jornal 360_e217_fevereiro2024

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foto: divulgação

cidadania _ Farmácias fazem coleta de medicamentos usados, bulas e embalagens. Juntar e levar é tarefa do consumidor

finanças Todo cuidado é muito pouco com compras e empréstimos online que aparecem nas nossas telas todo dia •p10

A agricultura sustentável já é uma promissora realidade no país

Ancorada na regeneração necessária para que possa ser mantida sem risco de se extinguir ou de perder seu potencial ou, ainda, comprometer a saúde da terra, dos produtores e dos consumidores, a agricultura sustentável vem sendo estudada, aplicada e avaliada por pro-

dutores das mais diversas culturas em todo o país.

Um evento programado no interior de São Paulo irá abordar sua eficácia nos cultivos mais proeminentes (grãos, cana de açúcar e algumas culturas perenes)

provando que ela pode ser não apenas implantada em grandes áreas, como também gerar elevados níveis de economia produtiva e, ainda de novas atividades agrícolas em seu entorno. Abaixo, eaplicação de pó de rocha sobre a área de cobertura no plantio de soja.

•p8 •p5 foto: Flavia Rocha | 360 (ed109/2015) FEVEREIRO 2024 Jornal360_ Circulação: • Avaré • Bernardino de Campos • Canitar • Chavantes • Espírito Santo do Turvo • Ipaussu • Ourinhos • Piraju • Santa Cruz do Rio Pardo • São Pedro do Turvo Rodovias: • Graal Estação Kafé • Graal Paloma • RodoServ • RodoStar 360 online: issuu.com/caderno360 (com links + formato celular + download) facebook/jornal360

ANO 19 nº217 Grátis!
Jornal 360
acontece Santa Cruz se despede do grande e insuperável jornalista Sérgio Fleury Moraes, criador do semanário Jornal Debate •p9 GAAS

Sustentar

Do latim sustentare, significa dar ou obter os recursos necessários à sobrevivência ou à manutenção; manter(-se), conservar(-se); evitar a queda, manter o equilíbrio; não deixar que algo seja destruído, apagado; prover o necessário à sobrevivência

Faz todo sentido que se tenha escolhido a palavra Sustentabilidade para sinalizar a todos que era tempo de tomar jeito e ser mais responsável com tudo que fazemos e criamos. O termo tem origem no verbo sustentar e foi criado pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 1987 com o seguinte enunciado: “Sustentabilidade é suprir as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades.”

A sustentabilidade, quase 40 anos depois, ainda é algo bastante frágil e um tanto distante do dia a dia de muitas pessoas e, pior, de muitas corporações. Especialmente aquelas para as quais agir de maneira sustentável não faz diferença em seus negócios.

Ocorre que sem cumprir essa premissa, estamos fadados não apenas ao fracasso a médio e longo prazos. Mas também ao obscurantismo. Porque a luz, o foco, o interesse está e estará cada vez mais atrelado a práticas e condutas sustentáveis, pode acreditar.

Esta edição traz exemplos concretos do quanto a sustentabilidade rege comportamentos, caminhos e até mesmo estratégias de negócios. A começar pela imperdível entrevista com o presidente do GAAS (Grupo Associado Agricultura Sustentável), Eduardo de Souza Teixeira, que nos conta das razões para a realização do 3º Encontro Paulista de Agricultura Sustentável e da utilidade desse modo de produzir alimentos, inclusive em grande escala, como vemos em ACONTECE AGRONEGÓCIO.

É também movidas pela exigência de condutas sustentáveis, amparadas por leis, que as farmácias estão coletando não apenas medicamentos vencidos ou sem uso vendidos aos consumidores, mas também as embalagens, bulas e cartelas de comprimidos vazias, além de frascos plásticos e de vidro. Tratando não apenas da questão do devido destino de drogas não utilizadas, mas também do aproveitamento de um contingente gigante de papel, como vemos em CIDADANIA MEIO AMBIENTE

Para sustentar algo é preciso, sempre cuidar e olhar sem medos e disfarces, como vemos em BEM VIVER, trazendo mais uma vez a questão do envelhecimento.

A edição traz também nossos colunistas, em PONTO DE VISTA; boas receitas feitas com costelinhas de porco, em GASTRONOMIA; questionamentos do Pingo, nosso mascote, em MENINADA, e ótimas dicas para você sustentar seu poder de compra em PONTO FINANÇAS, não deixe de ler.

14 998460732

* Biólogo, mestre em ecologia e produtor rural, Eduardo de Souza Teixeira Eduardo de Souza Teixeira , quue já foi presidente do IBAMA em duas ocasiões e hoje preside o GAAS (Grupo Associados Agricultura Sustentável), concedeu entrevista exclusiva ao 360 360 para falar do encontro programado para 6 as 8 de março em Lençois Paulista. Com a presença de especialistas no assunto, tanto do meio acadêmico quanto da produção em larga escala, o encontro é excelente oportunidade para que o agronegócio da nossa região possa refletir sobre seus sistemas de cultivo e debater o assunto com quem adotou práticas agro sustentáveis em suas lavouras *

Quando você insere o conceito da sustentabilidade na sua vida, na sua rotina, nas suas escolhas, vai perceber, progressivamente, uma mudança de comportamento tranquila e cada vez mais capaz de lhe trazer saúde e qualidade de vida. Plante uma árvore e você vai entender do que estou falando. Comece a exercitar-se. Tire os enlatados da sua lista de compras. Os ultraprocessados também. E você vai entender que a sustentabilidade pode perfeitamente ser orquestrada aí, da sua casa, do seu lar.

Boa leitura!

Flávia Rocha Manfrin

| editora

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• 360@jornal360.com

consultoria & projetos . design . conteúdo . relações públicas . branding

Gálatas 6 vs 9

Ora ação!

“E não nos cansemos de fazer bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido.”

xpediente e

O jornal 360 é uma publicação da eComunicação. Todos os direitos reservados. Distribuição: gratuita. Tiragem: 2 mil exemplares. Circulação: mensa. Redação-Colaboradores: Flávia Rocha Manfrin ˙editora, diagramadora e jornalista responsável -Mtb 21563˚, Fernanda Lira, Leonardo Medeiros, Angela Nunes e Maurício Salemme Corrêa ˙colunistas˚, Sabato Visconti ˙ilustrador˚, Odette Rocha Manfrin ˙receitas e separação˚, Camila Jovanolli ˙transcrições˚. Impressão: Fullgraphics. Artigos assinados são de responsabilidade de seus autores. Endereço: R. Cel. Julio Marcondes Salgado, 147CEP 18900-007 - Santa Cruz do Rio Pardo/SP. • f/w: 14 99846-0732 • 360@jornal360.com • www.issuu.com/caderno360 • 360_nº217/fev24

2 • editorial
fogo: GAAS_divulgação

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Melhor idade coisa nenhuma. A velhice, quando já somos acometidos por desgastes físicos em função do tempo vivido é um grande desafio para o ser humano. O descompasso de mente e corpo vai aparecendo dia após dia e quando notamos, já não somos capazes de fazer aquela corrida que adorávamos, porque o joelho literalmente trava, incha, faz a gente parar.

