Cobaia | #127 | 2014

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Cobaia

JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI Itajaí, março de 2014 Edição 127 Distribuição gratuita

Neste número, caderno especial traz ensaios fotográficos produzidos por acadêmicos na disciplina de Fotojornalismo. Os temas são variados e convidam a refletir sobre o cotidiano

Abandono, abrigo e animais; Descartáveis para uns, sustento para outros; Uma tarde no templo; Cortinas Fechadas É como se intitulam os quatro fotodocumentários apresentados entre as páginas 07 e 15. Mês que vem tem mais

Saúde

Saúde

Cidades

Síndrome do Pânico

Futuro protegido

Travessia arriscada

Conheça as verdades e mitos sobre esta doença que se torna cada vez mais discutida

A vacina que previne o câncer de colo do útero já está disponível nos postos de saúde

Precariedade na sinalização de estradas perto de escolas em Gaspar chama atenção Ana Carolina Bernardes

Boas lembranças de travessuras da infância

Divulgação

Banco de Imagens

Conto

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Editorial

Extra

Percurso e percalço

Por que ficamos tontos?

Jane Cardozo da Silveira*

O aparelho auditivo não é responsável só pela audição, mas também pelo equilíbrio. Localizado dentro do ouvido, o sistema vestibular juntamente com a visão é quem nos mantêm equilibrados, informando o cérebro sobre o posicionamento do corpo e os movimentos que realizamos. No interior do aparelho vestibular existem células sensoriais que enviam ao cérebro informações sobre a posição do corpo. Essas células estão em contato com um líquido chamado de perilinfa e endolinfa que se movimentam à medida que o corpo se move. Quando o corpo se movimenta, os líquidos nos canais se movimentam também, enviando para o cérebro informações daquele movimento. Mas então por que ficamos tontos se o cérebro é avisado de tudo o que está acontecendo? O que ocorre é um atraso na informação. Se nos movimentamos bruscamente e paramos repentinamente, a informação que nosso cérebro recebe não confere com o que está ocorrendo no momento (estamos parados), e por isso ficamos tontos. A tontura não é uma doença, mas se trata de um sintoma apresentado em várias delas. Ela indica que algo em nosso organismo não está funcionando adequadamente. Na maioria dos casos a tontura está associada a doenças labirínticas, no entanto ela também pode ser causada por outras alterações como: infecções bacterianas ou virais, doenças do sistema nervoso, má alimentação, traumatismos no crânio, anemias, doenças psiquiátricas, entre outras. Por isso devemos realizar a avaliação com um profissional especializado (médico otorrinolaringologista ou fonoaudiólogo), a fim de detectar as reais causas e, por fim, o melhor tratamento.

tram-se nas páginas 04, 05 e 06. Graças a todos esses colaboradoresconseguimos apresentar a você a primeira edição do ano em tempo

Muitas atividades

realizadas em sala de aula a pedido dos professores

rendem matérias interessantes

para o Cobaia.

Basta encaminhálas ao endereço

cobaia@univali.br e submetê-las ao processo de edição, que pode – e deve ! – ser acompanhado pelo autor do texto

recorde. Nem mesmo o Carnaval tardio, em pleno mês de março, foi capaz de interferir no dead-line. E por falar nele, esse implicante que funga sem parar em nossos cangotes, aí vai o cronograma de baixamento do Cobaia em 2014: 04/04, 02/05, 06/06, 08/08, 05/09, 03/10 e 07/11. Anote e pense pra valer na possibilidade de tirar os textos da gaveta (ou melhor, dos arquivos do computador pessoal) e compartilhá-los. Às vezes, nem é preciso recorrer a trabalhos extras: muitas atividades realizadas em sala de aula a pedido dos professores rendem matérias interessantes para o Cobaia. Basta encaminhá-las ao endereço cobaia@univali.br e submetê-las ao processo de edição, que pode – e deve ! – ser acompanhado pelo autor do texto. Nossa redação funciona na Agência Integrada de Comunicação IN – térreo do bloco C3 – e está aberta de segunda a sexta à tarde. Visitantes e voluntários podem se juntar a nós na tarefa de elaborar mensalmente este jornal-laboratório que agora em 2014 atinge a maioridade: 21 anos de percurso, alguns percalços e muitas lições. Boa leitura!

Acadêmicas Bianca Kleis e Sofia Dalila Pierini, 8º período, Curso de Fonoaudiologia da UNIVALI. Orientação: prof.ª MSc. Débora Frizzo Pagnossin

Banco de Imagens

Novidades na volta às aulas e na retomada das impressões do Cobaia. Publicamos nesta primeira edição de 2014 os ensaios fotográficos feitos pelo 4˚período sob a orientação do professor Eduardo Gomes. Intitulados “Abandono, abrigo e animais”, “Descartáveis para uns; sustento para outros”, “Uma tarde no templo” e “Cortinas fechadas”, os trabalhos compõem um caderno especial nas páginas 07 a 15 e incluem como extra, na página 16, o perfil do comunicador Graciliano Rodrigues. São os primeiros de uma série que, esperamos, torne-se frequente na trajetória deste nosso jornal-laboratório, cujas páginas estão abertas para acolher não só a produção técnica dos acadêmicos de Jornalismo, mas também as criações de estudantes de outros cursos. Charges, tiras de quadrinhos, artigos, crônicas, contos são muito bem vindos, a exemplo do que se estampa na página 03, de autoria de Fernando Moraes, “cria” da casa que já tem livro publicado. Também colaboram nesta edição acadêmicos da disciplina Reportagem Especial, turma de 2013-2. Matérias assinadas por eles encon-

Jane Cardozo da Silveira *Editora - Reg. Prof. SC 00187/JP

Fica esperto!

Espaço do Leitor

Congresso na Univali

Olhares Múltiplos

Os rumos da profissão e do Jornalismo no Brasil estiveram na pauta do 7˚ Congresso dos Jornalistas de Santa Catarina, que reuniu sindicalistas e profissionais da área no campus da Univali em Itajaí neste mês de março. Os 50 anos do golpe militar e os registros de agressão contra jornalistas em todo o país também pontuaram as discussões. A questão do diploma foi outro ponto em debate. Apesar da vitória no Senado, a obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo ainda não foi reconquistada. Por isso, a plenária do 7º Congresso recomendou aos profissionais catarinenses que adotem uma atitude mais incisiva em defesa da aprovação da PEC do Diploma também na Câmara dos Deputados. Realizado pelo Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina, sob a presidência de Valmor Fritsche, o 7º Congresso da categoria contou com a participação de professores e estudantes de Jornalismo, entre os quais o coordenador do Curso na Univali, Carlos Praxedes.

