Cobaia / #138 / 2015

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Cobaia JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI

Itajaí, julho/agosto de 2015

Edição 138 - Distribuição gratuita

Trinta anos

Foto: Arquivo AECA

de palco página 4

Evento gastronômico página 3 em Itajaí


Itajaí, julho/agosto de 2015

Cooperando

Editorial

C

com a natureza

aríssimos leitores, alunos e colegas, estou de volta ao Cobaia. A professora Jane Cardozo esteve à frente do jornal laboratório nos três últimos anos, enquanto me dedicava ao doutorado. Ao retomar esta publicação mensal do Curso de Jornalismo, peço aos acadêmicos que assumam a responsabilidade de fazer deste espaço – o jornal laboratório – realmente um lugar uando acadêmiseu para o exercício do texto jornalístico, da reportagem, do ca do curso de artigo e da fotografia. É preciso assumir o jornal como uma Educação Física oportunidade essencial à formação acadêmica. Afinal, o – Licenciatura, Cobaia existe para o aprimoramento da redação de cada um fui bolsista do Programa de de vocês. Cumpre com uma função didático-pedagógica, e Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) em consta do nosso Projeto Pedagógico!

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Portanto, mãos à obra. Estamos à disposição – Gabriel Elias, o estagiário, e eu – para sugerir pautas diferenciadas e auxiliar na execução das matérias. Vamos fazer juntos o Cobaia com a cara dos estudantes do Curso. Um jornal laboratório com criatividade, identidade e empenho, desde a concepção da pauta, passando pela redação e pelo baixamento, até sua divulgação junto às comunidades envolvidas. Tenhamos orgulho dele. E façamos a diferença, já! Com paixão, gana, vontrade! A propósito desta edição, destaque para o caderno especial dedicado à fotografia, aos seus profissionais e perfilados como registro ao Dia Mundial da Fotografia, comemorado em 19 de agosto. O Curso de Fotografia inclusive trouxe vários palestrantes, entre os quais a fotógrafa Lilian Barbon, acompanhada por uma de nossas acadêmicas que fez uma matéria sobre o seu trabalho.

convênio com CAPES, atuando no subprojeto “BRINCRIAR” da área da Educação Física da UNIVALI. A partir dos conhecimentos adquiridos a respeito das crianças nas suas relações com a natureza, decidi, juntamente com o acadêmico Benjamin Nathan Vianna, desenvolver o tema sobre a natureza articulado aos jogos cooperativos no Trabalho de Conclusão de Curso, sob a orientação da professora Vanderléa Ana Meller. A escolha deste tema “Cooperando com a natureza” surgiu a partir do reconhecimento da importância dos cuidados com a natureza e de atitudes coo-

Jaqueline de Paulo graduada em Educação Física

perativas neste âmbito social, ao percebermos a necessidade de favorecer a interação das crianças com a natureza por meio dos jogos cooperativos. O espaço não formal de ensino apresentava uma ampla área verde com árvores, esta que foi valorizada e dinamizada como espaço de intervenção para o desenvolvimento destes jogos vinculados à natureza. Os resultados obtidos apontaram o favorecimento de atitudes positivas das crianças em relação à natureza, a partir das ações cooperativas, mobilizadas principalmente pelos jogos cooperativos. Envolvemos atividades coerentes com os princípios sociais, na dinâmica do brincar, com possibilidades e ações vinculadas a preservação do meio ambiente. Além de proporcionar o contato das crianças com experiências diferenciadas das práticas repro-

dutivas, também aproximamos os conteúdos da Educação Física aos princípios e valores humanos/sociais da Educação Ambiental e fortalecimento da identidade planetária. A contribuição para uma melhora significativa dos danos que o planeta tem sofrido depende de ações educativas coerentes. Esse é o nosso papel como educadores, de incentivar a busca de conhecimentos, de interação e intervenção na natureza, na perspectiva da preservação e respeito. Enfatizamos a essência da cooperação no cotidiano, interagindo com o meio ambiente e cooperando com a natureza e com o próximo, na dinâmica do brincar, com possibilidades e ações vinculadas a preservação da natureza e a promoção da sustentabilidade.

Além disso, há reportagem sobre as comemorações dos 30 anos do grupo teatral Anchieta, o evento Gastro City no Centreventos com a presença de chfes renomados, a palestra de Marcello Petrelli, da RIC Record, a trajetória do Camboriú FC ao longoi dos dez anos, a nota 5 de PP pelo MEC, ainda a das várias bicas espalhadas em vários bairros de Itajaí. E muito mais! Confira, leia e participe! Foto: Eduardo Roslino

Abraços Vera Sommer - editora Reg. Profi./DRT-RS 5024

Erramos... Na última edição do Jornal Cobaia, nº 137, na página 15 trouxemos uma informação errada sobre o Autismo: o termo utilizado é TEA - Transtorno do Espectro do Autismo, e não DEA Distúrbio do Espectro do Autismo.

Expediente:

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Durante as atividades, as crianças aprendem a respeitar a natureza

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS - Comunicação, Turismo e Lazer

DIRETOR: Prof. M.Sc Renato Büchele Rodrigues

CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI

COORDENADOR Prof. M.Sc Carlos Roberto Praxedes dos Santos

JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI Agência Integrada de Comunicação

EDIÇÃO: Vera Lucia Sommer/Reg. Prof./DRT-RS 5024 - TIRAGEM: 2 mil exemplares DISTRIBUIÇÃO: Nacional - PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO: Gabriel Elias da Silva

Você tem alguma sugestão para fazer, ou alguma matéria que gostaria de ver publicada? Conte com a gente! cobaia@univali.br

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Chefs consagrados

visitam Itajaí Karine Amorin - 4º período de Jornalismo

Itajaí, julho/agosto de 2015

Gastronomia

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Erick Jacquin e Guga Rocha, participantes de programas de culinária na Band e Fox, ministram palestras no Centreventos

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Fotos: Divulgação

ou participar do GastroCity em Itajaí para dar o melhor que tenho. Vou fazer uma palestra contando tudo que as pessoas querem saber. Vou responder a todas as perguntas e estarei de muito bom humor. Espero todos vocês!”. Eis o recado do chef Erick Jacquin, jurado do programa MasterChef Brasil 2015, da Band, conhecido popularmente por ser uma pessoa exigente, tanto na televisão quanto no trabalho e em casa.. Também Guga Rocha trocará experiências com quem tiver interesse. “Será um espetáculo, os organizadores estão de parabéns. Esse tipo de evento que faz a culinária brasileira evoluir. Fiquei muito feliz de ser convidado e gostaria de convidar a todos para participar do evento”. É notório o interesse dos brasileiros por programas culinários. A segmentação fez com que o número desse tipo de atração desse um salto de 38% na grade de programação da TV no país até julho do último ano. Essa plataforma agrada os telespectadores tanto de canais abertos, como fechados. Por isso, programas como “MasterChef” e “Homens Gourmet”, das emissoras Band e Fox, respectivamente, são sinônimos de sucesso no país. “MasterChef é um sucesso mundial e não seria diferente aqui no Brasil. Ele mostra que todo mundo pode cozinhar em casa pratos diferentes com criatividade e ousadia”, afirma Jacquin. Ele entende que o MasterChef não é um programa de curso de cozinha, até porque o formato não é o de ensinar o passo a passo. “É um jogo, um reality show”, segundo Jacquin. O “Homens Gourmet”, exibido na Fox e apresentado por Carlos Bertolazzi, Dalton Rangel, Guga Rocha e João Alcantara, é leve e bem humorado. E Guga Rocha admite que, ali, mostra como é nas coisas que faz. “Sou um cara engraçado, divertido e que leva a vida de uma forma leve. Não conseguiria agradar os

gostos das pessoas que acham que chefs de cozinha são caras emburrados ou grosseiros. Cozinha é e deve ser um local divertido e apaixonante, não acho que cozinha é um lugar para gritar com os outros, lugar de cara feia”. Para Rocha, comida é energia e, como tal, ela deve ser tratada. “Você deve cozinhar sempre feliz e contente. Eu sou assim, um cara feliz, divertido, engraçado e não é porque você tenta ser legal com os outros que você vai ser menos eficiente como profissional. Tendo em vista que sou um cara extremamente “palhaço” e dou aula na “Le Cordon Bleu”, então acho que o importante na vida é você ser leve”.

