Cobaia #141 | 2015

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Cobaia JORNAL-L ABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI Itajaí, novembro de 2015 - Edição 141 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

De bike pelo mundo

Fotos: Arquivo Pessoal/ Narbal Andriani Junior

Páginas 10 e 11


Itajaí, novembro de 2015

Editorial

azul Final de ano

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aros leitores, neste mês apostamos no câncer de próstata como a matéria principal, da mesma forma que elegemos como a mais importante de outubro a reportagem sobre câncer de mama. O estudante Fernando Rhenius fez uma grande matéria, ressaltando a necessidade de os homens, com mais de 40 anos de idade, deixarem de lado o medo e o preconceito para fazerem os exames preventivos. A diagramação da matéria valorizou os cuidados com os primeiros sintomas de uma doença que mata 7% dos homens brasileiros na terceira idade. Temos matérias sobre a exposição de Miró em Florianópolis, o bate-papo dos jornalistas Pedro Leite e Stefani Ceolla com os estudantes do Curso de Jornalismo sobre suas trajetórias profissionais e a nova fase da Camerata de Florianópolis, que se apresentou no Rock in Rio ao lado do guitarrista Steve Vai. Uma reportagem especial com Narbal Andriani Júnior e sua bike ao redor do mundo, um violinista jovem que faz concertos em frente ao Shopping Atlântico, em Balneário Camboriú, e os perfis de “Seu Tonho” e Imperador nas ruas do centro de BC e Itajaí, respectivamente. Para encerrar, temos dados sobre o impacto da Marina de Itajaí no mercado náutico da região para este ano e em 2016 e, claro, alguns flagrantes multicoloridos desta 29ª edição da Marejada Aventura pelos mares. Apreciem esta edição, a última deste ano, com a certeza de muito mais reportagens instigantes para 2016. Feliz Natal e um próspero 2016 repleto de novos desafios e importantes conquistas! Vera Sommer - editora Reg. Prof./DRT-RS 5054

Crônica de uma criança Ana Paula Keller – 7º período de Jornalismo

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ão sei do futuro. Certamente a infância foi uma das épocas mais felizes da minha vida. Mamei no peito pouco mais de um ano, chupei bico, dormi em pelego, em carrinho de mão e até em balaio. Fui uma criança curiosa, mexia onde não podia, experimentava de tudo. Conheci até o gosto de soda porque achava parecido com sal. Tive todos os animais de estimação possível de uma criança ter. Fui dona de cachorros, inúmeros - em especial dois que chamavam “Coquinho” e “Baíto”. Tive gato, vaca, bode. Mantinha um apego especial pelos meus coelhos de olhos vermelhos, por uma cabrita e por uma ovelha chamada “Xuxa”, um tio falecido me deu de presente. Meu pai deu ainda um burro - o cavalo eu pensava que me pertencia também. Dele não tenho boas recordações porque em outro tempo fiz malandragem e me devolveu um coice aos três anos. Aos nove, quando joguei um gato na bunda de outro eu recebi um segundo. O jegue me levava onde eu queria e detinha inteligência admirável. Minha primeira bicicleta eu ganhei passado dos dez anos de idade. Mas antes havia andado muito com a bike verde do meu pai. Delas recordo do gosto por pedalar até os dias de hoje, e demais, as cicatrizes nos cotovelos, pernas e joelhos não me deixam esquecer, fui criança. E as árvores? Subi em mui-

tas. Aos oito anos eu competia com meninos para ver quem chegava antes no topo de um eucalipto. Eu era boa nisso. Na residência de um tio, tínhamos uma especial. Chamava “Árvore do Pau Torto”. Era praticamente uma nave e ela nos levava a inúmeros e inesquecíveis locais. Porém, gostava mesmo era de água. Banho de chuva para depois poder andar descalço no barro. Dias de sol para tomar banho de mangueira. Quando já tinha chego aos nove anos descia sozinha para a represa. Aprendi a nadar assim, fazendo arteirice. Em meio à represa e a cachoeira havia um córrego. Dali recolhia argila e criávamos nossos bonecos. Essas eram as bonecas que eu mais gostava. Mantinha pouco apego em Barbie. Nesse local com fio d’água construíamos outro açude compatível com o nosso tamanho para aquela época. Aos nossos pés passavam peixinhos, fora do aquário. De especial ainda recordo das trilhas. E no mato também fazíamos casa. Sempre grandes - cheias de criatividade e liberdade. Fugia de casa pela manhã e voltava final do dia. Percorria todos os caminhos no verde infinito, comia amoras, araticum, guabiroba. Gostava de aguçar os cachorros nos lagartos vistos na mata, depois saia correndo com medo de ambos. Numa dessas, quebrei o braço pela segunda vez.

Também foi na infância que criei gosto por ler e escrever. Além dos livros de escola eu lia romance, mas sempre escondido da mãe porque ela julgava o assunto inapropriado para minha idade. E a escrita foi se desenvolvendo com cartas e com diários feitos escondidos na madrugada. Registrei centena de vezes as lembranças. Tive muitos amigos quando criança. Família grande, então praticamente todos eram também meus primos e primas. Adulta, tento manter um pouco daquela “menina moleca”. A essência se manifesta na infância, quando adulta, não se deve perder jamais. Ao menos, é assim para mim. De qualquer forma, a nostalgia provocada pela infância faz ter certeza de quão saudável e especial ela foi.

UNIVALI - Universidade do Vale do Itajaí

Expediente:

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Crônica

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS - COMUNICAÇÃO, TURISMO E LAZER Diretor: Prof. M.Sc Renato Büchele Rodrigues CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI Rua Uruguai, 458 - Bloco C3 Sala 306 | Centro, Itajaí - SC - CEP: 88302-202 Coordenador: Prof. M.Sc Carlos Roberto Praxedes dos Santos Agência Integrada de Comunicação

JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI Edição: Vera Lucia Sommer/Reg. Prof./DRT-RS 5024 Tiragem: 2 mil exemplares | Distribuição Nacional PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO: Gabriel Elias da Silva

Você tem alguma sugestão para fazer, ou alguma matéria que gostaria de ver publicada? Conte com a gente! cobaia@univali.br

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Itajaí, novembro de 2015

O surrealismo Visita Técnica

de Joan Miró Gabriel Elias da Silva – 3º período de Jornalismo

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Fotos: Sergio Augustin

Exposição ficou dois meses no Museu de Arte de Santa Catarina e recebeu visitantes de mais de 100 municípios do estado