Dançar, viajar e até mesmo dirigir vão se tornando atividades que exigem esforço e muitas vezes geram consequências físicas por dias a fio. Essa é a realidade de quem passa dos 50, 60, 70, 80 anos. E por aí vai.

Enquanto muitos ficam aí tentando se declarar “jovens”,inclusive se valendo de disfarces estéticos que, na verdade, entregam tudo, há os que simplesmente desistem. E se tornam seres solitários, enclausurados e tristes, sem pirque para nada.

O melhor, como sempre, é o caminho do meio. Ou seja, encarar que já não se é de fato jovem. Mas que isso não nos impede de continuarmos a viver curtindo cada dia da melhor maneira possível.

Uma das causas mais comuns do desânimo causado pelo envelhecimento são as limitações. Porque geralmente elas vêm acom-

panhadas de dores físicas. E reflexos emocionais negativos. Felizmente, o mundo ocidental se abriu para práticas holísticas que tratam dessas questões de maneira a evitar o uso de medicamentos da indústria química que sempre trazem fortes efeitos colaterais. Yoga e outras terapias, como massagens, jardinagem e artes, entram na lista como ótimos paliativos.

Um dos pontos-chaves do envelhecimento mais ou menos feliz e mais ou menos sau-

dável reside no quanto você continua a se comunicar, a se relacionar e se encontrar com as pessoas. Não apenas com amigos próximos e familiares, mas também com grupos com os quais você tem alguma afinidade, que pode ser até a de estar vivendo o envelhecimento.

Fazer algum curso, ir visitar um amigo, assistir a um espetáculo, participar de ações beneficentes, cozinhar junto com as novas gerações, muitas atividades coletivas po-

Sem essa de seguir alguém!

Eu já adianto que não sigo ninguém.. Quando acompanho as postagens de meia dúzia de pessoas que por conta do volume de visualizações são chamadas de influencers, garanto que não me influenciam. Vejo tudo com o olhar crítico do jornalismo, sobre o que afeta a sociedade.

Fora o olhar profissional, tampouco me lanço em ideia, padrões ou discursos sem refletir.

Mas uma vez na vida já fiz isso. Mergulhei de cabeça numa corrente de crenças religiosas certa vez. Isso durou alguns poucos anos e foi muito bom. Por sorte era uma corrente religiosa de bons princípios. Guardo bons ensinamentos e amigos daquela época. Mas havia consistência e conteúdo.

Mesmo assim, passada a fase da submissão que envolve toda situação de seguir algo ou alguém, de deixar-se levar e influenciar sem questionar muito, entendi que nunca mais quero viver algo assim. Por mais que tenham me feito bem, não vim ao mundo para ser massa de manobra. Muito menos marionete.E menos ainda para me rotular.

á bastam os rótulos que me impingem. Os quais, apesar de minha postura indiferente, muitas vezes abalam meu humor, minhas emoções e até mesmo minha auto estima e a minha liberdade.

Sobre os outros, adultos e jovens. Fico quase em pânico ao constatar o tempo que gastam com as tolices que zilhões de "influencers" postam desesperadamente na Internet.

Que compaixão sinto por essas pessoas. Que estão cada vez mais suscetíveis a serem levadas na conversa.

* jornalista paulistana que adora o interior

dem, devem e merecem fazer parte da rotina do idoso, inclusive os jogos de salão.

Vencer a preguiça, nesse caso, é muito importante. Assim como tratar de fazer alguma atividade física que lhe dê algum prazer e garanta a sua saúde nessa fase.

O mais importante, talvez, seja começar a aceitar essa palavra como sinônimo de nossa condição. Parar de rejeitar o termo velho como algo ruim. Afinal, o velho pode – e costuma ser – muito bom. Quem não gosta dos velhos amigos? Ou da velha camiseta desbotada e confortável, que a gente usa até para dormir melhor? De caminhar com o tênis velhos e macio? Ler um velho do século passado? Rever um velho filme? Ouvir música antiga? Velho é muito bom. É sinal de vida!

• ponto de vista
jornalista, editora do jornal 360
*
Melhor idade não, mas dá pra curtir
* Fernanda Lira imagem_canva.com
imagem_canva.com

Delícias de costelinha suína

Eu adoro costelinhas de porco. E foram várias as vezes que postei receitas com elas por aqui. Hoje temos mais algumas versões dessa delícia de carne saborosa e mais leve do que a carne bovina (que eu também adoro). Quando compro a costelinha, faço questão que venha com os ossinhos e com gordura, para ficar suculenta. Claro que precisa derreter essa gordura, por isso, asso em fogo baixo. Mas se por

Costelinha da D. Odette

preparo: Flávia Rocha Manfrin

_Ingredientes:

• 1kg de costelinhas de porco cortada em tiras estreitas

• 1 colher de sopa de gengibre ralado ou em pó

• 1 colher de sopa de sal

• 3 colheres de sopa de shoyo

• pimenta a gosto

• 3 dentes de alho ralado ou espremido

• 2 limões médios

• 2 laranjas maduras

• 1 cenoura

• 1 batata doce

• 2 cebola

_Preparo: Junte os temperos exceto o limão e a laranja e passe na carne espalhando bem. Depois esprema os limões sobre a carne e mexa com as mãos para espalhar bem. Ajeite num pirex e esprema as laranjas de modo a ficar pelo menos até a metade com líquido. Você pode deixar marinando por horas e até de véspera.

Quando for assar, cubra com as cebolas e os tubérculos

acaso é feita diferente, como na tradicional receita chinesa desta edição, opto por carne mais magra ou retiro o excesso de gordura, que naturalmente eu guardo para cozinhar.

Nesta edição, uma receita bem caipira, feita aqui em casa e outra típica chinesa, que ficou sensacional.

Tang cù pái gú (frango agridoce)

preparo: Flávia Rocha Manfrin

_Ingredientes:

cortados em pedaços grandes. Polvilhe sal sobre eles. Cubra com papel alumínio e leve ao forno a 160º por uns 30 a 40 min. Retire o papel laminado e veja se a carne já está cozida. Se estiver, volte para o forno a 150º sem o papel laminado. Deixe até dourar e ajeite os legumes para que a gordura da carne seja bem assada e escorra bem. Quando for servir, retire o excesso de gordura que juntar no pirex e guarde num vidroesterilizado. É ótimo para usar no arroz, no feijão e na farofa.