Olhares Múltiplos está de volta! A edição de 2014 está programada para os dias 27, 28 e 29 de maio. O evento é promovido pela Univali e realizado pelo Centro de Ciências Sociais Aplicadas – Comunicação, Turismo e Lazer (Ceciesa-CTL). A quarta edição do evento tem o objetivo de apresentar temas e experiências profissionais do mercado nacional, direcionadas à inovação e à criatividade. Serão mais de duzentas atividades simultâneas nos campi da Univali em Itajaí, Balneário Camboriú e Florianópolis. A programação é voltada para os acadêmicos e profissionais das áreas de comunicação, turismo, design e lazer, e está aberta à comunidade e também a acadêmicos de outras instituições de ensino. Inscrições só em maio. Fique de olho!

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Cobaia

Tem algum assunto que você gostaria de ler nas próximas edições? Conte-nos! E-mail: cobaia@univali.br

Expediente JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI IN - Agência Integrada de Comunicação Itajaí, novembro e dezembro de 2013. Distribuição gratuita EDIÇÃO Jane Cardozo da Silveira Reg. Prof. SC 00187/JP PROJETO GRÁFICO Raquel Cruz DIAGRAMAÇÃO Estagiária Bárbara Porto Marcelino TIRAGEM 2 mil exemplares DISTRIBUIÇÃO Nacional

Itajaí, março de 2014


Conto

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ra um sábado de sol. Passava da uma hora da tarde quando Alex, Sid e Ademir me chamaram em frente de casa. - E aí? – perguntei, me aproximando do portão. - Vamos até as pedreiras pegar goiaba? – disse Alex. - O Junior e o Jorge já estão vindo aí. Andamos por meia hora sob um forte sol queimando nossas cabeças. Até chegarmos às pedreiras. Passamos por uma cerca de ferro. Subimos até encontrarmos uma grande caixa d’água feita de cimento. Alguns garotos tomavam banho lá dentro, mas naquele sábado não havia ninguém. Enquanto olhávamos em volta, Alex pegou um pedaço de tijolo e desenhou na caixa a cabeça de um diabo com orelhas pontudas e cavanhaque comprido em forma de V. Seguimos e antes de catarmos as goiabas, fomos nos divertir, escorregando em um barranco, usando um pedaço de papelão. As goiabas ficavam do outro lado. O único jeito de chegar era descer um paredão de pedra. - Ei, lembrei uma coisa – disse Alex, com a boca cheia de goiaba. - Na rua da fábrica de papelão, encontramos três baús de caminhões. Um deles está aberto. Vamos lá? Empolgados com o que íamos encontrar e, sem demorar, seguimos para o que era um pequeno galpão velho de madeira. De um lado da rua ficava a fabrica de papelão e do outro lado um vigia tomava conta de outra fábrica. Assim que surgi-

A Picape Branca Fernando Moraes

mos pela calçada, ele nos alertou para não passarmos pelo canteiro. - Vamos passar, Jorge? – provocou Ademir. - Tô dentro – respondeu, aceitando a provocação. Mas Junior o alertou e ele acabou desistindo. Ademir não deu a mínima, passou ligeiro pelo canteiro e saiu correndo. Um “Ei” surgiu, vindo da guarita. Junior e Alex, que estavam perto de Ademir, também saíram correndo em disparada pela rua adentro. Jorge, Sid e eu saímos correndo para o outro lado. Sid até colocou os chinelos nas mãos, para correr mais rápido. - Fala pro teu amigo que da próxima vez dou um tiro na perna dele – resmungou o vigia, voltando para a guarita. Foi quando vimos em sua cintura, um revólver calibre 38. - Corre em ziguezague, corre em ziguezague, eu disse pra eles – falou Alex, ofegante. - Assim, se ele atirasse, ficava difícil de acertar – concluiu, com uma risada. Mais à frente estava o velho galpão. - Explodiram uma das portas? – falou Sid. Uma das portas do baú estava arrancada e a espuma usada para vedar estava preta. Ademir sentou em alguns troncos e comeu uma goiaba. - Se alguém aparecer vai achar que foi a gente que fez isso – falou Junior ao entrar no baú. Lá dentro não percebemos, mas, minutos depois uma picape parou na rua em frente ao galpão. - Tem uma picape aqui na frente - alertou Ademir ainda

comendo a goiaba. Eu acabara de subir. Voltei para a porta de trás, colocando a cabeça para fora. Em seguida vi Ademir sair correndo. Pulei para fora e percebi um cara vindo ligeiro em minha direção. - Tem um cara aqui! – berrou um de nós. Saímos correndo para os fundos do galpão, indo parar em um terreno para plantação. - CORREEE!!! – gritou Alex, que surgiu a toda, passando ao meu lado. Ele girou o corpo na direção do homem, fazendo um gesto como se estivesse segurando uma metralhadora. - Corre, corre, pega a bazuca, pega a bazuca... tátatá. Passei por ele e o escutei fazendo um barulho de granada explodindo. Jorge ainda corria. Tinha machucado a sola do pé naquela semana e estava com dificuldades para andar. Uma pedra foi jogada na direção de seus pés, mas por sorte só passou perto. - Agora estamos ferrados – disse Junior -, essa terra é do seu Gomez... se ele pegar a gente estamos fodidos. Seguimos abaixados, nos escondendo atrás das moitas. Alex achava que estava na guerra e pulou para dentro de uma vala que tinha ao lado. - Se abaixa – disse andando como um soldado fugindo do inimigo. Mais à frente outro terreno dava para a rua. Ficamos esperando para ver se a picape aparecia. - Vamos! – falou Ademir, querendo sair dali. De repente a picape branca apareceu lentamente na rua. Ferrados, nós seis saímos correndo para dentro da planta-

ção de bananas que tinha do outro lado da vala. - E agora? – falou Junior. - O cara deve achar que fomos nós que detonamos a porta do baú. – disse Ademir. Estávamos cagando de medo, pensando nas coisas mais doidas, caso o homem na picape conseguisse nos pegar, falando e ouvindo o que cada um dizia. Por fim comentei sobre algo: - Tenho que entregar o jogo que aluguei. Blackthoner. - Esse jogo é doido! – comentaram Jr. e Jorge. - São 16:15 – falou Alex. Vamos esperar uns quinze minutos e tentamos achar uma saída. - Vamos voltar para pegar as goiabas – falou Ademir. - Tá doido? Quer voltar? Então volta tu. – respondeu Jorge. Andamos por entre os pés de bananeira. De longe, Ademir viu um grande portão de madeira, que tinha saída para a rua. Na verdade, se parecia mais com uma porteira do que com um simples portão. Sid e Alex saíram a toda, na direção dele, eu saí correndo bem em seus encalços. De repente o improvável aconteceu. Sid e Alex já estavam tentando pular quando a picape parou a nossa frente. Eu parecia estar em outro mundo. Encarei os dois homens que estavam dentro. E só depois de ouvir um “CORREEE!!!” e ver Alex e Sid correrem, foi que saí em disparada em meio aos pés de bananeira. Nos encontramos minutos depois. Uma mistura de tensão e medo em ver que queriam mesmo nos pegar.