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ento e doze obras, expostas em ordem cronológica, compõem a exposição “A força da matéria”, de Joan Miró. São 41 pinturas, 22 esculturas, 20 desenhos, 26 gravuras, além de fotografias e alguns objetos que o artista usou como referência. Quem aproveitou a última semana da exposição, no Museu de Arte de Santa Catarina, o MASC, em Florianópolis, foram os alunos do 3º e 4º períodos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Univali. A chuva deu uma trégua, recebendo o micro-ônibus dos acadêmicos na ilha da Magia. O céu estava nublado, mas a chuva não caiu. Os estudantes embarcaram no mundo surreal do escultor, pintor, gravurista e ceramista Joan Miró i Ferrà, que nasceu no dia 20 de

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abril de 1893, em Barcelona, na Espanha, e faleceu em 25 de dezembro de 1983. Foram 90 anos de vida. A professora e jornalista Valquíria Michela John, que acompanhou os alunos até o museu, conta que a arte tem a capacidade de tirar as pessoas do lugar comum. “Ter a oportunidade de visitar a exposição de um artista de vanguarda, inovador, que nunca se conformou e buscou contestar até a própria arte, é uma experiência enriquecedora, sobretudo para um acadêmico de Comunicação. A arte é uma forma de interpretação do mundo”. Já a professora Ediene do Amaral, que também esteve presente na caravana ao Masc, ressalta que a arte trabalha através da sensibilidade. “O artista é o grande comunicador da sua época. Por meio da arte,

ele revela todo um movimento histórico, político, econômico e artístico que estava acontecendo em sua época”. O surrealismo surgiu na França, por volta de 1920. Os principais artistas desse movimento são Salvador Dali, René Magritte e, inclusive, a brasileira Tarsila do Amaral. Em outubro, a exposição foi visitada por detentos da Penitenciária Estadual de Florianópolis, que estavam em regime de contrato de prestação de serviços com a Fundação Catarinense de Cultura, FCC. No final do passeio, enquanto os alunos tomavam um café no museu e observavam a chegada de ônibus cheios de estudantes para visitar a exposição, a professora Ediene admirou-se e disse: “Depois dizem que o brasileiro não consome arte”.

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Itajaí, novembro de 2015

Bate-papo

Sem glúten e

sem lactose C Andrei Lucas Martins - 1 º período de Jornalismo

Jornalista Pedro Leite, da Rádio Itapema de Florianópolis, conta parte de sua trajetória profissional para alunos de Jornalismo

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nal construída em mais de 30 anos de trabalho. O bate-papo foi no auditório da Farmácia, no bloco F, no dia 4 de novembro. Apesar de ter perdido os pais ainda quando criança, Pedro diz não ter a menor vocação para ser infeliz por ser um tipo de pessoa que dá risada em velório. Ele afirma que as perdas na vida foram, na verdade, muitos ganhos. Durante a infância, estudou em colégio

Foto: Coletivo Plano de Foco/ Bernardo Marucco e Erickson Stocker

er irreverente é relevante. É importante ser questionador, não aceitar verdades, não se acomodar. Mas, para tudo isso, é muito importante você construir um lastro para as suas histórias”. Com essa tese, o jornalista Pedro Leite começa a expor sua bagagem de vida e compartilhou com os acadêmicos do Curso de Jornalismo, na Univali, sua trajetória profissio-

de padres e feiras e terminou o segundo grau na Universidade Federal de Santa Maria onde também começou um curso de técnicas agrícola a fim de obter experiências dentro da universidade. Totalmente urbano, ele se sentia deslocado dentro do curso. “A escola técnica não tinha nada a ver comigo, mas isso me ajudou a perceber um mundo completamente diferente. Me fez ser estranho, entender o que é ser discriminado, entender o que é ser diferente”. O jornalista nasceu em Santa Maria (RG) e veio morar em Santa Catarina após aceitar um convite para trabalhar no Diário Catarinense, do Grupo RBS, em Florianópolis. Durante a conversa com os alunos, Pedro relembra o momento em que se encontrou dentro do jornalismo. “Na fila para entrar

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na sala, para fazer a prova, eu senti pela primeira vez que poderia ser feliz. Eu tinha encontrado a minha turma”. Ele trabalhou desde o primeiro período da faculdade e fez parte da primeira geração de jornalistas a usar um computador. Em 1996, Pedro recebeu outro convite, dessa vez para trabalhar em rádio, pelo dono da emissora. O objetivo era fazer um tipo de rádio destinada ao publico de classe A, porém ele aceitou a proposta como um desafio e não faz rádio para bolso A, e sim para um cérebro classe A. Ou seja, aquela pessoa que gosta das coisas boas da vida. Para ele, nem sempre o consenso é relevante e nem sempre o óbvio é o melhor, é preciso perceber. “No trabalho com rádio, você não tem que ser um tocador de

música, tem que saber apertar os botões certos nas pessoas para despertar as emoções que você quer”. Pedro Leite confessa-se apaixonado por pessoas e, pare ele, quem trabalha com comunicação tem que ser meio alucinado por gente. “Somos muito mais iguais do que diferentes”, diz ele que, por conta disso, construiu uma rádio de forma diferente. A rádio Itapema, de Florianópolis, onde trabalha, não é a campeã em audiência, porém atinge um público qualificado e tem o ótimo faturamento, sendo que seus anúncios são os mais caros. No trabalho, Pedro se considera um homem sério, mas não consegue trabalhar sério. Passa o tempo todo dando risadas e não faz regras no trabalho. “As pessoas têm que fazer o que elas têm que fazer, e precisam trabalhar para elas e não pra empresa”. O jornalista procura fugir do óbvio e fala que todas as inovações da humanidade surgiram de rupturas. Ele entende que, para ser inovador, é preciso pensar em todas as possibilidades, pois a inovação não acontece de um projeto de ser e só da vontade de ser inovador. “Inovação se dá na quebra da lógica. Para inovar, você tem que ter liberdade para errar.” Aliás, ele conta que não fez projetos em sua vida, e que foi construindo ela ao longo de sua trajetória, história. No final do papo com os acadêmicos de Jornalismo, Pedro Leite revela que não sabe se vai trabalhar com comunicação a vida inteira. “Eu tenho vontade de fazer umas coisas muito malucas.” Ele tem vontade de montar uma empresa que arrume as casas das pessoas, por exemplo, pois acredita que realizar tarefas, que não são de nossas atividades tradicionais, é muito enriquecedor. O jornalista diz não ser dono de nenhuma verdade, porém gosta de falar das coisas em que acredita.