Evento gastronômico Nesta sexta-feira (28), sábado (29) e domingo (30) acontece em Itajaí o evento gastronômico “GastroCityCidade Gastronômica” no Centreventos da cidade. O tema do evento será comida de rua, ou street food,e contará com diversos palestrantes como o italiano Roberto Ravioli, o irreverente Guga Rocha, o destemido Erick Jacquin ( jurado do programa “MasterChef Brasil 2015” ), João Leme e por fim Bernardo Simões. A organização do evento, bem como a Universidade do Vale do Itajaí, Univali, que é parceira do projeto, conta com a participação de todos no GastroCity.

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Itajaí, julho/agosto de 2015

Cultura

Trinta anos

C de palco

Para comemorar o aniversário, o grupo de teatro Anchieta Arte Cênica apresentou sete peças na Casa da Cultura Dide Brandão

Carolina Copello - 1º período de Jornalismo

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Fotos: Arquivo AECA

m trem para Itajaí City” foi um dos sete espetáculos que marcaram os 30 anos da produtora de teatro Anchieta Arte Cênica em agosto último. A semana de comemorações teve início no dia 31 de julho na Casa da Cultura Dide Brandao, com a participação de vários ex-alunos da companhia que são atualmente artistas de companhias itajaienses. Além disso, houve o lançamento de uma revista, a abertura da exposição, um coquetel e música ao vivo! A peça é dirigida por uma ex-aluna, Bruna Machado, e tem todo o elenco representado pela escola de teatro AECA (Alunos do Exercício Cênico Anchieta) que teve início em 1995 com o nome de “Anchieta Junior”. A escola começou por interesse dos alunos que faziam o Curso Básico de Teatro e atualmente tem 40 integrantes.

Um trem para Itajaí City: espetáculo de grande sucesso do AECA

Valentim Schmoeler, fundador do Anchieta Arte Cênica

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A programação do evento fechava as comemorações com o espetáculo “Só”, apresentado pelo artista Renê Carvalho, que participou do Anchieta e hoje trabalha no Rio de Janeiro com a palhaçaria. A produtora Anchieta Arte Cênica, foi fundada em cinco de agosto de 1985 com o espetáculo infantil “Castelo da Bruxolândia” no colégio São Jose, apresentado por Valentim Schmoeler, Antonio Carlos Cunha e Jose Carlos Leal. Com muito apoio do ex-diretor da Casa da Cultura, Gerdi Klotz, Valentim fez o primeiro Curso Básico de Teatro (CBT), que contou com a participação de 45 alunos que montaram o espetáculo “Cenas” em 1985. O CBT, como é conhecido o curso na região, é para iniciantes no teatro, e trabalha durante duas semanas com

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jogos teatrais, montagem de cenas e interações de grupo. Nas edições de janeiro, o curso se estende por duas semanas a mais para a montagem de um espetáculo com os formandos no Teatro Municipal de Itajaí. Este ano, a peça foi “Era Uma Vez e... Foram Felizes para Sempre!” completando a 30ª edição do curso. Além do Curso Básico de Teatro e do grupo AECA, a produtora tem uma companhia chamada Bagagem Cênica que começou em 2000. Ela mostra o teatro como profissão, é ali que alguns alunos do Anchieta começaram. O “Bagagem Cênica” viaja o estado, levando cultura as escolas, e atualmente apresentam o espetáculo “...E despertou a primavera” com os atores Diego Miranda, Leonardo Espindola e Ana Luiza Marcolina. Valentim apresenta

um espetáculo inspirado nas obras de Fernando Pessoa, que foi homenageado no Festival Brasileiro de Teatro Toni Cunha, a peça “As pessoas de minha pessoa” com mais de 200 apresentações. Valentim iniciou no teatro em 11 de junho de 1966, quando pisou no palco pela primeira vez com dez anos de idade, em uma apresentação na escola João Guimarães Cabral, na cidade de Imbituba, onde nasceu. Rindo conta que travou ao entrar em cena e um amigo improvisou para disfarçar. Além de ator, Valentim é diretor e produtor, e ele admitiu que os últimos anos foram difíceis pela falta de apoio! Sobre a emoção de ver uma plateia aplaudir de pé seus espetáculos, a resposta foi clara: “É porque tudo valeu a pena”.


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Corrida

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Foto: Andrej Isakovic/AFP

Na metade da temporada, a Fórmula 1 ainda tem muita pista pela frente

Alta velocidade Kevin Pires Tavares - 1º período de Jornalismo

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nos boxes). O brasileiro Felipe Massa afirmou, em entrevista ao SporTV, que está otimista para esta segunda metade do campeonato e que vê a Willians brigando por pódios e até vitórias, principalmente nos circuitos mais rápidos, como o da Bélgica, Itália, Japão e Brasil. Felipe Nars, que corre pela equipe Sauber, diz estar bem contente com o carro e que alcançaram a maioria dos objetivos até a metade da temporada. Surpreendente, Nars logo na sua estreia conseguiu um 5° lugar no GP da Austrália, marcando pontos importantíssimos para a equipe, que não fez nenhum ponto na temporada passada. Ocupando a 12° posição no campeonato (até o GP da Hungria), Nars disse, em entrevista à Rede Globo, que sabe que seu carro é limitado em algumas áreas e para compensar essas limitações a equipe tentará coisas diferentes. Ele diz também que está sempre aberto a experimentar coisas novas, que o ajudam a entender melhor o carro, para ter um desempenho ainda melhor nesse segundo semestre. A equipe Sauber, assim como outras equipes, conta com atualizações para 2016, que deixam o brasileiro Nars muito animado para a temporada seguinte. A equipe visa que atualizações pros GP’s seguintes são essenciais para ajudar seus pilotos a conquistarem mais pontos, já

que esta metade de temporada bom, e que no momento, devefoi bastante animadora para se manter a equipe motivada, a equipe. Para a McLaren, pensar nas próximas etapas e que está sem vitórias na F1 principalmente na temporada desde o GP do Brasil de 2013, que vem. apostou, este ano, em assinar A Mercedes no momento é com a Honda (fornecedora de a equipe a ser batida. Desde motores), para tentar melhor 2010 (quando retornou à F1), seu desempenho. Mas, nas evoluiu muito, conquistando primeiras provas, como se muito pontos, pódios e até imaginava, a McLaren só vitórias em 2012. Em 2014 e andou lá trás e nem nas zonas neste ano, vem administrando de pontuação chegou a ficar. o campeonato. Com mais de A partir de Mônaco, Button 140 pontos à frente da Ferrari marcou os primeiros pontos (2° colocada no mundial de da equipe, mas depois disso construtores), venceu 8 de 10 foram mais duas provas de corridas este ano. Entretanto, a abandonos dos dois pilotos, até Mercedes vem se preocupando a Inglaterra. Em entrevista para muito com o desenvolvimento a revista MotorSport, o diretor da Willians e principalmente executivo da McLaren, Ron da Ferrari, que venceu as Denis, afirma que a escuderia outras duas corridas. Com está bastante esperançosa por novos pacotes aerodinâmicos novas atualizações, e que existe e atualizações no motor, a a possibilidade de pontuar Mercedes se prepara para os nas corridas restantes da circuitos rápidos, como Spa e temporada 2015. Ron Denis ainda citou os problemas que a equipe vem enfrentando, como o superaquecimento dos pneus (que por consequência, desgastam mais rapidamente) e o pacote aerodinâmico que ainda vem sendo trabalhado pela fornecedora. Mesmo com a falta de competitividade da equipe, ele assegurou que o Felipe Nars se diz satisfeito com Sauber e pretende brigar clima da equipe é por pontos nesse segundo semestre