• 5 colheres de açúcar mascavo para fazer o caramelo

• 1/3 de xícara de água para fazer um caramelo

• 2 colheres de sopa de saquê ou cachaça

• 4 fatias largas de gengibre

• 4 dentes de alho

• 1 ramo de cebolinha

• 2 colheres de cebolinha picadinha

• 1 colher de sopa de shoyo

• 3 colheres de sopa de vinagre de maçã

• 2 colheres de óleo (usei de gergelim)

• 1 colher de sopa de gergelim

• sal e pimenta a gosto

_Preparo: Corte a costela em cubos. Coloque numa panela de altura baixa com o gengibre e o saquê. Cubra com água fria e leve ao fogo. Depois que ferver a água, mantenha na fervura por 2 minutos. Enquanto estiver na fervura, vai juntar uma espuma que você pode ir retirando com uma escumadeira ou peneira de metal. Passado o tempo da fervura, retire do fogo, escorra a água e lave as costelinhas com água fria corrente. Escorra bem a água e reserve. Faça à parte um molho com o shoyo, 2 colheres de açúcar e o vinagre e reserve. Seque a panela e use o óleo (eu usei o de gergelim) para selar as costelinhas. Quando estiverem bem douradas, retire da panela e reserve. O excesso de gordura que juntar, retire da panela e reserve

fotos: Flavia Rocha | 360

Volte a panela ao fogo e coloque a água com o restante do açúcar para fazer o caramelo. Quando o açúcar estiver bem derretido e o caramelo já dourado, acrescente as costelinhas e mexa para que o caramelo se espalhe sobre elas. Adicione o alho e a rama de cebolinha enrolada, adicione sal e pimenta e cubra com água quente. Tampe a panela e cozinhe em fogo baixo por uns 30 minutos. Depois, tire a tampa, a cebolinha e o alho (pode deixar o alho se quiser). Adicione um pouco mais de shoyo (1 vez) e vinagre ( duas vezes). O molho vai secar e envolver a carne. Retire do fogo, polvilhe com gergelim e a cebolinha picadinha.

fonte: @gohango

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• gastronomia

A agricultura sustentável se mostra bastante viável e mais econômica

O 3º Encontro Paulista do GAAS – Grupo Associado Agricultura Sustentável – trará especialistas e produtores para debater o tema

Criado em 2017, o GAAS (Grupo Associado Agricultora Sustentável) realizada o terceiro evento paulista focado na introdução e desenvolvimento da agricultura regenerativa. Serão três dias de palestras com produtores e especialistas do mundo acadêmico que de dedicam ao tema na cidade de Lençóis Paulista.

Dividido por cultura de produção (Canade-açúcar - 06/03, Grãos - 07/03 e Eucalipto, Citrus, Café e Perenes - 08/3), o evento é uma grande oportunidade para produtores interessados em redução de custos de suas lavouras e valorização do solo de suas propriedades, além de estudantes e técnicos do setor agro.

Para tratar do assunto, conversamos com exclusividade com o biólogo e mestre em ecologia Eduardo de Souza Martins, presidente do GAAS. Com longa experiência no setor científico e à frente de órgãos ambientais (por duas vezes foi presidente do Ibama, além de diretor técnico da Secretaria nacional de Meio Ambiente e coordenador do WWF (World Wildlife Fund), Martins é também fundador da E. Labore Consultoria Ambiental Estratégica. Atualmente trabalha como agricultor de florestas plantadas, pecuária e produtor de cachaça orgânica na região norte de Minas Gerais, sendo também o principal acionista da Novo Solo, empresa dedicada à pesquisa e produção de remineralizadores de solo.

360: Por que um encontro em paulista?

Eduardo de Souza Martin: São Paulo é uma referência de muitas coisas e também em agricultura. E talvez a gente possa dizer que São Paulo tem maior concentração de pesquisadores e técnicos com a possibilidade de contribuir nesse processo da agricultura sustentável.

360: E por que Lençóis Paulista?

ESM: Temos buscado regiões agrícolas relevantes para impactar as práticas regenerativas. Lençóis Paulista tem grande importância em cana-de-açúcar e também é relevante em grãos e alguns cultivos perenes, como laranja e café, que são extremamente importantes para essa região e para o resto do estado.Quando fazemos um encontro, a ideia é que ali permaneça um núcleo do trabalho. Mas o aprendizado também nesses eventos acaba extrapolando a própria região. Tenho certeza que o que vai ser discutido em Lençóis poderá favorecer e ensinar muita coisa a agricultores de outras regiões.

360: Como foram os encontros anteriores realizados no estado de São Paulo?

* Técnico exibe uplanta de soja em Goiás. Ao retirar os frutos das vagens, é possível avaliar a qualidade das sementes, uma prática realizada pelos associados do GAAS *

ESM: Um deles aconteceu em Campinas, em 2019, principalmente por causa da concentração de competências, e dali prosperou uma érie de coisas. Houver uma abordagem mais ampla, com ênfase na questão do cinturão verde. Tivemos também um momento de adesão, de agricultores e produtores inusitados, como o de Macadâmia, que avança-ram muito nos seus processos. O outro evento foi em Jaú, em 2018, e uma uma das razões ali era um grupo que vem se organizando e trabalhando buscar alternativas de diversificação de produção agrícola como alternativa para as monoculturas.

360: Fale um pouco de resultados. ESM: Quando a gente faz um evento é difícil saber quais serão as consequências, mas quando a intenção e a coisa é bem construída, ela sempre rende e gera muitos frutos. Em Jaú, a gente teve uma discussão muito interessante envolvendo o uso dos remineralizadores, que ainda hoje é algo que não é tão comum e envolve grande desafio para ser utilizado. Na época, tinha sido a primeira vez que o professor Crusciol, que é referência brasileira para o tema de nutrição de culturas e vai estar em Lençóis, tinha vivenciado uma experiência de trabalhar com cana usando os remineralizadores, que são os pó de rocha, e ele estava impressionado com o resultado que tinha encontrado. Foi uma oportunidade de compartilhar e explicar quais eram os processos que estavam envolvidos que poderiam ajudar a explicar o resultado que ele tinha alcançado.

