Cobaia #145 | 2016

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Cobaia JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI Itajaí, agosto de 2016 - Edição 145 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Herdeiros da terra Foto: Maicon Rech

Em Nova Trento e Luiz Alves, trabalhadores encaram a dura rotina diária de quem vive da agricultura familiar. Jovens como Natanael tiram do campo o sustento de suas famílias Pág. 8 e 9

Resenha

Entrevista

Esporte

Série de ficção científica Stranger Things conquista fãs com inspiração nos anos 80

Nova presidente do DCE, Bruna Ribeiro fala sobre os projetos para a sua gestão

Educação física não é só brincadeira. Disciplina auxilia no desenvolvimento infantil

Pág. 15

Pág. 3 a 5

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Itajaí, agosto de 2016

Opinião

Editorial

Crônica

País olímpico

O ídolo do meu ídolo

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ão se fala de outra coisa. Os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro têm dominado a agenda midiática e das ruas desde a sua abertura. Apesar do desempenho apenas regular dos atletas brasileiros, a população tem acompanhado de perto as disputas nas diversas modalidades que compõem a competição. Conhecer a pluralidade de práticas esportivas talvez seja um dos grandes legados que os jogos deixarão na terra do futebol. Além, é claro, dos exemplos de superação de nossos representantes. Os “Silvas” teimam em conquistar medalhas apesar da falta de apoio (para não dizer nenhum) e estrutura que (não) recebem para seguirem treinando. As Olímpiadas mostram que o incentivo ao esporte vai muito além da busca por resultados expressivos. Através das práticas esportivas abre-se uma imensa janela de oportunidades. Por isso, é preciso rever a política esportiva adotada no país, principalmente nas escolas e universidades brasileiras. As aulas de educação física, apesar de serem obrigatórias, ainda são vistas como mero momento de lazer por alunos e até professores. O tema é discutido em reportagem produzida pelas alunas Caroline de Borba e Paula Dagostin (páginas 12 e 13). O trabalho de iniciação ao esporte precisa começar nas aulas de educação física no ensino básico e seguir durante a vida escolar de crianças e adolescentes e chegar à universidade. Quem sabe as Olimpíadas no Brasil abram os olhos dos que tem o poder para virar o jogo. Hoje, estamos perdendo essa partida de lavada. Além da discussão sobre a importância do esporte, ainda temos nesta edição uma entrevista exclusiva com a nova presidente do DCE, uma reportagem especial sobre vida no campo e outros textos interessantes produzidos pelos alunos do curso de Jornalismo. Boa leitura e até setembro!

Silvio Matheus - 5º período de Jornalismo

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erdi meu pai em 2014. Na época, falar do assunto era difícil. Foi uma morte repentina, inesperada. Mas, assim como o tempo, a dor da perda passa e o que fica é uma saudade grande, aquela saudade gostosa das conversas e dos momentos. Lembro-me de meu pai, músico por ofício, me ensinando os primeiros acordes no violão. Ensinamento que carrego até hoje. Lembro ainda do velho, flamenguista desde criança, me contando histórias sobre um tal de Zico, goleador nato rubro negro. “Melhor que Neymar e todos esses que só pensam no cabelo”, dizia ele acusando a nova geração e apontando o dedo pra TV entre um gole de Coca-Cola e um punhado de pipoca nos jogos da Copa de 2014. Como na música, meu pai parecia ser um saudosista profundo no futebol. Daqueles que não acompanhou nenhum jogo do time nos últimos 10 anos, mas sabe de cor a marca da chuteira do goleiro no segundo amistoso de 1985. As tentativas foram muitas, mas apenas o ofício da música me consumiu. Não peguei a paixão pelo esporte como tinha o velho. Lembro que quando assisti à eliminação do Brasil na Copa do Mundo de 2014, aquela dos 7 a 1, me veio um pensamento na cabeça. “O Zico deve estar se revirando no caixão”. Pensamento alto, escapou pela boca e chegou aos ouvidos do meu pai. O cara caiu em gargalhadas. “O Zico não morreu, guri”, disse ao pegar uma lata de cerveja pra tentar afogar a mágoa da derrota histórica. “A gente tocou em um churrasco pra ele”, completou.

As surpresas são muitas, e memórias antigas me invadiram, invadem agora, ao escrever esse texto. Há alguns anos, 2009, 2008 talvez, eu e meu pai fomos convidados para tocar em uma festa do fã clube do Flamengo, em Itapema. Na ocasião, jogadores antigos do time estariam presentes. Chegamos ao evento, desmontamos o material e começamos o show. Em determinado momento, meu pai me deu toda a responsabilidade de tocar sozinho praquele pessoal, pois ele ia conversar com o contratante. Nunca mais voltou, assim como todos que estavam lá dentro. “Ué, o que poderia ser? Todos esses marmanjos, pais de família, se aglomerando em cima de alguém”. Continuei tocando, era pra isso que estava ali. O cache era ótimo e a comida estava chamativa, só queria terminar logo. No fim do dia, voltando pra casa, cansado, com os bolsos e a barriga cheia, perguntei ao meu pai: “O que aconteceu aquela hora que me deixou sozinho e foi lá no meio?”. “Ah, o Zico estava lá”, respondeu com o olho na estrada. Meu pai não parecia emocionado, o que vinha dele era uma energia calma e realizada, como se tivesse encontrado, finalmente, com um amigo há muito tempo distante. Não entendi nada, mas fiquei feliz pela presença do Zico, ele tirou a atenção do meu som, que na época estava bem enferrujado. Hoje, a felicidade aumenta quando me lembro do velho. Ele soube aproveitar os 39 anos de vida que teve, soube pra caramba. Se um dia eu encontrar o Zico, vou dar um abraço nele, não de fã, mas de filho.

Gustavo Zonta - editor Reg. Prof. Mtb/SC 3428 JP

UNIVALI - Universidade do Vale do Itajaí

Expediente:

Cobaia

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS - COMUNICAÇÃO, TURISMO E LAZER Diretor: Prof. M.Sc Renato Büchele Rodrigues CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI Rua Uruguai, 458 - Bloco C3 Sala 306 | Centro, Itajaí - SC - CEP: 88302-202 Coordenador: Prof. M.Sc Carlos Roberto Praxedes dos Santos Agência Integrada de Comunicação

JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI Edição: Gustavo Paulo Zonta | Reg. Prof. Mtb/SC 3428 JP Tiragem: 2 mil exemplares | Distribuição Nacional PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO: Gabriel Elias da Silva

Todas as edições do Jornal Cobaia estão disponíveis online. Acesse: issuu.com/cobaia! Você tem alguma sugestão para fazer, ou alguma matéria que gostaria de ver publicada? Conte com a gente! cobaia@univali.br

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Itajaí, agosto de 2016

Entrevista

Em junho deste ano, a Univali passou por mais um processo eleitoral para definir o novo comando do DCE da universidade. O Diretório Central dos Estudantes é um órgão autônomo e bastante cobiçado por interesses externos, gera recursos próprios e tem o poder de influenciar e pautar mudanças na vida dos acadêmicos. Após eleições turbulentas, a Chapa 2 conquistou a vitória e empossou a presidenta Bruna Vicente Ribeiro, do oitavo período do curso de direito. Com 22 anos, Bruna teve seu primeiro contato com a política e o movimento estudantil ainda no ensino médio, quando participou da reativação do grêmio do colégio particular do qual era bolsista. Ao se formar no segundo grau, foi para São Paulo, onde passou a se envolver com grupos e partidos organizados através de amigos e irmãos. Em Itajaí, participa ativamente da vida política da cidade. Em conversa exclusiva com o jornal Cobaia, ela fala sobre o processo eleitoral, o início de sua gestão e a situação da política nacional.