- Tua tia mora aqui perto – disse Sid para Alex. - Vamos pra lá e esperamos mais um tempo. A casa ficava depois das cebolinhas e hortaliças do seu Gomez. Tivemos que passar abaixados – Alex e Sid deviam estar iguais soldados, rastejando para ficarem escondidos. Por sorte a tia do Alex estava em casa. Assim que entramos no quintal, Alex chamou sua priminha e pediu para que ela fosse até a frente da casa, ver se tinha alguma picape branca passando pela rua. Ela voltou dizendo que viu um carro assim passar. O sol já estava sumindo. A priminha foi mais algumas vezes verificar se a picape ainda passava pela rua. Por sorte havia sumido. - Me dá a camisa. Vira do avesso – falou Alex para Sid. Eles trocaram as camisetas e em seguida fomos embora. Eu também virei a minha do avesso. Junior, Ademir e Jorge ficaram com as suas. Enquanto andávamos pela rua fazíamos brincadeiras com a situação: - Já pensou se a picape para agora bem na nossa frente? – falou Jorge. Todos caímos na gargalhada. Ademir foi o primeiro a seguir para casa. - Cuidado com a picape. – dissemos antes de o ver sair correndo. Chegamos à esquina da rua onde todos moravam. Jr. e Jorge seguiram para casa. Sid e Alex me acompanharam até o portão da minha. No dia seguinte teríamos uma partida de futebol... e essa história para sempre em nossas lembranças.

Caio Vilela

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Saúde

O terror do beco sem saída Síndrome do Pânico: um transtorno repleto de mitos e histórias de medo, mas que pode ser tratado Thábata Mattar Ferraz

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Thábata Mattar Ferraz

edo, tontura, falta de ar, taquicardia, suor excessivo. A sensação é de catástrofe iminente. Você está andando pela rua, quando é tomado por esses sintomas. Corre para a emergência de um hospital e os médicos afirmam, categoricamente, que não há nada de errado. Parece cena de filme de terror, mas essa situação foi vivida há oito anos pela empresária Juliana Costa dos Anjos, hoje com 29 anos. “Uma sensação estranha tomou conta de mim. Era como se eu não estivesse dentro do meu corpo e diversos pensamentos inundaram minha mente. O pavor de morrer ali mesmo, no meio da rua, foi imenso”, relembra. Uma ansiedade patológica, que se torna cada vez mais conhecida de quem vive no mundo moderno: a Síndrome do Pânico. Um mal-estar geral afeta a pessoa que está passando pela crise, deixando-a com sensação de que pode morrer ou enlouquecer nos minutos seguintes. Tudo se inicia de forma brusca, alcançando intensidade máxima em até cinco minutos. O inimigo dos portadores desta síndrome está dentro deles mesmos. “A ansiedade é um estado emocional natural, onde a caracterização do sentimento de querer antecipar o futuro, seja para evitar perigos ou controlar danos, é normal. A característica se torna problemática a partir do momento que a tal ansiedade começa a causar sofrimento. A preocupação culmina em crises, o que torna a A síndrome do pânico atinge de 2% a 4% da população mundial pessoa ainda mais ansiosa”, explica a psicóloga Eliza Chaves. No pânico, a pessoa fica an- da Classificação Internacional acontece no começo da vida siosa em relação ao que sente de Doenças (CID 10), na classe adulta, quando as situações de em seu corpo, diferente das fo- dos Transtornos Mentais. Apare- estresse se tornam mais comuns. bias, quando a ansiedade é em ce no Diagnostic and Statistical “Pressão no trabalho, no casarelação a um objeto exterior. of Mental Disorders, 4rd Edition mento ou na família, em que a “Esta é uma das características Revised, da Associação America- pessoa se sente desamparada, é centrais do pânico, os perigos na de Psiquiatria. Pode ser clas- quando há maior incidência dos vêm de dentro, vêm do próprio sificada sendo com ou sem ago- casos”, ressalta a psicóloga Elicorpo”, afirma o psicoterapeuta, rafobia, um estado de ansiedade za, que complementa: “É claro especialista em pânico, Arthur relacionado a estar em locais ou que um único episódio de crise Scarpato. Numa explicação de situações onde escapar ou obter de ansiedade não caracteriza a fácil entendimento, é possível ajuda poderia ser difícil, caso a síndrome do pânico, mas crises comparar com um assalto: quan- pessoa tivesse um ataque de pâ- repetidas levam ao desenvolvido um bandido se aproxima, por nico. Pode incluir situações como mento do transtorno, que é de exemplo, o mecanismo de defesa estar sozinho, no meio de mul- duas a quatro vezes mais fredo corpo entra em alerta e libera tidão, preso no trânsito, dentro quente nas mulheres, mas tamsubstâncias que alteram o orga- do metrô, num shopping, entre bém pode ocorrer com sinais senismo, fazendo com que possa outras. As pessoas que desenvol- melhantes nos homens”. Uma situação comum é que lutar ou sofrer menos, caso seja vem pânico com agorafobia geferido. Assim que o perigo se vai, ralmente se sentem mais seguras os pacientes passem por vários tudo volta ao normal. E essa é a com a companhia de alguém de médicos, das mais diversas esgrande diferença de quem sofre confiança e acabam elegendo pecialidades, em busca de uma com a Síndrome do Pânico, pois alguém como companhia prefe- resposta e do tratamento para tamanha ansiedade. “Nem semesse mesmo mecanismo é acio- rencial. Segundo dados do Ministério pre há aceitação de que tantos nado, só que não há perigo real, o que deixa a mente e o corpo da Saúde, no Brasil, 1% da po- sintomas físicos sejam proveconfusos, aumentando a adre- pulação tem pelo menos um ata- nientes de problemas emocionalina e causando as sensações que de pânico por ano e 5% dos nais“, alerta a psicóloga. Porém, adultos relatam já terem tido um é preciso ter consciência de que características. O Transtorno do Pânico é ataque de pânico na vida, sen- o transtorno tem tratamento e, reconhecido pela Organização do 1% deles acompanhado pela quanto mais precoce o diagnóstico, maiores são as chances de Mundial de Saúde constando agorafobia. Essa síndrome geralmente recuperação.