Itajaí, novembro de 2015

A arte de se apaixonar

Bate-papo

todos os dias

Carla Borgheti de Freitas – 1º período de Jorrnalismo

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uma das matérias da qual mais se orgulha surgiu lá. Apesar da rotina corrida e incerta que enfrenta todos os dias na redação, Stefani declara com fervor e brilho no olhar que é uma apaixonada pelo jornalismo popular. Tratar dos casos que menos importam para os grandes meios de comunicação, lhe rendeu histórias de encher os olhos de lágrimas e das quais ela muito se orgulha. Profissional experiente, já trabalhou nas redações de conhecidos jornais de Santa Catarina, como o Diarinho, de Itajaí. Passam também por seu currículo o Jornal Metas, de Gaspar; o Diário da Cidade, de Itajaí; o Linha Popular, de Camboriú; e a Rádio Univali, onde estagiou antes de se formar em jornalismo em 2004. A atual função de subeditora não oprime sua função como repórter. Apesar de passar maior parte do tempo na redação, ela sempre aproveita quando tem oportunidade de ir às ruas apurar uma notícia. A parte mais difícil de trabalhar na edição, conta, é ficar longe do povo. O calor humano e o contato com os protagonistas de emocionantes histórias são alguns dos motivos pelos quais a jovem moça se apaixonou

pelo jornalismo. Um dos seus objetivos para com o jornalismo impresso é mudar a forma como é apresentado. “Mulheres na capa e artifícios subjetivos, que chamam a atenção do leitor, ainda são, infelizmente, necessários para ajudar na circulação do jornal”, mas Stefani bate o pé quando citam, no meio da palestra, que isso não vai mudar. “Vai mudar, sim! Hoje tínhamos um homem na capa”, arremata ela ao mostrar a manchete do dia do Hora de Santa Catarina, que estampa a foto de um homem sem camisa. Ela lamenta o uso desses recursos para despertar o interesse do leitor, e admite que, sem eles, o trabalho poderia ser dificultado. Apesar da pouca idade, Stefani tem muito experiência na área e muitos sonhos ainda a realizar. Trabalhar com o jornalismo é apenas um dos que já se concretizaram.

Sensacionalismo e

ética jornalística

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tica, sensacionalismo e constrangimento profissional foram os principais temas debatidos por jornalistas atuantes em diferentes meios de comunicação na região do Vale do Itajaí com estudantes de jornalismo da Univali. Em mais um evento do projeto Jornalismo e Mercado, os alunos do sexto período de Jornalismo e a professora Vera Sommer, responsável pela disciplina de Deontologia e Legislação, conversaram com os profissionais Débora Gascho (assessora da Câmara de Vereadores de Balneário Camboriú), Cláudio Eduardo de Souza (editor do jornal Daqui, de Tijucas), Cristina Ramires (editora de Jornalismo da RIC/Record em Itajaí) e Roberta Watzko (do Núcleo de Comunicação da Associação Empresarial de Balneário Camboriú).

Para a professora Vera Sommer, o encontro com esses profissionais serve como um estímulo ao trabalho dos futuros jornalistas, bem como um alerta para os cuidados com o tratamento e a divulgação de informações. “O bom senso, a apuração e o respeito pelo outro, ou seja, pelo ser humano, devem estar acima de todos os critérios de noticiabilidade e índices de audiência. Nosso papel, como educadores, é orientar esses futuros profissionais no sentido de primarem sempre pela ética jornalística, usando como referência os Direitos Humanos”, observa a professora Vera Sommer. O debate ocorreu na noite de 5 de novembro, na sala 201, do Bloco 2, do Campus Itajaí, e foi encerrado com um pequeno coquetel para os presentes.

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Foto: Gustavo Zonta

om olhos que transbordam de paixão pela profissão, Stefani Ceolla dá uma aula sobre jornalismo diário e popular dentro da pequena sala 201 do bloco C2, na Univali de Itajaí. Não apenas compartilha suas histórias de vida e sua experiência profissional como mostrou a importância do jornalismo apaixonado, da busca em mudar as pequenas coisas e valorizar as pequenas histórias do cotidiano de sua cidade. Com mais de 10 anos de carreira, atualmente é subeditora do jornal Hora de Santa Catarina, de Florianópolis, Mesmo nova nessa função e com uma equipe pequena, o jornal cobre a Grande Florianópolis e é um dos mais lidos na região. Natural de Santa Cecília, na serra de Santa Catarina, a jovem jornalista de 28 anos relata que nunca se deve ignorar uma boa história. “Pressa não é prioridade, mas é preciso cumprir o horário”, diz ela que se preocupa mais com a apuração da notícia do que em ser o primeiro meio de comunicação a divulgar um fato. Das áreas do jornalismo nas quais já trabalhou, a que menos lhe agradou foi a da política, mas

Mercado de fotojornalismo O

mercado de fotojornalismo foi tema de debate promovido pelo professor Eduardo Gomes com os repórteres fotográficos Diorgenes Pandini, Lucas Correia, Marcos Porto e Rafaela Martins na disciplina de Fotojornalismo. O objetivo do encontro, realizado no dia 18 de novembro, é aproximar os acadêmicos da profissão, além de despertar a paixão por esta área que sofre constantes adaptações por causa da velocidade de informação na era digital. Os fotógrafos mostraram seus portfólios, contaram inúmeras his-

tórias de suas pautas e impressionaram os estudantes com a correria do dia-a-dia da profissão. “As grandes lições dadas por esses fotógrafos vão além das belas imagens, como a paixão pelo que fazem e o respeito e a admiração entre eles. Os mais jovens admiram o trabalho do mais experiente e vice-versa, e isso é perceptível em cada foto mostrada e em cada comentário que fazem em relação ao trabalho um do outro, mesmo que passem por essa correria todos os dias, fazem questão de prestigiar o trabalho dos amigos”, salienta o professor e jornalista Eduardo Gomes.

