SOS Rio Pardo Vivo _ março2022

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Cada um de nós pode repor a água que usa do rio Pardo Não foi à toa que isso aconteceu. A data não foi criada para festejarmos. de fato, o Dia Mundial da Água nos propõe o debate e a reflexão. Para tanto, foram criados 10 pontos que devem ser observados sempre que pensarmos e agirmos para nos servir e preservar a água da nossa casa, da nossa cidade, do nosso país, do planeta: 1• A água é do patrimônio do planeta; 2• A água é a seiva do nosso planeta; 3• Os recursos naturais de transformação da água em água potável são lentos, frá-geis e muito limitados; 4• O equilíbrio e o futuro de nosso planeta dependem da preservação da água e de seus ciclos; 5• A água não é somente herança de nossos predecessores; ela é, sobretudo, um empréstimo dos nossos sucessores; 6• A água não é uma doação gratuita da natureza; ela tem um valor econômico: precisa-se saber que ela é, algumas vezes, rara e dispendiosa e que pode escassear em qualquer região do mundo; 7• A água não deve ser desperdiçada, nem poluída, nem envenenada; 8• O uso da água implica respeito à lei; 9• A gestão da água impõe um equilíbrio entre os imperativos de sua proteção e as necessidades de ordem econômica, sanitária e social; 10• O planejamento da gestão da água deve levar em conta a solidariedade e o consenso em razão de sua distribuição desigual sobre a Terra.

foto: Flávia Rocha | 360

Como sabemos, a vida no planeta só é possível graças à presença de água, por isso, cuidar das fontes da água que usamos é fundamental. Ela é tão essencial e tem sido tão negligenciada que em 1992, há exatos 30 anos, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou o Dia Mundial da Água, celebrado todo 22 de Março.

A foto acima ilustra a diversidade da utilidade de um rio: o campo, que precisa da água para produzir; a indústria, que também utiliza um elevado volume de água, e as pessoas, que se valem do rio para viver, o que inclui divertir-se nele O Mês de Março também foi escolhido para da maior fonte de vida e desenvolvimento da nossa região, o rio Pardo, celebrado na semana do Dia Mundial da Água na única cidade de todo o seu curso de 164km a levar o seu nome, Santa Cruz do Rio Pardo.

Esta edição de SOS Rio Pardo Vivo, informativo que circula ocasionalmente nas edições do Jornal 360 sempre que o Movimento Rio Pardo Vivo avalia ser oportuno tornar públicas questões importantes para a preservação das águas limpas do rio Pardo, vem tratar de como devemos e podemos agir em relação à água que ainda é abundante em nossas vidas, mas corre risco de ficar escassa.

Aproveite para refletir como você pode mudar a sua casa, a sua rua, o seu local de trabalho e até mesmo o seu lazer de modo a contribuir para que o rio Pardo continue assim, forte, vigoroso e capaz de nos garantir a mais alta qualidade de vida.

Especial SOS Rio Pardo Vivo - encarte da edição 194 do Jornal 360 mar/20 Produzido voluntariamente pela eComunicação com apoio das empresas Agroterenas – Regional das Tintas – Santa Massa – Solimã – Special Dog


Como cada um po a água para prese

Irrigação do Solo

O que diminui a água dos rios? São muitos os fatores que tornam os rios menos capazes de suprir as cidades e agricultura com o mesmo volume de água. Vamos falar de alguns deles:

foto: Canva

de promover essa infiltração e isso enfraquece os rios.

Crescimento das cidades e Impermeabilização do Solo

Como então compensar esse desequilíbrio, já que todos queremos que as cidades cresçam e se desenvolvam? Muito simples: evitando ao máximo a impermeabilização do solo.

Quando uma cidade cresce, em extensão e também em moradores e atividades do comércio e da indústria, todos comemoram. Afinal, o desenvolvimento de uma cidade traz oportunidades para todos que nela vivem.

dentes, e até mesmo na hora de dar a descarga do vaso sanitário, usando apenas o necessário. Sem desperdiçar. Outros hábitos comuns que causam desperdício de água ocorrem na hora de lavar a louça, as calçadas e quintais usando a mangueira como se fosse vassouras e até mesmo “regando” o cimento para refrescar a calçada, uma medida ineficaz, pois o único meio de refrescar calçamentos e edificações é através de da inserção do verde, incluindo árvores, essas sim, dignas de serem regadas, sempre ao final do dia, para que a evaporação não impeça a permeabilização.