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Mas, de onde vem? Pessoas ansiosas são mais suscetíveis ao problema do que outras, o que envolve fatores genéticos e também os aprendidos na convivência familiar, escolar e social. Entretanto, muitas pessoas desenvolvem este transtorno mesmo sem ter nenhum antecedente familiar. As primeiras crises acabam tornando-se uma experiência traumática, ficando registrada num circuito específico de memória emocional, que passa a disparar a mesma reação automaticamente, sem a participação da consciência. Sempre que aparecem algumas reações parecidas no corpo, inicia-se uma nova crise de pânico. O psicoterapeuta Arthur Scarpato explica que o cérebro produz substâncias chamadas neurotransmissores, que são responsáveis pela comunicação que ocorre entre os neurônios. Estas comunicações formam mensagens que irão determinar a execução de todas as atividades físicas e mentais de nosso corpo. “Um desequilíbrio na produção destes neurotransmissores pode levar algumas partes do cérebro a transmitir informações e comandos incorretos. Isto é exatamente o que ocorre em uma crise de pânico: existe uma informação incorreta alertando e preparando o organismo para uma ameaça ou perigo que na realidade não existe”, ressalta ele. Pesquisadores dos institutos de Psiquiatria e de Biofísica Carlos Chagas Filho, ambos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), demonstraram que o gás carbônico (CO2) expelido durante a respiração pode ser uma ferramenta para o diagnóstico e o tratamento do transtorno do pânico. O estudo inclui um exame de fácil e rápida aplicação, onde o paciente inspira, por poucos segundos, uma mistura gasosa com CO2 e O2 (oxigênio), sob acompanhamento médico. Walter Zin, diretor do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, explica que o teste não provoca alterações em indivíduos que não têm o transtorno do pânico, mas os pacientes que apresentam o mal se referem a sintomas parecidos àqueles vivenciados durante o ataque de pânico. A eficácia do teste fica entre 80% e 90%.

Como tratar Os profissionais de saúde que acompanham o tratamento do transtorno do pânico são psiquiatras, psicólogos, terapeutas ocupacionais e também assistentes sociais. Para que possibilidades de outras doenças sejam descartadas, muitos exames precisam ser feitos, o que gera ainda mais ansiedade ao paciente. Cada caso é especial, mas geralmente a pessoa é tratada com sessões de psicoterapia e medicamentos. “As melhoras acontecem a partir da segunda semana, mas geralmente leva até um ano para se recuperar, sendo que raramente há cura espontânea”, explica o psicoterapeuta Arthur Scarpato. Caso não seja feito o tratamento adequado, podem ocorrer complicações ainda maiores, como depressão, desenvolvimento de outros transtornos de ansiedade, e abuso de álcool e sedativos. “O uso de uma nova técnica denominada estimulação magnética transcraniana repetitiva também pode ser útil”, afirma Scarpato. Durante uma crise, a dica do psicoterapeuta é uma técnica simples, que pode ser utilizada para diminuir o mal estar: inspirar o ar pelo nariz até que se infle totalmente a caixa torácica, prendê-lo por dois a quatro segundos, e soltar o ar bem devagar pela boca. O exercício pode ser repetido por algumas vezes até que se obtenha a melhora da sensação de dor ou desconforto no peito. Tratamentos à base de medicamentos, como antidepressivos, devem sempre ser acompanhados por um médico especialista.

Números – Organização Mundial da Saúde (OMS) •Depressão e ansiedade são responsáveis pela metade (740 milhões de pessoas) das doenças mentais existentes no mundo; •A depressão é apontada pela OMS como a quinta maior questão de saúde pública e até 2020 deverá estar em segundo lugar; •10% da população mundial já teve depressão, 60% não faz tratamento e apenas 50% é diagnosticada corretamente.

Itajaí, março de 2014


Saúde

SUS distribui vacina que previne o HPV Intenção da rede pública de saúde é reduzir o risco do câncer de colo do útero entre as novas gerações Júlia Marasciulo

ção não só para esta, mas como para outras doenças relacionadas. “A partir da hora que nos é oferecida de alguma forma a cura através da prevenção ou vacina, temos que aderir”, recomenda. A ginecologista Célia Zannin da Rosa detalha sobre o tema: “O vírus do papiloma humano (HPV) é a doença sexualmente transmissível mais comum entre

A partir da hora

que nos é oferecida de alguma forma a cura através da

prevenção ou vacina, temos que aderir

homens e mulheres. Está relacionado ao aparecimento de verrugas genitais e ao câncer do colo do útero. É considerada a principal doença sexualmente transmissível. A transmissão ocorre principalmente na relação sexual e por contato direto com a pele infectada e ao compartilhar toalhas e roupas íntimas usadas. Existem mais de 100 tipos diferentes de HPV e cerca de 15 estão associados ao desenvolvimento do câncer genital (colo

do útero, vulva, vagina e pênis). O HPV pode se manifestar como verrugas genitais ou lesões que se não forem tratadas corretamente podem progredir para o câncer. Número elevado de gestações, uso de anticoncepcionais orais e o tabagismo são fatores de risco que devem ser observados. Como formas de prevenção, a camisinha ajuda a diminuir o risco de contaminação, mas o vírus também se aloja em locais que o preservativo não cobre, como a base do pênis. Portanto, reduzir o número de parceiros é uma forma eficaz de combater o vírus, pois quanto maior o número de parceiros, maior o risco de contrair/transmitir DST’s. Assim como o simples ato de higienizar objetos de uso comum, como vaso sanitário, toalhas, etc.” Exames preventivos como o Papanicolau são capazes de rastrear lesões iniciais. Nesse caso, as chances de cura do câncer são de 100%. Este exame toda mulher que tem ou já teve vida sexual ativa deve fazer. O preventivo periódico é simples, dura apenas um minuto. É feita uma leve raspagem das células do útero. Para a realização do exame, o médico coloca um aparelhinho na entrada da vagina, pode causar desconforto, mas não dor. Em Balneário Camboriú estes exames são realizados em todas as unidades básicas e no NAM (Nucleo de Atendimento à Mulher). A vacinação gratuita pela rede pública é de extrema importância. Neste momento, educação e informação adequada sobre o HPV é fundamental para que se tenha boa adesão ao programa de vacinação.

Divulgação: assessoria do Ministério da Saúde

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pós décadas lutando por direitos, inclusive na área da saúde, a vacina que previne o papilomavírus humano (HPV) é uma grande conquista para as mulheres. O HPV é uma das principais causas do câncer de colo do útero, o terceiro tipo mais frequente entre as mulheres e a 4ª maior causa de óbitos femininos. O Sistema Único de Saúde - SUS começa a oferecer agora a vacina que previne o HPV. Segundo o calendário do Ministério da Saúde, a vacina está disponível pelo SUS desde 10 de março. Neste primeiro momento o público alvo são meninas entre 11 a 13 anos de idade que ainda não iniciaram a vida sexual e, portanto, a medida tem o objetivo de atingir principalmente adolescentes que não tiveram contato com o vírus para protegê-las contra o câncer. Para ter acesso à vacina, é preciso dirigir-se às Unidades Básicas de Saúde em cada município. Os meios de comunicação têm divulgado campanhas sobre a novidade para estimular a adesão do público-alvo. É extremamente importante e essencial a participação dos pais, pois eles devem autorizar que as filhas sejam vacinadas. Nely Regina Pacheco, mãe de Mariê Pacheco, de 10 anos, é pedagoga e está bem informada sobre a doença. Sabe do que se trata, quais as complicações e métodos preventivos. Nely obteve essas informações através da mídia e de sua médica. Mas não sabia que a vacina logo estaria disponível pela rede pública de saúde. Acha muito importante a vacinação e tem o interesse de vacinar sua filha pensando na saúde e como forma de preven-