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Itajaí, novembro de 2015

Foto: Luciano Oliveira/G1

Música

Uma orquestra

sem limites Elyson Gums – 4º período de Jornalismo

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odos estão de roupas sociais. Ternos ou camisas sociais e sapatos lustrosos para os homens, vestidos longos para as mulheres que fazem parte da banda. O maestro se prepara para reger os músicos que o acompanham no palco. De costas para o público, faz os primeiros movimentos com o braço. Tocam Chico Buarque. Noutro dia, Deep Purple. Em

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A Camerata de Florianópolis está em sua 22ª temporada de concertos em Santa Catarina, com 11 CDs e um DVD

outra apresentação, o repertório tem Louis Armstrong. Assim é a Camerata Florianópolis: música sem gênero definido.

A mais recente conquista foi a presença no maior festival de música do Brasil. Sessenta músicos, regidos pelo maestro

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Jeferson Della Roca, acompanharam o guitarrista Steve Vai. Foram duas semanas de ensaios e convívio com o virtuo-

so antes da apresentação. “Foi bom ver que mesmo o Steve, acostumado a tocar pra plateias tão numerosas, estava tão nervoso quanto a gente”, lembra o maestro. Meses antes do evento, os músicos receberam um telefonema na sede da Camerata, na capital catarinense. Era a direção do Rock in Rio, acompanhada pelo guitarrista. A reação foi um misto de surpresa


Itajaí, novembro de 2015

Foto: Eliz Maria Haacke

e euforia. “Espera aí... Então o Steve Vai quer tocar com a gente?” O convite surgiu através do projeto Rock ‘n Camerata. Desde 2008, os músicos rearranjam clássicos do rock n roll para um formato orquestrado. Steve Vai assistiu a uma apresentação no YouTube e convidou os catarinenses para o show no Brasil. Foram meses aprendendo a tocar as músicas. São composições complexas, que requerem anos de experiência. Os ensaios aconteceram em Florianópolis, no Rio de Janeiro, e na Univali. Rodrigo Gudin Paiva, percussionista e professor do curso de Música da Univali, também esteve no show. Ele toca com a Camerata há 15 anos, além de desenvolver trabalhos em outras áreas da percussão. Improviso in jazz

Zago Trio. “O improviso da orquestra é um pouco mais ‘quadrado’. Não dá pra 20 pessoas improvisarem, imagina o que vai sair”, brincam os músicos. História A Camerata foi fundada em 1994 e está em sua 22ª temporada de concertos em Santa Catarina. Além das apresentações, a trajetória rendeu onze CDS e um DVD. O grupo é a principal orquestra do estado, uma grande incentivadora da produção erudita brasileira e reconhecida nacionalmente e também no exterior. Além de maestro, Jeferson é fundador da orquestra e acumula a função de diretor ar-

tístico da Camerata. Porém, a história na música começa bem antes. Ainda na adolescência, quando Jeferson trocava o futebol com os amigos pelos estudos em violino. Naquela época Jeferson dividia o tempo ouvindo orquestras com o rock n roll, o jazz e a MPB, o que posteriormente ajudou a moldar parte da imagem da Camerata. Então virou-se de costas para a plateia, e trocou as cordas pelos gestos com as mãos, coordenando os mais de sessenta músicos que fazem parte da Camerata. Ele explica que é fundamental que o maestro entenda o papel de todos os instrumentos, para “saber o que exigir de cada músico” na hora de coordená-los. Recentemente, Jeferson fez um curso de especialização na Itália. A história de Rodrigo se cruzou com a Camerata há quinze anos, quando ele se tornou um dos três percussionistas do grupo.Antes de iniciar estudos formais na área da música, tocava bateria em grupos de rock. “Depois que comecei a estudar percussão, percebi o tempo perdido sem conhecer mais a fundo”, conta. Além do trabalho com a orquestra, Rodrigo toca jazz com o Luiz Zago Trio e coordena o Grupo de Percussão de Itajaí. Ele é professor na Univali e pesquisador da área de percussão. Um de seus trabalhos de pesquisa mais recentes foi um estudo de instrumentos musicais do folclore catarinense, em parceria com o acadêmico e percussionista Luciano Candemil.

da Camerata alcança vários públicos diferentes, permitindo ampliação de público e quebra do estereótipo elitizado das orquestras. A faixa de abertura de A Arte do Improviso In Jazz é um arranjo de Linus & Lucy, música tema de Peanuts.Além do trabalho com música erudita, principal atividade do grupo, a Camerata desenvolve diversos projetos paralelos. O primeiro foi o Tributo à MPB, em interpretações de mestres da música brasileira; depois vieram o Música para Cinema, com arranjos de trilhas sonoras de filmes e seriados; o Rock ‘n Camerata, parceria com o grupo Brasil Papaya para arranjos de rock; até concertos de música

eletrônica. Essa abordagem coloca em choque os conceitos de música erudita e música popular. “As pessoas sempre falam isso , mas pra nós, que somos músicos, essa separação entre popular e erudito não existe”, afirma Rodrigo. “Só existem dois gêneros musicais: música boa e música ruim”. A frase é atribuída ao guitarrista americano Frank Zappa, que passou por várias vertentes no decorrer de sua longa carreira. O rol de músicos que segue a filosofia é extensa, e Jeferson sintetiza o pensamento da Camerata Florianópolis: “gêneros são só uma forma de separar as pessoas”.

Foto: Liza LopesCprrêa

Foto: Liza LopesCprrêa

O mais novo trabalho da Camerata é A arte do improviso in jazz, álbum gravado em conjunto com o Luiz Zago Trio, do qual Rodrigo faz parte. A orquestra se apresenta ao lado de um trio de piano, contrabaixo e bateria, unindo o estilo de Bach com o jazz de compositores como Errol Garner, George Weiss e Paul Desmond. Além do equilíbrio entre os estilos chamados de erudito e popular, o CD também é a mistura de duas formas completamente diferentes de música: de um lado, o swing e improviso de um estilo de música negra dos Estados Unidos, e do outro a sofisticação da música orquestrada, com origens brancas na Europa. A resposta foi encontrar momentos para improviso dentro da proposta musical do Luiz

Mente aberta Uma cena comum em shows da Camerata Florianópolis é um jovem com piercings, alargadores e camisa do Ramones sentado ao lado de uma idosa. A abordagem musical

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Novembro Fernando Rhenius – 5º período de Jornalismo

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No mês de conscientização para a prevenção do câncer de próstata, preconceito é o maior vilão para um diagnóstico precoce