Maria Zucco - 7º período de Jornalismo

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Fotos: Bruno Golembiewski

A nova cara do DCE


Itajaí, agosto de 2016

Entrevista Fotos: Bruno Golembiewski

Quando a Chapa 2 assumiu, qual foi a primeira ação prática assim que entraram no DCE? A primeira ação de fato foi fazer uma limpeza geral na sede do DCE. Encontramos a sede completamente largada, havia um gato, que morou aqui por três meses, e o cheiro estava intragável. E deve ser um ambiente comum, é para o estudante vir aqui e se sentir confortável, como se fosse a casa dele, basicamente. Aqui ele vai utilizar do espaço e ter contato direto com a direção que vai pautar seus interesses com a administração. Também sentamos e conversamos sobre o que a gente precisava articular. Nesse momento, tivemos portas abertas para saber como que estava o caixa, as conversas com a universidade, as cadeiras nos conselhos. A partir daí, fizemos uma agenda para ver o que precisávamos colocar em dia e regularizar. É o que fizemos essas férias, acabamos ficando dentro da universidade preparando isso, e pensando também nas carteirinhas, em tudo que temos que dar de suporte aos estudantes. Quais eram os seus principais eixos de campanha? Os principais eixos eram transparência, diálogo e as devolutivas. A gente percebeu que não tinha como pautar propostas se não mudasse a forma de se fazer. Temos diversas propostas, mas precisamos de uma forma de fazer muito diferente para que elas sejam efetivas. Com a transparência, já estamos fazendo o dossiê de como encontramos o DCE em si, tanto na parte física quanto na parte jurídica, ele vai alimentar a plataforma de transparência que vai ter no nosso site. Estamos com alguns impasses com a questão de verbas, entramos com o caixa zerado e um CNPJ congelado, por causa de uma dívida contraída uns 15 anos atrás. Mas estamos captando recursos para que possamos ter esse portal da transparência mais efetivo, pagar domínio do site, etc. Além disso, estamos articulando junto à infraestrutura uma reforma interna e já vimos que vamos ter um apoio da universidade com isso. Estamos pensando também na agenda dos conselhos e principalmente em eventos, para trazer esse diálogo que era basicamente nossa capa de campanha. Chamar assembleias e reuniões dos estudantes para vir e fazer um planejamento amplo até o final da gestão. Há muito o que fazer.

Bruna acredita que o papel do DCE de promover o diálogo com os estudantes não está sendo cumprido há anos

Entramos com o caixa zerado e um CNPJ congelado por causa de uma dívida de uns 15 anos atrás

Existe alguma proposta de trabalhar com a questão da alimentação na universidade? Percebemos que se formos pautar um restaurante comunitário vai ser um processo demorado. E essa é uma demanda urgente, que precisamos sanar o quanto antes. Estamos entrando em contato com restaurantes locais ao redor e dentro da universidade para conseguir um valor mais baixo Uma das suas propostas eram as carteirinhas para quem apresentar um documento que mostre de estudante emitidas na hora. Como está en- seu vínculo estudantil. Ainda estamos nesse processo de negociação, conversas e parcerias, mas caminhado e como vai funcionar isso? Nesse processo de tomada de posse, entrou em creio que seja muito possível. Enquanto não se vigência um decreto presidencial que versa sobre consegue a questão do restaurante comunitário a carteirinha em um padrão nacional. O Procon com um preço acessível, vamos sanar o problema Federal, o Procon Estadual e o Ministério Público com comércios locais. É uma ação de emergência Federal foram acionados para que apenas a cartei- até que a gente consiga pleitear algo maior aqui rinha no padrão nacional fosse aceita por todos os pra dentro da universidade, que possa atender os estabelecimentos. O Diego, que é tesoureiro, foi 20 mil estudantes. até o Coneg, Congresso de Entidades Gerais, em São Paulo, e esse debate estava acontecendo com a Muitos estudantes não se interessam ou não UNE, sobre como eles iam se colocar à disposição sabem qual o papel do DCE. O que faz essa dos DCEs, e a gente está se regularizando. A car- instituição dentro da universidade? teirinha que estava sendo feita pela gestão passada O papel do DCE, que não tem sido cumprido há infelizmente é inválida, está fora dos padrões na- muito tempo, é o de realmente ser esse porta-voz cionais, o QR Code dela não funciona como certi- de diálogo entre a administração da universidade ficado digital, inclusive leva para um outro site, que e os estudantes. É como se fosse uma ponte, ele é o da Unisul, não da Univali. Estamos tentando vai levar a voz do estudante à administração pensanar esse problema e regularizar essa questão den- sando no que é melhor para ele, pautar isso e tratro do padrão nacional. Nosso objetivo é que até a zer uma devolutiva. Precisa desse contato direto, segunda semana de agosto a impressora do cartão porque não tem como o DCE se fazer presente PVC esteja aqui na universidade. Precisamos pas- ou compreender o que o estudante precisa se não sar por todo um processo, ter o sistema no com- tem um contato direto, não tem um vínculo mais putador para fazer o certificado digital e emitir a forte. Também trata da parte de entretenimento, fazer atividade cultural, promover uma cultura dicarteirinha na hora.

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ferente, de movimento estudantil, de senso crítico dentro da universidade. Esse é o papel do DCE, é para isso que a gente vai trabalhar. Mas, o que se fala dentro da administração é que o DCE nunca procurou a universidade para fazer o mínimo de reparos na sede nem para comparecer nos conselhos, então é complicado falar em diálogo com a administração se você não se dispõe. Só que tem sido diferente, e temos visto bastante abertura nesses setores administrativos da universidade para pautar mudanças, para sentar junto e poder trabalhar em conjunto, como uma parceria de DCE e universidade. Por isso, acho que não foi semeada essa cultura de politização, de movimento estudantil. Claro que existe o fato do perfil acadêmico do estudante da Univali ser de quem trabalha o dia inteiro e vem para a universidade à noite. E é complicado realmente participar da vida política quando você tem uma carga horaria tão extensa, tão cansativa. Você acaba não vivenciando a universidade. Mas, creio que se houvessem ações mais pontuais e uma transparência maior, com um diálogo que seja palpável, essa cultura iria mudar. Se fosse mais do dia a dia das pessoas ver a politização em si, ver esse processo, o DCE presente, todo o contexto mudaria e elas mudariam também a sua forma de ver o DCE e se sentir representados ou não. Para isso que se tem que trabalhar, para que o DCE esteja diariamente na vida do estudante. Não é de um dia pro outro que se consegue isso, mas dá para plantar uma semente para que isso seja efetivo um dia. À que você credita a vitória da Chapa 2? Em boa parte porque a própria universidade precisa dessa mudança. Foi nesse processo que juntamos uma chapa, da necessidade de mudança e de um movimento estudantil efetivo. Outra parte porque nos juntamos em um grupo que se uniu e conseguiu conversar da melhor forma. Foi um grupo que esteve junto, e não simplesmente deu seu nome para compor uma chapa e pleitar o DCE, para depois se desfazer. Desde o início, pensamos em movimento estudantil, com o DCE ou sem. Quando você faz algo unificado, que tem um pensamento uno, as pessoas conseguem ver, elas se identificam com aquilo, elas veem que é verdadeiro, apostam naquilo.


Itajaí, agosto de 2016

Qual a sua visão sobre o processo eleitoral dentro da Univali? Aí entra algo que só tomei conhecimento quando tomamos posse: as questões jurídicas do DCE estão bem irregulares. A partir do momento que entramos no DCE, de fato como gestão, nós fomos atrás da dívida que existe e da questão jurídica do diretório. Vimos diversas irregularidades que foram deixadas. O estatuto teve a última alteração em 2003, se não me engano, e ele tem algumas falhas, brechas, e é o que dá base para o regimento eleitoral. O processo eleitoral é conduzido de acordo com o que a comissão eleitoral daquele ano entende. Não é muito imparcial. Estamos indo atrás para tornar isso o mais consolidado possível. Creio que tem que ser combatido o processo eleitoral violento e com interesses que não envolvem os estudantes, que pensam em uma gestão própria e não para os acadêmicos. Isso tem que ser combatido de alguma forma e o processo eleitoral não pode ser parcial como foi esse ano e como em diversos outros anos que eu pude acompanhar. Os ânimos se afloram, a comissão eleitoral geralmente é despreparada, é indicada por pessoas que já estão na gestão e querem se reeleger, e assim acontecem inúmeras injustiças. É um processo bem turbulento que poderia ser desarticulado se houvesse um estatuto que pudesse sustentar a instituição DCE, que é muito maior que qualquer gestão.

der público. O DCE também tem cadeiras em todos os conselhos da universidade, ou seja, contato direto e voto, inclusive, sobre como vai se gerir a administração da universidade. Tem contato direto com o reitor, o vice-reitor, procurador geral e também fora, com prefeitos, vereadores, tem todo esse amparo, esse suporte político. E não só isso, ele é autônomo, e a gente percebeu, assim que entramos na gestão, diversas irregularidades de gestões passadas quanto à dívida. Nós temos uma no montante de R$ 120 mil, que o DCE contraiu em 2001. Está sendo executada, ainda não conseguimos abrir o processo de execução,