Divulgação

A vacina distribuída pelo SUS é a quadrivalente, recomendada pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), e confere proteção contra quatro subtipos do vírus

Itajaí, março de 2014

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Cidades

Em Gaspar, próximo a escolas municipais, alunos se arriscam para cruzar as vias e situação preocupa Ana Carolina Bernardes

grande movimentação de estudantes nos horários de entrada e saída das escolas causa preocupação entre pais, professores e funcionários das instituições de ensino. O intenso fluxo de veículos e de crianças nesses locais eleva os riscos de algum acidente e reforça a necessidade de sinalização e faixas de pedestre em frente e nas proximidades das escolas. Será que as principais escolas municipais de Gaspar contam com faixas de pedestre, lombadas e sinalização vertical suficientes para atender à grande demanda de alunos? Muitos pais acreditam que a segurança poderia ser mais reforçada. “Por mais que a gente more a poucos metros da escola, em hipótese alguma deixo minha filha ir ou voltar para casa sozinha. Ela, assim como várias outras crianças, são expostas a muitos riscos ao atravessarem as vias, que nem sempre são seguras”, opina Jussara Pamplona, mãe de uma criança de 9 anos. A filha da moradora do bairro Coloninha estuda na Escola Dolores Krauss, uma das 15 escolas municipais existentes em Gaspar. Em frente à instituição de ensino, não há nenhuma faixa de pedestre, apenas duas lombadas físicas. A situação é a mesma na Escola Belchior, que ainda não é servida por faixa de pedestre. “É impossível controlar um grande número de crianças. Por isso, é muito importante que as vias ofereçam segurança a elas, que são tão frágeis. Com certeza, a situação na maioria dos educandários poderia melhorar”, opina Margarete Mitterstein, que tem dois filhos pequenos matriculados em escolas municipais.

Entorno das escolas A Escola Vitório Anacleto Cardoso, no bairro Porto Arraial, dispõe de três faixas de pedestre em suas proximidades. Além disso, há uma lombada física perto do local. A faixa de segurança mais próxima da saída do educandário está em boas condições, porém as outras duas, que ficam a alguns metros, próximo a pontos de ônibus, apresentam-se apagadas. A escola conta com cerca de 530 alunos. Segundo a coordenadora geral da Vitório Anacleto Cardoso, Andreia Zimmermann, os pais nunca reclamaram da falta de segurança para ir ou voltar da escola. “Hoje, acredito que temos faixas de segurança suficientes”, ressalta. Já a situação da Escola Mário Pederneiras, no bairro Lagoa, é um pouco diferente. Em frente à instituição de ensino estão instaladas uma faixa de pedestre e uma faixa elevada. Ambas em boas condições. Além disso, há várias placas sinalizando a área. “Me sinto segura ao trazer minha filha à escola, pois sei que ela não corre risco algum ao sair da aula. É uma área segura”, afirma Maria Roberta Deschamps, mãe de uma aluna de 8 anos. A Escola de Educação Básica Ervino Venturi, localizada no bairro Santa Terezinha, também está bem sinalizada. Para a segurança dos alunos, a diretora Sônia Maria Schmitt afirma que há apenas uma faixa de pedestre logo em frente à saída da escola, que está em boas condições. Uma lombada física também estava prometida para o mesmo local. “Fizemos o pedido há alguns meses”, diz a diretora da instituição que possui mais de 450

Fotos: Ana Carolina Bernardes

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Áreas escolares exigem cuidados com trânsito

Proximidades da Escola Vitório Anacleto Cardoso, onde as faixas de pedestre estão apagadas

alunos. A Escola Norma Mônica Sabel, na Margem Esquerda, onde também está instalada a Escola Angélica da Costa, oferece aos estudantes mais segurança ao sair da escola. De acordo com a diretora, Sandra Schmitt, próximo à instituição há duas lombadas físicas. Além disso, ela destaca que em frente à saída foi instalada uma faixa de pedestre recentemente, porém está um pouco apagada e precisa de manutenção. “Temos mais de 1 mil alunos e por isso precisamos que a segurança seja reforçada. Também contamos com um funcionário responsável por ficar em frente aos portões da escola nos horários de entrada e saída”. Próximo à Escola Aninha Pamplona Rosa, no Gaspar

Via em frente à rua Ervino Venturi está visível, mas é a única no local até o momento

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Mirim, não há nenhuma faixa de pedestre, travessia elevada ou lombada física. Isto ocorre, segundo a diretora Sônia Schramm, pelo fato de a instituição de ensino ficar em uma rua de barro. “Infelizmente, não é possível instalar uma faixa em nossa rua. Já procuramos outras alternativas com a Diretoria de Trânsito, de qualquer maneira, sempre pedimos”.

Manutenção As faixas de pedestre são de responsabilidade da Diretoria de Trânsito, Ditran, de Gaspar. De acordo com o diretor de Trânsito, Jackson dos Santos, é obrigatório que haja, pelo menos, uma faixa de pedestre em frente às saídas de todas as escolas. Caso o mo-

vimento seja intenso, poderá ser feita a solicitação de outras faixas. A manutenção delas é realizada conforme a necessidade, mas, segundo Jackson, as faixas só precisam ser pintadas novamente passados mais de seis meses. “Isto vai depender muito do fluxo de veículos sobre ela”, destaca. Neste ano, Jackson informa que a pintura de todas as faixas no município já estava agendada. A prioridade é para as que ficam em frente às escolas e, em seguida, em outros pontos da cidade.Em relação às instituições de ensino localizadas em ruas sem pavimentação, o diretor de Trânsito destaca a importância da sinalização vertical – placas –, já que não há possibilidade de instalar faixas.

Próximo à Escola Mário Pederneiras, há faixas e lombadas físicas seguras para os alunos Cobaia

Itajaí, março de 2014


Fotojornalismo

Abandono, abrigo e animais Descartáveis para uns, sustento para outros Uma tarde no templo Cortinas Fechadas

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sta edição, além de ser a primeira do semestre, vem acompanhada de um caderno especial: sete páginas dedicadas a três ensaios fotográficos. O trabalho foi realizado no fim de 2013 pelos alunos do quarto período de Jornalismo sob o olhar atento do professor Eduardo Gomes. A proposta incluiu a formação de grupos, os “coletivos“, que saíram às ruas com o objetivo de compor narrativas por meio de imagens. A imagem, em fotojornalismo, equivale às palavras, tem a mesma intenção que elas, a de entregar ao público informação de maneira clara, objetiva e repleta de significado. Nas próximas páginas, você, leitor, conhecerá histórias e personagens através das lentes de quem se propõe a descortinar o mundo, revelando-o em nuances e ângulos captados a partir da sensibilidade tão fundamental para futuros repórteres. E o trabalho não se encerra nesta edição: no mês que vem, outros coletivos apresentam seus experimentos e vivências no papel de repórteres fotográficos. Acompanhe. Confira.