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Foto: Scuderia Sauber

Fórmula 1 chegou a metade da temporada, e depois do GP da Hungria - que iniciou nesse segundo semestre, algumas mudanças serão feitas nos carros, principalmente nas Willians e Ferrari, que buscam alcançar as Mercedes, já que dominaram boa parte das corridas este ano. A Ferrari conseguiu grandes feitos neste primeiro semestre, quando já na segunda corrida, na Malásia, e na décima primeira, na Hungria, venceu junto ao alemão Sebastian Vettel, que renasceu das cinzas depois de um ano apagado, em sua antiga equipe, a Red Bull Racing. O segundo semestre promete em relação ao primeiro. Pistas rápidas e com bom traçado permitem que as Willians andem fortes, assim como já mostraram em Silverstone (Inglaterra), após liderarem mais de ¼ da prova com seus dois pilotos. Parece ser pouco, mas a equipe este ano vem enfrentando problemas maiores do que financeiros ou mecânicos: seu maior rival este ano é a Scuderia Ferrari, que vem “roubando” seus possíveis pódios e pontos no decorrer da temporada. Vallteri Bottas e o brasileiro Felipe Massa, conseguiram apenas um pódio cada: um no GP do Canadá (onde Raikkonen, da Ferrari, rodou sozinho, dando o 3° lugar para Bottas) e o outro no GP da Áustria (onde Massa herdou a 3° posição de Vettel, após o mesmo ter um problema

Monza. Preocupado, Hamilton afirma que esse campeonato está mais difícil e mais competitivo que o anterior, e que pilotos como Vettel possam ameaçar seu título, além é claro, de seu companheiro Nico Rosberg. Vettel diz que as Mercedes não são mais imbatíveis e que depois de várias atualizações no carro da Scuderia italiana, e mudanças nas regras já para este segundo semestre, afirma que brigará forte com as Mercedes tanto pelo título de construtores, quanto pelo campeonato mundial de pilotos. Mesmo com todas as mudanças nos carros e em algumas regras, a Mercedes continua forte e vem embalada junto dos seus pilotos para mais um título mundial. As outras equipes terão que trabalhar duro para bater de frente com a equipe alemã. O GP da Bélgica e Itália serão decisivos para a temporada, se nenhuma equipe conseguir vencer uma prova sem ser a Mercedes, é quase que certo, que mais uma vez o título ficará com a equipe, e que as mudanças de nada adiantaram. Até o GP da Hungria a Mercedes lidera com 383 pontos, seguido da Ferrari com 236, a Willians em 3° com 151 e a Red Bull Racing em 4° com 96. Hamilton lidera o campeonato de pilotos com 202 pontos contra 181 de seu companheiro Rosberg e 160 de Vettel.


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Aventura

A sensação de

estar no ar

Foto: Sandra Bogo

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Acadêmica de jornalismo encara desafio de experimentar um esporte radical e relata sua experiência

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parapente é uma das modalidades do voo livre. Considerado um esporte radical, o piloto depende dos contrastes da temperatura e do vento para voar. Surgiu na Europa, na década de 70, e no seu princípio servia de treino aos paraquedistas na aterrissagem sem que precisassem utilizar um avião. No Brasil, o primeiro voo de parapente registrado foi no ano Kauana Amine - 5º período de Jornalismo de 1988, no Rio de Janeiro. Desde então, o voo livre vem sendo cada vez mais a-dia, trabalho, faculdade, a noção se eu estava em pé frequente no país. Um dos conciliar as relações, as contas ou sentada no ar e quando lugares possíveis para voar é e os compromissos, precisamos chegou a hora do pouso, eu no Complexo Turístico Morro de um escape que nos faça caí na areia. (Mas, nada grave. do Careca, localizado no esvaziar a mente por alguns Só um pouco de desastre da estado de Santa Catarina, instantes. Depois, precisamos minha parte mesmo). Outro fator que contribuiu entre as cidades de Balneário lembrar que, apesar de Camboriú e Itajaí. No local, toda a responsabilidade da para a sensação de renovação além do voo livre todos os dias vida, também mereceremos foi o contato com a natureza. – se as condições climáticas aproveitar, viver momentos Voar por cima do mar, das árvores e poder observar outras permitirem – também é possível memoráveis e realizar sonhos. Acredito que voar é algo pessoas lá embaixo, enquanto ter uma visão panorâmica da cidade de Balneário e da Praia que mexe com os extremos das eu estava no ar, foi adorável. Da Brava de Itajaí. Os voos são pessoas: ou querem e gostam mesma forma que Mariane, me controlados pela Associação muito, ou temem muito e não senti um pássaro. E, também de Voo Livre Morro do Careca querem de jeito nenhum. Ou pude comprovar o que ouvi de (AMCA) e são realizados no fazem e querem continuar outro instrutor de voo, Ricardo fazendo várias vezes, ou fazem das Neves: “Enquanto a gente período da tarde. Num trabalho acadêmico uma vez e não querem nunca está voando é possível curtir a para o curso de Jornalismo mais. Das pessoas com as sensação de voar, o visual em da Univali, da disciplina quais conversei, encontrei os si. Tudo isso vai te deixando de de Jornalismo Esportivo, dois lados. Patricia Tavares, uma certa forma tão confortável denominado “Eu, atleta”, de 26 anos, contou que no que você não percebe o tempo resolvi encarar o desafio – e seu primeiro voo passou muito passar. E quando você pousa, realizar um sonho – de voar. Em mal e não pretende repetir. você sai extasiado, as vezes uma quarta-feira, desloquei- Já, Mariane Galvão, agente fica dias com aquela sensação, me até o Morro do Careca de turismo da AMCA, gostou uma coisa leve, uma coisa para sentir na pele como era tanto da sensação de voar que que te renova. Você rompe a decolar e pousar de parapente. agora está fazendo habilitação barreira do medo.” Ricardo era surfista e da “Se você pedisse pra eu para pilotar. Seu primeiro voo definir o voo livre em poucas foi um voo tranquilo “me senti praia sempre via as pessoas palavras, eu diria: quem já um pássaro, senti uma leveza, voando, mas sentia medo. Então, ele decidiu começar a voou não precisa explicar, e não teve impacto algum”. O meu primeiro voo foi voar para tentar perder o medo quem nunca voou não tem explicação”. Com essa frase parecido com o de Mariane. de altura e por se questionar se o instrutor de voo, Narcísio Amei a experiência, senti vale a pena nos privarmos de Machado, definiu para mim uma leveza e uma sensação fazer tantas coisas por medo. o que pensa sobre voar. E, de liberdade inexplicáveis. A “Cheguei a conclusão de que ao fazer o voo com ele, pude decolagem durou cerca de não adianta a gente ter medo comprovar isso. Enquanto cinco minutos, porque no dia o de algumas coisas na vida, escrevia, não encontava vento não estava tão favorável porque o excesso de medo palavras que definissem para durar mais. Mas, mesmo faz a gente deixar de viver. com pouco tempo, achei a Então eu pensei um raciocínio exatamente o que sentia. Muitas vezes durante a vida experiência de voar incrível. simples: se for pra morrer, que buscamos nos sentir livres dos Pousamos na praia, e foi o seja fazendo alguma coisa que nossos problemas e ficar leves. único momento que senti certa eu gosto. E claro que eu não Com toda a correria do dia- dificuldade. Perdi um pouco vou morrer voando, mas isso

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me motivou a romper essa barreira.” Tudo que ouvi e vivenciei naquele dia fez com que eu parasse para refletir e reavaliar algumas coisas. Como na importância de sair da comodidade e rotina para arriscar fazer algo diferente.