360: Você é biólogo, foi presidente do Ibama mais de uma vez e é produtor rural. Por que se aproximou do GAAS? ESM: Eu acho que acabei descobrindo que

agricultura e meio ambiente não precisam ser adversos, não precisam estar polarizados, até porque agricultura é algo que você faz do ponto de vista de algo vivo e para cuidar de um sistema vivo você precisa de biologia. Eu costumo dizer o seguinte: você pode achar que você não está lidando com a dimensão da natureza, mas as leis naturais não podem ser anuladas só porque você está produzindo grãos. O processo natural está funcionando o tempo todo. Hoje um dos maiores caminhos que temos para organizar a nossa agricultura são baseadas em soluções da natureza. Não que a agricultura seja igual à natureza. Ela é diferente, mas a gente pode aprender com coisas que a na-

tureza utiliza do ponto de vista de processo e usufruir, copiar isso nos nossos sistemas de produção. E toda vez que a gente consegue fazer esse ajuste a gente tem resultados muito positivos.

Outra coisa que eu aprendi é que quando a gente ensina um caminho bem consistido na agricultura, o efeito é muito grande, o alcance é muito grande, o impacto é muito grande, e tem algo extraordinário dentro desse grupo (GAAS) que é a possibilidade dos agricultores trocarem suas experiências. É uma força extraordinária o que nasce dessa interação produtor-produtor, que a gente trata como a emergência de uma inteligência coletiva. E é uma dimensão de conhecimento que inclusive a gente trata e considera tão relevante quanto a do pesquisador. A nossa busca é inclusive para que esses conhecimentos sejam capazes de gerar diálogos e ter resultados favoráveis para os dois lados.

360: Pode nos dar exemplos práticos?

ESM: A grande coisa que o GAAS faz, talvez seja um dos principais resultados, é conseguir pegar práticas regenerativas e demonstrar que elas podem ser adotadas de uma maneira intensiva e extensiva. Mas é igual? Não. Tem vários desafios. Envolve um processo de aprendizado, não tem pacote pronto. O que a gente tem e que a gente compartilha e generaliza, na realidade, são princípios, fundamentos e diretrizes, mas a construção acaba acontecendo para cada contexto e para cada realidade.

5 • acontece_agronegócio
foto: divulgação GAAS

À esquerda: área de soja pronta para a colheita, com solo totalmente coberto, em Ipameri/GO.

À direita: Sérgio Pimenta (responsavel pelo Selo GAAS) e Laércio, produtor associado, avaliam o vigor das raízes de soja nos primeiros estágios, em São João do Oeste/SC

E uma das coisas mais incríveis é quando você percebe que o agricultor passou a compreender algo que é fundamental. E aí não faltam testemunhos de agricultores, dizendo “com essa agricultura eu aprendi que a natureza não é a minha inimiga”. Porque a agricultura convencional está sempre em guerra, precisa matar, controlar, eliminar. Algo que, inclusive, do ponto de vista do funcionamento do sistema, não é possível fazer, porque você nunca vai eliminar. Só que isso acaba gerando uma conveniência para o negócio de insumos da agricultura convencional. Porque toda vez que você aplica algo, primeiro você não cuida das causas, você fica lidando com o problema. Segundo, cada vez que se aplica algo, gera um problema secundário, você vai precisar aplicar um outro.

Então, tirar o agricultor dessa perspectiva que é “estou com problema, o que eu aplico?”, que é a palavra usada na agricultura convencional, na realidade muda para o seguinte: “Tenho um problema. Onde podem estar as causas desse problema no processo? E qual seria a melhor ação para eu fazer para resolver esse problema?” Só depois eu penso em insumo. E aí quando eu vou escolher um insumo, é menos ofensivo. É um insumo que, além de melhorar o processo, me entrega mais coisas. Esse é o exercício da agricultura sustentável. E o incrível e o fantástico é quando o agricultor descobre, entende e constata isso. E tem uma coisa muito relevante: fazer essa agricultura é possível com recursos que em grande parte estão no local, na própria fazenda ou na área de produção e na região. Isso reduz o custo de produção e faz com que boa parte do dinheiro gasto pelo agricultor fique na região..

360: Quais são os índices de redução de custos para quem opta pelo sistema regenerativo?

ESM: A redução de custo de produção é de 30%. E tem agricultores chegando a 40% de redução de custos. Já a redução do consumo dos insumos convencionais pode chegar a até 70%, podendo chegar a até 80%, caso de alguns agricultores.

360: Inclusive grandes produtores?

ESM: Sim, inclusive grandes produtores. Nunca é tão simples porque em geral você começa numa área pequena, ganha confi-

ança de que funciona, depois você amplia um pouco e vê que continua funcionando. Isso vai requerer uma série de ajustes do seu processo operacional, até que o agricultor fala “vou virar a chave, virei a chave”. Em três anos dá para virar a chave em uma área de mil hectares, num processo bem cuidado, bem orientado e com locais que têm suporte etc. Não é tanto tempo.

A gente tem alguns desafios grandes. Por exemplo, ainda somos muito dependente de herbicidas. É o nosso “calcanhar de Aquiles”. Precisamos encontrar a solução para isso. Estamos apoiando um grupo de produtores que está tentando montar uma solução de equipamento para tentar eliminar ou pelo menos diminuir muito o uso dos herbicidas com base em desenvolvimento de equipamentos específicos para isso, para produzir em larga escala, de forma intensiva e extensiva.

Outra ponto relevante é que o fato da gente trabalhar com insumos que são acessíveis não quer dizer que a condução das práticas, dos processos que a gente estabelece nos nossos manejos, sejam mais simples. Ao contrário, eles são mais complexos.

360: Pode dar um exemplo?

ESM: Bem, na agricultura convencional, se tem um problemas de percevejos, você usa uma molécula química, aplica e sabe que eles vão morrer. Na agricultura sustentável não. Primeiro pensamos: por que que é que tem o percevejo? Ah, o percevejo está aparecendo porque eu estou usando fungicida. E como eu faço para lidar com os problemas de fungo da folha? Ah, mas para isso eu uso biológico. Mas que biológico tem resposta? Qual é a melhor forma? Ou seja, eu estou lidando com o sistema vivo e com os processos, então a complexidade é muito maior do que eu pegar uma molécula que é um tiro de canhão e dizer, matei tudo.

Você tem que estar sempre estabelecendo uma maneira de ter essa leitura e essa compreensão. Nem tudo é possível explicar. E o que você faz? Usa os bons princípios, os bons fundamentos e o bom senso para ir conduzindo e aprendendo. E é um processo muito rico, porque ele envolve a justificação, envolve o agricultor trabalhar mais, porque ele tem que prestar atenção, sentir e perceber as coisas com proximidade. Não dá para

deixar uma aplicação programada na produção e ir pra praia. Você tem que ficar lá cuidando, acompanhando o processo. E acaba sendo um processo intensivo de aprendizado permanente.