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Abandono, abri

De todas as carências, a de amor é a pior. Conheça a história d

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rtigo 32 da Lei Federal nº. 9.605 de 1998, que trata de crimes ambientais: “É domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos”. O coletivo Frame4fun traz a você o fotodocumentário Abandono, abrigo e a região do Vale do Itajaí. Em duas semanas de trabalho, o grupo se dedicou a retratar os tristes, fizeram dos cinco acadêmicos uma nova família. O Brasil possui a segunda maior população canina do mundo, com mais de 30 milhõe de Estimação. Tem aqueles que ignoram. E existem ainda aqueles que nem os enxergam. In problemas ambientais de higiene nas pequenas e grandes cidades. Fato que está cada ve Conforme pesquisa feita nos EUA em 12 abrigos, envolvendo 1.984 cães e 1.286 ga No verão (período de férias) o abandono cresce 1.000% conforme a Associação Protetora Contudo, existe quem se importa e o coletivo Frame4fun foi atrás. Ivania Rejane Moder era voluntária em uma ONG. Um dia, ela decidiu abandonar a trados, mas o tempo passou e hoje, aos 56 anos, ela abriga na própria casa mais de 140 que ela pensou poder contar com uma ajuda da prefeitura, que se comprometeu a mant voluntários da cidade em que mora, Itapema. Assim ela consegue garantir a seus hóspede A saúde dos animais é controlada. Dentre eles, alguns têm problemas dentários, hepatit esforço extra, visto que ela mesma tem uma saúde debilitada – varizes que não param de d que a ajudam na medida do possível. Ivania atende a denúncias feitas pela comunidade, afinal, se há moradores que aband Com tom amargurado e lágrimas nos olhos, Ivania conta que em certo dia recebeu u presenciou a cena que logo a levou a chamar um veterinário. Foi constatado que a gatinh sobreviveu. Fato que ficou marcado até hoje. Com a saúde debilitada que impede o exercício de determinadas atividades, a cuidado me imagino sem eles”, ou seja, sem a Josefina, a Sara, o Xadrez, o Válter, a Sofia, a Milu Ivania Rejane Moder é ainda dona de casa, mãe e esposa. Ela ama e diz ser amada. (rindo) sobre o marido. Está ali uma pessoa com um bom coração, assim como outras tan É o caso de Rogério da Silva. Com a letra “s” puxada para o “x” Rogério fala, aos 48 a e vive. É lá que há 15 anos, junto com a mulher, Solange, acolhe de janeiro a janeiro cãe Com a ajuda de veterinários e do curso de medicina veterinária da Universidade Reg animais e os alimentam com 130 quilos de ração por semana. Ele conta que já presenciou pessoas jogando os cachorros em seu terreno, sem dó, co embora ouvi um choro e fui correndo lá fora. Quando cheguei tinha uma cachorra no meio simplesmente descartam o animal no terreno e vão embora. “Uma noite, às 23 horas, jog problemas devido à falta de estrutura. O morador de Gaspar dá uma lição de responsabilidade afirmando, com rigor, que a o animal vai ser de 15 a 20 anos, ou seja, trata-se de uma relação longa que deve ser de não caiu na real ainda”, comenta sobre o amor dos cachorros pelos seus donos. Rogério demonstra o amor que sente pelos cachorros e os cachorros demonstram o am agradar o cuidador, como é o caso de Jéssica e Fiona. Mas a situação está complicada de reclama. No meio das centenas de cães, Rogério se despede do coletivo Frame4fun. Os latidos também à casa de Rogério da Silva. Enfim, se ficarmos com os ouvidos atentos nos lugare Porque, como alerta Rogério: “Isso aqui tem vida, tem sangue, tem dor, tem fome, tem

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rigo e animais

de pessoas que, além de carinho, dão um lar a animais rejeitados Coletivo Frame4fun

considerado crime praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres,

animais, que focaliza aspectos da realidade vivida por animais domésticos e silvestres na s sentimentos transmitidos pelos animais. Eles que encantam os desiludidos e alegram os

es de cães, segundo a Abinpet (Associação Brasileira de Indústria de Produtos para Animais nduzido por modismo passageiro ou dificuldade econômica, o abandono de animais gera ez maior em torno do globo. atos, o principal motivo desse desprezo pelos animais é a sujeira que eles fazem em casa. a de Animais São Francisco de Assis (Apasfa), devido às viagens familiares.

organização e não abandonar os animais. Na época ficou com 40 gatos adultos e cas40 gatos e seis cachorros. Nem todos adultos; nem todos castrados. Houve um tempo em nter uma parceria com a cuidadora. Mas, o apoio não veio e Ivania conta mesmo é com es de quatro patas os 27 quilos de ração que consomem por semana. te, Aids felina e até sequelas de derrame. Para que tenham qualidade de vida, Ivania faz um doer, diabetes em nível alto e toxoplasmose. Devido a isso, ela tem o apoio de veterinários

donam, há também quem denuncie: “Eu faço a doação de três, enquanto recebo sete.” uma denúncia de que havia uma gata sangrando na rua. Como de praxe, foi ao local e ha tinha sido vítima de extrema violência e estava esperando um filhote. Nenhum dos dois

ora diz que pensa em abandonar os animais, mas não consegue. A paixão é maior: “Não e os mais de 134 animais de quem ela fala com orgulho e amor. “Não é que ele goste tanto assim dos gatos. O caso é que ele me ama muito”, comenta ntas que às vezes temos a sorte de conhecer. anos, dos 122 cachorros de que cuida em sua casa, no interior de Gaspar – onde nasceu es abandonados no seu terreno. gional de Blumenau (Furb) é que Rogério e Solange tomam os devidos cuidados com os Fotos: Coletivo Frame4fun

omo aconteceu com a Pirata. “Eu vi que um carro passou e depois voltou. Quando ele foi o da arrozeira que não conseguia nem caminhar.” Rogério explica que as pessoas passam, garam um aqui na estrada, cego,” lamenta. Ele, que é um voluntário sem ONG, enfrenta

as pessoas devem ter noção de que ao adotar um cachorro o tempo de convivência com e carinho, afeto, respeito e interesse. “Eles adotam a gente, mas infelizmente o ser humano

mor que sentem por Rogério. Cada um atende por um nome e todos fazem de tudo para evido à falta de espaço e tempo. “Eu não tenho mais sábado, domingo, natal e ano novo”,

s criam um fundo musical peculiar aos abrigos, peculiar à casa de Ivania Rejane Moder e es onde passamos, vamos poder ouvir os animais abandonados. m frio, que nem a gente”.