Muitas vezes não temos tempo para fazer isso constantemente, mas, sem dúvidas, vale a pena o esforço e compensa a sensação de fazer vez ou outra. Afinal, como disse Sócrates: “Uma vida sem desafios não vale a pena ser vivida”.

Kauana e os instrutores de voo se preparando para o salto


o n r l e a d i a c C spe E

Professor Eduardo Gomes

In Foko - infoko.tumblr.com

Coletivo fotográfico

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ascido no País do Irã, JahanBakhsh viajou o mundo inteiro até visitar os Estados Unidos. Lá conheceu uma brasileira por quem se apaixonou e com quem casou. Em visita ao Brasil, em 1979 ficou encantado com os lugares e as tradições locais e daqui não saiu mais. A adaptação foi bastante difícil, pois Jahan tinha dificuldades para compreender e falar a língua portuguesa. Com o tempo, aprendeu a língua e os costumes com a sua esposa e com a convivência diária com outras pessoas. “Minha vida no Irã era normal e diferente daqui, porque lá é um país do Oriente Médio, então os costumes são completamente diferentes. Eu morava

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com minha mãe e meus irmãos em Teerã capital do país. Eles foram embora para os Estados Unidos em busca de condições melhores, assim como eu”, conta com o português arrastado. De origem Pérsia, a mistura de raças é visível para quem observa o jeito tímido de Jahan. “Lá no Irã existe muita mistura de raça. Tem muita gente Índia, África, Árabe, Alemanha, China, por isso a origem Pérsia. Eu sou uma mistura de indiano com árabe, os traços mais comuns do país”, explica. Há mais de 30 anos morando no Brasil, Jahan garante que o seu lugar é aqui. “Passei mais da metade da minha vida aqui, com certeza não saio mais”, finaliza sorridente.

Acadêmicas: Andressa Magalhães, Bianca Pereira, Daniella Machado e Nicolle Machado.

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Fotógrafos de Garagem - fotografosdegaragem.wordpress.com

Coletivo fotográfico

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China

ooko tem 35 anos, nasceu em Chen-Zo, na China. Veio para o Brasil há dois anos com a esposa e a família. Em são Paulo, eles abriram uma loja de produtos eletrônicos. Após o sucesso nos negócios, ele e a esposa vieram para Itajaí e abriram uma filial da loja. Eles escolheram a região para morar e expandir os negócios por conta da estabilidade econômica e da segurança pública que o Vale oferece.

Gooko é Chinês, mas gosta muito de morar no Brasil. Até hoje, porém, ele estranha um pouco a cultura do país. Além disso, ele tem dificuldade em falar o português. Mas isso não atrapalha as vendas. Para se virar, Gooko conta com a ajuda de um funcionário brasileiro. Enquanto Gooko trabalha na loja, sua esposa cuida da casa, como é o costume na China. Mesmo morando no Brasil, ele faz questão de não abrir mão dos costumes e tradições do seu país da sua família.

Acadêmicos: Daniela, Joana Fonseca, Thomas Falconi e Vanusa Schatt.

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nias

relembra que teve muita ajuda da igreja da qual faz parte hoje, no começo de sua vida aqui. Atualmente, ele trabalha em uma empresa de metalurgia fazendo churrasqueiras. No dia em que as fotos foram clicadas, Fenel estava fazendo mudança. Sua esposa Cande estava na casa de uma amiga da igreja porque acabara de ganhar neném – “mais um”, diz ele. Fenel e a família se mudaram de um galpão emprestado, também por um amigo da igreja, porque estava muito desconfortável, ainda mais agora com a chegada de um bebê. Outro motivo que fez com que eles saíssem do lugar é porque o bairro era muito perigoso e ele temia pela vida dos filhos. Apesar de a casa nova não ser extremamente confortável ou grande, é o que Fenel pôde proporcionar aos seus filhos e esposa, e é onde ele vê mais uma chance de recomeçar. Assim como a família de Fenel, inúmeros outros haitianos vivem em situação igual ou semelhante. Em Balneário Camboriú, a Associação dos Haitianos, criada em 2013, auxilia os imigrantes no que lhes é necessário e serve como intermediadora entre eles e a Secretaria de Inclusão. Como esse projeto, outros são criados em todo país para poder ajudar, como possível, essas pessoas que vieram buscar ajuda no Brasil.

ngulo News - angulonews.wordpress.com

D

epois do terremoto ocorrido no Haiti, em 2010, em que cerca de 300 mil pessoas morreram, o Brasil tem sido destino para milhares de haitianos. Só em 2015, foi registrada a entrada de 7 mil imigrantes, que tem a cidade de Basileia, no Acre, como porta de entrada para o país. Segundo o Ministério da Justiça, atualmente o Brasil emite mais de 100 vistos por mês para cidadãos do Haiti. Dentre tantos haitianos que viram no Brasil um país para recomeçar a vida, está Fenel Oris, de 39 anos, acompanhado de sua esposa, Cande Tilide, 38, e seus três filhos. Antes de chegar ao Brasil, Fenel passou 10 anos na República Dominicana, país também muito habitado por haitianos, onde trabalhou e conseguia ter uma vida digna, ajudando seus pais e até mesmo pagando escola para seu irmão, porém, sem segurança. Fenel conta que viu no Brasil uma oportunidade de viver mais seguro, longe dos medos e perigos que o cercavam tanto na República Dominicana quanto no Haiti. Em março de 2013 ele chegou ao Brasil sozinho, sua família viria apenas em 2014. Diferente de outros conterrâneos que vieram com ele e ficaram em São Paulo, Fenel preferiu vir para Santa Catarina, em Balneário Camboriú. O haitiano

Coletivo fotográficoA

Haiti Acadêmicas: Adrielle Demarchi, Gabriela Fraga, Iandra Costa e Natália Rocha.

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Flash News - flash-news.tumblr.com

Coletivo fotográfico

J

oana Rosa Matias Beta (36) é moçambicana, está no Brasil há dois anos. Veio para concluir o mestrado em Educação Infantil. Conseguiu uma bolsa de estudo através de convênio entre Moçambique e o nosso país. Joana é casada, seu marido trabalha como policial na cidade de Maputo, capital de Moçambique. Elvira, a filha de Joana tem pouco mais de um ano e nasceu aqui em Itajaí. No mês de setembro Joana retorna a sua terra, província (equivale a Estado no Brasil) de Tete na cidade com o mesmo nome. A moçambicana de família humilde nos conta como é a vida em Tete.