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imagem é comum em qualquer roda de amigos, seja em casa ou num bar. Homem, na casa dos 40 anos, costuma ser vítima de piadinhas e provocações quando fala que está perto de fazer o exame de próstata. Muitas vezes, é encarado como algo ligado à homossexualidade, o que acaba inibindo a procura por parte dos homens. De acordo com dados do Ministério da Saúde, cerca de 7% dos homens no país têm câncer de próstata. E o correto diagnóstico, ou seja, ainda na fase inicial da doença, chega a 80% de cura. Para Iramaia (71), dor, solidão e revolta ainda estão muito presentes em sua vida. Afinal, o marido Osni perdeu a luta por um câncer que começou na próstata e se espalhou pelo sistema digestivo. Ela conta que foi casada por 39 anos, e ainda guarda as alianças de casamento numa pequena caixa em seu criado mudo. Na voz, um misto de revolta e saudade. “Ele poderia estar com a gente ainda, mas foi teimoso durante toda a sua vida. Nunca se preocupou com a saúde”. A doença foi descoberta em estado avançado. Osni chegou a ser operado, mas com apenas um rim (perdera o esquerdo em um acidente de carro na adolescência). Debilitado e tendo que usar uma bolsa de colostomia por conta do mal que também afetou o se intestino, os últimos meses foram os mais penosos. “Tinha que dar banho, comida. Era triste ver um homem, sempre disposto, deitado em uma cama apenas

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aguardando sua morte”. Fala olhando para o chão tentando encontrar forças para seguir em frente. O companheiro perdeu a vida em 2011. “O câncer não afeta somente a pessoa, todo mundo ao redor é afetado, pois a pessoa fica totalmente dependente. Para ajudar ele contraiu uma infecção hospitalar enquanto esteve no hospital Marieta (Konder Bornhausen em Itajaí), o que só agravou o quadro.” Para a viúva, a “teimosia” de Osni mais a morosidade para fazer a cirurgia, custeada pelo SUS, agravaram e muito algo que poderia ter sido curado. “Ele sempre brigava comigo quando eu mandava ele se cuidar. Do dia em que foi confirmado que tinha câncer até o dia da operação foram seis meses. Muito tempo para um mal que não espera.” Em Itajaí, o Sistema Público de Saúde vem dedicando o mês de novembro para eventos de conscientização. Em todas as unidades de saúde do município, agentes de saúde organizam grupos de trabalho nas salas de espera de consultórios e em espaços de centros comunitários. “A intenção é sensibilizar e conscientizar o público masculino quanto à importância da promoção e prevenção de sua saúde”, enfatiza a responsável pela área da Saúde do Homem na Secretaria de Saúde, Analu Rampelotti. Além dos bairros, a Secretaria de Saúde firmou parceria com o Hospital e Maternidade Marieta Konder Bornhausen e a ONG Câncer com Alegria e realizou trabalho de conscien-

tização no sábado (14) durante a 29º edição da Marejada: Aventura pelos Mares do Mundo. A ação contou com panfletagem e conversas com profissionais de saúde. O novembro Azul não é dedicado somente à prevenção e ao combate contra o câncer de próstata, mas à necessidade de conscientização do homem para um melhor cuidado com sua saúde. No programa, também são explanados cuidados com o sistema cardiovascular, causas externas (acidentes de transito, violência), sedentarismo e tabagismo. Assim o “Saúde do Homem” abrange a faixa etária entre 20 e 59 anos. Estatisticamente, trata-se do grupo em que a maioria das mortes é caracterizada por causas externas (acidentes e violência). Em segundo, aparecem as doenças do aparelho circulatório e, na terceira posição, o câncer de próstata. No “Saúde do Idoso”, que cobre os homens a partir dos 60 anos, a incidência do câncer de próstata é maior, considerada uma patologia da terceira idade. “Neste grupo três quartos dos homens a partir dos 65 anos, o câncer tem o câncer ”, ressalta Analu. Para o urologista Alfredo Canalini, o principal problema é o descaso do homem com sua saúde “A gente lamenta que alguns desses casos [câncer de próstata] poderiam ser resolvidos no momento em que a doença é inicial. Por isso, a gente enfatiza muito o aspecto do exame rotineiro do homem”.

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Itajaí, novem


mbro de 2015

Entenda o câncer de próstata Formação do tumor O câncer surge quando células do órgão passa a se multiplicar de forma desordenada

Próstata: glândula que produz parte do sêmen

Fonte: defato.com

Fatores de risco - Idade - Histórico familiar - Uso de drogas para a impotência

Sintomas Dificuldade de urinar e enfraquecimento do jato. Sintomas como os do crescimento benigno da próstata. Em estado avançado, há dores ósseas, anemia, ínguas ou perda de peso

Tratamento - Para doença localizada: cirurgia, radioterapia - Localmente avançada: radioterapia ou cirurgia em combinação com tratamento hormonal - Doença metastática: o tratamento de eleção é a terapia hormonal

O que é a próstata, afinal? Localizada entre a uretra e a bexiga, a próstata é uma glândula que produz e armazena parte do fluído seminal. O câncer é mais comum em homens acima dos 50 anos, e fatores como idade avançada, histórico familiar, fatores hormonais, hábitos alimentares (dieta rica em carne e pobre em verduras, vegetais e frutas), além do excesso de peso são fatores determinantes para pegar a doença. Os negros constituem um grupo de maior risco para desenvolver a doença. Um diferencial negativo que muitas vezes é descoberto de forma tardia são os sintomas. Dor lombar, problemas de ereção, dor na bacia ou joelhos e sangramento pela uretra podem ser fortes indícios. Em sua maioria o câncer de próstata não apresenta sintomas no seu início. Ele só é notado quando está em estado avançado. No Brasil, é segundo tipo de câncer que mais

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O órgão fica endurecido e pressiona o canal da urina

afeta os homens perdendo para o de pele nãomelanoma. De acordo com o instituto Oncoguia, as estimativas para o biênio 2014/2015 apontam para 68 mil novos casos, superando o câncer de mama feminino, com 57.120, e colo de útero, com 15.590. Dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) indicam que a chance de cura, quando diagnosticado em seus primeiros estágios, sobre para 90%. Alguns desses tumores podem crescer de forma rápida se espalhando pelo corpo causando metástase e, consequentemente, uma possível morte. Em outro cenário cresce de forma demasiadamente lenta, podendo levar 15 anos para atingir 1cm³. Muitas vezes, não se manifesta e nem interfere na saúde do homem. Em 2013, segundo registros do Ministério da Saúde, 13.772 morreram por conta desta doença.