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Descartáveis para uns;

Catadores de materiais recicláveis ajudam o mei

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; sustento para outros

io-ambiente e ainda ganham dinheiro para viver Coletivo ZoomLumina

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Fotos: Coletivo ZoomLumina

s mãos sujas seguram com força a barra de metal da carrocinha. Ela leva os materiais que são descartados por uns e que se tornam o sustento de outros. A função de um catador não é bem esclarecida para todos. O ato de recolher o lixo reciclável deveria ser mais reconhecido pela sociedade, já que esse trabalho ajuda não só quem o faz, mas também o meio-ambiente. Em Blumenau, todo dia acorda às 5h30 da manhã, pega sua Brasília ou sua bicicleta, e vai até a Segalas. Ele não é gerente, nem diretor e nem operário, mas seu serviço é essencial pra manter a ordem dentro da empresa. Lorival Kleine, mais conhecido como Maradona, é responsável por recolher o papelão e o plástico que o lugar produz. Diariamente cata cerca de cem quilos. Faz 15 anos que Lorival é catador, mas conta que há dez começou a trabalhar dentro da empresa. Nos primeiros cinco anos tudo era mais difícil, porque tinha que andar e procurar lixo pelas ruas da cidade. Hoje, já sabe onde buscar o material. Depois do meiodia, sai da empresa e recolhe somente o que a comunidade deixa separado para ele. Orgulha-se do que faz e se sente feliz, sabe o quanto o seu trabalho é importante. Celso de Lima tem a mesma profissão que Lorival, mas uma rotina mais puxada. Trabalha há 15 anos carregando sua carrocinha de um lado para o outro nas ruas de Blumenau. Apesar de dizer que gosta do que faz, o olhar triste desmente as palavras. Ele não tem destino fixo para encontrar o reciclado e anda à mercê da sorte pela cidade. Mesmo assim, fala que tem dias em que consegue catar 200 quilos de papelão. A maior dificuldade é o trânsito, as pessoas não o respeitam e o perigo de ser atropelado é grande. Mas parece que a sorte do catador também é. Ele nunca sofreu um acidente. Com um sorriso no rosto e um caminhar rápido para uma pessoa de 62 anos, Sebastião Machado faz o mesmo trabalho em Camboriú. Há dez anos, encontrou nessa atividade o auxílio para as despesas domésticas. Com o salário que recebe da aposentadoria não conseguia sustentar a família. Por isso, começou a catar latinhas. Todos os dias, vendia a sucata no mesmo local, uma espécie de ferro velho no bairro Santa Regina. Com o tempo, o proprietário lhe ofereceu um carrinho para facilitar o trabalho, com a exigência de que o lixo fosse vendido somente para ele. O movimento das mãos acompanha a fala de Carlos Nascimento, que desde os 14 anos de idade trabalha para sustentar a família. Só conseguiu sucesso quando resolveu adquirir uma bicicleta cargueira para limpar o Porto de Itajaí. De 1996 a 2006, trabalhou no local recolhendo os materiais recicláveis dos contêineres que chegavam à plataforma. Carlos é um homem conhecido na cidade, e há oito anos trabalha recolhendo o lixo de diversas empresas. Levanta às cinco horas da manhã, volta em casa para almoçar e descarregar os materiais, e à tarde vai recolher o que falta das empresas que o esperam. Ele diz que não consegue imaginar a sua rotina sem fazer o que gosta. Hoje, com 65 anos, tem uma família com quatro filhos e três netos, casa e um carro na garagem. Esses quatro homens se ocupam da mesma tarefa e cooperam na sustentabilidade do planeta. Suas funções não se resumem em contribuir com o meio ambiente, mas também dar função ao material recolhido, que pode ser reutilizado. Muitas pessoas não costumam separar o lixo orgânico do reciclável, o que dificulta o trabalho dos catadores. Outra barreira é o preconceito que existe no olhar de alguns. Sebastião Machado já enfrentou uma situação constrangedora. Um dia, estava procurando materiais recicláveis em uma casa, quando a dona da propriedade chegou. A mulher o questionou sobre o motivo de estar mexendo no lixo. “Se a senhora separasse seu lixo eu não precisava estar aqui vasculhando”, foi a resposta dada pelo catador. O catador de lixo reciclável é uma pessoa que ajuda o meio ambiente, além de obter com isso uma renda para seu sustento. Hoje, já existem empresas específicas para este tipo de trabalho, mas nem todas chegam onde os pequenos carrinhos de metal conseguem chegar.

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Uma tarde Fotos: Coletivo O que Acontece e Você Não Vê

Fé, cuidados com a natureza e costumes d

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no templo e uma comunidade Hare Krishna em Itajaí Coletivo O que Acontece e Você Não Vê

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comunidade existe há cerca de 14 anos em Itajaí, e há nove é localizada no bairro Fazenda, na rua Antonio Rocha de Andrade, nº 170. Hoje vivem por volta de 16 residentes no “ashrama” (domicílio para aqueles que se ocupam estritamente na execução da vida espiritual). Chegando ao endereço, nos deparamos com um muro extremamente colorido com o mantra do Hare Krishna (maha- mantra) recebendo os visitantes na porta do templo. A recepção foi através de Sankarshana, 49,(preferiu não revelar seu nome de civil) que vive na comunidade Hare Krishna de Florianópolis e estava visitando o centro de Itajaí. Ao entrar na casa com três andares e um jardim repleto de flores sentia-se um cheiro familiar: era dia de preparar pizzas vegetarianas “em comemoração ao aniversário de um dos moradores do ashrama”, explica Banduh, o presidente do templo. Após sairmos da cozinha nosso anfitrião nos levou até o jardim, em frente de um círculo de pedra com vários vasos de uma planta chamada Tulasi, vinda da Índia e adorada por todos os devotos. Eles acreditam que a planta favorece o serviço devocional, estimulando todos a seguirem cada vez mais a consciência de Krishna e o amor a Deus. Existe uma programação para cuidar destas plantas: ao longo do dia seguem três etapas religiosas, a primeira oração se inicia às 4h30 da manhã, o horário de adoração aos ídolos. A segunda etapa às 7h30 para realizar tarefas de oferenda e refeição e a última por volta das 18h30, novamente de adoração, programação padrão internacional em todos os templos do mundo. “Oferecemos flores para a planta, a lamparina com a chama, incensos”, diz Sankarshana. A separação dos quartos no segundo andar é feita por gêneros, uma vez que homens e mulheres só podem permanecer juntos depois do casamento. Pela casa vemos diversas imagens do fundador do movimento Hare Krishna – Prabhupada, que foi “encarregado de espalhar a mensagem de Krishna ao mundo”. Estudioso dos Vedas (livros de conhecimento milenar que vêm da Índia, escritos pelo menos 5.200 anos atrás), trazem conhecimento de astronomia, yoga, meditação, ética e organização da sociedade. Conhecimento que descende de Deus, explica Sankarshana, com muita admiração pela história. No terceiro e último andar tiramos os sapatos para entrar na sala do tempo – todas as impurezas das ruas devem ficar lá fora. Sankarshana faz uma reverência às divindades. “Aqui nós não paramos pra nada, natal, reveillon, final do brasileirão… É o ano inteiro, em especial aos domingos realizamos o festival aberto ao público. Primeiro fazemos um estudo dos livros, depois seguimos com o procedimento de adoração às deidades, a gente canta e dança e depois servimos um jantar vegetariano”, relata. O ambiente é amplo e bem distribuído, com o maha- mantra pendurado na parede, com instrumentos e diversos livros ajudando a preencher o local sagrado. Um grande altar com as deidades chama a atenção por suas cores, jóias e vestuário e à esquerda uma múrtir de Prabhupada, simbolizando a presença do mestre espiritual.