A comissão eleitoral sofreu uma agressão física, a polícia militar teve que entrar no campus

Você fala em um processo tendencioso, como foram as eleições desse ano? O processo, desde o começo, foi bem complicado. Primeiro, a chamada da CRB (Comissão de Representação de Base - que se transforma em Comissão Eleitoral e define os rumos do processo) foi chamada fora do prazo, às pressas, em uma sexta-feira à noite para que em uma segunda-feira trouxessem os documentos. Mas a chamada não foi veiculada a todos os Centros Acadêmicos, somente alguns tiveram o privilégio de receber o comunicado. Foi um processo muito difícil de trazer os CAs, na prática a maioria deles não está regulamentada juridicamente, não têm o seu estatuto em cartório, e isso foi exigido. Alguns foram barrados por conta disso. A comissão eleitoral se fez também às pressas, com pouca transparência. Feita a comissão, foi criado um regimento eleitoral que não estava muito de acordo, a gente teve que dialogar, as chapas tiveram que dar muito apoio para a comissão eleitoral, pois ela não tinha nenhuma experiência. A gente abriu mão de boa parte do tempo no qual poderíamos fazer campanha para que ocorresse, de fato, um processo eleitoral democrático, amplo e sem irregularidades. Houve um processo de votação para impugnar nossa chapa, foi discutido de forma indevida, não tivemos direito à resposta, percebemos que tentavam a todo custo impugnar a nossa chapa ou, de alguma forma, nos punir indevidamente e no próprio dia da eleição várias pessoas da Chapa 2 sofreram agressões verbais e ameaças de agressões físicas. A comissão eleitoral sofreu uma agressão física, a polícia militar teve que entrar no campus. Tinha muita gente de fora fazendo arruaça nos arredores. E comigo também aconteceu, acabei registrando um boletim de ocorrência porque um egresso estava aqui e me ameaçou, falou que iria me bater. Enfim, aquela coisa do processo eleitoral do DCE da Univali que a gente acha surreal e desnecessário. Quais os interesses externos que cercam o DCE da Univali, por que o processo eleitoral é tão complicado? A Univali é a maior universidade comunitária do estado, é muito visada no Brasil inteiro e isso é um instrumento político muito forte, tem força política tanto dentro da instituição quanto fora. Estar no DCE da Univali te abre portas e contato com o po-

A nova gestão procura regularizar problemas jurídicos

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mas provavelmente ainda está em R$ 60 mil. Se esse instrumento político for utilizado de forma indevida, para captação de recurso, ele é bem autônomo, então há a possibilidade de captar recursos. Se a gestão não for transparente e utilizar isso de má fé, você com certeza consegue desviar recursos pra si. Não estou querendo atacar ninguém ou fazer qualquer tipo de indicação, mas realmente pode acontecer, desvio de verba é muito possível dentro do DCE. O que tem a ver os partidos políticos com as eleições do DCE? Querendo ou não, as pessoas que hoje se interessam pela vida política e pelo movimento estudantil são pessoas que já têm um certo envolvimento, pode ser partidário ou não, mas com movimentos sociais. A vida pública te exige posicionamento, você segue caminhos e acaba indo para partidos que vão coadunar com as suas ideias. Eu acredito que existem sim grandes partidos que ficam ao redor do DCE ou que tentam por meio da sua juventude alcançar o diretório. Mas o movimento também pode ser orgânico assim como está sendo o dessa gestão, que foi uma reunião de várias cabeças pensantes, que têm a ação política no dia a dia e fazem parte de partidos ou não. O que temos que combater é um partido querendo se instalar ou querendo exigir coisas e dar diretrizes a um grupo de estudantes no DCE. Acho que a diversidade em si, de partidos e ideias, formada de maneira orgânica com os estudantes, é muito proveitosa. Como a Chapa 2 se posiciona e interpreta a situação política nacional? A gestão do DCE atual tem um pensamento que casa sobre a conjuntura nacional, mas com diversos perfis diferentes. Discutimos muito política à nível nacional e municipal e nós cremos que, por causa de todo esse processo turbulento que passamos neste ano, a democracia foi muito agredida. Sempre conversamos sobre a possibilidade de golpe judiciário, de brechas jurídicas que foram feitas durante esse processo dito como impeachment. A gente percebe a importância de se combater essas nebulosidades na política porque o processo foi levado se pautando em brechas. Hoje, no Congresso Nacional, as pessoas não sabem, ou não compreendem, que é um processo legislativo, um processo político. E o Judiciário, que é um órgão que deve dar esse apoio ao tripé que é o Executivo, Legislativo e Judiciário, precisa ser imparcial. Ele é político, mas não pode ser partidário, não pode ter um posicionamento que tenda a um lado ou outro. Precisa ver as coisas de forma imparcial aplicando o que está prescrito na legislação. E vemos que ele é utilizado hoje como instrumento de articulação política, essa tem sido a maior falha. O processo chamado de impeachment foi basicamente uma brecha que se deu ao Judiciário como instrumento para fazer uma articulação, e pode ser visto, sim, como golpe ou brecha jurídica. Alguma mensagem da gestão para os estudantes? Nós estamos trabalhando desde as férias para que o DCE seja realmente essa mudança que não se vê há muitos anos e estamos criando um ambiente acolhedor na sede. Realmente queremos, assim como falamos em campanha, uma prática horizontal que converse com todo mundo, na qual todos possam propor ideias, participar e em contrapartida ter esse apoio também. Trabalhamos diariamente para isso e nos colocamos à disposição por isso. Esperamos que isso vá refletir na cultura da própria universidade, que possamos nos encontrar nos diversos eixos da Univali e nas demandas que ela tem. As portas do DCE estão abertas para todos os estudantes sempre e nós também estaremos em todos os blocos, todos os locais possíveis. Vamos nos fazer presentes.


Itajaí, agosto de 2016

Cultura

Passos guiados

pela avó Thiago Furtado - 3º período de Jornalismo

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ona Corujinha foi uma das mais conhecidas benzedeiras de Itajaí. Suas rezas para “arca caída”, “nervo torto”, “carne rasgada” e outros males do corpo e do espírito eram conhecidas em toda a região. Uma figura forte. Uma presença espiritual marcante. Vê Domingos é neto da Dona Corujinha. Artista plástico e músico itajaiense, é um respeitado compositor de Santa Catarina. Certa vez, compôs uma música dedicada à avó. Fala da saudade que sentia dela, das rezas tão procuradas pela gente do seu lugar, de como a sabedoria da avó guia os passos do neto. É, além disso, um tributo a todas as benzedeiras, um patrimônio histórico, cultural e espiritual do nosso povo. No meio das tantas composições de Vê, a música

“Asbezedera” ficou guardada nas gavetas da vida por algum tempo. Ele só tocava a canção quando estava sozinho, brincando de dedilhar seu violão. Porém, ela foi descoberta por acaso: em uma visita à casa de Vê, o baterista Mário Jr. encontrou a letra em cima de uma mesa. Os dois eram integrantes da banda Tribuzana, de Itajaí. Mariozinho fez questão de levar a música para o repertório da banda, a despeito dos protestos de Vê, que achava que essa era uma música particular, só dele. A banda estava em fase

Fotos: arquivo pessoal

Dona Corujinha foi uma das mais conhecidas benzedeiras de Itajaí

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Composição sobre Dona Corujinha e as benzedeiras impulsionou a carreira do músico itajaiense Vê Domingos de seleção de músicas para seu primeiro CD “Debaixo das saias de Catarina”. A canção entrou no disco, na voz do saudoso Betão Parisi. A música que fala da “(...) saudade que me dá de ouvir sua voz embalando versos, rezas de cor. Ditados sábios, que nos seus lábios tinham asas de amor”, voava pra fora da gaveta. Anos depois, a cantora curitibana Rayssa Fayet precisava de canções para seu disco. Escolheu “Asbezedera” de Vê como uma das músicas. Além disso, o convidou para ajudar na escolha de repertório e na produção de algumas faixas, em Curitiba. O estúdio em que as gravações aconteceriam pertence ao Xandão, guitarrista da banda carioca O Rappa. Quando chegou à cidade, Vê foi logo para o estúdio. Ao chegar lá, Xandão estava participando das sessões de gravação e questionou onde ele se hospedaria. Ao saber que o catarinense ficaria em um hotel, ofereceu pousada na sua casa e Vê aceitou imediatamente. Segundo ele, foram dias de muita descontração, papo e aprendizado sobre música, além do trabalho no estúdio. No fim, o convite para que Vê enviasse algumas composições para avaliação para o repertório do próximo disco d’O Rappa. E, claro, Vê Domingos