360: E esse aumento de trabalho, de atenção e cuidado vale a pena?

ESM: Toda essa dedicação vale muito a pena. Porque além da redução dos custos, você vê que o sistema está melhorado, que essas práticas permitem a melhoria do solo, são evolutivas e permanentes. Entende que é o contrário? Em vez de você ficar ali explorando o solo, a cada ano seu solo tem condição de melhorar. A gente acha isso é extremamente positivo. E a gente escuta em todas as áreas de produção, de todos os produtores e também dos trabalhadores, que é um alívio de não ter mais a quantidade de veneno aplica, que envolve a questão do medo e do risco da contaminação. É extraordinário, é um processo muito incrível que acaba acontecendo nas fazendas.

360: Como você definiria a agricultura sustentável que vocês propõem?

ESM: É uma agricultura baseada em processo. Ela está fundamentada em buscar soluções no seu contexto regional e em melhoria do solo, que é o nosso grande fundamento. Ela gera serviços ecossistêmicos, que reduz emissão, reduz perda de solo, reduz perda de água. E oferece uma produção de melhor qualidade, seja pela redução dos contaminantes, seja pela qualidade intrínseca. É uma produção que tem aumentado a quantidade de nutrientes, micro nutrientes, a qualidade proteica. Essa agricultura é isso: a agricultura que opera com soluções com base em segurança para a gente ter algo que seja sustentável, que não seja “engenheirada”, em que se acha que é possível que a agricultura possa ser montada como se fosse um sistema industrial. Quando a gente fala de agricultura, a gente fala de vida.

360: Quais os principais obstáculos para que a agricultura sustentável gere interesse na maioria dos grandes produtores?

ESM: O maior desafio que a gente tem é multiplicar os mecanismos e as pessoas que sabem implementar, ensinar, difundir. Nós temos um desafio enorme. Quando você vai olhar o agricultor convencional, a uni-

versidade ensinou as coisas que o agricultor convencional faz. Se ele vai lá na revenda, ele tem tudo oferecido no balcão para ele resolver os problemas. Os equipamentos, as sementes já estão adaptadas a essa forma de responder a uma quantidade enorme de insumos. Então, quando a gente fala “vamos fazer o regenerativo”, acaba se transformando num desafio, porque todo esse conjunto que está estruturado para que a agricultura convencional funcione, ainda não está estruturado para a agricultora regenerativa funcionar. Nós temos que estruturar várias cadeias: a cadeia do biológico, dos remineralizadores, dos consultores que dominam isso e sabem praticar, dos extratos vegetais que têm uma contribuição extraordinária nos manejos. São várias cadeias que a gente precisa organizar.

360: Porque se fala tanto em sistema regenerativo?

ESM: Para que se construa uma agricultura sustentável, adotamos práticas regenerativas porque os impactos da tal “revolução verde” (criada em meados do século XX) deixou muito estrago, como a contaminação de solo, redução de biodiversidade, aumento da quantidade de pragas por causa do desenvolvimento de resistência. É uma lista extremamente grande. Então eu preciso regenerar. Recuperar o que foi perdido.

360: E esse processo é contínuo?

ESM: Se eu fizer tudo que precisava para regenerar a produção, se tenho um solo fantástico, produzo com uma paisagem rural que se integra com o reminiscente das áreas naturais, a regeneração que eu precisava fazer foi feita. Só que a gente tem que tomar cuidado com esses conceitos, porque eles são abertos. e muitos vão se apropriando deles de acordo com suas próprias conveniências. Tem que ter sentido, significado e formas de ser verificado. Por isso, inclusive, criamos um selo do GAAS, que se propõe a demonstrar isso.

360: Você acha que o processo regenerativo vai se tornar a agricultura convencional no futuro?

ESM: Eu não sei dizer se o regenerativo vai ser convencional no futuro. Eu sei dizer que vai crescer e vai crescer por várias razões. Primeiro porque funciona, porque tem custos menores. E vai avançar também porque existe uma demanda pela produção dessa

fotox: divulgação GAAS

* Cultura de cobertura em fazenda de Santa Catarina. O mix de plantas promove a biodiversidade de microrganismos, contribuindo para melhorar a biologia do solo *

agricultura. O consumidor, o mundo, as empresas são chamadas cadeias de valor, estão buscando isso. Hoje eu falei com uma das maiores empresas de cadeia de valor do sistema agro-alimentar do mundo. Então você vê que essa demanda tem o poder de fazer as coisas acontecerem, o que é extraordinário. Em café por exemplo, já tem uma iniciativa extraordinária do primeiro café regenerativo lançado na Itália. Com base nisso, todas as outras empresas de café estão tentando se organizar.

360: Quanto a indústria química e também a indústria de maquinário interfere no avanço da agricultura sustentável?

ESM: A primeira coisa que a gente tem como desafio dessa indústria, é a necessidade da tropicalização. Os sistemas de produção de conhecimento dessas empresas não estão atrás de cuidar das especificidades de um contexto, de um lugar, de um país, de uma região. Eles criam algo muito potente para atender todo o mercado. De qualquer lugar do mundo. Então é sempre uma coisa muito drástica, sem cuidado. Outra coisa é que elas partem de um paradigma do insumo, do produto para cuidar de sintomas, não para resolver o problema. Porque isso faz parte do negócio. Então se eu tenho um problema muito sério que é

uma ferrugem que dá na soja, ferrugem asiática, elas vendem um fungicida. E quanto mais as pessoas ficam com medo desse fungo, mais aumenta a venda do fungicida. De fato, é uma doença importante, ela tem que ser bem cuidada, mas isso acaba gerando uma limitação na inovação. Até porque essas empresas, quando lançam um produto, ele tem que render muito. Então, demora até ele ser substituído e renovado porque ele tem atingir as metas definidas.

Na hora de oferecer as opções, o correto seria tomar a perspectiva do agricultor. A tecnologia não pode dizer: “estou lançando um novo produto que equaciona tal coisa”. Outro ponto é o que essa tecnologia impõe do ponto de vista de custo para o agricultor, o que é que ela deixa de consequência para o sistema. Isso não é pensado. E uma outra questão é que as dificuldades para você desenvolver moléculas químicas são muito grandes e, por isso, isso acaba sendo dominado por poucas empresas. Hoje, cerca de sete empresas dominam quase todo o mercado de moléculas químicas do mundo. E esses oligopólios, toda vez que isso se concentram demais, acabam gerando custos para o agricultor de uma forma que não leva em conta o próprio cliente deles.