Moçambique

“Não temos comodidade como no Brasil. Lá nosso fogão é a carvão não a gás. Não temos chuveiro encanado e a luz é a cartão (crédito), como no celular. Compra, quando está terminado precisa se recarregado.” Ela nos fala sobre a comida tradicional do país. “Fazemos couve com pó de amendoim e leite de coco, é tipo um refogado com cebola. Também comemos polenta com feijão. Lá se toma pouco café, tomamos mais chá preto”. Moçambique é um país localizado no sudoeste da África. A língua oficial é o português, mas entre o povo especialmente em família e falado dialetos.

Acadêmicas: Bruna Bruner, Luara Villar, Kauana Amine e Miriany Barros.

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Etnias


Espaço para

debate

Nathalia Fontana Metelski - 2º período de Jornalismo

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Fotografia

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Lilian Barbon conversa com acadêmicos sobre as técnicas usadas em autorretratos e sobreposições de imagens em suas obras

Foto: Karina Cardoso

atarinense, fotógrafa e artista visual. Lilian Bardon, Mestre e Bacharel em Artes Visuais pela UDESC e Especialista em Fotografia: Práxis e Discurso Fotográfico pela UEL esteve no campus Itajaí da UNIVALI dando início às atividades da Semana da Fotografia. Em palestra aos alunos dos cursos de Fotografia e Produção Audiovisual, compartilhou um pouco da sua caminhada no meio, seus principais trabalhos e reflexões acerca do papel da fotografia. Premiada diversas vezes em âmbito nacional e internacional, Lilian é reconhecida por trabalhar com temáticas relacionadas à identidade e ao corpo humano. Através de seus autorretratos a artista explora esses conceitos. “Quando a gente fala de autorretrato a questão da identidade vem junto. Trabalho muito com o nu, que acaba se voltando a questão do corpo também. Não me identifico muito com as fotos quando não são autorretratos. Não faz parte do meu trabalho autoral, eu assumi o autorretrato como fonte, como característica” diz ela. Duas técnicas que também marcam o trabalho da fotógrafa são a cronofotografia e o fotodinamismo, que fazem uma construção do irreal através da captura do movimento. “Eu já fazia elas, depois que fui pesquisar e descobri que existiam esses conceitos. Eu não gosto da fotografia crua. Eu quero inventar algo que não condiz com a realidade, porque a realidade me incomoda.” Suas primeiras fotos foram resultado de horas ininterruptas de testes, atravessando madrugadas numa sequência contínua de preparar o disparador automático, correr pra frente da câmera, criar e recriar poses diversas formando uma imagem só.

Itajaí, julho/agosto de 2015

Foto: Lilian Barbon

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Itajaí, julho/agosto de 2015

Comunidade

Um bem a ser

preservado C

Bárbara Porto Marcelino e Bruno Golembiewski - 6º período de Jornalismo

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olocava o relógio a despertar de madrugada para não pegar fila. Ainda assim, quando chegava lá, encontrava uma ou duas pessoas com seus galões”. Era novembro de 2008. O amontoado de gente se estendia pela Rua Cecília Brandão, e continuava, virando na Rua Uruguai, bairro Fazenda. Em meio ao caos, que se instalara na cidade, ainda era possível encontrar conforto e certa segurança. Água para beber não faltaria para muitas famílias. Paulo Ricardo Schwingel mora na rua, onde centenas de pessoas iam, todos os dias, buscar água da bica na época da enchente que atingiu Itajaí, em 2008. A procura era tão grande que Paulo revezava seu lugar na fila com um dos filhos. Professor da Univali, nos cursos de Engenharia Ambiental e Oceanografia, também dá aula no Mestrado e Doutorado em Ciência e Tecnologia Ambiental. – Itajaí ainda irá sofrer com mais enchentes. Não preservamos como devíamos os bens naturais que protegem

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Riqueza dada pela natureza, água é o maior bem de uma comunidade a cidade desse tipo de evento. Então, pode demorar, mas as consequências vão vir. Com certeza! Apesar da afirmação ser impactante e causar certo enjôo no estômago, o professor fala sem pestanejar. O rosto e os olhos não expressam qualquer sinal de dúvida. Rabiscando num papel solto sobre a mesa, ele explica alguns dos motivos que deram essa característica inconstante à cidade. (Confira box ao lado). Entre hoje e o amanhã Chinelo de dedo, calção e camiseta. Estende a mão. Cumprimenta. De pele morena, bronzeada. O sorriso não se abre por inteiro, mas é sincero. Com passos curtos, caminha em direção ao final da rua. Dos adereços e trejeitos o que chama atenção é a garrafa de plástico de cinco litros que carrega. Ela está vazia.

– Ao invés de encontrar obstáculos, dizendo que a água está ruim, é preciso encontrar uma solução. Precisamos incluir as bicas nas políticas públicas de Itajaí. A busca de soluções é uma das lutas de Giordano Zaguini Furtado, presidente da Associação Amigos da Bica e do BNH (Banco Nacional de Habitação), que batalha pela preservação da nascente localizada no bairro Fazenda. A Associação surgiu no final de 2013, quando uma empresa imobiliária degradou o curso d’água e a bica do BNH ficou ameaçada. Uma retroescavadeira esteve no local e houve um protesto da comunidade. – O trator que teve aqui foi o ápice da situação. Moradores choraram em frente à máquina pra que eles interrompessem o desmatamento. Entre os objetivos da Associação estão preservar

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o meio ambiente de Itajaí, a mata nativa e as três nascentes de água do conjunto de morros. Também lutam contra a exploração imobiliária no local. Reúnem-se mensalmente para discutir ações junto a órgãos ambientais municipais, como a FAMAI (Fundação do Meio Ambiente de Itajaí). Cobram o controle socioambiental dos atos do poder público. Giordano conta que já foram feitos testes na água, porém, há muitos anos isso não ocorre mais. Uma das prioridades da organização é encaminhar o pedido para realização da avaliação e garantir a saúde de quem consome a água. De todas as bicas, em Itajaí, a do BNH é a única com associação formal, as outras geralmente têm cuidados da comunidade, que limpam o terreno e fazem manutenção das mangueiras. Reúnem-se

todo mês e não ganham nada além da satisfação em ver um bem comum preservado. Comunidade Logo que um novo visitante para em frente à bica, Dona Rosa se põe na janela e olha desconfiada. Ainda mais quando são desconhecidas e seguram câmeras fotográficas. – Por que vocês tão tirando foto? A senhora magrinha usa roupas simples, mas bem engomadas. Rosto fino e cabelo preso. Tudo nela parece delicado. Seus movimentos e seu jeito de falar. Dá medo de tocar e machucar. Parece uma avó tirada de algum conto de fada. Ela expressa um largo sorriso de felicidade quando descobre que o assunto é a bica ao lado de sua casa, na Fazendinha. – Há mais de 20 anos pego água aqui. É muito boa. Uma benção de Deus. A bica em questão fica no terreno de Dona Marli. Todos os dias, ela abre e fecha o registro para as pessoas pegarem água. Percebendo uma movimentação diferente, ela aparece para descobrir o que


Itajaí, julho/agosto de 2015 Fatores determinantes dos alagamentos

Fotos: Bruno Golembiewski

1 - Mata ciliar: Vegetação nas margens de rios e mananciais, que formam o “leito aparente”, borda mais elevada em volta dos rios. É o primeiro fator que impediria a água de avançar para a cidade. Durante o crescimento de Itajaí, essa vegetação foi destruída; 2 - Áreas alagadas: Espaços que, em caso de inundações, armazenam água através do solo. A maior parte destas áreas foi aterrada e ocupada. Em muitas delas, foram construídos pátios para containers; 3 - Morrarias: Retêm líquido naturalmente. Sem elas, o solo se torna impermeável e acaba ressecando. Assim, quando chove, a água não para em nenhum lugar. Ela passa reto em direção à cidade.