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Itajaí, novembro de 2015

Aventura

De bike.

Por quê, não? Bresson Versiani Andreatta e Thiago Cassaniga Furtado – 2º período de Jornalismo

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quinta-feira chuvosa - como praticamente todos os dias do mês de outubro - é um dia de comemoração na casa de Narbal Andriani Junior. O motivo? Um e-mail da Nissan, confirmando que foi um dos selecionados para carregar a tocha olímpica em Santa Catarina. Mais uma conquista na vida deste catarinense cidadão do mundo. Ele e a esposa Christiane Muller moram em Tijucas, numa casa de 1919, em que Narbal viveu quando garoto. Christiane confecciona algumas figuras de bichos, para a festa de aniversário de três anos do filho do casal, Pedro. Quando o menino chega da creche, a selva quase ganha vida no chão da sala... Narbal Andriani Junior nasceu em Florianópolis. A mãe Ielva já estava com quarenta anos e a gravidez era considerada de risco. A infância em Tijucas foi tranquila. Ele diz ter sido uma criança muito calma, que passava bastante tempo brincando sozinho. A mãe professora é uma presença forte em sua vida. Com o pai, as primeiras viagens: aos seis anos, já o acompanhava nas idas a São Paulo para negócios. Após estudar todo o ensino fundamental no colégio Cruz e Sousa, Narbal foi fazer o ensino médio na antiga Escola Técnica, em Florianópolis. Foi por essa época que descobriu a paixão da sua vida: a bicicleta. Claro que já a conhecia das brincadeiras de criança. Mas a descoberta era da bicicleta como meio de transporte. Ele e o amigo Giuliano passaram a ir de Tijucas

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Após 20 anos de pedalada, Narbal Andriani Junior já passou por 65 países e percorreu aproximadamente 125 mil quilômetros

a Florianópolis pedalando de vez em quando. “A bicicleta é um vírus”, afirma Narbal. Foi com o amigo Giuliano a primeira viagem longa, totalmente em bicicleta. Ida e volta de Tijucas a Itaimbezinho, no Parque Nacional Aparados da

Serra. Um embrião do que viria a seguir. Narbal estava há algum tempo pensando no que fazer da vida. Trabalhava na cerâmica da família, mas sabia que não era o que queria. Só aos 20 anos ingressou na faculdade de Oceanografia, na

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Univali de Itajaí. Durante a faculdade, Narbal trancaria o curso por duas vezes. Na primeira, junto dos amigos Paulo e Giuliano, desenvolveu o projeto Raca (Rota Austral Chile Argentina). Viagem exclusivamente de bicicle-

ta do sul do Peru até Ushuaia. O vírus da bicicleta era inoculado de vez. “Foi nessa viagem que vi que era possível. Que eu podia chegar aonde quisesse de bicicleta”, comenta Narbal. A viagem deu origem a um livro em que ele narra a experiência. A segunda para na faculdade foi conta do projeto Pedala Brasil. Ele e Paulo pedalaram pelos Parques Nacionais brasileiros, em uma viagem de mais de 20 mil quilômetros.


Itajaí, novembro de 2015

Fotos: Arquivo Pessoal/ Narbal Andriani Junior

Formado em oceanografia, Narbal passou a trabalhar embarcado. Em navios de pesca e da indústria petroleira, trabalhava com monitoramento ambiental. Porém, aquele vírus, por mais que passasse um tempo sem se manifestar, logo agia. O ciclista desenvolveu um projeto, que teve apoio da Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Numa viagem em bicicleta pela Europa, estudaria a mobilidade urbana tendo a bike como alternativa. Cruzando todo o continente, visitando embaixadas brasileiras em contato com autoridades europeias em mobilidade. Após contornar todo o continente europeu, a viagem supostamente havia terminado. Porém, a oportunidade e o desejo de viajar pela África falaram mais alto. “Quando pequeno, eu inventava histórias sobre a África. Era meu sonho conhecer o continente”, conta Narbal. E conheceu. Numa viagem da África do Sul ao Egito, o ciclista conheceu a África real. Pedalou por lugares selvagens, por tribos isoladas, lugares dominados pelas guerras civis. A busca por uma experiência interior era a motivação dessa jornada, que ele considera como a maior loucura da vida. Passagens pelas favelas das metrópoles africanas, travessias por lugares totalmente desertos (sete dias sem ver um carro e três sem ver um ser humano, certa vez). O povo africano, com certeza foi quem mais o marcou. “É o que levo comigo. Eles não tinham nada, e ainda dividiam comigo”, relata, emocionado.

Voltando ao Brasil, Narbal fez várias palestras pelo país. Lembra no entanto, que não era fácil chegar nas pessoas, que não haviam visto o que ele viu, como as cenas das crianças que se alimentavam de bolachas de barro.

Essa incapacidade de as pessoas compreenderem o que havia visto incomodou um pouco por algum tempo. Passou a ser difícil se ajustar ao ritmo de vida da sociedade “normal”. E, após pouco mais de um ano, a saída era óbvia: mais uma via-

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gem. Narbal conheceu a esposa Christiane em 2010 e ela o intimou a viajar. Queria conhecer o mundo dele. Em aproximadamente dois meses os dois organizaram toda a viagem: de bicicleta de Minas Gerais até o México. O Projeto Pedalando

com Índios surgia com a intenção de visitar o máximo de etnias indígenas pelo caminho. “Ou ao menos de resgatar o índio que cada um tem dentro de si”, ressalta Chris. Após um ano e meio de viagem e muitas passagens marcantes, o casal chegou, enfim, ao México. Além de todos os presentes que o caminho proporcionou, o maior de todos eles é fruto do último país da viagem: o casal diz com certeza a data e o local em que o filho Pedro foi gerado, perto das pirâmides Maias de Tulum. Há mais de dois anos, depois de voltarem do México, Narbal e Christiane trabalham no documentário Pedalando com Índios, que está em fase de finalização. Esperam rodar o filme em festivais pelo mundo afora. Agora, o menino de cabelos cacheados e amarrados, é um furacão na casa. Pedro quer ver todos os bichos da selva que a mãe está criando para a festa dele. E o casal se diverte com essa bagunça em casa. É mesmo um dia de comemorações...