Então, acho que a vinda da biologia para a agricultura, com essa força que está vindo, vai mudar muito e vai criar um desafio muito grande para essas empresas, porque vai ficar mais fácil você gerar soluções com custos menores. Portanto, a gente espera que a gente tenha mais competição na oferta de soluções para a agricultura.

Quanto a equipamentos, acho que é pior, porque a quantidade de empresas é menor. Tem três que dominam quase tudo. E esses equipamentos é claro que funcionam, mas é interessante observar a quantidade de oficinas que existem para adaptar os equipamentos. O que mostra que as soluções que esse pessoal traz não estão totalmente ajustadas para as nossas necessidades. O que estamos discutindo e defendendo, é que precisamos de projetos bem concebidos para os nossos problemas, projetos que possam ser produzidos por indústrias me-

nores, de preferência regionalizadas, e que consigam ofertar soluções com mais coerência com a necessidade que nós temos.

360: Como produtor e presidente do GAAS, você acredita que seja compensa mudar para o sistema regenerativo. Pode nos dar alguma razão de ordem prática?

ESM: Isso aí me lembra de um resultado impressionante. A gente está tendo cada vez mais os chamados extremos climáticos. Ou é muita chuva, ou é muita seca. E o que tem acontecido com frequência é que os nossos agricultores têm conseguido passar melhor por esses extremos, o que a gente chama de maior resiliência. E uma razões deve-se ao fato de conseguirmos reter mais água no solo, o que faz com que a água disponível flua para o sistema numa velocidade menor, com menos impacto. Além disso, nós estamos diminuindo a contaminação. E quando mantemos nossas áreas de produção a maior parte do tempo cobertas, pois a ideia é ter cobertura permanente, o nosso sonho é ter uma agricultura sempre verde, isso vai ter um reflexo na água.

360: Quando você fala em cobertura de solo, trata-se de palhada e tem outras plantas também?

ESM: Também tem outra possibilidade de plantas de se alterar o desenho produtivo. Uma das coisas que tem funcionado de uma forma extraordinária é introduzir animais no sistema de produção de grãos. Pode ser gado, cordeiro, ovelha. Isso tem dado

uma resposta incrível do ponto de vista de produção, da melhoria do solo. Então, a gente também sabe que em algum momento nós vamos ter que começar a trabalhar e ter nas áreas de cultivo plantas perenes, porque eu faço um esforço enorme para ter um bom sistema de produção, isso depende da minha boa biologia. Aí vem uma seca, eu perco parte daquilo que eu consegui construir. Então, é muito importante eu conseguir manter raiz funcionando dentro do solo o tempo todo. Daí a gente está em busca do que a gente chama de uma agricultura sempre verde.

360: E toda essa mudança produtiva re

3º Encontro Paulista do GAAS

Objetivos:

• Demonstrar o panorama atual e perspectivas para a Agricultura Sustentaável e Regenerativa em face dos desafios climáticos para 2024;

• Apresentar soluções biológicas e orgânicas para uma agricultura mais sustentável;

• Enfatizar a necessidade do uso de insumos regionais para redução de custos;

• Abordar os principais desafios encontrados nos setores de cana, grãos e culturas perenes, com foco em citros, eucaliptos e café;

• Promover interação entre público e palestrantes através de perguntas e respostas.

Info : 6 a 8/03/24 - Lençóis Paulista https://gaasbrasil-eventos.com.br/encontropaulista/

flete na qualidade do que chega para o consumidor, certo?

ESM: Acabou de sair um relatório, analisando quais seriam os ganhos econômicos se a gente fizesse a transição regenerativa para uma agricultura sustentável. Mudar as formas de produzir, botar biologia, reduzir o consumo dos insumos, ter cuidado com o solo etc. Quem mais vai ganhar é a nutrição das pessoas. E a economia que isso pode dar é um negócio extraordinário. É claro que com mais densidade nutricional. A indústria de alimentos também tem que mudar. Mas o grande ganho é de saúde.

* Eduardo de Souza Teixeira, biólogo, mestre em ecologia, produtor e presidente do GAAS *

fotox: divulgação GAAS

Redes de farmácia coletam embalagens e medicamentos

Adepta da coleta seletiva de material descartado há mais de 20 anos, sempre fiquei impressionada com a quantidade de “lixo reciclável limpíssimo” que eu ia juntando no meu banheiro. Embalagens de creme dental e sabonetes, caixas e bulas de medicamentos e o miolo de cada rolo de papel higiênico, além do plástico que embala várias unidades do produto, rapidamente enchiam (e continuam a encher) o balaio que deixo ali para isso. Meu incômodo com a falta de um destino adequado a essa coleta de itens tão limpos, muitas vezes me fez sugerir às farmácia que colocassem caixas para essa coleta. Lembro de uma vez ter falado disso para uma amiga farmacêutica que reagiu contrariada. “Farmácia não é lugar de juntar lixo!”, defendeu ela. E por mais que eu insistisse de que se tratava de material super limpo, ela achou algo impraticável.

O que eu não sabia – e descobri fazendo essa reportagem – é que a logística reversa, que leva de volta para quem vende resíduos como embalagens e produtos nao utilizados, já existe para medicamentos desde 2020, quando foi assinado o Decreto nº 10.388/2020 que regulamenta o parágrafo que trata da questão da Política Nacional de Resíduos Sólidos, em vigor desde 2010 (Lei nº.12.305). De fato, demorou 10 anos para que essa regra fosse incluída na lei, mas ela já existe e deve ser praticada pelas farmácias.

A obrigatoriedade recai sobre a coleta de medicamentos vencidos ou apenas não utilizados, que não devem ser descartados em pias, vasos sanitários ou cestos de lixo, mas sim depositados nos displays de coletas das farmácias, inclusive ainda dentro das embalagens originais, sejam elas frascos de vidros ou de plástico, ou blisters, que são as cartelas de comprimidos. Isso se tornou obrigatório pelo risco de contaminação das águas e o possível uso inade-

* Acima e abaixo, o display da Drogasil, a postos para receber embalagens e medicamentos para serem descartadas. Mais à direita, abaixo, display da Drogaria São Paulo *

quado dos medicamentos quando jogados no lixo. Das farmácias, esse material segue para sistemas de incineração apropriados, realizados por empresas terceirizadas.

Além dos medicamentos e seus recipientes originais, as coletas também abrangem as caixas e bulas, feitas de papel, que seguem para reciclagem convencional.

Displays de coleta – Ainda sem saber da obrigatoriedade da coleta, me deparei com um display recentemente, quando fui buscar uma compra online na Drogasil da minha cidade. Reagi qual criança quando ganha um brinquedo. A satisfação aumentou quando notei que ele estava quase cheio de embalagens, prova de que não só a farmácia faz a coleta, mas o consumidor corresponde, levando para o local os medicamentos e embalagens em desuso.