Paulo salienta a importância das nascentes para a emancipação de Itajaí. Graças a elas, a cidade tem condições de se abastecer há. Num primeiro momento, sente-se desconfortável. Os olhos quase se fecham e uma ruga aparece no meio da testa em sinal de suspeita. – Quem são vocês? Quando descobre o teor da matéria, coloca-se em frente ao portão que dá acesso à bica. Depois de muita conversa, cede e até é gentil. – Minha água é boa. Todo mês fazem teste. Só que tenho gastos. Pago um moço para limpar o terreno. Gasto dinheiro para deixar isso aqui aberto para todo mundo. Ao lado da fonte, escrito em um tubo de concreto, o aviso: “Colabore aqui. Se não colaborar, fecho”. Sobre ele, um cofrinho com cadeado. Quem quiser fazer uma contribuição deixa ali um trocado. Nelson da Rosa Filho, de 45 anos, mora em Piçarras, e desde que conhece a bica, parou de comprar água. – Tenho esposa e uma criança de cinco anos em casa. Nós nunca passamos mal. Em menos de 30 minutos, pelo menos seis pessoas passaram por ali. A temperatura agradável e o dia ensolarado atraem ainda mais visitantes à bica de Dona Marli, e ela prevê: “Hoje o dia tá quente. Essa bica vai bombar”.

aquisitivo, uma árvore cobre o que seria a entrada. Chegando mais perto, o visitante hesita. Está no caminho certo? Mais ou menos 50 metros adentro há mata, e mais nada. Uma trilha com marcas de pegadas humanas e rodas de bicicletas. A terra está lamacenta devido às chuvas recentes. Entre as folhas das árvores, é possível ver a luz do sol, que ilumina as

pedras onde a água corre. Aos pés do morro do bairro da Ressacada, três mangueiras improvisadas trazem água limpa e cristalina, formando um pequeno córrego, que conduz o excesso de volta para o solo. Apesar da trilha estreita, algumas pessoas entram de moto para facilitar o caminho de volta com as garrafas cheias. Sérgio, de 50 anos, conheceu

a bica por indicação. – Passo aqui uma vez por semana mais ou menos. Faço isso há mais de três anos. Gosto muito da água. As pessoas criam vínculos com as bicas. Costumam pegar sempre numa só. Lutam para mantê-las seguras e preservadas. Abrem os portões de suas casas para permitir a entrada de outras pessoas, que

enchem seus galões. Limpam, trocam os canos, ajeitam como podem os locais da fonte. Tudo para aquela água continuar jorrando e saciando a sede de muitas gerações Itajaienses. – Proteger as bicas é preservar nossa cultura, nossa história, o meio ambiente e, consequentemente, nós mesmos, alerta Schwingel.

A lei nº 9.985/2000 – Art 2º protege a bica, e garante a preservação de 50 metros de circunferência na nascente e de mais 30 metros para cada lado das margens do curso d’água

Escondida na natureza A uns 15 minutos de carro dali, no fim de uma rua de barro, com casas de alto poder

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Itajaí, julho/agosto de 2015

Esporte

Mais que um clube,

C uma família Lucas Rosa Gabriel - 6º período de Jornalismo

Fotos: Rafael Nunes/CFC

Do servente ao presidente, passando por alguns torcedores, todos botaram a mão na massa ao longo dos dez anos do Camboriú FC

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ra mais uma fria noite de junho, na monótona Camboriú. Como era de se esperar numa cidade pequena, boa parte dos estabelecimentos estavam fechados. Mesmo assim, como se fosse uma espece de ritual, algumas pessoas se encaminhavam ao centro da cidade. O destino de boa parte delas era o estádio Roberto dos Santos Garcia, o “Robertão”, estádio do Camboriú Futebol clube. O tempo frio e chuvoso, típico de outono, tinha castigado o gramado. Próximo às traves, e até mesmo no centro do campo, haviam buracos cobertos com areia. Mesmo parecendo um campo de golfe cheio de obstáculos, isso não desanimava os jogadores. Eles entraram para o primeiro jogo em casa na temporada, guiados por seu mascote, o simpático e um tanto exótico Homem Pedra. No fim da partida, válida pela série B do campeonato catarinense, o Camboriú venceu o Hercílio Luz por dois a zero. Com esse resultado, garantiu o terceiro lugar na tabela da competição. Se hoje o tricolor da baixada tem uma bem sucedida equipe profissional, com categorias de base e até mesmo um estádio próprio, isso só foi possível devido ao amor de alguns empresários e amigos pelo futebol. O Camboriú FC foi fundado no dia 11 de abril de 2003, por Altamir Montibeller, José Henrique Coppi e outros investidores da região. Nessa época, o clube ainda se chamava Sociedade Desportiva Camboriuense, e atuava apenas como um time semi-

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profissional. Entre os jogadores que participaram da primeira equipe, estava Carmelino Rosa. O gerente de uma fábrica de papelão ganhou dos colegas de time o apelido de moreno, alcunha essa que carrega até hoje. Ele e os demais jogadores treinavam em média três vezes por semana. Claro que falando assim parece ser fácil, mas o tempo dedicado ao clube era um trabalho voluntário, que os sócios faziam em paralelo com as suas profissões, por mero amor a camisa. Ele saía da fábrica no fim da tarde, muitas vezes, sem sequer passar em casa. Tudo que precisava estava no porta-malas do seu carro, a bolsa com materiais esportivos. Era sempre assim nos dias em que Moreno treinava com os amigos. Não demorou muito, e o grupo de trabalhadores, que à noite viravam atletas, se preparava para disputar uma competição.

segunda mãe dos meninos da baixada. Se por um lado era rígida nos treinamentos, por outro fazia questão de manter um ambiente de respeito e companheirismo quase que familiar. Ela também se divertia com a fama que ganhou junto ao seu novo emprego. Por fim, a equipe da tia Zilda, teve mais sucesso com a torcida, do que com a bola propriamente. Mesmo sem vitórias realmente relevantes nessa temporada, as pessoas iam ao estádio pra ver os amigos e familiares, em sua incansável tentativa de criar um grande clube de futebol no município. Eles não desistiram fácil, e o seu esforço em breve seria de certo modo recompensado. Em 2004, o Tricolor da Baixada recebeu novos investidores, desta vez um grupo de empresários da cidade de Balneário Camboriú. Eles tinham o contrato de alguns jogadores, mas precisavam de um clube para jogar profissionalmente. Com essa nova parceria, o ainda Camboriuense foi à Itália disputar o Torneio di Viareggio (sub 23). Nessa ocasião, os jogadores que foram escalados, começaram a ter seu trabalho remunerado. A excursão em solo italiano rendeu algumas pérolas no currículo da Cambura. Nessa competição o time catarinense encarou equipes clássicas do

Tia Zilda: segunda mãe dos meninos O clube, amador naquela época, soube fazer história sendo inovador. O seu treinador, ou melhor, dizendo, treinadora, chamou atenção da imprensa até mesmo em nível nacional. Zilda Dalmolin foi quem comandou o time, ao longo do primeiro ano. A professora de Educação Física foi a