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fez isso. Duas composições suas entraram no disco “Nunca tem fim”, de 2013. “O horizonte é logo ali”, em parceria com O Rappa, e “Auto reverse”, em que o músico de Itajaí também conta com a parceria da banda e de Lula Queiroga, consagrado compositor pernambucano. “Auto reverse” é a música de maior sucesso do disco e seu clipe já ultrapassou os 22 milhões de visualizações no Youtube. Vê Domingos está presente também no mais recente lançamento d’O Rappa, o DVD Acústico na

Oficina Francisco Brennand, em Recife (PE). Mais uma parceria entre ele e a banda, a música “Na horda” é uma das quatro inéditas do DVD. Hoje, os versos de “Asbezedera” fazem muito mais sentido. A direção espiritual de Dona Corujinha parece que esteve mesmo sempre presente. Soam quase premonitórios os versos em que Vê diz: “eu atrasei minha chegada porque lá numa quebrada tentaram me ‘atocaiá’/mas eu sabia de menino que quem conta com o divino arruma sempre um jeito pra chegar”. Foi, de alguma forma, a música que compôs para a avó que levou Vê a chegar ao ponto máximo de sua carreira na música. Algo quase inimaginável para muitas pessoas algum tempo atrás. Talvez não para a Dona Corujinha...

Vê Domingos se tornou parceiro da banda carioca O Rappa


Itajaí, agosto de 2016

Ação social

À espera de um amigo Guilherme Melim e Kevin Tavares - 2º período de Jornalismo

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Organização Mundial da Saúde estima que só no Brasil existam mais de 30 milhões de animais abandonados

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ão é preciso andar muito para encontrar animais de rua abandonados e maltratados. Todos os dias eles morrem por frio, fome e principalmente por causa de agressões. Dados e mais dados apontam os motivos pelos quais animais são abandonados todos os dias. Porém, nenhum justifica o fato de deixá-los ou agredi-los. Além do abandono, maus tratos também são frequentes e todos estes atos são considerados crimes. No meio de tanta crueldade, há pessoas de bom coração dispostas a fazer o bem. Bruna Uncini, moradora de Lages, Santa Catarina, ao ver cachorros e gatos de rua juntando-se para escapar do inverno, decidiu criar casinhas para os animais se aquecerem. Assim surgiu o projeto “Ajude Um Animal de Rua”, que já espalhou oitenta casinhas em toda a cidade. A meta é ir mais longe e colocar quinhentas casas para os peludos. Homem e animais se relacionam há milhares de anos. Cães e gatos são os animais que mais preenchem as necessidades físicas e emocionais dos seres humanos. Cada vez mais eles encontram seu lugar dentro das famílias e costumam encher de alegria, com suas brincadeiras e travessuras. Além de toda a fofura, exigem muitos cuidados e trabalho. Tempo livre para educá-los, serem levados para passear e ao veterinário acabam sendo um problema para os donos. Muitas vezes crescem mais do que o previsto ou seu comportamento não é exatamente o esperado. Por estes motivos, muitos cães e gatos acabam abandonados

casas e jardins. “Devemos pensar que nosso cão ou gato nem sempre terá o temperamento que desejamos. Muitas vezes eles serão antissociais e ariscos. Brigam, mordem e arranham, nos tiram a paciência com seus latidos insistentes, fazem xixi fora do lugar o tempo todo”. A partir deste ponto, o animal passa a ser um problema e, como todo problema, tende a ser dispensado. Em função disso, muitas pessoas não conseguem entender a real responsabilidade de ter um animal. Tratam seus animais como objetos, se desfazendo deles diante do primeiro obstáculo. O animal é tudo na vida de muitos donos, até que adoeça; que comece a latir demais ou que morda alguém.

por seus donos, que não têm a mínima estrutura física ou psicológica para mantê-los. Isto acarreta aquilo que mais se teme: o abandono e os maus tratos. Jerusa de Freitas, moradora de Balneário Camboriú, acredita que algumas pessoas adotam animais simplesmente pelo fato deles serem bonitinhos ou porque sentem a necessidade de adotá-los. A partir do momento que perdem a vontade de tê-los, simplesmente os abandonam. Abandono e maus A psicóloga Beatriz Oltratos de animais bertz explica que cães cressão crimes cem e podem se transformar de filhotinhos fofos e inoO crime de maus-tratos fensivos a enormes e gran- aos animais está previsto na des destruidores de plantas, Lei de Crimes Ambientais

e o Código Penal aborda o abandono de animais: “para aqueles que introduzirem ou deixarem animais em propriedade alheia, sem consentimento de quem de direito, desde que o fato resulte prejuízo”. A pena prevista para o crime de maus-tratos é de detenção de 3 meses a 1 ano e multa. Já para os casos de abandono, a pena é de detenção de 15 dias a 6 meses, ou multa. ONG Viva Bicho A Organização Não Governamental Viva Bicho, localizada em Balneário Camboriú, conta com mais de 1500 animais e está completamente lotada. Desde 2003, ano de sua fundação, a ONG sobrevive de doações da população e de empresas, além de projetos da própria entidade para arrecadar fundos. Segundo Pamela Israelson, coordenadora da Viva Bicho, a organização tem como objetivo fazer campanhas educacionais de cons-

cientização sobre a posse responsável dos animais. Contando com 8 funcionários e aproximadamente 40 voluntários, todos os dias mais de 150 kg de ração são distribuídos. São mais de R$ 40 mil por ano somente em atendimento de veterinários e outros serviços. “A ONG Viva Bicho não é um depósito de cachorros e sim um lar temporário para eles serem adotados”. Como adotar um bichinho? Basta apenas ir até alguma ONG e escolher seu animal. Mas lembre que ao adotar você está assumindo um compromisso de manter o bem estar, cuidar da alimentação, vacinação, dar carinho, atenção e, principalmente, muito amor. Mas você também não precisa ir até uma ONG para adotar. Com certeza, em seu bairro deve haver animais abandonados esperando pelo seu carinho. Foto: Kevin P. Tavares

ONG Viva Bicho, de Balneário Camboriú, abriga mais de 1500 animais que estão à espera para adoção