foto: Canva

foto: Canva

Ocorre que à medida que cresce, o consumo da água também aumenta. E o rio continua lá, o mesmo. Ele não cresce junto com a cidade. Ao contrário, o crescimento urbano tende a diminuir o curso das águas limpas dos rios. Por que isso acontece? Primeiro, naturalmente, porque teremos mais pessoas e empresas usando água. Segundo, porque ao urbanizarmos mais e mais a área de uma cidade, para instalar empresas e moradias, ela vai se tornando impermeabilizada. Ou seja, as pavimentações de ruas e avenidas, as calçadas, as edificações, sejam casas, lojas, escolas, empresas.... ocupam o lugar onde antes havia árvores, onde havia vegetação e por onde a água da chuva infiltrava no solo, reabastecendo os rios. Com a pavimentação, áreas muito grandes deixam

arbustos, se bem implantados, também não. Ao contrário. Árvores de grande porte fazem a melhor sombra para quem oferece um estacionamento.

Todos podem contribuir para isso. Basta evitar o calçamento excessivo de áreas externas das moradias, inserindo vegetação rasteira, os gramados, além de arbustos e árvores. As empresas e o comércio também podem contribuir e muito. É bastante comum que os acessos a estabelecimentos comerciais e organizacionais, sejam cimentados ou calçados por completo, quando poderiam ser absolutamente naturais. Inclusive estacionamentos, pois o gramado entremeado por pedras ou faixas cimentadas não compromete o uso do local por automóveis. Árvores e

O mesmo se aplica às calçadas. Ter uma faixa vegetal no calçamento das casas e empresas contribui para a permeabilidade do solo e embelezamento. Quanto mais faixas verdes, quanto mais árvores de médio e grande portes, cujas copas ficam bastante acima dos passantes e também dos imóveis, melhor para a cidade e para compensar os rios pela água que dele nos valemos. Ou seja, uma forma simples de compensar o rio pela água que nos fornece. A mudança de hábitos no consumo da água também é essencial. E isso inclui todos: crianças, adultos, jovens e idosos. A começar pelo banho, que pode ser mais curto. Pela água que usamos para nossa higiene pessoal, ao escovar os

foto: Canva

Essas são as paisagens que podem manter os níveis de água do rio Pardo: mata ciliar (nativa) nas margens, vegetação de todos

foto: Canva

Por que temos que devolver a água para o rio se pagamos por ela? Porque se não fizermos isso, ela pode acabar ou ficar escassa, o que também é bastante danoso para todos. Devemos evitar que ela se torne insuficiente para que todos possam usá-la em abundância.

foto: Flavia Rocha | 360

Quando usamos uma capa de chuva, ela precisa ser impermeável para não nos molharmos, certo? Pois para que possamos compensar os rios que abastecem nossas casas e locais de trabalho, incluindo escritórios e comércios, da água que usamos não basta pagar pelo volume consumido. É preciso compensar o rio com aquilo que o faz existir: água.


de ajudar a repor rvar o Rio Pardo

tar? Em diversos locais: em torno das nascentes, para que o rio nunca deixe de ser reabastecido pelo lençol freático, e ao longo dos córregos.

foto: Canva

As árvores também devem ser plantadas em divisas de terra, com estradas e outras propriedades. Nesses casos, além aumentar a permeabilidade do solo de maneira mais perene e abundante, as árvores servem de proteção para pastos e plantações. São elas, por exemplo, que podem evitar ou conter as nuvens de poeira que vêm se tornando cada vez mais comuns.

s os tipos e elevações nas áreas rurais e permabilização das áreas urbanas, com abundância de árvores, gramados e arbustos Há também situações que não damos atenção, como torneiras que teimam em pingar, pequenos vazamentos e o desperdício de água para retirar sabão e detergente usado em excesso nas louças, roupas e outros itens que lavamos. Os sabões, aliás, também contaminam a água, por isso devemos minimizar seu uso. Assim como devemos reduzir o uso de água para lavar carros, que podem ficar muito limpos com uso de panos úmidos, também ajuda no uso consciente da água.

Desmatamento Não há dúvida de que o desmatamento é o maior responsável pela escassez ou falta de água.Afinal, ao retirar árvores nativas de grande porte, a infiltração da água da chuva no solo são reduzidas ao extremo, comprometendo a manutenção de nascentes e a formação dos rios.

Água é agro. Agro precisa ser água também. No caso da agropecuária isso é feito através da manutenção das chamadas APPs (Áreas de Preservação Permanente) que são pequenas matas (sempre muito menores em tamanho do que as plantações e pastos), que devem existir em toda propriedade rural exatamente para que a água não venha faltar por ali.