O que levar – O que apurei nas duas farmácias que visitei, é que há uma diferença no que pode ser colocado nas caixas de coletas. A Drogasil tem um display com duas

opções: para medicamentos vencidos e outro para embalagens, bulas e cartelas vazias de medicamentos. Mais flexível, também deixaram que eu depositasse ali caixas de creme dental e papel de sabonete. Separadamente, a empresa também coleta pilhas usadas. Na Drogaria São Paulo o display tem também duas alternativas. Uma para remédios e pilhas vencidas e outra para bulas e caixas de remédios. Ali não permitiram o descarte de embalagem de itens de higiene pessoal e cosméticos, que, afinal também são vendidos em farmácias.

Volume do descarte – Na Drogasil a coleta começou em 2011, com o recolhimento de medicamentos vencidos. O volume, segundo informou a empresa, é gigante. Somente em 2022, foram recolhidas 192 toneladas de medicamentos vencidos ou em desuso, nas mais de 2800 unidades de Drogasil e Droga Rais espalhadas pelo país.

Já o início e volume de embalagens recolhidas não foi informado, mas a empresa explicou que desde 2023 o papel coletado é destinado à produção de novas embalagens. “O papel (bulas e caixas) coletado nas farmácias do Estado de São Paulo é reciclado para fabricação de embalagens dos produtos da Natz, marca própria do grupo RaiaDrogasil”, informa a empresa.

Segundo a RD, essa iniciativa tem como fundamento uma meta que buscam atingir até 2030: ser o o grupo que mais contribui com uma sociedade mais saudável no Brasil. “Temos metas audaciosas que envolvem o comprometimento da empresa e o engajamento de clientes e fornecedores, levando-nos a atuar em diversas frentes, como coleta seletiva, logística reversa de medicamentos, uso de embalagens eco-eficientes, uso de energia de fontes renováveis em nossas farmácias, entre outras”, destacou a RD.

“A ideia é sempre expandir as iniciativas bem-sucedidas e buscar outras que possam trazer mais benefícios. Percebemos que os clientes são engajados com essa questão e apoiam estes e outros projetos da rede”, acrescenta a empresa.

Atitude do consumidor – Se por um lado é importante – e até mesmo obrigatório, como no caso das farmácias – que o comércio promova a coleta de materiais para reciclagem à disposição de seus clientes, é essencial que os consumidores correspondam, levando o que pode ser coletado para as lojas. Afinal, é uma ação de mão dupla onde um vendedor resolve o destino e reciclagem de parte do “lixo” que produzimos e cabe a cada um de nós juntar e levar até a loja para a tudo aconteça.

8 • cidadania
foto: Flavia Rocha | 360 foto: Flavia Rocha 360 foto: Flavia Rocha 360 foto: Google

A voz livre se cala deixando um grande legado para a imprensa

Eu tinha que estar em pleno fechamento”, na pressão e angústia das últimas horas que antecedem o término de uma edição do jornal para vivenciar essa ingrata notícia, que me fez, naturalmente, dispensar a matéria mais “fria” (atemporal) da edição mensal do 360 para dar espaço a esta singela, porém convicta homenagem ao grande jornalista Sérgio Fleury Moraes. Afinal, era nessa adrenalina da corrida contra o tempo que ele vivia as suas sextas-feiras, produzindo o Debate

Algo muito “enxuto”, dado o pouco espaço, exigindo de mim a habilidade de contar em poucas, porém consistentes palavras o fato que nos deixa órfãos do noticiário factual crítico como dever ser, reportado por ele há décadas.

Sérgio foi talvez o jornalista mais completo que conheci na centena deles o suficiente para tal afirmação. Apaixonado e entregue à profissão de uma forma singular e perene. Sua vocação precoce e sua incrível habilidade não apenas de pautar as edições semanais do Debate com destreza, complexidade e eficiência, mas sobretudo de entregar aos leitores textos

* O jornalista Sérgio Fleury Moraes na sede do Jornal Debate, durante entrevista exclusiva concedida ao jornal 360 em 2015 (edição 109) *

muito bem elaborados, ricos em informação e deliciosos de ler, nos trazia para dentro de casa, nos bancos da praça e mesas de empresas uma mente brilhante. Inteligente, rápida, crítica e comprometida em informar os fatos.

Para Santa Cruz do Rio Pardo, uma pe-

quena cidade do interior, ter um jornalista do calibre de Sérgio Fleury sempre foi motivo de muito orgulho. Raras cidades conseguem ter em suas bancas de jornais exemplares independentes, criados com base na direção de um editor e não de um contato publicitário.

Sérgio deixa muitos seguidores de sua determinação em levar notícias de acordo com sua decisão editorial, sem submissões a pressões políticas ou comerciais. Estando entre eles, posso testemunhar o quão difícil é praticar esse tipo de jornalismo que não se dobra, não se acomoda e muitos menos se omite diante dos fatos que merecem e os que precisam ser noticiados, mesmo que incomodem amigos.

Não tenho a menor dúvida do legado que ele deixa na história do jornalismo brasileiro. Muito menos do talento já compro-

vado deu seu herdeiro editorial, André Fleury Moraes, que foi capaz de elaborar, publicar e divulgar imediatamente após o fato, uma incrível reportagem sobre a trajetória ímpar e notável do pai no jornal Debate, que ele criou há mais de 40 anos e que, acreditamos esperamos, continuará a circular.

Como santa-cruzense e jornalista, deixo aqui meu profundo pesar, meu agradecimento e todo o respeito do 360 com a seguinte mensagem: Sérgio, o jornalismo que você praticou contou a nossa história com bravura e incrível talento. Assim como entra para a história do nosso país.

Flávia Manfrin | editora 360

Links de entrevista e reportagem:

360_ed109 (fev2015):

https://issuu.com/caderno360/docs/360_ed109_fev141/3

Jornal Debate (fev2024):

https://www.debatenews.com.br/editoriais/sociedade/detalhes/morre-o-jornalista-sergio-fleury-moraes-icone-daimprensa-de-santa-cruz-aos-64-anos?fbclid=IwAR14Jspyw1 00LMS1XGJXXe_bljJL5lK7UCeBnEOqAJ1_rdAfcpZWLppEKGY

9 • acontece
foto: Flavia Rocha | 360 (ed109/fev15)

o Mapa da MINA

Por uma vida financeira mais tranquila!

Olá, Pessoal! Hoje, vou falar sobre um tema bem atual e que tem mudado muito a nossa vida e que pode causar impacto na nossa caminhada no Mapa da Mina para o TESOURO do BEM ESTAR FINANCEIRO.