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Itajaí, agosto de 2016

Especial

Herdeiros da terra Lorena Polli e Maicon Rech - 3º período de Jornalismo

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strada de chão batido, muito sol, pouquíssimas nuNo bananal, entre as abelhas, na plantação de aipim. vens no céu. CaEm Nova Trento e Luiz Alves, trabalhadores encaram a sas e plantações contrastam com as árvores que insisdura rotina diária de quem vive da agricultura familiar tem em invadir o caminho. A natureza se faz presente durante todo o trajeto até as famílias da localidade de São Valentim, em Nova Trento, cidade do interior de Santa 15 anos, Tayla Iane Eccher. cola realizado por proprie- Aptidão ao Pronaf – DAP Catarina. Após passar uma A menina ajuda nas tarefas tários rurais que possuem o (O Programa Nacional de ponte e subir um pequeno da casa e estuda no ensino núcleo familiar como prin- Fortalecimento da Agriculmorro, chega-se a uma casa médio. Gosta de ir para a cipal mão de obra. Famílias tura Familiar, Pronaf, foi laranja, de alvenaria. Na roça com o pai, mas o estu- como a de Marilene tem a criado pelo governo federal casa, vive Marilene Motta do é prioridade na sua vida. ajuda de empresas e do go- em 1996 e até hoje apoia e Eccher, 45 anos. Agriculto- Marilene acha muito difícil a verno, Secretarias de Agri- promove o desenvolvimenra, se aposentou por invali- filha continuar na agricultu- cultura, Epagri, Sindicatos to sustentável da agricultura dez devido a problemas na ra. “A nossa área está cada dos Trabalhadores Rurais, familiar). A DAP é emiticoluna, em decorrência do vez mais desprezada”. A so- Fatma, que auxiliam no de- da pela Epagri, o órgão de trabalho pesado. gra de Marilene, Giselda Ec- senvolvimento de projetos, extensão rural, através dos Na infância, aos sete cher, também não acredita recursos e formam pessoas técnicos engenheiros agrôanos, Marilene puxava o que os jovens se mantenham especializadas nos mais va- nomos. Eles fazem uma cavalo, que pisava nos pés na agricultura. Por falta de riados tipos de cultivos. análise do tamanho da prodela, para passar a capina- apoio do governo, falta de Segundo o engenheiro priedade, da renda da família deira na terra. Era uma boa infraestrutura, estradas ruins agrônomo Victor Alisson e da quantidade de pessoas aluna na escola, mas estudou e acesso à informação, os jo- Gomes, para se tornar um que trabalham no local, para só até a 4ª série. “Eu tive que vens preferem migrar para a agricultor familiar é necessá- determinar se os agricultoparar os estudos por causa cidade. rio possuir uma propriedade res enquadram-se na DAP. de uma ‘temporona’, uma A agricultura familiar é rural com área inferior a 50 “Não adianta o agricultor irmã que nasceu ‘fora do um meio de produção agrí- hectares e a Declaração de trabalhar meio período no tempo’”. Como sua mãe era Foto: Lorena Polli mais velha e seus pais não tinham condições para contratar uma babá, ela saiu da escola e ficou responsável pela caçula. Mesmo assim, não deixou de trabalhar na agricultura e se casou com o também agricultor Robson Eccher. A rotina de Robson é feita todos os dias ao lado de seu pai, Laurentino Eccher, 72 anos. Eles trabalham com plantação de aipim, eucalipto, apicultura e produção de cachaça. No verão, eles saem às 5 da manhã e voltam só às 9 da noite. “A vida do agricultor é bem sofrida”, destaca Marilene. O casal tem uma filha de Giselda e Marilene Eccher não acreditam que as jovens da família se mantenham na agricultura

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campo e no outro período com outra atividade que não seja agricultura, pois ele não se enquadra na agricultura familiar”, destaca. Segundo o site do Ministério do Desenvolvimento Agrário, em Nova Trento existem 341 famílias na agricultura familiar. O foco dos agricultores do município é a produção de hortaliças, fumo, reflorestamento, mandioca e produção de suco de uva. A maior parte do que é produzido pelos agricultores neotrentinos é vendida em suas propriedades. Numa casa de madeira cor-de-rosa, com a vista do rio, da pedreira e uma horta rica em hortaliças, Denize Clara Bonecher Perotoni, 42 anos, aposentada, vive na localidade do São Valentim junto com o marido, Alceu Perotoni. Ele trabalha plantando aipim há pelo menos 30 anos, e tem uma horta para consumo próprio da família. “No inverno, ele acorda às 6h e vai pra roça plantar. Na época do plantio, ele limpa e prepara o terreno. Quando é dia de arrancar, acorda 5h15. Volta pra casa almoçar e antes das 13h já tá na roça. Quando é 18h30 ele trata os bois e volta pra casa”, relata Denize. O casal, que estudou até a 4ª série, tem três filhas: Karine, que mora em Gaspar, e Jaqueline e Aline, que moram com eles. As duas estão na faculdade: cursam Design de Interiores e Psicologia. Denize acredita que as filhas não vão continuar a vida na agricultura, pois elas decidiram tomar rumos diferentes, o que não dá condições para trabalharem e viverem no interior.


Itajaí, agosto de 2016

Para unir agricultores como Alceu e Robson, foi criada a Coopertrento, a Cooperativa da Agricultura Familiar do Vale do Rio Tijucas e Itajaí-Mirim. Ela serve para facilitar a comercialização dos produtos, organizar os agricultores para compras coletivas e também vender os produtos para as prefeituras como parte da merenda escolar. Existem aproximadamente 60 sócios da cooperativa. Pouco, em comparação à quantidade de famílias do município que vivem na agricultura familiar. O engenheiro agrônomo Victor Alisson Gomes acredita que falta organização dos agricultores, que poderiam ser beneficiados ao fazerem parte da cooperativa. Na terra da banana Em Luiz Alves, existem 702 famílias na agricultura familiar. Na cidade, predominam as plantações de banana. O número de produtores nesse ramo é alto e com grande valor para o município. Além dos bananais, há também a produção de palmeira real, cachaça de cana de açúcar e hortaliças. A agricultura é uma atividade abrangente em cidades pequenas como Nova Trento e Luiz Alves. Por isso, os órgãos governamentais incentivam o agricultor a não desistir da função. As Secretarias de Agricultura, por exemplo, tem como função fornecer serviços, seja de máquinas agrícolas, acompanhamento veterinário e demais assistência aos agricultores. Dentre as famílias de Luiz Alves que cultivam banana, está a de Darceu Aleixo Rech, 48 anos, que sempre viveu da agricultura familiar. Ele mora com a família em uma casa no topo de um morro, com o galpão de trabalho em frente à casa. “Eu sempre vivi da agricultura, trabalhando em cima do terreno do meu pai, depois comprando terrenos pela cidade e cultivando. Não foi de começo a banana, mas, por fim, vi que era o que mais dava lucro aqui na cidade”. Darceu tem 4 filhos, dois homens e duas mulheres, e vive com sua esposa Olivia Golinski Rech, que também sempre viveu do campo. Fazendo o almoço no fogão à lenha para o marido e os

Foto: Victor Alisson Gomes

Robson Eccher é considerado um dos maiores apicultores de Nova Trento

filhos, a mulher de 43 anos fala o que é para ela até hoje viver da agricultura. “É um modo de sobrevivência, já que não estudei e sempre fiquei na roça. Não me vejo em outro lugar se não for

aqui”. Ela acredita que os jovens não têm mais interesse de viver da lavoura, e acha que a atividade um dia vai se acabar. Secretário de Agricultura de Luiz Alves, Vandrigo

Wust afirma ser difícil saber exatamente o número de famílias que vivem da agricultura familiar na cidade, pois mais de um membro familiar pode possuir um registro de agricultor. O sinFoto: Maicon Rech

Natanael Lopes, 17 anos, trabalha como empregado em um bananal para sustentar a família

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dicato de produtores rurais do município possui cerca de 900 associados, número que bate com os dados cadastrados pela Secretaria. Com base em dados obtidos através de DAPs (Declarações de aptidão ao Pronaf), estima-se que 69% das famílias de Luiz Alves vivam da agricultura, indiferente de serem empresas ou pessoas físicas. Hoje a cidade possui aproximadamente 11 mil habitantes. Uma realidade visível na agricultura de Luiz Alves é a presença dos adolescentes na atividade rural. Grande parte dos jovens são filhos dos donos das terras em que produzem, mas também existem aqueles que precisam do emprego na roça para viver. É o caso de Natanael Lopes, 17 anos. Os problemas em casa o fizeram tomar as rédeas da família e hoje trabalha como empregado em um bananal. “Trabalho na roça porque preciso. Gosto do serviço, mas a necessidade é maior. Como sou o homem da casa, preciso trabalhar pra poder colocar comida dentro de casa e não deixar minha família passar fome”. Ele estudou até o 1º ano do ensino médio, gostaria de voltar a estudar para ter uma formação melhor, mas o comprometimento com a família torna esse desejo algo difícil de ser realizado. De outro lado, existem aqueles que querem ficar na agricultura por simplesmente gostar do que fazem. Luis Germano tem 16 anos e pensa em viver na roça para poder tocar o negócio da família. “Eu gosto daqui, onde tenho meu cavalo, o bananal, os passarinhos, aqui eu fico bem e trabalho porque gosto. Não digo que não vou estudar, mas me vejo aqui, morando onde sempre morei e trabalhando na roça”. Luis vai para a escola por obrigação, e diz que se pudesse não estaria mais estudando, porque seu destino é na agricultura. Sua mãe, Terezinha Hilaria, 32 anos, não se incomoda com o fato do filho querer ficar na roça, pelo contrário, ela o apoia. “Acho bom meu filho querer ficar aqui e tocar o negócio pra frente, hoje em dia são poucos que pensam assim. Mesmo ele tendo pouca idade já fica claro que é o que ele quer. Já que é seu gosto, sempre vou incentivar”.