O que deixamos ir pelo ralo também é importante. O óleo de cozinha, por exemplo, jamais deve ser descartado numa pia ou em qualquer lugar que possa escorrer para dutos de água que desaguam nos rios. O mesmo vale para resíduos, que devem ser descartados separadamente antes de serem embalados e entregues para a coleta urbana. Muitas outras medidas podem contribuir para que as cidades devolvam ao rio parte da água que ele lhes fornece. A economia doméstica, o uso consciente e a adoção de hábitos sustentáveis, como a coleta da água de chuva para suprir as cisternas de sanitários, e o reuso de água de máquinas de lavar para a limpeza dos quintais são algumas delas.

chuva atravesse o solo e reabasteça o lençol freático, que é o espaço subterrâneo, que fica abaixo do fundo dos rios, das cidades e das plantações. Esse vasto leito d'água subterrâneo é o responsável pelas nascentes, que dão origem ao rio.

O desmatamento ocorre de diversas formas. Na expansão da área urbana, que já abordamos, na produção agrícola, quando matas dão lugar à agricultura e à pecuária, e nas indústrias, que usam água na fabricação de seus produtos. Tudo isso, no entanto, faz parte da nossa vida e não queremos um retrocesso. A saída para evitar o desequilíbrio, que inclusive pode comprometer a produção agropecuária e industrial, além do comércio, é recompensar o rio com medidas que promovam que mais água de

Outra medida importante, inclusive prevista por lei como as APPs, são as Reservas Legais, que devem corresponder a pelo menos 10% da extensão da propriedade rural, de acorco com o tamanho da propriedade. Enquanto muitos ainda se enganam acreditando que essa área deixa de produzir, sendo portanto, um prejuízo para o agronegócio, acontece exatamente o contrário. É essa área que garante que a água continue abundante para que a produção prospere.Além disso, as matas melhoram o microclima, aumentando a produção, tanto da agricultura como da pecuária. Como recompensar os rios do desmatamento que já foi feito? Muito simples: replantando árvores típicas da região, ou seja, árvores nativas. Onde replan-

Outras medidas que ajudam a recompensar a água usada nas plantações, ainda mais quando se usa irrigadores, é o plantio direto. E o que vem a ser isso? É quando em vez se se arar o solo, deixando-o sem qualquer sinal de vegetação para o plantio de novas culturas, se mantém a palha da cultura que foi colhida. Isso ajuda bastante a manter a umidade do solo e também e evitar que a água da chuva escoe ou evapore em vez de seguir para o lençol freático. A agropecuária, que congrega a produção agrícola e animal, também pode se valer das conhecidas curvas de nível, que evitam que a água da chuva escorra rapidamente, e os bolsões de água, que retêm a água quando chove, aumentando sua infiltração. As indústrias e o uso abundante de água Quanto se usa de água para produzir um bem manufaturado, ou seja, na indústria? Muita, não tenha dúvidas. Além do uso de grande volume de água, as indústrias também geram poluentes, que, em muitos casos, são despejados em rios. Como evitar que isso aconteça? Com a força que operam, quanto maior a produtividade de uma indústria, maior a sua necessidade de buscar soluções para recompensar os rios da água que usa e da água que polui. Felizmente, quanto maiores, também maior sua capacidade de agir nesse sentido. Tanto que há inúmeros exemplos bem sucedidos de mitigação da água no setor industrial.


O verde deve ser intenso nas áreas urbanas

R E U O G O A E E U A P

Na área urbana, o desmatamento também ocorre, daí a necessidade de haver a compensação com criação de bosques, Pparques e horto florestais. Ambientes onde a vegetação nativa seja intensa e Qabundante, reunindo a flora e fauna loBcal. Geralmente, esses locais se transformam em grande potencial turístico Cpara toda e qualquer cidade.

U Ao mesmo tempo é fundamental que toEdas as casas tenham na sua calçada pelo Tmenos uma árvore. Esta árvore precisa ser do porte adequado. Ou seja, embaiNxo de fiações precisam ser plantadas de espécies de pequeno porte. Já Rmudas do lado que não tem fiação, recomendaBse árvores maiores. Essas árvores vão melhorar o clima, reduzir os poluentes, Çreduzir as inundações, aumentar a infilEtração de água no solo, atrair fauna silvestre, entre muitos outros benefícios.