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futebol mundial, entre elas o Galatasaray e a Roma. De volta ao Brasil, o Camboriuense ainda disputava a Divisão de Acesso (Terceira Divisão do Campeonato Catarinense). Foi apenas em 2006 que, com muito esforço, ele finalmente ganhou a competição. Com a vitória, veio o direito de participar da Divisão Especial no ano seguinte. Essa foi só a primeira, das várias alegrias que o clube teria em 2007. O jogo com o Joinville no norte do estado, provavelmente foi a mais marcante delas. Na ocasião, o tricolor da baixada venceu o time da casa, hoje na série A do Brasileiro, pelo placar 5 a 0. No fim dos 90 minutos, a equipe vencedora se dividia em um misto de felicidade e medo da possível reação da torcida adversária. Mal sabiam eles que não tinha nada a temer. Ao deixar o estádio o camboriuense se viu em meio a um mar de aplausos, vindo da torcida do Joinville. O ano de 2009 foi marcado por mudanças no clube. Para começar a Camboriuense trocou seu presidente. Quando Altamir Montibeller foi convidado para assumir a secretaria de esportes do município, teve que deixar seu antigo cargo. Com a saída, o amigo e sócio José Henrique Coppi assumiu a presidência. As novidades

continuaram, e o nome do clube também foi alterado. Atendendo a um pedido do poder público e do empresariado municipal, o tricolor passou a se chamar Camboriú Futebol Clube. Em 2011, o Camboriú conquistou a Divisão Especial Catarinense, agora o time estava oficialmente na tão sonhada elite do campeonato catarinense. O sonho veio acompanhado por muito suor e trabalho. Afinal em menos de três meses, tudo deveria estar pronto. Foi nessa hora que mais uma vez, o Camboriú mostrou que acima de tudo é uma grande família. Do servente ao presidente, passando até mesmo por alguns torcedores, todos botaram a mão na massa. Eles tinham um estádio que deveria ser reformado, um elenco de jogadores para formar, e com certeza muito mais amor do que verba. Esta foi a primeira vez que um time da cidade disputou a elite do Catarinão. Essa é a história de um clube, que em uma década foi do amador a elite. O time que cresceu junto com a sua torcida, que teve alegrias, tristezas, mas nunca desistiu. Quando completou dez anos, infelizmente o tricolor voltou pra divisão de acesso. Hoje ele busca retomar o seu lugar ao lado dos grandes clubes do estado.


Itajaí, julho/agosto de 2015

Futuro da comunicação

em pauta

Gabriel Fidelis - 2º período de Jornalismo

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Marcello falou a respeito do grupo Rede Independência de Comunicação (RIC SC) e deu dicas para os futuros jornalistas presentes na plateia. Comentou que o profissional de jornalismo deve se inserir na tecnologia e não tentar superá-

-la. É preciso ser multimídia, ter conteúdo e propósitos. Além do presidente executivo do grupo RIC SC, houve participação especial da jornalista Flávia Jordão, egressa do Curso de Jornalismo da Univali, que deixou um recado muito direto aos acadêmicos: “Tá faltando amor pela profissão”. Esse comentário foi feito após ter sido questionada sobre oportunidades de emprego na própria empresa em que atua. Alunos de diversos períodos de Jornalismo puderam levar para casa recomendações relevantes para a carreira profissional. A cerimonialista da noite e também estudante do segundo período, Juniétty Mônica Hugen, contou que a palestra lhe ofereceu muitos dados sobre meios multimídia. Também evidenciou a importância da formação do jornalista na decisão pela forma de transmitir a

C

“É preciso ser multimídia, ter conteúdo e propósitos”, recomenda o empresário da RIC Record aos alunos de Jornalismo

informação aos consumidores famintos por informações relevantes que tenham importância em suas vidas. Aproximação mercado

com

o

A palestra “O Futuro da Comunicação”, de Marcello Corrêa Petrelli, faz parte do projeto Jornalismo e Mercado, que busca uma maior integração dos acadêmicos do Curso de Jornalismo com o mercado de trabalho da região do Vale do Itajaí. Segundo o coordenador do curso, Carlos Roberto Praxedes dos Santos, há cinco anos buscam-se formas diversas para essa aproximação. E, há dois anos, com a criação desse projeto, diversos profissionais da área têm sido chamados para conversar com os estudantes.

Fotos: Murilo Nascimento

internet e a tecnologia modificaram o modo com que o público se relaciona com a informação. Hoje em dia, qualquer pessoa é consumidora e produtora de conteúdo informativo e é por isso que a mídia deixou de ser intermediária entre o consumidor e a informação. Assuntos como esses foram abordados na palestra “O Futuro da Comunicação”, ministrada por Marcello Corrêa Petrelli para os estudantes de Jornalismo da Univali, na noite de 13 de agosto, no auditório da Farmácia, Campus Itajaí.

Palestra

Nota 5 para PP:

resultado de esforço e muito trabalho Gabriel Elias da Silva - 3º período de Jornalismo

A

lunos e professores de Publicidade e Propaganda da Univali estão agitados. Pudera, o curso obteve nota máxima na avaliação do MEC: 5. Foram dois dias em que coordenação e equipe do Cesiesa-CTL acompanhou a comissão, designada pelo INEP, pelos corredores da instituição. Mostraram documentos, salas de aula, laboratórios específicos de PP e até o currículo de cada professor atuante no centro. O esforço, que vem desde a implantação do curso, valeu a pena. O item máximo de avaliação – 5 – só é atribuído ao curso de Excelência. A nota 4 significa Muito Bom e o 3,

Bom. “Essa nota é um reconhecimento de que a gente está no caminho certo e está fazendo isso com muita qualidade”, reconhece a coordenadora do curso, Giovana Cristina Pavei. “Quando a gente montou o perfil do curso, levamos em conta as questões regionais”, explica a professora, referindo-se ao mercado publicitário na região em que a Universidade do Vale do Itajaí – Univali está inserida. Além dos documentos mostrados pela direção do centro, a comissão avaliadora ouviu os professores e os alunos. O mercado para o publicitário é amplo, conforme reconhece o acadêmico Adriano Luiz de Barba, do 4º período do curso:

“O profissional pode trabalhar em uma agência, numa rádio. Pode trabalhar como diretor de arte, redator. Aqui no curso a gente tem uma base praticamente de tudo: rádio, televisão, etc”. Para ele, a nota máxima foi merecida. O acadêmico Eduardo Abreu, também do 4º período, se sente privilegiado e realizado: “Sinto que eu também faço parte disso. Faço parte deste curso”.