ItajaĂ­, agosto de 2016

Livre para

voar C Oferta de produtos e tratamentos deu liberdade aos cabelos cacheados

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Foto: Andressa MagalhĂŁes

Economia


Itajaí, agosto de 2016

Alexsandra de Souza e Suelen Oliveira - 6º período de Jornalismo

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vento estava forte, os cabelos rebeldes insistiam em se jogar contra o rosto e impedir a visão. Parecia estar atrasada, porém, talvez esse não fosse seu maior medo e sim que chovesse. A preocupação em molhar o cabelo aparentava ser enorme. É fácil imaginar todo aquele volume indo embora junto com a chuva. As ondinhas em sua cabeça balançavam de um lado para o outro como se dançassem ao ritmo que o vento tocava. Uma beleza tão encantadora. Porém, enquanto andava, era possível notar de longe os olhares e piadinhas. Uma senhora sussurrou para si: “Cabelo ruim tem que ficar amarrado”. O problema é que muitas vezes, no cotidiano, esses sussurros são altos o suficiente para machucar alguém. Cabelo cacheado nunca foi cabelo ruim, cabelo cacheado não é para ficar puxando e, sim, é a coisa mais normal do mundo. E quando alguém aceita os cachos não é algo do tipo “vou cachear e pronto”, existe toda uma transição. A consultora de cachos do Studio dos Cachos, Alessandra Carelli Feminella, explica melhor a transição e o tratamento necessários. “Os cabelos encaracolados demandam alguns cuidados, como produtos e cortes adequados. Indicamos produtos sem sulfato, sem silicones, sem parafinas líquidas”. Ela critica a busca incessante por produtos milagrosos e dá uma dica para quem acredita que cabelo cacheado é mais trabalhoso que o liso. “Basta saber quais os produtos certos a serem adquiridos. Muitas vezes gasta-se muito tentando achar o produto milagroso, que não existe”. O salão Studio dos Cachos, localizado em Florianópolis (SC), conta com uma linha própria de produtos. “Nós usamos a nossa própria linha, desenvolvida para nossa consultora dos cachos, Alessandra que tem graduação em Cosmetologia e Estética e estudou 10 anos para desenvolver produtos adequados para as encaracoladas. A linha Studio dos Cachos possui, hoje, um higienizador, um condicionador e um finalizador em gel. Todos cuidadosamente elaborados para os cabelos encaracolados”. Para uso em

Foto: Suelen Oliveira

Nos dias de hoje, é possível manter os cachos sem gastar muito

Muitas vezes gasta-se muito tentando achar o produto milagroso, que não existe

casa, as cabelereiras indicam utilizar produtos adequados para os cabelos encaracolados. Além disso, manter uma boa alimentação. Hoje em dia, é comum ver vários tipos de cabelos cacheados, mais grossos, mais finos, abertos, fechados, femininos e masculinos. Ainda há uma infinidade de estilos e penteados. Eles combinam com as quatro estações e não existe um padrão, ganhando destaque desde o preto até o platinado. A aceitação do cabelo cacheado passa por transições e o último corte que desfaz a ligação entre os cachos naturais e aqueles que têm química é o “big chop”. A blogueira e estudante de Letras da UNESP Hadassa Rodrigues tem paixão por cremes. “Gosto de variar por essas marcas mais populares. Mas a linha de produtos que me deixou bem satisfeita nesses últimos meses foi a linha ‘Tô de Cacho da SalonLine’, é

uma linha especialmente voltada para cabelos cacheados e crespos”. Depois da transição, Hadassa só voltou ao salão para aderir ao corte final de sua transição, o big shop. “Nessa última vez, fiquei menos que 30 minutos e paguei R$ 45”. Com cuidados permanentes em casa, hidrata o cabelo a cada 15 dias. “Gasto o preço da máscara de hidratação, que fica em média uns R$ 30. Gosto de comprar os produtos mais populares que vendem em supermercados, eles são bons e mais baratos”. Um dos motivos dela manter tantos cuidados em casa é porque na cidade onde mora não há salões especializados em cachos. Também adepta à transição e finalização com o corte big chop, Alice Dionísio, estudante de Letras na Universidade Federal da Fronteira do Sul, conta que a última vez que foi ao salão foi para fazer o corte, há dois anos. Gastou

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em torno de R$ 40. Morando atualmente em Chapecó, onde não conhece nenhum salão especializado, vê isso como um problema sério. “Existem especificidades do cabelo cacheado que alguns salões não sabem tratar”. Por isso, Alice investe em tratamentos caseiros para manter seus cachos. “Eu faço o gel de linhaça pra finalizar, o custo é baixo. Além disso, eu hidrato com glicerina, que é barato também”. Para os demais cuidados do cabelo, geralmente usa apenas o condicionador para lavar. “Creme pra pentear eu uso Yamasterol. Finalizando algumas vezes com o gel de linhaça”. A glicerina está em torno de R$ 7 e o gel de linhaça varia de lugar para lugar, custa de R$ 7 a R$ 10. O estudante de letras da UNESP Lucas Oliveira usa shampoo específico, exatamente para o nível de curvatura dos cachos. Mantendo uma rotina de cuidados com o cabelo, ele lava os cachos de 3 a 4 vezes por semana. Como não vai a salões, uma vez por semana ele acrescenta máscara de hidratação, óleo de coco e manteiga de karité. “Também gosto do efeito da hidratação com café, que consiste em duas colheres de creme de hidratação, uma colher de azeite de oliva extra virgem e duas colheres de café. Deixo agir por 20 minutos”. Os longos cachos loiros da estudante e cantora Nivea Cavalcante viviam escondidos atrás da chapinha até os seus 14 anos. A aceitação veio quando se encantou com os cachos de uma amiga. Ela raramente vai ao salão, costuma ir apenas para fazer o clareamento. Gastando em torno de R$ 50 e duas horas. “O salão que vou não é especializado para cachos, mas a cabeleireira que cuida do meu é cacheada e sabe algumas coisas”. Nívea conta como faz para manter os cachos em casa. “Uso produtos da Seda e NatuHair. Faço hidratação caseira usando amido de milho e algumas máscaras de hidratação. Amido de milho é algo que já tem em casa, assim só gasto R$ 9 na máscara de hidratação”. Já para a estudante de biomedicina da Uniplac Camila Lima os gastos com cuidados costumam ser mais caros. Quando vai ao salão, gasta R$ 60 apenas para hidratar. Já com produtos que usa em casa ela gasta R$ 100 por mês. Ela é adepta de produtos mais

populares, como Seda, Lola, Pantene. Uma das hidratações que costuma fazer em casa é com gelatina incolor. “A gelatina incolor custa no máximo R$ 5. Demora em torno de 1 hora porque tem que deixar no cabelo junto com um creme de hidratação”. Camila alisou o cabelo quando ainda era nova, mas sentia vontade de voltar para os cachos. Depois da transição, não quis mais mudar. “Eu estava querendo voltar pros cachos fazia um ano já, mas fiquei me enrolando. Aí, em um final de semana, parei e falei: é hoje. Meu cabelo estava muito maltratado e eu nunca tinha visto ele assim”. A estudante de administração da UNOESC Natália Gomes costumava alisar os cabelos quando ia ao salão, atualmente ela apenas hidrata. “Alisei no fim do ano passado, mas agora resolvi voltar aos cachos. Ainda tem um resto da progressiva. Diria que hoje, gosto mais cacheado”. Natália usa shampoo, condicionador e creme para pentear da Elseve, especial para cabelos cacheados com colágeno. A linha completa sai em torno de R$ 50. “Uso óleo de coco uma vez por semana, que custa R$ 28,90 com 200 ml. A durabilidade é bem grande”. Além de muito estilo e cuidados, é preciso personalidade. Cabelos cacheados ainda são motivo de situações embaraçosas. Foi assim com a estudante de psicologia da Unoesc Fabiana Chiamolera, que sofreu com as piadinhas. “Quando eu era mais nova, antes de sair do ensino médio, era mais difícil lidar com as piadas de mau gosto. Da metade do terceirão em diante, comecei a gostar dos meus cachos. Amo ter o cabelo diferente, cuidar e hidratar. Aprendi a ignorar os comentários maldosos e levar em consideração apenas os elogios”. Atualmente, ela gasta R$ 60 para hidratar e cortar as pontas. Os cuidados diários de seus cabelos são feitos com shampoo, condicionador e creme para pentear da linha cachos perfeitos da Monange. Gasta de R$ 20 a R$ 30, dependendo do lugar onde compra. Nos dias atuais, é possível manter os cachos sem precisar gastar muito. Basta apenas escolher os produtos certos. Aceitação é o primeiro passo a dar antes de qualquer transformação.