Interferências totais e parciais nos rios Todo mundo já ouviu falar em barragens. E também no que hoje se usa chamar PCHs e CGHs. Todas essas siglas, de alguma forma, mais ou menos intensa, causam interferências ao curso natural de

um rio. Seja uma barragem completa, como reservatórios de água e centrais de produção de energia, ou parcial, como as canaletas que barram parte do rio, cri-ando caminhos paralelos para geração de energia, essas interferências sempre cau-sam desmatamento. Ou seja suprimem o rio de sua mata nativa que fica nas suas margens, que são conhecidas como matas ciliares. Além disso, fazem o controle das águas do rio, o que pode comprometer o abastecimento de cidades que estejam abaixo do trajeto do rio. As matas ciliares são como os cílios que temos em nossos olhos. Elas protegem os rios. Neste caso, principalmente do assoreamento. E o que vem a ser isso? É o desmoronamento das margens sobre o rio, diminuindo sua profundidade e muitas vezes o estreitando, o que compromete sua potência. Isso também acontece quando a terra de áreas agrícolas ou urbanas descem até o leito dos córregos e rios através da erosão. Sem matas ciliares, os rios tendem, portanto, a estreitar, causando a diminuição do volume de água e da força dessa água são inevitáveis.

O lixo depositado nos rios também é outra interferência a ser evitada. Isso ocorre diretamente, quando despejamos um ou muitos objetos que não se degradam nas águas águas, e também quando jogamos lixo que não se decompõe nas ruas e sarjetas. Esse mau hábito gera um acúmulo excessivo de material que compromete o fluxo das águas. Uma medida bastante simples para a limpeza dos córregos e rios afetados por esse lixo evitável de se juntar em suas águas, são as ecobarreiras para reter materiais que flutuam nas águas, como garrafas, plásticos e outros. Assim como pode-se adotar grades em forma de peneira nas bocas de lobo para facilitar a limpeza.

Quem faz o quê? Além da medidas até agora elencadas, muitas outras podem ser adotadas e são bastante simples e acessíveis a todos. Basta querer. Moradores, empresários, agricultores, pecuaristas e investidores no setor energético podem e devem fazer uma reflexão a respeito, afinal, somos nós, que hoje decidimos sobre nossas casas e negócios que poderemos garantir o abastecimento de água de nossos filhos e das futuras gerações.

Toda interferência, de pequeno, médio ou grande porte, implica a extração de muita mata nativa. E apesar de todos os projetos apresentarem a famosa “reposição da mata nativa”, ela nunca acontece. Basta pesquisar localidades onde há barragens para constatar que a reposição total não foi feita. Outro prejuízo das interferências nos rios, especialmente no caso de barragens que formam lagos, como os reservatórios e PCHs, é que esses lagos formam gran-

SOS Rio Pardo Vivo _ Dia Mundial da Água é encarte da edição 194 DO Jornal 360 /março22. FOi elaborado com patrocínio das empresas que aqui estampam suas marcas e por membros do Movimento pelo Rio Pardo Vivo: texto e diagramação Flávia Manfrin • supervisão e edição Edson Luís Piroli

No meio disso tudo, os gestores públicos têm papel fundamental. Tanto no Legislativo, quando no Executivo e no Judiciário, é essencial que todos ajam em defesa dos rios. Se deputados, vereadores, prefeitos, governadores, senadores, presidentes, juízes e promotores estiverem se omitindo, devemos exigir que tomem as medidas cabíveis aos cargos que ocupam.

foto: Diego Saldanha | Ecobarreira

Coleta de água de chuva, estação de tratamento de efluentes (dejetos despejados nos rios), permeabilização da área industrial e conscientização dos trabalhadores no sentido de fazer o melhor uso da água, são medidas praticáveis por indústrias de todos os portes. Afinal, a compensação será do tamanho do uso.

des espelhos d'água. E como tal, com o sol, especialmente no verão, época de estiagem, ou seja de falta de chuva, a evaporação da água desses lagos é gigante, sendo capaz de comprometer o volume das águas na época da seca. Por essa razão é muito melhor se produzir energia ou garantir o abastecimento de água de outras formas. E elas são muitas hoje em dia, como a partir de painéis fotovoltaicos (solar), eólica (vento), biomassa (na nossa região, da cana de açúcar), maregráfica (das marés).

foto: Flavia Rocha | 360

foto: Canva

Grandes e pequenas atitudes podem salvar o rio Pardo

Muito se apregoa em palanques, mas pouco acontece de fato, no campo político em benefício dos rios brasileiros. A conta deste desequilíbrio, será nossa. É também dever da imprensa reportar essas questões para que as populações ajam individual e coletivamente. É esta, aliás, a razão de ser deste encarte.


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