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Cortinas

A preparação, o alongamento e o ensaio dos atores antes de entrar

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Fechadas

r no palco é um espetáculo que poucos têm o privilégio de assistir Coletivo F/1.0

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cortina ainda não se abriu. As luzes continuam apagadas, os rostos estão limpos e os trajes ainda não foram vestidos. É curioso ver as coisas por de trás da cortina, sem plateia, sem palmas, sem vibração. Alongamento, suor, dedicação. Fazer parte de espetáculos não é fácil, requer treino e disposição. E é assim que os atores, dançarinos e a produção dos espetáculos Acqua Show Blum e Sonho do Cowboy, do Parque Beto Carrero World, vivem quando as cortinas ainda não se abriram. Ensaio, maquiagem, teste de voz, alongamento. Arrumação do equipamento e pra complementar todo o esforço, interação pelo parque buscando sempre o sorriso e a descontração. A vontade de ver a plateia vibrante, os olhos das crianças brilhantes e os aplausos ao fim de cada série, fazem com que cada ator se doe por completo a esse mundo de fantasia e diversão. O Acqua Show Blum é um espetáculo onde um naufrágio é simulado e os artistas fazem uma extraordinária apresentação no fundo do mar, variando suas agilidades entre acrobacias, malabarismos e danças, enquadrados por um encantador jogo de luzes e trilha musical. O sonho do Cowboy conta, por meio do elenco, a trajetória do artista Beto Carrero – o cowboy brasileiro. O musical narra com cenários, equipamentos e tecnologia de última geração, a trajetória de Sérgio Murad, o fundador do parque, e finaliza com chave de ouro o dia de visita ao Beto Carrero World, no município de Penha (SC). Quando as cortinas são abertas, os jogos de luzes estão prontos e o público já está na expectativa de ver cada personagem. É impressionante a vibração da assistência com cada acrobacia, brincadeira e jogo de cintura. Todo detalhe dos shows é fascinante, as crianças se apegam a cada movimento, cada olhar e sorriso dos atores. E não existe prêmio maior, a alegria e as palmas, com a certeza de que antes que as cortinas fossem abertas, o ensaio havia prenunciado o sucesso.

Fotos: Coletivo F/1.0

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Perfil

Câmera a postos. No ar, Graciliano Rodrigues! A carreira, os hobbies e as paixões de um dos comunicadores mais populares da região de Itajaí Coletivo Frame4fun

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bom dia é cedo. Ele levanta, veste-se, nada de sofisticado. Dirigindo o próprio carro, vai até a rádio onde trabalha. Após apresentar o programa que comanda, ele volta para casa, toma o café da manhã e só aí vai para o segundo compromisso da manhã - outro programa, este na tv. É lá que calça sapatos, veste calça, camisa social, gravata e, para compor a imagem do apresentador, o paletó. Bem vindo às telas. “A minha vida sempre foi pautada em experiências.” Luz e câmeras a postos. No ar, Graciliano Rodrigues. Não é jornalista; é radialista há 25 anos. Nascido em 1953, no município de Antônio Carlos, em Santa Catarina, sempre quis trabalhar com rádio, mas nem sempre foi o que estudou. Formado em Direito e com licenciatura em Educação Artística, gostava mesmo é de teatro. “O teatro e o rádio são grandes laboratórios para quem quer ser repórter.” Dito e feito. Ver os bastidores com todo o emaranhado de fios, câmeras, botões, sons, imagens e papeis fez aumentar nele o amor pelas artes da comunicação. Desta vez pela tv. Na época, em Santa Catarina, não achou o que desejava no jornalismo. “Ou você seria do rádio, ou iria para o jornal impresso.” Pouco satisfeito, queria mais. “Eu queria cinema, teatro, televisão.” Por isso escolheu a cidade de São Paulo para realizar a vontade. Começa a confusão. Em São Paulo, quem o recebeu foi a família. Primos palmeirenses, primos são paulinos, e primos corinthianos. Porém acabou fazendo amizade com associados da Portuguesa. Mas nem isso foi suficiente para convencê-lo a torcer pela Lusa. “Fui pro campo assistir a Palmeiras, São Paulo, Santos. Quando fui assistir ao Corintians, ninguém batia aquela torcida”, vibra como se fosse ontem. “Foi assim que me apaixonei.” Hoje satisfeito com o seu dever diário, apresenta às 7h30min o programa de rádio Só Notícias. “O rádio dá dinâmica de conversar com o público. Para ser apresentador de TV, tem que passar pelo rádio.” Às 10h15min, se dirige para a RIC Record Itajaí, onde apresenta o programa Jornal do Meio Dia. Considerando que chegou ao ápice, pela idade, como também pela experiência profissional, o radialista explica como dirigiu a carreira: - Tem uma mentirinha que eu gosto de contar. Quando eu cheguei no mercado de trabalho, efetivamente, na época, o Brasil fazia pela primeira vez o imposto de renda por meio de um formulário que era preenchido por todos.Aí trabalhei em uma empresa. Fui convidado pelo secretário pra fazer o imposto de renda também, mas ele pediu se eu tinha datilografia, e eu disse que tinha. Mas realmente eu só conhecia a máquina de escrever. Eu tinha que pegar esse trabalho, queria muito esse emprego. Então simplesmente pedi pra ele uma semana pra me apresentar ao trabalho, porque sou de Santa Catarina, tenho que voltar e estou trabalhando”. “Eu fui pra casa, eu dormia em cima da máquina de escrever. Eu tinha uma máquina, pedi pra alguém pra me dar os primeiros toques e orientações. Comprei um manual, então eu fui aprender isso. Quando eu voltei, uma semana depois, eu já sabia a datilografia e consegui o emprego. Mas às vezes ele chegava atrás e falava: - E essa datilografia aí, meu amigo, hein ! Então o que eu digo pra qualquer profissão. Se você não se dedicar com afinco, é difícil. Hoje o mercado está mais aguçado, então você tem que ser melhor que o outro. Não que tem que passar por cima, pra consegui o lugar do outro. Mas acho que você tem que ter consciência do que você está fazendo, ter conhecimento da profissão e quando perguntarem alguma coisa, você mostrar, efetivamente, que sabe.” Como lazer, o apresentador, entrevistador, debatedor e articulista de assuntos gerais gosta de viajar com a família e cozinhar. Porém, hoje, nesta entrevista, ele virou mesmo um modelo. “Tipo loiro, alto, bonito e gostosão?” brinca, levantando da cadeira, Graciliano Rodrigues.

Fotos: Coletivo frame4fun

“A minha vida sempre foi pautada em experiências”

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