semestre do ano de 2011. Sabem que o primeiro obstáculo a ser vencido é a timidez e a dificuldade de apresentação, pois alguns músicos e instrumentistas, que se apresentam sentados ficam em uma posição com os ombros caídos prejudicando assim a coluna, e também a voz. Dificultam a respiração correta, por que, nessa posição, os músculos da respiração se comprimem fazendo com que a respiração seja feita com maior dificuldade e a voz flua com menos propriedade, prejudicando a apresentação. No caso do instrumentista, o problema pode ser maior devido ao peso dos instrumentos, as posições exigidas para segurá-los e também pelos movimentos repetitivos que podem causar alterações crônicas. Já vimos, então o que a má postura pode causar, mas o que podemos fazer para ter uma boa postura na apresentação? Começando pelos pés. Eles devem estar confortáveis, e o peso do corpo deve ser distribuído igualmente pela borda externa dos pés. Os músculos do corpo devem estar relaxados, principalmente os da região do pescoço e ombros, onde os músculos são muito importantes para a respiração e a sonoridade. A cabeça bem equilibrada e a coluna reta, como se existisse uma linha bem no centro da cabeça segurando-a. Quando os braços estiverem livres, podem ser usados para se comunicar com o público e se expressar. Para os que trabalham sentados, o importante é manter as curvas da coluna, apoiar os pés totalmente no chão, e posicionar, de um jeito confortável, o instrumento. Tendo em vista que uma performance em pé seja melhor, comparada com uma sentada, pois em pé e os vícios da má postura são mais difíceis de acontecer. Alguns exemplos de vícios ao tocar sentado: encolher os ombros, cruzar as peras, esticar as pernas para frente, segurar a cadeira com as pernas. Lembrando que a postura está no nosso dia a dia e é de nossa responsabilidade corrigi-la para não nos depararmos com consequências futuramente. No caso dos músicos, a Fisioterapia ajuda a trabalhar a consciência corporal, o equilíbrio, e a resistência, trabalhando em conjunto com os fatores psicológicos pessoais, assim visando aumentar o rendimento, não só do musico, de qualquer trabalhador, trazendo uma postura correta prevenir problemas futuros.

*Fisioterapia, 3º período.

Você escreve e quer participar deste espaço? Entre em contato com a gente! E-mail: cobaia@univali.br Para o diretor artístico do Balneário Fashion Show, Alexandre Padilha, a moda está cada vez mais democrática

Itajaí, maio de 2012

JORNAL COBAIA

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Cinema

Almodóvar surpreende com A Pele que Habito

Novo longa-metragem do diretor espanhol aborda o lado sombrio do homem obcecado pelo avanço da medicina

Rodrigo Ramos*

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edro Almodóvar é um dos diretores europeus mais respeitados, mas não ousa em suas películas já faz algum tempo. Em A Pele Que Habito, contudo, Almodóvar retorna incrivelmente pirado e surtado num conto de suspense e muitas surpresas. Almodóvar entregou pouco na divulgação do longa-metragem. O que sabíamos era que Robert (Antonio Banderas) era um cirurgião plástico e havia uma mulher envolvida. Era basicamente isso que se tinha notícia. Contudo, a trama de A Pele Que Habito é muito mais ampla e sombria do que isso. Aliás, é algo bem doentio, se me permitem dizer. Robert mantém Vera (Elena Anaya) trancafiada em um quarto de sua casa. O cirurgião é um dos poucos que realizou uma operação de mudança de rosto no mundo inteiro. Nesta sua especialização plástica, ele está desenvolvendo um tipo de pele mais resistente, que poderia impedir até mesmo a picada de um mosquito da malária. O problema é que na composição é utilizado sangue de animais vivos e isso vai totalmente contra a bioética. Entretanto, isso não é o suficiente para impedir Robert de ir além nesta sua jornada. Para conseguir testar seu experimento, ele precisa de uma cobaia humana, que vem a ser Vera. Inicialmente, Vera é apenas uma mulher qualquer. Nos primeiros minutos de metragem, é possível ver que a personagem é um tanto perturbada. Ela logo tenta se matar, mas não consegue. Por que ela foi a escolhida como cobaia? Por que é manti-

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Divulgação

O ator Antonio Banderas interpreta o cirurgião plástico Robert, que desafia os limites da ética e da humanidade em suas experimentações pessoais da presa? Quais os segredos por trás desta pele que ela habita? Estas são respostas que não me cabem contar, pois estragaria muita coisa sobre o filme. Almodóvar conduz este longa-metragem com a coragem que lhe faltava nos últimos anos. Do início até os minutos finais, A Pele Que Habito deixa o espectador aflito, inquieto e perturbado. Os personagens parecem ser uma coisa e descobrimos que há máscaras encobrindo a verdade naqueles rostos. Tomemos a personagem fe-

minina da trama. Aliás, Almodóvar sempre dá um jeito de crucificar de alguma forma a figura da mulher e tomá-la como heroína. Vera parece ser inocente, triste e até mesmo adorável. Então voltamos no tempo, seis anos atrás. Lá, descobrimos os motivos que levam Robert a fazer o que faz (a certo modo, justificável, mas depois torna-se algo doentio) e o que Vera fez para transformar-se nisso que ela é agora. O diretor faz questão de ressaltar este flashback e, depois, volta ao presente. Nem precisava, mas

não é pretensão dele confundir o espectador em um filme onde o foco está longe de ser este. Almodóvar realiza aqui um resgate daquele espírito do verdadeiro suspense. Aquele em que você não precisa de sustos, mas cria situações de aflição, deixando o espectador tão perturbado quanto a trama. Quem gostava de fazer isso era Hitchcock. Assim como este, o diretor espanhol mostra que há espaço para este nicho dentro do gênero. A Pele Que Habito é cheio de surpresas e, a cada revelação, o espectador

fica ainda mais abismado e até mesmo nauseado. Em parceria com Antonio Banderas, presente em vários filmes do diretor nos anos 80 e 90 (o último foi Ata-me), Almodóvar prova porque merece respeito e continua a manter o status de diretor intrigante, que transita entre gêneros e concebe obras originais que somente sua mente seria capaz de criar.

*Jornalismo, 5º período. Divulgação

Divulgação

O diretor espanhol Pedro Almodóvar sempre dá um jeito de crucificar, de alguma forma, a figura da mulher e tomá-la como heroína

JORNAL COBAIA

Itajaí, maio de 2012


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