Vamos falar sobre o mundo digital, mais precisamente sobre compras e empréstimos online, feitos com alguns “clicks” no nosso computador ou nos aplicativos do nosso celular!

Aí está o tesouro:

Operações ONLINE

COMPRAS ONLINE:

No mundo atual, nada mais confortável e rápido do que, sentados em casa, abrirmos nosso computador ou celular e “viajarmos” dentro das plataformas virtuais de lojas para comprarmos o que necessitamos ou, muita vezes, o que desejamos. Online temos a oportunidade de ver diversos fornecedores e modelos. Podemos, também, usar diversas formas de pagamento: boleto, PIX e, em quase todos os casos, cartões de crédito... com diversos prazos de pagamento. Um mundo de agilidade e facilidades, o que pode ser muito bom!

No entanto, a experiência tem mostrado que: se as compras presenciais, diretamente nas lojas, já apresentam desafios para os hábitos de consumo e para uma vida financeira consciente e equilibrada para grande parte das pessoas, as “facilidades” e “tentações” das compras online, com suas ofertas sempre “muito especiais e, na maioria das vezes “feitas para você – cliente especial”, o constante bombardeamento de descontos “irresistíveis” e a facilidade da compra no cartão de crédito em “suaves prestações mensais”, ampliam muito o risco das compras por impulso, sem aquela parada importante para refletir se ela é realmente necessária e se cabe no orçamento. Com isso, o risco de endividamento, que se

torna, muitas vezes, recorrente e crescente, vai tornando os desafios de uma vida financeira equilibrada sejam ainda maiores.

Portanto, para as compras online precisamos usar a mesma disciplina de sempre: antes de iniciar as compras reflita sobre o quê precisa comprar e quanto seu orçamento dispõe para isso.

EMPRÉSTIMOS ONLINE:

Uma prática também muito comum com foi trazida com o mundo digital é a contratação de empréstimos online, pelo seu computador ou pelo aplicativo no celular sem precisar sair de casa.

Vamos começar explicando que o chamado “empréstimo online” não é uma modalidade, um tipo de empréstimo! Empréstimo online é a forma – digital - que você pode contratar as mesmas modalidades de empréstimo que você tem disponível na sua agência a bancária, como por exemplo, empréstimo pessoal, empréstimo consignado.

A grande diferença do empréstimo na forma online é a facilidade, a rapidez e, na maioria das vezes, a menor burocracia. Essa facilidade, se por um lado é muito boa, por outro lado, muitas vezes, leva a pessoa que está com alguma dificuldade financeira a tomar o empréstimo por impulso, sem analisar e comparar taxas, prazos. O que é pior, muitas vezes, pela facilidade de ter aquele dinheiro que oferecido de forma tão “simples”, a pessoa não busca uma outra saída, como um ajuste nas despesas, a venda de coisas de que poderia dispor... e acaba entrando na “roda viva do endividamento”, que é muito fácil de entrar, mas muito, muito difícil de sair.

Maria Angela de Azevedo Nunes, CFP®, Planejadora Financeira Certificada pela Planejar - Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. Graduada em Ciências Econômicas pela UERJ, com Especialização em Psicologia Econômica. É Consultora e Administradora de Valores Mobiliários autorizada pela CVM e sócia da Moneyplan - Consultoria em Planejamento Financeiro e Educação Financeira. Membro do Conselho de Administração e do Comitê Executivo da PlanejarAssociação Brasileira de Planejadores Financeiros, foi diretora do Banco Itamarati, da BCN Alliance Capital Management e do Banco BCN/Grupo Bradesco - e docente do Curso de Planejamento Financeiro do INSPER – Instituto de Ensino e Pesquisa. É também co-autora do livro “Planejamento Financeiro Pessoal e Gestão do Patrimônio – Fundamentos e Práticas”

IMPORTANTE: Antes de contrair qualquer empréstimo ou financiamento, é necessário muita reflexão se não há outra saída. Se não houver outro caminho, é necessário:

> pesquisar qual a melhor modalidade, por exemplo, se é possível tomar um consignado que tem taxa mais baixa;

> comparar diferentes Instituições, prazos e taxas.

Tomar um empréstimo no impulso, raramente será a melhor solução.

Para terminar, deixo um link do Banco Central do Brasil sobre modalidades de empréstimos e financiamentos https://www.bcb.gov.br/cidadaniafinanceira/tiposemprestimo

Vamos seguindo o nosso MAPA DA MINA, lembrando que:

> a reflexão é ouro para evitar as decisões por impulso e alcançar o bem estar financeiro! uma vida mais simples é mais fácil de carregar!

10 • finanças
imagem_canva.com

Pular, Dançar ou Brincar?

Pingo amanheceu atordoado com o retumbe dos tambores..... também pudera, a noite anterior foi de muita folia, como costuma ser em noite (e dia) de Carnaval.

Com a língua repleta de confetes, que ele achou que eram gostosuras, Pingo ouviu uma conversa que o deixou cheio de cisma.

“Você, foi no Carnaval?” “Claro que sim!!!! Pulei como nunca!!!!”

“Eu também, dancei até não aguentar mais de tanto samba no pé!” “Nossa, eu não sei sambar. Mas não deixo de brincar uma noite essa festa linda repleta de animação, fantasias e alegria.” Como assim? Você pula, brinca ou dança ou Carnaval?, pensou nosso mascote.

O fato é que Pingo não sabia que essa festa cheia de ritmo do melhor estilo de samba brasileiro, leva todos não apenas a dançar as belas músicas em formas também de marchinha, axé e outros ritmos muito divertidos. Todo mundo fica tão à vontade nessa grande brincadeira, fantasiados das mais diversas formas, que realmente dançam brincam e pulam a valer!

Pingo se esbaldou!

Ischindô! Au au au!

DELÍCIAS DA ROÇA

•ABÓBORA •ABOBRINHA •AIPO •ALHO •AMENDOIM •ARROZ •ASPARGO •AVEIA

•BATATA •BERINJELA •BETERRABA •BRÓCOLIS •CAFÉ •CARÁ •CEBOLA •CENOURA

•CEVADA •CHUCHU •COUVE-FLOR •ERVILHA •ESPINAFRE •FAVA •FEIJÃO •GENGIBRE

•GERGELIM •GIRASSOL •GRÃO DE BICO •INHAME •JILÓ •LENTILHA •MANDIOCA

•MANDIOQUINHA •MILHO •NABO •PALMITO •PEPINO •PIMENTÃO •QUIABO

•QUINOA •RABANETE •REPOLHO •SALSÃO •SOJA •TOMATE •TRIGO

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11 • meninada
arte: Sabato Visconti
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