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VII ” s i f r e P o d n e c e T “ e i Sér

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Itajaí, julho/agosto de 2015

os Santos

Por Olga Luísa d

Uma história de amor e desencanto com a indústria têxtil brusquense

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reflexo do próprio rosto na janela da sala leva Armin Paulo Fucks a uma viagem no tempo. Como num passe de mágica, ele tem outra vez 18 anos, idade marcada pela chegada da maioridade e com ela, da responsabilidade de se tornar o homem da casa. Ter de ir a São Paulo acompanhar o pai, que precisava se submeter a um tratamento médico, obrigou Paulinho a deixar de lado o caderno e a caneta, e a substituir as horas de estudo por momentos de cuidado e atenção ao patriarca da família. Porém, nem mesmo a dedicação e o esforço aliados aos remédios deram conta de um agressivo câncer de garganta e, de repente, restavam apenas Paulo, filho único, e a mãe. Logo as primeiras dificuldades surgiram. A falta de dinheiro e a necessidade de emprego obrigaram a mãe de Paulinho a ceder para o filho a vaga que ocupava na indústria têxtil. “Naquela época, década de 70, para entrar em uma indústria têxtil, alguém tinha que sair”, lembra. A indústria possuía forte caráter familiar e geralmente as funções dos pais eram herdadas pelos filhos. Geração após geração, cada sobrenome brusquense deixava seu registro na lista de funcionários. De manhã cedo, Paulinho pulava na bicicleta com uma bolsa nas costas para chegar antes das 5h na fábrica. Morador do bairro Bateas, pedalava mais de sete quilômetros debaixo de sol ou chuva em direção à empresa Buettner, no centro da cidade. Primeiro emprego, tudo se mostrava novo e diferente aos olhos de quem nunca havia entrado em uma fábrica. De todas as funções que Paulinho iria aprender, a única que não precisava ser ensinada era o respeito pelos superiores. Enquanto seu Leoquídeo Gonçalves ensinava as funções que o jovem aprendiz precisava para entender o que faria pelos próximos anos, o setor de tinturaria lhe serviu de escola. Um ano de carteira assinada e logo a primeira promoção, Paulinho foi transferido para a estamparia, na qual ficou responsável pela limpeza. Não demorou muito para que nos dez dias seguintes, os panos e as vassouras dessem lugar aos mecanismos

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da máquina de estampar. A chegada do equipamento automático, importado da Austria, tinha um importante motivo: a crescente demanda de exportação dos produtos para a Alemanha. Aumento nas vendas e no trabalho a ser feito. “Nós trabalhávamos domingo. Fazíamos horas extras das 5h às 18h, sem parar”, recorda. Promoção Passaram-se dez anos e um novo parque fabril estava sendo construído pela empresa. Transferida para a Rua Edgar Von Buettner, no bairro Bateas, a Buettner passaria a ser vizinha de Paulinho. “Da janela do meu quarto eu via o meu setor dentro da fábrica”, afirma. O trajeto agora nem precisava mais do meio de locomoção. Em apenas cinco minutos, a distância entre a porta de sua residência e os portões de entrada da empresa podia ser vencida a pé. Agora a Buettner não fazia só parte de seu cotidiano, mas principalmente de sua vida. O empenho e a competência proporcionaram a Paulinho chegar ao maior cargo dentro do setor. Responsável por todas as ações da estamparia, de estampador foi promovido a contramestre. Conhecia cada passo de todas as etapas que envolviam sua seção, desde a preparação das tintas até o produto pronto. Foram dez anos como contramestre. “Dez anos para se incomodar para a vida por

uns 30 anos mais ou menos”, ressalta. A responsabilidade era grande, e qualquer estrago cometido dentro do setor era irreparável. “Em uma estamparia, estampou não tem mais o que consertar. Estragou não tem mais o que fazer”, observa. Antes de se envolver praticamente 24 horas com a empresa, um antigo inimigo resolveu voltar e lhe surpreender novamente. A descoberta de que a esposa estava com câncer remeteu Paulinho aos tempos de adolescente, quando todos os dias vivia em função do pai. “Foi a pior época da minha vida”, relembra. Os dias se resumiam em trabalhar no primeiro turno até às 13h30min, voltar para casa e sem sequer tocar no prato de comida do almoço, entrar no carro e levar a esposa para um tratamento em Joinville. Foram 18 viagens durante dois anos. Demissão O ano de 1996 jamais seria esquecido por Paulinho. A crise na indústria têxtil em Brusque levou a uma reestruturação organizacional e produtiva nas três principais empresas da cidade. A queda na produção e a falta de recursos financeiros para o pagamento dos empregados obrigou a Buettner a pôr fim em cargos. Em meio a essas mudanças, estava o desligamento de Paulinho e outros dois contramestres. “Foi a época em que eu mais precisava da empresa, quando

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a doença da minha mulher estava mais violenta. Foi um baque pra mim”, salienta. Com a cabeça baixa, Paulinho relembra de sua entrega por inteiro à empresa nos pontos altos de produção da fábrica. A chegada de toalhas aveludadas no setor causou alvoroço entre os estampadores, poucos sabiam como trabalhar com aquele material, que exigia um processo mais complicado. A saída do produto era tão rápida que o setor de estamparia não dava conta de atender à demanda. Então, pensando em não perder a clientela, a Buettner providenciou que uma outra empresa terceirizada fizesse a estampa dos tecidos. Assim, a pedido da gerência, Paulinho foi instruir os funcionários da Lepper, em Joinville, sobre como o procedimento deveria ser feito. Domingo à tarde, momento de descanso para muitos, mas não para Paulinho. Às 16h, ele pegava o carro da empresa e saía sozinho em direção a Joinville. E com os tecidos e as tintas ia trabalhar em um local que nunca havia visto na vida. Foram quatro meses dessa rotina. Mas, os dias e noites de trabalho não foram levados em conta no fim de 1996, quando Paulinho foi exonerado do cargo e da empresa. Ainda não beneficiário da Previdência Social, utilizou o dinheiro da rescisão para continuar pagando os tributos ao INSS. Como ganhava insalubridade, entrou com o processo de aposentadoria especial e meses depois, em 1997, recebeu o deferimento de seu pedido. No mesmo ano, a companhia diária da esposa viria a lhe deixar. Com o

avanço do câncer, Paulinho viu novamente um ente querido ser levado por essa doença tão sofrida e sem cura. Volta por cima

Afastado por um ano da Buettner, recebeu uma proposta que o faria voltar a sua segunda casa. Dessa vez não mais no parque fabril da empresa, mas na “Cores e Tons”, em Guabiruba, como supervisor da Buettner na estampa de suas toalhas. Por se sentir solitário, voltou à fábrica, onde permaneceu por mais três meses na estamparia. “Como eu era uma pessoa sozinha, aquilo me ajudava a preencher minha cabeça”, enfatiza. Em 2007, decidiu se desligar de vez da Buettner e ingressar no serviço público. Ainda mergulhado em sua linha do tempo, Paulinho se remete com saudades refletidas nos olhos aos mais de trinta anos dedicados à empresa. Hoje, comenta triste sobre a situação da empresa. “Tomara que eles consigam dar a volta por cima”. Ainda sem entender o que realmente provocou a derrocada do empreendimento, Paulinho acredita que a má administração influenciou e muito nessa situação. “Não é possível, vender como vendiam, onde está o dinheiro?”, questiona. Mesmo tendo recebido todos os valores referentes às indenizações trabalhistas, a preocupação com os demais colegas que também foram dispensados é evidente durante a conversa. “Hoje em dia a rotatividade de funcionários é muito grande e em uma estamparia isso não pode. Não é uma coisa que qualquer um pode fazer”, frisa. O instinto de responsabilidade e dedicação foram seus principais motivadores. Saber que o bom andamento de um setor estava em suas mãos o fazia tentar realizar sempre da melhor forma possível o serviço. Embora afastado, gostaria de voltar a ver os ônibus cheios de gente chegando para trabalhar, de ouvir as sirenes das trocas de turno e aquela intensa movimentação de caminhões que iam buscar mercadoria. Atualmente sua filha reside em frente à Buettner, e todos os dias está em contato com a empresa. “Aquilo lá foi a minha vida. A minha vida profissional foi só lá, tenho só um registro de indústria têxtil”, conclui Paulinho, esperançoso em ainda ter revivida não só sua história, mas a de tantos outros brusquenses que teceram seus destinos em meio às linhas da indústria têxtil.


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