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Itajaí, novembro de 2015

Carreira

Um violinista no shopping

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Luana Amorim e Kassia Salles - 2º período de Jornalismo

Jovem faz concertos ao ar livre em busca de dinheiro para realizar seu sonho

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ria a lugar nenhum, já que o professor não era especializado no violino. Deixou o curso e começou a correr atrás de um professor mais capacitado. Mas, os bons professores eram caros demais para a renda da família. O aspirante a violinista começou a trabalhar na praia com a família, alugando cadeiras e guarda-sóis para ajudar

e mostrar seu talento para as pessoas que passavam. E foi ali mesmo, em frente ao shopping, que iniciaram os primeiro acordes e que permanecem ali até hoje. Eduardo mal vê as horas passarem. Sua concentração está inteiramente voltado ao instrumento. Enquanto isso, a capa do violino permanece o tempo todo aberta e aos poucos as contribuições chegam. Entre uma música e outra, Eduardo é parado por quem já o conhece, pessoas que têm como hábito assisti-lo. Os turistas, que vêm à cidade apenas no verão, percebem claramente a evolução técnica do rapaz. “É importante que as pessoas saibam que as suas contribui-

ções ajudam na minha evolução diária, pagam meu curso e me ajudam a realizar meu sonho”, conta, com sorriso orgulhoso. Seus pais o apoiam em seu sonho, que é se tonar PhD em violino e ter a sua própria orquestra. Entre um evento e outro, mesmo morando em Itajaí, faça chuva ou faça sol, Eduardo não abandona seu “local de trabalho”. Aos poucos a música vai acabando, o sol vai se pondo, as lojas se fecham e os turistas vão embora, mas não sem antes aplaudir o violinista. É assim que termina seu dia, com o som dos aplausos de uma plateia pequena, mas que um dia será bem maior.

Foto: Arquivo Pessoal / Eduardo Deloski

uma tarde ensolarada: turistas e moradores de Balneário Camboriú caminham pela Avenida Brasil em direção à praia, ou a um dos mais populares shoppings da cidade, o Atlântico Shopping. Carregando sacolas de compras e ocupadas em seguir o seu caminho, a maioria nem nota os artistas que ficam na calçada: um homem trajado de ninja faz movimentos de luta com uma espada falsa; outro, pintado de branco finge ser a Estátua da Liberdade. Uma música desperta a atenção das pessoas, que aos poucos se aproximam da origem do som. Há certo espanto ao descobrir que é um jovem de apenas 19 anos que toca, no violino, a famosa “I Feel So Close”, do DJ Calvin Harris. Eduardo Deloski é curitibano, mas mora na região há 12 anos. Na infância, não teve muito contato com a música. Por ser um bom aluno, ganhou um videogame quando tinha 11 anos. Enquanto jogava, ouviu, por acaso, uma música com acordes de violino. Naquele momento, sua paixão pelo instrumento começou. Acabou vendendo o videogame e, com o dinheiro, comprou o violino que usa até hoje. Porém, havia um problema: Eduardo não sabia tocar. Seus pais o colocaram num curso, no qual ficou por três meses, até perceber que aquilo não o leva-

em casa. Quem passa na rua e escuta a melodia, não sabe os sacrifícios que o jovem violinista teve que passar em busca do sonho. Eduardo ficou quase cinco anos sem professor, praticando por si só, com as músicas que já conhecia e através de vídeos da internet. Para arrecadar dinheiro, surgiu a ideia de tocar nas ruas, porém sua timidez impedia que a decisão fosse tomada. Foi a mãe que o incentivou a ir em frente com a ideia, o levando até o centro da cidade. Sentado em um banco enquanto afinava o instrumento e aguardava a coragem aparecer, uma turista de São Paulo aproximou-se, e o encorajou a se levantar

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Por uma vida

Sociedade

sem rótulo

Caroline de Borba e Sergio Augustin - 3 º período de Jornalismo

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xpressões como “mendigos”, “vagabundos”, “essa gente é assim mesmo”, “não querem trabalhar”, “só ficam pedindo esmola”, “pedem dinheiro para gastar com bebida”, é o que está sujeito a ouvir ou ser classificado homens e mulheres que vivem nas ruas. Essas pessoas, cheias de conflitos e tensões, são levadas a essa situação por diversos fatores como a falta de emprego, baixa renda, rompimento dos vínculos com a família ou adversidades pessoais. É o caso de Mario Antônio, 46, que está nas ruas há 10 anos. Desde a separação da sua mulher, ocasionada pelo alcoolismo. “Seu Tonho”, como prefere ser chamado, divaga de cidade em cidade com sua mochila nas costas, carregando apenas algumas peças de roupas e seus documentos. Há poucas semanas em Balneário Camboriú, “Seu To-

nho”, relata com conhecimento a realidade que o cerca, sobre a indiferença da sociedade em relação aos moradores de rua. “Somos vistos como vagabundos, que não queremos trabalhar e que não procuramos mudar. Mas só quem vive nesse mundo, sabe o quanto é difícil sair das ruas. Só quem conhece a depressão e entende o alcoolismo como uma doença, pode nos julgar. Para nos alimentar temos que pedir esmola, mas a maioria nos ignora, acham que vamos roubar”, conta. O morador prefere não receber ajuda de albergues ou serviços públicos, pois acredita ser mais seguro estar longe das pessoas na mesma situação. Seu Tonho destaca que só busca viver em paz, e que apesar dos sofrimentos diários, seu principal drama é ser ignorado e discriminado pela sociedade. “Eu existo e quero ser visto como cidadão, pois ninguém é melhor que ninguém. Mas a

maioria das pessoas estão ocupadas demais para se preocupar com o próximo”, finaliza. De acordo com o diretor do Resgate Social da Secretaria de Desenvolvimento e Inclusão Social da Prefeitura de Balneário Camboriú, Paulo Roberto de Souza, o departamento registrou o atendimento de 1218 pessoas no primeiro semestre deste ano. O número representa um aumento de 25% em relação ao mesmo período de 2014. “A crise econômica desencadeia desempregos em massa, então diversas pessoas deixam sua cidade em busca de trabalho. Balneário Camboriú é conhecida nacionalmente, então, estas pessoas se dirigem para cá, principalmente para trabalhar no ramo da construção civil e no ramo alimentício. A maioria não tem qualificação para ser contratado, então as pessoas acabam em situação de rua e necessitam do atendimento do nosso

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“Seu Tonho”, que vive nas ruas de Balneário Camboriú, sofre com o preconceito e a indiferença social

departamento”, destaca. A finalidade do Departamento é garantir que os indivíduos em vulnerabilidade não fiquem expostos a situações de risco. Por intermédio do Resgate Social são fornecidos também, mediante critérios preestabelecidos, outros serviços como concessão de passagens, identificação de familiares, albergue, atendimento de saúde e cuidados de higiene. O secretário de Desenvolvi-

mento e Inclusão Social, Luiz Marcelo Camargo, salienta que o Resgate Social segue o direito constitucional de ir, vir e permanecer de todos os cidadãos, portanto, não obriga nenhuma pessoa a aceitar ajuda. “Trabalhamos com o convencimento. Nossas abordagens seguem a linha de conversar com essas pessoas e mostrar que elas possuem alternativas”, explica Luiz Marcelo.