Itajaí, agosto de 2016

Esporte

Lazer ou aprendizagem? Caroline de Borba e Paula Dagostin - 5º período de Jornalismo

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azemos gincanas com os meninos e as meninas. Jogamos bola e pulamos corda. Eu gosto”, declara Beatriz Ferrari, 7 anos. A mãe dela, a dona de casa Cristiane Ferrari, considera importante a disciplina de Educação Física. “Além de contribuir para o desenvolvimento físico, ajuda na interação com as outras crianças, o que é indispensável para o convívio escolar”, acredita Cristiane. A disciplina de Educação Física não se resume apenas a prática esportiva. É composta também de aulas teóricas sobre as diversas modalidades e suas regras. Além disso, trabalha com a atividade corporal e o autoconhecimento. Logo no começo da vida social dos filhos, os pais devem apresentar a eles os esportes e práticas esportivas. Ao introduzir essa atividade, logo após os seis anos, a aceitação e a compreensão serão maiores. Os esportes devem ser vistos pelo viés lúdico, sem cobrança de resultados e sem tornar a prática uma obrigação. Segundo a psicóloga Lenita Novaes, as práticas auxiliam tanto no convívio social quanto nas habilidades motoras. “Os esportes que possuem regras e técnicas são indicados para crianças a partir dos seis anos. Esportes como futebol e vôlei auxiliam na interação social, pois são realizados em grupo, ajudando no desenvolvimento psíquico motor e a aprender tanto a ganhar como perder”, ressalta.

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Mesmo sendo uma disciplina obrigatória, alunos ainda veem as aulas de Educação Física como momento de lazer

A prática de atividade física, principalmente em grupo, é vista por crianças e adolescentes como uma forma de interação e convivência com os amigos. Após conhecer as regras e técnicas, alunos amadurecem o comportamento e em alguns casos, passam a ver os esportes como profissão. É o caso do aluno Natã Moraes, que agora representa Balneário Camboriú nos campeonatos de futsal. “Quando comecei a ter aula de Educação Física, aprender sobre os esportes, os jogos no campinho ficaram mais legais, com regras. Porque além de aprender a jogar, o professor ensinava os posicionamentos, a ter disciplina e saber perder. Foi ainda nas aulas de Educação Física que eu decidi que seguiria o meu sonho. Quando entrei na Fundação Municipal de Esportes para jogar futsal, eu me encontrei. Hoje participo dos campeonatos junto com o meu time e buscamos sempre trazer medalhas para Balneário Camboriú”. Porém, muitas vezes as aulas de Educação Física não são levadas a sério, sen-

do vistas apenas como um momento de descanso. Para a bacharela em Educação Física Juliana Formentin, o desinteresse dos alunos acontece devido à má aplicação das aulas. “Em uma rotina escolar desestruturada, a Educação Física é inserida na rotina da criança como um momento de fuga de suas responsabilidades, onde ela deve extravasar e esquecer de suas responsabilidades. Na minha vivência de Educadora Física isto não acontece. Portanto, não é um momento de lazer e descanso, é um momento de desenvolvimento e aprendizagem motora e social”, enfatiza Juliana. A professora de Educação Física Leisi Fernanda responsabiliza alguns edu-

cadores que, ao não preparem as aulas, dão abertura para que os alunos encararem como momentos de descanso. “A postura do professor conta muito e afeta essa relação entre a aprendizagem e o momento de lazer. No entanto, essa postura não é consenso entre os professores de Educação Física, assim como entre os alunos, pois há os que realmente se dedicam. Existem profissionais comprometidos e que trabalham de modo a fazer com que o aluno compreenda a importância do movimento corporal e da prática de atividade física para seu bem-estar”, afirma. Uma prática comum dentro das quadras esportivas de Centros Educacionais é

A ideia de que o professor de Educação Física só dá a bola e assiste não deve existir

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a reclamação, feita em sua maioria por meninas, em relação à falta de diversidade na prática dos esportes. O futebol, com toda a sua popularidade costuma ofuscar os outros esportes e, em virtude disso, interfere na execução de outras atividades. “Trabalhar com esta modalidade acaba trazendo facilidade e comodidade ao profissional. Portanto, as aulas focadas em uma modalidade específica sugerem a falta de compromisso do profissional e não podem ser vistas como prática comum. A ideia de que o professor de Educação Física só dá a bola e assiste não deve existir”, destaca Juliana Formentin. Segundo Leisi Fernanda, a falta de preparo e respeito dos professores em ensinar o que lhes cabe, acaba por gerar aulas monótonas e que abrangem apenas a um grupo seleto de alunos. “Tendo em vista que a maioria passa por uma formação acadêmica em que se estuda muito, que se aprende tantos conteúdos diversificados, a postura de simplesmente jogar a bola e deixar que os alunos apenas façam o que gostam, ou o que julgam saber fazer, é uma falta de comprometimento com a carreira escolhida. Uma falta de respeito com os colegas que procuram trabalhar de modo correto e comprometido, assim como, com os alunos, que merecem o acesso a um conhecimento bem mais amplo e mais interessante que apenas o jogar futebol e futsal”, conclui a professora.


Itajaí, agosto de 2016 Foto: Jéssica Teles

Diretrizes curriculares Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), documento oficial do Ministério da Educação, a disciplina de Educação Física deve seguir diretrizes nacionais e ser composta por três blocos: 1. Jogos, Ginásticas, Esportes e Lutas; 2. Atividades Rítmicas e Expressivas e 3. Conhecimentos sobre o corpo. Trabalhando há mais de vinte anos na Rede Municipal de Educação de Balneário Camboriú, o professor de Educação Física Heitor Kill revela as dificuldades em seguir a diretriz nacional. “Os blocos organizados pelo Ministério da Educação são muito abrangentes, compreendendo várias atividades e modalidades. Assim, em porte municipal, fica difícil realizar todos os espor-

tes em aula, principalmente ginástica rítmica e natação. Para propiciar aos alunos um leque maior de oportunidades, são criados diversos cursos de contra turno escolar para que os estudantes possam se dedicar ao esporte que mais lhe apetece”, aponta Heitor. Nem sempre se consegue abranger todos os esportes na escola, principalmente de forma detalhada. As dificuldades giram em torno da falta de tempo e em alguns casos, de estrutura e materiais que possibilitem trabalhar desde o futebol, até o não tão praticado, badminton. Dessa forma, cabe ao professor ter a criatividade para conseguir dar aulas mais diversificadas, para que os alunos realmente aprendam e pratiquem esportes.

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Itajaí, agosto de 2016

Balança

desfavorável Maiume Ignacio – 4º período de Jornalismo

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Com aumento dos impostos e crise nacional, municípios tentam se adaptar para manter equílibrio

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balança, símbolo conhecido por representar a justiça vem se mostrando desfavorável aos brasileiros nos últimos tempos. De um lado o percentual da inflação passa dos dois dígitos, os impostos só aumentam e o desemprego caminha para níveis aterrorizantes. Do outro, o impostômetro bate os R$ 770 bilhões, recursos são cortados e todo esse dinheiro parece estar escorrendo pelo ralo, sem que o lado mais frágil dessa balança seja compensado minimamente. Cidades pequenas como Barra Velha, no Norte de Santa Catarina, procuram adaptar-se a esta nova realidade. Através da arrecadação de fundos próprios como o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), o ISS (Imposto Sobre Serviço) e o ITBI (Imposto de Transmissão de Bens Imóveis), tentam se equilibrar. Uma das formas encontradas para que se obtenha mais capital é o executivo fiscal, realizado pelo setor jurídico da prefeitura. Segundo o advogado municipal, Ronivan Pichaeck, ações ajuizadas somente por ele podem render cerca de R$ 1 milhão. De modo geral, existem vários perfis de devedores. Tanto pessoas físicas quanto empresas adquirem dívidas, porém uma característica observada por Picharck é que quem se regulariza mais rapidamente são os contribuintes com menor poder aquisitivo, ao contrário das grandes empresas, que preferem adiar e resolver judicialmente a pendência.

