meu coração bate teu, e isso é foda

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meu coração bate teu, e isso é foda campo santo leituga



Eu nunca tive um terno italiano blues e fico triste, coração meu Parte de mim sobra de tudo mas eu nunca tive um terno nem sequer vagabundo (e a moça com a cabeça aberta, na louça, sorri) Ah, eu nunca tive um terno italiano blues! Meu bem, tu partiu Céu azul, flores perfumadas são as lágrimas de um coração ateu que acredita em tudo


Bodas de ouro Amor amar O concreto rígido estoura minha cabeça O sangue espelhado é sobremesa A consciência elétrica está aberta Meu miolo migalhas de pão arremessadas aos pombos de um domingo febril, coração! Vida, Vida, Vida No meio da minha hemorragia lembro-me do Tibete lembro-me do inferno Tenho o teu sorriso lá onde está o infinito (mas há dias que não sinto) Moscas fazem vermes Há tanta vida em mim! Sonho, sonhar Miríade de miragens e em uma o teu olhar Placas metálicas versão minha cabeça Você com pedra na mão a estraçalhar minha face pedindo perdão, e lá no fim...


O cu e o amor na terra do Babilônia I Saliva, meu amor Saliva pra lubrificar o nosso amor Para seu drama de cu não ser dolor Pra também não rimares mais versos de horror Ah, conjugar o verbo amar: Cinquenta reais a mais e tudo se torna belo, sublime, celestial em nossa técnica de conjugar o verbo sacanear


II Noite de carnaval Toda vez que vejo aquele rabo, tenho a impressão que o samba vem aí! A felicidade está de pau duro Ejaculou na imensa vagina lunar Brilha a lua o esporro do sol Salve o sexo nos seres feitos de pedra, pois hoje é noite de carnaval!


III Se monotonia é sinônimo de felicidade, eu sou feliz em parte. Monstros reluzentes nas vitrines Céu rasgado de ponta a ponta Um milhão de gigantes grávidas concebem mísseis de confete atômicos em flor nas milícias do rei Momo que fazia odes anacrônicas dedicadas à cabeça decapitada de João Batista


IV quarta- feira edgard neto, leituga Meu peito coração pernas abertas estrada de putas, fanáticos, malandros reis lunáticos pernas fêmeas férteis indeléveis meu coração é um pudendo feminino meu príapo imensidão IMENSIDÃO em meu peito a ti não basta são pernas, coração o homem a mulher amplidão Somos seres cheios de nada e a devassidão nos rege regnus mundi Falanges de áridos caralhos pleiteiam solenes mulheres de burca em plena quarta-feira de cinzas


Abaporojucaiba I O estupro O genocídio Que linda miscigenação! Ando pelas ruas feito mula Anulado Sou mulato Iracema América do sul Toda a beleza parou lá no centro do cu Não existe pecado na banda de baixo! Índios lobotomizados cavalgam em mulas loucas em pleno palácio da América Bárbara Latina Sem pátria Sem patrão Só a maloca, né não?


II vim da Selva, sou leão, sou demais pro seu quintal Vamos ao desfile do sete de setembro na Presidente Vargas Ver o sangue derramado de crianças límpidas na praça Ver seu coro esticado em um imenso varal Ver seu amor inocente incendiado no reverso das tripas do primeiro ódio de um dia de Domingo Ver as cabeças das putas jorrarem pus e esperma A partir das sete abrindo o dia da independência na avenida da entregação Eu quero estar fora Ao mesmo tempo dentro Em lugar algum Queimarei a bandeira da nação e instalarei um novo senso indígena para a retransmissão de um pensamento yorubá Tomaremos os palácios Falaremos de tudo dentro do nada Não há portas e meu sangue afogará toda a cidade


Realidade as ruas com suas caras vazias as ruas com suas toneladas de nóias as ruas e seus cães passando fome as ruas e todo dia é dia de domingo as ruas e eu não precisamos imaginar tudo as ruas são mais solitárias que as coroas putas as ruas há muito não usam mais pó de arroz – meianoite eu sou a tristeza deplorável das ruas – daqui eu vejo a linda menina loira mira o espelho os cacos atravessam sua alma derretida diluída no fundo do palácio trancada a velha mira a morte e sorri – e as ruas permanecem iluminadas por nós ou por nada!


Planeta vermelho Velocidade! mais uma cabeça estourada mais uma mãe em pranto mais um ódio (hoje contabilizei 20 mortes no meu corpo) Luzes da cidade a RioBahia – silêncio O sol sempre surge com cheiro de sangue.


Uma imagem memorável (ou Bill Evans pedindo paz) I Eu pensei em sair da grade, escorreguei feito geleia por entre as frestas, uma estranha paz me alucina... o barulho dos homens trabalhando as facas os gritos o crime hediondo: os meninos jogam bola com o crânio dos mortos. O mundo não é essa parede ilustrada onde “vencer” é somente parede e espada sem o fio, sem navalha. Vou seguindo vento ao Sol, a minha MENTE em estado de calefação acompanha as massas, uma tempestade de sangue se dispersa e se reagrupa por entre as bordas do desespero alheio; a linda cumulus nimbus de sangue fez chover uma horda de estranha paz... requiem para as últimas ilusões e


II aos amigos Gotas solenes caem sobre a cidade. Não é água, elemento algum das jornadas estelares. São sensações. É o jazz. É o teu sorriso. Sim, aquele sorriso da vida te flertando com estranha doçura! Sim, um jato cruza as paredes do ar e o sol machuca meus olhos – saiba que não são lágrimas em meus olhos, saiba que durmo tranquilo, enquanto o assassino sangra as dobras do meu delírio. Você nem percebeu como as ruas estão estranhas, como todos surgem de nossas entranhas, e como essa gente toda é estranha... louca vida: barulho, confusão, confissões de crimes nos ouvidos de prostitutas magistrais, Henri em algum canto do Ceasa tentando me convencer de que fudeu com aquele tanto de mulher, enquanto Eu e Fante temos uma conversa de como sobrevivemos daquele terrível tombo. Os homens se tornam doces dessa forma, bro! Bill Evans está por trás de cada gota. A cidade é sempre observada de algum ângulo impertinente, porém vagaroso como a noite em que Chet me deu um soco de gravidade e ternura! Ainda há muitos cigarros e solidão sólida em nossa alma. (o bar de Jabur e a nossa amizade me vem aos olhos): Me segura, mulher, pois se eu cair da cadeira, eu mergulho no abismo do chão, mas, em contra


partida, mergulho mais fundo ainda, mergulho na palma da tua mão... e sei!, e como sei dessas coisas. Quantas vezes mergulhamos no raso e nos mantemos tetraplégicos, Irrecuperáveis! Eu gostaria de finalizar com o raio de sol através da garoa que se finda e, por sobre a lama, o baba e as meninas com bolinhas de sabão... segredo, mistério- elementar! certas tardes a cidade sorri!


Publicado em Outubro de 2013 (1ª edição, ebook) Capa, fotografia: luís mathias

candeeirocafe.wordpress.com


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