Foto: Caroline de Borba

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Perfil

O imperador

da Hercílio Luz Carolini Nandi e Matheus das Neves - 2º período de Jornalismo

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Breve história de Júlio César, um deficiente visual que, ao invés de se lamentar pela vida, faz as pessoas rirem

uma família que pendia para o mundo do crime e a única pessoa que lhe dava apoio era sua mãe. Ele conseguia conviver com tudo isso. Estava acostumado com o preconceito, com as pessoas tentando enganá-lo e de conviver harmonicamente com a sua família. Ele só não consegue se esquecer de um telefonema. O recado que lhe foi dado há quatro anos ainda fere o coração do Ceguinho da Hercílio: “Meu filho, tenta relaxar, mas a sua mãe faleceu”.

Bem educado e espontâneo, conta que cresceu obedecendo às leis que a mãe lhe impunha. Andava na linha. Entretanto, suas opiniões divergiam quando o assunto era a Avenida Hercílio Luz. Júlio queria o mundo, e sua mãe queria protegê-lo do preconceito. O problema maior foi ela não poder protegê-lo da pior sensação de sua vida: quando estava no necrotério, velando a mãe, começou a questionar-se sobre tudo e todos. Aquilo não podia

Foto: Matheus das Neves

vida é feita de escolhas e, entre tantas, a de Júlio César dos Santos foi sentar no centro de Itajaí para arrecadar alguns trocados. O que o motiva a fazer isso não é tanto a necessidade, mas o prazer. Estar nos arredores da Avenida Hercílio Luz é um passatempo do qual Júlio não consegue mais se desfazer. Há mais de 25 anos, ele senta no mesmo ponto, e traz consigo uma bagagem gigante de lições da vida urbana. A calçada sem Júlio é como um deserto sem areia. Embora passe a imagem de um homem muito alegre, cheio de vida e histórias para contar, engana-se quem pensa que ele é só sorriso. Assim como todo ser humano, Júlio guarda no seu íntimo o que mais lhe fere: as decepções, as peças que a vida prega. Ele perdeu a visão com apenas oito meses de idade, contava com

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ser real. E em meio a essa tortura astral, o coveiro manda-o escutar atentamente. Pow, pow pow! Três batidas desumanas na cabeça de sua mãe, para que agora não restassem mais dúvidas: ela realmente estava morta. E mesmo sem enxergar, o Ceguinho da Hercílio visualizou o corpo rígido e pálido de sua mãe, que agora viraria um anjo. O seu anjo. Palmeirense fanático, sempre está com um aparelho de rádio ao pé do ouvido, ou-

vindo atentamente os jogos do seu time do coração. Ri, chora, torce. E xinga, claro. Não só o árbitro, mas as pessoas que ousam falar mal do time alviverde. Usa todo o seu repertório de xingamentos. Você pode ser corintiano, flamenguista, avaiano ou até mesmo torcer para o XV de Piracicaba, mas não fale mal do Palmeiras. Para encontrar Júlio é muito simples. Basta caminhar pelo centro de Itajaí. Como reconhecê-lo? Procure por alguém com uma camisa do Palmeiras (que quando não é do time, veste uma da cor verde, para que haja certa referência), sentado na calçada e respondendo aos diversos cumprimentos que recebe. Um jeito único. Um sujeito incrível. Uma fé inabalável. “Oi, meu nome é Júlio César dos Santos. Tenho 46 anos e meio.”


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Economia

Marina de Itajaí

amplia mercado náutico Eliz Haacke, Mikael Melo, Nathalia Fontana e Thiago Ávila – 2º período de Jornalismo

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ela segunda vez, a Marejada acontece simultaneamente com a chegada dos veleiros da regata francesa, Transat Jacques Vabre. Esta edição, que foi de 3 a 15 de novembro, contará com a estrutura da Marina de Itajaí como diferencial, ampliando o número de turistas e movimentando o mercado náutico na região. Muitos dos barcos que vieram para a competição estão no novo empreendimento, o que causa uma boa repercussão e perspectiva de maior lucro para a cidade.

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Novo empreendimento deve gerar mais de 300 vagas em dezembro e outras 900 em 2016

A Marina de Itajaí tem previsão para inaugurar ainda neste mês, mas antes de sua abertura oficial já sediou, mesmo que em pequena parte, a Vol-

vo Ocean Race. A construção está quase completa. Na parte de água falta a dragagem e na seca, apenas os acabamentos finais! Para o engenheiro e di-

retor náutico da Marina, Carlos Oliveira, o negócio irá ampliar o mercado desse ramo, que ainda é carente em Santa Catarina. Mais de 300 vagas devem ser geradas em dezembro e cerca de 900 nos próximos meses. Segundo um estudo da Secretaria do Meio Ambiente, cada embarcação poderá oferecer três empregos diretos (tripulantes no geral) e quatro indiretos (construtores e reparadores de barco). Diversas empresas náuticas se instalarão no munícipio, em consequência do fluxo econômico gerado

pela Marina. Apesar da grande atenção dada à Transat Jacques Vabre, a Marejada continuará acontecendo todos os anos, mesmo que em menores proporções quando não houver a regata. A Coordenadora Técnica de Turismo, Valdete Campos, afirma que a data da festa foi mudada para aproveitar o número de turistas e ampliar o público de ambos os eventos. Os veleiros partiram de Le Havre, na França, no dia 25 de outubro e 17 dos 42 barcos desistiram no trajeto até o litoral catarinense.

Foto: Nathalia Fontana

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Fotos: OnoĂŠl Neves 16


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