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Segundo dados do chefe do setor de cadastro e tributação, Marci José Schlichting, o Município já arrecadou com IPTU R$ 6,6 milhões, valor que corresponde a mais de 50% do estimado. Marci José Schlichting é funcionário há 34 anos e cita ainda o uso de leis de refis para que débitos sejam resolvidos. O refinanciamento de dívidas se caracteriza como uma lei que anistia o contribuinte devedor de juros e multas, oferecendo opções de pagamento em cota única ou parcelada. O uso destas leis só é permitido quando o Executivo pode comprovar outra receita equivalente ao valor dos juros e multas que seriam cobrados. Seu uso não é permitido em anos eleitorais. Quanto à correta aplicação destes valores, o prefeito Claudemir Matias Francisco frisa ações importantes como a construção do complexo escolar no bairro São Cristóvão e a do posto de saúde no bairro Itajuba. Matias conta que para atravessar o período de recessão utilizou-se de medidas cautelares como o corte de cargos comissionados e a reavaliação do IPTU. Já a população parece não sentir o efeito destas medidas. Em enquete realizada com 30 munícipes, 64,5% dizem que as benfeitorias realizadas na cidade deixaram a desejar, 71,4% pedem por mais investimentos na área da saúde, porém os mesmos 64,5% mostram acreditar que vale a pena pagar os impostos. Com deficiências óbvias e perspectivas abaixo do normal, os barravelhenses seguem se equilibrando.

Foto: pixabay.com

Economia


Itajaí, agosto de 2016

Resenha

Stranger Things - 1 Temporada a

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alar que o sucesso de Stranger Things chegou devagar e foi conquistando as pessoas aos poucos seria uma grande mentira. Em pouco menos de uma semana do lançamento da primeira temporada, a série já conta com quase 250 mil curtidas em sua página do Facebook. Se você não mora num buraco embaixo da terra sem internet, já deve ter percebido as diversas menções ao programa nas redes sociais, na maioria elogios e propagandas gratuitas. Quanto mais gente comenta, mais repercussão o show tem e, assim, o número de novos espectadores multiplica-se, tornando o sucesso uma bola de neve – de uma forma positiva, é claro. Ainda é cedo para afirmar se esse fenômeno será a longo prazo, cativando fortemente o público ao ponto de eternizar-se na cultura pop, como Breaking Bad, The Sopranos e Twin Peaks, mas o poder narrativo construído pelos irmãos Duffer deve estar causando inveja em muitos roteiristas e produtores em Hollywood.

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Ambientada nos anos 80, série mistura ficção científica e terror para narrar as aventuras de um grupo de garotos em busca de seu amigo desaparecido Afinal, qual é a premissa de Stranger Things? A série é ambientada no início dos anos 80, na pequena cidade de Hawkins, em Indiana, que tem sua rotina, devagar quase parando, quebrada quando um menino (Will) desaparece sem explicação e com poucas pistas. Falando assim, poderia ser um seriado investigativo qualquer, isso se os fatores sobrenaturais e de ficção científica não tivessem peso tão grande na história. A partir disso, junto com a aparição de uma menina com poderes especiais (Eleven), três núcleos vão se desenvolvendo: o dos adultos, dos adolescentes e das crianças. Circulando entre todos, há os mistérios envolvendo a empresa que fazia testes em Eleven e o Upside Down – pouco abordado, intencionalmente, nesse primeiro ano.

Em meio aos vários plot twists, o núcleo adolescente é o menos interessante, apesar de Nancy (Natalia Dyer) e Jonathan (Charlie Heaton) possuírem bons intérpretes, conseguindo explorar muito bem as angustias do fim da infância e começo da vida adulta. Provam que nem todo adolescente da televisão precisa ser birrento, não é mesmo Dana Brody? Atores e atrizes bons não faltam aqui. Winona Ryder brilha como uma mãe desesperada em busca do filho, indo aos extremos com sua atuação. Apesar de o roteiro explorar pouco a visão da população da cidade sobre as atitudes de Joyce, deixando os julgamentos apenas para o ex-marido. David Harbour consegue seu primeiro personagem esférico em Stranger Things, ao dar vida a um

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policial com traumas do passado, fazendo-nos esquecer de suas participações com pouca personalidade em séries como The Newsroom. A morte da filha e o envolvimento com o governo são questões a serem abordadas na segunda temporada. Contudo, as crianças são de longe a melhor coisa, as interações entre eles lembram clássicos infantis dos anos 80, principalmente Os Goonies e Conta Comigo. Temos um grupo homogêneo em gostos, mas com particularidades na personalidade e uma química incrível em cena. Qualquer nerd, não importando a idade, consegue se identificar com Mike (Finn Wolfhard), Lucas (Caleb McLaughlin) e Dustin (Gaten Matarazzo). Os meninos são totalmente palpáveis em nossa realidade. Eleven (Millie Bobby Brown),

mesmo com poucas falas, passa uma carga dramática pesada e envolvente. A capacidade da jovem para o drama é notável. Esse combo de boas atuações com roteiro bem amarrado faz os espectadores apegarem-se a todos os personagens, algo essencial nesse tipo de produção. Para assistir uma série por anos, você precisa se importar com as histórias daquelas pessoas. Para quem ama referências nerds, a trama não vai decepcionar. Essas referências, todas oitentistas, podem ser encontradas, simplesmente, em cartazes de filmes da época espalhados pelo porão onde os meninos passam a maior parte do tempo ou na narrativa em si. Inclusive, o próprio porão é o lugar de diversas batalhas de Dungeons & Dragons, jogo de RPG popular na época. Tudo remete aos anos 80, da abertura até a fotografia. Ross Duffer e Matt Duffer pegaram elementos de filmes clássicos, uma boa parte deles de Steven Spielberg, e construíram uma história coesa e cheia de nostalgia.

Imagem: Netflix

Mikael Melo - 4º período de Jornalismo


Itajaí, agosto de 2016

Coletivo Fotográfico

Planos

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Ângulos

Acadêmicos: Caroline de Borba, Gabriel Silva, Paula Dagostin e Sergio Augustin | Orientação: Prof. Eduardo Gomes planoseangulos.wordpress.com

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omo já dizia Carequinha: “Palhaço, aquele abraço, nós gostamos tanto de você”. O ator é um mestre dos sentimentos e a plateia seu material de trabalho. Adriano Magalhães. 22 anos. Ator. “Cada espetáculo de um palhaço é diferente, sempre vai haver uma coisa nova”, afirma Adriano, que interpreta o palhaço Secura. Ator profissional há qua-

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tro anos, ele adora a liberdade que o teatro proporciona. Encarar os palcos não é coisa simples, mas Adriano tomou essa decisão aos 17 anos. “O teatro é tudo o que eu tenho agora”, brinca. No currículo, traz na bagagem os diversos cursos de teatro. “Fora do mercado cultural, o meu currículo não tem muito valor. Diferente do que muitos pensam, existe um estudo para ser palhaço”. Adriano

começou a estudar a linguagem do palhaço em 2013 e a vontade de fazer um espetáculo interpretando o tradicional personagem resultou na peça “Eu, Palhaço?”. O palhaço possui diversas facetas. Ele dança, ri, chora e canta. “Eu passo pelo palhaço de festa, de terror, de circo e o de teatro”. No espetáculo, a pretensão é causar esse tipo de questionamento ao público: qual palhaço é o certo? Qual o errado? Existe o certo e o errado? Em cena, Adriano está como Secura – o palhaço, e como ator. Quando o espetáculo estava pronto, Adriano percebeu que não queria ser apenas palhaço, mas também ator. “Tem gente que quer ser só palhaço mesmo. Eu entendi, depois de todo o estudo, que isso seria algo para adicionar a mim”. Cada ator tem seu projeto de carreira e objetivos a serem alcançados. Muitos são atores por prazer e combinam o palco com suas profissões. Outros, como Adriano, tem o palco como sua fonte de renda e prazer. “Estamos sempre estudando, tentando fazer o nosso melhor”. Entre seus próximos trabalhos, Adriano tem na agenda dois espetáculos. Um deles será voltado para o público adulto e outro para o infantil, ambos com temática de terror. “Queremos fazer o espetáculo junto com o público”.

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